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Licenciatura em Enfermagem Veterinária; 1ºano;

1º semestre; Unidade Curricular – Fundamentos


de Enfermagem Veterinária

O EFEITO DAS TERAPIAS ASSISTIDAS POR CÃES EM


CONDIÇÕES DE SAÚDE-MENTAL -

REVISÃO SISTEMÁTICA DE TERAPIAS ASSISTIDAS POR


ANIMAIS.

Trabalho elaborado por:


Ana Cristina Pereira (28107)
Ana Isabel Pinto (28033)
Mariana Ferreira (25814)
Natacha Gonçalves (25835)

Docente:
Teresa Mateus

Ponte de Lima, novembro de 2021


ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 1

2. MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................................................. 2

2.1. Metodologia utilizada para seleção dos artigos da revisão sistemática ............................................ 2

2.2. Metodologia utilizada pelos autores dos artigos selecionados ........................................................... 2

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO .......................................................................................................... 5

3.1 Limitações .................................................................................................................................. 11

4. CONCLUSÃO ..................................................................................................................................... 12

5. BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................. 13

I
RESUMO

Ao longo do tempo, as terapias assistidas por cães têm-se tornado cada vez mais populares e o seu
interesse no tratamento de condições de saúde mental tem aumentado, uma vez que se apresentam como
um método alternativo e económico. No entanto, ainda não é claro se é um método eficaz para o
tratamento destas condições.

Com o intuito de perceber se estas terapias têm um efeito positivo na saúde mental, foram selecionados e
analisados sete artigos científicos que avaliam este efeito.

Cinco dos artigos analisados defendem que as terapias assistidas por cães apresentam benefícios no
controlo dos níveis de stress, ansiedade produzindo efeitos positivos no bem-estar individual e por
consequência no tratamento de condições de saúde mental. Dois dos artigos analisados não defendem um
efeito negativo das terapias, no entanto os seus resultados mostraram-se inconclusivos, havendo
necessidade de aprofundar estes estudos. No que diz respeito, aos dois artigos que analisam o efeito das
terapias sobre a perturbação de stress pós-traumático, verificou-se não haver concordância entre os
resultados.

De uma forma global, as terapias assistidas por cães têm um efeito positivo na saúde mental, podendo ser
utilizadas no tratamento destas condições, porém ressalva-se a necessidade da realização de mais estudos
sobre a temática para comprovar a eficácia da sua utilização.

Palavras-Chave: intervenções assistidas por animais, bem-estar, ansiedade, stress, trauma.

II
LISTA DE SIGLAS:

● AAA- Atividades Assistidas por Animais;

● CAA- Coaching Assistido por Animais;

● IAA- Intervenções Assistidas por Animais;

● OMS- Organização Mundial de Saúde

● PCA- Psicoterapia Assistida por Caninos;

● PEA- Perturbações do Espetro do Autismo;

● PHDA- Perturbação de Hiperatividade/ Défice de Atenção;

● PSPT- Perturbação de Stress Pós-Traumático;

● PVA- Programas de Visitas de Animais;

● TAA- Terapias Assistidas por Animais.

III
ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 1 - Descrição dos métodos e ferramentas utilizadas pelos autores dos artigos selecionados. ...... 4

IV
1. INTRODUÇÃO

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), Saúde é um estado de completo bem-estar físico,
mental e social e não meramente a ausência de doença e enfermidade (OMS, 2013). Assim sendo, a saúde
mental apresenta-se como uma das bases para o bem-estar geral de um indivíduo. Está presente uma
grande e significativa percentagem de pessoas que, na ausência de saúde mental, apresentam
incapacidades e uma maior taxa de mortalidade precoce do que a restante população, sendo que o suicídio
se apresenta como a segunda maior causa mundial de morte em jovens (OMS, 2013).

As incorporações de animais em tratamentos humanos têm uma longa história, (G. Jones, M. Rice, & M.
Cotton, 2019) e tem sido demonstrado que a participação de animais, especialmente cães, em atividades
terapêuticas melhoram a saúde física e mental dos indivíduos (Cruz-Fierro, Vanegas-Farfano, &
González-Ramírez, 2019).

As intervenções assistidas por animais (IAA) é o termo abrangente que se refere à inclusão deliberada e
significativa de animais na saúde humana, bem-estar ou intervenções educacionais (G. Jones, M. Rice,
& M. Cotton, 2019).

Nas IAA, estão incorporadas diferentes variantes, como coaching assistido por animais (CAA), atividades
assistidas por animais (AAA), programas de visitas de animais (PVA), (Grajfoner, Harte, M. Potter, &
McGuigan, 2017), psicoterapia assistida por caninos (PAC) (G. Jones, M. Rice, & M. Cotton, 2019) e
terapias assistidas por animais (TAA) (G. Jones, M. Rice, & M. Cotton, 2019).

Deste modo, com a realização da presente revisão sistemática, pretende-se compreender em que medida
as TAA, nomeadamente as terapias caninas, são benéficas para o tratamento de condições e distúrbios de
saúde mental. Consequentemente, é levantada a hipótese da possível melhoria e estabilização do quadro
sintomático do público-alvo dos estudos analisados.

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2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1. Metodologia utilizada para seleção dos artigos da revisão sistemática

Para a realização desta revisão sistemática, procedemos à pesquisa de artigos científicos através de
diversas plataformas digitais, no entanto, os sete artigos selecionados que continham as informações mais
relevantes para a realização deste trabalho, foram encontrados, nas plataformas PubMed e Web of Science.
Na seleção dos artigos, utilizamos alguns critérios em comum, tais como: doença em que foi aplicada a
TAA, métodos utilizados no artigo, raças utilizadas nas terapias e aspetos a ter em conta na sua seleção,
e resultados. Sendo que, todos os artigos referem os temas de saúde mental e as suas vertentes, e estão
relacionados com o tratamento das mesmas através das IAA, com principal foco nas intervenções caninas.

2.2. Metodologia utilizada pelos autores dos artigos selecionados

The Effect of Dog- Foram aplicadas 3 escalas, antes e após a intervenção para medir a ansiedade, o humor e o bem-
Assisted Intervention on estar dos participantes e avaliar a eficácia, sendo estas: Warwick–Edinburgh Mental Well-Being
Student Well-Being, Scale (WEMWBS), the State-Trait Anxiety Inventory (STAI), and the UWIST Mood Adjective
Mood, and Anxiety Check List (UMACL), (Grajfoner, Harte, M. Potter, & McGuigan, 2017).

(Grajfoner, Harte, M.
Potter, & McGuigan,
2017)

Dog-Assisted Therapy Inicialmente foi reunida uma amostra na qual foi utilizada como ferramenta a Escala de Ansiedade
and Dental Anxiety: A Dental de Corah, de forma a contabilizar o nível de ansiedade presente nos pacientes, onde 13 ou
Pilot Study 14 indica que o paciente possui ansiedade odontológica e um 15 já indica alto nível de ansiedade,
com um total possível de 20 valores.

Antes de ser realizada a amostragem de conveniência, para a seleção dos participantes, foram
(Cruz-Fierro, Vanegas- utilizados alguns critérios de inclusão como por exemplo: ter expressado apreensão, stress,
Farfano, & González- ansiedade, medo ao ir ao dentista, e gostar de cães.
Ramírez, 2019)

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E de exclusão: medo de interagir com cães, ser alérgico a cães.

Incorporating animal- Concretizou-se uma revisão sistemática onde foi utilizada como ferramenta uma pesquisa em
assisted therapy in bancos de dados (PsycINFO; PubMed; Scopus; e MEDLINE) para a seleção dos estudos de acordo
mental health treatments com o objetivo pretendido (incorporação de caninos em tratamentos de saúde mental para
for adolescents: A adolescentes de 10 a 19 anos), tendo em conta diversos critérios de seleção:
systematic review of
canine assisted • Intervenções baseadas no tratamento (focadas em objetivos), utilizando técnicas

psychotherapy psicoterapêuticas ou teorias, facilitadas por, ou sob a orientação direta de profissionais de saúde
mental;
(G. Jones, M. Rice, & M.
Cotton, 2019) • Incluir caninos (independentemente da natureza das interações), mas nenhuma outra espécie;

• Literatura publicada em publicações revistas por pares, escrita ou traduzida para o inglês que
reportam resultados qualitativos ou quantitativos no que diz respeito à saúde mental.

Canine and Equine No decorrer de uma pesquisa de literatura foi utilizado vocabulário controlado e palavras-chave
Therapy for Mental
para as várias fontes de informação (MEDLINE, PsycINFO, Cochrane Library, bancos de dados
Health: A Review of
Clinical Effectiveness do Centro de Revisões e Disseminação da Universidade de York, sites de agências canadenses e
de importantes agências internacionais de tecnologia em saúde, bem como uma busca focada na
(Young & Horton,
2019) Internet)

Preliminary efficacy of No decurso da realização deste estudo, foi utilizada a participação de um grupo de soldados
service dogs as a selecionados a partir de 304 candidaturas efetuadas, para poderem receber um cão de serviço para
complementary a terapia da Perturbação de Stress Pós-Traumático (PSPT), com o objetivo de compreender de
treatment for que forma evoluíam os sintomas da PSPT em soldados com e sem o cão de serviço. Para a
posttraumatic stress realização deste estudo foram tidos em conta diversos critérios de seleção, como:
disorder in military
members and veterans • Terem cumprido serviço militar após 11 de setembro de 2001;

• Estarem diagnosticados com PSPT;

(E. O’Haire & E. • Dispensa honrosa;

Rodriguez, 2018)
• Aquando da verificação de antecedentes, não terem nenhum historial de abuso de substâncias
ou de crime contra animais;

• Não terem mais do que dois cães de estimação em casa.

Positive Effects of a Foi desenvolvido um estudo piloto onde se utilizou como ferramenta um ensaio controlado, com

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Short-Term Dog- a aplicação de diversos questionários , listas, entre outras fontes de informação (Questionário
Assisted Intervention for sobre dados sociodemográficos, Lista de verificação de sintomas de Hopkins 25 [HSCL-25;,
Soldiers With Post- Escala de stress percebido (PSS) 14, Skala zur Einstufung des Arbeits- und Soziallebens [SEASL-
traumatic Stress Escala de Ajuste Social e Trabalho; e Fragen zur Therapeutischen Beziehung -Perguntas sobre
Disorder—A Pilot Study o relacionamento terapêutico - conjunto de perguntas auto-desenvolvido) aos participantes da
intervenção e ao grupo de controlo antes, durante e após a experiência tanto no grupo interveniente
(Beetz, Schõfmann, nas terapias como no grupo de controlo, de forma a observar a sua eficácia.
Girgensohn, Braas, &
Ernst, 2019)

Animal-assisted Realizou-se uma pesquisa num banco de dados de estudos rigorosos num período restrito de 15
therapies for youth with anos (2000-2015), com o objetivo de abordar o uso de TAA em crianças e adolescentes em risco
or at risk for mental de problemas de saúde mental, ou que tiveram um diagnóstico psiquiátrico (Hoagwood, Acri,
health problems: A Morrissey, & Pethpierce, 2016).
systematic review
Em simultâneo, foi elaborada uma recolha de dados online, usando diversos sistemas de pesquisa
(Hoagwood, Acri, como o PsycINFO e MEDLINE, diversas palavras-chave relacionadas com a temática em questão.
Morrissey, & Pethpierce,
2016)

Quadro 1 - Descrição dos métodos e ferramentas utilizadas pelos autores dos artigos selecionados.

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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

No decorrer da nossa pesquisa, foram selecionados sete artigos, dos quais cinco apresentavam evidências
positivas relativamente aos benefícios das TAA.

No seguinte artigo selecionado, The Effect of Dog-Assisted Intervention on Student Well-Being, Mood,
and Anxiety (Grajfoner, Harte, M. Potter, & McGuigan, 2017), as TAA foram aplicadas em apenas uma
condição de saúde mental, a ansiedade, associada aos efeitos do humor e bem-estar dos participantes.

Neste estudo foram selecionados estudantes do sexo masculino e feminino, com idades compreendidas
entre os 17 e 34 anos. Os participantes foram distribuídos em três grupos distintos: Grupo terapia padrão
(participaram cães e treinadores, mas os estudantes interagiram livremente com os cães); Grupo apenas
com cães e Grupo com apenas os treinadores.

Relativamente ao tipo de raças utilizadas para a terapia assistida por animais, foram selecionadas as
seguintes: Labrador, Lhasa Apso, Cocker Spaniel, Golden Retriever, Collie-Spaniel, Border Collie.

Por fim, os resultados apresentados no artigo, revelaram que, no que toca à ansiedade, observou-se uma
diminuição da mesma no grupo terapia padrão e no grupo apenas com cães. A nível de bem-estar, houve
também efeitos positivos em ambos os grupos referidos anteriormente. Por outro lado, não houve efeitos
positivos no grupo com apenas o treinador, mostrando que, a presença do cão nas terapias é fundamental
para uma melhoria do bem-estar do participante. Em relação ao humor dos participantes, este apresentou
resultados benéficos no grupo apenas com o cão.

Concluindo, os resultados mostram que uma sessão curta de 20 minutos, com a presença de um animal,
neste caso, o cão, contribui para a diminuição da ansiedade e aumento do bem-estar e humor dos
participantes. Desta forma, é notável que a presença do cão é fundamental para uma mudança positiva
experienciada pelos estudantes, sendo a presença do treinador neutra, no que toca à ansiedade, bem-estar
e humor.

O artigo Dog-Assisted Therapy and Dental Anxiety: A Pilot Study (Cruz-Fierro, Vanegas-Farfano, &
González-Ramírez, 2019) foi selecionado uma vez que está relacionado com a saúde mental, novamente
ansiedade, no entanto, com uma diferença, neste artigo é abordada a ansiedade dos participantes em
relação à ida ao dentista.

Neste estudo foram utilizados 12 participantes adultos, sendo que, foram selecionados aqueles que
possuíam ansiedade/medo de ir ao dentista. É de realçar, que foi feita também uma medição da pressão
arterial e da pulsação antes, durante e após a consulta. Esta medição foi realizada devido à relação entre

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a pressão arterial e o stress, stress este que é causado pela ansiedade. Segundo a Fundação Portuguesa de
Cardiologia, o stress pode contribuir para agravar problemas cardíacos, uma vez que, entre outras
consequências, faz subir a pressão arterial. (Cardiologia, 2021)

Em relação ao tipo de raças utilizadas, neste artigo foram referidas as seguintes: Pastor Inglês, Schnauzer,
Border Collie e Labrador Retriever. É importante salientar que os cães necessitavam de ter no mínimo 40
meses (3 anos e 4 meses) e de estarem vacinados, esterilizados e desparasitados.

Em suma, os resultados revelaram que, após a intervenção do cão durante o tratamento dentário, foram
encontradas diferenças significativas na ansiedade de ir ao dentista, tendo resultado numa diminuição da
mesma e da pressão arterial e, consequentemente, na atenuação do stress causado pela ansiedade.
Concluímos então, que os resultados indicam que a presença do cão conduz à diminuição do medo,
levando a uma melhoria na perceção da experiência de ir ao dentista.

No seguinte artigo selecionado, Incorporating animal-assisted therapy in mental health treatments for
adolescents: A systematic review of canine assisted psychotherapy (G. Jones, M. Rice, & M. Cotton,
2019), as TAA foram aplicadas com o objetivo de perceber a incorporação de cães em tratamentos de
saúde mental para adolescentes com idades compreendidas entre 10 a 19 anos.

Neste estudo de revisão sistemática pretendia-se explorar o impacto de adicionar um canídeo à


psicoterapia em contraste com a terapia usual sem a presença do mesmo. Foram revistos artigos que
possuíam uma vasta gama de populações incluindo: crianças e jovens com Perturbações do Espetro do
Autismo (PEA) em cuidados residenciais, Crianças com Perturbações de Hiperatividade/Défice de
Atenção (PHDA) que participaram em sessões de aconselhamento, Crianças que participaram num
grupo de tratamento de trauma, Adultos que participaram no tratamento de trauma, Pacientes adultos
internados com diagnóstico de esquizofrenia, Adultos hospitalizados por dependência de substâncias,
Mulheres com cancro de mama atendidas em sessões de aconselhamento (G. Jones, M. Rice, & M.
Cotton, 2019).

Os artigos para a realização desta revisão sistemática foram selecionados de acordo com o objetivo
pretendido pelo mesmo.

Relativamente às raças de cães utilizadas pelos autores para o desenvolvimento do estudo, não foram
fornecidas informações específicas e detalhadas sobre estas, apenas é mencionado de que forma estes cães
foram selecionados para participar no estudo.

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Como se tratam de cães que serão utilizados para fins terapêuticos com grupos de risco, os autores
salientaram a importância de estes apresentarem uma postura apropriada de comportamento e
temperamento, pois estes fatores poderiam também influenciar os resultados obtidos.

Através desta revisão, foram encontradas evidências que as TAA proporcionam resultados positivos no
tratamento de condições de saúde mental. Não só permitindo uma melhoria a nível do quadro clínico dos
públicos-alvo, como também a nível motivacional para a participação, tendo maior impacto e importância
na iniciação das terapias.

No presente artigo, está referido que a presença de cães nas terapias pode ser um meio facilitador para o
desenvolvimento de atividades que promovam um estado de relaxamento contribuindo assim para um
ambiente mais calmo e desta forma ser possível alcançar e debater assuntos mais delicados e que possam
causar algum tipo de desconforto para os participantes. O cão nestas situações apresenta um papel
importante de apoio emocional e de apoio na partilha.

Todos os benefícios referidos anteriormente e outros resultantes das TAA foram observados nos
participantes envolvidos, estes conseguiram demonstrar melhorias nos comportamentos em geral, na
aceitação da realização e participação nas terapias, no desenvolvimento de aptidões de relacionamento e
de interações sociais, conseguiram ser reduzidos os comportamentos negativos e perturbadores, entre
outros.

Parte destes resultados, foram constatados também através da observação dos cães que intervieram no
estudo, estes forneciam uma espécie de feedback de como se encontravam os participantes ao nível do
comportamento e estado mental.

Em suma, podemos dizer que através dos resultados positivos contidos no artigo, as TAA e as IAA
representam uma grande oportunidade de realizar uma terapia alternativa eficaz podendo até mesmo ser
utilizada de forma a ser complementar a outras terapias ou tratamentos já preexistentes e mais
convencionais.

Podemos confirmar que nos casos que foram abordados no decorrer do artigo os participantes diminuíram
não só a frequência dos seus sintomas e a gravidade dos seus problemas mentais, como também
melhoraram outras competências indiretamente relacionadas com os seus problemas de foro psicológico.

No seguinte artigo, Positive effects of a short-term dog-assisted intervention for soldiers with post-
traumatic stress disorder – a pilot study (Beetz, Schõfmann, Girgensohn, Braas, & Ernst, 2019) a
condição em que foram aplicadas as TAA, foi a PSPT em soldados.

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No que diz respeito aos métodos, os participantes foram divididos em dois grupos: o grupo de intervenção
com 29 soldados (26 masculinos e 3 femininos), com idades compreendidas entre os 38 e os 45 anos e o
grupo de controlo com 31 soldados, todos do sexo masculino, com idades entre os 38 e 45 anos. Antes da
intervenção, os sintomas eram iguais em ambos os grupos.

Relativamente ao tipo de raças de cães utilizadas, foram selecionadas para as terapias as seguintes:
Labrador Retriever e Pastor-belga-malinois. No entanto, para a seleção das mesmas foi necessário um
conjunto de critérios. Desta forma, os cães selecionados deviam ser sociáveis com humanos, apegados
aos seus treinadores, amigáveis, curiosos, confiantes, calmos, deviam permitir ser acariciados, tolerar
comportamentos humanos incomuns e não reagir agressivamente. Assim, os cães selecionados
destacaram-se pelo seu alto nível de competência social e simpatia com humanos.

Contudo, há sempre riscos em trabalhar com cães. Sendo assim, com o objetivo de evitar esses riscos, os
cães pré-selecionados foram sujeitos a testes que os colocaram em situações que normalmente evocam
comportamentos agressivos. Para a realização destes testes, foram recriadas situações do quotidiano (ex:
ser confrontado com pessoas mancar, tropeçar ou usar bengala, incluindo uma situação ameaçadora);
situações em que foi necessário demonstrar obediência (ex: voltar em segurança quando chamado; andar
com trela de forma ordeira); situações em que humanos choraram, gritaram, fizeram barulho, abraçaram
o cão sem aviso ou o manipularam fisicamente; situações onde colocaram o cão no meio de uma cidade,
de modo a habituar o animal a grandes concentrações de pessoas e, por fim, situações onde o cão foi
confrontado com outros animais, para este se habituar a permanecer amigável e neutro na sua presença.
Estes testes foram repetidos uma vez por ano e, para a realização dos mesmos, o cão necessitava de ter
mais do que 15 meses.

Por último, os resultados demonstraram que, no decorrer da terapia, o grupo de intervenção melhorou
ligeiramente, enquanto o grupo de controle piorou. Relativamente ao ajustamento social, o grupo de
intervenção também apresentou melhores resultados.

Ao nível do bem-estar dos participantes, no dia seguinte à terapia assistida por cães, este melhorou
significativamente, em comparação com a manhã antes da sessão de terapia. Além disso, ao longo das 4
semanas o bem-estar melhorou e, relativamente à felicidade dos participantes, foi observado, em
particular, um grande efeito positivo na mesma.

Uma vez que a perda do prazer é um problema grave para os pacientes com PSPT, esta melhoria, ser
capaz de se sentir "feliz" novamente, foi considerada um efeito fundamental da TAA.

No seguimento do artigo anterior, foi também selecionado o seguinte artigo, Preliminary efficacy of
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service dogs as a complementary treatment for posttraumatic stress disorder in military members and
veterans (E. O’Haire & E. Rodriguez, 2018), referente à aplicação das TAA em situações de trauma,
nomeadamente, PSPT em veteranos.

Para a realização deste estudo foram selecionados 141 soldados, e posteriormente divididos por dois
grupos.

Neste estudo os participantes foram divididos em dois grupos: o grupo de controlo, constituído por 66
soldados que receberam o tratamento normal, e o grupo experimental, formado por 75 soldados, sujeitos
ao tratamento normal e ainda intervenção com cães treinados.

Após as várias sessões foi possível concluir que, desde o início do tratamento com a intervenção dos
canídeos, efetivamente, no grupo experimental, existiram reduções clinicamente significativas nos
sintomas da PSPT, enquanto no grupo de controlo houve resultados menos positivos.

Foi realizada a comparação entre os soldados que concluíram a terapia assistida com cães e os soldados
em lista de espera, para poder compreender qual a taxa de regressão dos que já tinham obtido ajuda
psicológica. Nesta comparação foi notável a melhoria, incluindo menor taxa de depressão, maior
qualidade de vida e maior funcionamento social.

Importante referir que, a nível de empregabilidade, foi possível verificar uma menor recusa devido à saúde
mental dos empregados.

Depois da análise deste artigo, podemos deduzir que a adição de cães de serviço treinados pode conferir
melhorias em situações de PSPT.

No artigo Animal-assisted therapies for youth with or at risk for mental health problems: A systematic
review (Hoagwood, Acri, Morrissey, & Pethpierce, 2016), as TAA, foram aplicadas em traumas infantis.

Os participantes selecionados para o estudo, foram todos crianças que apresentavam traumas infantis.

No que toca ao tipo de raças de cães utilizadas, este artigo não disponibiliza informações sobre as mesmas.

Relativamente aos resultados, foram encontradas diferenças significativas no que diz respeito, à
competência social, comportamento, funcionamento social (por exemplo, procura sensorial, falta de
atenção, distração), irritabilidade, hiperatividade, cognição social, e comunicação.

Para além disso, os participantes também mostraram mudanças ao nível do funcionamento adaptativo e
capacidades motoras, no humor e motivação, nos sintomas de PSPT, houve também redução da

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agressividade e hiperatividade, melhoria das relações interpessoais e inclusão social, e melhoria das
atitudes em relação à aprendizagem.

Para concluir, foi identificado que no grupo de intervenção, sendo este o grupo com a intervenção de cães
nas suas terapias, ocorreram maiores alterações nos sintomas de trauma, ansiedade, depressão e apego.

No entanto, dois dos sete artigos selecionados, Animal-assisted therapies for youth with or at risk for
mental health problems: A systematic review (Hoagwood, Acri, Morrissey, & Pethpierce, 2016), e,
Positive effects of a short-term dog-assisted intervention for soldiers with post-traumatic stress disorder
– a pilot study (Beetz, Schõfmann, Girgensohn, Braas, & Ernst, 2019), também apresentavam evidências
negativas.

Sendo assim, no primeiro artigo referido anteriormente, em quatro dos onze estudos clínicos aleatórios
realizados, não foram encontradas diferenças entre os grupos, no que toca ao comportamento e
funcionamento emocional, avaliações subjetivas do bem-estar, ou níveis de dor ou ansiedade auto-
relatados.

No que diz respeito ao segundo artigo, referido anteriormente, em relação à PSPT, a perceção do stress
encontrou-se mais elevada no grupo de intervenção do que no grupo de controlo. No entanto, após a
intervenção em ambos os grupos, a perceção do stress diminuiu diretamente e aumentou novamente nos
meses seguintes. É de realçar que nenhum destes resultados foi estatisticamente significativo.

Comparando o grupo de intervenção e o grupo de controlo, foi possível concluir que estes não indicavam
vantagens significativas das TAA, relativamente à gravidade dos sintomas da PSPT, stress percebido,
problemas funcionais com emoções e ações devidas ao stress pós-traumático e a aliança terapêutica.

O seguinte artigo, Canine and Equine Therapy for Mental Health: A Review of Clinical Effectiveness
(Young & Horton , 2019), apresenta apenas evidências negativas, relativamente aos benefícios das TAA.
É importante referir que apesar do tema estar relacionado com a terapia equina e canina, o nosso objetivo
é apenas perceber a eficácia da terapia canina.

Neste artigo, não foram identificadas provas dos seus benefícios, comparada a outras psicoterapias, para
o tratamento de indivíduos com Ansiedade e Depressão.

Concluímos assim, que os resultados são inconclusivos devido à quantidade limitada de provas
disponíveis e ambos os grupos não mostraram qualquer melhoria considerável ao longo do tempo.

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3.1 Limitações

Durante a realização desta revisão sistemática fomos encontrando diversas limitações.

Não só tivemos dificuldades em encontrar artigos de carácter científico, com credibilidade, que
abordassem especificamente o papel e o impacto das TAA em problemas de saúde mental, como vários
dos artigos apresentavam os seus próprios entraves.

Muitos dos artigos que abordamos referem que as amostras presentes demonstram ser pouco abrangentes,
muitas vezes provocado por falta de tempo, pouca aceitação das TAA pelos trabalhadores da área, falta
de aceitação também pelas autoridades de saúde locais em implementar os estudos em maior escala devido
a discordâncias, referindo possíveis problemas relacionados com a higiene dos consultórios podendo estes
acarretar riscos de saúde para os pacientes.

É importante ressaltar que, apesar das várias limitações presentes na maioria dos estudos apresentados,
constatou-se um elevado número de resultados positivos adquiridos através das IAA, das TAA, entre
outras ferramentas implementadas para o tratamento de problemas de saúde mental.

Mostra-se assim cada vez mais a necessidade de se desenvolverem estudos credíveis e mais rigorosos
com um número mais abrangente de participantes.

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4. CONCLUSÃO

Através desta revisão sistemática, foi possível constatar de uma forma global a eficácia deste tipo de
intervenções com animais, mais especificamente com o cão, nas diferentes faixas etárias e grupos
existentes.

Na maioria dos artigos estudados foi possível observar que as TAA e as IAA entre outras melhoram o
humor, diminuem o nível de stress, ansiedade, reduzem os sintomas primários entre outras situações
benéficas, proporcionadas por este tipo de terapias que ainda se demonstram muito suscetíveis, uma vez
que, são muito influenciadas por outros fatores indiretamente relacionados com a intervenção, por
exemplo o tipo de relação Humano-animal que é necessário ser estabelecida para o sucesso da terapia.

Este tipo de intervenções facilitam a socialização entre os terapeutas e o seu público-alvo, sendo que o
cão vai atuando como uma espécie de mediador nas sessões, Inclusão de um canino na psicoterapia
melhora a aliança terapêutica, a confiança e a disposição para divulgar (G. Jones, M. Rice, & M. Cotton,
2019).

O aumento de investigações no que diz respeito à eficácia deste tipo de terapias e intervenções, seria
fundamental, para que desta forma fosse possível corroborar os benefícios do uso das terapias assistidas
por cães no tratamento de condições de saúde mental e consequentemente na promoção de uma boa saúde
mental, uma vez que foram encontrados artigos com falta de evidências.

Na nossa visão estes géneros de terapias alternativas deveriam ser implementadas e exploradas com maior
regularidade, visto que nos dias de hoje, é cada vez mais comum existirem problemas relacionados com
a saúde mental devido ao aumento do stress, ansiedade e outros fatores que influenciam negativamente.

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5. BIBLIOGRAFIA

Beetz, A., Schõfmann, I., Girgensohn, R., Braas, R., & Ernst, C. (7 de Junho de 2019). Positive Effects
of a Short-Term Dog-Assisted Intervention for Soldiers With Post-traumatic Stress Disorder—A
Pilot Study.

Cardiologia, F. P. (2021). Obtido de http://www.fpcardiologia.pt/saude-do-coracao/factores-de-


risco/stress/

Cruz-Fierro, N., Vanegas-Farfano, M., & González-Ramírez, M. (31 de Julho de 2019). Dog-Assisted
Therapy and Dental Anxiety:. p. 1.

E. O’Haire, M., & E. Rodriguez, K. (Fevereiro de 2018). Preliminary efficacy of service dogs as a
complementary treatment for posttraumatic stress disorder in military members and veterans.

G. Jones, M., M. Rice, S., & M. Cotton, S. (17 de Janeiro de 2019). Incorporating animal-assisted therapy
in mental health treatments for adolescents: A systematic review of canine assisted psychotherapy.
p. 2.

Grajfoner, D., Harte, E., M. Potter, L., & McGuigan, N. (5 de Maio de 2017). The Effect of Dog-Assisted
Intervention on Student Well-Being, Mood, and Anxiety. p. 1.

Hoagwood, K. E., Acri, M., Morrissey, M., & Pethpierce, R. (25 de Janeiro de 2016). Animal-assisted
therapies for youth with or at risk for mental health problems: A systematic review.

OMS. (2013). Mental Health Action Plan 2013-2020. p. 7. Obtido em 5 de Novembro de 2021, de
https://www.who.int/publications/i/item/9789241506021

Young, C., & Horton , J. (30 de Agosto de 2019). Canine and Equine Therapy for Mental Health: A
Review of Clinical Effectiveness.

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