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I
Mestranda em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
II
Mestre em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica - RS (PUC-RS)
RESUMO
ABSTRACT
This paper presents the results of a research that aimed to evaluate the efficacy of
cognitive-behavioral group therapy in children with ADHD. The research has been
developed at PIPAS (Programa Interdisciplinar de Promoção e Atenção a Saúde).
Twenty male subjects ranging from eight and eleven years old (M=9,35;
d.p=1,39). These subjects have been evaluated before and after the psychotherapy
and (or) after the experimental time, through the following instruments: ADHD
Scale teachers version; MTA (SNAP)- IV applied with parents and ADHD Protocol to
parents. The results point to a significant reduction of the intensity of ADHD, in
school and home. Positive changes were also observed in relation to parents´
perception of their kids, changes in the behavioral coping strategies and reduction
of complaints from school. Having in mind those results, other studies are
suggested, with bigger samples that evaluate the efficacy of cognitive-behavioral
group therapy in children with ADHD.
Introdução
Pode-se afirmar, no entanto, que os estudos que investigam a eficácia das terapias
cognitivo-comportamentais junto ao TDAH, não avaliam aspectos psicossociais
relacionados ao transtorno. Além disso, estas investigações são, de modo geral,
realizadas com subgrupos pouco específicos de pacientes, além de focalizarem
tratamentos curtos e envolvendo pouca participação de professores e familiares
(Knapp & Rohde, 2002; Knapp, 2003). Além disso, as modalidades terapêuticas
avaliadas foram, em sua maioria, individuais e é no fato de poder documentar a
modalidade grupoterápica, particularmente a adaptação do modelo de Knapp e
Rohde (2002) para o tratamento do TDAH, que se coloca a importância central
deste estudo.
Assim, no presente artigo serão apresentados os resultados de um estudo que
buscou avaliar a eficácia da grupoterapia cognitivo-comportamental em meninos
diagnosticados com TDAH. Os resultados que serão analisados compreendem
sintomatologia e fatores psicossociais, incluindo a investigação dos efeitos da
grupoterapia cognitivo-comportamental nas queixas vindas da escola, relacionadas
ao TDAH. Acredita-se que, apesar de suas limitações quantitativas, a presente
investigação possa servir como um ensaio clínico, contribuindo com informações
para a evolução e validação da grupoterapia cognitivo-comportamental como
prática terapêutica para crianças portadoras do TDAH.
Material e Método
Delineamento Experimental
Utilizou-se o delineamento before-after with two groups (antes e depois com dois
grupos). De acordo com este delineamento, os sujeitos foram avaliados antes e
após a psicoterapia e (ou) antes e após o tempo experimental (no caso do grupo
controle).
Participantes do Estudo
Participaram do estudo vinte sujeitos do sexo masculino entre oito e onze anos
(M=9,35; d.p=1,39), portadores de TDAH tipo combinado. A amostra foi definida
por escolha acidental (não probabilística), já que foram os primeiros sujeitos do
sexo masculino acolhidos no PIPAS e diagnosticados com TDAH tipo combinado
(após avaliação realizada no programa).
Os dados que se pretende obter com esta pesquisa foram coletados mediante a
aplicação dos seguintes instrumentos: Escala de Transtorno de Déficit de
Atenção/Hiperatividade - versão para professores (Benczik, 2000); MTA (SNAP)-IV
aplicada com os pais e Protocolo para o Transtorno de Déficit de
Atenção/Hiperatividade para pais (elaborado para este estudo).
Intervenção
Resultados
*
Valores obtidos pelo Teste t para amostras independentes.
a
Houve diferença estatisticametne significativa entre o pré-teste e o pós-teste no
grupo considerado
**
GC(Grupo Controle); GE (Grupo Experimental)
Através da escala MTA (SNAP)-IV (Tabela 2) percebe-se que, do ponto de vista dos
pais, houve redução estatisticamente significativa dos escores de desatenção,
hiperatividade e Transtorno Opositor Desafiador entre os participantes do GE (P <
0,05) após a terapia. Já no GC observa-se que, assim como ocorreu na escala
aplicada com os professores, os níveis de hiperatividade não sofreram alterações
significativas (P > 0,05), enquanto que a desatenção sofreu um aumento
significativo (P < 0,05). O quesito Transtorno Opositor Desafiador não sofreu
alterações significativa no Grupo Controle após o tempo experimental (P > 0,05).
Tabela 2: Resultados da MTA (SNAP-IV) aplicada com os pais
*
Valores obtidos pelo teste t para amostras independentes.
a
Houve diferença estatisticamente significativa entre o pré-teste e o pós-teste no
grupo considerado.
**
GC (Grupo Controle); GE (Grupo Experimental).
Quanto aos resultados do Protocolo para Pais (Tabela 3), estes evidenciam
alterações das estratégias de manejo comportamental utilizadas pelos pais. Com
relação ao GE a estratégia de bater, antes utilizadas por seis pais, passou a não ser
mais utilizada por nenhum dos pais. Xingar também foi uma estratégia que passou
a ser menos utilizada após a grupoterapia já que, sete pais utilizavam-na
anteriormente e somente dois continuaram utilizando-a. O quesito castigar sofreu
uma forte variação. Dos nove pais que antes faziam uso desta estratégia, somente
um continuou utilizando-a. Já o quesito conversar, ainda no experimental, sofreu
uma pequena redução após o processo psicoterápico. Antes da terapia sete pais
utilizavam este recurso e, após a grupoterapia, seis pais ainda o utilizavam como
estratégia de manejo comportamental. Por fim, fazer trocas com a criança,
estratégia não utilizada por nenhum dos pais do grupo experimental, passou a ser
utilizada por nove dos dez pais avaliados.
No GC, o quesito bater, inicialmente utilizado por dois pais, passou a ser utilizado
por oito pais. Já o quesito xingar não sofreu variação após o processo
grupoterápico. Quanto a castigar, esta estratégia passou a ser mais utilizada pelos
pais do grupo controle. Inicialmente seis pais utilizavam-na e, posteriormente, nove
pais referiram utilizá-la. O item conversar sofreu uma pequena variação no grupo
controle. Dos nove pais que referiram utilizar esta estratégia como forma de
manejo comportamental, oito pais continuaram fazendo uso desta. Já o item fazer
trocas com a criança não sofreu variações, pois nenhum pai que compôs o grupo
controle referiu utilizar esta estratégia no pré-teste, o que se repetiu na avaliação
pós-teste.
*
Valores obtidos pelo Teste Exato de Fisher
**
GC (Grupo Controle); GE (Grupo Experimental).
No GC, houve uma alteração negativa no quesito crenças dos pais em relação aos
filhos. Enquanto inicialmente seis pais referiram crenças negativas sobre os filhos,
após, oito dos pais passaram a referi-las. O mesmo ocorreu com o item relação
interpessoal já que, inicialmente, nove pais consideravam positivo o relacionamento
dos filhos com outras pessoas e, após, apenas seis pais consideraram este positivo.
O quesito crenças dos pais em relação ao futuro dos filhos, também sofreu
variações. Inicialmente, todos os pais do GC consideravam este como positivo.
Após, seis pais continuaram tendo crenças positivas quanto ao futuro dos filhos.
Quanto ao déficit de atenção, a maioria dos autores refere que os sintomas deste
continuam acontecendo na adolescência (Knapp & Rohde, 2002). No entanto, a
literatura não explica o agravo destes sintomas. É possível pensar então, que o que
ocorreu não foi um agravo dos sintomas em si, mas uma mudança da percepção
das professoras em relação às crianças que não receberam tratamento,
possivelmente relacionadas ao que Barkley (2002) denomina rotulações.
Quanto aos resultados da MTA (SNAP)-IV aplicada com os pais, estes evidenciaram
redução significativa dos sintomas de desatenção, hiperatividade e Transtorno
Opositor Desafiador no GC. A redução dos sintomas relacionados ao Transtorno
Opositor Desafiador, está de acordo com a literatura. Isto porque, a exemplo do
que já foi referido em relação ao comportamento anti-social e aos problemas de
apren¬dizagem, na presença de co-morbidades com o TDAH, as estratégias
cognitivo-comportamentais costumam apresentar eficácia (Anastoupolus & Gerrad,
2003; Knapp & Rohde, 2002).
O que pode ser considerado novidade do ponto de vista teórico é a redução dos
sintomas do TDAH no GE, que ocorreu também no instrumento aplicado com os
professores. Isto porque, refere-se pouca eficácia da terapia cognitivo-
comportamental na redução destes sintomas (Rohde & Knapp, 2004). No entanto,
de acordo com Ervin (1999), a participação dos pais permite que os resultados da
terapia sejam generalizados para fora do setting terapêutico. Esta generalização é
atualmente considerada uma falha das terapias direcionadas ao TDAH. Assim, o
fato de ter ocorrido intensificação dos encontros com os pais pode ser uma das
possíveis justificativas para a redução da intensidade destes sintomas.
No GC, por outro lado, houve um aumento dos sintomas de desatenção após a
passagem do tempo experimental. Já os sintomas de hiperatividade e do
Transtorno Opositor Desafiador, não sofreram alterações significativas.
De acordo com a literatura, a inclusão dos pais no processo terapêutico pode fazer
com que estes modifiquem suas percepções sobre o TDAH e, como conseqüência,
modifiquem a forma de perceber o seu filho. Para Friedberg (2004), o
esclarecimento quanto ao problema possibilita a desmistificação de crenças
negativas em relação ao TDAH. As mudanças na forma de perceber o
relacionamento interpessoal dos filhos e melhoria da visão quanto ao futuro destes,
também podem estar relacionadas a esta e a outras técnicas terapêuticas.
Quanto às queixas vindas da escola, houve uma redução significativa destas entre
os participantes do GE. Para Benczik (2002), crianças com TDAH costumam passar
por situações constrangedoras na escola que vão desde os apelidos e idas à
diretoria. As queixas da escola aparecem, principalmente, como resultado de
condutas que prejudicam o cotidiano escolar e que interferem nas relações
interpessoais da criança. Assim, a redução das queixas vindas da escola no GE
pode ter relação com as mudanças comportamentais resultantes da passagem pela
grupoterapia. Por outro lado, estratégias específicas de manejo comportamental
abordadas com as professoras, como o reforçamento dos aspectos positivos da
criança, podem ter tido relação com o fato de estas não mais observarem somente
aspectos negativos de seus alunos.
Com relação ao GC, o aumento do número de queixas vindas da escola é explicado
na literatura pela falta de recursos para lidar com o problema do TDAH por parte
dos professores (Benczik, 2002). Como conseqüência disto estes, muitas vezes,
passam a delegar a responsabilidade de educar as crianças exclusivamente aos pais
e a julgar moralmente os comportamentos relacionados ao TDAH.
Conclusões
Estes resultados podem indicar, ainda, que a intensificação das sessões com os pais
e contato com as escolas melhoram os resultados da terapia. Neste sentido, tal
como referem Knapp e Rohde (2002), os medicamentos nem sempre suprem a
necessidade de psicoterapia. No entanto, deve-se admitir a hipótese de que não
tenha ocorrido uma ação direta da terapia nos sintomas, mas uma mudança na
percepção de pais e professores em relação a estes. Caso a segunda hipótese se
confirme, isto não desqualifica a intervenção estudada, já que, de qualquer
maneira, ocorreram mudanças positivas para as crianças após a grupoterapia.
O presente estudo corresponde a um ensaio clínico, e por tal razão não pode
oferecer respostas generalizáveis. Pode-se dizer apenas que a grupoterapia
cognitivo-comportamental foi significativamente eficaz na maioria dos quesitos
avaliados, para os sujeitos que compuseram o GE. Além disso, os resultados
demonstraram que a não terapia causou prejuízos às crianças com TDAH do GC. No
entanto, ainda não é possível dizer através destes, se a adaptação ao modelo
proposto por Knapp e Rohde (2002) é eficaz junto a crianças com TDAH. Assim, os
resultados encontrados oferecem indicadores para a realização de outros estudos,
com amostras mais amplas, que avaliem a grupoterapia cognitivo-comportamental
como forma de intervenção junto ao TDAH.
Referências Bibliográficas
Hinshaw, S. P. (2000). The search for viable treatments. Em: P.C. Kendall
(Org.). Child and Adolescent Therapy: Cognitive-Behavioral Procedures. New York:
The Guilford Press.