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ANÁLISE DA
DA INSTABILIDADE
INSTABILIDADE DE
DE UMA
UMA ENCOSTA
ENCOSTA LOCALIZADA
NA
NA ÁREA URBANA
URBANA EM SANTA CRUZ
CRUZ DO
DO SUL,
SUL, RS
RS
(1) Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil e Ambiental, Centro de Tecnologia, Universidade Federal de Santa Maria /
UFSM. Avenida Roraima, 1000 – Camobi. CEP 97105-900. Santa Maria, RS. Endereço eletrônico: rinaldo@ufsm.br
(2) Programa de Pós-Graduação em Geografia-Geociências, Centro de Ciências Naturais e Exatas, Universidade Federal de Santa
Maria / UFSM. Avenida Roraima, 1000 – Camobi. CEP 97105-900. Santa Maria, RS. Endereço eletrônico: a.nummer@gmail.com
(3) Programa de Pós-Graduação em Engenharia, Escola de Engenharia, Universidade Federal de do Rio Grande do Sul / UFRGS.
Rua Osvaldo Aranha, 99, 3º. andar – Centro. CEP 90035-190. Porto Alegre, RS. Endereço eletrônico: bressani@ufrgs.br
Introdução
Descrição da Área de Estudo
Geologia
Investigação Geotécnica
Sondagens
Ensaios de Laboratório
Determinação dos Parâmetros de Resistência
Instrumentação e Monitoramento da Encosta
Medidas de Poro-Pressão e Nível d’Água
Levantamento de Subsuperfície - Inclinômetria
Levantamento das Deformações nas Moradias
Análise das Patologias das Moradias
Análise de Estabilidade da Encosta
Considerações Finais
Agradecimentos
Referências Bibliográficas
RESUMO – Este trabalho apresenta um estudo sobre uma encosta urbana instável situada na cidade de Santa Cruz do Sul, Rio Grande
do Sul. A encosta está localizada na parte nordeste da cidade, onde várias moradias têm sido afetadas por movimentos de solo. A área total
afetada é de aproximadamente oito hectares. A base da encosta é constituída por siltitos vermelhos da Formação Santa Maria recobertos
por um colúvio de espessura variável. Instrumentos de monitoramento de campo foram instalados e apresentaram uma boa relação entre
deslocamentos da encosta e picos do nível piezométrico. Análises de estabilidade foram realizadas, usando-se parâmetros de resistência
ao cisalhamento de ensaios de cisalhamento direto e triaxiais. Fatores de segurança obtidos, na análise, foram próximos da unidade,
apresentando alguma variabilidade. Uma análise das patologias nas construções causadas pelo movimento da encosta também foi
procedida, empregando-se dados obtidos de uma inspeção visual e entrevistas, as quais indicaram uma extensa área lateral na encosta e que
se encontra sujeita a movimentos.
Palavras-chave: estabilidade de encostas; monitoramento; instrumentação; ensaios geotécnicos.
ABSTRACT – R.J.B. Pinheiro, A.V. Nummer, L.A. Bressani – Analysis of an unstable slope located in the urban area of Santa Cruz do
Sul, RS. This paper presents a study of an unstable urban slope situated in the city of Santa Cruz do Sul, RS. The slope is located in the
northern part of the city, where several buildings have been affected by soil movement. It overall size is around 8 hectares. The base of
the slope consists of red siltstones of the Santa Maria Formation covered by colluviums of variable thickness. Instruments for field
monitoring have been installed and they showed a relationship between slope displacements and peaks of piezometric level. Slope
stability analyses were carried out using shear strength parameters from direct shear and triaxial tests. Factors of safety obtained in the
analysis were typically close to one, presenting some variability. An analysis of building pathologies caused by slope movement was also
carried out, using data obtained with site inspection and interviews, which indicated the lateral extent of the movement.
Keywords: stability slope; instrumentation, monitoring, geotechnical tests.
INTRODUÇÃO
A cidade de Santa Cruz do Sul está localizada ao norte e a leste, e por uma zona de inundação do
na região central do estado do Rio Grande do Sul, rio Pardinho a oeste.
com uma população de 118.000 habitantes (IBGE, A cidade é conhecida pelos problemas de instabi-
2010). A cidade é rodeada por encostas com colúvios, lidade de encostas desde a década de 70 (Grehs, 1976;
FIGURA 2. Mapa geológico simplificado da encosta na área de estudo (CC = colúvio; CE = colúvio onde se verificaram
os processos de escorregamento; SM = Formação Santa Maria; SG = Formação Serra Geral; BT = Formação Botucatu).
A instrumentação desta encosta foi iniciada em mendações de Dunniclif (1988). Todos os gráficos
trabalho anterior apresentado por Pinheiro et al. (2002). apresentados com escala de tempo em dias corres-
Foram instalados, na encosta, tubos de inclinômetros, pondem ao período de 30 de março de 2001 a 8 de
medidores de nível d’água e piezômetros de março de 2003, totalizando 707 dias de monitoramento.
Casagrande em 2001. Em 2002, a instrumentação foi Recentemente, Schneider (2010) realizou uma vistoria
ampliada e foi instalado outro tubo de inclinômetro, um na encosta, verificando as condições das moradias e
piezômetro de leitura automática, um pluviômetro (dados comparando com o levantamento feito anteriormente.
de pluviometria local com intervalos de uma hora) Constatou-se que algumas moradias foram removidas
também de leitura automática e pinos de controle de e construídas novas nos mesmos locais.
trincas de edificações na encosta, os quais permitem
um monitoramento da abertura das trincas através de MEDIDAS DE PORO-PRESSÃO E NÍVEL D’ÁGUA
um paquímetro. Os procedimentos de instalação e Os piezômetros são dispositivos para medidas e
monitoramento destes equipamentos seguem as reco- monitoramento das poro-pressões na encosta. Entre
Observando-se a Figura 7, a qual apresenta o nível área da encosta, não ocorrendo em outras partes.
piezométrico com leitura automática, percebe-se que Compreende-se com isto, porque alguns picos piezomé-
os dois picos ocorridos próximos ao dia 550 tricos não resultaram em deslocamentos significativos
correspondem ao período de aceleração dos desloca- na instrumentação da encosta.
mentos horizontais, registrados nos tubos dos inclinô- Comparando-se as medidas do nível piezométrico
metros e nas trincas instrumentadas. O pico do nível do piezômetro automático com os níveis piezométricos
piezométrico correspondente ao dia 625 teve dos piezômetros de leitura manual, tem-se que as leituras
repercussão no tubo de inclinômetro I-2 e na trinca manuais não apresentam os picos piezométricos. Estes
T3, não provocando deslocamento horizontal picos são extremamente importantes, pois, embora de
significativo no tubo de inclinômetro I-1 e nas trincas curta duração, eles fazem com que os fatores de
T1 e T2, conforme visualizado na Figura 12. Isto se segurança da encosta diminuam e os deslocamentos
deve ao movimento da encosta não ser homogêneo, aconteçam. Portanto, o monitoramento do nível piezo-
em forma de um bloco, mas retrogressivo, efetuando- métrico desta encosta, que apresenta tempo de
se deslocamentos diferentes ao longo da encosta. resposta da piezometria rápido em relação às preci-
Como a instrumentação é pontual, os picos pitações, deve ser realizado com piezômetros de leitura
piezométricos podem provocar deslocamentos em uma automática.
FIGURA 13. Mapa de severidade de patologias provocadas pelo movimento da massa de solo.
FIGURA 14. Trinca na rua Dr. Álvaro Correa e aspecto de uma moradia com sérios danos.
Através dos dados obtidos na instrumentação e TABELA 3. Fatores de segurança obtidos na análise
na investigação de campo e nos resultados dos ensaios de estabilidade variando a coesão e o ângulo
de laboratório, foram realizadas análises de estabilidade de atrito do solo coluvionar.
em seções da encosta. As seções foram escolhidas
em função da gravidade das patologias que ocorrem
na área. Várias simulações foram feitas, incluindo a
variação paramétrica da poro-pressão, a variação dos
parâmetros de resistência ao cisalhamento dos materiais
envolvidos, etc. Para a análise de estabilidade,
empregou-se o programa SLOPE/W da GEOSLOPE
(1984), seguindo os procedimentos da NBR 11682/2009 encontradas. Estas superfícies de ruptura situaram-se
– Estabilidade de encostas. Este programa utiliza a no contato entre o solo coluvionar e o siltito vemelho.
teoria de equilíbrio limite para o cálculo do fator de O local da ruptura, apresentada na Figura 15a, situa-
segurança. O método adotado, na determinação dos se próximo de uma trinca de tração observada in situ.
fatores de segurança (FS), foi Bishop Simplificado. Os A superfície de ruptura de fator de segurança mais
parâmetros de resistência ao cisalhamento utilizados baixo, encontrada na parte superior (Figura 15b),
na análise foram baseados nos valores obtidos nos corresponde à região em que estão instalados os
ensaios de laboratório. inclinômetros I1 e I2, nos quais se observou uma ruptura
A Tabela 3 demonstra os resultados da análise de entre 3 e 6 m de profundidade.
estabilidade para a seção típica (norte-sul), variando- O nível d’água, utilizado nesta análise, foi o
se os valores de ângulo de atrito interno (Φ) e coesão máximo medido pela instrumentação de campo.
do solo (c) coluvionar. Os valores dos parâmetros de Adotando-se os valores médios c e Φ, o FS situou-se
resistência do siltito, utilizados nesta análise de entre 1,2 e 1,4. Foi verificado também que, elevando-
estabilidade, foram os obtidos por Pinheiro et al. (2002), se o nível d’água até a superfície do terreno, o FS cai
ou seja, intercepto coesivo igual a zero e ângulo de para 1,0. Observa-se que, na análise apresentada, não
atrito interno igual a 34º. houve uma superfície crítica cobrindo todo o compri-
Os valores dos fatores de segurança calculados mento da encosta, mas uma série de superfícies
são bastante baixos, próximos de 1,0 para os ângulos restritas a pequenas áreas. Estas superfícies repro-
de atrito entre 28º e 29º. A Figura 15 explicita o resultado duzem bem os movimentos identificados no local e os
gráfico com as superfícies mais críticas de ruptura deslocamentos monitorados.
FIGURA 15. Superfícies de ruptura críticas na seção N-S, com os níveis piezométricos máximos
medidos em campo e localização das sondagens e instrumentação.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a Prefeitura Municipal de Santa Cruz do Sul pelo apoio na investigação da área e aos Programas de Pós-
Graduação de Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e da Universidade Federal de Santa Maria pelo apoio na
instrumentação e monitoramento da encosta.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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