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Mapear é um ato que vai além de transcrever ou descrever uma espaço urbano, é uma rede

aberta de colaboração e que visa promover a descoberta de potencialidades escondidas. O ato


de mapear é criativo, e portanto, ele promove o não visto e o não imaginado, diferentemente
de um simples rastreamento (trancing) que só reproduz a condição já vivenciada. Logo a
principal diferença entre ambos (mapping e tracing) é a total orientação à experimentação no
contato com o real. Ele constrói o inconsciente, e não o já dado.

Mapear também inclui o estudo de processos naturais, eventos históricos, economia e


legislação, até interesses políticos. Logo o ato de mapear subentende-se que o local estudado
é uma expressão de um complexo e dinâmico conjunto de processos naturais e sociais.
Avanços criativos em mapping promove aos urbanistas e designers uma intervenção mais
eficaz neste espaço, e também nesses processos. Isso permite não só a visualização de certas
possibilidades dentro do complexo e contraditório que já existe, mas também de atualizá-las,
isso é importante pois ajuda não só a imaginar, mas a criar mesmo nesse espaço de extrema
dificuldade e regido por normas bem presentes.

Há duas características comuns entre todos os mapas. A primeira é a capacidade da associação


do mapa diretamente com a superfície da terra, um desenho fiel, com medidas, e onde
podemos traçar uma rota, conferindo ao mapa uma neutralidade benigna. A segunda já parte
pra abstração completa, que tem por resultado seleções, comparações, omissões e
codificações. Essas duas características bem diferentes fazem dos mapas um campo para ser
explorado, coletar informações, classificar, marcar, realizar operações e descobrir.

A característica abstrata do mapa tanto captura elementos projetados do espaço, quando os


efeitos do uso desses elementos. Essa dupla função tem raízes na história do mapeamento
(mapping) não só militaristicamente, mas ideologicamente. Ao longo do sec 20, o
mapeamento em sido visto como uma pesquisa qualitativa e analítica de condições existentes
feito antes da concepção de um novo projeto. Os mapas são tomados então como estáveis,
precisos, indisputáveis espelhos da realidade, provendo bases sólidas e lógicas para tomadas
de decisões e também como meios para projetos mais pé no chão. Portanto, mapear precede
o projeto e assume-se que o mapa vai objetivamente identificar as questões que precisarão ser
desenvolvidas, avaliadas e construídas.

A questão de que os mapas são altamente falíveis e artificiais passa despercebida, embora
guarde grande força do modo como as pessoas veem e interagem com estes. Isso deriva da
prevalência em ver os mapas: “o que eles representam” e não “o que eles fazem”. Este
mapeamento é feio através de instrumentos, códigos e técnicas e convenções internas, e o
mundo e seus aspectos derivam dessa noção de realidade e são suscetíveis a essas técnicas. Ao
passo que essas técnicas e procedimentos não são tomados como ferramentas de pesquisa e
questionamento, ao invés, são tidas como convenções institucionais garantidas. A
competência de rastrear efetivamente se sobrepõe a inventividade exploratória de mapear.

O ato de mapear é intrigante, pois considera as bases de como o projeto é imaginado e


realizado, precisamente. E ainda as condições ao redor do projeto, quais são levadas em conta,
e quais não, como são escolhidos os materiais, esquematizados e emoldurados, e como a
síntese gráfica do local revela todo seu conteúdo. Logo mapear é um ato projetual, e portanto
nunca neutro passivo e sem consequências, do contrário, é o mais formativo e criativo ato,
revelando as condições mais urgentes da realidade.

Mapping é um ato de intervenção cultural. Menos interessa o fato do mapa ser algo acabado e
mais o sua atividade criativa. E nas novas e especulativas formas de mapear geram novas
práticas criativas, e não como buscando novas invenções, mas aprimorando as já existentes.
Mostrando o espaço de outros modos, e dando importância para a técnica, e enquanto não
houve escassez de ideias e teorias no desenho e planejamento, mas havendo um avanço e
inventividade das ferramentas e das técnicas, incluindo mapping, que são cruciais na efetiva
construção de novos mundos.

Comparando-se as técnicas de planificação da terra, onde o mesmo planeta, o mesmo lugar, e


ainda as mesmas relações similares são reveladas e construídas, Mercator e Fuller’s Dymaxion
mostram a terra de formas completamente diferentes e com realidades sócio espaciais e
politicas distindas. Enquanto que Mercator o faz do ponto de vista norte américa e eurocentro,
Fuller’s já mostra a real forma do globo, buscando reproduzir fielmente a realidade.

Fuller’s ainda permite em sua forma, diferentes arranjos do mapa mundi de acordo com o
ideal e ponto de vista da pessoa que o faz, ou seja, há a possibilidade de escolher o que se
quer mostrar com o mapa.

Quando o artista Joaquin torres Garcia faz uma obra em que inverte a américa, ele coloca um
“S” no topo do desenho, e isso nos remete a como a hierarquia social e relações de poder
ainda persistem e mantém uma hegemonia, e ainda trás consigo a questão histórica de que a
orientação dos mapas sempre como norte pra cima veio através da expansão econômica e
global iniciada no hemisfério norte. Fuller’s contrapôs isso com seu novo mapa poliédrico.

Na representação de Caldas, ele não se prende a técnicas de prévias, e faz uma representação
de forma simples acrescidas de pequenos marcos de números ou palavras. Ele quer enfatizar o
poder do imaginário na sua representação, ou seja, seu potencial repousa na emancipação do
seu conteúdo, que sugere mistério e desejo. Caldas faz esses lugares libertos das primeiras
medidas que antes foram capturados.

Arquitetos tem menos ambições que esses geógrafos, mais focados em trabalhar as formas e
aberturas, desde o século 16 são ferramentas feitas para analisar, construir e planejar cidades
e edifícios. Técnicas de mapeamento quantitativo surgem iluminados com entusiasmo visam o
progresso social. Essas técnicas permanecem não questionadas, e a seleção, esquematização e
sintetização permanecem orientadas às mesmas convenções de sempre.

Tem de haver meios para as dimensões social, imaginativa e crítica serem reestabelecidas,
principalmente falando-se em planejamento urbano. Três pontos esclarecem: a relação do
mapa com a realidade, mudança natural do espaço com o tempo, e a insistência em equiparar
as ações de mapeamento (técnicas) com os efeitos do mapeamento (consequências). Isso faz
com que praticas alternativas de mapping sejam ativas na forja da cultura, do espaço e do
lugar.

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