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1) A Exposição
- Dados Gerais
A Exposição Universal de 1893, World’s Columbian Exposition Chicago, foi um evento
internacional que impactou o imaginário norte-americano no final do século XIX. Sediada na
cidade de Chicago, a grande metrópole do Oeste, que cresceu exponencialmente nos anos após o
incêndio em 1871. A população e o comércio da cidade, em vez de reduzirem por conta do
incêndio, aumentaram nos anos seguintes. Era um cenário apropriado a um evento que deveria
mostrar o crescimento da América e de uma coleção de colônias, para um poder internacional: o
que havia sido uma vila em 1830 tinha, em menos de um século, tornando-se uma metrópole com
uma variedade de atrações culturais.
A exposição
Os 600 acres que abrigaram a Exposição de Chicago foram organizados a partir de uma
setorização dos programas do evento. A implantação foi feita a margem do Lago Michigan, criando
uma orla pedestralizada cujo objetivo era encantar todos os visitantes. Em uma pequena parcela
do terreno, ao norte, estava alocada a exposição dos Estados americanos e dos países
participantes. Ao extremo sul, implantou-se a exposição de gados e no restante da área foram
dispostos os Grandes Edifícios. A oeste, dentro do tecido da cidade, encontra-se o Midway
Plaisance, um parque linear que precede a exposição e ainda permanece nos dias de hoje.
Todo o terreno e seu desenho diferem bastante do tecido urbano pré-existente de Chicago.
O espaço livre da exposição recebe o tratamento aos moldes dos jardins ingleses, de caminhos
sinuosos para os pedestres, com exceção do parque Midway Plaisance - onde a Ferris Wheel se
encontrava - que é integrado ao desenho ortogonal da cidade. Porém, apesar dos sinuosos
caminhos é possível encontrar alguns eixos que organizam as implantações dos edifícios
neoclássicos. Na frente do terminal ferroviário observa-se uma praça retangular, onde está o
edifício da administração, cujo eixo longitudinal cria uma perspectiva orientada ao píer que
avança sobre o Lago Michigan. O perímetro da praça é definido pela implantação de cinco
grandes edifícios de plantas racionais e simétricas (Minas, Eletricidade, Manufaturas e Artes
Liberais, Agricultura e Maquinarias), característico do estilo neoclássico. Além dos edifícios, tal
praça ainda é organizada por um lago também geometrizado em forma de T.
Na parte central do terreno encontra-se a Wooded Island (Ilha Amadeirada em tradução
livre), rodeada por um lago que não fora geometrizado, onde vemos um jardim pitoresco também
em estilo inglês. Em linhas gerais, a World’s Columbian Exposition Chicago tinha todos os edifícios
em estilo neoclássico implantados em um espaço livre mais orgânico, com a intenção de
embelezamento da paisagem. Esse tipo de projeto foi reproduzido em outras cidades americanas
e recebeu o nome de City Beautiful.
Woman’s Building
Uma vez que a feira não possuía apenas um Pavilhão Principal, o grupo optou por analisar
o Woman’s Building - Edifício das Mulheres. O Edifício foi projetado por Sophia Hayden Bennett,
primeira mulher graduada do Instituto Tecnológico de Massachusetts.
Quando a diretoria executiva da feira concordou em "permitir" que as mulheres
participassem, eles criaram uma diretoria - comitê - separada e distribuíram espaço para o
Woman’s Building. Ao se tornar presidente do comitê, uma das primeiras decisões tomadas por
Bertha Palmer foi insistir para que o arquiteto do prédio fosse o vencedor de um concurso aberto
apenas a mulheres. Ela superou as objeções de Daniel Burnham. A ganhadora foi Sophia Hayden,
recém formada no MIT e sem muita experiência prática. Esta foi sua primeira construção e acabou
sendo a última. Ela tinha entrado no concurso por insistência de sua amiga, outra arquiteta com
um pouco mais de experiência do que ela, mas não esperava vencer. Ela apresentou um projeto
baseado em seu projeto de tese para um Museu de Belas Artes em estilo renascentista italiano.
Seu projeto para o edifício da feira inclui varandas e galerias e foi percebido como “claro e alegre”,
nas palavras de um dos juízes, qualidades consideradas apropriadas para um evento festivo.
Porém, foi obrigada a reduzir a escala de seus detalhes por causa do tamanho do prédio, forçada
a fazer diversas mudanças em curto prazo e com pouco tempo.
De acordo com os críticos, foi "tímida", "delicada", "apagada" e "feminina", de acordo que
se opõem à equipe de projeto e gestão composta apenas por mulheres para construção do
Edifício da Mulher na World's Columbian Exposition em Chicago. A edificação foi criticada por sua
discreta estética "feminina" em comparação aos extravagantes edifícios vizinhos projetados por
arquitetos homens. Porém, em comparação com a construção de madeira precária de última hora
que abrigou o pavilhão feminino na Exposição de Filadélfia de 1876, esse foi um compromisso e
construção muito mais substancial para a exibição de conquistas femininas do que qualquer feira
anterior e além disso, a edificação se tornou o centro de uma discussão implacável sobre a
necessidade de um espaço dedicado apenas ao trabalho de mulheres e ao grande papel das
mulheres na arquitetura.
A planta e a fachada do Woman’s Building apresentam as principais características do
estilo neoclássico. A planta é retangular e simétrica tanto no eixo longitudinal (norte-sul) quanto no
transversal (leste-oeste). Percebe-se uma intenção de pavilhonamentação para a disposição dos
cômodos. Quatro retângulos (marcados na imagem 19 em azul) recebem o programa expositivo,
administrativo e de serviços. O vazio gerado por essa organização fica para a circulação sendo
que, no térreo, a galeria de pé direito duplo, ao centro da planta, distribui os fluxos para as
exposições dispostas nos cômodos ao redor. O desenho da época nomeia essa galeria como
rotunda. Apesar do conceito original de rotunda ser de um desenho circular, aqui há uma releitura
formal dessa clássica disposição. Além disso, apesar de o acesso principal ser na fachada leste, o
edifício possui saídas para as outras direções.
No segundo pavimento vê-se uma espécie de mezanino voltado para o centro da planta
que permite o vislumbre do térreo e do teto envidraçado que clareia todo espaço interno. Ao redor,
também, estão dispostos as salas administrativas. Uma curiosidade do programa do Woman’s
Building é a presença de cômodos exclusivos para mulheres, além dos sanitários. No andar
superior encontram-se os Private Rooms (quartos privativos em tradução livre) cujo acesso é
restrito ao gênero que propôs a construção.
A fachada, assim como a planta, é simétrica e possui ritmo bem marcado. É possível
demarcar três protuberâncias quadradas. As duas das extremidades marcam os “pavilhões”
laterais e possuem três fenestrações em cada pavimento, além de duas colunas duplas cujo ritmo
é reforçado pelas estátuas acima da cobertura. Entre as duas protuberâncias, no térreo, tem-se
um peristilo de colunas jônicas que sustentam arcos plenos dando maior leveza à composição. No
pavimento superior, as aberturas são menos generosas, apresentando fenestrações retangulares
seguindo o ritmo ditado pelas colunas do pavimento inferior.
Ao centro, percebe-se o acesso principal, que é ressaltado da fachada e marcado pelo
frontão triangular sustentado por colunas coríntias que também demarcam uma varanda no
pavimento superior. No térreo, nessa parte, mantém-se os arcos plenos e as colunas jônicas.
Todo esse conjunto é emoldurado por mais duas colunas duplas de seção retangulares
engastadas, marcando a forma quadrada que o compõe. A horizontalidade é marcada pelo
arquitrave sem muitos adornos que atravessa toda a fachada e que sinaliza a quantidade de
pavimentos. O frontão recebe esculturas de figuras femininas que fazem alusão ao frontão leste
do templo de Zeus, da Grécia Antiga.
A frente do edifício, também vemos um pequeno obelisco que indica o eixo de
simetria do edifício. Diferentemente de outros edifícios que utilizam esse artifício, o Woman’s
Building acaba por criticar esse elemento relacionado ao falocentrismo da cultura tradicional.
Figuras 7, 8 e 9 - Fotos do Woman’s Building em Construção (Vista externa e vistas do interior do edifício).
2) Análise
- Comentários sobre o projeto urbanístico e o projeto arquitetônico do edifício
principal, ilustrado com croquis: composições da planta e fachadas, referências
tipológicas, implantação, materiais, etc
Foi graças a exposição que houve, pela primeira vez, em ambiência americana, um fórum
propondo soluções para organizar o caos urbano em que se encontravam as grandes cidades
norte-americanas. A imensa área destinada a abrigar os pavilhões de exposições, conhecida
como a White City (Cidade Branca), foi planejada em escala monumental, formada por diversos
edifícios, palácios, circundando um enorme espelho d’água. A White City, que adquiriu esse nome
pelo fato de Daniel Burnham, responsável pela organização do evento, ter decidido que todos os
edifícios monumentais ali expostos deveriam ser pintados da cor branca, fato que criou imenso
impacto visual e maravilhou a todos.
A maioria dos edifícios da feira foram projetos no estilo de arquitetura neoclássica. As
fachadas não eram feitas de pedra, mas de uma mistura de gesso, cimento e fibra de juta,
chamada de cajado, e pintados de branco, dando aos edifícios seu "brilho". Os edifícios eram
revestidos de estuque branco, que, em comparação com os cortiços de Chicago, pareciam
iluminados. Também era chamada de White City por causa do uso extensivo das luzes da rua, o
que tornava as avenidas e os edifícios utilizáveis à noite.
Figura 22 e 23 - Montagem com as fachadas encontradas na White City (à esquerda) e vista da White City iluminada a noite.
Além disso, os edifícios se encontravam implantados ao redor do Grand Basin (Grande
Bacia) - o lago - as fachadas compunham o cenário da cidade ideal, com grande avanço e
capacidade de recomposição após o incêndio para que o mundo todo pudesse observar.
3) Contexto Artístico
- Traçar relações entre o objeto e outras obras de arte que lhe sejam contemporâneas
(ou precedentes imediatos), ilustrando com ao menos uma obra literária e uma obra
de artes visuais.
A exposição de chicago contou com inúmeras obras, de diferentes mídias, como as
fotografias. Um fotógrafo chamado Julio Siza, natural de Portugal, condecorado na exposição de
1893 pela sua série de fotografias nas Guianas Inglesas, país do norte da América do Sul. Nessas
fotos, Siza retrata as habitações, indústrias, e os diferentes povos do país, compreendendo
chineses e índios importados para serem classe operária, e ainda negros retirados de suas terras
na África para serem servos guianeses. Nessa parcela, os colonizadores europeus estavam
inclusos, ingleses, franceses, escoceses, e espanhóis.
Siza buscava retratar nas suas fotos o ambiente de aldeias indígenas, o clima do local, as
relações entre os diferentes povos, conformando assim um grande e muito importante passo no
entendimento dos ingleses para com os povos da Guiana Inglesa e de seu habitat.
4) Contexto Político-Ideológico
- Explicar as relações políticas e econômicas envolvidas na realização da exposição e
o interesse do país anfitrião em promovê-la.
Em um panorama geral, na primeira metade do séc. XIX, os EUA passavam pela chamada
“Marcha para o Oeste” que gerou o aumento da população no país, sendo fomentada pela
expansão da malha ferroviária, e com a predominância de grandes latifúndios e produção agrária.
Na segunda metade do séc XIX, houve a migração da população rural para a cidade, e a ferrovia
gerava cada vez mais empregos. Com a consolidação de mais de 5000 indústrias, a sociedade
estadunidense se consolidou como urbana e cada vez mais tecnológica, esse episódio foi
chamado de “Era das Fusões”, considerada uma terceira revolução burguesa nos EUA.
Em 1876, comemorando o patriotismo americano e o progresso tecnológico, houve nos
Estados Unidos a Exposição do Centenário da Filadélfia que foi um grande sucesso para o país.
Então a Feira de 1893 teria um duplo significado, foi planejada como comemoração da primeira
viagem de Cristóvão Colombo à América, daí o nome remetendo ao descobridor (“World’s
Columbian Exposition”). Como a exposição do Centenário, a Exposição de Colombo também
mostraria a capacidade industrial americana e a inovação tecnológica. No entanto, a Feira de 1893
demonstraria algo que a Feira de 1876 não havia feito: os Estados Unidos não eram equivalentes
tecnologicamente à Europa, mas tinham passado de um século de inferioridade cultural para estar
no mesmo patamar do "Velho Mundo".
6) Contexto Tecnológico
- Relacionar o certame e seu pavilhão principal com os avanços científicos e técnicos
de sua época.
Dos avanços científicos apresentados na Feira de Chicago, os que ganharam destaque
foram as lâmpadas elétricas e os geradores de corrente alternada. A união dos dois dispositivos
permitiu que exibições ficassem abertas durante a noite. Assim, a Exposição de Chicago foi a
primeira a utilizar a energia elétrica em larga escala.
A contratação dos serviços de iluminação da Exposição foi alvo de intensa disputa entre
empresários norte-americanos e cientistas. Durante a década de 1880, Thomas Edison que
possuía dispositivos, que funcionavam com corrente contínua se opôs vigorosamente ao modelo
de corrente alternada do norte-americano Nikola Tesla, que permitia que a eletricidade fosse
distribuída a distâncias mais afastadas de seu ponto gerador. Tesla saiu vitorioso da disputa e
assim, Westinghouse Electric, contratou Tesla e detinha a patente do gerador de corrente
alternada, ganhou a licitação para iluminação da Exposição de 1893.
Figura 28 - Exposição de Tesla na área de eletricidade. Figura 29 - Grand Basin (lago) e ao fundo o Administration
Building e as luzes que permaneciam ligadas na exposição.
Além disso, a primeira Roda-Gigante foi construída para a Exposição Universal de Chicago
por George Washington Gale Ferris Jr, em 1893. Foi construída para rivalizar com os 324 metros
da Torre Eiffel, peça central da Exposição Universal de 1889. Ela foi a maior atração da Exposição
Universal de 1893, com uma altura de 80,4 metros. A Roda era composta por 36 cabines, cada
uma equipada com 40 cadeiras giratórias e capaz de acomodar até 60 pessoas, dando uma
capacidade total de 2160 pessoas. A Roda-Gigante original foi desmontada e enviada para a Feira
Mundial de 1904 em St. Louis, e, depois disso, demolida em 1906.
FIEDERER, Luke. Clássicos da Arquitetura: Feira Mundial de Chicago 1893 / Daniel Burnham e
Frederick Law Olmsted. 2017. Traduzido por: Matheus Pereira. Dispoível em:
<https://www.archdaily.com.br/br/885956/classicos-da-arquitetura-feira-mundial-de-chicago-1893-d
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Chicago Architecture Centre. WORLD’S COLUMBIAN EXPOSITION OF 1893. Disponível em: <
http://www.architecture.org/learn/resources/architecture-dictionary/entry/worlds-columbian-expositi
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MACLEOD, Finn. Os 9 edifícios mais controversos de todos os tempos. 2014. Traduzido por:
Arthur Stofella. Disponível em:
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Chicago Sun-Times. On its 125th birthday, what’s left from the 1893 World’s Columbian
Exposition?. 2018. Disponível em:
<https://chicago.suntimes.com/entertainment/1893-worlds-fair-what-remains-125th-anniversary/> .
Acesso em: 25 de outubro de 2018.
Imagens:
Figura 25 - Foto de uma aldeia indígena às margens do rio Musuruni. Disponível em:
<http://1.bp.blogspot.com/_Q9k1ZwKJcXM/SGqsPYdHOVI/AAAAAAAAB2c/665bXIQ6wAo/s1600-
h/RCSPC-Y307A-081[1].jpg>.
Figura 26 - Diploma recebido por Julio Siza na exposição de Chicago em 1893. Disponível em:
<http://4.bp.blogspot.com/_Q9k1ZwKJcXM/SGq1x0r8vUI/AAAAAAAAB30/EDpC4IrA_4M/s1600-h/
Cópia+de+Diploma2.jpg>
Figura 32 - Pavilhão das Mulheres, Exposição Internacional de Chicago, 1876. Disponível em:
<http://www.cloud-cuckoo.net/openarchive/wolke/eng/Subjects/001/Pepchinski/Slide09n.jpg>.
Acesso 6 de novembro de 2018.