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A literatura, no Brasil, tem início em 1500, com a chegada dos portugueses e, com

isso, do processo de civilização dos povos indígenas. Sendo assim, as produções literárias
desse período, pertencentes à escola literária Quinhentismo, as quais eram destinadas à
coroa portuguesa, são marcadas pela descrição da terra e do povo. Em razão dos
habitantes locais não possuírem domínio da escrita, serem ágrafos, tem-se, sempre, olhar
do colonizador sobre colonizado. A carta escrita pelo escrivão português, Peroz Vaz de
Caminha, primeiro documento histórico do Brasil, evidencia isso.
No relato ao rei dom Manuel, ao descrever o encontro entre os indígenas e os
europeus, percebe-se a clara distinção entre a construção da imagem dessas duas
civilizações. Enquanto aqueles têm suas características físicas e costumes julgados,
sofrendo, inclusive, inferiorização ao serem descritos como ingênuos: “A feição deles é
serem pardos [..]. Andam nus, sem cobertura alguma. Nem fazem mais caso de encobrir
ou deixa de encobrir suas vergonhas do que de mostrar a cara. Acerca disso são de grande
inocência”. Esses, ao serem mencionados, são elogiados: “O Capitão, [...] estava sentado
em uma cadeira, bem vestido”.
Darcy Ribeiro, escritor brasileiro, também descreve esse encontro em “O povo
brasileiro: formação e sentido do Brasil”. Refere-se aos navegantes como: barbados,
cabeludos e fedorentos; e aos índios como: a inocência e a beleza encarnados, esplêndidos
de vigor e de beleza. Ainda que se trate do mesmo episódio, é uma narrativa
completamente oposta à de Caminha.
As noções de “civilização” e “selvageria” se fazem presente nos dois textos, mas
se distinguem na aplicação. Na narrativa lusitana, os portugueses representam os seres
civilizados por possuírem hábitos aos moldes eurocêntricos, e o outro, por não se encaixar
nesse modelo, é o selvagem. Esse sentimento de superioridade faz com que se sintam no
direito de “dominá-los”, dizimam os povos originários; seus costumes, hábitos, crenças
e, até mesmo, suas vidas. E é pela crueldade dessas ações que a narrativa brasileira inverte
os sujeitos, colocando o europeu como o selvagem, e o indígena como o civilizado, na
medida em que recebe e acolhe o diferente, ao invés de julgá-lo ou maltratá-lo.

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