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REGÊNCIA VERBAL

Trata da relação que existe, entre os verbos e seus complementos. A regência verbal se ocupa fundamentalmente de como o verbo se relaciona
com o seu complemento. Vamos estudar os casos de maior incidência em concursos públicos; entretanto, não se esqueça de que o contexto é
sempre soberano na análise de cada caso.

VERBO TIPO EXEMPLO

Almejar Renato almeja o cargo de diretor.

Amar Paula ama sua filha.

Cumprimentar Ele cumprimentou o chefe.


VTD
Desejar João deseja um emprego.

Estimar Os brasileiros estimam carros importados.

Namorar Ricardo namora Ana.

Desobedecer O funcionário desobedeceu ao chefe.

Obedecer Os alunos obedecem ao professor.


VTI
Proceder O delegado procedeu ao inquérito.

Suceder A república sucedeu à monarquia.

Preferir VTDI Prefiro café a leite.

Observação
ABDICAR
A. Com o sentido de renunciar a poder soberano, é verbo TD ou TI.
Exemplo: O ditador abdicou o trono. /ao trono.

B. Com o sentido de privar, é verbo TD ou TI.


Exemplo: O policial abdicou sua autoridade./de sua autoridade.

C. Com o sentido de deixar o cargo, pode ser usado como INT.


Exemplo: O ministro vai abdicar.

AGRADECER
A. Com o sentido de demonstrar gratidão, é TD em relação ao fato e TI em relação à pessoa.
Exemplo: Eu agradeço a você este presente.

B. Com o sentido cortês de dizer obrigado (a), pode ser usado como INT.
Exemplo: Comprou, pegou o troco e agradeceu.

ALUDIR
Significa fazer referência (citar) e é TI.
Exemplo: Aludi à questão bem no início do encontro.

Este verbo não admite o pronome oblíquo átono lhe(s), admitindo apenas as formas analíticas e tônicas a ele (s), a elas (s).

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ANUIR
Significa consentir (aderir) e é TI.
Exemplo: Ele anuiu às propostas.

Este verbo não admite o pronome oblíquo átono lhe(s), admitindo apenas as formas analíticas e tônicas a ele (s), a elas (s).

VERBO TIPO SENTIDO EXEMPLO

VTD Fazer carinho, mimar. A mãe agradou os filhos.


Agradar
VTI Ser agradável, satisfazer. O show não agradou às crianças.

Ajudar VTD ou VTI Ajudei o (ao) professor.

VTD Respirar. Aspiro o ar do campo.


Aspirar
VTI Desejar. Aspiro ao cargo de Presidente.

VTD OU VTI Dar assistência. A enfermeira assistiu (a)o paciente.


VTI Ver. Assistimos ao programa do Jô.
Assistir
VTI Caber. Assiste ao candidato este direito.
VI Morar. Assisto em Realengo.

Avisar, certificar, VTDI


Avisei o resultado ao candidato.
cientificar, (Algo a alguém)
Avisei o candidato do resultado.
informar. (Alguém de algo)

VTD Mandar vir. Chamei o eletricista.


VTD ou VTI (a) Considerar. Chamei-o (de) bobo. / Chamei-lhe (de) bobo.
Chamar
VTI Invocar. Chamei por Deus na hora da dor.
VTDI Repreender. Chamei-o à atenção.

Observação
ASPIRAR
O verbo ASPIRAR, com o sentindo de almejar, desejar, é TI e não admite o pronome oblíquo átono lhe(s), admitindo apenas as formas analíticas
e tônicas a ele (s), a elas (s).

ASSISITIR
Com o sentido de socorrer, ajudar, alguns estudiosos apontam o verbo assistir como TD. Apesar disso, reconhecemos nesta apostila o
posicionamento de gramáticos de peso, como, por exemplo, Celso Cunha e Evanildo Bechara, bem como o posicionamento de respeitáveis
dicionaristas, como, por exemplo, Aurélio e Houaiss: todos apontam o verbo assistir, no sentido de socorrer, como TD ou TI.
Exemplo: O médico assistiu o paciente. / O médico assistiu ao doente.
O verbo ASSISTIR, com o sentindo de ver, presenciar, é TI e não admite o pronome oblíquo átono lhe(s), admitindo apenas as formas analíticas
e tônicas a ele (s), a elas (s).

ATENDER
A variedade de comportamento do verbo atender, entre nossos escritores, torna extremamente difícil uma sistematização segura acerca de sua
regência. Talvez por isso, o professor Evanildo Bechara já o apresenta indiferentemente como TD ou TI nas acepções mais comuns. Esse também
será o nosso posicionamento.
Exemplo: Ninguém atendeu o meu pedido. / a meu pedido → com o sentido de dar atenção.
Exemplo: Ninguém atendeu o telefone. /ao telefone → com o sentido de responder.
Pode ser intransitivo. Vejamos
Exemplo: Já gritei pelo professor, mas ele não atendeu. → (sentido de responder ao chamado)
Pode ser transitivo indireto. Vejamos.
Exemplo: Ele não atendeu para o meteoro que cairia. → (sentido de dar importância)

O verbo ATENDER, independentemente do sentido, não admite o pronome oblíquo átono lhe(s), admitindo apenas as formas analíticas e
tônicas a ele (s), a elas (s).

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VERBO TIPO SENTIDO EXEMPLO

VTI (a) Ser difícil. Custou-me entender a matéria.


Custar VTDI (a) Causar. Isso custou dor de cabeça a ele.
VI Preço. O chocolate custou caro.

Esquecer VTD Não pronominal. Esqueci o documento.

Esquecer-se VTI (de) Pronominal. João se esqueceu da reunião.

Faltar VTI (a) Ausentar-se, inexistir. Lucas faltou ao jogo.

VTD Acarretar. Isso implica dor.


Implicar
VTI (com) Antipatizar-se. Ela implicou com o rapaz.

VTD Não pronominal. Lembrei o assunto.


Lembrar VTD Fazer recordar. Seus olhos lembram minha mãe.
VTDI Advertir. Lembrei a José a prova.

Lembrar-se VTI Pronominal. Lembre-se do compromisso.

VTD Determinar com exatidão. O engenheiro precisou o cálculo.


Precisar
VTI (de) Necessitar. O paciente precisa de ajuda.

VTD Desejar, possuir. Quero aquela mulher.


Querer
VTI (a) Estimar. Quero a minha filha.

Renunciar VTD ou VTI Renuncio (a) este mandato.

VTD Oferecer, atender. O aniversariante serviu salgadinhos.


Servir
VTI Ser útil. O vestido serviu a ela.

Sobressair VTI (em) Não é pronominal. O aluno sobressaiu em português.

VTD Rubricar. O homem visou o documento.


Visar VTI (a) Objetivar, almejar. Viso à aprovação.
VTD Fazer pontaria. Visei o alvo.

PAGAR/PERDOAR
São verbos transitivos diretos em relação à coisa paga ou perdoada, mas transitivos indiretos em relação a quem se paga ou perdoa.
Exemplos: Nós pagamos as dívidas.
Nós pagamos ao empresário.
Deus perdoa seus pecados.
Deus perdoa aos pecadores.

PEDIR
A. No sentido de solicitar, em geral TDI.
Exemplo: A esposa pediu um carro ao marido.

B. No sentido de interceder, é TI. Não raro, aparecem dois objetos indiretos de naturezas distintas.
Exemplo: O pastor pediu a Deus por mim.

VISAR
O verbo VISAR, com o sentido de almejar, desejar,, não admite o pronome oblíquo átono lhe(s), admitindo apenas as formas analíticas e tônicas
a ele (s), a elas (s).

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Exercício Resolvido Exercício Resolvido

01. Assinale a alternativa correta quanto à regência verbal. 04. Assinale a alternativa correta quanto à regência verbal.
a) Eu prefiro cinema a praia. a) Informamos o resultado o aluno.
b) Eu prefiro mais cinema do que praia. b) Informamos o aluno do resultado.
c) O policial obedece os regramentos. c) Informamos ao aluno do resultado.
d) Aspirei o cargo público. d) Esta é a mulher que me referi.

Resolução: A Resolução: B
Quem prefere; prefere uma coisa A outra no contexto; logo o Comentários:
verbo é transitivo direto e indireto. Repare que a preposição exigida
Quem informa; informa algo A alguém ou informa alguém DE
é a preposição A, e não a preposição DE.
algo. As duas possibilidades estão corretas.
(B) A opção A corrige a letra B.
a) Informamos o resultado Ao aluno.
(C) O policial obedece AOS regramentos. Verbo obedecer é
c) Informamos o aluno Do resultado.
transitivo indireto e exige a preposição A.
d) Esta é a mulher A que me referi. Quem se refere; refere-se A
alguém ou A alguma coisa.

Exercício Resolvido

02. Assinale a alternativa correta quanto à regência verbal. Exercício Resolvido


a) Ela se lembrou do rapaz.
05. Assinale a alternativa correta quanto à regência verbal.
b) Não lembrei da resposta.
a) Certificamos o resultado o aluno.
c) Todos desobedeceram os conselhos.
b) Certificamos o aluno do resultado.
d) O prefeito visava o bem do povo.
c) Certificamos ao aluno do resultado.
Resolução: A d) Esta é mulher que discordei.
Quem se lembra, vai se lembrar DE algo ou alguém.
Resolução: B
(B) Não lembrei A resposta. O verbo lembrar, no contexto, é apenas
Comentários:
transitivo direto; portanto, sem preposição.
Quem certifica; certifica algo A alguém ou certifica alguém DE
(C) Todos desobedeceram AOS conselhos. Quem desobedece,
algo. As duas possibilidades estão corretas.
desobedece A alguém ou A alguma coisa.
a) Certificamos o resultado Ao aluno.
(D) O prefeito visava AO bem do povo. Verbo visar com o sentido
de desejar é verbo transitivo indireto e exige preposição (A). c) Certificamos o aluno Do resultado.
d) Esta é a mulher DE que discordei. Quem discorda; discorda DE
alguém ou DE alguma coisa.
Exercício Resolvido

03. Assinale a alternativa correta quanto à regência verbal.


a) Avisamos o resultado o aluno. EXERCÍCIOS DE

b) Avisamos o aluno do resultado.


c) Avisamos ao aluno do resultado.
FIXAÇÃO
d) Este é o caderno que necessito.
01. Assinale a alternativa correta quanto à regência nominal e verbal.
Resolução: B a) Quando o bebedor tem consciência que precisa de ajuda, não
Quem avisa; avisa algo A alguém ou avisa alguém DE algo. As duas se opõe interromper e controlar o processo destrutivo, o que lhe
possibilidades estão corretas. permitirá retomar o ritmo de uma vida saudável.
(A) Avisamos o resultado Ao aluno. b) Quando o bebedor tem consciência de que precisa de ajuda, não
(C) Avisamos o aluno Do resultado. se opõe de interromper e controlar o processo destrutivo, o que
o permitirá retomar o ritmo de uma vida saudável.
(D) Este é o caderno DE que necessitamos. Necessitar DE alguma
coisa. c) Quando o bebedor tem consciência que precisa de ajuda, não se
opõe em interromper e controlar o processo destrutivo, o que lhe
permitirá retomar o ritmo de uma vida saudável.
d) Quando o bebedor tem consciência de que precisa de ajuda, não
se opõe a interromper e controlar o processo destrutivo, o que lhe
permitirá retomar o ritmo de uma vida saudável.
e) Quando o bebedor tem consciência de que precisa de ajuda, não
se opõe contra interromper e controlar o processo destrutivo, o
que o permitirá retomar o ritmo de uma vida saudável.

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02. ... que o trabalho dá sentido à vida. 08. Considerando apenas as regras de regência e de colocação
O verbo que apresenta idêntica regência está na frase: pronominal da norma-padrão da língua portuguesa, a expressão
destacada em – Ainda assim, 60% afirmam que raramente ou nunca
a) A satisfação, então, vem de fora... têm informações sobre o impacto ambiental do produto ou do
b) ... enfrentar a situação de filho de beltrano e de sicrana... comportamento da empresa. – pode ser corretamente substituída por
c) ... antes dividir com alguém o sucedido... a) ... nunca informam-se sob o impacto...
d) Assim, fracassar na execução de uma profissão ou ofício... b) ... nunca se informam o impacto...
e) ... preencher o vazio de uma existência sem rosto. c) ... nunca informam-se ao impacto...
d) ... nunca se informam do impacto...
03. Assinale a alternativa em que a frase está correta quanto à
e) ... nunca informam-se no impacto...
regência e ao uso ou não do acento indicativo da crase.
a) Tendo chegado a capital dinamarquesa sitiada por pessoas e 09. Assinale a opção que NÃO apresenta um desvio da modalidade
papéis, já tenho certeza que Copenhague não é apenas mais uma padrão quanto à regência verbal.
negociação internacional.
a) Leandro, sempre agradeça aos amigos a cessão da senha do Wi-fi.
b) Tendo chegado à esta capital sitiada por pessoas e papéis, já tenho
certeza de que Copenhague não é apenas mais uma negociação b) Os adolescentes aspiram o uso da internet o dia todo, em todo
internacional. lugar.
c) Tendo chegado àquela cidade sitiada por pessoas e papéis, c) Não perdoaremos as funcionárias que utilizarem o Wi-fi na
já tenho certeza que Copenhague não é apenas mais uma reunião.
negociação internacional. d) Muitas pessoas desfrutam do Wi-fi alheio sem a menor cerimônia.
d) Tendo chegado à capital dinamarquesa sitiada por pessoas e e) Todos vocês lembram sempre da senha do Wi-fi da minha casa?
papéis, já tenho certeza de que Copenhague não é apenas mais
uma negociação internacional. 10. Assinale a alternativa correta quanto à regência verbal.
e) Tendo chegado a bela capital dinamarquesa sitiada por pessoas e a) Eu aspirei ao ar poluído.
papéis, já tenho certeza de que Copenhague não é apenas mais
b) Assistimos o jogo.
uma negociação internacional.
c) Lembrei-me do resultado.
04. Nós não estamos _______ _______ desconfiar ____ pessoas que d) A mulher que gosto apareceu.
pedem ajuda.
a) habituado … por … em
EXERCÍCIOS DE

TREINAMENTO
b) habituados … a … de
c) habituados … em … com
d) habituado … com … de
e) habituado … a … por
01. (IDCAP) O uso da regência verbal encontra-se correta em todos
05. A imprensa internacional foi convidada para assistir os debates os períodos, EXCETO:
em Copenhague. a) O médico assistiu a paciente.
De acordo com a norma escrita padrão da língua, na frase acima há b) Os amigos assistiram o filme.
um DESVIO de c) Pedi a sobremesa de que gosto.
a) regência nominal. d) concordância verbal. d) Aquele é o homem de cujo filho lhe falei.
b) regência verbal. e) pontuação. e) Informei a nossa mãe.
c) concordância nominal.
02. (IDCAP) Nas orações abaixo, identifique o uso correto da regência
06. De acordo com a norma-padrão da Língua Portuguesa e em verbal:
relação à regência verbal, assinale a alternativa cujo verbo grifado a) O seriado que assistimos é muito bom.
tenha a mesma regência do destacado na frase abaixo.
b) O cargo que aspirávamos era excelente.
A má postura corporal piora o humor.
c) O certificado que visei era falso.
a) Tudo é uma combinação de um trabalho de fortalecimento com
alongamento. d) Simpatizei-me de ti.
b) A má postura desencadeia outras doenças. e) Assisti o filme à tarde.
c) Todos precisam de exercícios físicos.
03. (DÉDELUS CONCURSOS 2020) Sobre a regência do verbo
d) Alguns exercícios são ótimos para melhorar a postura. “desdenhar”, assinale a alternativa em que ele desempenha função
e) Para o bem-estar, necessitamos de disciplina corporal. de verbo intransitivo:
a) “Lins, desprezado, mas não desiludido, agarrava-se ao velho
07. Considerando a regência verbal, assinale a alternativa que prolóquio: “Quem desdenha quer comprar…””
completa, de acordo com a norma-padrão da língua portuguesa, b) Desdenhava a frivolidade.
a lacuna do texto. Os pacientes me dizem que preferem morrer
________ tentar os tratamentos. c) Não desdenho de ser o autor deste livrinho.
a) à que b) à c) ao que d) em e) a d) Sempre desdenhou as coisas do país.

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04. (OBJETIVA) Com relação à regência verbal, marcar C para as não é a única que ela terá que fazer. As campanhas contra os canudos,
sentenças Certas, E para as Erradas e, após, assinalar a alternativa que ainda que esse item seja icônico, podem ser inócuas. O combate ao
apresenta a sequência CORRETA: lixo no mar deve promover uma discussão mais abrangente sobre
( ) Prefiro filme do que série. as variadas fontes e as diferentes estratégias para combatê-lo, não
somente banimento.
( ) O subgerente não quis visar o cheque.
Ainda que qualquer redução da entrada de lixo no mar seja
( ) Naquele curso, equiparou-se aos demais. relevante, os canudos representam apenas 2,6% dos itens coletados
a) C-C-E c) C-E-E e) C-C-C em praias de São Paulo pelo Instituto Oceanográfico da Universidade
de São Paulo. Uma das principais causas do lixo no mar é a ocupação
b) E-C-C d) E-C-E
irregular, problema socioambiental associado à pobreza, ordenamento
territorial e falta de saneamento básico. Esse cenário afeta todo o
05. (UNESC) Dois verbos do poema de Mário Quintana aparecem território nacional, em especial a cidade de São Paulo.
com frequência em textos escritos em norma padrão empregados de
forma equivocada: lembrar e esquecer. Com possibilidade de serem O banimento baseia-se no pressuposto de que o canudo tem
escritos com duas regências diferentes, é comum encontrarmos com o ambiente como destino, não encontrando um sistema adequado
usos diversos. Assinale a opção em que ocorre um erro no emprego de coleta e destinação de resíduos sólidos. Isso deveria ser garantido
desses verbos. pelos municípios, com a coleta seletiva, a reciclagem e a economia
circular, impedindo a contaminação ambiental.
a) Lembrei que você fazia aniversário na semana passada.
Não é lógico investir no banimento dos canudos sem atuar de
b) Esqueci de que nos feriados os ônibus circulam menos. forma mais abrangente e sistêmica em três frentes para combater as
c) As pessoas nunca se esquecem dos problemas com a saúde. principais fontes de lixo para o mar: educação ambiental, gestão de
d) Preciso que me lembrem do horário da consulta. resíduos e ordenamento territorial. Por outro lado, caso o banimento
dos canudos seja colocado em prática, deve-se cobrar coerência dos
tomadores de decisão quanto a outros itens de uso único e efêmero
06. (FGV) Analise as afirmativas abaixo sobre regência verbal:
que são mais abundantes nas ruas e no mar, como as bitucas de
1. Está correta quanto à regência verbal a seguinte frase: “Os cigarro. Deve-se também proibir a produção, a venda e o uso de
alunos obedeceram às instruções da prova e responderam ao cigarros na cidade. Mas nesse caso a conveniência não parece ser
questionário”. conveniente, a coerência um tanto quanto incoerente e o banimento
2. As duas frases a seguir, mantendo o mesmo sentido, estão dos canudos uma cortina de fumaça aparente.
corretas quanto à regência: “A enfermeira assistiu o médico na Disponível em:<www1.folha.uol.com.br> . Acesso em: 16 mar. 2019.
operação” / “A enfermeira assistiu ao médico na operação”.
3. “Banhou-se, barbeou-se e foi-se embora.” Nesta frase, temos Apresenta preposição exigida pela regência do verbo em:
exemplo de verbo pronominal. a) O combate ao lixo no mar deve promover uma discussão mais
4. Na frase “Feijoada, o prato que todos os brasileiros gostam”, o abrangente [...]
verbo “gostar” é transitivo direto e, por isso, não é precedido de b) Um exemplo: após o banimento dos canudos na cidade do Rio
preposição. de Janeiro [...]
a) 1 – 3 c) 2–3 e) 2 – 4 c) Uma das principais causas do lixo no mar é a ocupação irregular
b) 1 – 2 d) 3 – 4 [...]
d) Não é lógico investir no banimento dos canudos sem atuar [...]
07. (FUNCERN)
LEI ANTICANUDO: ENGODO QUE NÃO SALVARÁ OS OCEANOS 08. (CETAP 2019)
HORA DA VERDADE
Alexander Turra
Criança sabe ou não de sexo? Com que idade? Não estou falando
A cidade de São Paulo, seguindo um movimento recente, está do que seria ideal, em termos educacionais, teóricos etc, etc. Mas
propondo uma lei proibindo a fabricação, comercialização e oferta de do real. Informações sobre sexo variam muito entre as classes sociais
canudos plásticos. Essa onda, literalmente, é motivada pelo fato de os e locais de moradia. Escrevo livros infantojuvenis. Em certa época,
canudos estarem associados a imagens marcantes de degradação dos muitos autores amigos achavam importante falar de sexo em seus
oceanos, problema que o banimento “pretende” solucionar. livros. Eu não. Pelo simples fato, comentei com uma escritora amiga
De fato, canudos e outros itens de uso único têm sido questionados minha, que as crianças saberiam mais sobre sexo do que eu. Já
quanto ao antagonismo entre seu uso efêmero, muitas vezes virando soube de casos absurdos. Uma escola adotou um livro de um amigo
resíduos após poucos minutos, e o longo tempo que permanecem no para leitura paradidática. Em certa página, o casal de adolescentes
ambiente, dada sua baixa capacidade de degradação, porém grande descobria o sexo. Alguns pais fizeram escândalo. A solução da escola
capacidade de ser reciclado. Esses itens podem ser considerados uma foi arrancar a página específica e queimar! Muitos adultos pensam,
conveniência inconveniente. Apesar da praticidade que proporcionam, esquecendo a própria infância, que a criança é um anjinho ingênuo e
aumentam a quantidade de resíduos destinados aos aterros e causam intocável, a quem as informações jamais devem ser oferecidas, Nossa,
problemas ambientais quando descartados incorretamente. quanta bobagem! Entre meus muitos livros, tenho um que aborda a
Mas será que o banimento dos canudos é a solução para esses questão do crack, Vida de Droga. A personagem é uma adolescente
problemas, em especial para o lixo no mar? Essa política pública que se vicia. Escrevi a partir de entrevistas com adolescentes. Achava
pode soar assertiva, mas esconde peculiaridades que não podem ser que seria um: fracasso absoluto, devido à ousadia do tema. Para
desconsideradas. minha surpresa, logo após o lançamento, fui chamado para dar
muitas palestras em escolas religiosas. Um dia perguntei para uma:
O banimento, diferentemente de campanhas de conscientização, freira se não se chocava com o tema.
não cria o nexo entre o não uso do canudo e seu eventual benefício
ambiental. Um exemplo: após o banimento dos canudos na cidade do — A gente quer mostrar como realmente acontece. O fundo do
Rio de Janeiro, a água de coco passou a ser servida em copos plásticos poço! Para evitar o vício - disse ela.
igualmente de uso único. Achei interessante. Mas foi em um colégio público, na periferia de
É necessário educar a população para tomar decisões autônomas e São Paulo, que descobri a real. Dei uma palestra e, em seguida, assisti
ambientalmente adequadas, pois a escolha de usar ou não um canudo à dramatização de meu livro, feita pelos próprios alunos. Para minha

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surpresa, havia cachimbos em cena; e uma descrição do uso de crack 09. (CETREDE)
absolutamente completa! No intervalo, falei com a diretora e com os ESTÁTUA FALSA
professores. Comentei sobre o meu medo de o livro ser pesado. A
diretora apontou a janela. Só de oiro falso meus olhos se douram;
— Está vendo aquela esquina? Atravessando a rua? Sou esfinge sem mistério no poente.
A tristeza das coisas que não foram
Concordei. Na minha alma desceu veladamente.
— Boa parte das alunas sai daqui no fim da tarde e vai se prostituir,
logo ali. Na minha dor quebram-se espadas de ânsia,
Eu todo cheio de dedos. A diretora me revelou outras coisas de Gomos de luz em treva se misturam.
arrepiar. As sombras que eu dimano não perduram,
Como ontem para mim, hoje é distância.
— Pegamos uma aluna com seis garotos. Chamamos a família.
Mas ... como lidar com isso? Já não estremeço em face de segredo;
Eu já quebrei a cara em palestra. Tenho outro livro, A corrente da Nada me aloira, nada me aterra
vida, que fala sobre a contaminação do HIV entre jovens. Fui a uma A vida corre sobre mim em guerra,
cidade próxima a São Paulo. Terminada a palestra em que falo sobre E nem sequer um arrepio de medo!
os riscos-nessas ocasiões, sou bem professoral–, pedi aos alunos que
me enviassem perguntas escritas e anônimas, para que cada um se Sou estrela ébria que perdeu os céus,
sentisse a vontade para perguntar o que quisesse. Lá pelas tantas veio: Sereia louca que deixa o mar;
“É possível reutilizar uma seringa?” Sou templo prestes a ruir sem deus,
Olhei para aqueles rostinhos, entre 10 e 12 anos. E me senti no Estátua falsa ainda erguida no ar...
papel de moralizar. Respondi: Mário de Sá Carneiro.

— Nunca se pode reutilizar uma seringa, porque há risco de


Marque a alternativa que indica a classificação CORRETA da regência
contaminação.
verbal dos verbos a seguir retirados do texto.
Sinceramente, eu só queria que ninguém naquela sala usasse a tal
a) ... desceu : transitivo indireto.
seringa... Um garoto de no máximo 11 anos ergue a mão.
b) ... dimano: transitivo direto.
— O senhor está mentindo. Para esterilizar uma seringa, a gente
faz assim, assim.... c) ... aloira: intransitivo.
E dei o serviço. Quase cai duro. d) ... perdeu: transitivo indireto.
Meus livros abordam temas atuais, mas não em torno da e) ... perduram: bitransitivo.
sexualidade. Vi amigos despencar nas vendas porque pais reclamam
de situações que, segundo dizem, os filhos não’ podem saber. Na 10. (IBADE)
televisão e em todo meio de comunicação, a mesma pressão. Até na UM HOMEM DE CONSCIÊNCIA
propaganda. Proíbem-se anúncios e comerciais para crianças, para
não criar desejos que redundem em frustrações se o pai não puder Chamava-se João Teodoro, só. O mais pacato e modesto dos
comprar. Fui um menino pobre, tive muitos desejos que meus pais não homens. Honestíssimo e lealíssimo, com um defeito apenas: não dar
puderam satisfazer. Isso me deu noção de limites. Não um sofrimento o mínimo valor a si próprio. Para João Teodoro, a coisa de menos
atroz, a não ser por um cavalo branco, que eu desejava ter no quintal. importância no mundo era João Teodoro.
Foram anos de brigas como Papai Noel, que nunca trazia o tal cavalo. Nunca fora nada na vida, nem admitia a hipótese de vir a ser
Eu vejo argumentos de educadores e penso onde é que eles alguma coisa. E por muito tempo não quis nem sequer o que todos ali
estão, num país em que adolescentes têm seu primeiro filho aos 12, queriam: mudar-se para terra melhor.
13 anos? E onde o problema já é evitar o segundo? Onde as drogas Mas João Teodoro acompanhava com aperto de coração o
correm solto nas praias, escolas? Vamos continuar fingindo que nada desaparecimento visível de sua Itaoca.
disso existe ... Que a criança é um anjinho de procissão?
— Isto já foi muito melhor, dizia consigo. Já teve três médicos
Penso que está na hora de rever o Estatuto da Criança e do bem bons – agora só um e bem ruinzote. Já teve seis advogados e
Adolescente. Rever situações que satisfazem aos adultos aos teóricos, hoje mal dá serviço para rábula ordinário como Tenório. Nem circo de
mas não resolvem as questões básicas. Penso que aulas de educação cavalinhos bate mais por aqui.
sexual, com valores, jamais poderiam ser abolidas, porque ou a criança
A gente que presta se muda. Fica o restolho. Decididamente, a
já sabe ou vai saber de um jeito pior.
minha Itaoca está se acabando...
Eu só não entendo como os teóricos de educação e tantos pais
João Teodoro entrou a incubar a ideia de também mudarse, mas
podem ser tão inocentes - enquanto para crianças e adolescentes
para isso necessitava dum fato qualquer que o convencesse de maneira
basta abrir a internet e fazer o diabo.
absoluta de que Itaoca não tinha mesmo conserto ou arranjo possível.
Walcyr Carrasco é jornalista, autor de livros peças teatrais e novelas de televisão.
Época, 26/01/2018. — É isso, deliberou lá por dentro. Quando eu verificar que tudo
está perdido, que Itaoca não vale mais nada de nada, então arrumo a
Identifique a alternativa em que o verbo, quando pronominal, muda trouxa e boto-me fora daqui.
de regência para transitivo indireto: Um dia aconteceu a grande novidade: a nomeação de João
a) “Para evitar o vício (...)”. Teodoro para delegado. Nosso homem recebeu a notícia como se
b) “(... ) esquecendo a própria infância (...)”. fosse uma porretada no crâneo. Delegado, ele! Ele que não era nada,
nunca fora nada, não queria nada, não se julgava capaz de nada...
c) “Achei interessante.”
Ser delegado numa cidadinha daquelas é coisa seríssima. Não há
d) “(...) assisti à dramatização de meu livro (...)”. cargo mais importante. É o homem que prende os outros, que solta,
que manda dar sovas, que vai à capital falar com o governo. Uma
coisa colossal ser delegado - e estava ele, João Teodoro, de-le-ga-do
de Itaoca...

PROMILITARES.COM.BR 223
REGÊNCIA VERBAL

João Teodoro caiu em meditação profunda. Passou a noite em 12. (QUADRIX) Para responder a questão, leia o texto abaixo.
claro, pensando e arrumando as malas. Pela madrugada botou-as SENADO ARGENTINO APROVA ORÇAMENTO DE 2019 COM
num burro, montou seu cavalinho magro e partiu. MEDIDAS DE AUSTERIDADE EXIGIDAS PELO FMI
Antes de deixar a cidade foi visto por um amigo madrugador. Orçamento aprovado prevê corte de gastos de cerca de US$ 10
— Que é isso, João? Para onde se atira tão cedo, assim de armas bilhões para tentar reequilibrar as contas públicas.
e bagagens? O Senado da Argentina aprovou o orçamento para 2019 com
— Vou-me embora, respondeu o retirante. Verifiquei que Itaoca uma série de cortes de gastos e medidas de austeridade exigidas pelo
chegou mesmo ao fim. Fundo Monetário Internacional (FMI) para assegurar a liberação de
— Mas, como? Agora que você está delegado? empréstimos no valor de US$ 56 bilhões.
— Justamente por isso. Terra em que João Teodoro chega a A votação terminou com 45 votos a favor, 24 contra e uma abstenção,
delegado, eu não moro. Adeus. e terminou na madrugada depois de mais de 12 horas de debate.
E sumiu. A aprovação representa uma vitória para o governo do presidente
(LOBATO, Monteiro. “Conto de Cidades Mortas”. In www.
Mauricio Macri, que visa a reeleição em 2019, e negociou a ampliação
gotasdeliteraturabrasileira.blogspot.com) do socorro financeiro do FMI, se comprometendo a cortar seu déficit
fiscal primário.
O período “Terra em que João Teodoro chega a delegado, eu não O orçamento que vai valer em 2019 inclui cortes de gastos de
moro.” (14º§) está corretamente redigido quanto à regência verbal. cerca de 400 bilhões de pesos (cerca de US$ 10 bilhões) em relação ao
Das alterações feitas abaixo no período, há erro na relação de regência ano anterior para reduzir o déficit fiscal primário a zero. Esse índice foi
verbal em: de 3,9% do PIB em 2017 e é projetado em 2,7% em 2018.
a) Terra onde João Teodoro chega à função de delegado, eu não moro. Essa meta de equilíbrio fiscal primário seria alcançada com uma
b) Terra que João Teodoro chega a ponto de ser delegado, eu não redução nas despesas equivalente a 1,5% do PIB e um aumento na
moro. receita de cerca de 1,2% do PIB. Com os cortes, haverá redução de
c) Terra na qual João Teodoro chega a exercer a função de delegado, verbas para gastos [com] saúde, educação, pesquisa, transportes,
eu não moro. obras públicas e cultura, entre outros.

d) Terra a respeito da qual se diz que João Teodoro chegou à [...]


atribuição de delegado, eu não moro. “Embora o FMI e as autoridades confiem no início de uma
e) Terra à qual dedicou-se João Teodoro de chegar à incumbência de reativação gradual a partir do segundo trimestre de 2019, no melhor
ser delegado, eu não moro. dos casos haverá sinais de uma recuperação significativa na atividade
e no emprego no segundo semestre. Mas, no curto prazo, o programa
fiscal tem um efeito inegável de contração sobre a demanda agregada,
11. (INSTITUTO AOCP) Utilize o Texto I para responder a questão.
a atividade econômica e o emprego”, disse à agência AFP o economista
PROJETOS E AÇÕES: PAPO DE RESPONSA Héctor Rubini, da Universidade do Salvador, em Buenos Aires.
O Programa Papo de Responsa foi criado por policiais civis do [...]
Rio de Janeiro. Em 2013, a Polícia Civil do Espírito Santo, por meio
de policiais da Academia de Polícia (Acadepol) capixaba, conheceu o Entenda a crise
programa e, em parceria com a polícia carioca, trouxe para o Estado.
A crise monetária que atinge o país acelerou o aumento dos
O ‘Papo de Responsa’ é um programa de educação não formal que preços e, desde janeiro, o peso registrou desvalorização de 50% em
– por meio da palavra e de atividades lúdicas – discute temas diversos relação ao dólar, estimulando a inflação.
como prevenção ao uso de drogas e a crimes na internet, bullying,
O país conseguiu um empréstimo de US$ 50 bilhões do FMI em
direitos humanos, cultura da paz e segurança pública, aproximando os
junho, dos quais já recebeu US$ 15 bilhões, mas Buenos Aires precisou
policiais da comunidade e, principalmente, dos adolescentes.
voltar ao organismo para obter apoio adicional com desembolsos mais
O projeto funciona em três etapas e as temáticas são repassadas rápido, se comprometendo a cortar seu déficit fiscal primário de uma
pelo órgão que convida o Papo de Responsa, como escolas, igrejas e previsão de 2,7% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2018.
associações, dependendo da demanda da comunidade. No primeiro
No final de outubro, a direção do FMI aprovou um pacote total
ciclo, denominado de “Papo é um Papo”, a equipe introduz o tema e
de US$ 56,3 bilhões para a Argentina com o objetivo de ajudar a
inicia o processo de aproximação com os alunos. Já na segunda etapa,
estabilizar a economia do país.
os alunos são os protagonistas e produzem materiais, como músicas,
(Adaptado de g1.globo.com)
poesias, vídeos e colagens de fotos, mostrando a percepção deles sobre
a problemática abordada. No último processo, o “Papo no Chão”, os
Releia a seguinte passagem do texto, dando especial atenção ao
alunos e os policiais civis formam uma roda de conversa no chão e
trecho sublinhado.
trocam ideias relacionadas a frases, questões e músicas direcionadas
sempre no tema proposto pela instituição. Por fim, acontece um bate- “A aprovação representa uma vitória para o governo do presidente
papo com familiares dos alunos, para que os policiais entendam a Mauricio Macri, que visa a reeleição em 2019, e negociou a ampliação
percepção deles e também como os adolescentes reagiram diante das do socorro financeiro do FMI, se comprometendo a cortar seu déficit
novas informações. fiscal primário.”
Disponível em. Acesso em: 30/ jan./2019. As regras de regência verbal envolvem, principalmente, o
reconhecimento da necessidade ou da obrigatoriedade de uso de
Considere a regência dos verbos em destaque e assinale a alternativa artigos e de preposições. Considerando-se que a regência verbal está
correta. correta no trecho sublinhado e que não há desvios de outra natureza,
a) O projeto aspira a aproximação com a comunidade. fica claro que o “a” ali presente:
b) O projeto visa à aproximação com a comunidade. a) deveria obrigatoriamente estar marcado com sinal indicativo de crase.
c) Como os adolescentes preferem mais as atividades lúdicas, elas b) não poderia estar marcado com sinal indicativo de crase.
são a base da segunda etapa. c) é apenas preposição.
d) Os policiais capixabas assistem à comunidade no que ela necessita. d) é apenas artigo.
e) Os policiais capixabas visam na comunidade o que ela necessita. e) é a junção de uma preposição com um artigo.

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REGÊNCIA VERBAL

13. (IBADE) Texto I A regência verbal consiste na relação de subordinação entre um verbo
O VIAJANTE CLANDESTINO e seus complementos. Entre as alternativas abaixo, selecione aquela
em que a regência do verbo em destaque está sendo feita de maneira
— Não é arvião. Diz-se: avião. INCORRETA:
O menino estranhou a emenda de sua mãe. Não mencionava ele a) “Ele que RECOLHESSE a fantasia, aquele lugar era pertença
uma criatura do ar? A criança tem a vantagem de estrear o mundo, exclusiva dos adultos.”
iniciando outro matrimônio entre as coisas e os nomes. Outros a elas
se semelham, à vida sempre recém-chegando. São os homens em b) “Sua boca, maior que o corpo, TRADUZIA o espanto das
estado de poesia, essa infância autorizada pelo brilho da palavra. diferenças.”
— Mãe: avioneta é a neta do avião? c) “Eu ASSISTIA a criança.”
Vamos para a sala de espera, ordenou a mãe. Sala de esperas? d) “Mãe. eu posso LEVAR o sapo?”
Que o miúdo acreditava que todas as salas fossem iguais, na viscosa e) “Primeiro, não lA a nenhuma parte.”
espera de nascer sempre menos. Ela lhe admoestou, prescrevendo
juízo. Aquilo era um aeroporto, lugar de respeito. A senhora apontou 14. (UFCA) O verbo chamar, no sentido de convocar, rege
os passageiros, seus ares graves, sotúrnicos. O menino mediu-se complemento sem preposição. Assinale a alternativa que apresenta
com aquele luto, aceitando os deveres do seu tamanho. Depois, exemplo nesse sentido.
se desenrolou do colo materno, fez sua a sua mão e foi à vidraça.
a) O telefone chamou repetidamente.
Espreitou os imponentes ruídos, alertou a mãe para um qualquer
espanto. Mas a sua voz se arfogou no tropel dos motores. b) A armadilha chama o rato.
Eu assistia a criança. Procurava naquele aprendiz de criatura a c) Vá chamá-los para o almoço.
ingenuidade que nos autoriza a sermos estranhos num mundo que d) O Reitor chamou para si toda a responsabilidade.
nos estranha. Frágeis onde a mentira credencia os fortes. e) Chama que arde.
Seria aquele menino a fractura por onde, naquela toda frieza,
espreitava a humanidade? No aeroporto eu me salvava da angústia 15. (UERR)
através de um exemplar da infância. Valha-nos nós.
A MULHER QUE IA NAVEGAR
O menino agora contemplava as traseiras do céu, seguindo as
fumagens, lentas pegadas dos instantâneos aviões. Ele então se O anúncio luminoso de um edifício em frente, acendendo e
fingiu um aeroplano, braços estendidos em asas. Descolava do chão, apagando, dava banhos intermitentes de sangue na pele de seu braço
o mundo sendo seu enorme brinquedo. E viajava por seus infinitos, repousado, e de sua face. Ela estava sentada junto à janela e havia luar;
roçando as malas e as pernas dos passageiros entediados. Até que a e nos intervalos desse banho vermelho ela era toda pálida e suave.
mãe debitou suas ordens. Ele que recolhesse a fantasia, aquele lugar Na roda havia um homem muito inteligente que falava muito;
era pertença exclusiva dos adultos. havia seu marido, todo bovino; um pintor louro e nervoso; uma
— Arranja-te. Estamos quase a partir. senhora morena de riso fácil e engraçado; um físico, uma senhora
recentemente desquitada, e eu. Para que recensear a roda que falava
— Então vou despedir do passaporteiro.
de política e de pintura? Ela não dava atenção a ninguém. Quieta,
A mãe corrigiu em dupla dose. Primeiro, não ia a nenhuma parte. às vezes sorrindo quando alguém lhe dirigia a palavra, ela apenas
Segundo, não se chamava assim ao senhor dos passaportes. Mas mirava o próprio braço, atenta à mudança da cor. Senti que ela fruía
só no presente o menino se subditava. Porque, em seu sonho, mais nisso um prazer silencioso e longo. “Muito!”, disse quando alguém
adiante, ele se proclama: lhe perguntou se gostara de um certo quadro - e disse mais algumas
— Quando for grande quero ser passaporteiro. palavras; mas mudou um pouco a posição do braço e continuou a se
E ele já se antefruía, de farda, dentro do vidro. Ele é que autorizava mirar, interessada em si mesma, com um ar sonhador.
a subida aos céus. Quando começou a discussão sobre pintura figurativa, abstrata
— Vou estudar para migraceiro. e concreta, houve um momento em que seu marido classificou certo
pintor com uma palavra forte e vulgar; ela ergueu os olhos para ele,
— És doido, filho. Fica quieto. com um ar de censura; mas nesse olhar havia menos zanga do que
O miúdo guardou seus jogos, constreito. Que criança, neste tédio. Então senti que ela se preparava para o enganar.
mundo, tem vocação para adulto?
Ela se preparava devagar, mas sem dúvida e sem hesitação
Saímos da sala para o avião. Chuviscava. O menino seguia seus íntima nenhuma; devagar, como um rito. Talvez nem tivesse pensado
passos quando, na lisura do alcatrão, ele viu o sapo. Encharcado, o ainda que homem escolhería, talvez mesmo isso no fundo pouco lhe
bicho saltiritava. Sua boca, maior que o corpo, traduzia o espanto das importasse, ou seria, pelo menos, secundário. Não tinha pressa. O
diferenças. Que fazia ali aquele representante dos primórdios, naquele primeiro ato de sua preparação era aquele olhar para si mesma, para
lugar de futuros apressados? seu belo braço que lambia devagar com os olhos, como uma gata se
O menino parou, observente, cuidando os perigos do batráquio. lambe no corpo; era uma lenta preparação. Antes de se entregar a
Na imensa incompreensão do asfalto, o bicho seria esmagado por outro homem, ela se entregaria longamente ao espelho, olhando e
cega e certeira roda meditando seu corpo de 30 anos com uma certa satisfação e uma
— Mãe, eu posso levar o sapo? certa melancolia, vendo as marcas do maiô e da maternidade e se
sorrindo vagamente, como quem diz: eis um belo barco prestes a se
A senhora estremeceu de horror. Olhou vergonhada, pedindo
fazer ao mar; é tempo.
desculpas aos passantes. Então, começou a disputa. A senhora
obrigava o braço do filho, os dois se teimavam. Venceu a secular Talvez tenha pensado isso naquele momento mesmo; olhou-me,
maternidade. O menino, murcho como acento circunflexo, subiu as quase surpreendendo o olhar com que eu estudava; não sei; em todo
escadas, ocupou seu lugar, ajeitou o cinto. Do meu assento eu podia caso, me sorriu e disse alguma coisa, mas senti que eu não era o
ver a tristeza desembrulhando líquidas missangas no seu rosto. Fiz-lhe navegador que ela buscava. Então, como se estivesse despertando,
sinal, ele me encarou de soslado. Então, em seu rosto se acendeu a passou a olhar uma a uma as pessoas da roda; quando se sentiu
mais grata bandeira de felicidade. Porque do côncavo de minhas mãos olhado, o homem inteligente que falava muito continuou a falar
espreitou o focinho do mais clandestino de todos os passageiros. encarando-a, a dizer coisas inteligentes sobre homem e mulher; ela
COUTO, Mia. “O viajante clandestino”. In:______. Cronicando. ia voltar os olhos para outro lado, mas ele dizia logo outra coisa
Espanha: Txalaparta, 2011. Disponível em: <www.contioutra.com/o-viajante- inteligente, como quem joga depressa mais quirera de milho a uma
clandestino-mia-couto/>. Acesso em: 10 dez. 2018 (adaptado).

PROMILITARES.COM.BR 225
REGÊNCIA VERBAL

pomba. Ela sorria, mas acabou se cansando daquele fluxo de palavras, Vários aspectos relacionados ao problema (abuso das chamadas
e o abandonou no meio de uma frase. Seus olhos passaram pelo drogas lícitas, como medicamentos, inalação de solventes, etc.) ou
marido e pelo pequeno pintor louro e então senti que pousavam não são discutidos, ou não merecem a devida atenção. A sociedade
no físico. Ele dizia alguma coisa à mulher recentemente desquitada, parece ser pouco sensível, por exemplo, aos problemas do alcoolismo,
alguma coisa sobre um filme do festival. Era um homem moreno e que representa a primeira causa de internação da população adulta
seco, falava devagar e com critério sobre arte e sexo. Falava sem pose, masculina em hospitais psiquiátricos. Recente estudo epidemiológico
sério; senti que ela o contemplava com uma vaga surpresa e com realizado em São Paulo apontou que 8% a 10% da população adulta
agrado. Estava gostando de ouvir o que ele dizia à outra. O homem apresentavam problemas de abuso ou dependência de álcool. Por
inteligente que falava muito tentou chamar-lhe a atenção com uma outro lado, a comunidade mostra-se extremamente sensível ao uso e
coisa engraçada, e ela lhe sorriu; mas logo seus olhos se voltaram para abuso de drogas ilícitas, como maconha, cocaína, heroína, etc.
o físico. E então ele sentiu esse olhar e o interesse com que ela o ouvia, Dois grupos mantém acalorada discussão. O primeiro acredita
e disse com polidez: que somente penalizando traficantes e usuários pode-se controlar
— A senhora viu o filme? o problema, atitude essa centrada, evidentemente, em aspectos
Ela fez que sim com a cabeça, lentamente, e demorou dois repressivos.
segundos para responder apenas: vi. Mas senti que seu olhar já Essa corrente atingiu o seu maior momento logo após o
estudava aquele homem com uma severa e fascinada atenção, como movimento militar de 1964. Seus representantes acreditam, por
se procurasse na sua cara morena os sulcos do vento do mar e, no exemplo, que “no fim da linha” usuários fazem sempre um pequeno
ombro largo, a secreta insígnia do piloto de longo, longo curso. comércio, o que, no fundo, os igualaria aos traficantes, dificultando
Aborrecido e inquieto, o marido bocejou - era um boi esquecido, o papel da Justiça. Como solução, apontam, com frequência, para
mugindo, numa ilha distante e abandonada para sempre. É estranho: os reconhecidamente muito dependentes, programas extensos a
não dava pena. serem desenvolvidos em fazendas de recuperação, transformando o
tratamento em um programa agrário.
Ela ia navegar.
BRAGA, Rubem. A mulher que ia navegar. In: Rubem Braga.
Na outra ponta, um grupo “neoliberal” busca uma solução nas
Recado da primavera. 5. ed. Rio de Janeiro: Record, 1991. p.80-82. regras do mercado. Seus integrantes acreditam que, liberando e
taxando essas drogas através de impostos, poderiam neutralizar seu
“Quando começou a discussão sobre pintura figurativa, abstrata comércio, seu uso e seu abuso. As experiências dessa natureza em
e concreta, houve um momento em que seu marido classificou certo curso em outros países não apresentam resultados animadores. Como
pintor com uma palavra forte e vulgar” uma terceira opção, pode-se olhar a questão considerando diversos
ângulos. O usuário eventual não necessita de tratamento, deve ser
A respeito do trecho acima, quanto aos aspectos gramatical, sintático apenas alertado para os riscos. O dependente deve ser tratado, e, para
e semântico, analise as afirmativas a seguir. isso, a descriminalização do usuário é fundamental, pois facilitaria
I. Se o fragmento for passado para o plural o verbo “HAVER” muito seu pedido de ajuda. O traficante e o produtor devem ser
permanecerá no singular. penalizados. Quanto ao argumento de que usuários vendem parte do
II. Todos os verbos do trecho, conforme a regência verbal, são produto: é fruto de desconhecimento de como se dão as relações e
transitivos. as trocas entre eles.
III. O sujeito da primeira oração é determinado pela desinência verbal Duplamente penalizados, pela doença (dependência) e pela lei,
e não aparece explícito. os usuários aguardam melhores projetos, que cuidem não só dos
aspectos legais, mas também dos aspectos de saúde que são inerentes
Está correto apenas o que se afirma em: ao problema.
a) l e lll. (Adaptado de Marcos P.T. Ferraz, Folha de São Paulo)

b) I e II.
A questão da descriminalização das drogas se presta a frequentes
c) I. simplificações de caráter maniqueísta. A regência verbal observada na
d) III. frase anterior é idêntica à encontrada em:
e) II. a) ... a descriminalização do usuário é fundamental.
b) O usuário eventual não necessita de tratamento.
16. (MPE-GO) Embora de ocorrência frequente no cotidiano, a c) ... a comunidade mostra-se extremamente sensível ao uso e abuso
gramática normativa não aceita o uso do mesmo complemento para de drogas ilícitas.
verbos com regências diferentes. Assinale a opção em que esse tipo
de transgressão não ocorre. d) Vários aspectos relacionados ao problema não merecem a devida
atenção.
a) “Pode-se concordar ou discordar, até radicalmente, de toda a
política externa brasileira.” (Clóvis Rossi) e) ... que, no fundo, os igualaria aos traficantes.
b) “Educador é todo aquele que confere e convive com esses
18. (CETREDE) Leia as afirmativas a seguir quanto à regência verbal e
conhecimentos.” (J. Carlos de Sousa)
marque a opção CORRETA.
c) Vi e gostei muito do filme O jardineiro fiel cujo diretor é um
a) Esqueceram de mim.
brasileiro.
b) Esqueceram-me todos os documentos.
d) A sociedade brasileira quer a paz, anseia por ela e a ela aspira.
c) Não lembro do seu nome.
e) Interessei-me e desinteressei-me pelo assunto quase que
simultaneamente. d) Todos obedecem o regulamento.
e) Nunca revide nenhuma agressão.
17. (MPE-GO) Leia o texto para responder a questão a seguir.
A questão da descriminalização das drogas se presta a frequentes 19. (FUMARC) Regência Verbal é o estudo das relações estabelecidas
simplificações de caráter maniqueísta, que acabam por estreitar um entre o verbo (termo regente) e seus complementos (termos regidos).
problema extremamente complexo, permanecendo a discussão quase INDIQUE a alternativa em que houve ERRO de Regência Verbal,
sempre em torno da droga que está mais em evidência. comprometendo o sentido da frase.

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REGÊNCIA VERBAL

a) A maioria dos delegados compareceu à reunião do Sindicato. (A palavra ZELO ocorre numerosas vezes neste diário: é essa
b) O convênio implica a aceitação dos novos profissionais no setor “dedicação ardente”, essa “diligência”, que o Imperador não encontra
de protocolo. na maior parte dos que, no entanto, por função, estão encarregados
dos problemas nacionais. E isso lhe causa sofrimento.)
c) O plano diretor aspira a estabilidade econômica da empresa.
Os moços de hoje deviam ler estas palavras, e entendê-las: “Na
d) O secretário informou à autoridade interessada o teor da nova educação da mocidade é que sobretudo confio para regeneração
proposta. da pátria. Gritam que se não pode chegar ao poder senão fazendo
oposição como a fazem; mas, quando no poder, não sofrem do mal
20. (IBFC) Texto que fomentaram? A imprensa é inteiramente livre, como julgo deva
O menino parado no sinal de trânsito vem em minha direção e ser, e na Câmara e no Senado a oposição tem representantes; mas que
pede esmola. Eu preferia que ele não viesse. [...] Sua paisagem é a fazem estes pela maior parte?”
mesma que a nossa: a esquina, os meios-fios, os postes. Mas ele se Os homens públicos também deveríam meditar sobre esta
move em outro mapa, outro diagrama. Seus pontos de referência são passagem: “...Mas tudo custa a fazer em nossa terra e a instabilidade
outros. de ministério não dá tempo aos ministros para iniciarem, depois do
Como não tem nada, pode ver tudo. Vive num grande playground, necessário estudo, as medidas mais urgentes. É preciso trabalhar, e
onde pode brincar com tudo, desde que “de fora”. O menino de rua vejo que não se fala quase senão em política, que é, as mais das vezes,
só pode brincar no espaço “entre” as coisas. Ele está fora do carro, guerra entre interesses individuais.”
fora da loja, fora do restaurante. A cidade é uma grande vitrine de Há neste pequeno diário, de um ano e cinco dias, variadas
impossibilidades. [...] Seu ponto de vista é o contrário do intelectual: observações sobre agricultura, teatro, ciência, educação; impressões
ele não vê o conjunto nem tira conclusões históricas – só detalhes de visitas a diferentes estabelecimentos educacionais e industriais;
interessam. O conceito de tempo para ele é diferente do nosso. Não breves apontamentos sobre ministros e personalidades do tempo.
há segunda-feira, colégio, happy hour. Os momentos não se somam, Terminada a leitura, parece-nos que estamos na mesma, que o século
não armazenam memórias. Só coisas “importantes”: “Está na hora do não passou; apenas as pessoas mudaram de nome. E o Imperador,
português da lanchonete despejar o lixo...” ou “estão dormindo no há cem anos, escrevendo: “A falta de zelo; a falta de sentimento
meu caixote...” [...] do dever é nosso primeiro defeito moral. Força é contudo aceitar
Se não sentir fome ou dor, ele curte. Acha natural sair do útero suas consequências, procurando, aliás, destruir esse mal que nos vai
da mãe e logo estar junto aos canos de descarga pedindo dinheiro. tornando tão fracos.”
Ele se acha normal; nós é que ficamos anormais com a sua presença. D. Pedro II deixou fama de sabedoria, e comparandose as
(JABOR, A. O menino está fora da paisagem. modestas (mas importantíssimas) observações de seu diário com a
O Estado de São Paulo, São Paulo, 14 abr. 2009. Caderno 2, p. D 10) verborragia demagógica de que ainda somos vítimas, e dos males que
a acompanham, compreende-se que muita gente desesperada até
Em “Eu preferia que ele não viesse.” (1º§), nota-se um emprego mais
pense em tornar-se monarquista.
coloquial da regência do verbo preferir, contrariando a norma culta.
Isso se explica devido: Mas convém não esquecer estas palavras do próprio Imperador:
“Nasci para consagrar-me às letras e às ciências; e, a ocupar posição
a) ao uso de apenas um dos complementos exigidos pelo verbo.
política, preferiría a de presidente da República ou ministro à de
b) à presença de um complemento verbal na forma de oração. Imperador”.
c) à ausência da preposição “a” antes do complemento verbal. Sejamos, pois, republicanos, democratas, estudiosos, honestos,
d) ao emprego do conectivo “que” como ferramenta coesiva. justiceiros, e cultivemos o ZELO de bem servir à pátria, aos homens, às
instituições. Neste particular, estamos com um século de atraso.
MEIRELES, Cecília. Escolha o seu sonho. São Paulo: Global, 2016 (Texto adaptado)

EXERCÍCIOS DE

COMBATE
PARA PESSOAS DE OPINIÃO
Você me dirá que uma das coisas que mais preza é sua opinião.
Prezá-la é considerado virtude. Fulano? É uma pessoa de opinião”. É
preciso força e decisão para “ter opinião”. Não é fácil.
01. (ESCOLA NAVAL) Você me dirá, ainda, do que é capaz de fazer para defender a
própria opinião. Ter opinião é tão importante que há até um direito
DO DIÁRIO DO IMPERADOR
dos mais sagrados, o direito à opinião, ultimamente, aliás, bastante
Acabo de ler o Diário do Imperador D. Pedro II, escrito exatamente afetado, pois vivemos tempos de ampliação do delito de opinião.
há um sécuio. Por essas pequenas anotações, pode-se acompanhar um Ter opinião, em vez de ser considerado um estágio preliminar da
ano da sua vida, amostra suficiente das dificuldades com que o Brasil convicção, passa a ser ameaçador.
tem lutado sempre para entrar no bom caminho, para melancolia e Mas sem contrariar a força com que você defende as próprias
desânimo de seus mais devotados servidores. opiniões e, sobretudo, defendendo o seu inalienável direito de tê-las,
Assim mesmo se exprimiu o Imperador: “Muitas coisas me eu lhe proporei pensar sobre se a opinião é uma instância realmente
desgostam; mas não posso logo remediá-las e isso me aflige profunda ou se é, tão-somente, uma das primeiras reações que se tem
profundamente. Se ao menos eu pudesse fazer constar geralmente diante dos acontecimentos. Será a opinião uma reação profunda ou
como penso! Mas pra quê - se tão poucos acreditariam nos embaraços superficial?
que encontro para que eu faça o que julgo acertado! Há muita falta Ouso afirmar que, quase sempre, é das mais superficiais. Opinião
de zelo, e o amor da pátria só é uma palavra - para a maior parte!” é reação, e expressa um sentimento ou julgamento. Ao reagir, o
A respeito de certo boato que se espalhara, comenta, com sentimento realiza uma síntese do que e como somos. Esta síntese
desgosto: “Tudo inventam; e triste política é a que vive de semelhantes aparece na forma pela qual reagimos. A primeira reação é reveiadora
embustes quando tantos meios honestos havia de fazer oposição; mas do sentimento com que julgamos a vida, o mundo, as pessoas. Quase
para isso é necessário estudar as necessidades da Nação - e onde está sempre a opinião surge nessa etapa inicial, patamar superficial do
o zelo?” nosso ser. Somos um repositório de primeiras impressões!
Pode-se, efetivamente, garantir que nossas opiniões são fruto de
meditação? Ou de conhecimento sedimentado? Positivamente, não.

PROMILITARES.COM.BR 227
REGÊNCIA VERBAL

Quem responder sinceramente, vai concluir que tem muito mais opiniões 02. (EFOMM)
do que coisas que sabe ou conhece. Qualquer conhecimento profundo O HOMEM DEVE REENCONTRAR O PARAÍSO...
não leva à opinião; leva à análise, à convicção, à dúvida ou à evidência, e
nenhuma dessas quatro instâncias tem a ver com a opinião. Rubem Alves

Quem (se) reparar com cuidado, verificará o quanto é levado Era uma família grande, todos amigos. Viviam como todos nós:
a opinar, vale dizer, reagir, sentir, julgar, diante dos variados temas. moscas presas na enorme teia de aranha que é a vida da cidade.
Somos um aluvião de opiniões. Todos os dias a aranha lhes arrancava um pedaço. Ficaram cansados.
Defendemo-nos de analisar, tendo opinião; preservamo-nos do Resolveram mudar de vida: um sonho louco: navegar! Um barco, o
perigoso e trabalhoso mister de pensar, tendo logo uma opinião. mar, o céu, as estrelas, os horizontes sem fim: liberdade. Venderam
É mais fácil ter opinião do que dúvida. Opinião traz adeptos e o que tinham, compraram um barco capaz de atravessar mares e
dividendos pessoais de prestígio, respeitabilidade, aura de coragem sobreviver tempestades.
ou heroísmo. As opiniões são uma espécie de fabricação em série de Mas para navegar não basta sonhar. É preciso saber. São muitos
idéias sempre iguais, saídas do modelo pelo qual vemos o mundo, os saberes necessários para se navegar. Puseram-se então a estudar
e nos faz enfocar a realidade segundo um eterno subjetivismo. Por cada um aquilo que teria de fazer no barco: manutenção do casco,
isso a opinião quase nunca é o reflexo das variadas componentes do instrumentos de navegação, astronomia, meteorologia, as velas, as
real. É eco a repetir a experiência anterior, diante de cada caso novo. cordas, as polias e roldanas, os mastros, o leme, os parafusos, o motor,
A opinião nos defende da complexidade do real, logo, é maneira de o radar, o rádio, as ligações elétricas, os mares, os mapas... Disse certo
impedir a criatividade do homem. o poeta: Navegar é preciso, a ciência da navegação é saber preciso,
Na origem latina, opinar tem um sentido ambíguo. É muito exige aparelhos, números e medições. Barcos se fazem com precisão,
mais conjecturar do que afirmar. A palavra chega a ter, nos seus astronomia se aprende com o rigor da geometria, velas se fazem
vários sentidos, o de disfarçar. A origem do termo é mais fiel ao seu com saberes exatos sobre tecidos, cordas e ventos, instrumentos de
significado do que a tradução que hoje se ihe dá. navegação não informam mais ou menos. Assim, eles se tomaram
cientistas, especialistas, cada um na sua - juntos para navegar.
Opinar não significa saber nem conhecer. Opinar significa ter uma
opinião a respeito de algo, isto é, uma impressão sujeita a retificações, Chegou então o momento da grande decisão - para onde navegar.
a correções, a mudanças permanentes. O sentido essencial de opinar Um sugeria as geleiras do sul do Chile, outro os canais dos fiordes da
é conjecturar, ou seja, supor uma realidade para poder discuti-la e, Nomega, um outro queria conhecer os exóticos mares e praias das
assim, melhor conhecê-la. ilhas do Pacífico, e houve mesmo quem quisesse navegar nas rotas de
Colombo. E foi então que compreenderam que, quando o assunto era
No entanto, nos ofendemos se contrariam a nossa opinião; a escolha do destino, as ciências que conheciam para nada serviam.
vivemos em busca do respeito à “nossa opinião”.
De nada valiam números, tabelas, gráficos, estatísticas. Os
E, mais grave e frequente, vivemos a sofrer por causa da opinião ou computadores, coitados, chamados a dar o seu palpite, ficaram em
de opiniões dos outros sem saber que a opinião de alguém é o resultado silêncio. Os computadores não têm preferências - falta-lhes essa sutil
das manifestações (reações) mais superficiais e fáceis do seu espírito. capacidade de gostar, que é a essência da vida humana. Perguntados
A opinião é instância superficial, exercício de dúvida e de sobre o porto de sua escolha, disseram que não entendiam a pergunta,
conhecimento disfarçado em certeza ou afirmação, uma conjetura que não lhes importava para onde se estava indo.
em forma de assertiva. É mais a expressão de um sentimento do que Se os barcos se fazem com ciência, a navegação faz-se com os
a conciliação deste com o conhecimento e a verdade. A partir do sonhos. Infelizmente a ciência, utilíssima, especialista em saber como
momento em que sabemos de tudo isso, temos obrigatoriamente que as coisas funcionam, tudo ignora sobre o coração humano. E preciso
deixar de dar tanta importância à opinião alheia e à própria. É preciso, sonhar para se decidir sobre o destino da navegação. Mas o coração
sempre, submetê-las ao crivo da permanência, do tempo, da análise, humano, lugar dos sonhos, ao contrário da ciência, é coisa imprecisa.
do conhecimento, da vivência, da experimentação em situações Disse certo o poeta: Viver não é preciso. Primeiro vem o impreciso
diferentes, em estados de espírito diversos, para, só então, considerá- desejo. Primeiro vem o impreciso desejo de navegar. Só depois vem a
la significativa, válida, profunda. precisa ciência de navegar.
Qual de nós está disposto a aceitar que a própria opinião, embora Naus e navegação têm sido uma das mais poderosas imagens na
válida e respeitável, é uma forma superficial de manifestação? Quem mente dos poetas. Ezra Pound inicia seus Cânticos dizendo: E pois com
está disposto a se dar ao trabalho de atribuir à opinião sua verdadeira a nau no mcir/assestamos a quilha contra as vagas... Cecília Meireles:
função, que é nobiiíssima: a de ser trânsito, passagem, via, para a Foi, desde sempre, o mar! A solidez da terra, monótona/parece-nos
Convicção, para a Análise, para Dúvida e para a Evidência - os quatro fraca ilusão! Queremos a ilusão do grande mar/ multiplicada em suas
elementos que compõem a verdade? malhas de perigo. E Nietzsche: Amareis a terra de vossos filhos, terra
Esta é a minha opinião... não descoberta, no mar mais distante. Que as vossas velas não se
TÁVOLA, Artur da. Alguém que já não fui. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. cansem de procurar esta terra! O nosso leme nos conduz para a terra
dos nossos filhos... Viver é navegar no grande mar!
Leia o período a seguir: Não só os poetas: C. Wright Mills, um sociólogo sábio, comparou
“Acabo de ler o Diário do Imperador D. Pedro II, escrito a nossa civilização a uma galera que navega pelos mares. Nos porões
exatamente há um século.” (1°§) estão os remadores. Remam com precisão cada vez maior. A cada
novo dia recebem remos novos, mais perfeitos. O ritmo das remadas
Marque a opção em que o comentário sobre a transitividade do verbo
acelera. Sabem tudo sobre a ciência do remar. A galera navega
destacado está correto.
cada vez mais rápido. Mas, perguntados sobre o porto do destino,
a) Com esse significado, o verbo é transitivo direto e impessoal. respondem os remadores: O porto não nos importa. O que importa é
b) Na acepção empregada na frase, o verbo é transitivo indireto. a velocidade com que navegamos.
c) O significado empregado caracteriza o verbo como intransitivo. C. Wright Mills usou esta metáfora para descrever a nossa
d) O verbo traz complemento direto preposicionado, nessa acepção. civilização por meio duma imagem plástica: multiplicam-se os
meios técnicos e científicos ao nosso dispor, que fazem com que as
e) O verbo é transitivo direto e indireto, tendo em vista a significação. mudanças sejam cada vez mais rápidas; mas não temos ideia alguma
de para onde navegamos. Para onde? Somente um navegador louco
ou perdido navegaria sem ter ideia do para onde. Em relação à vida da

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REGÊNCIA VERBAL

sociedade, ela contém a busca de uma utopia. Utopia, na linguagem 03. (EFOMM) A ÚLTIMA CRÔNICA
comum, é usada como sonho impossível de ser realizado. Mas não é A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar
isso. Utopia é um ponto inatingível que indica uma direção. um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de
Mário Quintana explicou a utopia com um verso: Se as coisas escrever. A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de
são inatingíveis... ora!/Não é motivo para não querê-las... Que tristes coroar com êxito mais um ano nesta busca pitoresco ou do irrisório
os caminhos, se não fora/ A mágica presença das estrelas! Karl no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária
Mannheim, outro sociólogo sábio que poucos leem, já na década algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a
de 1920 diagnosticava a doença da nossa civilização: Não temos faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico.
consciência de direções, não escolhemos direções. Faltam-nos estrelas Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer
que nos indiquem o destino. nas palavras de uma criança ou num acidente doméstico, torno-me
Hoje, ele dizia, as únicas perguntas que são feitas, determinadas simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada
pelo pragmatismo da tecnologia (o importante é produzir o objeto) contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta
e pelo objetivismo da ciência (o importante é saber como funciona), se repete na lembrança: “assim eu quereria o meu último poema”.
são: Como posso fazer tal coisa? Como posso resolver este problema Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora
concreto particular? E conclui: E em todas essas perguntas sentimos de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.
o eco otimista: não preciso de me preocupar com o todo, ele tomará Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar- se,
conta de si mesmo. numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos.
Em nossas escolas é isso que se ensina: a precisa ciência da A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-
navegação, sem que os estudantes sejam levados a sonhar com as se acentuar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na
estrelas. A nau navega veloz e sem rumo. Nas universidades, essa cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também
doença assume a forma de peste epidêmica: cada especialista se à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos
dedica, com paixão e competência, a fazer pesquisas sobre o seu grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em
parafuso, sua polia, sua vela, seu mastro. torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade.
Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome.
Dizem que seu dever é produzir conhecimento. Se forem bem-
sucedidas, suas pesquisas serão publicadas em revistas internacionais. Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que
Quando se lhes pergunta: Para onde seu barco está navegando?, discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás
eles respondem: Isso não é científico. Os sonhos não são objetos de na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe
conhecimento científico... limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse
a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem
E assim ficam os homens comuns abandonados por aqueles que, e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os
por conhecerem mares e estrelas, lhes poderíam mostrar o rumo. lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu lado
Não posso pensar a missão das escolas, começando com as crianças o garçom encaminha a ordem do freguês. O homem atrás do balcão
e continuando com os cientistas, como outra que não a da realização apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho — um bolo
do dito do poeta: Navegar é preciso. Viver não é preciso. simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular.
E necessário ensinar os precisos saberes da navegação enquanto A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de coca-
ciência. Mas é necessário apontar com imprecisos sinais para os destinos cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não
da navegação: A terra dos filhos dos meus filhos, no mar distante... Na começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em
verdade, a ordem verdadeira é a inversa. Primeiro, os homens sonham torno à mesa a um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico
com navegar. Depois aprendem a ciência da navegação. E inútil ensinar a preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa
ciência da navegação a quem mora nas montanhas... de fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta como um
O meu sonho para a educação foi dito por Bachelard: O universo animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim.
tem um destino de felicidade. O homem deve reencontrar o Paraíso. São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta
O paraíso é jardim, lugar de felicidade, prazeres e alegrias para os caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a coca-cola,
homens e mulheres. Mas há um pesadelo que me atormenta: o o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a
deserto. Houve um momento em que se viu, por entre as estrelas, menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando
um brilho chamado progresso. Está na bandeira nacional... E, quilha as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada,
contra as vagas, a galera navega em direção ao progresso, a uma cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: “parabéns
velocidade cada vez maior, e ninguém questiona a direção. E é assim pra você, parabéns pra você...“ Depois a mãe recolhe as velas, torna
que as florestas são destruídas, os rios se transformam em esgotos de a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as
fezes e veneno, o ar se enche de gases, os campos se cobrem de lixo duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para
- e tudo ficou feio e triste. ela com ternura — ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo
Sugiro aos educadores que pensem menos nas tecnologias do de bolo que lhe cai ao colo, O pai corre os olhos pelo botequim,
ensino - psicologias e quinquilharias - e tratem de sonhar, com os seus satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração.
alunos, sonhos de um Paraíso. De súbito, dá comigo a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se
Obs.: O texto foi adaptado às regras do Novo Acordo Ortográfico. perturba, constrangido — vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba
sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso. Assim eu quereria a
Mario Quintana explicou a utopia com um verso (...) minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso.
Analisando-se os fragmentos que se seguem, a regência da forma (SABINO, Fernando. A companheira de viagem. Rio de Janeiro: Ed. Record, 1972)
verbal que difere do exemplo acima aparece na alternativa:
Quanto à sintaxe de regência, assinale a opção que apresenta um
a) Venderam o que tinham, compraram um barco capaz de
verbo intransitivo.
atravessar mares e sobreviver (...)
a) “O pai se mune de uma caixa de fósforos (..)”.
b) Resolveram mudar de vida: um sonho louco: navegar!
b) “A atenta como um animalzinho”.
c) Mas para navegar não basta sonhar. É preciso saber
c) “Ninguém mais observa, além de mim”.
d) Houve um momento em que se viu, por entre as estrelas, um
brilho chamado progresso. d) “São três velinhas brancas que a mãe espeta caprichosamente (...)“.
e) (...) e tratem de sonhar, com os seus alunos, sonhos de um Paraíso. e) “A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas
(...)”.

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04. (EFOMM) c) “Não te deram nem te darão medalha nenhuma (...)”. (7°
BRUNO LICHTENSTEIN parágrafo)

Rubem Braga
d) “(...) porque não há medalha nenhuma para distinguir a amizade”.
18 de Julho de 1939 (7° parágrafo)
e) “Bruno Lichtenstein, da cabeça aos pés, tremia de susto e de
Foi preso o menino Bruno Lichtenstein, que arrombou a Faculdade de alegria”. (5° parágrafo)
Medicina. O menino Bruno Lichtenstein não é arrombador profissional.
Apenas acontece que o menino Bruno Lichtenstein tem um amigo, e esse 05. (ESPCEX) Assinale a alternativa gramaticalmente correta.
amigo é um cachorro, e esse cachorro ia ser trucidado cientificamente,
para estudos, na Faculdade de Medicina. O poeta mineiro Djalma a) Não o conheço; como se atreve a falar-me?
Andrade tem um soneto que acaba mais ou menos assim: b) Não lhe conheço; como se atreve a falar-me?
“se entre os amigos encontrei cachorros, c) Não lhe conheço; como te atreves a me falar?
entre os cachorros encontrei-te, amigo”. d) Não o conheço; como atreves-te a me falar?
Mas com toda a certeza o menino Bruno Lichtenstein jamais leu e) Não conheço tu; como atreve a me falar?
esses versos. Também com certeza nunca lhe explicaram o que é
vivissecção, nem lhe disseram que seu cão ia ser vivisseccionado. Tudo 06. (ESPCEX) Assinale a única alternativa que completa corretamente
o que ele sabia é que lhe haviam carregado o cachorro e que iam matá- as lacunas do texto abaixo.
Io. Se fosse pedi-Io, naturalmente, não o dariam. Quem, neste mundo,
Daqui ____ pouco terá início ___ aula inaugural, e deverei
haveria de se preocupar com o pobre menino Bruno Lichtenstein e o
comparecer ____ cerimônia; _____ tempo não vou ____ escola, por
seu pobre cão? Mas o cachorro era seu amigo - e estava lá, metido em
isso prometo assistir ____ todas as aulas.
um porão, esperando a hora de morrer. E só uma pessoa no mundo
podia salvá-Ia: um menino pobre chamado Bruno Lichtenstein. Com a) a – a – à – há – à – a
esse sobrenome de principado, Bruno Lichtenstein é um garoto sem b) há – à – na – a –à – à
dinheiro. Não pagará a licença de seu amigo. Mas Bruno Lichtenstein c) à–a–a–à–à–a
havia de salvar a vida de seu amigo - de qualquer jeito. E jeito só havia
um: ir lá e tirar o cachorro. De longe, Bruno Lichtenstein chorava, d) a – à– à – há – na – à
pensando ouvir o ganido triste de um condenado à morte. via homens e) a – a – à – há – na – a
cruéis metendo o bisturi na carne quente de seu amigo: via sangue
derramado. Horrível, horrível. Bruno Lichtenstein sentiu que seria o 07. (DIRENS AERONÁUTICA) Atentando para a regência dos verbos
último dos infames se não agisse imediatamente. das orações adjetivas, assinale a alternativa cuja lacuna não deve ser
Agiu. Escalou uma janela, arrebentou um vidro, saltou. Estava preenchida com nenhuma preposição.
dentro do edifício. Andando pelas salas desertas, foi até onde estava a) Vestiu a camisa______ cujo bolso havia uma caneta espiã.
o seu amigo. Sentiu que o seu coração batia mais depressa. Deu um b) Veja esse recibo! Este é o valor______ que investi no imóvel.
assovio, um velho assovio de amizade.
c) Aquela era a banca de verduras______ que ele tirava seu sustento.
Um vulto se destacou em um salto - e um focinho e úmido lambeu
a mão de Bruno Lichtenstein. Agora era para a rua, para a liberdade, d) Pelo tempo______ que disponho, não vou conseguir fazer muita
para a vida ... coisa.
Bruno Lichtenstein, da cabeça aos pés, tremia de susto e de
08. (DIRENS AERONÁUTICA) Observando a possível mudança de
alegria. Foi aí que ele ouviu uma voz áspera e espantada de homem.
regência verbal, assinale a alternativa em que o significado do verbo
Era o dr. Loforte. O dr. Loforte surpreendeu o menino. Um menino
lembrar mantém-se como no exemplo abaixo:
podre, que tremia, que havia arrombado a Faculdade. Só podia ser
um ladrão! Bruno Lichtenstein não explicou nada - e fez bem. Para o Félix despediu-se de Meneses e seguiu para as Laranjeiras. Ia
dr. Loforte um cachorro não é um cachorro - é um material de estudo palpitante e receoso; pela primeira vez lembrou a doença da viúva.
como outro qualquer. Temeu que fosse tarde.
Na polícia apareceu o pai do menino. O pai, o professor e o (Machado de Assis)
delegado conversaram longamente - e Bruno Lichtenstein não ouvia a) Se encontrares Madalena, lembra-nos a ela, dá-lhe um grande beijo.
nada. Só ouvia, lá longe, o ganir de um condenado à morte.
b) Andando pelas ruas, lembrou-se do presente prometido ao sobrinho.
Já te entregaram o cachorro, esse cachorro ia ser trucidado
c) O aroma das amoras lembrou-lhe o perfume adocicado e suave
cientificamente, para estudos, na Faculdade de Medicina. Tu o
de seu primeiro amor.
mereceste, porque tu foste amigo. Não te deram nem te darão
medalha nenhuma - porque não há medalha nenhuma para d) O baladar dos sinos lembrou-a de que devia estar bem longe dali
distinguir a amizade. Mas te entregaram o teu cachorro, o cachorro havia mais de uma hora.
que reivindicaste como um pequeno herói. Tu é um homem, Bruno
Lichtenstein - um homem no sentido decente da palavra, muito mais 09. (DIRENS AERONÁUTICA)
homem que muito homem. Um aperto de mão, Bruno Lichtenstein. O PAI DO HERÓI AUTISTA
O texto acima foi extraído do livro “1939 - Um episódio em Porto Alegre
(Uma fada no front)”, Ed. Record Rio de Janeiro, 2002 - pág. 37. O canadense David Shore é o criador da série The Good Doctor,
cujo personagem é Shaun Murphy, um médico dividido entre seus
Lido o texto, observe atentamente cada quesito e assinale somente tormentos pessoais e a capacidade extraordinária de salvar vidas. Com
UMA opção correta em cada questão. o excelente Freddie Highmore na pele de um jovem cirurgião autista,
“Só ouvia, lá longe, o ganir de um condenado à morte.” (2° parágrafo). a série, constituída de vários episódios, caiu nas graças dos brasileiros.
Em parte da entrevista transcrita a seguir, Shore fala sobre os desafios
A regência a que pertence o verbo da oração acima também se para fazer de um autista um personagem tão pop.
encontra no verbo sublinhado na opção:
Um diferencial de The Good Doctor é dar ao espectador
a) “Na polícia apareceu o pai do menino 11 , (6° parágrafo) a sensação de ver o mundo como um autista. Por que essa
b) “(...), Bruno Lichtenstein é um garoto sem dinheiro”. (2° preocupação com as filigranas sensoriais? Não queria que as
parágrafo) pessoas simplesmente vissem um autista na tela, mas que pudessem se

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identificar com ele e se colocassem no lugar de Shaun para poderem


entendê-lo e amá-lo. Shaun não é perfeito, mas é o nosso herói, e ANOTAÇÕES
ele tenta superar seus desafios com destemor. Queria que o público
embarcasse nessa jornada de superação.
Como as pessoas com autismo e seus familiares têm reagido
à série? Criaram-se expectativas. Foi muito gratificante. Havia
nervosismos por parte da comunidade autista antes de a série ir ao
ar, mas as respostas foram emocionantes e acolhedoras. Infelizmente
existe muita conversa sobre diversidade na televisão, mas a realidade
dos autistas nunca tinha sido abordada o suficiente. Eu sabia do
risco de não agradar a todos, mas me sinto bem por ter feito um
personagem como Shaun. Tenho orgulho dele.
Shaun enfrenta percalços como a falta de confiança dos
pacientes e o desprezo dos colegas de profissão. Autistas
que tentam trabalhar de forma regular vivem problemas
semelhantes? Sim. Alimentei-me de muitas leituras e informações
sobre isso. Os autistas enfrentam preconceitos, suposições,
julgamentos injustos e prematuros. Todos nós, em alguma medida,
encaramos desafios e somos julgados o tempo todo. Mas é um
processo mais extremo para Shaun, sem dúvida. E o fato de ele não
ficar para baixo nunca é uma das coisas mais inspiradoras para mim.
Ele exibe uma atitude tão saudável que nos ensina a viver bem a vida.
Veja. 18 set. 2019, edição nº 2652, p. 110-101. Adaptado.

De acordo com a norma-padrão, é correto afirmar que a frase que


contém desvio em termos de regência verbal é:
a) “Eu sabia do risco de não agradar a todos...”
b) “Por isso as pessoas devem assistir a série...”
c) “... ele tenta superar seus desafios com destemor...”
d) “Havia nervosismos por parte da comunidade autista...”

10. (DIRENS AERONÁUTICA) Em qual alternativa o emprego da


regência verbal está incorreto?
a) Lembro-me das pessoas que me ajudaram nos momentos difíceis.
b) Esqueceu de ir ao banco pagar a conta de telefone.
c) Eu sempre esqueço o nome dos meus alunos.
d) Depois do acidente, não lembrava nada.

RESOLUÇÃO EM VÍDEO
Abra o ProApp, leia o QR Code, assista à resolução
de cada exercício e AVANCE NOS ESTUDOS!

GABARITO
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
01. D 04. B 07. E 10. C
02. C 05. B 08. D
03. D 06. B 09. A
EXERCÍCIOS DE TREINAMENTO
01. B 06. B 11. B 16. D
02. C 07. D 12. C 17. C
03. A 08. B 13. C 18. B
04. B 09. B 14. C 19. C
05. B 10. B 15. C 20. A
EXERCÍCIOS DE COMBATE
01. B 04. D 07. B 10. B
02. C 05. A 08. B
03. B 06. A 09. B

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ANOTAÇÕES

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