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Astronomia

Olı́mpica
Feito por medalhistas nacionais e internacionais

First Edition
Astronomia
Olı́mpica
Feito por medalhistas nacionais e internacionais

First Edition

Núcleo Olı́mpico de Incentivo ao Conhecimento


Brasil, 2021
Este livro foi formatado com o software LATEX .

Copyright © 2021 Núcleo Olı́mpico de Incentivo ao Conhecimento


License: Creative Commons Zero 1.0 Universal
Sumário

1 Sistemas Binários 1
1.1 Centro de Massa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 Órbitas Circulares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.2.1 Velocidades e distâncias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.3 Problemas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
1.4 Gabarito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

v
vi SUMÁRIO
Capı́tulo 1

Sistemas Binários

Até agora, todas as análises feitas a respeito da sistemas de dois corpos foram
para o caso especı́fico em que M  m, i.e. a massa central está exatamente
sobre o centro de massa e não possui velocidade. Neste capı́tulo, iremos tratar
do caso geral do problema de dois corpos, em que M e m são comparáveis1 .

1.1 Centro de Massa


O conceito de centro de massa é extremamente importante para o estudo da
dinâmica de qualquer tipo de sistema, principalmente por simplificar a análise
matemática necessária para compreendê-lo. Ele é definido como o ponto hi-
potético onde podemos considerar que está concentrada toda a massa de um
corpo de forma na presença de forças externas. Por exemplo, a força gravitaci-
onal de um corpo qualquer pode ser2 considerada como aplicada sobre o centro
de massa do corpo.

Um exemplo prático disso é quando tentamos equilibrar objetos sobre um


dedo. Assim como pode ser observado na figura abaixo, imagine inicialmente
você tentando equilibrar uma tábua de maneira. Intuitivamente, você irá co-
locar o seu dedo sobre o centro da barra, que é justamente onde está o centro
de massa. Agora, caso uma pedra seja colocada sobre a parte direita da tábua,
você precisaria deslocar o seu dedo para a direita para conseguir equilibrar o
novo sistema, visto que o centro de massa também se deslocou nessa direção.

1 De maneira parecida, quando uma das massas em um sistema de três corpos é desprezı́vel

com relação às outras, a dinâmica do sistema torna-se muito mais simples. É nesse sistema
que encontram-se os pontos de Lagrange.
2 Na verdade, isso só é válido se algumas condições forem satisfeitas, como a homogeneidade

do campo gravitacional, mas não precisamos nos preocupar com isso por enquanto.

1
2 CAPÍTULO 1. SISTEMAS BINÁRIOS

Figura 1.1: Aplicação do centro de massa

Em um contexto astronômico, o centro de massa de um sistema binário é


especialmente relevante por três razões:

1. Ambos os corpos orbitam o centro de massa do sistema. Por exemplo, o


foco primário da órbita terrestre no sistema Terra - Sol não está no centro
do Sol, e sim, no centro de massa desse sistema. Desse modo, o Sol realiza
uma órbita elı́ptica em torno desse centro de massa;

2. A reta que liga os corpos sempre passa sobre o centro de massa do


sistema;

3. É conveniente analisarmos situações no referencial do centro de massa.


Por exemplo, em um sistema binário qualquer muito longe da Terra, não
podemos desprezar a Lei de Hubble, que proporciona uma velocidade
radial adicional às estrelas. Entretanto, no referencial do centro de massa
desse sistema (que possui a mesma velocidade radial da Lei de Hubble
que as estrelas individuais), tal componente não aparece.

Iremos abordar cada uma dessas razões com mais calma nas próximas seções.
Agora, vamos aprender a calcular a posição do centro de massa de um sistema
de partı́culas arbitrário, assim como representado na imagem:
1.1. CENTRO DE MASSA 3

Figura 1.2: Sistema de partı́culas

Qualitativamente, esperamos que massas maiores possuam uma maior in-


fluência na posição do centro de massa que massas pequenas. Nesse âmbito, as
coordenadas (xCM , yCM ) são calculadas por uma média ponderada das coorde-
nadas de cada partı́cula individual. No caso do nosso sistema, sendo (xi , yi ) as
coordenadas da partı́cula de massa mi , temos:
Pn
m1 x1 + m2 x2 + m3 x3 1 mi xi
xCM = =
m1 + m2 + m3 M
Analogamente, para a coordenada y:
Pn
m1 y1 + m2 y2 + m3 y3 1mi yi
yCM = =
m1 + m2 + m3 M
Pn
Onde n é o número de partı́culas (no nosso caso, n = 3) e M = 1 mi é a
massa total do sistema.

Por fim, vale ressaltar que essas equações podem ser descritas vetorialmente.
~ CM = (xCM , yCM ), temos:
Sendo R
Pn
~ CM = mi~ri
1
R
M

Exemplo 1:
Em um sistema binário com estrelas de massa m1 e m2 , a distância entre
elas é d em um dado instante de tempo, assim como representado na imagem
abaixo. Sendo assim, calcule:

a) As distâncias r1 e r2 de cada estrela até o centro de massa;


r1
b) A razão .
r2
4 CAPÍTULO 1. SISTEMAS BINÁRIOS

Figura 1.3: Exemplo 1

Solução
a) Primeiramente, vamos convencionar um sistema de coordenadas cartesiano.
É conveniente alinharmos o eixo x com a reta que liga as estrelas de forma que
a origem está sobre a estrela 13 , assim como pode ser observado na imagem:

Figura 1.4: Solução exemplo 1

Como a coordenada y das estrelas é nula, yCM = 0. Agora, podemos utilizar


a equação do centro de massa para encontrarmos xCM :
m1 x1 + m2 x2
xCM =
m1 + m2
A estrela 1 está sobre a origem (x1 = 0) e a estrela 2 dista d da origem
(x2 = d), logo:

m2
xCM = r1 = d
m1 + m2
Para acharmos r2 , basta notarmos que r1 + r2 = d, ou seja:
 
m2 m1
r2 = d − r1 = d 1 − ⇒ r2 = d
m1 + m2 m1 + m2
b) Basta dividirmos as expressões encontradas:
m2
d
r1 m +m r1 m2
= 1m1 2 ⇒ =
r2 d r2 m1
m1 + m2
3A resposta final independe de como você convenciona os eixos.
1.2. ÓRBITAS CIRCULARES 5

Vale notar que esse resultado pode ser reescrito como 0 = m2 r2 − m1 r1 ,


que é a coordenada xCM do centro de massa convencionando a origem como
estando no próprio CM, i.e. xCM = 0. Isso implica que o corpo mais massivo
sempre está mais próximo do centro de massa que o corpo mais leve.

Os resultados encontrados neste exemplo são extremamente importantes,


e serão utilizados com frequência nas próximas seções.

1.2 Órbitas Circulares


Vamos analisar a situação em que ambas as órbitas do sistema são circulares,
assim como representado na imagem abaixo. Perceba que M , o CM e m são
colineares, assim como esperado pela segunda propriedade do centro de massa.
Isso implica que os perı́odos de M e m são idênticos. Ainda, note que M está
mais próximo do CM que m, ou seja, M > m.

Figura 1.5: Sistema binário de órbitas circulares

No caso em que M  m, o que nós fizemos no capı́tulo 2 foi igualar a força


gravitacional à resultante centrı́peta e utilizar a relação entre a velocidade, o
perı́odo e o raio da órbita. Agora, vamos realizar o mesmo procedimento para
6 CAPÍTULO 1. SISTEMAS BINÁRIOS

cada massa.

Pela lei de gravitação universal, a força gravitacional Fg em ambos os corpos


é:

GM m
Fg =
(R + r)2
Agora, perceba que m e M realizam órbitas circulares de raio r e R, respec-
tivamente, em torno do centro de massa. Desse modo, podemos igualar a força
gravitacional à resultante centrı́peta de cada corpo:

Em M , temos:

GM m MV 2
2
=
(R + r) R
2πR
Como V = , podemos reescrever essa expressão como:
T
Gm 4π 2 R
2
= (1.1)
(R + r) T2
Analogamente para m, podemos obter:

GM 4π 2 r
= (1.2)
(R + r)2 T2
Somando as equações 1.1 e 1.2, obtemos:

G(M + m) 4π 2 (R + r)
=
(R + r)2 T2
Ou seja:

T2 4π 2
=
(R + r)3 G(M + m)

Que é o equivalente da Terceira Lei de Kepler para sistemas binários de


órbitas circulares! Perceba que, no caso limite em que M  m, R → 0 e
M + m → M , ou seja, voltamos à equação encontrada no segundo capı́tulo.

1.2.1 Velocidades e distâncias


Agora, vamos ver relações entre as velocidades V e v, as distâncias R e r e
as massas M e m por dois métodos diferentes e confirmar que eles produzem
resultados idênticos.
1.2. ÓRBITAS CIRCULARES 7

Centro de massa:
Sendo R~ e ~r os vetores posição das estrelas com origem no CM, temos, de
acordo com a definição vetorial do centro de massa utilizando como origem o
próprio centro de massa:

~ CM = 0 = M R
R ~ + m~r

Ou seja:

~ = −m~r
MR
Note que a expressão do exemplo 1 é muito parecida com essa. A única
diferença é que antes havı́amos analisado somente a relação entre os módulos
dos vetores. Ainda, vale notar que o sinal negativo aparece pois os sentidos de
~ e ~r são opostos.
R

A utilização na notação vetorial é importante para o que iremos fazer agora.


~
Como V~ = dR e ~v = d~r 4 , podemos derivar a expressão acima com relação ao
dt dt
tempo para obtermos:

~
dR d~r
= −m
M ~ = −m~v
⇔ MV
dt dt
Ou, tratando dos módulos:

M V = mv

Resultante centrı́peta:
Apesar as deduções vistas a partir do centro de massa serem válidas para
qualquer tipo de órbita, vale a pena analisarmos o que acontece quando as
órbitas são circulares.

Primeiramente, podemos dividir a equações 1.1 pela equação 1.2 para ob-
termos:

m R
= ⇒ M R = mr
M r
2πR 2πr
Agora, sabemos que V = ev= . Assim:
T T
2π V v
= =
T R r
4 Se ∆S
você não souber cálculo, pode interpretar essas equações como um velocidade =
∆t
“generalizado”.
8 CAPÍTULO 1. SISTEMAS BINÁRIOS

Desse modo, podemos encontrar:

m R V
= =
M r v
Assim como esperado!

1.3 Problemas
4.1. (Avançado) Os pontos de Lagrange de um sistema de duas massas com-
paráveis M e m (M > m) representam posições em que corpos menores podem
ficar em equilı́brio com relação às massas maiores, assim como pode ser obser-
vado na imagem abaixo. Assim, responda:

a) Qual a velocidade angular dos pequenos corpos colocados nos pontos de


Lagrange? Em torno de que ponto eles giram? Considere que a distância
entre M e m é D e que todas as órbitas são circulares.
b) Qual a distância d do ponto L2 até o centro de m? Considere d  D.

Figura 1.6: Pontos de Lagrange

1.4 Gabarito
4.1. a) Como a massa de prova possui massa desprezı́vel, M e m realizam
órbitas circulares em torno do centro de massa comum. Para todos os
1.4. GABARITO 9

pontos de Lagrange, pode-se inferir pelo enunciado que eles devem possuir
o mesmo perı́odo P que M e m para permanecerem em equilı́brio com
relação à esses corpos. Isso só é possı́vel se eles também orbitarem o cen-
tro de massa de M e m.

Quantitativamente, basta aplicarmos a Terceira Lei de Kepler para siste-



mas binários para encontrarmos a velocidade angular ω = :
P

P2 4π 2 G(M + m)
3
= ⇒ ω2 =
D G(M + m) D3

b) A imagem abaixo representa a situação. De acordo com o Exemplo 1,


m
sabemos que a distância entre M e o CM é D e que a distância m
M +m
M
e o CM é D. Agora, vamos analisar a força resultante na massa
M +m
de prova µ ( M, m).

Figura 1.7: Segundo ponto de Lagrange

Pela Segunda Lei de Newton em µ:

FM + Fm = Rcp

GM µ Gmµ
Onde FM = 2
é a força gravitacional de M em µ e Fm = é
(D + d) d2
a força gravitacional
 de m em µ.  Agora, perceba que µ realiza uma órbita
M
circular de raio D + d em torno do CM com velocidade angular
M +m
ω. Assim, a resultante centrı́peta é:
10 CAPÍTULO 1. SISTEMAS BINÁRIOS

 
M
Rcp = µω 2 D+d
M +m

Juntando essas equações e utilizando o resultado do item a), temos:


 
GM Gm G(M + m) M
+ 2 = D+d
(D + d)2 d D3 M +m

Reescrevendo:

M m M (M + m)d
+ 2 = 2+
(D + d)2 d D D3

Agora, vamos utilizar o fato que d  D (dado no enunciado) para chegar-


mos em uma resposta aproximada. A conhecida aproximação de Taylor
nos diz que (1 + x)n ≈ 1 + nx para x  1. Desse modo, vamos manipular
o termo da esquerda para ele ficar no formato (1 + algo)expoente :
 −2
M M M d
= 2 = 2 1+
(D + d)2 D D

d
D2 1 +
D
 −2  
M d M 2d
Agora, como d  D, podemos fazer 2 1+ ≈ 2 1− .
D D D D
Com isso:
 
M 2d m M (M + m)d
1− + = 2+
D2 D d2 D D3

Reescrevendo:

M  − 2M d + m = M
  + M d + md

D 2 D 3 d 2 D2 D3 D3
 
Multiplicando ambos os lados por d2 , obtemos:
 3
d
m = (3M + m)
D

Por fim:

 1/3
m
d=D
3M + m

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