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Noções de Mecânica celeste

Luan de Souza Silva

1 O que é mecânica celeste


Mecânica celeste é a área da astronomia que utiliza da mecânica (clássica ou relativı́stica)
para estudar o movimento dos corpos, fazendo previsões, sendo muito utilizada em conjunto com
a engenharia aeroespacial, já que trata de transferências orbitais.

2 Conceitos básicos
2.1 Vetores
Vetor: um conceito IMPORTANTÍSSIMO para diversas áreas, desde a quı́mica à astronomia.
O conceito de vetor surge quando há necessidade de se especificar, além da quantidade de uma
grandeza, sua direção e sentido. Por exemplo, quando vamos falar de uma força, dizer apenas
sua intensidade é insuficiente. Eu posso aplicar uma força sobre um bloco e obter diferentes
resultados se eu aplicar a mesma força. Posso, por exemplo, aplicá-la de cima para baixo (o
bloco ficará imóvel), de um lado para o outro, diagonalmente, etc.
Desta forma, já percebemos que os vetores são munidos de magnitude (intensidade), direção
(inclinação), e sentido (de que lado para que lado). Também já percebemos uma grandeza que
é fundamentalmente vetorial: a força.
Na natureza e na matemática existem 4 tipos de grandezas: as escalares, as vetoriais, as
matriciais e as tensoriais. Para nossos propósitos, apenas as grandezas escalares e vetoriais serão
importantes.
Grandezas escalares são grandezas que possuem apenas um valor, uma intensidade. Um
número, por exemplo, é uma grandeza escalar. A grandeza fı́sica escalar mais importante é a
energia (que discutiremos mais adiante). Outros exemplos de grandezas escalares são: distância
percorrida, trabalho, massa, volume, etc.
Já as grandezas vetoriais, como explicado anteriormente, são grandezas que possuem magni-
tude, direção e sentido. São grandezas vetoriais: forças, momentos linear e angular, velocidade,
deslocamento, etc. A definição formal de vetor é: um vetor é um conjunto de segmentos orien-
tados paralelos de mesma magnitude. Desta forma, como ilustra a imagem, t e s fazem parte do
mesmo vetor

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Figura 1

Como deu para perceber, a representação de um vetor é feita colocando-se uma seta acima
da grandeza. Por simplicidade, esta seta será ocultada no decorrer do texto.
Existe ainda um tipo especı́fico de vetor: o vetor posição. O que diferencia um vetor posição
dos outros vetores é o fato de sua origem começar na origem do eixo de coordenadas, como ilustra
a figura

Figura 2

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É possı́vel, ainda, efetuar operações com vetores. Essas operações serão descritas a seguir
Os vetores possuem algumas propriedades. As propriedades mais importantes estão listadas
a seguir:
k(~a + ~b) = k~a + k~b
Onde k é um escalar constante.

(~a + ~b) + ~c = (~a + ~c) + ~b

2.1.1 Soma e Subtração


Existem basicamente duas formas de se somar um vetor: a soma geométrica e a soma
algébrica.
A soma geométrica é feita colocando-se a origem de um vetor na ponta de outro vetor, assim,
o vetor resultante (gerado pela soma) será um vetor que irá da origem do primeiro vetor até a
ponta do último, como ilustra a imagem

Figura 3

Podemos ainda somar n vetores

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Figura 4

Note que para subtrair vetores geometricamente podemos simplesmente inverter o sentido do
vetor que está subtraindo, e então fazer o msmo processo já descrito.
Para a soma algébrica, devemos recorrer a uma segunda definição de vetor. Um vetor pode
ser descrito como
~v = (vx , vy )
Onde vx é o valor de sua componente x, e vy o valor de sua componente y.

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Figura 5

Se tomarmos dois vetores, ~a e ~b, tal que ~a = (ax , ay ) e ~b = (bx , by ), a soma ~a + ~b será dada
por
~a + ~b = (ax + bx , ay + by )
Pela figura acima, podemos obter as seguintes relações utilizando trigonometria:

v~y = ~v sin θ

v~x = ~v cos(θ)
vy
tg(θ) =
vx
Para subtrair vetores basta fazer os passos anteriores, porém multiplicar o vetor que está
subtraindo por −1, ou inverter o sentido da seta, caso esteja fazendo a operação geométrica.

2.1.2 Produto
Existem dois tipos de multiplicação entre vetores: o produto escalar e o produto vetorial.
O produto escalar gera como resultado um escalar (daı́ o nome), enquanto o produto vetorial
gera um vetor.
O produto escalar entre dois vetores é dado por

~a · ~b = |~a||~b| cos(θ)

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Onde θ é o ângulo entre os vetores

Figura 6

Já o produto vetorial é dado por

~a × ~b = ~v = |~a||~b| sin(θ)n̂

Onde n̂ é um vetor unitário que é perpendicular ao plano formado pelos vetores ~a e ~b.

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Figura 7

Grandezas como o momento angular, como veremos adiante, são fruto de um produto veto-
rial!!

2.2 Somatórios
Um conceito matemático que será MUITO utilizado aqui e em outras aulas (inclusive nos
livros de astronomia mais avançados) é o conceito de somatório. O somatório é essencialmente a
soma de várias coisas (podem ser números, forças, comprimentos, etc), que pode ou não seguir
uma regra.
O somatório é denotado com um sigma maiúsculo, assim
n
X
ai = a1 + a2 + a3 + · · · + an
i=1

Perceba que no sı́mbolo do somatório aparecem três termos: i = 1, n, e ai . O termo de


baixo (i = 1) é o termo que indica primeiramente o que varia na “função”, e em que valor essa
“variável” começa. O termo de cima indica onde termina a série, ou seja, qual o último valor de
i.
E o termo do meio é a “função”, a regra que determina a série. Vamos para um exemplo.
Digamos que eu tenha a seguinte regra ai = 2i. Agora eu quero calcular a soma dos valores
desde i = 0 até i = 10. Então eu devo fazer
10
X
= 2 · 0 + 2 · 1 + · · · + 2 · 10
i=0

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Perceba que isso é uma PA, logo
10
X 11
= (20 + 0) = 110
i=0
2

Esta é a forma matemática do somatório, porém na fı́sica/astronomia, muitas vezes os termos


não seguem uma regra bem definida, porém é muitas vezes importante utilizar o somatório para
fazer manipulações algébricas ou mesmo definir grandezas (como veremos mais adiante). Então,
costuma-se usar a seguinte notação: X
ai
i

Onde i indica não a “variável”, mas o “número do termo”, como se fosse uma ordenação. É
comum também ocultar o i, já que o mesmo não tem grande importância para a conta.

2.3 Forças
Aqui discutiremos a respeito das principais forças utilizadas no estudo da Mecânica celeste,
utilizando-se do formalismo newtoniano.
Devemos começar pelo mais básico: as 3 Leis de Newton:
1a Lei (Lei da Inércia): esta Lei prediz que, para um dado referencial inercial (que não está
acelerado), um corpo, na ausência de forças, deve manter seu estado de movimento. Ou seja, se
o corpo está em repouso, ficará em repouso, e se está em movimento RETILÍNEO UNIFORME,
tenderá a manter-se assim. É importante notar que, para corpos em órbita, a força resultante
raramente é nula, uma vez que as órbitas são trajetórias curvilı́neas, e portanto estão sob ação
da resultante centrı́peta.
2a Lei (F~ = m~a): Esta que é uma das mais conhecidas leis fı́sicas prediz que a soma VE-
TORIAL das forças que atuam sobre um corpo causa uma variação do momento linear com o
tempo, assim
X ∆p
F~ =
∆t
Sabendo que p = mv (tópico que será discutido mais adiante), então:
X ∆(m~v ) ∆m ∆v
F~ = = ~v +m
∆t ∆t ∆t
(OBS: o passo feito acima é uma aproximação da regra do produto, uma conhecida técnica
de diferenciação. Este passo foi meramente ilustrativo, e vocês não terão que se preocupar com
isso por agora).
Considerando que a massa não varia, e sabendo que a = vt, chegamos em
X
F~ = F~r = m~a

3a Lei (Lei de ação e reação): Esta lei prediz que para uma dada força, haverá um par de
ação e reação, que dá origem a uma força de mesma magnitude e direção, porém em sentido
oposto. Assim, quando empurramos uma parede, por exemplo, a parede aplica em nossas mãos
uma força igual e em sentido oposto. Desta forma, podemos exemplificar matematicamente:

F~ij = −F~ji

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Onde o ı́ndice ij significa que o corpo i aplica uma força F~ em j, e o ı́ndice ji significa que
o corpo j aplica uma força −F~ em i.
Para o caso das forças de contato, a força de “reação” é chamada de força normal, e ela surge
pela força de repulsão entre as moléculas dos corpos.

3 Mecânica celeste
3.1 Leis de Kepler
Com as ferramentas básicas em mãos, podemos discutir sobre a principal força tratada na
mecânica celeste: a força da gravidade. Mas antes de tratar da gravidade em si, iremos discutir
algumas leis que traduzem algumas de suas implicações: as leis de kepler.
1a Lei (Lei das órbitas): esta Lei propõe que todas as órbitas planetárias são elı́pticas, onde
o Sol está em um dos focos.
Na realidade, hoje sabemos que as órbitas obedecem o formato das seções cônicas: Circulares
(que são um caso especial das elipses), elı́pticas, parabólicas e hiperbólicas (as duas últimas são
comuns em cometas). Sabemos também que na verdade o Centro de massa do Sistema Solar que
está no foco da órbita elı́ptica, porém como a massa de qualquer um dos planetas do sistema
solar é insignificante em relação a massa do Sol, o centro do Sol está aproximadamente no mesmo
lugar do centro de massa do Sistema Solar.

3.1.1 Uma breve digressão sobre a elipse


Uma elipse pode ser formada tomando dois pontos distintos, que chamaremos de foco, e
prendendo-se duas linhas de mesmo comprimento em cada um desses focos. Juntando a outra
ponta de ambas as cordas e amarrando-as num lápis, e então dando uma volta, o desenho gerado
será de uma elipse:

Figura 8

Daı́ podemos inferir algumas caracterı́sticas da elipse.

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Digamos que os comprimentos dessas cordas são r e r0 . A soma desses dois comprimentos
resulta no comprimento do eixo maior. É muito mais comum utilizar a notação de semi eixo
maior, que é a metade do eixo maior, ou seja

r + r0 = 2a

Outra medida importante da elipse é o semi eixo menor, que é obtido facilmente se colocarmos
as cordas num ponto logo acima do centro, como ilustra a imagem

Figura 9

Por pitágoras chegamos em p


b= a2 − c2
Onde c é metade da distância focal (metade da distância entre os focos). Uma propriedade
muitı́ssimo importante da elipse é a excentricidade, e, que mede o quão achatada é a elipse. A
excentricidade é dada por
c
e=
a
Sendo que 0 ≤ e < 1. Na realidade a excentricidade pode ser acima de 1, como veremos
adiante, porém, se e ≥ 1, então a figura não é caracterizada como elipse.
Outra distância muito importante é o chamado semi latus rectum, que é uma corda que passa
por um dos focos e é perpendicular à reta que passa pelo semi-eixo maior.

l = a(1 − e2 )

Na figura seguir estão representadas essas distâncias na elipse.

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Figura 10

Na figura, a linha vermelha é o Eixo Maior, a linha azul é o semi-eixo menor, a linha Roxa é
metade da distância focal, e a linha verde é o semi latus rectum.
A partir dessas propriedades e caracterı́sticas, é possı́vel encontrar duas formas para a elipse:
x2 y2
A forma cartesiana: 2 + 2 = 1
a b
a(1 − e2 )
E a forma polar: r =
1 + e cos(θ)
É possı́vel demonstrar a forma polar com certa facilidade a partir da Lei dos Cossenos. Agora
embarcaremos nessa grande missão, que será muito linda!!!

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Figura 11

Primeiro, observamos que os ângulos α e θ são suplementares, ou seja, α + θ = 180°.


Observamos também que as medidas r, r0 e 2c formam um triângulo. Desta forma podemos
aplicar a lei dos cossenos para o ângulo :

(r0 )2 = r2 + (2c)2 − 2r(2c) cos(α)

(r0 )2 = r2 + 4c2 − 4cr cos(α)


Mas, por definição, r + r0 = 2a, logo r0 = 2a − r, então

(2a − r)2 = r2 + 4c2 − 4cr cos(α)

4a2 − 4ar + r2 = r2 + 4c2 − 4cr cos(α)


Mas, por definição, c = ae, então

4a2 − 4ar = 4a2 e2 − 4aer cos(α)

4a2 − 4a2 e2 = 4ar − 4aer cos(α)


4a2 (1 − e2 ) = 4ar(1 − e cos(α))
a(1 − e2 )
r=
1 − e cos(α)
Mas α = 180° − θ, então, fazemos uma soma de arcos

cos(a − b) = cos(a) cos(b) + sin(a) sin(b)

Portanto
cos(180° − θ) = cos(180°) cos(θ) + sin(180°) sin(θ)

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cos(180° − θ) = cos(α) = − cos(θ)
Substituindo
a(1 − e2 )
r=
1 − (−e cos(θ))

a(1 − e2 )
r=
1 + e cos(θ)
E voalá, conseguimos!!
Note que, na forma polar, se θ = 0° e θ = 180°, o corpo está no periélio e no afélio, respecti-
vamente, então r assume, respectivamente, as seguintes formas:

rperiélio = a(1 − e)

rafélio = a(1 + e)
Assim, percebe-se que o periélio e o afélio são, respectivamente, os pontos de maior e menor
aproximação entre o corpo e o centro de massa do sistema. Também é comum, especialmente
tratando-se de satélites, utilizar os termos periastro e apoastro, que são os pontos de maior e
menor aproximação, respectivamente. Para se lembrar do significado dos termos, basta pensar
nas iniciais dos termos, por exemplo, periélio começa com “per”, de “perto”, e afélio começa com
“af”, de afastado!
2a Lei (Lei das áreas): esta lei diz que, se ligarmos uma linha que vai do Sol (centro de massa)
até o corpo que está em órbita, esta linha deve varrer áreas iguais em tempos iguais, ou seja, a
velocidade areolar é constante. Sabendo que a área da elipse é dada por A = πab, a velocidade
areolar pode ser facilmente calculada:
∆A πab
=
∆t P
Onde P é o perı́odo orbital.
Em termos mais especı́ficos, temos que a velocidade areolar é dada por
∆A L
=
∆t 2m
Onde m é a massa da partı́cula em órbita e L o seu momento angular. (Obs: discutirei sobre
o momento angular com mais detalhes posteriormente).

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Figura 12: Na Figura acima, supomos que as áreas hachuradas sejam iguais. Notamos então
que quando o corpo está mais distante do centro de massa do sistema, o perı́metro percorrido, e
portanto a velocidade, são menores.

3a Lei (Lei harmônica): esta lei é amplamente utilizada na mecânica celeste, pois ela relaciona
o semi-eixo maior com o perı́odo orbital. Esta relação é dada por

P2
=K
a3
Onde K é uma constante para um dado sistema. Sabendo que K é o mesmo para um mesmo
sistema, temos
P12 P22
=
a31 a32
Posteriormente, quando já estivermos ferramentados com todos os conceitos fı́sicos importan-
tes, iremos investigar esta misteriosa constante K da 3a Lei de Kepler.
Agora chegamos num momento de muita emoção: A Lei de Gravitação Universal, de Isaac
Newton!!!
Esta Lei revolucionou a fı́sica, e pôde explicar todas as 3 leis de Kepler, além de outros
fenômenos. A Lei de gravitação é dada por
Gm1 m2
F =
r2

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Onde G é uma constante.

3.2 Energia
Energia é uma propriedade abstrata que essencialmente mede a tendência de movimento.
Em muitos casos, a resolução dos problemas através de energia os torna muito mais simples,
especialmente devido a algumas propriedades da energia, como o princı́pio da conservação de
energia. Nós podemos classificar as energias em basicamente dois tipos: as potenciais e a energia
cinética.
Energia potencial nos diz qual é a capacidade do corpo em se mover. Por exemplo, a energia
potencial gravitacional mede a capacidade do corpo de cair, saindo do repouso e ganhando
velocidade. Já a energia cinética mede a “intensidade do movimento”, sendo assim, depende da
velocidade.
Para a astronomia usaremos principalmente as energias cinética e potencial gravitacional.
Como citado acima, na maioria dos casos podemos usar o princı́pio da conservação de energia
mecânica. A energia mecânica é a soma entre as energias cinética e potencial. Assim

Emec, i = Emec, f

Ou
Ecinética, i + Epotencial, i = Ecinética, f + Epotencial, f
Por convenção, utiliza-se U para representar a energia potencial e K a energia cinética. Assim

Ki + Ui = Kf + Uf

Vale ressaltar que a energia potencial tem sinal negativo, por convenção.
A energia cinética de um corpo é dada por
1
K= mv 2
2
E a energia potencial gravitacional é dada por
Gm1 m2
U =−
r
Pelo princı́pio da conservação de energia chegamos em

K +U =E

Onde E é uma constante e representa a energia mecânica total do sistema.


A partir da energia de um sistema é possı́vel definir o formato das órbitas:
Para E < 0 temos as órbitas circulares e elı́pticas, as chamadas órbitas fechadas
Para E = 0 temos uma órbita parabólica.
Para E > 0 temos uma órbita hiperbólica.
Uma importante relação de energia com as caracterı́sticas da órbita está a seguir

G(m1 + m2 )m2
E=−
2a
Assim, temos uma relação entre a energia orbital, as massas e o semi-eixo maior da órbita.
Utilizando as informações acima, é possı́vel deduzir algumas coisas, como:

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3.2.1 Velocidade na órbita circular
Sabemos que a energia é dada por:

(K + U ) = E

1 Gm1 G
m
2 (m1 + m2 )
( v2 − 2 =−
)m
2 r  2a
Mas r = a, por definição, então

2Gm1 G(m1 + m2 )
v2 = −
r r
Considerando que m1  m2
Gm1
v2 =
r

3.2.2 Velocidade de escape


A velocidade é, por definição, a velocidade mı́nima para qual um corpo foge da atração
gravitacional de outro corpo mais massivo, tendo velocidade 0 quando a distância entre os corpos
é infinita. Assim, podemos facilmente deduzir a velocidade de escape:
K + U = 0, por definição, logo
1 Gm1 m2
m2 v 2 − =0
2 r
1 2 Gm1 m
2
m2v =
2 r
Dividindo ambos os lados por m − 2 e multiplicando por 2:

2Gm2
v2 =
r

3.3 Um pequeno resumo sobre os tipos de órbitas


3.3.1 Órbitas fechadas
Uma órbita é dita fechada se o corpo em órbita está vinculado permanentemente ao sistema.
Nesse tipo de órbita a energia mecânica é negativa, mostrando que a energia potencial é maior,
em módulo, que a energia cinética.

• Órbita circular
A órbita circular é um caso especial da órbita elı́ptica, onde a excentricidade é nula, logo
a distância focal é 0, e temos que r = a = b. Durante a órbita circular, as velocidades
radiais e tangenciais do corpo em órbita se mantêm constantes, logo sua energia cinética é
constante.
Em geral, devido às suas baixas excentricidades, as órbitas dos planetas do sistema solar e
os asteroides do Cinturão de Asteroides podem ser aproximadas para órbitas circulares.

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• Órbita elı́ptica
A órbita elı́ptica ocorre quando a excentricidade está no intervalo 0 < e < 1. Durante
a órbita, as velocidades tangencial e radial variam constantemente, isso ocorre devido à
conservação do momento angular, como veremos adiante. Durante a órbita, a distância
entre o corpo em órbita e o centro de massa do sistema é dada por

a(1 − e2 )
r=
1 + e cos(θ)

Como visto anteriormente.


Através da equação vis-viva, podemos descobrir a massa ou o semi-eixo maior sabendo a
energia da órbita (que será a mesma para qualquer ponto da órbita):

E G(M + m)
=−
m 2a

Através desta relação, chegamos na Equação Vis viva (que será deduzida mais adiante),
que nos dá a velocidade de um ponto qualquer numa órbita elı́ptica
 
2 1
v 2 = G(M + m) −
r a

Em geral, cometas e corpos do cinturão de Kuiper e Nuvem de Oort possuem órbitas


elı́pticas com alta excentricidade.

3.3.2 Órbitas abertas


Uma órbita aberta ocorre quando há um “vı́nculo temporário” entre o sistema e o corpo.
Em geral, em órbitas abertas o corpo se aproxima lentamente, ganhando velocidade, até que faz
sua máxima aproximação e nunca mais retorna para o sistema. Em órbitas abertas a energia
mecânica é E ≥ 0, o que mostra que a energia cinética é maior ou igual a energia potencial.
As órbitas abertas são mais comuns em cometas, especialmente quando este se origina de
fora do sistema solar. Isso é bastante comum quando outras estrelas “arremessam” corpos em
direção ao sistema solar.
Outro fato também muito importante, é o de que a luz percorre órbitas hiperbólicas quando
se aproximam de corpos massivos. Isso é, em partes, explicado pela mecânica newtoniana, porém
este efeito é explicado completamente utilizando-se da Teoria da Relatividade Geral, de Albert
Einstein.

• Órbita parabólica
A órbita parabólica é um caso limite entre uma órbita fechada e aberta. Por definição,
a velocidade de um corpo num dado ponto da órbita parabólica é igual a velocidade de
escape naquele ponto. Um dos efeitos disso é que a velocidade é 0 quando a distância entre
o corpo e o sistema é infinita. Uma caracterı́stica importante da parábola é o fato de sua
excentricidade ser igual a 1.

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Figura 13

• Órbita hiperbólica
As órbitas hiperbólicas ocorrem quando a energia cinética do corpo é maior que a energia
potencial, ou seja, E > 0, onde E é a energia mecânica. Neste tipo de órbita, o corpo
chega com velocidade constante maior que 0 quando r → ∞. As hipérboles tendem a se
aproximar de retas no infinito. Assim, chamamos de assı́ntotas as retas que “se fundem” à
hipérbole. É muito comum se falar em ângulo de desvio

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Figura 14

Para calcular o ângulo de desvio, é necessário conhecer um pouco mais a respeito da


hipérbole. Esta descrição é feita na aula de seções cônicas, do curso NOIC de astronomia!!

3.4 Momento
Assim como força e energia, o conceito de momento são de fundamental importância para a
fı́sica e a astronomia. O uso do conceito de momento na de fı́sica possibilita e facilita diversos
problemas, já que assim como a energia, o momento também se conserva na maioria dos casos.
Existem dois “tipos” de momento: o momento linear e o momento angular (ambos possuem
propriedades idênticas e análogas, porém são aplicados a diferentes contextos).

3.4.1 Momento linear


O momento linear, ou quantidade de movimento relaciona a inércia (massa) de um corpo com
sua velocidade, para um dado referencial inercial. Assim

p~ = m~v

Vale ressaltar que, como o momento é o produto de um vetor por um escalar, o momento
também é um vetor.

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Como vimos anteriormente, a força está diretamente relacionada ao momento

∆~
p
F~ =
∆t
Desta forma, é fácil ver que, na ausência de forças externas, a variação de momento é nula,
logo, este se conserva
pi = pf
Esta é uma boa consideração para a maioria dos sistemas astronômicos, já que em muitos
casos, o sistema pode ser considerado isolado.
Assim, durante uma interação entre duas partı́culas (uma colisão, por exemplo), especial-
mente quando o intervalo de tempo é desprezı́vel, temos que

m1,i v1,i + m2,i v2,i = m1,f v1,f + m2,f v2,f

O princı́pio da conservação de momento pode ser utilizado, por exemplo, num foguete, cujo
princı́pio de funcionamento se baseia em lançar partı́culas a altas velocidades. A velocidade de
um foguete, sem a ação da gravidade, é dada por
 
m0
v = v0 + ve ln
mf

Onde ve é a velocidade com que as partı́culas saem do foguete.

Figura 15

OBS: O funcionamento de foguetes é apenas uma CURIOSIDADE, já que esse tipo de
conteúdo não costuma cair na seletiva de astronomia.

3.4.2 Momento angular


O momento angular é uma grandeza análoga ao momento linear, porém esta é aplicada em
movimentos curvilı́neos. Desta forma, podemos dizer que
∆L
τ=
∆t
Onde é o torque (que é uma grandeza análoga à força). Como dito anteriormente, a maioria
dos sistemas astronômicos podem ser considerados isolados, portanto, ∆L = 0, logo L se conserva.
O momento angular é, por definição, o produto vetorial entre o vetor raio e o vetor momento

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linear
~ = ~r × p~
L
~ é análogo a p~, então L
Como L ~ também pode ser escrito como

~ = I~
L ω2

Onde I é o momento de inércia (que vale I = mr2 para corpos pontuais) e ω a velocidade
angular.
Assim, o momento angular pode ser simplificado para
~ = mrv sin(θ)n̂
L

Onde é o ângulo entre os vetores raio e velocidade.

Figura 16

Uma das aplicações mais comuns da conservação do momento angular ocorre para a deter-
minação de velocidades ou distâncias em órbitas elı́pticas.
A partir do momento angular, é possı́vel demonstrar a 3a Lei de Kepler para órbitas elı́pticas.
Primeiramente, começarei introduzindo uma definição complementar à 2a Lei de Kepler. Agora
descreveremos a velocidade areolar quantitativamente: Considere a figura a seguir

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Figura 17

Dela podemos calcular a área A através do produto vetorial, pois


1 1
|~a × ~b| = ab sin(θ)
2 2
Que é justamente a área de um triângulo!! Assim, tomemos o produto vetorial entre os vetores
~s = ~v ∆t e ~r
1
∆A = |~r × ~s|
2
1
∆A = |~r × ~v ∆t|
2
~
Ora, mas o momento angular é dado por L = m · (~r × ~v ), logo ficamos com

L
∆A = ∆t
2m

∆A L
=
∆t 2m
(OBS: a área ∆A calculada deve ser pequena) Agora, partindo desta definição, temos que

πab L
=
P 2m

2πa2 1 − e2 L
=
P m
Pela figura acima, podemos perceber que no periélio e no afélio os vetores raio e velocidade

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são perpendiculares, logo | sin(θ)| = 1. Assim, para o periélio temos:
s  
2 1
L = ma(1 − e) GM −
a(1 − e) a
s  
2a − a + ae
L = ma(1 − e) GM
a2 (1 − e)
s  
a + ae
L = m(1 − e) GM
1−2
s  
a(1 + e)
L = m(1 − e) GM
(1 − e)
Substituindo na velocidade areolar:
s  
a(1 + e)
√ m(1 − e) GM
2πa2 1 − e2 (1 − e)
=
P m
√ s
2πa2 1 − e2
 
a(1 + e)
= m(1 − e) GM
P (1 − e)
Elevando os dois lados ao quadrado

4π 2 a4 (1 − e2 ) a(1 + e)
= (1 − e)2 GM
P2 1−e
4π 2 a4 (1 + e)(1 − e)
= GM a(1 − e)(1 + e)
P2
4π 2 a3
= GM
P2
P2 4π 2
=
a3 GM
E voala, conseguimos !!!

3.5 Teorema de virial


O Teorema de Virial é uma ferramenta estatı́stica muito utilizada na mecânica, quando
tratamos de muitos corpos. Ele pode ser aplicado a diversos contextos, inclusive na astronomia.
O teorema de Virial tem a seguinte forma:
1
hKi = hU i
2
Onde o hi (braquets) indicam que é uma “média”.
Os principais contextos onde o Teorema de Virial é aplicado são em aglomerados de galáxias
e aglomerados estelares, entre muitos outros.

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A dedução de algumas formas do Teorema podem ser um pouco complicadas e exigem co-
nhecimento de Cálculo. Felizmente, em toda a seletiva é usado apenas condições especı́ficas:
distribuições esféricas. Para este caso, temos que

3 GM 2
hKi =
10 R
Onde M é a massa total do sistema, e R é o raio do sistema.

3.6 Sistemas binários


Com diversos exemplos sobre o sistema solar, é hora de aumentar a escala!!
Um sistema binário consiste em um sistema de duas estrelas que estão relativamente próximas
entre si, e orbitam um centro de massa em comum. ( Existem casos de sistemas de mais de duas
estrelas em órbita, mas estes não serão tratados aqui)
Existem vários tipos de sistemas binários, porém este tipo de classificação será abordado em
outro tópico. Este artigo busca explicar apenas o funcionamento de tais sistemas através das
ferramentas previamente adquiridas (ressaltando que o presente artigo tratará apenas de sistemas
de órbitas circulares).

3.6.1 O centro de massa


Para começar a tratar o estudo dos sistemas binários, devemos primeiro entender o conceito
de Centro de Massa, pois este será muito utilizado adiante. Este conceito não foi introduzido
anteriormente pois, em geral, em sistemas planetários, como a massa dos planetas é muito menor
que a da estrela, o centro de massa do sistema é aproximadamente o centro da estrela. Evidente-
mente, esta aproximação não é válida para corpos de massa comparável, como ocorre na maioria
dos casos de sistemas binários.
O centro de massa é um ponto onde, sob certas condições, o sistema pode ser considerado
pontual, assim, por exemplo, podemos considerar que toda a massa do sistema está naquele
ponto, simplificando o problema. Além disso, como mencionado anteriormente, a órbita dos
planetas (o que se estende às estrelas, é claro) ocorre ao redor do centro de massa do sistema,
como ilustra a imagem.

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Figura 18

Por definição, a posição do centro de massa é dada pela média ponderada da posição dos
pontos, com o peso definido através da massa desses pontos
x1 m1 + x2 m2 + · · · + xn mn
xCM =
m1 + m2 + · · · + mn
Ou, formalmente
1 X
xCM = xi mi
M i
Onde M é a massa total do sistema.
No caso do sistema binário, o cálculo é muito simplificado, já que trabalhamos com apenas
duas partı́culas.
Se R e r são as distâncias ao CM das estrelas de menor e maior massa, respectivamente, e m

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e M são suas respectivas massas, podemos escrever que
Rm + rM
=0
M +m
Este resultado ocorre tomando-se o CM como origem. Manipulando a equação acima, chega-
mos em
Rm = −rM
Ou
R M
=−
r m
O sinal negativo vem do fato de as estrelas estarem em lados opostos do CM, como ilustra a
figura acima. Tratando de módulos, podemos escrever que
R M
=
r m
Além disso, pelo movimento circular uniforme, sabemos que
2πr
vA =
PA
2πR
vB =
PB
Mas sabemos que os corpos têm de estar em lados opostos ao CM, logo PA = PB. Dividindo
as equações chegamos em
vA r
=
vB R
Assim, juntando as relações chegamos em

M R vB
= =
m r vA

Que é uma relação muito conhecida e importante dos sistemas binários.


Em sistemas binários visuais, podemos facilmente calcular o semi-eixo maior do sistema utili-
zando trigonometria. Considere que em sua máxima separação, as componentes estão separadas
por um ângulo α. Considere também que a paralaxe do sistema seja de π.
Por trigonometria, sabemos que o semi-eixo maior a do sistema é
a
tg(α) ≈ α =
d
Mas sabemos também que
1
d=
π
Juntando as equações temos
α = aπ
α
⇒a=
π

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Pela 3a Lei de Kepler
4π 2 a3
P2 =
G(M + m)

4π 2  α 3
P2 = ·
G(M + m) π
Outra forma pode ser encontrada considerando que a = R + r:

4π 2 (R + r)3
P2 =
G(M + m)

3.6.2 Massa reduzida


O conceito de massa reduzida é amplamente utilizado na mecânica celeste pois, tem o poder
de transformar um problema de dois corpos em movimento em um problema de um único corpo
em movimento!!
A massa reduzida tem a seguinte definição:
Mm
µ=
M +m
Agora podemos realizar o problema do sistema binário onde as duas estrelas orbitam o centro
de massa, considerando que uma das estrelas está parada e a outra se move, com a massa da
massa reduzida ao redor de uma massa que possui a massa total do sistema (M 0 = M + m).
Vamos agora deduzir a 3a Lei de Kepler para um sistema binário de órbitas CIRCULARES.
Primeiramente, sabemos que a velocidade areolar é dada por
∆A L
=
∆t 2m
Sabemos pela 2a Lei de Kepler que a velocidade areolar é constante, e que a massa orbitante
possui a massa reduzida, logo
π(R + r)2 µ(R + r)v
=
P 2µ
(O termo do seno não aparece pois para órbita circular, sempre é 90°)

π(R + r)2 1
= (R + r)v
P 2
Por definição, R + r = a, então
πa2 1
= av
P 2
Pela energia do sistema, sabemos que

G(M + m)µ 1 G(M + m)µ


− = µv 2 −
2a 2 R+r
1 2 G(M + m) G(M + m)
v = −
2 a 2a

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r
G(M + m)
⇒v=
a
Substituindo a velocidade na expressão anterior

πa2 1
= av
P 2
r
πa2 1 G(M + m)
= a·
P 2 a
r
2πa G(M + m)
=
P a
4π 2 a2 G(M + m)
2
=
P a
P2 4π 2
=
a3 G(M + m)
E está demonstrada a 3a Lei de Kepler para sistemas binários!! Para deduzir a 3a Lei de
Kepler para sistemas binários de órbitas elı́pticas basta juntar as deduções feitas acima e na
sessão de Momento Angular!
Agora deduziremos também a Equação Vis Viva!!
Sabemos da relação entre a energia do sistema e algumas de suas caracterı́sticas (massa e
semi-eixo maior):
1 G(M + m)
(K + U ) = −
µ 2a
v2 G(M + m) G(M + m)
− =−
2 r 2a
2
 
v 1 1
= G(M + m) −
2 r 2a
 
2 1
v 2 = G(M + m) −
r a

4 Exercı́cios
1. Sabendo que a massa do Sol é de 2 · 1030 kg e que sua distância para Terra é de 1,5 · 1011 m,
qual a aceleração gravitacional do Sol num ponto na órbita terrestre? Qual a velocidade
orbital da Terra? (Considere órbita circular)
Q−q
2. Mostre que a excentricidade de uma órbita elı́ptica pode ser dada por e = , onde q
Q+q
e Q são as distâncias periélica e afélica, respectivamente.
3. Sabendo que um cometa está próximo a órbita de marte com velocidade de 30km/s, en-
contre
(a) A energia mecânica por unidade de massa do cometa.
(b) O semi-eixo maior de sua órbita

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(c) O perı́odo orbital
4. (DESAFIO)Sabendo que a energia gravitacional transformada em calor durante o colapso
de uma estrela é metade da energia potencial de suas partı́culas constituintes, e conside-
rando que a luminosidade do Sol seja TOTALMENTE devido a energia gravitacional, qual
seria o tempo de vida do Sol? (Despreze qualquer tipo de resistência)

5. Considere um sistema binário visual com estrelas de massa 1Msol e 5Msol , separadas por
um ângulo de 1” e paralaxe 0,0265”.(Considere órbita circular).
(a) Qual a massa reduzida do sistema?
(b) Qual o perı́odo orbital de suas componentes
(c) Suponha que a estrela de menor massa seja uma anã branca. Explique como o sistema
poderia vir a“sair do equilı́brio”.

5 Gabarito
1. (i)Pela gravitação universal e 2a lei de newton

GM m
F =
r2
GM  m
mg =
ma =  2
r
GM
⇒g= 2
r
(ii)Substituindo os valores
6,67 · 10−11 · 2 · 1030
g=
(1,5 · 1011 )2

g = 6 · 10−3 m/s2

(iii)Pela fórmula da velocidade circular


r
GM
v=
R

v = 29,8km/s

2. (i) Sabemos que

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Figura 19

q = a(1 − e)
Q = a(1 + e)
(ii)Dividindo uma equação pela outra
q 1−e
=
Q 1+e

q(1 + e) = Q(1 − e)
q + eq = Q − eQ
eq + eQ = Q − q
e(Q + q) = Q − q
Q−q
e=
Q+q

3. (a) (i)Sabemos que a energia mecânica de um sistema é dada por E = K + U. Logo a


energia mecânica por unidade de massa é dada por
 
E 1 1 2 GM m
= mv −
m m 2 r

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1 2 GM
= v −
2 r
(ii) Substituindo os valores do problema, tomando a órbita de Marte como distando
de 1,5U A do Sol:
E
= −1,43 · 108 J/kg
m
= 12(30103)2 - 6,6710-11210301,51,51011 -1,43108J/kg
(b) (i) Pela equação vis-viva
E GM
=−
m 2a
GM m
⇒a=−
2E
a = 3,11U A

(c) (i)Pela 3a Lei de Kepler


P2
=1
a3
Para P em anos terrestres, a em U A, e M massas solares (no caso, estamos conside-
rando o próprio Sol)
P = a1,5
P = 5,48anos

4. (i)Primeiro calcularemos a massa Mr da estrela que está contida num raio r

Mr = ρVr
M
Mr = Vr
V
M 4
Mr = · πr3
4 3 3
πR
3
r3
⇒ Mr = M
R3
(ii)Agora calculamos a massa de uma casca esférica de espessura dr e raio r

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Figura 20

dM = ρ4πr2 dr
3M r2
⇒ dM = dr
R3
(iii)Calculando a energia potencial contida nesta casca esférica:

GMr dM
dU =
r
1 3M r2
dU = −G · · M r 3 R3 · dr
r R3
GM 2 r4
⇒ dU = − dr
R6
(iv)Calculando a energia potencial da estrela inteira somando a energia potencial de todas
as cascas esféricas via integração:
U R
GM 2 r4
Z Z
dU = − dr
0 0 R6

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GM 2 R5 05
U − 0 = −3 6
( − )
R 5 5
3 GM 2
⇒U =− ·
5 R
(v)Sabendo que a energia térmica vem da energia cinética das moléculas da estrela, usamos
o Teorema de Virial:
1
K=− U
2
3 GM 2
⇒K= ·
10 R
(vi)Substituindo os valores para o Sol chegamos que a energia gravitacional total do Sol
que pode ser liberada em forma de calor é:

K = 1,14 · 104 1J

(vii)Sabendo a luminosidade do Sol, podemos estimar quanto tempo de vida ele teria se
dependesse apenas desta fonte:
1,12 · 104 1
T =
3,83 · 102 6
T ≈ 3 · 101 4s
T ≈ 107 anos

5. (a) Sabemos que, por definição


Mm
µ=
M +m
Portanto
5·1 5
µ= = Msol
5+1 6
(b) (i)Primeiramente, devemos encontrar o semi-eixo maior do sistema a partir da para-
laxe e do ângulo de separação máxima:
1 1
d= = = 37,7pc
π 0,0265

Por trigonometria sabemos que


a
tg(α) ≈ α ≈
d
a = αd
1 · 27,7
a=
206265
⇒ a = 1,83 · 10−4 pc

Convertendo para UA:


a = 1,83 · 10−4 · 206265
⇒ a = 37,7U A

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(ii)Pela 3a Lei de Kepler
a3
P2 =
M +m
Para P em anos terrestres, a em U A e M e m em Ms ol

P = 95,5anos

(c) Na astrofı́sica existe um conceito chamado de Limite de Chandrasekhar, que prevê


que a máxima massa de uma anã branca é de M = 1,44Msol , sendo que, se a estrela
ultrapassa este limite, a mesma colapsa.
Ocorre que, para um sistema binário em que uma das componentes é uma anã branca,
e a outra geralmente é uma estrela gigante, a anã branca pode exercer uma força
gravitacional forte o suficiente na superfı́cie de sua companheira a ponto de retirar
material de sua atmosfera. Assim, se a anã branca estiver inicialmente com uma
massa próxima à do Limite de SC e absorver massa o suficiente, a mesma irá colapsar,
e explodirá na forma de uma supernova tipo Ia.
Uma caracterı́stica importante a respeito das supernovas Ia (também chamadas de
“Vela padrão”) é que elas sempre ocorrem nas mesmas circunstâncias (quando a massa
da anã branca atinge o limite de SC). Desta forma, a sua luminosidade é sempre
aproximadamente igual. Portanto, as mesmas podem ser utilizadas para calcular a
distância de galáxias distantes, através de fotometria. Este é um método que tem se
mostrado bastante eficiente e preciso, visto que as Supernovas tipo Ia tem um brilho
equivalente ao de uma galáxia média inteira!

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