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FAORO, Raymundo.

Traços gerais da organização administrativa, social,


econômica, e financeira da colônia. In: Faoro, Raymundo. Os donos do poder:
formação do patronato político brasileiro, Editora Globo, São Paulo 2012. P. 156-
218.1
Dividido em quatro tópicos principais, cada um abordando espectros
diferentes da relação entre metrópole e colônia, o capitulo seis da obra de
Raymundo Faoro, os donos do poder, tem por objetivo analisar as relações entre a
metrópole portuguesa e a colônia americana que posteriormente viria a se constituir
como Brasil, da maneira que hoje é conhecido. O foco principal da analise de Faoro
diz respeito, em suma, à implementação de um sistema patrimonialista no território
brasileiro, o que proporcionou, por sua vez, uma formação corrupta e despótica à
América portuguesa.

O texto se inicia apresentando a ideia de que os abusos no sistema


burocrático que a colônia revela, refletem-se no comportamento dos funcionários
portugueses, em outras palavras, a busca por interesses próprios que, por vezes,
vão de encontro aos interesses “Del-Rei” são na verdade, como explica Pe. Vieira, a
“origem da doença” (p. 201). Origem essa que, indo desde o ministro da justiça ao
do estado, termina por atingir os órgãos mais vitais e, com isso, atinge o corpo como
um todo.

Faoro aponta também a falha no sistema colonizador português, baseado na


ideia de que Portugal mais colhe do que planta, e que a água que por lá chove “é
tirada das lagrimas do miserável e dos suores do pobre” (p. 202). O texto indica
ainda que o trato entre a metrópole e a colônia se dá de maneira bastante caótica,
em que, partindo da figura de um rei não absoluto, articulam-se diversas
organizações que absorvem parte do poder régio. Boa parte do segundo tópico, se
não todo ele, é direcionado a analise desse tema, tendo sempre como base o
pensamento de que, no período colonial, existia “mais uma apropriação de renda
para certos grupos do que a cobertura de necessidades públicas” (p. 222).

O tópico três, por sua vez, da continuidade à análise de que a divisão social
da colônia, influenciada pela forma de governo atuante em Portugal, se dá por meio
de um viés bastante patrimonialista (tema foco da obra de Faoro), ou seja, uma

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Resenha de caráter avaliativo do curso de licenciatura plena em história da universidade estadual do
Piauí ministrada no ano de 2019. Discentes: Mariana Rodrigues, Mateus Henrique.
ausência de distinção entre aquilo que é de esfera pública e o que é de esfera
privada. O que resultava num favorecimento de benefícios a aqueles que possuíam
títulos hereditários.

Por fim, o quarto tópico tem por objetivo desenvolver a ideia de que as
riquezas tiradas da colônia têm como destino apenas a manutenção do luxo da
coroa e dos privilégios da nobreza. Tudo isso envolto num contexto de ascensão
industrial por parte de estados europeus, em especial a Inglaterra que, realizando
tratados de comércio com Portugal, adquire grande vantagem e sufoca a
concorrência mundial, sobretudo/em destaque para burguesia portuguesa e seus
produtos manufaturados. Faoro critica ainda a política fiscalista do estado português,
de modo que essa política seria de caráter prejudicial à economia colonial.

A obra de Faoro como um todo, embora possua uma escrita que alguns
possam considerar chata, vale a pena ser lida, visto que a forma de analise do autor,
assim como Buarque de Holanda e seu conceito de “homem cordial”, traça uma
linha de pensamento crítico sobre um Brasil formado a partir de um comportamento
corrupto baseado no “jeitinho”, o que pode não agradar aqueles que compartilham
uma ideia mais romantizada quanto à formação da America portuguesa. Isso, sem
sombra de dúvida pode auxiliar a compreensão do quadro político, econômico e
social do Brasil contemporâneo. Em suma, essa obra é indicada àqueles que
desejam estudar o período colonial de forma mais sucinta, sem entretanto precisar
mergulhar de cabeça em uma infinidade de obras e autores diversos, desde
Capistrano a Varnhagen, o que em todo caso também não é má ideia.

Sobre o Autor

Nascido nos anos 20 na região do Rio Grande do Sul, o filho de agricultores,


Raymundo Faoro, formou-se em direito pela UFRGS exercendo, posteriormente, o
cargo de procurador do estado. Foi também presidente da OAB entre os anos 1977
a 1979, ajudando no processo de redemocratização nos anos 70 e fim dos atos
institucionais. Tendo como Magnum Opus os donos do poder e de base weberiana,
Faoro acaba por se tornar um dos importantes pensadores no que diz respeito à
historiografia brasileira, servindo inclusive de base na formação de cursos de
graduação.

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