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SOCIEDADE DE COMBATE HISTÓRICO ESTUDO & RECRIAÇÃO MEDIEVAL EM ARMAS

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SCHERMA BRASÍLIA
SOCIEDADE DE COMBATE HISTÓRICO ESTUDO & RECRIAÇÃO MEDIEVAL EM ARMAS

GUIA DE TREINO

ASSOCIADA A:

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SCHERMA BRASÍLIA
SOCIEDADE DE COMBATE HISTÓRICO ESTUDO & RECRIAÇÃO MEDIEVAL EM ARMAS

1ª EDIÇÃO
CRIAÇÃO E DESIGN
Guiarony Moreira Machado

COLABORADORES

Bryan Johnson

SCHOLA SAINT GEORGE, EUA

Denís Fernández Cabrera

GALLAECIA IN ARMIS, ESPANHA

Estevão Fernandes & Tácito Silva

SCHERMA BRASÍLIA, BRASIL

Fernando Brecha

SALA DE ARMAS DE CINTRA, PORTUGAL

José Manuel Nunes Vilar

WU SHU GALICIA, ESPANHA

FOTOS

Diana Walkíria, Guiarony Moreira Machado,


Laira Viana e Mirna Barcelos.

MEMBROS DA SCHERMA NESTA EDIÇÃO

Bernardo Tepedino, Estevão Fernandes, Filipe Rodrigues,


Guiarony Machado, Laira Viana, Lucas Nicândio, Mirna Barcelos,
Ramon Silva, Samuel Arantes, Tácito Silva & Valker Viana

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SCHERMA BRASÍLIA
SOCIEDADE DE COMBATE HISTÓRICO ESTUDO & RECRIAÇÃO MEDIEVAL EM ARMAS
APRESENTAÇÃO

Q
uando se trata de esgrima medieval, há uma série de fatores
que podem atrapalhar os treinos, tal como a ausência de
métodos em português, um sistema de regras e uma direção sobre
equipamento, manuais, tradições etc.

Para tornar nossa arte mais sólida (em especial no Brasil)


elaborei este guia com base nos modelos de treino das Salas de
Armas da Europa e Estados Unidos.

O sistema de regras como a duração dos combates (assaltos) e


pontuação também foram inspirados na esgrima olímpica,
descendente direta da esgrima medieval européia.

Cabe aqui também citar um pouco os exercícios de alongamento com


espada nos meus tempos de Kendo, no Saga Dojo, que me fizeram
perceber que sendo em combate ou treinos há muito mais
semelhanças do que diferenças.

QUEM SOMOS
SCHERMA BRASÍLIA
Scherma: Abreviação de Sociedade de Combate Histórico, Estudo e
Recriação Medieval em Armas. Também um trocadilho com a palavra
“Scherma” (se pronuncia “squêrma”), “esgrima” em italiano.

Somos um grupo voltado para o estudo das artes de luta do período


medieval em Brasília e região.

Estudamos os antigos manuais de combate medievais e


renascentistas, em especial o Flos Duellatorum, a Flor das
Batalhas.

Nosso escudo: Nas cores de Brasília, escudo verde com espadas


cruzadas por trás Elmo com a cruz em formato
de flechas da bandeira do Distrito Federal,
seguida pelo dragão (conhecimento antigo oculto),
a manopla (força e coragem), o livro e a pena
(dedicação ao estudo da arte), finalizando na
árvore (o fim do ciclo, o conhecimento apoiado e
gerado sob raízes firmes e fortes).
Nosso lema:

HONOR VIRTUTIS PRAEMIUM


“HONRA É O PRÊMIO DA VIRTUDE”
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SCHERMA BRASÍLIA
SOCIEDADE DE COMBATE HISTÓRICO ESTUDO & RECRIAÇÃO MEDIEVAL EM ARMAS

SOBRE O AUTOR
GUIARONY MOREIRA MACHADO
Instrutor, líder e fundador da Scherma
Brasília, campeão de todas as arenas de
combate dos Festivais Medievais de
Brasília: Primus Inter Pares e
Mittellalter.

Amante das artes marciais ocidentais,


passando antes pelas artes do kendo,
aikido e esgrima olímpica, tradutor e
web designer, associado a Schola Saint
George dos EUA, e membro fundador da
Espada – Associação Ibero Americana
de Esgrima Antiga, além de manter
contato com escolas de artes marciais ocidentais de outras partes
do mundo, como a Schola Gladiatoria de Londres, Sala de Armas de
Cintra em Portugal, e Gallaecia In Armis, Espanha.

Contato: guiarony@gmail.com / Facebook: guiaronyy

AGRADECIMENTOS
UM OBRIGADO ESPECIAL PARA
Rosane Colaço (amada mãe), Mestre Paul Santinho (in memorian ao
amado mestre/pai/irmão de armas), e família, Diana Walkiria,
Estevão Fernandes, Filipe Rodrigues, Bernardo Tepedino, Henrique
Aarstad, Lucas Nicândio, Mirna Barcelos, Samuel C. Arantes, Tácito
Silva, Valker Viana e Vinícius Pinheiro.

AOS IRMÃOS DE ARMAS AO REDOR DO MUNDO


Bryan Johnson - Schola Saint George, EUA.
Bruno Cerkvenik e Lucas Bucchile, Esgrima Histórica Londrina.
Denis Fernandez Cabrera – Sala de Compostela, Espanha.
Fernando Brecha – Sala de Armas de Sintra, Portugal.
Matt Easton - Schola Gladiatoria de Londres, Inglaterra.
Pete Kautz – Alliance Martial Arts.
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HISTÓRIA DA ESGRIMA
“Uma mente necessita de livros da mesma forma
que uma espada necessita de uma pedra de amolar
se quisermos que se mantenha afiada.”
- Tyrion Lannister

E
ntende-se por esgrima como o combate em que são utilizadas armas brancas
para atacar e defender-se, em especial espadas. Inicialmente, era utilizado
para caça e sobrevivência. Entretanto, com a evolução das armas e da
humanidade, passou a se tornar arma de combate, sendo abolida somente com o
surgimento das armas de fogo. Atualmente, existe a esgrima esportiva (esta dividida
em três diferentes tipos de armas, a saber: espada, florete e sabre, representando os
antigos armamentos utilizados em combate e treino) e a histórica, baseada nos
antigos manuais de combate.

A
esgrima (escrima do germânico skirmjan, "proteger"), em si tem uma origem de,
pelo menos, três mil anos. Pinturas egípcias e gregas mostram guerreiros
empunhando espadas. A Bíblia também se refere a muitas espadas ao longo dos
dois testamentos. Um templo japonês construído em 1170 a.C. mostrava alguns
guerreiros semidespidos empunhando armas pontiagudas com bicos de proteção.

A
esgrima nessa época era muito mais que um simples esporte — era uma
maneira de combater, e como tal não havia nenhuma regra precisa; porém,
surge a preocupação com a técnica para aplicar e defender-se dos golpes. Em
Roma, existiam escolas de gladiadores onde se formavam os doctore armarum,
especialistas na arte de combater com armas brancas para entreter o público. Na
Idade Média, a esgrima se diversificou devido aos vários formatos de espadas e
sabres existentes.

DA ANTIGUIDADE À ALTA IDADE MÉDIA (ANTES DE 1350)

N
ão se sabe da existência de nenhum manual de esgrima
anterior à Baixa Idade Média (exceto por algumas
instruções de luta grega, embora a literatura Antiga e
Medieval (Sagas Vikings e Contos Alemães) mencionam feitos e
conhecimentos militares; além de arte do período mostrar
combates e armamentos (Tapeçaria de Bayeux, a Bíblia Morgan).
Alguns pesquisadores tentaram reconstruir antigos métodos de lutas como o
Pancrácio e técnicas de combate dos gladiadores usando como referência estas
fontes e testes práticos, embora estas recriações sejam mais especulativas do que
baseadas em instruções reais.
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A BAIXA IDADE MÉDIA (1350 A 1500)

A escola alemã:

A
figura central das artes marciais medievais na Alemanha é Johannes
Liechtenauer. Pai da esgrima alemã, Liechtenauer nasceu provavelmente no
começo do século XIV, possivelmente em Lichtenau, Mittelfranken (Francônia).
O que se sabe sobre ele, junto com seus ensinamentos, está preservado no Manuscrito
3227a e nos vários manuais dos seus alunos e sucessores. De acordo com esse
manuscrito, Liechtenauer era um grande mestre que viajou por muitas terras para
aprender sua arte. Nos manuscritos do século posterior, a Sociedade Liechtenauer
(Gesellschaft Liechtenauers) é conhecida como um grupo de mestres de esgrima que se
consideravam discípulos de Liechtenauer, que detinham seus ensinamentos.

A escola italiana:

O
primeiro manuscrito em língua italiana de que se tem
notícia é o manuscrito Flos Duellatorum de Fiore dei
Liberi, encomendado pelo Marquês de Ferrara por volta
de 1410. Neste manual, ele documentou técnicas que envolvem
combate corpo-a-corpo, adaga, espada de uma mão, espada
longa, lanças e alabardas, combate com e sem armadura. A
esgrima italiana com armas medievais ainda é representada
por Filippo Vadi (1482–1487).

O começo do período moderno (1500 a 1700)

N
o século XVI, muitas técnicas do antigos manuscritos
foram reimpressas com as técnicas modernas de impressão, notadamente por
Paulus Hector Mair (por volta de 1540) e Joachim Meyer (por volta de 1570).

Neste século a esgrima alemã tendeu-se ao enfoque esportivo da arte. Os tratados de


Paulus Hector Mair e Joachim Meyer descendem dos ensinamentos dos séculos
anteriores na tradição de Liechtenauer, mas com novas e distintas características.
O manuscrito de Jacob Sutor (1612) é um dos últimos da tradição alemã.

A escola italiana é representada pela Escola Dardi, com mestres como Antonio
Manciolino e Achille Marozzo. No final do século XVI, a rapieira italiana ganha
muita popularidade em toda a Europa, principalmente com o manual de Salvator
Fabris (1606).

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Lista com os grandes mestres da época e suas nacionalidades:

- Antonio Manciolino (1531) (italiano)


- Achille Marozzo (1536) (italiano)
- Angelo Viggiani (1551) (italiano)
- Camillo Agrippa (1553) (italiano)
- Diogo Gomes de Figueiredo (1682) (português)
- Jerónimo Sánchez de Carranza (1569) (espanhol)
- Giacomo Di Grassi (1570) (italiano)
- Giovanni Dall’Agocchie (1572) (italiano)
- Henry de Sainct-Didier (1573) (francês)
- Frederico Ghisliero (1587) (italiano)
- Vincentio Saviolo (1590) (italiano)
- George Silver (1599) (inglês)
- Luis Pacheco de Narváez (1600) (espanhol)
- Salvator Fabris (1606) (italiano)
- Nicoletto Giganti (1606) (italiano)
- Ridolfo Capoferro (1610) (italiano)
- Joseph Swetnam (1617) (inglês)
- Francesco Antonio Marcelli (1686) (italiano)
- Bondi' di Mazo (1696) (italiano)

O período moderno (1700 a 1918)

D
esde os primeiros Jogos Olímpicos da era moderna (1896) a esgrima faz parte
das modalidades olímpicas, sendo uma das quatro modalidades que fazem parte
dos Jogos Olímpicos desde a primeira edição. As disputas masculinas começaram
nas olimpíadas com o florete e o sabre em 1896. A espada foi introduzida nas
disputas masculinas nos Jogos Olímpicos de 1900.

Em 1924 as mulheres começaram a participar dos jogos olímpicos, mas somente na


modalidade de florete individual, e até 1992 as mulheres continuaram a jogar
somente na modalidade do florete. A partir de 1996 elas começaram a competir nas
olimpíadas na modalidade da espada também. E a partir de 2004 elas começaram a
competir nos jogos olímpicos com o sabre. Apesar do termo "luta de esgrima" ser
frequentemente usado, no esgrimir nunca se tem uma "luta de esgrima" ou "luta
esgrima", mas sim "jogar esgrima", pois a esgrima olímpica é um esporte, porém, a
esgrima olímpica não é o foco deste guia.

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HISTÓRIA DA ESGRIMA MEDIEVAL
História da esgrima Medieval e Renascentista
Por Pete Kautz; tradução de Bruno Cerkuenik

“Não há homem de armas que possa usar cortesia


ou bondade para enfrentar seu inimigo.”
– Fiore dei Liberi, 1410

D
urante a Idade Média, por volta dos séculos XIV-XV, os guerreiros da Europa
desenvolveram um poderoso estilo de combate que provou ser igualmente
vitorioso no campo de batalha em tempos de guerra, nas ruas para suprimir
revoltas e para defesa pessoal. Esses homens lutavam duelos pessoais e judiciais
até a morte, assim como participavam de batalhas organizadas ou torneios. Embora
os torneios possam nos parecer civilizados e fossem disputados com espadas cegas ou
de madeira e juízes, eles normalmente acabavam com homens portando bestas
envolvidos na disputa, tentando prevenir que seus cavaleiros fossem derrotados,
capturados e usados para pedir resgate mais tarde por outro cavaleiro. Esqueça as
noções de cavalaria que você possa ter sobre a vida desses homens – ou eles
matavam, ou eles morriam, simples. Quando as guerras avançavam pela Europa,
técnicas de combate eram temperadas na forja da batalha, e guerreiros de cada país
aperfeiçoaram suas técnicas para que pudessem passá-las para a próxima geração.

E
ssas técnicas de matar, conhecidas por homens que lutaram e sobreviveram a
muitas batalhas, se tornou parte de uma tradição militar oral, transmitida
de um guerreiro a outro. Então, começando por volta de 1300, livros que
ensinavam técnicas de luta eram feitos em pequenas quantidades, cada um
cuidadosamente reproduzido a mão. Alguns desses livros continham uma pequena
quantidade de técnicas ilustradas, mas outras, como o trabalho de Fiori dei Liberi e
Hans Talhoffer catalogavam literalmente centenas de técnicas individuais e
contra-ataques. Por volta de 1400 esses manuscritos eram produzidos em um número
maior, com vários autores escrevendo vários livros durante sua vida. E assim
continuou pela Idade Média e pela Renascença, com livros escritos em vários países,
embora a maior quantidade viesse do Império Romano-Germânico (Atualmente
Alemanha, Áustria e Itália). Essa Era viu o peso do combate corpo-a-corpo Medieval,
e essa foi a Era dourada dos “Fechtbuch” ou “Livros de luta”.

C
ontudo, durante a Renascença, por volta dos séculos XVI-XVII, as coisas
mudariam com a invenção da imprensa e com os novos professores que aceitavam
civis como estudantes. Durante a Idade Média, os livros de combate eram
mantidos com os guerreiros profissionais, e as verdadeiras técnicas de matar e suas
defesas eram guardadas como segredos.

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N
o ano de 1410 o Flos Duellatorum (Flor das Batalhas) o mestre Italiano Fiori
de Liberi diz que essas técnicas deveriam ser mantidas em segredos exceto
“Para os especialistas em espadas para ajudar os guerreiros em tempos de
guerras, revoltas e duelos” e nunca deveriam ser revelados ao povo comum “Que
foram criados por Deus sem capacidade como vacas apenas nascem apenas para
carregar cargas pesadas”. Fiori nunca mostrou suas técnicas em público, exceto
quando as usava em batalha, e ele ensinou a seus estudantes atrás de portas
fechadas, fazendo-os jurar segredo sobre o que aprenderam. Ele escreveu seu livro
quando estava velho, muito depois de suas técnicas serem necessárias, e sob o
serviço do “mais ilustre mestre Niccolo Marquês de Ferrara, Modena, Parma, and
Reggio”, Que usaria seu livro para treinar seus cavaleiros.

E
m um nível técnico, um dos primeiros elementos chave que você encontra ao ler
os livros medievais e que eles contém uma grande quantidade de material de
combate desarmado. Um cavaleiro medieval, um Homem-de-Armas, era de se
esperar que soubesse combate desarmado e com adagas assim como combate de espada
e lança, com o qual os associamos hoje. Nos manuais de sobrevivência no campo de
batalha, muitos continham longas seções de ataques desarmado, agarrões, defesa
desarmada contra adaga, e combates com adagas. Técnicas desarmadas contra espada
e adaga contra espada também eram mostradas. Os manuais mostram travas de juntas
sistemáticas, quebras, arremessos, desarmes, contra-ataques, clinches, agarrões e
agarrões em solo e mais. O sistema de combate desarmado é também totalmente
integrado ao combate de espada e lança, com a maior parte das técnicas mostradas
envolvendo algum degrau de trabalho a curta distância.

V
ocê verá técnicas idênticas (particularmente arremessos e travas de braço)
feitas com todos as formas diferentes de armas, mostrando a natureza
integrada desse sistema. O Cavaleiro medieval realmente entendia como fazer
a conexão entre as técnicas essenciais de combate, não importando o tipo de arma.
Primariamente, esse era um estilo de luta baseado em armas, que usava agarrões de
pé como um complemento às técnicas de combate armado, de maneira similar ao os
treinos militares de hoje, usando ataques nos olhos, socos no queixo, joelhadas e
chutes baixos. Luta no chão era usado basicamente pra manter o cara no chão tempo
suficiente para você sacar sua espada ou adaga e furá-lo, ou segurar ele para os
lanceiros possam perfurá-lo.

S
omente quando você via essas técnicas usadas em duelos judiciais ou duelos,
onde ninguém fosse interferir com a luta, você veria os agarres como nós vemos
hoje, sendo aplicados. Assim como aquelas usadas de pé, você verá
enforcamentos, quebras de perna e braços e muitas outras técnicas semelhantes
sendo usadas no chão. A armadura era usada pra desgastar e cansar o oponente, e
era comum ver homens pegando armas que caíram no chão, ou sacando uma adaga,
enquanto agarravam.
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O
s duelos eram grandes espetáculos, com preparações elaboradas de ambos os
combatentes, envolvendo orações, banho ritual e mais. Ele deveria andar de
seu pavilhão orgulhosamente, em frente a grande platéia, para o campo de
batalha, e aí, não haveria ninguém lá alem de dois homens, um juiz e Deus. Muitas
imagens que temos desse período mostram imagens nesses padrões.

A
lém de usar várias outras armas, como a maça ou o machado, o guerreiro
medieval tinha que aprender a usar a armadura que ele vestia como uma arma.
Lutar com uma armadura real é bem diferente do que lutar sem armaduras, e
os Alemães usavam os termos “blousfechten” e “harnisfechten” pra descrever
combate em trajes normais e com armaduras, respectivamente. A armadura de placas e
a armadura de anéis daquele tempo incapacitavam muitos ataques de corte e
perfuração, permitindo ao usuário chegar perto e lutar com sua espada longa de
uma maneira diferente, segurando no meio da lamina com uma mão e usando como uma
baioneta, técnica chamada de “halbschwart”, “half-sword” ou técnicas de “meia-
espada”, projetadas para entregar estocadas poderosas nas falhas da armadura.
Adicionalmente, a armadura seria usada pra desgastar o oponente no solo, e os
cotovelos e joelhos pontudos poderiam fazer uma horrível pressão em um oponente
sem armaduras. Até os sapatos da armadura (chamadas “sabatons” pelos franceses)
vinham com pontas usadas para chutar por baixo das armaduras ou, quando à
cavalo, para chutar pessoas caso chegassem muito perto de você.

L
utar à cavalo era outra técnica que o cavaleiro devia aperfeiçoar. A lança
era usada, junto com a maça e a espada, de cima do cavalo. Fiore dei Liberi, e
outros, também mostravam muitas maneiras de usar técnicas de agarre para
tirar o adversário do cavalo. Ao lutar em um cavalo de guerra, o cavaleiro era uma
força imponente no campo de batalha. Pesando quase uma tonelada com seu cavalo,
viajando a 35 milhas por hora, um cavaleiro montado deveria inspirar um
verdadeiro terror em qualquer soldado o enfrentando a pé.

E
ssa completa arte de combate desarmado ocidental é muito mais antiga que
estilos como Jiu-Jitsu, Aikido, ou Hapkido. A maioria das artes marciais
ensinadas hoje tem mais ou menos 100 anos e podem ou não ter relação com
combate mortal. Muitas hoje são ensinadas para manter a saúde ou como meditação.
Nos livros de combate medievais, são ensinadas técnicas com mais de 500 anos de
idade, e eram usadas para matar. Muitos falarão da “Descendência Samurai” ou do
“Espírito Shaolin”, fazendo-os parecer mais antigos, mas qual é a história
verdadeira das técnicas do que eles ensinam? Elas foram desenvolvidas em separado,
ou foram inspiradas em uma arte mais antiga? Com o Ocidente, a história das artes
de combate foi preservada através dos manuais escritos dos mestres que sabiam que
elas seriam usadas, tanto no campo de batalha como na rua.

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HEMA: HISTORICAL European marcial arts
Significado de HEMA:

T
rata-se de uma sigla em inglês para
"Historical European Martial Arts" (Artes
Marciais Históricas Europeias) se referindo
as técnicas de combate tradicionais
praticadas na Europa, geralmente com espadas,
mas também há tratados sobre combate desarmado,
adaga, à cavalo etc.

A
s técnicas se perderam por anos, porém hoje há uma
forte campanha de renascimento das artes europeias
com base no estudo e interpretação dos antigos
tratados de luta, o que leva a um grande esforço, pois
do mesmo modo que há textos bem detalhados, muitos outros
são ilustrações com explicações breves, muitas vezes sendo
uma referência para uma tradição oral/prática, daí muitas
vezes algumas técnicas e manuais levarem anos de estudo.

O
grande desafio dos grupos de esgrima histórica é se aproximar o mais fiel
possível da tradição da época. Os documentos históricos atualmente utilizados
para reconstruir estas artes marciais perdidas começam pelo Fechtbuch MS
I.33, um manuscrito anônimo do século XII.
Os ”Fechtbuch”, ou “livros de luta” em Alemão, são
manuais que documentavam técnicas marciais para
efeitos de treino, embora muitas vezes fossem
concebidos como referência ou lista das técnicas
transmitidas pelos mestres.

Reenactment: Recriaç.ão Histórica


Recriacionismo histórico, ou Historical Reenactment, é
uma prática educativa que tem por objetivo recriar
alguns aspectos de um determinado período ou evento, havendo a possibilidade de se
focar em apenas uma grande batalha, como a de Hastings, na Inglaterra, ou em um
período que dure séculos, criando um conceito dinâmico de ensino, ao invés de apenas
apresentarem "resíduos" de uma época desprovidos de seus contextos.

Para maiores informações:


REENACTMENT BRASIL
www.reenactmentbr.blogspot.com.br

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A filosofia
Por que praticar HEMA?
Por Denis Cabrera

L
endo um documento de um colega da ESPADA vi que ao praticar HEMA há mais
razões do que pessoas, em especial no Brasil, mas muitos concordam que há uma
abordagem marcial para isso: treinamos técnicas de combate, e não (apenas) um
esporte. O problema com as técnicas destinadas a matar pessoas com armas projetadas
para matar pessoas é que, se você realizá-las corretamente, vai acabar matando
alguém. Isso significa que temos que comprometer seja na técnica, seja na arma ou,
mais provavelmente, ambas. É por isso que usamos armas de treino (zugadores),
proteções (máscaras, luvas) e abstemo-nos de algumas técnicas (Mordschlag, ataques
contra as articulações, chutes na genitália, joelho etc).

Q uando treinamos durante as sessões ordinárias, mesmo quando fazemos combate


aberto, o ambiente é de cavalheirismo. Não há tensão nem stress real para
executar a técnica como num duelo até a morte (à exceção do enorme interesse
em realizá-la corretamente e força de vontade para se concentrar nisso), porque
provavelmente você está tendo a chance de tentar novamente. Especificamente, nos
assaltos livres muitas vezes não há preocupação por ter sido atingido, porque é
tudo simulação e ser atingido não tem um custo associado como seria na vida real - a
própria vida, o mais provável.

T
entamos simular um duelo
"real" até a morte. É
impossível para nós para
recriar completamente o
ambiente, é claro, e,
especificamente, é impossível
recriar o estresse, medo e
adrenalina que deve vir de tal
situação.

O
melhor substituto que
encontramos para simular
esse estresse é a competição:
uma, onde apenas uma única
estocada ou corte bem colocado é o suficiente para jogá-lo fora da corrida, assim
como em um combate real. Lutamos nossas competições tentando encontrar um
equilíbrio entre a segurança, e a idéia de que cada combatente é potencialmente
letal e devemos acima e antes de tudo proteger-nos de suas ações. Acreditamos que
isso vai produzir uma boa técnica (se bem conservadora), e melhor recriar o que uma
arte de combate deve ser.
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Benefícios físicos e psicológicos da prática de HEMA:

A
prática de esportes é fundamental para a saúde e bem-estar do ser humano.
Ela ensina valores fundamentais, como a autoconfiança, a inclusão social, o
trabalho em equipe e o respeito pelas outras pessoas. Além de um esporte
HEMA são técnicas de combate que trazem toda uma carga histórica consigo, mas ao
praticá-la não se ganha apenas no conhecimento, mas também mais saúde, confiança
etc. Segue abaixo uma lista com alguns benefícios da prática:

- Melhoria da auto-estima;
- Maior poder de concentração ;
- Condicionamento do corpo;
- Reflexos mais apurados;
- Desenvolvimento/aprimoramento da tomada de decisões;
- Convívio social;
- Humildade ao receber/dar instruções;
- Maior resistência física;
- Aumento na concentração;
- Combate à depressão ;
- Fortalecimento dos músculos e do coração ;
- Manutenção da massa óssea;
- Melhora no sono;
- Combate o stress e muito mais;

Retorno ao medieval

M
uitos praticantes (senão todos) praticam
esgrima medieval por amor ao período
medieval e a mística em torno não só da
época, mas de tudo que remete a ela: das
espadas em si, aos cavaleiros em armaduras e
aos combates com armas brancas. De fato os
manuais de esgrima medieval foram concebidos
por cavaleiros, nobres versados nas artes da
guerra, porém há algo que deve ter sempre em
mente:

T
reinar esgrima medieval de maneira
séria, real, envolve estudo, interesse,
força de vontade comprometimento e
muito respeito. Isto você, praticante, sempre
deverá ter em mente para que se crie um ambiente saudável dentro do seu círculo de
treinos e aproveite de maneira saudável os treinos.

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SCHERMA BRASÍLIA
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O DECÁLOGO DO ESGRIMISTA

U
m decálogo, originalmente, refere-se as 10 regras de Deus; como o próprio nome
diz acima, aqui falaremos sobre as 10 regras para instruir um esgrimista no
seu caminho de desenvolvimento físico, mental e espiritual. Vale lembrar que
este decálogo é usado na esgrima olímpica, porém perfeitamente aplicável na
esgrima medieval. Use-o, sinta-o e de fato será um esgrimista melhor.

1°-A ESGRIMA É UM DESPORTO DIFÍCIL, mas é o único em que poderás, aos cinquenta
anos, enfrentar com vantagem um jovem de vinte;

2°-A ESGRIMA É UMA CIÊNCIA E UMA ARTE. Pela complexidade da sua técnica, mesmo
os predestinados para este desporto só com treino assíduo podem atingir a
perfeição;

3°-DEDICA-TE COM PERSEVERANÇA À LIÇÃO e procura executar corretamente os


movimentos ensinados;

4°-NUNCA POUPE AS PERNAS. Do seu bom trabalho depende em grande parte o teu
futuro como esgrimista;

5°-NÃO PENSES ASSALTAR enquanto não te sentires senhor de boa execução;

6°-TRABALHA COM PERSISTÊNCIA E ASSIDUIDADE. Serás compensado pelo progresso


que verificarás;

7°-QUANDO ASSALTARES NÃO DESCUIDE a prática da lição. Nela irás corrigir os


deslizes que no assalto te escapam e receber novas condições para continuares a
progredir;

8°-QUANDO FORES BATIDO NO ASSALTO, NÃO DESANIMES. Procura saber porque


perdeste e tenta remediar os erros que tiveres cometido;

9°-NÃO ESQUEÇAS, NO ASSALTO, que os teus recursos físicos são, em geral, comandados
pelo cérebro. Nunca combatas da mesma forma todos os adversários. Estuda-os
primeiro, pois o que é bom com um poderá ser perigoso com outro;

10°-NÃO ESQUEÇAS, FINALMENTE, que a esgrima é um desporto de correção e que, para


dominar os adversários, precisa primeiro aprender a dominar-te a ti próprio.

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AS 11 VIRTUDES
Uma espada e um caminho.
Por Estevão Fernandes

C
omo este capítulo trata da filosofia por trás da esgrima medieval, nada mais
justo do que dedicar o texto de um dos membros-chave e um dos mais antigos da
SCHERMA BRASÍLIA sobre as virtudes que devem ser seguidas por um
espadachim em seu caminho de descobrimento não só da arte do combate, mas de si
mesmo, como ser humano. Logo, elaborada e enumerada seguem as 11 virtudes:

A Honra
Talvez a mais importante das virtudes, a honra é a vida do espadachim. Em todos
seus atos e palavras, em qualquer gesto, a honra deve estar presente como se sua
vida dependesse disso, aliás, como poderá perceber mais a frente, ela realmente
depende. O espadachim não vive para sua honra, ele vive a sua honra. Ou seja, sua
honra não é uma simples parte de sua vida, e ao mesmo tempo ela é a sua vida! A
honra engloba todas as outras virtudes, e ao mesmo tempo é por si só uma virtude
independente. Engloba pois se formos analisar, a sinceridade, a justica, a dignidade,
só são manifestas se forem a partir de um motivo honrado. Independente pois apenas
a honra dita a vida do espadachim.

A Coragem
A coragem é de fundamental importância na vida do espadachim. Como dizem os 4
verbos, é necessária a coragem para o Saber, pois apesar do caminho ser aberto a
todos, não são todos que tem a coragem de aprender seus ensinamentos. É necessária
a coragem para o Querer, para enfrentar as consequências dos seus atos e para
empregar o que lhe foi ensinado. É necessária a coragem para o Ousar, pois aquele
que tem medo, nunca saberá o que poderia ter, e nunca terá o que queria. E
finalmente é necessária a coragem para o Calar, para que seu ato possa ser
realizado e terminado.

O Conhecimento
De nada valem as outras virtudes, sem conhecimento para aplicá-las...

A Curiosidade
De que valeria a vida do espadachim sem a curiosidade de buscar mais, de querer
conhecer coisas novas, sem buscar novas aventuras e novos ares? A curiosidade é uma
virtude pouco compreendida, e se mal empregada, ou se não acompanhada das outras
virtudes, leva a caminhos perigosos como as trevas. Portanto, o espadachim deve
sempre ser curioso enquanto essa curiosidade acompanhar sua honra, sua dignidade
e sua sinceridade.

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A Fé
Ai está um ponto importante. O homem deve ter Fé. Não importa sua religião, seu
credo, se o espadachim tiver fé em seu coração então o mundo lhe será dado.
Nenhuma fé deve ser menosprezada, desde que essa seja uma fé verdadeira. Nenhuma
fé é invalida se for sincera. “todos os caminhos levam a roma” diz o antigo ditado.
Todas as fés levam ao Todo.

A Sinceridade
A primeira sinceridade do espadachim deve ser para com ele mesmo. Sem isso,
nenhuma outra sinceridade é válida. O espadachim deve ser sincero para com seus
ideais, para com seu próximo. Faz parte de sua honra a sua sinceridade. Faz parte de
sua dignidade sua sinceridade. Sua curiosidade deve ser sincera, do contrario o
levara a caminhos obscuros. Sua fé deve ser sincera a ponto de não precisar ser
testada.

O Respeito
O espadachim deve ter respeito por tudo na vida. Respeito para com a Natureza,
para com o próximo, para consigo. Com o respeito, se é respeitado. O espadachim deve
ter respeito com os mais velhos, com as tradições e com a cultura, mesmo estes não
sendo seus.

A Fortaleza
A forca de vontade atua junto de todas as outras virtudes, pois nenhuma seria
desempenhada e guardada sem esta. É necessário forca de vontade para se ter fé,
para se ter coragem e ser sincero. A forca de vontade é a base das virtudes do
espadachim.

A Justiça
O espadachim deve ser justo em todas suas decisões e em todos seus atos. Dessa forma,
todas as medidas devem ser tomadas para que um ato não prejudique ninguém, todas
as decisões devem ser ponderadas de forma a serem as mais corretas possíveis.
Ninguém esta livre do erro, mas o espadachim deve fazer o máximo para minimiza-lo.

A Paciência
Tudo tem seu tempo e sua hora. O espadachim não deve nunca querer se adiantar
para uma tarefa ainda não alcançável, não deve nunca querer mais do que lhe pode
ser dado, e deve sempre saber esperar pelo que está por vir. Não basta ter o
conhecimento, não basta saber como usar. É preciso saber quando usar. Existe um
tempo preparado para tudo o que você aprendeu. Cabe a você usá-lo no momento
apropriado.

O Amor
Sem o amor, não há vida. Sem o amor, todas as outras virtudes são inválidas. O amor
tem apenas uma regra, AME.

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A CONDUTA NOS TREINOS
“Quando encontrar um espadachim, saque sua espada;
não recite poemas para quem não é poeta.”
- Clássico Budista Ch'na

A
os que desejam treinar esgrima medieval, devem se
pautar pelas regras de conduta do grupo, para que
se crie um ambiente saudável e proveitoso para
todos na prática da arte e seu desenvolvimento. As
regras de conduta impõem limites, direitos e obrigações,
sendo algumas direcionadas a alunos, outras a
instrutores e outras, a todos os membros.

Da conduta do grupo em geral:


Simplesmente TODOS, tem a obrigação de agirem de
maneira cavalheiresca, sendo humildes e honestos em
reconhecer que estão lá acima de tudo para treinarem
uma arte, e não em uma batalha (mortal ou não) para
mostrar que é melhor do que os outros. A seguir as 10
regras gerais, direcionadas a todos os membros:

1 – Segurança: Por se tratar de uma arte de combate, é evidente que haverá


contato físico, logo acima de tudo preze pela segurança sua e de seus colegas. Evite
golpes muito fortes, certifique-se de que sua máscara, luva etc, estejam bem
ajustadas, cuidado com golpes em áreas desprotegidas e as evite.

2 – Respeito: Respeito e cortesia devem pautar os treinos, não é permitido nenhum


tipo de insulto, discussão ou briga, ataques a um colega no treino e/ou fora deles,
sob risco de expulsão imediata. Você tem todo o direto de não gostar, mas tem a
obrigação de repeitar. Também não é aceito nenhum tipo de preconceito racial,
religioso ou sexual. Sabemos que brincadeiras existem e sempre existirão, mas deve
haver cuidado com palavras e gestos obscenos.

3 – Humildade: Tanto alunos quanto instrutores devem manter a humildade, ambos


devem dar um bom exemplo, serem pacientes no ensino/aprendizado e de maneira
nenhuma criarem animosidades entre si.

4 – Camaradagem: Além de treinar uma arte de combate, nos reunimos por causa de
um interesse em comum: a paixão pela esgrima medieval. Um clima de camaradagem
vai ampliar seu círculo de amigos, seus conhecimentos (já que vão poder partilhar
de outras coisas pós-treino) e o fará ganhar mais respeito com os colegas

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Da conduta do instrutor e requisitos para dar instrução:

C
ada instrutor deve ter consigo mesmo este pensamento antes de iniciar
qualquer aula: Quanto maior for sua experiência, maior deverá ser o seu
exemplo. Logo, para ser instrutor além de
conhecimento e técnica prezamos acima de tudo o caráter.
Eis as regras que todo instrutor deve seguir:

1 – Conhecimento: Para correr, você deve antes aprender


a andar. Aprenda os nomes dos golpes suas posições e
aplicações, execute-as sob a supervisão de um instrutor
mais experiente, estude suas progressões, para saber
exatamente o que está fazendo e falando. Domine o que
pretende instruir, estude sempre e revise.

2 – Experiência: Com o advento de fóruns, Youtube e da


internet em geral, o número de “especialistas” no assunto
aumentou consideravelmente, logo surgem “mestres”,
“instrutores” e “especialistas” o tempo todo, mas a maioria não sobrevive a lições
práticas e a falta de base/conteúdo nas suas explicações. Um aluno esforçado é
melhor do que um “mestre” com conhecimento parcial.

3 – Humildade: Você não sabe tudo. Tendo conhecimento, experiência e aprovação de


outro instrutor, o aluno passará a ser instrutor, sob observação dos membros mais
antigos e depois, se necessário, sozinho. Mas seja sob supervisão ou não, deverá
manter humildade e cortesia com os demais.

4 – Responsabilidade: Instruir vai lhe trazer funções adicionais além de golpear


e explicar golpes, mas também verificar equipamentos, ensinar como usá-los
corretamente, como fazer sua manutenção, organizar os alunos, ser mais ativo em
questões internas do grupo, resolver pendências com alunos e em cima disso tudo
treinar para manter-se apto a instruir, e estudar cada vez mais.

5 – Educação & paciência: Como instrutor você pode (e deve) erguer a voz em tom
alto e claro para que entendam suas instruções, mas NUNCA deverá usar deste tom
para ofender o aluno, ou ridicularizá-lo se errar um golpe ou algo parecido.
Se o aluno errar 6 vezes, sua função é corrigi-lo até acertar na sétima e assim por
diante

6 – Postura: Evite conduta inapropriada, agora você é um exemplo a ser seguido.


Nada de fotos estúpidas com material de treino (seja no local ou não), se for postar
algo no grupo, faça uma revisão ortográfica, tenha cuidado redobrado com seu
equipamento, chegue se possível com antecedência, não venha de ressaca, leia e
colabore mais com artigos, estude mais e pratique mais. Seja um exemplo!
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Da preparação dos instrutores para o treino :

E
m cada treino haverá no mínimo um instrutor, em certas ocasiões haverão dois
ou mais. Para que os treinos transcorram de maneira fluída os instrutores
devem agir da seguinte maneira:

1 – Reunião pré-treino: Seja pessoalmente ou on-line, os membros deverão se


reunir e confirmar presença. Em seguida determinar o conteúdo que será abordado
na aula e quem irá conduzir o treino.

2 – O pré-treino em si: Mesmo com tudo já definido, recomenda-se que os


instrutores cheguem em horário mais cedo para uma última conversa antes de
começarem a aula. O instrutor que conduzirá o treino deverá ser amparado pelos
colegas, o ajudando na orientação dos alunos e, se necessário, participar das
demonstrações dos golpes e suas aplicações.

3 – Segurança: Como instrutor, é obrigatório e essencial verificar o equipamento


dos membros, e verificar se todos estão devidamente equipados e o grupo em ordem
para o início da instrução.

4 – Recomendações: Mesmo que domine o tema revise antes, ensaie o quê, como e
quando dirá. Não abuse da sua autoridade, não mande aluno pagar flexões, não o
ofenda, nem faça nada que o ridicularize na frente dos demais. Exija golpes
corretos, se o aluno não o fizer, corrija-o até fazer corretamente.
Peça aos alunos mais experientes orientar os recém-chegados, além de economizar
tempo e não atrapalhar os mais antigos, é uma ótima preparação para um futuro
instrutor, e este poderá ser avaliado como se sai ensinando os outros.

5 – Pós treino: Avalie o grupo como um todo, faça observações com base no que viu
no treino e fale de maneira coletiva (observações pessoais devem ser feitas no
treino, diretamente com o aluno), elogiando os pontos positivos e cobrando os pontos
nos quais devem trabalhar mais para melhorar. Faça deste momento uma hora para
conversar sobre a filosofia aos membros, AGRADEÇA a presença, se possível registre
tudo em fotos e vídeos, tanto para estudar o treino como para guardar de
recordação a presença de todos. Se o tempo permitir saia com os colegas para beber,
rir e descontrair. As lições aprendidas são mais bem absorvidas assim.

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Da postura do aluno nos treinos:

D
o mesmo modo que os instrutores devem ter postura e serem comedidos em suas
palavras e ações o comportamento do aluno deverá ser exemplar. Já que está
dispondo do seu tempo para treinar uma arte tão rara nos dias de hoje, então
não desperdice seu tempo (e o dos instrutores e demais alunos) com atos tolos e
desnecessários. Eis o que será cobrado de você como aluno:

1 – Humildade: Com o advento da internet é possível aprender muito sobre


qualquer tema, inclusive esgrima medieval, porém querer
trazer seu conhecimento só virtual pouco acrescenta ao
grupo, que já tem uma didática pronta e trabalha em cima
dela. Entenda que você está começando e como tal deverá
mais ouvir e aprender do que qualquer outra coisa.

2 – Sinceridade: Não tenha medo de dizer que não


entendeu. Se a explicação não ficou clara peça ao instrutor
que repita. Burrice não é você não entender, e sim mesmo
tendo um instrutor na sua frente não tirar a dúvida.

3 – Compromisso: Não tenha medo de dizer que não


entendeu. Peça ao instrutor que repita. Burrice não é você
não entender, e sim ter alguém para tirar sua dúvida, mas
não perguntar. Tente não se atrasar, muito menos faltar.
Evite ainda mais faltas seguidas ou um longo tempo sem
treinar, além de ficar para trás em relação aos colegas.

4 – Estudo: O treino vai além da aula prática. Leia, acompanhe fóruns, treine
sozinho em casa, se prepare fisicamente, estude !

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POR FIM, TREINANDO
“Voce tem a sua espada e seus truques.
Cada um luta com aquilo que lhes foi dado.”
- Caderno de Poesias e Frases Scarlat

A
pós um alongamento, e a inspeção do material vamos ao treino. O instrutor
deverá se posicionar a frente dos colegas de treino, que deverão estar em
linha de frente para o instrutor ou então em um semi-círculo ao seu redor.
Feito isso deve-se saudar aos colegas, e estes devem repetir o gesto.
Em seguida a aula do dia deverá ser apresentada e os treinos começam.

Do sistema de treino:

P
artindo do básico a exercícios mais avançados devemos seguir uma linha-base
para o desenvolvimento do aluno. Eis as lições essenciais baseadas neste caso
na tradição italiana, mais especificamente Fiore dei Liberi, porém
metodologia semelhante pode ser aplicada a outras tradições:

- Apresentação (quem foi Fiore, seu livro), uso da espada, pegada, postura etc.
- Postas básicas e suas aplicações, equilíbrio, balanço. As quatro bestas.
- Os cortes e os golpes ascendentes e descendentes, estocada, golpes/ contragolpes .
- Ações com as guardas: Pulsativa, Stabile, Instabile.
- Noção de espaço, direção, alvos, lutas de envolvimento, recondução e contato.
- Posições: Guarda alta, média e baixa.
- Zogho Largo & Zogho Stretto.
e mais itens que serão desenvolvidos com o tempo.
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Um dia de treino:
Todo treino deve ser pautado pelas normas citadas no Guia, sendo assim tomaremos
como exemplo um treino de espada longa com 4 pessoas:

1 – Saudação: Primeiramente o instrutor deve saudar os colegas que já estão


alinhados e prontos para o treino:

2 – Explicação: Devidamente saudados, deve-se explicar a lição e sua aplicação:

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3 – Aplicação: Além de explicar, demonstre a mecânica do golpe:

4 – Ação: Lição explicada, agora execute-a:

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5 – Avalição: Além de ver, treine com o aluno, avalie sua ação, reação postura etc.

6 – Alterne: Duas linhas são formadas, uma ataca, outra defende, após executar um
golpe o número de vezes pedido pelo instrutor a segunda linha passa a atacar então
“giramos”, ou seja: andamos em sentido horário trocando o colega de treino.

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7 – Combatendo: Após os estudos dos golpes, incia-se o combate individual, então é
colocado o equipamento de segurança: luvas máscaras etc.

8 – Finalizando: Faça a saudação aos colegas, reúna-os e converse sobre o treino,


agradeça a presença e tire fotos como registro do treino.

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TREINO SOLO
“Alguns homens são como espadas: feitos para lutar.
Pendure-os, e enferrujam.”
-- Donal Noye, As Crônicas de Gelo e Fogo, Vol. II: A Fúria dos Reis.

Scambio di guarda: Drills.

O
Termo “drill” se refere a exercícios das trocas de guarda em sequência.
Trataremos as trocas de guarda com espada longa em seu termo de origem:
Scambio di guarda. Estes exercícios serão úteis para decorar as guardas e suas
posturas, podendo, com o tempo, alternar a sequência.

1- Saudação

2- Guardas

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TERMINOLOGIA
“No fim, são as pequenas coisas que vencem uma batalha.”
- Uthred Ragnarson, Crônicas Saxônicas.

Glossário Ilustrado

C
om o intuito de facilitar o aprendizado colocaremos aqui uma série de termos
da tradição italiana de forma ilustrada, através de fotos para uma melhor
absorção do conteúdo das aulas. Mesmo assim este recurso serve para ajudar seu
aprendizado, de preferência sempre tenha um instrutor com você. Aqui não estão
listados todos os termos, mas uma boa parte deles. Alguns terão semelhança e
deverão ter suas diferenças explicadas pelo intrutor.

Guia Ilustrado de termos da tradição italiana

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ACRESSANDO

COVERTA

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DRITO

FENDENTE

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FINESTRA

GIOCO LARGO

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GIOCO STRETTO

GUARDA/GUARDIA

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INCROSADA/INCROZAR A MEZZO ESPADA

LIGADURA

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POSTA

MEZZA VOLTA

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AFFONDO

DRITTO SQUALEMBRATO

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MONTANTE

ROVERSO

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Aspectos técnicos
“E isto você deve compreender totalmente:
Todas as artes têm comprimento e medida.”
-- Johannes Liechtenauer.

A anatomia de uma espada.

M
uito foi dito neste guia sobre o uso da espada, mas ao manuseá-la deve-se
entender sua anatomia e funcionalidade, abaixo um diagrama com as partes de
uma espada. Alguns termos não são padrão, podendo sofrer variação.

Lâmina - a extensão de aço que forma a espada.

Faces – Os lados da lâmina.

Vinco - chamado de baixo-relevo de sangue ou calha, o vinco é um baixo-relevo


estreito que corre pela maior parte da extensão de muitas espadas, serve para
diminuir o peso da lâmina sem diminuir a resistência.

Ricasso - encontrado em algumas espadas, o ricasso é a parte sem fio da lâmina,


próxima à guarda. Era normalmente usada em espadas mais pesadas para permitir
segurá-las com a outra mão, se necessário.

Espiga - porção da lâmina coberta pelo punho.

Guarda - peça de metal que impede a espada do oponente deslizar até o punho e
cortar a sua mão.

Punho - sendo a empunhadura da espada, um punho é normalmente feito de couro,


arame ou madeira. Ele é preso à espiga da lâmina para proporcionar uma forma
confortável de empunhar uma espada.

Pomo - também chamado de Pomel, é a extremidade da espada onde está o punho

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Pegadas com a espada

A
s formas de se pegar a espada chamadas aqui de pegadas (também podendo
chamar de “pegas” ), definem o tipo de ataque a ser realizado e também o tipo
de guarda que está se usando. Os termos aqui citados são uniformes.

Pegada prono: Mãos fechadas com as palmas das mãos olhando para baixo.

Pegada supina: O oposto as palmas das mãos olham para cima.

Pegada alternada: Cada uma das palmas das mãos olham para um lado diferente.

Pegada neutra ou de martelo: Pegada aonde o punho está em vertical, de fato como
se segurasse um martelo.

Postura

T
rata-se do alinhamento do corpo com um todo, cabeça tronco e membros em
sintonia com a espada. É de suma importância a postura adequada, para
atacar/defender e contra-atacar corretamente. É a partir da postura que se
valerá seu jogo de pés e suas manobras com os braços e tronco, podendo se
aproveitar do seu eixo e de sua área de ataque.

Ataques, defesas e contra –ataques

C
ada ação, seja de ataque, defesa ou contra ataque deriva da tomada de posição
em função da avaliação pró-ativa de uma série de fatores que envolvem:
Força, envergadura, física, idade e experiência do oponente. Fiore dei Liberi
apresenta e classifica as postas, posições ou guardas em 3 grupos no que concerne à
AÇÃO e 3 grupos no que concerne à LOCALIZAÇÃO e :

TIPOS DE AÇÃO DAS GUARDAS

S e baseando na aplicação mecânica e força dos golpes e seus movimentos, Fiore


dei Liberi classificou as ações como três:

Pulsativa - Representa a maior aplicação dinâmica da força de golpe.


Exemplos: Tutta Porta di Ferro/di Donna/di Donna Sinistra.

Stabile - Permite a execução de defesa ou ataque com segurança.


Exemplos - Breve/ Coda/Denti de Cinghiale/Mezzana Porta di Ferro.

Instabile - A espada encontra-se sempre em movimento procurando linhas de fuga,


ataque, contra ataque.
Exemplos - Bicornio/Longa/ Corona/Finestra.

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ALTURA DAS GUARDAS

R
esumindo-se a Guarda Alta, Baixa e Média e de descanso cada tradição com
sua terminologia adequada. Acrescente-se o termo "guarda de provocação",
aquela em que você está a espera tanto de golpear e ou contra atacar, por
exemplo: Posta di donna, que embora seja uma guarda média de descanso
também fica pela sua posição a iminência de a qualquer momento atacar ou a espera
do avanço adversário.

Altas - Finestra sinistra/Donna sinistra/Finestra destra/Donna destra.

Médias - Bicornio/Breve/Corona/Lunga.

Baixas - Coda Lunga/Dente di Cinghiale/Mezza Porta di Ferro/Tutta Porta di Ferro.

AS CINCO POSIÇÕES PRIMÁRIAS

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AS 14 GUARDAS ESSENCIAIS DE ESPADA LONGA

Motricidade

A
palavra motricidade refere-se a “ciência que estuda o movimento". Nela
incluímos a movimentação, e seu raio de ação e equilíbrio assim como
coordenação e ritmo.

Direção/orientação
No raio de ação do esgrimista as tradições falam sobre a "cebola", que define um
pouco as direções do ataque, em frente atrás, esquerda e direita, acima e abaixo.

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Marcha
Se refere ao modo de andar e recuar frente ao adversário, ou seja, os passos, feitos
de forma ordenada, definindo seu avanço, recuo, giro e afundo.

Marcha de avanço – Marcha em linha reta em direção ao adversário.

Marcha de recuo – Indo para trás, recuando sem perder de vista o adversário.

Luta
Aqui observando os tipos de luta que se tem com os colegas podemos definir os modos
de combate, com as suas modalidades:

Luta envolvente: Luta de contato físico, com travas, estrangulamento e derrubadas.

Luta de recondução: Usa a força do adversário a seu favor, para desequilibrá-lo, ou


então troca-se de posição/guarda para forçar nova postura do oponente.

Luta de contato: Uso do pomo da espada e todo tipo de golpe que pode lesionar e por
assim minar as forças/defesas adversárias.

JOGO DE PÉS

P
arte de uma boa postura com a espada envolve o seu jogo de pés e pernas.
A postura básica consiste no pé esquerdo a frente, podendo variar com o pé
direito.

Instância básica, pé esquerdo a frente. Instância básica, pé direito a frente.

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Marcha de avanço e recuo

Avanço à partir do pé esquerdo. Recuo à partir do pé esquerdo.

O movimento de ida/deslocamento para as laterais é chamado de “travessia”.

Travessia à esquerda. Travessia à direita.

O selo
As 8 direções que podemos tomar em um
combate são: à frente, para trás, lateral
esquerda e direita, avanço diagonal à
esquerda e a direita e, por fim, recuo
diagonal à esquerda e direita.

Este conceito é chamado pelos italianos de


segno, ou seja: o selo.

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A PORTA

A
nalisando o conceito de combate homem a homem, temos o conceito da porta, ou
seja: uma área a sua frente aonde devemos passar, entrar e sair através de
uma área específica. Observando as guardas e suas instâncias, então
enxergará a porta e como através das guardas temos a noção do campo de visão e as
suas aplicações em combate.

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OS OITO CORTES DA ESPADA

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EQUIPAMENTO DE TREINO
"Se você quiser realmente saber
se esgrima é uma arte ou ciência
ouça minhas palavras."
-Philippo Vadi."

Equipando-se

O
equipamento padrão varia de acordo com o tempo de treino de cada um, não
sendo necessário comprar tudo desde o começo. O básico para treinos com espada
longa envolve apenas roupa leve para a prática com a espada sendo
emprestada até que o aluno compre a sua. Uniforme e demais itens também conforme
descrito abaixo.

UNIFORME

Dividindo-se (nesta ordem) em camisa, gambeson, tabard, jaqueta, armadura e máscara.

Camisas - Assim como os demais materiais de treino, não é necessária sua aquisição
imediata, servindo mais para dar uma identidade junto ao grupo do que uma função
específica. Nas cores da SCHERMA BRASÍLIA com a logo da espada (Associação Ibero-
Americana de Artes Marciais Medievais).

Onde Comprar?
Diretamente com os membros da Scherma ou na nossa página do Facebook:
facebook.com/schermabrasilia

Gambeson – Um jaqueta acolchoada usada no período medieval para lutas corpo-a-


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corpo, além de ajudar na proteção dos golpes devido ao seu acolchoamento.

Onde Comprar?
Em sites de equipamento para HEMA ou então encomendar com uma costureira que se
disponha afazer, na média sai entre R$60 a R$ 160 de acordo com o pedido.

Tabards – Uma túnica, geralmente usada por cima do gambeson, no caso das HEMA
funciona como referência ou ocasiões especiais como reuniões ou graduação de
membros. Por baixo pode-se usar um protetor peitoral.

Onde Comprar?
O tabard Geralmente se encomendando com uma costureira, podendo sair de 50 a 200
reais, já o protetor em loja de acessórios para moto sai por R$90 a R$250.

Armadura – Uma jaqueta de HEMA pode ser importada ou se quiser procurar por algo

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mais simples basta usar umajaqueta de MotoCross. Ambas fazem a função da
armadura medieval., sai de R$250 a R$ 400.

Onde Comprar?
Em sites especializados e em lojas de equipamentos para moto. A jaqueta de HEMA
você encontra no site: www.histfenc.com

Luvas – Não há um modelo padrão, aqui temos duas desenhadas para HEMA, mas uma
luva de MotoCross também se adapta aos treinos. Saem entre R$80 a R$ 350.

Onde Comprar?
Em sites especializados e em lojas de equipamentos para moto. A luva de HEMA você
encontra no site: www.histfenc.com

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Máscaras –O mesmo modelo usado na esgrima olímpica se usa na medieval, a máscara
a partir de 350N aguenta golpes da esgrima medieval.

Onde Comprar?
Em sites especializados para a esgrima como a Fleche (fleche.com.br). E também na
Historical Fencing: www.histfenc.com

Espada – O modelo padrão da Scherma é a Zugadore, uma espada sintética, feita


pela Revival, o preço varia de acordo com o dólar, saindo de R$150 a R$ 250.

Onde Comprar?
você encontra no site: www.revival.us

Outra alternativa são as espadas da Cold Steel (coldsteel.com) a Cas Hanwei


(casiberia.com) entre outras:

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Federschwert – Ou carinhsamente chamada de “Feder”, é um termo emprestado da
escola alemã, da espada de metal usada nos treinos. Sem lâmina e sem ponta
justamente para evitar acidentes.

Onde Comprar?
Pode ser feita sem muito mistério por um ferreiro, ou também na Historical Fencing:
www.histfenc.com

Outros itens – Protetores de garganta, peito,


seios, genitália etc.

Onde comprar todos os equipamentos?

Absolute Fencing Gear


www.absolutefencinggear.com/shopping/shop.php/
cPath/111

Purpleheart Armoury
www.woodenswords.com

SPES: Fencing equipment, Gear, HEMAC


www.histfenc.com

The HEMA Shop


www.thehemashop.com/

Praticar HEMA custa caro?


Não. A prática de HEMA não necessita que compre todo o equipamento de uma vez só, e
após a sua compra eles irão durar anos, a zugadore, por exemplo, toda sua vida.
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REGULAMENTO INTERNO
"E antes de todas as coisas que você
deve saber e entender é que a espada
é apenas uma arte e ela foi concebida
e pensada centenas de anos atrás."
- Johannes Liechtenauer

A
lgumas regras sobre conduta e atitude tanto dos
alunos quanto dos instrutores já foram citadas aqui
no Guia de Treino, o que nos deixa neste capítulo
apenas com um regulamento para questões internas da
Scherma. Alguns itens ainda estão sob elaboração:

Associação
A Scherma Brasília é uma associação sem fins lucrativos,
dedicada a prática e estudo das HEMA sem associação
religiosa, partidária ou qualquer outra. Respeitamos a
opção religiosa, sexual e política de cada integrante, não
tolerando qualquer tipo de discriminação, podendo resultar
em expulsão imediata.

Treinos
A metodologia de ensino deverá ser passada aos alunos e
revista antes com os instrutores sempre em local definido anteriormente.

Instrutores
O período mínimo para se tornar instrutor é de 3 a 6 meses para cada modalidade
(adaga espada, lança etc), e cada aluno deverá ter um instrutor como seu
responsável direto. O período de aprendizagem para ser instrutor varia podendo ser
reduzido ou estendido de acordo com o seu responsável.

Participação
Todo aluno tem direito a dar sua opinião sobre qualquer tema desde que seja feito
de forma respeitosa, porém as decisões finais cabem aos membros mais antigos.

Treinos Adicionais
Qualquer membro pode participar de treinos de HEMA, swordplay, etc com outros
grupos ou pessoas, mas a não ser que tenha permissão expressa da Scherma Brasília
não pode declarar um treino em nome do grupo com outras pessoas.

Uniforme e equipamento
Não sendo obrigatório, não exigi-se sua compra. As máscaras podem ter pinturas na
grade, e de fornecedor diferente, desde que não descaracterize a prática de HEMA.

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FONTES E REFERÊNCIAS

E
ste Guia não passa de uma referência cruzada de várias fontes, livros pessoas
e associações ao redor do mundo que gentilmente cederam seu tempo, material
e conhecimento para a concepção deste guia, eis as fontes de estudo:

LIVROS

Flos Duellatorum - Fiore dei Liberi

Manual do Bom Combatente - José Manuel Nunes Vilar

Medieval Swordsmanship: Illustrated Methods And Techniques - John Clements

Mestrado de Armas - Fernando Brecha

O Livro da Ordem de Cavalaria - Ramon Lulio

OldSwordPlay - Alfred Hutton

The Art of Longsword Combat - David M. Cvet

ESCOLAS DE HEMA

Gallaecia InArmis - Sala Compostelá de Esgrima Antiga


www.gallaeciainarmis.info
www.facebook.com/gallaeciainarmis

Medieval Sintra
www.facebook.com/fernando.brecha

Schola Saint George


www.scholasaintgeorge.org

Schola Gladiatoria
www.fioredeiliberi.org
www.facebook.com/historicalfencing

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

O Guia de Treino nada mais é do que uma ajuda em HEMA que ainda engatinha no
Brasil, mas a cada nova edição (pois não quero que esta seja a única, e nem será)
novos itens serão adicionados e mais coisas estão por vir. Esperamos que desfrute de
cada momento do Guia e se empenhe no estudo da esgrima medieval.
Boa sorte e muitos treinos!

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