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Projeto Harpia

GUIA DE TREINO
DAS ARTES MARCIAIS HISTÓRICAS
EUROPÉIAS NO BRASIL

2ª Edição

DEZEMBRO DE 2020
APRESENTAÇÃO

Comparando a primeira edição do Guia de Treino com a atual, já se vão seis anos e,
muita coisa mudou, mas o interesse nas HEMA só tem aumentado e muitas vezes perguntas
que fizemos ou respondemos a anos atrás mais uma vez se fazem presentes, de forma que uma
segunda edição acabou por se tornar não necessária – a velocidade de acesso a informação nos
dias de hoje fazem qualquer pessoa interessada tomar parte no tema em questão de horas – mas
útil, filtrando e reunindo boa parte dos passos necessários para se iniciar nas HEMA e algumas
curiosidades e dados adicionais.

QUEM SOMOS

O projeto Harpia tem como missão registrar a história das HEMA no Brasil, bem como
seus envolvidos, estudiosos, praticantes, tradutores e demais pessoas que paticipam ou
participaram da sua trajetória na comunidade brasileira.

Era um desejo antigo de Guiarony Moreira Machado, primeiro presidente da Hema


Brasil de registrar em um banco de dados as pessoas e grupos envolvidos e por sugestão de
Rafael Raposa veio a idéia de uma wiki.

Quando saiu da presidência iniciou o projeto, que foi passado a Paulo “Malk”, atual
editor da página da HARPIA.

PORQUE "HARPIA"?

Quando foi criada a HEMA Brasil, seu símbolo foi a mescla do carcará com a harpia,
o segundo foi escolhido como símbolo e como forma de referência a HEMA Brasil, de onde
partiram os primeiros registros inseridos na Harpia.

A HARPIA É UM PROJETO DA HEMA Brasil?

Não. Embora a Harpia tenha início com o antigo presidente da HEMA Brasil e o nome
seja uma referência ao seu símbolo e os primeiros registros começaram com os membros da
HBR, é um projeto independente da HBR.
COMO FUNCIONAM AS GERAÇÕES?

As HEMA no Brasil tiveram seus primeiros registros no começo do ano 2000 e foi
evoluindo pela primeira década de forma devagar, os primeiros grupos e interessados ficaram
como a primeira geração, na segunda década e tendo como referência o surgimento da HEMA
Brasil que impulsionou muitos grupos e estudiosos temos a segunda geração, e no final dessa
década vimos novos grupos e praticantes, que se encaminham para a terceira geração no Brasil.

PORQUE A PLATAFORMA FANDOM?

Quando a HARPIA foi criada, sua extensão original era "harpia.wikia", tendo sua
plataforma renomeada para "fandom", um termo usado para se referir a uma subcultura
composta por fãs caracterizados pela empatia e camaradagem por outros membros da
comunidade que compartilham gostos em comum.

Ainda sendo uma definição próxima sobre HEMA aliada a facilidade de uso da
plataforma, o projeto foi mantido mesmo com a nova extensão.

Você pode acompanhar nosso projeto em nossa página oficial:

www.harpia.fandom.com/pt-br/wiki/Wiki_Harpia

Facebook:
www.facebook.com/hemaharpia
PARTE 1
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HISTORIA
HISTÓRIA DA ESGRIMA
“Uma mente necessita de livros da mesma forma
que uma espada necessita de uma pedra de amolar
se quisermos que se mantenha afiada.”
- Tyrion Lannister - As Crônicas de Gelo e Fogo, Vol I: A Guerra dos Tronos

Entende-se por esgrima como o combate em que são utilizadas armas brancas para atacar
e defender-se, em especial espadas. Inicialmente, era utilizado para caça e sobrevivência.
Entretanto, com a evolução das armas e da humanidade, passou a se tornar arma de combate,
sendo abolida somente com o surgimento das armas de fogo. Atualmente, existe a esgrima
esportiva (esta dividida em três diferentes tipos de armas, a saber: espada, florete e sabre,
representando os antigos armamentos utilizados em combate e treino) e a histórica, baseada
nos antigos manuais de combate.

A esgrima (escrima do germânico skirmjan, "proteger"), em si tem uma origem de,


pelo menos, três mil anos. Pinturas egípcias e gregas mostram guerreiros empunhando
espadas. A Bíblia também se refere a muitas espadas ao longo dos dois testamentos. Um
templo japonês construído em 1170 a.C. mostrava alguns guerreiros semidespidos empunhando
armas pontiagudas com bicos de proteção.

Nessa época era muito mais que um simples esporte — era uma maneira de combater, e
como tal não havia nenhuma regra precisa; porém, surge a preocupação com a técnica para
aplicar e defender-se dos golpes. Em Roma, existiam escolas de gladiadores onde se formavam
os doctore armarum, especialistas na arte de combater com armas brancas para entreter o
público. Na Idade Média, a esgrima se diversificou devido aos vários formatos de espadas e
sabres existentes.

DA ANTIGUIDADE À ALTA IDADE MÉDIA (ANTES DE 1350)

Não se sabe da existência de nenhum manual de esgrima anterior à Baixa Idade Média
(exceto por algumas instruções de luta grega, embora a literatura Antiga e Medieval (Sagas
Vikings e Contos Alemães) mencionam feitos e conhecimentos militares; além de arte do
período mostrar combates e armamentos (Tapeçaria de Bayeux, a Bíblia Morgan). Alguns
pesquisadores tentaram reconstruir antigos métodos de lutas como o Pancrácio e técnicas de
combate dos gladiadores usando como referência estas fontes e testes práticos, embora estas
recriações sejam mais especulativas do que baseadas em instruções reais.
A BAIXA IDADE MÉDIA (1350 A 1500)

A escola germânica:

A figura central das artes marciais medievais germânicas é Johannes Liechtenauer,


considerado pai da esgrima germânica, nascido provavelmente no começo do século XIV,
possivelmente em Lichtenau, Mittelfranken (Francônia). O que se sabe sobre ele, junto com
seus ensinamentos, está preservado no Manuscrito 3227a e nos vários manuais dos seus alunos e
sucessores. De acordo com esse manuscrito, Liechtenauer era um grande mestre que viajou por
muitas terras para aprender sua arte. Nos manuscritos do século posterior, a Sociedade
Liechtenauer (Gesellschaft Liechtenauers) é conhecida como um grupo de mestres de esgrima
que se consideravam discípulos de Liechtenauer, que detinham seus ensinamentos.

Nos dias de hoje alguns declaram sua arte como “tradição alemã”, porém é um
equívoco, visto que no século XIV não havia Alemanha e sim o Sacro Império Romano-
Germânico.

A escola italiana:

O primeiro manuscrito em língua italiana de que se tem notícia é o manuscrito Flos


Duellatorum de Fiore dei Liberi, encomendado pelo Marquês de Ferrara por volta de 1410.
Neste manual, ele documentou técnicas que envolvem combate corpo-a-corpo, adaga, espada
de uma mão, espada longa, lanças e alabardas, combate com e sem armadura. A esgrima
italiana com armas medievais ainda é representada por Filippo Vadi (1482–1487).

O COMEÇO DO PERÍODO MODERNO (1500 A 1700)

No século XVI, muitas técnicas do antigos manuscritos foram reimpressas com as


técnicas modernas de impressão, notadamente por Paulus Hector Mair (por volta de 1540) e
Joachim Meyer (por volta de 1570). Neste século a esgrima alemã tendeu-se ao enfoque
esportivo da arte. Os tratados de Paulus Hector Mair e Joachim Meyer descendem dos
ensinamentos dos séculos anteriores na tradição de Liechtenauer, mas com novas e distintas
características. O manuscrito de Jacob Sutor (1612) é um dos últimos da tradição alemã. A
escola italiana é representada pela Escola Dardi, com mestres como Antonio Manciolino e
Achille Marozzo. No final do século XVI, a rapieira italiana ganha muita popularidade em
toda a Europa, principalmente com o manual de Salvator Fabris (1606).
LISTA COM OS GRANDES MESTRES DA ÉPOCA E SUAS NACIONALIDADES:

- Antonio Manciolino (1531) (italiano)


- Achille Marozzo (1536) (italiano)
- Angelo Viggiani (1551) (italiano)
- Camillo Agrippa (1553) (italiano)
- Diogo Gomes de Figueiredo (1682) (português)
- Jerónimo Sánchez de Carranza (1569) (espanhol)
- Giacomo Di Grassi (1570) (italiano)
- Giovanni Dall’Agocchie (1572) (italiano)
- Henry de Sainct-Didier (1573) (francês)
- Frederico Ghisliero (1587) (italiano)
- Vincentio Saviolo (1590) (italiano)
- George Silver (1599) (inglês)
- Luis Pacheco de Narváez (1600) (espanhol)
- Salvator Fabris (1606) (italiano)
- Nicoletto Giganti (1606) (italiano)
- Ridolfo Capoferro (1610) (italiano)
- Joseph Swetnam (1617) (inglês)
- Francesco Antonio Marcelli (1686) (italiano)
- Bondi' di Mazo (1696) (italiano)

O PERÍODO MODERNO (1700 A 1918)

Desde os primeiros Jogos Olímpicos da era moderna (1896) a esgrima faz parte das
modalidades olímpicas, sendo uma das quatro modalidades que fazem parte dos Jogos
Olímpicos desde a primeira edição. As disputas masculinas começaram nas olimpíadas com o
florete e o sabre em 1896. A espada foi introduzida nas disputas masculinas nos Jogos
Olímpicos de 1900. Em 1924 as mulheres começaram a participar dos jogos olímpicos, mas
somente na modalidade de florete individual, e até 1992 as mulheres continuaram a jogar
somente na modalidade do florete. A partir de 1996 elas começaram a competir nas olimpíadas
na modalidade da espada também. E a partir de 2004 elas começaram a competir nos jogos
olímpicos com o sabre. Apesar do termo "luta de esgrima" ser frequentemente usado, no
esgrimir nunca se tem uma "luta de esgrima" ou "luta esgrima", mas sim "jogar esgrima",
pois a esgrima olímpica é um esporte, porém, a esgrima olímpica não é o foco deste guia.
HISTÓRIA DA ESGRIMA MEDIEVAL E RENASCENTISTA
Por Pete Kautz; tradução de Bruno Cerkvenik

Durante a Idade Média, por volta dos séculos XIV-XV, os guerreiros da Europa
desenvolveram um poderoso estilo de combate que provou ser igualmente vitorioso no campo
de batalha em tempos de guerra, nas ruas para suprimir revoltas e para defesa pessoal. Esses
homens lutavam duelos pessoais e judiciais até a morte, assim como participavam de batalhas
organizadas ou torneios. Embora os torneios possam nos parecer civilizados e fossem
disputados com espadas cegas ou de madeira e juízes, eles normalmente acabavam com homens
portando bestas envolvidos na disputa, tentando prevenir que seus cavaleiros fossem
derrotados, capturados e usados para pedir resgate mais tarde por outro cavaleiro. Esqueça as
noções de cavalaria que você possa ter sobre a vida desses homens – ou eles matavam, ou eles
morriam, simples. Quando as guerras avançavam pela Europa, técnicas de combate eram
temperadas na forja da batalha, e guerreiros de cada país aperfeiçoaram suas técnicas para que
pudessem passá-las para a próxima geração.

Essas técnicas de matar, conhecidas por homens que lutaram e sobreviveram a muitas
batalhas, se tornou parte de uma tradição militar oral, transmitida de um guerreiro a outro.
Então, começando por volta de 1300, livros que ensinavam técnicas de luta eram feitos em
pequenas quantidades, cada um cuidadosamente reproduzido a mão. Alguns desses livros
continham uma pequena quantidade de técnicas ilustradas, mas outras, como o trabalho de
Fiori dei Liberi e Hans Talhoffer catalogavam literalmente centenas de técnicas individuais e
contra-ataques. Por volta de 1400 esses manuscritos eram produzidos em um número maior,
com vários autores escrevendo vários livros durante sua vida. E assim continuou pela Idade
Média e pela Renascença, com livros escritos em vários países, embora a maior quantidade
viesse do Império Romano-Germânico (Atualmente Alemanha, Áustria e Itália). Essa Era viu
o peso do combate corpo-a-corpo Medieval, e essa foi a Era dourada dos “Fechtbuch” ou
“Livros de luta”.

Contudo, durante a Renascença, por volta dos séculos XVI-XVII, as coisas mudariam
com a invenção da imprensa e com os novos professores que aceitavam civis como estudantes.
Durante a Idade Média, os livros de combate eram mantidos com os guerreiros profissionais,
e as verdadeiras técnicas de matar e suas defesas eram guardadas como segredos.

No ano de 1410 o Flos Duellatorum (Flor das Batalhas) o mestre Italiano Fiori de Liberi
diz que essas técnicas deveriam ser mantidas em segredos exceto “Para os especialistas em
espadas para ajudar os guerreiros em tempos de guerras, revoltas e duelos” e nunca deveriam
ser revelados ao povo comum “Que foram criados por Deus sem capacidade como vacas
apenas nascem para carregar cargas pesadas”. Fiori nunca mostrou suas técnicas em público,
exceto quando as usava em batalha, e ele ensinou a seus estudantes atrás de portas fechadas,
fazendo-os jurar segredo sobre o que aprenderam. Ele escreveu seu livro quando estava velho,
muito depois de suas técnicas serem necessárias, e sob o serviço do “mais ilustre mestre
Niccolo Marquês de Ferrara, Modena, Parma, and Reggio”, que usaria seu livro para treinar
seus cavaleiros.

Em um nível técnico, um dos primeiros elementos chave que você encontra ao ler os
livros medievais é que eles contêm uma grande quantidade de material de combate desarmado.
Um cavaleiro medieval, um Homem-de-Armas, era de se esperar que soubesse combate
desarmado e com adagas assim como combate de espada e lança, com o qual os associamos
hoje. Nos manuais de sobrevivência no campo de batalha, muitos continham longas seções de
ataques desarmados, agarres, defesa desarmada contra adaga, e combates com adagas. Técnicas
desarmadas contra espada e adaga contra espada também eram mostradas.

Os manuais mostram travas de juntas sistemáticas, quebras, arremessos, desarmes,


contra-ataques, clinches, agarrões e agarrões em solo e mais. O sistema de combate desarmado
é também totalmente integrado ao combate de espada e lança, com a maior parte das técnicas
mostradas envolvendo algum degrau de trabalho a curta distância.

Você verá técnicas idênticas (particularmente arremessos e travas de braço) feitas com
todos as formas diferentes de armas, mostrando a natureza integrada desse sistema. O
Cavaleiro medieval realmente entendia como fazer a conexão entre as técnicas essenciais de
combate, não importando o tipo de arma. Primariamente, esse era um estilo de luta baseado
em armas, que usava agarrões de pé como um complemento às técnicas de combate armado, de
maneira similar ao os treinos militares de hoje, usando ataques nos olhos, socos no queixo,
joelhadas e chutes baixos. Luta no chão era usado basicamente pra manter o cara no chão
tempo suficiente para você sacar sua espada ou adaga e furá-lo, ou segurar ele para os lanceiros
possam perfurá-lo.

Somente quando você via essas técnicas usadas em duelos judiciais ou duelos, onde
ninguém fosse interferir com a luta, você veria os agarres como nós vemos hoje, sendo
aplicados. Assim como aquelas usadas de pé, você verá enforcamentos, quebras de perna e
braços e muitas outras técnicas semelhantes sendo usadas no chão. A armadura era usada pra
desgastar e cansar o oponente, e era comum ver homens pegando armas que caíram no chão,
ou sacando uma adaga, enquanto agarravam.

Os duelos eram grandes espetáculos, com preparações elaboradas de ambos os


combatentes, envolvendo orações, banho ritual e mais. Ele deveria andar de seu pavilhão
orgulhosamente, em frente a grande platéia, para o campo de batalha, e aí, não haveria
ninguém lá alem de dois homens, um juiz e Deus. Muitas imagens que temos desse período
mostram imagens nesses padrões.

Além de usar várias outras armas, como a maça ou o machado, o guerreiro medieval
tinha que aprender a usar a armadura que ele vestia como uma arma. Lutar com uma
armadura real é bem diferente do que lutar sem armaduras, e os Alemães usavam os termos
“blousfechten” e “harnisfechten” pra descrever combate em trajes normais e com armaduras,
respectivamente. A armadura de placas e a armadura de anéis daquele tempo incapacitavam
muitos ataques de corte e perfuração, permitindo ao usuário chegar perto e lutar com sua
espada longa de uma maneira diferente, segurando no meio da lamina com uma mão e usando
como uma baioneta, técnica chamada de “halbschwart”, “half-sword” ou técnicas de
“meiaespada”, projetadas para entregar estocadas poderosas nas falhas da armadura.
Adicionalmente, a armadura seria usada pra desgastar o oponente no solo, e os cotovelos e
joelhos pontudos poderiam fazer uma horrível pressão em um oponente sem armaduras. Até os
sapatos da armadura (chamadas “sabatons” pelos franceses) vinham com pontas usadas para
chutar por baixo das armaduras ou, quando à cavalo, para chutar pessoas caso chegassem
muito perto de você.

Lutar à cavalo era outra técnica que o cavaleiro devia aperfeiçoar. A lança era usada,
junto com a maça e a espada, de cima do cavalo. Fiore dei Liberi, e outros, também
mostravam muitas maneiras de usar técnicas de agarre para tirar o adversário do cavalo. Ao
lutar em um cavalo de guerra, o cavaleiro era uma força imponente no campo de batalha.
Pesando quase uma tonelada com seu cavalo, viajando a 35 milhas por hora, um cavaleiro
montado deveria inspirar um verdadeiro terror em qualquer soldado o enfrentando a pé.

Essa completa arte de combate desarmado ocidental é muito mais antiga que estilos
como Jiu-Jitsu, Aikido, ou Hapkido. A maioria das artes marciais ensinadas hoje tem mais ou
menos 100 anos e podem ou não ter relação com combate mortal. Muitas hoje são ensinadas
para manter a saúde ou como meditação.
Nos livros de combate medievais, são ensinadas técnicas com mais de 500 anos de idade,
e eram usadas para matar. Muitos falarão da “Descendência Samurai” ou do “Espírito
Shaolin”, fazendo-os parecer mais antigos, mas qual é a história verdadeira das técnicas do
que eles ensinam? Elas foram desenvolvidas em separado, ou foram inspiradas em uma arte
mais antiga? Com o Ocidente, a história das artes de combate foi preservada através dos
manuais escritos dos mestres que sabiam que elas seriam usadas, tanto no campo de batalha
como na rua.

SIGNIFICADO DE HEMA

Trata-se de uma sigla em inglês para "Historical European Martial Arts" (Artes
Marciais Históricas Europeias) se referindo as técnicas de combate tradicionais praticadas na
Europa, geralmente com espadas, mas também há tratados sobre combate desarmado, adaga, à
cavalo etc.

As técnicas se perderam por anos, porém no começo da década de 90 houve uma forte
campanha de renascimento das artes européias com base no estudo e interpretação dos antigos
tratados de luta, o que leva a um grande esforço, pois do mesmo modo que há textos bem
detalhados, muitos outros são ilustrações com explicações breves, muitas vezes sendo uma
referência para uma tradição oral/prática, daí muitas vezes algumas técnicas e manuais levarem
anos de estudo.

O grande desafio dos grupos de esgrima histórica é se aproximar o mais fiel possível da
tradição da época. Os documentos históricos atualmente utilizados para reconstruir estas artes
marciais perdidas começam pelo Fechtbuch MS I.33, um manuscrito anônimo do século XII.

Os ”Fechtbuch”, ou “livros de luta” em Alemão, são manuais que documentavam


técnicas marciais para efeitos de treino, embora muitas vezes fossem concebidos como
referência ou lista das técnicas transmitidas pelos mestres.

Em seu início, era chamada de WMA - Western Martial Arts - ou artes marciais
ocidentais, mas foi substituído por HEMA de modo a englobar as artes européias em geral
(tendo a Rússia por exemplo, que se localiza ao leste e tem boa parte do seu território na ásia)
e suprimir o termo “Western” associado aos cowboys americanos.
ESCOLAS HISTÓRICAS DE ESGRIMA

Quando um aluno de HEMA decide escolher uma escola específica de esgrima, é


essencial que ele considere os recursos disponíveis, bem como suas preferências.

Quais escolas estão disponíveis em sua cidade ou região? Você já tentou lutar com mais
de uma espada? Como são os professores de esgrima? Que tipo de armas você mais gosta?

Cada escola de esgrima tem seus próprios manuais de esgrima, que precisam ser
estudados por seu instrutor de esgrima e por você.

ESCOLA FRANCESA

No século XVI, Carlos IX da França lançou as bases da escola clássica francesa de


esgrima, ou Academia de Esgrima, nas Faculdades de Artes da Academia do Roy (também
conhecida como Ecole Française d'Escrime).

A esgrima na França rapidamente se tornou um esporte durante o século XVII por


mestres como Le Perche du Coudray (1635, 1676, professor de Cyrano de Bergerac), Philibert
de la Touche (1670), Besnard (1653, professor de Descartes), e L'Abbat de Toulouse (1690,
1696).

A nova lâmina foi desenvolvida na França em meados do século XVIII, assim projetada
porque a espada de duelo não era rápida, segura e elegante o suficiente. Os esgrimistas
repeliam suas tentativas de atacar, e os alemães copiaram esse recurso de segurança logo após
desenvolverem sua pequena espada de estocar, também conhecida como Pariser.

No final do século XVIII, a escola francesa de esgrima havia se tornado o padrão da


Europa Ocidental.

Curiosamente, um mestre nascido na Itália, Domenico Angelo, publicou seu L'Ecole


des Armes em francês em 1763, para que você possa imaginar como era grande a escola de
esgrima francesa. Este texto foi extremamente bem-sucedido e famoso e se tornou um manual
de esgrima padrão nos 50 anos seguintes. Este texto foi tão influente que foi escolhido para ser
incluído no título "Éscrime" na Enciclopédia Diderot.
ESCOLA GERMÂNICA

Muitas vezes tratada erroneamente como “Escola/Tradição Alemã” (visto que não
havia Alemanha na época e sim o Sacro Império Romano Germânico) seu registro histórico se
dá nos Fechtbüch (“manuais de combate”), tendo o "I.33" um manuscrito germânico anônimo
de aproximadamente 1300 de espada e broquel, como o primeiro manual sobrevivente de
esgrima. Conhecido como Manuscrito i33.

A escola Germânica de esgrima (“Deutsche Schule; Kunst des Fechtens”) é um sistema


ensinado no Sacro Império Romano durante os períodos medieval tardio, renascentista e
início da modernidade.

Durante esse período, era conhecido como Kunst des Fechtens, traduzido como "Arte
da Esgrima". A principal arma no Kunst des Fechtens é a espada longa, mas nos Fechtbüch
também havia muitas outras armas, como polearms, messers (uma espécie de facão), punhais
entre outras e havia também menções de técnicas de combate montado e de luta desarmada.

A figura central da escola germânica de esgrima era um grande mestre do século 14 o


Mestre Johannes Liechtenauer. O primeiro tratado sobrevivente sobre o sistema de
Liechtenauer é um manuscrito datado de 1389, conhecido como Ms. 3227a. Mais manuscritos
sobreviveram a partir do século XV e, durante o século XVI, o sistema também foi
apresentado impresso, mais notavelmente por Joachim Meyer em 1570.

No século XVII, a tradição germânica foi amplamente ofuscada pela escola italiana de
esgrima, mas, no entanto, persistiu.

No século XIX, Alfred Hutton despertou interesse nessa arte com reconstruções do
sistema de esgrima de vários mestres históricos. Ele deu muitas palestras e demonstrações
práticas para impedir a queda da popularidade da esgrima como uma arte.

Após a guerra, os alemães perderam o interesse no estilo germânico de esgrima com a


moderna esgrima americana ganhando popularidade, muito provavelmente por causa dos
filmes de Hollywood.

Hoje, parte da escola medieval germânica também pode ser encontrada na moderna
esgrima acadêmica alemã e, graças aos estudantes de HEMA e outros entusiastas da esgrima, a
escola germânica não foi deixada para trás.
ESCOLA ITALIANA

A escola italiana de esgrima é usada para descrever o estilo italiano de esgrima e combate
com armas de ponta desde o primeiro livro de esgrima italiano até os dias da esgrima clássica
(início do século XX).

Este primeiro tratado conhecido é chamado Flos Duellatorum (Fior Di Battaglia) ou


mais conhecido como A Flor das Batalhas, que foi escrito por Fiore dei Liberi em 1409.

Com base na obra de Fiore, Filippo Vadi escreveu seu tratado De Arte Gladiatoria
Dimicandi, escrito entre 1482 e 1487 muito semelhante ao Flos Duellatorum.

Embora não tenha existido uma transmissão dos ensinamentos típica de mestre-aluno,
Vadi, de alguma forma, teve acesso aos ensinamentos de Fiore escritos a mais de setenta anos
antes do “Gladiatoria” e, devido a essa falta de continuidade nos tratados medievais, alguns
termos da esgrima renascentista italiana são usados no estudo da sua tradição medieval.

Embora as técnicas italianas de esgrima tenham se desenvolvido dramaticamente ao


longo dos cinco séculos, algumas características fundamentais permaneceram constantes nessa
escola, principalmente certas guardas e a preocupação com o ritmo na esgrima e também
muito das suas ações defensivas.

Entre o século XVI e o início do século XVII, a escola de esgrima Dardi com a Spada
lato influenciou profundamente a escola italiana original de esgrima, que deu origem ao
início moderno e clássico da esgrima com a rapieira.

Isso também afetou a escola elizabetana e francesa de esgrima no século 18, que por sua
vez se transformou na esgrima esportiva moderna.

Atualmente, a escola italiana de esgrima é cuidadosamente preservada globalmente.

Na Itália, a Academia Nacional (Accademia Nazionale - escola oficial de esgrima)


certifica esgrimistas tanto na esgrima histórica quanto na moderna, com base na cuidadosa
adesão aos conceitos da arte da espada italiana.
ESCOLA ESPANHOLA

A escola espanhola de esgrima é conhecida como La Verdadera Destreza.

A palavra Destreza em si, remete a escola espanhola como "a verdadeira habilidade" ou
"a verdadeira arte".

La Verdadera Destreza partia do princípio de um método universal de luta.


Concentrando-se principalmente nas rapieiras, ou o rapier combinada com uma arma
defensiva, como uma adaga, capa ou broquel.

A Destreza também cobre outras armas do período tardio do renascimento, como a


montante, o mangual e polearms.

Existem 2 distinções significativas entre Destreza e outras escolas de esgrima:

Jogo de pés - geralmente, a esgrima na Europa trabalha com passadas (footwork) em


linha (semelhante à esgrima moderna), enquanto na Destreza se dá mais valor aos movimentos
laterais.

A razão para isso é a necessidade de obter ângulos mais favoráveis para estocadas ou
cortes.

A abordagem para cortes e estocadas - escolas de esgrima que usavam principalmente


rapieiras preferem técnicas de estoque a cortes.

Por outro lado, a Destreza não concordava com isso, ensinando que os cortes poderiam
ser tão úteis e mortais quanto as investidas.

A tradição da escola espanhola está documentada em vários manuais de esgrima, escritos


principalmente por dois mestres: Jerónimo Sánchez de Carranza (Hieronimo de Carança, DC
1608) e seu aluno Luis Pacheco de Narváez (1570-1640).
ESCOLA PORTUGUESA

Temos seu início partindo como referência o Jogo do Pau Português também
conhecido por “Esgrima Lusitana” é uma arte marcial genuinamente Portuguesa de combate
com paus e também uma herança cultural nacional, cuja origem remonta ao manejo das armas
medievais, como mostra o Rei D. Duarte I no seu livro “Ensinança de Bem Cavalgar a Toda
a Sela” de 1438, seguindo com o manual ibérico “Memorial Da Prattica do Montante”,
escrito por Diogo Gomes de Figueyredo em 1651.

Na Península Ibérica entre os séculos XVII – XVIII a escola dominante era a


Verdadeira Destreza e em oposição, os esgrimistas portugueses que não seguiam os mestres a
Destreza foram chamados de Destros Vulgares ou Comuns e estes esgrimistas vulgares eram,
pelo menos parcialmente, descendentes de tradições anteriores, apagadas pela Destreza
promovida oficialmente desde a coroa castelhana.

Os tratados conhecidos de Destreza Vulgar (Pedro de la Torre, Francisco Román, etc)


que uma vez existiram perderam-se, com a notável exceção da Arte de Esgrima de Godinho.

O primeiro texto original Português que conhecemos que pertence, sem dúvida, à
Verdadeira Destreza é o Oplosophia de Diogo Gomes de Figueiredo, escrito em 1628 mas
nunca publicado. Este trabalho mostra uma profunda influência dos ensinamentos de
Carranza, em contraste com a teoria e prática própria dos seguidores de Pacheco.

O Tratado das Lições da Espada Preta de Thomas Luis (1685) contém vários materiais
que utilizam a terminologia da Verdadeira Destreza, mas em geral é bastante eclético quanto à
técnica. Também acrescenta algumas instruções acerca do comportamento para estudantes e
mestres nas salas de armas, usos e costumes, e alguma anedota.

Nesse período um manuscrito conhecido como Lições de Marte que não tem data ou
autor tem como conteúdo essencialmente um comentário muito claro e de fácil leitura da
Nueva Ciencia de Pacheco (1672, obra póstuma).

Encadernado no mesmo volume que as Lições de Marte acha-se o Manuscrito da Espada,


de aproximadamente 1676. Trata-se de uma compilação de 64 “tretas” ou “feridas” descritas
com as suas respetivas contra-técnicas. Apresenta uma mistura de Destreza e recursos próprios
da esgrima comum ou vulgar.
Este texto foi extraído e adaptado da livraria da AGEA Editora: www.ageaeditora.com
REENACTMENT: RECRIAÇÃO HISTÓRICA

Recriacionismo histórico, ou Historical Reenactment, é uma prática educativa que tem


por objetivo recriar alguns aspectos de um determinado período ou evento, havendo a
possibilidade de se focar em apenas uma grande batalha, como a de Hastings, na Inglaterra, ou
em um período que dure séculos, criando um conceito dinâmico de ensino, ao invés de apenas
apresentarem "resíduos" de uma época desprovidos de seus contextos

HMB

H.M.B. ou Historical Medieval Battles é um esporte relativamente novo criado com


referências aos torneios de Buhurt da idade média, embora hoje possa se usar arma de qualquer
período e lugar histórico (desde que dentro das regras), é um esporte de contato, que usa tanto
armas ofensivas quanto defensivas históricas. Onde pessoas vestidas em armaduras completas
de placas (full plate armor) travam batalhas reais entre dois times.

Existem algumas variações em algumas batalhas onde são restritas as armas usadas para
manter a veracidade histórica das batalhas.

Em 2010 foi criado o campeonato mundial do esporte chamado "Battle of the Nations"
(Batalhas das Nações), onde se oficializou e universalizou as regras.

COMBATE VIKING

Há certo questionamento se combate viking é ou não HEMA, visto que diferente das
outras artes não há um manual antigo ou fonte documental com registro dos golpes, táticas e
movimentos de luta, ainda assim inúmeros praticantes de HEMA se dedicam ao combate
viking, sendo – unânime ou não – tratado como HEMA.

SWORDPLAY

Swordplay é uma modalidade aonde tentam simular um combate medieval com armas
variadas, feitas de espuma de modo a evitar ferimentos, seus praticantes misturam a temática
medieval com filmes e jogos de temática geek.

SOFT COMBAT

Assim como o swordplay, usa armas acolchoadas, porém é mais restrita ao combate
medieval, sem referências a jogos ou filmes, tampouco caracterização, e é uma boa porta de
entrada para outras modalidades medievais como HEMA ou HMB.
PARTE 2
BRASIL
HISTÓRIA DAS HEMA NO BRASIL
“Não há homem de armas que possa usar cortesia
ou bondade para enfrentar seu inimigo.”
– Fiore dei Liberi, 1410

Os primeiros registros conhecidos da HEMA no Brasil se deram na final da década de


1990 na extinta rede social Orkut, na comunidade "Esgrima Medieval", criada por Bruno
Cerkvenik, precursor das HEMA no Brasil e fundador da Ars Gladiatoria, e tendo como
principais colaboradores Anderson Tsukiyama (líder e fundador da SCAM) e
Guiarony Moreira Machado (líder e fundador da Scherma Brasília, embrião do que viria a ser
a HEMA Brasil).

Além deles temos nomes como Renato Moussalli e grupos de recriação histórica como a
Guilda dos Armeiros, Medieval Brasil entre outros.

Na página da HARPIA tentamos registrar grupos e praticantes com sua história no


Brasil:

https://harpia.fandom.com/pt-br/wiki/Wiki_Harpia

HEMA BRASIL

HEMA Brasil é a Associação Brasileira de Artes Marciais Históricas Européias, criada


no final de 2014 e reconhecida como órgão em 28 de agosto 2015.

Sua criação é emblemática, pois marca um segundo momento das HEMA no Brasil: de
grupos de estudo sobre o tema para uma união como associação esportiva com
representatividade legal, reconhecimento federal, internacional e organização de torneios.

Também foi a partir dela que outros grupos e associações se organizaram e


desenvolveram.

Sua história completa está registrada na página da HARPIA:

https://harpia.fandom.com/pt-br/wiki/HEMA_BRASIL
ASSOCIAÇÕES, FEDERAÇÕES, GRUPOS E ESTUDANTES

HEMA Brasil
Associação Brasileira de Artes Marciais Históricas Européias, criada no final de 2014 e
reconhecida como órgão em 28 de agosto 2015.

Foi criada como canal comum entre os grupos espalhados pelo país, organizar eventos,
torneios etc, além de ser representante da modalidade no Brasil e na comunidade internacional.

Atualmente tem trabalhado em organizar torneios, sendo abertos inclusive para não
filiados.

Federações
Geralmente são a união de grupos de uma mesma região / estado, podendo ou não serem
filiadas a HEMA Brasil, como a Federação Paulista de Esgrima Histórica por exemplo.

Grupos independentes
Pode ser um grupo de estudos ou uma vertente de um projeto medieval, com outras
áreas de interesse que não foque totalmente em HEMA ou simplesmente não tem interesse em
ser filiado a alguma federação ou associação.

Estudantes Independentes
Pessoas que tem interesse no estudo e prática das HEMA mas possuem - ou não -
poucas pessoas interessadas em criar um grupo ou simplesmente preferem estudar / treinar
sozinhas, ou em número muito reduzido, às vezes se limitando a pesquisas na internet em
fóruns e comunidades de HEMA.

Esse tipo de estudante também é comum em regiões muito distantes aonde costumam ser
praticamente os únicos interessados no tema.
GERAÇÕES NO BRASIL

Analisando a história das HEMA em solo brasileiro, pode-se dividir em períodos, de


onde se originam as três gerações que temos atualmente:

1ª Geração

Os primeiros registros conhecidos da HEMA no Brasil se deram na extinta rede social


Orkut, no final da década de noventa, na comunidade "Esgrima Medieval", criada por Bruno
Cerkvenik, fundador da Ars Gladiatoria do Paraná, e tendo como principais colaboradores
Anderson Tsukiyama (líder e fundador da SCAM de Florianópolis) e Guiarony Moreira
Machado (líder e fundador da Scherma Brasília, embrião do que viria a ser a HEMA Brasil).

Além deles temos nomes como Renato Moussalli da Academia da Espada e grupos de
recriação histórica como a Guilda dos Armeiros, Medieval Brasil entre outros.

Praticamente todo material de estudo era em inglês, poucas escolas se dedicavam ao tema
e boa parte do equipamento era improvisada, foram os primeiros a fazer contato fora do país
buscando fornecedores e buscarem reconhecimento internacional.

Através dos seus grupos (Ars Gladiatoria, SCAM e Scherma) geraram os primeiros
materiais de estudo e treino em português do Brasil, seus grupos abriram caminho para novos
grupos e associações, além de incentivar interessados na prática das HEMA no Brasil.
2ª Geração

Caracterizam-se pelos estudantes e grupos que surgiram mais ou menos na segunda


década dos anos 2000, alguns se inspirando nos grupos da 1ª geração ou na criação da HEMA
Brasil, se voluntariando como membros ou simplesmente estudando por conta própria após
conhecerem as HEMA.

Já tinham mais material de estudo e coordenam boa parte dos grupos e associações
atuais, sendo muitas vezes responsáveis pela pesquisa e compra de material, organização de
encontros, torneios e palestras.

Não raro abrem mão de competições em favor dos colegas de treino mais jovens que tem
maior interesse em competir e se dedicam a um estudo mais profundo dos manuais antigos ou
seguir autores modernos que estudam a tradição que escolheram.

Alguns dos nomes mais lembrados desta geração são:

Rafael Raposa da Stahlfechter, fundador da Fox & Fields e um dos organizadores da


Federação Paulista de Esgrima Histórica;

Francesco Brugnera Teixeira, também colaborador da Federação Paulista de Esgrima


Histórica, fundador da Karlbrüder; e

Jean Muksen, fundador da Ordem do Grifo de Fogo e atual presidente da segunda


gestão da HEMA Brasil.
3ª Geração

Em sua grande maioria são alunos de grupos e estudantes da 2ª geração, podem


estar estudando fora do país ou formaram seu próprio grupo / associação.

Com o crescimento das HEMA, também vieram praticantes do segmento


feminino – menos comum nas gerações anteriores.

Tem como característica em sua maioria, serem mais assíduos em torneios ou


anseiam tomar parte neles como competidores.

São os que começaram com maior suporte de material de estudo e equipamento,


geralmente pautando seus estudos mais por seus instrutores e autores indicados por eles
do que por conta própria.

Francesco Auditore da Academia de Esgrima Histórica Carioca do Rio de


Janeiro, Larissa Uhlmann da Ordem do Grifo de Fogo do Paraná e Leonardo Salomão
da Akademia Szermierzy situado em Varsóvia na Polônia, são alguns exemplos de
praticantes da terceira geração.

A Harpia tem trabalhado em registrar os praticantes de HEMA no Brasil:

https://harpia.fandom.com/pt-br/wiki/Categoria:Praticantes_conhecidos_no_Brasil
PARTE 3
FILOSOFIA
POR QUE PRATICAR HEMA?
Por Denis Cabrera

“Quando encontrar um espadachim, saque sua espada;


não recite poemas para quem não é poeta.”
- Clássico Budista Ch'na

Lendo um documento de um colega da ESPADA vi que ao praticar HEMA há mais


razões do que pessoas, em especial no Brasil, mas muitos concordam que há uma abordagem
marcial para isso: treinamos técnicas de combate, e não (apenas) um esporte. O problema com
as técnicas destinadas a matar pessoas com armas projetadas para matar pessoas é que, se você
realizá-las corretamente, vai acabar matando alguém. Isso significa que temos que
comprometer seja na técnica, seja na arma ou, mais provavelmente, ambas. É por isso que
usamos armas de treino (zugadores), proteções (máscaras, luvas) e abstemo-nos de algumas
técnicas (Mordschlag, ataques contra as articulações, chutes na genitália, joelho etc).

Quando treinamos durante as sessões ordinárias, mesmo quando fazemos combate


aberto, o ambiente é de cavalheirismo. Não há tensão nem stress real para executar a técnica
como num duelo até a morte (à exceção do enorme interesse em realizá-la corretamente e força
de vontade para se concentrar nisso), porque provavelmente você está tendo a chance de tentar
novamente.

Especificamente, nos assaltos livres muitas vezes não há preocupação por ter sido
atingido, porque é tudo simulação e ser atingido não tem um custo associado como seria na
vida real – a própria vida, o mais provável.

Tentamos simular um duelo "real" até a morte. É impossível para nós para recriar
completamente o ambiente, é claro, e, especificamente, é impossível recriar o estresse, medo e
adrenalina que deve vir de tal situação.

O melhor substituto que encontramos para simular esse estresse é a competição: uma,
onde apenas uma única estocada ou corte bem colocado é o suficiente para jogá-lo fora da
corrida, assim como em um combate real.

Lutamos nossas competições tentando encontrar um equilíbrio entre a segurança, e a


idéia de que cada combatente é potencialmente letal e devemos acima e antes de tudo proteger-
nos de suas ações. Acreditamos que isso vai produzir uma boa técnica (se bem conservadora), e
melhor recriar o que uma arte de combate deve ser.
Benefícios físicos e psicológicos da prática de HEMA:

A prática de esportes é fundamental para a saúde e bem-estar do ser humano. Ela ensina
valores fundamentais, como a autoconfiança, a inclusão social, o trabalho em equipe e o
respeito pelas outras pessoas. Além de um esporte HEMA são técnicas de combate que trazem
toda uma carga histórica consigo, mas ao praticá-la não se ganha apenas no conhecimento,
mas também mais saúde, confiança etc. Segue abaixo uma lista com alguns benefícios da
prática:

- Melhoria da auto-estima;
- Maior poder de concentração ;
- Condicionamento do corpo;
- Reflexos mais apurados;
- Desenvolvimento/aprimoramento da tomada de decisões;
- Convívio social;
- Humildade ao receber/dar instruções;
- Maior resistência física;
- Aumento na concentração;
- Combate à depressão;
- Fortalecimento dos músculos e do coração ;
- Manutenção da massa óssea;
- Melhora no sono;
- Combate o stress e muito mais;

Muitos praticantes (senão todos) praticam esgrima medieval por amor ao período
medieval e a mística em torno não só da época, mas de tudo que remete a ela: das espadas em
si, aos cavaleiros em armaduras e aos combates com armas brancas e, de fato os manuais de
esgrima medieval foram concebidos por cavaleiros, nobres versados nas artes da guerra, porém
há algo que deve ter sempre em mente:

Treinar esgrima medieval de maneira séria, real, envolve estudo, interesse, força de
vontade comprometimento e muito respeito, isso você, praticante, sempre deverá ter em
mente para que se crie um ambiente saudável dentro do seu círculo de treinos e aproveite de
maneira saudável os treinos.
O DECÁLOGO DO ESGRIMISTA

Um decálogo, originalmente, refere-se as 10 regras de Deus; como o próprio nome diz


acima, aqui falaremos sobre as 10 regras para instruir um esgrimista no seu caminho de
desenvolvimento físico, mental e espiritual. Vale lembrar que este decálogo é usado na
esgrima olímpica, porém perfeitamente aplicável na esgrima medieval. Use-o, sinta-o e de
fato será um esgrimista melhor.

1°-A ESGRIMA É UM DESPORTO DIFÍCIL, mas é o único em que poderás, aos


cinquenta anos, enfrentar com vantagem um jovem de vinte;

2°-A ESGRIMA É UMA CIÊNCIA E UMA ARTE. Pela complexidade da sua


técnica, mesmo os predestinados para este desporto só com treino assíduo podem atingir a
perfeição;

3°-DEDICA-TE COM PERSEVERANÇA À LIÇÃO e procura executar corretamente


os movimentos ensinados;

4°-NUNCA POUPE AS PERNAS. Do seu bom trabalho depende em grande parte o


teu futuro como esgrimista;

5°-NÃO PENSES ASSALTAR enquanto não te sentires senhor de boa execução;

6°-TRABALHA COM PERSISTÊNCIA E ASSIDUIDADE. Serás compensado pelo


progresso que verificarás;

7°-QUANDO ASSALTARES NÃO DESCUIDE a prática da lição. Nela irás corrigir


os deslizes que no assalto te escapam e receber novas condições para continuares a progredir;

8°-QUANDO FORES BATIDO NO ASSALTO, NÃO DESANIMES. Procura


saber porque perdeste e tenta remediar os erros que tiveres cometido;

9°-NÃO ESQUEÇAS, NO ASSALTO, que os teus recursos físicos são, em geral,


comandados pelo cérebro. Nunca combatas da mesma forma todos os adversários. Estuda-os
primeiro, pois o que é bom com um poderá ser perigoso com outro;

10°-NÃO ESQUEÇAS, FINALMENTE, que a esgrima é um desporto de correção e


que, para dominar os adversários, precisa primeiro aprender a dominar-te a ti próprio.
PARTE 4
INICIANDO
INICIANDO SEUS ESTUDOS EM HEMA
"Tradição não é o culto às cinzas,
mas a preservação do fogo."
- Gustav Mahler

Quando iniciamos nossos estudos devemos seguir algumas etapas básicas para
fundamentar nossas etapas, sugerimos um início mais ou menos na ordem a seguir:

Escolher uma tradição, procurar grupos de estudo, pesquisar material de estudo e


adquirir material de treino. Abaixo falaremos um pouco sobre cada item.

Qual tradição devo escolher?

A princípio a resposta mais óbvia seria: aquela que mais lhe interessar.

Nos capítulos anteriores fizemos um breve resumo sobre as tradições mais conhecidas e
com base na sua própria pesquisa deve procurar o foco de estudo que mais lhe agrada.

Que equipamento é necessário para a cerca HEMA?

O equipamento de esgrima HEMA é sem dúvida um fator crítico no qual você


precisará pesquisar e investir seu tempo. O que você decide usar na cabeça e no corpo deve
sempre ser apropriado para a categoria em que você está estudando.

Quer você esteja treinando com um florete ou uma feder (espada de treino alemã), os
acidentes podem ser graves e dolorosos, portanto, manter-se seguro e confortável é tão
importante quanto a incrível espada que você segura.

MÁSCARAS

Até os esgrimistas mais duros de HEMA preferem manter o crânio, os ossos faciais e os
dentes intocados. As máscaras de esgrima na HEMA destinam-se a proteger sua cabeça sem
obstruí-lo durante o combate. Compreender as diferenças entre os tipos de máscaras faciais
não é o conhecimento de muitas pessoas, e também não é fácil encontrar uma para si, há
vários tópicos e lojas especializadas em HEMA, logo pesquise muito antes de decidir por uma.

No Brasil, muitas vezes procuram por máscaras de esgrima olímpica, usando via de
regra as máscaras com maior capacidade de absorver impacto, modelo “1 sendo a letra
N= Newton (símbolo: N) uma unidade de medida de força, nomeada em razão de Isaac
Newton como reconhecimento de seu trabalho sobre mecânica clássica.
JAQUETAS

Versão moderna do Gambeson (espécie de jaqueta medieval), existem diferentes tipos de


jaquetas, desde aquelas para armas mais pesadas que preferem técnicas de corte, enquanto
outras foram feitas para armas mais leves (por exemplo, rapieiras) que preferem técnicas de
estoque.

Elas foram feitas para proteger seus braços, costelas e outras partes do corpo, que
podem machucar se você lutar sem proteção adequada.

Dos modelos mais comuns utilizados temos as SPES, Leon Paul, PBT, Red Dragon,
Neyman e Gajardoni (todas européias), enquanto no Brasil temos as Jaquetas da Fox & Fields,
Bolsa de Idéias e no Chile a Broken Anvil.

LUVAS

As mãos são, sem dúvida, a área mais exposta na esgrima. Você pode receber um golpe
ao se defender ou atacar, especialmente ao lutar com espadas longas ou sabres.

Elas devem proteger os dedos e fornecer a você capacidade de aderência e movimento


suficientes para executar uma técnica específica.

Atualmente, existem muitas manoplas diferentes disponíveis no mercado, sendo mais


populares as luvas SPES, Koning, Red Dragon, Armadillo, Easton (todas européias), Broken
Anvil (Chile), entre outras.

CALÇAS

Calções de proteção geralmente são esquecidos quando falamos sobre equipamentos de


HEMA e nos torneio exigem que os esgrimistas usem calças de HEMA adequadas com a
principal tarefa de proteger os quadris, coxas e joelhos, e não interferirem nas posições e
movimentações. Os fabricantes de calças no geral são os mesmos das jaquetas: SPES, Leon
Paul, PBT, Red Dragon, Neyman, Gajardoni etc.

CALÇADOS

Não há, via de regra, um calçado específico para HEMA, sendo muitas vezes utilizado
um tênis de esgrima olímpica, crossfit ou simplesmente um tênis que seja confortável e que
conceda uma boa movimentação (footwork).
ESPADAS

A HEMA é uma arte marcial na qual os oponentes lutam entre si com diferentes tipos
de espadas. Geralmente existem quatro categorias principais em torneios oficiais, cada uma
diferenciada pelo tipo de arma usada.

Essas armas são: espada longa / feder, espada e broquel, rapieira e o sabre.

Não apenas a espada, mas a esgrima também requer habilidade, conhecimento,


confiança e ousadia para um esgrimista competir.

ESPADAS LONGAS / FEDERS

Esta é a categoria mais popular entre os esgrimistas de HEMA.

A escola germânica de esgrima priorizou esses tipos de armas, e o mestre de esgrima


mais famoso foi Johannes Liechtenauer.

As Espadas Longas / Feders (nome dado as espadas de treino germânicas utilizadas nos
torneios) também são adequadas para técnicas de corte e estoque, portanto precisam ser
flexíveis o suficiente para não ferir seriamente um esgrimista com um empuxo e duráveis o
suficiente para sustentar cortes pesados.

Existem muitas espadas diferentes disponíveis, por isso é difícil encontrar a melhor para
você mas felizmente no Brasil temos talentosos fabricantes de espadas como Anderson
Tsukyiama (SCAM), Carlos Cordeiro, Vinícius Arruda, Bruno de Castro (Ordem do Grifo
de Fogo), Jonatas Staffel entre outros.

RAPIEIRAS

A rapier é a principal arma da escola de esgrima italiana e espanhola, projetada para


permitir que o esgrimista faça movimentos rápidos e precisos.

A rapieira ou roupeira (pois era levada ao lado do seu portador, fazendo parte da sua
roupa) é um tipo distinto de arma branca, uma espada comprida e estreita, popular desde o
período Medieval até a Renascença, que se tornou a arma mais comum daquela época,
principalmente na Espanha, Itália e Portugal nos séculos XVI e XVII.
SABRES

A categoria Sabre não é tão popular quanto as duas mencionadas acima, mas ainda é
uma categoria emocionante. Existem duas versões de sabres, usadas principalmente nas
competições de HEMA: sabre de duelo e militar.

Com os sabres, os esgrimistas podem executar técnicas de corte e estoque, e para


iniciantes, obras como “A New System of Sword Exercise” , 1872 de O'Rourke (em inglês)
para usá-lo como um manual de esgrima.

ESPADA & BROQUEL

Geralmente, as espadas usadas nesta categoria podem executar cortes e estocadas e, com
um movimento adequado do broquel, você pode criar aberturas para sua espada realizar o
ataque. O broquel (entre 9 "e 14" de diâmetro (23 - 35 cm)) é geralmente feito de madeira com
uma saliência e aro de metal. Geralmente pesa o mesmo que a espada, que deve ter cerca de 90
cm de comprimento.

GRUPOS DE HEMA NO BRASIL

Uma das dúvidas mais comuns quando se inicia é se existe algum grupo perto de onde
você mora. De modo a facilitar sua pesquisa o projeto Harpia está catalogando os grupos de
HEMA espalhados pelo país, tanto os em atividade quanto os que já existiram:

https://harpia.fandom.com/pt-br/wiki/Categoria:Grupos_-_Associações

ANTES DE INICIAR SEU PRÓPRIO GRUPO DE ESTUDOS

Antes de decidir abrir seu próprio grupo de estudos de HEMA, sugerimos que você
pesquise grupos próximos. Talvez não treinem a arma/tradição que deseja, mas pode ser que
dentro do grupo haja um ou dois interessados na área que você tem interesse e com isso pode
criar um núcleo interno. Obviamente pode acontecer de discordar da filosofia ou sistemática
do grupo e assim optar por criar um grupo próprio e, sendo assim, preparamos uma pequena
lista de tarefas que o ajudarão a iniciar sua própria organização.
INICIANDO SEU PRÓPRIO GRUPO DE HEMA

Aqui está uma lista de 8 coisas que você pode fazer para iniciar seu próprio clube de
esgrima HEMA:

1- Escolha um nome, crie uma página e prepare um logotipo.

Se você deseja ser visto e encontrado por novos membros em potencial, precisa de um
site e de alguns canais sociais (FB, IG, Twitter, etc.).

2- Reúna seus amigos

A maneira mais fácil de encontrar outros membros é perguntar aos seus amigos se eles
querem participar. É sempre mais fácil desenvolver suas habilidades se houver mais pessoas
envolvidas no processo.

3- Escolha sua espada e outros equipamentos

Quando você começa a pesquisar qual equipamento seria melhor para você, pode ficar
um pouco confuso, comece pesquisando os equipamentos que citamos acima.

4 - Encontre um lugar para treinar

Pode ser ao ar livre ou uma sala, não importa, desde que seja seguro e não muito caro.
Uma organização sem fins lucrativos, faculdades e clubes esportivos podem ser boas opções.

5- Escolha um livro, encontre um treinador, aprenda e treine

Existe muito material nos tratados de combate, assim como autores modernos com
manuais de treino a respeito desses tratados, o que é muito recomendado, visto que muitas das
dúvidas sobre forma e aplicação das técnicas que pode ter no começo já foram amplamente
testadas e discutidas por autores modernos em fóruns e treinos, poupando o tempo de pesquisa
e frustração de um iniciante e algumas escolas como Academia Duello (www.duello.tv),
Sword Carolina (www.swordcarolina.com) ou o The Old Sword Club
(www.theoldswordclub.com) são exemplos de grupos com aulas on-line.

Autores como David Linholm e Christian Henry Tobler (tradição germânica), e Guy
Windsor (Fiore dei Liberi) são ótimas referências de estudo.

Aqueles com dificuldade no inglês existe material em português na biblioteca da Harpia:


https://harpia.fandom.com/pt-br/wiki/Publicações_em_HEMA_no_Brasil
6- Junte-se à outros grupos e associações

Mantenha contato com grupos do Brasil, participe de fóruns, Federações e Associações,


como a Federação Paulista de Esgrima Antiga ou a HEMA Brasil, pesquise em tópicos no
facebook nos grupos “Esgrima Medieval“, “HEMA Brasil,” “Stahlfechter”, “Karlbrüder”
entre outros.

7- Participe ou hospede eventos

É sempre uma sensação e uma experiência incríveis se conectar com outras pessoas que
pensam da mesma forma. Se você participar de eventos, leia as regras dos torneios, para poder
competir e não fazer parte da multidão porque não possui o equipamento adequado.

A hospedagem de eventos é uma história totalmente diferente. Você precisa estar ciente
das regras mais recentes ou sempre pode copiar as regras dos torneios HEMA mais populares,
sempre mantendo contato com os organizadores e com sua devida autorização.

8- Aproveite a viagem

Organizar um clube é um trabalho árduo, mas a jornada e as pessoas que você conhecerá
são tudo o que importa.

ESTRUTURA DE UM GRUPO

Geralmente um grupo é estruturado a partir dos membros fundadores e dos seus


conhecimentos, muitas vezes com o membro que estuda/pratica a mais tempo sendo o
responsável por organizar as aulas e o conteúdo.

Será o responsável pelos passos iniciais de qualquer novo praticante, podendo esse com o
tempo instruir novos membros, e utilizar outros métodos de treino com base em suas
pesquisas e estudos.

Um grupo - via de regra, depois de consolidado, possui como “espinha dorsal” pelo
menos um membro “Sênior” (o mais ativo/antigo em atividade no grupo), um ou mais
estudantes (membros que já estudam a um certo tempo com os membros mais antigos e já os
auxiliam nos treinamentos, em especial com os recém chegados), e iniciantes (como o próprio
nome diz, praticantes recém-chegados). Há também praticantes “ocasionais”, desde curiosos
que vão a algumas aulas e depois não aparecem mais, a membros que por tempo ou outra
situação aparecem para treinos esporádicos.
DOS TREINOS

Aos que desejam treinar esgrima medieval, devem se pautar pelas regras de conduta do
grupo, para que se crie um ambiente saudável e proveitoso para todos na prática da arte e seu
desenvolvimento. As regras de conduta impõem limites, direitos e obrigações, sendo algumas
direcionadas a alunos, outras a instrutores e outras, a todos os membros.

DA CONDUTA DO GRUPO EM GERAL

Simplesmente TODOS tem a obrigação de agirem de maneira cavalheiresca, sendo


humildes e honestos em reconhecer que estão lá acima de tudo para treinarem uma arte, e não
em uma batalha (mortal ou não) para mostrar que é melhor do que os outros.

A seguir uma sugestão de regras gerais, direcionadas a todos os membros:

Segurança

Por se tratar de uma arte de combate, é evidente que haverá contato físico, logo acima de tudo
preze pela segurança sua e de seus colegas. Evite golpes muito fortes, certifique-se de que sua
máscara, luva etc, estejam bem ajustadas, cuidado com golpes em áreas desprotegidas e as evite.

Respeito

O respeito e a cortesia devem pautar os treinos, não é permitido nenhum tipo de insulto,
discussão ou briga, ataques a um colega no treino e/ou fora deles, sob risco de expulsão
imediata. Você tem todo o direto de não gostar, mas tem a obrigação de respeitar. Também
não é aceito nenhum tipo de preconceito racial, religioso ou sexual. Sabemos que brincadeiras
existem e sempre existirão, mas deve haver cuidado com palavras e gestos obscenos.

Humildade

Tanto alunos quanto instrutores devem manter a humildade, ambos devem dar um bom
exemplo, serem pacientes no ensino/aprendizado e de maneira nenhuma criarem animosidades
entre si.

Camaradagem

Além de treinar uma arte de combate, nos reunimos por causa de um interesse em comum: a
paixão pela esgrima medieval. Um clima de camaradagem vai ampliar seu círculo de amigos,
seus conhecimentos (já que vão poder partilhar de outras coisas pós-treino) e o fará ganhar
mais respeito com os colegas.
DA CONDUTA DO INSTRUTOR E REQUISITOS PARA INSTRUÇÃO

Cada instrutor deve ter consigo mesmo este pensamento antes de iniciarqualquer aula:
Quanto maior for sua experiência, maior deverá ser o seu exemplo, logo, para ser instrutor
além de conhecimento e técnica preza-se acima de tudo o caráter.

Das regras que todo instrutor deve seguir:

Conhecimento

Para correr, você deve antes aprender a andar. Aprenda os nomes dos golpes suas posições e
aplicações, execute-as sob a supervisão de um instrutor mais experiente, estude suas
progressões, para saber exatamente o que está fazendo e falando. Domine o que pretende
instruir, estude sempre e revise.

Experiência

Com o advento de fóruns, Youtube e da internet em geral, o número de “especialistas” no


assunto aumentou consideravelmente, logo surgem “mestres”, “instrutores” e
“especialistas” o tempo todo, mas a maioria não sobrevive a lições práticas e a falta de
base/conteúdo nas suas explicações.

Um aluno esforçado é melhor do que um “mestre” com conhecimento parcial.

Humildade

Você não sabe tudo. Tendo conhecimento, experiência e aprovação de outro instrutor, o
aluno passará a ser instrutor, sob observação dos membros mais antigos e depois, se necessário,
sozinho. Mas seja sob supervisão ou não, deverá manter humildade e cortesia com os demais.

Responsabilidade

Instruir vai lhe trazer funções adicionais além de golpear e explicar golpes, mas também
verificar equipamentos, ensinar como usá-los corretamente, como fazer sua manutenção,
organizar os alunos, ser mais ativo em questões internas do grupo, resolver pendências com
alunos e em cima disso tudo treinar para manter-se apto a instruir, e estudar cada vez mais.

Educação & paciência

Como instrutor erga voz em tom alto e claro para que entendam suas instruções, mas
NUNCA use desse tom para ofender o aluno, ou ridicularizá-lo, se o aluno errar 6 vezes, sua
função é corrigi-lo até acertar na sétima e assim por diante.
Postura

Evite conduta inapropriada, agora você é um exemplo a ser seguido. Nada de fotos estúpidas
com material de treino (seja no local ou não), se for postar algo no grupo, faça uma revisão
ortográfica, tenha cuidado redobrado com seu equipamento, chegue se possível com
antecedência, não venha de ressaca, leia e colabore mais com artigos, estude mais e pratique
mais. Seja um exemplo!

DA PREPARAÇÃO DOS INSTRUTORES PARA O TREINO

Em cada treino haverá no mínimo um instrutor, em certas ocasiões haverão dois ou


mais. Para que os treinos transcorram de maneira fluída os instrutores devem agir da seguinte
maneira:

Reunião pré-treino

Seja pessoalmente ou on-line, os membros deverão se reunir e confirmar presença. Em seguida


determinar o conteúdo que será abordado na aula e quem irá conduzir o treino.

O pré-treino em si

Mesmo com tudo já definido, recomenda-se que os instrutores cheguem em horário mais cedo
para uma última conversa antes de começarem a aula. O instrutor que conduzirá o treino
deverá ser amparado pelos colegas, o ajudando na orientação dos alunos e, se necessário,
participar das demonstrações dos golpes e suas aplicações.

Segurança

Como instrutor, é obrigatório e essencial verificar o equipamento dos membros, e verificar


se todos estão devidamente equipados e o grupo em ordem para o início da instrução.

Recomendações

Mesmo que domine o tema revise antes, ensaie o quê, como e quando dirá. Não abuse da sua
autoridade, não mande aluno pagar flexões, não o ofenda, nem faça nada que o ridicularize na
frente dos demais. Exija golpes corretos, se o aluno não o fizer, corrija-o até fazer
corretamente.

Peça aos alunos mais experientes orientar os recém-chegados, além de economizar tempo e não
atrapalhar os mais antigos, é uma ótima preparação para um futuro instrutor, e este poderá ser
avaliado como se sai ensinando os outros.
Pós treino

Avalie o grupo como um todo, faça observações com base no que viu no treino e fale de
maneira coletiva (observações pessoais devem ser feitas no treino, diretamente com o aluno),
elogiando os pontos positivos e cobrando os pontos nos quais devem trabalhar mais para
melhorar. Faça deste momento uma hora para conversar sobre a filosofia aos membros,
AGRADEÇA a presença, se possível registre tudo em fotos e vídeos, tanto para estudar o
treino como para guardar de recordação a presença de todos. Se o tempo permitir saia com os
colegas para beber, rir e descontrair.

As lições aprendidas são mais bem absorvidas assim e cria-se um laço especial entre seus irmãos
de armas.

DA POSTURA DO INICIANTE NOS TREINOS

Do mesmo modo que os instrutores devem ter postura e serem comedidos em suas
palavras e ações o comportamento do aluno deverá ser exemplar. Já que está dispondo do seu
tempo para treinar uma arte tão rara nos dias de hoje, então não desperdice seu tempo (e o dos
instrutores e demais alunos) com atos tolos e desnecessários.

Eis o que é esperado/cobrado de um iniciante:

Humildade

Com o advento da internet é possível aprender muito sobre qualquer tema, inclusive esgrima
medieval, porém querer trazer seu conhecimento só virtual pouco acrescenta ao grupo, que já
tem uma didática pronta e trabalha em cima dela.

Entenda que você está começando e como tal deverá mais ouvir e aprender do que qualquer
outra coisa.

Sinceridade

Não tenha medo de dizer que não entendeu. Se a explicação não ficou clara peça ao instrutor
que repita. Burrice não é você não entender, e sim mesmo tendo um instrutor na sua frente
não tirar a dúvida.

Compromisso

Tente não se atrasar, muito menos faltar. Evite ainda mais faltas seguidas ou um longo tempo
sem treinar, além de ficar para trás em relação aos colegas.
Estudo

O treino vai além da aula prática. Leia, pesquise, acompanhe fóruns, treine sozinho em casa,
se prepare fisicamente, estude!

Consciência

Se você pratica/praticou outra arte marcial, mas está em um treino de HEMA, atente as
instruções e as execute de acordo. Talvez na sua arte marcial a pegada com a espada seja
diferente, o golpe seja executado de outra forma, ou até mesmo a postura seja outra, lembre-se
que no momento você não está praticando sua arte marcial, mas sim um treino aonde o
novato é você, independente de quanto tempo treina em outra arte. Claro que praticantes de
outras modalidades tendem a absorver as técnicas de forma mais rápida, ainda assim serão
estudantes como os demais. Caso queira fazer uma comparação entre as artes, pergunte antes
se pode fazê-lo e de preferência depois do treino para não atrapalhar o andamento da aula.

ALGUNS AVISOS IMPORTANTES

Como em toda arte marcial existem bons e maus praticantes, muita atenção a
determinadas atitudes dentro de um ambiente de treino das HEMA:

“Mestres”

Com raríssimas exceções - como o Mestre Andrea Lupo Sinclair da FISAS por exemplo -
cuidado ao comparecer em um treino e um dos responsáveis se auto-denominar “mestre”,
“sensei”, “Grão-Mestre” e outras aberrações do tipo. Em sua grande maioria, praticantes
com um pouco mais de conhecimento se denominam no máximo instrutores, pedem para
serem chamados pelo nome ou apelido, não permitem serem chamados de mestre e não tratam
os praticantes menos experientes como alunos, mas sim colegas de treino logo, muito cuidado
com “mestres” nas HEMA.

Exigências

Os grupos de HEMA no Brasil são grupos de estudo, um coletivo em torno de um interesse


comum (as tradições), assim como deve ter cuidado com pseudo-mestres, cuidado com as
atitudes dos “instrutores”. Se começarem a gritar, mandar pagar flexão, correr ao redor da
quadra como punição por algum erro seu ou algo semelhante, peça licença e retire-se do local.
Valores

Cobrar por mensalidade ou aula é um meio dos grupos terem algum recurso para manutenção
de equipamento, aluguel do local e outras despesas, porém, cuidado com valores abusivos, se
informe e pesquise caso desconfie dos valores cobrados. Também muitos grupos de estudo que
já tenham um certo tempo de atividade costumam ter ou saber de algum fornecedor de
material para HEMA e vão indicar alguns fornecedores para compra, mas caso ofereçam
material com valor muito superior ao verificado com outros fornecedores, não aceitarem que
compre de outro lugar a não ser com eles ou com quem indicam, algo está muito errado.

Educação

Grupos de estudo são um ambiente agradável para a pratica das HEMA, seja pelo aspecto
esportivo seja pelo aspecto cultural. Cuidado com ambientes aonde há gritaria, xingamentos,
ameaças e posturas do tipo. Claro que há ambientes aonde os membros permitem certas
brincadeiras e liberdades uns com os outros, mas dentro do seu bom senso avalie cada postura.

Perseguição

Nunca aceite tal comportamento. Caso seja assediado de qualquer forma dentro de um grupo
retire-se e exponha a situação para os demais membros, dependendo da gravidade tome todas as
medidas legais cabíveis e exponha sua situação em fóruns de HEMA.

Saindo de um grupo

Às vezes não houve nenhuma briga, ameaça, assédio ou qualquer coisa do tipo, mas algo não
está certo, talvez a frequência dos treinos, o método de estudo ou simplesmente para você não
é aquilo que deseja para seus estudos/treinos. Se for esse o caso, agradeça e gentilmente
informe sua saída. Caso julgue pertinente explique como se sente e o que causou sua saída do
grupo, talvez seja um ponto que ninguém percebeu e pode ajuda-los a melhorar, além de
deixar aberta a possibilidade de um retorno, algum projeto conjunto no futuro e claro,
manter uma boa relação com os agora ex-colegas de treino.

Criando um novo grupo

A saída de seu antigo grupo foi (ou não) tranquila, e você está decidido a criar seu próprio
grupo, algo normal, mas cuidado com críticas aos antigos colegas e cuidado com seu novo
local de treino: evite ocupar o mesmo espaço, ou algum local próximo, soa como provocação,
sua cidade não deve ser tão pequena que tenham de treinar no mesmo lugar.
PARTE 5
FUNDAMENTOS
ASPECTOS TÉCNICOS
"E antes de todas as coisas que você deve saber e entender
é que a espada é apenas uma arte e ela foi concebida
e pensada centenas de anos atrás."
- Johannes Liechtenauer

ANATOMIA DE UMA ESPADA

Muito foi dito aqui sobre a espada, mas ao manuseá-la deve-se entender sua anatomia e
funcionalidade, abaixo um diagrama com as partes de uma espada. Alguns termos não são
padrão, podendo sofrer variação.

Lâmina - a extensão de aço que forma a espada.

Faces – Os lados da lâmina.

Vinco - chamado de baixo-relevo de sangue ou calha, o vinco é um baixo-relevo estreito que


corre pela maior parte da extensão de muitas espadas, serve para diminuir o peso da lâmina sem
diminuir a resistência.

Ricasso - encontrado em algumas espadas, o ricasso é a parte sem fio da lâmina, próxima à
guarda. Era normalmente usada em espadas mais pesadas para permitir segurá-las com a outra
mão, se necessário.

Espiga - porção da lâmina coberta pelo punho.

Guarda - peça de metal que impede a espada do oponente deslizar até o punho e cortar a sua
mão.
Punho - sendo a empunhadura da espada, um punho é normalmente feito de couro, arame ou
madeira. Ele é preso à espiga da lâmina para proporcionar uma forma confortável de
empunhar uma espada.

Pomo - também chamado de Pomel, é a extremidade da espada onde está o punho.

PEGADAS COM A ESPADA

As formas de se pegar a espada chamadas aqui de pegadas, definem o tipo de ataque a ser
realizado e também o tipo de guarda que está se usando. Os termos aqui citados são
uniformes.

Pegada prono: Mãos fechadas com as palmas das mãos olhando para baixo.

Pegada supina: O oposto as palmas das mãos olham para cima.

Pegada alternada: Cada uma das palmas das mãos olham para um lado diferente.

Pegada neutra ou de martelo: Pegada aonde o punho está em vertical, de fato como se
segurasse um martelo.

POSTURA

Trata-se do alinhamento do corpo com um todo, cabeça tronco e membros em sintonia


com a espada. É de suma importância a postura adequada, para atacar/defender e contra-atacar
corretamente. É a partir da postura que se valerá seu jogo de pés e suas manobras com os
braços e tronco, podendo se aproveitar do seu eixo e de sua área de ataque.

ATAQUES, DEFESAS E CONTRA –ATAQUES

Cada ação, seja de ataque, defesa ou contra ataque deriva da tomada de posição em
função da avaliação pró-ativa de uma série de fatores que envolvem:

Força, envergadura, física, idade e experiência do oponente.


MOTRICIDADE

A palavra motricidade refere-se a “ciência que estuda o movimento". Nela incluímos a


movimentação, e seu raio de ação e equilíbrio assim como coordenação e ritmo.

DIREÇÃO/ORIENTAÇÃO

No raio de ação do esgrimista as tradições falam sobre a "cebola", que define um pouco
as direções do ataque, em frente atrás, esquerda e direita, acima e abaixo.

MARCHA
Se refere ao modo de andar e recuar frente ao adversário, ou seja, os passos, feitos de
forma ordenada, definindo seu avanço, recuo, giro e afundo.

Marcha de avanço
Marcha em linha reta em direção ao adversário.
Marcha de recuo
Indo para trás, recuando sem perder de vista o adversário.

LUTA
Aqui observando os tipos de luta que temos e podemos definir os modos de combate,
com as suas modalidades:

Luta envolvente
Luta de contato físico, com travas, estrangulamento e derrubadas.

Luta de recondução
Usa a força do adversário a seu favor, para desequilibrá-lo, ou então troca-se de
posição/guarda para forçar nova postura do oponente.

Luta de contato
Uso do pomo da espada e todo tipo de golpe que pode lesionar e por assim minar as
forças/defesas adversárias.
JOGO DE PÉS

Parte de uma boa postura com a espada envolve o seu jogo de pés e pernas.
A postura básica consiste no pé esquerdo a frente, podendo variar com o pé direito.

Instância básica, pé esquerdo a frente. Instância básica, pé direito a frente.


MARCHA DE AVANÇO E RECUO

Avanço à partir do pé esquerdo. Recuo à partir do pé esquerdo.


O movimento de ida/deslocamento para as laterais é chamado de “travessia”.

Travessia à esquerda. Travessia à direita.

O SELO

As 8 direções que podemos tomar em um


combate são: à frente, para trás, lateral esquerda
e direita, avanço diagonal à esquerda e a direita e,
por fim, recuo diagonal à esquerda e direita.

Este conceito é chamado pelos italianos de segno,


ou seja: o selo.

A PORTA

Analisando o conceito de combate homem a homem, temos o conceito da porta, ou seja: uma
área a sua frente aonde devemos passar, entrar e sair através de uma área específica.
Observando as guardas e suas instâncias, então enxergará a porta e como através das guardas
temos a noção do campo de visão e as suas aplicações em combate.
PARTE 6
PRATICANTES
PRATICANTES DE HEMA
“Alguns homens são como espadas: feitos para lutar.
Pendure-os, e enferrujam.”
- Donal Noye, As Crônicas de Gelo e Fogo, Vol. II: A Fúria dos Reis

Existem muitas vertentes nas HEMA, não apenas no aspecto marcial, como lança,
espada longa, espada e broquel etc, mas também nas vertentes de prática e estudo em si.

Teoricamente as HEMA partem do estudo dos manuais de combate e sua aplicação


marcial, mas durante esse caminho há muitas variáveis; um tradutor por exemplo pode estar
mais interessado em encontrar o termo mais fiel a um texto do que competir, enquanto outro
hemaísta se dedica mais a organização de eventos e palestras.

Não que um palestrante não tenha interesse em traduzir ou competir ou que seja
impossível de encontrar pessoas que atuem em áres diversas das HEMA, mas também não é
raro encontrar pessoas mais dedicadas a uma área do que a outra.

Falaremos um pouco sobre isso a seguir.

ERUDITOS

Em geral são tradutores e “ratos de fóruns”, podem levar horas pesquisando um termo
adequado para uma tradução e discutir por mais outras horas a aplicação correta de um golpe
ou termo e suas origens históricas, o tipo de arma e até as vestimentas.

Não são os mais assíduos em torneios, mas se tomam parte é mais para testar a teoria dos
golpes e técnicas do que necessariamente ter a obrigatoriedade de vencer.

Podem se tornar bons árbitros e instrutores, valorizando técnicas executadas


corretamente e analisando cada golpe e imaginar a situação em um combate real.

INSTRUTORES

Formado em sua grande maioria por hemaístas com mais tempo de treino e estudo.
Conhecem um pouco de cada dos grandes manuais, tem um conhecimento razoável da tradição
que praticam, costumam utilizar como referência de estudos autores modernos, que já
escreveram obras sobre os manuais de combate tradicionais.

Com o tempo, podem abrir mão de participar de torneios em favor dos seus colegas de
treino – os quais ele pode ter treinado ou ter ajudado em treinos, partindo para atuar em
outras áreas, como arbitragem, palestras, avaliação de ranque, direção de grupos e associações.
ORGANIZADORES

Como o próprio nome diz, os organizadores trabalham para a criação e organização de


eventos, deixando muitas vezes de competir em função disso, podem ser desde tradutores a
instrutores mais antigos que terão seus parceiros mais novos de treino competindo no evento,
ou amantes das HEMA mas sem interesse específico em competir.

COMPETIDORES

São duelistas por natureza. Os competidores costumam dar mais ênfase aos sparrings dos
treinos do que na teoria das técnicas em si, são ávidos participantes de campeonatos, sempre
buscando a vitória e títulos nos torneios, sendo muito determinados a ganhar cada vez mais
posições nos rankings de HEMA.

PALESTRANTES

Os palestrantes podem ser desde instrutores mais antigos debatendo sobre as técnicas da
sua tradição a tradutores com material mais recente ou artigos recém-traduzidos para o
português que julgue interessantes para a comunidade HEMA, atuando em workshops ou nos
próprios torneios de HEMA ou eventos medievais de forma a divulgar as artes européias.

ÁRBITROS

Dotados de raciocínio rápido e focados, são amantes das HEMA interessados muitas
vezes no caráter marcial, podendo ser um dos organizadores do evento ou um convidado de
fora avaliando as HEMA na região. Possuem treinamento específico para arbitragem vindo
aos eventos muitas vezes como convidado.

ADMIRADORES

Não são necessariamente Hemaístas, mas tem um certo interesse e costumam


acompanhar alguns tópicos e notícias relacionados ao tema, podendo ser de vertentes do
medieval (combate viking, HMB), ou de artes marciais orientais em geral e pensam ou Já
pensaram em participar ou criar algum grupo de HEMA ou simplesmente em participar de
algum torneio.

COMPANHEIROS

Geralmente parentes, namorados ou namoradas dos praticantes, pessoas que talvez não
treinem (ou treinam pouco) e não participam de torneios, mas apoiam seu par em eventos.
ESTILOS DE LUTADORES EM HEMA

A grande variedade de estilos em HEMA assim como em outras artes marciais, gera
variados tipos de esgrimistas, que adaptam seu próprio estilo a tradição escolhida.

Enquanto alguns manuais sugerem um ataque rápido para acabar a luta de imediato,
outros falam em uma boa defesa para achar um espaço e atacar.

Em 2016 a página “Sword Fight Alexander” sugeriu que temos basicamente três tipos de
esgrimistas em HEMA:

Ofensivo
O popular ataque primeiro, costumam ser os primeiros a terem a iniciativa nocombate,
atacando com explosão e velocidade, golpeando seguidamente até conseguirem pontuar.

Defensivo
São mais pacientes e adotam a tática de estudar e procurar brechas no jogo adversário, treinam
bastante sua defesa e podem se valer dessa tática para minar um adversário ofensivo.

Contra-ofensivo:
Uma mistura dos dois estilos acima, pode não tomar a inciativa no começo do assalto, mas
não será tão paciente como um esgrimista defensivo, pode responder a um ataque de imediato
ou bloquear um ou dois golpes e em seguida partir para o combate golpeando seguidamente.
Podem se valer desse estilo para surpreender um adversário ou anular uma sequência de golpes.

VARIAÇÕES

Embora cada praticante tenha um estilo próprio, pode-se mudar de um combate para
outro, um ofensivo pode adotar um estilo defensivo ao lutar contra um adversário mais
pesado de modo a cansá-lo por exemplo, ou um instrutor defensivo pode ser ofensivo contra
um inIciante para desenvolver sua defesa e contra ataque.

Ainda discutindo sobre os estilos dos praticantes de HEMA, vamos desenvolver um


pouco mais sobre seus modos de combate, alguns termos usaremos a partir do original, ou
uma livre tradução, na qual fique a vontade para adequar aos seus estudos:
In-fencer

Algo como "esgrima curta" ou "esgrimista curto" (sem relação a altura) em livre tradução.
São geralmente caracterizados como combatentes próximos. Eles usam manobras rápidas de
estoque e avanço para encurtar a distância rapidamente e cercar em uma medida aproximada.
Muitas vezes, eles usam "zwerch" (golpes cruzados na horizontal) agressivos e cortam combos
para impor pressão e criar aberturas. Um esgrimista ofensivo.

Esgrimista Externo

Esgrimistas externos geralmente preferem manter seu oponente em um espaço mais amplo.
Geralmente, o esgrimista utilizará golpes e ataques rápidos e de longo alcance para explorar
aberturas e pontos fracos. Os ataques geralmente se limitam a ataques singulares ou combos
curtos. Um esgrimista defensivo.

Contra-esgrimista

Preferindo posturas defensivas, o contra-esgrimista tem como objetivo explorar os erros de


ataque dos oponentes. Capitalizando em momentos oportunos, o esgrimista geralmente
contragolpeia com cortes / empurrões precisos e singulares. A maioria dos contra-defensores
trabalha com movimentos amplos, embora alguns prefiram atrair seus oponentes antes de
encurtar a distância. Um esgrimista contra-ofensivo.

Observe, porém, que nenhum estilo é mutuamente exclusivo e alguns esgrimistas se


moverão fluidamente entre duas ou todas as classificações. Também existem vários sub-estilos
e o temido 'esgrimista equilibrado' que é proficiente nos três. Naturalmente, as classificações
de estilo embotam algumas das nuances da estratégia de uma pessoa, mas podem ser uma ótima
ferramenta para identificar rapidamente as tendências, pontos fortes e fracos do jogo de nosso
oponente e o nosso:

"Parece que lutarei com Danny em seguida. Ele é um lutador clássico. Eu preciso
manter a linha central, cobrir minha cabeça na aproximação e aproveitar o chão para colocar
pressão nele."

(Arto Fama, lutador conhecido por sua forma fluída e fácil adaptação ao jogo adversário).
PARTE 7
TORNEIOS
TORNEIOS DE HEMA MAIS CONHECIDOS
"Se você quiser realmente saber se esgrima é uma
arte ou ciência, ouça minhas palavras."
-Philippo Vadi.

Para os interessados, aqui estão alguns dos torneios de HEMA mais conhecidos na
Europa e Estados Unidos:

SWORDFISH

Um dos maiores torneios de HEMA do mundo, o Swordfish acontece


em Gotemburgo (Suécia) pela Escola de Esgrima Histórica de
Gotemburgo.

É conhecido por receber os maiores competidores do mundo.


O Swordfish também é conhecido por seus incríveis eventos sociais e sua
comunidade extremamente amigável.

Todos os anos, os maiores esgrimistas tem uma excelente oportunidade de encontrar


amigos, assistir a combates incríveis e aprender coisas novas.

Site oficial: www.swordfish.ghfs.se/

COMBATCON

CombatCon é mais do que apenas um torneio de esgrima HEMA.


É uma convenção para lutadores, escritores, cosplayers e outros
entusiastas do HEMA. É um ótimo lugar para conviver, aprender algo
novo e assistir a demonstrações e combates.

No ano de 2018 o CombatCon recebeu mais de 20 instrutores diferentes


e 4 convidados especiais, gerando grande expectativa para os próximos anos.

Site oficial: www.combatcon.com


IRON GATE EXHIBITION

O maior evento de esgrima da HEMA na Nova Inglaterra - EUA, o


IGX organiza oficinas, torneios e exposições.

Eles também convidam instrutores, que dão palestras para os visitantes


do IGX. Esta grande exposição se estende por 3 dias e está repleta de
eventos emocionantes.

Site oficial: www.irongateexhibition.com

LONGPOINT

O Longpoint é um encontro anual de HEMA para workshops e um dos maiores eventos


competitivos nos EUA. Todos os anos, organizam
torneios que abrangem várias armas e instrutores
internacionais sob o mesmo teto.

Site oficial: www.irongateexhibition.com

Existem muitos outros torneios de HEMA ao redor do mundo, como o Capitol Clash
Hema Open, Bratislava Fecht, Dutch Lions Cup entre outros.

TORNEIOS NO BRASIL

Ainda não temos uma regularidade de torneios no Brasil no mesmo estilo dos acima
citados, mas há vários registros de eventos nacionais, como os torneios da Guilda no Rio de
Janeiro, o Excalibur em Brasília e o Torneio Nacional de Espada Longa, o Torneio
Paranaense de HEMA realizado pela Ordem do Grifo de Fogo e o Torneio de HEMA da
Batalha Cênica Salvador.

Com os eventos da pandemia do COVID-19 um calendário oficial teve de ser adiado.

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