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GUIA DE TREINO
DAS ARTES MARCIAIS HISTÓRICAS
EUROPÉIAS NO BRASIL
2ª Edição
DEZEMBRO DE 2020
APRESENTAÇÃO
Comparando a primeira edição do Guia de Treino com a atual, já se vão seis anos e,
muita coisa mudou, mas o interesse nas HEMA só tem aumentado e muitas vezes perguntas
que fizemos ou respondemos a anos atrás mais uma vez se fazem presentes, de forma que uma
segunda edição acabou por se tornar não necessária – a velocidade de acesso a informação nos
dias de hoje fazem qualquer pessoa interessada tomar parte no tema em questão de horas – mas
útil, filtrando e reunindo boa parte dos passos necessários para se iniciar nas HEMA e algumas
curiosidades e dados adicionais.
QUEM SOMOS
O projeto Harpia tem como missão registrar a história das HEMA no Brasil, bem como
seus envolvidos, estudiosos, praticantes, tradutores e demais pessoas que paticipam ou
participaram da sua trajetória na comunidade brasileira.
Quando saiu da presidência iniciou o projeto, que foi passado a Paulo “Malk”, atual
editor da página da HARPIA.
PORQUE "HARPIA"?
Quando foi criada a HEMA Brasil, seu símbolo foi a mescla do carcará com a harpia,
o segundo foi escolhido como símbolo e como forma de referência a HEMA Brasil, de onde
partiram os primeiros registros inseridos na Harpia.
Não. Embora a Harpia tenha início com o antigo presidente da HEMA Brasil e o nome
seja uma referência ao seu símbolo e os primeiros registros começaram com os membros da
HBR, é um projeto independente da HBR.
COMO FUNCIONAM AS GERAÇÕES?
As HEMA no Brasil tiveram seus primeiros registros no começo do ano 2000 e foi
evoluindo pela primeira década de forma devagar, os primeiros grupos e interessados ficaram
como a primeira geração, na segunda década e tendo como referência o surgimento da HEMA
Brasil que impulsionou muitos grupos e estudiosos temos a segunda geração, e no final dessa
década vimos novos grupos e praticantes, que se encaminham para a terceira geração no Brasil.
Quando a HARPIA foi criada, sua extensão original era "harpia.wikia", tendo sua
plataforma renomeada para "fandom", um termo usado para se referir a uma subcultura
composta por fãs caracterizados pela empatia e camaradagem por outros membros da
comunidade que compartilham gostos em comum.
Ainda sendo uma definição próxima sobre HEMA aliada a facilidade de uso da
plataforma, o projeto foi mantido mesmo com a nova extensão.
www.harpia.fandom.com/pt-br/wiki/Wiki_Harpia
Facebook:
www.facebook.com/hemaharpia
PARTE 1
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HISTORIA
HISTÓRIA DA ESGRIMA
“Uma mente necessita de livros da mesma forma
que uma espada necessita de uma pedra de amolar
se quisermos que se mantenha afiada.”
- Tyrion Lannister - As Crônicas de Gelo e Fogo, Vol I: A Guerra dos Tronos
Entende-se por esgrima como o combate em que são utilizadas armas brancas para atacar
e defender-se, em especial espadas. Inicialmente, era utilizado para caça e sobrevivência.
Entretanto, com a evolução das armas e da humanidade, passou a se tornar arma de combate,
sendo abolida somente com o surgimento das armas de fogo. Atualmente, existe a esgrima
esportiva (esta dividida em três diferentes tipos de armas, a saber: espada, florete e sabre,
representando os antigos armamentos utilizados em combate e treino) e a histórica, baseada
nos antigos manuais de combate.
Nessa época era muito mais que um simples esporte — era uma maneira de combater, e
como tal não havia nenhuma regra precisa; porém, surge a preocupação com a técnica para
aplicar e defender-se dos golpes. Em Roma, existiam escolas de gladiadores onde se formavam
os doctore armarum, especialistas na arte de combater com armas brancas para entreter o
público. Na Idade Média, a esgrima se diversificou devido aos vários formatos de espadas e
sabres existentes.
Não se sabe da existência de nenhum manual de esgrima anterior à Baixa Idade Média
(exceto por algumas instruções de luta grega, embora a literatura Antiga e Medieval (Sagas
Vikings e Contos Alemães) mencionam feitos e conhecimentos militares; além de arte do
período mostrar combates e armamentos (Tapeçaria de Bayeux, a Bíblia Morgan). Alguns
pesquisadores tentaram reconstruir antigos métodos de lutas como o Pancrácio e técnicas de
combate dos gladiadores usando como referência estas fontes e testes práticos, embora estas
recriações sejam mais especulativas do que baseadas em instruções reais.
A BAIXA IDADE MÉDIA (1350 A 1500)
A escola germânica:
Nos dias de hoje alguns declaram sua arte como “tradição alemã”, porém é um
equívoco, visto que no século XIV não havia Alemanha e sim o Sacro Império Romano-
Germânico.
A escola italiana:
Desde os primeiros Jogos Olímpicos da era moderna (1896) a esgrima faz parte das
modalidades olímpicas, sendo uma das quatro modalidades que fazem parte dos Jogos
Olímpicos desde a primeira edição. As disputas masculinas começaram nas olimpíadas com o
florete e o sabre em 1896. A espada foi introduzida nas disputas masculinas nos Jogos
Olímpicos de 1900. Em 1924 as mulheres começaram a participar dos jogos olímpicos, mas
somente na modalidade de florete individual, e até 1992 as mulheres continuaram a jogar
somente na modalidade do florete. A partir de 1996 elas começaram a competir nas olimpíadas
na modalidade da espada também. E a partir de 2004 elas começaram a competir nos jogos
olímpicos com o sabre. Apesar do termo "luta de esgrima" ser frequentemente usado, no
esgrimir nunca se tem uma "luta de esgrima" ou "luta esgrima", mas sim "jogar esgrima",
pois a esgrima olímpica é um esporte, porém, a esgrima olímpica não é o foco deste guia.
HISTÓRIA DA ESGRIMA MEDIEVAL E RENASCENTISTA
Por Pete Kautz; tradução de Bruno Cerkvenik
Durante a Idade Média, por volta dos séculos XIV-XV, os guerreiros da Europa
desenvolveram um poderoso estilo de combate que provou ser igualmente vitorioso no campo
de batalha em tempos de guerra, nas ruas para suprimir revoltas e para defesa pessoal. Esses
homens lutavam duelos pessoais e judiciais até a morte, assim como participavam de batalhas
organizadas ou torneios. Embora os torneios possam nos parecer civilizados e fossem
disputados com espadas cegas ou de madeira e juízes, eles normalmente acabavam com homens
portando bestas envolvidos na disputa, tentando prevenir que seus cavaleiros fossem
derrotados, capturados e usados para pedir resgate mais tarde por outro cavaleiro. Esqueça as
noções de cavalaria que você possa ter sobre a vida desses homens – ou eles matavam, ou eles
morriam, simples. Quando as guerras avançavam pela Europa, técnicas de combate eram
temperadas na forja da batalha, e guerreiros de cada país aperfeiçoaram suas técnicas para que
pudessem passá-las para a próxima geração.
Essas técnicas de matar, conhecidas por homens que lutaram e sobreviveram a muitas
batalhas, se tornou parte de uma tradição militar oral, transmitida de um guerreiro a outro.
Então, começando por volta de 1300, livros que ensinavam técnicas de luta eram feitos em
pequenas quantidades, cada um cuidadosamente reproduzido a mão. Alguns desses livros
continham uma pequena quantidade de técnicas ilustradas, mas outras, como o trabalho de
Fiori dei Liberi e Hans Talhoffer catalogavam literalmente centenas de técnicas individuais e
contra-ataques. Por volta de 1400 esses manuscritos eram produzidos em um número maior,
com vários autores escrevendo vários livros durante sua vida. E assim continuou pela Idade
Média e pela Renascença, com livros escritos em vários países, embora a maior quantidade
viesse do Império Romano-Germânico (Atualmente Alemanha, Áustria e Itália). Essa Era viu
o peso do combate corpo-a-corpo Medieval, e essa foi a Era dourada dos “Fechtbuch” ou
“Livros de luta”.
Contudo, durante a Renascença, por volta dos séculos XVI-XVII, as coisas mudariam
com a invenção da imprensa e com os novos professores que aceitavam civis como estudantes.
Durante a Idade Média, os livros de combate eram mantidos com os guerreiros profissionais,
e as verdadeiras técnicas de matar e suas defesas eram guardadas como segredos.
No ano de 1410 o Flos Duellatorum (Flor das Batalhas) o mestre Italiano Fiori de Liberi
diz que essas técnicas deveriam ser mantidas em segredos exceto “Para os especialistas em
espadas para ajudar os guerreiros em tempos de guerras, revoltas e duelos” e nunca deveriam
ser revelados ao povo comum “Que foram criados por Deus sem capacidade como vacas
apenas nascem para carregar cargas pesadas”. Fiori nunca mostrou suas técnicas em público,
exceto quando as usava em batalha, e ele ensinou a seus estudantes atrás de portas fechadas,
fazendo-os jurar segredo sobre o que aprenderam. Ele escreveu seu livro quando estava velho,
muito depois de suas técnicas serem necessárias, e sob o serviço do “mais ilustre mestre
Niccolo Marquês de Ferrara, Modena, Parma, and Reggio”, que usaria seu livro para treinar
seus cavaleiros.
Em um nível técnico, um dos primeiros elementos chave que você encontra ao ler os
livros medievais é que eles contêm uma grande quantidade de material de combate desarmado.
Um cavaleiro medieval, um Homem-de-Armas, era de se esperar que soubesse combate
desarmado e com adagas assim como combate de espada e lança, com o qual os associamos
hoje. Nos manuais de sobrevivência no campo de batalha, muitos continham longas seções de
ataques desarmados, agarres, defesa desarmada contra adaga, e combates com adagas. Técnicas
desarmadas contra espada e adaga contra espada também eram mostradas.
Você verá técnicas idênticas (particularmente arremessos e travas de braço) feitas com
todos as formas diferentes de armas, mostrando a natureza integrada desse sistema. O
Cavaleiro medieval realmente entendia como fazer a conexão entre as técnicas essenciais de
combate, não importando o tipo de arma. Primariamente, esse era um estilo de luta baseado
em armas, que usava agarrões de pé como um complemento às técnicas de combate armado, de
maneira similar ao os treinos militares de hoje, usando ataques nos olhos, socos no queixo,
joelhadas e chutes baixos. Luta no chão era usado basicamente pra manter o cara no chão
tempo suficiente para você sacar sua espada ou adaga e furá-lo, ou segurar ele para os lanceiros
possam perfurá-lo.
Somente quando você via essas técnicas usadas em duelos judiciais ou duelos, onde
ninguém fosse interferir com a luta, você veria os agarres como nós vemos hoje, sendo
aplicados. Assim como aquelas usadas de pé, você verá enforcamentos, quebras de perna e
braços e muitas outras técnicas semelhantes sendo usadas no chão. A armadura era usada pra
desgastar e cansar o oponente, e era comum ver homens pegando armas que caíram no chão,
ou sacando uma adaga, enquanto agarravam.
Além de usar várias outras armas, como a maça ou o machado, o guerreiro medieval
tinha que aprender a usar a armadura que ele vestia como uma arma. Lutar com uma
armadura real é bem diferente do que lutar sem armaduras, e os Alemães usavam os termos
“blousfechten” e “harnisfechten” pra descrever combate em trajes normais e com armaduras,
respectivamente. A armadura de placas e a armadura de anéis daquele tempo incapacitavam
muitos ataques de corte e perfuração, permitindo ao usuário chegar perto e lutar com sua
espada longa de uma maneira diferente, segurando no meio da lamina com uma mão e usando
como uma baioneta, técnica chamada de “halbschwart”, “half-sword” ou técnicas de
“meiaespada”, projetadas para entregar estocadas poderosas nas falhas da armadura.
Adicionalmente, a armadura seria usada pra desgastar o oponente no solo, e os cotovelos e
joelhos pontudos poderiam fazer uma horrível pressão em um oponente sem armaduras. Até os
sapatos da armadura (chamadas “sabatons” pelos franceses) vinham com pontas usadas para
chutar por baixo das armaduras ou, quando à cavalo, para chutar pessoas caso chegassem
muito perto de você.
Lutar à cavalo era outra técnica que o cavaleiro devia aperfeiçoar. A lança era usada,
junto com a maça e a espada, de cima do cavalo. Fiore dei Liberi, e outros, também
mostravam muitas maneiras de usar técnicas de agarre para tirar o adversário do cavalo. Ao
lutar em um cavalo de guerra, o cavaleiro era uma força imponente no campo de batalha.
Pesando quase uma tonelada com seu cavalo, viajando a 35 milhas por hora, um cavaleiro
montado deveria inspirar um verdadeiro terror em qualquer soldado o enfrentando a pé.
Essa completa arte de combate desarmado ocidental é muito mais antiga que estilos
como Jiu-Jitsu, Aikido, ou Hapkido. A maioria das artes marciais ensinadas hoje tem mais ou
menos 100 anos e podem ou não ter relação com combate mortal. Muitas hoje são ensinadas
para manter a saúde ou como meditação.
Nos livros de combate medievais, são ensinadas técnicas com mais de 500 anos de idade,
e eram usadas para matar. Muitos falarão da “Descendência Samurai” ou do “Espírito
Shaolin”, fazendo-os parecer mais antigos, mas qual é a história verdadeira das técnicas do
que eles ensinam? Elas foram desenvolvidas em separado, ou foram inspiradas em uma arte
mais antiga? Com o Ocidente, a história das artes de combate foi preservada através dos
manuais escritos dos mestres que sabiam que elas seriam usadas, tanto no campo de batalha
como na rua.
SIGNIFICADO DE HEMA
Trata-se de uma sigla em inglês para "Historical European Martial Arts" (Artes
Marciais Históricas Europeias) se referindo as técnicas de combate tradicionais praticadas na
Europa, geralmente com espadas, mas também há tratados sobre combate desarmado, adaga, à
cavalo etc.
As técnicas se perderam por anos, porém no começo da década de 90 houve uma forte
campanha de renascimento das artes européias com base no estudo e interpretação dos antigos
tratados de luta, o que leva a um grande esforço, pois do mesmo modo que há textos bem
detalhados, muitos outros são ilustrações com explicações breves, muitas vezes sendo uma
referência para uma tradição oral/prática, daí muitas vezes algumas técnicas e manuais levarem
anos de estudo.
O grande desafio dos grupos de esgrima histórica é se aproximar o mais fiel possível da
tradição da época. Os documentos históricos atualmente utilizados para reconstruir estas artes
marciais perdidas começam pelo Fechtbuch MS I.33, um manuscrito anônimo do século XII.
Em seu início, era chamada de WMA - Western Martial Arts - ou artes marciais
ocidentais, mas foi substituído por HEMA de modo a englobar as artes européias em geral
(tendo a Rússia por exemplo, que se localiza ao leste e tem boa parte do seu território na ásia)
e suprimir o termo “Western” associado aos cowboys americanos.
ESCOLAS HISTÓRICAS DE ESGRIMA
Quais escolas estão disponíveis em sua cidade ou região? Você já tentou lutar com mais
de uma espada? Como são os professores de esgrima? Que tipo de armas você mais gosta?
Cada escola de esgrima tem seus próprios manuais de esgrima, que precisam ser
estudados por seu instrutor de esgrima e por você.
ESCOLA FRANCESA
A nova lâmina foi desenvolvida na França em meados do século XVIII, assim projetada
porque a espada de duelo não era rápida, segura e elegante o suficiente. Os esgrimistas
repeliam suas tentativas de atacar, e os alemães copiaram esse recurso de segurança logo após
desenvolverem sua pequena espada de estocar, também conhecida como Pariser.
Muitas vezes tratada erroneamente como “Escola/Tradição Alemã” (visto que não
havia Alemanha na época e sim o Sacro Império Romano Germânico) seu registro histórico se
dá nos Fechtbüch (“manuais de combate”), tendo o "I.33" um manuscrito germânico anônimo
de aproximadamente 1300 de espada e broquel, como o primeiro manual sobrevivente de
esgrima. Conhecido como Manuscrito i33.
Durante esse período, era conhecido como Kunst des Fechtens, traduzido como "Arte
da Esgrima". A principal arma no Kunst des Fechtens é a espada longa, mas nos Fechtbüch
também havia muitas outras armas, como polearms, messers (uma espécie de facão), punhais
entre outras e havia também menções de técnicas de combate montado e de luta desarmada.
No século XVII, a tradição germânica foi amplamente ofuscada pela escola italiana de
esgrima, mas, no entanto, persistiu.
No século XIX, Alfred Hutton despertou interesse nessa arte com reconstruções do
sistema de esgrima de vários mestres históricos. Ele deu muitas palestras e demonstrações
práticas para impedir a queda da popularidade da esgrima como uma arte.
Hoje, parte da escola medieval germânica também pode ser encontrada na moderna
esgrima acadêmica alemã e, graças aos estudantes de HEMA e outros entusiastas da esgrima, a
escola germânica não foi deixada para trás.
ESCOLA ITALIANA
A escola italiana de esgrima é usada para descrever o estilo italiano de esgrima e combate
com armas de ponta desde o primeiro livro de esgrima italiano até os dias da esgrima clássica
(início do século XX).
Com base na obra de Fiore, Filippo Vadi escreveu seu tratado De Arte Gladiatoria
Dimicandi, escrito entre 1482 e 1487 muito semelhante ao Flos Duellatorum.
Embora não tenha existido uma transmissão dos ensinamentos típica de mestre-aluno,
Vadi, de alguma forma, teve acesso aos ensinamentos de Fiore escritos a mais de setenta anos
antes do “Gladiatoria” e, devido a essa falta de continuidade nos tratados medievais, alguns
termos da esgrima renascentista italiana são usados no estudo da sua tradição medieval.
Entre o século XVI e o início do século XVII, a escola de esgrima Dardi com a Spada
lato influenciou profundamente a escola italiana original de esgrima, que deu origem ao
início moderno e clássico da esgrima com a rapieira.
Isso também afetou a escola elizabetana e francesa de esgrima no século 18, que por sua
vez se transformou na esgrima esportiva moderna.
A palavra Destreza em si, remete a escola espanhola como "a verdadeira habilidade" ou
"a verdadeira arte".
A razão para isso é a necessidade de obter ângulos mais favoráveis para estocadas ou
cortes.
Por outro lado, a Destreza não concordava com isso, ensinando que os cortes poderiam
ser tão úteis e mortais quanto as investidas.
Temos seu início partindo como referência o Jogo do Pau Português também
conhecido por “Esgrima Lusitana” é uma arte marcial genuinamente Portuguesa de combate
com paus e também uma herança cultural nacional, cuja origem remonta ao manejo das armas
medievais, como mostra o Rei D. Duarte I no seu livro “Ensinança de Bem Cavalgar a Toda
a Sela” de 1438, seguindo com o manual ibérico “Memorial Da Prattica do Montante”,
escrito por Diogo Gomes de Figueyredo em 1651.
O primeiro texto original Português que conhecemos que pertence, sem dúvida, à
Verdadeira Destreza é o Oplosophia de Diogo Gomes de Figueiredo, escrito em 1628 mas
nunca publicado. Este trabalho mostra uma profunda influência dos ensinamentos de
Carranza, em contraste com a teoria e prática própria dos seguidores de Pacheco.
O Tratado das Lições da Espada Preta de Thomas Luis (1685) contém vários materiais
que utilizam a terminologia da Verdadeira Destreza, mas em geral é bastante eclético quanto à
técnica. Também acrescenta algumas instruções acerca do comportamento para estudantes e
mestres nas salas de armas, usos e costumes, e alguma anedota.
Nesse período um manuscrito conhecido como Lições de Marte que não tem data ou
autor tem como conteúdo essencialmente um comentário muito claro e de fácil leitura da
Nueva Ciencia de Pacheco (1672, obra póstuma).
HMB
Existem algumas variações em algumas batalhas onde são restritas as armas usadas para
manter a veracidade histórica das batalhas.
Em 2010 foi criado o campeonato mundial do esporte chamado "Battle of the Nations"
(Batalhas das Nações), onde se oficializou e universalizou as regras.
COMBATE VIKING
Há certo questionamento se combate viking é ou não HEMA, visto que diferente das
outras artes não há um manual antigo ou fonte documental com registro dos golpes, táticas e
movimentos de luta, ainda assim inúmeros praticantes de HEMA se dedicam ao combate
viking, sendo – unânime ou não – tratado como HEMA.
SWORDPLAY
Swordplay é uma modalidade aonde tentam simular um combate medieval com armas
variadas, feitas de espuma de modo a evitar ferimentos, seus praticantes misturam a temática
medieval com filmes e jogos de temática geek.
SOFT COMBAT
Assim como o swordplay, usa armas acolchoadas, porém é mais restrita ao combate
medieval, sem referências a jogos ou filmes, tampouco caracterização, e é uma boa porta de
entrada para outras modalidades medievais como HEMA ou HMB.
PARTE 2
BRASIL
HISTÓRIA DAS HEMA NO BRASIL
“Não há homem de armas que possa usar cortesia
ou bondade para enfrentar seu inimigo.”
– Fiore dei Liberi, 1410
Além deles temos nomes como Renato Moussalli e grupos de recriação histórica como a
Guilda dos Armeiros, Medieval Brasil entre outros.
https://harpia.fandom.com/pt-br/wiki/Wiki_Harpia
HEMA BRASIL
Sua criação é emblemática, pois marca um segundo momento das HEMA no Brasil: de
grupos de estudo sobre o tema para uma união como associação esportiva com
representatividade legal, reconhecimento federal, internacional e organização de torneios.
https://harpia.fandom.com/pt-br/wiki/HEMA_BRASIL
ASSOCIAÇÕES, FEDERAÇÕES, GRUPOS E ESTUDANTES
HEMA Brasil
Associação Brasileira de Artes Marciais Históricas Européias, criada no final de 2014 e
reconhecida como órgão em 28 de agosto 2015.
Foi criada como canal comum entre os grupos espalhados pelo país, organizar eventos,
torneios etc, além de ser representante da modalidade no Brasil e na comunidade internacional.
Atualmente tem trabalhado em organizar torneios, sendo abertos inclusive para não
filiados.
Federações
Geralmente são a união de grupos de uma mesma região / estado, podendo ou não serem
filiadas a HEMA Brasil, como a Federação Paulista de Esgrima Histórica por exemplo.
Grupos independentes
Pode ser um grupo de estudos ou uma vertente de um projeto medieval, com outras
áreas de interesse que não foque totalmente em HEMA ou simplesmente não tem interesse em
ser filiado a alguma federação ou associação.
Estudantes Independentes
Pessoas que tem interesse no estudo e prática das HEMA mas possuem - ou não -
poucas pessoas interessadas em criar um grupo ou simplesmente preferem estudar / treinar
sozinhas, ou em número muito reduzido, às vezes se limitando a pesquisas na internet em
fóruns e comunidades de HEMA.
Esse tipo de estudante também é comum em regiões muito distantes aonde costumam ser
praticamente os únicos interessados no tema.
GERAÇÕES NO BRASIL
1ª Geração
Além deles temos nomes como Renato Moussalli da Academia da Espada e grupos de
recriação histórica como a Guilda dos Armeiros, Medieval Brasil entre outros.
Praticamente todo material de estudo era em inglês, poucas escolas se dedicavam ao tema
e boa parte do equipamento era improvisada, foram os primeiros a fazer contato fora do país
buscando fornecedores e buscarem reconhecimento internacional.
Através dos seus grupos (Ars Gladiatoria, SCAM e Scherma) geraram os primeiros
materiais de estudo e treino em português do Brasil, seus grupos abriram caminho para novos
grupos e associações, além de incentivar interessados na prática das HEMA no Brasil.
2ª Geração
Já tinham mais material de estudo e coordenam boa parte dos grupos e associações
atuais, sendo muitas vezes responsáveis pela pesquisa e compra de material, organização de
encontros, torneios e palestras.
Não raro abrem mão de competições em favor dos colegas de treino mais jovens que tem
maior interesse em competir e se dedicam a um estudo mais profundo dos manuais antigos ou
seguir autores modernos que estudam a tradição que escolheram.
https://harpia.fandom.com/pt-br/wiki/Categoria:Praticantes_conhecidos_no_Brasil
PARTE 3
FILOSOFIA
POR QUE PRATICAR HEMA?
Por Denis Cabrera
Especificamente, nos assaltos livres muitas vezes não há preocupação por ter sido
atingido, porque é tudo simulação e ser atingido não tem um custo associado como seria na
vida real – a própria vida, o mais provável.
Tentamos simular um duelo "real" até a morte. É impossível para nós para recriar
completamente o ambiente, é claro, e, especificamente, é impossível recriar o estresse, medo e
adrenalina que deve vir de tal situação.
O melhor substituto que encontramos para simular esse estresse é a competição: uma,
onde apenas uma única estocada ou corte bem colocado é o suficiente para jogá-lo fora da
corrida, assim como em um combate real.
A prática de esportes é fundamental para a saúde e bem-estar do ser humano. Ela ensina
valores fundamentais, como a autoconfiança, a inclusão social, o trabalho em equipe e o
respeito pelas outras pessoas. Além de um esporte HEMA são técnicas de combate que trazem
toda uma carga histórica consigo, mas ao praticá-la não se ganha apenas no conhecimento,
mas também mais saúde, confiança etc. Segue abaixo uma lista com alguns benefícios da
prática:
- Melhoria da auto-estima;
- Maior poder de concentração ;
- Condicionamento do corpo;
- Reflexos mais apurados;
- Desenvolvimento/aprimoramento da tomada de decisões;
- Convívio social;
- Humildade ao receber/dar instruções;
- Maior resistência física;
- Aumento na concentração;
- Combate à depressão;
- Fortalecimento dos músculos e do coração ;
- Manutenção da massa óssea;
- Melhora no sono;
- Combate o stress e muito mais;
Muitos praticantes (senão todos) praticam esgrima medieval por amor ao período
medieval e a mística em torno não só da época, mas de tudo que remete a ela: das espadas em
si, aos cavaleiros em armaduras e aos combates com armas brancas e, de fato os manuais de
esgrima medieval foram concebidos por cavaleiros, nobres versados nas artes da guerra, porém
há algo que deve ter sempre em mente:
Treinar esgrima medieval de maneira séria, real, envolve estudo, interesse, força de
vontade comprometimento e muito respeito, isso você, praticante, sempre deverá ter em
mente para que se crie um ambiente saudável dentro do seu círculo de treinos e aproveite de
maneira saudável os treinos.
O DECÁLOGO DO ESGRIMISTA
Quando iniciamos nossos estudos devemos seguir algumas etapas básicas para
fundamentar nossas etapas, sugerimos um início mais ou menos na ordem a seguir:
A princípio a resposta mais óbvia seria: aquela que mais lhe interessar.
Nos capítulos anteriores fizemos um breve resumo sobre as tradições mais conhecidas e
com base na sua própria pesquisa deve procurar o foco de estudo que mais lhe agrada.
Quer você esteja treinando com um florete ou uma feder (espada de treino alemã), os
acidentes podem ser graves e dolorosos, portanto, manter-se seguro e confortável é tão
importante quanto a incrível espada que você segura.
MÁSCARAS
Até os esgrimistas mais duros de HEMA preferem manter o crânio, os ossos faciais e os
dentes intocados. As máscaras de esgrima na HEMA destinam-se a proteger sua cabeça sem
obstruí-lo durante o combate. Compreender as diferenças entre os tipos de máscaras faciais
não é o conhecimento de muitas pessoas, e também não é fácil encontrar uma para si, há
vários tópicos e lojas especializadas em HEMA, logo pesquise muito antes de decidir por uma.
No Brasil, muitas vezes procuram por máscaras de esgrima olímpica, usando via de
regra as máscaras com maior capacidade de absorver impacto, modelo “1 sendo a letra
N= Newton (símbolo: N) uma unidade de medida de força, nomeada em razão de Isaac
Newton como reconhecimento de seu trabalho sobre mecânica clássica.
JAQUETAS
Elas foram feitas para proteger seus braços, costelas e outras partes do corpo, que
podem machucar se você lutar sem proteção adequada.
Dos modelos mais comuns utilizados temos as SPES, Leon Paul, PBT, Red Dragon,
Neyman e Gajardoni (todas européias), enquanto no Brasil temos as Jaquetas da Fox & Fields,
Bolsa de Idéias e no Chile a Broken Anvil.
LUVAS
As mãos são, sem dúvida, a área mais exposta na esgrima. Você pode receber um golpe
ao se defender ou atacar, especialmente ao lutar com espadas longas ou sabres.
CALÇAS
CALÇADOS
Não há, via de regra, um calçado específico para HEMA, sendo muitas vezes utilizado
um tênis de esgrima olímpica, crossfit ou simplesmente um tênis que seja confortável e que
conceda uma boa movimentação (footwork).
ESPADAS
A HEMA é uma arte marcial na qual os oponentes lutam entre si com diferentes tipos
de espadas. Geralmente existem quatro categorias principais em torneios oficiais, cada uma
diferenciada pelo tipo de arma usada.
Essas armas são: espada longa / feder, espada e broquel, rapieira e o sabre.
As Espadas Longas / Feders (nome dado as espadas de treino germânicas utilizadas nos
torneios) também são adequadas para técnicas de corte e estoque, portanto precisam ser
flexíveis o suficiente para não ferir seriamente um esgrimista com um empuxo e duráveis o
suficiente para sustentar cortes pesados.
Existem muitas espadas diferentes disponíveis, por isso é difícil encontrar a melhor para
você mas felizmente no Brasil temos talentosos fabricantes de espadas como Anderson
Tsukyiama (SCAM), Carlos Cordeiro, Vinícius Arruda, Bruno de Castro (Ordem do Grifo
de Fogo), Jonatas Staffel entre outros.
RAPIEIRAS
A rapieira ou roupeira (pois era levada ao lado do seu portador, fazendo parte da sua
roupa) é um tipo distinto de arma branca, uma espada comprida e estreita, popular desde o
período Medieval até a Renascença, que se tornou a arma mais comum daquela época,
principalmente na Espanha, Itália e Portugal nos séculos XVI e XVII.
SABRES
A categoria Sabre não é tão popular quanto as duas mencionadas acima, mas ainda é
uma categoria emocionante. Existem duas versões de sabres, usadas principalmente nas
competições de HEMA: sabre de duelo e militar.
Geralmente, as espadas usadas nesta categoria podem executar cortes e estocadas e, com
um movimento adequado do broquel, você pode criar aberturas para sua espada realizar o
ataque. O broquel (entre 9 "e 14" de diâmetro (23 - 35 cm)) é geralmente feito de madeira com
uma saliência e aro de metal. Geralmente pesa o mesmo que a espada, que deve ter cerca de 90
cm de comprimento.
Uma das dúvidas mais comuns quando se inicia é se existe algum grupo perto de onde
você mora. De modo a facilitar sua pesquisa o projeto Harpia está catalogando os grupos de
HEMA espalhados pelo país, tanto os em atividade quanto os que já existiram:
https://harpia.fandom.com/pt-br/wiki/Categoria:Grupos_-_Associações
Antes de decidir abrir seu próprio grupo de estudos de HEMA, sugerimos que você
pesquise grupos próximos. Talvez não treinem a arma/tradição que deseja, mas pode ser que
dentro do grupo haja um ou dois interessados na área que você tem interesse e com isso pode
criar um núcleo interno. Obviamente pode acontecer de discordar da filosofia ou sistemática
do grupo e assim optar por criar um grupo próprio e, sendo assim, preparamos uma pequena
lista de tarefas que o ajudarão a iniciar sua própria organização.
INICIANDO SEU PRÓPRIO GRUPO DE HEMA
Aqui está uma lista de 8 coisas que você pode fazer para iniciar seu próprio clube de
esgrima HEMA:
Se você deseja ser visto e encontrado por novos membros em potencial, precisa de um
site e de alguns canais sociais (FB, IG, Twitter, etc.).
A maneira mais fácil de encontrar outros membros é perguntar aos seus amigos se eles
querem participar. É sempre mais fácil desenvolver suas habilidades se houver mais pessoas
envolvidas no processo.
Quando você começa a pesquisar qual equipamento seria melhor para você, pode ficar
um pouco confuso, comece pesquisando os equipamentos que citamos acima.
Pode ser ao ar livre ou uma sala, não importa, desde que seja seguro e não muito caro.
Uma organização sem fins lucrativos, faculdades e clubes esportivos podem ser boas opções.
Existe muito material nos tratados de combate, assim como autores modernos com
manuais de treino a respeito desses tratados, o que é muito recomendado, visto que muitas das
dúvidas sobre forma e aplicação das técnicas que pode ter no começo já foram amplamente
testadas e discutidas por autores modernos em fóruns e treinos, poupando o tempo de pesquisa
e frustração de um iniciante e algumas escolas como Academia Duello (www.duello.tv),
Sword Carolina (www.swordcarolina.com) ou o The Old Sword Club
(www.theoldswordclub.com) são exemplos de grupos com aulas on-line.
Autores como David Linholm e Christian Henry Tobler (tradição germânica), e Guy
Windsor (Fiore dei Liberi) são ótimas referências de estudo.
É sempre uma sensação e uma experiência incríveis se conectar com outras pessoas que
pensam da mesma forma. Se você participar de eventos, leia as regras dos torneios, para poder
competir e não fazer parte da multidão porque não possui o equipamento adequado.
A hospedagem de eventos é uma história totalmente diferente. Você precisa estar ciente
das regras mais recentes ou sempre pode copiar as regras dos torneios HEMA mais populares,
sempre mantendo contato com os organizadores e com sua devida autorização.
8- Aproveite a viagem
Organizar um clube é um trabalho árduo, mas a jornada e as pessoas que você conhecerá
são tudo o que importa.
ESTRUTURA DE UM GRUPO
Será o responsável pelos passos iniciais de qualquer novo praticante, podendo esse com o
tempo instruir novos membros, e utilizar outros métodos de treino com base em suas
pesquisas e estudos.
Um grupo - via de regra, depois de consolidado, possui como “espinha dorsal” pelo
menos um membro “Sênior” (o mais ativo/antigo em atividade no grupo), um ou mais
estudantes (membros que já estudam a um certo tempo com os membros mais antigos e já os
auxiliam nos treinamentos, em especial com os recém chegados), e iniciantes (como o próprio
nome diz, praticantes recém-chegados). Há também praticantes “ocasionais”, desde curiosos
que vão a algumas aulas e depois não aparecem mais, a membros que por tempo ou outra
situação aparecem para treinos esporádicos.
DOS TREINOS
Aos que desejam treinar esgrima medieval, devem se pautar pelas regras de conduta do
grupo, para que se crie um ambiente saudável e proveitoso para todos na prática da arte e seu
desenvolvimento. As regras de conduta impõem limites, direitos e obrigações, sendo algumas
direcionadas a alunos, outras a instrutores e outras, a todos os membros.
Segurança
Por se tratar de uma arte de combate, é evidente que haverá contato físico, logo acima de tudo
preze pela segurança sua e de seus colegas. Evite golpes muito fortes, certifique-se de que sua
máscara, luva etc, estejam bem ajustadas, cuidado com golpes em áreas desprotegidas e as evite.
Respeito
O respeito e a cortesia devem pautar os treinos, não é permitido nenhum tipo de insulto,
discussão ou briga, ataques a um colega no treino e/ou fora deles, sob risco de expulsão
imediata. Você tem todo o direto de não gostar, mas tem a obrigação de respeitar. Também
não é aceito nenhum tipo de preconceito racial, religioso ou sexual. Sabemos que brincadeiras
existem e sempre existirão, mas deve haver cuidado com palavras e gestos obscenos.
Humildade
Tanto alunos quanto instrutores devem manter a humildade, ambos devem dar um bom
exemplo, serem pacientes no ensino/aprendizado e de maneira nenhuma criarem animosidades
entre si.
Camaradagem
Além de treinar uma arte de combate, nos reunimos por causa de um interesse em comum: a
paixão pela esgrima medieval. Um clima de camaradagem vai ampliar seu círculo de amigos,
seus conhecimentos (já que vão poder partilhar de outras coisas pós-treino) e o fará ganhar
mais respeito com os colegas.
DA CONDUTA DO INSTRUTOR E REQUISITOS PARA INSTRUÇÃO
Cada instrutor deve ter consigo mesmo este pensamento antes de iniciarqualquer aula:
Quanto maior for sua experiência, maior deverá ser o seu exemplo, logo, para ser instrutor
além de conhecimento e técnica preza-se acima de tudo o caráter.
Conhecimento
Para correr, você deve antes aprender a andar. Aprenda os nomes dos golpes suas posições e
aplicações, execute-as sob a supervisão de um instrutor mais experiente, estude suas
progressões, para saber exatamente o que está fazendo e falando. Domine o que pretende
instruir, estude sempre e revise.
Experiência
Humildade
Você não sabe tudo. Tendo conhecimento, experiência e aprovação de outro instrutor, o
aluno passará a ser instrutor, sob observação dos membros mais antigos e depois, se necessário,
sozinho. Mas seja sob supervisão ou não, deverá manter humildade e cortesia com os demais.
Responsabilidade
Instruir vai lhe trazer funções adicionais além de golpear e explicar golpes, mas também
verificar equipamentos, ensinar como usá-los corretamente, como fazer sua manutenção,
organizar os alunos, ser mais ativo em questões internas do grupo, resolver pendências com
alunos e em cima disso tudo treinar para manter-se apto a instruir, e estudar cada vez mais.
Como instrutor erga voz em tom alto e claro para que entendam suas instruções, mas
NUNCA use desse tom para ofender o aluno, ou ridicularizá-lo, se o aluno errar 6 vezes, sua
função é corrigi-lo até acertar na sétima e assim por diante.
Postura
Evite conduta inapropriada, agora você é um exemplo a ser seguido. Nada de fotos estúpidas
com material de treino (seja no local ou não), se for postar algo no grupo, faça uma revisão
ortográfica, tenha cuidado redobrado com seu equipamento, chegue se possível com
antecedência, não venha de ressaca, leia e colabore mais com artigos, estude mais e pratique
mais. Seja um exemplo!
Reunião pré-treino
O pré-treino em si
Mesmo com tudo já definido, recomenda-se que os instrutores cheguem em horário mais cedo
para uma última conversa antes de começarem a aula. O instrutor que conduzirá o treino
deverá ser amparado pelos colegas, o ajudando na orientação dos alunos e, se necessário,
participar das demonstrações dos golpes e suas aplicações.
Segurança
Recomendações
Mesmo que domine o tema revise antes, ensaie o quê, como e quando dirá. Não abuse da sua
autoridade, não mande aluno pagar flexões, não o ofenda, nem faça nada que o ridicularize na
frente dos demais. Exija golpes corretos, se o aluno não o fizer, corrija-o até fazer
corretamente.
Peça aos alunos mais experientes orientar os recém-chegados, além de economizar tempo e não
atrapalhar os mais antigos, é uma ótima preparação para um futuro instrutor, e este poderá ser
avaliado como se sai ensinando os outros.
Pós treino
Avalie o grupo como um todo, faça observações com base no que viu no treino e fale de
maneira coletiva (observações pessoais devem ser feitas no treino, diretamente com o aluno),
elogiando os pontos positivos e cobrando os pontos nos quais devem trabalhar mais para
melhorar. Faça deste momento uma hora para conversar sobre a filosofia aos membros,
AGRADEÇA a presença, se possível registre tudo em fotos e vídeos, tanto para estudar o
treino como para guardar de recordação a presença de todos. Se o tempo permitir saia com os
colegas para beber, rir e descontrair.
As lições aprendidas são mais bem absorvidas assim e cria-se um laço especial entre seus irmãos
de armas.
Do mesmo modo que os instrutores devem ter postura e serem comedidos em suas
palavras e ações o comportamento do aluno deverá ser exemplar. Já que está dispondo do seu
tempo para treinar uma arte tão rara nos dias de hoje, então não desperdice seu tempo (e o dos
instrutores e demais alunos) com atos tolos e desnecessários.
Humildade
Com o advento da internet é possível aprender muito sobre qualquer tema, inclusive esgrima
medieval, porém querer trazer seu conhecimento só virtual pouco acrescenta ao grupo, que já
tem uma didática pronta e trabalha em cima dela.
Entenda que você está começando e como tal deverá mais ouvir e aprender do que qualquer
outra coisa.
Sinceridade
Não tenha medo de dizer que não entendeu. Se a explicação não ficou clara peça ao instrutor
que repita. Burrice não é você não entender, e sim mesmo tendo um instrutor na sua frente
não tirar a dúvida.
Compromisso
Tente não se atrasar, muito menos faltar. Evite ainda mais faltas seguidas ou um longo tempo
sem treinar, além de ficar para trás em relação aos colegas.
Estudo
O treino vai além da aula prática. Leia, pesquise, acompanhe fóruns, treine sozinho em casa,
se prepare fisicamente, estude!
Consciência
Se você pratica/praticou outra arte marcial, mas está em um treino de HEMA, atente as
instruções e as execute de acordo. Talvez na sua arte marcial a pegada com a espada seja
diferente, o golpe seja executado de outra forma, ou até mesmo a postura seja outra, lembre-se
que no momento você não está praticando sua arte marcial, mas sim um treino aonde o
novato é você, independente de quanto tempo treina em outra arte. Claro que praticantes de
outras modalidades tendem a absorver as técnicas de forma mais rápida, ainda assim serão
estudantes como os demais. Caso queira fazer uma comparação entre as artes, pergunte antes
se pode fazê-lo e de preferência depois do treino para não atrapalhar o andamento da aula.
Como em toda arte marcial existem bons e maus praticantes, muita atenção a
determinadas atitudes dentro de um ambiente de treino das HEMA:
“Mestres”
Com raríssimas exceções - como o Mestre Andrea Lupo Sinclair da FISAS por exemplo -
cuidado ao comparecer em um treino e um dos responsáveis se auto-denominar “mestre”,
“sensei”, “Grão-Mestre” e outras aberrações do tipo. Em sua grande maioria, praticantes
com um pouco mais de conhecimento se denominam no máximo instrutores, pedem para
serem chamados pelo nome ou apelido, não permitem serem chamados de mestre e não tratam
os praticantes menos experientes como alunos, mas sim colegas de treino logo, muito cuidado
com “mestres” nas HEMA.
Exigências
Cobrar por mensalidade ou aula é um meio dos grupos terem algum recurso para manutenção
de equipamento, aluguel do local e outras despesas, porém, cuidado com valores abusivos, se
informe e pesquise caso desconfie dos valores cobrados. Também muitos grupos de estudo que
já tenham um certo tempo de atividade costumam ter ou saber de algum fornecedor de
material para HEMA e vão indicar alguns fornecedores para compra, mas caso ofereçam
material com valor muito superior ao verificado com outros fornecedores, não aceitarem que
compre de outro lugar a não ser com eles ou com quem indicam, algo está muito errado.
Educação
Grupos de estudo são um ambiente agradável para a pratica das HEMA, seja pelo aspecto
esportivo seja pelo aspecto cultural. Cuidado com ambientes aonde há gritaria, xingamentos,
ameaças e posturas do tipo. Claro que há ambientes aonde os membros permitem certas
brincadeiras e liberdades uns com os outros, mas dentro do seu bom senso avalie cada postura.
Perseguição
Nunca aceite tal comportamento. Caso seja assediado de qualquer forma dentro de um grupo
retire-se e exponha a situação para os demais membros, dependendo da gravidade tome todas as
medidas legais cabíveis e exponha sua situação em fóruns de HEMA.
Saindo de um grupo
Às vezes não houve nenhuma briga, ameaça, assédio ou qualquer coisa do tipo, mas algo não
está certo, talvez a frequência dos treinos, o método de estudo ou simplesmente para você não
é aquilo que deseja para seus estudos/treinos. Se for esse o caso, agradeça e gentilmente
informe sua saída. Caso julgue pertinente explique como se sente e o que causou sua saída do
grupo, talvez seja um ponto que ninguém percebeu e pode ajuda-los a melhorar, além de
deixar aberta a possibilidade de um retorno, algum projeto conjunto no futuro e claro,
manter uma boa relação com os agora ex-colegas de treino.
A saída de seu antigo grupo foi (ou não) tranquila, e você está decidido a criar seu próprio
grupo, algo normal, mas cuidado com críticas aos antigos colegas e cuidado com seu novo
local de treino: evite ocupar o mesmo espaço, ou algum local próximo, soa como provocação,
sua cidade não deve ser tão pequena que tenham de treinar no mesmo lugar.
PARTE 5
FUNDAMENTOS
ASPECTOS TÉCNICOS
"E antes de todas as coisas que você deve saber e entender
é que a espada é apenas uma arte e ela foi concebida
e pensada centenas de anos atrás."
- Johannes Liechtenauer
Muito foi dito aqui sobre a espada, mas ao manuseá-la deve-se entender sua anatomia e
funcionalidade, abaixo um diagrama com as partes de uma espada. Alguns termos não são
padrão, podendo sofrer variação.
Ricasso - encontrado em algumas espadas, o ricasso é a parte sem fio da lâmina, próxima à
guarda. Era normalmente usada em espadas mais pesadas para permitir segurá-las com a outra
mão, se necessário.
Guarda - peça de metal que impede a espada do oponente deslizar até o punho e cortar a sua
mão.
Punho - sendo a empunhadura da espada, um punho é normalmente feito de couro, arame ou
madeira. Ele é preso à espiga da lâmina para proporcionar uma forma confortável de
empunhar uma espada.
As formas de se pegar a espada chamadas aqui de pegadas, definem o tipo de ataque a ser
realizado e também o tipo de guarda que está se usando. Os termos aqui citados são
uniformes.
Pegada prono: Mãos fechadas com as palmas das mãos olhando para baixo.
Pegada alternada: Cada uma das palmas das mãos olham para um lado diferente.
Pegada neutra ou de martelo: Pegada aonde o punho está em vertical, de fato como se
segurasse um martelo.
POSTURA
Cada ação, seja de ataque, defesa ou contra ataque deriva da tomada de posição em
função da avaliação pró-ativa de uma série de fatores que envolvem:
DIREÇÃO/ORIENTAÇÃO
No raio de ação do esgrimista as tradições falam sobre a "cebola", que define um pouco
as direções do ataque, em frente atrás, esquerda e direita, acima e abaixo.
MARCHA
Se refere ao modo de andar e recuar frente ao adversário, ou seja, os passos, feitos de
forma ordenada, definindo seu avanço, recuo, giro e afundo.
Marcha de avanço
Marcha em linha reta em direção ao adversário.
Marcha de recuo
Indo para trás, recuando sem perder de vista o adversário.
LUTA
Aqui observando os tipos de luta que temos e podemos definir os modos de combate,
com as suas modalidades:
Luta envolvente
Luta de contato físico, com travas, estrangulamento e derrubadas.
Luta de recondução
Usa a força do adversário a seu favor, para desequilibrá-lo, ou então troca-se de
posição/guarda para forçar nova postura do oponente.
Luta de contato
Uso do pomo da espada e todo tipo de golpe que pode lesionar e por assim minar as
forças/defesas adversárias.
JOGO DE PÉS
Parte de uma boa postura com a espada envolve o seu jogo de pés e pernas.
A postura básica consiste no pé esquerdo a frente, podendo variar com o pé direito.
O SELO
A PORTA
Analisando o conceito de combate homem a homem, temos o conceito da porta, ou seja: uma
área a sua frente aonde devemos passar, entrar e sair através de uma área específica.
Observando as guardas e suas instâncias, então enxergará a porta e como através das guardas
temos a noção do campo de visão e as suas aplicações em combate.
PARTE 6
PRATICANTES
PRATICANTES DE HEMA
“Alguns homens são como espadas: feitos para lutar.
Pendure-os, e enferrujam.”
- Donal Noye, As Crônicas de Gelo e Fogo, Vol. II: A Fúria dos Reis
Existem muitas vertentes nas HEMA, não apenas no aspecto marcial, como lança,
espada longa, espada e broquel etc, mas também nas vertentes de prática e estudo em si.
Não que um palestrante não tenha interesse em traduzir ou competir ou que seja
impossível de encontrar pessoas que atuem em áres diversas das HEMA, mas também não é
raro encontrar pessoas mais dedicadas a uma área do que a outra.
ERUDITOS
Em geral são tradutores e “ratos de fóruns”, podem levar horas pesquisando um termo
adequado para uma tradução e discutir por mais outras horas a aplicação correta de um golpe
ou termo e suas origens históricas, o tipo de arma e até as vestimentas.
Não são os mais assíduos em torneios, mas se tomam parte é mais para testar a teoria dos
golpes e técnicas do que necessariamente ter a obrigatoriedade de vencer.
INSTRUTORES
Formado em sua grande maioria por hemaístas com mais tempo de treino e estudo.
Conhecem um pouco de cada dos grandes manuais, tem um conhecimento razoável da tradição
que praticam, costumam utilizar como referência de estudos autores modernos, que já
escreveram obras sobre os manuais de combate tradicionais.
Com o tempo, podem abrir mão de participar de torneios em favor dos seus colegas de
treino – os quais ele pode ter treinado ou ter ajudado em treinos, partindo para atuar em
outras áreas, como arbitragem, palestras, avaliação de ranque, direção de grupos e associações.
ORGANIZADORES
COMPETIDORES
São duelistas por natureza. Os competidores costumam dar mais ênfase aos sparrings dos
treinos do que na teoria das técnicas em si, são ávidos participantes de campeonatos, sempre
buscando a vitória e títulos nos torneios, sendo muito determinados a ganhar cada vez mais
posições nos rankings de HEMA.
PALESTRANTES
Os palestrantes podem ser desde instrutores mais antigos debatendo sobre as técnicas da
sua tradição a tradutores com material mais recente ou artigos recém-traduzidos para o
português que julgue interessantes para a comunidade HEMA, atuando em workshops ou nos
próprios torneios de HEMA ou eventos medievais de forma a divulgar as artes européias.
ÁRBITROS
Dotados de raciocínio rápido e focados, são amantes das HEMA interessados muitas
vezes no caráter marcial, podendo ser um dos organizadores do evento ou um convidado de
fora avaliando as HEMA na região. Possuem treinamento específico para arbitragem vindo
aos eventos muitas vezes como convidado.
ADMIRADORES
COMPANHEIROS
Geralmente parentes, namorados ou namoradas dos praticantes, pessoas que talvez não
treinem (ou treinam pouco) e não participam de torneios, mas apoiam seu par em eventos.
ESTILOS DE LUTADORES EM HEMA
A grande variedade de estilos em HEMA assim como em outras artes marciais, gera
variados tipos de esgrimistas, que adaptam seu próprio estilo a tradição escolhida.
Enquanto alguns manuais sugerem um ataque rápido para acabar a luta de imediato,
outros falam em uma boa defesa para achar um espaço e atacar.
Em 2016 a página “Sword Fight Alexander” sugeriu que temos basicamente três tipos de
esgrimistas em HEMA:
Ofensivo
O popular ataque primeiro, costumam ser os primeiros a terem a iniciativa nocombate,
atacando com explosão e velocidade, golpeando seguidamente até conseguirem pontuar.
Defensivo
São mais pacientes e adotam a tática de estudar e procurar brechas no jogo adversário, treinam
bastante sua defesa e podem se valer dessa tática para minar um adversário ofensivo.
Contra-ofensivo:
Uma mistura dos dois estilos acima, pode não tomar a inciativa no começo do assalto, mas
não será tão paciente como um esgrimista defensivo, pode responder a um ataque de imediato
ou bloquear um ou dois golpes e em seguida partir para o combate golpeando seguidamente.
Podem se valer desse estilo para surpreender um adversário ou anular uma sequência de golpes.
VARIAÇÕES
Embora cada praticante tenha um estilo próprio, pode-se mudar de um combate para
outro, um ofensivo pode adotar um estilo defensivo ao lutar contra um adversário mais
pesado de modo a cansá-lo por exemplo, ou um instrutor defensivo pode ser ofensivo contra
um inIciante para desenvolver sua defesa e contra ataque.
Algo como "esgrima curta" ou "esgrimista curto" (sem relação a altura) em livre tradução.
São geralmente caracterizados como combatentes próximos. Eles usam manobras rápidas de
estoque e avanço para encurtar a distância rapidamente e cercar em uma medida aproximada.
Muitas vezes, eles usam "zwerch" (golpes cruzados na horizontal) agressivos e cortam combos
para impor pressão e criar aberturas. Um esgrimista ofensivo.
Esgrimista Externo
Esgrimistas externos geralmente preferem manter seu oponente em um espaço mais amplo.
Geralmente, o esgrimista utilizará golpes e ataques rápidos e de longo alcance para explorar
aberturas e pontos fracos. Os ataques geralmente se limitam a ataques singulares ou combos
curtos. Um esgrimista defensivo.
Contra-esgrimista
"Parece que lutarei com Danny em seguida. Ele é um lutador clássico. Eu preciso
manter a linha central, cobrir minha cabeça na aproximação e aproveitar o chão para colocar
pressão nele."
(Arto Fama, lutador conhecido por sua forma fluída e fácil adaptação ao jogo adversário).
PARTE 7
TORNEIOS
TORNEIOS DE HEMA MAIS CONHECIDOS
"Se você quiser realmente saber se esgrima é uma
arte ou ciência, ouça minhas palavras."
-Philippo Vadi.
Para os interessados, aqui estão alguns dos torneios de HEMA mais conhecidos na
Europa e Estados Unidos:
SWORDFISH
COMBATCON
LONGPOINT
Existem muitos outros torneios de HEMA ao redor do mundo, como o Capitol Clash
Hema Open, Bratislava Fecht, Dutch Lions Cup entre outros.
TORNEIOS NO BRASIL
Ainda não temos uma regularidade de torneios no Brasil no mesmo estilo dos acima
citados, mas há vários registros de eventos nacionais, como os torneios da Guilda no Rio de
Janeiro, o Excalibur em Brasília e o Torneio Nacional de Espada Longa, o Torneio
Paranaense de HEMA realizado pela Ordem do Grifo de Fogo e o Torneio de HEMA da
Batalha Cênica Salvador.