Você está na página 1de 10

Biocompostagem Doméstica com Minhocas

A Biocompostagem Doméstica com Minhocas dá uma valiosa contribuição, na


solução de dois grandes problemas actuais do ambiente do planeta:
- Falamos do excesso de “lixo” orgânico e do destino que lhe é dado, pois tanto os
aterros, como a incineração, são soluções ambientalmente discutíveis, tendo entre
outros problemas a criação e libertação de gases tóxicos e o custo energético.
- Falamos também do problema da degradação e do envenenamento dos solos de
cultivo, consequência da utilização intensiva de todo o tipo de fertilizantes de
síntese e elementos de combate a pragas de origem química.

Na “Biocompostagem Doméstica com Minhocas” assistimos a uma solução


ambientalmente correcta em vários aspectos:
- Os resíduos são reciclados junto ao local onde são produzidos, não criando assim
mais custos no seu transporte e sobrecarga nos aterros.
- Por outro lado, criamos uma forte valorização desses resíduos, tornando-os em
produtos biológicos de alto interesse na revitalização dos solos, na fertilização
biológica das plantas e protecção integrada de todo o ecossistema.
- Todo este processo funciona em aerobiose (presença de oxigénio) não
contribuindo para emissões de metano, como acontece em processos industriais de
compostagem anaeróbica.
- Tem ainda uma função fortemente reeducadora e responsabilizadora no ser
humano, sobre os processos de reciclagem da matéria orgânica na Natureza, dando
especial importância ao princípio do retorno (nos processos da Natureza não há lixo
nem desperdício).

A Biocompostagem com Minhocas, é um processo aeróbico (na presença de ar) que


utiliza bactérias e fungos para cozinhar os resíduos que as nossas amigas minhocas
vão ingerir, dejectando depois o precioso húmus.

Biorecycle ecominhocas – Soluções para sustentabilidade ambiental! 1


Porquê as Minhocas?

As minhocas são de longe dos maiores decompositores do planeta e os maiores


produtores de húmus.
Entre todas as espécies de minhocas existentes no mundo, só um reduzido numero
se pode criar em cativeiro.
De entre as que se criam em cativeiro, destacam-se a “Eisenia foetida” para os
climas temperados como o nosso, a “Eudrilus euginae” para os climas tropicais e a
“Dendrobaena octaedra” para os climas frios.
A minhoca “Eisenia foetida” é um animal invertebrado, aeróbio com respiração
cutânea, pertencente à classe das Oligoquetas, família Lumbricidae.
A minhoca é hermafrodita, isto é, apresenta os órgãos reprodutores masculino e
feminino, num mesmo indivíduo. No entanto ela não se pode autofecundar,
necessita por isso de um parceiro para o acasalamento.
Em geral as minhocas acasalam uma vez por semana, reproduzindo-se durante todo
o ano, duplicando a sua população a cada cerca de três meses. Após o
acasalamento, cada uma põe um ovo com cerca de dois a três milímetros amarelo
esverdeado parecendo uma pêra minúscula. Após cerca de vinte e um dias de
incubação, nascem no mínimo duas minhocas.
As minhocas nascem brancas, parecendo um cabelo branco ondulante, ao fim de
poucos dias vão ficando rosadas, até ao vermelho que lhes dá o nome mais comum
(minhocas vermelhas). Tornam-se adultas por volta dos três meses, ostentando o
clitelo, um anel mais grosso a um terço do comprimento do corpo, que faz parte do
sistema reprodutivo.

Biorecycle ecominhocas – Soluções para sustentabilidade ambiental! 2


As minhocas alimentam-se de matéria orgânica pútrida, são por isso saprófogas,
nunca ingerindo matéria viva (algumas pessoas confundem-nas com lagartas e por
isso têm medo que elas comam as raízes das plantas).
Ingerem por dia o equivalente ao seu peso, em material húmido, previamente
“cozinhado” por bactérias e fungos, tão importantes como as minhocas neste
processo, sorvem a matéria pois não possuem dentes (não mordem).
Dejectam sessenta por cento do que ingerem, sob a forma de minúsculos grãos
negros, o Húmus!

Ao passar pelo sistema digestivo da minhoca os alimentos são tratados com


carbonato de cálcio responsável pelo equilibrado ph do húmus e são altamente
enriquecidos em flora bacteriana e ainda são higienizados.
Apesar do ar frágil e indefeso das minhocas, estas segregam através da pele,
elementos químicos altamente complexos, que permitem eliminar patogénicos e
higienizam o ambiente em que se encontram, eliminando por exemplo o odor.
De notar que da pele das minhocas são extraídos compostos conhecidos na
medicina e na farmacologia pela sua grande capacidade de cicatrização e
regeneração dos tecidos, bem como no tratamento de bronquite, asma e
hipertensão.
São talvez dos poucos animais que habitam e se reproduzem no seio das próprias
fezes, que servem por exemplo de protecção aos ovos em incubação.
Até hoje, os cientistas, não descobriram nenhuma doença de que as minhocas
possam sofrer.

Características gerais das minhocas Eisenia foetida:


Comprimento: 6 a 8 centímetros.
Peso: 0,7 a 1,0 gramas.
Longevidade: todos os autores referem mais de cinco anos.
Ph: neutro 7,0 mas com boa tolerância.
Humidade: 70 a 85%
Temperatura: 14 a 25 ºc. – óptima:19 a 20 ºc.
Respiram pela pele, necessitando de bastante oxigénio, são fotofóbicas, os raios
ultra-violeta causam-lhes a morte em poucos minutos, razão pela qual, quando as
destapamos, rapidamente se esgueiram para baixo, desaparecendo no ambiente
húmido e escuro da cama.
Como inimigos e predadores, temos as formigas, os ratos, as toupeiras e muitos
pássaros que se deliciam com esta verdadeira iguaria com 80% de proteína.

Biorecycle ecominhocas – Soluções para sustentabilidade ambiental! 3


Biocompostagem de jardim com minhocas

Pode ser realizada em diversas caixas e contentores de diversos materiais e ainda


em compostores de jardim em plástico. Poderá ser realizada em pilhas diversas, ou
para maiores quantidades de matéria orgânica em camas ou mesmo canteiros
atingindo tamanhos significativos.
Em termos práticos e para um jardim e ou horta, o melhor funcionamento
consegue-se com caixas em madeira, podendo-se usar estrados de madeira tratada
1x1m à venda nas lojas de jardinagem e bricolage, estes têm espaços entre as ripas
que permitem a respiração.
Executam-se de acordo com o local, a arte de cada um e as ferramentas
disponíveis.
Deverão formar aproximadamente um cubo com um metro de lado.
É importante que a sua localização permita um fácil acesso, tanto na proveniência
dos resíduos, como na utilização do produto final. A distância é um inimigo fatal
que com o tempo desencoraja a sua regular utilização.
Também muito importante é a disponibilidade de água, esta não tem de ser
potável, mas desde que os animais domésticos a bebam, é boa. Nunca serão
necessárias quantidades significativas, desde que se adoptem as protecções
necessárias tendo em conta o clima da época, no entanto vai ser necessário
certamente manter a cama húmida nos meses mais secos.
Deve-se dar preferência a um local sombreado no verão e com sol no inverno.
O sistema comprovadamente mais prático e que garante uma utilização continua, é
constituído por dois biocompostores contíguos, em que as minhocas circulam
livremente entre eles pelos intervalos da madeira.
Vai-se enchendo o biocompostor com camadas de resíduos em que a diversidade é
a melhor receita.
É sugerida a utilização de um triturador de jardim para aumentar e adaptar o tipo
de resíduos a aproveitar desde ervas até podas de árvores. O triturador permite
estilhaçar os resíduos vegetais, sem os empapar pois a asfixia é a principal origem
de problemas e maus cheiros.

Biorecycle ecominhocas – Soluções para sustentabilidade ambiental! 4


As minhocas deverão ser colocadas junto com a cama que as acompanha, num
canto do biocompostor, migrando livremente para onde elas encontrem o melhor
ambiente e alimento.
Ao colocar-se por exemplo uma camada de relva cortada, esta vai fermentar e só
depois as nossas amigas minhocas entraram em acção.
Quando o primeiro biocompostor estiver cheio, começa-se a encher o do lado,
deixando as minhocas sossegadas a trabalhar.
Quando as minhocas tiverem comido a maior parte da matéria orgânica, vão migrar
para o segundo biocompostor, deixando o primeiro em estado de se utilizar o
húmus para as plantas.
Em média, apenas cerca de oitenta por cento das minhocas migram, mas não faz
mal juntar minhocas às culturas, pois estas acabam por se alimentar de restos de
matéria orgânica, existente na cultura.
Quanto aos materiais que podemos reciclar, estes vão desde todos o resíduos
vegetais da cozinha mais papel, cartão, jornal e todos os restos de culturas da
horta, do jardim, do pomar e das camas dos animais de criação.

Biorecycle ecominhocas – Soluções para sustentabilidade ambiental! 5


Biocompostagem doméstica com minhocas

Muitas pessoas acham impróprio ou até pouco higiénico, fazer biocompostagem


dentro de casa, mas o que é certo, é que em vários países, muitas pessoas com
consciência ecológica, o fazem há bastante tempo, de tal forma que se
comercializam hoje biocompostores evoluídos, optimizados e patenteados em todo
o mundo. Também existem diversos livros de autores com autoridade na matéria,
que ultrapassaram há muito o amadorismo.
Podemos fazer Biocompostagem doméstica com minhocas em diversos tipos de
caixas e recipientes, no entanto, aconselha-se a utilização de caixas de madeira
tratada, ou os biocompostores de plástico reciclado, com sistema de fluxo contínuo
com tabuleiros de rede sobrepostos e recolha de húmus líquido.

Onde colocar o Biocompostor doméstico?


Essencialmente não o esconda! Não se envergonhe de ter preocupação ambiental,
vai ver que os seus amigos vão admirar e até apreciar o assunto, mesmo que tudo
comece com um “que nojo!” Essencialmente deve estar perto da fonte de resíduos
para ser prático e não haver a desculpa de não utilizar porque está longe.

Biorecycle ecominhocas – Soluções para sustentabilidade ambiental! 6


É interessante a localização mencionada por alguns autores de livros, pois desde a
mesa de café da sala até debaixo da própria tábua de corte na bancada da cozinha
encontram-se ideias verdadeiramente apaixonadas pelo assunto.
De qualquer forma e qualquer que seja o local que se escolha, terá de se ter em
conta questões como a temperatura, a humidade e a ventilação.
Desde que conduzido com algum cuidado, não exige muito dispêndio de tempo nem
tem operações muito complicadas. De início pode existir o medo de matar as
minhocas, mas com o tempo ganha-se prática e sensibilidade e tudo fica fácil.
A capacidade de colocação razoável de resíduos no biocompostor, é medida pela
sua superfície e é de aproximadamente 500 gramas, por cada décimo de metro
quadrado, por semana.
A produção de resíduos orgânicos por cada ser humano pode variar enormemente e
só em termos de abordagem poderá variar entre 500 gr e 1 Kg por semana.
Podemos reciclar resíduos orgânicos da cozinha, tais como cascas de fruta e restos
de legumes, pão, bolos e bolachas, batatas, massa, arroz, borras de café incluindo
o filtro de papel, casca de ovos, guardanapos, jornais e cartões.
Materiais a não colocar, são todos os não biodegradáveis, dejectos de animais
domésticos, restos de carne e peixe, lacticínios e gorduras. Convém também não
exagerar nas cascas de citrinos.
Não é aconselhado o uso de batedeira ou triturador, com a ideia de tornar os
pedaços mais pequenos e acelerar o processo, pois apesar de parecer que ajuda,
pode contribuir para asfixiar a cama. E isso é tudo o que não se pretende, a falta
de oxigénio é a principal causa de maus odores, este é um processo essencialmente
aeróbico, aliás, a cama deve ser remexida amiúde para arejar e os resíduos novos
devem ser envolvidos na cama, não depositados.

Biorecycle ecominhocas – Soluções para sustentabilidade ambiental! 7


O Húmus

As minhocas são as maiores produtoras de húmus, do planeta, ingerindo, digerindo


e dejectando matéria orgânica, que transformam no mais rico fertilizante biológico
existente, o Húmus!
O húmus é a máxima expressão da matéria orgânica, devendo em grande parte as
suas extraordinárias características, à sua elevadíssima flora bacteriana, calculada
em dois mil milhões de bactérias vivas e activas por cada grama.
É rico em todos os macronutrientes (azoto, fósforo, potássio, cálcio magnésio e
enxofre) e micronutrientes (manganês, ferro, cloro, cobre, zinco, cobalto, boro e
molibdénio) e ainda microorganismos humidificantes alcalinos (rhizovium –
fixadores de azoto atmosférico).
O húmus pode ser usado junto às plantas pois não queima as raízes e nunca se
aplica demais pois o seu efeito é tão imediato como duradouro, beneficiando,
corrigindo e enriquecendo o solo, mas também conferindo protecção às plantas
devido à sua carga bacteriana.
Estimula o desenvolvimento das raízes das plantas que se tornam mais capazes de
absorver água e nutrientes do solo.
Aumenta a resistência das plantas a pragas e doenças.
Aumenta a capacidade de infiltração de água (efeito de esponja), reduzindo a
erosão dos solos.
O húmus é um poderoso revitalizador de solos intoxicados pelos produtos químicos,
repondo o equilíbrio biológico.
Mantém os níveis de temperatura e ph do solo.
Activa a vida no solo, favorecendo a reprodução de microrganismos benéficos às
plantas.
O húmus equilibra a estrutura do solo, suavizando efeitos de erosão, compactação
impermeabilização e desertificação.
Relativamente à camada fértil do solo (manta morta) o húmus apresenta cinco
vezes mais azoto, duas vezes mais cálcio, quatro vezes mais magnésio, sete vezes
mais fósforo e onze vezes mais potássio.

Biorecycle ecominhocas – Soluções para sustentabilidade ambiental! 8


O húmus líquido

O húmus líquido (chá de húmus) é negro e com um agradável cheiro a terra, que
contém todas as características do húmus sólido e ainda a facilidade da utilização
em fertirrigação e aplicação foliar.
Recentes pesquisas ciêntificas referem os benefícios da flora bacteriana do húmus
líquido na aplicação foliar (pulverização) para prevenção antifungicida.
Cria uma camada protectora nas folhas, criando resistências e evitando doenças.
O húmus líquido pode ser obtido através dos biocompostores domésticos com
receptor próprio na base e torneira.
No exterior existem processos mais evoluídos para o obter, mas a forma mais
simples consta de colocar um pouco de húmus sólido num balde e deitar água em
jacto de mangueira, produzindo assim uma aguada escura ( um chá) que depois de
deixar assentar um pouco é um líquido extraordinário para fertilizar qualquer
planta, árvore, relvado, ou até mesmo uma horta.

Biorecycle ecominhocas – Soluções para sustentabilidade ambiental! 9


Autoria

Textos e fotos: Paulo Diogo

Bibliografia

Stu Campbell: “Deixe Apodrecer!” – Manual de Compostagem; Publicações Europa-


América;

Carlo Ferruzzi: “Manual de Minhocultura”; Biblioteca agrícola litexa

George Pilkinton: “Composting with Worms”; eco-logic books - UK

Mary Appelhof: “Worms eat my Garbage”; Flowerfield Enterprises - USA

Loren Nancarrow and Janet Taylor: “The Worm Book” Ten Speed Press – USA

Aristeu Peressinoto: “Manual Prático de Minhocultura”; Anhumus – Brasil

Biorecycle ecominhocas – Soluções para sustentabilidade ambiental! 10

Você também pode gostar