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UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI

CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

KEILA APARECIDA SILVA

RESENHA CRÍTICA

DIAMANTINA

2021
A BNCC, configurando-se como uma previsão constitucionalmente expressa, que
depois foi retomada na LDB de 94, nas Diretrizes Curriculares Nacionais e no Plano
Nacional de Educação, constitui-se como um princípio a ser alcançado na educação
brasileira . 

Diante do estudo dos materiais apresentados sobre o tema, percebe se que, na


opinião da maioria desses profissionais, apesar de ter sido constituído sobre o
argumento de não ser um limitador da atividade do professor e que se consagraria
explorando e respeitando a diversidade brasileira, na realidade, principalmente nas aulas
de educação física, essas características não poderão ser observadas. Muitas das
opiniões aqui exploradas chamam a atenção para o caráter engessador e desprovido de
promoção da criticidade necessária para desenvolver essa disciplina em relação à BNCC

Se de um lado, um especialista que participou do processo da assunção deste


projeto defende que o mesmo se ergue sob princípios de integração e desvinculação
com interesses que não sejam educacionais, de outro, professores da educação física
criticam como a implementação da base nacional curricular comum pode promover a
segregação e de como o mesmo sucumbe à interesses do mercado, ficando a cargo de
grandes editoras traçarem o destino do ensino brasileiro. 

Em seu texto, Neri (2018) traduz sua contrariedade à adoção de procedimentos nos
moldes da BNCC quanto critica de forma veemente a característica atrelada ao modo "
tradicional" em detrimento do modo crítico de ensinar e aprender. Para ele, o cenário
político brasileiro interferiu diretamente no conteúdo da BNCC, adotando uma postura
que não privilegia um processo ativo e de troca de informações e ao incentivo do pensar
criticamente. 

No vídeo do canal ‘Conexão Educação Física”, discute-se muito o engessamento


das perpectivas acerca da educação física no Brasil. Os profissionais que deram sua
contribuição sobre o assunto demonstraram o receio na possibilidade de ficarem reféns
dos métodos ali propostos, diminuindo consideravelmente a margem de liberdade para a
construção do ensino, que é peculiar de acordo com as vivências das pessoas envolvidas
nesse processo.Alguns indagam a respeito da obrigatoriedade da adoção da BNCC,
principalmente no país caracterizado por tanta diversidade e peculiaridade regionais.

A maioria das críticas no material estudado diz respeito ao aspecto em que a BNCC
pode não compreender as diferenças, tão características do Brasil. Inclusive, fala-se que
esse “não compartilhamento” é colaborar com o aprofundamento das desigualdades
sociais no país.

Importante destacar como a adoção de um “currículo” nas escolas impacta


diretamente a vida do aluno que passa por ela, já que o mesmo constitui-se como
norteador e filtro do conhecimento que será transmitido para aquele aprendiz, ou seja, o
ensinado na sala de aula é perpetuado ao longo da sua vida, daí a importância de se
estabelecer de maneira consciente esses conteúdos. Na aula de educação física essa
necessidade se faz mais importante, já que, em detrimento de matérias como português
e matemática, a mesma fica em segundo plano e é entendida, na prática, como um
horário pouco produtivo, principalmente na maior parte das escolas públicas brasileiras.

Refletir a BNCC é tocar também nessa ferida, principalmente no sentido de que


questionar as mudanças que a mesma vai trazer para tornar o momento da aula da
educação física proveitosa e que realmente explore as nuances da cultura corporal de
movimento. Muito se discute sobre a falta de interesse dos alunos e das dificuldades do
professor em oferecer os ensinamentos dessa disciplina, mas é preciso se atentar
também às condições que são oferecidas pelo Estado.

O que se pode observar é que, para esses profissionais, mesmo pretendendo


disseminar ideais bem vistos pela comunidade escolar em geral, como reconhecimento
da diversidade, pensamento crítico, liberdade de ensino e aprendizado de acordo com as
especificidades locais, na prática, a BNCC vem atuar de forma contrária a todos esses
princípios.

Foram discutidos também o alcance que as práticas e discursos empresariais vem


exercendo nas políticas educacionais no Brasil. É realmente a melhor opção sucumbir
aos interesses do setor econômico, em detrimento das práticas de ensino e de uma
educação realmente efetiva e que capacita os brasileiros a pensar criticamente e se
inserir na sociedade como um todo como indivíduos dotados de possibilidades de trilhar
seus próprios caminhos? O alcance da educação na vida desses estudantes, que poderia
e tem o potencial de desenvolver habilidades sociais e de integração está sendo
realmente aproveitado, ou ela vai continuar em segundo plano, quando um documento,
como mencionado por um professor, prega o direcionamento apenas para resolver
questões numa avaliação? Essas e outras indagações compreendem todo um aglomerado
que o profissional de educação física deve enfrentar.

Muitos profissionais dos materiais estudados chamam atenção também para o fato
do texto da BNCC, em relação à educação física, apresentar lacunas e até mesmo
armadilhas para a disciplina da educação física, já que privilegia o processo de
alfabetização, valorizando áreas como português e matemática e descaracterizando o
importante papel de outras disciplinas e deixando-as somente como pano de fundo.

Chama-se atenção também para o fato de que o texto aprovado da base nacional
comum demonstra nuances que diminuem a possibilidade do engajamento político das
pessoas que fazem parte desse processo, abandonando as perspectivas coletivas e
proporcionando o monopólio de grupos editoriais, por exemplo.

Resta saber qual será a atuação dos professores a partir das orientações da BNCC,
se vai haver uma pressão para se adequar ao texto proposto. É preciso suscitar
questionamentos acerca da sua adoção, de forma que se atenda a realidade prática do dia
a dia da aula de educação física no Brasil, e não tão somente prender-se a teorias
desconectadas dessa realidade. 

Desta forma, é preciso que se incentive a adoção de posturas não conformistas com
a realidade aqui destacada. Em uma sociedade democrática se faz importante as
discussões sobre tais questões , e mais importante ainda, a existência da possibilidade de
se discuti- las no contexto da educação física. A importância dessas discussões é
proporcionar ao profissional dessa área as bases para um pensamento crítico, que leve
em conta todo o contexto econômica político e social da sociedade, já que é nele que
irão se desenvolver essas práticas. 

Por fim, faz-se extremamente necessário refletir sobre os caminhos que estão e que
irão ser traçados na educação física dentro do contexto do ensino nacional, de forma que
a mesma assuma o seu papel de destaque , e não, de mero coadjuvante no ensino e
aprendizado do futuro cidadão. 

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