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Praticas Discursiva... Volume VI
Praticas Discursiva... Volume VI
PRÁTICAS DISCURSIVAS
E ENSINO DE LÍNGUA(GEM)
Organizadores
Lucrécio Araújo de Sá Júnior
Tatyana Mabel Nobre Barbosa
Natal, 2013
PRÁTICAS DISCURSIVAS
E ENSINO DE LÍNGUA(GEM)
Organizadores
Lucrécio Araújo de Sá Júnior
Tatyana Mabel Nobre Barbosa
Natal, 2013
REITORA REVISORA
Ângela Maria Paiva Cruz Nara Juscely Minervino de
Carvalho Marcelino
VICE-REITORA
Maria de Fátima Freire Melo Ximenes CAPA
Ismênio Souza
DIRETORA DA EDUFRN
Margarida Maria Dias de Oliveira EDITORAÇÃO ELETRÔNICA
Quatro Z Dois
EDITOR
Helton Rubiano de Macedo PRÉ-IMPRESSÃO
Jimmy Free
SUPERVISÃO EDITORIAL
Alva Medeiros da Costa SUPERVISÃO EDITORIAL
Alva Medeiros da Costa
CONSELHO EDITORIAL
Cipriano Maia de Vasconcelos (Presidente) SUPERVISÃO GRÁFICA
Ana Luiza Medeiros Francisco Guilherme de Santana
Humberto Hermenegildo de Araújo
Herculano Ricardo Campos
Mônica Maria Fernandes Oliveira
Tânia Cristina Meira Garcia
Técia Maria de Oliveira Maranhão
Virgínia Maria Dantas de Araújo
Willian Eufrásio Nunes Pereira
249 p.
ISBN 978-85-425-0031-8
Apresentação ................................................................................................9
*1 Pelas leituras, sugestões e críticas, agradeço à Profa. Dra. Anna Elizabeth Balocco;
ao Prof. Dr. Orlando Vian Jr.; ao Prof. Mst Paulo Sérgio Santos; à Profa. Dra. Taysa
Damaceno e à jornalista e Ma. Leticia Gambetta.
INTRODUÇÃO
1
Este capítulo é uma espécie de documento, no qual apresentamos aspectos norteadores que
baseiam a ABORDAGEM SOCIOLÓGICA E COMUNICACIONAL DO DISCURSO,
fundada por nós dentro da linha de pesquisa Análise Crítica do Discurso, do Grupo de
Pesquisa Estudos do Texto e Discurso (GETED), da UFRN. Contribuíram com dados
para elaboração deste capítulo todos os meus orientandos, a quem agradeço (IC: Rafael
Cruz, Danielle Brito; Mestrado: Leticia Gambetta Abella, Paulo Sérgio Santos, João
Paulo Cunha, Rodrigo Slama; Doutorado: Derli Machado, Taysa Damaceno, Sílvio Luis
da Silva, João Batista Júnior e Guianezza Meira). Eles fazem parte do momento histórico
(presencial e virtual) em que foi anunciada a criação da ASCD, em 20 de outubro de
2011, na UFRN, pelo Programa de Pós-graduação e linguagem (PPgEL), na aula de
Tópico V, Linguagem e Globalização, ministrada no semestre 2011.2. Agradeço a Deus.
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Abordagem Histórico-Discursiva
M. Foucault
(Ruth Wodak e Martin Reisigl)
Indutiva, estudos de
Teoria Crítica
(Gerlinde Mautner)
Análise de dispositivo
(Siegfried Jäger e Florentine Maier) S. Moscovici
perspectiva geral
Dedutiva
Abordagem Dialético-Relacional
(Norman Fairclough) M.K. Halliday
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2
Agradeço ao amigo Orlando Vian Jr. por algumas das informações deste parágrafo.
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4
Visite-nos em www.ascd.com.br
5
Guy Bajoit é Doutor em Sociologia do Instituto de Ciências Políticas e Sociais, da
Universidade Católica de Lovaina, Bélgica.
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PERÍODOS
ANTIGO TRANSIÇÃO NOVO
TEMÁTICA
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Evolução
Mutação
Modalidades de Reforma
mudanças social e
cultural
Ruptura Revolta
Revolução
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Devemos ao doutorando Silvio Luiz a sugestão para essa ideia.
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O autor também trabalha as identidades coletivas. Não nos sobra espaço para tal. No
resumo em Bajoit (2008, p. 143), atendendo a um modelo industrial, teríamos as seguintes
identidade coletivas: 1) o individuo, em relação com o grupo, pode desenvolver: uma
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8
Todos os exemplos da Revista Claudia são da Dissertação de Guianezza Meira,
apresentada ao Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem, UFRN, em
fevereiro de 2012. Porém, a classificação é nossa. Os exemplos de blogger é uma
contribuição de Danielle Brito, mestranda UFRN. O exemplo de música é de Rodrigo
Slama, mestrando UFRN.
9
Sublinharemos, em alguns casos, o posicionamento do sujeito que deu origem a
classificação. Quando esta envolver o texto (quase) todo, deixaremos sem ênfase.
10
As palavras foram mantidas conforme o acordo ortográfico da época na qual foram
escritas.
39
Exemplo 2:
Não tinha medo o tal João de Santo Cristo
Era o que todos diziam quando ele se perdeu
Deixou pra trás todo o marasmo da fazenda
Só pra sentir no seu sangue o ódio que Jesus lhe deu [...]
(Faroeste Caboclo, Renato Russo – Legião Urbana: Que país é este?, 1987).
• Convence-se de que é melhor se situar no meio termo, atender às
expectativas das instituições, dos pais, etc., e também o que ele
deseja para si mesmo. Esse é o caso de um sujeito adaptador.
Exemplo 3:
Eu tenho um desejo muito forte, chamando-se, assim, o desejar para
ajudar os outros, e não no sentido “convencional“ [...]. Sinto-me cons-
tantemente dividido entre a vontade de fazer a diferença e pensando
que eu deveria arrumar um emprego ‘real’. Estou sempre lutando con-
tra mim e meu desejo de seguir em frente. Eu sei que posso fazer a
diferença. Eu apenas tenho que me convencer que eu posso fazer isso!
. Eu sou um pai, solteiro, desempregado [...] Sinto-me um peso para a
sociedade e me sinto pressionado pela família e segurança social ape-
nas para “conseguir um emprego” - então eu estou indeciso entre o
meu ‘dever’ e as ‘expectativas’ e desejo de minha alma (http://www.
tap4health.com/i-want-to-help-people-but-everyone-says-i-should-get-
-a-real-job/ acesso, 20 de março de 2012).
Por sua vez, quando o sujeito, trabalhando sua identidade
desejada (ID):
• Ambiciona viver em conformidade com seus ideais, desejos, pro-
jetos. Se ele define atingir o “que é” e aonde quer chegar como
sendo prioridade em suas decisões, e querem ser verdadeiros,
temos o sujeito autêntico.
Exemplo 4:
“Tenho fé, Claudia, que não demore a cassação dos tabus do Brasil. O
do sexo em primeiro lugar. Sou professôra primária e me confrange a
ignorância em que as crianças são mantidas a respeito do amor e da
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Exemplo 7:
Hoje em dia eu escuto Fresno, e não me envergonho disso. Muitas pes-
soas se assustam quando descobrem, mas eu costumo assumir meus
defeitos. Não tento defender nem tento convencer as pessoas a gosta-
rem de Fresno. Mas eu escuto, e eu gosto [...] (retirado do blog http://
risosponto.blogspot.com.br/2009/05/confissoes-de-um-emo.html, acesso, 20
de março de 2012).
• Assume uma atitude mais flexível. Quando ele é mais adaptável,
mais pronto para autocrítica e mais disposto a renovar seus pro-
jetos, mesmo que para isso precise voltar ao ponto zero, então
estamos diante de um sujeito inovador.
Exemplo 8:
“Estou casada há 17 anos (tenho 37). Há poucos meses comecei a tra-
balhar como gerente de uma butique. Estou me sentindo outra, mas
sou valorizada e ganhei independência econômica [...]”. N. M., Rio de
Janeiro (Revista Claudia, setembro de 1983).
• Combina esses dois extremos, isto é, adapta-se, mas também
permanece fiel as suas decisões anteriores; orientando-se pelas
circunstâncias, pelas oportunidades ou, mesmo, pelos obstácu-
los, ele pouco a pouco modifica seus fins e seus meios, tenta
viver a vida que tem e a que deseja (vivem, nas horas vagas, uma
‘segunda a vida’, em que cultivam sua vocação). Temos, nesse
caso, o sujeito pragmático. Quanto a este sujeito, Bajoit (2008,
p. 187), em sua investigação com jovens, relata o caso de jovens
que se comprometem apenas o estritamente necessário com o
que a sociedade exige deles, e investe o restante do tempo com
atividades prazerosas, ligadas à criatividade, por exemplo.
Exemplo 9:
“Vou deixar algo bem claro aqui sobre ‘trabalhar com o que gosta’.
Tenham em mente que trabalho é uma atividade que existe unicamente
pra lhe prover dinheiro, pois sem ele ninguém faz nada nesse mundo [...]
Ninguém trabalha por prazer. Você até pode contar essa mentira pra si
mesmo, mas eu te garanto: você só trabalha porque é obrigado. E não
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adianta dizer que tem muita gente rica que continua trabalhando. Esses
não trabalham. Pra eles o trabalho virou lazer [...]
Engana-se quem pensa que o trabalho enobrece o homem. O trabalho
acaba com o homem. Tira, de cara, metade do seu dia. Faz ele se can-
sar, estressar e perder o ânimo pras coisas que realmente valem a pena
nesse mundo [...]
Quem “faz o que ama” vive numa ilusão de que é possível trabalhar e
ainda assim se divertir. Não é, amigos. Invariavelmente, se você aban-
donar um emprego que detesta pra “seguir seus sonhos” e fazer algo
que supostamente ama, é uma questão de tempo até que você passe a
odiar aquilo também. É como colocar sua música favorita como des-
pertador. Trabalho é algo ruim, chato, cansativo e penoso. Jamais trans-
forme seu hobby favorito em trabalho, pois você desenvolverá um ódio
diabólico por algo que supostamente deveria gostar de fazer. [...]
O segredo do sucesso é ter em mente que o trabalho é necessário para
ganhar dinheiro e, com isso, conquistar o que realmente importa.
Lazer, viagens, bens materiais também, não sejamos hipócritas. Seria
o máximo se pudéssemos viver de luz e ter todo o tempo do mundo pro
amor, pra família e pro prazer. Mas o mundo não funciona assim.
Não tenha vergonha, nojo, preguiça ou ojeriza ao trabalho. Apenas
encare-o da forma como ele deve ser encarado. Como um meio, não
como um fim. Pode ter certeza que você vai ser bem mais feliz dessa
forma, pois suas expectativas estarão sendo depositadas nos lugares
certos” (http://cademeudorflex.blogspot.com.br/2012/01/vou-trabalhar-
-com-o-que-eu-gosto.html – acesso em 08 de abril de 2012).
Lembramos que o trabalho (do sujeito) sobre si também
implica um trabalho sobre o outro e um constante vai e vem de relações
entre o eu e o outro. O resultado desse trabalho (sobre os outros) tam-
bém conduz o sujeito a reformular o trabalho sobre si (BAJOIT, 2008).
O autor ainda acrescenta:
Em efeito, os indivíduos são capazes de mudar as lógicas e sal-
tar de uma a outra, segundo as circunstâncias e os campos re-
lacionais nos quais atuam. Não se conduzem necessariamente
da mesma maneira na escola, na família ou no trabalho. Por
isso, essas lógicas estão sempre presentes ao mesmo tempo em
suas condutas e mais que escolher uma ou outra, devem me-
diar constantemente às tensões entre elas (BAJOIT, 2008, p.
200-201).
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Um dos principais teóricos da Comunicação para Mudança Social.
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E de outros modelos culturais também porque entendemos que nossa socialização é
sempre resultados de diferentes modelos culturais que recebemos como herança.
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REFERÊNCIAS
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INTRODUÇÃO
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1
As letras maiúsculas são usadas na GSF como referência a categorias semântico-
funcionais, de natureza abstrata, visto que se localizam no plano virtual do sistema, ou
seja, da língua enquanto potencial semântico.
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5. AS VOZES E OS DITOS
2
Na GSF, a macrofunção interpessoal organiza a interação, o desempenho de papeis
sociais e as expressões de opinião e de atitude.
3
Na GSF, faz-se uma distinção entre oração projetada (aquela que traz o conteúdo do
dizer) e oração projetante (a oração que introduz o discurso relatado).
4
No original, em inglês: “Rio school shooting: first three funerals held for victims”. A
tradução do inglês é de responsabilidade desta pesquisadora.
68
5
No original: “Brazilian media describes killing by former pupil as the worst school
massacre in the country´s history”
6
No original: “Girls were the main target of killer, say pupils from Tasso da Silveira
school”.
7
No original: “the families of three young girls gathered to say their final farewells 24
hours after the worst school massacre in Brazilian history”.
8
Cf. “their final farewells”, aqui traduzido como “seu adeus”.
9
Em inglês, no original: “She was so sweet and so calm. She was daddy´s favourite. She
wanted to be in the navy”.
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Cf.: “death separates us from our loved ones but God has a plan”.
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No original: “The family is devastated. She was just a child”.
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Cf.: “hundreds of elderly mourners sat trembling, weeping and wailing”.
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Em inglês: “friends of the third child reacted with anger and tears”.
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No original: “The government should be ashamed – where is the security in our
schools? Where is it safe anymore? The moon?”.
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Cf.: “We show our feelings; it is uncontrolable”.
16
Em inglês, no original: “Beltrame described the shooting as the “cowardly act” of a
“sick person””.
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Cf.: “We have to fight strongly against this culture of armament, against this culture that
makes people [...] commit this kind of atrocity”.
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No original, em inglês: “At a sun-scorched Murundu cemetery in west Rio de Janeiro,
the families of three young girls gathered to say their final farewells 24 hours after the
worst school massacre in Brazilian history” (ênfase da pesquisadora).
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REFERÊNCIAS
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I thought I was going to die.” Asked if she would return to the school,
the girl shook her head amd said: “I am leaving.”
Brazil’s justice minister, José Eduardo Cardozo, promised a
government “crusade” against gun ownership. “We have to fight stron-
gly against this culture of armament, against this culture that makes
people … commit this kind of atrocity,” he said.
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companies. All rights reserved.
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Aurea Zavam
Universidade Federal do Ceará
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
1
A data entre colchetes refere-se à 1ª edição da obra original.
2
O ano de publicação da edição original em russo (Estetika slovesnogo tvortchestva)
é 1979. Sobre o ensaio Os gêneros do discurso, incluído na obra em questão, Faraco,
Castro e Tezza (2001) afirmam ter sido escrito em 1952-1953.
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1. O FENÔMENO DA TRANSMUTAÇÃO
estrito de um texto que se repete” (KABATEK, 2003, p.5 – grifo do autor) quanto como
um modo reconhecido de enunciar.
Ainda que reconheçamos a distinção estabelecida por Rojo (2005), para quem os estudos
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8
Nas palavras de Bakhtin, os gêneros secundários “simulam em princípio as várias
formas da comunicação verbal primária” (2000, p. 325 – grifo original).
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9
Tomamos aqui o gênero em sua totalidade (tema, composição e estilo), tal como propôs
Bakhtin (2000).
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Cf. Távora (2003).
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Cf. Komesu (2004).
12
Cf. Laurindo (2005).
13
Cf. Rodrigues (2001).
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ANÚNCIO
A MÃE E A FILHA
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O gênero anúncio continua sendo reconhecido como tal, porque o propósito permanece
o mesmo: vender um produto ou oferecer um serviço.
16
Apresentando variação em sua designação – hibridização, superposição,
intertextualidade intergenérica –, o mesmo fenômeno é abordado, respectivamente, por
Marcuschi (2002); Alves Filho (2005); Koch, Bentes e Cavalcante (2007), entre outros.
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17
Gênero da Antiguidade Clássica, do campo do sério-cômico, mistura “temas
especificamente filosóficos com assuntos de retórica e dialética, salpicados de
hilariedade” (REGO, 1989, p.32). A denominação sátira menipeia, ou simplesmente
menipeia, se deve a Menipo de Gádara, filósofo do século III a.C., que se opunha à sátira
romana, aquela que condena. O autor, que em sua obra deixava em aberto a condenação
ou o julgamento, deu ao gênero a forma clássica e foi, segundo Bakhtin (2005, p. 91),
quem consagrou a sátira, “gênero carnavalizado, extraordinariamente flexível e mutável
[...] capaz de penetrar em outros gêneros”.
18
Entendido como “o sistema dispositivo-suporte-procedimento de memorização,
articulado a uma rede de difusão” (DEBRAY, 1995, p.218) ou, ainda, “o midium não
é um simples ‘meio’, um instrumento para transportar uma mensagem estável: uma
mudança importante do midium modifica o conjunto de um gênero de discurso”
(MAINGUENEAU, 2001, p.71-72 – grifos originais).
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T ran sm u tação
C riadora
G ênero
novo
In ovadora
Extern a In tern a
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Termo adotado por Marcuschi quando trata da “intertextualidade inter-gêneros”. A
expressão “configuração híbrida” é sugerida, segundo o autor, por Ursula Fix (1997),
para falar de um gênero assumindo a função de outro (cf. MARCUSCHI, 2002, p. 31).
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Embora o editorial, hoje, não seja assinado, reconhecemos que no início do jornalismo
brasileiro essa característica ainda não tinha se firmado completamente (ZAVAM,
2009).
21
Discurso gráfico, segundo Prado (apud SILVA, 1985, p. 39), “é um conjunto de elementos
visuais de um jornal, revista, livro ou tudo que é impresso. Como discurso, ele possui a
qualidade de ser significável; [...] O discurso gráfico tem como objetivo ordenar nossa
percepção. É ele que nos dá o fio da leitura [...] é fundamentalmente subliminar”.
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Agradeço à Edineuda Teixeira, que, mesmo não sendo mais minha bolsista, me socorreu
de última hora e me enviou a imagem capturada.
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para divulgação na internet, em sites especializados para este fim (cf. http://
coisasqueamoemcharmed.vilabol.uol.com.br/fanfics_faq.html).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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para a contribuição que uma abordagem diacrônica pode dar tanto para
os estudos sobre gêneros do discurso, ainda que em sua realização
atual, quanto para o ensino-aprendizagem desses complexos artefatos
discursivos. Os alunos, certamente, ganhariam, e muito, se lhes fosse
possibilitado conhecer (e trabalhar com) a historicidade da língua e dos
textos/gêneros.
REFERÊNCIAS
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INTRODUÇÃO
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TENDÊNCIAS CARACTERÍSTICAS
- contexto inicial da imprensa, com elevadíssimo
analfabetismo;
- função essencialmente opinativa;
- discurso pomposo e veemente;
Político-panfletária - fase de polêmicas pessoais e violência física e verbal;
- linguagem marcada por vocativos, imperativos,
repetições, interjeições, subjetivismo, adjetivação e
pontuação enfática.
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2.1. O editorial
O editorial jornalístico é um texto de comentário, argumenta-
tivo e com ampla utilização no contexto escolar, mas não com a mesma
frequência em suas versões iniciais do século XIX. Na prática jornalís-
tica, os editoriais, de certo modo, se destinam a agir sobre os interlocu-
tores e, como os demais gêneros discursivos, refletem o espaço-tempo
2
Levantamento feito pela bolsista de iniciação científica PIBIC/UFRPE/CNPq Carolina
Maria Bezerra Cavalcanti, para o desenvolvimento do seu plano de trabalho intitulado
“Jornal O Carapuceiro: Práticas Sociais de Leitura e Escrita a Serviço da Moral no
Século XIX e a Transposição para o Ensino”, sob a orientação da professora Valéria
Severina Gomes.
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2.2. A fábula3
A fábula é um gênero bastante frequente na composição de
O Carapuceiro e estava, normalmente, de acordo com o editorial que
aparecia estampado nas páginas iniciais do jornal. Ou seja, as fábulas,
Este tópico partiu das discussões realizadas com a bolsista de iniciação científica PIBIC/
3
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boa parte das vezes, estavam de acordo com a crítica que Lopes Grama
fazia à sociedade e, dessa forma, assumiam também um caráter opi-
nativo. Portanto, além de retratarem determinados usos da língua no
século XIX, retratavam também o contexto sócio-histórico da época.
No exemplo que segue, a fábula dá continuidade ao editorial intitu-
lado “Os mentirosos”, que discute o vício da mentira, publicado em O
Carapuceiro nº 78, de 9 de novembro de 1833. Nota-se, no exemplo 3,
que a fábula, com dois gatos como personagens, reforça a crítica de um
periódico, que preza pela moral, aos que usam a mentira e a lábia para
adquirir vantagens.
Ex.3: Fabula (de Florian)
Os dous gatos
Dous gatos, que descendiao’ do fa-|mozo Róe-toucinho; e ambos dignos
| de tao’ nobre origem, differiao’ to-|davia nos respectivos corpos; porq’
| hum, que era mais velho, estava | gordo de papar toucinho, e debai-|xo
do seu felpudo arminho dava ares | de hum conego: tao’ roliço era elle,
| nedio, fresco, e bello. O outro (coi-|tadinho!) só tinha pelle, e ossos. |
Todavia assim mesmo andava a cima, | e abaixo, des de manhã até a noite
| por trapeiras, pela despensa, e co-|zinha, ora andando, ora santando |
sem nunca pilhar pitança. Hum dia | emfim, que lhe faltou a paciencia,
fal-|Lou desta maneira ao seu companhei-|ro.,, Explica-me, camarada,
qual | o motivo porque passando tu a vida | sem fazer nada, e eu a traba-
lhar, | como hum mouro, a ti regalao-te | de bons pesticos, e a mim nao’
me | dao’ de comer? A rasao’ he bem | clara, respondeo-lhe o gatorro gor-
-|do, e regalao’: tu tolinhas toda a | caza para pilhar a penas hum ratinho |
magro, e pifio. E nao’ he este o meu dever? (Tornou-lhe o quixo-|so): Sim,
nao’ ponho duvida: mas | eu nao’ me arredo de ao pé de meu | amo, e com
meus gatimanhos sei di-|vertillo: elle me admitte á sua meza, | onde lhe
agadanho os melhores bo-|cados, sem que me elle reprehenda, | pois sei
fazer me engraçado, ao pas-|so que tu, pobre tollo, só o sabes | servir bem,
e nada mais. Vai-te, | que nao” sabes viver. O segredo de | passar bem
está em ter labia, e nao | em ser util.
(O Carapuceiro nº 78, 09/11/1833).
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caso acima, a moral “O segredo de passar bem está em ter labia e não
em ser util” reforça a crítica subjacente à narrativa, sob a perspectiva
moral que norteia o jornal. Enfim, a fábula é um gênero muito versátil,
pois permite diversas maneiras de se abordar determinado assunto e
admite diversas possibilidades de leitura (nesse caso, refere-se espe-
cialmente às condutas social e política). De acordo com Pietroforte
(2007, p. 76), essas narrativas passaram por muitos lugares ao longo do
tempo: “na Índia antiga, foram contadas em sânscrito; Esopo as contou
em grego; Fedro, em latim, e La Fontaine, em francês.”.
Nos três volumes do livro O Carapuceiro: Padre Lopes Gama
(Edição fac-similar do jornal do Padre Miguel do Sacramento Lopes
Gama), da Prefeitura da Cidade do Recife e da Secretaria de Educação
e Cultura, de 1983, foram encontradas 22 fábulas traduzidas de grandes
artistas como Florian, La Fontaine e Fénelon, e algumas escritas pelo
próprio Lopes Gama. São elas:
• A Morte (Florian; O Carapuceiro, nº 56; 1833)
• Sessao’ Extraordinaria Da Sociedade dos Pescadores do alto,
Presidencia do Sr. Coringa. (Lopes Gama; O Carapuceiro, nº
35; 1833)
• O Moço e o Velho (Florian; O Carapuceiro, nº 56; 1833)
• O mocho, o gato, o patinho e o rato (Florian; O Carapuceiro,
nº 57; 1833)
• O Rapozo Pregador (Florian; O Carapuceiro, nº 67; 1833)
• Os Dous Viageiros (Florian; O Carapuceiro, nº 68; 1833)
• O Camponez e o Rio (Florian; O Carapuceiro, nº 70; 1833)
• O Jacaré e o Camorim (Florian; O Carapuceiro, nº 71; 1833)
• Os dous gatos (Florian; O Carapuceiro, nº 78; 1833)
• O Charlatão (Florian; O Carapuceiro, nº 79; 1833)
• O Avarento e seu filho (Florian; O Carapuceiro, nº 79; 1833)
• A arvore velha e o Jardineiro (Florian; O Carapuceiro, nº 80;
1833)
• O Menino e o Espelho (Florian; O Carapuceiro, nº 84; 1833)
• O Cavalo e o Potro (Florian; O Carapuceiro, nº 84; 1833)
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4
Levantamento feito pela bolsista Samara Caroline da Silva Lima Falcão.
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5
Ver a dissertação de mestrado de Rinalda Fernanda de Arruda, intitulada “Provérbios e
expressões idiomáticas como recurso de argumentação da língua na mídia”, defendida
no Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal de Pernambuco, em
2012.
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129
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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132
REFERÊNCIAS
ANTUNES, I. Aula de Português: encontro & interação. São Paulo: Parábola, 2003.
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. 1 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
BAZERMAN, C. Formas sociais como habitats para ação. In: Investigações,
16:2 UFPE, 2003, p. 123-141.
BEZERRA, B. G. Do manuscrito ao livro impresso: investigando o suporte.
In: CAVALCANTE, M. M.; COSTA, M. H. A.; JAGUARIBE, V. M. F.;
CUSTÒDIO FILHO, V. Texto e discurso sob múltiplos olhares: gêneros e
sequências textuais. v.1. Rio de Janeiro: Lucerna, 2007.
133
134
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
1
Retirado do texto intitulado Mulher, Mulheres. In: Del PRIORE, Mary (Org.) (2008).
História das mulheres no Brasil, 9 ed. São Paulo: Contexto/Editora da UNESP, p. 671.
139
1. IMPRENSA FEMININA
2
As cartas são apresentadas integralmente na seção Anexos.
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3
http://www.amulhernaliteratura.ufs.br/artigo_Nadia_Gotlib.htm_-_ftn43
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2. O ESTILO DE A MENSAGEIRA
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3. CARTAS DA EDITORA
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algo estático e de manifestação individual, mas como uma forma de prática social e de
ação das pessoas sobre o mundo e, especialmente, sobre as outras pessoas. Sob essa
perspectiva, o discurso é definido pelo autor “como uma interação entre os participantes
de um evento comunicativo em situações reais de comunicação” (1995, p. 18)
155
156
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158
CONSIDERAÇÕES FINAIS
159
REFERÊNCIAS
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PESSOA, Marlos de Barros. Da carta a outros gêneros textuais. In:
160
FONTE
ANEXOS
É demais; a tolerância tem attingido o seu ultimo grau!
Precisamos de uma completa reforma na educação moral da
mulher. Ella precisa saber que tendo intelligencia e nobres aspirações
não deve opprimir e limitar seu pensamento. Não basta que lhe arda o
cérebro o fogo da inspiração e a comprehensão do bello, é necessário
que patenteie, em linguagem clara e precisa, esses sentimentos e essas
inspirações. É mister que a suma maneira seja francamente apresen-
tada, e que a crença tradicional e sem fundamento algum que julga
que a mulher se affastando da limitada esphera intellectual que lhe
circumscreve o egoísmo da metade da humanidade não seja boa esposa
e boa mãe, seja lançada ao olvido.
Para os espíritos frivolos, a mulher instruída não póde ser boa
esposa, porque julgam que o estudo lhe rouba o tempo destinado aos
arranjos domésticos e á creação dos filhos. Empregamos aqui o termo
creação em vez de educação, porque esta só poderá ser dada por quem
a tiver, e a mulher que satisfizer a esses espíritos frívolos, há de neces-
sariamente não ter educação, e, portanto, não poderá dispensar a seus
filhos mais que a creação, a qual sem a educação nos colloca ao nível
dos irracionaes.
A mulher instruída será melhor mãe que a ignorante, prova-
-nos a experiência e attesta-nos a razão. Seria mais fácil contermos
161
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163
INTRODUÇÃO
1. DO CONCEITO DE IDENTIDADE
169
assumir-se como dono do seu dizer, ele é, ainda assim, interpelado pelo
outro.
Hall (2006), ao reportar-se à faceta da condição humana, des-
creve três concepções de identidade: i) a do sujeito do iluminismo; ii)
a do sujeito sociológico; iii) a do sujeito pós-moderno. Na primeira, ele
apresenta a concepção de um indivíduo centrado, cujas capacidades
de consciência e de ação emergiam no seu nascimento e com ele se
desenvolvia, permanecendo sempre o mesmo. Já a segunda está vincu-
lada a uma concepção mais interativa do sujeito. Desconstroi-se a ideia
do sujeito individualista, aos moldes do essencialismo, para uma cons-
trução de identidade fundada em relação ao outro, através de valores,
sentidos e símbolos manifestos pela cultura. Mas, ao estabelecer essa
relação dialógica entre o que é interno – o eu – e o que é externo – a
cultura, o sujeito tende a internalizar determinadas visões, na expecta-
tiva de estabelecer uma correlação direta entre elas, estabilizando-as,
ou seja, tornando próprio o que poderia ser alheio. A terceira concep-
ção, por sua vez, postula a desestabilização da identidade construída. A
identidade do sujeito pós-moderno torna-se uma “‘celebração móvel’:
formada e transformada continuamente em relação às formas pelas
quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que
nos rodeiam” (HALL, 1987 apud HALL, 2006, p. 13). Portanto, ela se
funda mais em razões históricas que biológicas.
Por esses fatos, o estudo do conceito de identidade e sua rela-
ção com práticas linguísticas são importantes, já que são elementos que
estão implicados diretamente. Se a língua e suas práticas são constru-
ções históricas e simbólicas – sendo o sujeito concebido na e pela lin-
guagem –, não há como postular, nos dias de hoje, uma identidade que
não seja interferida pela história e pela cultura. Nesse sentido, detenho-
-me, nas duas partes seguintes, na análise de dois conceitos: a identi-
dade étnica e a identidade linguística.
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2
Um exemplo disso são os filhos de imigrantes que nascem em território europeu: para
ganhar cidadania europeia, devem abdicar da nacionalidade de origem. Para muitos, tal
decisão representa um impasse: se, de um lado, garante-se o acesso a toda uma carga
simbólica atrelada à cidadania europeia, de outro, pode representar traição às suas
origens.
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3
No original: Hyphenated identities.
4
Dados obtidos a partir da palestra “Aspectos teóricos e práticos da Imigração
Ucraniana no Brasil e no Canadá”, ministrada por Andriy Nahachewsky, pesquisador da
Universidade de Alberta – Canadá, por ocasião do 1º Colóquio Internacional de Estudos
Eslavos, realizado na Universidade Estadual do Centro-Oeste – PR, em maio de 2009.
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5
Trata-se de uma coletânea publicada pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná,
intitulada Livro Didático Público de Língua Espanhola e Língua Inglesa, SEED – PR,
2006.
179
Segmento 1
[EU6 - 23.10.2008]
1. Profa. ↑gente, então assim, éh (:) antes da página 24, ali,
2. vocês têm a abertura do capítulo, então olhem lá: a pergunta
3.que está sendo feita, nesta primeira parte, é: ((¿Latinoamericano
4. o brasileño? ¿cómo te sientes?))
5. Aluno 1: brasileño (a professora não escuta a intervenção do
6. aluno)
7. Profa: então pensem gente, esta pergunta, assim... é uma pergunta
8. que vocês podem ter(..) várias interpretações, certo? Por quê? O
9. que será que leva uma pessoa a ser ¿latino-americano o
brasileño
10. (escreve no quadro as duas expressões) certo?/ esta é a pergunta
11. que está fazendo no capítulo. Só que trazendo esta pergunta
para a
12. nossa realidade, eu vou fazer esta pergunta: ¿cómo te sientes?
13. Brasileño/
14. A 2- [que calor
15. Profa. qué, ¿hace mucho calor? (a professora,
enquanto isso,
16. escreve no quadro várias situações de identificação: brasileiro,
17. ucraniano, italiano, polonês)
18. A 2 - põe misto aí professora
19. Profa: como? misto?
20. A 2: isso, põe de tudo um pouco aí professora.
No segmento 1, o foco do trabalho em sala de aula recai sobre
a noção de pertença dos alunos. Porém, subjacente a essa discussão,
está o conceito de identidade. A professora, tendo como pano de fundo
a temática tratada no livro de língua espanhola, através das perguntas
Escola Urbana
6
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Segmento 2
[EU - 23.10.2008]
1. Aluno 5: qual que é a pergunta?
2. Profa: ¿cómo te sientes?
3. Aluno 5: muy bien,¿y tu? (risadas geral)
4. Profa: más o menos, hoy no estoy muy bien, hace mucho calor.
5. Aluno 5: polonÊs, psora, polonês
6. (ela marca no quadro e segue adiante e dirige a pergunta para um
7. dos alunos mais tímidos e que, notadamente, sabe a língua
8. ucraniana).
9. Profa: e você?
10. Aluno 6: o primeiro.
11. Profa: o primeiro? ¿Brasileño? (O aluno apenas concorda
12. sinalizando com a cabeça que sim)
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fato que é descrito por Giampapa (2001) ao tratar das identidades hife-
nizadas. Já na linha 16, uma vez mais a professora recebe uma resposta
irônica. O aluno, ao referir-se à qualidade de turista, deixa entrever
uma identidade heterogênea, não passível de uma única formação. Por
fim, na linha 22, ele acaba respondendo ao que a professora solicita.
Além do tema em discussão, pode-se observar um jogo dis-
cursivo interessante: tomadas de turno efetuadas pelos alunos, ironias,
questionamentos em relação à proposta de trabalho, elementos que, por
vezes, desestabilizam o papel do professor na sala de aula, o que exige
constantes processos de reformulações e rearranjos na dinâmica da
interação.
Nos segmentos seguintes, (3) e (4), são articuladas outras ima-
gens a respeito das formações identitárias.
Segmento 3
[EU – 23.10.2008]
1. Profa: Então vamos XXX aqui com o Jorge. (.) o Jorge que é o
2. aluno mais estudiOSO, né? (o aluno, muito timidamente, sinaliza
3. com a cabeça que não...)
4. As: é sim psora, ESSE piá...
5. Profa: então você vai responder para só para mim ¿cómo te
6. sientes? Brasileño, ucraniano, polonês o latinoamericano?
7. (apontando para as expressões no quadro)
8. Jorge: Latinoamericano
9. Profa: ¿por qué?
10. Alunos: ihhhhh
11. Jorge: não sei
12. A 1: ele não sabe porque é parente dos índio.
13. Profa: bueno, ya es un empiezo
14. A 3 - é bugre
15. Profa - e você, Marcia, ¿cómo te sientes? (direcionando sua
16. pergunta para uma aluna)
183
Segmento 4
[ER7 – 24.05.2009]
1. Profa: ¿De dónde ha venido su familia?
2. Aluno 2: °Da Ucrania°
3. Profa: ¿Bisabuelo?
4. Aluno 2: Da Ucrânia
5. Profa: ¿Y cómo era la vida cuándo ellos llegaron hasta ahí?
(...)
6. Aluno 2: Difícil
7. Profa: Difícil.
8. Aluna 2: °Não tinham nada°
7
Escola Rural
184
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35. Profa: Eso. Creo que a través de gestos, né? É:(:) una tía mía
36. contaba que los (:) los bugres né, não sei se é assim o nome,
37. ellos destruían todo que ellos construían durante el día, o
sea,
38. ellos levantaban una cabana, una un casa, y los bugres
vinham
39. por la noche y destruían todo, no se entendían a caso que
40. estaban tomando pose de algo que era de ellos. Casi salía
41. muerte./ Muy bien, entonces ahora ustedes van a recibir un
texto
42. sobre Migraciones.
43. Alunos?: °Nã(:)o°
44. Profa: Sí
45. Alunos?: No(::)
O segmento (4), acima, trata de um enquadre interacional que
tem como foco uma atividade sobre “Relatos de Inmigrantes”. A pro-
fessora pergunta sobre a origem das famílias, do trabalho para a cons-
trução de suas casas e de sua adaptação à nova terra, a partir do resgate
de histórias de vida dos alunos e da própria professora. Assim, alunos
e professora compartilham conhecimento sobre como foi a vida dos
primeiros imigrantes. É nesse ínterim, que aparece uma vez mais a
designação aos bugres (linha 31) como etnia que também faz parte do
universo dos alunos e da professora. A narração que a docente recupera
sobre os embates entre índios e colonos recém chegados é discutida por
Seyferth (2009). Segundo a pesquisadora:
Os indígenas, ou bugres, estavam situados na natureza a ser
desbravada, conforme imagem contida no discurso oficial e na
retórica dos colonos, que eram vistos pelas autoridades e por
si mesmos como agentes da civilização. A marginalização dos
caboclos, ou “nacionais”, por sua vez, ocorreu por força dos
princípios que nortearam a colonização. A baixa densidade
populacional na maior parte do sul que, nos primórdios, mo-
tivou os investimentos na imigração, e o fato da colonização
ocorrer em áreas florestais, em grande parte inexploradas, in-
dicam que esse segmento da população não era numericamente
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Segmento 5
[EU – 23.10.2008]
1. Aluno 5: é(::) o Brasil é o país dos colono, né, psora?
2. Profa: é, ele é considerado:: na verdade, é aquilo que a gente
3. colocou naquele quadro a vez passada, o Brasil é considerado
4. que? /o país do samba, do futebol, da mulata, das praias, das
5. mulher pelada, da prostituição, das drogas:::
6. Alunos: u-hu (risadas)
7. Aluno 1: [ lá fora
8. Profa: lá fora, né! só que nós brasileiros temos que mudar
9. esta ideia, que o Brasil, que o pessoal do exterior/
10. Aluno: [até no desenho do Piu-Piu
11. apareceu ele lá dando a volta ao mundo, aí mostrou o Brasil, ô
12. loco, mostrou que era assim... ô louco!
13. Profa: [...] Então, pensem, gente, olhe, nós temos que
14. valorizar muito a nossa cultura gente, a nossa cultura é
15. maravilhosa, e quem é descendente, gente, não precisa ter
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Segmento 6
[EU – 23.10.2008]
1. Profa: y quien ha contestado ucraniano? ¿Por qué?
2. Aluno 1: porque conozco
3. Aluno 2: porque adoro
4. Aluno 3: sei lá, porque é nossa língua, porque conheço
5. Aluno 4: [porque a família é
6. ucraniana
7. Profa: muy bien, porque sé algo de la lengua, bien
8. Aluno 4: [lenda?
9. Aluno 5: LENGUA, LENGUA
10. Profa: [polonés, ¿por qué?
11. Alunos: (em alvoroço) é porque bebe vinho e não apaga
12. Aluno 5: tomam muita (?chepa)
13. Profa: [como é que é?
14. Aluno 5: falam que é porque gostam de fazer muita festa
15. Profa: ah sí, ¿por qué les gusta la fiesta?
16. Aluno 5: é sim, professora, é só nos gole xxx!
No segmento 6 são problematizadas algumas das respostas
dadas pelos alunos. Assim, essa sequência interacional produz um
fechamento no tópico. Agora as respostas aparecem vinculadas a uma
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
190
REFERÊNCIAS
191
192
DESCRIÇÃO SÍMBOLO
Entonação ascendente ↑
Entonação descendente ↓
Entonação mantida _
Pausa curta (.)
Pausa média (..) mais de meio segundo
Pausa longa (nº de segundos)
Alargamento silábico (:)(::)(:::)
Fala simultânea [texto
Interrupção Texto -
Intensidade “piano” ° texto °
Intensidade forte TEXTO
Fala acelerada >texto<
Fala lenta <texto>
Enunciados lidos ((texto))
Comentários de quem transcreve (comentário)
Falas em língua espanhola negrito
Falas em ucraniano Sublinhado
Transcrição fonética aproximada [texto]
Fragmentos incompreensíveis XXX
Fragmentos duvidosos (?texto)
Supressão de linhas (…)
8
Essas convenções foram adaptadas a partir da proposta desenvolvida pelo GREIP:
http://greip.uab.cat/.
193
INTRODUÇÃO
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205
entre si. Certamente, essa é uma tarefa que demanda um esforço muito
grande, tendo em vista a dispersão geográfica dos povos e a carência
de estudos nas mais variadas áreas sobre os povos indígenas e suas
respectivas línguas.
Embora a questão da política linguística necessite de um qua-
dro profissional multidisciplinar, o linguista, dentre outras tarefas,
pode contribuir – apoiando tecnicamente as demandas políticas e cul-
turais do povo – com a descrição e análise das línguas indígenas; com
a descrição de seu grau de vitalidade; com a proposição e discussão
de convenções ortográficas e com a investigação dos eventuais impac-
tos resultantes da introdução da escrita nessas sociedades de tradição
ágrafa.
A necessidade de aquisição de códigos alfabéticos e numéricos
para serem utilizados na escola e/ou fora dela é um tema complexo,
pois, além de envolver o estabelecimento escolar como agenciador do
processo, busca compreender os reais significados que essa aquisição
vai assumindo, na medida em que é incorporada aos vários contextos
sociais em que é utilizada. Por outro lado, compreender o processo da
passagem da modalidade oral para a escrita, bem como as questões
envolvidas com a padronização da escrita ou as regras utilizadas para
o estabelecimento da convenção é fundamental na busca de descrições
e explicações para o processo.
No caso acreano, além das questões diretamente ligadas ao
tema, apresentou-se uma situação peculiar em que algumas línguas
indígenas – também faladas no Peru e na Bolívia, países vizinhos – já
possuíam sistemas ortográficos nos seus países. Essa situação exigiu
uma tomada de posição bastante desafiadora, pois, em vez de incorpo-
rarem os sistemas já adotados, os professores indígenas e seus consulto-
res buscaram desenvolver sistemas de escrita que fossem o resultado de
suas demandas e descobertas com a escola e com a escrita, por conse-
quência. Por conta dessa situação, algumas línguas indígenas possuem
convenções ortográficas diferentes em cada lado da fronteira política,
o que, até o momento, não se configurou em uma dificuldade no inter-
câmbio escrito entre os vários falantes, especialmente os que habitam
as regiões fronteiriças e se utilizam da língua escrita na comunicação.
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210
211
212
CONCLUSÃO
213
214
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Katukina. 78 f. Dissertação (Mestrado em Linguística). Campinas: IEL/
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Recife: UFPE, 1999.
215
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217
INTRODUÇÃO
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222
223
2 Referimo-nos aos projetos “Ler, escrever e resolver problemas: pesquisa e ensino para
uma prática interdisciplinar em matemática e português” (NORONHA; BARBOSA,
2009) e “Com quais gêneros e linguagens se faz uma sala de aula? O papel do pedagogo
como mediador de múltiplas linguagens na sala de aula multidisciplinar” (BARBOSA,
NORONHA; 2009).
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RESULTADOS
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REFERÊNCIAS
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INTRODUÇÃO
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1. A PERSPECTIVA ETNOGRÁFICA
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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