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Lingua Brasileira de Sinais

Língua Brasileira de Sinais


1ª Edição

Laura Jane Messias Belem

TROL 1
Lingua Brasileira de Sinais
DIREÇÃO SUPERIOR
Chanceler Joaquim de Oliveira
Reitora Marlene Salgado de Oliveira
Presidente da Mantenedora Wellington Salgado de Oliveira
Pró-Reitor de Planejamento e Finanças Wellington Salgado de Oliveira
Pró-Reitor de Organização e Desenvolvimento Jefferson Salgado de Oliveira
Pró-Reitor Administrativo Wallace Salgado de Oliveira
Pró-Reitora Acadêmica Jaina dos Santos Mello Ferreira
Pró-Reitor de Extensão Manuel de Souza Esteves

DEPARTAMENTO DE ENSINO A DISTÂNCIA


Assessora Andrea Jardim

FICHA TÉCNICA
Texto: Laura Jane Messias Belem
Revisão Ortográfica: Marcus Vinícius da Silva e Natália Barci de Souza
Projeto Gráfico e Editoração:, Eduardo Bordoni, Fabrício Ramos, Marcos Antonio Lima da Silva
Supervisão de Materiais Instrucionais: Janaina Gonçalves de Jesus
Ilustração: Eduardo Bordoni e Fabrício Ramos
Fotografia: João José Macedo
Capa: Eduardo Bordoni e Fabrício Ramos

COORDENAÇÃO GERAL:
Departamento de Ensino a Distância
Rua Marechal Deodoro 217, Centro, Niterói, RJ, CEP 24020-420 www.universo.edu.br
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universo – Campus São Gonçalo

B428L Belém, Laura Jane Messias


Libras / Laura Jane Messias Belém; Natália Barci de Souza,
Marcus Vinícius da Silva (revisores); Eduardo Bordoni, Fábio
Ramos (ilustradores). - Niterói: UNIVERSO-EAD, 2013.

91p

1. Língua brasileira de sinais. 2. Língua brasileira de


sinais – legislação. 3. Surdez – aspectos gerais. 4. Ética

social 5. Marxismo. I. Souza, Natália Barci de, rev. II.


Silva, Marcus Vinícius da, rev. III. Bardoni, Eduardo, il.

IV. Ramos, Fábio, il. V. Título.

CDD 419

Bibliotecária: Doriza Vaz CRB 7/5790


Informamos que é de única e exclusiva responsabilidade do autor a originalidade desta obra, não se responsabilizando a ASOEC
pelo conteúdo do texto formulado.
© Departamento de Ensino a Distância - Universidade Salgado de Oliveira
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, arquivada ou transmitida de nenhuma forma
ou por nenhum meio sem permissão expressa e por escrito da Associação Salgado de Oliveira de Educação e Cultura, mantenedora
da Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO).

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Palavra da Reitora

Acompanhando as necessidades de um mundo cada vez mais complexo,


exigente e necessitado de aprendizagem contínua, a Universidade Salgado de
Oliveira (UNIVERSO) apresenta a UNIVERSO Virtual, que reúne os diferentes
segmentos do ensino a distância na universidade. Nosso programa foi
desenvolvido segundo as diretrizes do MEC e baseado em experiências do gênero
bem-sucedidas mundialmente.

São inúmeras as vantagens de se estudar a distância e somente por meio


dessa modalidade de ensino são sanadas as dificuldades de tempo e espaço
presentes nos dias de hoje. O aluno tem a possibilidade de administrar seu próprio
tempo e gerenciar seu estudo de acordo com sua disponibilidade, tornando-se
responsável pela própria aprendizagem.

O ensino a distância complementa os estudos presenciais à medida que


permite que alunos e professores, fisicamente distanciados, possam estar a todo
momento ligados por ferramentas de interação presentes na Internet através de
nossa plataforma.

Além disso, nosso material didático foi desenvolvido por professores


especializados nessa modalidade de ensino, em que a clareza e objetividade são
fundamentais para a perfeita compreensão dos conteúdos.

A UNIVERSO tem uma história de sucesso no que diz respeito à educação a


distância. Nossa experiência nos remete ao final da década de 80, com o bem-
sucedido projeto Novo Saber. Hoje, oferece uma estrutura em constante processo
de atualização, ampliando as possibilidades de acesso a cursos de atualização,
graduação ou pós-graduação.

Reafirmando seu compromisso com a excelência no ensino e compartilhando


as novas tendências em educação, a UNIVERSO convida seu alunado a conhecer o
programa e usufruir das vantagens que o estudar a distância proporciona.

Seja bem-vindo à UNIVERSO Virtual!

Professora Marlene Salgado de Oliveira

Reitora
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Lingua Brasileira de Sinais

Sumário

Apresentação .................................................................................................................................. 7

Plano da Disciplina ........................................................................................................................ 8

Unidade 1: Aspectos Gerais da Surdez – O Sujeito Surdo e suas Principais


Características ................................................................................................................................. 11

Unidade 2: LIBRAS: Língua ou Linguagem de Sinais ........................................................ 27

Unidade 3: Legislação e um pouco mais da História da Língua de Sinais ................ 39

Unidade 4: Os Aspectos Linguísticos das LIBRAS e os Mitos que cercam


a Surdez ............................................................................................................................................ 51

Considerações Finais .................................................................................................................... 86

Conhecendo o Autor .................................................................................................................... 87

Referências ....................................................................................................................................... 88

Anexos ............................................................................................................................................... 90

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Apresentação da Disciplina

A disciplina de LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais vem sendo ofertada como


disciplina curricular em quase todos os cursos de formação, tanto em nível médio
como superior, atendendo ao Decreto-Lei 5.626 de 22 de dezembro de 2005. De
acordo com o Art. 3º, parágrafos 1º e 2º, os cursos de formação de professores para
o exercício do magistério, em nível médio e superior, os cursos de fonoaudióloga,
de instituições de ensino, públicas e privadas, do sistema federal de ensino e dos
sistemas de ensino dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios devem ter,
obrigatoriamente, essa disciplina em suas grades curriculares e, optativamente,nos
demais cursos de educação superior e de educação profissional.

Na perspectiva inclusiva a qual nossa sociedade está inserida,a inclusão das


pessoas surdas vem mobilizando um novo olhar perpassado pela definição de que
a ausência da audição implica em diferença e não em deficiência. Sendo assim, a
questão pertinente ao ser surdo,vem sendo conduzida numa ótica linguística,
cabendo nesse olhar o reconhecimento das comunidades surdas como
constituídas e constituidoras de uma língua,além de possuírem uma identidade e
uma cultura específica, num contexto das minorias linguísticas. Isso se estende a
todas as pessoas inseridas nesse campo de atuação sociolinguístico , pois são
contempladas por políticas públicas que além de restituírem seus direitos civis,
vem combatendo a discriminação e promovendo a igualdade de oportunidade .

Essa disciplina destina-se ao conhecimento e aprofundamento nos seguintes


tópicos: os parâmetros linguísticos da língua de sinais, identidade e cultura surda,
as diferenças conceituais entre surdez e deficiência auditiva. A seguir, cada uma
dessas temáticas será apresentadas sinteticamente a fim de que cada aluno possa
saber sobre os conteúdos que serão estudados.

Bons Estudos .

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Plano da Disciplina

A disciplina de LIBRAS está voltada para as temáticas que abordarão: Os


Parâmetros Linguísticos da Língua de Sinais, Identidade e Cultura Surda e sobre as
diferenças conceituais entre SURDEZ e Deficiência Auditiva, organizados em
unidades de estudos,numa linguagem bastante acessível e prática, de forma a
contribuir na ampliação do conhecimento acerca da pessoa com surdez e/ou com
deficiência auditiva.

Vejamos, então, o conteúdo programático, bem como seus objetivos


específicos:

Unidade 1: Aspectos Gerais da Surdez – O Sujeito Surdo e suas Principais


Características.

Nesta unidade, vamos estudar um pouco sobre quem é a pessoa surda,


conhecer melhor esse sujeito que “não ouve”. Sua constituição enquanto
“diferente”, sua língua e demais artefatos linguísticos que os organizam em
comunidades.

Objetivo: Compreender as várias facetas que marcam a surdez e/ou


deficiência auditiva, das escolhas culturais que permitem a distinção entre
diferença e deficiência, assim como as transformações que acompanham esses
sujeitos na diversidade.

Unidade 2: LIBRAS: Língua ou Linguagem de Sinais

Nesta segunda unidade, vamos estudar um pouco da história das pessoas


surdas, sua língua e o processo pelo qual elas passam na aquisição de linguagem e
conhecimento. As leituras de mundo e aprendizagem realizadas pelo sujeito surdo.

Objetivo: Compreender os diferentes estágios na aquisição da língua de sinais


por esses sujeitos, de modalidade gesto-visual e considerada natural e, da sua
segunda língua, a língua portuguesa, de modalidade oral-auditiva que vem a ser
também, a língua majoritária da sociedade em que eles vivem.

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Lingua Brasileira de Sinais

Unidade 3: Legislação e um pouco mais da História da Língua de Sinais

Nesta unidade, vamos aprofundar um pouco mais na história das pessoas


surdas e da evolução da língua de sinais. Além disso, vamos estudar as legislações
e suas inferências no contexto atual.

Objetivo: Compreender o histórico de formação da comunidade e cultura


surda.

Unidade 4: Os Aspectos Linguísticos das LIBRAS e os Mitos que cercam a


Surdez

Nesta unidade, vamos estudar os parâmetros da língua brasileira de sinais e


desconstruir conceitos equivocados acerca da surdez.

Objetivo: Compreender a pessoa surda como um “estrangeiro” e elemento de


sua própria subjetividade.

Bons Estudos .

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Aspectos Gerais da
Surdez – O Sujeito Surdo
e suas Principais
Características

O Sujeito Surdo.

A Audição como Representação da Normalidade.

A Comunicação e o Não Isolamento.

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Lingua Brasileira de Sinais

A pessoa surda sempre esteve à mercê das inúmeras metodologias linguísticas


surgidas no transcorrer dos séculos, até quando ocupou o centro das atenções de
diversos educadores com o Congresso de Milão; que culminou na sagração da
língua oral como língua de instrução, ocasionando, assim, o fechamento de muitos
internatos e instituições para pessoas surdas, os quais negavam não só a
experiência visual desse sujeito surdo, como também a impunham a fala e
impediam o uso das línguas de sinais.

Nesta unidade iniciaremos um contato com este universo, entendendo um


pouco sobre os princípios da audição, da comunicação e como as filosofias e
metodologias que circulam no âmbito social atuam na formação dos processos
mentais da pessoa surda.

Objetivo da Unidade:

Compreender como se constitui uma pessoa surda e as interferências


exercidas pelo tipo de linguagem, por ela desenvolvida, em seu pensamento e na
sua comunicação.

Plano da Unidade:

 O Sujeito Surdo.

 A Audição como Representação da Normalidade.

 A Comunicação e o Não Isolamento.

Aproveite bem essa primeira unidade de estudo.

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Lingua Brasileira de Sinais

O Sujeito Surdo

O romance “Cem Anos de Solidão”, escrito


pelo autor colombiano Gabriel Garcia Mitos: figurativamente, representam
Marquez, narra à trajetória fantástica de uma coisas que não existem na realidade.
Trazem também para a cena seres
família liderada por um casal de primos, numa
sobre-humanos e ações imaginárias,
época marcada por mitos acerca do para as quais se faz a transposição de
casamento entre familiares, assombrada por acontecimentos reais ou fantasiosos
(desejados); ou nas quais se projetam
uma crença de que dessa união pudessem determinados complexos individuais
gerar filhos com rabos de porco. ou determinadas estruturas
subjacentes das relações familiares.
A história gira em torno das várias No caso das pessoas surdas, existem
vários mitos determinados por
gerações marcadas por encontros e terminologias que as cercam que,
desencontros ocorridos nas vidas de seus mais adiante, serão explicitadas.

membros por diversos anos, até que o último


sobrevivente consegue decifrar as escrituras
que prediziam o futuro da família. Em diversos
momentos, é difícil entender se a história
Filosofia oralista: filosofia que
segue os padrões da realidade ou se é uma
defende o aprendizado apenas da
história épica. O tema central é a solidão, pois língua oral, o Oralismo. Enfatiza o
parece que todos os integrantes da família, aprendizado da língua oral com o
propósito de aproximar o surdo, o
das mais diversas gerações, estão fadados a máximo possível, do modelo ouvinte,
conviver com ela. a fim de integrá-lo socialmente; sendo
a língua vista muito mais como
A temática poderia servir como analogia objetivo do que como instrumento do
aprendizado global e da comunicação.
aos cem anos (um pouco mais até) vividos (Definição retirada do livro Integração
pelas pessoas surdas diante de uma filosofia Social e Educação de Surdos de
Ferreira-Brito, 1993, p.27).
oralista imposta a elas, cujo pressuposto
estava na “desmutização” e na fala (oral) como
a única forma de comunicação aceita para e com as pessoas surdas (QUADROS, 2011.
p.9).

Vocês conseguem se imaginar sendo privados de suas línguas natal, materna


ou natural, de uma hora para outra?

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Lingua Brasileira de Sinais

A trajetória evolutiva das pessoas surdas


foi marcada, de certa forma, por realidades ‘Pseudoavatares’: termo metafórico
trágicas, que as levaram a um isolamento do de autoria própria, para designar
sujeitos que são, ou que poderiam ser,
restante da sociedade, tornando-as
constituídos de outra forma, mas que
‘estrangeiras’ em seus próprios países, ou em se transformam em pessoas
‘pseudoavatares’ às avessas; quando ao invés idealizadas não por elas, e sim pela
imposição de outros.
de representarem a si mesmo, personificavam
(ou ao menos tentavam) o modelo ideal, ou
seja, o ouvinte, criado e exigido para serem consideradas “pessoas normais”.

A questão da solidão foi se perpetuando e ainda é presente, por conta dos


mitos e crenças cultivados por parte da sociedade, principalmente nos seios
familiares. A imagem a seguir mostra como se educavam as pessoas surdas,
consideradas, então, como surdos-mudos.

A obra A Palavra aos surdos-mudos, de Oscar Pereira da Silva, reproduz uma lição de linguagem do Dr.
Meneses Vieira (1886). Fonte: Wikipédia.

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A Audição como Representação da Normalidade

As consequências resultantes da surdez, mesmo não sendo uma deficiência


não visível e atingindo a uma pequena parte anatômica do sujeito surdo, são
determinantes no desenvolvimento emocional, social e educacional das pessoas
surdas ou com deficiência auditiva.
A incapacidade em localizar, por meio do som, por exemplo, um objeto no
espaço, assim como em perceber indicações alertadoras e os avisos do nosso
ambiente físico faz com que esse sujeito tenha dificuldades em adquirir uma
linguagem para se servir dela e do ambiente que os circunda, de expressarem com
facilidade suas necessidades básicas. (Krech e Crutchfield, apud Fernandes, 1990, p.
38).
A audição é um dos principais canais de informação do homem, considerando
o meio em que vive, além de ser uma das principais responsáveis pela aquisição e
desenvolvimento de: pensamento, memória e raciocínio (FERNANDES, 1990, p.13).

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Lingua Brasileira de Sinais

Observem o gráfico apresentado anteriormente com desenhos onde o


confronto entre decibéis (medida do volume dos sons) e Hertz (medida da
frequência dos sons) demonstra os sons mais comuns de serem ouvidos. Cada um
deles se localiza em instâncias que precisam
de menos ou mais acuidade sonora. Quando a
dB: Decibel, unidade física de
perda auditiva ultrapassa os 90 dB já classifica
intensidade de sinal.
a pessoa com surdez profunda. Um dado
importante é demonstrado quanto a não
percepção da fala humana, obtida, por exemplo, numa conversa entre as pessoas.

Para poder compreender uma simples conversa (sem levar em consideração


os outros sons que circundam os ambientes que geralmente frequentamos –
centros urbanos, escola na hora do recreio, debates, entre tantos outros), só é
possível, sem ajuda de tecnologias, num nível abaixo dos 40 dB, quando a audição
é normal ou a perda é considerada leve.

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Lingua Brasileira de Sinais

Ao fazer uma audiometria, a pessoa é avaliada se é surda ou se possui alguma


deficiência auditiva. O padrão seguido, para a emissão de um audiograma, é o da
ANSI, que afere quanto ao grau de perda auditiva segundo os parâmetros de:

Audiograma: curva característica da sensibilidade do ouvido aos diversos sons. É


um gráfico que mostra a percepção que este faz aos sons variados. Resultado de
uma audiometria.
Audiometria: é um exame que avalia a audição e deve ser realizado por
profissional especializado – o fonoaudiólogo. O paciente fica no interior de uma
cabine, onde é testada a sua audição. O resultado é expresso em
um audiograma. Há dois tipos de audiometria: a tonal, que é considerada um
teste subjetivo para avaliar o grau e o tipo de perda auditiva; e a vocal, que
pesquisa a capacidade de compreensão da fala humana.
ANSI (American National Standards Institute): organização particular dos Estados
Unidos sem fins lucrativos que tem por objetivo facilitar a padronização dos
trabalhos de seus membros. Seu objetivo é melhorar a qualidade de vida e dos
negócios nos Estados Unidos. É conhecida por ter inúmeros padrões, entre eles o
ANSI C que serve como guia na escrita de compiladores e de programas nesta
linguagem de programação. Por ser uma entidade padrão de uma economia
forte, outras entidades semelhantes no mundo seguem alguns dos padrões
adotados pela ANSI.

 Audição normal – de 0 a 25dB;


 Perda leve– de 26 a 40dB;
 Perda moderada – de 41 a 71dB;
 Surdez severa – de 71 a 90dB;
 Surdez profunda – mais de 91dB.

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Lingua Brasileira de Sinais

E a comunicação? Onde entra nessa história de perdas e ganhos?

Importante

O Decreto-Lei 5.626/2005 em seu artigo 2º, Parágrafo único, dispõe sobre


deficiência auditiva e a perda bilateral, parcial ou total, de 41dB ou mais, aferidas
por audiograma na frequência de 500Hz; 1.000Hz; 2.000Hz e 3.000 Hz.

A Comunicação e o Não Isolamento

Se uma pessoa perde a audição antes de


adquirir linguagem, dificilmente possuirá uma
memória auditiva. Se não tiver sequer ideia de
como é pronunciada qualquer palavra ou de
como seja o som, geralmente isso acontece com
recém-nascidos ou crianças em idade até quatro
ou cinco anos, sempre dependerá dos inputs para
estimular sua “fala” e a compreensão.

Por isso, crianças surdas, ou com perda


auditiva, que não conseguem ouvir uma
conversa precisam de um contato imediato com
a língua de sinais, a fim de que possa iniciar-se na
aquisição dos artefatos linguísticos, tanto da sua
primeira língua, a de sinais, como a de sua
segunda língua, a oral-auditiva. Esta é uma
surdez considerada: pré-lingual ou pré-
linguística. Antes de conceber uma língua.

As pessoas que perdem a audição durante seu processo de aquisição da


linguagem oral, na fase inicial, geralmente quando estão se alfabetizando, ou já
estão alfabetizadas, diz-se ser uma surdez peri-lingual. A língua de sinais também é
uma orientação, pois ainda está em constituição de vocabulários e os registros
realizados dos sons ainda não dão conta da complexidade de um diálogo. Precisa
de uma língua para dar conta de aprender mais.

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Lingua Brasileira de Sinais

Quando é uma pessoa que já fala e lê, com memória auditiva, ao perder a
audição, sua surdez será considerada como pós-linguística. Ou seja, uma pessoa
com deficiência auditiva, dependendo do grau de sua perda, também poderá
aprender a língua de sinais, mas poderá se valer igualmente da tecnologia para
auxiliar na compreensão.

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Lingua Brasileira de Sinais

A audiometria apresenta um gráfico com o volume mínimo percebido pelo


paciente em cada faixa de frequência para as duas orelhas.

O objetivo de elencar esses aspectos clínicos da audição serve somente para


dar um norte sobre a capacidade física e mental do surdo, na elaboração de
quaisquer conceitos ou estudos sobre essa “deficiência”. O sujeito surdo não é uma
“orelha”. Sua constituição depende do desenvolvimento de sua linguagem, assim
como da aquisição de uma língua que estruture seus pensamentos e o
desenvolvimento da sua personalidade e interação social.

Vocês já devem estar começando a entender que há uma diferença entre ser
surdo ou ser pessoa com deficiência, certo? Então vamos continuar a conhecer
mais quem é esse sujeito.

Leia o texto abaixo.

Os Surdos Enquanto Minoria Linguística

Não se tem registro de quando os homens começaram a desenvolver


comunicações que pudessem ser consideradas línguas. Hoje, a raça humana está
dividida nos espaços geográficos delimitados politicamente e cada nação tem sua

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Lingua Brasileira de Sinais

língua ou línguas oficiais como, por exemplo, o Canadá que possui a língua inglesa
e a francesa. Os países que possuem somente uma língua oficial são, politicamente,
monolíngues; os que possuem duas ou mais, são considerados bilíngues.

Mas, em todos os países, existem minorias linguísticas que, por motivo de


etnia e/ou imigração, mantêm suas línguas de origem, embora as línguas oficiais
dos países, onde estas minorias coabitam, ou politicamente fazem parte, sejam
outras. Este é o caso das tribos indígenas no Brasil, nos Estados Unidos e dos
imigrantes que se organizam e continuam utilizando suas línguas de origem, como
nos Estados Unidos e na França. Os indivíduos destas minorias, geralmente, são
discriminados e precisam se tornar bilíngues para poderem participar das duas
comunidades.

Pode-se falar de bilinguismo social e individual. O primeiro é quando uma


comunidade, por algum motivo, precisa utilizar duas línguas. O segundo é a opção
de um indivíduo para aprender outra língua além da sua materna. Geralmente, os
membros das minorias linguísticas se tornam indivíduos bilíngues por estarem
inseridos em comunidades linguísticas que utilizam línguas distintas.

Em todos os países, os surdos são minorias linguísticas,


como outras, mas não devido à imigração ou à etnia, já que
a maioria nasce de famílias que falam a língua oficial da
comunidade maior, a qual também pertence por etnia. Eles
são minoria linguística por se organizarem em associações
onde o fator principal de integração é a utilização de uma
língua gestual-visual por todos os associados. Sua
integração está no fato de terem um espaço onde não há
repressão de sua condição de surdo, podendo se expressar
da maneira que mais lhes satisfazem para manterem entre
si uma situação prazerosa no ato de comunicação.
(Retirado do Livro Libras em Contexto: Livro do Professor – páginas
256-257).

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Lingua Brasileira de Sinais

Dica

Conheça o Instituto Helena Antipoff

É um estabelecimento público de ensino especializado em Educação Especial,


pertencente à Secretaria Municipal de Educação da Prefeitura da Cidade do Rio de
Janeiro. É um centro de referência em Educação Especial no Brasil.

Criado em 1977, ele produz conhecimentos em educação especial e


confecciona recursos multissensoriais que contribuem para a atualização
permanente dos professores, desenvolvimento e aprendizagem dos alunos.

 http://ihainforma.wordpress.com/

Você sabia...
Que o Congresso de Milão foi um evento marcante e significativo na
comunidade surda-muda (Campelo, 2008), tendo se iniciado em 06 de setembro a
11 de Setembro de 1880, quando os membros em sua maioria composta de
professores e profissionais ligados à educação de surdos votaram a favor da
metodologia oralista, cuja ação foi aplicada e estendida a onze países?

Que quando imigrantes vão para outros países formam guetos e sua língua, a
língua oficial de sua cultura, é respeitada no país onde vivem?

Que as línguas dos Surdos, por serem de outra modalidade – gesto-visual – e


por serem utilizadas por pessoas consideradas “deficientes” eram desprestigiadas
e, até bem pouco tempo, proibidas de serem usadas tanto na escola como em
família, quando os pais eram ouvintes?

Que uma criança surda ao aprender a língua de sinais da sua comunidade


surda, à qual deve ser inserida, é garantido a ela mais facilidade em aprender a
língua oral-auditiva da comunidade ouvinte a qual também pertence?

Que as línguas se edificam a partir de universais linguísticos, variando apenas


em termos de sua modalidade (oral-auditiva ou gestual-visual) e suas gramáticas
particulares; transformando-se a cada geração a partir da cultura da comunidade
que a utiliza?

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Lingua Brasileira de Sinais

As pessoas surdas, por viverem em duas comunidades: a ouvinte e a surda,


precisam se constituir num bilinguismo social; e que possuir uma língua ajuda na
compreensão da outra?

Para se comunicar em LIBRAS não basta apenas conhecer os sinais; é


necessário conhecer sua gramática para combinar as frases, estabelecendo, então,
a comunicação?

Que a LIBRAS constitui um sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos,


oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil. Como qualquer língua,
também possui diferenças regionais, dialetos e gírias?

As próximas unidades irão aprofundar mais esse assunto referente à surdez e a


LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais. Nesse momento, uma avaliação é bem-vinda
para que dúvidas possam ser dirimidas.

Leitura complementar
Aprofunde um pouco mais seu conhecimento, lendo:
CAMPELLO, Ana Regina e Souza. Tese Pedagogia Visual na Educação dos
Surdos-Mudos. Florianópolis: UFSC, 2008.
KLEIN, Madalena. Cultura Surda e Inclusão no Mercado de Trabalho. Santa
Cruz do Sul: EDUNISC, 2004.
QUADROS, Ronice Muller de. Língua de Sinais: instrumentos de avaliação.
Porto Alegre: Artmed, 2011.

É HORA DE SE AVALIAR!

Lembre-se de realizar as atividades desta unidade de estudo, elas irão ajudá-lo


a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-
aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois às envie
através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!

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Lingua Brasileira de Sinais

Exercícios - Unidade 1

1. “Falta ao surdo à capacidade de situar, através do som, um objeto no espaço


como, também, as indicações alertadoras e os avisos do nosso ambiente físico”
(Krech e Crutchfield apud Fernandes, 1990, p.38). Com essa afirmação,
compreende-se que:

I - As perdas auditivas são classificadas em simples e complexas: o surdo é


aquele cuja audição, ainda que deficiente, se tornará funcional com o uso da
prótese auditiva.

II - Por meio da audiometria ou teste de audição pode-se descobrir qual a


intensidade sonora (volume) mínimo que a pessoa é capaz de ouvir para cada faixa
de frequência (além de obter algumas outras informações importantes), sendo os
níveis de perda auditiva classificados em leve, moderada, severa e profunda.

III - As pessoas que perdem audição durante seu processo de aquisição de


linguagem oral, na fase inicial, geralmente quando estão se alfabetizando ou já
estão alfabetizadas, diz-se ser uma surdez pré-linguística.

IV - Crianças surdas, ou com perda auditiva, que não contemplem ouvir uma
conversa precisam de um contato imediato com a língua de sinais, a fim de que
possa iniciar-se na aquisição dos artefatos linguísticos, tanto da sua primeira língua,
a de sinais, como a de sua segunda língua, a oral-auditiva.

Marque a alternativa correta:

a) Todas estão corretas.


b) Estão corretas I e II.
c) Estão corretas II e IV.
d) Estão corretas III e IV.
e) Estão corretas I e IV.

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Lingua Brasileira de Sinais

2. Em qualquer lugar em que haja surdos interagindo, haverá línguas de sinais. Não
é considerada universal por não ser um “decalque” a ser colocado em todas as
sociedades de maneira uniforme, sem alguma influência de uso. Sendo assim, as
línguas de sinais:

a) São idênticas em qualquer parte do mundo, por ser de modalidade gesto-visual.

b) São reconhecidas como língua das comunidades surdas e, direito dos sujeitos
surdos, enquanto minorias linguísticas.

c) São consideradas artificiais. Por serem construídas e estabelecidas por um grupo


de indivíduos, têm como propósito específico o de estabelecer a comunicação
internacional.

d) Não possuem níveis fonológicos e morfológicos em sua constituição gramatical,


apenas os sinais que, junto às expressões faciais, constituem-se como linguagem
de comunicação.

e) São gestos ou códigos expressados por meio da mímica, ideias, conceitos


abstratos e das línguas oral-auditiva.

3. Correlacione a primeira coluna com a segunda:

( 1 ) LIBRAS ( ) Filosofia que defende o aprendizado apenas da língua oral.

( 2 ) SURDOS ( ) Termo que designa uma condição cultural e não biológica.

( 3 ) ORALISMO ( ) Termo que designa uma condição biológica somente.

( 4 ) DEFICIÊNCIA ( ) Língua das comunidades surdas brasileiras e das gentes do


Brasil.

( 5 ) DIFERENÇA ( ) Minoria linguística que se organiza em associações onde o


fatorprincipal de integração é a utilização de uma língua em
comum.

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Lingua Brasileira de Sinais

4. Complete adequadamente as lacunas:

A sociedade, de modo ampliado, concebe a ___________ com o sentido de


produção vocal-sonora. A verdade é que o surdo usa a __________________ como
sua ___________________.

a) fala – língua de sinais – fala.

b) fala – mímica – comunicação.

c) língua de sinais – fala – língua oral.

d) língua de sinais – língua de sinais – fala.

e) comunicação – língua de sinais - fala.

5. Pode-se dizer de uma pessoa que perde a audição antes de adquirir linguagem
que:

a) serão pessoas consideradas “deficientes” quando seus pais forem ouvintes.

b) utilizará a LIBRAS por se constituir um sistema linguístico de transmissão de


ideias e fatos, universal, oriundo de comunidades de pessoas surdas do mundo
inteiro.

c) ao aprender a língua de sinais da sua comunidade surda terá mais dificuldades


em aprender a língua oral-auditiva da comunidade ouvinte a qual também
pertence.

d) como imigrantes ou estrangeiras, formará guetos para usar a língua oficial do


país onde vive.

e) deve entrar o quanto antes em contato com sua comunidade surda e a língua de
sinais para orientar em sua aprendizagem da língua oral do país em que vive.

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Lingua Brasileira de Sinais

2 Libras: Língua ou Linguagem


de Sinais

Linguagem e Surdez.

Surdo enquanto Minoria Linguística.

L1 e L2: Primeira e Segunda Língua.

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Lingua Brasileira de Sinais

Nesta segunda unidade, vamos estudar um pouco da história das pessoas


surdas, sua língua e o processo pelo qual elas passam na aquisição de linguagem e
do conhecimento. As leituras de mundo e aprendizagem realizadas pelo sujeito
surdo.

Objetivo da Unidade:

Compreender os diferentes estágios na aquisição da língua de sinais por esses


sujeitos, de modalidade gesto-visual, considerada natural e da sua segunda língua,
a língua portuguesa, de modalidade oral-auditiva que vem a ser também a língua
majoritária da sociedade em que eles vivem.

Plano da Unidade:

 Linguagem e Surdez.

 Surdo enquanto Minoria Linguística.

 L1 e L2: Primeira e Segunda Língua.

Bons estudos.

28
Lingua Brasileira de Sinais

Linguagem e Surdez

Fazendo uma retrospectiva dos estudos das línguas de sinais, pode-se


verificar que desde o século XIX elas eram
consideradas mais como formas de expressão
Linguística: ciência da linguagem
artística do que como uma língua natural. humana.
Segundo Ferreira-Brito (1993), talvez essa Línguas de sinais: são línguas
utilizadas pelas comunidades surdas.
concepção dissimulasse algum preconceito, Apresentam as propriedades
tais como os rótulos atribuídos às línguas específicas das línguas naturais,
sendo, portanto, reconhecidas
gesto-visuais, como de mímicas primitivas. Os enquanto línguas pela Linguística. São
estudiosos e linguistas interessados em de modalidade viso-espacial,
captando as experiências visuais das
Linguagem e Surdez deram uma atenção a
pessoas surdas (QUADROS, 2004, p.8).
essa modalidade linguística, resultando em Integração Social: integrar, de acordo
valiosas contribuições aos estudos dos com Houaiss (2008), é aproximar:
acomodando, adaptando, ajustando;
universais linguísticos e em melhores trata-se de incorporar: assimilando,
abordagens para a educação de surdos e na integralizando, o que já preconiza o
incluir e, por fim, abarca o termo
promoção de sua integração social participar: constituir, formar. A palavra
(FERREIRA-BRITO, 1993, p.11). inclusão contrapõe-se a esse termo,
no que diz respeito a um tratamento
Nesse caso, a linguagem possui, mais equitativo às pessoas com
deficiência, permitindo que as pessoas
então, um papel de destaque na formação dos com deficiência sejam inseridas no
processos mentais, pois permite ao ser contexto social, não como pessoas
clinicamente “limitadas”, e sim nas
humano ir além da percepção direta e visual possibilidades que cada sujeito traz
nas suas, agora incorporadas ao nosso
na análise dos dados, relacionando os objetos vocabulário, diferenças. Hoje, as
as suas respectivas categorias, organizando de políticas e programas criados pelos
poderes públicos são voltados para
modo paralelo seu comportamento. Embora uma INCLUSÃO SOCIAL, onde as
pessoas com deficiência ou diferentes
envolva processos complexos, a pessoa surda estão no centro dos interesses no
“fala” ou “sinaliza” quando possui uma língua propiciar uma vida com dignidade em
respeito à sua cidadania.
(ou línguas), no caso da pessoa surda
brasileira, a LIBRAS – Língua Brasileira de
Sinais –, e/ou a língua portuguesa-brasileira oral.

29
Lingua Brasileira de Sinais

Pode-se entender que toda LÍNGUA é


uma forma de linguagem, mas nem toda LIBRAS: é uma das siglas, a mais
LINGUAGEM é língua. A língua pode ser utilizada, para referir a língua brasileira
de sinais: Língua BRAsileira de Sinais.
compreendida como um conjunto de Esta sigla é difundida pela Federação
códigos utilizados para expressar o Nacional de Educação e Integração de
Surdos – FENEIS. (QUADROS, 2004,
pensamento e promover a interação, p.8)
enquanto a linguagem se relaciona com a Língua Brasileira de Sinais: língua
utilizada pelas comunidades surdas
capacidade própria do homem de fazê-lo. A brasileiras. O artigo 13 da Constituição
linguagem é uma faculdade inata ao homem e Federal Brasileira, no capítulo sobre
nacionalidade, institui que a língua
se processa num momento anterior à língua.
portuguesa é o idioma oficial da
Para haver língua, há de existir linguagem, República Federativa do Brasil, língua
mas o inverso não é verdadeiro. Linguagem é esta majoritária frente à comunidade
surda. A partir do reconhecimento da
símbolo, é possibilidade de representar, é LIBRAS como língua oficial, conforme
interpretação do mundo. a sanção da Lei 10.436/2002 e
regulamentação do Decreto-Lei
Tanto os sinais de trânsito, como os sinais 5.626/2005, garantindo sua inclusão
nos sistemas educacionais do Brasil,
utilizados pela comunidade surda podem ser deixa de ser chamada de linguagem,
chamados de língua, uma vez que possuem pois possui uma gramática completa e
oficialmente utilizada pelas pessoas
muito mais do que a propriedade de surdas, por todas as gentes do Brasil.
representar símbolos. Eles não apenas Sendo assim, a língua portuguesa será
a segunda língua para as pessoas
comunicam como fazem uso de regras surdas, preferencialmente, na
precisas para este fim. modalidade escrita.

Trata-se de uma diferença de


estágio.

30
Lingua Brasileira de Sinais

Linguagem é símbolo, é possibilidade de representar, é interpretação do


mundo. A LINGUAGEM então é um sistema de comunicação natural ou artificial,
humano ou não; utilizada com algum tipo de intenção comunicativa, incluindo a
própria língua (Lyons,1987) e LÍNGUA é um sistema abstrato de regras gramaticais
(Chomsky, 1986; 1995).

31
Lingua Brasileira de Sinais

Pessoas surdas falam ou não?


A língua é o sujeito se dizendo, a manifestação do ser pessoa. A importância
de se ter uma língua, falar esta língua e nela ser um sujeito social ativo está
presente também na pessoa surda. A pessoa surda a transborda de forma
diferente, de uma maneira que lhe é própria e significativa. Gesser (2009) questiona
o fato de sempre ter que se afirmar que a LIBRAS é uma língua (e não apenas
linguagem como muitas vezes é referenciada), lembrando que desde a década de
1960, quando as línguas de sinais obtiveram um status linguístico de língua e,
mesmo assim, até hoje, precisa ter sua legitimidade afirmada e reafirmada a todo o
momento.

Surdo enquanto Minoria Linguística

As pessoas surdas (usuárias ou não de uma língua de sinais) são reconhecidas


socialmente como minorias linguísticas. De
acordo com Gesser, a legitimidade da LIBRAS é
Minorias linguísticas - São grupos
representada por uma língua, redireciona uma que usam uma língua, quer entre os
concepção da surdez não como uma membros do grupo, quer em público,
esses membros se diferenciam da
deficiência – expressão vinculada às língua utilizada pela maioria. Em
concepções clínicas, da ordem da cognição e princípio, são numericamente
inferiores ao resto da população,
do pensamento –mas sim, como diferença ocupam uma posição de não
linguística e cultural. dominância e são vítimas de
discriminação.
A sociedade concebe a fala, geralmente,
como uma manifestação vocal-sonora. A “fala”
das pessoas surdas é a língua de sinais, mas há surdos que não se utilizam dela ou
só as acessam, tardiamente. Por isso, que a proficiência, tanto na fala gestual como
na oral, vão variar de acordo com os inputs que cada pessoa surda recebeu.

32
Lingua Brasileira de Sinais

L1 e L2: Primeira e Segunda Língua

Há surdos que só se valem da LIBRAS (primeira língua ou L1), outros que são
oralizados (foram treinados por fonoaudiólogos) e usam sua voz articulada aos
fonemas da língua portuguesa oral (segunda língua ou L2) e há ainda aqueles, que
se expressam de outas formas. A incidência de um grande número de surdos
falantes da língua majoritária oral tem gerado uma espécie de conflito, herança da
filosofia oralista, junto à comunidade surda, cujos sentimentos de indignação,
frustração, opressão entre outros, são suscitados por conta da proibição que
perdurou por tanto tempo.

Qual seria então a primeira língua(L1) de uma pessoa surda?

Reconhecer a surdez como diferença e não como deficiência é o primeiro


passo para se compreender a realidade relativa da pessoa surda, na percepção de
que suas habilidades e competências na aquisição de uma língua (oral ou gestual)
estão interligadas a fatores inerentes ou não, à sua vontade. Só tardiamente
reconheceram-se as línguas de sinais como língua (a ASL – American Sign
Language ou Língua Americana de Sinais, na década de 1960 e a LIBRAS, Língua
Brasileira de Sinais em 2002, referendada em 2005 por meio de um Decreto-Lei).
Sendo assim, os mais de Cem Anos de Solidão foram marcados por resistências,
desprezo, rejeição e castigos.

Importante

Preferencialmente a segunda língua das pessoas surdas (L2) é a língua


portuguesa escrita.

Terminamos aqui nossa segunda unidade de estudos, nela vimos os diferentes


estágios na aquisição da língua de sinais. Na próxima unidade, vamos estudar a
Legislação e um pouco da história da surdez e da Língua de Sinais.

33
Lingua Brasileira de Sinais

É HORA DE SE AVALIAR!

Lembre-se de realizar as atividades desta unidade de estudo, elas irão ajudá-lo


a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-
aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois às envie
através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!

34
Lingua Brasileira de Sinais

Exercícios - Unidade 2

1 - Complete as lacunas:

Linguisticamente, pode-se afirmar que a ________________ é


______________ porque apresenta características presentes em outras
_______________ naturais e, essencialmente, por que é humana.

a) fala – língua de sinais – falas.

b) fala – mímica – comunicações.

c) língua de sinais – fala – línguas orais.

d) língua de sinais – língua– línguas.

e) comunicação – língua de sinais – falas.

2- Sobre a diferença entre as línguas de sinais e as línguas orais, marque abaixo a


sentença que melhor explica essa verdade.

a) A explicação para a diferença se dá devido ao canal de comunicação em que


cada língua se estrutura: visual-gestual e vocal-auditivo.

b) A Língua de Sinais funciona como uma língua auxiliar a língua oral, portanto
uma língua construída e planejada.

c) A língua de sinais por ser uma língua de modalidade espaço-visual, torna-se uma
língua menos complexa e mais simplificada que as línguas orais.

d) Não há diferença entre uma e outra, uma vez que a língua de sinais é uma versão
sinalizada da língua oral.

e) Não há diferença entre uma e outra, uma vez que a língua de sinais tem suas
origens históricas na língua oral.

35
Lingua Brasileira de Sinais

3- O que são Minorias linguísticas?

a) São grupos que usam uma língua, quer entre os membros do grupo, quer em
público, que se diferencia daquela utilizada pela maioria, em como da
adotada oficialmente pelo Estado.

b) São línguas utilizadas pelas comunidades surdas. Apresentam as


propriedades específicas das línguas naturais, sendo, portanto, reconhecidas
enquanto línguas pela Linguística. São de modalidade viso-espacial,
captando as experiências visuais das pessoas surdas.

c) São as siglas, as mais utilizadas para referir à Língua Brasileira de Sinais:


Língua Brasileira de Sinais. Esta sigla é difundida pela Federação Nacional de
Educação e Integração de Surdos.

d) São grupos numericamente inferiores ao resto da população, Apresentam as


propriedades específicas das línguas naturais.

4- O que são L1 e L2?

a) Fala e línguas de sinais.

b) Linguagem e Língua.

c) Primeira e Segunda Língua.

d) Língua Brasileira de Sinais e Fala.

e) Linguística e comunicações.

36
Lingua Brasileira de Sinais

5- Complete as lacunas

Fazendo uma retrospectiva dos estudos das _____________, pode-se verificar


que desde o século XIX elas eram consideradas mais como formas de expressão
artística do que como uma língua natural. Segundo Ferreira-Brito (1993), talvez
essa concepção dissimulasse algum preconceito, tais como os rótulos atribuídos às
línguas gesto-visuais, de mímicas primitivas. Os estudiosos e linguistas
interessados em Linguagem e Surdez deram uma atenção a essa modalidade
_____________ resultando em valiosas contribuições aos estudos dos universais
linguísticos e em melhores abordagens para a educação de surdos e na promoção
de sua _____________ (FERREIRA-BRITO, 1993, p.11).

a) integrações sócias, línguas de sinais, linguística.

b) línguas de sinais, linguística, integração social.

c) línguas brasileiras de sinais, integração social, conjunto de códigos.

d) capacidade própria do homem, línguas de sinais, linguística.

e) primeira e segunda língua, linguística, comunicações.

37
Lingua Brasileira de Sinais

38
Lingua Brasileira de Sinais

3 Legislação e um Pouco da
História da Surdez e da Língua
de Sinais

Principais Leis

História da Língua de Sinais.

39
Lingua Brasileira de Sinais

Nesta unidade vamos aprofundar um pouco mais sobre a história das pessoas
surdas e a evolução da Língua de Sinais. Conheceremos as legislações e suas
inferências no contexto atual.

Objetivo da Unidade:

Compreender o histórico de formação da comunidade e cultura surda.

Plano da Unidade:

 Principais Leis

 História da Língua de Sinais.

Bons estudos.

40
Lingua Brasileira de Sinais

Principais Leis

A Lei 10.098 de 19/12/2000 estabelece normas gerais e critérios básicos para a


promoção da acessibilidade, além de dar outras providências. Em seu artigo 18
atribui ao Poder Público a responsabilidade pela implementação da formação,
dentre outros profissionais, dos intérpretes de ‘linguagem’ de sinais e de guias-
intérpretes para facilitar qualquer tipo de comunicação direta às pessoas com
deficiência sensorial e com dificuldade de comunicação.

Mas o que são sinais?


Os sinais correspondem aos itens lexicais e/ou palavras das línguas orais,
formados a partir da combinação do movimento das mãos com um determinado
formato em um determinado lugar, podendo ser marcado no próprio corpo ou
num espaço próximo ao corpo. Diferentemente do que muitos pensam, a língua de
sinais não é somente um conjunto de gestos que interpretam as línguas orais. Elas
expressam ideias sutis, complexas e abstratas, e seus usuários podem discutir os
mais variados assuntos, desde filosofia até criar peças de teatro ou poemas.

O reconhecimento da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS – como meio legal


de comunicação e expressão entre as comunidades de pessoas surdas no Brasil foi
conferido pela Lei 10.436 de 24/04/2002, que afere o status linguístico à língua de
sinais e a outros recursos de expressão a ela associados.

Por meio do Decreto-Lei 5.626 de 22/12/2005, foi prevista a inclusão da LIBRAS


como disciplina curricular nos cursos de formação de professores para o exercício
do magistério, em nível médio e superior; nos cursos de Fonoaudiologia; de
licenciatura, nas diferentes áreas do conhecimento; no curso normal de nível
médio e superior; de Pedagogia e no curso de Educação Especial; podendo ser
optativa nos demais cursos de educação superior e na educação profissional,
garantindo uma educação bilíngue por meio da Língua de Sinais e o ensino da
Língua Portuguesa escrita como 2ª língua.

41
Lingua Brasileira de Sinais

História da Língua de Sinais

A história da evolução da LIBRAS, que


hoje possui algum reconhecimento da INES – hoje, o INES é reconhecido, na
sociedade, na legislação, nos ambientes estrutura do MEC, como Centro de
Referência Nacional na Área da
educacionais e demais setores, nos leva a Surdez, exercendo os papéis de
questionar sobre o que seria essa língua de subsidiar a formulação de políticas
públicas e de apoiar a sua
sinais. De onde ela veio e como progrediu para
implementação pelas esferas
se constituir no que é hoje? Será que ela subnacionais de Governo. Caracteriza-
sofre/eu os processos de mudanças se como uma Instituição que atua na
perspectiva da efetivação do direito à
linguísticas? educação de crianças, jovens e adultos
surdos; produzindo conhecimento e
A Língua de Sinais chegou ao Brasil, apoiando diretamente os sistemas de
precisamente ao Rio de Janeiro, em 1855, por ensino para dar suporte às escolas
brasileiras, as quais devem oferecer
intermédio do professor surdo francês, E. Huet, educação de qualidade a esses
a convite do Imperador D. Pedro II com a cidadãos, os quais demandam
políticas de ensino que contemplem
missão de fundar uma escola para surdos. Em sua singularidade linguística.
1857, surgiu o Instituto Imperial de Surdos- LSF: Língua de Sinais Francesa.
Mudos, atual Instituto Nacional de Educação
de Surdos -INES.

Dica de Site:

Para saber mais sobre o INES, visite o site do instituto.

 www.ines.gov.br/

Em 1875, foi criado um dicionário, a Iconografia dos Signaes dos Surdos-


Mudos, nos moldes da LSF para facilitar a comunicação entre os alunos surdos e
professores ouvintes do então Instituto Imperial de Surdos-Mudos, atual INES, sito
à Rua das Laranjeiras, RJ. Idealizado por um estudante, Flausino da Gama, essa obra

42
Lingua Brasileira de Sinais

foi fortemente apoiada numa publicação de Piérre


Pélissier, professor também de uma instituição de
ensino para surdos, da França.

O material brasileiro se utilizou dos sinais


franceses, por conta da forte influência da língua e
costumes franceses no Brasil na época, século XIX.
O tratamento dado ao plágio à época era diferente
daquele que conhecemos hoje, e o mérito pela
iniciativa de organizar esse dicionário não deve ser
desconsiderado pela importância na contribuição à
consolidação da Língua Brasileira de Sinais –
LIBRAS.

Segundo Diniz (2011), possivelmente alguns


dos sinais franceses foram incorporados à Língua
de Sinais utilizados pela comunidade escolar.
Não só naquela época o trabalho de Flausino da
Gamaserviu de referência, como se mostra
presente até os dias de hoje, na utilização de 38
sinais do dicionário, dos 382 referenciados por ele.
Os exemplos dessa constatação estão no “EU”, que
é representado pelo dedo indicador apontado para
a própria pessoa; o sinal de “SILÊNCIO”,
representado pelo indicador em riste colado aos
lábios. Sofiato admite que o trabalho de Flausino
acabou trazendo contribuições também “em
relação à indexação dos dicionários que sucederam
ao dele, visto que algumas obras apresentam essa
característica”(Jornal da Unicamp, 2011, nº 500).
Mas o tempo de liberdade de uso dessa língua
estava com seus dias contados.

43
Lingua Brasileira de Sinais

Em 1880, durante um Congresso


Internacional de Educação de Surdos, Congresso Internacional de
Educação de Surdos - Congresso de
realizado em Milão, Itália, uma decisão foi Milão (1880): Congresso ocorrido na
tomada que dizia respeito às Línguas de Sinais Itália, marco na modificação da
Educação dos Surdos quando foram
nas escolas de surdos. O método oral foi determinados e introduzidos os novos
considerado melhor do que o método de ditames da filosofia educacional
oralista para as pessoas surdas.
sinais, e adotado como o mais adequado ao Iniciou-se na Europa, afetando
ensino das pessoas surdas, sendo implantado consequentemente todo o mundo
ocidental, cujo método consistia na
obrigatoriamente em todas as escolas de introdução de uma combinação que
surdos, de vários países. Os alunos surdos, utilizava tanto sinais como o
treinamento da língua oral e que, aos
então, passaram a ser “forçados” a oralizarem
poucos, foi sendo substituído pelo
para serem “pessoas normais”, como as método oral puro, o oralismo. Os
pessoas ouvintes e a partir desse fato um professores surdos existentes na
época foram afastados, os alunos
sentimento de vergonha e de inferioridade sendo desestimulados até serem
imperou por parte dos jovens surdos, à proibidos de usarem a língua de sinais
de seus países, dentro e fora da sala de
medida que determinados traços aula. Isso aconteceu também no Brasil,
denunciavam sua origem. mas apesar de tanta repressão e
perseguição, as línguas de sinais
continuaram sendo as preferidas pelas
pessoas surdas e ser a forma natural
delas se comunicarem.

44
Lingua Brasileira de Sinais

O não domínio da LIBRAS fez, ou faz, com que muitos surdos, em


determinadas situações sociais como os eventos acadêmicos, políticos, jurídicos,
religiosos, entre tantos, mesmo que providos de intérpretes de línguas de sinais,
não sejam capazes de compreenderem grande parte do que circula nesses
ambientes, por não captarem de forma loquaz nem a Língua Portuguesa nem a
LIBRAS, ficando à margem, sem participarem efetivamente do meio em que vivem.

Por ser uma língua viva, a língua de sinais conseguiu resistir aos preconceitos e
proibições, além da forte pressão de ser considerada uma língua “inferior” (Diniz,
2011, p.28). Nas décadas de 1980 e 1990, pela influência das pesquisas linguísticas
e na área da Pedagogia, a Língua de Sinais foi retomando seu espaço novamente
na educação. No início do século XXI foi criada a comunidade surda brasileira. As
associações de Surdos, os simpatizantes, enfim, toda a comunidade surda e a
FENEIS – Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos – fundada em
1987 com o propósito de oferecer às pessoas surdas assistência no trabalho,
educação e demais instâncias –, pôde comemorar uma vitória que vem se
intensificando por meio das legislações da Língua de Sinais, assim como sua
valorização.

Dica de Vídeo.

Surdo em Família - E seu nome é Jonas

Vamos conhecer um pouco sobre a história de um menino surdo, Jonas, numa


família que, não sabendo lidar com essa diferença, o trata como se apresentasse
alguma disfunção intelectual.

http://www.youtube.com/watch?v=7ORoCyxWHxs

O trecho abordado do filme mostra o dia em que Jonas retorna para casa,
depois de ter sido internado e ter vivido numa instituição para crianças com
deficiência intelectual, ficando um bom tempo longe da família. Nesse seu regresso
ao lar, sua família lhe prepara uma festa.

45
Lingua Brasileira de Sinais

Gostou do vídeo?

Quais situações você identificaria no vídeo como sendo marcadores dos


conceitos sobre língua e linguagem? Como o processo evolutivo da língua de
sinais e suas modalidades: oral e gesto-visual poderiam ser explicados no caso
Jonas, no contexto familiar em que vive?

LEITURA COMPLEMENTAR

Lei 10.098 de 19/12/2000.

Lei 10.436 de 24/04/2002.

Decreto-Lei 5.626 de 22/12/2005.

Terminamos aqui nossa terceira unidade, onde aprofundamos um pouco mais


sobre a história das pessoas surdas e a evolução da Língua de Sinais. Conhecemos,
também, as legislações e suas inferências no contexto atual.

Na próxima unidade, veremos os Parâmetros da Língua Brasileira de Sinais.

É HORA DE SE AVALIAR!

Lembre-se de realizar as atividades desta unidade de estudo, elas irão ajudá-lo


a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-
aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois às envie
através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!

46
Lingua Brasileira de Sinais

Exercícios - Unidade 3

1-Complete a lacuna:

A Lei ________________estabelece normas gerais e critérios básicos para a


promoção da acessibilidade, além de dar outras providências. Em seu artigo 18,
atribui ao Poder Público a responsabilidade pela implementação da formação,
dentre outros profissionais, dos intérpretes de ‘linguagem’ de sinais e de guias-
intérpretes para facilitar qualquer tipo de comunicação direta às pessoas com
deficiência sensorial e com dificuldade de comunicação.

a) 10.098 de 22/12/2005.

b) 10.436 de 24/04/2002.

c) 5.626 de 22/12/2005.

d) 10.098 de 19/12/2000.

e) 10.098 de 19/12/2013.

2-A Libras tem sua origem na Língua de Sinais:

a) Italiana.

b) Holandesa.

c) Francesa.

d) Portuguesa.

e) Alemã.

47
Lingua Brasileira de Sinais

3- Quanto a formação do professor de Libras e do instrutor de Libras é incorreto


afirmar:

a) A formação de docentes para o ensino de Libras nas séries finais do ensino


fundamental, no ensino médio e na educação superior deve ser realizada em
nível superior, em curso de graduação de licenciatura plena em Letras: Libras
ou em Letras: Libras/Língua Portuguesa como segunda língua.

b) As pessoas surdas terão prioridade nos cursos de formação previstos.

c) A formação de docentes para o ensino de Libras na educação infantil e nos


anos iniciais do ensino fundamental deve ser realizada em curso de
Pedagogia ou curso normal superior, em que Libras e Língua Portuguesa
escrita tenham constituído línguas de instrução, viabilizando a formação
bilíngue.

d) Admite-se como formação mínima de docentes para o ensino de Libras na


educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental, a formação
ofertada em nível médio na modalidade normal, que viabilizar a formação
bilíngue.

e) A formação de docentes para o ensino de Libras nas séries finais do ensino


fundamental, no ensino médio e na educação superior deve ser realizada em
nível superior, em curso de graduação de licenciatura plena em Pedagogia.

4 - Marque a alternativa correta, quanto ao parágrafo único da Lei nº 10.436 de


24/04/02.

a) A Língua Brasileira de Sinais poderá substituir a modalidade escrita da língua


portuguesa.

b) A Língua Brasileira de Sinais não poderá substituir a modalidade escrita da


língua portuguesa.

c) A Língua Brasileira de Sinais substituirá a língua portuguesa.

d) A Língua Brasileira de Sinais deverá substituir gradativamente a modalidade


escrita da Língua Portuguesa.

e) A Língua Brasileira de Sinais deverá substituir gradativamente a modalidade


escrita da Língua Portuguesa, inglesa e espanhola nas escolas.
48
Lingua Brasileira de Sinais

5- Analise as afirmativas abaixo em relação ao decreto nº 5.626, de 22 de dezembro


de 2005.

I - Considera-se pessoa surda aquela que, por ter perda auditiva, compreende
e interage com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua
cultura principalmente pelo uso da Língua Brasileira de Sinais – Libras.

II - Considera-se deficiência auditiva a perda bilateral, parcial ou total, de


quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas frequências de
500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz.

III - A Libras deve ser inserida como disciplina curricular obrigatória nos cursos
de formação de professores para o exercício do magistério, em nível médio e
superior, e nos cursos de Fonoaudiologia, de instituições de ensino, públicas e
privadas, do sistema federal de ensino e dos sistemas de ensino dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios.

Estão corretas:

a) somente a afirmativa I.

b) somente a afirmativa II.

c) somente a afirmativa III.

d) todas as afirmativas.

e) nenhuma das afirmativas.

49
Lingua Brasileira de Sinais

50
Lingua Brasileira de Sinais

4 Os Parâmetros da Língua
Brasileira de Sinais

O que são Parâmetros da Língua Brasileira de Sinais?

Estrutura Gramatical.

Alfabeto Manual ou Datilologia.

Sinal Soletrado e Inicialização.

Os Parâmetros Gramaticais da LIBRAS.

Sobre os Mitos e Ainda sobre Ser Surdo.

51
Lingua Brasileira de Sinais

Nesta unidade vamos estudar os parâmetros da Língua Brasileira de Sinais e


desconstruir conceitos equivocados acerca da surdez.

Objetivo:

Compreender a pessoa surda como um “estrangeiro” e elemento de sua própria


subjetividade.

Plano da Unidade:

 O que são Parâmetros da Língua Brasileira de Sinais?

 Estrutura Gramatical.

 Alfabeto Manual ou Datilologia.

 Sinal Soletrado e Inicialização.

 Os Parâmetros Gramaticais da LIBRAS.

 Sobre os Mitos e Ainda sobre Ser Surdo.

Bons estudos

52
Lingua Brasileira de Sinais

O que são Parâmetros da Língua Brasileira de Sinais?

Os Parâmetros da Língua Brasileira de Sinais São sinais formados a partir da


combinação do movimento das mãos com um determinado formato em um
determinado lugar, podendo ser este lugar, uma parte do corpo ou um espaço em
frente ao corpo. Estas articulações das mãos, que podem ser comparadas aos
fonemas e às vezes aos morfemas, são chamadas de parâmetros.

Estrutura Gramatical

Através da língua é que pensamos, Gramática Gerativista – Teoria


analisamos o mundo, nos integramos e nos linguística desenvolvida por Noan
Chomsky e demais linguistas da
relacionamos em sociedade. Uma língua viva
Massachusetts Institute of Technology,
está em constante evolução: gírias, dialetos, nos final da década de 1950. O
primeiro modelo foi apresentado em
neologismos, estrangeirismos, tudo faz parte
1965, como modelo padrão e mais
dela, dessa ebulição que a mantém animada. tarde, o modelo estendido; e na
Chomsky (linguista, filósofo e ativista político década de 1980, o modelo dos
princípios e parâmetros. No final da
americano, cujo nome está associado à criação década de 1990, surge a gramática
da gramática gerativista transformacional) é gerativa, a qual entra na sua fase
conhecida como Programa
o autor da frase que diz que quem “fala uma Minimalista. A base dessa teoria dá
língua sabe muito mais do que aprendeu”. conta da criatividade do falante, de
sua capacidade de emitir e de
A língua de sinais também acrescenta em compreender frases inéditas. Suas
regras definem as sequências de
seus vocabulários novos sinais introduzidos palavras ou de sons repetidos,
pelas comunidades surdas em resposta às constituindo o saber linguístico dos
indivíduos que falam uma língua, a
mudanças culturais e tecnológicas. sua competência linguística. A
utilização particular que cada autor faz
da língua em uma situação particular
de comunicação depende da
performance.

53
Lingua Brasileira de Sinais

Muitas pessoas acreditam que a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) são os


sinais realizados com as mãos, substituindo as palavras da língua portuguesa.
Outras pensam que ela é uma linguagem, como a das abelhas, do corpo,
funcionando como uma mímica. Outras pensam, ainda, que ela é somente um
conjunto de gestos que interpretam as línguas orais. Entre as pessoas que
acreditam que a LIBRAS seja realmente uma língua, há ainda algumas que pensam
que ela é limitada sendo capaz de expressar apenas informações concretas, não de
transmitir ideias abstratas.

Um bom exemplo de que a língua de sinais possui uma estrutura semântico-


gramatical pode ser verificada na palavra CADEIRA, utilizada em diferentes
contextos, por meio da LIBRAS.

54
Lingua Brasileira de Sinais

Configurações de mão utilizadas para fazer o sinal de CADEIRA. Números 48 e


14. Usar as duas mãos, uma configuração em cada uma delas e sobrepor a
configuração 48 sobre a 14.

Veja:

 Cadeira de rodas.
 Ela está mal “das cadeiras”.
 Cuidado com a “Dança das Cadeiras”.

Configurações de mãos utilizadas para fazer o sinal de CADEIRA DE RODAS.Números 60 e 01.

Nesse caso, usar as duas mãos ao longo do corpo como se apoiando nas rodas
da cadeira, fazendo o movimento de “rodar” com a cadeira.

55
Lingua Brasileira de Sinais

Configuração de mão utilizada para fazer o sinal de classificador de DOR ‘NAS CADEIRAS’. Número 60
colocando-a sobre a altura da cintura, nas costas, com o semblante mostrando expressão facial de dor.

Este é um caso em que são utilizados sinais variados por se tratar de uma
expressão ou um jargão que se refere à demissão ou troca de função num setor de
trabalho. Usa-se o vocábulo dançar mais o sinal de cadeira, aspas (como sentido
figurado da frase), trocar função e dispensa do trabalho.
56
Lingua Brasileira de Sinais

Mais adiante os sinais classificadores serão mais bem explicados. Dessa forma,
fica evidenciado que falar em língua de sinais não é transposição de palavras da
língua portuguesa para LIBRAS ou vice-versa. Os sentidos é que são interpretados.
Configurações utilizadas somente para “DANÇA DAS CADEIRAS”: Números 48,14,
36, 02, 57, 56 e 38.

Existe Gramática de LIBRAS?


Em 1660, reuniam-se em Port-Royal, em um convento ao sul de Versailles, na
França, por conta das investigações acerca da estrutura das línguas orais, grupos
de estudiosos seguidores das ideias de René Descartes. Estes desenvolveram uma
teoria de língua, onde as estruturas e categorias gramaticais pudessem ser
associadas a padrões lógicos universais de pensamento. Essa teoria ficou
conhecida como a Gramática de Port-Royal, e vem sendo difundida por Noam
Chomsky, que a classifica como “linguística cartesiana”, estabelecendo paralelos
com suas concepções da relação entre “língua e mente” (CRYSTAL, apud GESSER,
2009, p. 13-14). Só muito posteriormente (cerca de quarenta anos) é que as línguas
de sinais vieram a ser contempladas cientificamente. De acordo com Sacks, “sinal
não era visto, mesmo pelos sinalizadores, como uma língua verdadeira, com sua
própria gramática” (GESSER, 2004, p.14).

Importante

Grande parte dos estudos sobre a LIBRAS baseia-se nos estudos desenvolvidos
da Língua de Sinais Americana (ASL), sendo Stokoe (1919 - 2000) um pesquisador
extensivo da língua americana de sinais (ASL), enquanto trabalhava
na Universidade Gallaudet (EUA), renomada universidade para surdos, situada em
Washington D.C. Através da publicação de sua obra, houve uma fundamental
mudança da percepção da ASL de uma versão simplificada ou incompleta do inglês
para o de uma complexa e próspera língua natural, com uma sintaxe e gramáticas
independentes, funcionais e poderosas como qualquer língua falada no mundo.
Ele levantou o prestígio da ASL nos círculos acadêmicos e pedagógicos.

57
Lingua Brasileira de Sinais

O fato de, historicamente, os surdos terem sido privados de utilizarem a


Língua de Sinais, de serem proibidos em usá-la nos contextos escolares ou fora
deles, veio a refletir na própria história dos surdos, na sua educação, na
comunidade constituída, além de suas cultura e identidade. No Brasil, os primeiros
estudos sobre a Língua de Sinais utilizada no país ocorreram na década de 1980
(Ferreira-Brito e Felipe, 1995); estudos esses produzidos, principalmente pela
Universidade Federal de Santa Catarina e pela Universidade Federal do Rio Grande
do Sul (Quadros e Karnopp, 2004), além do Instituto Nacional de Educação e
Integração dos Surdos (INES).

Ao se atribuir às línguas de sinais o status de língua é porque elas, embora


sendo de modalidade diferente, possuem também características em relação às
diferenças regionais, socioculturais, entre outras. Em relação às suas estruturas,
também são compostas pelos mesmos níveis das línguas orais (morfológico,
fonológico, sintático, semântico e pragmático). O que é denominado de palavra ou
item lexical nas línguas orais-auditivas é denominado, na LIBRAS, SINAIS.

Você sabe o que é Cultura Surda?


A linguista surda Carol Padden estabeleceu uma diferença entre cultura e
comunidade. Para ela: "uma cultura é um conjunto de comportamentos
aprendidos de um grupo de pessoas que possuem sua própria língua, valores,
regras de comportamento e tradições”; ao passo que "uma comunidade é um
sistema social geral, no qual um grupo de pessoas compartilha metas comuns e
partilha certas responsabilidades umas com as outras".

Alfabeto Manual ou Datilologia

Constitui-se num empréstimo linguístico (empréstimo lexical) exercendo uma


função que não deve ser confundida com outros componentes do Sistema
Linguístico. De acordo com Ferreira-Brito (1993), seu papel se resume em
preencher lacunas lexicais ou, simplesmente, para traduzir nomes próprios, ou
palavras para as quais não se encontram equivalentes prontos em Língua de Sinais;
ou até para explicar o significado de um sinal a um ouvinte.

58
Lingua Brasileira de Sinais

A Datilologia ou Dactilologia (dupla grafia pelo Acordo Ortográfico de 1990) é


um recurso utilizado por falantes da língua de sinais. Não é uma língua, e sim um
código de representação das letras alfabéticas, como o Sistema de Escrita em
Braille, para as pessoas cegas. Também conhecida como alfabeto manual, tem uma
função na interação entre os usuários da língua de sinais, pois é um recurso para
soletrar nomes próprios de pessoas ou lugares, siglas e algum vocábulo não
existente na língua de sinais que ainda não tenha um sinal.

Alfabeto manual ou datilológico brasileiro:

59
Lingua Brasileira de Sinais

Configuração de mãos em LIBRAS, com 63 modelos. Tabela geralmente


apresentada.

60
Lingua Brasileira de Sinais

Outros exemplos de empréstimos lexicais


são os vocábulos que assumem, na estrutura
Inicialização: nome comumente dado
da LIBRAS, um sinal bem específico, como os ao empréstimo que recorre à
sinais soletrados e os sinais que iniciam com utilização de uma Configuração de
Mão (CM) que corresponde no
uma das letras do alfabeto, a inicialização.
alfabeto manual à primeira letra da
palavra equivalente em português.
Devido ao ritmo especial adquirido
Sinal soletrado: é um empréstimo de
durante a soletração das palavras (apenas da uma palavra da língua portuguesa que
primeira e da última letra e, dependendo do passou a pertencer a LIBRAS por ser
expressa pelo alfabeto manual com
tamanho que esta palavra tenha, podendo ser uma incorporação de movimento
utilizadas também as letras do meio), as ritmado, próprio desta língua, sendo
representada pela soletração ou parte
palavras assumem um movimento dela. Exemplo de sinal soletrado: a
característico entre elas, fazendo com que palavra M-Ã-E, expressa M-E, com a
mão fazendo movimentos numa
esses itens lexicais se tornem um sinal. espécie de balé.

A palavra A-Z-U-L, por exemplo, é


soletrada A-L, ritmadamente, formando o sinal
da cor azul

Mas esse sinal é do vocábulo TRABALHO ou TRABALHAR? Que começa com a


letra “T”?*

Um sinal pode ser constituído por mais de uma unidade mínima, por exemplo,
o sinal de “trabalho”(que em LIBRAS utiliza-se de um empréstimo do termo em
italiano “lavoro”, ou seja, inicializa-se com a configuração de mão que representa a
letra “L”) envolve simultaneamente os parâmetros: configuração de mão (CM),
ponto de articulação (PA), movimento (M) e a orientação de mão (O).

61
Lingua Brasileira de Sinais

Mais adiante esses parâmetros serão descritos de forma específica. Sendo


assim, se na formação dos sinais houver alguma mudança de um desses
parâmetros, o significado do sinal será alterado, pois eles são traços distintivos,
além de não terem nenhum significado se produzidos isoladamente ou fora de
algum contexto.

62
Lingua Brasileira de Sinais

Os aspectos considerados fundamentais em relação à fonologia, morfologia e


sintaxe da Língua Brasileira de Sinais, como momentos que extrapolam o campo
gramatical adentrando pelo campo discursivo são mencionados adiante,
considerando-se o intercâmbio entre as duas dimensões linguísticas: a língua oral e
a língua de sinais.

A fonologia descreve a estrutura e a organização das unidades mínimas dos


vocábulos e as possíveis combinações entre elas. Nas línguas de sinais essas
unidades mínimas correspondem aos fonemas das línguas orais, podendo ser
reproduzidas simultaneamente, e a variação de uma delas pode alterar o
significado do sinal.

A morfologia estuda a unidade mínima com significado, o morfema. Vem a ser


o estudo da estrutura interna das palavras ou dos sinais, dos processos de
formação de novas palavras e novos sinais. Os morfemas são as unidades mínimas,
que fragmentadas perdem o sentido, mas podem separadamente formar outras
palavras.

63
Lingua Brasileira de Sinais

Sinais não são apenas imagens, mas símbolos abstratos complexos, com uma
complexa estrutura interior. Ao analisar os sinais e a pesquisar suas partes, pode-se
comprovar que cada sinal apresentava pelo menos três partes independentes: a
locação (ou ponto de articulação - PA), a configuração de mãos (CM) e o
movimento (M). Os parâmetros da orientação da mão e dos aspectos não
manuais que são as expressões faciais e corporais foram acrescentados às
unidades mínimas, por ocasião de estudos posteriores aos realizados pelo autor.

Em 1960 foram delineadas 19 configurações de mãos. Ferreira-Brito (1995)


propõe 46 e, atualmente, o dicionário digital de Língua Brasileira de Sinais,
organizado pela Acessibilidade Brasil apresenta 73 configurações. Sendo assim, os
principais parâmetros fonológicos da língua de sinais são: configuração de mão,
ponto de articulação, movimento, orientação da mão e aspectos não manuais
(expressões faciais e corporais).

Dica de site

Acessibilidade Brasil

 www.acessobrasil.org.br

Sociedade constituída por especialistas da área de educação especial,


professores, engenheiros, administradores de empresas, arquitetos, desenhistas
industriais, analistas de sistemas e jornalistas, que têm como interesse comum o
apoio, ações e projetos que privilegiem a inclusão social e econômica de pessoas
com deficiência, idosos e pessoas com baixa escolaridade.

64
Lingua Brasileira de Sinais

A Língua de Sinais acontece em um espaço de sinalização que inclui o próprio


corpo de quem está sinalizando e o espaço à frente do seu corpo. Os sinais serão
feitos neste espaço conforme a imagem demonstra. Chama-se espaço de produção
de sinais.

Ao sinalizar em LIBRAS, você pode indicar sobre quem você está se referindo
na forma como você se situa no espaço. Por exemplo, se você estiver se referindo a
alguém que esteja no mesmo ambiente, não precisa tocar nelas para indicá-las na
sinalização. Apenas direcionando o apontamento para a pessoa num espaço da
sinalização, ou o olhar para ela e retomar imediatamente o olhar com a pessoa com
quem você está conversando.

Importante

Usa-se o apontar para indicar as pessoas (eu, tu, ele, ela, nós, vocês, eles), para
indicar localização (aqui, ali, lá) e para pronomes demonstrativos (este, esse, esta,
essa).

Para que servem então as CM – Configurações de Mãos, ou como nos


utilizamos delas para produzir sinais?

Não se pode esquecer que a questão do olhar é fundamental, por exemplo,


quando as pessoas surdas conversam, pois a comunicação se inicia quando se
estabelece para onde e quem o olhar é dirigido. Os surdos veem a língua,
enquanto os ouvintes ouvem-na. O olhar é a base das experiências visuais. Até
mesmo os espaços físicos são organizados de modo a atender, como pré-requisito,
esse estabelecimento do olhar.

65
Lingua Brasileira de Sinais

Vamos então conhecer os parâmetros da LIBRAS.

1º Parâmetro: Configuração de Mão

São formas das mãos, que podem ser da datilologia (alfabeto manual) ou
outras formas feitas pela mão predominante (mão direita para os destros, mão
esquerda pelos canhotos) ou pelas duas mãos de quem emite ou sinaliza.

Os sinais APRENDER, LARANJA e ADORAR utilizam a mesma configuração de


mão. Mão com configuração em “C” e “S”, fechando e abrindo, movimentando
duas vezes.

O primeiro sinal é realizado na testa, o segundo diante da boca e o terceiro no


tórax, na altura do coração.

66
Lingua Brasileira de Sinais

2º Parâmetro: Ponto de Articulação

É a região ou lugar onde incide a mão predominante configurada, podendo


esta tocar alguma parte do corpo ou estar em um espaço neutro vertical (do meio
do corpo até a cabeça) e horizontal (à frente do emissor).

Os sinais (em configurações diversificadas) de ENSINAR e TRABALHAR (já visto


anteriormente) se realiza no espaço neutro e os sinais de AMIGO e BANHEIRO, no
corpo, sendo o primeiro na região do tórax, próximo ao coração (indicando
afetividade) e o segundo, no antebraço.

67
Lingua Brasileira de Sinais

3º Parâmetro: Movimento

Os sinais possuem movimento ou não. Os sinais citados anteriormente


(ensinar – mãos movimentando para fora; amigo – a mão vindo de fora para
dentro; banheiro – mão num movimento de cima para baixo) têm movimento. Os
sinais AJOELHAR, EM PÉ e SENTAR não têm movimento.

4º Parâmetro: Orientação

Os sinais podem ter uma direção e a inversão desta direção pode significar
ideia de oposição, de sentido contrário ou concordância número-pessoal, como os
sinais IR e VIR; ACENDER e APAGAR (a luz), por exemplo

68
Lingua Brasileira de Sinais

5º Parâmetro: Expressão Facial e/ou Corporal

Muitos sinais, além dos quatro parâmetros mencionados, ao serem realizados


têm como traço diferenciador a expressão facial e/ou corporal, como os sinais de
Configuração de Mão ALEGRE e TRISTE. Há ainda os sinais que utilizam
movimentos realizados em alguma parte da face/rosto como, por exemplo, o sinal
de LADRÃO que é feito com a língua num movimento de rotação, internamente na
boca, numa mesma orientação que o gesto já universalizado, realizado com a mão.

69
Lingua Brasileira de Sinais

Sobre os Mitos e ainda Sobre Ser Surdo

Para se entender um pouco mais o


universo em que vive uma pessoa surda, que
tal conhecer e desfazermos certos mitos
acerca desses sujeitos?

O que seria correto dizer: deficiente


auditivo, surdo ou surdo-mudo?

Vamos adentrar mais um pouco sobre as


características do que seria uma pessoa se
autodenominar Surda e/ou Deficiente
Auditiva. É necessário agora destituirmos de
nossos sensos comuns, construídos ao longo
de nossa existência e repensar os diversos
mitos criados acerca da surdez

70
Lingua Brasileira de Sinais

1º mito a ser esclarecido é acerca da Língua de Sinais ser universal

Não. A língua de sinais não é universal. Assim como as pessoas ouvintes em


países diferentes falam diferentes línguas, também as pessoas surdas por toda
parte do mundo, que estão inseridas em “culturas surdas”, possuem suas próprias
línguas, existindo, portanto, muitas línguas de sinais diferentes: Língua de Sinais
Francesa, Língua de Sinais Chilena, Língua de Sinais Americana, Língua Gestual
Portuguesa; Língua de Sinais Russa etc.

Por exemplo: Boa Noite é um sinal realizado de um jeito diferente no RJ e de


outro jeito no RS. A cor verde em SP é de uma forma e no RJ de outra. O
apresentador Faustão tem um sinal específico em Maringá, no PR.

Você sabia que existe outra língua de sinais oficial brasileira? É a Língua de
Sinais da tribo indígena Urubus-Kaapor.

A LIBRAS não é a única língua de sinais oficial do Brasil. A Língua de Sinais da


comunidade indígena Urubu-Kaapor, do sul do Maranhão, também foi
reconhecida, além de ser a única língua de sinais indígena a obter esse status.

Na década de 1980, a pesquisadora Lucinda Ferreira-Brito, junto a sua equipe


da Universidade Federal do Rio de Janeiro, desenvolveu um projeto sobre esse
povo indígena, que já era pesquisado desde a década de 1960, pelo pesquisador
canadense James Kakumasu.

Lucinda Ferreira-Brito registrou em filmagens eles conversando entre si. A


comunicação por sinais era comum também entre os ouvintes da comunidade,
tornando-a bilíngue de fato, pois não se constituíam uma comunidade à parte. A
partir desse (re)conhecimento, um projeto denominado inventário Nacional de
Diversidade Linguística, promovido pelo Iphan – Instituto do Patrimônio Histórico
e Artístico Nacional foi criado para coordenar o estudo de diversas línguas
minoritárias no país .

71
Lingua Brasileira de Sinais

2º mito a ser esclarecido é sobre a Língua de Sinais ser uma mímica ou se


seriam gestos.

De fato, a língua de sinais utiliza-se às vezes, de certos recursos linguísticos,


como a mímica ou algum gesto como traço extralinguístico das línguas orais para
comunicar com as pessoas de qualquer parte do mundo, ou de alguma
comunidade específica, mas o determinante na diferença dessas duas formas de
expressão para uma língua de sinais é que numa narrativa, mesmo que alguns
sinais sejam “inventados” ou realizados de forma diferente por pessoas quando as
recontam, por conta de não haver um sinal ainda criado, existente, estudos dão
conta que simplificações e estilização nos movimentos acabam por sistematizar e
convencionar um sinal.

O sinal de LADRÃO e BEBER ÁGUA, geralmente, são expressos e reconhecidos


por gestos que os tornaram universais, mas existem sinais específicos para ambos
os vocabulários.

Um exemplo de “pantomima” ou mímica para caracterizar a progressão de um


sinal criado, após sua invenção,são mostrados em“camisa de força”em ASL
(American SignLanguage ou Língua de Sinais Americana) e em“ovo”em ASL e na
LIBRAS.

Na verdade a pantomima quer fazer com que você veja o


“objeto”, enquanto o sinal quer que você veja o símbolo
convencionado para esse objeto. (GESSER, 2009, p.21).

Há uma hipótese para o uso do termo “mímica” estar relacionado com o


preconceito da língua de sinais, que por muitos anos esteve associada somente a
uma linguagem, de ser a linguagem utilizada por símios, enfim, uma visão baseada
na “anormalidade”. Nomeação pejorativa como as referências utilizadas às pessoas
surdas, de que são: anormais, deficiente, débil mental, mudo, surdo-mudo,
mudinho, doentinho, entre outros.

72
Lingua Brasileira de Sinais

3º mito a ser esclarecido é sobre a Língua de Sinais ser inferior à língua


majoritária, a oral-auditiva ou que seja subordinada a ela.
Essa é uma crença também marcada pelo preconceito citado anteriormente,
ao conceito de que a surdez está relacionada à falta de capacidade, à limitação ou
simplificação e que a língua de sinais seja apenas um código primitivo. Um fator
que reforça essa ideia se encontra presente, socialmente , é a convivência e a
relação entre as pessoas surdas e ouvintes.
Além disso, quando as pessoas ouvintes querem se comunicar com as pessoas
surdas, por meio da escrita (da língua portuguesa) ou até mesmo pela LIBRAS que
algumas possuem, elas o fazem dentro da estrutura da língua portuguesa (sua
primeira língua).
O que se deve ter em mente é que sinais
não são gestos ou sinais não são traduções Pidgin-linguagem simplificada
literais das palavras na língua desenvolvida como um meio de
comunicação de improviso ou por
portuguesa!As duas línguas apresentam
convecção, entre dois ou mais grupos
características próprias, distintas por serem que não possuem um idioma em
línguas de modalidades diferenciadas. comum. Não é uma língua nativa de
qualquer comunidade de fala, mas é
Portanto, é pertinente dizermos que pode absorvida como uma segunda língua.
surgir um sistema auxiliar, uma língua de Um pdigin pode ser construído a
contato, uma terceira língua, uma espécie de partir de palavras, sons e linguagem
corporal a partir de várias outras
pidgin sinalizado, que não pode ser
línguas e culturas sem ter quaisquer
confundido com a LIBRAS. semelhanças nem quaisquer regras,
pois cada pidgin tem suas próprias
Por meio de língua de sinais podem-se normas de utilização que devem ser
discutir temáticas das mais variadas, como aprendidas para a proficiência nesta
filosofia, poesia, política, literatura, assuntos linguagem, desde que ambas as
do cotidiano, enfim, dos mais variados partes sejam capazes de compreender
um ao outro. Geralmente gozam de
gêneros discursivos, sem o conteúdo sofrer baixo prestígio com relação a outras
nenhum tipo de reducionismo ou línguas.
simplificação.
Quando os surdos recontam as histórias para outros surdos, acabam por criar
outras histórias. A base dessa prática está na língua de sinais, na cultura a qual
esteja inserido e os sentidos veiculados pelo texto pontuam para a criação de
outros textos, nas suas mais variadas performances. Essas performan ces podem
ser por meio de desenho, pintura, escultura, literatura, poesia, artes cênicas e
demais práticas reconhecidas como Arte Surda. Essa arte ancora-se numa das
principais características, natural da pessoa surda: a percepção visual. Ser surdo é,
antes de tudo, uma experiência num mundo visual.
73
Lingua Brasileira de Sinais

4º mito a ser esclarecido é sobre a datilologia ou alfabeto manual ser


considerada língua de sinais.

Como já foi compreendido anteriormente, já se sabe que a soletração trata-se


de um empréstimo linguístico, um recurso utilizado pelos falantes da língua de
sinais, para nomear ou referir-se a algo que não tenha ainda um sinal instituído,
para soletrar nomes próprios de pessoas ou lugares e siglas. São códigos de
representação das letras alfabéticas. Essa ideia reforça a concepção de que a língua
de sinais é limitada, pois precisa de complemento na comunicação, de ter que fazer
manualmente adaptações, das letras do alfabeto.

I-m-a-g-i-n-e-m-n-u-m-a- c-o-n-v-e-r-s-a-d-i-z-e-r- q-u-e- t-o-m-o-u-u-m-s-


o-r-v-e-t-e-d-e-c-r-e-m-e-e-e-s-t-a-v-a-m-u-i-t-o-g-o-s-t-o-s-o-!

Seria por demais exaustivo se comunicar dessa forma.

74
Lingua Brasileira de Sinais

Se soletrar não é um meio com um fim em si mesmo, isso significa que as


palavras podem ser substituídas por um sinal. É o caso, por exemplo, dos sinais
soletrados:

N-C-A “nunca”;O-I “oi”; O-R-O“ouro”, P-I “pai”; M-E “mãe”,M-I-O“maio”; Q-U-M


“quem”

.
O sinal soletrado vem a ser uma palavra da língua portuguesa que, por
empréstimo, passou a pertencer à LIBRAS, por ser expressa pelo alfabeto manual
com uma incorporação de movimento próprio desta língua.

5º mito a ser esclarecido é de que“surdos são todos iguais”, ou seja, a de que


por não ouvirem, todos interpretem da mesma forma ou pensam igualmente
acerca das informações veiculadas em seu entorno social.

Estudos realizados por uma pesquisadora surda,Perlin (1998) trouxe a luz do


conhecimento fatos e histórias sobre identidades surdas, não no intento de
universalizá-las, mas de desmistificar o olhar para a normalidade, tanto que
atualmente novas leituras acerca das identidades mapeadas dão conta de algumas
outras representações surdas, como alteridades num espaço histórico-cultural e
político, permitindo reconhecer na pessoa surda, nuanças de uma política
identitária. Segundo a autora, é necessário que se reflita sobre comunidade e
cultura surda numa perspectiva dos estudos surdos.

75
Lingua Brasileira de Sinais

Essa concepção leva em consideração assimetrias culturais, pois se trata de


identidades culturais que envolvem: rituais, linguagens, olhares, sinais,
representações, símbolos, modelos convencionais, processos profundamente
plurais e culturais.

Para Hall( 1998), o sujeito pós-moderno assume identidades diferentes em


diferentes momentos, identidades não unificadas, contraditórias até. Essas
múltiplas identidades do sujeito assumem posturas diferentes em diferentes
momentos.

Identidades Surdas

Por identidade entende-se aquilo que possui a qualidade de idêntico (do


perfeitamente igual). Segundo Aurélio, ao se pronunciar a palavra suscita em nós a
ideia do que somos e do que seja o outro; das características próprias, exclusivas do
que seja a pessoa, seu nome, idade, estado, sexo, profissão e outros. Nesse
contexto em que estudamos “o outro”, trazemos uma reflexão focada na pessoa
surda num contexto de sociedade pós-moderna.

Identidade Híbrida
Surdo que nasce ouvinte e com o tempo se torna surdo ou aquele que transita
entre os dois mundos – dos surdos e dos ouvintes.

Para Perlin, (1998 ) Isso não é tão fácil de ser entendido, surge a implicação
entre ser surdo, depender de sinais e o pensar em português, coisas bem diferentes
que sempre estarão em choque. Assim, você sente que perdeu aquela parte de
todos os ouvintes e você tem pelo meio a parte surda. Você não é um, você é duas
metades.

 Identidade Política: surdo que incorpora em grau elevado a representação


de sua identidade, normalmente são líderes de movimentos surdos. Essa
identidade,inicialmente, foi reconhecida como identidade surda por que a
pesquisadora observara que os sujeitos desse contexto, se utilizam de formas

76
Lingua Brasileira de Sinais

diversificadas da comunicação visual, como uma característica do grupo, o


que acaba levando para o centro do específico do surdo. Provavelmente por
que cerca de mais de 90% das pessoas surdas, sejam oriundas de famílias
onde não há pessoas surdas ou seus pais são ouvintes. Sendo assim, as
culturas dos sinais, e de todo o arcabouço social da surdez, são “ressuscitadas
e refeitas dentro de cada geração”.(Wrigley, apudPerlin, 1998).

 Identidade Flutuante: surdo que não se identifica como tal, ou pelo


estereótipo ou por desconhecimento,
fruto do oralismo ou ouvintismo.
Ouvintismo ou “ouvintização” -
Identidade presente nos surdos que conjunto de representações dos
vivem e se manifestam a partir da ouvintes, a partir do qual o surdo está
hegemonia dos ouvintes. Tem a obrigado a olhar-se e a narrar-se como
se fosse ouvinte. Portanto, as
“consciência” ou não de que é surdo, percepções do ser deficiente, as quais
mas diante de uma sociedade legitimam as práticas terapêuticas
habituais.
majoritaria de ouvintes, que impõem
Comunidade Surda – As
seus comportamentos e o que devem comunidades surdas, em todos os
aprender, acabam por optar em serem países, são formadas por pessoas que
se identificam como pessoas surdas,
“ouvintizados”. Há os mais radicais, que
ou seja,pessoas que possuemuma
desprezam a cultura surda e não têm língua e cultura própria.Organizam-se
compromisso algum com a em clubes, associações, federações,
festivais, universidades, utilizando a
comunidade surda. Muitos são forçados Língua de Sinais como forma de
a viverem a situação e até chegam a se comunicação.
conformar a ela. O termo ‘flutuante’ vem
de Mclaren (1997, p.137), quando ele diz
ser “a habilidade do sujeito falante de mover-se para dentro da posição dele sem
parecer ter deixado a posição do eu ou tu os quais são significantes vazios ou
“flutuantes” que não possuem referente fora da situação imediata”. Esse sujeito
falante, não é o que oraliza, mas aquele que diz, que “fala”. É aquele que
constrói sua identidade de forma fragmentada por múltiplas identidades de
nosso tempo.

 Identidade de Transição: surdo identificado pelo momento de


transformação, quando deixa a identidade flutuante projetando-se na
identidade surda. Essa é uma ocorrência bastante verificada principalmente
na transição da adolescência para a maioridade. No momento que esses
surdos estabelecem um contato com a comunidade surda, a situação para
eles modifica de tal forma, que o processo de “desouvintização” desencadeia-
se numa representação de uma surdez em (re)construção.

77
Lingua Brasileira de Sinais

 Identidade Incompleta: surdo que ainda não constituiu nenhum currículo ou


não assimilou base linguística suficiente. São as pessoas surdas que não
conseguem “quebrar” a rede de poder criada pela hegemonia dos
ouvintes.Acabam se tornando subservientes e não possuem nenhuma voz
ativa sobre seus desejos e necessidades. Muitos acabam com problemas
psicológicos e até, psiquiátricos. Não conseguem se socializar nem com os
surdos, nem com os ouvintes. Pressupõe então outro tipo de identidade ou
representação diferente daquela em o que sujeito renega a identidade surda.

Após a defesa de sua dissertação, a pesquisadora continuou suas pesquisas e


mais duas representações de identidades foram observadas:

 Identidade de Diáspora: surdo de outra região, com características de sua


comunidade interagindo e influenciando a língua, nos lugares em que vive.

 Identidade Embaçada: surdo com características parecidas com a


Identidade Surda Incompleta, só que mais dependentes da família. São
aqueles que já se encontram num círculo de vivência em que idas ao médico
fazem parte de sua rotina, uso de remédios, não sabem e nem conseguem
estabelecer estratégias de uma ida simples ao mercado ou tomar uma
condução. Não conseguem socializar-se de maneira simples, sendo muitas
vezes confundidos com pessoas com espectro autista, ou até mesmo com
deficiência intelectual.

Vamos refletir

Você sabe fazer Leitura Labial ?

A Leitura Labial consiste em adquirir as habilidades para captar as palavras


oralmente por meio de decodificação dos movimentos labiais e das articulações do
emissor. Método ou orientação curricular nas abordagens com pessoas surdas ou
com deficiência auditiva, peculiar na filosofia oralista.

78
Lingua Brasileira de Sinais

Duas são as formas de conceber a surdez: patologicamente ou culturalmente

A medicalização pressupõe a pessoa surda como uma


pessoa com ‘deficiência física’, precisando de intervenções
clínicas para sua ‘recuperação’. Esse é um discurso
fortemente construído e ainda faz parte do pensamento de
uma maioria que assume uma visão negativa da surdez. Ao
passo que já é possível verificar que o uso da língua de
sinais pelas pessoas surdas e ouvintes, de forma valorizada,
vem se posicionando no que se chama de postura positiva
frente à surdez. Nas comunidades acadêmicas norte-
americanas e aqui no Brasil, embora ainda timidamente,
mas num movimento constante e crescente, já é possível
observar uma autonomia identitária cultural e linguística,
gerando um senso coletivo crítico de que a surdez é um
problema para as pessoas ouvintes e não para as pessoas
surdas. (GESSER, 2009, p.63).
Mais mitos...
Paradigma - Algo utilizado como
Paradigmas não se mudam da noite para padrão a ser seguido.É um
o dia. Ideais, dilemas, equívocos, estão pressuposto filosófico, uma teoria,
presentes em quaisquer ações que se um conhecimento que origina o
estudo de um campo científico;
propõem para o outro. Como pensamos esse
com métodos e valores que são
outro? Que outro cabe em minhas relações: de concebidos como modelo; uma
vida comum, de trabalho, na minha vida social referência inicial como base
de modelo para estudos e pesquisas.
e pessoal?
Icônico ou iconicidade – Propriedade
Penso ser sua língua artificial? De que ela de um signo representar por
semelhança o mundo objetivo ou ser
seja somente manifestações icônicas? Ser ela a imagem real de um objeto.Há uma
uma espécie de código secreto, onde somente tendência em se pensar que a língua
de sinais é exclusivamente icônica,
pessoas altamente preparadas e específicas
pelo fato dela ser uma língua de
possam fazer parte? Enfim, muitas perguntas, modalidade gesto visual, ou seja, por
algumas até de cunho pessoal, ainda devem ela ser sinalizada, se tornando mais
“palpável” mais “visível”. Isso no
ecoar em nosso íntimo, porque constatada ser
mínimo reforçaria ser a língua de
uma questão mais linguística do que de sinais pantomímica, o que já foi visto
deficiência física, a surdez é uma situação em não ser verdade. Existem até alguns
sinais que possuem um grau elevado
que qualquer pessoa possa se ver envolvida, de iconicidade como ‘beber’, ‘árvore’,
seja familiarmente, seja profissionalmente ou ‘casa’, ‘avião’, entre outros, não sendo
até mesmo numa situação passageira do por isso exclusividade das línguas de
sinais. Na língua oral também
nosso cotidiano. verificamos essa característica, como
no caso das onomatopeias ‘pingue-
pongue’, ‘ziguezague’, ‘tique-taque’,
‘zum-zum’.

79
Lingua Brasileira de Sinais

Você sabe qual a diferença entre ser surdo e uma pessoa com
deficiência auditiva?
O Surdo é aquele que tem a LIBRAS como sua língua. A expressão“surdo-
mudo” (mais um dos mitos)é a mais antiga e inadequada denominação atribuída à
pessoa surda e, infelizmente, ainda utilizada em certas áreas e divulgada nos meios
de comunicação. O fato de uma pessoa ser surda não significa que ela seja muda.
Ser “mudo” significa que a pessoa não emite sons vocais.

Para a comunidade surda, o deficiente auditivo é aquele que não participa de


Associações e não sabe LIBRAS. Geralmente é um sujeito que se constituiu numa
linguagem oral-auditiva, tendo escutado por um tempo, ao perder a capacidade de
ouvir busca na tecnologia, aparelhos ou recursos que podem lhe ajudar a perceber
o mundo, porque já possuem memória auditiva. São pessoas que vivem uma
cultura ouvinte.

Dicas de uma abordagem adequada :


Em vez de gritar ou falar o nome da pessoa é melhor chamar sua atenção
através de um leve toque no ombro ou no braço dela. Acenar também é uma
opção se a pessoa estiver perto ou se estiver distante.

Dependendo da situação, podem-se dar umas batidinhas no chão (ele poderá


sentir a vibração através do corpo) ou fazer piscar a luz.

80
Lingua Brasileira de Sinais

Converse com o surdo olhando em seus olhos. Para ser entendido, não se
envergonhe em apontar, desenhar, escrever ou dramatizar. Use e abuse de suas
expressões faciais e corporais. Tais recursos sãoimportantes quando não há ainda
domínio da língua de sinais.

Não precisa falar ou conversar gritando com uma pessoa surda. Ele não ouve
mesmo e sua garganta é quem irá reclamar. Esses e outros métodos apropriados de
captar a atenção dão reconhecimento à experiência visual dos Surdos e fazem
parte da cultura surda. Em todo o mundo, os surdos expandem seus horizontes
usando uma rica língua de sinais.

Leitura Complementar

Índios Surdos: Mapeamento das Línguas de Sinais do Mato Grosso do Sul.

Leitura imperdível!

A autora é brasileira, surda e descendente de indígenas. Em sua dissertação de


mestrado ela percorre comunidades indígenas do Mato Grosso do Sul em busca de
Línguas de Sinais emergentes. Acompanhá-la nessa jornada nos aproxima da
humanidade como um todo.

Assim terminamos nossa última unidade de estudos, onde estudamos os


parâmetros da língua brasileira de sinais e desconstruimos muitos conceitos
equivocados acerca da surdez .

É HORA DE SE AVALIAR!

Lembre-se de realizar as atividades desta unidade de estudo,elas irão ajudá-lo


a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-
aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie
através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!

81
Lingua Brasileira de Sinais

Exercícios – Unidade 4

1. A frase “quem fala uma língua sabe muito mais do que aprendeu”, de Noam
Chomsky, está de acordo com qual(is) sentença(s) abaixo?

I – Na década de 1960, no Brasil, foi conferido à língua de sinais o status


linguístico e, ainda hoje, mais de quarenta anos passados, continuamos a afirmar e
reafirmar essa legitimidade.

II – Nos Estados Unidos, os surdos “falam” a língua americana de sinais; na


França, a língua francesa de sinais; no Japão, a língua japonesa de sinais; no Brasil, a
língua brasileira de sinais e assim por diante.

III – Os sinais podem ser agressivos, diplomáticos, poéticos, filosóficos,


matemáticos: tudo pode ser expresso por meio de sinais, sem perda nenhuma de
conteúdo. (Emmanuelle Laborrit, surda francesa, em O voo da gaivota)

IV – Os seres vivos podem ter um sistema de comunicação, assim como as


abelhas se comunicam, o sofisticado sistema existente, de comunicação dos
golfinhos e de tantos outros mamíferos. Tudo é língua.

Marque a alternativa correta :

a) todas estão corretas.

b) estão corretas I e II.

c) estão corretas II e III.

d) estão corretas III e IV.

e) estão corretas I e IV.

82
Lingua Brasileira de Sinais

2. Complete as lacunas:

De acordo com Oliver Sacks (neurocientista anglo-americano),


“o________________ não era visto, mesmo por quem sinalizava, como uma
______________ com sua _______________”.

a) sinal – língua de sinais – fala.

b) sinal – mímica – comunicação.

c) sinal – fala – gramática.

d) sinal – língua– gramático.

e) sinal – língua de sinais - fala.

3. Estudiosos e linguistas geralmente interessam-se pelos surdos por algumas das


características apresentadas por eles como: identidade equilibrada,
principalmente, aqueles que são filhos surdos de pais surdos; semelhança aos
ouvintes em seus níveis de leitura; por não apresentarem dificuldades em sua
socialização e/ou, distúrbios no seu emocional, como os filhos surdos de pais
ouvintes apresentam.
A expressão que melhor complementa essa afirmativa seria:

a) Por que eles se reconhecem como pessoas surdas, usam sua língua e
compartilham-na entre si, além de suas crenças com outras pessoas que não
são Surdas, se narrando enquanto comunidade ou cultura.

b) Por utilizarem as configurações de mãos como sinais, substituindo as palavras


da língua portuguesa.

c) Por não permitirem que pessoas ouvintes façam parte das comunidades
surdas.

d) Por usarem o alfabeto manual ou a datilologia como língua de sinais, em sua


comunicação.

e) Por ser a língua de sinais exclusivamente icônica, uma língua de modalidade


gesto visual, logo, pantomímica.

83
Lingua Brasileira de Sinais

4. Correlacione os Parâmetros da LIBRAS, da primeira coluna com os seus


significados, na segunda:

( 1 ) Configuração ( ) Que dá movimento ao sinal.


de Mão
Ex. Banheiro.

( 2 ) Ponto de ( ) Dão o tom diferencial ao sinal.


Articulação
Ex. Rir.

( 3 ) Movimento ( ) São as formas das mãos representando um sinal.

Ex. Sinal de laranja, aprender e adorar.

( 4 ) Orientação ( ) Que determina o sentido e direção do sinal.

Ex. Acender e/ ou apagar a luz.

( 5 ) Expressão ( ) Lugar onde é realizado o sinal e, que determina o


Facial e Corporal que ele seja.

Ex. Sinal de laranja, aprender e adorar.

84
Lingua Brasileira de Sinais

5. Complete as lacunas de acordo com os MITOS criados acerca da surdez:

A crença de que a LIBRAS seja ________________ parte do pressuposto de que


pessoas surdas, do mundo inteiro, se comunicam da mesma forma. Apesar da
_______________ ser um recurso linguístico, não deve ser considerada como
língua de sinais. Pessoas que não sabem se comunicar por meio da língua de sinais,
podem usar também o_________________________ ou a
_______________________ para nomear ou referir-se a algo que não saiba
sinalizar. Por fim, deve-se compreender que os surdos não são todos iguais, pois
são possuidores de uma _______________ e ___________________ que os
diferenciam entre si, revelando-os como sujeitos plurais e culturais.

85
Lingua Brasileira de Sinais

Considerações Finais

Desejo que os estudos que envolvimento questões sobre surdez, das crenças e
características linguísticas, culturais e identitárias que permeiam a vida das pessoas
surdas, tenham trazido a vocês, compreensão referente à constituição desse
sujeito, ora reconhecido como pessoa com deficiência, ora como pessoa surda.

Os recortes apresentados falaram um pouco da complexidade do que seja a


língua e a linguagem. O uso da expressão Surdo, com o “S”maiúsculo, revela uma
amplitude social que situa a perda auditiva como uma marca de um grupo, de uma
comunidade que tem na sua língua, o principal fator de autoconhecimento, de
identidade social e legitimação como comunidade linguística diferenciada.

Espero que a bibliografia, leituras e filmes sugeridos tenham sido interessantes


e válidos para que vocês possam se sentir seguros em discutir as temáticas
envolvendo pessoas surdas e essa língua, a LIBRAS, que também é sua.

Um forte abraço!

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Lingua Brasileira de Sinais

Conhecendo a autora

Laura Jane Messias Belem

Graduada em Ciências Contábeis pela Faculdade Moraes Junior - Mackenzie


(1991) e Mestre em Educação pela UNIMEP -Universidade Metodista de Piracicaba
(2010). Pós- graduanda em Ensino, Tradução e Interpretação em LIBRAS pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ. Além disso, é professora concursada
do Município do Rio de Janeiro há doze anos, com experiência na área da surdez e
da surdocegueira, lotada atualmente no Instituto Municipal Helena Antipoff - IHA,
no Laboratório de Libras, junto a uma equipe de profissionais da área específica de
surdez, no desenvolvimento do Programa Bilíngue, na capacitação e formação de
professores da rede municipal de educação, na implementação da Língua de Sinais
no contexto educacional. Também é professora da Unidade de Educação à
Distância da Universidade Gama Filho - UGF/UEAD nas disciplinas de LIBRAS e
Braille. Intérprete e Guia-Intérprete de LIBRAS atuando em eventos, congressos,
palestras e seminários.

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Lingua Brasileira de Sinais

Referências

BRASIL. Decreto nº 5.626.Regulamenta a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002,


que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS, e o art. 18 da Lei nº 10.098,
de 19 de dezembro de 2000. Publicada no Diário Oficial da União em 22 de
dezembro de 2005.

_______________.Lei 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua


Brasileira de Sinais (LIBRAS) e dá outras providências. Disponível em:
www.mec.gov.br/seesp/legislacao.shtm

_______________.Lei 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Estabelece normas


gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras
de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências. Disponível
em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l10098.htm

CAMPELLO, Ana Regina e Souza. Tese Pedagogia Visual na Educação dos


Surdos-Mudos. Florianópolis: UFSC, 2008.

DINIZ, Heloise Gripp. A história da Língua de Sinais dos Surdos Brasileiros:


um estudo descritivo de mudanças fonológicas e elxicais da Libras. Petrópolis,
RJ:Arara Azul,2011.

FELIPE, Tanya A. Libras em contexto: Curso Básico – Livro do Professor /


Tanya A. Fellipe de Souza e Myrna Salerno Monteiro.5. ed.Brasília: Ministério da
Educação, Secretaria de Educação Especial, 2004.

_______________. Libras em contexto: Curso Básico – Livro do Estudante –


Texto p. 134-135 co-autoria Emeli Marques. Brasília: Ministério da Educação,
Secretaria de Educação Especial, 2005. 5ª edição.

FERNANDES, Eulalia. Problemas linguísticos e cognitivos do surdo. Rio de


Janeiro. Agir, 1990.

FERREIRA-BRITO, Lucinda. Integração Social e Educação de Surdos. Rio de


Janeiro. Babel Editora, 1993.

GESSER, Audrei. LIBRAS?: Que língua é essa?: crenças e preconceitos em


torno da língua de sinais e da realidade surda. São Paulo. Parábola Editorial, 2009.

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HALL, Stuart. Língua de Sinais na Educação dos Surdos. In: THOMA, Adriana da
S. e LOPES, Maura Corcini (Orgs). A invenção da surdez: cultura, alteridade,
identidades e diferença no campo da educação. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2004,
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HOUAISS, Antonio. Dicionário Houaiss: Sinônimos e Antônimos. 2.ed.São


Paulo: Publifolha, 2008.

KARNOPP, Lodenir Becker. Língua de Sinais na Educação dos Surdos. In:


THOMA, Adriana da S. e LOPES, Maura Corcini (Orgs). A invenção da surdez:
cultura, alteridade, identidades e diferença no campo da educação. Santa Cruz
do Sul: EDUNISC, 2004, p.103-113.

KLEIN, Madalena. Cultura surda e inclusão no mercado de trabalho. In: THOMA,


Adriana da S. e LOPES, Maura Corcini (Orgs). A invenção da surdez: cultura,
alteridade, identidades e diferença no campo da educação. Santa Cruz do Sul:
EDUNISC, 2004, p.83-99.

LYONS, John.Linguagem e Linguística - Uma Introdução.Rio de Janeiro.


Zahar Editores, 1982.

PERLIN, Gladis Terezinha. Identidades Surdas. SKLIAR, Carlos (Org.). A surdez:


um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre: Editora Mediação, 1998, p.51-74.

QUADROS, Ronice Müller de. Língua de sinais: instrumentos de avaliação /


Ronice Müller de Quadros, Carina Rebello Cruz. Porto Alegre: Artmed, 2011.

_______________. O Tradutor e Intérprete de Língua Brasileira de Sinais e


Língua Portuguesa.Secretaria de Educação Especial; Programa Nacional de Apoio
à Educação de Surdos. 2. ed.. Brasília: MEC/SEESP, 2004.

_______________. Língua de sinais brasileira: estudos linguísticos / Ronice


Müller Quadros e Lodenir Becker Karnopp. Porto Alegre: Artmed, 2004.

SKLIAR, Carlos. A surdez: um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre: Editora


Mediação, 1998.

89
Lingua Brasileira de Sinais

A
nexos

90
Lingua Brasileira de Sinais

Unidade 1

1-c

2-b

3- 3 – 5 – 4- 1- 2

4-a

5-e

Unidade 2

1-d

2-a

3-a

4-c

5-b

Unidade 3

1-d

2-c

3-e

4-b

5-d

Unidade 4

1-c

2-d

3-a

4- 3,5,1,4,2

5- universal – mímica – alfabeto manual – datilologia – cultura – identidade

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