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A ESTUDAR IMPRO CARALH...

A improvisação tinha sumido dos palcos há muitos anos, demorou vários séculos
para voltar ser a cena e não parte do processo para a cena. Agora ela volta à moda, todos
querem improvisar, assistir um vídeo de Impro no YouTube ou ir ao teatro e rir com as
ocorrências dos improvisadores.
Muitos dos Impro-aficionados também anseiam aprender a fazer isso, que é tão
divertido e às vezes parece fácil. Mas o que faz alguém querer estudar Impro?
-“Eu sou muito espontâneo” – pensam alguns. “Eu quero ser espontâneo” – pensam
outros. Tem os que acham que aprender a improvisar é o mesmo que aprender a fazer
Stand Up, ou por ser uma moda divertida, ou para ser famoso como aqueles caras da
internet, os que apenas querem relaxar após um dia de trabalho. Claro que também, em
menor escala, há aqueles que querem estudar Impro porque acham que é um bom
caminho na sua formação de ator. Qualquer que seja o motivo, estas pessoas se
encontrarão na sala de treinamento, dispostas a receber uma jornada de jogos, exercícios
e cenas improvisadas, para no final se enfrentar à plateia, por que na verdade é só aí que
a Impro cobra sentido, quando é feita frente ao público.
A Improvisação teatral não chega através das boas idéias, talento, desejo ou
espontaneidade. Ela chega só através do estúdio, do treinamento. Já vimos pessoas que
mudam radicalmente por causa da Impro, nós mesmos já mudamos com ela; as bases
técnicas que ela propõe servem tanto para a cena como para a vida: a escuta, o trabalho
em equipe, a aceitação, a capacidade de decidir rapidamente, de se divertir com o outro,
de entender e propor para sair do cotidiano, são sem dúvida elementos que fazem a vida
mais tranquila e vivível. Não pense nunca em fazer Impro sem treinar Impro. Tente
improvisar sem copiar o que já viu, sem ter nada preparado, tente e vai ver que precisa
de ferramentas, porque a Impro é feita de jogos, porém improvisar não é um jogo.
Como diz Omar Argentino Galván “Somos improvisadores, mas não somos
improvisados”. Temos que nos preparar, conhecer as bases técnicas para depois pirar e
fazer o que queremos a partir delas, esses conhecimentos são acumulativos e
inesgotáveis.
Spolin, Johnstone, Moreno, Lecoq, Leiton e muitos outros nos guiaram até os
caminhos possíveis para a improvisação ser parte do nosso corpo de um jeito natural e
gostoso, muitas companhias no mundo deram passos enormes e nos apresentaram
outros caminhos improvisados que podemos percorrer. Mas não se esqueça, sempre vai
precisar de estudo e prática, porque a mente é como os músculos do corpo de um
bailarino ou um esportista, ela precisa de alongamento diário, de preparação constante
para ser cada vez más ágil, mais espontânea e criativa, quanto maior a carga horária de
treinamento maior será o poder de criatividade do improvisador.
Assim como o corpo do improvisador, ele deve se preparar sempre, sair do seu
estado natural para voltar a ser criança, abandonar os vícios, os medos e as censuras.
Aprender a acreditar nas propostas dos outros, a emprestar os ossos, a pele, o rosto… a
outras personagens para que habitem nele. A escrever com ele histórias nunca antes
feitas e que nunca mais se repetirão.
A Impro não é uma moda, ela tem milhares de anos, só que agora está de novo
no olhar do mundo, é por isto que temos que nos preparar sempre e conhecer a
profundidade a técnica, especialmente se queremos virar improvisadores de verdade.

(Artigo escrito com junto com Allan Benati para o Guia do Portal Improvisando
http://portalimprovisando.com/2013/03/16/a-tecnica-impro/)

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