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METRAGEM
Os logotipos dos patrocinadores e apoiadores começam a aparecer na tela.
O som das pernas se arrumando nas cadeiras enchem o ambiente. Você
começa a olhar para os lados e tenta adivinhar o que as pessoas estão
pensando.
Todo escritor audiovisual tem o desejo de ver o seu filme na sala escura. É
mágico poder assistir a algo que você criou. É natural. Depois de tanto
esforço – às vezes anos para desenvolver uma obra – o que você deseja é,
no mínimo, que a ‘coisa’ funcione. Se aplaudirem, melhor ainda. Se
gostarem e recomendarem, perfeito!
Eu também quero esse resultado. Quem não? Eu almejo isso tudo. Sinto a
mesma coisa. Mas a realidade é construída dia pós dia, manhã pós manhã.
Se eu ficar projetando o futuro, ele sempre será futuro. Agir no hoje é uma
ação muito relevante para você assistir seu filme na sala escura.
Por isso, resolvi listar neste texto os 10 principais tópicos que envolvem a
escrita do primeiro longa-metragem. São 10 caminhos que eu percebo na
prática, diariamente. São uma dose forte para quem irá vivenciar o
primeiro processo de longa.
O meu item preferido é o de número 8. E o seu? Diga-me nos comentários.
2 – Esqueça o roteiro
Uma das frases que mais ouço é: “não tenho tempo pra escrever“. Com
baixíssima frequência eu ouço: “eu escrevi o roteiro de um longa e estou
com algumas dúvidas”. A ponte entre a ideia e o roteiro é bastante
grande. É preciso fôlego para iniciar a caminhada. Mesmo assim só
consegue terminar quem decide dar o primeiro passo. É imprescindível que
você tenha um caderno (ou um arquivo em branco no computador) para
anotar todas as ideias, devaneios e insights. Até aí tudo bem, você está
estimulando seu cérebro. Isso é um treino para a escrita. Porém, quando
você definir – “vou escrever um longa” – você precisa de um cronograma.
Você pode seguir um caminho certeiro com o e-book “Os 7 Passos para
Criar uma história”, que eu escrevi juntamente com o roteirista Tom
Freitas.
Eu nunca diria: “escreva apenas o que pode ser filmado”. Também não
acredito no contrário: “escreva qualquer coisa que imaginar, depois você
pensa se é possível fazer”. Deve haver um equilíbrio. Equilíbrio entre
conteúdo e mercado. Para isso, torna-se importante você conhecer as
áreas do cinema. Saber quanto custa um filme, como funciona a produção,
como se adquiri os recursos, quais são as câmeras disponíveis. Indico que
conheça também sobre a história do cinema nacional (em qualquer país
que você esteja pensando em trabalhar). Quanto mais souber melhor.
Posso escrever sem saber isso? Pode sim. Será um pouco egoísta e um
pouco utópico. Mas pode.
Quanto mais bagagem você tem, mais a sua mochila pesa. Isso quer dizer:
quanto mais você entende o processo da escrita narrativa, mais o processo
pode tornar-se cheio de dilemas. Mas é comum. Enquanto você se mata
dentro do seu quarto, sem saber direito o que é melhor para a cena de
abertura, lembre-se que, no outro lado do mundo, há um outro roteirista
fazendo a mesma coisa. Isso faz parte. O que não faz parte é você
acreditar em um longa-metragem sem sofrimento. Mas e daí? Isso é bom
no final das contas. Quando você percebe que o obstáculo traz repostas
muito mais intensas, o problema passa a ser a solução.
Você já deve ter ouvido falar disso muitas vezes. Minha pergunta é: você
está levando a sério? É tentadora a ideia de ganhar prêmios pelo mundo
com algo inovador, chamativo, contemporâneo. Ok, pode ser que seja a
sua vibe mesmo. Entendo. Entretanto, alerto para o seguinte: toda e
qualquer criação parte do entendimento do clássico. O clássico é um filme
com início, meio e fim, com pontos de virada marcantes e estrutura
linear. Faça isso e ao perceber que deu certo você pode quebrar tudo o que
achar necessário. Ao descobrir que você sabe construir da maneira
tradicional, você vai encontrando a sua forma. Se partir do princípio
contrário, pode ser que leve muitos anos para ser (um pouco) reconhecido
ou você pode passar muitos anos em busca da sua forma, sem saber muito
bem como buscar.
Você teve uma ideia genial e acredita que ela pode levar você ao Oscar.
Beleza! É ótimo ter esse alvo. Isso estimula e desperta sua vontade de
escrever. Mas lembre-se que não é possível derrubar uma ave de rapina
com um estilingue.Encare cada filme como uma partícula de um processo
maior. Pra crescer é precisar pensar no hoje, no agora, nos detalhes. Quem
se concentra demais no resultado acaba perdendo os mínimos caminhos e
possibilidades de desenvolvimento. Esse filme levou você até ‘aqui’. Agora
é hora de ir pra ‘lá’ e assim sucessivamente. Então, sendo bem realista, se
sua vontade é simplesmente ganhar prêmios pense em: estudar os
festivais, devorar os filmes vencedores, enxergar com olhos de jurados,
treinar a percepção, descobrir os processos de seleção, antenar-se para o
tipo de tendência que o festival cria e estar aberto a testar, testar, testar.
Mesmo assim, será um passo depois do outro.
Aos mesmo tempo que parecem ser 10 itens básicos, eles são também
avançados e essenciais. É comum deslizar nas etapas mais simples! É
justamente por isso que muitas ideias não viram sequer curtas: pois há
muita concentração no “onde” chegar e esquecemos o “porquê” e o
“como” chegar.