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María Mercedes Jaramillo fala em seu livro Antológía Crítica del Teatro Breve
Latinoamericano, que nos anos 1960 nasceu uma corrente chamada de Novo Teatro
Latinoamericano, termo cunhado também pela pesquisadora Beatriz Rizk. Esse teatro
nasceu como uma resposta às mudanças sociais e políticas que o continente sofria.
Na Colômbia, esse movimento surgiu simultaneamente com o trabalho do
diretor Enrique Buenaventura no TEC (Teatro Experimental de Cali) que desenvolvia
um importante trabalho teórico sobre a dramaturgia nacional e o ator com seu método
de Criação Coletiva (Jaramillo M. M., 1997, pág. 278). Esse método também foi
trabalhado pelo teatro La Candelaria em Bogotá sob a direção do mestre Santiago
Garcia nos anos 1970, e sucessivamente por companhias colombianas.
Todavia, segundo disse Buenaventura, a Criação Coletiva não é uma invenção
moderna, nem muito menos, como querem alguns, uma moda passageira do teatro
colombiano e latino-americano. Com metodologias diferentes, existe desde que existe
teatro (Buenaventura, 1985).
Segundo Beatriz Rizk, a Criação Coletiva tem certas características que, a meu
ver, estão intimamente ligadas com o que hoje conhecemos como Impro, na verdade
tem muitas coisas em comum, a começar pela improvisação como metodologia de
trabalho. Vejamos:
a) Concebe uma dramaturgia a partir de outra perspectiva, uma forma
diferente de encarar o mundo. O que leva à construção de uma poética a
partir dos contextos sociais e históricos nacionais (Beatriz, 2011);
b) Busca ampliar o panorama cultural ao coletar temas e atitudes que antes
não eram próprios do teatro colombiano, mas que encontraram nele um
canal de expressão onde a dimensão política do simbólico e estético
poderia ser resgatada;
c) Baseia-se em uma estrutura de grupo, com temas essencialmente
populares e de maior participação dos atores através de um trabalho de
laboratório, que deixou uma marca na história do teatro colombiano;
d) Utiliza a improvisação como sua ferramenta fundamental. Busca que os
atores entrem em cena para colocar cada um a sua visão, daí surgirão
enfrentamentos, acordos, desacordos, mas logo o diretor escolhe o que é
útil para a montagem final (Beatriz, 2011);
e) Baseia-se na improvisação, desde que não seja utilizada para
comprovar, corroborar, melhorar ou enfeitar a concepção, as ideias ou o
plano de montagem do diretor. Desde que seja reconhecida, de fato ou
de direito, como o campo criativo dos atores e que seja aceita como
antítese dos planos da direção no jogo dialético da montagem
(Buenaventura, 1985);
f) Esta corrente marcou profundamente e irreversivelmente o rumo da arte
cênica na Colômbia, mudou concepções como a de ator, diretor,
dramaturgo e público, refletiu sobre os espaços cênicos, renovou o
sentido político e levantou a necessidade de promover a
profissionalização da atividade teatral.
A Criação Coletiva segue presente na Colômbia, como disse Santiago García em
entrevista para Bernard Baycroft da Universidade de Stanford, publicada na internet: “A
última etapa, que vai do final de 1971 até agora, é a caracterizada por nosso trabalho de
criação coletiva, não só nos problemas de montagem, mas na criação do texto”.
Em suma, este método que nasceu há cinquenta anos, existirá de qualquer forma,
sempre e quando o grupo que o trabalha siga um sistema que o aproxime da ideia de
teatro como laboratório, como centro de busca e investigação ou como um coletivo de
profissionais que exercem suas funções dentro doa Criação Coletiva. Características
próprias da Acción Impro, minah equipe de trabalho na cidade de Medelín há onze anos.
As Diferenças
O teatro de improvisação se diferencia da Criação Coletiva, uma vez que essa é
um método para chegar a um texto pré-estabelecido a partir do trabalho conjunto.
Enquanto que a Impro é em si um espetáculo, o público observa o processo de criação
em convívio e este por sua vez não é concebido para ser fixo, mas para ser representado
uma única vez.
No entanto, não podemos negar que a Impro possui várias das características
dessa metodologia teatral, por exemplo, também promove a participação dinâmica de
todos os membros da equipe teatral (Jaramillo M. M., 2004) , mas ainda assim penso
que estar vazia não é política, não de maneira consciente, pois não capta os processos de
mudança da sociedade, nem revela seus conflitos e contradições (Jaramillo M. M.,
2004).
Meu trabalho de pesquisa no mestrado consiste em criar obras de teatro a partir
da Impro em convívio, o que tem uma relação muito estreita tanto com o teatro de
improvisação como com a Criação Coletiva. Uma vez que tenho como objetivo
desenvolver textos a partir do que acontece em um espetáculo que o público assiste,
diferente do trabalho realizado por nossos mestres do Novo Teatro Latino-americano
que apresentam suas obras uma vez ensaiadas e prontas ao final do processo de criação
coletiva da companhia.
O Problema
O principal problema que a Impro tem, por ainda não ser considerada Criação
Coletiva na Colômbia, é devido à falta de posicionamento político das companhias que
se dedicam a ela. Por exemplo em Acción Impro (Medelín), embora tenhamos
montagens como Tríptico, Botones ou El Pasajero, apresentadas em países como Brasil,
Argentina, México, Chile, Espanha, Equador e Colômbia; considerados por outros
grupos de Impro como a nova forma de assumir o teatro de improvisação.
Embora esses espetáculos determinem um trabalho absolutamente diferente do
realizado por companhias clássicas de Impro ao redor do mundo, tanto pelo seu
formato, como por busca teatral. Insta reconhecer que em todos eles há uma falta de
consciência social, são vistos e criados a partir de uma perspectiva de pesquisa técnica e
não a partir de uma poética própria que assume uma posição clara diante o país e o
mundo.
Esse fenômeno do teatro comercial de Impro ocorre claramente em outras
companhias latino-americanas como: Complot Escena (México / D.F.), Improcrash
(Buenos Aires / Argentina), Jogando No Quintal (São Paulo / Brasil), Mamut (Santiago
do Chile), Fantoche (Guayaquil / Ecuador), La Gata (Bogotá / Colômbia), Pataclown
(Lima / Peru), entre outras. Elas buscam aprofundar-se no teatro de improvisação, na
maioria das vezes de forma coletiva, mas sem a preparação técnica ou o conhecimento
do método criado pelos mestres latino-americanos desde meados do século XX até a
atualidade.
Outro problema do teatro de improvisação é que a maioria dos grupos que o
praticam são compostos por improvisadores formados nessa técnica e não em teatro,
sendo visto mais como um espetáculo comercial do que como um produto artístico e
quase sempre tem uma estrutura onde o diretor é fundamental, inclusive dentro da cena
improvisada no espetáculo. Em uma entrevista de Frank Totino (considerado o
discípulo mais próximo e a mão direita de Keith Johnstone na atualidade) realizada por
mim no Brasil, ele afirma: