Você está na página 1de 6

FIBROMIALGIA

A síndrome da fibromialgia (FM) é uma condição clínica caracterizada por dor crônica
generalizada geralmente associada a fadiga, sono não restaurador e sintomas cog-
nitivos (esquecimento, falta de atenção e concentração). As dores associadas à FM
são constantemente descritas como difusas e persistentes. Atingem principalmente
o sistema musculoesquelético, sendo as principais regiões: colunas cervical e torácica,
cotovelos, nádegas, bacia e joelhos. É frequentemente acompanhada por outras
síndromes funcionais, como síndrome do intestino irritável, síndrome depressiva,
síndrome da ansiedade e enxaqueca. Sua prevalência é alta e no Brasil é estimada
em 2,5% da população geral1.
A FM pode ser pensada como um estado central de dor, ou seja, ser originada
ou amplificada no sistema nervoso central2. Isto não significa que a entrada noci-
ceptiva periférica não esteja envolvida para a dor nesses indivíduos, mas que eles
sentem mais dor do que seria normalmente esperado 3. Não surpreendentemente
esse fenótipo propenso à dor prediz falha na resposta a opioides ou até mesmo ci-
rurgias realizadas para reduzir a dor4.

Etiologia da fibromialgia

Não se sabe muito sobre a etiologia da síndrome, mas já foi descrito que parentes de
primeiro grau de pacientes com FM são mais propensos a ter FM e outros estados de
dor crônica quando comparados com parentes de indivíduos sem queixas5. Essa pre-
disposição pode ser explicada por fatores genéticos6-7.
Os genes moduladores da frequência de estados de dor crônica ou sensibilidade à
dor regulam a quebra ou a ligação de neurotransmissores moduladores da dor e de vias
inflamatórias. A sensibilidade à dor é poligênica, e a sensibilidade diferencial à dor entre
os indivíduos pode resultar de desequilíbrios ou atividade alterada de vários neurotrans-
missores, explicando porque a resposta clínica aos analgésicos de ação central pode
também ter efeito em sintomas concomitantes (dor, sono, humor, fadiga) ou não8.
Os fatores ambientais com maior probabilidade de desencadear a FM incluem
estressores que envolvem dor aguda que normalmente durariam algumas semanas9
como infecções ou trauma10. O estresse psicológico também pode ser um fator de-
sencadeador da FM11.
A FM é considerada uma doença reumática não inflamatória. No entanto, níveis
elevados de citocinas inflamatórias em plasma, soro e/ou líquor de pacientes têm
apoiado a neuroinflamação e inflamação sistêmica crônica na patogênese da FM.
O tratamento envolve medidas não farmacológicas, como educação em saúde, exer-
cício físico e terapia cognitiva comportamental. Em estudo publicado recentemente

2
pela equipe do projeto brasileiro EpiFibro12 descreveu-se que 98,4% dos pacientes usam
medicamentos e apenas 40% fazem exercício físico, entre outras abordagens que in-
cluem acupuntura, terapia relaxante, balneoterapia, psicoterapia e homeopatia.
Entre os tratamentos farmacológicos, a maioria dos pacientes usa analgésicos;
35% declararam utilizar antidepressivos tricíclicos (incluindo ciclobenzaprina); 43,6%
anti-inflamatórios não hormonais (medicamentos não recomendados para o trata-
mento de FM); e quase 20% dos pacientes sob medicação estão em uma combinação
de amitriptilina e fluoxetina12. Além de não serem suficientes para cessar os sintomas,
a utilização de mais de um fármaco concomitantemente traz a preocupação com
possíveis interações medicamentosas13 que possam aumentar a quantidade e gravi-
dade de efeitos adversos, especialmente síndrome serotoninérgica14.

Como o CBD pode auxiliar o tratamento da fibromialgia

Estudos do mecanismo neurofisiológico da dor sugerem que canabinoides podem


ser de particular interesse na FM. Já foi proposto que a deficiência de um endocana-
binoide pode estar subjacente à fisiopatologia15, e que os canabinoides podem ate-
nuar inflamação de baixo grau nos pacientes com FM16.
A evidência de efeito na inflamação é de estudos pré-clínicos que mostraram a
capacidade do CBD bloquear a progressão de inflamação das articulações em um mo-
delo animal17. Em articulações humanas inflamadas já foi observado tanto receptores
quanto ligantes do sistema endocanabinoide, o que sugere que este sistema pode ser
relevante tanto na terapia dos fatores inflamatórios quanto degenerativos18.
O uso de canabinoides no manejo da FM tem sido difuso nos últimos anos e alguns
estudos demonstraram que poderia adicionar benefícios no controle dos sintomas
associados, incluindo dor lombar crônica19.
Uma revisão sistemática recente20 avaliou o efeito de canabinoides em 159 pa-
cientes com dor ou distúrbio do sono associados a doenças reumatológicas. Os au-
tores concluíram que o efeito da administração de canabinoides:

• Depende da duração do tratamento


• Equivale à amitriptilina no alívio da dor (duas semanas)21, mas superior
ao placebo (quatro semanas)22-23
• Superior tanto à amitriptilina no controle de alguns parâmetros relacionados
à qualidade do sono (duas semanas)21 quanto ao placebo (5 semanas)24
• Bem tolerado em todos os estudos, com alguns efeitos colaterais entre
os quais tonturas, sonolência, náusea e boca seca

3
Conclusão

Devido à grande variabilidade na apresentação clínica, a FM geralmente requer es-


tratégias terapêuticas combinadas, incluindo abordagens farmacológicas e não far-
macológicas. Os canabinoides têm ação central e periférica, o que auxilia tanto na
percepção da dor quanto na modulação emocional e função cognitiva25-26. Assim,
são ótimos candidatos para o tratamento desses pacientes.

Referências
1 Martinez José Eduardo, et al. EpiFibro treatment of pain. Pain. 2011;152(3)
(Registro Brasileiro de Fibromialgia): (suppl): S2-S15.
dados sobre a classificação do ACR e 8 Kato K, et al. A population-based twin
preenchimento dos critérios diagnósticos study of functional somatic syndromes.
preliminares e avaliação de seguimento. Psychol Med. 2009;39(3):497-505.
Rev. Bras. Reumatol. 2017; 57(2): 129-33. 9 Buskila D, et al. Etiology of
2 Clauw DJ. Fibromyalgia: A Clinical fibromyalgia: the possible role of
Review. JAMA. 2014;311(15):1547–55. infection and vaccination. Autoimmun
3 Wolfe F, et al. A prospective, Rev. 2008; 8(1):41-3.
longitudinal, multicenter study 10 McLean SA, et al. Catechol
of service utilization and costs in O-methyltransferase haplotype
fibromyalgia. Arthritis Rheum. 1997; predicts immediate musculoskeletal
40(9):1560-70. neck pain and psychological symptoms
4 Brummett CM, et al. Survey criteria after motor vehicle collision. J Pain.
for fibromyalgia independently 2011;12(1):101-7.
predict increased postoperative 11 Van Houdenhove B e Egle UT.
opioid consumption after lower- Fibromyalgia: a stress disorder?
extremity joint arthroplasty: a Piecing the biopsychosocial puzzle
prospective, observational cohort study. together. Psychother Psychosom. 2004;
Anesthesiology. 2013;119(6):1434-43. 73(5):267–75
5 Arnold LM, et al. Family study 12 de Assis MR, et al. Treatment data
of fibromyalgia. Arthritis Rheum. from the Brazilian fibromyalgia registry
2004;50(3):944-52. (EpiFibro). Adv Rheumatol. 2020 Jan
6 Holliday KL e McBeth J. Recent 21;60(1):9.
advances in the understanding of 13 Goldenberg D, et al. A randomized,
genetic susceptibility to chronic pain double-blind crossover trial of
and somatic symptoms. Curr Rheumatol fluoxetine and amitriptyline in the
Rep. 2011; 13(6):521-7. treatment of fibromyalgia. Arthritis
7 Woolf CJ. Central sensitization: Rheum. 1996; 39(11):1852–9.
implications for the diagnosis and 14 Häuser W, et al. Guidelines on the

4
management of fibromyalgia syndrome – Treatments in the Rheumatic Diseases:
a systematic review. Eur J Pain. A Systematic Review of Randomized
2010;14(1):5–10 Controlled Trials. Arthritis Care Res
15 Russo EB. Clinical endocannabinoid (Hoboken). 2016; 68(5):681-8.
deficiency (CECD): can this concept 21 Ware MA, et al. The medicinal use
explain therapeutic benefits of cannabis of cannabis in the UK: results of a
in migraine, fibromyalgia, irritable bowel nationwide survey. Int J Clin Pract.
syndrome and other treatment-resistant 2005; 3:291–5
conditions? Neuro Endocrinol Lett. 2008; 22 Skrabek RQ, et al. Nabilone for the
29:192– 200 treatment of pain in fibromyalgia. J Pain.
16 Üçeyler N, et al. Systematic review with 2008; 9(2):164–73
meta-analysis: cytokines in fibromyalgia 23 Pinsger M, et al. Benefits of an add-
syndrome. BMC Musculoskelet Disord. on treatment with the synthetic
2011; 12:245 cannabinomimetic nabilone on patients
17 Malfait AM, et al. The non-psychoactive with chronic pain—a randomized
cannabis-constituent cannabidiol is an controlled trial. Wien Klin Wochenschr.
oral anti-arthritic therapeutic in murine 2006; 118(11–12):327–35
collagen-induced arthritis. Proc Natl 24 Blake DR, et al. Preliminary assessment
Acad Sci USA. 2000; 97:9561–6 of the efficacy, tolerability and safety
18 Richardson D, et al. Characterisation of a cannabis-based medicine (Sativex)
of the cannabinoid receptor system in in the treatment of pain caused by
synovial tissue and fluid in patients with rheumatoid arthritis. Rheumatology.
osteoarthritis and rheumatoid arthritis. 2006; 45(1):50–2.
Arthritis Res Ther. 2008; 10(2):R43 25 Hillard CJ, et al. Contributions
19 Yassin M, et al: Effect of adding medical of endocannabinoid signaling to
cannabis to analgesic treatment in psychiatric disorders in humans:
patients with low back pain related genetic and biochemical evidence.
to fibromyalgia: an observational Neuroscience. 2012; 204:207–29
cross-over single centre study. Clin 26 Lee MC, et al. Amygdala activity
Exp Rheumatol. 2019; 37 (Suppl. 116): contributes to the dissociative effect
S13-S20. of cannabis on pain perception. Pain.
20 Fitzcharles MA, et al. Efficacy, 2013; 154:124–34
Tolerability, and Safety of Cannabinoid

5
www.greencare.store
@greencare_store
contato@greencarestore.com

Você também pode gostar