Você está na página 1de 10

ARTIGO DE REVISÃO

EXERCÍCIOS FÍSICOS COMO TERAPIA COADJUVANTE NOS QUADROS DE FIBROMIALGIA

Physical exercise as an adjunct therapy in fibromyalgia conditions


Kimberlym Ozorio de Almeida1; Leonardo Toniatti Dourado2;
Rafaela da Silva Zampim3; Anderson Martelli4; Lucas Delbim5
ISSN: 2178-7514
Vol. 13| Nº. 3| Ano 2021

RESUMO
Introdução: A fibromialgia (FM) é considerada uma síndrome dolorosa crônica, não inflamatória, que se manifesta
no sistema musculoesquelético, e consequentemente em outros aparelhos e sistemas do corpo. Objetivo: O objetivo
deste estudo foi realizar uma revisão de literatura apontando a importância de métodos não farmacológicos como
terapias coadjuvantes a fim de favorecer uma melhor qualidade de vida e promoção de saúde aos portadores dessa
patologia. Metodologia: Foi realizado uma pesquisa de artigos publicados entre os anos de 1997 à 2021 retratando a
relevância que as terapias aquáticas e os exercícios físicos apresentam ao fazerem parte do tratamento desta síndrome.
Resultados: As terapias aquáticas e fisioterapêuticas favorecem o relaxamento muscular global, já que os movimentos
nesse meio são mais lentos, além de proporcionar melhoras na percepção dos sintomas dolorosos, diminuição do
impacto da FM na vida dos portadores, redução de espasmos musculares, melhoria da dor, ansiedade e insônia. Já os
exercícios físicos fora do ambiente aquático, são observados com um grande desempenho em aumentar a utilização
de aminas biogênicas, como a serotonina e a norepinefrina para melhoria da ansiedade e depressão.

Palavras-chave: Fibromialgia; Terapias Coadjuvantes; Exercícios Físicos.

ABSTRACT
Introduction: Fibromyalgia (FM) is considered a chronic, non-inflammatory, painful syndrome that manifests itself in
the musculoskeletal system, and consequently in other devices and body systems. Objective: The aim of this study was
to carry out a literature review pointing out the importance of non-pharmacological methods as adjuvant therapies in
order to promote a better quality of life and health promotion for patients with this pathology. Methodology: A search
of articles published between the years 1997 to 2021 was carried out, portraying the relevance that aquatic therapies
and physical exercises have as part of the treatment of this syndrome. Results: Aquatic and physiotherapeutic therapies
favor global muscle relaxation, as movements in this environment are slower, in addition to providing improvements
in the perception of painful symptoms, decreasing the impact of FM on patients’ lives, reducing muscle spasms,
improving pain, anxiety and insomnia. On the other hand, physical exercises outside the aquatic environment are
observed to have a great performance in increasing the use of biogenic amines, such as serotonin and norepinephrine,
to improve anxiety and depression.
Keywords: Fibromyalgia; Adjuvant Therapie; Physical Exercises.

1. Graduação em Educação Física pelo Centro Universitário de Jaguariúna - UNIFAJ, Município de Jaguariúna-SP, Brasil.
2. Graduação em Educação Física pelo Centro Universitário de Jaguariúna - UNIFAJ, Município de Jaguariúna-SP, Brasil.
3. Graduação em Educação Física pelo Centro Universitário de Jaguariúna - UNIFAJ, Município de Jaguariúna-SP, Brasil.
4. Mestre Ciências Biomédicas – Uniararas; Biólogo e Diretor da Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente, Itapira-SP.
Professor na Faculdade FMG, Mogi Guaçu-SP.
5. Mestre em Sustentabilidade e Qualidade de Vida – (UNIFAE). Docente do Curso de Educação Física da Faculdade
UNIMOGI - Município de Mogi Guaçu – SP e UNIFAJ, Município de Jaguariúna-SP, Brasil.

Autor de correspondência
Lucas Delbim - lucasdelbim@hotmail.com

DOI: 10.36692/v13n3-09R
Exercícios físicos como terapia coadjuvante nos quadros de fibromialgia

INTRODUÇÃO Helfenstein Júnior et al.,2 classificam


que a síndrome FM foi definida clinicamente
A fibromialgia (FM) é conceituada pela em 1970, em 1977, a mesma foi definida como
Sociedade Brasileira de Reumatologia 1 como “exagerada sensibilidade dolorosa”. E na década
uma síndrome dolorosa crônica, não inflamatória, de 80, através de diversos critérios diagnósticos
de etiologia desconhecida, que se manifesta no observou-se sintomas durante o exame físico.
sistema musculoesquelético, podendo apresentar Conhecido como tender points ou pontos
sintomas em outros aparelhos e sistemas. Nos dolorosos, as dores corporais são frequentes
estudos de Helfenstein Júnior et al. 2, os autores no pescoço, costas, ombros, cintura pélvica,
explicitam que entre os principais sintomas mãos, mas qualquer local do corpo pode ser
da FM destacam-se: queixas de dores, fadigas, afetado 6. Oliveira 4 acrescenta que os exercícios
distúrbios do sono, rigidez matinal, parestesias de físicos desempenham função de analgésicos por
extremidades, sensação de subjetiva de edema e liberarem endorfinas.
distúrbios cognitivos. Heymann et al.3, mencionam Neste contexto, a falta de um tratamento
que a FM atinge pessoas de todas as idades, no efetivo sobre a FM pode contribuir com o
Brasil está presente em 2,5 % no sexo feminino. sofrimento e a piora da qualidade de vida destes
Há vários fatores que podem causar a fibromialgia, pacientes. Algumas pessoas podem apresentar
o sedentarismo e a má alimentação estão entre eles dificuldade para execução de tarefas, profissionais
e ambos podem predispor o surgimento de dor na ou do cotidiano, mostrando-se extremamente
musculatura4. inseguros quanto ao desempenho pessoal,
Provenza et al.,5 classificam a fibromialgia gerando um estado crônico de revolta em relação
em cinco categorias: Fibromialgia Primária: a sua saúde 1.
paciente possui características dá fibromialgia sem Para aumentar a qualidade vida em
uma causa perceptível da doença; Fibromialgia pessoas portadores de FM os tratamentos
Secundária: características de uma causa multidisciplinares são de grande valia, atuando
conhecida ou uma doença disfarçada e que de forma direta e indireta na patologia. Heymann
apresenta melhora dos sintomas com o tratamento et al., 7, mencionam que os mesmos apresentam
específico; Fibromialgia Regional ou localizada: com o objetivo alcançar uma abordagem ampla e
ocorre dor miofascial localizada associada com mais completa de seus sintomas e comorbidades.
a presença de pontos de gatilho, geralmente Vitorino 8 sugere que outros métodos
secundária a distensões musculares; Fibromialgia de tratamento não medicamentosos para esta e
do idoso: similar à fibromialgia primária. Deve ser outras síndromes dolorosas concentram-se na
diferenciada de doenças como reumática, doenças acupuntura, na hipnoterapia e nas intervenções
neurológicas degenerativas, osteoporose, doença comportamentais, tais como o relaxamento,
de Parkinson inicial, dentre outras que possuem cujos efeitos têm sido satisfatórios. Essa junção
os mesmos sintomas da FM; Fibromialgia infanto- dos procedimentos não medicamentosos
juvenil: equivalente às formas primárias, ocorrendo com os fármacos tem contribuído de maneira
em criançase adolescentes. significativa, pois, há evidências que apenas um

Revista CPAQV – Centro de Pesquisas Avançadas em Qualidade de Vida | Vol.13| Nº.3| Ano 2021| p. 2
Exercícios físicos como terapia coadjuvante nos quadros de fibromialgia

tipo de intervenção não tem sido eficiente 9. Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento


Estudos de Silva. et al. 10, mostram que a FM de Pessoal de Nível Superior (CAPES), PubMed
pode ocorrer em todas as idades, e por essa e a busca de dados no Google Acadêmico de
razão este estudo buscou investigar a relevância artigos científicos publicados entre os anos
dos exercícios físicos como terapia coadjuvante, de 1997 até 2021 utilizando como descritores
tendo em vista o aumento da demanda de pessoas isolados ou em combinação: Fibromialgia;
que procuram profissionais da saúde com queixas Terapias Coadjuvantes; Exercícios Físicos para a
referente ao sistema musculoesquelético e em conclusão da respectiva pesquisa.
alguns casos ainda não há um tratamento efetivo. Para seleção do material, efetuaram-
se três etapas. A primeira foi caracterizada
MÉTODOS pela pesquisa do material com a seleção de 38
trabalhos. A segunda compreendeu a leitura
Trata-se de uma investigação de caráter dos títulos e resumos dos trabalhos, visando
observacional e descritivo sobre os aspectos uma maior aproximação e conhecimento, sendo
epidemiologicos e fisiopatologicos da FM e excluídos os que não tivessem relação e relevância
a prática de exercícios físicos como terapia com o tema. Após essa seleção, buscaram-se os
coadjuvante, patologia essa que afetam inúmeras textos que se encontravam disponíveis na íntegra,
pessoas ao redor do mundo. totalizando 27 trabalhos, sendo estes, inclusos na
Para a composição da presente revisão revisão Figura 1.
foi realizado um levantamento bibliográfico
entre os meses de março a agosto de 2021 nas
bases de dados Medline, Scielo, Lilacs, Portal de

Revista CPAQV – Centro de Pesquisas Avançadas em Qualidade de Vida | Vol.13| Nº.3| Ano 2021| p. 3
Exercícios físicos como terapia coadjuvante nos quadros de fibromialgia

Dos artigos selecionados e incluídos na dois centímetros abaixo do epicôndilo lateral do


pesquisa constituíram ensaios clínicos, artigos cotovelo, além desses supracitados fazem parte
originais, revisões e revisões sistemáticas. Como o quadrante súpero-externo da região glútea,
critérios de elegibilidade e inclusão dos artigos, abaixo da espinha ilíaca, inserções musculares
analisaram-se a procedência e indexação das no trocanter femoral, enfim, o coxim gorduroso,
revistas, estudos que apresentassem dados pouco acima da linha média do joelho.
referentes aos aspectos epidemiologicos, Santos et al. 11 relatam que no início a FM
fisiopatológicos da FM e a prática de exercícios era associada a alguns agentes desencadeantes
físicos como terapia coadjuvante. Na leitura e que se comportava-se como “fator gatilho” e
avaliação, os artigos que apresentaram os critérios assim acionava-se a síndrome. Dentro desses
de elegibilidade foram selecionados e incluídos agentes estão o trauma físico ou emocional,
na pesquisa por consenso. doenças infecciosas, perdas prolongadas do sono,
modificações hormonais, mudanças climáticas e
Conceitos, epidemiologia e os doenças autoimunes.
aspectos fisipatológicos da Fibromialgia Quanto à epidemiologia, alguns estudos
A FM é conceituada pela Sociedade buscam evidencias para correlacionarem a FM
Brasileira de Reumatologia como uma síndrome com algumas patologias. Santos et al. 11, buscam
dolorosa crônica, não inflamatória, de etiologia averiguar se a FM interfere nas tarefas do cotidiano
desconhecida, que se manifesta no sistema do paciente. Os autores realizaram sua pesquisa
musculoesquelético, podendo apresentar sintomas com 52 pacientes sendo eles do sexo feminino
em outros aparelhos e sistemas. Apesar da FM com idade entre 26 e 78 anos que tinham como
ser reconhecida há algum tempo, ela é pesquisada queixa principal a dificuldade nas atividades
há quatro décadas. Em 1977 foi introduzido o diárias analisando as características físicas dos
conceito da FM como: “sítios anatômicos com pacientes; faixa etária; estatura; peso; massa
exagerada sensibilidade dolorosa, denominados corpórea, no qual se constatou um alto índice.
tender points” 2. Os autores também averiguaram se os pacientes
Segundo The American College Of realizavam algum tipo de atividade físicas, mais
Rheumatology (ACR) definiu os critérios de 50% proferiram que realizam de 2 a 3 vezes na
diagnósticos como dor generalizada, atingindo semana. Os autores realizaram uma comparação
o esqueleto axial e periférico, com pelo menos entre as participantes que praticavam e aquelas
de 11 a 18 tender points contendo 9 pares. que não praticaram atividade física em relação aos
Estes pares são: A inserção dos músculos sub- parâmetros de EVA, QIF e PDS, não mostrando
occipitais na nuca; os ligamentos dos processos superioridade quanto à prática de atividade física.
transversos da quinta à sétima vértebra cervical, Gequelim et al. 12, realizaram os estudos
não somente estes mais os da borda rostral do com análise de questionários com o padrão
trapézio, a origem do músculo supraespinhal, EpiFibro no período de março de 2010 a junho
bem como a Junção do músculo peitoral com de 2011. Foram selecionadas 146 pacientes entre
a articulação costocondral da segunda costela, a faixa etária de 50 a 69 anos. E ficou evidenciado

Revista CPAQV – Centro de Pesquisas Avançadas em Qualidade de Vida | Vol.13| Nº.3| Ano 2021| p. 4
Exercícios físicos como terapia coadjuvante nos quadros de fibromialgia

que 89,04% apresentavam dor difusa há mais de um médico e 42% mais de três anos para ir ao
3 anos. Quanto ao tempo entre o aparecimento reumatologista. A maioria dos pacientes alegaram
dos sintomas e a procura de um médico, 54% que consultou pela primeira vez um clínico geral
dos pacientes esperaram mais de 6 meses para ou um ortopedista para avaliar suas queixas. 13
procurar atendimento. Para o diagnóstico de Em referência a fisiopatologia da FM, a
FM, 36% dos pacientes precisaram passar por melhor descrição para o modelo é a observação
cinco ou mais médicos, e apenas 19% tiveram o dos aparecimentos dos sintomas dolorosos 14. O
diagnostico confirmado com o primeiro médico. autor salienta que ocorre de forma espontânea,
Dentre as especialidades consultadas, o clinico simétrica e num sentido craniocaudal retratando
geral foi o mais procurado, com 75%, seguido que as substâncias P e SP é o neuromodulador
pelo ortopedista, com 49%. Em 73%, a procura presente nas fibras nervosas do tipo C, mas quando
pelo reumatologista demorou mais que 6 meses estimuladas por estímulos nocivos, as fibras
12
. Do mesmo modo da pesquisa de Santos liberam SP em um grupo específico de neurônios
et al. 11 os autores supracitados relatam que a na parte posterior da medula espinhal. Dando
proporção de pacientes masculinos atendidos no continuidade à explicação da fisiopatologia da
ambulatório era baixa e poderiam acarretar em fibromialgia o autor supracitado relata que, há via
dados não fidedignos. inibitória da dor na estrutura do tronco encefálico
A correlação se a FM materna tem para diferentes níveis segmentares da medula
relação com a dor de crescimento dos seus filhos. óssea que está relacionada a este sistema, sendo
O diagnóstico foi feito através da história de vida chamado de inibidor da dor e sua função principal
familiar, exames físicos, avaliação laboratorial, e envolve neurotransmissores, incluindo estruturas
exclusão de outras patologias. Usando o critério do tronco cerebral, dimorfina, encefalina e níveis
do ACR. A pesquisadora chegou à conclusão segmentares de medula espinhal de serotonina e
que a dor do crescimento em criança não tem norepinefrina.
correlação com a FM de suas mães. A autora Por outro lado, Helfenstein Júnior et al. 2
sugere novos estudos sobre a temática. Nota-se ressaltam que esta disfunção pode ser hereditária,
nos estudos dos autores supracitados que seus predeterminado e desencadeado por certos
pacientes formam em sua totalidade mulheres, estresses não específicos, como infecções virais,
igualmente investigado nos estudos de Rezende estresse psicológico ou trauma físico. O eixo
et al. 13. Neste estudo as mulheres tinham idades hipófise-hipotálamo-adrenal e o sistema nervoso
mínimas de 17 anos e máxima de 89 anos. As simpático, que representa o principal sistema de
pacientes eram atendidas em órgãos públicos. resposta ao estresse, e sua interação com doenças
Como nos estudos de Gequelin et al. neuro-hormonais também estão relacionados à
12
as pacientes dessa pesquisa realizaram uma fisiopatologia.
maratona até chegar ao diagnóstico final. A Todavia, a vulnerabilidade do
maioria das pacientes referiu que a dor já começou desenvolvimento da FM parece ser afetada por
como difusa 70,2%. Cerca de 25% das pacientes fatores ambientais, hormonais e genéticos, que
esperaram mais de três anos para consultar levam a alterações nos níveis dos receptores neuro-

Revista CPAQV – Centro de Pesquisas Avançadas em Qualidade de Vida | Vol.13| Nº.3| Ano 2021| p. 5
Exercícios físicos como terapia coadjuvante nos quadros de fibromialgia

hormonais. Ainda não está claro se o sistema lentos, favorecendo o relaxamento muscular
nervoso simpático e o sistema serotonérgico global. Ainda esclarecem que, além de melhoras
podem estar envolvidos. na percepção dos sintomas dolorosos, observou-
se menor impacto da FM na qualidade de vida das
Condutas terapeuticas na fibromialgia participantes do grupo de hidrocinesioterapia.
A dor é o principal sintoma da FM e o O tratamento de intervenção
seu controle é um dos grandes objetivos do hidrocinesioterápico foi realizado em piscina
tratamento fisioterapêutico. Além do benefício terapêutica aquecida a 33ºC, com 1,30m
dos exercícios, outros recursos fisioterapêuticos de profundidade. As participantes foram
também são citados na literatura. 15 submetidas a 30 sessões de tratamento, duas
Por ser uma síndrome dolorosa crônica, vezes por semana, com duração de 45 minutos
cursa com um impacto negativo importante na cada, o que totalizou 15 semanas de intervenção.
qualidade de vida dos pacientes. Aliado a isto, A intensidade de esforço era mensurada de
em função da vasta sintomatologia apresentada modo constante por meio da escala subjetiva
pelas pacientes e da natureza multifatorial da de esforço adaptada (PSE); desenvolvida por
sua patogênese, seu tratamento requer uma Cavassini e Matsudo. A PSE foi determinada
abordagem multidisciplinar e deve incluir por uma escala arbitrária de zero a 10, com
mudanças no estilo de vida, tratamento não intervalos idênticos e referência à qualidade dos
farmacológico e intervenções farmacológicas esforços realizados, ou seja: (0-2) muito leve; (3-
objetivando o alívio da dor, melhora da qualidade 5) leve; (6-7) moderado; (8-9) intenso; (10) muito
do sono e dos distúrbios do humor. 16 A autora intenso. O objetivo era exercer o controle sobre
complementa que, embora sua patogênese ainda o trabalho na água em uma PSE entre 6-7, pois se
não esteja totalmente esclarecida, para vários esperava que a relação com o esforço real fosse
autores, as maiores evidências apontam para de 60% a 70% da frequência cardíaca máxima,
um distúrbio de modulação central da dor ou valores recomendados pelo ACSM (Colégio
um processamento alterado do sistema nervoso Americano de Medicina Esportiva), como
central em resposta a um estímulo nociceptivo. intensidade de trabalho para indivíduos com FM
Segundo Letieri et al.,17 a FM constitui submetidos a terapias por meio de exercícios.
grave problema de saúde, com implicações Ao final, concluiram que o tratamento proposto
socioeconômicas, como, impacto individual, demonstrou ser positivo para todas as dimensões
familiar e social negativo e seu estudo objetivou avaliadas. Neste caso, o controle de alguns fatores
testar a evidência de que a água é capaz de provocar como o tempo de tratamento, duração, frequência
um estado de relaxamento, com percepção e o tipo de atividades podem ser de fundamental
de alívio dos sintomas de dor relatados pelos importância para resultados positivos em estudos
pacientes. Ainda na visão destes autores, afirmam de intervenção. Todavia, vale ressaltar que todas
que terapias na água são vantajosas para pacientes as participantes do presente estudo tiveram êxito
com FM, pois, devido às suas propriedades no cumprimento do programa no que se refere
físicas, os movimentos nesse meio são mais a termos de frequência, não havendo qualquer

Revista CPAQV – Centro de Pesquisas Avançadas em Qualidade de Vida | Vol.13| Nº.3| Ano 2021| p. 6
Exercícios físicos como terapia coadjuvante nos quadros de fibromialgia

registro de desistência no grupo que realizou a principalmente a massagem relaxante, pois esta
hidrocinesioterapia. terapia alternativa aumenta a circulação sanguínea
Corroborando com este estudo, Rocha e de acordo com o toque e velocidade ocorre
et al. , também apresenta resultados positivos
18
a liberação miofascial promovendo assim, um
em relação à hidroterapia sendo utilizada com o relaxamento muscular. Ainda completam que, a
intuito de combate à dor em todo o corpo, além massagem de modo geral apresentou melhoria
de oferecer benefícios psicológicos, melhorando sobre a dor, ansiedade e insônia em fibromiálgicos,
a autoestima e reduzindo a depressão. Para isto, sendo que, as técnicas mais utilizadas foram:
foram realizadas 10 sessões de intervenção, drenagem linfática, liberação miofascial e alguns
onde utilizou juntamente com a hidroterapia, os movimentos leves e profundos nos tecidos
alongamentos e as pompages que se mostraram musculares que favoreceram reações fisiológicas,
efetivos, pois os mesmos estariam atuando de desativando pontos gatilhos ou tender point,
forma a corrigir encurtamentos musculares de ativando a circulação causando assim, um
tecido conectivo e pele, uma vez que promove relaxamento musculoesquelético.
um deslizamento dos miofilamentos por meio Estudos afirmam que o efeito da
de um tensionamento passivo do músculo massagem consiste em produzir através do
(visco-elasticidade). A pompage, com seus estiramento e compressão dos tecidos excitáveis
efeitos específicos, vai propiciar um aumento e não excitáveis, uma resposta imediata aos
da circulação local e melhora da nutrição dos estímulos mecânicos, aumentando o fluxo
tecidos. Já o alongamento teria como objetivo linfático e sanguíneo, auxiliando no catabolismo
geral recuperar ou restabelecer a amplitude de e metabolismo celular, proporcionando alivio
movimento normal das articulações e a mobilidade da dor, da ansiedade e da tensão por meio da
dos tecidos moles que a cercam, prevenindo massagem, para que haja uma diminuição dos
contraturas irreversíveis, além de corrigir impulsos corticais que transita pelos motores
alterações posturais. Com esse estudo concluiram medulares, provocando alivio da dor, melhora
que, a paciente com a avaliação pós-intervenção, do cansaço, aumento do sono, diminuição
apresentou cinco pontos positivos, dos dezoito da ansiedade e depressão promovendo uma
“tender points” palpados pré-avaliação, embora qualidade de vida melhor para o portador desta
suas dores ainda continuassem, ela consegue síndrome. 19
realizar atividades diárias normalmente, além de
ter recuperado sua autoestima. Dessa forma, os Exercícios Físicos nos quadros de
exercícios na água são muito bem tolerados, pois fibromialgia
o ambiente morno desta ajuda a reduzir a dor e O exercício físico é recomendado em
espasmos musculares. geral para a maioria das pessoas, salvo aquelas
Além destas terapias aquáticas, Gondim que possuem algumas restrições dependendo da
e Almeida 19 associam que o tratamento com modalidade a ser executada. Nesta perspectiva,
técnicas manuais seria de grande importância os estudos demostram que há uma redução
para a qualidade de vida destes pacientes, dos sintomas em pessoas com FM, ao praticar

Revista CPAQV – Centro de Pesquisas Avançadas em Qualidade de Vida | Vol.13| Nº.3| Ano 2021| p. 7
Exercícios físicos como terapia coadjuvante nos quadros de fibromialgia

exercícios físicos. Bueno et.al 20 fornecem a qualidade de vida. Por outro lado, sua ausência
referências, apontando que o exercício físico é pode levar os pacientes a uma decadência na
um método benéfico para intervir no tratamento função neuromuscular, resistência muscular
não medicamentoso de pacientes com síndrome e afetando a função cardiorrespiratória. Isto
de FM. Por meio dessa prática, resultados impacta diretamente no desempenho funcional.
positivos podem ser constatados como melhor Cunha 24 e Santos e Kreul 25, orientam que incluir
desempenho de músculos, tendões e ossos; as atividades do dia a dia como o caminhar, subir
condições aeróbicas têm se mostrado eficaz na escadas e outras atividades de aptidões físicas
melhora do aspecto emocional da FM, e tornou- podem favorecer um estado de bem estar onde
se uma intervenção importante devido à dor do se relaciona a qualidade de vida.
paciente. Cunha 24 retrata que o exercício mais
Ferreira et al. 21, complementam que eficiente é o aeróbio por provocar mudanças
o exercicio físico praticado regularmente neuroendócrinas, com intensidade de até 65%
e com orientação, promove melhora do a 70% da frequência cardíaca máxima para
condicionamento físico, proporcionando um aumento na liberação de serotonina e
bem estar e diminuindo algumas sensações de norepinefrina onde se tem uma melhora do
sintomas fibromiálgicos. Ainda nessa linha, humor, trabalhando principalmente a parte
relatam que sua prática induz a liberação para psicológica do paciente. O mesmo complementa
o cérebro de substâncias como a endorfina, que, é de suma importância conhecer a
importante neuro hormonio que, entre outras intensidade mínima de treino onde o paciente
funções, tem um papel analgézico no organismo é capaz de identificar o limite de seu esforço e
e age na modulação da dor, humor, depressão e dor. Os critérios para prescrição na intensidade
ansiedade, consequentemente trazendo sensação de treino aeróbio aceitos pelo ACSM são a
de prazer, aumento da resistência, aumento da frequência cardíaca máxima (FCmáx), frequência
disposição física e mental e alívio das dores. cardíaca de reserva (FCR) ou consumo de reserva
Valim et al. 22, alude que o exercício, de oxigênio (VO2R) e limiar anaeróbio (LA) para
mais especificamente, o exercício aeróbio pode indivíduos descondicionados.
aumentar a utilização de aminas biogênicas, como Rebutini et al., 26 relataram o
a serotonina e a norepinefrina, para melhorar a comportamento da força e da percepção subjetiva
ansiedade e depressão por meio de sua influência de dor de uma paciente diagnosticada com FM há
nos mecanismos neuroendócrinos. 2 anos, submetida a um programa de treinamento
No ano de 1989 a Federação Internacional resistido tradicional por 12 semanas. O
de Medicina do Esporte (FIMS) já enfatizava em treinamento foi realizado em 3 sessões semanais
seus anais, que o exercício físico regular pode de 40 minutos em dias alternados. Cada sessão
contribuir para a melhora da saúde a permitir era dividida em aquecimento em cicloergômetro
aos indivíduos uma vida mais produtiva e mais (6 minutos; com intensidade entre 9 e 11 na
agradável.23 Há 32 anos, pesquisas evidenciavam Escala de Borg), treinamento resistido (40s para
que a prática de exercícios físicos corrobora para a execução das repetições, com intervalo de 45s

Revista CPAQV – Centro de Pesquisas Avançadas em Qualidade de Vida | Vol.13| Nº.3| Ano 2021| p. 8
Exercícios físicos como terapia coadjuvante nos quadros de fibromialgia

entre as séries) e alongamento (de intensidade observados com um grande desempenho em


leve, com aproximadamente 15s de execução em aumentar a utilização de aminas biogênicas como
cada porção muscular). A voluntária apresentou a serotonina e a norepinefrina para melhoria da
melhorias ao final das 12 semanas, afirmando ter ansiedade e depressão.
melhorado na qualidade de sono e que as dores Os exercícios físicos torna-se uma
haviam diminuído tanto no estado de repouso estratégia terapêutica para amenizar os sintomas
quanto nas sessões de treino e nas tarefas da da FM. Um acompanhamento multiprofissional
vida diária, além de melhorias na execução de é fundamental para o sucesso do tratamento
atividades com requisição de membros superiores e por se tratar de uma doença crônica, muitos
e tarefas gerais que necessitavam de movimentos portadores são desencorajados a procurar
repetitivos ou cíclicos, como lavar louças, varrer tratamento, piorando os quadros álgicos e
casa, dentre outros serviços. sofrimento psicológico.
O exercício físico tem se mostrado
benéfico em pacientes com FM, pois além de REFERÊNCIAS
trazer melhorias em diversos aspectos, há também 1. Sociedade Brasileira de Reumatologia. Fibromialgia
estudos que reportaram que o mesmo influencia Cartilha para pacientes. Comissão de Dor, Fibromialgia
e Outras Síndromes Dolorosas de Partes Moles, 2011.
o modo como o cérebro processa informações Disponível em: <https://www.reumatologia.org.br/>.
Acessado em 11 mai 2021.
de dor sendo um possível mecanismo de alívio 2. Helfenstein Junior, et al., Fibromialgia: aspectos
para pacientes com FM sugerindo que o estilo de clínicos e ocupacionais. Revista Associação Medicina
Brasileira. v. 58, n. 3, p. 358-365, 2012.
vida sedentário pode piorar os efeitos deletérios 3. Heymann R, et al. Novas diretrizes para o diagnóstico
da fibromialgia. Revista Brasileira Reumatologia. v.57,
da FM. 27 Supplement 2, 2017.
4. Oliveira B.R, Claro R.F.T. O papel do exercício físico
em pacientes com fibromialgia. MotriSaúde v.1, n. 1,
CONSIDERAÇÕES FINAIS 2020.
5. Provenza, Jr. et al. Fibromialgia. Revista Brasileira
Reumatologia. v. 44. n. 6, p. 443-9. nov./dez., 2004.
Caracterizada como uma dor crônica, 6. Santos A.B. et al. Depressão e Qualidade de Vida
em Pacientes com Fibromialgia. Revista Brasileira de
a fibromialgia é uma patologia clínica que se Fisioterapia. São Carlos, v. 10, n. 3, p. 317-324, jul./set.
manifesta por várias partes do corpo estando 2006.
7. Heymann R. Consenso brasileiro do tratamento da
relacionada ao funcionamento do sistema fibromialgia. Revista Brasileira de Reumatologia. São
Paulo, v. 50, n. 1, p. 56-66, 2010.
nervoso central e mecanismos de supressão da 8. Vitorino D.F.M, Prado GF. intervenções
fisioterapêuticas para pacientes com fibromialgia:
dor, atingindo em maior parte as mulheres. Atualização. Revista Neurociências v. 12, n. 3, jul/set,
Terapias realizadas na água e sessões de 2.004.
9. Silva K.M.O.M. et al. Efeito da hidrocinesioterapia
fisioterapia favorecem o relaxamento muscular sobre qualidade de vida, capacidade funcional e
qualidade do sono em pacientes com fibromialgia.
global, já que os movimentos nesse meio são Revista Brasileira de Reumatologia. v. 52, n. 6, p. 846-
mais lentos, além de proporcionar melhoras na 857, 2012.
10. Silva C.K.F. et al. Análise de diferentes protocolos
percepção dos sintomas dolorosos, diminuição dos exercícios aeróbicos na dor em mulheres com
fibromialgia: uma revisão sistemática. Research, Society
do impacto da FM na vida dos portadores, and Development, v. 10, n. 3, 2021.
redução de espasmos musculares, melhoria 11. Santos Junior E.P. et al., Estudo epidemiológico da
fibromialgia em ambulatório municipal de reumatologia
da dor, ansiedade e insônia. Em referência aos no estado do Tocantins. Revista Cereus. v. 12. n. 3, 2020.
12. Gequelim G.C. et al. Estudo clínico-epidemiológico
exercícios físicos fora do ambiente aquático, são de fibromialgia em um hospital universitário do Sul do

Revista CPAQV – Centro de Pesquisas Avançadas em Qualidade de Vida | Vol.13| Nº.3| Ano 2021| p. 9
Exercícios físicos como terapia coadjuvante nos quadros de fibromialgia

Brasil. Revista da Sociedade Brasileira de Clínica Médica.


v. 11, n. 4, p, 344-9, 2013.
13. Rezende M.C. et al., EpiFibro – um banco de dados
nacional sobre a síndrome da fibromialgia – análise inicial
de 500 mulheres Revista Brasileira de Reumatologia. v.
53, n. 5, p. 382–387, 2013.
14. Riberto M, Pato T.R. Fisiopatologia da fibromialgia.
Revista Acta Fisiátrica, v. 11, n. 2, p. 78-81, 2004.
15. Marques A.P. et al., A Fisioterapia no tratamento de
pacientes com fibromialgia: uma revisão da literatura
Revista Brasileira Reumatologia. v. 42,n. 1, 2002.
16. Braz A.S. et al., Uso da terapia não farmacológica,
medicina alternativa e complementar na fibromialgia.
Revista Brasileira Reumatologia, São Paulo, v. 51, n. 3,
p. 275-282, 2011.
17. Letieri R.V. et al., Dor, qualidade de vida,
autopercepção de saúde e depressão de pacientes com
fibromialgia, tratados com hidrocinesioterapia. Revista
Brasileira Reumatologia. São Paulo, v. 53, n. 6, p.494-
500, 2013.
18. Rocha M.O. et al., Hidroterapia, Pompage e
Alongamento no Tratamento da Fibromialgia - Relato
de caso. Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 19, n.
2, p. 49-55, abr./jun., 2006.
19. Gondim S.S., Almeida M.A.P.T. Os efeitos da
massagem terapêutica manual em pacientes com a
síndrome da fibromialgia. Revista Multidisciplinar e de
Psicologia v.11, n. 39, 2017.
20. Bueno R.C. et al., Exercício físico e fibromialgia.
Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional. UFSCar,
São Carlos, v. 20, n. 2, p. 279-285, 2012.
21. Ferreira G.M. et al., Fibromialgia e atividade
física: reflexão a partir de uma revisão bobliográfica.
SALUSVITA, Bauru, v. 33, n. 3, p. 433-446, 2014.
22. Valim V. Et al., Efeitos do exercício físico sobre
os níveis séricos de serotonina e seu metabólito na
fibromialgia: um estudo piloto randomizado. Revista
Brasileira de Reumatologia. v. 53, n. 6, p. 538–541, 2013.
23. Lazzoli J.K. O exercício físico: um fator importante
para a saúde. Revista Brasidelira de Medicina Esportiva.
vol. 3, Nº 3 – Jul/Set, 1997.
24. Cunha I.M.G. Benefícios do Exercício Aeróbio em
Indivíduos Portadores de Fibromialgia: Uma Revisão
Sistemática. Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia
do Exercício, São Paulo, v. 7, n. 38, p. 123-130. Mar/
Abril, 2013.
25. Santos D.A. Fisiopatologia geral. Indaial:
UNIASSELVI, 2019.
26. Rebutini V.Z, et al., Efeito do treinamento resistido
em paciente com fibromialgia: Estudo de caso. Motriz.
v. 12, p. 513-22, 2013.
27. Ellingson L.D. et al. Physical activity, sustained
sedentary behavior, and pain modulation in women with
fibromyalgia. The Journal of Pain, Seattle, v. 13, n. 2, p.
195-206, 2012.

OBSERVAÇÃO: Os autores declaram não existir


conflitos de interesse de qualquer natureza.

Revista CPAQV – Centro de Pesquisas Avançadas em Qualidade de Vida | Vol.13| Nº.3| Ano 2021| p. 10

Você também pode gostar