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Prescrição do exercício de efeito local e geral para obesos e indivíduos com sobrepeso

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Prescrição do exercício de efeito local e geral para obesos e indivíduos com sobrepeso

1. Fibromialgia: introdução e conceitos básicos 3


Histórico 4
Fisiopatologia 4
Aspectos clínicos: classificação e validação 4
Fibromialgia e obesidade 7
Fibromialgia e prescrição dos exercícios físicos 7

2. Osteoartrite/osteoartrose (OA) 8
Fisiopatologia 8
Aspectos clínicos para diagnóstico 8
Sumário OA e obesidade 9
OA e prescrição do exercício físico 9

3. Problemas na Coluna 11
Hérnia discal (HD) 11
Fisiopatologia 11
Aspectos clínicos para diagnóstico 11
HD e obesidade 12
HD e prescrição do exercício físico 12
Lombalgia 13
Fisiopatologia 13
Aspectos clínicos para diagnóstico 13
Lombalgia e obesidade 13
Prescrição do exercício para portadores de lombalgia 13

Referências 15

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Prescrição do exercício de efeito local e geral para obesos e indivíduos com sobrepeso

1. Fibromialgia: introdução e conceitos básicos

A fibromialgia é caracterizada como uma síndrome dolorosa de origem desconhecida, tendo como principais
efeitos dor muscular difusa. Essas dores normalmente vêm associadas a problemas como insônia, fadiga,
rigidez muscular e complicações de ordem psíquica (BALSAMO; SIMÃO, 2007, p. 73).

Na figura 1, podemos visualizar outros sintomas associados.

Figura 1. Sintomas associados à fibromialgia. Fonte: Helfenstein e Feldman, 2002.

Devido a todos esses fatores negativos, que influenciam negativamente a qualidade de vida, a abordagem
atual da doença associa terapia medicamentosa e não medicamentosa com tratamento psicológico, acupun-
tura e exercícios físicos (BALSAMO; SIMÃO, 2007, p. 73).

Sendo assim, o objetivo desta parte de nossa apostila é conhecer um pouco a respeito do histórico da
doença e de sua fisiopatologia, discutir aspectos clínicos (assim como critérios diagnósticos) e, por fim, de-
monstrar a influência do treinamento físico em indivíduos acometidos pela síndrome, que vem crescendo de
forma considerável no mundo.

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Histórico Por ter múltiplas associações, o estudo e o enten-


dimento dos mecanismos relacionados a fibromial-
Pacientes com pontos sensíveis a palpação em di- gia constituem-se num fator complicador no estudo.
versas regiões do corpo não são novidade. Em 1824, Dessa forma, entre as muitas hipóteses levantadas e
médicos já registravam pessoas nesse tipo de situa- sugeridas, é possível agrupar as principais em algu-
ção (MARTINEZ, 1997). Já em 1904, o termo fibrosi- mas áreas (VAISBERG; DE MELLO, 2010, p. 265-7):
te surgiu para identificar processos inflamatórios do • Alterações no sistema nervoso autônomo,
tecido conjuntivo fibroso que geravam dor ao toque com ativação excessiva do sistema simpáti-
(BALSAMO; SIMÃO, 2007, p. 74). co. Esse fator leva a um aumento do tônus e
da tensão muscular.
De forma geral, apenas em 1980, após um estudo • Diminuições do nível de serotonina, o que
conduzido por Yunus et al. (1981), o termo evoluiu desencadeia aumento da dor (uma vez que
para fibromialgia. Esse clássico estudo deu vazão a ela inibe estímulos aferentes dolorosos).
uma série de outros trabalhos para melhor entendi- • Alterações profundas no sono, o que de-
mento da doença desde então. sencadeia um processo de não recuperação
após uma noite de sono e de diminuição na
Desses estudos, dois merecem destaque, não só liberação do hormônio do crescimento (GH).
pela sua grande importância no diagnóstico da sín-
drome como também por se tratarem de recomen- Todos esses fatores associados ocasionam aumen-
dações do Colégio Americano de Reumatologia. O tos no estresse e na incidência de distúrbios cogniti-
primeiro é o de Wolfe et al. (1990), que abordou os vos, além de aumento no sedentarismo, uma vez que
passos para a identificação da doença por intermé- o engajamento em um programa de exercícios pode
dio da utilização de pontos-gatilho. O segundo é a aumentar a dor muscular (BALSAMO; SIMAO, 2007).
atualização desse conceito, em 2010, com a inclu-
são de um questionário que aprimorou ainda mais
os critérios para diagnóstico da disfunção (WOLFE et
al. 2010). No tópico Aspectos clínicos: classificação Aspectos clínicos: classificação e
e validação, os conceitos discutidos nesses estudos validação
serão abordados com mais detalhes.
Nos dias atuais, calcula-se que aproximadamente
2% da população mundial apresenta quadro clínico
de fibromialgia, sendo que sua prevalência é sete
Fisiopatologia vezes maior em mulheres do que em homens. Os
motivos para isso são desconhecidos (LAUCHE et al.,
A fibromialgia pode ser desencadeada por aspec- 2013). No Brasil, sua prevalência pode passar dos
tos físicos (um acidente de carro, tratamento agressi- 10% (BALSAMO; SIMÃO, 2007, p. 76). Seu predo-
vo de alguma doença) ou psicológicos (perda de um mínio é maior em caucasianos com idade variando
ente querido, depressão). Ela ainda pode ser primá- entre 12 e 55 anos (MARTINEZ, 1997).
ria, quando não tem outra patologia associada, ou
secundária, quando está associada a alguma outra
patologia, por exemplo, a artrose (PODOLECKI; PO-
DOLECKI; HRYCEK, 2009).

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Diante dessa situação, o Colégio Americano de Reumatologia (American College of Reumathology - ACR)
criou uma classificação específica para auxiliar no diagnóstico clínico da doença (WOLFE et al., 1990):

A. Dor generalizada durante entrevista com paciente (por pelo menos três meses)
1. Dor do lado esquerdo do corpo.
2. Dor do lado direito do corpo.
3. Dor abaixo da cintura.
4. Dor acima da cintura.
5. Dor na região axial do esqueleto (região cervical e/ou região torácica e/ou região lombar).
B. Dor em 11 das 18 regiões abaixo
1. Occipital: ambos os lados, inserções musculares suboccipitais.
2. Parte inferior da coluna cervical: ambos os lados, aspectos anteriores de C5-C7 espaços
intertransversais.
3. Músculo trapézio: ambos os lados, ponto médio da borda superior.
4. Músculo supraespinhoso: ambos os lados, perto da fronteira medial.
5. Segunda costela: ambos os lados, superfície lateral superior da segunda junção
costocondral.
6. Epicôndilo lateral: ambos os lados, 2 cm distal ao epicôndilo.
7. Músculo glúteo: ambos os lados, nádega superior externo, dobra anterior do músculo.
8. Trocânter maior: ambos os lados, posterior à proeminência trocantérica.
9. Articulação do joelho: ambos os lados, almofada de gordura medial, proximal apenas para
medial do côndilo.
Tabela 1. Classificação de fibromialgia segundo a ACR. Fonte: Adaptado de Wolfe et al., 1990.

Porém, do ponto de vista clínico, 25% dos pacientes que apresentam a doença não se enquadram nos cri-
térios estabelecidos em 1990. Além disso, existe a necessidade de estabelecer quesitos que não necessitem
submetê-los a exames físicos dolorosos (como a pressão em pontos-gatilho).

Dessa forma, em 2010, a ACR estabeleceu novos critérios para o diagnóstico da doença, por meio da
aplicação de um questionário de sintomas (WOLFE et al., 2010). Segundo esse questionário, o paciente pode
ser considerado portador de fibromialgia quando atender aos critérios da tabela 2.

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Um paciente satisfaz os critérios de diagnóstico para a fibromialgia se estiverem


reunidas as três condições seguintes:
Índice de dor generalizada (widespread pain índex - WPI) ≥ 7 e escala de gravidade dos
sintomas (severity scale - SS) ≥ 5, ou WPI 3-6 e escala de SS ≥ 9.
Os sintomas estão presentes por pelo menos três meses.
O paciente não tem uma doença que de outra forma explique a dor
WPI: observe o número de áreas em que o paciente teve dor ao longo da última
semana. Em quantas áreas houve dor? Pontuação será entre 0 e 19
Cintura escapular, Mandíbula (lado Parte superior das
Nádega direita
lado esquerdo direito) costas
Cintura escapular, Mandíbula (lado Parte inferior das
Nádega esquerda
lado direito esquerdo) costas (lombar)
Braço direito Coxa direita Peito Pescoço
Braço esquerdo Coxa esquerda Abdômen
Antebraço esquerdo Perna direita
Antebraço direito Perna esquerda
Escala SS
Fadiga
Acordar cansado/esgotado
Sintomas cognitivos
Para cada um dos três sintomas acima, indicar o nível de gravidade durante a semana
passada com a seguinte escala:
0= Sem problemas
1= Problemas leves ou moderados, geralmente leve ou intermitente.
2= Muitas vezes presente e/ou em um nível moderado.
3= Problemas contínuos penetrantes e graves.
Considerando os sintomas somáticos* em geral, indicar se o paciente tem:
0= Sem sintomas.
1= Poucos sintomas.
2= Quantidade moderada de sintomas.
3= Grande gama de sintomas.
* Sintomas somáticos = dor muscular, síndrome do intestino irritável, fadiga/cansaço,
pensar ou lembrar problema, fraqueza muscular, dor de cabeça, dor/cólicas no
abdômen, dormência/formigamento, tontura, insônia, depressão, constipação, dor
no abdome superior, náuseas, nervosismo, dor no peito, visão turva, febre, diarreia,
boca seca, prurido, sibilos, fenômeno de Raynaud, urticária/equimoses, zumbidos nos
ouvidos, vômitos, azia, úlceras orais, perda de/alteração no paladar, convulsões, olhos
secos, falta de ar, perda de apetite, erupção cutânea, sensibilidade ao sol, dificuldades
auditivas, fácil contusões, perda de cabelo, micção frequente, dor ao urinar, espasmos
da bexiga.
Tabela 2. Diagnóstico da fibromialgia segundo novos critérios do ACR. Fonte: Adaptado de WOLFE et al., 2010.

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Fibromialgia e obesidade engajar-se em um programa de exercícios, é neces-


sário tomar alguns cuidados:
Em um interessante estudo clínico, Okifuji et al. • Verificar e inteirar-se a respeito da terapia
(2010), após analisarem 215 pacientes com fibro- medicamentosa utilizada pelo paciente, as-
mialgia, chegaram à conclusão de que a obesidade sim como de seus efeitos colaterais e das
foi relacionada, de forma significativa, com maior restrições ao exercício.
sensibilidade à dor na palpação de pontos-gatilho • Realizar avaliação clínica e física do pacien-
(em particular nas áreas inferiores do corpo) e com te.
diminuição tanto da força quanto da flexibilidade, • Explicar os benefícios do exercício e sua in-
tendo essas pessoas, inclusive, menor duração do fluência na patologia. É interessante frisar
sono e maior inquietação durante a noite. que, nas primeiras semanas, a dor muscular
pode aumentar ligeiramente, para diminuir
Os resultados confirmaram que a obesidade é substancialmente após a regularidade ser
uma comorbidade prevalente de fibromialgia que atingida. Isso leva, em média, quatro sema-
pode contribuir para a gravidade do problema. Ainda nas para acontecer, desde que o paciente
segundo os autores, os resultados para isso devem- treine três vezes por semana.
-se a alguns fatores: • Definir os objetivos em curto, médio e longo
• Altos índices de citocinas pró-inflamatórias prazos em relação aos resultados oferecidos
liberadas na obesidade podem ocasionar o pelo programa de exercício e tudo que o en-
desenvolvimento de hiperalgesia crônica. volve (intensidade, duração da sessão, fre-
• A sensibilidade à dor dos pacientes obesos quência semanal e tipo de exercícios).
também pode ser influenciada (e agravada)
pelas cargas mecânicas de ter de carregar o Para mais informações a respeito da prescrição de
peso corporal adicional. exercícios para portadores de fibromialgia, recomen-
• Indivíduos obesos normalmente possuem da-se que o material disponível na plataforma seja
menores níveis de flexibilidade, que pode consultado.
acarretar maiores encurtamentos muscula-
res, aumentando, assim, os pontos de ten-
são na musculatura.
• Por fim, o sedentarismo pode contribuir para
músculos menos capazes do ponto de vista
funcional, o que pode deixá-los mais sus-
cetíveis ao desenvolvimento de pontos de
tensão.

Fibromialgia e prescrição dos


exercícios físicos

Normalmente, tanto o treinamento de força quan-


to o de flexibilidade apresentam bons resultados em
indivíduos obesos portadores de fibromialgia (BALSA-
MO; SIMÃO, 2007). Entretanto, antes de o paciente

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2. Osteoartrite/osteoartrose (OA)

Em primeiro lugar, é necessário estabelecermos os critérios para evitar confusões conceituais. Artrite é um
termo genérico utilizado na presença de processo inflamatório em uma ou mais articulações. Entre as causas
do problema, a mais comum é a osteoartrite, que também é conhecida como osteoatrose (OA) (MYERS et
al., 2007).

Nos dias atuais, a OA é conhecida como uma doença crônico-degenerativa metabolicamente dinâmica,
com uma série de marcadores pró-inflamatórios que atuam negativamente nos mecanismos reparadores
principalmente das cartilagens articulares (JONES; DOHERTY, 1995).

Fisiopatologia Paralelo a isso, temos o desenvolvimento de os-


teofite (crescimento anormal do osso, formando pe-
Tanto fatores mecânicos como biológicos podem quenas saliências ósseas revestidas por fibrocartial-
ter influência no aparecimento e desenvolvimento da gem), ocasionando deformidade articular e limitação
OA. A patologia acomete todos os tipos de articula- significativa de movimento. Esclerose subcondral no
ção, interferindo no processo de produção e degra- osso subjacente também se faz presente em situa-
dação do tecido cartilaginoso e do osso subcondral. ções desse tipo (LOTZ et al., 2013).
É mais comum em mãos, punho, ombros, cotovelos,
joelho e pés (STAINES et al., 2013).

Como a cartilagem articular não possui vasos san- Aspectos clínicos para diagnóstico
guíneos, o condrócito (uma célula com função bem
específica) é responsável pelo equilíbrio entre a sín- O diagnóstico da OA é feito com base na história
tese e a degradação da matriz cartilaginosa. Dessa e no exame físico do paciente. Dor e rigidez logo ao
forma, são os condrócitos que mantêm a homeostase acordar, ou mesmo antes de efetuar qualquer tipo
da cartilagem por meio de vias catabólicas neces- de movimento de mãos, punho, ombros, cotovelos,
sárias a seu turnover e sua renovação (LOTZ et al., joelho e pés pode ser visto como aspecto histórico
2013). importante. Se o paciente ainda relatar histórico de
dor em repouso, isso pode indicar um quadro avan-
Fatores genéticos, não genéticos e mecânicos po- çado da doença (ODDIS, 1996).
dem alterar esse equilíbrio, contribuindo para a OA.
Dessa forma, à medida que a doença progride, existe Já o exame físico pode ser feito por intermédio
degeneração da cartilagem articular, o que desen- de exames radiológicos objetivos. Ao se constatar
cadeia irregularidade na superfície dela (fibrilação). redução do espaço articular, presença de osteófitos
Além disso, fissuras, ulcerações e perda focal da su- (http://pt.wikipedia.org/wiki/Osteófito) e esclerose
perfície articular em toda a sua espessura também se subcondral, o quadro de OA pode ser confirmado
fazem presentes (LOTZ et al., 2013). (ODDIS, 1996).

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Ainda do ponto de vista físico, a tabela 3 resume as principais considerações a ser feitas para o diagnóstico
da OA.

Articulação O que observar


Joelhos Existência de alargamento e crepitações
articulares.
Mãos Acometimentos interfalângicos distais e
proximais.
Coluna Acometimento das articulações apofisárias
(região lombar e cervical), além da formação
de osteófitos.
Pés Desconforto ao caminhar.
Tabela 3. Exame físico para diagnóstico da AO. Fonte: Vaisberg e De MELLO, 2010, p. 231.

OA e obesidade

A obesidade constitui importante fator de risco para o desenvolvimento e a progressão da OA devido ao


aumento excessivo da sobrecarga articular de membros inferiores. Prova disso é que estudos demonstram
redução de até 50% da doença na articulação dos joelhos com a perda de apenas 5 kg no peso corporal
(VINCENT et al., 2012).

Carman et al. (1994) ainda apontam que existe uma correlação importante entre obesidade e OA das
mãos. Isso pode indicar um comprometimento sistêmico devido ao quadro da obesidade, pela participação
de distúrbios metabólicos.

OA e prescrição do exercício físico

Entre os exercícios que não são recomendados para portadores de OA, podem-se incluir as corridas, as
atividades de saltos e/ou saltitos e qualquer outro tipo de atividade que gere impacto articular de moderado
a severo, além de qualquer outro tipo de movimento corporal que favoreça torções e traumas cumulativos
(UTHMAN et al., 2013). No entanto, exercício físico intenso (como no caso dos exercícios resistidos) não deve
ser descartado. Além disso, quando comparados a grupos controle, os exercícios mostraram-se eficientes
na diminuição da dor e na melhora da capacidade funcional para as atividades do dia a dia (UTHMAN et al.,
2013).

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É importante frisar também que, antes do engaja-


mento em um programa regular de exercícios, algu-
mas variáveis devem ser consideradas, por exemplo
(SHARMA et al., 2003):
• Fazer uma análise dos fatores que podem
se sobrepor à OA, como idade, obesidade,
problemas psicológicos associados, entre
outros.
• Ter ciência do grau de força inicial do pacien-
te para evitar sobrecargas desnecessárias.
• Estar ciente do grau de dor no portador de
OA para evitar situações desagradáveis du-
rante a rotina de exercícios.
• Analisar a capacidade funcional atual do in-
divíduo e realizar avaliações físicas periódi-
cas.

Para mais informações a respeito da prescrição de


exercícios para portadores de OA, recomenda-se que
o material disponível na plataforma seja consultado.

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3. Problemas na Coluna

Hérnia discal (HD)

Dores nas costas são queixas constantes entre os adultos de ambos os sexos em nossa sociedade: em
torno de 80% das pessoas já relatou algum tipo de desconforto na região. Dentre esse total, acredita-se que
de 30% a 40% da população apresenta, de forma assintomática, hérnia de disco lombar (ORTIZ; ABREU,
2000), sendo que 2% a 3% já estão acometidos pelos sintomas dessa patologia (NEGRELLI, 2001). Segundo
o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), 5,5 milhões de brasileiros possuem HD.

Do ponto de vista clínico, a HD caracteriza-se como uma desordem musculoesquelética responsável por
lombocitalgia. De forma geral, o termo hérnia discal é utilizado quando há ruptura do anel fibroso com pos-
terior deslocamento do disco vertebral nos espaços entre as vértebras (NEGRELLI, 2001).

Fisiopatologia Segundo Magnaes (1999), tanto a degeneração


do disco por estenose do canal espinal quanto a com-
Como já abordado, a hérnia de disco é uma pa- pressão mecânica e os processos inflamatórios são os
tologia da coluna vertebral relacionada ao desloca- responsáveis pela dor que acompanha a disfunção.
mento da parte interna do disco intervertebral para
fora do seu lugar. Em seu ciclo degenerativo, o disco Aspectos clínicos para diagnóstico
sofre quatro fases: degeneração, protusão, extrusão
e sequestro. Como consequência, há uma disfuncio- Exames físicos e de imagem são utilizados para
nalização dos músculos multífidos e do transverso do obtenção de diagnóstico preciso da HD (MANCHI-
abdômen, responsável pela estabilização da coluna KANTI et al., 2013). Normalmente, os testes feitos
(EVANGELISTA; MACEDO, 2010). incluirão não só a coluna como também pés e per-
nas, ombros, braços e mãos. De maneira geral, o
Acredita-se que fatores ambientais, como carregar exame é feito por um médico ou fisioterapeuta, que
peso de forma irregular e ficar muito tempo sentado, irá observar (MANCHIKANTI et al., 2013):
e o envelhecimento sejam os principais responsáveis • Reduções na força muscular.
pelo aparecimento da HD. Porém a influência gené- • Dormência na ponta dos dedos (pés e
tica também é apontada como fator significativo de mãos).
influência. O gene receptor da vitamina D e o gene • Lentidão ou ausência de reflexos muscula-
AGC (responsável pela codificação dos proteoglica- res.
nos, que mantêm as funções biomecânicas da carti- • Presença de dor ao sentar, levantar ou ca-
lagem estrutural) são os possíveis envolvidos nesse minhar (dor na perna ao sentar pode indicar
processo de herniação, caso haja modificações em um disco da região lombar deslocado).
suas codificações (KAWAGUCHI et al., 1999). • Mover o pescoço para a frente, para trás e
para os lados enquanto o médico pressiona

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a cabeça para baixo (dor pode indicar pin- Esse quadro pode ser agravado se, além de obe-
çamento dos nervos devido à presença de so, o indivíduo também tiver estatura elevada. Es-
HD). tudo feito por Helioävaara (1987) demonstrou que
pacientes do sexo masculino com estatura acima de
Os exames de diagnóstico baseados em técnicas 180 cm apresentaram risco relativo 2,3 vezes maior
invasivas e não invasivas também são indicados. Os quando comparados a indivíduos do mesmo sexo
mais utilizados são: com menor estatura.
• Mielograma, exame radiológico que permi-
te ao médico visualizar a medula espinhal e No caso das mulheres, a situação foi ainda mais
suas raízes nervosas. Nesse caso, é aplica- grave. Mulheres acima de 170 cm tiveram 3,7 ve-
do para determinar o tamanho e a localiza- zes maior chance de desenvolver HD severa quando
ção da HD. Para mais informações, acesse: comparadas com aquelas 10 cm menores (HELIO-
http://www.danburyhospital.org/~/media/ ÄVAARA, 1987).
Files/Patient%20Education/patiented-portu-
guese/pdf_DiagnosticTests_BrazPort/Myelo- HD e prescrição do exercício físico
gram_BrazPort.ashx.
• Ressonância magnética. A prescrição de exercícios para portadores de
• Raio X. HD inclui atividades de estabilização e ativação da
musculatura do core (principalmente os multífidos e
HD e obesidade o transverso do abdômen). Exercícios realizados de
duas a três vezes por semana são os mais indica-
Diversos dados da literatura mostram associação dos (EVANGELISTA; MACEDO, 2010, p. 25). No link
positiva entre alto índice de massa corporal (IMC) e o abaixo, pode-se encontrar artigo que cita excelen-
aparecimento e/ou desenvolvimento de HD (PARK et tes exercícios indicados para ativação dessa muscu-
al., 2001; LEE et al., 2004). latura. Vale lembrar que uma respiração forçada é
necessária para ativar músculos profundos da região
Um desses estudos foi desenvolvido por Lee e Lee central do corpo (core).
(2009). Nele, peso corporal e índice de massa corpo-
ral foram medidos em 256 pacientes com hérnia de Exercícios aquáticos e de flexibilidade também
disco lombar severa que se submeteram à cirurgia e são indicados e oferecem excelente alternativa para
comparados com os de controles pareados com hér- indivíduos nessas condições. Para mais detalhes, re-
nia de disco lombar leve. comenda-se que o material disponível na plataforma
seja consultado.
O peso corporal e o índice de massa corporal fo-
ram significativamente maiores em mulheres com
hérnia de disco lombar severa do que naquelas com
hérnia de disco lombar leve. Sendo assim, os pesqui-
sadores concluíram que diferenças no peso corporal
e no índice de massa corporal podem ser fatores-
-chave que distinguem o desenvolvimento de hérnia
de disco lombar severa do de hérnia de disco lombar
leve, apesar de ambos os grupos demonstrarem me-
lhora dos sintomas após o tratamento conservador
(cirurgia). Clique na imagem para ler o artigo

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Prescrição do exercício de efeito local e geral para obesos e indivíduos com sobrepeso

Lombalgia 15% e 65% sejam acometidos por essa disfunção


(DE FREITAS, 2012, p. 21).
Devido a grande incidência na população mun-
dial, a dor lombar crônica é um problema de grande Aspectos clínicos para diagnóstico
importância, sendo que exercícios de reabilitação e
fortalecimento são fundamentais no processo de re- Assim como as demais patologias, a dor lombar
cuperação. crônica pode ser diagnosticada por meio de exames
físicos e de imagem. Os exames físicos envolvem
Sua prevalência aumenta após os 25 anos de ida- análise da função e do comportamento muscular.
de, atingindo seu pico entre 40 e 60 anos. Vale des- Deve-se observar o seguinte:
tacar que a dor lombar crônica é a principal causa de • Observar episódios dolorosos pela manhã e
incapacidade no trabalho, afetando, principalmente, com duração média de três a quatro dias.
indivíduos abaixo dos 45 anos (TRAINOR; WIESEL, Nesse caso, a dor raramente se irradia para
2002). as coxas e pode desaparecer por completo
com ou sem tratamento.
• Rigidez matinal com duração superior a 30
minutos.
Fisiopatologia • Dor com o movimento corporal ao longo do
dia ou desencadeada por longos períodos de
A dor lombar está relacionada a diversos compo- permanência em pé.
nentes, sendo assim multifuncional. Corpo vertebral,
disco vertebral e intervertebral, facetas articulares, li- Do ponto de vista dos exames de imagem, tanto
gamentos, músculos paravertebrais e raízes nervosas a tomografia computadorizada como a ressonância
estão envolvidos no processo etiológico da lombalgia magnética são indicadas em lombalgias cuja causa
(DE FREITAS, 2012, p. 20). não foi determinada após seis semanas de tratamen-
to clínico (BRAZIL et al., 2004).
Dores mecânicas do sistema musculoesquelético
são as que mais acometem a população em geral, Lombalgia e obesidade
comprometendo a funcionalidade da coluna lombar.
Normalmente, a dor é oriunda de cargas colocadas Ao contrário do que se pode imaginar, indivídu-
sobre a coluna. os obesos não necessariamente apresentam maior
incidência de lombalgia em relação aos não obesos
Em relação aos sintomas, as dores lombares po- (LEBOEUF-YDE, 2000). Dessa forma, acredita-se que
dem ser divididas em: a dor lombar em obesos não se dê única e exclusiva-
• Aguda (uma semana ou mais). mente pelo excesso de peso corporal e sim por ou-
• Subaguda (de 1 a 12 semanas). tros motivos mais associados a estilo de vida, como o
• Crônica (12 semanas ou acima. Ela acomete sedentarismo ou a má postura, associados a múscu-
de 5% a 10% dos indivíduos que desenvol- los do core enfraquecidos (LEDERMAN, 2010).
vem lombalgia).
Prescrição do exercício para portadores
Trabalhadores que executam atividades pesadas de lombalgia
de puxar, empurrar e levantar pesos são os mais sus-
cetíveis a lombalgia mecânica. Estima-se que entre A prescrição de exercícios em dor lombar crônica
pode reduzir a intensidade dela e melhorar a mobili-
dade da coluna, quando bem aplicados.

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Prescrição do exercício de efeito local e geral para obesos e indivíduos com sobrepeso

Atenção especial deve ser dada aos exercícios do


core (região do tronco), apesar de ainda não haver
consenso sobre qual tipo é o mais eficiente para isso.

O que se sabe é que dois componentes são essen-


ciais nesse processo: a rigidez (desenvolvida por meio
de exercícios de estabilização/fortalecimento, como a
prancha ventral e lateral) e a elasticidade (exercícios
de alongamento e mobilização segura da coluna). A
somatória desses dois componentes irá permitir mo-
vimento com controle, o que, por sua vez, diminuirá
a dor (DE FREITAS, 2012, p. 75).

De Freitas (2012) ainda afirma que a reeducação


muscular do tronco deve evoluir dos músculos locais
(músculos mais profundos, como o transverso do ab-
dômen) para os globais (músculos superficiais, como
o reto abdominal) seguindo três estágios:
• Estágio 1: Visa o controle segmentar local,
com ativação dos músculos profundos.
• Estágio 2: Controle segmentar em cadeia
cinética fechada, com estímulo tanto para os
músculos locais quanto globais.
• Estágio 3: Controle segmentar tanto em
cadeia cinética fechada quanto aberta, com
contínuo trabalho tanto de músculos locais
quanto globais.

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Prescrição do exercício de efeito local e geral para obesos e indivíduos com sobrepeso

Referências

BALSAMO, S.; SIMÃO, R. F. Treinamento de JONES, A.; DOHERTY, M. ABC of rheumatolo-


força para osteoporose, fibromialgia, diabetes gy: osteoarthritis. BMJ, v. 18, n. 6977, p. 457-60,
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