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Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício


ISSN 1981-9900 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o d e P e sq u i s a e E n si n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
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BENEFÍCIOS DO EXERCÍCIO AERÓBIO EM INDIVÍDUOS PORTADORES DE FIBROMIALGIA:


UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
1
Izanete Maria Gonçalves da Cunha

RESUMO ABSTRACT

Introdução: A fibromialgia (FM) é definida Aerobic exercise benefits of individuals in


como uma síndrome reumática, de etiologia patients with fibromyalgia: a systematic review
idiopática, caracterizada, principalmente, por
dor musculoesquelética crônica, difusa e Introduction: Fibromyalgia (FM) is defined as a
distribuída em pontos dolorosos específicos, syndrome, idiopathic, mainly characterized by
denominados tender points, e cursa com um musculoskeletal pain, diffuse and distributed in
impacto negativo importante na qualidade de specific tender points, called tender points, and
vida dos pacientes. Uma alternativa não are associated with a significant negative
medicamentosa para o tratamento desta impact on quality of life patients. An alternative
síndrome é a prática de exercícios físicos e o non-drug treatment for this syndrome is the
mais prescrito é o aeróbio de baixo impacto, practice of physical activity and is the most
com gradativo aumento de carga e intensidade prescribed aerobic low impact, with gradual
de até 65% a 70% da frequência cardíaca increase in load and intensity of up to 65% to
máxima (FCmáx). Objetivos: Descrever os 70% of maximum heart rate (MHR).
benefícios do exercício aeróbio (EA) em Objectives: To describe the benefits of aerobic
indivíduos portadores de FM. Revisão da exercise (AE) in individuals with FM. Literature
Literatura: Esta revisão foi embasada em Review: This review was based on scientific
artigos científicos, compreendidos no período articles, ranging from 1994 to 2011, found in
de 1994 a 2011, encontrados nas bases de databases Latindex, Lilacs, Medline, Pubmed
dados Latindex, Lilacs, Medline, Pubmed e and Scielo. Were cataloged items that made
Scielo. Utilizando-se os descritores, foram references to the benefits of aerobic exercise
selecionados 33 artigos que faziam referência in individuals with this syndrome. Using the
à FM e aos benefícios do EA em indivíduos descriptors, we selected 33 articles that
portadores desta síndrome, mas ao considerar referred to the FM and the benefits of EA in
o objetivo desta, somente 24 estudos foram individuals with this syndrome, but when
utilizados nesta revisão. Conclusão: O EA, considering the purpose of this, only 24 studies
principalmente o de baixo impacto em solo were used in this review. Conclusion: The EA,
e/ou piscina, devem ser prescritos para todos especially the low impact on soil and / or pool
os indivíduos portadores de FM, com exceção should be prescribed for all individuals with
daqueles que possuam alguma contra FM, except those that have some
indicação. Os benefícios adquiridos para esta contraindication. The vested benefits for this
população se destacam a diminuição da dor, population stand to decreased pain, improved
melhora no sono, humor, cognição, sensação sleep, mood, cognition, sense of well being,
de bem estar, e consequentemente, uma and therefore a better quality of life.
melhor qualidade de vida.
Key words: Fibromyalgia, Aerobic exercise,
Palavras-chave: Fibromialgia, Exercício Benefits of exercise, Treatment of fibromyalgia.
aeróbio, Benefícios do exercício, Tratamento
da fibromialgia.

E-mail:
iza_nete13@yahoo.com.br

Endereço para correspondência:


1-Fisioterapeuta, Graduação na Faculdade de Rua Nossa Senhora do Resgate, Casa nº 2,
Tecnologia e Ciências (FTC). Cabula, Salvador - Bahia.
CEP: 41152-000

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INTRODUÇÃO Não existem exames subsidiários,


tanto de laboratório como de imagem, que
A fibromialgia (FM) é definida como tenham utilidade diagnóstica para a síndrome,
uma síndrome reumática, de etiologia exceto quando outras enfermidades estiverem
idiopática, caracterizada, principalmente, por presentes concomitantemente (Provenza e
dor musculoesquelética crônica, difusa e Colaboradores, 2004). A FM, por ser uma
distribuída em pontos dolorosos específicos, síndrome dolorosa crônica, cursa com um
denominados tender points, os quais se impacto negativo importante na qualidade de
apresentam hipersensíveis à palpação (dígito- vida dos pacientes (Braz e Colaboradores,
pressão) (Medeiros e Colaboradores, 2010). 2011).
Frequentemente associa-se à A inatividade física leva os pacientes
incapacidade funcional, à depressão, à com síndrome de FM a um declínio na função
ansiedade, ao sono não reparador, à fadiga, neuromuscular, na resistência muscular, na
ao déficit de memória, à cefaleia, à velocidade de contração dos músculos e na
constipação ou à diarreia (Hecker e função cardiorrespiratória. Isto interfere no
Colaboradores, 2011). desempenho funcional, que inclui caminhar,
Em um estudo realizado no Brasil, em subir escadas e outras atividades cotidianas
Montes Claros, a FM foi a segunda doença (Santos e Kruel, 2009).
reumatológica mais frequente, após a Como consequência, instala-se um
osteoartrite. ciclo vicioso, no qual a dor, como resultado do
Neste estudo, observou-se a esforço físico, faz com que essas pessoas
prevalência de 2,5% na população, sendo a evitem qualquer exercício, atitude esta que
maioria do sexo feminino, das quais 40,8% se acaba perpetuando os sintomas (Jones e
encontravam entre 35 e 44 anos de idade Colaboradores, 2006).
(Heymann e Colaboradores, 2010). Desta forma, a intervenção
As causas ainda são desconhecidas, direcionada à melhoria da saúde de pessoas
podendo envolver predisposição genética, com FM deve levar em consideração tanto a
alterações neuroendócrinas, psicossomáticas melhora dos sintomas físicos quanto dos
e do sono, incluindo outros fatores externos, psicológicos (Leite e Colaboradores, 2009).
como trauma, artrite periférica e possível Uma alternativa não medicamentosa
microtrauma muscular por para o tratamento desta síndrome é a prática
descondicionamento. de exercícios físicos (Medeiros e
Além disso, a presença de outras Colaboradores, 2010).
variáveis que podem influenciar a O exercício mais prescrito é o aeróbio
sintomatologia é também observada, como de baixo impacto, com gradativo aumento de
alterações climáticas, grau de atividade física carga e intensidade de até 65% a 70% da
e estressores emocionais (Bressan e frequência cardíaca máxima (FCmáx). Entre
Colaboradores, 2008). os benefícios dos exercícios aeróbios (EA)
Para Pillemer e Colaboradores (1997), para esta população se destacam a diminuição
as maiores evidências apontam para um da dor, melhora no sono, humor, cognição e
distúrbio de modulação central da dor ou um sensação de bem estar (Steffens e
processamento alterado do sistema nervoso Colaboradores, 2011). Logo, esta revisão teve
central em resposta a um estímulo nociceptivo. como objetivo descrever os benefícios do EA
Em 1990 o Colégio Americano de em indivíduos portadores de FM.
Reumatologia (ACR) definiu critérios para seu
diagnóstico e em 1992 a Organização Mundial Benefícios do exercício aeróbio (ea) em
de Saúde reconheceu oficialmente como indivíduos portadores de fibromialgia (fm)
entidade nosológica distinta.
Os critérios propostos pelo ACR, dor Para Medeiros e Colaboradores
difusa durando cerca de três meses e dor à (2010), a aptidão física é o estado de bem-
palpação de 11 em 18 pontos-gatilhos, estar, o qual se fundamenta o desempenho
mostraram uma sensibilidade de 88% e uma ideal. O treinamento é o processo planejado e
especificidade de 81% para o diagnóstico de organizado pelo qual se consegue elevar esse
FM (Vaisberg e Colaboradores, 2001). desempenho, por meio de uma sequência de
exercícios físicos capazes de estimular

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aumentos ou adaptações anatômicas e ateroscleróticos ao sistema cardiovascular.


fisiológicas. Segundo Valim (2006), o tempo necessário
Segundo Gualano e Colaboradores para melhora sintomática pode ser diferente
(2011), EA é desempenhado em intensidade conforme o tipo de exercício realizado.
submáxima, permitindo a manutenção do Os benefícios do alongamento em
esforço por períodos prolongados (>10 indivíduos com síndrome de FM ocorrem em
minutos). É caracterizado pela realização de 10 semanas e se estabilizam, enquanto a
contrações de um mesmo grupo muscular em melhora associada ao EA se manifesta nesse
caráter rítmico e repetido. Exemplos incluem período e permanece aumentando até 20
natação, ciclismo, caminhada e corrida de semanas.
média e longa duração. O treino aeróbio provoca mudanças
Conforme Roberts e Robergs citados neuroendócrinas como o aumento na liberação
por Medeiros e Colaboradores (2010), a de serotonina e norepinefrina, que resulta na
qualidade e a duração de cada sessão de melhora do humor, benefício não alcançado no
treino são condições fundamentais, diante das alongamento. Os exercícios de baixa
melhorias induzidas pelo treinamento no intensidade, ou aqueles em que o paciente é
desenvolvimento ou conservação da aptidão capaz de identificar o limite de seu esforço e
física, por conseguinte elevação da tolerância dor, parecem ser os mais efetivos (Marques e
ao esforço físico. Colaboradores, 2002; Bressan e
Atualmente, o Colégio Americano de Colaboradores, 2008; Braz e Colaboradores,
Medicina do Esporte (ACSM) já reconhece que 2011).
a intensidade de treinamento para promoção Segundo Jones e Clark (2002), no ano
de saúde (redução do risco coronariano, de 1995, o Centro de Prevenção e Controle de
melhora metabólica e de doenças Doenças e o ACSM recomendaram 30
degenerativas) é menor do que aquela minutos diários de EA com frequência de, ao
necessária para aumentar a aptidão menos, 03 vezes semanais. No mesmo ano
cardiorrespiratória traduzida por aumento de essa recomendação foi indicada para
consumo de oxigênio. Entretanto, é importante pacientes com FM com semelhantes
conhecer a intensidade mínima de treino resultados relacionados à saúde.
capaz de promover melhora da dor (Valim, Sabbag e Colaboradores (2007)
2006). avaliaram os efeitos de um programa de
Os critérios de prescrição de condicionamento físico supervisionado
intensidade de treino aeróbio aceitos pelo (academia), sobre a capacidade funcional, dor
ACSM são a FCmáx, frequência cardíaca de e qualidade de vida em 18 mulheres com
reserva (FCR) ou consumo de reserva de média de idade entre 46,4 anos,
oxigênio (VO2R) e limiar anaeróbio (LA). Para fibromiálgicas. O grupo foi submetido a 03
ser considerado um treino aeróbio, o indivíduo sessões semanais de 60 minutos, com
tem que atingir 55%/65-90% da FCmáx ou atividades combinadas (caminhada, trote,
40%/50-85% do VO2R ou da FCR. Os níveis corrida, alongamento, atividades em piscina
mais baixos de intensidade de treino, por aquecida), durante 01 ano e concluiu que
exemplo, 40-49% da VO2R ou FCR, e 55-64% houve aumento da capacidade funcional,
da FCmáx, são os mais aplicáveis para melhora da dor e da qualidade de vida.
indivíduos descondicionados (Pollock e Gowans citado por Santos e Kruel
Colaboradores, 1998). (2009) aplicaram treinamento aeróbico,
Para Leite citado por Medeiros e durante 23 semanas, em indivíduos com
Colaboradores (2010), o indivíduo adulto de síndrome de FM e verificaram seu efeito sobre
modo geral, deve atingir em teste o humor e a função física utilizando,
cardiorrespiratório um consumo máximo de respectivamente, o Inventário de Depressão
oxigênio de 40 ml/Kg/min. de Beck e o teste de caminhada de 6 minutos
Desta forma, valores inferiores ao (TC6).
referido é considerado baixo diante do padrão A intensidade foi baseada em 60% a
de aptidão física inerente à saúde. Ademais, 75% da FCmáx estimada pela idade (220-
valores abaixo de 40 ml/Kg/min são pouco idade). Os dois parâmetros avaliados
capazes de oferecer proteção profilática contra apresentaram melhoras. O TC6 apresenta boa
o surgimento de processos degenerativos aplicabilidade, pois avalia de forma global a

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integração de respostas de todos os sistemas cronotrópica anormal ao exercício por


fisiológicos envolvidos durante o exercício. A disautonomia (Valim, 2006).
distância percorrida durante o TC6 reflete a Stephens citado por Gualano e
capacidade funcional para as atividades da Colaboradores (2011) investigaram a eficácia
vida diária (AVD), pois, em geral, as AVD são e exequibilidade de um programa de
realizadas em níveis submáximos de esforço. treinamento físico em crianças e adolescentes
Supondo que a dor possa limitar a velocidade com FM juvenil (FMJ) ao longo de 12
de execução e o desempenho em teste semanas. Os pacientes foram aleatoriamente
ergométrico máximo, o TC6 parece ser um indicados a um programa de treinamento
bom método alternativo para a avaliação aeróbio de alta ou baixa intensidade.
cardiorrespiratória de pacientes com FM, Ambos os grupos apresentaram
quando uma avaliação direta e mais específica melhoras na função muscular, nos sintomas
não for possível. Também mostra o indicativo inerentes à doença, na qualidade de vida e na
de que o pior desempenho no TC6, associado dor, embora os pacientes submetidos ao
com menor aptidão cardiorrespiratória, pode treinamento mais intenso tenham
limitar a realização das AVD (Homann e experimentado ganhos em maior número de
Colaboradores, 2011). parâmetros clínicos. Esses achados
Outro estudo comparou os benefícios confirmam os benefícios esperados do
da caminhada de alta e baixa intensidade e, treinamento físico em FMJ e reforçam a
após 24 semanas de prática, verificou que o necessidade de novos estudos nessa área.
impacto da síndrome de FM na qualidade de Enquanto uma recente meta-análise
vida diminuiu significativamente, com efeito indicou que EA aquático não produz
maior no grupo que praticou caminhada de resultados superiores em comparação com a
baixa intensidade (Meyer e Lemley, 2000). mesma forma de exercício intenso em solo,
Segundo Steffens e Colaboradores outras opiniões (que não utilizaram meta-
(2011), em uma pesquisa com 09 mulheres análise) sugerem benefícios adicionais na
fibromiálgicas, com média de idade de 48 ± 10 redução da dor e depressão. O exercício
anos, as 32 sessões do programa de aquático pode ser particularmente, valioso
caminhada foram realizadas 02 vezes por para indivíduos severamente
semana, com duração de 60 minutos. Deste descondicionados ou para aqueles com níveis
tempo, 15 minutos eram direcionados a altos de dor e sofrimento (Busch e
exercícios de alongamento, 30 minutos para a Colaboradores, 2011).
prática da caminhada e 15 minutos de Mannerkorpi e Iversen citados por
relaxamento. A intensidade prescrita pelos Leite e Colaboradores (2009) realizaram um
profissionais que orientaram a prática da tratamento envolvendo EA, endurance,
caminhada variou entre 60% e 75% da FCmáx flexibilidade e relaxamento em piscina
estimada pela idade (220 – idade). A prática aquecida entre 30°C e 34°C, durante 06
de caminhada melhorou a qualidade do sono e meses, 02 vezes por semana. Os autores
os estados de humor em mulheres com encontraram melhora no desempenho aeróbio,
síndrome de FM. na capacidade física, na sociabilidade, na dor,
Assim, considerando que a prática da na fadiga e no estresse em indivíduos com
caminhada envolve baixo custo e a literatura síndrome de FM. Em outros estudos com
tem apresentado suas qualidades, estudos exercícios terrestres, as pacientes obtiveram
com tal finalidade contribuem para a discussão efeito antidepressivo e relaxamento, e
de tratamentos que envolvam custo-benefício diminuição da dor nos tender points em 74%
positivo para pacientes com síndrome de FM, das mesmas com síndrome de FM.
em especial no que se refere aos aspectos Segundo Jentoft, Kvalvik e Mengshoel
psicológicos. (2001), em um estudo comparativo de um
Porém, de um modo geral, um programa de EA realizados em solo e em
inconveniente para a prescrição de exercícios piscina aquecida, durante 20 semanas, com o
baseados em fórmulas é a grande tempo de 60 minutos e intensidade do
variabilidade da frequência cardíaca entre os treinamento mantido entre 60% a 80% da
indivíduos, especialmente para aqueles que FCmáx para a idade de cada paciente, foi
têm FM, já que podem apresentar resposta observado que houve melhora significativa, em
ambos os grupos, na capacidade

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cardiovascular, rigidez, fadiga, ansiedade, tratamento para a FM, e no aspecto dor, a


depressão e números de dias sem sentir dor. melhora foi estatisticamente significante para
Assim, há evidências bastante fortes os dois grupos.
que os pacientes com FM podem executar Podemos atribuir esse resultado ao
programas de exercícios em um nível de alta fato de que durante a imersão ocorre aumento
intensidade suficiente para melhora de sua da circulação e redução dos espasmos, além
capacidade física. Recentemente disso, os estímulos sensoriais competem com
demonstraram que deep running é um pouco os dolorosos, interrompendo o ciclo da dor.
melhor que o condicionamento aeróbio em Nesse sentido, o meio aquático
solo na melhora dos escores do Fibromyalgia favorece a execução de atividades rotineiras
Impact Questionnaire (FIQ) e aspectos pelo alívio dos sintomas dolorosos.
psicológicos da qualidade de vida (Assis e Gimenes, Santos e Silva citado por
Colaboradores, 2003). Nava e Liberali (2008) avaliaram as respostas
No ensaio clínico realizado por à dor e nível de depressão através do método
Munguía-Izquierdo e Legaz-Arrese citados por Watsu, em 20 indivíduos do gênero feminino,
Braz e Colaboradores (2011), o exercício físico com idades entre 40-82 anos, fibromiálgicas,
em água aquecida, feito 03 vezes por semana sem qualquer tratamento pregresso,
durante 16 semanas, foi um tratamento eficaz submetidos a um programa de treinamento por
em reduzir a dor e a severidade da FM. 04 meses.
Melhorou também a função cognitiva em Ao final do programa observaram
mulheres adultas que não realizavam reduções significativas tanto para os níveis de
atividades físicas previamente, e que tinham dor quanto para os de depressão. O método
sintomatologia dolorosa importante ao iniciar o demonstrou ser eficiente para o grupo
estudo. avaliado.
Hecker e Colaboradores (2011) em A Tabela 1 mostra os programas de
seu estudo com 24 mulheres citavam a treinamento aeróbio em solo e piscina
cinesioterapia e a hidrocinesioterapia, realizados com indivíduos portadores de FM e
realizadas uma 01 por semana, por um seus respectivos resultados.
período de 23 semanas, como forma de

Tabela 1 - Treinamento aeróbio em indivíduos portadores de Fibromialgia (FM) - solo e piscina.


Método, intensidade,
Autor Período Amostra Resultado
volume
Jones e Clark (2002) e o
Não Exercício aeróbio, 3x
American College of Não referiu. Benéfico
referiu. semanais.
Sports Medicine (1990)
Caminhada, trote, 18 ↑ capacidade funcional,
Sabbag e Colaboradores
1 ano corrida, alongamento, mulheres melhora da dor e da
(2007)
3x semanais. com FM qualidade de vida.
Teste de caminhada de
6 minutos associado ao
Gowans citado por 23 Inventário de Beck, com Melhora do humor e da
Não referiu.
Santos e Kruel (2009) semanas 60% a 75% da função física.
frequência cardíaca
máxima.
Melhora para os dois
24 Caminhada de alta e grupos, porém mais
Meyer e Lemley (2000) Não referiu.
semanas baixa intensidade significativo para o de
baixa intensidade.
Programa de
caminhada, com 60% a Melhora da qualidade de
Steffens e 32 9 mulheres
75% da frequência vida e os estados de
Colaboradores (2011) sessões com FM.
cardíaca máxima, 2x humor.
semanais.
Crianças e Melhora para os dois
Stephens citado por Treinamento aeróbio de
12 adolescente grupos na função
Gualano e alta ou baixa
semanas s com FM muscular, nos sintomas
Colaboradores (2011) intensidade.
juvenil. inerentes à doença, na

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qualidade de vida, porém


mais significativo para o de
alta intensidade.
Melhora do desempenho
aeróbio, capacidade
Exercício aeróbio, funcional, sociabilidade, na
Mannerkorpi citado por endurance, flexibilidade dor, fadiga e estresse para
Leite e Colaboradores 6 meses e relaxamento em Não referiu. o grupo de piscina; efeito
(2009) piscina aquecida e solo, antidepressivo e
2x semanais. relaxamento, ↓ dor em
74% nos pontos dolorosos
para o grupo de solo.
Programa de exercício Melhora para ambos os
aeróbio em solo e grupos na capacidade
Jentoft, Kvalvik e 20 piscina aquecida, com cardiovascular, rigidez,
Não referiu.
Mengshoel (2001) semanas 60% a 80% da fadiga, ansiedade,
frequência cardíaca depressão e nº de dias
máxima. sem sentir dor.
Munguía-Izquierdo Exercício físico em Mulheres ↓ dor e severidade da FM,
16
citado por Braz e piscina aquecida, 3x adultas com melhora da função
semanas
Colaboradores (2011) semanais. FM. cognitiva.
Cinesioterapia e 24
Hecker e Colaboradores 23 Melhora da dor para os
hidrocinesioterapia, 1x mulheres
(2011) semanas dois grupos
semanal. com FM.
Gimenes, Santos e Silva 20
citado por Nava e 4 meses Método Watsu. mulheres ↓ dor e depressão
Liberali (2008) com FM.

CONCLUSÃO REFERÊNCIAS

Uma das formas de tratamento não 1-Assis, M. R.; Silva, L. E.; Alves, A.;
medicamentoso para pacientes portadores de Pessanha, A. P.; Feldman, D.; Barros Neto, T.
FM é a prática de exercícios físicos sendo que L.; Natour, J. Deep water running - aquatic
o mais prescrito, segundo os autores que exercise to treat fibromyalgia: a randomized,
fizeram parte desta revisão, é o aeróbio de controlled study. Arthritis Rheum. Vol. 48.
baixa intensidade. Núm. S303. 2003.
É essencial levar em consideração o
objetivo do paciente que, muitas vezes, 2-Braz, A. S.; Paula, A. P.; Diniz, M. F. F. M.;
consiste em realizar suas AVD sem fadiga e Almeida, R. N. Uso da terapia não
sem dor e é neste momento que se faz farmacológica, medicina alternativa e
necessário o reconhecimento de uma complementar na fibromialgia. Revista
prescrição adequada e individualizada. Brasileira de Reumatologia. [Online]. Vol. 51.
Este estudo mostrou que é possível Núm. 3. p.269-282. 2011.
obter êxito com a prescrição de um
treinamento físico aeróbio em solo e piscina, 3-Bressan, L. R.; Matsutani, L. A.; Assumpção,
inicialmente de baixa intensidade podendo A.; Marques, A. P.; Cabral, C. M. N. Efeitos do
elevar o nível deste gradualmente, de acordo alongamento muscular e condicionamento
com a aptidão e a tolerância ao esforço físico no tratamento fisioterápico de pacientes
adquirido por este indivíduo. com fibromialgia. Revista Brasileira de
Entre os benefícios dos EA para esta Fisioterapia. São Carlos. Vol. 12. Núm. 2. p.
população se destacam a diminuição da dor, 88-93. 2008.
melhora no sono, humor, cognição e sensação
de bem estar, favorecendo uma melhor 4-Busch, A. J.; Webber, S. C.; Brachaniec, M.;
qualidade de vida. Logo, o EA deve ser Bidonde, J.; Bello-Hass, V. D.; Danyliw, A. D.;
prescrito para todos os indivíduos portadores Overend, T. J.; Richards, R. S.; Sawant, A.;
de FM, com exceção daqueles que possuam Schachter, C. L. Exercise therapy for
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15. Núm. 5. p.358-367. 2011.

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w w w . i b p e f e x . c o m . b r / w w w . r b p f e x . c o m . b r

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Recebido para publicação 03/12/2012


Aceito em 06/01/2013

Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício, São Paulo, v.7, n.38, p.123-130. Mar/Abril. 2013. ISSN 1981-9900.

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