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1.

Por favor, conte o que você


achava sobre a sobre o que era
ser médico no início da carreira
e o que considera ser médico na
atualidade. Mudou a visão e a
conduta?

Sou médico formado na Universidade de São Paulo,


fiz residência médica em psiquiatria no Hospital das
Clínicas e eu atuo há mais de dez anos atendendo
pacientes em consultório. Também faço um trabalho de
divulgação do funcionamento da nossa mente, sobre
saúde mental, nas redes sociais e principalmente no
YouTube, no canal Saúde da Mente.

Por que eu escolhi fazer Psiquiatria? Psiquiatria é


uma área em que algumas pessoas torcem o nariz
e é normal, eu também tinha isso. Essa escolha se
deu quando eu estava no quarto ano da faculdade
de Medicina, minha mãe adoeceu, foi diagnosticada
com câncer, meu pai já era falecido e eu ainda muito
jovem tive que administrar coisas importantes, sobre o
tratamento da minha mãe, questões financeiras.

Nessa época, o meu avô que morava no Rio de


Janeiro veio para São Paulo cuidar da minha mãe
e entrou num quadro depressivo. E quem já viu
depressão na terceira idade, sabe que é diferente de
uma simples tristeza.

Ele não conseguia se comunicar, ficou com o raciocínio


lento e nós fizemos de tudo, passamos por uma
via crúcis com meu avô, ouvimos vários médicos e
ninguém sabia o que ele tinha. Um médico levantou a
possibilidade dele passar por um psiquiatra, eu o levei
ao Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, falei
que era aluno e o psiquiatra de plantão fez perguntas
pontuais.

Meu avô respondeu contando coisas que ninguém


sabia que ele estava tendo. Fizemos o tratamento e o
quadro do meu avô foi revertido.

Assistindo isso de perto, comecei a cogitar estudar


sobre, porque vi que as pessoas não tinham ideia do
que era a depressão, que é um quadro físico, palpável,
não é algo leve, somente psicológico ou emocional, é
reversível.

Isso me motivou a estudar e mudar o conceito


sobre depressão, não simplesmente para
levantar uma bandeira, mas se olharmos do
jeito correto, se intervirmos do jeito certo,
conseguimos aliviar o sofrimento da pessoa,
fazer com que ele volte a fazer as coisas que
gostava.

Meu avô adorava jogar cartas com os amigos, com


meu tio, filho dele. Ele era flamenguista e adorava
futebol. Então, a ideia é que a gente recupere a vida,
esse brilho no olho da pessoa.

Isso que me motivou a fazer e de fato, ao longo da


nossa formação a gente foi mudando. Eu tive uma
formação muito sólida e tradicional em uma das
universidades mais conhecidas do Brasil.

Até a década de 80, a gente não tinha muita ideia


sobre como funcionava essa parte mental das pessoas,
as memórias, raciocínio, emoções. A psiquiatria
andava muito junto com a filosofia, religião e era difícil
a gente separar. Até que nos anos 80, descobriram
as medicações e perceberam que havia uma coisa
química que fazia a diferença.

Aí, migrou de algo que era filosófico e


espiritual para algo que era somente químico.
Claro que tinha também um interesse
financeiro em cima disso, no final da década
de 80, começo de 1990, foi lançado o
Prozac, depois o Zoloft. Foram remédios
extremamente vendidos, houve muito lobby
farmacêutico e a depressão, a ansiedade,
todos esses quadros eram puramente uma
alteração da serotonina, logo, você tinha
que tomar um remédio que aumentava
a serotonina para reverter, não tinha
escapatória.

O modelo mudou, de espiritual foi para uma coisa


totalmente química, e aí vimos que nenhuma dessas
vertentes estava correta, a medicina, a neurociência,
está sempre evoluindo.

Aí, a gente tem também o aspecto social, os aspectos


psicológicos, que levaram à neurociência, para que
a gente possa aprender como diferentes áreas do
cérebro se conectam.

Nosso cérebro é como um carro, uma Ferrari,


muito potente e cada área tem a sua função, tem o
acelerador, freio, a direção, a marcha, onde você vai
colocar o óleo para lubrificar, aquecedor, resfriador,
tudo isso tem que funcionar em sintonia.
Nós acabamos com esses conceitos
[antigos] e colocamos um novo, que é ativar
áreas responsáveis pelo prazer, execução,
propósito, pertencimento e proteger as área
responsáveis pela dor, pelo alerta. Isso a
gente consegue fazer de várias formas. E não
somente com remédios.

Só aí já cai por terra a explicação da química, que só


com remédios você pode melhorar. Você pode fazer
isso com mudanças alimentares, de hábitos, na forma
como se relaciona com os outros, na forma como tem
um padrão de pensamentos.

Hoje em dia, a gente tem um modelo muito bacana,


o modelo contínuo, que não é um modelo saúde e
doença, que é um modelo ultrapassado e que vem com
um peso, um preconceito, ninguém quer ser um doente
mental. Hoje, a ideia que nós temos é ter uma escala,
um contínuo.

Nós temos a saúde mental, que nada mais é que


a gente conseguir suportar os problemas, aguentar
o tranco, continuar produzindo, trabalhando, me
relacionando. Isso é ótimo, mas não traz felicidade.

Tem um outro patamar, que é o patamar que queremos


chegar, que é o bem-estar mental, a prosperidade, a
satisfação com a vida. E que estou produzindo algo
com propósito, que eu sinta que estou impactando o
mundo. Que eu me sinto profundamente impactado
com as coisas, com a natureza, com as outras pessoas.
Que eu tenha a sensação que estou totalmente
engajado naquilo que está ocorrendo, me sinta
motivado. Isso é um polo.
Em alguns momentos, por N fatores, a gente vai para
a outra ponta, em que eu começo a sentir coisas, meu
pensamento se altera, que eu começo a ter prejuízos
com as minhas ações e isso me paralisa, me impede
de ter relacionamentos ou conquistas.

O grande segredo é pegar essas pessoas que estão


no polo vermelho da paralisação e alterarmos, por
meio de estratégias que sejam validadas, e muito além
da medicação, para que a pessoa possa ter uma
vida próspera, com realizações e conquistas, com um
legado.

Essa é a visão que temos hoje da saúde mental, isso


que serviu para a minha transformação pessoal e que
proponho para meus pacientes e alunos.

2. Você é uma médico que atua


em uma área da psiquiatria que
muitas vezes precisa nadar contra
a maré. Então minha pergunta:
existe hoje uma cultura muito
forte de que o apoio psiquiátrico
para pessoas em sofrimento é
exclusivamente medicamentoso.
Quais são os danos de trabalhar
somente com esse pilar? Existem
fatores econômicos que influenciam
na manutenção dessa forma de
conduta?

De fato, existe ainda por profissionais, atendimento


de qualidade, tempo, pelo nosso sistema de saúde,
formação de psiquiatras, médicos e psicólogos, e
também por uma questão cultural, que colocam nos
psicólogos um tipo de raciocínio que não é verdadeiro,
além dos interesses econômicos, uma ideia que é a
ideia da década de 80, que é o modelo estritamente
químico do funcionamento do modelo mental.

As pessoas têm essa visão de que “ainda tem que


dar remédio”, mas é falta de conhecimento atual, que
trabalha a saúde mental de uma forma atualizada e
contemporânea.

Então, não é que a medicina tradicional fala pra


você dar remédio e a alternativa fala para não dar, a
medicina é o estado da arte, da ciência, que diz que:
o tratamento vai muito além da medicação, que para
muitos casos, não é nem a primeira linha.

E isso não é um segredo, ou pelo menos nem deveria


ser, porque na prática, no dia a dia, a gente vê muito
isso.

Muita gente me pergunta: “Marco, você é


a favor de remédios?”. “De suplementos,
alimentos, atividade física?”. E eu digo:
“Eu sou a favor daquilo que funciona, para
ajudar a pessoa a aliviar o sofrimento, ter
energia, concentração, para conquistar as
realizações e os relacionamentos que são
importantes pra ela”.

É basicamente aquilo que eu contei sobre o meu


avô, naquele momento, ele não conseguiu falar ou se
relacionar. Quando eu vi ele perder o brilho do seu
olhar, da alma, eu não estava preocupado com o tipo
de tratamento que iam fazer, desde que trouxesse meu
avô de volta e conseguissem fazer com que ele se
mantivesse bem. Era isso que eu queria.

Então, com base nesse raciocínio e eu sei que isso


até vai contra o que muito se vê por aí, a medicação
é reservada para quadros graves, crônicos, ou com
componentes genético e biológicos muito intensos.

A maioria, e eu posso dizer isso sem o receio


de estar cometendo um pecado que viole
a ciência, dos quadros silenciosos, leves,
moderados, pede estratégias naturais, não
medicamentosas, claro que as estratégias
corretas, são tão ou mais eficientes que os
remédios.

Gosto muito de usar como exemplo a ansiedade. A


ansiedade é o transtorno mental que na sua forma
tóxica e patológica paralisa a nossa vida, faz com
que a gente tenha crises nos momentos que não
devemos ter, faz com que a gente faça coisas que
desencadeiam a crise, mas a gente evita também o
prazer.

A gente fica prisioneiro de ter que ficar sempre


apreensivo, esperando quando a próxima crise vai
acontecer. A ansiedade tóxica, patológica, é muito
comum no mundo e no Brasil é uma verdadeira
epidemia. O Brasil já era, antes da pandemia, o
país mais ansioso do mundo. Com a pandemia, esse
número duplicou, quiçá triplicou. Estamos tendo uma
avalanche de pessoas com uma ansiedade paralisante
ao invés de uma ansiedade construtiva.
Além da ansiedade ser muito comum e atingir uma
quantidade de pessoas, se você não teve, você vai ter
ou conhecer muito próximo que terá, o pilar do seu
tratamento não é com remédio.

Porque já foi estudado e comprovado que


os remédios calmantes, aqueles de tarja
preta que aliviam na hora, quem tomou já
sabe, que não é que ele trata o circuito de
ansiedade, mas deixa a pessoa paralisada,
anestesiada. Ela não sente a coisa ruim, mas
também não sente prazer. E esses remédios,
que só tratam os sintomas, e não a causa,
podem levar a prejuízos sérios a médio
prazo.

Existem estudos muito enraizados que mostram que


esses remédios podem causar problemas de memória,
concentração.

Alguns antidepressivos não causam dependência,


mas em alguns que possuem efeitos colaterais, como
ausência de libido, náusea, tontura, dor de estômago,
deixar a gente meio aéreo, com a concentração meio
atrapalhada. A questão é, esses remédios se mostram,
para ansiedade, muito menos eficazes que o método
chamado Terapia Cognitivo Comportamental, que é
um método cientificamente comprovado, para mudar
as sensações e o comportamento da ansiedade, esse
método se mostra três, quatro vezes mais eficaz para
aliviar os sintomas que o remédio, para fazer com que
a pessoa não tenha recaídas.

Ou seja, a cura para ansiedade, o tratamento padrão


hoje, não é com remédios. A insônia também não é
tratada com remédios. Existe remédio que desliga o
cérebro. Que faz você sedado, mas você não “dorme”
de verdade, porque ele não promove o sono profundo,
que é restaurador.

Os protocolos para tratamento de insônia, e isso no


mundo todo, é com terapia cognitivo comportamental
para insônia. É um tratamento voltado para o
pensamento, emoções, sensações, para que a gente
possa recalibrar o cérebro e voltar a dormir bem.

A neurociência permite que a gente tenha


esse tratamento mais “natural”. Existem os
suplementos também. Então, se a gente soma
tudo isso, consegue tratar 80, 90% dos casos
e não só melhorar o quadro, mas prevenir
as recaídas, deixar a pessoa bem, sem a
necessidade do uso de remédios.

Remédios são proibidos? Não é. Nós aprendemos isso,


eu estudo isso, eu sei o que é dar remédios. Mas o
problema é a gente dar o remédio por, primeiro, não
ter tempo para explicar o resto ao paciente.

Segundo, porque, mesmo que eu fale tudo isso pro


paciente, ele não tem o que fazer. Terceiro, porque
não tem profissionais que possam orientá-lo a ter essas
mudanças que não são complexas, mas precisam ser
feitas da forma correta. Não existem esses profissionais
no Brasil.

E quatro, por uma questão de velocidade no


atendimento. Quem aqui já foi atendido pelo SUS, por
plano de saúde, sabe que é importante ter, mas quem
já passou por psiquiatra por plano de saúde?

Eu sei disso porque já atendi nesse molde,


assim que me formei. Eram marcados 8
pacientes por hora para mim. Eu tinha 8,
7 minutos para falar com o paciente. E o
que é mais rápido, você dar uma receita na
hora pra ele, que vai aliviá-lo, mas deixá-lo
dependente, ou explicar tudo isso? Claro que
darão medicação.

Então, essa soma da falta de tempo, informação dos


profissionais, falta de profissionais que possam orientar
essas mudanças, dão a falsa impressão que tratamos
só com remédios. Não, remédios tinham que ser a
exceção, é a terceira e quarta etapa do tratamento,
quando a maioria das pessoas já terá melhorado da
ansiedade.

Então, é para a gente mudar esse paradigma. Existe


tratamento, cura, e o tratamento é: tratar os sintomas,
evitar que voltem e isso sim pode ser feito de forma
muito eficaz, forma estudada e validada, de métodos
científicos. O remédio é uma parte pequena e não
fundamental para a maioria dos quadros.

3. Vamos falar um pouco da


conexão cérebro corpo. Qual é
a relação que se dá entre um
cérebro tão estafado e um corpo
tão doente? A saúde (e a doença)
de fato começam na mente? A
psiquiatria erra ao fazer essa
desassociação?

Como eu disse, até a década de 80 havia


essa separação entre mente e corpo. Muitos
alunos me perguntam sobre a diferença de
mente para cérebro. E a resposta é, não sei
e não importa. Essa divisão era um conceito
antigo. Era um conceito em que a gente
colocava tudo numa mesma caixinha, o
emocional, mental e espiritual, tudo aquilo
que não fazíamos ideia de como funcionava.

A partir do momento que começamos a entender,


a partir da tecnologia e aparelhos inovadores
como a ressonância, tomografia, Pet Scan, que
nós conseguimos ver a estrutura e o funcionamento
da química do cérebro, a ativação, a conexão,
começamos a perceber que essa diferença fomos nós
que inventamos.

É importante a gente separar as coisas, para poder


estudar. Conforme o conhecimento médico evolui,
porque é impossível um médico estar extremamente
atualizado em todas as áreas da Medicina. Se ele
falar que está, está iludindo ou mentindo, porque a
cada cinco anos o conhecimento médico muda. A
cada cinco anos, o médico precisa se ‘reciclar’.

Claro que não tem como eu estar atualizado nas


últimas tendências da cardiologia, da endocrinologia.
Mas o médico precisa ter consciência sobre a área
que vai atuar e onde entra o momento dele pedir
ajuda, para fazer a melhor força tarefa para ajudar
essa pessoa. Então, é importante que estejamos
acompanhado de pessoas que ofereçam as
ferramentas corretas, que saibam muito bem as áreas
delas, e a hora de chamar outra pessoa competente.

Resumindo: a diferença entre mente e corpo


não existe. Assim como não existe diferença
entre osso e músculo para o nosso corpo.
Muita gente costuma perguntar: é verdade,
então, que se você melhorar o intestino
ou a questão imunológica, vai melhorar
a depressão? Sim e o contrário também é
verdade, porque o corpo está conectado.
Está totalmente ligado.

Existem 3 causas biológicas que estão totalmente


conectadas. Depressão, ansiedade, cada quadro terá
um desses componentes de maneira mais forte.

1) Todo caso está relacionado a um processo


inflamatório importante. A informação é boa para
reparar o nosso tecido do corpo quando existe lesão.
Mas, se a gente entra num processo inflamatório muito
crônico, isso vai minando, lesando, as áreas saudáveis.

2) Outra questão são as alterações químicas, que vão


muito além das alterações na serotonina. Glutamato,
dopamina, a noradrenalina, no GABA.

3) E tem alterações nas conexões, na comunicação de


áreas diferentes do cérebro.

Então, informação química e conexão estão na base


de todos os quadros.
Cada caso terá uma especificidade única, e nós temos
que alterar isso, usando as estratégias mais eficazes.
Por exemplo, questões alimentares, sabemos que
para quadros depressivos mais leves, a gente pode
fazer uma mudança na dieta, colocar uma dieta anti
inflamatória, que é estudada, promove uma melhora de
depressão, por exemplo, para pacientes que tomaram
a sertralina.

A atividade física também é muito importante.


Você pode fazer uma caminhada durante
30 minutos três vezes por semana, por
doze semanas, você consegue em quadros
depressivos leves ter a mesma melhora no
humor, do que se estivesse tomando Zoloft,
que é ministrado em casos depressivos.

Você também poderá observar uma mudança intestinal.


A depressão altera a parte imunológica e a flora
intestinal, então, melhorando a depressão, também
melhoramos o intestino.

Temos que ter em mente que essa separação está


errada, ultrapassada. Não importa se é da nutrologia,
da psiquiatria, da endocrinologia. Os profissionais
precisam unir as suas competências e promover o
melhor para a pessoa, que são os pilares responsáveis
pela nossa felicidade.

O engajamento, os relacionamentos, a concentração,


a produtividade e a sensação de que ela pertence
a algo maior. Nós queremos isso, apenas cada
profissional precisa se ajustar, para aproximar a
pessoa do objetivo dela.
4. Temos alguns pesquisadores
que abordam bastante os riscos
de dependência física e emocional
dos medicamentos indicados para
transtornos de humor, além da
projeção de efeitos colaterais.
Como olha para essa situação e
que tipos de caminhos propõe?

Muita gente me pergunta: será que a psiquiatria não


dá muito diagnóstico? “Eu não quero ir ao psiquiatra,
porque eu não sou louco”. “Se eu for ao psiquiatra,
sairei com um diagnóstico que não tinha antes, e com
remédios”.

Essa visão não tem a ver com diagnósticos ou


sofrimento. Porque, se a gente sente, o sofrimento
existe. E, se a gente sente, queremos melhorar, não
importa o nome que se dê para isso.O que existe
não são excessos de diagnósticos e sim, profissionais
que não sabem diagnosticar, com conhecimentos
especializados.

E como funciona esse processo de melhora, de cura,


de tratamento? Na psiquiatria, o diagnóstico é feito
de forma bastante objetiva. Acontece que muitos
profissionais possuem um conhecimento ultrapassado, a
medicina a cada ano muda como um todo, então você
tem que se manter atualizado nessa área.

Um profissional que não entende muito da área,


acaba intervindo numa área de outra natureza.
Estamos falando num conjunto, de pensamentos, ações
e descrições que a pessoa está tendo. Precisamos
ter um conjunto de sensações, tempo e prejuízo. Ou
seja, o que essa pessoa está sentindo por um tempo
determinado está atrapalhando essa pessoa de
trabalhar, de produzir. De se relacionar e aproveitar a
vida.

Então, quando a gente tem um conjunto de situações


que estão atrapalhando a pessoa de seguir a vida
dela, a gente diz que é um diagnóstico é simples
assim. Não precisa ter a ver com questões da infância,
com questões relacionadas a traumas do passado ou
outras descrições. Basicamente, são esses componentes
que são importantes depois.

Por exemplo: “se eu tiver esse diagnóstico, eu sou


louco, isso tem a ver com nossa personalidade”, “Isso
vai passar, e eu não necessariamente vou precisar de
remédio para o resto da vida.” Esse é o problema.
Para a gente ter o diagnóstico, precisamos saber qual
inimigo atacar.

Quando meu avô adoeceu, eu comecei a ter crise de


pânico, que são crises de medo, um medo intenso, uma
reação natural do corpo, quando ele sabe e percebe
que algo pode destruí-lo. É a mesma reação que a
gente tem quando vem um ônibus, um assaltante, um
ônibus. Vem uma descarga muito intensa para a gente
poder reagir. Só que, no pânico, isso vem quando não
há essa ameaça, é um alarme falso.

E isso vem com uma sensação de morte


desesperadora. Eu vivia preocupado com a
possibilidade de ter outra crise. Eu não conseguia
prestar atenção no que as pessoas falavam para
mim, tinha receio de ter uma crise, as pessoas virem
rapidamente e me acharem louco. Eu não conseguia
dormir, vivia cansado, com os músculos tensos, eu vivia
com os ombros doloridos. Se a gente for ver, isso é um
diagnóstico.

A questão é, isso é para ser olhado, para ser


tratado de forma eficaz. Como comentei, a
maioria melhora bem e passa pelo quadro
sem necessidade de medicação. Então, o que
eu posso dizer é: se você está sofrendo, você
tem o direito de estar sofrendo, e se esse
sofrimento está te impedindo de realizar suas
coisas, se isso está sendo uma barreira, opa,
é um sinal de alerta, e é importante que você
pesquisa, pegue as informações a respeito, e
veja que existe uma saída.

Às vezes, quando estamos nesse quadro, nossa


mente nos engana. Por exemplo, na depressão existe
uma sensação física de falta de prazer e falta de
esperança. Ou seja, existe uma ideia que isso nunca
vai passar. Você pode estar sentindo algo há mais de
duas semanas e com essa sensação ruim, mas saiba
que existe uma esperança. É importante que você se
cerque de informações e profissionais que te guiem por
um caminho, para essa parte de saúde e bem-estar
mental.

Então, se você está sentindo isso, não compre a


ideia que isso é fraqueza, que será taxado como
louco, e que você é assim, ou que não tem o que
fazer, que precisará de remédio. Tudo isso é mentira,
são conceitos ultrapassados. Se está sentindo isso,
não precisa brigar contra, fingir que nada está
acontecendo. Precisamos dar passos em direção à
melhora. E o primeiro passo é ter a informação, o
caminho a seguir. Isso é o mais importante.

Eu não gosto muito de falar de diagnóstico, porque


estatisticamente há uma falta de diagnóstico. A maioria
das pessoas não recebe tratamento. 90% dos casos de
ansiedade são possíveis de serem curados, de forma
natural, não medicamentosa, porém correta. E por que
muitas pessoas não conseguem isso?

Porque demoram para procurar tratamento, ou nem


procuram. Tem receio de receber o diagnóstico de que
não conseguirão sair de seus quadros, ouvir que ela é
fraca, louca, descontrolada. Tudo isso é besteira.

Então, se você está sentindo questões que estão te


atrapalhando, se você não consegue se controlar,
tem dificuldade para dormir, sinal de alerta, procure
informação e dê o primeiro passo.

Essa ação precisa vir antes da motivação,


porque o sintoma fará com que você
fique parado, virá um pensamento que
tudo é besteira e que isso não dará certo.
Precisamos agir para que a motivação venha.

A ação é o movimento mais importante para a


gente conseguir se livrar desse sofrimento e voltar
a ter prazer. A ação vem antes da motivação e da
sensação, foque em dar um passo na direção correta,
isso é muito mais importante que ficar preso em nomes
de diagnósticos e de doenças. Os nomes são péssimos
e só precisamos deles para saber como tirar a pessoa
disso. O mais importante é dar o passo na direção
correta.
5. Ao te acompanhar, sei que você
não é um médico que condena os
medicamentos. Porém apresenta
o TCC e o mindfulness como
estratégias que podem ser ainda
mais efetivas. No que consistem
e qual é o impacto delas para o
paciente?

De uma forma simples, existem algumas estratégias


naturais que funcionam de verdade e são tão ou mais
eficientes para tratar e manter a pessoa bem quando
está num quadro ansioso, depressivo e de insônia,
que são os três principais quadros que minam a
nossa imunidade e energia mental, para conquistar os
relacionamentos. Quais são eles:

Primeiro, uma terapia, mas uma terapia com começo,


meio e fim, uma terapia direta, prática, com passo a
passo, que é um treino muito prático para mudar a
sua vida, pensamentos, sensações e ações, chamada
terapia cognitivo comportamental.

Outro tratamento é o mindfulness, que não


tem a ver com nada espiritual, é científico,
é um treinamento muito prático. É para nós
treinarmos, prestarmos atenção no momento
presente e soltar as emoções e pensamentos
negativos. Pode ser treinamento através
de meditações muito curtas. Você pode
começar com 3 minutos por dia e aumentar
gradualmente. Não precisa cruzar as pernas,
de incenso. Você pode fazer no seu próprio
dia a dia.
Durante a alimentação, o que te faz comer menos
calorias, quando você está escovando o dente,
conversando. É treinar o músculo da concentração do
cérebro.

Juntos, a terapia cognitivo comportamental


e o mindfulness tem 95% de eficácia para
reduzir os sintomas de ansiedade intensa
e 98% de chances de, ao longo do tempo,
você nunca mais ter ansiedade. Não precisa
ser nada demorado ou muito intenso.
Quando você implementa essa dupla na sua
rotina, pode melhorar a sua ansiedade, a
depressão de forma natural e permanecer
bem, porque elas irão atacar a causa do
problema. Esses são os tratamentos que
melhora e previne, ou seja, que cura.

Mudança na alimentação também é importante.


Devemos priorizar alimentos antiinflamatórios.

Quarto, suplementos, quer sejam suplementos


minerais ou relacionados à parte alimentar, a ervas,
fitoterápicos e chás, que promovam uma química
saudável para o nosso corpo e nosso cérebro. E o
quinto, fazer com que nosso corpo se movimente, saia
da inércia, que é a questão da atividade física.

Todos esses componentes têm o poder de


tratar a massiva maioria dos quadros sem
o uso da medicação. E, se você já faz uso
da medicação, o que é importante saber: o
remédio alivia os sintomas físicos. Mas não
muda como seu cérebro pensa, e não te
ajuda a conquistar coisas que a ansiedade,
insônia, tiraram da sua vida.
Ou seja, ele melhora parcialmente, e isso é
fundamental para que as pessoas entendam. Pessoas
que utilizam remédios tarja preta, Frontal, Rivotril,
Diazepam ou os antidepressivos, fluoxetina, sertralina.
As pessoas que fazem uso tentam parar e o que
acontece, passam mal, entram em abstinência e o
quadro volta.

A pessoa começa a ter a ideia que nunca ficará bem


sem remédio, porque os remédios melhoram mais ou
menos, atacam algumas partes do problema, que são
as sensações físicas e não previne recaídas.

A boa notícia é que a gente consegue fazer


a reprogramação da nossa mente de forma
altamente eficaz, estruturada e passo a
passo. Os dois treinos não medicamentosos
que mais funcionam são:A TCC (terapia
cognitivo comportamental) e o mindfulness.

Então, se eu tomar um Rivotril ou Frontal


num momento de crise, vai fazer com que
ela alivie? Vai, porque anestesia, porém o
pensamento de ‘vou passar mal, não vou
conseguir, as pessoas vão olhar’, é que faz
a diferença, quantas pessoas deixam até de
viajar, deixam de ir a lugares diferentes, que
querem conhecer, por medo de avião?

A ansiedade engana seu cérebro. Faz você achar que


tudo é perigoso e que você não pode melhorar. Por
isso, precisamos mostrar a ele que nós conseguimos
mudar, sim. Que temos força para superar. Precisamos
mostrar ao cérebro que aquela ameaça é falsa. Mas,
se não mudarmos pensamentos e comportamentos,
continuaremos nessa prisão.

Atendo muitos pacientes, muitas mulheres de 40, 60


anos, que tomam Frontal ou Lexotan há 30 anos? Elas
aliviam a crise, mas não conseguem sair de casa.
Visitar os netos ou sair de casa. Porque o remédio vai
anestesiar aquele momento, mas não mudá-lo. Então,
a terapia cognitivo comportamental (TCC) é treinarmos
o nosso cérebro para mudarmos as sensações,
pensamentos e comportamentos, para que a gente
se liberte. Isso não demora muito tempo, geralmente
poucas semanas em comparação ao que a gente toma
de remédio.

Remédios são adjuvantes para casos muito específicos.


O ideal é você adotar as medidas como TCC e
mindfulness para remodelar a área da dor e aumentar
as áreas do prazer e concentração.

6. Agora falando um pouco sobre


hormônios e neurotransmissores.
Quando a gente olha para o
estilo de vida, gerenciamento de
emoções e até no campo de alguns
fitoterápicos, como eles podem
contribuir no despertar dessas
substâncias tão importantes?
A inflamação está por trás das nossas doenças no
geral e de praticamente de todos os quadros de
adoecimento mental também. Mas não é só isso. Há
a inflamação, a química e a conexão cerebral. Para a
gente entender o que é inflamação, imagine que estou
aqui conversando com você, bato o dedo na mesa e
faço um cortezinho. É uma inflamação.

Quando alguma coisa ataca o nosso corpo, o corpo


reage e gera uma inflamação, que basicamente é uma
combinação de muita química, substâncias, radicais
livres, para fazer com que aquilo seja diminuído. A
inflamação ‘apaga incêndio’. Como o nome já diz,
inflama. Ataca o inimigo que está invadindo o corpo e
faz com que ele seja tapado.

O problema é o nosso estilo dos últimos anos,


em termos de hábito, sono, alimentação,
que promove no corpo cerca de 17 vezes
mais inflamação do que propriedades
anti inflamatórias. Ou seja, o outro lado
da balança, o lado que vai aliviar a
inflamação, também precisa estar presente,
ou a inflamação começará a agredir as
áreas saudáveis do corpo. Isso acontece no
coração, nos vasos sanguíneos, nos nossos
neurônios.

Por isso, a inflamação vem sendo estudada como uma


das causas de várias doenças, tanto físicas, como
problemas cardíacos, diabetes, pressão alta, colesterol,
problemas relacionados a envelhecimento, problemas
de memória, como doenças mentais.

Por isso, é fundamental que a gente consiga


combater a inflamação, para tratar quadros que
estão ocorrendo. Então, temos tratamento tantos
medicamentosos quanto naturais que visam esse
objetivo. Uma das formas que fazemos isso é por meio
de mudanças alimentares, que, como falei, está muito
relacionado ao estilo de vida que levamos.

Açúcar refinado, por exemplo, é altamente


inflamatório, glicêmico. Temos um pico
de açúcar no sangue quando comemos
doces, farinha branca, carboidratos e
depois acontece uma queda. O cérebro vira
uma gangorra, alternando momentos de
aceleração e queda. E tudo isso faz com que
o sono e humor piorem.

Por outro lado, incluindo alimentos e suplementos que


constroem hormônios anti inflamatórios, a gente reduz
isso e combate os radicais livres, que são pequenas
munições que nosso corpo, que atacam as células
saudáveis.

Através da mudança na nossa alimentação,


prevenimos essa lesão. Um suplemento
que tem profundo efeito anti inflamatório
é o ômega-3, que constrói blocos anti
inflamatórios em todo corpo. Também
existem questões envolvendo probióticos,
chás e outros suplementos, mas a gente
mudar a alimentação, introduzir alimentos
anti inflamatórios, é um passo fundamental
para nos sentirmos melhor, ter a memória
preservada, mais energia, melhorar nosso
corpo, conquistar a saúde que todos nós
queremos.

Então, combater a inflamação protege nosso cérebro


e o faz funcionar de forma que ele consiga funcionar
melhor e por mais tempo.
7. Já te ouvi falar sobre a
importância de estimular a nossa
capacidade de diferenciar as
preocupações importantes das
desimportantes. Como seria esse
convite? Existe um método para
isso?

Precisamos aprender a sair, a desligar a ansiedade


tóxica, patológica e começar a agir conforme a
ansiedade saudável.E um tema que muito comum,
quando falamos da ansiedade, são as preocupações.
As frases que normalmente começam com um “E
se?”. “E se eu for demitido?”. “E se meu marido ficar
doente?”. “E se meu marido me trair?”. “E se meu filho
for sequestrado?”.

Um milhão de preocupações e a maioria


delas improdutivas. Essas preocupações nos
prendem, então eu tenho que parar de me
preocupar tanto e seguir. Devo parar de me
preocupar com tudo? Não, as preocupações
são importantes também, pois nos ajudam a
planejar a nossa vida, a resolver, a atacar os
problemas no futuro.

Preocupação é que nem a ansiedade, se tirarmos da


nossa vida, também tiramos coisas importantes. Se
você se importa com algo na sua vida, você vai se
preocupar. Mas que fique claro: preocupação útil é
aquela que resolve. Que te motiva a agir e resolver os
problemas. Preocupação que te paralisa, é inútil. Já diz
na etimologia da palavra. Não quer dizer que a gente
consiga deixar de pensar nelas, de fato vão surgindo
de forma automática.

Temos que diferenciar, a preocupação produtiva


da improdutiva. E ter um método para separá-las,
resolvê-las. Se você está se preocupando por mais
de 10 minutos com algo que não tem controle ou que
não há o que fazer, não achou uma solução, essa
preocupação está sendo inútil, você está queimando
pneu, acelerando o seu cérebro.

Por isso, é importante que se dê permissão para anotar


isso num papel, como se fosse um balão de gás hélio,
que você prende, não quer soltar e decide deixar ir
ao vento.Então, se é uma preocupação irreal, que
não está sob controle ou se passou 10 minutos e você
não conseguiu parar de pensar nisso, anota e deixe
para resolver depois, se dê essa permissão para soltá-
la. Essa é uma dica que pode já começar a fazer a
diferença em sua vida, obviamente que junto de outras
estratégias que fazem com que o cérebro mude e
consiga desligar a ansiedade tóxica.

É agir na direção correta e dar o primeiro


passo, para vencer a ansiedade e a
depressão mais rápido que a ação. A ação
vem antes da motivação e da sensação, ela é
o príncipio de tudo.

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