achava sobre a sobre o que era ser médico no início da carreira e o que considera ser médico na atualidade. Mudou a visão e a conduta?
Sou médico formado na Universidade de São Paulo,
fiz residência médica em psiquiatria no Hospital das Clínicas e eu atuo há mais de dez anos atendendo pacientes em consultório. Também faço um trabalho de divulgação do funcionamento da nossa mente, sobre saúde mental, nas redes sociais e principalmente no YouTube, no canal Saúde da Mente.
Por que eu escolhi fazer Psiquiatria? Psiquiatria é
uma área em que algumas pessoas torcem o nariz e é normal, eu também tinha isso. Essa escolha se deu quando eu estava no quarto ano da faculdade de Medicina, minha mãe adoeceu, foi diagnosticada com câncer, meu pai já era falecido e eu ainda muito jovem tive que administrar coisas importantes, sobre o tratamento da minha mãe, questões financeiras.
Nessa época, o meu avô que morava no Rio de
Janeiro veio para São Paulo cuidar da minha mãe e entrou num quadro depressivo. E quem já viu depressão na terceira idade, sabe que é diferente de uma simples tristeza.
Ele não conseguia se comunicar, ficou com o raciocínio
lento e nós fizemos de tudo, passamos por uma via crúcis com meu avô, ouvimos vários médicos e ninguém sabia o que ele tinha. Um médico levantou a possibilidade dele passar por um psiquiatra, eu o levei ao Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, falei que era aluno e o psiquiatra de plantão fez perguntas pontuais.
Meu avô respondeu contando coisas que ninguém
sabia que ele estava tendo. Fizemos o tratamento e o quadro do meu avô foi revertido.
Assistindo isso de perto, comecei a cogitar estudar
sobre, porque vi que as pessoas não tinham ideia do que era a depressão, que é um quadro físico, palpável, não é algo leve, somente psicológico ou emocional, é reversível.
Isso me motivou a estudar e mudar o conceito
sobre depressão, não simplesmente para levantar uma bandeira, mas se olharmos do jeito correto, se intervirmos do jeito certo, conseguimos aliviar o sofrimento da pessoa, fazer com que ele volte a fazer as coisas que gostava.
Meu avô adorava jogar cartas com os amigos, com
meu tio, filho dele. Ele era flamenguista e adorava futebol. Então, a ideia é que a gente recupere a vida, esse brilho no olho da pessoa.
Isso que me motivou a fazer e de fato, ao longo da
nossa formação a gente foi mudando. Eu tive uma formação muito sólida e tradicional em uma das universidades mais conhecidas do Brasil.
Até a década de 80, a gente não tinha muita ideia
sobre como funcionava essa parte mental das pessoas, as memórias, raciocínio, emoções. A psiquiatria andava muito junto com a filosofia, religião e era difícil a gente separar. Até que nos anos 80, descobriram as medicações e perceberam que havia uma coisa química que fazia a diferença.
Aí, migrou de algo que era filosófico e
espiritual para algo que era somente químico. Claro que tinha também um interesse financeiro em cima disso, no final da década de 80, começo de 1990, foi lançado o Prozac, depois o Zoloft. Foram remédios extremamente vendidos, houve muito lobby farmacêutico e a depressão, a ansiedade, todos esses quadros eram puramente uma alteração da serotonina, logo, você tinha que tomar um remédio que aumentava a serotonina para reverter, não tinha escapatória.
O modelo mudou, de espiritual foi para uma coisa
totalmente química, e aí vimos que nenhuma dessas vertentes estava correta, a medicina, a neurociência, está sempre evoluindo.
Aí, a gente tem também o aspecto social, os aspectos
psicológicos, que levaram à neurociência, para que a gente possa aprender como diferentes áreas do cérebro se conectam.
Nosso cérebro é como um carro, uma Ferrari,
muito potente e cada área tem a sua função, tem o acelerador, freio, a direção, a marcha, onde você vai colocar o óleo para lubrificar, aquecedor, resfriador, tudo isso tem que funcionar em sintonia. Nós acabamos com esses conceitos [antigos] e colocamos um novo, que é ativar áreas responsáveis pelo prazer, execução, propósito, pertencimento e proteger as área responsáveis pela dor, pelo alerta. Isso a gente consegue fazer de várias formas. E não somente com remédios.
Só aí já cai por terra a explicação da química, que só
com remédios você pode melhorar. Você pode fazer isso com mudanças alimentares, de hábitos, na forma como se relaciona com os outros, na forma como tem um padrão de pensamentos.
Hoje em dia, a gente tem um modelo muito bacana,
o modelo contínuo, que não é um modelo saúde e doença, que é um modelo ultrapassado e que vem com um peso, um preconceito, ninguém quer ser um doente mental. Hoje, a ideia que nós temos é ter uma escala, um contínuo.
Nós temos a saúde mental, que nada mais é que
a gente conseguir suportar os problemas, aguentar o tranco, continuar produzindo, trabalhando, me relacionando. Isso é ótimo, mas não traz felicidade.
Tem um outro patamar, que é o patamar que queremos
chegar, que é o bem-estar mental, a prosperidade, a satisfação com a vida. E que estou produzindo algo com propósito, que eu sinta que estou impactando o mundo. Que eu me sinto profundamente impactado com as coisas, com a natureza, com as outras pessoas. Que eu tenha a sensação que estou totalmente engajado naquilo que está ocorrendo, me sinta motivado. Isso é um polo. Em alguns momentos, por N fatores, a gente vai para a outra ponta, em que eu começo a sentir coisas, meu pensamento se altera, que eu começo a ter prejuízos com as minhas ações e isso me paralisa, me impede de ter relacionamentos ou conquistas.
O grande segredo é pegar essas pessoas que estão
no polo vermelho da paralisação e alterarmos, por meio de estratégias que sejam validadas, e muito além da medicação, para que a pessoa possa ter uma vida próspera, com realizações e conquistas, com um legado.
Essa é a visão que temos hoje da saúde mental, isso
que serviu para a minha transformação pessoal e que proponho para meus pacientes e alunos.
2. Você é uma médico que atua
em uma área da psiquiatria que muitas vezes precisa nadar contra a maré. Então minha pergunta: existe hoje uma cultura muito forte de que o apoio psiquiátrico para pessoas em sofrimento é exclusivamente medicamentoso. Quais são os danos de trabalhar somente com esse pilar? Existem fatores econômicos que influenciam na manutenção dessa forma de conduta?
De fato, existe ainda por profissionais, atendimento
de qualidade, tempo, pelo nosso sistema de saúde, formação de psiquiatras, médicos e psicólogos, e também por uma questão cultural, que colocam nos psicólogos um tipo de raciocínio que não é verdadeiro, além dos interesses econômicos, uma ideia que é a ideia da década de 80, que é o modelo estritamente químico do funcionamento do modelo mental.
As pessoas têm essa visão de que “ainda tem que
dar remédio”, mas é falta de conhecimento atual, que trabalha a saúde mental de uma forma atualizada e contemporânea.
Então, não é que a medicina tradicional fala pra
você dar remédio e a alternativa fala para não dar, a medicina é o estado da arte, da ciência, que diz que: o tratamento vai muito além da medicação, que para muitos casos, não é nem a primeira linha.
E isso não é um segredo, ou pelo menos nem deveria
ser, porque na prática, no dia a dia, a gente vê muito isso.
Muita gente me pergunta: “Marco, você é
a favor de remédios?”. “De suplementos, alimentos, atividade física?”. E eu digo: “Eu sou a favor daquilo que funciona, para ajudar a pessoa a aliviar o sofrimento, ter energia, concentração, para conquistar as realizações e os relacionamentos que são importantes pra ela”.
É basicamente aquilo que eu contei sobre o meu
avô, naquele momento, ele não conseguiu falar ou se relacionar. Quando eu vi ele perder o brilho do seu olhar, da alma, eu não estava preocupado com o tipo de tratamento que iam fazer, desde que trouxesse meu avô de volta e conseguissem fazer com que ele se mantivesse bem. Era isso que eu queria.
Então, com base nesse raciocínio e eu sei que isso
até vai contra o que muito se vê por aí, a medicação é reservada para quadros graves, crônicos, ou com componentes genético e biológicos muito intensos.
A maioria, e eu posso dizer isso sem o receio
de estar cometendo um pecado que viole a ciência, dos quadros silenciosos, leves, moderados, pede estratégias naturais, não medicamentosas, claro que as estratégias corretas, são tão ou mais eficientes que os remédios.
Gosto muito de usar como exemplo a ansiedade. A
ansiedade é o transtorno mental que na sua forma tóxica e patológica paralisa a nossa vida, faz com que a gente tenha crises nos momentos que não devemos ter, faz com que a gente faça coisas que desencadeiam a crise, mas a gente evita também o prazer.
A gente fica prisioneiro de ter que ficar sempre
apreensivo, esperando quando a próxima crise vai acontecer. A ansiedade tóxica, patológica, é muito comum no mundo e no Brasil é uma verdadeira epidemia. O Brasil já era, antes da pandemia, o país mais ansioso do mundo. Com a pandemia, esse número duplicou, quiçá triplicou. Estamos tendo uma avalanche de pessoas com uma ansiedade paralisante ao invés de uma ansiedade construtiva. Além da ansiedade ser muito comum e atingir uma quantidade de pessoas, se você não teve, você vai ter ou conhecer muito próximo que terá, o pilar do seu tratamento não é com remédio.
Porque já foi estudado e comprovado que
os remédios calmantes, aqueles de tarja preta que aliviam na hora, quem tomou já sabe, que não é que ele trata o circuito de ansiedade, mas deixa a pessoa paralisada, anestesiada. Ela não sente a coisa ruim, mas também não sente prazer. E esses remédios, que só tratam os sintomas, e não a causa, podem levar a prejuízos sérios a médio prazo.
Existem estudos muito enraizados que mostram que
esses remédios podem causar problemas de memória, concentração.
Alguns antidepressivos não causam dependência,
mas em alguns que possuem efeitos colaterais, como ausência de libido, náusea, tontura, dor de estômago, deixar a gente meio aéreo, com a concentração meio atrapalhada. A questão é, esses remédios se mostram, para ansiedade, muito menos eficazes que o método chamado Terapia Cognitivo Comportamental, que é um método cientificamente comprovado, para mudar as sensações e o comportamento da ansiedade, esse método se mostra três, quatro vezes mais eficaz para aliviar os sintomas que o remédio, para fazer com que a pessoa não tenha recaídas.
Ou seja, a cura para ansiedade, o tratamento padrão
hoje, não é com remédios. A insônia também não é tratada com remédios. Existe remédio que desliga o cérebro. Que faz você sedado, mas você não “dorme” de verdade, porque ele não promove o sono profundo, que é restaurador.
Os protocolos para tratamento de insônia, e isso no
mundo todo, é com terapia cognitivo comportamental para insônia. É um tratamento voltado para o pensamento, emoções, sensações, para que a gente possa recalibrar o cérebro e voltar a dormir bem.
A neurociência permite que a gente tenha
esse tratamento mais “natural”. Existem os suplementos também. Então, se a gente soma tudo isso, consegue tratar 80, 90% dos casos e não só melhorar o quadro, mas prevenir as recaídas, deixar a pessoa bem, sem a necessidade do uso de remédios.
Remédios são proibidos? Não é. Nós aprendemos isso,
eu estudo isso, eu sei o que é dar remédios. Mas o problema é a gente dar o remédio por, primeiro, não ter tempo para explicar o resto ao paciente.
Segundo, porque, mesmo que eu fale tudo isso pro
paciente, ele não tem o que fazer. Terceiro, porque não tem profissionais que possam orientá-lo a ter essas mudanças que não são complexas, mas precisam ser feitas da forma correta. Não existem esses profissionais no Brasil.
E quatro, por uma questão de velocidade no
atendimento. Quem aqui já foi atendido pelo SUS, por plano de saúde, sabe que é importante ter, mas quem já passou por psiquiatra por plano de saúde?
Eu sei disso porque já atendi nesse molde,
assim que me formei. Eram marcados 8 pacientes por hora para mim. Eu tinha 8, 7 minutos para falar com o paciente. E o que é mais rápido, você dar uma receita na hora pra ele, que vai aliviá-lo, mas deixá-lo dependente, ou explicar tudo isso? Claro que darão medicação.
Então, essa soma da falta de tempo, informação dos
profissionais, falta de profissionais que possam orientar essas mudanças, dão a falsa impressão que tratamos só com remédios. Não, remédios tinham que ser a exceção, é a terceira e quarta etapa do tratamento, quando a maioria das pessoas já terá melhorado da ansiedade.
Então, é para a gente mudar esse paradigma. Existe
tratamento, cura, e o tratamento é: tratar os sintomas, evitar que voltem e isso sim pode ser feito de forma muito eficaz, forma estudada e validada, de métodos científicos. O remédio é uma parte pequena e não fundamental para a maioria dos quadros.
3. Vamos falar um pouco da
conexão cérebro corpo. Qual é a relação que se dá entre um cérebro tão estafado e um corpo tão doente? A saúde (e a doença) de fato começam na mente? A psiquiatria erra ao fazer essa desassociação?
Como eu disse, até a década de 80 havia
essa separação entre mente e corpo. Muitos alunos me perguntam sobre a diferença de mente para cérebro. E a resposta é, não sei e não importa. Essa divisão era um conceito antigo. Era um conceito em que a gente colocava tudo numa mesma caixinha, o emocional, mental e espiritual, tudo aquilo que não fazíamos ideia de como funcionava.
A partir do momento que começamos a entender,
a partir da tecnologia e aparelhos inovadores como a ressonância, tomografia, Pet Scan, que nós conseguimos ver a estrutura e o funcionamento da química do cérebro, a ativação, a conexão, começamos a perceber que essa diferença fomos nós que inventamos.
É importante a gente separar as coisas, para poder
estudar. Conforme o conhecimento médico evolui, porque é impossível um médico estar extremamente atualizado em todas as áreas da Medicina. Se ele falar que está, está iludindo ou mentindo, porque a cada cinco anos o conhecimento médico muda. A cada cinco anos, o médico precisa se ‘reciclar’.
Claro que não tem como eu estar atualizado nas
últimas tendências da cardiologia, da endocrinologia. Mas o médico precisa ter consciência sobre a área que vai atuar e onde entra o momento dele pedir ajuda, para fazer a melhor força tarefa para ajudar essa pessoa. Então, é importante que estejamos acompanhado de pessoas que ofereçam as ferramentas corretas, que saibam muito bem as áreas delas, e a hora de chamar outra pessoa competente.
Resumindo: a diferença entre mente e corpo
não existe. Assim como não existe diferença entre osso e músculo para o nosso corpo. Muita gente costuma perguntar: é verdade, então, que se você melhorar o intestino ou a questão imunológica, vai melhorar a depressão? Sim e o contrário também é verdade, porque o corpo está conectado. Está totalmente ligado.
Existem 3 causas biológicas que estão totalmente
conectadas. Depressão, ansiedade, cada quadro terá um desses componentes de maneira mais forte.
1) Todo caso está relacionado a um processo
inflamatório importante. A informação é boa para reparar o nosso tecido do corpo quando existe lesão. Mas, se a gente entra num processo inflamatório muito crônico, isso vai minando, lesando, as áreas saudáveis.
2) Outra questão são as alterações químicas, que vão
muito além das alterações na serotonina. Glutamato, dopamina, a noradrenalina, no GABA.
3) E tem alterações nas conexões, na comunicação de
áreas diferentes do cérebro.
Então, informação química e conexão estão na base
de todos os quadros. Cada caso terá uma especificidade única, e nós temos que alterar isso, usando as estratégias mais eficazes. Por exemplo, questões alimentares, sabemos que para quadros depressivos mais leves, a gente pode fazer uma mudança na dieta, colocar uma dieta anti inflamatória, que é estudada, promove uma melhora de depressão, por exemplo, para pacientes que tomaram a sertralina.
A atividade física também é muito importante.
Você pode fazer uma caminhada durante 30 minutos três vezes por semana, por doze semanas, você consegue em quadros depressivos leves ter a mesma melhora no humor, do que se estivesse tomando Zoloft, que é ministrado em casos depressivos.
Você também poderá observar uma mudança intestinal.
A depressão altera a parte imunológica e a flora intestinal, então, melhorando a depressão, também melhoramos o intestino.
Temos que ter em mente que essa separação está
errada, ultrapassada. Não importa se é da nutrologia, da psiquiatria, da endocrinologia. Os profissionais precisam unir as suas competências e promover o melhor para a pessoa, que são os pilares responsáveis pela nossa felicidade.
O engajamento, os relacionamentos, a concentração,
a produtividade e a sensação de que ela pertence a algo maior. Nós queremos isso, apenas cada profissional precisa se ajustar, para aproximar a pessoa do objetivo dela. 4. Temos alguns pesquisadores que abordam bastante os riscos de dependência física e emocional dos medicamentos indicados para transtornos de humor, além da projeção de efeitos colaterais. Como olha para essa situação e que tipos de caminhos propõe?
Muita gente me pergunta: será que a psiquiatria não
dá muito diagnóstico? “Eu não quero ir ao psiquiatra, porque eu não sou louco”. “Se eu for ao psiquiatra, sairei com um diagnóstico que não tinha antes, e com remédios”.
Essa visão não tem a ver com diagnósticos ou
sofrimento. Porque, se a gente sente, o sofrimento existe. E, se a gente sente, queremos melhorar, não importa o nome que se dê para isso.O que existe não são excessos de diagnósticos e sim, profissionais que não sabem diagnosticar, com conhecimentos especializados.
E como funciona esse processo de melhora, de cura,
de tratamento? Na psiquiatria, o diagnóstico é feito de forma bastante objetiva. Acontece que muitos profissionais possuem um conhecimento ultrapassado, a medicina a cada ano muda como um todo, então você tem que se manter atualizado nessa área.
Um profissional que não entende muito da área,
acaba intervindo numa área de outra natureza. Estamos falando num conjunto, de pensamentos, ações e descrições que a pessoa está tendo. Precisamos ter um conjunto de sensações, tempo e prejuízo. Ou seja, o que essa pessoa está sentindo por um tempo determinado está atrapalhando essa pessoa de trabalhar, de produzir. De se relacionar e aproveitar a vida.
Então, quando a gente tem um conjunto de situações
que estão atrapalhando a pessoa de seguir a vida dela, a gente diz que é um diagnóstico é simples assim. Não precisa ter a ver com questões da infância, com questões relacionadas a traumas do passado ou outras descrições. Basicamente, são esses componentes que são importantes depois.
Por exemplo: “se eu tiver esse diagnóstico, eu sou
louco, isso tem a ver com nossa personalidade”, “Isso vai passar, e eu não necessariamente vou precisar de remédio para o resto da vida.” Esse é o problema. Para a gente ter o diagnóstico, precisamos saber qual inimigo atacar.
Quando meu avô adoeceu, eu comecei a ter crise de
pânico, que são crises de medo, um medo intenso, uma reação natural do corpo, quando ele sabe e percebe que algo pode destruí-lo. É a mesma reação que a gente tem quando vem um ônibus, um assaltante, um ônibus. Vem uma descarga muito intensa para a gente poder reagir. Só que, no pânico, isso vem quando não há essa ameaça, é um alarme falso.
E isso vem com uma sensação de morte
desesperadora. Eu vivia preocupado com a possibilidade de ter outra crise. Eu não conseguia prestar atenção no que as pessoas falavam para mim, tinha receio de ter uma crise, as pessoas virem rapidamente e me acharem louco. Eu não conseguia dormir, vivia cansado, com os músculos tensos, eu vivia com os ombros doloridos. Se a gente for ver, isso é um diagnóstico.
A questão é, isso é para ser olhado, para ser
tratado de forma eficaz. Como comentei, a maioria melhora bem e passa pelo quadro sem necessidade de medicação. Então, o que eu posso dizer é: se você está sofrendo, você tem o direito de estar sofrendo, e se esse sofrimento está te impedindo de realizar suas coisas, se isso está sendo uma barreira, opa, é um sinal de alerta, e é importante que você pesquisa, pegue as informações a respeito, e veja que existe uma saída.
Às vezes, quando estamos nesse quadro, nossa
mente nos engana. Por exemplo, na depressão existe uma sensação física de falta de prazer e falta de esperança. Ou seja, existe uma ideia que isso nunca vai passar. Você pode estar sentindo algo há mais de duas semanas e com essa sensação ruim, mas saiba que existe uma esperança. É importante que você se cerque de informações e profissionais que te guiem por um caminho, para essa parte de saúde e bem-estar mental.
Então, se você está sentindo isso, não compre a
ideia que isso é fraqueza, que será taxado como louco, e que você é assim, ou que não tem o que fazer, que precisará de remédio. Tudo isso é mentira, são conceitos ultrapassados. Se está sentindo isso, não precisa brigar contra, fingir que nada está acontecendo. Precisamos dar passos em direção à melhora. E o primeiro passo é ter a informação, o caminho a seguir. Isso é o mais importante.
Eu não gosto muito de falar de diagnóstico, porque
estatisticamente há uma falta de diagnóstico. A maioria das pessoas não recebe tratamento. 90% dos casos de ansiedade são possíveis de serem curados, de forma natural, não medicamentosa, porém correta. E por que muitas pessoas não conseguem isso?
Porque demoram para procurar tratamento, ou nem
procuram. Tem receio de receber o diagnóstico de que não conseguirão sair de seus quadros, ouvir que ela é fraca, louca, descontrolada. Tudo isso é besteira.
Então, se você está sentindo questões que estão te
atrapalhando, se você não consegue se controlar, tem dificuldade para dormir, sinal de alerta, procure informação e dê o primeiro passo.
Essa ação precisa vir antes da motivação,
porque o sintoma fará com que você fique parado, virá um pensamento que tudo é besteira e que isso não dará certo. Precisamos agir para que a motivação venha.
A ação é o movimento mais importante para a
gente conseguir se livrar desse sofrimento e voltar a ter prazer. A ação vem antes da motivação e da sensação, foque em dar um passo na direção correta, isso é muito mais importante que ficar preso em nomes de diagnósticos e de doenças. Os nomes são péssimos e só precisamos deles para saber como tirar a pessoa disso. O mais importante é dar o passo na direção correta. 5. Ao te acompanhar, sei que você não é um médico que condena os medicamentos. Porém apresenta o TCC e o mindfulness como estratégias que podem ser ainda mais efetivas. No que consistem e qual é o impacto delas para o paciente?
De uma forma simples, existem algumas estratégias
naturais que funcionam de verdade e são tão ou mais eficientes para tratar e manter a pessoa bem quando está num quadro ansioso, depressivo e de insônia, que são os três principais quadros que minam a nossa imunidade e energia mental, para conquistar os relacionamentos. Quais são eles:
Primeiro, uma terapia, mas uma terapia com começo,
meio e fim, uma terapia direta, prática, com passo a passo, que é um treino muito prático para mudar a sua vida, pensamentos, sensações e ações, chamada terapia cognitivo comportamental.
Outro tratamento é o mindfulness, que não
tem a ver com nada espiritual, é científico, é um treinamento muito prático. É para nós treinarmos, prestarmos atenção no momento presente e soltar as emoções e pensamentos negativos. Pode ser treinamento através de meditações muito curtas. Você pode começar com 3 minutos por dia e aumentar gradualmente. Não precisa cruzar as pernas, de incenso. Você pode fazer no seu próprio dia a dia. Durante a alimentação, o que te faz comer menos calorias, quando você está escovando o dente, conversando. É treinar o músculo da concentração do cérebro.
Juntos, a terapia cognitivo comportamental
e o mindfulness tem 95% de eficácia para reduzir os sintomas de ansiedade intensa e 98% de chances de, ao longo do tempo, você nunca mais ter ansiedade. Não precisa ser nada demorado ou muito intenso. Quando você implementa essa dupla na sua rotina, pode melhorar a sua ansiedade, a depressão de forma natural e permanecer bem, porque elas irão atacar a causa do problema. Esses são os tratamentos que melhora e previne, ou seja, que cura.
Mudança na alimentação também é importante.
Devemos priorizar alimentos antiinflamatórios.
Quarto, suplementos, quer sejam suplementos
minerais ou relacionados à parte alimentar, a ervas, fitoterápicos e chás, que promovam uma química saudável para o nosso corpo e nosso cérebro. E o quinto, fazer com que nosso corpo se movimente, saia da inércia, que é a questão da atividade física.
Todos esses componentes têm o poder de
tratar a massiva maioria dos quadros sem o uso da medicação. E, se você já faz uso da medicação, o que é importante saber: o remédio alivia os sintomas físicos. Mas não muda como seu cérebro pensa, e não te ajuda a conquistar coisas que a ansiedade, insônia, tiraram da sua vida. Ou seja, ele melhora parcialmente, e isso é fundamental para que as pessoas entendam. Pessoas que utilizam remédios tarja preta, Frontal, Rivotril, Diazepam ou os antidepressivos, fluoxetina, sertralina. As pessoas que fazem uso tentam parar e o que acontece, passam mal, entram em abstinência e o quadro volta.
A pessoa começa a ter a ideia que nunca ficará bem
sem remédio, porque os remédios melhoram mais ou menos, atacam algumas partes do problema, que são as sensações físicas e não previne recaídas.
A boa notícia é que a gente consegue fazer
a reprogramação da nossa mente de forma altamente eficaz, estruturada e passo a passo. Os dois treinos não medicamentosos que mais funcionam são:A TCC (terapia cognitivo comportamental) e o mindfulness.
Então, se eu tomar um Rivotril ou Frontal
num momento de crise, vai fazer com que ela alivie? Vai, porque anestesia, porém o pensamento de ‘vou passar mal, não vou conseguir, as pessoas vão olhar’, é que faz a diferença, quantas pessoas deixam até de viajar, deixam de ir a lugares diferentes, que querem conhecer, por medo de avião?
A ansiedade engana seu cérebro. Faz você achar que
tudo é perigoso e que você não pode melhorar. Por isso, precisamos mostrar a ele que nós conseguimos mudar, sim. Que temos força para superar. Precisamos mostrar ao cérebro que aquela ameaça é falsa. Mas, se não mudarmos pensamentos e comportamentos, continuaremos nessa prisão.
Atendo muitos pacientes, muitas mulheres de 40, 60
anos, que tomam Frontal ou Lexotan há 30 anos? Elas aliviam a crise, mas não conseguem sair de casa. Visitar os netos ou sair de casa. Porque o remédio vai anestesiar aquele momento, mas não mudá-lo. Então, a terapia cognitivo comportamental (TCC) é treinarmos o nosso cérebro para mudarmos as sensações, pensamentos e comportamentos, para que a gente se liberte. Isso não demora muito tempo, geralmente poucas semanas em comparação ao que a gente toma de remédio.
Remédios são adjuvantes para casos muito específicos.
O ideal é você adotar as medidas como TCC e mindfulness para remodelar a área da dor e aumentar as áreas do prazer e concentração.
6. Agora falando um pouco sobre
hormônios e neurotransmissores. Quando a gente olha para o estilo de vida, gerenciamento de emoções e até no campo de alguns fitoterápicos, como eles podem contribuir no despertar dessas substâncias tão importantes? A inflamação está por trás das nossas doenças no geral e de praticamente de todos os quadros de adoecimento mental também. Mas não é só isso. Há a inflamação, a química e a conexão cerebral. Para a gente entender o que é inflamação, imagine que estou aqui conversando com você, bato o dedo na mesa e faço um cortezinho. É uma inflamação.
Quando alguma coisa ataca o nosso corpo, o corpo
reage e gera uma inflamação, que basicamente é uma combinação de muita química, substâncias, radicais livres, para fazer com que aquilo seja diminuído. A inflamação ‘apaga incêndio’. Como o nome já diz, inflama. Ataca o inimigo que está invadindo o corpo e faz com que ele seja tapado.
O problema é o nosso estilo dos últimos anos,
em termos de hábito, sono, alimentação, que promove no corpo cerca de 17 vezes mais inflamação do que propriedades anti inflamatórias. Ou seja, o outro lado da balança, o lado que vai aliviar a inflamação, também precisa estar presente, ou a inflamação começará a agredir as áreas saudáveis do corpo. Isso acontece no coração, nos vasos sanguíneos, nos nossos neurônios.
Por isso, a inflamação vem sendo estudada como uma
das causas de várias doenças, tanto físicas, como problemas cardíacos, diabetes, pressão alta, colesterol, problemas relacionados a envelhecimento, problemas de memória, como doenças mentais.
Por isso, é fundamental que a gente consiga
combater a inflamação, para tratar quadros que estão ocorrendo. Então, temos tratamento tantos medicamentosos quanto naturais que visam esse objetivo. Uma das formas que fazemos isso é por meio de mudanças alimentares, que, como falei, está muito relacionado ao estilo de vida que levamos.
Açúcar refinado, por exemplo, é altamente
inflamatório, glicêmico. Temos um pico de açúcar no sangue quando comemos doces, farinha branca, carboidratos e depois acontece uma queda. O cérebro vira uma gangorra, alternando momentos de aceleração e queda. E tudo isso faz com que o sono e humor piorem.
Por outro lado, incluindo alimentos e suplementos que
constroem hormônios anti inflamatórios, a gente reduz isso e combate os radicais livres, que são pequenas munições que nosso corpo, que atacam as células saudáveis.
Através da mudança na nossa alimentação,
prevenimos essa lesão. Um suplemento que tem profundo efeito anti inflamatório é o ômega-3, que constrói blocos anti inflamatórios em todo corpo. Também existem questões envolvendo probióticos, chás e outros suplementos, mas a gente mudar a alimentação, introduzir alimentos anti inflamatórios, é um passo fundamental para nos sentirmos melhor, ter a memória preservada, mais energia, melhorar nosso corpo, conquistar a saúde que todos nós queremos.
Então, combater a inflamação protege nosso cérebro
e o faz funcionar de forma que ele consiga funcionar melhor e por mais tempo. 7. Já te ouvi falar sobre a importância de estimular a nossa capacidade de diferenciar as preocupações importantes das desimportantes. Como seria esse convite? Existe um método para isso?
Precisamos aprender a sair, a desligar a ansiedade
tóxica, patológica e começar a agir conforme a ansiedade saudável.E um tema que muito comum, quando falamos da ansiedade, são as preocupações. As frases que normalmente começam com um “E se?”. “E se eu for demitido?”. “E se meu marido ficar doente?”. “E se meu marido me trair?”. “E se meu filho for sequestrado?”.
Um milhão de preocupações e a maioria
delas improdutivas. Essas preocupações nos prendem, então eu tenho que parar de me preocupar tanto e seguir. Devo parar de me preocupar com tudo? Não, as preocupações são importantes também, pois nos ajudam a planejar a nossa vida, a resolver, a atacar os problemas no futuro.
Preocupação é que nem a ansiedade, se tirarmos da
nossa vida, também tiramos coisas importantes. Se você se importa com algo na sua vida, você vai se preocupar. Mas que fique claro: preocupação útil é aquela que resolve. Que te motiva a agir e resolver os problemas. Preocupação que te paralisa, é inútil. Já diz na etimologia da palavra. Não quer dizer que a gente consiga deixar de pensar nelas, de fato vão surgindo de forma automática.
Temos que diferenciar, a preocupação produtiva
da improdutiva. E ter um método para separá-las, resolvê-las. Se você está se preocupando por mais de 10 minutos com algo que não tem controle ou que não há o que fazer, não achou uma solução, essa preocupação está sendo inútil, você está queimando pneu, acelerando o seu cérebro.
Por isso, é importante que se dê permissão para anotar
isso num papel, como se fosse um balão de gás hélio, que você prende, não quer soltar e decide deixar ir ao vento.Então, se é uma preocupação irreal, que não está sob controle ou se passou 10 minutos e você não conseguiu parar de pensar nisso, anota e deixe para resolver depois, se dê essa permissão para soltá- la. Essa é uma dica que pode já começar a fazer a diferença em sua vida, obviamente que junto de outras estratégias que fazem com que o cérebro mude e consiga desligar a ansiedade tóxica.
É agir na direção correta e dar o primeiro
passo, para vencer a ansiedade e a depressão mais rápido que a ação. A ação vem antes da motivação e da sensação, ela é o príncipio de tudo.
Cure Seu Corpo Cure Sua Mente: Terapias Holísticas, Dieta, Mindfulness, Ansiedade, Depressão, Perda De Peso, Acne, Hormônios, Detox Do Fígado, Intestino Permeável E Fadiga Adrenal
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