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Professores em (re)construção: conferindo significado ao ato de ensinar

Por Thamiris Dornelas.

“Educar é impregnar de sentido o que fazemos a cada instante.”

Paulo Freire

Minha reflexão de hoje é sobre esse tal sentido, que a todo o tempo tentamos impregnar
nas nossas ações. Que sentido é esse? Faz sentido para quem? Por muitas vezes nos perdemos
no real significado dessas expressões, reproduzindo meros discursos, que na prática nem se
concretizam.

“Professora, eu acho que a sopa da experiência de Pasteur não contaminou porque estava
fechada”, disse um aluno há alguns meses. Depois de explicar tantas vezes como a experiência
foi feita, eu ainda não tinha deixado o evento claro ao meu aluno. Talvez por que ele não
estivesse prestando atenção, talvez por eu não ter sido clara o suficiente. Mas o fato é que
este aluno demandava por algo que ainda não tinha construído: significado. Parei por um
instante e percebi que aquele momento demandava a minha atenção.

Expliquei brevemente aos alunos o conceito de átomo e substância. Pedi que eles
imaginassem bolinhas bem pequenas, que se agrupavam em várias combinações, formando
tudo o que considerávamos matéria. Isso incluía o ar. Pedi que eles me dissessem o que o ar
tinha.

Vários termos surgiram, sem nenhum sentido aparente. Discutimos sobre o papel de cada
uma dessas substâncias no ar, e por fim, falamos sobre seu tamanho. Afinal, qual o tamanho
de uma substância? Ela é tão pequena assim? Daria para vermos ao microscópio?

Em seguida, falamos sobre as bactérias que poderiam contaminar a sopa. Elas são feitas de
células, certo? E células possuem muitas substâncias diferentes. Então o que deve ser maior:
uma bactéria ou uma substância do ar? Neste momento, os alunos, em especial aquele que
tinha começado toda essa divagação, concluiu que bactérias eram bem maiores, apesar de
ainda serem muito pequenas. Pedi que eles medissem 1mm nas suas réguas e que que
imaginasse esse espaço dividido em 1000, 10000, 100000 vezes. As noções de escala foram se
construindo.
Logo, na conclusão do aluno, as bactérias, que eram pesadas, acabavam agarrando nas
paredes tortas de um tubo, mas o ar é muito pequeno, logo ele passava livremente. Por esse
motivo a sopa não estragava, mesmo com o frasco aberto por uma pequena abertura. De
modo semelhante, o aluno imaginou outros sistemas de esterilização que se baseassem em
tamanhos de microrganismos. Discorremos sobre controle de qualidade dos alimentos e várias
outras questões.

Em geral, nos vemos constantemente minar nossa prática pedagógica em função do quanto
de conteúdo devemos entregar, se estamos atrasados com a sequência, se o aluno recebeu os
conceitos corretos. Mas será que temos nos perguntado se ele efetivamente se apropriou
desses conceitos? Será que ao corrigimos sua prova nós levamos em consideração apenas a
resposta esperada para uma questão ou valorizamos como o aluno chegou até aquele
conhecimento, mesmo que conceitualmente, nas palavras, ele seja parcialmente correto?

A experiência de descobrir é transformadora. Precisamos nos permitir mais, a descobrir e


deixarmos descobrir. Pode demorar um pouco mais, mas se for necessário lance mão de todos
os seus artifícios. Pegue bolas, desenhos, cola e papel, fale alto, mexa o corpo, o que estiver ao
seu alcance e disposição. Mas se há algo para ser descoberto, marque positivamente a vida do
seu aluno.

Há conceitos que só você irá ensinar a ele, e ele nunca deverá se esquecer disso.
Transforme e transforme-se!

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