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UNIP - UNIVERSIDADE PAULISTA

Instituto de Ciências Humanas


Curso de Psicologia

ELAINE DONÁ FERREIRA RA: B006CG-0


GISLAINE CRISTINA JULIO RA: A7319G-0
LAURA REGINA SOARES SILVÉRIO RA: T992CF-4
SILVANA JAQUELINE DA SILVA RA: B1667G-0

IMAGEM CORPORAL: ALGUMAS COMPREENSÕES PSICOLÓGICAS SOBRE A


CIRURGIA ESTÉTICA E O DISMORFISMO

SOROCABA
2015
UNIP - UNIVERSIDADE PAULISTA
Instituto de Ciências Humanas
Curso de Psicologia

ELAINE DONÁ FERREIRA RA: B006CG-0


GISLAINE CRISTINA JULIO RA: A7319G-0
LAURA REGINA SOARES SILVÉRIO RA: T992CF-4
SILVANA JAQUELINE DA SILVA RA: B1667G-0

IMAGEM CORPORAL: ALGUMAS COMPREENSÕES PSICOLÓGICAS ENTRE A


CIRURGIA ESTÉTICA E O DISMORFISMO

Trabalho de Conclusão de curso apresentado


para o curso de Psicologia da Universidade
Paulista – UNIP, campos Sorocaba, para
obtenção de título de Psicólogo, sob a
orientação da professora doutora Cybele
Carolina Moretto.

SOROCABA
2015
AGRADECIMENTOS

Primeiramente, o nosso agradecimento a Deus, que nos deu o dom da vida, o maior
mestre, que uma pessoa pode conhecer e reconhecer.
Aos nossos pais, que nos ensinaram a retidão do caminho. À nossa família que nos
momentos de ausência dedicados ao estudo, sempre fizeram entender que o futuro, é feito a
partir da constante dedicação no presente.
Aos colegas de classe, que fortaleceram os laços da igualdade, em um ambiente
fraterno e respeitoso.
Nossos agradecimentos e gratidão a todos que colaboraram para a concretização deste
trabalho, aos professores, aos profissionais entrevistados, que permitiram compartilhar
conosco suas experiências, e em especial à nossa orientadora Professora Dra. Cybele Carolina
Moretto, agradecemos a paciência e a dedicação.
“Nós somos responsáveis pelo outro, estando
atento a isto ou não, desejando ou não, torcendo
positivamente ou indo contra, pela simples razão
de que, em nosso mundo globalizado, tudo o que
fazemos (ou deixamos de fazer) tem impacto na
vida de todo mundo e tudo o que as pessoas
fazem (ou se privam de fazer) acaba afetando
nossas vidas”.

(Zygmunt Bauman)
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO............................................................................................................................7

1.1. Apresentação..........................................................................................................................7

1.2. Imagem Corporal: principais conceitos..................................................................................8

1.3. Dismorfismo: conceito socialmente construído......................................................................9

1.4. A relação entre cirurgia estética e o TDC.............................................................................10

1.5. Objetivo Geral......................................................................................................................11

1.6. Objetivos Específicos...........................................................................................................11

1.7. Hipóteses..............................................................................................................................12

1.8. Justificativa...........................................................................................................................12

2. MÉTODOS..................................................................................................................................13

2.1. Participantes.........................................................................................................................13

2.2. Instrumentos.........................................................................................................................13

2.3. Aparatos...............................................................................................................................13

2.4. Procedimentos de Coleta......................................................................................................14

2.5. Procedimentos de Análise.....................................................................................................14

2.6. Ressalvas Éticas....................................................................................................................15

3. RESULTADOS...........................................................................................................................16

3.1. Uma visão geral global do TDC...........................................................................................16

3.2. História de vida: uma leitura biopsicossocial do sujeito e o TDC.........................................17

3.3. O estado psicológico: da expectativa à satisfação.................................................................18

3.4. A prática profissional: um cuidado integral..........................................................................19

4. DISCUSSÃO...............................................................................................................................21

4.1. Visão Global do Transtorno Dismórfico Corporal................................................................21

4.2. História de vida: uma leitura biopsicossocial do sujeito e o TDC.........................................25

4.3. O Estado Psicológico: da expectativa à satisfação................................................................28

4.4. A prática profissional: um cuidado integral..........................................................................32

5. CONCLUSÕES...........................................................................................................................37
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................................................40

ANEXO I: MODELOS DE ENTREVISTAS SEMIESTRUTURADA..........................................45

ANEXO II: CRONOGRAMA...........................................................................................................46

ANEXO III: MODELO DE TERMO DE CONSENTIMENTO.....................................................47


RESUMO

Imagem corporal: algumas compreensões psicológicas sobre a cirurgia estética e o


dismorfismo. FERREIRA, E. D.; JULIO, G. C.; SILVA, S. J.; SILVÉRIO, L. R. S.;
MORETTO, C. C. (orientadora). Curso de Psicologia, Instituto de Ciências Humanas, UNIP -
Universidade Paulista. Campus Sorocaba, 2015.

O presente trabalho de pesquisa apresenta uma análise e reflexão a respeito da relação entre o
Transtorno Dismórfico Corporal (TDC) e as cirurgias de caráter estético. O objetivo é
investigar como se dá o desenvolvimento da imagem corporal distorcida que se manifesta no
TDC e, mais especificamente, compreender como se dá a prática dos profissionais que atuam
com pacientes com TDC, bem como de que forma é feito o resgate da qualidade de vida
desses indivíduos e discutir as dificuldades encontradas pelos profissionais da área.
Participaram do estudo dois psicólogos, dois cirurgiões plásticos e dois dermatologistas, todos
da rede privada de saúde, que trabalham em atividades relacionadas à estética corporal nos
municípios de Sorocaba e região. Utilizamos o método qualitativo, através de entrevistas
semiestruturadas e pesquisas bibliográficas. Para os entrevistados, o componente social é de
extrema importância no desenvolvimento do TDC e o seu diagnóstico ainda se mostra
incomum, assim como os encaminhamentos para outros profissionais. Concluímos ser
necessário maior conhecimento por parte dos cirurgiões, dermatologistas e psicólogos acerca
do transtorno, da identificação do mesmo e também da definição de práticas que sejam
capazes de minimizar o sofrimento dessa população. Sendo assim compreendemos o papel do
psicólogo como sendo essencial.

Palavras chave: imagem corporal; dismorfismo; sociedade; psicologia.

 
1. INTRODUÇÃO

1.1. Apresentação

O tema escolhido pelo grupo compreendeu o estudo do Transtorno Dismórfico


Corporal (TDC) e sua relação com as cirurgias de caráter puramente estético. Devido a grande
procura da população pela imagem corporal ideal, a sociedade vive alienada ao consumo
exagerado sem se atentar aos malefícios que podem decorrer de intervenções inadequadas
prejudicando sua corporeidade e sua subjetividade.

O corpo, na cultura ocidental, foi por muitos séculos rechaçado, temido e


desvalorizado; hoje, diferentemente, é supervalorizado e tornou-se um bem precioso.
Por este motivo, é cuidado e modelado, pois a ele são atribuídos os sucessos e as
virtudes do indivíduo contemporâneo. Na busca de um corpo ideal, muitos procuram
cirurgias estéticas como solução de insatisfações e melhoria da autoestima. (LEAL,
V. C. L. V. et al, 2010, p. 77).
A mídia tem vinculado a questão da saúde com exercícios físicos e a boa
forma, impactando a subjetividade do ser humano de tal forma, que aquele que não
apresenta tal imagem corporal satisfatória seja considerado doente ou preguiçoso,
estigmatizando aquele indivíduo ou grupo social. Desta forma, a busca em apresentar
um corpo saudável e esteticamente perfeito tem levado uma parcela da população a
recorrer às cirurgias plásticas, que muitas vezes não os deixam satisfeitos com o
resultado, fazendo com que recorram a outras intervenções, o que pode levar o
indivíduo ao adoecimento psíquico.
Para que pudéssemos compreender melhor o fenômeno da distorção da
imagem do próprio corpo, conhecido como dismorfia corporal, foi necessário analisar
a relação do homem com seu corpo desde seus primórdios até os dias de hoje, ou seja,
a questão histórica e social deste tema. Segundo Corbett, Campana e Tavares (2013, p.
309), “a Imagem Corporal é influenciada pelo meio social, de forma que o olhar do
outro e a cultura em que o sujeito se insere, influenciam na formação de sua identidade
corporal”.
Baseada em uma visão sócio-histórica dos indivíduos, o homem, nesta
pesquisa:
[...] é visto como um ser inerentemente social e, como tal, sempre ligado às
condições sociais. Homem que, além de produto da evolução biológica das espécies,
é também produto histórico, mutável, pertencente a uma determinada sociedade, em
uma determinada etapa de sua evolução. (AGUIAR, 2000, p.126).

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Ainda, segundo Aguiar (2000, p. 126-127), “trata-se, neste caso, de adotar uma
visão de indivíduo concreto, mediado pelo social, determinado histórica e socialmente,
que não pode, jamais, ser compreendido independentemente de suas relações e
vínculos”.
Esta pesquisa teve como objetivo conhecer como o indivíduo, inclusive, os
profissionais da área da saúde física e mental, tem lidado com pessoas que apresentam
este tipo de problema. Objetiva, também, conhecer como é construída a noção de
corporeidade, ou seja, se é algo individual, pessoal ou socialmente construído. Para
tanto, foram realizadas entrevistas com profissionais da saúde e da estética como:
cirurgiões estéticos, esteticistas e psicólogos da rede particular, visto que as cirurgias
estéticas não são realizadas pelo Sistema Único de Saúde – SUS. Os profissionais que
contribuíram para essa pesquisa foram escolhidos de acordo com a disponibilidade e
proximidade da Região de Sorocaba.

1.2. Imagem Corporal: principais conceitos

De acordo com Tavares et al. (2013), desde o início do século XX, a imagem
corporal é alvo de pesquisas que tinham como foco principal investigar os efeitos que
as lesões acarretavam na percepção de um indivíduo sobre seu próprio corpo.
A imagem corporal está ligada aos significados que temos do nosso corpo,
ligada à nossa identidade, assim como nossas relações com o mundo e a interação de
processos conscientes e inconscientes.

O termo imagem corporal refere-se à representação mental da identidade corporal


do indivíduo. É um fenômeno complexo, multidimensional e dinâmico, que engloba
aspectos fisiológicos, psicológicos e sociais inerentes a toda e qualquer experiência
corporal vivenciada pelo indivíduo (SCHILDER, 1999 apud RIBEIRO, 2012, p.
379).

A imagem corporal é contínua e representativa do esquema corporal que


acompanha o indivíduo desde o seu nascimento até a morte. Para a construção dessa
imagem, é preciso que conheçamos as partes do corpo e as relações entre elas, bem
como as funções de cada uma. A imagem que temos de nós é totalmente influenciada
pelo meio em que cada indivíduo está inserido, assim como as situações que
vivenciamos no decorrer de nossa vida. (RIBEIRO, 2012)

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Tavares et al. (2013, p. 510) definem a imagem corporal como “a
representação mental do corpo existencial. É dinâmica, mas com um cerne mais
estável, que legitima a existência singular e original do ser humano no mundo”.
Atualmente a sociedade vigia a exibição da imagem corporal. Com efeito, na
contemporaneidade o corpo é totalmente influenciado pela mídia. O narcisismo é a
expressão da cultura em que o corpo é o refletor da mesma, pois as pessoas acreditam
que para se atingir a perfeição da beleza é preciso fazer com que o corpo se torne esse
espetáculo exigido pela sociedade. As relações sociais são estabelecidas através das
imagens, o que podemos chamar de sociedade do espetáculo, na qual as relações são
mediadas pelas imagens corporais.
O padrão atual de beleza física ocidental, proposto pela publicidade e pela mídia, é o
da figura longilínea, tipo físico das modelos Claudia Schiffer, Cindy Crawford e
Naomi Campbell, ou o das estrelas de cinema como Sharon Stone, Julia Roberts ou
Demi Moore (...) (ANZAI, 2000, p.73 apud FREITAS, 2010, p. 390). Tal afirmação
é feliz ao mencionar a influência da mídia como contribuinte importante na
definição do referido padrão e sugerir a magreza peculiar das modelos de atrizes
como tal. (FREITAS, 2010, p. 390).

Devido à preocupação exagerada da pessoa com a sua imagem, de acordo com tudo
que lhe é exigido, a imagem corporal passa a ser uma parte externa do sujeito, que está na
exteriorização de seu interior psíquico. O corpo-imagem é o que o outro vê, ou seja, o outro
(sociedade) é o espelho. Vemos um exemplo desse aspecto quando Wolf (1992) citado por
FREITAS (2010) relata que “as revistas femininas foram responsáveis pela democratização da
beleza, especialmente quando começaram a publicar anúncios na virada do século XIX para o
XX”. (WOLF, 1992 apud FREITAS, 2010, p. 394).

1.3. Dismorfismo: conceito socialmente construído

Até o século XIX, ter corpos volumosos ou obesos como são conhecidos na
atualidade, era algo normal entre os nobres e poderosos que tinham uma vida
totalmente livre de qualquer esforço físico, sendo que nessa época “a gordura foi
sinônimo de saúde, beleza e sedução” (ANDRADE, 2003, p.126 apud FREITAS,
2010, p. 393). Somente no início do século XIX, começaram as mudanças de padrão
de beleza, quando a sociedade foi “fechando os olhos para a obesidade e mirando em
direção à magreza” (FREITAS, 2010, p. 393).
De acordo com o DSM IV de 1995:

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[...] a característica essencial do transtorno dismórfico corporal (historicamente
conhecido como dismorfofobia) é uma preocupação com um defeito na aparência. O
defeito ou é imaginário ou, quando presente, a preocupação do indivíduo é
excessiva, causando sofrimento significativo ou prejuízo nas atividades cotidianas.
(DSM IV, 1995 apud SOUSA&ARAÚJO, 2005, p. 61).

Para Tavares et al. (2013) uma insatisfação contínua com o próprio corpo pode gerar
uma preocupação exagerada e, consequentemente, o estabelecimento de uma imagem
corporal negativa. Quando essa imagem corporal se torna negativa, há a possibilidade de
surgimento de distúrbios de imagem que prejudicam a vida social, profissional e pessoal do
indivíduo (Thompson, 1999 apud Tavares et al., 2013). Uma vez que essa condição pode
causar ao indivíduo uma sensação de que as outras pessoas estão observando seus defeitos, o
que muitas vezes não ocorre de fato. Pode ocorrer também, de o indivíduo evitar situações
em que seu corpo seja exibido, manifestando as características comportamentais do distúrbio.
(TAVARES et al., 2013)
Evidenciando os aspectos cognitivos dos distúrbios de imagem corporal,
podemos citar a “crença de alcançar uma expectativa irreal em relação à certa
característica da aparência” (TAVARES et al, 2013 p. 510). Quanto aos aspectos
afetivos, pode-se apontar sintomas como ansiedade, preocupação excessiva com a
aparência e estresse. (TAVARES et al., 2013).

1.4. A relação entre cirurgia estética e o TDC

Berer (2011) afirma que os números de cirurgias realizadas no Brasil em 2010


foram semelhantes aos observados na Inglaterra que, segundo pesquisas indicaram que
o Brasil apresenta a maior taxa de cirurgia do mundo depois dos EUA, onde
aproximadamente 15% das cirurgias registradas em 2009 foram feitas em adolescentes
menores de 18 anos. (Lathan, 2010 apud Berer, 2011 p. 9).
Segundo o relatório divulgado pela International Society of Aesthetic Plastic
Surgery (ISAPS) sobre cirurgia plástica no mundo, no ano de 2013:
Ao todo foram 23 milhões de cirurgias plásticas no ano passado. O Brasil ocupa
posição de destaque no levantamento: o país foi o que mais realizou procedimentos
cirúrgicos, ficando à frente dos EUA com 1.491.721 do total (SOCIEDADE
BRASILEIRA DE CIRURGIA PLÁSTICA, 2014).
De acordo com Ferreira (2009), os sonhos do corpo perfeito estão sendo
“fabricados” e vendidos, possibilitando que as pessoas tenham suas fantasias
adquiridas no mercado. No entanto, muitos pacientes com a intenção de transformar
seus sonhos em realidade, acreditam na imagem distorcida das cirurgias que a
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publicidade e revistas especializadas apresentam, banalizando procedimentos
cirúrgicos, minimizando os riscos, prometendo melhorias nem sempre possíveis, como
se o corpo fosse um objeto.
Lathan (2010 apud Berer, 2011) aponta que ainda que as leis regulamentadoras
da assistência à saúde tenham crescido durante as últimas décadas e discorram
parcialmente sobre a cirurgia, a autorregulamentação dos procedimentos ainda é feita
pelos próprios profissionais da área.
A cirurgia não decorre de indicação médica, as pessoas recorrem a ela para
corrigir imperfeições ou melhorar sua imagem corporal, com o objetivo de tentar
aumentar o afeto dirigido a ela e a aprovação alheia, que trará benefícios a sua
autoestima. Edmonds (2011) afirma que:
O objetivo da cirurgia plástica é harmonizar o corpo com o espírito, emoção com
razão, visando estabelecer um equilíbrio interno que permitirá ao paciente
reencontrar e reestruturar a si mesmo [sic] de modo que ele sinta a si mesmo em
harmonia com sua própria imagem e o universo que o cerca. (Pitanguy, 1985 apud
Edmonds, 2011 p. 470 [tradução nossa])
De acordo com Berer,
A chamada “cultura de modificação corporal” vem se popularizando e difundindo
em muitas sociedades e hoje essas mudanças incluem, numa lista crescente de
procedimentos cirúrgicos, quase todas as partes do corpo, especialmente as partes
mais íntimas (BERER, 2011, p. 9).
Um fato que deve ser considerado em relação à cirurgia plástica e o TDC, é
que as cirurgias se tornam procedimentos recorrentes, isto é, o paciente ficará
satisfeito por um breve período de tempo e logo voltará a vivenciar o processo de
enxergar defeitos naquela parte específica do seu corpo. Também pode ocorrer de o
paciente se voltar para outra área do corpo, com isso precisará recorrer a outros
procedimentos estéticos ou cirúrgicos para que consiga viver minimamente bem, mas
essa satisfação, também será temporária. Indivíduos com TDC vivem uma eterna
agonia, uma constante busca por uma perfeição ilusória.

1.5. Objetivo Geral

Investigar como se dá o desenvolvimento dessa imagem distorcida que muitos


indivíduos têm sobre seu corpo.

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1.6. Objetivos Específicos

Compreender como se dá a prática dos profissionais que atuam com pacientes


com suspeitas de TDC; bem como verificar como é feito o "resgate" social e da
promoção da qualidade de vida desses indivíduos, assim como discutir as dificuldades
das práticas dos profissionais dessa área.

1.7. Hipóteses

Com essa pesquisa, pretendemos descobrir se indivíduos que possuem TDC


são facilmente identificados nas filas de cirurgias estéticas e, se quando identificado
pelo cirurgião estético, este os encaminha para um psiquiatra, psicólogo ou se a
cirurgia é realizada independente da suspeita de TDC; e, também, como é possível
desconstruir individualmente um transtorno construído por toda uma sociedade.

1.8. Justificativa

O TDC possui uma visibilidade escassa no Brasil, principalmente no que tange


às cirurgias plásticas de caráter puramente estético como apontam Sante e Pasian
(2011). Sendo assim, faz-se necessária uma maior gama de pesquisas empíricas em
torno dessa área, de maneira que sejam levantadas novas questões a respeito desse
transtorno que acomete muitos indivíduos, os quais buscam procedimentos cirúrgicos
recorrentes.
Do ponto de vista social, entender o TDC como uma construção da sociedade,
bem como a maneira como se dá seu entendimento e seu acompanhamento, é o
primeiro passo para que a sociedade repense seus valores.
Esta pesquisa buscou evidenciar a importância do conhecimento, do
reconhecimento e do encaminhamento dos indivíduos com TDC por parte dos
cirurgiões estéticos.

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2. MÉTODOS

Esta pesquisa é qualitativa e visou ampliar o campo de conhecimento a respeito


do TDC, através de entrevistas semiestruturadas e pesquisas bibliográficas, ao passo
que as informações colhidas permitiram uma maior compreensão do fenômeno.
(TURATO, 2005).
A pesquisa qualitativa “(...) busca a representação de um evento singular, de
uma realidade temporalmente limitada, visando compreender o fenômeno em sua
factualidade”. (BARBIERI, 2010, p. 506).
O método utilizado foi o fenomenológico, em razão de o problema da pesquisa
ser visto como algo construído a partir das relações sociais e culturais de cada
indivíduo. Este método, segundo Barbieri (2010), permite que o fenômeno seja
observado a partir do ponto de vista do outro.

2.1. Participantes

Foram entrevistados dois psicólogos, dois cirurgiões plásticos e dois


dermatologistas que trabalham em atividades relacionadas com a estética corporal, no
município de Sorocaba e região. Como o atendimento cirúrgico de caráter estético não
é realizado pelo SUS, com exceção de casos de cirurgia plástica reparadora, foram
procurados profissionais da rede privada de saúde.

2.2. Instrumentos

As entrevistas tiveram como objetivo principal a construção de informações


pertinentes acerca do tema a ser abordado na pesquisa (MINAYO, 1993).
Para a realização desta pesquisa, foram utilizadas entrevistas semiestruturadas
(ANEXO I) que foram aplicadas nos profissionais que participaram da pesquisa. Essa
forma de entrevista “combina perguntas fechadas e abertas, em que o entrevistado tem

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a possibilidade de discorrer sobre o tema em questão sem se prender à indagação
formulada” (MINAYO, 1993, p. 64).

2.3. Aparatos

Foram utilizados celulares com aplicativos de gravação de voz, computadores


para a transcrição das pesquisas e impressora para viabilizar o emprego das entrevistas
semiestruturadas.
2.4. Procedimentos de Coleta

De acordo com o cronograma (ANEXO II de nossa pesquisa) foram realizadas


revisões bibliográficas acerca do tema, assim como a realização das entrevistas
semiestruturadas com profissionais escolhidos de acordo com a disponibilidade da
região de Sorocaba. Estes profissionais foram contatados via telefone e email pelos
pesquisadores, com o objetivo de agendar o encontro para a realização da entrevista na
presença de um ou dois dos pesquisadores envolvidos.
Nos encontros, os pesquisadores fizeram a leitura do Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE), (Anexo III). Após a aceitação dos termos e assinatura do
instrumento, os profissionais foram orientados a responder às questões que lhes eram
indagadas da forma que mais lhes aprouvesse, sem limite de tempo.

2.5. Procedimentos de Análise

Por se tratar de uma pesquisa qualitativa, todas as entrevistas realizadas foram


gravadas pelos pesquisadores, para que, posteriormente, fossem transcritas e anexadas
à pesquisa, a fim garantir a fidedignidade das informações nelas coletadas.
Para a análise dos dados foi utilizado o método de análise de conteúdo que
“refere-se ao estudo tanto dos conteúdos nas figuras de linguagem, reticências,
entrelinhas, quanto dos manifestos” (Rodrigues & Leopardi, 1999 apud Campos,
2004, p. 612).
Dessa forma, este método procura voltar-se para o significado das palavras em
si e para a interpretação de seu sentido, ou seja, para a hermenêutica.
A análise de conteúdo como conjunto de técnicas se vale da comunicação como
ponto de partida. Diferente de outras técnicas como a estocagem ou indexação de
informações, crítica literária, é sempre feita a partir da mensagem e tem por
finalidade a produção de inferências. (Campos, 2004, p. 613)

14
O procedimento de análise dos dados coletados através da análise de conteúdo
se deu em fases: pré-exploração e leitura flutuante do material; seleção das unidades
para análise; categorização dos dados (Campos, 2004).
O objetivo aqui foi alcançar as finalidades apontadas por Minayo para essa
etapa que são: “estabelecer uma compreensão dos dados coletados, confirmar ou não
os pressupostos da pesquisa e/ou responder às questões formuladas, e ampliar o
conhecimento sobre o assunto pesquisado, articulando-o ao contexto cultural da qual
faz parte” (MINAYO, 2000, p. 69).

2.6. Ressalvas Éticas

Conhecendo a importância do sigilo no exercício profissional e com base no


Artigo 9º do Código de Ética Profissional do Psicólogo que diz: “é dever do psicólogo
respeitar o sigilo profissional a fim de proteger, por meio da confidencialidade, a
intimidade das pessoas, grupos ou organizações, a que tenha acesso no exercício
profissional.” (CFP, 2005, p. 13).
Para a realização desta pesquisa foi respeitada a vontade dos profissionais de
contribuir ou não com a pesquisa e também seus valores morais, culturais, políticos e
sociais; não foram utilizados nomes ou qualquer tipo de dados pessoais dos
participantes que pudessem ser adquiridos durante a pesquisa; devidos cuidados foram
tomados para que as transcrições das entrevistas fossem realizadas na íntegra, sem a
adição ou omissão de termos ou pontos de vista.
Foram disponibilizados TCLEs para todos os profissionais convidados a
participar desta pesquisa, a fim de que os mesmos fossem lidos em sua totalidade
pelos pesquisadores, facultando aos profissionais aceitarem ou não participar da
pesquisa em questão.

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3. RESULTADOS

No percurso do trabalho de campo foram entrevistados dois cirurgiões


plásticos, duas dermatologistas e duas psicólogas da área da Saúde.
Foram utilizadas as siglas abaixo para a identificação dos profissionais:
CP1, 28 anos de atuação – Cirurgião Plástico 1;
CP2, 14 anos de atuação – Cirurgião Plástico 2;
D1, 17 anos de atuação – Dermatologista 1;
D2, 18 anos de atuação – Dermatologista 2;
P1, 5 anos de atuação – Psicóloga da Saúde 1;
P2, 4 anos de atuação – Psicóloga da saúde 2.
As entrevistas foram agendadas com antecedência e, de acordo com as
ressalvas éticas, os Termos de Consentimentos foram entregues antes do início do
procedimento. Todos os profissionais autorizaram a gravação das entrevistas e, ao
final, todas as falas foram transcritas na íntegra, o que possibilitou uma análise
criteriosa dos dados e a divisão dos mesmos em quatro categorias.
3.1. Uma visão geral global do TDC

Essa categoria foi criada à medida que, em todas as entrevistas realizadas, os


profissionais versaram sobre a conceituação, as causas e o diagnóstico do Transtorno
Dismórfico Corporal.
A imagem corporal de um indivíduo é constituída a partir de uma série de
fatores: ambientais, sociais, biológicos, psicológicos; se constrói e se modifica a partir
da rede de relações sociais na qual ele se insere.
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O Transtorno Dismórfico Corporal (TDC) afeta a imagem que o indivíduo
institui de si mesmo, assimilando seu corpo de maneira distorcida e disfuncional, não
condizente com a imagem real apresentada, seja por um distanciamento ou uma
negação, tanto de suas formas, quanto de sua constituição enquanto sujeito subjetivo.
Alguns dos profissionais entrevistados relataram ter pouco contato prático com
o TDC, porém demonstraram ter conhecimento teórico a respeito do tema. É frequente
sua associação com algumas condições tais como ansiedade e depressão.
As possíveis causas apontadas para o desencadeamento do Transtorno
Dismórfico Corporal englobam distúrbios psicológicos, aspectos da infância do sujeito
na relação mãe-bebê, a impossibilidade psíquica de acesso ao próprio corpo, o
contexto social e cultural no qual o indivíduo se insere e a perversidade midiática
proposta como uma exposição exagerada de padronização da beleza feminina e do
culto ao corpo perfeito.
A forma como os profissionais da medicina identificaram a distorção da
imagem corporal de seus pacientes difere um pouco da maneira como os profissionais
da psicologia o fazem: para ambos a análise do discurso do paciente se configura
como um instrumento subjetivo essencial, porém apenas os psicólogos podem fazer
uso de testes psicológicos que os auxiliem no diagnóstico. A testagem psicológica é
utilizada com o intuito de confirmar ou confrontar o discurso proferido pelo paciente.

3.2. História de vida: uma leitura biopsicossocial do sujeito e o TDC

Tendo em vista os dados obtidos através das entrevistas, foi possível perceber
que a história de vida dos pacientes é um fator determinante para que possamos pensar
em como o Transtorno Dismórfico Corporal se instaura, visto que essa questão se fez
presente no discurso de todos os profissionais.
Somos seres inseridos num contexto social e a construção de nossa
subjetividade acontece através da relação com o outro. Essa relação tem início no
ambiente familiar, em como somos percebidos e em como se dá a nossa percepção
através desse olhar. Junto a isso, precisamos levar em consideração as questões
culturais que permeiam nosso existir. A construção social vai acontecendo e vamos
adquirindo e assimilando valores, conceitos e costumes.

17
O que acontece é que nesse meio existe um modo padronizado de existir, onde
há uma culinária específica, um modo de agir e se comportar, uma vestimenta que
corresponde àquele grupo e, com isso, esses padrões vão sendo assimilados.
No decorrer da história, um dos padrões assimilados foi o corporal que passou,
e ainda passa, por transformações, sobre o qual podemos dizer que vem sendo
estabelecido como referencial de beleza. Hoje, com o avanço da tecnologia, tudo se
tornou mais acessível e percebemos que as pessoas vivem em torno do imediatismo.
Essa facilidade em trocar informações e a alta exposição de padrões de beleza
impostos pela mídia, levam muitas pessoas a buscar esse ideal imaginário para se
sentirem pertencentes e se destacarem como as figuras com as quais se espelham.
Ocorre que tudo tem um limite aceitável e percebemos que a busca desse referencial
acaba se tornando um gerador de sofrimento, pois a pessoa começa a desenvolver um
comportamento disfuncional, uma busca constante por algo muitas vezes inatingível.
Somado a isso, devemos levar em consideração que o ser humano é um ser
biopsicossocial, portanto, alguns conseguem lidar com tais questões com mais
facilidade que outros. Cada indivíduo tem o seu grau de valorização da vida, suas
expectativas, seus sonhos a conquistar. Nesse percurso, o modo de existir corresponde
àquilo que o indivíduo pode fazer naquele momento e a pessoa com do Transtorno
Dismórfico Corporal parece estar presa em si mesma e não tem a capacidade de
perceber que projeta em sua autoimagem corporal possíveis vivências, das quais, ainda
não conseguiu abstrair o sentido real e se fixa num ponto específico, num automatismo
que a protege de olhar para a sua dor. Entretanto esse processo gera um sofrimento
constante, pois ela nunca alcança o ideal imaginado.
3.3. O estado psicológico: da expectativa à satisfação

Pacientes que procuram por algum tipo de procedimento cirúrgico, trazem


consigo um grau de expectativa, que muitas vezes está associado à uma imagem que
ele próprio criou ou ainda decorrente de outros fatores, como a mídia e o meio social
no qual ele está inserido. Deve-se, portanto, observar qual o objetivo que o levou a
procurar por esse procedimento, para verificar se ele se encaixa com uma vontade
própria, devido a uma insatisfação com alguma parte de seu corpo que não lhe agrada
ou se essa insatisfação está relacionada apenas com as influências sofridas ou ainda,
quando não há uma anormalidade visível, e o mesmo insiste em ver. Deve-se
18
considerar ainda que cada indivíduo tem um perfil condizente com sua “estrutura”, se
o mesmo deseja alterar essa imagem “drasticamente” é um grande indício de que o seu
estado psicológico está afetado, e através desse procedimento ele deseja preencher um
vazio que há dentro de si.
Existem vários perfis de pacientes que procuram pela cirurgia estética, por
isso, o fator psicológico deve ser observado com muita cautela. A expectativa do
paciente é de extrema importância, pois através dela é possível verificar o que ele
espera com aquele determinado procedimento cirúrgico. O indivíduo cria uma imagem
com a certeza de que através dos procedimentos, seus problemas serão resolvidos.
Existindo problemas psicológicos, os problemas serão solucionados apenas por curto
prazo, posto que, posteriormente o paciente voltará em busca de satisfazer aquele
mesmo desejo, ou mesmo, encontrará novos problemas inexistentes. Observa-se que
nesses casos a falha encontra-se na pessoa e não no procedimento em si.
A satisfação com o resultado obtido é decorrente daquilo que o indivíduo
espera, existindo um bom preparo emocional do indivíduo, o mesmo deve estabelecer
uma relação de confiança com o profissional. Os procedimentos cirúrgicos ajudarão o
paciente a obter uma melhora esteticamente na sociedade, porém de nada adianta se o
lado psicológico não estiver saudável, uma vez que ele nunca encontrará a satisfação e
sua autorrealização.
3.4. A prática profissional: um cuidado integral

Quando um paciente procura um profissional da estética, ele tem seus desejos


de mudança e quer, a todo custo, que este profissional o ajude em sua batalha com seu
próprio corpo.
Os profissionais entrevistados relataram que conversam com seus pacientes
quando estes chegam aos seus consultórios, justamente com a finalidade de conhecê-
los e entender quais os motivos que o levaram a procurá-lo. Durante esta entrevista
muita coisa pode ser revelada, inclusive se esta pessoa está emocionalmente abalada, o
que pode ser indício de que qualquer procedimento que seja realizado possa vir a
causar problemas posteriores.
Durante essa conversa inicial, procura-se observar então se a queixa trazida de
fato é pertinente ou se a pessoa está exagerando. Confirmado o exagero, o profissional
procura colocar este paciente em confronto com a realidade, tentando resgatar o amor
19
próprio e o olhar para si mesmo. Quando este já realizou diversos procedimentos
estéticos ou cirúrgicos, o profissional que o acolhe acaba por ficar apreensivo, pois se
nada do que fizeram até agora o deixou satisfeito, quem pode garantir que o que ele
fizer resultará na satisfação do paciente. Eis o alerta para um possível transtorno, e
esse fato implica na necessidade de uma conversa muito delicada para que esta pessoa
perceba sua necessidade de apoio psicológico.
Quando se trata de procedimentos que avaliam o estado psicológico do
paciente, os profissionais estéticos entrevistados afirmaram que não realizam tal
procedimento antes da avaliação, ou seja, que a conversa realizada inicialmente é uma
forma de triagem. Relatam que procuram encaminhar o paciente quando identificam
esta necessidade, porém buscam fazê-lo de forma tranquila, sugestiva, pois se
simplesmente apontarem aos pacientes a existência de algum transtorno, estes
poderiam não compreender.
Os profissionais que não realizam qualquer procedimento que chegam até sua
mesa, correm o risco de perder pacientes, porém os entrevistados não se mostram
preocupados com essa perda, demonstram que se preocupam muito mais com a saúde
e a vida dessas pessoas do que com o lucro que será obtido com a realização do
trabalho fora do padrão indicado.

20
4. DISCUSSÃO

4.1. Visão Global do Transtorno Dismórfico Corporal

A constituição da imagem corporal de um sujeito, de acordo com a bibliografia


pesquisada, se dá a partir da soma de fatores psicológicos, fisiológicos e sociais que
permeiam sua existência. De acordo com Veras (2010), a imagem corporal de um
indivíduo é modelada pelo dinamismo das interações dele em relação às pessoas com
as quais se relaciona, dos seus aspectos fisiológicos e psicológicos e também pelo
contexto social no qual está inserido.
De maneira semelhante, Schilder adotou uma concepção da imagem corporal
que abrange os aspectos fisiológicos, psicológicos e socioculturais, compreendendo-a
como um processo multifatorial, em constante movimento e de caráter complexo.
(Ribeiro & Tavares, 2012)
O indivíduo que possui o Transtorno Dismórfico Corporal (TDC) tem uma
visão distorcida e disfuncional de sua imagem corporal, geradora de um grande
sofrimento psíquico. De acordo com o Manual DSM IV, é característica do transtorno
uma preocupação exacerbada com defeitos corporais ínfimos ou inexistentes que
acometem o indivíduo de tal maneira que lhe causa prejuízos no exercício funcional de

21
seu papel social e em outros aspectos importantes de sua vida. (Sadock & Sadock,
2007 apud Brandão, 2011)
Nas entrevistas realizadas, a maioria dos profissionais conceituaram o TDC
dessa forma.

“[...]a pessoa tem uma visão errônea do que ela é. Eu não estou muito por dentro
dessa área, porque não estou estudando isso, mas que eu saiba é uma visão
distorcida da imagem corporal dela”. (D2, 17 anos de atuação)

“O Transtorno Dismórfico Corporal, que alguns chamam também de Dismorfofobia


é uma pessoa que, ao se olhar no espelho, ao ver as suas próprias impressões, são
diferentes do que aquilo que realmente está apresentada a ela. O maior exemplo de
Transtorno Dismórfico Corporal que se tem na mídia hoje é o cantor Michael
Jackson, esse era o absoluto, que era um rapaz que tinha tudo na vida, absolutamente
todas as possibilidades de ser e sempre foi o maior de todos, mas a relação dele com
o espelho sempre foi uma relação de uma autoimagem totalmente modificada. Então
na verdade o Transtorno Dismórfico Corporal é uma distorção da sua autoimagem”.
(CP2, 14 anos de atuação)
“É um transtorno de disfunção de imagem corporal, distorção de imagem corporal
quando a pessoa se vê com o corpo completamente diferente do que ela possui né”.
(P1, 5 anos de atuação)
Dentre os fatores que podem ser responsáveis por causar a dismorfofobia,
partimos do pressuposto de que a constante cobrança da sociedade a respeito da
adequação dos indivíduos a um padrão de beleza que ela mesma institui como ideal,
somada à necessidade de pertencimento dos indivíduos, pode desencadear uma
preocupação exagerada com sua imagem corporal que, por sua vez, possibilita o
surgimento de um quadro clínico de dismorfia.
Dalgalarrondo (2008) afirma que no Transtorno Dismórfico Corporal ocorrem
ideias para as quais os indivíduos atribuem valores excessivos, caracterizadas por
carregarem grande conteúdo afetivo, sofrimento ou disfunção para o sujeito,
sustentada por meio de fortes convicções e por induzir o sujeito a agir. Este mesmo
autor classifica a dismorfofobia como sendo uma síndrome relacionada ao contexto
cultural no qual o indivíduo se insere.
A preferência por determinados tipos físicos varia conforme o estabelecido
pela sociedade. A padronização da mulher magra e jovem e do homem musculoso da
contemporaneidade, vista como o ideal de beleza, faz com que muitas pessoas vejam a
necessidade de se adequar aos padrões socialmente aceitos. A própria mídia é a
responsável pela veiculação não só desses padrões, como também do culto ao belo.

22
“[...] eu acho que depende de valores culturais, eu acho que depende muito da mídia,
tem uma mídia perversa aí cobrando acima de tudo essa questão da estética e que as
pessoas hoje em dia eu vejo que elas fazem qualquer coisa a qualquer preço por uma
imagem. O principal motivo disso eu acho que é a história de vida da pessoa,
questões culturais e a mídia que contribui muito para isso”. (P2, 04 anos de atuação)
“Então isso é a própria mídia que vem causando na busca de uma perfeição que você
não vai atingir nunca, porque nunca parte só da satisfação do resultado, está na
cabeça e às vezes não no próprio corpo”. (CP1, 28 anos de atuação)

Veríssimo et al. (2012) apontam para a crescente evolução e diversificação das


tecnologias cirúrgicas e dermatológicas voltadas para o “aperfeiçoamento” estético.
De acordo com esse autor essas técnicas são capazes de corrigir uma gama tão ampla
de irregularidades, que se tornam apelativas e indispensáveis ao imaginário de muitos
indivíduos.
De acordo com Dalgalarrondo (2008), essa distorção da percepção do corpo no
TDC é geradora de vergonha e de grandes desconfortos para o sujeito acometido, que
passa a enxergar defeitos inexistentes ou mínimos que passam despercebidos, como
exageradamente grandes, desproporcionais ou mesmo deformados, recorrendo
frequentemente “a cirurgiões plásticos e dermatologistas para que estes os operem (e,
às vezes, conseguem), reduzindo, por meio de repetidas cirurgias, o tamanho do nariz,
das orelhas, etc.” (Dalgalarrondo, 2008, p. 252).
“[...] a paciente sempre acha que ela tem um defeito, quando você resolve aquele
defeito ela acha outro, porque nunca está perfeito [...]quem tem o transtorno nunca
está perfeito, ela sempre vai achar alguma coisa que não está legal”. (D1, 18 anos de
atuação)
“A dismorfofobia mesmo é aquela pessoa que enxerga o que não existe, aquela que
enxerga um defeito tão grande e que você não consegue enxergar”. (CP1, 28 anos de
atuação)
Os profissionais entrevistados realizam o diagnóstico da dismorfofobia através
da análise do discurso de seus pacientes e, no caso das psicólogas, também através da
testagem psicológica.
“[...] há uma distorção muitas vezes no discurso, mas a gente observa muito no
discurso do paciente né, que acontece nos atendimentos individuais e o teste
psicológico vem só para concluir esse discurso. Muitas vezes o paciente trás de uma
forma meio apagada esse discurso e o teste, ele vem como uma ferramenta que
acaba nos contribuindo aí para ter uma amplitude do diagnóstico”. (P1, 05 anos de
atuação)
Veríssimo et al. (2012) apontam para a importância da identificação precoce
do TDC para que as cirurgias estéticas desnecessárias e ineficazes não sejam
realizadas, visto que o problema está centrado na imagem corporal que o indivíduo
tem de si e não propriamente em seu corpo físico. Outro aspecto que corrobora para a
23
ineficácia dos procedimentos estéticos invasivos é a constante insatisfação com os
resultados obtidos e a busca contínua por resultados inalcançáveis.
De acordo com o DSMV IV, existem três critérios que são imprescindíveis
para o reconhecimento do Transtorno Dismórfico Corporal:

“(a) preocupação com um imaginado defeito na aparência. Se uma ligeira anomalia


física está presente, a preocupação do indivíduo é acentuadamente excessiva; (b) a
preocupação causa sofrimento clinicamente significativo e prejuízo no
funcionamento social, ocupacional e em outros campos importantes de sua vida; (c)
a preocupação não é melhor explicada por outros transtornos como a anorexia”.
(American Psychiatric Association, 1994)

Os cirurgiões plásticos entrevistados corroboram com os critérios adotados


pelo DSMV IV para identificação do TDC, como se mostra nas transcrições abaixo:
“[...] você tem três situações: você enxerga o erro, você enxerga alguma coisa que
você está insatisfeito com o resultado da cirurgia e a paciente está contente, a
orientação que a gente tem é pra ficar quieto; se você e a paciente enxergam um
erro, eu acho que você tem que procurar corrigir através de um retoque, hoje a coisa
mais comum em cirurgia plástica, isso é uma padronização, você tem, às vezes, que
fazer um retoque da cirurgia, você faz uma lipoaspiração espera alguns meses e você
faz um “retoquinho”, dá uma arrumada; agora quando só a paciente enxerga, aí você
tem que analisar se você deve intervir ou não ou se ela está procurando alguma
coisa”. (CP1, 28 anos de atuação)
“[...] veio uma paciente aqui há algum tempo, uns dois ou três meses, foi fazer uma
plástica em Curitiba, uma lipoaspiração com prótese de mama, colocaram ela de
barriga para baixo para fazer a lipoaspiração e a menina teve uma parada cardíaca,
reanimaram, ela ficou lá na UTI dois dias e saiu e foi tudo bem, e tal, e daí uma tia
dela falou não, vai para Sorocaba, procura o meu cirurgião tal, ela veio aqui comigo
e aí não tinha dois meses que ela tinha tido uma parada cardíaca, eu falei para ela,
olha eu acho que você não deveria fazer lipoaspiração de novo, na lipoaspiração
você vai ter que ser virada de novo [...]faça só a mama e poupe seus pais desse
estresse, daqui um tempo você faz de novo e ela virou para mim e falou assim eu só
vou operar se for os dois, porque eu prefiro morrer do que ficar com essa barriga.
Quando a paciente falou isso eu falei então você veste a sua roupa e vamos
conversar, obviamente eu dispensei a paciente e expliquei: você não está preparada
emocionalmente para isso”. (CP2, 14 anos de atuação)
Quanto ao tratamento dispensado aos indivíduos com TDC, as bibliografias
pesquisadas versam sobre a aliança entre as intervenções psicofarmacológicas para o
controle da ansiedade e as psicoterapêuticas (Veríssimo et al, 2012).
Nos relatos dos entrevistados, observamos que, quando a dismorfofobia é
identificada, os profissionais da medicina procuram estabelecer um diálogo com o
paciente para tentar redirecionar a visão do problema dele, que outrora era remetido ao
corpo, para as questões psicológicas envolvidas no desejo pela mudança corporal. Em
algumas situações é realizado encaminhamento externo para tratamento psicológico
e/ou psiquiátrico.

24
“[...] a pessoa quer sempre mais, então tem que falar com muita delicadeza que tem
um problema psicológico, é claro que eu não vou falar, você tem um problema
psicológico! ” (D1, 18 anos de atuação)
“Eu sempre encaminho para o psicólogo e até psiquiatra, essas pessoas que se
automutilam cutucando, ás vezes tiram pedacinhos de pele com pinça, alfinetes,
agulhas, o que for, elas não aceitam que é delas, elas acreditam que elas têm alguma
coisa dentro da pele e que ela está à procura daquele bichinho e fica cutucando. Mas
aí eu não sei se caberia enquadrar nesse transtorno, mas nesse caso eu indico”. (D2,
17 anos de atuação)
“[...] eu encaminho paciente para psicólogo quando eu acho que o problema dela não
vai ser resolvido com a cirurgia e sim porque está em outro lugar. Se depois mais
tarde, quando ela melhorar bem, ela quiser fazer a cirurgia aí eu faço”. (CP1, 28
anos de atuação)
“[...] se realmente a paciente tem um transtorno psicológico eu tenho que sacar isso,
mas eu direciono ela para outro profissional adequado”. (CP2, 14 anos de atuação)
4.2. História de vida: uma leitura biopsicossocial do sujeito e o TDC

A importância da história de vida da pessoa é apontada em inúmeros estudos


sobre o TDC e está contemplada nas narrações dos profissionais entrevistados. Somos
indivíduos, mas nos constituímos subjetivamente a partir da interação social que se dá,
primeiramente, no ambiente familiar e na relação com a mãe, como relata uma das
profissionais entrevistada:
[...] Então vamos pensar que esse corpo é marcado pela fala, pela linguagem da mãe
ou de quem exerce esse papel e aí, a partir daí vai havendo essa constituição
psíquica da criança. Para, além disso, essa criança e essa mãe estão instauradas,
estão colocadas num lugar social, onde tem regras, tem imposições, onde tem
exigências e parece que existe alguma coisa nesse desenvolvimento psíquico da
criança e aí para a vida, para a adolescência ou para a vida adulta que não é bem
incorporado, muito bem digerida pela criança, pelo adolescente e a partir daí é como
se existisse uma certa negação do próprio corpo, uma negação da sua imagem
corporal [...] (P1, 5 anos de atuação).
Cada família está inserida num contexto social onde as questões culturais se
fazem presentes e determinam o existir humano. Sendo assim, desde o nascimento, o
homem vai passando por estágios de construção social e adquire, no decorrer de sua
existência, os valores, conceitos e costumes pertinentes ao meio ao qual pertence.
Russo (2005) considera que nossos corpos acabam sendo vítimas de políticas e
saberes que nos identificam, classificam e estigmatizam, o homem passa a viver o seu
corpo não a sua maneira e vontade, pois tem que aprender a comportar-se conforme o
que a sociedade determina, experimentando a todo tempo uma aprovação social em
relação a sua conduta. A beleza corporal também se define por modelos estéticos
padronizados comercialmente, os quais se modificam a cada época.
Nesse existir, de acordo com Brito e Gama (2010), os modismos sempre
estiveram presentes e, com eles, os padrões estabelecidos em cada época levaram o
homem a uma assimilação dos mesmos, para se sentirem minimamente aceitos e
25
pertencentes. Vale ressaltar que os padrões de beleza vêm sendo evidenciados nas
sociedades e, com eles, a busca pela juventude, que remete ao belo. Contudo,
atualmente tem-se a impressão de que manter a forma adelgaçada, sem adiposidades e
sem rugas vem sendo algo que é meio imposto pela sociedade e nunca se chega ao
demasiado belo ou demasiado perfeito, o que gera em alguns indivíduos uma
autopunição sobre suas imperfeições corporais que os impedem de atingir um estado
ideal.
[...]Então a gente vê, por exemplo, principalmente para as meninas, vamos pensar na
adolescência assim, então, hoje existe um padrão de beleza feminina, esse padrão
foi sendo modificado ao longo da história né, não é sempre o mesmo. (P1, 5 anos de
atuação).
[...] ... a mídia, ela está bombardeando as pessoas com modismos e conceitos e o
modo que as pessoas têm que portar e se vestir, e o corpo, [...] (CP 2, 14 anos de
atuação).
O ser humano está inserido num contexto onde o automatismo se faz presente.
O trabalho consome grande parte do tempo e gera um nível considerado de estresse.
Ao chegar em casa o aparelho de televisão é um recurso para aliviar as tensões após
um dia corrido. Os programas precisam cativar o telespectador e o belo cativa, o belo
vende. As propagandas reforçam modelos que vão sendo interiorizados pelos
indivíduos e passam a fazer parte do seu imaginário. A busca pela aparência física
idealizada, muitas vezes, vai na contramão da fisiologia do indivíduo.
Para Brito e Gama (2010), independentemente de se afirmar que as mulheres
têm poder de distinguir o verdadeiro do falso, é evidente que nos dias atuais, elas estão
muito mais expostas a uma multiplicidade de imagens e a oscilação dos padrões de
beleza.
[...] na mídia todo mundo é muito magro, todo mundo tem o nariz perfeito, uma
boca perfeita e um corpo perfeito, portanto a mídia é que mais influencia as pessoas.
(D2, 18 de atuação).
Essa massificação do belo provocou uma mudança no modo de existir do ser
humano. Hoje ele se preocupa em estar bem para os outros e nessa busca pela
“perfeição corporal”, muitos acabam se perdendo de si mesmos e se importam cada
vez mais com a imagem física que têm que passar. Vale ressaltar que essa
preocupação exagerada com o corpo pode ser um indício de que algo não vai bem com
a pessoa.
[...] Aí elas veem na televisão, nas revistas e acham que é a oitava maravilha do
mundo, que vai resolver o caso delas e sempre existe um grau de insatisfação, a
gente percebe na paciente “M” que ela nunca consegue preencher o vazio que está
dentro dela, pois sobre aquele problema eu acho que está voltado para outros
aspectos, outros assuntos da vida dela. (D1, 17 anos de atuação).
26
[...] então eu acho que o que está envolvido nisso tudo, essas cirurgias, é essa
promessa, que talvez a mídia, ou que essas empresas, essa indústria de manipulação
do corpo faz com as pessoas, é a promessa de um corpo ideal, um corpo perfeito e
com isso uma possível felicidade, uma sensação de completude, de apaziguar as suas
questões, as suas inseguranças, que é uma falácia, uma ilusão, que não é disso que se
trata. (P1, 5 anos de atuação).
Brito e Gama (2010) apontam que com os avanços tecnológicos e o fácil
acesso que a internet possibilita, é possível perceber o quanto esse apelo pelo belo e
pela perfeição idealizada vem tomando cada vez mais espaço. Tomando a questão da
tecnologia temos como exemplo o photoshop, cujo resultado diminui a autoestima de
quem entra em contado com essas grandes revistas de moda e atualidades,
contribuindo cada vez mais para o surgimento de distúrbios da imagem corporal. O
photoshop realça uma aparência que pode ser transformada rumo a um corpo que
rompe com os padrões reais, um corpo ideal que se configura como algo além do
corpo, algo aprimorado, retocado e que segue na rota daquilo que se deseja ser. Pode-
se dizer que os indivíduos que apresentam o TDC estão ligados a um conceito de
beleza platônico, pois não têm a capacidade de perceber que o que desejam é algo
muitas vezes irreal ou inatingível, visto sua constituição física. É uma estética
compartilhada com os editores de revistas de moda, mas esse compartilhar é um
gerador de sofrimento constante, pois alimenta uma sensação diária de insatisfação
consigo mesmo.
[...] mas chega paciente com foto, [...] uma paciente com um sobrepeso importante e
com uma foto da Luma de Oliveira no Carnaval e falou: “eu quero ficar com o corpo
dessa, você não é cirurgião plástico? ” [...] (CP2, 14 anos de atuação).
[...] hoje não existe mais aquela cirurgia que a pessoa faz pra si. Essa sempre é uma
expectativa de uma cirurgia que ela está fazendo para os outros. [...] então isso é a
própria mídia que vem causando na busca de uma perfeição que você não vai atingir
nunca, porque nunca parte só da satisfação do resultado, está na cabeça e, às vezes,
não no próprio corpo. (CP1, 28 de atuação).
Enquanto ser biopsicossocial, o homem é capaz de lidar com as adversidades
da vida de acordo com as expectativas que deposita num ou noutro segmento. Sempre
estamos em busca de algo, uma formação profissional, adquirir um bem material, ou
seja, vivemos buscando coisas que nos completem, que nos auxiliem e nos dêem um
sentido de existir. Portanto, a preocupação com a própria imagem é algo normal e
saudável, pois percebemos que a autoestima do indivíduo também é um indicativo de
saúde mental e bem-estar. Brito e Gama apontam que a preocupação excessiva com a
imagem é um alerta de que algo pode estar errado.

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[...] a paciente vem com o olhar entristecido e tentando depositar e transferir para o
seu contorno corporal uma insatisfação que não é culpa do contorno corporal. [...]
(CP2,14 anos de atuação).

De acordo com Brito e Gama (2010), é importante salientar que um dos


aspectos da contemporaneidade está relacionado à percepção do outro, portanto muitos
indivíduos não se preocupam mais com a sua saúde, com seu bem-estar físico
enquanto qualidade de vida, mas sim, em como serão percebidos nos contextos sociais
onde estão inseridos. Nesse sentido, podemos dizer que a beleza ao se confundir com a
perfeição, esbarra num território onde não se busca o que pode ser feito, mas o que
deve ser feito, uma autoimposição. Portanto, torna-se imprescindível buscar uma
perfeição para que não sejamos julgados, comparados e até mesmo discriminados pela
sociedade.
[...] hoje existe um padrão de beleza e aí existe esse culto ao corpo que para você se
encaixar nesse padrão você tem que ter determinadas medidas, você tem que ter
determinadas curvas, você tem que ter determinado nariz, você tem que ter
determinado cabelo, determinado padrão. Não estar dentro desse padrão para certas
pessoas gera muito sofrimento, então essas pessoas vão em busca incessantemente
de procedimentos de beleza, procedimentos estéticos, cirúrgicos, para tentar se
enquadrar e se encaixar nesse lugar e que me parece que não tem fim nunca, porque
nunca é satisfeito, ele nunca é satisfeito. [...] (P1, 5 anos de atuação).
Parafraseando Brito e Gama, podemos esclarecer um pouco mais sobre a
questão do outro e sua importância em nosso existir. Segundo as autoras, atualmente a
beleza é um símbolo de sucesso pessoal e profissional, os indivíduos perseguem
exaustivamente uma perfeição corporal provisória, mas, ao mesmo tempo, acumulam
um vazio enquanto seres humanos, pois sabem que é uma busca sem fim. Esse vazio
pode ser um gatilho para o TDC.
[...] então eu acho que o que está envolvido nisso tudo, né, essas cirurgias, é essa
promessa que talvez a mídia, ou que essas empresas, essa indústria de manipulação
do corpo fazem com as pessoas, é a promessa de um corpo ideal, um corpo perfeito
e com isso uma possível felicidade, uma sensação de completude, de apaziguar as
suas questões, as suas inseguranças, que é uma falácia, uma ilusão, que não é disso
que se trata. (P1, 5 anos de atuação).

Toda a massificação em torno do belo acaba por gerar certo desconforto em


algumas pessoas, pois sua imagem corporal não corresponde ao esperado. Portanto, o
desconforto, a insatisfação e a preocupação exagerada com o corpo trazem grande
sofrimento para os indivíduos portadores do TDC, podendo levá-los a um prejuízo
social, no trabalho e em outros fatores da vida.

28
4.3. O Estado Psicológico: da expectativa à satisfação

Com relação à expectativa dos pacientes, pudemos observar que está


relacionada a diversos fatores, razão pela qual o profissional deve estar atento para
entender o que levou o indivíduo a procurar por um procedimento cirúrgico.
De acordo com Jaimovich (2002), as pessoas que procuram por cirurgia
estética, estão movidas essencialmente por três motivos: manter aquilo que já têm;
reconquistar aquilo que perderam; ou conquistar algo que nunca tiveram.

[...] tem que entender o porquê a pessoa vem, se é uma pessoa que está sempre se
cuidando, desde os 20, 30 anos, sempre se cuidou, faz parte da rotina dela fazer um
Botox, fazer preenchimento, um peeling, se cuidar. De repente aparece uma pessoa
que nunca fez nada, você precisa entender o que acontece, e também entender o que
ela está esperando, porque ela cria uma imagem e acha que vai resolver todos os
seus problemas, mas eu não vou resolver os problemas dela, eu vou ajudar ela se
sentir melhor, sua autoestima, e não resolver um problema amoroso, por exemplo.
[...] A pessoa tem que entender, que se ela não está se sentindo bem, aí você tem que
saber por que está acontecendo isso, ou se ela quer realmente ficar melhor para ela,
pois o mais importante é ficar melhor para ela. (D2, 18 anos de atuação)

Ainda segundo Jaimovich (2002), a imagem que a pessoa constrói de si, e que
pensa ser, está inter-relacionada com três distintas informações: a imagem idealizada,
a imagem representada pelas informações externas ou, ainda, a imagem objetiva, a
propriocepção, como a pessoa vê e sente seu próprio corpo. No entanto, muitas vezes
quando a pessoa procura por um procedimento estético, seu nível de expectativa está
relacionado no outro, aquilo que a sociedade espera, desconsiderando sua própria
vontade e subjetividade, descaracterizando assim seu perfil e sua realidade de vida.

[...] Hoje existe um padrão de beleza e aí existe esse culto ao corpo que para você se
encaixar nesse padrão você tem que ter determinadas medidas, você tem que ter
determinadas curvas, você tem que ter determinado nariz, você tem que ter
determinado cabelo, determinado padrão. Não estar dentro desse padrão para certas
pessoas gera muito sofrimento, então essas pessoas vão em busca incessantemente
de procedimentos de beleza, procedimentos estéticos, cirúrgicos, para tentar se
enquadrar e se encaixar nesse lugar e que me parece que não tem fim nunca, porque
nunca é satisfeito, ele nunca é satisfeito. (P1, 5 anos de atuação)

De acordo com Leal, Catrib, Amorim e Montagner (2000), as cirurgias


plásticas e estéticas têm como finalidade a reconstituição artificial de uma determinada
parte do corpo. No entanto, ela não auxilia na recuperação de fatores psicológicos
derivados de uma necessidade de aceitação da própria imagem. Esses autores diferem
a cirurgia reparadora da cirurgia estética, sendo que a primeira tem a finalidade de

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recuperar ou restaurar alguma enfermidade ou defeito congênito, já a segunda tem
caráter de embelezamento. Ambas, porém, desejam alcançar um equilíbrio da estrutura
corporal.
De acordo com Ferreira (2000), pessoas que procuram pela cirurgia estética
que não possuem alterações patológicas, os resultados do tratamento cirúrgico devem
ser investigados com base nos ganhos psicológicos após a cirurgia. Sendo assim, o
fator psicológico é de extrema importância, no que se refere a procedimentos
cirúrgicos, uma vez que, ao receber um paciente que procura por tais procedimentos,
deve ser analisado prioritariamente seu estado psicológico, através dos relatos das
queixas que os trouxeram até os profissionais, verificando se os mesmos são
condizentes com uma real correção. Onde há uma queixa sendo visível para os
profissionais, em casos onde o indivíduo tem o TDC, muitas das vezes ele encontra
defeitos inexistentes, ou após a realização de um procedimento, em curto prazo já
encontra outro, assim descaracterizando sua imagem e criando uma imagem distorcida
de si.
Existem pacientes que estão sempre à procura de algum tipo de procedimento
cirúrgico estético, razão pela qual os profissionais devem estar atentos para não
confundirem “vaidade extrema” com TDC, uma vez que esses pacientes sempre
estarão satisfeitos com o resultado final, ao contrário do paciente que possui o TDC.

[...] não classificar e taxar todo mundo a vaidosa ao extremo, sendo o transtorno
dismórfico, você tem que ter muita sensibilidade para saber até onde é um e outro,
[...] e o limite de uma mulher vaidosa, você tem que saber até aonde é transtorno e
até aonde é vaidade, tem pacientes que são tão vaidosos que, às vezes, você acha que
está em um transtorno, mais aí ela aceita aquilo que foi feito e ela gosta, quem tem o
transtorno nunca está perfeito [...] (D2, 18 anos de atuação)

De acordo com Camargo, Goetz, Bousfield e Justo (2011), o corpo belo


assume, uma posição privilegiada, obedecendo a um padrão bastante rígido estipulado
pela sociedade. Sendo assim, o procedimento cirúrgico surge como uma prática
desejada, comprometendo assim a qualidade da saúde desses indivíduos.
Leal, Catrib, Amorim e Montagner (2000), também abordam o
comprometimento da saúde desses indivíduos que procuram apenas obter um padrão
estabelecido pela sociedade, extrapolando os limites do corpo e da psique por meio de
esforços imitativos de modelos quase sempre inatingíveis ou até mesmo irreais.

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Considerando que cada indivíduo possui um perfil e ao procurar mudar
completamente seu padrão, descaracterizando sua imagem e a visão de si, existe,
portanto, um grande indício de que há um problema psicológico, pois através do
procedimento, ele procura preencher um vazio que há dentro de si. O indivíduo cria
uma imagem com a certeza de que através do procedimento terá todos os seus
problemas resolvidos. Alguns procedimentos cirúrgicos estéticos conseguem obter um
grau de satisfação de curto prazo, como um auxílio para o indivíduo obter uma
melhora esteticamente na sociedade, enquanto realiza um acompanhamento
psicológico para encontrar a causa do problema, sendo algumas correções ocasionadas
pelo fator emocional, por exemplo.

[...] e muitos dos pacientes têm um ideal de corpo, o ideal de peso dele num pré-
operatório, essa dificuldade de se localizar dentro da própria imagem é super comum
acontecer. (P2, 4 anos de atuação)
[...] sempre existe um grau de insatisfação, a gente percebe que o paciente [...] nunca
consegue preencher aquele vazio que está dentro dele, pois sobre aquele problema
eu acho que está voltado para outros aspectos, outros assuntos sobre a vida dela.
(D1, 17 anos de atuação)

Segundo Jaimovich (2002), antes de tudo, o cirurgião plástico é médico,


devendo, portanto, ter um cuidado especial, com delicadeza e humanidade, para
indicar os melhores caminhos para os pacientes que procuram por sua orientação e
avaliação.
Por meio das entrevistas, conseguimos observar que o grau de satisfação é
muito relativo ao grau de expectativa do indivíduo, o que ele espera com tal
procedimento para que exista um resultado satisfatório. O mesmo deve estar bem
preparado psicologicamente, além de estabelecer uma relação de confiança com o
profissional que escolheu para realizar o procedimento.

[...] uma vez que ela me escolheu como cirurgião, ela tem que confiar que o que eu
vou fazer é o melhor que pode ser feito por ela. Essa relação de confiança bem
estabelecida faz com que ela enxergue um bom resultado. [...] tem uma frase que o
Dr. Ivo Pitangui colocou há algum tempo que é “o cirurgião plástico é o psicólogo
de bisturi”, está errado, mas tem as suas verdades, não adianta achar que uma
pessoa com a baixa autoestima, depressiva e com uma auto-aceitação baixa, que
você vá operar e você vai recuperar tudo isso, não vai, não vai, a gente não
consegue. (CP2, 14 anos de atuação)

Leal, Catrib, Amorim e Montagner (2000), chamam a atenção aos fatores que
podem influenciar um paciente no pós-cirúrgico, uma vez que não estão preparados

31
emocionalmente para eventuais mudanças que venham a ocorrer a partir de uma
cirurgia a qual ele será submetido, acarretando em alterações profundas no caráter,
bem como na personalidade do indivíduo.
Os profissionais da saúde que trabalham com cirurgia plástica estética
apresentaram dificuldades em relação ao trabalho com pacientes que possuem o TDC,
pois utilizam conversas e aconselhamento para que o indivíduo perceba que não
existe nada de errado com sua imagem, sendo fundamental o encaminhamento para
um profissional de psicologia.

[...] mas no final por mais que você converse, quando a pessoa tem um problema
psicológico “entra por um lado e sai pelo outro”, ela não absorve o que você está
falando. (D2, 18 anos de atuação)
Fica evidente que o acompanhamento psicológico é de extrema importância,
pois tanto a expectativa do paciente, que se submete a um procedimento cirúrgico,
quanto o nível de satisfação estão relacionados com o estado psicológico no qual ele
se encontra, pois se o fator psicológico não estiver estável, ele nunca encontrará
satisfação o suficiente para recuperar sua autoestima e autorrealização, o papel do
psicólogo dentro dessa área, portanto, é essencial.
4.4. A prática profissional: um cuidado integral

Se fizermos a pergunta “o que é o Transtorno Dismórfico Corporal?” ou “você


conhece o Transtorno Dismórfico Corporal?” para um amigo ou vizinho é comum que
a maioria das respostas seja que nunca sequer ouviu falar no assunto. Em nossa
pesquisa, observamos que esse é um assunto bastante conhecido e experienciado na
prática de alguns profissionais entrevistados e pouco por outros. Conrado (2009), traz
que o assunto é de extrema importância e que ainda é pouco conhecido e
diagnosticado por profissionais, talvez pela falta de estudos recentes sobre o tema. Ao
realizarmos as perguntas supramencionadas, para os profissionais da área de
Dermatologia e Cirurgia Plástica, recebemos respostas do tipo:
Sim. Conheço sim, é que a pessoa tem uma visão errônea do que ela é. Eu não estou
muito por dentro dessa área, porque eu não estou estudando isso, mas que eu saiba é
uma visão distorcida da imagem corporal dela. O transtorno se dá talvez por um
distúrbio psiquiátrico, psicológico, não sei, mais profundamente, eu não sei te
responder (D1, 17 anos de atuação).
Sim, conheço. [...] não sei te responder se o transtorno está dentro de alguma
depressão, porque às vezes eu vejo uma associação na prática de pacientes
deprimidos com o transtorno, mas eu nunca li sobre o assunto, na parte psicológica
eu sei que a gente tem que ler o que é, a paciente sempre acha que ela tem um

32
defeito quando você tem que saber até onde é transtorno e até onde é vaidade (D2,
18 anos de atuação).
Conheço bastante [...] em Campinas existe uma associação que se chama Sociedade
Brasileira para Reabilitação dos Defeitos Craniofaciais, eu fiz meu R4 lá. [...] e
quando eram deformidades faciais existia todo um preparo que você fazia com o
paciente porque no caso da mudança que ele tinha da imagem corporal após a
cirurgia. [...] Isto eu estou falando os casos mais sérios de imagem corporal real. A
dismorfofobia mesmo é aquela que enxerga o que não existe, aquela que enxerga
um defeito tão grande e que você não consegue enxergar (CP1, 18 anos de atuação).
O transtorno dismórfico corporal, que algumas pessoas chamam também de
dismorfofobia, é uma pessoa que ao se olhar no espelho, ao ver as suas próprias
impressões, são diferentes daquilo que realmente está sendo apresentada a ela (CP2,
13 anos de atuação).
Pensando em como esses profissionais conseguem identificar pessoas com
TDC que chegam aos seus consultórios, indagamos aos entrevistados se já atenderam
essas pessoas e realizaram procedimentos de análise do estado emocional dos
pacientes antes dos procedimentos solicitados e como procedem quando percebem que
estes nunca ficam satisfeitos com os resultados obtidos. Por sua vez, as respostas nos
mostraram que nenhum dos profissionais faz encaminhamento prévio para psicólogos
com intuito de que seja realizada uma avaliação do estado emocional do paciente. Por
fim, os encaminhamentos eventuais só são realizados se identificada a necessidade por
perceberem que os problemas de seus pacientes não se resolverão com uma cirurgia ou
um procedimento estético.
[...] é claro que quando você identifica isso, que o paciente tem o transtorno, você
tem que ter muita cautela com o que você vai fazer com essa paciente, porque ela
nunca vai estar feliz, também não classificar e taxar todo mundo a vaidosa ao
extremo, sendo o transtorno dismórfico, você tem que ter muita sensibilidade para
saber até onde é um e outro, e quando você atende, você tem que entender, tem que
saber se ela está tomando algum remédio, se está fazendo acompanhamento. [...] eu
tento conversar antes de fazer algum tipo de procedimento, porque essa pessoa por
mais que você faça, ela não vai ficar feliz, porque o problema é ela. [... ] (D2, 18
anos de atuação).
Já atendi vários e foi aquilo que eu te falei, eu caí fora. Porque o problema disso, é
que a paciente não conta isso para você, então quando você percebe logo de cara,
você acaba dando uma saída legal [...] já ocorreu de eu desistir da cirurgia por
perceber alguma patologia psicológica. [...] eu nunca encaminho paciente para
psicólogo, no sentido assim de preparar ela para a cirurgia, eu encaminho paciente
para psicólogo quando eu acho que o problema dela não vai ser resolvido com a
cirurgia e sim porque está em outro lugar. Se depois mais tarde, quando ela melhorar
bem, ela quiser fazer a cirurgia aí eu faço [...] (CP1, 28 anos de atuação).
Segundo Conrado (2009), dentre os pacientes que procuram por
dermatologistas e cirurgiões estão o maior número de pessoas com TDC, o que
demanda um maior conhecimento por parte desses profissionais sobre o tema, para
que seja mais eficiente a sua identificação e diferenciação do transtorno para uma
vaidade exagerada, por exemplo, como uma das dermatologistas entrevistadas diz:

33
[...] você tem que saber até aonde é transtorno e até aonde é vaidade, tem pacientes
que são tão vaidosos que às vezes você acha que está com um transtorno, mas aí ela
aceita aquilo que foi feito e ela gosta, quem tem o transtorno nunca está perfeito, ela
sempre vai achar alguma coisa que não está legal [...] (D2, 18 anos de atuação).
Isso é um ponto importante? É. tem um professor lá em São Paulo que ele fala para a
gente assim:” se a paciente passou, ou seja, em mais de três cirurgiões, fez o nariz
com um, a pálpebra com outro, a barriga com outro, não opere, não opere porque
não é possível que os três não agradaram a ela, que ela não repetiu nenhum deles.”
(CP2, 13 anos de atuação).
Poderíamos fazer aqui uma comparação da frase de Thomas Rees citada por
Jaimovich (2002) que diz, “o meu patrimônio eu construí com os pacientes que operei;
a minha reputação com os que eu não operei” (JAIMOVICH, 2002, p. 51). Com a
prática de muitos cirurgiões e dermatologistas que realizam seus procedimentos sem
colocar a vida do outro em primeiro plano como citam alguns dos profissionais
entrevistados:
[...] teve uma paciente que até era conhecida minha, ela veio aqui, ela estava nessa
crise de 50 anos de idade, estava terrível, tinha engordado “300kg” veio aqui e
queria que eu fizesse e eu falei que a cabeça dela não estava boa, que ela teria que
pensar bem, que ela teria que melhorar para que quando ela se sentisse melhor eu
iria fazer. Ela brigou comigo, fez a cirurgia com outro cirurgião, e ficou brava com
ele. Porque ele não atingiu o resultado [...] (CP1, 28 anos de atuação).
[...] Paciente de tratamento estético, chega aqui, quer uma coisa fora da realidade,
que é uma coisa que não vai dar o resultado que ela quer ou não tem indicação [...]
Eu não faço, se ela chega muito viajando em alguma coisa fora da realidade, eu não
faço, eu vou estar centrada, se ela não aceita quem procura ajudar ela vai procurar
alguém que viaje junto, e tem que viajar junto, infelizmente, tem que viajar junto
com o paciente [...] eu prefiro manter o habitual o que é do paciente, suavizar o que
o tempo levou, mas mudar o que ela é eu não faço, tem quem faz, mas eu não (D1,
17 anos de atuação).
Concluímos, então, que a relação do paciente com TDC e os procedimentos
cirúrgicos e estéticos estão relacionados como uma forma de dependência, quem não
se satisfaz por muito tempo com o procedimento realizado e busca incessantemente
por uma satisfação que dificilmente virá, pode ser o alerta que o profissional necessita
para a identificação do TDC, pois segundo Tavares (2013), tal insatisfação constante
pode vir a gerar uma imagem corporal negativa, que seria uma das principais
características do transtorno.
A mídia a todo o momento lança a ideia de que corpo bonito é o corpo magro,
com curvas definidas, cabelo liso, pele clara e lisa, tais afirmações acabam por
estigmatizar grupos de pessoas que não se encaixam nesse padrão esteticamente
perfeito causando prejuízos sociais, profissionais e pessoais em indivíduos, podendo
levá-los, inclusive, a adoecerem. Quando se convencem de que a ideia de corpo ideal
que é vendida a todo o momento pela mídia é o que precisam para que suas vidas

34
mudem de repente, acabam banalizando os riscos que vários procedimentos cirúrgicos
possuem, pensando somente na melhoria idealizada, e isso causa dor e sofrimento à
pessoa com TDC. Para saber como é realizado o trabalho do psicólogo com essas
pessoas, entrevistamos duas psicólogas, ambas trabalham em hospitais com pacientes
pré-operatórios de cirurgia bariátrica.
Perguntamos se elas achavam necessário o encaminhamento para avaliação
psiquiátrica do paciente com suspeita de TDC ou se somente encaminhavam para
psicoterapia e as respostas foram:
[...] eu tenho muito cuidado com os encaminhamentos a serem feitos, para, de
qualquer forma, de qualquer natureza, mas o que eu observo é assim, se o paciente
tem além desse transtorno, né, ele tem essa distorção, mas ele também tem uma
ansiedade associada, uma outra patologia associada eu encaminho para uma
avaliação psiquiátrica, não necessariamente precisa de uma medicação, agora a
psicoterapia é fundamental, isso em todos os casos, o encaminhamento psicológico
para a psicoterapia é feito sim, mas não necessariamente medicamentoso, somente
se ele estiver associado a alguma patologia, é um caso depressivo, é um caso de
ansiedade, algum transtorno alimentar que pode estar associado ou não, aí é feito
juntamente com o encaminhamento para a psicoterapia [...] (P1, 5 anos de atuação).
[...]Então existem pacientes que chegam aqui e até eu conversar com o paciente eu
não sei se é homem eu não sei se é mulher, que perde totalmente é... o que
caracteriza o corpo a individualidade de um corpo, é como se fossem todos iguais.
[...] a gente acaba fazendo uma avaliação psicológica para ver se o paciente tem
condições psíquicas neste momento, de sustentar essa mutilação, porque não deixa
de ser uma mutilação do corpo, não deixa de ser também um procedimento invasivo
[...] a cirurgia bariátrica ela vai tratar a consequência, não a causa. [...] (P2, 4 anos
de atuação).
Sabemos que imagem corporal é aquela imagem que temos de nós mesmos e
que sua construção se faz com os significados que temos do nosso corpo, assim como
as nossas relações com o mundo, pois ao nascermos somos lançados num mundo já
repleto de significados e logo temos que nos apropriar deles. Se esses significados
mudam, temos que ressignificar as coisas do mundo, logo, se a sociedade em que uma
pessoa vive lhe mostra que o que é certo é ter um corpo magro e curvilíneo, e ela não
se enquadra nesse perfil, provavelmente essa pessoa buscará todos os meios para se
encaixar nesse padrão. Contudo, caso não ocorra, haverá dor e sofrimento.
Um dos meios buscados para a obtenção do corpo perfeito é a cirurgia
bariátrica que é destinada a pessoas com obesidade mórbida, que se encaixam nesse
perfil por terem suas vidas em risco devido a outros problemas clínicos que a
acompanham. Vasconcellos (2011) cita que após a realização da cirurgia bariátrica a
pessoa passa por uma mudança extrema, pois além da grande perda de peso, há toda
uma modificação necessária nos hábitos alimentares do sujeito. Esse choque de

35
mudanças pode atrapalhar o indivíduo em diversas áreas de sua vida, tanto
socialmente, como afetivamente. Em conversa com as psicólogas que trabalham com
esse público, ambas destacam em seus discursos a banalização da cirurgia bariátrica
quando perguntado como é trabalhada a imagem corporal com seus pacientes.
[...] todo sintoma tem uma história e é como se na Psicanálise ou na terapia, na
análise a gente fosse percorrer esse caminho, essa história do sintoma, para quem
sabe esse sujeito conseguir ressignificar e lidar com essas questões do corpo de um
outro jeito de uma forma menos sofrida, menos dolorosa e abrir mão desse
sintoma, porque é muito difícil né, o sujeito abrir mão, ele fica ali enraizado com o
sintoma, isso faz parte até , às vezes da própria estruturação psíquica, então sair
desse lugar e ir para um outro lugar, exige aí um movimento muito grande do
paciente e aí eu acho que a psicoterapia acaba sendo o maior indicação para isso, ta?
[...] (P1, 5 anos de atuação).
[...] o que a gente faz aqui muitas vezes é apontamento para o paciente, que existe
essa questão da imagem ela existe e a gente aponta para o paciente e o paciente até
durante os atendimentos ele vai identificando isso. [...] O paciente que acha: “ah eu
faço a cirurgia porque eu estou acima do peso, eu tenho dificuldade para emagrecer
e manter o peso”, mas não porque ele tem um quadro de obesidade. Então antes de
ele ir para uma cirurgia ele tem que ter noção corporal, então a gente trabalha dessa
maneira, fazer com que o paciente se aproxime desse corpo através de orientações e
informações [...] (P2, 4 anos de atuação)
O que podemos observar é que o trabalho do psicólogo no que diz respeito à
pessoa com TDC, sem ser na psicoterapia como é no caso das psicólogas entrevistadas
que trabalham em hospital e não em clínica, é o de prevenção, ou seja, fazendo
apontamentos, passando informações e procurando assim orientá-los a se cuidar e
buscando ao máximo realizar o resgate social.

36
5. CONCLUSÕES

A partir do presente estudo, concluímos que o Transtorno Dismórfico Corporal


(TDC) é fator gerador de grande sofrimento psíquico e de prejuízos sociais, uma vez
que o sujeito passa a se incomodar com defeitos muitas vezes inexistentes ou quase
imperceptíveis ocasionando vergonha de si, podendo acarretar isolamento social ou a
busca de cirurgias recorrentes com o intuito de atingir a perfeição desejada.
Afirmamos, a partir da fundamentação teórica e da pesquisa de campo que, na
dismorfia, não há uma preocupação com a saúde ou bem-estar, em detrimento de uma
preocupação excessiva com a aparência e com opiniões sociais a respeito.
Consideramos que o estudo permitiu uma visão mais aprofundada sobre a construção
social do corpo no TDC, face à tessitura de padrões ideais de beleza construídos pela
sociedade, pela cultura e pelos veículos midiáticos.
Foi possível compreender que o TDC ainda é pouco conhecido nas áreas
cirúrgicas e estéticas, já que percebemos informações não muito precisas, pois alguns
careciam de explicações acerca do transtorno. Os profissionais que conheciam tal
transtorno relataram que, ao identificá-lo, recusavam-se a fazer a cirurgia, porém não
realizavam encaminhamentos psicológicos com o intuito de se verificar o estado
emocional dos pacientes. As consequências dessas dificuldades de se diagnosticar o
TDC e de realizar os devidos encaminhamentos refletem na definição de um
tratamento e de um fluxo de atendimento que se adeque ao seu prognóstico.
Acreditamos que, para que esses profissionais sejam capazes de identificar esse
transtorno, é necessária uma maior divulgação do TDC nesse meio, para que estes se
conscientizem da importância de uma intervenção psicológica para seus pacientes.
Com um conhecimento prévio acerca do tema e dos prejuízos que este pode trazer
para quem o possui, bem como através de uma aproximação do profissional por meio
de diálogo com seus pacientes, objetivando conhecer os motivos reais da busca de
seus recursos. Ao identificar a possibilidade do TDC é recomendado que sejam
realizados encaminhamentos para psicólogos ou psiquiatras, objetivando a
manutenção ou recuperação do bem-estar e da qualidade de vida do paciente.

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A teoria e a prática nos mostraram que a satisfação do indivíduo com o
procedimento cirúrgico é relativa ao seu grau de expectativa. Confirmamos, ainda, que
o indivíduo com o TDC tende a ficar satisfeito por um breve período de tempo e logo
voltará a enxergar defeitos em áreas específicas de seu corpo. O profissional deve
entender o que o paciente deseja alcançar com o resultado dos processos cirúrgicos ou
estéticos, pois muitas vezes esperam resultados inatingíveis. O papel do psicólogo
dentro dessa área é essencial, pois tanto a expectativa quanto o nível de satisfação
estão relacionados ao estado psicológico no qual o indivíduo se encontra. Dessa
forma, para que a satisfação esperada seja obtida, é necessária uma estabilidade
emocional.
Essa pesquisa corresponde à sua justificativa acadêmica ao passo que, diante
da escassez de pesquisas relacionadas ao TDC, se coloca como estudo atual acerca do
tema. Em relação à relevância social do estudo, apresentamos a importância do fator
social para o desencadeamento do transtorno e apontamos para a necessidade de uma
mudança cultural em relação aos padrões de beleza que são difundidos pela mídia e
pela sociedade e que são tidos como ideais e requisitos para adequação do indivíduo a
determinados grupos sociais. Concluímos ser necessário maior conhecimento por parte
dos profissionais cirurgiões, dermatologistas e psicólogos acerca do transtorno, da
identificação do mesmo e também da definição de práticas que sejam capazes de
minimizar o sofrimento dessa população.
Evidenciamos que, nos discursos, os profissionais relatam haver uma linha
muito tênue entre as atitudes características de uma vaidade extrema presentes no
TDC, o que acaba gerando dificuldades não só na definição do transtorno ou de uma
hipótese diagnóstica, mas também nos encaminhamentos para psicólogos e
psiquiatras. Essa dificuldade também está relacionada a pouca visibilidade do TDC e à
escassez de estudos na área, principalmente nos últimos cinco anos.
Essa pesquisa não esgota as interpretações a respeito do tema e tampouco a
necessidade de se realizarem novos estudos, à medida que, para sua realização
encontramos dificuldades relacionadas à produção bibliográfica e também na falta de
profissionais no território abrangente, bem como a dificuldade em relação ao tempo
disponível dos profissionais encontrados, o que pode estar relacionado ao excesso de
trabalho devido à demanda existente. Devido a essa escassez bibliográfica e ao

38
número limitado de profissionais entrevistados, não foi possível que mais dados e
informações fossem coletados. Acreditamos que novos estudos sobre o tema podem
ser realizados com um número maior de participantes, ampliando assim informações
sobre o TDC.
Considerando os resultados obtidos e as limitações encontradas nesse estudo,
ainda não há um consenso a respeito da causa do TDC. Sabe-se que o componente
social está fortemente relacionado ao transtorno. Porém, não se esgota como fator
único para seu desencadeamento. Podemos indicar, como pesquisas futuras do tema, a
compreensão da complexidade deste tema.

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SADALA, M. L. A fenomenologia como método para investigar a experiência vivida


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Revista da SPDV, Coimbra, 2012. Disponível em:
<http://revista.spdv.com.pt/index.php/spdv/article/view/36/37>. Acesso em 26 de abril de
2015.

ANEXOS
43
ANEXO I: MODELOS DE ENTREVISTAS SEMIESTRUTURADA

a) ENTREVISTAS COM PSICÓLOGOS

1) O que é o Transtorno Dismórfico Corporal? O que pode gerar esse transtorno?


Como é diagnosticado?
2) Após o diagnóstico, você considera importante o encaminhamento para
atendimento medicamentoso ou esse caso pode ser tratado somente com
psicoterapia?
3) Como é trabalhada essa imagem corporal distorcida que a pessoa tem de si?
4) Qual seria o principal motivo que leva a pessoa a se submeter a procedimentos
cirúrgicos estéticos, social, patológico ou biológico? Por quê?
5) Em sua experiência como profissional, já atendeu casos de pessoas com esse
transtorno? Se sim, poderia nos contar como foi esse trabalho?

b) ENTREVISTAS COM PROFISSIONAIS DA SAÚDE

1) Qual a principal queixa apresentada pelos pacientes que procuram a cirurgia


estética e qual o grau de satisfação com o resultado obtido?
2) Existem relatos por parte dos pacientes sobre a influência da mídia e do meio
social sobre a maneira com que estes veem o próprio corpo? Se sim, quais?

44
3) Como você age quando o paciente vê defeitos inexistentes ou faz várias
cirurgias e nunca está satisfeito?
4) É realizado algum procedimento para verificar o estado psicológico do paciente
antes da cirurgia solicitada? Já ocorreu de pacientes desistirem da cirurgia após
intervenção de um psicólogo?
5) Você conhece o Transtorno Dismórfico Corporal? Se sim, o que seria e como
se dá o Transtorno?
Se a resposta anterior for sim:
6) Em sua experiência como profissional, já atendeu casos de pessoas com esse
transtorno? E como procedeu?

ANEXO II: CRONOGRAMA

ATIVIDADE SEMESTRE SEMESTRE SEMESTRE SEMESTRE


1/2014 2/2014 1/2015 2/2015

Escolha do tema

Levantamento
bibliográfico

Formulação do
problema
Traçar os
objetivos gerais e
específicos
Levantamento das
hipóteses
Justificar a
escolha da
pesquisa
Escolha da
metodologia a ser
utilizada
Revisão
bibliográfica

Definição dos
instrumentos

45
Definição dos
participantes da
pesquisa

Coleta de dados

Análise e
discussão dos
dados

Conclusão

Apresentação dos
resultados

46
Universidade Paulista – UNIP
Campus Sorocaba
Av. Independência, 210 - Éden
CEP: 18087-101 – Sorocaba/SP
Fone: (15) 3412-1000

ANEXO III: MODELO DE TERMO DE CONSENTIMENTO

UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP


INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS – CURSO DE PSICOLOGIA

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Caro Participante:
Gostaríamos de convidá-lo a participar como voluntário da pesquisa intitulada
“Imagem corporal: algumas compreensões psicológicas sobre a cirurgia estética e o
dismorfismo”, que se refere a um projeto de Trabalho de Conclusão de Curso das alunas
Elaine, Gislaine, Laura e Silvana, do curso de Psicologia da Universidade Paulista – UNIP.
O objetivo deste estudo é investigar como se dá o desenvolvimento dessa imagem
distorcida que muitos indivíduos têm sobre seu corpo, assim como, se o Transtorno
Dismórfico Corporal (TDC) seria um conceito socialmente construído e se há patologias
existentes por trás desse processo de busca pelo corpo ideal. Os resultados contribuirão para o
aumento de bibliografia sobre o tema que, no Brasil, é muito limitada; para o entendimento do
dismorfismo como uma construção social, bem como de que maneira se dá o seu
entendimento e seu atendimento pelos profissionais de saúde.
Resumidamente, a pesquisa será realizada da seguinte forma: os pesquisadores
realizarão entrevistas semiestruturadas com os participantes para coletar dados pertinentes à
pesquisa. Os participantes deverão responder a essa entrevista da maneira que melhor lhe
parecer, sem limite de tempo. As entrevistas realizadas serão gravadas para posterior
transcrição por parte dos pesquisadores envolvidos. Sua forma de participação consiste em
participar da pesquisa respondendo à entrevista semiestruturada. Seu nome não será utilizado
em qualquer fase da pesquisa, o que garante seu anonimato, e a divulgação dos resultados será
feita de forma a não identificar os voluntários. Não será cobrado nada, não haverá gastos e
não estão previstos ressarcimentos ou indenizações.
Considerando que toda pesquisa oferece algum tipo de risco, nesta pesquisa o risco
pode ser avaliado como: mínimo.
Gostaríamos de deixar claro que sua participação é voluntária e que poderá recusar-se
a participar ou retirar o seu consentimento, ou ainda interromper sua participação se assim o
preferir, sem penalização alguma ou sem prejuízo ao seu cuidado. Nos casos em que se
utilizar questionário ou entrevista, você poderá recusar-se a responder as perguntas que
causem eventuais constrangimentos de qualquer natureza a você.
Desde já, agradecemos sua atenção e participação e colocamo-nos à disposição para
maiores informações. Se você desejar, poderá ter acesso a este trabalho do qual participou.
Você ficará com uma cópia deste Termo e em caso de dúvidas ou necessidade de
outros esclarecimentos sobre esta pesquisa, você poderá entrar em contato com o pesquisador
principal: Professora Dra. Cybele Carolina Moretto, CRP: 06/69161. Av. Independência, 210
- Éden – Sorocaba/SP. CEP 18087-101. Tel.: (15) 3412-1000 / Fax: (15) 3412-1009.
 ......................................................................................................................................................

47
Universidade Paulista – UNIP
Campus Sorocaba
Av. Independência, 210 - Éden
CEP: 18087-101 – Sorocaba/SP
Fone: (15) 3412-1000

Eu ____________________________________________________________ confirmo que


Elaine, Gislaine, Laura e/ou Silvana explicaram-me os objetivos desta pesquisa, bem como a
forma de minha participação. As condições que envolvem a minha participação também
foram discutidas. Autorizo a gravação em áudio da entrevista que porventura venha a dar e
sua posterior transcrição pela equipe de alunos-pesquisadores responsáveis, para fins de
ensino e pesquisa. Autorizo a publicação deste material em meios acadêmicos e científicos e
estou ciente de que serão removidos ou modificados dados de identificação pessoal, de modo
a garantir minha privacidade e anonimato.
Eu li e compreendi este Termo de Consentimento; portanto, concordo em dar meu
consentimento para participar como voluntário desta pesquisa.
_____________________, ______ de _________________ de 2015.

_____________________________
Assinatura do participante

Eu ______________________________________________________________ obtive de
forma apropriada e voluntária o Consentimento Livre e Esclarecido do participante da
pesquisa ou seu representante legal.

______________________________________________
Assinatura do membro da equipe que apresentar o TCLE

______________________________________________
Prof.ª Dr.ª Cybele Carolina Moretto
CRP: 06/69161

O projeto da presente pesquisa teve seus aspectos técnicos, acadêmicos e éticos previamente
examinados e aprovados pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Psicologia e Educação –
CEPPE do Instituto de Ciências Humanas da Universidade Paulista – UNIP.

Contato:
CEPPE - ICH
UNIP - Campus Indianópolis
Rua Dr. Bacelar, 1212 – 2º andar – Vila Clementino
CEP: 04026-002 – Fone: (11) 5586-4204
E-mail: ceppe@unip.br
Responsáveis:
Prof. Dr. João Eduardo Coin de Carvalho
Prof. Dr. Waldir Bettoi
Profa Dra. Mônica Cintrão França Ribeiro
48

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