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NOTA TÉCNICA: LICENÇA COMPULSÓRIA DE VACINAS CONTRA A COVID-19

Autores: Cesar Costa Alves de Mattos; Rodolfo Costa Souza; Rosendo Pereira de Melo Neto; Rafael Alves de Araújo.

RESUMO EXECUTIVO
A patente concede ao inventor uma O caso histórico de licença compulsória no
exclusividade de mercado de 20 anos, Brasil ocorreu com um medicamento
garantindo a ele um retorno pelo grande antirretroviral para a Aids, o Efavirenz. O
investimento em pesquisa e desenvolvimento. É objetivo era a importação de produtores
uma forma de incentivo à atividade inovadora. internacionais sem patentes, e não a produção
No caso das vacinas, o tempo médio de local. A primeira ameaça brasileira ocorreu em
desenvolvimento é de 8 a 15 anos, sendo que, no 2001, com o início de negociações para redução
caso da Covid-19, o tempo foi reduzido para 10 do preço do Efavirenz, em 2006 e, finalmente, a
meses, exigindo investimentos maiores. licença compulsória, em 2007.
Tanto a vacina da Pfizer quanto a da Astrazeneca No caso da pandemia da Covid-19, o
tiveram financiamento majoritariamente licenciamento compulsório não geraria
privado, o que torna o seu desenvolvimento mais produção local de vacinas no curto prazo. A
dependente da patente. Já a Moderna contou Fiocruz e o Instituto Butantan, que produzem as
preponderantemente com recursos vacinas no Brasil, já estão com sua capacidade
governamentais. No mundo há, atualmente, 12 máxima de produção comprometida com as
diferentes vacinas contra a Covid-19 e uma vacinas Astra-Zeneca e Coronavac, e, em breve,
razoável variabilidade em relação aos preços com a produção da Butanvac. Com exceção dos
praticados, que vão de US$ 4 (Astrazeneca) para laboratórios públicos Fiocruz e Butantan, há
US$ 25 (Moderna) a dose. falta de expertise dos laboratórios privados
nacionais em desenvolver vacinas, ainda mais
A licença compulsória constitui um mecanismo
se não contar com o apoio de quem as criou.
de escape contra posicionamentos considerados
abusivos, arbitrários e desproporcionais por Há que se considerar também que medidas
parte dos que obtêm, do Estado, o restritivas unilaterais podem gerar retaliações a
reconhecimento da exclusividade de produção e países isolados. Por outro lado, ressalte-se que
comercialização do produto patenteado. As os EUA mudaram sua postura recentemente e
normas sobre este dispositivo são: podem apoiar a suspensão temporária das
patentes para vacina contra a Covid-19.

Norma internacional A estratégia do licenciamento compulsório deve


Acordo TRIPS (Trade-Related Aspects of ser comparada à iniciativa recente da
Intellectual Property Rights), da Organização diplomacia brasileira no âmbito da Organização
Mundial do Comércio (OMC): serviu de guia para Mundial de Comércio (OMC). Iniciativa recente de
que os países signatários, como o Brasil, Brasil, Austrália, Canadá, Chile, Colômbia,
adaptassem suas legislações internas sobre o Equador, Nova Zelândia, Noruega e Turquia
tema. defende o engajamento imediato da OMC nas
negociações para a ampliação da produção e da
Norma nacional
Lei nº 9.279/96: internaliza o Acordo TRIPS, distribuição de vacinas e de medicamentos,
tratando especificamente sobre licença aprimorando o combate à pandemia da Covid-19
compulsória em casos de emergência nacional em escala global de forma mais equitativa, em
ou interesse público no art. 71, regulamentado consonância com os instrumentos
pelo Decreto nº 3.201/99. internacionais de direitos humanos.

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