A CONTABILIDADE E A FISCALIDADE DAS AGÊNCIAS DE VIAGENS
Análise ao Dec. Lei 221/85
O Dec. Lei 221/85, legislação pela qual se regem as agências de
viagens e Organizadores de Circuitos Turísticos, nomeadamente para cálculo do IVA, têm por base os seguintes pilares fundamentais: As Agências de Viagens e Organizadores de Circuitos Turísticos, atuem em nome próprio perante o cliente e recorram a terceiros para a transmissão desses bens e prestações de serviços. Ou seja, faturam o serviço que estão a vender diretamente ao cliente e vão adquirir esse serviço a um fornecedor, que por sua vez fatura à agência.
- As operações embora possam conter vários serviços, são consideradas
uma única prestação de serviços e como tal sujeitas a IVA. - A prestação de serviços considera-se efetuada, ou no pagamento integral da viagem, ou imediatamente antes do início da viagem. - Considera-se início da viagem, a altura em que é efetuada a primeira prestação de serviços ao cliente - O valor tributável, ou seja, o valor considerado para cálculo do IVA é considerado tendo em conta o valor total da compra dos serviços e o valor total faturado ao cliente, a Margem obtida na venda daquele serviço.
- O IVA contido nos serviços adquiridos para beneficio direto do cliente, ou
seja, para venda ao cliente e a ele faturados, não têm direito à dedução de IVA.
- Só é dedutível o IVA suportado nas despesas gerais do estabelecimento
(água, eletricidade, telecomunicações e outros). APURAMENTO DO IVA
O Apuramento do IVA tem dois fatores determinantes para saber se a
operação que estamos a tratar está sujeita a IVA ou não. O valor da Operação, a Margem obtida na venda daquele serviço, poderá estar ou não sujeita a IVA. - Se os serviços forem prestados Dentro da União Europeia, Território Intracomunitário, a margem INCLUI IVA Á TAXA DE 23% - Se os serviços forem prestados Fora da União Europeia, em território Extracomunitário, a margem está ISENTA DE IVA. - O fator determinante para saber se a margem tem IVA ou não é a localização dos serviços, o local onde o viajante vai usufruir dos serviços que adquiriu.
PASSAGENS AÉREAS
Quando se fala de passagens aéreas, a ideia que temos é de que estão
isentas de IVA. Poderão estar, mas também poderão não estar. Se vendermos uma passagem aérea isolada, só voo com nenhum serviço associado, ela está efetivamente isenta de IVA. Se vendermos essa mesma passagem aérea em conjunto com outros serviços, basta um hotel, estamos perante um pacote e se o destino dessa viagem for a União Europeia, então a margem do bilhete de avião (a comissão) têm IVA incluído à taxa de 23%. VIAGENS DE AUTOCARRO/EXCURSÕES
As viagens de autocarro, as denominadas excursões têm um tratamento
muito especial. Por norma o agente de viagens atribui um custo ao autocarro para calcular a rentabilidade da viagem. No entanto contabilisticamente não se pode fazer. O custo do autocarro são as despesas suportadas nas despesas gerais da empresa: gasóleo, portagens, reparações, etc.
Numa excursão o que contabilisticamente é contabilizado como custo da
viagem são a alimentação, a estadia, caso haja, bilhetes de entradas em museus ou espetáculos, etc, tudo aquilo que é adquirido para beneficio do cliente. A margem da viagem é calculada pela diferença entre estes custos e o valor faturado aos clientes, que usufruiram da viagem.
PASSEIOS DE BARCO NOS RIOS
Saiu recentemente uma Informação Vinculativa da Autoridade Tributária,
a nº 18130 de 21/06/2021 sobre os Passeios Turísticos Fluviais e Atividades Conexas, em que vem esclarecer que estes serviços são tributados à taxa de 23% de IVA. NOTAS FINAIS
Este texto é um breve resumo dos princípios básicos em que assenta a
contabilidade e a fiscalidade das agências de viagens. Claro que não está aqui tudo dito nem esclarecido, pois só na prática surgem as dúvidas. No entanto o meu intuito é tentar ajudar a entender algo que não é tão complicado como o fazem parecer. É sobretudo essencial entender como funciona o negócio e é muito importante que o contabilista esteja em sintonia com o agente de viagens. Outro fator bastante importante e que muitas vezes não é tido em consideração, é o programa de gestão da agência de viagens. A contabilidade deverá estar articulada com ele, pois só assim é possível apresentar resultados fidedignos.