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Formas

farmacêuticas
básicas e derivadas
em homeopatia
Roberto Cesar Santos de Sousa

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

> Diferenciar formas farmacêuticas básicas e derivadas em homeopatia.


> Aplicar derivações homeopáticas centesimais, decimais e cinquenta-
-milesimais.
> Explicar as técnicas de dinamização de Korsakov e de fluxo contínuo.

Introdução
A composição de medicamentos homeopáticos corresponde a um misto de
insumos ativos e inertes em recipiente adequado, preparados de acordo com
os preceitos homeopáticos. O estado final dessas preparações define a cons-
tituição das formas farmacêuticas na homeopatia.
Assim como tudo o que envolve a especialidade farmacêutica da homeopatia,
a preparação de formas farmacêuticas também deve seguir os preceitos homeo-
páticos. Para isso, a farmacotécnica homeopática se vale de métodos oficiais
estabelecidos por Hahnemann e demais especialistas. Esses métodos, associados
a escalas, marcadores para a proporção final de insumo ativo na preparação,
são responsáveis por gerar os medicamentos capazes de apresentar a ação te-
rapêutica esperada.
124 Formas farmacêuticas básicas e derivadas em homeopatia

Neste capítulo, você vai estudar o que são formas farmacêuticas na homeopatia
e como as formas básicas originam as formas farmacêuticas derivadas. Vai conferir
como funcionam as escalas e qual é o papel delas na preparação final. Por fim,
você vai conhecer os métodos oficiais para preparação de formas farmacêuticas
homeopáticas, identificando as principais diferenças e suas aplicações.

Tintura-mãe e formas farmacêuticas


derivadas
Os medicamentos homeopáticos são administrados com o objetivo de prevenir
ou curar doenças pelo estímulo aos mecanismos e capacidades naturais que
o organismo tem de se curar, conforme o princípio da Lei dos Semelhantes,
ou da Semelhança (ANVISA, 2011; FONTES, 2012). Segundo esse princípio,
algumas substâncias que:

[…] em doses ponderáveis, tóxicas ou fisiológicas, forem capazes de provocar


no indivíduo aparentemente sadio, porém sensível, um conjunto sintomático
determinado, podem igualmente, em outros indivíduos doentes e sensíveis, fazer
desaparecerem os sintomas semelhantes, se forem descritas em doses hipofisio-
lógicas (KOLLITSH, 1960 apud FUTURO, c2021, documento on-line).

A formulação de medicamentos homeopáticos ocorre por meio de far-


macotécnica específica que trabalha a partir de uma preparação básica do
insumo ativo diluída e potencializada por métodos bem caracterizados, até
que se obtenha uma formulação derivada de interesse. Os insumos ativos
utilizados nos medicamentos homeopáticos são testados em indivíduos
sadios por meio de protocolos da homeopatia e têm diversas origens, como
vegetal, mineral e animal, sintética, farmacêutica e biológica (FONTES, 2012).
A maioria têm origem vegetal, podendo ser o organismo inteiro recentemente
colhido (a planta fresca, como Atropa belladonna, Aconitum napellus, Arnica
montana), o vegetal dessecado ou alguma de suas partes, como raiz, rizomas,
cascas, folhas, flores, sumidades floridas, frutos ou sementes. Podem ser
partes ou componentes mais específicos, como resinas, alcaloides, glicosí-
deos (como sarcódios) ou produtos patológicos de origem vegetal (nosódios).
Os medicamentos homeopáticos de origem mineral são os mais receitados
depois dos de origem vegetal e podem estar no estado livre na natureza (sal
marinho ou ouro em pó) ou precisam passar por processos de purificação e
transformações químicas para serem utilizados (Antipirinum ou Penicilinum).
Por fim, os medicamentos de origem animal representam a menor parcela das
Formas farmacêuticas básicas e derivadas em homeopatia 125

prescrições, podendo ser feitos a partir do animal recentemente sacrificado


ou dessecado, inteiro ou suas partes, bem como produtos fisiológicos ou
secreções patológicas e excreções (DIAS, 2003).
Para que um medicamento farmacêutico homeopático seja obtido, será
preciso a aquisição de uma tintura-mãe. A tintura-mãe, que também recebe os
símbolos representativos TM ou Ø, caracteriza-se como a formulação básica
que dará origem às demais preparações. Os principais meios de obtenção
das tinturas-mãe são a maceração, a percolação e a expressão (DIAS, 2003;
FONTES, 2012). A maceração consiste em manter a fonte do insumo ativo em
contato com o solvente extrator por um longo período, que pode chegar a
semanas. O solvente passa por filtração, e o filtrado é resguardado. Após
isso, o resíduo é prensado e filtrado, sendo o novo filtrado misturado com o
primeiro. Já a percolação consiste em umedecer de forma homogênea a fonte
do insumo ativo com solvente em um recipiente reservado, onde é deixado em
maceração por algumas horas. Após esse período, o material é acomodado
em percolador, onde repousará por 24 horas. Após o repouso, a torneira do
percolador é aberta, e o extrato é recolhido. A percolação é, então, repetida
de 4 a 10 vezes até obtenção do extrato final. Por fim, ocorre a expressão,
método de extração desenvolvido por Hahnemann, que corresponde à prensa
de material vegetal fresco picotado em pedaços pequenos com pano de linho
novo até obtenção de um suco, que é misturado em álcool e repousado em
frasco de vidro âmbar por alguns dias. Depois, é filtrado em filtro de papel
(ANVISA, 2011; FONTES, 2012; RODRIGUES et al., 2016).
Os métodos de extração empregados variam de acordo com a natureza do
insumo ativo que será utilizado na preparação da tintura-mãe. Em casos de
drogas frescas e rasuradas corretamente, funciona com efetividade a extra-
ção por maceração. Já a percolação não é indicada para extração de insumo
em pós, visto que pós muito finos podem compactar, e pós muito grossos
dificultam o contato do insumo com o solvente de extração. A expressão
apresenta como problema não considerar o conteúdo de água presente na
matéria vegetal (FONTES, 2012).
Com a tintura-mãe pronta, é possível obter as formas farmacêuticas
derivadas, que são preparações obtidas por meio da forma farmacêutica
básica ou da própria droga, como resultado do processo de dinamização.
A dinamização corresponde a diluições sucessivas dos insumos ativos obtidas
com seguidas sucussões ou triturações. A dinamização líquida é a diluição da
tintura-mãe ou droga solúvel em insumo inerte, seguida de sucussões. Já a
dinamização sólida ocorre por meio da trituração de droga insolúvel realizada
em lactose (DIAS, 2003; FONTES, 2012; LEMOS, 2017).
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A sucussão pode ser definida como a agitação vertical de maneira cons-


tante e vigorosa de soluções líquidas de insumo ativo em insumo inerte
adequado. Pode ser realizada de forma manual ou automatizada. Na primeira,
o manipulador realiza a agitação vigorosa de modo ritmado cem vezes contra
um anteparo semirrígido (uma espuma, por exemplo). O antebraço deve formar
um ângulo de mais ou menos 90° com o anteparo. Na segunda, utiliza-se um
dinamizador, que simula a agitação manual. O dinamizador é construído com
braços mecânicos que realizam movimentos oscilatórios em arco, culminando
em impacto periódico do frasco sobre um anteparo de poliuretano ou outro
material semirrígido e parada automática após cem sucussões, tornando
mais rápida a obtenção das potências (Figura 1). Com isso, o número de dina-
mizações aplicadas a uma forma farmacêutica derivada define sua potência
(DUTRA, 2011; FONTES, 2012; LEMOS, 2017).

Figura 1. Sucussão com dinamizador.


Fonte: Romanach (c2010, p. 16).
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Escalas aplicadas em formas derivadas


Na farmacotécnica homeopática, para preparar formas farmacêuticas deri-
vadas, empregam-se as escalas decimal, centesimal e cinquenta-milesimal.
Essas escalas identificam a proporção de insumo ativo para insumo inerte
presente na preparação farmacêutica (DUTRA, 2011; FONTES, 2012; LEMOS, 2017).
Na escala decimal, a diluição do insumo ativo em insumo inerte se dá
na proporção de um para dez (1:10). Essa escala foi criada por Hering nos
Estados Unidos e difundida por Vehsemeyer na Alemanha, países que mais a
aplicam. A justificativa por trás da proposta da escala decimal é aproximar
as quantidades manipuladas de insumos ativos e inertes, facilitando a pre-
paração e uniformizando as diluições (FONTES, 2012). Pode ser representada
nas formulações pelas siglas D, DH ou X. O D significa decimal, o X é a repre-
sentação em algarismos romanos, e o DH não só indica a escala, mas também
que a formulação foi preparada pelo método hahnemanniano. Na rotulagem,
quaisquer um desses símbolos devem ser precedido de um número, que indica
a potência da formulação, ou seja, o número de dinamizações realizadas na
preparação. Assim, uma preparação de Arnica montana em escala decimal
que passa por uma dinamização deve ser rotulada como Arnica montanai 1X,
D1 ou 1DH (caso o método tenha sido hahnemanniano) (FONTES, 2012).
A escala centesimal, por sua vez, foi criada pelo próprio Hahnemann e
trazida para o Brasil, sendo aqui a mais utilizada, por influência francesa.
Nesse caso, a diluição do insumo ativo no insumo inerte adequado acom-
panha uma proporção de um para cem (1:100). Assim com a escala decimal,
a centesimal também pode ser representada por siglas. São elas C, a ou CH,
sendo esta última, assim como DH, um indicativo da aplicação do método
hahnemanniano na preparação. Com isso, um medicamento homeopático
preparado na escala centesimal a partir de uma dinamização será rotulado
como 1C, 1a ou 1CH (FONTES, 2012).
Em exemplo da Farmacopeia Homeopática Brasileira, uma tintura-mãe de
origem vegetal (10%) tem força medicamentosa de 1:10, ou seja, 1 parte da
droga está contida em 10 partes de tintura-mãe. Para a 1a trituração cente-
simal, colocar 10 partes da tintura-mãe para 100 partes de lactose (ANVISA,
2011). Observe a Figura 2.
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Figura 3. Preparação em escala centesimal.


Fonte: Adaptada de Vida Holística (2014).

Quando o rótulo de uma preparação farmacêutica homeopática


apresentar o insumo ativo com a devida potência aplicada, mas
sem sigla indicativa de escala, significa que a escala centesimal foi aplicada.
Por exemplo, uma preparação de dicromato de potássio de potência 10 iden-
tificada como Kalium bichromicum 10 indica que a escala do medicamento é
centesimal (FONTES, 2012).

A última escala aplicada é a cinquenta-milesimal. Também criada por


Hahnemann, representa uma diluição do insumo ativo em insumo inerte ade-
quado em uma proporção de uma parte para cinquenta mil (1:50.000). Essas
preparações medicamentosas homeopáticas, assim como as demais, também
são representadas por siglas. As formas em escala cinquenta-milesimais são
identificadas no rótulo pelas siglas Q ou LM. Então, medicamentos homeo-
páticos na escala cinquenta-milesimal preparados por uma dinamização são
identificados por 1Q ou 1LM (FONTES, 2012).
A preparação em escala cinquenta-milesimal pode ser construída a partir
da droga de origem mineral ou biológica, preferencialmente fresca, mas, caso
ela seja preparada tendo como base uma tintura-mãe, é preciso proceder
com a correção da força medicamentosa. Nesse caso, para a correção da
força medicamentosa, será preparado uma trituração em escala centesi-
mal em potência 1 (1CH). A lactose utilizada é dividida em três partes iguais.
A primeira parte de lactose é colocada em gral de porcelana para tapar os
poros do material, sendo posteriormente adicionada a essa terça parte a
tintura-mãe. Após evaporação do líquido, em temperatura inferior a 50°C,
seguir com a técnica de trituração (ANVISA, 2011; DUTRA, 2011).
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Para a correta farmacotécnica de medicamentos homeopáticos, a mani-


pulação deve ocorrer a partir do momento em que se dispõe sobre a ban-
cada de manipulação a quantidade de frascos necessária para a potência da
preparação. Cada frasco utilizado deve ter 2/3 de sua capacidade ocupada
pelo insumo inerte da preparação, independentemente se a escala utilizada
é centesimal ou decimal (ANVISA, 2011).
No Brasil, existe uma quarta escala, conhecida como dinamização espe-
cial (SD). Foi proposta para trabalhar com proporções de um para cem mil
(1:100.000) e é preparada a partir de uma formulação 4CH de duplo passo
(DIAS, 2003; FONTES, 2012):

„ 1 parte da 4CH + 99 partes de etanol a 70% + sucussão = solução


intermediária lSD;
„ 1 parte da solução intermediária lSD + 999 partes de etanol a 70% +
sucussão = lSD.

Para preparações de mais dinamizações na escala SD, é preciso repetir


o processo de duplo passo. Note, porém, que essa escala não é oficializada
e não está presente na 3ª edição da Farmacopeia Homeopática Brasileira
(FONTES, 2012).
É preciso salientar que não é possível assumir equivalência terapêutica
de preparações obtidas em escalas diferentes, mesmo que o resultado in-
dique proporções idênticas do mesmo insumo ativo. Tendo em vista duas
preparações do mesmo insumo ativo nas escalas 2DH e 1CH, observa-se que
ambas apresentam o insumo ativo em proporção de uma parte para cem no
total (1:100). Mesmo assim, as potências das preparações não são as mesmas.
Assim, mesmo que as preparações tenham uma equivalência quantitativa,
elas não são iguais do ponto de vista qualitativo (FONTES, 2012).

Métodos de preparação de formas


farmacêuticas derivadas
Medicamentos homeopáticos podem ser preparados por meio de três métodos:
hahnemanniano, korsakoviano e de fluxo contínuo.

Método hahnemanniano
O método hahnemanniano, criado por Hahnemann, é subdividido em três
tipos: frascos múltiplos, trituração e cinquenta-milesimal.
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O chamado método dos frascos múltiplos, ou clássico, é aplicado à prepa-


ração de formas farmacêuticas derivadas em escalas decimal e centesimal.
Enquadra-se na manipulação de medicamentos a partir de tinturas-mães e
drogas solúveis. No método hahnemanniano para drogas solúveis, inicia-se
o processo com a utilização de tinturas-mãe e drogas solúveis no insumo
inerte a ser aplicado com solubilidade igual ou superior a 10% (DH) ou a 1%
(CH). Os insumos que podem ser utilizados são água purificada ou etanol em
diferentes graduações (DUTRA, 2011).
Já o método da trituração é aplicável à manipulação de drogas insolúveis
em formas farmacêuticas de escalas decimal e centesimal ou para drogas
solúveis e insolúveis em preparações de escala cinquenta-milesimal. Até
as três primeiras dinamizações na escala centesimal ou nas seis primeiras
na escala decimal, deve ser utilizado etanol com mesmo título etanólico da
tintura-mãe. Caso a fonte do insumo ativo seja mineral solúvel, podem ser
empregadas tanto água purificada quanto solução alcoólica. Para estoque
e preparação das demais formas farmacêuticas derivadas, a Farmacopeia
exige uso de etanol a 77% (v/v) ou superior. Já para dispensação, seja a escala
decimal ou a centesimal, é preciso utilizar etanol 30% (v/v). Agora, caso as
preparações a serem dispensadas não ultrapassem as potências de 3CH e
6DH, será preciso informar ao cliente/paciente de que o medicamento deve
ser administrado diluído em água, visto que essas preparações terão o mesmo
teor alcoólico da tintura-mãe (ANVISA, 2011; DUTRA, 2011).
Nos casos de manipulação de drogas insolúveis cuja solubilidade seja
inferior a 10DH ou 1CH no insumo inerte líquido, o método da trituração é
aplicável com lactose, sendo o insumo inerte para a fase sólida; diluição e
sucussão para a fase líquida. Assim, a lactose é utilizada como insumo inerte
até a terceira trituração em formas farmacêuticas de escala centesimal e até
a sexta trituração na escala decimal, desde que não haja nenhuma especifi-
cação de solubilidade presente em monografia da Farmacopeia Homeopática
Brasileira. Esses triturados de até 3CH ou 6DH podem ser armazenados em
recipientes fechados, identificados e com proteção da luz (ANVISA, 2011).
Após as triturações, se forem aumentadas as potências das formas farma-
cêuticas, é preciso utilizar etanol em diferentes graduações. Para solubilizar
triturações de 6DH, a deve-se aquecer água purificada a uma temperatura
entre 40°C e 45°C e utilizar 9 partes dessa água sobre 1 parte da trituração de
6DH, homogeneizando até completa dissolução e resfriamento. Em seguida,
sucussionar 100 vezes para obter a 7DH. Essa preparação intermediária não
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pode ser estocada. Para dispensação da 8DH, utilizar etanol 30% (v/v). Caso
seja para estoque, utilizar etanol 77% (v/v). Caso a trituração a ser solubilizada
esteja na escala centesimal, é preciso dissolver 1 parte do triturado em 80
partes de água purificada, completando com 20 partes de etanol a 96% (v/v)
e sucussionar 100 vezes, para obter a 4CH. Essa preparação intermediária
também não pode ser estocada. Demais dinamizações devem ser preparadas
em etanol de graduação igual ou superior a 77% (v/v) para estoque e a 30%
(v/v) para dispensação (ANVISA, 2011).
Por fim, o terceiro tipo de método hahnemanniano é o cinquenta-milesimal,
aplicável especificamente para preparar formas farmacêuticas derivadas
na escala cinquenta-milesimal (LM), cujo insumo ativo tenha origem mine-
ral ou animal e vegetal, desde que essas últimas estejam frescas ou sejam
trabalhadas a partir de tinturas-mãe. Os insumos inertes em preparações
do método da cinquenta-milesimal são lactose e microglóbulos para a fase
sólida e água purificada e etanol em diferentes graduações para a fase líquida
(DUTRA, 2011; FONTES, 2012).

Método korsakoviano
O método korsakoviano (K), também conhecido como método do frasco único
ou método de fluxo descontínuo, foi desenvolvido por Korsakov, oficial do
exército russo em 1832. O objetivo fundamental da proposta era uma alter-
nativa mais simples para o método hahnemanniano (FONTES, 2012).
O método korsakoviano propõe que a dinamização da preparação home-
opática seja realizada sempre em um mesmo frasco. Após uma dinamização,
o frasco é esvaziado e o restante de líquido impregnado nas paredes internas
do frasco contém uma quantidade equivalente a um centésimo do volume
dinamizado, precisando de mais 99 partes do insumo inerte utilizado no
processo para uma próxima dinamização (FONTES, 2012).
Para manipulação de formas farmacêuticas derivadas pelo método kor-
sakoviano, o manipulador deve partir de uma matriz na potência 30CH em
etanol a 77% (v/v), colocando-a em quantidade suficiente em um frasco,
de modo que ocupe de 1/2 a 2/3 de sua respectiva capacidade. Emborca-se o
frasco, deixando o líquido escorrer livremente por cinco segundos. Adiciona-se
o insumo inerte na quantidade previamente estabelecida e sucussiona-se
por 100 vezes. A resultante dessa operação corresponde à 31K. Repete-se
esse procedimento para obter as dinamizações subsequentes (ANVISA, 2011).
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Segundo a 3ª edição da Farmacopeia Homeopática Brasileira, matriz


pode ser definida como o insumo ativo de estoque para a preparação
de medicamentos homeopáticos ou formas farmacêuticas derivadas (ANVISA, 2011).

A proposta do método korsakoviano é acompanhada com imprecisões


que podem levar ao questionamento de sua aplicação. Esse método não leva
em consideração fatores que podem modificar a escala final da preparação,
como viscosidade da solução, o tamanho e a porosidade do frasco e a força
aplicada na dinamização. Por isso, a aplicação do método korsakoviano é mais
comum no preparo rápido de formas farmacêuticas homeopáticas derivadas
de altas potências (no Brasil, esse método é utilizado em preparações a partir
de 30C) e quando há limitação de frascos de vidro limpos e inativados para
manipulação (FONTES, 2012).
Medicamentos homeopáticos manipulados pelo método korsakoviano
devem ser dispensados a partir da potência de 31K até o limite de 100.000K.
É proibida a estocagem de medicamentos preparados por esse método.
Além disso, devem ser armazenados em frascos de vidro âmbar e conter a
determinação do prazo de validade caso a caso (ANVISA, 2011; DUTRA, 2011).

Método de fluxo contínuo


O método de fluxo contínuo (FC) foi desenvolvido pelo americano James Tyler
Kent, médico projetista do dinamizador que introduziu na homeopatia a
aplicação de formas farmacêuticas com elevada potência. Deve ser aplicado
em formas farmacêuticas com 30 ou mais dinamizações, mesmo caso do
método korsakoviano (ANVISA, 2011; FONTES, 2012).
O método de fluxo contínuo agiliza o processo de manipulação, já que a
diluição e a agitação ocorrem simultaneamente. Também se inicia em matri-
zes de potência 30CH preparadas em etanol 77% (v/v) como insumo inerte.
O líquido a ser dinamizado deverá ocupar 1/2 a 2/3 da capacidade do frasco.
A câmara de dinamização única deve ter um controle de vazão que garanta
fluxo contínuo e constante de insumo inerte de forma controlada, para que,
no final de 100 rotações, o conteúdo da câmara seja completamente reno-
vado. Assim como o método korsakoviano, o método de fluxo contínuo não
apresenta escala definida (ANVISA, 2011; DUTRA, 2011).
Formas farmacêuticas básicas e derivadas em homeopatia 133

No método de fluxo contínuo, 100 rotações equivalem a 100 su-


cussões, já que, a cada 100 rotações, uma nova potência é obtida.
Isso se dá em meio a um processo de diluição e tubilhamento mecanizado em
equipamento próprio (ANVISA, 2011).

O equipamento para execução do método de fluxo contínuo deve apre-


sentar algumas características. A câmara de dinamização deve apresentar
capacidade volumétrica estabelecida e com fluxo constante de entrada e saída
de insumo inerte. a entrada de água deve ocorrer junto ao centro do vórtice
da formulação em dinamização, provocando o turbilhamento do líquido na
câmara antes de ser expulso. A vazão deve estar sincronizada com o ritmo
de rotações do motor. A potência da preparação será alcançada a partir do
tempo de funcionamento do equipamento, momento em que o fluxo de entrada
do insumo inerte e o motor do equipamento devem ser desligados simulta-
neamente. Da câmara dinamizadora deve ser retirado o volume necessário
para que sejam realizadas em seguida mais duas dinamizações centesimais
hahnemannianas em etanol a 77% (v/v) ou superior. Por fim, as preparações
pelo método de fluxo contínuo só podem ser estocadas quando preparadas
em potências de etanol a 77% (v/v) e dispensadas em potências de 200 a
100.000FC (ANVISA, 2011; DUTRA, 2011).

A metodologia de preparo de medicamentos homeopáticos surgiu junto aos


pensamentos de Hahnemann para dar origem ao medicamento dinamizado.
Em adição a esse cenário, observou-se o aparecimento de novas propostas
e métodos. Com isso, também estão consolidados os métodos korsakoviano
e de fluxo contínuo como alternativas para preparação de medicamentos
de altas potências. Esses métodos evoluíram com a medicina homeopática
até os conhecimentos que se encontram estabelecidos nas farmacopeias e
compêndios espalhados pelo mundo. Em meio a isso tudo, a proposta da
dinamização especial serve como lembrete de que a homeopatia está em
amplo crescimento e tem mais a evoluir e apresentar, sempre tendo como
base os princípios da similitude e o objetivo de ser uma alternativa médica
viável à população.
134 Formas farmacêuticas básicas e derivadas em homeopatia

Referências
ANVISA. Farmacopeia homeopática brasileira. 3. ed. Brasília, DF: Anvisa, 2011. Dis-
ponível em: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/farmacopeia/farmacopeia-
-homeopatica/arquivos/8048json-file-1. Acesso em: 19 maio 2021.
DIAS, A. F. Fundamentos da homeopatia: princípios da prática homeopática: curriculum
minimum. Rio de Janeiro: Cultura Médica, 2003.
DUTRA, V. C. Farmacotécnica homeopática. Rio de Janeiro: REDETEC, 2011. Disponível
em: http://respostatecnica.org.br/dossie-tecnico/downloadsDT/NTQzNQ==. Acesso
em: 22 maio 2021.
FONTES, O. L. Farmácia homeopática: teoria e prática. 5. ed. Barueri: Manole, 2012.
FUTURO, D. O. Fundamentos da homeopatia. Florianópolis: Universidade Federal
de Santa Catarina, c2021. Disponível em: https://ares.unasus.gov.br/acervo/html/
ARES/647/1/Fundamentos_da_filosofia_homeopatica.PDF. Acesso em: 9 jun. 2021.
LEMOS, L. R. Avaliação de diferentes potências das medicações homeopáticas argentum
metallicum e arsenicum album: a busca do entendimento científico da homeopatia.
2017. Dissertação (Mestrado) – Universidade de Brasília, Brasília, DF, 2017. Disponível
em: https://repositorio.unb.br/handle/10482/24644. Acesso em: 26 maio 2021.
RODRIGUES, F. A. et al. Obtenção de extratos de plantas do cerrado. Enciclopédia
Biosfera, v. 13, n. 23, 2016. Disponível em: http://www.conhecer.org.br/enciclop/2016a/
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ROMANACH, A. K. Farmacotécnica homeopática. Curitiba: Homeopatia Explicada, c2010.
VIDA HOLÍSTICA. Técnica homeopática de Hahnemann. [S. l.]: Vida Holística, 2014. Dispo-
nível em: https://vidaholisticablog.wordpress.com/2014/11/23/tecnica-homeopatica-
-de-hahnemann/. Acesso em: 9 jun. 2021.

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