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Eles são os garotos sobre os quais sua mãe sempre
alertou.

Eles são o pior pesadelo de todos os pais.

Arrogantes, presunçosos e seguros de si.

Eles usavam a cidade de Sandland como se fosse seu


próprio playground pessoal.

Eles não seguiam as regras.

Eles criavam as suas próprias regras.

A maioria das garotas eram atraídas por eles como uma


mariposa a uma chama, mas Emily Winters não era como
a maioria das garotas.

Filha de um político.

Uma boa garota com moral e princípios.

Ela representava tudo o que eles desprezavam.

O único problema era que ela vivia sua vida em uma


cortina de fumaça perfeitamente orquestrada; e onde há
fumaça, geralmente há fogo.

Eles queriam expô-la pelo que ela era; uma pequena


mentirosa que escondia verdades muito feias.

Mas quando a verdade se revelar e as mentiras forem


expostas, quem será o único a eventualmente cair e
queimar?
Não sei por que esperava que algo fosse diferente.

Por que meus pais mudariam o hábito de uma vida inteira e


me colocariam em primeiro lugar? Quer dizer, é apenas meu
aniversário de dezoito anos. Não é grande coisa, certo? E ainda
assim, quando eles disseram que queriam me dar uma festa,
aquela garotinha que eu normalmente mantinha escondida do
mundo, aquela que viveu nas sombras por todos esses anos,
ansiando por qualquer migalha de atenção que a dessem, ficou
animada que talvez eles fizessem algo altruísta.

Mas não.

A ideia de comemorar a maioridade de sua única filha acabou


se revelando uma festa pretensiosa de gala no jardim, cheia de
pessoas influentes que queriam trocar ideias, mas secretamente
desprezadas a portas fechadas. Homens e mulheres que eu nunca
conheci antes, que não tinham a menor ideia do que este dia
significava para mim. Para eles, era um bilhete dourado para
enfeitar as páginas sociais de alguma revista sem cérebro. Uma
espiada atrás das cortinas do que era a perfeita propriedade da
família Winters.

Para mim, era tão falso quanto seus lábios inflados e sorrisos
congelados de Botox.
Por que eu esperava que alguma coisa pudesse mudar?

Tinha que admitir que meus pais tinham feito um trabalho


excelente fazendo nosso jardim parecer mágico; sobrenatural. Uma
cortina de fumaça simulada de perfeição que deixaria até David
Blaine maravilhado. Havia luzes de fadas nas árvores, garçons e
garçonetes circulando com bandejas de champanhe e canapés. Até
os arranjos de flores feitos sob medida eram uma façanha de
engenharia artística, torcendo-se em arcos que minha mãe havia
construído especialmente para hoje.

Se você não soubesse melhor, pensaria que isso era um


casamento.

Quem trouxe arranjos de flores para um jardim já cheio de


flores?

Minha mãe, é óbvio.

Meu pai também havia feito sua parte, supervisionando a


montagem de um palco extravagante dentro da marquise
sufocante e habilmente orquestrada, mas não havia nenhum DJ
definido, nenhuma banda tocando. Este palco era para ele se
dirigir ao seu público dedicado. Para que eles soubessem que pai,
marido e pilar da comunidade honesto era seu membro do
Parlamento.

Nossas vidas inteiras foram uma oportunidade para fotos.


Uma chamada de imprensa.

Éramos sua passagem para vencer a próxima eleição, e era


isso que vinha em primeiro lugar, sempre.

Eu ainda não tinha esquecido como ele usou a morte do meu


irmão para aumentar sua popularidade nas pesquisas. Tenho
certeza de que ele não pretendia fazer isso, não diretamente, de
qualquer maneira. Mas a dor que eu sentia todos os dias parecia
ter passado por ele muito rapidamente. Não havia espaço para
emoção na política... e nas famílias, aparentemente. Meu pai havia
levado o ‘mantenha a compostura’ a um nível totalmente novo.

De pé na porta, que leva ao nosso terraço, rezei para me


misturar ao fundo, camuflada do calor de seus olhares e pseudo
simpatia. Geralmente funcionava. Eu era uma sombra em meu
mundo. Uma espectadora de minha própria vida. Alguém sem
importância neste dia.

Alisei minhas mãos para baixo no vestido branco chato que


minha mãe insistiu que eu usasse. A mistura de lã pesada do
material aderiu a cada curva, mas não de uma forma sexy e
sedutora. Não, senti-me como se estivesse sendo sufocada por
uma cobra, sufocando meu corpo e me deixando sangrando. Gotas
de suor escorriam pelas minhas costas enquanto eu tentava
parecer que estava confortável e à vontade com tudo ao meu redor.
Eu não estava. Preferia ter ficado no meu quarto assistindo a uma
série da Netflix, comendo os Doritos que tinha escondido debaixo
da minha cama, escondido da minha mãe. Deus me livre de comer
tal lixo e ganhar alguns quilos a mais. Parecia e sentia que estava
indo para uma entrevista, não para uma festa. A saia do meu
vestido restritivo chegava com segurança abaixo do joelho e meus
cachos castanhos escuros estavam presos em uma torção que
espelhava os de minha mãe.

O pacote perfeito para os tabloides.

Fumaça e espelhos não afetavam minha família. Éramos um


maldito fogo de contradições e falsidades. Meu aniversário de
dezoito anos e, ainda assim, este era o último lugar que eu queria
estar.
— Emily, pare de se curvar. Lembre-se de sua postura e
sorriso, pelo amor de Deus. Um Winters está sempre em exposição.
A última coisa que precisamos é de uma foto sua carrancuda
espalhada por toda a internet. Você sabe que lá fora, eles são como
abutres.

Minha mãe passou por mim e desceu os degraus que levavam


ao jardim. Seu perfume floral girava no ar ao nosso redor, fazendo
meu peito já pesado parecer que estava se afogando. Eu olhei para
trás de sua cabeça, mas me impedi de revirar os olhos. Em vez
disso, dei um suspiro.

— Obrigada pela festa. É lindo ver tantos amigos meus aqui.


Oh, espere! Você não convidou nenhum deles. Essa festa foi feita
para mim?

Ela parou no meio do caminho e graciosamente se virou para


me encarar, pintando aquele sorriso bem ensaiado dela.

— Seu pai teve muito trabalho para organizar isso para você.
Existem algumas pessoas muito influentes aqui hoje. Você poderia
mostrar um pouco de gratidão, mocinha. — Seu rosto permaneceu
calmo e sereno, mas seu tom era afiado como uma faca. Se não
tivéssemos convidados, ela seria uma versão completamente
diferente da minha mãe. Esta era a versão 2.0. Acho que preferia
a outra. Pelo menos aquela era real.

— Grata? Por que devo ser grata por passar meu aniversário
com pessoas que não conheço? Eu sou a única aqui com menos
de trinta anos. Esta festa é uma merda.

— Cuidado com a linguagem, Emily. — Ela voltou a subir os


degraus e agarrou meu braço, levando-me para o gramado e em
direção à marquise, como uma criança.
— É, no entanto. É uma chance para você e papai darem outro
show. Engane a imprensa fazendo-a pensar que somos a família
dos pôsteres da Grã-Bretanha moderna. Que pena que somos tão
fodidos atrás de portas fechadas, mãe. — Tento me libertar de suas
garras, mas ela não aceita.

— Olha esse linguajar! Nem tudo é sobre você, Emily.

E aí estava, em poucas palavras. Não, nada nunca foi sobre


mim.

Eu era uma criança mimada, procurando a atenção de seus


pais? Talvez. Mas então, eu nunca tive isso. Nem mesmo quando
criança. Eu era uma solitária na minha própria família. Preferia
me considerar uma rebelde enrustida. Fazendo a coisa certa em
público, mas secretamente fantasiava fazer algo para me libertar
dessas cadeias sufocantes de dever. Eu não tinha escolhido esta
vida. Por que deveria me conformar com as restrições colocadas
sobre mim por causa disso?

— Você não reclamou esta manhã quando viu o colar da


Tiffany. — Minha mãe cospe. — Agora, você precisa merecer esse
presente seguindo os limites. Não decepcione seu pai.

Ela estampou seu sorriso premiado, deslumbrando os homens


e fazendo as mulheres cerrarem as mandíbulas e segurarem seus
parceiros um pouco mais apertados. Essa era minha mãe. A rosa
inglesa por excelência. Uma beleza que sabia seu valor e não tinha
medo de exibi-la.

Entramos na marquise, onde meu pai estava presidindo a


corte com um grupo de homens, fumando charutos e rindo. Fiz
meu papel de filha perfeita e segui minha mãe, então quando papai
nos viu, ele parou e nos apresentou ao grupo, colocando um braço
em volta de cada uma de nós e sorrindo. Ele beijou mamãe e depois
me beijou no topo da cabeça. Eu sorri para ele, porque apesar de
tudo, eu o amava. Eles tinham seus defeitos, mas eu amava os
dois. Afinal, eles eram minha mãe e meu pai, mas, no fundo,
gostaria que percebessem que eu também precisava deles.

— Eu não posso acreditar que nossa pequena Em está com


dezoito anos hoje — papai diz com orgulho em seus olhos.

— Alec, Anthea, vocês não são velhos o suficiente para ter uma
filha adulta — responde um dos homens, erguendo o copo em um
brinde aos meus pais. Não a mim. Ah, não. Um brinde a eles por
me criarem e por continuarem parecendo tão jovens.

Bem-vindo a minha vida perfeita.

— É maravilhoso o que um bom cirurgião plástico pode fazer


hoje em dia, não é? — Outro cara de terno gargalha, mas minha
mãe não concorda. Seu rosto congela. Humor não era seu ponto
forte.

Eu? Não pude deixar de conter uma risada. Duvido que ele
seja convidado para uma de suas festas novamente.

— Ela é uma beleza natural, minha Anthea. — Papai sorri para


ela e ela sorri de volta. Eu apenas fiquei ali sentindo-me
entorpecida, como um acessório em seu mundo perfeito.

— Não é hora do seu discurso, Alec? — Mamãe acena com a


cabeça para o palco e guia papai e eu para longe do contador de
verdades de rosto vermelho. Acho que ele ficou feliz com a saída
deles também.

Nós fomos para o palco quando a multidão começou a se


reunir e um silêncio suave subiu sobre a marquise. Meu pai estava
no centro do palco, com minha mãe à sua direita e eu à esquerda.
— Senhoras e senhores, muito obrigado por virem aqui hoje
para nos ajudar a comemorar algo tão maravilhoso e tão
importante para nossa pequena família. — Ele olha para mim e
sorri. — Minha filha não só está fazendo dezoito anos, mas hoje
conquistamos uma vitória marcante em nossa campanha. Nossa
guerra contra a cultura das drogas que atormentou nossa geração
mais jovem por muito tempo está finalmente colhendo seus frutos.
A mentalidade de gangue que está tentando desesperadamente se
infiltrar em nossa pequena cidade está morrendo. Isso tudo graças
ao apoio que vocês me deram durante meu atual mandato. Mas
ainda não terminamos.

Senti o nó na minha garganta endurecer e cravei minhas


unhas nas palmas das mãos para me impedir de chorar.

— Como todos vocês sabem, meu filho, Daniel, morreu


tragicamente em um acidente de carro no dezembro passado.
Ainda temos muitas perguntas sem respostas sobre os eventos que
levaram à sua morte. O que aconteceu naquela noite ainda
permanece um mistério para nós. Não me interpretem mal, a
polícia foi além de nossas expectativas, mas há pessoas lá fora;
rapazes e moças, que sabem mais do que dizem. Então, para eles
eu digo o seguinte... Vamos fazer justiça para Daniel. Vamos
descobrir a verdade. E quando o fizermos, saiba que iremos atrás
daqueles com sangue nas mãos.

— Não passa um dia sem que ele não esteja em nossas mentes.
Desejamos que a vida seja diferente e nunca queremos que outra
família passe pelo que vivemos. É por isso que minha esposa e eu
lutamos incansavelmente para trazer para o primeiro plano as
questões das drogas e do álcool na juventude de hoje. Existe um
vírus em nossa sociedade; um mal que precisa ser eliminado. As
estatísticas sobre os folhetos distribuídos explicam um pouco mais
sobre...
Eu perco o foco. Não posso ouvir esse discurso novamente.
Sabia as estatísticas de cor. Eu conhecia a mensagem que ele
estava enviando por meio de seu trabalho, porque vivi e respirei
por meses. Eu amava meu irmão com cada centímetro da minha
alma, mas não poderia ficar aqui e ouvir mais um minuto de sua
morte sendo destruída. Aplaudi meu pai, mas no meu aniversário,
a última coisa que eu queria era lembrar porque meu irmão não
estava aqui para comemorar comigo.

— Você precisa se livrar dessa desculpa esfarrapada para uma


festa — ele provavelmente diria se estivesse aqui. — Vá lá e divirta-
se de verdade, Ems.

Sorrio, imaginando-o fazendo algum gesto rude no jeito de


papai, como sempre fazia, e enquanto eu abafava a voz do meu pai,
me perdi em pensamentos sobre o Danny de que me lembrava.
Atrevido, insolente como a mãe o chamava e um amante da vida.

— Portanto, hoje, gostaria de convidar todos vocês a fazerem


uma doação para a nossa causa e se juntarem a nós nesta cruzada
de todas as maneiras que puderem. Fizemos grandes avanços no
combate à cultura da bebida, das drogas e na erradicação do
elemento criminoso que assola nossas ruas. Vamos fazer o mesmo
nas nossas estradas também. Tomar esta cidade de volta e usar
nosso poder; crescer com isso. Fazer deste um lugar mais seguro
para todas as nossas crianças. Tenho certeza de que não preciso
lembrá-los de que, com as próximas eleições, precisamos de todo
o apoio que pudermos obter. Lembrem-se... Winters for the Win.
Obrigado.

A marquise explodiu em um mar de aplausos e meu pai


segurou nossas mãos e as ergueu, como se estivesse ganhando a
corrida em algum comício político. Minha mãe deu a ele o olhar de
adoração que garantiria a primeira página dos jornais para eles
amanhã. E concentro-me em respirar, desejando poder afundar no
chão para escapar dos olhares lamentáveis que as pessoas
estavam me dando.

Ouço vozes altas ao longe e olho por cima das cabeças dos
convidados, percebendo algum tipo de comoção acontecendo na
porta da casa. A equipe de segurança estava falando em seus fones
de ouvido e marchando em sua direção. Quando vejo minhas duas
melhores amigas saindo de casa, eu soube o porquê. Eles não
queriam nenhum convidado indesejado, e meus amigos não eram
bem-vindos na minha festa de aniversário de dezoito anos. Vai
saber.
Marcho pelo gramado perfeitamente cuidado, como uma
mulher em uma missão, e chego à porta no momento em que um
dos seguranças estava manipulando Liv, se preparando para
expulsá-la. Ela estava dando o melhor que podia, dizendo-lhe em
termos incertos o idiota que ele era.

Não podia acreditar que elas apareceram aqui. Elas devem ter
ouvido que eu estava presa na zona de penumbra do inferno dos
pais. Sorri para seus jeans skinny rasgados e tops justos. Elas
também não devem ter recebido o memorando sobre o código de
vestimenta de merda para minha pequena festa. Inferno, elas não
receberam nenhum memorando. Elas não foram convidadas. Elas
eram minhas super-heroínas pessoais se lançando para salvar o
dia.

— Você não poderia ter vindo em melhor hora. — Suspiro e me


viro para encarar o segurança que ainda segurava Liv em um
aperto mortal. — Você pode deixá-la ir agora. Ela não é uma
penetra.

Liv dá um risinho e Effy apenas parece mortificada com tudo


isso.

— Os nomes delas não estão em nossa lista de convidados,


senhora. — O segurança faz o esforço de parecer arrependido ao
saber que estava falando com a filha do chefe. Não que isso fizesse
alguma diferença. Ele provavelmente teve mais voz sobre este
evento do que eu.

— Você está olhando para a lista de convidados errada.


Experimente aquela intitulada não-puxadores-de-saco. — Dou
uma cotovelada nele enquanto suas narinas dilatam com a minha
insolência. Não me importo. Ele foi rude com minhas amigas, então
isso me deu rédea solta.

— Por favor, me diga que vocês não vieram passar o resto da


noite de sexta-feira aqui nesta homenagem às esposas de
Stepford? Por mais que eu ame vocês, garotas, realmente preciso
de um cartão de liberdade para sair da prisão. — Eu nos conduzo
pelo saguão até o corredor e longe da pompa e da cerimônia. Mais
um minuto na companhia dos amigos falsos dos meus pais e eu
entraria em combustão interna.

— Você realmente acha que estaríamos aqui para saborear


mocktails e ficar no tédio com aqueles velhotes? — Liv ri,
levantando o nariz. — Viemos aqui para buscá-la e levá-la para
onde a verdadeira festa está acontecendo esta noite, e é o mais
longe possível de bebidas ruins e puxadores de saco.

Isso é o que eu amava em Liv. Ela era o tipo de garota séria e


direta. Se alguma vez houve uma mulher mal-humorada que você
gostaria de ter ao seu lado, era ela.

— Graças a Deus. Cara, vocês são incríveis. Eu tenho tempo


para trocar de roupa? Pareço uma aberração com este vestido. —
Olho para a monstruosidade branca e fiz uma careta.

— Desculpe, não pode. Estamos atrasadas. O tempo está


passando e sua carruagem espera, Cinderela, — Liv diz, correndo
para a porta.
— Você tem toque de recolher hoje à noite? — Eu rio da
tentativa de Effy de permanecer dentro das linhas de
comportamento adolescente aceitável. Onde eu tinha o diabo, Liv,
sentada em um ombro, Effy era meu anjo, empoleirado do outro
lado.

— Duvido. Acho que meus pais estarão muito absortos em


atrair a imprensa para perceber onde estou. Vamos fazer isso. Meu
aniversário de dezoito anos foi péssimo até agora, mas tenho a
sensação de que vocês vão mudar isso para mim.

Eu já podia sentir a onda de excitação passando por mim.


Estava pronta para qualquer coisa esta noite. Depois de dezoito
anos dessa merda, era hora de me libertar.

Fui para a garagem, onde Effy estacionou entre todos os carros


de alto desempenho e 4x4. As duas desceram correndo os degraus
e atravessaram o cascalho, mas eu só pude cambalear com meus
saltos ridículos e praguejar baixinho sobre as restrições de meu
vestido.

— Tem certeza de que não há tempo para eu me trocar?

— Pare de choramingar — Liv diz enquanto pula no banco da


frente ao lado de Effy. — Eu acho que você está bonita. Além disso,
não vamos perder você esta noite. Você irá se destacar na festa.

— Obrigada. Agora sinto-me muito melhor. — Reviro os olhos


que estava segurando o dia todo e pulo no banco de trás.

— Puxe seu cabelo desses cachos e solte, isso ajudará a


suavizar a aparência — Effy diz, tentando me fazer sentir melhor.
Eu apenas suspiro e puxo os grampos que prendiam meus cachos
no lugar, então os afofo e gemo com a sensação de finalmente
soltar meu cabelo.
— Então, para onde vamos? Posso ter dezoito anos, mas não
tenho certeza se vou entrar em algum dos clubes da cidade. Não
tenho nenhuma identificação comigo. — Eu não trago nada. Minha
bolsa estava vazia. Tudo que eu tinha era meu batom e telefone.

— Relaxe, Em. Nós cuidamos de tudo. — Liv pisca do banco


da frente e meu coração dispara e afunda ao mesmo tempo.

Eu sabia o que esta frase significava. Não estávamos indo para


um clube ou bar. Ah, não. Minhas amigas devem ter os detalhes
da última festa ilegal do armazém neste fim de semana. Festas
pelas quais Sandland estava se tornando famosa e todo o trabalho
dos homens da Renaissance.

Pesquisei no Google o que um homem da Renaissance era. Eu


tive que rir quando li que haviam seis atributos ao ser um.

Primeiro, você tinha que ser inteligente. Um pensador


profundo. Mais inteligente do que o cara normal. Okay, certo. Os
quatro caras que se autodenominavam homens da Renaissance
em nossa cidade não estariam entrando na Mensa tão cedo. Não
pelos meus cálculos, de qualquer maneira. Foram necessários
quatro deles para coordenar uma festa ilegal e, mesmo assim, o
boato na cidade era que eles eram fechados com mais frequência.

Em seguida, eles tinham que ser leitores vorazes e experientes,


usando o que aprenderam para lhes dar uma vantagem na vida.
Pelo que eu sabia, Ryan Hardy, o homem das cavernas
renascentista número um, ainda estava trabalhando na garagem
de seu pai por um salário mínimo. Eu não era esnobe, mas não se
pinte ser algo que você obviamente não é. Eu conhecia Ryan Hardy
da escola. Ele estava no mesmo ano que Danny, e eles foram bons
amigos por alguns anos antes de ele morrer. Não que Danny
deixasse Ryan chegar perto de mim ou de nossa casa. A amizade
de meu irmão com os meninos da Renaissance era mantida
estritamente em segredo. Ele disse que queria manter papai no
escuro, mas acho que ele estava me protegendo também.

Qualidade número três, eles tinham que ser artísticos. Cantar,


pintar, esculpir, música, esse era o forte de um homem puro da
Renaissance. Finn Knowles espalhou sua arte por toda a cidade,
marcando seu graffiti em cada ponte ferroviária e prédio
abandonado que pôde encontrar. Não me interpretem mal, ele era
bom, como o Banksy, mas não foi um pioneiro nem um percursor.
Ele era um seguidor, assim como Zak Atwood. Zak podia ser capaz
de entrar nas camas da maioria das garotas como DJ, mas não era
nenhum Mozart. Ele só tocava a música, não a criava. Eu acho que
você está começando a entender. Esses meninos tinham uma
grande estima por si mesmos, independentemente do que o mundo
ao seu redor tentasse dizer.

O quarto ponto era a força física. Eu não poderia culpá-los por


isso. Eles pareciam a própria trupe Magic Mike de Sandland, mas
sabiam disso. Não havia humildade em relação a esses caras. Não
pelo que eu vi acontecendo. Brandon Mathers amava nada mais
do que usar os punhos sempre que podia. As lutas ilegais e as
apostas que eles praticavam em suas 'festas' eram matéria de
lendas ou pesadelos, dependendo de como você olhava para isso.
Ouvi meu irmão e alguns de seus amigos conversando sobre o
quão sujo Brandon lutava. Ele não tinha compaixão. Ele era como
um buldogue britânico em uma loja de porcelana. Arte e espírito
esportivo não existiam em seu repertório, aparentemente.

O quinto lugar da lista era ser socialmente confiante e ter


relacionamentos pessoais fortes. Eu sabia, sem dúvida, que
metade da população feminina provavelmente concordaria com
este. Não faltaram mulheres bajulando-os. Liv, Effy e eu éramos
provavelmente as poucas garotas restantes em Sandland que não
tinham uma história para contar sobre aqueles quatro. Além disso,
eles eram muito próximos. Amigos de infância que sempre
apoiaram uns aos outros. Fiquei surpresa por meu irmão ter falado
com eles. Eles eram um grupo bastante exclusivo, para dizer o
mínimo, e não confiavam em estranhos.

Finalmente, o homem moderno da Renaissance poderia obter


todos esses atributos com facilidade, estilo e sofisticação.
Organizar festas ilegais em armazéns e brigas cruéis, armar
fraudes em apostas e Deus sabe o que mais estava longe de ser
sofisticado. Eu nunca tinha estado em um de seus encontros
antes, mas tinha ouvido a fofoca. Não havia estilo de luta, consumo
de álcool por menores, consumo de drogas e tudo o mais que eles
não estivessem envolvidos. Eles eram o motivo pelo qual meu pai
ficava acordado até tarde da noite, tentando encontrar novas
maneiras de fechar seus eventos, e esse fato por si só me deixou
curiosa. Ryan Hardy, Brandon Mathers, Zak Atwood e Finn
Knowles eram a encarnação do diabo no que dizia respeito ao meu
pai.

— Eu quero saber como você descobriu sobre esta festa? —


Pergunto, olhando entre as meninas. Ambas sorriem de volta para
mim como se tivessem ganhado na loteria.

— Uma das garotas da minha academia recebeu uma


mensagem. Eu a ouvi no vestiário dizendo a suas amigas que
postaram no grupo ‘nós cuidamos de tudo’ e ela anunciou a todos
onde seria. Não há mal nenhum em verificarmos, certo? É o seu
dia especial, Em. — Liv dá de ombros enquanto fala, então começa
a vasculhar sua bolsa até encontrar o que procura.

— Agora, vamos começar a festa — diz ela, segurando uma


garrafa de vodca.

Agarro a garrafa enquanto Effy explica que tinha comprado


latas de Coca, visto que ela era nossa motorista designada. Tomo
um gole e estremeço com a queimadura que deixa na minha
garganta. Então olho pela janela, perguntando-me como aqueles
meninos conseguiam voar sob o radar com tanto sucesso por tanto
tempo, e por que nenhuma das minhas amigas jamais foram
convidadas para se juntar ao grupo ‘nós cuidamos de tudo’.
O carro de Effy começou a sacudir quando saímos da estrada
e atravessamos uma pista de terra que nos levava ao
desconhecido. Estava tão escuro lá fora que tinha certeza de que
Liv tinha ouvido mal as instruções ou a garota da academia nos
mandou em uma perseguição louca a algum buraco há muito
esquecido.

Nós esbarramos e empurramos enquanto ela nos balançava


sobre o terreno acidentado, vodca espirrando por toda parte
enquanto Liv reclamava do estado de seus jeans e do desperdício
de álcool bom. Então, ela desviou de algumas árvores e vimos um
mar de carros estacionados em qualquer lugar. À nossa frente
estava um prédio de aparência sinistra com cerca de arame
farpado correndo ao redor do perímetro. Um único holofote
brilhava de um canto do armazém e quase podíamos ver uma
figura solitária sentada, curvada.

— Bem, isso não é nem um pouco assustador. — Effy diz,


desviando o carro para uma vaga e desligando o motor.

Liv se vira em seu banco e sorri para mim. — Você sabe que
será a primeira a morrer, certo? A linda garota com a roupa
ridícula sempre é mutilada primeiro nos filmes.
— Porra de feliz aniversário para mim. — Inclino-me e pego a
vodca da mão dela para tomar outro gole. Ia precisar de toda a
coragem líquida que conseguisse esta noite. — De qualquer forma,
não é a loira quem é pega primeiro? Nesse caso, você está ferrada,
minha amiga.

Liv zomba e sacode seu longo cabelo loiro dramaticamente,


então pega sua vodca de volta. — Eu preciso dar a mínima
primeiro. Não pense que você vai me encontrar gritando e fugindo
tão cedo. Estou pronta para essa merda.

Cada uma de nós abre suas portas e sai. A lama espessa que
escorre sob nossos pés nos faz gemer. Meus sapatos de salto
agulha estavam bem presos e tive que agarrar Effy para puxar
meus pés e caminhar até o pequeno caminho de cascalho que
levava ao edifício de aparência estranha.

— Eu não acho que alguém vai correr para qualquer lugar


neste terreno, — diz Effy, raspando os pés para se livrar da lama
endurecida quando chega ao cascalho. — Tanto para fazer uma
grande entrada.

— Pare de choramingar, ok? Não há necessidade de torcer sua


calcinha. Tudo se resolve e isso só faz você andar engraçado. Em
está lutando o suficiente com os saltos do jeito que está. — Liv ri
de si mesma. — De qualquer forma, este é o aniversário de Em que
está passando. Vamos reduzir o drama ao mínimo, sabe, menos
diva, mais baladeira. — Ela balança os quadris para afirmar seu
ponto e lidera a marcha para frente.

O baque do baixo constante do armazém enche o ar, e os gritos


e cantos vindos de dentro fazem meu estômago apertar com uma
mistura de medo e excitação. Não tinha ideia do que esperar, mas
gostei. Gostei da sensação do desconhecido. Eu nunca tinha feito
nada assim antes e era bom ser adolescente. Uma adolescente
normal. Não aquela que usa roupas de grife e posa para as
câmeras; apenas uma garota. Eu.

— Vamos lá então, Houdini. Como vamos entrar neste lugar?


— Effy pergunta enquanto franze seu rostinho de fada e sacode a
cerca de segurança na nossa frente. — Parece que este lugar está
fechado.

— Deve haver uma maneira de entrar em algum lugar. — Liv


começa a andar para cima e para baixo freneticamente, curvando-
se para encontrar um buraco ou algum túnel mágico que o resto
de nós não consegue ver. — Eu provavelmente poderia escalá-lo.
E vocês? — Ela olhou para o arame farpado acima e fez uma
careta. — No Pain, No Gain, certo?

— Qual porra você está usando, Liv? — Cruzo meus braços


defensivamente. — Não vou escalar nenhuma cerca esta noite.
Você pode ficar bem com seu jeans, mas com este vestido, eu teria
dificuldade em subir um degrau, muito menos uma maldita cerca.

— Relaxe, princesa. Se entrarmos, sempre podemos encontrar


alguém lá dentro para voltar e pegar você.

— E me deixar aqui sozinha? Grande plano, porra. Não.

— Ninguém está escalando cercas ou sendo deixada por conta


própria. — Effy salta em um esforço para parar a discussão
iminente. — Vamos caminhar até o fim onde está aquele holofote.
Talvez haja um portão que possamos entrar? — Effy sempre foi tão
positiva, eternamente esperançosa. É por isso que ela sempre foi a
motorista designada. Ela não corria riscos. Se fosse deixado para
Liv, estaríamos estrelando nossa própria versão de Prison Break.

Cambaleamos ao longo do caminho, verificando a cerca


enquanto avançávamos, procurando alguma pista de como entrar.
Quando chegamos ao limite da área, uma voz profunda gritou para
nós.

— Lado inferior direito. A cerca está cortada. Você pode


escalar.

— Obrigada — Liv grita de volta e começa a lutar com a cerca


de metal, levantando-a e gesticulando para que pudéssemos
descer. Fácil para aquelas duas de jeans, para mim, tive que rezar
para que minha saia não se abrisse com o esforço.

— Quem é aquele? — Effy pergunta distraidamente,


caminhando em direção à luz onde a figura solitária que vimos do
carro estava sentada em uma lona cercada por latas, estênceis e
outras ferramentas. Ele estava perdido em seu próprio mundo,
alheio ao barulho da festa dentro. Em vez disso, ele estava olhando
para a parede como se ela segurasse a chave para outro mundo,
uma mão segurando o queixo em pensamento.

— Parece que Finn Knowles está dando uma festa para si. —
Liv bufa e todas nós a seguimos para ver o que tem chamado sua
atenção.

Quando chegamos à lateral do prédio e vemos o que ele está


olhando, todas nós engasgamos. Finn havia pintado o que parecia
ser um buraco explodindo na parede. O efeito do desmoronamento
da alvenaria parecia tão real que era como se você pudesse escalá-
lo. Mas o que foi retratado dentro do buraco que fez o coração
parar, de cair o queixo, totalmente incrível e perturbador ao
mesmo tempo. Ele pintou um campo como nada que eu já tivesse
visto antes. Uma paisagem urbana futurística onde as árvores
eram monstruosidades mecânicas, as flores pareciam armas
pontiagudas prontas para cortá-lo se você se aproximasse e a
grama tão cinza e desolada quanto qualquer terreno baldio. Uma
terra estéril lindamente quebrada; um inferno hostil. Era assim
que ele via o mundo ao seu redor? Um reflexo de sua mente
distorcida?

Liv foi a primeira a quebrar o silêncio.

— Então, como você chama isso? Um mundo cruel ou Alice na


terra do juízo final?

Finn bufa e balança a cabeça, sem olhar em nossa direção


enquanto fala. — Veio em um safári urbano, não é?

— O que isso deveria significar? — Digo, inclinando minha


cabeça e estreitando meus olhos para ele. Sabia que ele estava
zombando de nós e não o deixaria escapar impune.

— Sabe muito bem o que isso significa. Você está na favela a


noite. Mantenha os olhos abertos, pode ser que encontre alguns
marginais, pessoas desprezíveis, e se tiver realmente sorte,
prostitutas.

— Você não sabe nada sobre nós — diz Effy em nossa defesa,
tomando a frente.

— E eu não quero saber. Se eu jogar um graveto, você vai


embora? Você está bagunçando meu fluxo criativo. — Ele continua
olhando para sua obra-prima como se estivesse esperando que a
maldita coisa lhe dissesse o sentido da vida.

— Jesus, desculpe por incomodá-lo. Você já está claramente


perturbado. — Liv zomba. — Vamos lá meninas. Vamos deixar o
irmão mais novo de Banksy, Wanksy, com sua pintura. Wanksy?
Você precisa se acalmar. Respire e talvez prenda por dez ou vinte
minutos. — Liv se afasta, sem ouvir a resposta sarcástica de que
Finn sem dúvida está apontando em sua direção.
Eu esperava que tivéssemos uma recepção melhor quando
finalmente entrássemos na festa, mas algo me diz que Finn
Knowles era apenas o ato de aquecimento. Havia uma razão para
eu e minhas amigas nunca sermos convidadas para essas coisas.
Éramos as exiladas da cidade. As boas meninas. Bem, esta noite,
as boas meninas seriam más.
Chegamos às portas de metal surradas que levavam ao local,
se é que você poderia chamar assim um armazém abandonado, e
esperamos o segurança na porta nos deixar passar.

— Tem sua mensagem de telefone para me mostrar, senhoras?


— ele diz, olhando entre nós três com desconfiança. Eu era uma
porcaria em esconder minha culpa, então mexo os pés e rezo para
que uma das outras tenham uma boa explicação.

— Ah, merda. Eu sabia que tinha esquecido algo. Sou uma


cabeça de vento. Você poderia nos deixar passar de qualquer
maneira? Só desta vez? — Liv pisca as pálpebras e ele dá de
ombros, sem dar a mínima se não tínhamos os meios certos para
entrar. Boa defesa, Liv.

— Acho que sim. Não façam isso de novo.

Pagamos a taxa de entrada e ele agarra nossas mãos, uma


após a outra, e nos carimba com uma marca preta feia para
mostrar que passamos por sua averiguação rigorosa. Eu diria que
isso mostra que pertencemos a este lugar, mas me sinto tão longe
da minha zona de conforto do que nunca.

Quando passamos por ele e entramos na área principal, o som


da música é ensurdecedor. Nós três ficamos paradas apenas para
absorver tudo. O lugar estava lotado. Havia pessoas por toda parte,
dançando, bebendo, se soltando e não dando a mínima. Claro, o
chão estava pegajoso com as bebidas derramadas e sabe Deus o
que mais. O cheiro de suor e cerveja velha pairava no ar como uma
névoa densa e demorou um pouco para me acostumar. As paredes
eram cinza e as janelas quase todas quebradas ou fechadas com
tábuas, mas se você olhasse com cuidado, poderia ver as obras de
arte que Finn havia criado, espalhadas ao redor. Luzes
estroboscópicas cortavam o ar empoeirado, dando vida a toda a
atmosfera. De sujeira e cinzas, eles criaram algo mágico. Era
eletrizante. Até mesmo para elevar a alma. Eu nunca esperaria que
fosse assim.

Olho ao redor e localizo Zak Atwood no canto mais distante do


armazém com seus fones de ouvido. Seu cabelo escuro e
desgrenhado caido em seus olhos enquanto ele balança a cabeça
junto com a batida. Esperava ver um mar de garotas ao redor dele,
mas alguns caras estavam perto de onde ele estava trabalhando,
mantendo as garotas afastadas. Zak estava na zona; seu rosto era
a imagem de concentração enquanto ele misturava Grime do Reino
Unido com sucessos old school perfeitamente. Fico hipnotizada por
ele. Os sons que ele toca chama todos aqui. Quando ele muda a
batida, a multidão aplaude. Ele era o messias deles, esta era sua
igreja, e todos aqui eram sua congregação fiel.

— Ele é bom, não é? — Effy sorri. — Você acha que ele sai de
trás para se misturar?

— Se ele fizer isso, vou ter certeza de que você seja a primeira
com quem falará. — Liv empurra Effy para frente e nós abrimos
nosso caminho ainda mais para dentro da festa. Eu poderia dizer
que Liv estava ansiosa para ir, dançar e realmente se soltar. Effy
era mais como eu, um pouco mais cautelosa e ainda assimilando
tudo.
Algumas pessoas se viravam e olhavam por um momento
enquanto eu passava. Eu não estava vestida como eles, mas eles
foram educados o suficiente para se afastar depois de uma
segunda olhada. Aliso minhas palmas das mãos suadas para baixo
da minha saia e tento não deixar meus pensamentos ansiosos e
minha mente constrangida me afetarem.

— Você está fofa, Ems. Cabeça erguida, garota. Tem um cara


ali usando uma camiseta do Chris de Burgh. Eu realmente acho
que você não tem nada com que se preocupar. Obviamente, vale
tudo aqui se a sua escolha de música e moda é alguma coisa a
seguir. — Liv diz, sorrindo para mim.

Olho para onde ela estava olhando, e com certeza, um cara


estava jogando algumas formas muito aleatórias e usando sua
declaração dos anos oitenta com orgulho. Seu longo cabelo
encaracolado voava em todas as direções quando ele o soltava
como se fosse 1999 e ele estivesse em um show do Prince. Devo ter
ficado olhando por muito mais tempo do que era socialmente
aceitável, quando de repente percebo que ele pisca para mim e
empurra os quadris sugestivamente.

Não esta noite, amigo. Esta não é a sua noite de sorte.

Começamos a contornar o evento, abrindo caminho entre a


multidão de foliões. Eu tinha certeza que Liv e Effy sentiam que se
misturavam, mas eu não. Senti-me como um pino redondo
tentando se encaixar em um buraco quadrado. Não gostava de me
sentir assim, e decidi que depois dessa noite precisava fazer
algumas mudanças. Eu tinha que retomar o controle. Queria que
minha vida fosse minha. Talvez essa festa não acabaria sendo tão
idiota quanto pensei que seria. Talvez fosse o chute no traseiro que
eu precisava para resolver minha merda?
A música muda, tornando-se mais sombria, quase
assustadora, e as batidas lentas e constantes penetravam em mim
como se estivessem tentando dar vida ao meu corpo. Olho em
volta, observando as pessoas dançando e balançando, alheias a
tudo e perdidas em seu mundo, mas para mim parecia um
chamado para acordar. Eu estava em alerta máximo e não
conseguia relaxar.

Minha boca fica seca e tento engolir, mas parece uma lixa
raspando minha garganta. Algo parecia errado. Eu estava nervosa,
mas, ao mesmo tempo, não ia deixar esse lugar levar o melhor de
mim. Queria experimentar isso e precisava descobrir mais.
Descobrir o que havia sobre essas festas e os quatro homens por
trás delas que deixavam todos em Sandland paralisados.

— Você tem algo para beber? — Grito para Liv e Effy sobre a
música, mas ambas balançam a cabeça.

— Eu deixei o meu no carro, desculpe. — Effy me da um


sorriso de remorso e um encolher de ombros, em seguida, continua
a dançar.

Olho ao redor, procurando por um bar ou ponto de bebidas,


qualquer coisa que pudesse ajudar a aliviar minha garganta
arranhada e inflamada.

— Eu vou para lá — digo, apontando atrás de mim em direção


a um grande conjunto de portas ao redor do qual muitas pessoas
se reuniam. — Eu preciso encontrar um bar. Estou com sede.

Liv me dá um polegar para cima e Effy apenas sorri e continua


olhando para Zak Atwood enquanto ele trabalha sua magia. A
garota já está obcecada.
Empurro a multidão e caminho até as portas. Não consigo ver
um bar, mas há escadas de concreto que levavam à área do porão
do armazém. Talvez houvesse um bar lá embaixo? Valia a pena
conferir. Não parecia haver nada além de dançarinos bêbados no
andar principal.

Começo a descer os degraus, agarrando-me ao corrimão para


me impedir de cair de bunda sobre meus calcanhares, e as pessoas
se separavam para mim enquanto eu descia. Sem dúvida, eles
sabiam quem eu era. Meu rosto foi colado em jornais suficientes
ao lado do de meu pai ao longo dos anos. Qualquer coisa para
promover a carreira do homem de família perfeito. Mas aqui, neste
prédio, eu era a mosca na sopa, o gato entre os pombos no que
dizia respeito a essas pessoas. Eu poderia muito bem soar uma
corneta e dizer a eles que a festa acabou, a julgar pelos olhares de
distância que eles lançavam em meu caminho.

Quem convidou a filha do MP para mijar na nossa fogueira?

Chego ao pé da escada e tenho que pular um casal se beijando


no chão. Eu teria dito a eles para conseguirem um quarto, mas
acho que eles gostavam do público que estavam atraindo. O
estranho é que eu também não conseguia desviar os olhos deles.
Meio que me tornei uma hipócrita, suponho.

Tiro esse pensamento da minha mente e olho para o corredor


estreito e mal iluminado. Gritos e cantorias ecoaram na passagem
escura e uma multidão ainda maior se reunia em torno de uma
porta a alguns metros de distância. As pessoas se acotovelaram
para entrar e ver umas às outras para testemunhar o que estava
acontecendo. Desci até lá, intrigada para descobrir o que deixavam
tantas pessoas empolgadas. Quando cheguei à porta, deslizei por
uma lacuna na multidão e consegui abrir caminho para dentro da
sala.
Se eu achava que lá em cima era abafado, não era nada
comparado a este cômodo. Fazia um calor sufocante e o fedor de
suor, tingido com um odor metálico que se agarrava à pele como
sujeira, pairava pesado ao nosso redor. Alguns homens na minha
frente se viraram e se separaram um pouco para me dar uma visão
melhor. Havia fardos de feno dispostos como um ringue de lutas
improvisado e dois homens, sem camisa e pingando de suor e
sangue, estavam lutando. Luta nua e crua. Um cara estava
limpando o sangue do rosto e ofegando, tentando recuperar o
fôlego. Mas não importa o quanto ele limpasse, o sangue
continuava derramando. Ele tinha um corte feio na testa e
precisava de pontos. Inferno, ele parecia completamente bêbado.
Acho que ele precisava de uma ambulância. Mas isso não iria parar
seu oponente. O outro cara se aproximou dele e deu um soco no
rosto do cara, fazendo-o cair para trás e fazendo com que toda a
multidão gritasse ou zombasse, não pude notar a diferença. Então
ele se inclinou sobre ele e disse algo, antes de cuspir em seu rosto
e chutá-lo nas costelas, fazendo o cara se enrolar em uma bola.
Senti-me mal assistindo isso. Era bárbaro. Como isso poderia ser
chamado de entretenimento? Assistir alguém espancar outra
pessoa. Ele poderia ter matado aquele cara.

O cara que ficou de pé se virou e olhou carrancudo para a


multidão com um sorriso malicioso direto do inferno e meu
estômago revirou.

Brandon Mathers.

Eu deveria saber.

Seu cabelo escuro estava pingando de suor e grudando na


testa. O sangue estava espalhado sobre seu peito nu tatuado e
ensopando sua calça jeans. Mas o cara estava sorrindo
abertamente, parecendo realmente psicótico, como se não tivesse
sentido nada. Isso tudo fazia parte do show para ele. Esqueça o
pobre coitado deitado no chão que precisava ir para o hospital.
Brandon Mathers era uma espécie totalmente nova de fera e ele
adorava.

Ele examinou a multidão, piscando para algumas pessoas e


batendo os punhos em outras. Então seus olhos pousaram em
mim e eu congelei. O sorriso em seu rosto desagradável cresceu
mais e ele apontou direto para mim. Calafrios estouraram em toda
a minha pele anteriormente suada e então... Eu o senti antes de
ouvi-lo.

— Você não é bem-vinda aqui, pequena Winters. — Eu


reconheceria esta voz em qualquer lugar. Ryan Hardy estava
parado atrás de mim. Podia sentir o calor de seu corpo penetrando
no meu, mas ele não estava me tocando. Ele não precisava, para
obter uma reação minha. Ele se inclinou para sussurrar em meu
ouvido e a sensação de sua respiração acariciando minha pele me
fez estremecer.

— Por que você está aqui? Veio nos espionar, não é? Vai nos
reportar ao papai? — Eu não me mexo, não podia. Encaro Brandon
Mathers, sorrindo para mim como o lunático que ele era, enquanto
Ryan sussurrava suas ameaças, na esperança de me assustar.

— Grande erro, Winters. Você está em nosso território agora.


Papai não pode ajudá-la aqui e você é idiota pra caralho de pular
na cova dos leões esta noite. Não somos gatinhos. Nós lutamos
sujo. — Ele provavelmente pensa que suas palavras me assustam,
mas não o faziam. O que me assustou foi o quão rápido meu
coração estava batendo agora, e o quanto eu queria me virar e
encará-lo.

— Eu posso ver isso. — Mantendo meus olhos em Brandon


enquanto falo, totalmente engajada em sua batalha para me
encarar. Esses meninos estavam trabalhando juntos, tentando me
assustar. Eu não os deixaria.

— Então por que diabos você ainda está de pé aqui? Corra,


pequena Winters. Fuja como a menina fraca que você é.

Eu não podia negar que sua voz, suas palavras, droga, apenas
sua presença fazia algo para mim.

— Não sou fraca e não tenho medo de você, Ryan. — Ele ri e


sinto sua mão roçar meu cotovelo, fazendo-me estremecer com o
choque que enviou pelo meu corpo.

— Oh? Você deveria ter. — Sua voz estava mais grave agora, e
parecia que estávamos presos dentro de uma bolha. Ryan,
Brandon e eu. Um estava tentando me intimidar com palavras, o
outro com sua mente. — Não gostamos de dedo-duro. É isso que
você é, Winters? Uma linguaruda? Você está tentando armar uma
armadilha? — Respiro fundo. Sua proximidade me fazendo sentir
como se estivesse afogando-me. Cada respiração que eu dava era
muito superficial, não o suficiente para ganhar oxigênio, e estava
começando a me sentir tonta.

— Não sou uma delatora e não armo com as pessoas — eu digo


com os dentes cerrados.

— E por que eu deveria acreditar em você? Você vem de uma


longa linhagem de dedos-duros. Seu pai é o rei deles. O que ele
diria se pudesse ver sua pequena princesa agora? — Sabia que eles
odiavam meu pai, isso não era segredo, mas foda-se eles sabiam
tudo sobre mim.

— Ele provavelmente me diria para dar uma joelhada em suas


bolas. — Levanto meu queixo, tentando parecer que tenho minhas
coisas sob controle.
— Eu estaria em suas costas antes que seu joelho chegasse
perto de minhas bolas, querida. É isso que você quer? Lutar
comigo? — Por que esta declaração, vinda dele, fazia meu coração
pular? O que estava acontecendo aqui? Ryan Hardy e Brandon
Mathers mal haviam olhado para mim enquanto crescia. E agora,
aqui estava eu, estrelando sua batalha fodida de inteligência, e o
pensamento de tê-lo em minhas costas estavam me deixando com
todo tipo de nervosismo e confusão.

— Não quero ter nada a ver com você. — Foi tudo que consegui
pensar em dizer com meu cérebro em seu atual estado de colapso.

— Então vou perguntar de novo. Por que você está aqui? Acho
que é hora de você partir. Nada de bom pode vir de você estar
aqui... em nosso mundo. — Ele se aproxima um pouco mais de
mim, mas não consigo me afastar. Eu tenho que ver como isso
funcionará.

— Eu não quero fazer parte do seu mundo. Se você tem um


problema comigo, então por que não chora um rio de merda e se
afoga nele? — Ainda está aqui, meu atrevimento, enterrado bem
fundo dentro de mim sob toda a confusão e... Isso era luxúria?

— Aqui está ela, a pequena rainha do drama dos Winters. Só


porque você é a princesinha do papai, não significa que vamos
tratá-la como a realeza, querida. Talvez precisemos mostrar a você
o que fazemos com os fofoqueiros em nosso mundo? — De novo
com as ameaças. Eu não estava com medo dele. Brandon Mathers
parecia um filho da puta assustador, mas eu não ia deixar esses
caras me assustarem.

— Cuidado para não engasgar com toda essa merda que você
fala.

— O que te faz pensar que é tudo conversa?


Nesse momento, não consigo me conter e viro-me para encará-
lo, pronta para ficar cara a cara com o maldito Ryan Hardy, mas
quando o faço, ele desaparece na multidão. Fico na ponta dos pés
e tento ver as pessoas atrás de mim, mas não consigo vê-lo em
lugar nenhum. Balanço minha cabeça por sua covardia e viro-me,
mas Brandon Mathers também já tinha ido, e eu fui deixada em
uma sala que parecia uma panela de pressão e era eu que estava
prestes a explodir.

Ryan Hardy fez meu sangue ferver, virou meu corpo do avesso
e eu nem tinha olhado para ele. Brandon Mathers tinha me
deixado louca com nada além do mal por trás de seus olhos. E
agora, eu precisava sair daquela sala, longe desses meninos, e
digerir o que quer que tenha acontecido aqui esta noite. Para eles,
eu e meu pai éramos um só, e eles odiavam meu pai com paixão.

Abri caminho passando pelas pessoas naquela sala,


acotovelando e liberando espaço em direção à porta, mas quando
chego lá, não consigo descer o corredor para voltar por onde vim.
Multidões de pessoas bloqueavam meu caminho e de repente me
senti vulnerável e sozinha. Um alvo perfeito. Desprotegido.

Viro-me e vou na direção oposta. A passagem estava mais


silenciosa e não parei para pensar sobre aonde ela levaria. Mais
preocupada em ficar o mais longe possível dos meninos. Eu digo
meninos, mas eles eram três anos mais velhos que eu. A mesma
idade de Danny, que faria vinte e um no mês seguinte. Comecei
com uma caminhada rápida, mas conforme eu serpenteava pelos
corredores sob este depósito de lixo esquecido, comecei a sentir os
nervos e o medo se instalando. Então acelerei o ritmo, correndo
pelo labirinto de idênticos corredores e chegando a lugar nenhum.
Eu podia ouvir o baixo batendo acima de mim, mas por que não
estava chegando mais perto da saída? Onde estavam as malditas
escadas?
Ouvi um estrondo ao longe que me fez pular. Parecia uma
porta batendo contra a parede e, por instinto, virei a cabeça, mas
não havia ninguém. Então ouvi outro estrondo mais alto, como se
alguém estivesse batendo algo contra as paredes. Talvez um
morcego batendo continuamente, só que esse som estava ficando
cada vez mais perto. Outro estrondo e depois outro. Jesus, eu
estava presa em um filme de terror ruim dos anos noventa, assim
como brinquei antes. Porém, eu não estava rindo dessa vez. Isso
parecia muito real. As batidas ficaram mais altas, uma batida
regular, como se alguém estivesse vindo em minha direção, me
perseguindo. Então, ouvi a risada de um homem. Gargalhadas
baixas e perversas reverberavam pelas paredes e pela minha alma.
Eu não estava esperando para ver como esse filme terminaria.
Corri como se minha vida dependesse disso, indo em direção a um
conjunto de portas no final do corredor. Quando as alcancei, abri
as portas para escapar. O tempo todo, eu podia sentir o peso de
alguém me seguindo. Perseguindo-me como um caçador
brincando com sua presa. Mas eu não era presa de ninguém. Hoje
não. Nunca.

Caí no ar noturno e ofeguei enquanto corria pela grama em


direção à cerca de metal. Parei e virei-me, esperando ver alguém
sair atrás de mim, mas não o vi. Era só eu, do lado de fora.
Sozinha. Inclinei-me para frente, tentando recuperar o fôlego,
ofegando como se tivesse corrido uma maratona.

— Você está bem?

Pulo ao som de uma voz. Era Finn Knowles, andando hesitante


em minha direção com as mãos estendidas para me mostrar o
quão amigável e não ameaçador ele era.

— Estou bem. — Ofego de volta. — Não graças aos seus amigos


idiotas perdedores.
— Não tenho ideia do que está acontecendo, mas você não
deveria ficar sozinha aqui.

Não brinca, Sherlock.

— Você quer que eu entre e chame suas amigas? — Qual era


o problema desse cara? Ele realmente parecia humano em
comparação com os outros dois que encontrei esta noite.

— Eu vou ficar bem. — Dou de ombros, sentindo tudo menos


isso.

— Não, você não vai. — Ele dá um passo hesitante em minha


direção. — Você é irmã de Danny, não é? Emily? Eu vi que você
veio aqui com a Effy. Eu vou buscá-la. — Ele não esperou pela
minha resposta, apenas se afastou e me deixou de boca aberta,
imaginando que porra era essa com esses caras.

Ryan e Brandon tentaram me derrubar com seus jogos fodidos


e, ainda assim, foi a bondade de Finn Knowles que me tirou do
sério. Eu não sabia qual caminho era para cima e qual era para
baixo, mas tinha certeza de uma coisa, estava aliviada que ele iria
buscar Effy e Liv para mim. Eu não queria ficar aqui um minuto a
mais do que o necessário. Os idiotas da Renaissance haviam
brincado comigo o suficiente por uma noite.

Entretanto, sua hora chegaria.

Eu também não tinha terminado com eles.


— Que porra foi essa? — Brandon diz, enxugando a toalha
suada e encharcada de sangue no rosto e fazendo uma careta para
mim. Não foi a dor dos socos que recebeu esta noite que o fez
estremecer. Não, foi tudo culpa minha. Ele não estava feliz e estava
prestes a se certificar de que eu soubesse sobre isso. Não dou a
mínima. Ele não dirigia este show.

— Foda-se você. Eu não sei o que você acha que viu, mas você
não sabe porra nenhuma. — Cuspo de volta. Não aceitaria merda
de ninguém, muito menos do meu melhor amigo que sabia como
me irritar melhor do que ninguém.

— Você e ela. Os pequenos sussurros, — diz ele, franzindo o


rosto. — Você estava com o rosto enterrado tão fundo no pescoço
dela que parecia que estava em uma porra de um encontro, dando
amassos.

— Com ciúmes? — Sorrio de volta para ele.

Ele joga a toalha em uma cadeira de plástico no canto e cruza


os braços sobre o peito.

— Pode ser. Talvez eu não queira perder toda a diversão. Se


vamos foder com ela, eu gostaria de fazer alguma coisa também.
No minuto em que ele diz isso meu sangue começa a ferver e
meus músculos se contraem de raiva. Eu queria nocauteá-lo. Ela
não seria dele para brincar. Ela não seria dele para sequer falar ou
pensar.

— Ninguém vai foder com esta garota... Exceto eu. Juro por
Deus, Brandon, fique longe, porra. — Aponto para ele, meus
dentes cerrados com tanta força que sinto que poderia ter
quebrado meu queixo. Ele ergue as mãos e ri como se o que eu
tivesse dito fosse engraçado pra caralho. Não foi. Ele conhecia o
placar. Os Winters eram um jogo justo. Mas Emily? Ela era minha.

— Cara, você precisa relaxar, porra. — Ele joga a toalha da


cadeira no chão e se senta. — Uma coisa é persegui-la por um
corredor e assustá-la pra caralho, mas isso é porcaria de colégio,
cara. Precisamos intensificar isso. Se você quer foder com papai
Winters, foda de verdade, ela é sua melhor aposta. Ela é a chave
para tudo isso. E ele nos deve muito.

Zak escolhe aquele exato momento para entrar. Eu ainda


podia ouvir a música tocando acima de nós e olhei para cima e
para onde ele estava perto da porta.

— Você colou uma mixtape? — Brinco.

— Kian está cobrindo os decks para mim. Ele sabe o que faz.
— Zak encolhe os ombros e fecha a porta atrás de si, apoiando-se
na parede com os braços cruzados. — Então, qual é o problema?
O que está acontecendo?

— A pequena Winters, é isso que está acontecendo — diz


Brandon, sorrindo maliciosamente para mim enquanto responde
a Zak.
— Sim, eu a vi e suas amigas antes. Como diabos elas
entraram aqui? Pensei que tivéssemos encerrado essa merda há
muito tempo. Você acha que temos um espião?

— O que? Um espião dando nossas coordenadas? Nah, eu


acho que elas tiveram sorte. Hoje é o aniversário de Em. Ela
provavelmente pegou as informações de outra pessoa, — eu digo,
e os olhos de Brandon saltam das órbitas.

— E você sabia disso? — Brandon diz, estreitando os olhos


para mim em um olhar acusatório.

— Danny. Ele me disse. É apenas uma data que me lembrei.


É a mesma data do aniversário da minha avó. — Não era, mas não
ia dizer isso a ele. Quanto menos ele soubesse, melhor.

— Comprou-lhe um cartão, não foi? — Brandon ri.

— Vá se foder.

— Você está dominado por essa garota, Ry? — Brandon está


realmente tentando me pressionar. Ele adorava me provocar. O
cara sempre me protege, mas ele me fode com o melhor dele para
me irritar.

— Estou puto. Eu quero destruir ela e sua família fodida,


provavelmente mais do que qualquer um de vocês. Já era hora da
“House of Cards” de merda dos Winters desabar. Ele escapou por
muito tempo.

— Então o que você sugere? — Zak olha entre nós dois. Eu


sabia que ele aceitaria qualquer coisa que decidíssemos fazer. Ele
sempre aceitou. — Devo chamar Finn, você sabe, reunião de grupo
e tudo?
— Não precisamos do Finn para oficializar isso. Você quer
foder a merda, Ry? Ela é a chave. Fique com a filha e obtenha as
respostas de que precisamos. Nós sabemos o que aconteceu, mas
temos que conseguir as evidências se realmente quisermos
destruí-lo. Os hackers de Zak só nos levaram até aqui. Nós
precisamos de mais. É aí que ela entra. Ou você está apaixonado
demais para quebrar seu coraçãozinho delicado e frágil? — Ele
finge fazer beicinho para mim e sente a mudança no clima da sala,
Zak se afasta da parede e fica entre nós. Ele sabe quando a merda
está para explodir e, como um profissional, sabe como difundir a
bomba que éramos capazes de detonar.

— Eu pareço um covarde para você, Brandon? Você acha que


eu não posso fazer isso?

Venha até mim, filho da puta. Eu te desafio.

— Acho que faria um trabalho melhor do que você. — Ele me


olha de cima a baixo, mas balanço minha cabeça e rio. Eu não
estava mordendo sua isca. Ainda não.

— Como porra você vai. Estou comandando esse show. Você


terá sua chance, cara. Mas não com Emily. Fique longe dela e me
deixe fazer minhas coisas.

— Isso é uma vergonha. Eu estava ansioso para quebrar a


pequena Winters. — Ele agarra sua virilha e geme, e essa foi a
minha deixa. Não pude me conter. Voo pela sala e agarro Brandon
da cadeira. Zak fica ao nosso lado, pronto para intervir, mas ele
não precisa se preocupar. Eu ainda tinha minhas coisas sob
controle. Quase.

— Esse prazer será todo meu, camarada. — Dou um tapa


brincalhão em sua bochecha, mas não tão amigável. — Você só
precisa sentar e esperar que eu entregue a mercadoria. Vou deixar
a mãe para você se estiver tão desesperado para foder uma bunda
de algum Winters. Ou talvez você realmente possa foder com
Daddy Winters? Se isso for sua praia. — Dou de ombros, sabendo
que meu comentário iria afetá-lo.

Brandon me empurra, alargando as narinas com a minha


insinuação de que ele iria para qualquer lugar perto do pai dela.
Ele era um idiota depravado às vezes, mas mesmo ele tinha uma
linha que nunca cruzaria.

Na esperança de direcionar a conversa para um caminho


menos conflituoso para nos impedir de nos socarmos, Zak solta:
— Você realmente acha que ela iria atrás de você?

Nós dois nos viramos para encará-lo, dando a ele uma


expressão de 'que porra é essa, cara?'.

— É claro que ela vai atrás dele, — Brandon responde por mim.
— A garota mal conseguia respirar quando ele estava sussurrando
para ela mais cedo. Ela é uma mulher, não é?

— Quase. Ela acabou de fazer dezoito anos e é irmã de Danny.


Você não acha que isso é uma merda? — Eu sabia o que Zak queria
dizer. Danny tinha sido nosso amigo. Houve um tempo em que eu
o teria chamado de um dos meus melhores amigos. Mas ele era
parte da razão de estarmos fazendo isso. Não havia espaço para
sentimentos ou dúvidas, não agora. Um trabalho precisava ser
feito e eu era o melhor, droga, o único homem a fazê-lo.

— Ela é um dano colateral. Ela vai superar isso. — Brandon


era bom em manter o foco. Eu sabia que teria que usar um pouco
de sua determinação inabalável para manter minha cabeça no
jogo. Eu tinha que derrubar Winters. Se isso significava pai e filha,
ainda estava em análise, mas não podia perder de vista o objetivo
final.
Não podia negar que Emily Winters sempre teve uma
fascinação por mim. Ela era o fruto proibido final. A filha do M.P,
irmã mais nova de um amigo, sempre perfeitamente arrumada e
tão linda pra caralho que você não podia deixar de olhar se ela
entrasse em uma sala. O pior era que ela nem sabia disso. Ela era
como uma maldita criptonita para mim e, às vezes, quando
ninguém estava olhando, eu a via. Quer dizer, realmente a
enxergava. A garota que odiava as restrições impostas pela família.
A rebelde que queria se libertar. A pequena gata infernal que eu
sabia que ela poderia ser. Ninguém nunca me intrigou como ela.
Ninguém prendeu minha atenção como Emily Winters, e era isso
que a tornava perigosa.

— Ela pode superar isso, mas ele vai? — Zak diz, acenando
para mim. O cara podia me ler como um livro às vezes.

— Oh, eu vou ficar bem. Não se preocupe comigo. — Dou um


tapinha nas costas de Zak. — Vou rastejar para dentro, pegar o
que preciso e sair. Sem danos causados. Não para mim, de
qualquer maneira.

— Espero que você esteja certo sobre isso, — diz Zak, em


seguida, balança a cabeça para nós dois antes de sair da sala.

Brandon e eu olhamos um para o outro.

— O jogo começou, filho da puta. — Eu digo, e o deixo para


limpar seu rosto machucado e sangrento.
— Ele disse o quê? — Liv bufa, parecendo pronta para rasgar
todos aqueles perdedores da Renaissance um por um.

— Ele disse que eu era uma delatora e que estaria nas minhas
costas antes que eu chegasse perto de suas bolas. — Rio da última
parte, não posso evitar.

Era o dia seguinte à festa do armazém e estávamos todas


sentadas no quarto de Liv, relembrando os fatos da noite passada
e discutindo que show de merda acabou sendo. Depois que Finn
foi buscar Effy e Liv para mim, saímos daquele lugar rapidamente.
Nenhuma de nós se sentia à altura do desafio de enfrentar aqueles
garotos naquela noite. Agora, tínhamos tempo para pensar em
tudo e estávamos furiosas.

— Ele tem um desejo de morte, Em. Juro por Deus, se aquele


filho da puta tocar em você, eu vou...

— Você vai o quê, Liv? Você realmente acha que poderíamos


fazer algo para machucar esses caras? Emily precisa ficar longe
deles. Especialmente Ryan e Brandon. — Effy diz, balançando a
cabeça e parecendo preocupada. Acho que ela teria me colocado
em prisão domiciliar se pudesse. Afinal, ela era nossa pequena
pacificadora.
— Eu sei que aqueles meninos não gostam muito de nós, mas
eu nunca pensei que eles seriam tão completos idiotas. Não teria
te levado lá no seu aniversário, Em, se eu pensasse que eles iriam
te ameaçar e te perseguir. Que tipo de idiota faz isso? — Liv está
fervendo de raiva.

— Um idiota da Renaissance. — Respondo, levantando minha


sobrancelha para ela para mostrar que não estava surpresa com
seus jogos.

— Renaissance minha bunda. Até o nome deles é ridículo. Eles


são todos uns fodidos malucos. — Liv diz, me fazendo rir.

— Nem todos eles. — Effy responde defensivamente, e então


morde o lábio, sabendo que ela tinha falado demais.

— O que me leva ao meu próximo ponto... — Liv se vira para


encarar Effy e dá a ela um sorriso tranquilizador. Eu sabia
exatamente o que estava por vir. — O que estava acontecendo com
toda a coisa Finn Knowles? Ele veio até você como se já a
conhecesse. Como? E por que ele queria ajudar Em?

— Não faço ideia. Provavelmente falei duas palavras com Finn


Knowles em toda a minha vida. — Effy fala, mas ela não consegue
nos encarar.

— Bem, não parecia assim de onde eu estava. O cara estava


olhando para você como se você fosse um lanche e ele estivesse
com fome pra caralho.

As bochechas de Effy ficam vermelhas.

— Deixe-a em paz, Liv. Se Finn não tivesse entrado para pegar


vocês duas, não sei o que teria feito.
— Oh, ele não veio me pegar. Apenas Effy aqui.

Dou a Liv um olhar penetrante e observo enquanto Effy engole


e olha nervosamente para suas mãos torcidas em seu colo. Por que
ela estava nervosa?

— Não se preocupe, Eff. Finn não parecia um idiota do mal


como os outros. Liv, deixe-a em paz.

— Tudo bem, — ela bufa, parecendo irritada. — Mas eu não


vou me conter se eles vierem por nós. Estarei pronta.

— Eu também — respondo. Estava mais do que pronta para


me manter firme. Eu tive uma vida inteira sendo empurrada. Essa
merda não estava mais acontecendo.

Saí da casa de Liv e desci a calçada em direção ao meu carro.


À distância, ouvi o barulho dos freios e olhei para cima para ver
um velho Ford preto acelerando pela estrada. Eu não pensei duas
vezes, apenas entrei no meu carro e liguei o motor. Meu pequeno
Audi ronronou como um sonho e saí, pronta para voltar para casa
e começar a procurar universidades e cursos que eu gostasse.
Meus pais queriam que eu fosse para Oxford ou Cambridge, mas
não era sobre eles. Eu queria tomar a decisão sozinha. Fazer o que
é certo para mim. Não tinha ideia do que era ainda, mas viria, com
o tempo. A escola acabou no verão. Eu sabia que estava atrasada
para resolver minhas opções, mas decidi tirar um ano sabático,
um pouco de espaço para respirar depois do estresse dos últimos
meses lidando com a morte de Danny. Minha orientação
profissional poderia esperar e, dessa forma, faria a escolha certa
no final. Pelo menos é o que eu esperava.
Indiquei virar à direita, em direção à cidade. Decidi fazer o
caminho mais longo, visto que o sol estava brilhando. Nada melhor
do que uma estrada aberta onde você poderia pisar fundo e clarear
a mente. Eu estava dirigindo sem pensar e sonhando acordada
com meu futuro, quando senti o carro estremecer. Desliguei minha
música e, naquele exato momento, a bateria arriou e rolei até parar
na beira da estrada.

Brilhante pra caralho.

Não havia uma casa ou prédio à vista. Nenhum outro carro


passou por mim desde que virei para esta pista, e quando saí, tudo
que eu podia ouvir eram pássaros cantando e a maldita brisa
soprando por entre as árvores. Bati a porta do carro e inclinei-me
contra ela, então peguei meu celular do bolso e disquei para o
serviço de emergência que meu pai tinha programado quando ele
me deu este carro.

Dois minutos depois, eu estava ainda mais irritada do que


antes. Mais de uma hora até que alguém pudesse chegar até você,
eles disseram. Vamos tentar mandar alguém mais cedo, já que
você é uma mulher sozinha, prometeram. Mas eu sabia que
provavelmente iria passar o resto do meu dia sentada em um
acostamento, esperando ser resgatada. Tentei ligar para Liv ou
Effy, mas tudo que consegui foi o correio de voz. Então, engoli meu
orgulho e liguei para o meu telefone residencial. Certamente um
dos meus pais ficariam preocupados o suficiente para vir e me
ajudar?

— Emily, você ficou sem gasolina? — minha mãe repreendeu,


depois de pegar o telefone e soltar um suspiro de decepção ao
descobrir que era eu.

— Não. Eu não sou idiota. Há algo errado com o carro. Dê-me


algum crédito, mãe.
— Você ligou para o serviço de assistência? É para isso que
eles estão lá. — Ela realmente não estava entendendo porque eu
liguei para ela.

— Sim, e o tempo de espera é de mais de uma hora. Mãe, você


não pode vir me pegar? — Eu sabia qual seria a resposta. Nem
sabia por que tinha perguntado.

— Não, querida. Tenho tarefas para fazer sozinha. Não posso


largar tudo só porque você não consegue administrar seus
assuntos.

— Eu posso administrar muito bem. Quer saber, apenas


esqueça. Esperarei aqui. Provavelmente serei assassinada por
algum psicopata e você pode viver com isso na consciência pelo
resto da vida, mas é assunto seu.

— Pare de ser tão melodramática, Emily. O problema é seu,


resolva. Ah, e não incomode seu pai com isso. Ele está em
Westminster esta semana. Ele não precisa saber sobre seus
dramas.

Eles realmente quebraram o molde quando fizeram minha


mãe. Sabia que ela ainda estava chateada por eu ter desistido de
sua festa “arrasadora” no jardim, mas ela não tinha que colocar
minha vida em risco para enfatizar seu ponto de vista.

— Isso não é um drama, é... — Típico, ela desligou. Eu


realmente era uma mancha em sua paisagem de perfeição.

Joguei meu celular no banco da frente e sentei no carro com a


porta aberta e as pernas na estrada, pensando em voltar na
direção da casa de Liv, só para me dar algo para fazer.
Vinte minutos depois, estava recostada no carro, o banco do
motorista reclinado o máximo que podia e meus olhos se fechados,
tentando dar sentido a tudo e a todos em minha vida. Não fazia
sentido. Essa foi a minha conclusão e eu estava aderindo a ela.

Ouvi o zumbido de um motor à distância e sentei-me, olhando


no meu espelho retrovisor para ver um caminhão de guincho
caminhando pela pista. Saí do carro e pintei um enorme sorriso no
rosto, pronta para cumprimentar o cara da assistência. Ele estava
adiantado e tive vontade de fazer uma dança alegre bem ali no meio
da estrada. Quando a caminhonete vermelha parou atrás de mim,
meu estômago embrulhou. Hardy and Sons estava estampado na
lateral.

Ótimo.

Que sorte a minha.

Cruzei meus braços e me preparei. Isso não seria bonito. A


porta do motorista se abriu e Ryan Hardy desceu de dentro. Eu
meio que esperava que ele estivesse sorrindo para mim, mas ele
não estava. Parecia mais uma carranca, mas não fez nada para
impedir as borboletas de atacar meu sistema. Minhas mãos
tremiam e eu não conseguia olhar nos olhos dele. Ryan Hardy
sempre fazia isso comigo. Transformar-me em uma completa
idiota. Eu odiava que Danny fosse amigo dele, mas, felizmente, ele
nunca foi convidado para a nossa casa. Então, meu contato com
ele enquanto crescia foi mínimo.

Ele estava vestindo um macacão azul sujo, mas até eu pude


apreciar o quão gostoso era. Ele sempre teve músculos. Sempre foi
aquele cara. Aquele que se cuida, gosta de ter uma boa aparência
e sabe que é bonito. Seu cabelo loiro escuro era ondulado e fazia
aquela coisa que caia em seus olhos o tempo todo, então ele estava
sempre passando os dedos por ele ou abaixando a cabeça sempre
que olhava para você, dando-lhe aquela vibração sexy que a
maioria das garotas babavam.

Quem eu estava enganando? Todas nós perdíamos a cabeça


por causa de Ryan Hardy sempre que ele estava por perto. Mas eu
não era burra o suficiente para cair em seu charme de bad boy.
Não que ele alguma vez tenha enviado qualquer charme para mim.
Nem acho que ele sabia quem eu era até ontem à noite.

Ele caminhou até onde eu estava, passando os olhos pelo meu


carro e depois por mim. Ele passou a mão pelo queixo bronzeado
e mal barbeado e deu uma risada baixa.

— Bem, o que temos aqui? Enfrentou alguns problemas,


Winters?

Fiquei grata que minha voz não saiu como um guincho quando
respondi a ele.

— O carro quebrou, então, você não pode ser tão burro, certo?
Por que mais eu precisaria de você? — Eu digo a última parte com
um sorriso de escárnio. Precisava que ele soubesse que era um
pontinho no meu radar.

Um nada.

Um ninguém.

— Eu acho que você precisa de mim mais do que você imagina.


Mas eu sempre posso ir... Deixar você resolver essa merda sozinha.
— Ele se vira e começa a ir embora. Idiota.

— Tudo bem, espere! — Grito atrás dele e ele para, olhando


para mim sob aquela maldita cortina de cabelo. — Você pode fazê-
lo funcionar de novo?
— Depende. — Ele sorri, voltando para mim.

— De quê? — Coloco minhas mãos em meus quadris e


mantenho minha posição.

— Se é consertável? Abra o capô e darei uma olhada. — Ele


desvia de mim, roçando contra o meu lado enquanto o faz e então
para na frente do meu carro. Ele aponta para o capô, acenando
com a cabeça para baixo enquanto o faz, e morde o lábio para
impedir que outro sorriso escape. Ele estava adorando isso.

Agarro a maçaneta da porta com um pouco mais de força e a


abro, então puxo a alavanca para liberar o capô. Com um clique,
abriu e ele arregaça as mangas, exibindo seus antebraços, veias e
músculos que estava escondendo. Porra, porque o antebraço de
um cara era tão sexy? Ele levantou o capô e fixou o braço para
mantê-lo no lugar, depois começa a mexer nas coisas,
desatarraxando e puxando as coisas, soprando e colocando de
volta. Ele faz um trabalho muito bom em parecer que é um
especialista, mas quando caminha para o lado do carro e se agacha
para descansar, apoiando o braço na janela do meu carro, eu
quero empurrá-lo, especialista que se dane.

— Parece a junta do cabeçote. — Ele escova a frente do


macacão, livrando-se de alguns fiapos imaginários em um esforço
para parecer indiferente.

— Pode ser consertado agora? — Seguro meu volante inútil


para me impedir de empurrá-lo, fazê-lo cair e rolar para trás como
a porra de um besouro. Sorrio com a imagem, mas ele logo limpa
isso do meu rosto.

— Essas peças provavelmente levarão alguns dias para serem


encomendadas. Mais algum tempo para consertar. Isso, — ele
aponta para o meu carro, — vai precisar ser rebocado.
Bato minhas mãos no volante com raiva.

— Filho da puta.

— O papai sabe que você tem uma boca tão suja? — Ele sorri
e então se levanta e abre minha porta.

— O que você está fazendo? — Tento agarrar a maçaneta para


fechá-la novamente, mas ele coloca seu corpo no caminho,
forçando-me a recuar.

— Você precisa sair. Vou colocar seu carro na parte de trás da


caminhonete e então você pode ir comigo de volta para a garagem.

— Eu não vou entrar nessa coisa com você. Vou ficar aqui e
você pode me rebocar com ele.

Ele ri e balança a cabeça, cruzando os braços insanamente


musculosos sobre o peito largo.

— Desculpe, querida. Não posso fazer. É contra a saúde e a


segurança. O carro vai atrás — disse ele, apontando para a
caminhonete e falando comigo como se eu tivesse cinco anos. — E
você vai na frente... Comigo. Ou você pode ficar aqui e apreciar a
vista um pouco mais.

Eu estava tão acabada. Este dia foi uma merda, em larga


escala. Todos os dias após ter dezoito anos foi uma merda. Na
verdade, as coisas estavam uma merda desde que Danny foi
embora, mas empurro esse pensamento para o fundo da minha
mente. Em vez disso, respiro fundo, preparo-me e saio do carro.
Eu poderia fazer isso. Não demoraria mais que cinco ou dez
minutos até chegarmos à cidade, onde ficava a garagem do pai
dele.
Ao me ver concordar, ele dá um sorriso presunçoso e satisfeito
e começa a preparar as coisas para colocar meu carro em sua
caminhonete.

Fiz questão de lhe dar um amplo espaço enquanto me dirigia


para a frente de sua pick-up e então notei um carro vindo em nossa
direção. Um esportivo vermelho que diminuía à medida que se
aproximava e, uma vez que ficou paralelo ao meu, as janelas
coloridas desceram e uma cabeça familiar apareceu. Um rosto
amigável sorriu de volta para mim, e o alívio que isso me deu fez
algumas das minhas borboletas desaparecerem.

— Emily, você está bem?

Chase Lockwood estava em nosso ano na escola. Ele era um


cara legal, trabalhava muito e sempre tinha tempo para todos. Effy
teve a maior queda por ele um ano atrás, mas eu mesma não tive.
Aquela coisa boba, nerd, mas secretamente gostosa de
bibliotecário que ele representava não mexeu comigo. Entretanto
ele nos fazia rir e foi super gentil.

— Oi Chase. — Fui caminhar até o carro dele, mas Ryan


bloqueou meu caminho, dando-me um olhar de advertência
enquanto o fazia. Qual era o problema dele?

— Seu carro quebrou? — Chase perguntou.

— Observador, não é? — Ryan diz baixinho.

— Você precisa de uma carona para algum lugar? — Senti


Ryan ficar tenso quando Chase disse isso. Ele obviamente não era
fã dos caras legais.

Vou falar, mas não é a minha voz que responde.


— Não, ela não precisa. — Faço uma careta para Ryan e dou
a ele um olhar de advertência.

— Eu posso falar por mim mesma — rebato, mas Ryan vira as


costas para mim e murmura algo que não pude ouvir para Chase.

Instantaneamente, Chase afunda em seu assento e olha para


a estrada à frente. — Vejo você por aí — diz ele, nem mesmo
ousando olhar para mim, e acelera pela estrada, deixando-me à
mercê do mecânico psicopata.

— Que porra foi essa? — Marcho até Ryan, sentindo-me mais


corajosa do que durante todo o dia. — O que você disse a ele?

— Eu disse a ele para cuidar da própria merda de sua vida.


Agora, entre na caminhonete.

— Cuidar da própria vida? Você é louco? Chase é meu amigo.


Eu queria ir com ele. Prefiro tirar vantagem dele do que me arriscar
nesta merda com você.

— Fique aqui então, princesa. Não é meu problema.

— Você gostaria disso, não é? Deixar-me aqui sozinha. Você


está criando o hábito de foder com a minha vida recentemente, não
é?

— Você não tem ideia — diz ele, aproximando-se de mim e


penetrando-me com seu olhar.

— Eu não daria a você a satisfação de me deixar aqui. Vou


entrar nesta maldita caminhonete, e não porque você me ordenou.
Você é a última pessoa de quem eu receberia ordens, mas porque
quero sair daqui. Quero meu carro consertado e estou ficando
muito boa em bloquear sua merda.
Ele ri de mim, jogando a cabeça para trás e gargalhando.

— O que quer que você diga, querida. Mas saiba disso... — Ele
veio direto para mim, forçando-me a recuar contra a caminhonete.
— Você não tem ideia de como posso fazer coisas ruins para você.
Continue tentando me bloquear, Winters, mas você não terá
sucesso. Se eu quiser ser ouvido, o farei. E você vai ouvir, porra.
Isso não estava indo como planejei na minha cabeça.
Certamente não estava indo da maneira que havíamos discutido
na minha casa. Foi idéia de Brandon bagunçar o carro dela. Cortar
alguns fios, afrouxar algumas coisas. Eu queria esperar alguns
dias, aguardar o meu tempo, mas Brandon era totalmente
favorável a fazer imediatamente na primeira oportunidade. Ele
pensou que ela estaria assustada depois de ontem à noite, pensou
que agora seria o momento perfeito para tirar um pouco mais.
Pegue-a enquanto ela estiver fraca. A única coisa era que essa
garota era tudo menos fraca. Ela pode ter ficado assustada na
hora, quando a encurralamos naqueles corredores, mas não
estava com medo agora. Apenas uma olhada para ela parada ali
no meio da estrada, com as mãos nos quadris e aquele olhar
irritado no rosto quando me viu, me disse que ela estava pronta
para revidar, e eu gostei.

Não era para acontecer assim. Esta deveria ser a minha


chance de ficar um pouco mais perto dela. Mostrar a ela o que
estava perdendo. Acho que as palavras exatas de Zak foram: —
Conquiste a merda dela.

Brandon tinha sido o oposto completo. Algo sobre dobrá-la


sobre o capô e transar com ela até a submissão. Mas esse era o
seu modus operandi, não o meu. Eu sabia que tinha que ter
cuidado no que dizia respeito a Emily. Ela não era fácil. Então,
optei por um meio termo. Um pouco de cortejo, talvez, mas eu não
era suave como Zak. Jogar um pouco de charme, mas não me
forçar a ela na primeira chance, como Brandon faria. Eu precisava
que essa garota confiasse em mim, então poderia fodê-la e usar
essa confiança para nos dar o que precisávamos.

Respostas.

Respostas para todas as malditas perguntas e algumas


malditas evidências para nos apoiar quando a merda realmente
batesse no ventilador.

Tínhamos tudo planejado. Brandon iria dirigir até a casa da


amiga, mexer no carro enquanto ninguém estava olhando e fazer
com que ela ainda pudesse dirigir, mas teria literalmente minutos
antes de o motor desligar. Eu sabia que ela ligaria para a empresa
de guincho. Também sabia que o tempo de espera era
ridiculamente longo. Eu queria ir até ela depois de dez minutos,
mas Brandon e Zak acharam que vinte era melhor. Não queríamos
fazer parecer muito suspeito comigo chegando muito cedo, mas
vinte minutos era tempo suficiente para fazê-la se sentir
desesperada e verdadeiramente grata por me ver. Okay, certo. Seu
rosto caiu mais rápido do que um garoto gordo caindo de bunda
quando cheguei. E, caramba, se sua agressividade não fizesse algo
comigo. Cortejá-la eu não poderia fazer, era um sem noção no
assunto. Mas zombar? Ir de igual para igual com ela? Essa era a
porra do meu forte. Era o que me fazia continuar, e cada revirar
de seus olhos e bufar de sua boquinha bonita me estimulava ainda
mais. Eu sabia que esse não era o resultado que os rapazes
queriam, mas não pude evitar.

Emily Winters era minha inimiga. Uma oponente perfeita


nesta pequena batalha de inteligência que começamos a jogar. Ela
era minha musa.
Vê-la se contorcer enquanto eu saía da caminhonete fez meu
coração disparar. O vestidinho amarelo que ela usava, com alças
finas sobre os ombros bronzeados, me deu vontade de passar os
dedos por baixo de cada alça e vê-los cair em seus braços, para
que eu pudesse ver a perfeição que ela tinha escondido por baixo.
Mas sua carranca foi o que mais me excitou. A maneira como ela
jogou o cabelo encaracolado para trás quando ficou irritada me
deixou duro. Seu cabelo era espesso e longo, perfeito para envolver
meu punho quando eu puxasse sua cabeça e a levasse por trás.
Mas porra, quando ela falou, aquela raiva e veneno que ela tinha
por mim disparou uma flecha direto no meu coração e no meu pau.

Essa garota seria a minha morte.

O fato de que ela provavelmente teria preferido que Freddy


Kruger saísse da minha caminhonete em vez de mim me fez querer
conquistá-la ainda mais. Adorei o desafio. Mas o que eu não amei
foi a porra de uma guerra de egos.

Chase Lockwood, porra.

O cara era um idiota. Um perdedor. E ele tinha tesão por Emily


Winters, isso estava claro. O cara provavelmente estava indo para
casa para bater uma agora depois de vê-la hoje. Quando ele parou,
eu queria arrastá-lo para fora da extensão vermelha chamativa de
seu pau e mostrar o que eu realmente pensava dele. O cara era
uma marionete para o pai e todos nós sabíamos o que eles faziam
nas horas vagas. Se ele pensava que estava chegando perto de
Emily, outra coisa estava acontecendo. O pensamento dela
entrando em seu carro me fez mostrar minhas cartas mais cedo do
que eu gostaria no que dizia respeito a ele. Eu não gostava de ser
forçado contra a parede, mas ele precisava recuar.

Não havia nenhuma maneira que eu o deixaria entrar e bancar


o herói, mesmo que eu estivesse fazendo um trabalho de merda em
ser um. Inferno, o curinga sempre foi meu tipo favorito de herói de
qualquer maneira. Claro, eu poderia ser um cara bom se
precisasse ser. Mas não o tipo de falso bom de Chase Lockwood.
Esse cara me irritava.

Fiquei ocupado engatando o carro dela na caminhonete,


tentando ignorar o quão chateado eu me sentia com Lockwood
invadindo e fodendo minha merda.

— Que porra foi essa? — ela retrucou, pisando forte até mim
e fazendo minha respiração prender na minha garganta.

Outro passo, querida, eu te desafio. Só mais um passo e eu a


colocarei contra esta caminhonete tão rápido que você não saberá o
que a atingiu. Eu vou adorar enfiar minha língua em sua linda
garganta para calá-la.

— O que você disse a ele?

O suficiente para salvar seu traseiro. Jesus, pensar em sua


bunda me deixou todo confuso.

— Eu disse a ele para cuidar da própria merda. Agora, entre


na caminhonete. — Foi o que saiu da minha boca. Na minha
cabeça eu estava gritando, lute comigo, baby. Adoro quando você
me faz trabalhar para isso.

Ela começou a falar besteiras sobre Lockwood ser seu amigo e


eu perdi o controle. Imaginando como seria quando eu a colocasse
onde queria, de joelhos chupando meu pau. Estava mais do que
cansado dele ser o assunto da nossa conversa. E então a ouvi dizer
como eu amava foder com a vida dela agora, e isso era como um
pano vermelho para um touro.
— Você não tem ideia. — Cuspo de volta, e aquelas paredes
que eu gostava de manter firmemente no lugar estavam trancadas,
aparafusadas e fortificadas ao máximo. Eu precisava me lembrar
de ter meu juízo sobre mim com essa garota; manter minha
guarda. Claro, ela desempenhou o papel de boa menina muito
bem, mas ela era realmente tão ignorante sobre o quão longe sua
família foi? Ela era esperta. Ela tinha que saber algo.

Ela discutiu comigo um pouco mais, me dizendo que estava


entrando na caminhonete, mas não porque eu pedi, mas que ela
precisava de uma carona e estava ficando boa em me bloquear.
Novamente, outro desafio. Tanto para conquistá-la, eu estava
prestes a quebrar as defesas dessa garota com a porra de uma
marreta.

Eu não seria bloqueado.

Ninguém me ignorava.

Nunca.

Joguei minha cabeça para trás e ri, tentando fazer parecer que
não me importava. Eu não podia deixá-la ver que ela era capaz de
apertar cada um dos meus malditos botões. Ela tinha poder
suficiente sobre mim, eu não podia dar mais a ela.

— O que quer que você diga, querida. Mas apenas saiba


disso... — Ando até ela, forçando-a contra a caminhonete, e
esperando por Deus que ela não pudesse sentir o quão duro estava
me deixando. — Você não tem ideia de como posso fazer coisas
ruins para você. Continue tentando me bloquear, Winters, mas
você não terá sucesso. Se eu quiser ser ouvido, o farei. E você vai
ouvir, porra.
Ela pisca para mim com aqueles grandes olhos azuis dela e eu
me obrigo a não reagir. Não engolir ou vacilar. Eu não poderia fazer
nada que lhe mostrasse o quanto ela me afetava. Respirar fundo
era tudo que eu era capaz. Isso e alguns pensamentos bem fodidos
sobre para onde eu poderia levar a seguir. Ela coloca as duas mãos
no meu peito e, por uma fração de segundo, penso que ela fosse se
inclinar para me beijar, mas seu segundo vacilante foi apenas isso;
um momento. Um momento em que ela poderia respirar e me
empurrar para longe dela.

Ela murmura algo sob sua respiração e sai para a frente da


caminhonete. Em seguida, ela me lança um olhar que
provavelmente era para me matar no local e puxa-se para dentro
da cabine, batendo a porta quando ela entra. Esta seria uma
viagem que eu iria desfrutar, por todos os malditos segundos que
durassem.
Respire fundo, Em. Respirações profundas e foco. Não deixe ele
chegar até você. Nunca o deixe ver como ele te afeta. Você consegue
fazer isso. Você tem o poder aqui. Não o perca.

Quem estava enganando? Eu estava uma bagunça do caralho


e mal me segurando na minha sanidade por um fio. Tê-lo tão perto
de mim fez coisas com meu corpo que eu não tinha certeza se
gostava. Ou talvez tenha gostado um pouco demais. De qualquer
maneira que eu olhasse, estava ferrada.

Quando ele se empurrou contra mim, senti algo se agitar por


dentro, algo tão forte que não pensei ter força de vontade para lutar
contra isso. Eu queria beijá-lo. Queria ficar na ponta dos pés e
sentir o que era ter aqueles lábios carnudos pressionando contra
os meus.

Sem pensar duas vezes, coloquei minhas mãos em seu peito e


quase perdi o controle quando senti seu coração batendo super
rápido sob o macacão. Claro, ele era frio, calmo e controlado por
fora, mas tocando seu peito, podia sentir a turbulência que ele era
por dentro. Angústia que espelhava a minha. Eu o afetei tanto
quanto ele me afetou?

Usei a última gota de autocontrole que tinha em mim e o


afastei. Quando o fiz, vi algo cintilar em seus olhos.
Arrependimento? Desapontamento? Eu não sei. Esse cara era bom
em mascarar seus sentimentos. Não que eu tenha pensado por um
minuto que ele tivesse algum tipo de sentimento por mim.
Provavelmente era uma conquista que ele ainda não tinha feito.
Um alvo fácil. Se Danny ainda estivesse vivo, ele teria chutado a
bunda de Ryan por ao menos olhar para mim. Mas ele não estava
aqui. E agora, tinha que dar o chute no traseiro por mim mesma.
Eu sempre tive, na verdade. Mas foi bom ter um irmão mais velho
por perto para me apoiar.

Então, aqui estava eu, sentada na caminhonete esperando que


ele me afogasse com sua presença. Estar perto de Ryan Hardy era
como ser sufocada por uma mortalha ou por uma névoa escura.
Você não sabia que isso aconteceria até que fosse tarde demais, e
então tudo em que você poderia se concentrar era nele e em como
sobreviver. Eu precisava canalizar minhas próprias vibrações
sufocantes. Afirmar minha posição em seus pequenos jogos
mentais fodidos.

Senti a caminhonete balançar quando meu carro foi preso na


traseira, e então a porta do motorista se abriu e ele pulou ao meu
lado. Ele não olhou para mim. Ah, não. Ele estava em alerta e
pronto para ir. Como sempre.

Mantive minha cabeça para o lado e olhei pela janela do


passageiro enquanto saíamos e dirigíamos em direção à cidade. A
atmosfera estava tensa, mas sabia que ele não ficaria quieto por
muito tempo. Ele não poderia evitar. Ele adorava me incitar.

— Papai não tem seus próprios mecânicos na folha de


pagamento? Estou surpreso que você tenha se rebaixado tanto a
ponto de precisar de nossa ajuda — diz ele, mantendo os olhos na
estrada à frente. Bufo e balanço minha cabeça. Sempre com as
besteiras de garotinha do papai. Ele não sabia de nada.
— Em primeiro lugar, o que te faz pensar que meu pai dá a
mínima para o meu carro quebrado?

— Não? — Ele se vira para mim, dando-me um olhar confuso,


então franze a testa e volta a se concentrar em dirigir.

— Liguei para meus pais. Eles me disseram para lidar com


isso. Não sou uma princesa mimada, apesar do que você e sua
pequena gangue possam pensar. — Cruzo meus braços, mas
continuo. — Em segundo lugar, sim, meu pai tem gente na equipe,
mas eu não me envolvo em tudo isso. Por quê? Você está chateado
por não ter conseguido o contrato para manter a coleção?

— Coleção? — Isso desperta seu interesse.

— Sim. Meu pai coleciona carros clássicos. Ele tem um cara


que faz toda a manutenção. Ele nunca cuidou do meu carro. Por
que ele iria?

— O papai não quer verificar se você está bem? Manter o


controle sobre sua pequena princesa de relações públicas
premiada? Grande divulgação no Daily Mail outro dia, por falar
nisso. — Ele estava tentando zombar de mim. Não funcionaria.

— Eu não pensei que você fosse um leitor do Daily Mail. —


Zombo, rebatendo a bola de volta para sua quadra.

— Eu não sou. Enviamos screenshots um para o outro para


esclarecer como sua mãe e seu pai pareciam laranja.

Eu rio disso. Também pensei o mesmo. Eles amavam seus


bronzeadores em spray um pouco demais.

— Então, quantos ele tem?


— O quê, spray bronzeador?

— Não, carros. — Ele dá uma risada genuína desta vez. — Mas


posso imaginar que as contas de spray bronzeadores estão
subindo pela porra do telhado.

Sufoco uma risada. Não esperava me ligar a Ryan Hardy, de


todas as pessoas, por causa da fixação por bronzeamento artificial
dos meus pais.

— Cerca de quinze da última vez que verifiquei.

— Porra. Isso é impressionante. — Ele acena com a cabeça


para si mesmo. — Quais modelos?

— Como se eu soubesse disso. Um é verde, dois são azuis, ele


gosta mais de vermelho, então ele tem cerca de cinco desses...

Ryan balança a cabeça e ri.

— Ok, entendi. Você não é uma amante de carros. Então,


quem é o cara? O mecânico? Eu o conheço?

— Por que o repentino interesse nos assuntos de meu pai? —


Viro-me em meu assento para encará-lo. Minha versão de um
interrogatório.

— Eu não tenho nenhum interesse em seu pai. Eu apenas


gosto de carros. Estou no ramo. Pensei em conhecê-lo, só isso.

Estreito meu olhar para ele, mas parece legítimo, então deixo
passar. Mas para ele, o assunto de meu pai ainda estava muito
aberto para discussão.
— Deve custar um pouco para ele colecionar tudo isso e
mantê-los funcionando. Não achei que o salário de um político
fosse desse nível. Você está escondendo alguns negócios sujos aí,
Winters? — Ele está cavando em busca de sujeira e fazendo um
trabalho de merda em esconder.

— Como se eu fosse discutir a renda do meu pai com você.


Nem eu sei. — Não deveria ter adicionado a última parte, mas ele
estava começando a me irritar novamente. — Sou a última pessoa
em quem meus pais confiariam.

— É isso mesmo? Você faz parecer que eles têm algo a


esconder?

— Não temos todos?

Ele se vira para olhar diretamente para mim. — Eu não sei,


temos? — A intensidade do seu olhar me deixa desconfortável e me
mexo nervosamente no assento.

— Sou um livro aberto — eu digo, relaxando no assento. —


Não há segredos aqui. Mas você? Acho que você tem muitas coisas
acontecendo que não gostaria que meu pai descobrisse. É meio
foda que você use o Renaissance como um rótulo para suas
merdas obscuras. Renaissance não significa reviver? Não vejo
como bater nas pessoas ou roubá-las com apostas fraudulentas
poderia ser chamado de renascimento.

— E é aí que você está errada, Winters. Você não sabe porra


nenhuma sobre nós. O Renascimento foi uma época de
descobertas, levando-nos de um período mais sombrio para um
estilo de vida mais moderno.
— E é por isso que você se esconde nas sombras, enviando
mensagens criptografadas para ficar fora do radar da polícia?
Porque você tem tudo a ver com a luz, não é, Ryan.

— Estamos ficando fora do radar do sistema. Aqueles no topo


da cadeia alimentar que pensam que têm o direito divino de foder
com o resto de nós. — Eu estava irritando-o, podia ver. Sua
mandíbula estava cerrada e ele parecia pronto para me morder de
volta.

— Poder para o povo, hein? Você é o Marx moderno?

— Ganhamos dinheiro. Não somos comunistas. Mas não


cagamos nas pessoas pequenas como seu pai faz. Queremos tornar
a vida melhor, não sangrar essa porra até secar. — Sim, ele estava
chateado.

— Concordo. — Devo tê-lo chocado com esta réplica, se a


saliência de seus olhos era alguma indicação.

— Cuidado, não deixe o papai ouvir você falar assim. Ele pode
cortar sua mesada.

— Chega de merda de papai. Já te disse, não sou uma princesa


mimada. Meus pais não dão a mínima para mim. Eles me
toleravam quando Danny estava vivo, e agora... Agora, estou
apenas esperando até poder sair. Não que eu precise me explicar
para você.

— Tadinha. Então, você tem problemas com o papai.

Estava ficando entediada com esse jogo de tênis verbal e não


sentia necessidade de me explicar quando se tratava de minha
família.
— Sabe qual é o seu problema? — Eu digo, esperando mostrar
que ele não é tão esperto assim.

— Esclareça-me.

— Seu problema é que você não sabe que você é o problema.


Na verdade, é muito fácil não ser um ser humano de merda. Você
deveria tentar algum dia.

— Querida, se você está esperando que eu dê a mínima, é


melhor você esperar sentada. Vai demorar um pouco.

Se eu pudesse ter pulado da caminhonete naquele momento,


teria feito. Ryan Hardy estava me irritando, demais. Eu odiava que
ele me julgasse, rotulando-me de menina fraca como todo mundo.
Seu escárnio só me deixava mais determinada a lutar; mostrar a
ele que eu tenho força. Que era durona. Qualquer pessoa que
vivesse os últimos dezoito anos na minha família precisaria ter
alguma firmeza. Eles não sobreviveriam de outra forma. A vida
para um Winter pode ser cruel. Eu estava acostumada a lutar por
mim mesma.

Ele poderia quebrar tudo o que quisesse, mas não iria me


quebrar.

Entramos no pátio da garagem de seu pai e pude ver ele e outro


cara parados ao lado de um carro, olhando sob o capô com
expressões confusas. Ryan parou a caminhonete na lateral do
prédio e saltou. Um cavalheiro. Ele não conseguia nem me dizer:
— Chegamos — ele apenas bateu a porta e foi até a traseira do
caminhão para começar a descarregar meu carro.
Abri minha porta e desci. Quando olhei para cima, vi Brandon
Mathers, encostado em um Ford preto e sorrindo para mim. Eu vi
Ryan balançar a cabeça para ele com o canto do meu olho. Sobre
o que era tudo isso?

— Quando vou pegá-lo de volta? — Pergunto, puxando meu


telefone da minha bolsa e procurando o número de uma empresa
de táxi local.

— Você o receberá de volta quando estiver pronto — ele


responde com uma voz entediada e monótona.

— Bem, bem, bem, meu menino trabalha rápido. Você já está


dando seu número a ele, pequena Winters? — Brandon Mathers
estava caminhando em nossa direção parecendo tão presunçoso
pra caralho. — Eu recebo também?

Ryan lançou-lhe um olhar feio e continuou trabalhando para


tirar meu carro da caminhonete.

— Quando o inferno congelar eu penso nisso. — Olho de volta


para ele. Onde lutar com Ryan era divertido e meio emocionante,
eu odiava Brandon com paixão. Ele era grosso, rude e um valentão.
Ele não se importava com ninguém, nem mesmo consigo mesmo.
Até mesmo Ryan tinha algumas qualidades redentoras. Como a
maneira como ele às vezes ficava vermelho quando sorria. O jeito
que seus sorrisos ficavam tortos quando ele achava algo
engraçado, mas ele sempre jogava a cabeça para trás quando
achava algo hilário. A maneira como ele...

— Você está corando, Winters. O que está acontecendo nessa


sua linda cabecinha? — Brandon balança as sobrancelhas para
mim, arrancando-me dos meus devaneios distorcidos pela nuca.
— Você está pensando em mim?
— Deus, não — digo de volta enquanto Ryan bate algo bem
alto atrás de mim, fazendo-me pular.

— Não assuste a garota, Ry. — Ele sorri, então vem ficar perto
de mim, tentando me intimidar, sem dúvida. — Você gosta de ficar
com medo? — ele sussurra baixo em meu ouvido e eu me afasto,
sentindo nojo de sua proximidade. — Porque se você fizer isso,
acho que podemos nos divertir muito juntos.

— Prefiro furar meus olhos enquanto ouço “Barbie Girl” do


Aqua repetidamente do que passar um segundo em sua
companhia. Não há um punho em algum lugar que você poderia
pular na frente?

Ryan ri e vem ficar ao meu lado.

— Eu acho que essa é a minha deixa. Vou deixar vocês,


pombinhos, fazerem isso. — Brandon pisca e nos dá as costas,
voltando para o carro. Então grita por cima do ombro: — Estou
começando a gostar de você, Winters. Se ele estragar tudo, estou
bem aqui esperando para terminar o trabalho.

Eu não tinha ideia do que esse cara estava usando. Ele era
comprovadamente louco. Como se eu fosse chegar perto dele. O
cara me assustava pra caralho de uma maneira ruim. Ele fazia
minha pele arrepiar. E o que diabos ele quis dizer com “se ele
estragar tudo”? Ele obviamente não me conhecia. Todos nesta
cidade sabiam que eu era solteira.

— Preciso do seu número — diz Ryan, quebrando meu transe.


Viro-me para encará-lo e engasgo. Ele quer meu número? Por quê?

— Para que eu possa ligar para você quando o carro estiver


pronto — ele diz, revirando os olhos. Eu não tinha percebido que
tinha falado em voz alta. Devo ter parecido uma completa idiota.
— Oh, certo. Sim. Um minuto. — Rolo pelo meu telefone para
encontrar meu número e ouço uma voz amigável atrás de mim.

— Olá. Você é filha de Alec Winters, não é? — O pai de Ryan


estava vindo em minha direção. Ele enxuga as mãos no macacão,
em seguida, estende uma para eu apertar.

— Sim, Emily. — Pego sua mão e ele sorri, um sorriso


realmente genuíno e comovente.

— Espero que meu filho esteja cuidando de você — diz ele,


dando a Ryan um olhar questionador.

— Ele me rebocou até aqui. Meu carro quebrou. — Nada como


afirmar o óbvio.

O pai de Ryan dá um tapa orgulhoso nas costas dele. — Ele é


um bom garoto. Estou feliz por ele estar lá para ajudá-la. Você quer
entrar no escritório e assim podemos preencher alguns papéis?

— Estou resolvendo isso, pai. Está tudo bem.

— Você nem mesmo ofereceu uma bebida à garota. Ela está


parada aqui por cinco minutos — seu pai o repreende.

— Dois, na verdade, e ela estava chamando um táxi. Estou


pegando o número dela.

— Eu aposto que você está. — Seu pai sorri e Ryan realmente


cora. — Você não precisa chamar um táxi. Ryan vai te levar para
casa.

— Ah, não. Tudo bem, Sr. Hardy. Posso conseguir meu próprio
carro.
— É Sean, e estamos mais do que felizes em vê-la em casa com
segurança. Não é, filho?

— Ela está organizando sua própria carona, pai. Relaxa.

O Sr. Hardy, Sean, encolhe os ombros. — Como quiser. — Ele


balança a cabeça e ri. — Eu nunca vou entender sua geração. —
Em seguida, volta para o escritório, deixando Ryan e eu em nosso
impasse estranho.

— Seu pai parece legal.

— Ele é, mas eu não. Escreva seu número aqui e farei um dos


caras ligar para você quando estiver pronto. — Ele empurra um
pedaço de papel e uma caneta para mim, e eu agarro, encosto-me
na parede para escrever meu número e coloco de volta em seu
peito.

— Mal posso esperar — eu digo sarcasticamente e afasto-me,


indo em direção a uma cafeteria para pegar uma dose de cafeína
muito necessária para acalmar meus nervos em frangalhos.
Fazia quatro dias e eu ainda não tinha meu carro de volta. Não
sei por que fiquei surpresa. Duvido que meu pequeno Audi fosse
uma prioridade para eles. Era um pé no saco ter que continuar
contando com os outros para uma carona. Para ser honesta, ficava
muito feliz em andar ou pegar um ônibus, mas para todos ao meu
redor isso era como cometer um crime hediondo.

Minha mãe odiava transporte público; pensava que era anti-


higiênicos. Embora ela nunca admitisse isso publicamente. Isso
seria suicídio político. E meus amigos? Eles sentiam pena de mim,
eu acho. Então, eles me enviavam mensagens diariamente para
verificar se eu estava bem e me perguntavam se eu precisava de
alguma coisa. Daí a razão pela qual eu estava indo ao cabeleireiro
com Effy, enquanto Liv estava sentada atrás. Eu disse sentada, ela
passou mais tempo inclinada para a frente entre os encostos de
cabeça do que realmente sentada. Acho que ela estava com medo
de perder algo se relaxasse.

— Você já pensou em tingir o cabelo, Em? Eu acho que você


realmente combina com loira. Ou talvez você pudesse acender
mais fogo em você e se tornar uma ruiva? — Liv diz, estourando o
chiclete enquanto fala.

— Estou feliz com um corte. Eu gosto do marrom. Sei que é


chato, mas sou eu.
— Eu gosto do marrom também — Effy diz em solidariedade.
— Cachos de chocolate. Esse é o seu visual, Em. Fique com isso.

Puxo o quebra-sol para baixo e olho no espelho, afofando meu


cabelo enquanto o faço. Talvez algumas mechas para iluminar
possa funcionar?

— Eu poderia acrescentar algumas luzes, suponho.

— Oh, meu Deus, sim. Reflexos no sol o destacaria. Faça. —


Liv me incita, cutucando seu ombro em mim. — Não precisa ser
uma cor permanente, apenas experimente algo e veja se gosta.

Olho para Effy para avaliar sua reação.

— Vá em frente, Em. — Ela sorri e estaciona na frente do meu


cabeleireiro.

Três horas depois, eu estava valsando de volta ao sol, exibindo


um novo visual mais brilhante. Steph, minha cabeleireira, brincou
com meus cachos até que caíssem em espirais pelas minhas
costas, e o chocolate agora estava complementado por mel e
caramelos para suavizar o visual. Eu nunca tinha tingido meu
cabelo antes. Ok, então não fui drástica e tingi de azul, mas para
mim, isso parecia mais ousado. O primeiro passo para uma nova
e mais ousada eu.

Avistei o carro de Effy no estacionamento. Abençoada seja por


ter voltado para me buscar, ela realmente era a mais doce. Eu disse
que não precisava, mas ela insistiu. Tinha sorte de ter amigas tão
boas. Entrei no carro ao som de “Ooo's” e “Ahh's”. Liv ainda estava
sentada na parte de trás e estendeu a mão para acariciar meu
cabelo em apreciação. Empurrei-a, rindo de sua brincadeira.
— Você está incrível, garota. Precisamos... — Effy não
consegue terminar a frase. O som simultâneo vindo ao mesmo
tempo de nossos telefones celulares nos parou no meio do caminho
e fez com que todas nós procurássemos por eles. Toquei meu
código de desbloqueio na tela e vi a mensagem esperando para ser
aberta.

“Nós cuidamos de tudo.”

Que diabos?

— Que porra é essa? — Liv diz, refletindo meus próprios


pensamentos.

Abro a mensagem e vejo as coordenadas do que presumi ser a


próxima festa. A pergunta era: por que estávamos recebendo isso
de repente? Eles já haviam dito que não pertencíamos. Agora eles
estavam nos enviando convites? Não fazia sentido.

— Eu estava prestes a sugerir que precisávamos sair com você


e mostrar esse novo cabelo, Em. Parece que temos a desculpa
perfeita agora. — Effy diz, acenando com o telefone para mim para
mostrar que ela recebeu a mesma mensagem e sorrindo como se
tivesse ganhado na loteria.

— Foda-se isso. Nós não vamos. — Liv cospe de volta, jogando


o celular na bolsa com raiva.

— Não vamos? — Effy franze a testa e olha para Liv. Estava


escrito em seu rosto, Eff queria ir, e fiquei pensando o que tinha
acontecido para fazê-la mudar de ideia. Dias atrás, ela me disse
que eu precisava evitar aqueles meninos como a peste. Agora, ela
estava louca por receber um convite.
Com toda a honestidade, eu estava curiosa pra caralho para
descobrir o que diabos esses meninos estavam aprontando. Em
um minuto não existíamos, nem mesmo registrávamos no radar
deles; éramos párias. No próximo, fomos ameaçadas, zombadas e
perseguidas porque não pertencíamos ali, aparentemente. E
agora? Agora, eram todos sinais mistos estranhos, mentes fodidas
e mensagens secretas. Eu precisava saber qual era o problema
aqui. Esses meninos estavam começando a brincar com a minha
cabeça. Ryan Hardy estava me irritando e eu sabia que algo não
estava certo sobre tudo isso.

— Não, não vamos. — Liv não seria facilmente influenciada


por isso. — Eles assustaram a Em da última vez. Também não nos
fez sentir muito bem-vindas. A música era boa, mas a companhia?
Acho que é um não categórico, meninas. — Liv cruza os braços e
recosta-se, olhando pela janela lateral. Ela não parecia relaxada, e
sim irritada pra caralho.

— Estou bem, Liv — eu digo, tentando acalmá-la. — E para


ser completamente honesta com vocês duas, estou me
perguntando por que eles nos convidaram em primeiro lugar. —
Liv se vira para mim e dá de ombros, mas eu poderia dizer que ela
ainda não estava convencida. — Nunca recebemos essas
mensagens antes. Então, por que agora? Acho que devemos ir,
mesmo que seja para descobrir qual é o jogo deles. — Liv revira os
olhos e bufa. — Quero dizer, por que eles nos querem lá? Isso é
algum tipo de truque ou armadilha?

— Se for, por que queremos cair nisso? — ela argumenta de


volta.

— Mas não cairemos. Somos inteligentes. — Dou uma


piscadela. Eu sabia que ela adorava desafios.
— Talvez devêssemos pensar em um nome idiota para nós
mesmas. Nós pensaríamos em algo muito mais legal do que as
garotas da Renaissance. — Liv ri e revira os olhos novamente. Ela
estava começando a gostar da ideia.

— Garotas renegadas — Effy diz sorrindo.

— Eff, eu gosto do seu pensamento. Nós somos as rebeldes. —


Liv bufa para mim, mas continua. — As novas rebeldes.
Desafiaremos qualquer um que foder conosco ou tentar nos
controlar. Guerreiras renegadas. Rainhas guerreiras.

— Caramba, vocês estão realmente se adiantando. É a porra


de um convite para uma festa, não uma declaração de guerra —
diz Liv.

— Não é? — Levanto meu telefone enquanto falo. — Isso aqui


são eles jogando o desafio. Eles pensam que somos pequenas
princesas fracas que vão desmoronar ao primeiro sinal de
problema. Precisamos mostrar a eles que isso não é verdade. Nós
vamos. — Eu dou a Liv um olhar penetrante. — Estamos todas
indo e vamos jogar com eles em seu próprio jogo. Vamos. Vai ser
divertido. Eu nunca vi você desistir de um desafio, Liv.

Liv bufa e me dá uma última revirada de olhos antes de dizer:


— Tudo bem. Nós iremos. Eff, você pode ser designada motorista
novamente. Vou precisar de todo o álcool para passar por isso.
— Não pode ser isso, certo? — Effy diz enquanto caminhamos
pela pista de terra, seguindo as instruções de seu Navegador.

Estava escuro, e as árvores que pairavam sobre o caminho que


estávamos descendo se fecharam ao nosso redor, como comensais
da morte assustadores. Tudo sobre essa jornada até agora gritava
armadilha. Merda, em toda a nossa confusão sobre se iríamos ou
não, não tínhamos rebatido o fato de que poderíamos ser as únicas
a receber essa mensagem. Em que diabos estávamos entrando?
Talvez não estivéssemos tão informadas quanto pensávamos?

Eu precisava aguçar meu cérebro se quisesse me envolver com


esses quatro meninos. Eles sempre faziam o dever de casa e mais
um pouco. Eu mal aparecia para a aula. Tinha acabado de lançar
uma grande bola nos colocando aqui assim? Jesus, eu
provavelmente tinha pintado um enorme alvo vermelho em nós
três.

— E nós temos um vencedor — Liv diz, apontando para a


frente, onde poderíamos quase ver uma fogueira em uma clareira
adiante. Havia alguns carros e caminhonetes estacionados, mas
nada perto do número de veículos que estiveram naquele campo
perto do armazém abandonado na semana passada.
— Eu não tenho certeza sobre isso. Não parece o mesmo tipo
de festa que fomos no aniversário de Em — Effy diz, olhando para
a escuridão à sua frente. — Parece… Exclusivo. Não há muitas
pessoas aqui.

— Mais chance para Finn notar você então. Ou é Zak, ainda?


Eu não consigo acompanhar — Liv brinca, e lanço a ela um olhar
de advertência.

— Nós três deveríamos ficar juntas. Segurança em números.


Vamos deixá-los mostrar sua mão primeiro. Há uma razão pela
qual eles nos convidaram aqui esta noite e eu quero saber qual é.
— Effy solta um suspiro baixo e Liv acena com a cabeça em
concordância.

— Vamos fazer isso, vadias. — Liv diz, e abre a porta quando


paramos.

Escolhemos nosso caminho sobre o terreno irregular. Agradeci


às minhas estrelas da sorte por estar usando meus jeans skinny
rasgados esta noite combinados com meu converse confiável. Eu
trouxe um par de saltos também, só para garantir, mas não achei
que precisaria deles. Eles poderiam ficar no carro.

Havia cerca de uma dúzia ou mais de pessoas sentadas ao


redor do fogo. Mais alguns estavam de pé e dançando perto de onde
uma caminhonete tocava música. Imaginei que Zak havia se
tornado DJ móvel esta noite. Ele estava sentado na parte de trás
de uma caminhonete, ao lado de um conjunto de grandes alto-
falantes, e balançava a cabeça no ritmo da batida. Uma garota com
longos cabelos escuros caminhou até ele, balançando os quadris
como uma louca para chamar sua atenção, e entregou-lhe uma
cerveja. Ele agarrou e tomou um longo gole, depois passou as
costas da mão sobre a boca e sorriu para ela.
Eu não tinha ideia de quem ela era, mas parecia que ela já
havia pegado Zak em sua rede, anzol, linha e chumbada. Olhei
para Effy, mas ela não pareceu se importar. Acho que ela nem
notou Zak. Ela estava muito ocupada olhando para um cara em
particular sentado encolhido no chão, ao lado de um tronco de
árvore. Finn estava esculpindo algo na árvore, e o olhar de
concentração que ele estava dando me disse que estava alheio à
festa acontecendo ao seu redor. Todo o seu foco estava na obra-
prima que estava criando. Effy precisaria de toda a sorte do mundo
para decifrá-lo.

Eu esperava fazer uma entrada silenciosa. Esgueirar-me até a


fogueira, pegar uma cerveja no caminho do refrigerador que estava
perto. Mas entradas sutis, saídas ou qualquer tipo de graça
pareciam me iludir recentemente. Eu não estava olhando para
onde estava indo, muito ocupada observando tudo e me
perguntando onde estavam os dois últimos demônios do quarteto
do diabo, quando prendi meu pé na raiz de uma árvore e tropecei
em minhas mãos e joelhos.

Oh, que vergonha.

Olhei para cima para encontrar cada pessoa aqui olhando


diretamente para mim. As garotas faziam caretas ao ver como eu
era chata e totalmente indesejável. Alguns dos caras realmente
pareciam preocupados, incluindo Finn. Mas nada poderia ofuscar
os sorrisos que eu estava recebendo de Ryan e Brandon enquanto
eles estavam perto da fogueira.

— Merda, garota. Você está bem? — Liv sussurra, enquanto


me puxa do chão. Effy tenta agarrar meu outro lado, mas eu a
afasto. Já me sentia uma completa idiota. Não queria prolongar a
miséria. Limpei a poeira e estremeci ao sentir uma pontada de dor
no meu joelho esquerdo. Ótimo. Eu teria uma cicatriz como uma
criança nos próximos dias. Isso seria atraente.
— Estou bem, mas preciso de uma cerveja para anestesiar a
dor — sibilo de volta.

— Você está realmente ferida? — Effy pergunta.

— Sim, meu orgulho está destruído pra caralho. — Tento não


mancar muito enquanto vamos na direção do álcool.

— Fez uma boa viagem até aqui, Winters — Brandon grita


sobre a fogueira para mim. — Sempre soube que você se
apaixonaria por mim.

— Em seus sonhos, Mathers — grito de volta enquanto pego


uma cerveja e depois passo uma para Effy e Liv.

— Sempre em meus sonhos, Winters. Eu e você fazemos todo


tipo de merda maluca em meus sonhos. — Ele toma um gole de
sua cerveja, em seguida, agarra sua virilha e olha para mim como
um doente. Brandon era um filho da puta sombrio e o pensamento
de estar em seus sonhos, muito menos perto dele agora, me fez
estremecer.

— Prefiro chupar as bolas de um rinoceronte do que chegar


perto de você.

Ele ri de mim e pisca.

— Você gosta de bolas, não é, Winters. Primeiro você quer


chegar perto do meu garoto Ryan aqui, e agora você está me
deixando todo quente pensando em você me chupando.

Zombo dele, não tendo absolutamente nenhuma ideia do que


diabos ele está falando. Isso era algum tipo de ritual de
acasalamento fodido para ele?
Olho para Ryan e não posso deixar de notar o quão tenso ele
parece. Seus olhos estão cravados em Brandon, que parece não se
importar. Ele está se sentindo sortudo.

— Por que você não vem e se senta perto de mim, Winters? Eu


tenho um ótimo… Grande… colo para você sentar. E talvez mais
tarde, você pode sentar em outra coisa?

— Vai se foder. — Ryan diz a ele em voz baixa.

Que merda foi aquela?

Hardy estava tentando intervir para mim?

Isso foi fodidamente surpreendente. O demônio ultrapassando


o diabo. Eu não precisava dele fazendo sua merda de cavaleiro de
armadura brilhante. Mesmo que fosse um esforço péssimo.

— O grandalhão está incomodando você? — Zak está parado


atrás de nós, sorrindo para seus meninos.

— Não, ele não está me incomodando. Parei de prestar atenção


cerca de cinco minutos atrás. Ele ainda está falando? — Encolho
os ombros tentando parecer imperturbável.

— Sentem-se, senhoras. Onde estão seus namorados esta


noite? Não me diga que três lindas garotas vieram sozinhas até
aqui? — Zak balança a cabeça fingindo tristeza. — Agora, isso é
um absurdo. Acho que teremos que fazer algo sobre isso. O que
você acha, Ryan?

Cometo o erro de olhar para Ryan e descobrir que seus olhos


estavam em mim. Encarando-me, e eu não conseguia descobrir se
estava ameaçando, provocando ou simplesmente com nojo. Acho
que todos os três, visto que cada encontro que tive com Ryan Hardy
até agora foi mais hostil do que uma vespa em um pote de geléia.

— Estamos solteiras — Liv canta de volta, parecendo satisfeita


por ter a atenção de Zak. — Em nunca teve namorado.

Eu quase engasgo com minha cerveja e giro minha cabeça


para dizer a ela exatamente o que eu penso sobre seu pequeno
esforço de compartilhamento em grupo.

— Que porra é essa, cara? — Sibilo e espero a risada iminente


começar. Não começa.

— Sem namorado? Acho isso muito difícil de acreditar — diz


Zak, sentando-se ao nosso lado e me dando um sorriso gentil. Não
me deixo enganar.

— Ela está se guardando para mim, — Brandon interrompe.


Não era a reação que eu esperava dele. Teria pensado que alguma
crítica sobre eu ser uma virgem certinha poderia ser mais o estilo
dele, ou algo sobre como ele me quebraria mais tarde esta noite.
Mas não, ele me deu uma resposta bastante mansa para seus
padrões, e eu aceitaria. Teria dito a ele: — Em seus sonhos — mas
realmente não queria ir para lá novamente.

E Ryan? Ele se sentou do outro lado da fogueira e não disse


uma palavra. Mais interessado em sua garrafa de cerveja do que
na conversa que estávamos tendo. Zak estava olhando diretamente
para ele, como se estivesse esperando para ver qual seria sua
contribuição. Quando ele não conseguiu uma, Zak voltou sua
atenção para mim.

— Por que você não namorou, Emily? Você está esperando por
alguém especial? Brandon acertou em cheio? — Ele diz essa última
parte em um sussurro e roça seu ombro no meu.
Zombo de sua sugestão. — Não. Era meu irmão, Danny. Ele
falava para os caras cairem fora. Ele era protetor.

Zak olha de volta para Ryan e diz: — É mesmo? Danny, hein?


— Ele mantém seu olhar em Ryan enquanto bebe sua cerveja e
Ryan o encara de volta.

— Que porra é essa, cara? Sério? — Brandon explode. — Diga-


me que você estava se preparando e não bancando a boceta todo
esse tempo. — Ele olha para Ryan como se estivesse pronto para
cair contra ele. Ryan se levanta e enfrenta Brandon, os dois quase
nariz com nariz.

— Você sabe de toda a porra. Afaste-se ou eu...

— Ou você o quê, hein? Vai me obrigar?

Eu não tinha ideia do que estava acontecendo. Parecia que


Ryan e Brandon estavam a segundos de uma luta.

— Calma, senhoras — Zak diz aos dois rapazes. — Não na


frente dos convidados, por favor.

— Eu não acredito em você, porra — diz Brandon, jogando sua


garrafa de cerveja no chão bem aos pés de Ryan. Então ele marcha
para longe, pegando duas cervejas em cada mão enquanto o faz e
partindo para a floresta. Assim que alcança o conjunto espesso de
árvores, ele se vira e grita para uma garota que estava dançando
perto dos alto-falantes.

— Sarah, traga sua bunda aqui. Eu tenho tensão que preciso


resolver, e você é a garota de sorte que consegue resolver isso para
mim.
Como um maldito cachorro de colo, Sarah trota até ele,
parecendo ter sido escolhida para The Price is Right. Não havia
preço no mundo que tornaria essa merda certa para mim. Mas
quem sou eu para julgar?

Brandon saiu para a floresta sem dar uma segunda olhada, e


Sarah o seguiu de perto, rindo e pulando enquanto caminhava.

— Esse cara tem problemas. — Lá se vai Liv, afirmando o óbvio


novamente.

— Ele vai ter um chato pela manhã também, se é que já não


tem. — Zak responde e todos nós rimos.

— Quem diabos o convidou? — Ryan de repente estala,


levantando-se e dando a quem estava atrás de nós um olhar
maligno.

Todos nós nos viramos para ver a quem ele se referia e vimos
Chase Lockwood passeando com dois amigos de cada lado dele.
Ele tinha um sorriso arrogante no rosto e estava olhando
diretamente para Ryan.

— Porra do Lockwood — diz Zak, voltando-se. — Você precisa


se sentar. — Ele aponta sua garrafa de cerveja para Ryan enquanto
fala, e fico totalmente chocada quando Ryan fez exatamente o que
ele disse. Ele não gostou, entretanto. Sua mandíbula estava
cerrada com tanta força que poderia quebrar uma noz.

— Você não gosta de Chase Lockwood? — Liv se apoia em Zak


enquanto fala.

— O cara é uma babaca totalmente idiota.

— Não, ele não é — respondo, tentando defendê-lo.


— Talvez ele seja? — Liv diz, inclinando-se em torno de Zak
para se dirigir a mim. — Ouvi dizer que ele não era exatamente o
cavalheiro que todas pensávamos que era no Natal passado com
Lyla Thomas.

— Não acredite em tudo o que você ouve dos boatos. — Não


tinha certeza se o que ela disse era verdade, mas confiaria em
Chase ao invés desses quatro caras em qualquer dia da semana.
Nós o conhecíamos há anos. Lyla Thomas também não era a mais
confiável. Mas eu sabia manter meu juízo em torno de todos eles.
Você não crescia na minha casa sem aprender a ficar em guarda.
Todo mundo tinha um motivo oculto. Ou então meu pai disse.

— Eu juro por Deus, é melhor ele ficar bem longe de mim, —


Ryan anuncia, e como se o tivesse ouvido claramente como o dia,
Chase caminhou até nós e se senta ao lado de Effy.

— Effy, Liv. — Chase acena com a cabeça para minhas duas


amigas. — Ei, Emily. Você está bem? Você conseguiu chegar em
casa bem outro dia? — Seus olhos eram gentis, mas senti que ele
estava direcionando sua preocupação para o grupo mais do que
para mim. Fazendo algum tipo de declaração.

— Sim, está tudo bem. O pai de Ryan está arrumando meu


carro.

— Que bom que ele estava lá. — Chase toma um gole de sua
cerveja e olha para Ryan enquanto fala. — Engraçado como ele
conseguiu encontrar você. De todos os mecânicos em Sandland,
foi ele quem salvou você.

— Que porra você está dizendo, Lockwood? Você está tentando


causar merda de novo, seu filho da puta? — Ryan parecia pronto
para se lançar em Chase na primeira oportunidade que tivesse.
— Onde está seu cão de guarda, Hardy? Mathers fugiu com o
rabo entre as pernas?

— Você está certo sobre a parte do correr atrás de um rabo. —


Zak salta, ganhando uma risada de Chase em seu esforço para o
humor.

— Provavelmente viu você chegando e decidiu que tinha visto


merda suficiente por um dia. — Ryan joga sua garrafa vazia na
fogueira, fazendo as chamas crepitarem e chiarem mais alto.

— O quê, sem luta hoje à noite? Não vai usar aquele seu gênio
matemático para nos roubar cegamente com suas chances de
aposta?

— Você quer uma luta, Lockwood? Isso pode ser arranjado. —


Ryan se levanta como se estivesse se preparando para um
confronto, mas Zak se levanta também e ergue as mãos, tentando
mostrar que alguma paz precisava ser restaurada nesta pobre
festa esfarrapada.

— Vamos, rapazes, sério? Vamos fazer isso aqui? E na frente


dessas lindas mulheres? Acho que não. — Caramba, Zak era bom
de lábia.

— Eu lutaria com você, Hardy, mas não quero ser acusado de


abuso animal. — Chase sorri para si mesmo presunçosamente,
mas Ryan apenas ri e pega uma cerveja de um cara que passa por
ele, antes de se sentar novamente. Aquela névoa de fúria havia
evaporado e ele estava de volta ao normal.

— A qualquer hora, cara — diz Ryan em um rosnado baixo. —


Eu vou contra você a qualquer momento.
— Ok, vamos tentar fingir que estamos aqui para nos divertir.
— Liv diz um pouco alegre e se levanta, agarrando as mãos minhas
e de Effy enquanto o faz. — Meninas, vamos dançar ou fazer outra
coisa que não seja sentar aqui vendo esses meninos compararem
paus.

Vamos para outra parte da clareira e não demora muito para


Zak se juntar a nós.

— Escute, me desculpe se nós as assustamos — ele diz


parecendo arrependido.

— Oh, nós sabemos. Não é assim que você assusta as garotas.


Você as persegue por corredores escuros em armazéns desertos,
batendo nas paredes e rindo como um bando de malucos do
caralho. — Liv estava de volta ao seu modo de cadela e obviamente
pronta para me defender.

— Isso não tinha nada a ver comigo, e para que conste, eu não
acho que eles realmente queriam assustar você, Em. Acho que eles
queriam ter certeza de que seriam notados.

— Há maneiras melhores de entrar na calcinha de uma garota.


Fazê-la correr por sua vida não é uma delas. — Liv cospe de volta
antes que eu possa formar uma frase.

Zak dá uma risada baixa e passa a mão no rosto.

— Por que fomos convidadas esta noite? Nunca fomos bem-


vindas antes — pergunto, esperando que, de todos os meninos,
fosse Zak quem nos desse um pouco de honestidade.

— Quem disse que vocês não eram bem-vindas? Ok, sim,


Danny não queria você, bem, nenhuma de vocês nas nossas festas,
mas não era nada pessoal. Agora, só queremos fazer as pazes.
— Não, eu não acredito. — Espero para ver um
estremecimento ou algo em sua expressão que o denunciasse, mas
não havia nada.

— O que não há para acreditar? — Ele encolhe os ombros. —


Bem. Eu vou ser sincero com você. Meu amigo, Ryan, ele pode ter
uma queda por você. Ele é péssimo em fazer algo sobre isso. —
Quase engasgo com minha cerveja. Essa foi a maior merda que já
ouvi. Eu disse isso a ele também.

— Besteira! Ele me disse que eu não pertenço a este mundo.


Disse-me para fugir e nunca mais voltar. Que porra é essa? Isso é
o mais longe de uma investida que você poderia chegar.

— Essa é a versão dele de preliminares. Conversa doce. Eu


disse que ele era péssimo nisso. — Zak encolhe os ombros
novamente. Ele obviamente comprou essa ideia e a estava
mantendo.

— Eu não acredito em você. Algo está acontecendo. Vou


descobrir o que é e, quando o fizer, vou...

— Você o quê? Mijar em todo o nosso negócio? Correr para o


papai e contar sobre nós?

— Cuidado, você está começando a soar como eles.


Preocupado que eu seja uma delatora que todos vocês me
acusaram de ser antes? — Eu digo, acenando com a cabeça para
onde Ryan e Brandon estavam perto do fogo. Ryan não estava mais
lá, e sinto uma sacudida de algo dentro de mim, perguntando-me
onde ele está. Olho ao redor da clareira, mas não posso vê-lo. Ele
já tinha saído? Será que eu ainda quero estar aqui? Esta festa não
foi o que pensei que seria, especialmente desde que Chase
apareceu.
— Estou apenas tentando ser um amigo. Todos nós
precisamos de um desses, certo? — Zak me dá um sorriso
simpático e encolhe os ombros.

— Eu tenho amigos suficientes.

— Então mantenha seus amigos por perto e seus inimigos


mais perto. — Ele diz, então se curva e se afasta, deixando-nos
meditar sobre aquela pequena pepita de sabedoria.
Eu tinha bebido demais e a festa estava começando a se tornar
uma confusão quente de pessoas dançando, caindo e beijando. Eu
não tinha visto Brandon ou Ryan desde que deixamos a área da
fogueira. Chase também manteve uma distância muito respeitosa,
apenas me dando um aceno ocasional ou um sorriso de onde ele
estava. Olhei para onde Effy estava conversando com Finn,
perguntando sobre suas esculturas e tentando tirar leite de uma
pedra em resposta. Curiosamente, eles não estavam lá. Olhei em
volta, mas não consegui vê-los em lugar nenhum. Interessante.

Eu podia ver Liv tão clara quanto o dia, porém, colada na


frente de Zak Atwood com a língua presa em sua garganta. Parece
que minhas duas meninas tiveram sorte esta noite. De repente,
senti-me constrangida e sozinha e não sabia o que fazer comigo
mesma. Eu estava bêbada e não estava pensando direito, claro, já
que decidi que dar uma volta pela floresta para endireitar minha
cabeça era uma boa ideia.

Por que o álcool a força a fazer as escolhas mais ridículas no


calor do momento? E, no entanto, não me questionei nenhuma vez
quando pensei que uma lufada de ar fresco, longe do resto deles,
era exatamente o que eu precisava. Apenas tatue idiota na minha
testa agora.
Vagueio para a minha esquerda, na escuridão densa das
árvores, dando pequenos passos firmes para não cair. Sinto aquela
estranheza deslizar para fora de mim quanto mais longe na floresta
eu vou. Meus ombros relaxam um pouco e me sinto menos tensa.
Não há ninguém aqui, entre as árvores, para testemunhar o quão
horrível eu estava me encaixando. Aquele grupo lá atrás não era o
meu grupo de pessoas. Acho que preferia minha própria
companhia, na verdade. Além de alguns amigos seletos ao longo
da minha infância, eu sempre fui muito reservada.

Respiro fundo algumas vezes, apreciando a mordida fria do ar


quando entra em meus pulmões. As risadas e a música morreram
em um zumbido distante. Então a compreensão me atinge como
um tapa na cara. Eu não tinha percebido que tinha chegado tão
longe. Merda.

Eu sabia o caminho de volta?

Viro-me, olhando para as árvores ao meu redor, de repente


sentindo-me tonta e sem saber de onde eu realmente vim. Comecei
a andar em frente, usando meus ouvidos para tentar descobrir a
direção da festa. Foi quando ouvi o estalo de um galho não muito
longe de mim.

Havia mais alguém aqui.

Alguém estava me seguindo.

Meu coração começou a bater fora do meu peito, mas diminuí


minha respiração, para que pudesse me concentrar em ouvir.
Coloquei um pé lentamente para frente, tentando não chamar
atenção para mim.

Talvez fosse um animal? Eu estava no meio de uma floresta à


noite, devia haver todos os tipos de sons que eu não conhecia.
Ouvi outro estalo atrás de mim e de repente todo o meu mundo
girou em seu eixo.

Fui puxada para trás em um peito duro. Um braço forte


envolveu com força minha cintura e outro preso na frente do meu
rosto, a mão segurando minha boca para que eu não pudesse
gritar. Então, tão rápido quanto um flash, antes que eu pudesse
registrar o que estava acontecendo, fui puxada para o chão e
arrastada para trás de um arbusto, bem escondido da vista. Tentei
me contorcer, tentei me livrar de suas garras, mas foi inútil. Eu
estava impotente nos braços deste homem.

— Shhh! — Uma voz profunda familiar tentou me acalmar. —


Eu não vou te machucar. Apenas fique quieta.

Ryan Hardy me prendeu em sua frente e estava me calando


como se tudo isso fosse para o meu próprio bem. Ele manteve a
mão na minha boca e não afrouxou o aperto nem um pouco
quando fiz todo o esforço para escapar.

Que porra era essa?

Agarrei seu braço, usando minhas unhas para arranhá-lo e


possivelmente obter algum tipo de vantagem para que eu pudesse
escapar. Minhas pernas chutaram, mas não se conectaram com
nada além do chão da floresta. Meu coração estava batendo como
um bumbo em meus ouvidos e a adrenalina que bombeava em
minhas veias era elétrica.

— Pare de se contorcer e espere. Confie em mim. — Ryan


sussurra em meu ouvido e, naquele momento, percebo um
movimento entre as árvores onde eu estava parada.

Ofego com força pelo nariz e tento sacudir minha cabeça, mas
quando vejo Chase Lockwood sair na nossa frente, paro. Nós dois
deitamos atrás do arbusto, eu sendo restrita e ele mal respirando,
mas tenso como o inferno. Seu rosto estava bem próximo ao meu
ouvido e o calor de sua respiração, quando ele me silenciou uma
última vez, fez minha pele formigar. Meu cérebro bêbado estava
tão afiado como uma tacha.

Chase ficou parado e olhou ao redor. Ele tinha vindo me


encontrar? Certificar-se de que estava bem? Eu estava prestes a
dar a ele um grito abafado por trás da mão de Ryan, quando o
celular de Chase acendeu sem fazer nenhum som e ele atendeu.

— Cara, eu a perdi — ele diz parecendo desapontado e então


ri. O cara realmente ri. — Parece que vou ter que molhar meu pau
em outro lugar esta noite.

Meu estômago revira ao ouvi-lo falar assim, e paro de lutar


contra o aperto de Ryan em mim, e o sinto apertar seu abraço,
puxando-me ainda mais para ele.

— Sim, eu juro que é melhor que sua pequena boceta apertada


valha a pena. Já esperei o suficiente. — Ele ri de algo sendo dito a
ele e sorri. — Oh, eu sei, cara. Boceta virgem é sempre a mais doce
e a de Emily será a melhor.

Eu me sinto doente.

Assisto quando Chase começa a voltar pelo caminho que ele


veio, murmurando coisas nojentas pelo telefone e rindo. Então, o
garoto nerd era um idiota assim como o resto deles.

Eu não tinha percebido que Ryan havia afastado a mão da


minha boca até que sussurrou em meu ouvido: — De nada.

Levanto-me do chão e me afasto dele o mais rápido que posso.


Tiro as folhas e a terra de mim e faço uma careta para ele.
— Que porra é essa com você? Você está me perseguindo
agora? Jesus, decida-se. Um dia você está me assustando, no
próximo você está me seguindo na floresta como um esquisito.

— Você não está feliz que eu o fiz? Caso contrário, o seu


homem, Lockwood, teria você bem onde queria. — A maneira como
ele olha para mim me faz ficar fria.

— Chase não é meu homem. Ele nunca será — cuspo de volta.

— Bom. — Ele cruza os braços sobre o peito e vacila em meu


argumento. Eu não esperava essa resposta.

— Em segundo lugar — eu digo, ainda carrancuda por sua


última resposta. — Você já me disse para ir me foder. Então, por
que fomos convidadas aqui hoje? Por que mudou de ideia?

— Eu quis dizer cada palavra que disse no sábado passado.


Você não pertencia àquela sala, vendo os homens chutarem a
merda uns dos outros, com todo o sangue e sujeira. Isso não é
você. — Seu rosto se suaviza ligeiramente e ele dá alguns passos
em minha direção.

— Como você sabe o que sou? Quase nunca nos falamos. Você
pode ter sido amigo de Danny, mas você não sabe porra nenhuma
sobre mim.

— Eu sei o suficiente — diz ele, olhando diretamente nos meus


olhos como se precisasse que eu o entendesse, para acreditar no
que ele estava dizendo.

— Você sabe o que quer saber; vê o que você quer ver. Não se
iluda pensando que sou a menina fraca que você me acusou de ser
no sábado passado.
— Eu disse isso? — Ele franze o rosto em confusão.

Sim, idiota. Sim, você disse.

— Nunca vi fraqueza em você, Emily. Mas sei o que vejo. Eu


vejo você melhor do que ninguém.

Não sabia o que dizer sobre isso. Ele me via? O que isso
significa? O cara estava cheio de mentiras. Ele achou que eu não
conseguia sentir o cheiro a um quilômetro de distância?

— Se você me vê melhor do que ninguém, então me diga, o que


você vê?

Eu mal podia esperar para ouvir sua resposta. Estava


chamando seu blefe.

— Eu vejo uma garota que odeia quem ela é... Para outras
pessoas. Também vejo uma garota desesperada para ser ela
mesma. Para viver sua vida da maneira que ela quiser. Para ter
apenas uma fração da liberdade que temos. Eu, Brandon, Finn,
Zak; temos uma vida com a qual você só pode sonhar, mas você a
quer. Você quer tanto entrar que fará qualquer coisa para
consegui-la. Pelo menos, eu acho que você vai. A pergunta é... Até
onde você está disposta a ir, Emily? Até onde você iria para ter
tudo?

— Você é muito bom em enigmas, não é, Ryan? O que te faz


pensar que eu quero ser como você? — Balanço minha cabeça e
me viro para ir embora.

— Você é como nós. — Ele fala com tanta convicção que quase
posso acreditar nele. Quase.

— Não. Eu não sou. — Viro-me e mantenho minha posição.


— Eu acho que você é. Na verdade, eu sei que você é. — Ele
está tão seguro de si mesmo. E eu? Estava ficando mais confusa a
cada minuto, mas nunca iria mostrar isso a ele.

— Eu tive o suficiente disso. Preciso sair daqui.

Viro as costas para ele e começo a subir uma ladeira mais


íngreme na beira da floresta.

— Não faça isso. — Ryan grita atrás de mim. — Não suba aí.

— Por que não? Por que eu deveria ouvir você?

— Porque é onde está a pedreira. Merda, você realmente não


sabe se virar nessa floresta, não é? — Ele está marchando para
mim agora e parece chateado. — Traga sua bunda de volta aqui,
porra.

Não gostava de dar a ele a vantagem, mas estava fodida. Eu


não tinha ideia de onde estava ou como voltar para Liv e Effy.
Então, com relutância, voltei a descer a inclinação.

— Vamos. Pegue minha mão e eu a levarei de volta para suas


amigas — ele diz, subindo a ladeira para chegar até mim.

— Eu posso te seguir muito bem, não preciso pegar... — Perco


o equilíbrio e deslizo na encosta, fazendo uma abertura enquanto
minhas pernas deslizam por todas as folhas molhadas. Ryan
estende a mão e agarra meu braço, impedindo-me de cair de
bunda.

— Você estava dizendo? — Ele dá um sorriso arrogante, em


seguida, estende a mão e enfia os dedos em um dos meus cachos.
— Eu ia dizer isso antes, que eu gosto do seu cabelo assim. Todos
os marrons e dourados. Combinam com você.
Afasto-me de seu aperto. — Não me toque. — Eu digo, mas seu
comentário acende algo dentro de mim. Meus próprios pais nem
notaram meu novo corte de cabelo ou, se notaram, não disseram
nada.

Ryan percebeu.

Ryan pareceu notar muito mais do que eu percebi.

Ele bufou um sorriso e pegou minha mão, puxando-me junto


com ele. Para qualquer outra pessoa, provavelmente pareceríamos
dois jovens amantes, em um passeio romântico na floresta. Mas
olhe mais de perto e você verá como nós dois estávamos tensos.
Poderíamos estar nos tocando, mas nossa linguagem corporal
gritava para cada um de nós estar em alerta. Pelo menos, o meu
estava.

— Devemos devolver seu carro em alguns dias. — Ele fala com


um tom mais calmo e gentil. Eu não estava acreditando em seus
truques, no entanto. Não sei por que ele estava tentando bater
papo. Tudo que eu conseguia focar era em como era segurar sua
mão grande e quente. Ela enviou uma onda de choque pelo meu
braço e por todo o meu corpo. Era tudo em que eu queria me
concentrar, não em conversas inúteis. Estava em guerra comigo
mesma, erguendo minhas próprias paredes malditas e, ainda
assim, questionando tudo. Ele se sentia tão confuso quanto eu?

— Ótimo. Vou ligar para o seu pai para resolver isso.

Caminhamos juntos em um silêncio relativamente confortável.


O barulho da floresta sob nossos pés e nossas respirações suaves
era o único som que podia ser ouvido. Isso, e as batidas do meu
coração enquanto ameaçava se libertar do meu peito e se grudar
em Ryan Hardy.
Merda, por que eu estava pensando assim?

Se meu coração chegasse perto dele, ele o jogaria no chão e


provavelmente pisaria em cima dele.

Quando finalmente chegamos à clareira, a festa estava


morrendo. As pessoas formaram pares e estavam juntas,
entrelaçadas em cantos escuros. O fogo estava começando a se
extinguir, mas ninguém se importou. Não era para isso que eles
tinham vindo aqui.

— Estou indo para casa — anuncio enquanto faço a varredura


da área por Effy ou Liv.

— Eu vou te levar — diz Ryan atrás de mim.

Francamente, eu zombei da sua tentativa fraca e de merda de


cavalheirismo. A última coisa que tinha vontade de fazer era entrar
no carro dele. Eu precisava de espaço. Ele estava entrando no meu
que era bem estabelecido e causando um curto-circuito no meu
cérebro.

— Não vou deixar minhas amigas. Eu vim com elas. Vou


embora com elas. — Caminho lentamente ao redor da borda da
clareira para ver se alguma delas estava aqui. Effy ainda estava
desaparecida, mas vi Liv puxando Zak para a floresta pela mão e
se virando para lhe dar um olhar sedutor.

— Não acho que suas amigas tenham os mesmos valores que


você, Winters. Parece que Liv está mais interessada no conteúdo
da cueca de Zak do que em levá-la para casa em segurança.
Quanto a Effy, Finn provavelmente a levou para mostrar suas
gravuras. — Ele ri de si mesmo. Que bom, alguém o achou
engraçado.
Cruzo meus braços sobre o peito e olho em volta, pesando
minhas opções. Foi quando notei Chase e seus amigos do outro
lado da fogueira. Ele estava olhando diretamente para mim, e a
maneira como ele lambeu os lábios fez minha pele arrepiar.

— Bem. Vou pegar uma carona para casa com você. Mas não
fale comigo. — Viro-me para pegar Ryan revirando os olhos.

— É uma pena que vou perder todas as brincadeiras


espirituosas que poderíamos ter. Mas acho que vou viver — ele diz
sarcasticamente e se afasta.

Eu sigo, tirando meu telefone da minha calça jeans e enviando


uma mensagem de texto em grupo para as meninas para que elas
soubessem que eu tinha conseguido uma carona para casa e
confiava que elas iriam se manter seguras também. Eu sabia que
Finn era um cara bom, ele cuidaria de Effy, onde quer que
estivessem. Mas Zak? O júri ainda estava decidindo sobre isso.

Ryan para ao lado de uma van velha e surrada e sorri. — Sua


carruagem espera. — Ele se curva, parecendo um idiota, e eu rio,
então tento abrir a porta do passageiro. — Não essa porta.
Fechaduras quebradas. Você terá que usar esta e escalar.

— Chama a si mesmo de mecânico e sua própria van não tem


uma porta de passageiro funcionando? — Espreito para o lado do
motorista e entro, provavelmente dando a ele uma ótima visão da
minha bunda enquanto eu subo no console do meio.

— Nunca tive tempo de consertá-la. — Ele encolhe os ombros,


entrando e batendo a porta com força. — Por que eu deveria?
Nunca tive passageiros, de qualquer maneira.

— Certo, você usa isso para suas pequenas aventuras


noturnas e guarda o carro mais inteligente para seus encontros.
Deus me livre de pensar que isso era uma extensão do seu pau.
Que decepção.

Ele joga a cabeça para trás e ri de mim.

— Este é meu único carro, Winters. E eu não preciso de nada


para ajudar a estender meu pau. Não tive queixas até agora.

Engulo em seco quando sinto seu olhar fixo em mim. Eu não


daria a satisfação de olhar para ele ou responder. Não estava
interessada no que ele estava tramando, ou talvez eu apenas não
quisesse saber. Sua menção de nenhuma reclamação fez meu
estômago torcer. Não gostei disso.

A van nos deu um solavanco enquanto ele se afastava e voltava


para uma estrada adequada. Segurei a alça acima da minha
cabeça para me impedir de cair nele. Meu cinto de segurança
estava apertado, mas eu ainda estava deslizando para todo lado.

— Você está bem aí? — Ele olha para mim e sorri.

— Estou bem.

Ele desvia para a estrada e pisa fundo, deixando-me tensa no


meu assento.

— Você tem certeza disso?

Eu não ia admitir para ele que, desde o acidente de carro de


Danny, sentia-me nervosa ao andar com pessoas que não
conhecia. Eu não queria admitir uma fraqueza.

— É sobre isso que Zak estava falando antes? Mantenha seus


amigos por perto e seus inimigos mais perto ainda? — Pergunto,
desviando a conversa dos meus medos. Esperançosamente, um
pouco mais de luta com ele também ocuparia minha mente longe
de outras coisas.

— Foi isso que ele te disse? — Ele não estava revelando nada
com sua resposta.

— Eu sou uma delatora, não sou? Aquela que você acha que
volta correndo para o papai sempre que pode.

— Não é?

— Não. Quase não falei com meu pai nos últimos anos. Duvido
que ele saiba ou se importe onde estou na metade do tempo.

— E isso te incomoda? — Ele estava fazendo um péssimo


trabalho em esconder seu desprezo por meu pai. A raiva saindo
dele era palpável.

— Não. Eu não poderia dar a mínima. Estou interessada em


saber por que isso te incomoda.

— Por que você acha que estou incomodado? — Ele estava


apertando a mandíbula com força e batendo a mão no volante,
todos os sinais reveladores de que ele estava louco.

— Se você quiser saber algo, é só perguntar. Não sou fluente


em besteiras.

Ele alarga as narinas e bufa. — Tenha cuidado com o que


deseja, Winters. Aquela vidinha perfeita que você leva pode
desabar em torno de suas orelhas um dia.

— Pequena vida perfeita? Cai fora, Ryan. Se você tem algo a


dizer, diga.
— Bem. Pergunte ao seu pai sobre a conta Rotherham. —
Confusão enche meu rosto. Eu não tinha absolutamente nenhuma
ideia do que ele estava falando.

— Pergunte a ele. — Ele se vira para mim agora, sua expressão


mortalmente séria.

— Bem. Eu farei isso.

Ele entra na minha rua e para algumas casas abaixo da


minha.

— Vou estacionar aqui. Não gostaria que o papai ficasse


chateado com a van velha e surrada que está destruindo o bairro.

Vou abrir minha porta e lembro que estava quebrada. Ele não
se move. Em vez disso, ele agarra o volante e solta um suspiro
baixo.

— Danny era um bom amigo para mim. — Ele fala com o rosto
de perfil. — Eu o respeitava. — Ele se vira para olhar para mim. —
Mas eu não respeito seu pai. E agora, ainda não tenho certeza de
qual dos dois você escolherá depois.

— Nem tudo é preto e branco, Ryan. — Rebato a bola direto


para ele. — Danny era um cara bom, o melhor irmão que qualquer
garota poderia desejar, mas talvez eu não goste de nenhum dos
dois. Já pensou nisso?

Ele sorri para si mesmo e balança a cabeça. — Isso é


exatamente o que eu pensei. — Então ele empurra a porta e sai.

Estico minhas pernas para sair e me agarro à porta do


motorista para me levantar.
— Vou acompanhá-la até a sua porta — diz ele, mas recuso.

— Não há necessidade. Eu posso ir sozinha para casa. Não


preciso da sua ajuda.

Ele cruza os braços sobre o peito e me olha fixamente. — Conta


Rotherham — é tudo o que ele diz para mim.

— Eu não esqueci.

Marcho em direção a minha casa e paro quando chego ao pé


da minha garagem. Viro-me para encontrá-lo ainda parado ali, de
braços cruzados, observando cada passo que eu dou.

— Por que eu? — Espelho sua postura, esperando a iminente


desabafo. — Por que você está me mirando?

— Sempre foi você, Winters. Sempre.

Estava farta de seus enigmas, então me dirijo para minha casa


e não olho para ele novamente. Sabia que ele ainda estaria lá. Não
ouvi seu motor ligando até que fechei a porta da frente.
Sentei -me na única poltrona extra da sala de estar de Zak.
Tive que limpar os papéis e outras merdas que estavam por cima,
mas além de ser ridiculamente desarrumado, o apartamento do
cara era relativamente limpo. Eu não poderia reclamar. Ainda
morava em casa com meu pai. Eu estava economizando para
conseguir meu próprio lugar e o dinheiro que ganhávamos com os
eventos continuavam sendo bem-sucedidos. Isso e a comissão que
ganhei com meus carros. O único problema era que papai
precisava da minha ajuda. Não era fácil administrar a garagem,
manter a casa funcionando e socorrer meus irmãos quando eles
foderam tudo. Eu odiava vê-los lutar, então, na maioria das vezes,
paguei um aluguel extra para ajudar. Um passo para frente, dois
passos para trás. Mas era assim que era a vida para nós, Hardys.
Eu estava acostumado com isso.

— Fale — diz Brandon, olhando-me de soslaio.

Tomo um gole do café quente que Zak me entregou no minuto


em que entrei pela porta. Precisava falar isso direito. Precisava
manter minha mente clara.

— Eu fiz progresso. — Coloco a caneca no chão ao lado do meu


pé e recosto-me na cadeira.
— Progrediu como? A última vez que vi você estava entrando
na floresta, seguindo-a. — Zak sorri enquanto fala. Sei que
organizamos toda aquela charada para levá-la até lá, mas isso não
impediu nenhum dos dois de se divertirem.

— Estou surpreso que você notou. Você tinha sua língua tão
fundo na garganta de Liv Cooper, eu não achei que você pudesse
ver além do seu pau.

Ele ri e sorri para si mesmo. — Ela é energética.

— Você a verá novamente? — Finn pergunta parecendo


genuinamente interessado em sua resposta.

— Porra, não. Ela era um pouco divertida. Ela sabe como


funciona. Ela conseguiu o que queria e eu também. A questão é, e
você conseguiu, Ryan?

Todos os três pares de olhos se viram para olhar para mim.

— Emily não é assim.

— Porra. — Brandon passa as mãos pelos cabelos em


exasperação. — Você precisa de dicas sobre como entrar na
calcinha dela, Ry? Porque eu posso te ajudar. Poderia te mostrar,
se você quiser. Talvez ela goste disso? — Brandon balança as
sobrancelhas e Zak ri. Finn apenas balança a cabeça.

— E assustar a garota antes que eu ganhe a sorte grande? —


Inclino-me para frente. — Eu não preciso foder a verdade dela.
Faço as coisas de forma diferente.

— Não foi isso que ouvi. — Brandon estava seriamente


começando a me irritar.
— Eu disse a ela para perguntar a ele sobre a conta Rotherham
— eu digo, pensando que iria tirar o sorriso presunçoso de seu
rosto. Considerando que ele era um dos meus melhores amigos,
tinha sido por anos, ele realmente poderia me irritar.

— Você fez o quê? — Ele se levanta, vindo para ficar perto de


mim. Aquele sorriso presunçoso definitivamente sumiu, mas foi
substituído por uma careta. — Porra, você é suicida cara? Ele
saberá que fomos nós que a atingimos. Merda, tudo isso terá sido
em vão.

— Não, não vai.

— Como você sabe? Jesus, cara, você está realmente


bagunçando isso. Eu sabia que deveria ter tomado as rédeas. —
Ele está andando de um lado para o outro na sala agora, deixando
um buraco no tapete de Zak.

— Como eu disse, estou fazendo as coisas do meu jeito. Ela


não aceita nenhuma besteira. — Zak acena com a cabeça
enquanto eu falo. — Ela virá para mim quando conseguir o que eu
preciso. Sei que ela vai.

— Espero que, para o seu bem, ela saiba, porque se papai


Winters souber disso, ele vai nos crucificar.

Brandon afunda de volta no sofá e olha para Zak. — Encontrou


mais alguma coisa online?

— Vejo que foram feitos depósitos na conta, mas os malditos


firewalls são ridículos. Eu não consigo ter sorte. Não tenho ideia
de onde tudo está vindo. Esperemos que a Em consiga para nós.

— E o acidente? Essa merda deve estar conectada de alguma


forma — diz Brandon, e todos nós nos sentimos tensos. Eu
esperava em Deus que estivéssemos errados. Esperava que
estivéssemos, pelo bem de Emily, mas duvidava disso.

— Ouça, estou lhe dizendo agora, a abordagem mais suave é


trabalhar com Emily.

Zak ri. — Mais suave? Você a tratou como uma merda na festa.
Se isso for mais suave para você, eu odiaria ver você sendo duro
com ela.

— Acho que duro é o que ela precisa — Brandon diz


novamente.

— O meu jeito. — Cerro meus dentes enquanto falo. — Isso


está indo do meu jeito. Se algum de vocês quiser me questionar
sobre isso novamente, não serei tão compreensivo. Vocês
escutaram? Isso não está em discussão.

— Eu concordo com Ryan. — Finn fala em minha defesa. —


Emily é mais parecida com Effy do que com Liv. Você não vai
chegar a lugar nenhum se a destruir. Ela é uma boa menina.

Eu sabia que havia um motivo pelo qual gostava tanto de Finn.


Ele pode ser mais quieto, mas quando fala, faz sentido. Muito mais
bom senso do que qualquer um de nós, às vezes.

— Bem, você não pode negar que a bola está rolando agora.
Vamos apenas torcer para que não se torne uma porra de pedra e
esmague a todos nós em seu caminho — diz Zak, levantando-se
para recolher nossas canecas.

— A única coisa que estará sendo esmagada por aqui é aquele


filho da puta corrupto. — Brandon olha para mim e sorri. — E o
coração de Ryan, quando a porra de Emily Winters o chutar como
um merda.
Eu nunca tinha ouvido falar do nome Rotherham antes. Nunca
havia sido mencionado em nossa casa, pelo menos não que eu
soubesse. Pesquisei, mas nada apareceu para mim. Ryan estava
fazendo mais jogos mentais? Ou havia mais nisso? Meu pai ficou
em Westminster por mais alguns dias, então eu não poderia
perguntar a ele ainda. Eu iria, entretanto. Quando precisava saber
de algo, era como um cachorro com um osso.

Dois dias depois do nosso fiasco com a fogueira, recebi um


telefonema do pai de Ryan dizendo que meu carro estava pronto
para ser recolhido. Ele se ofereceu para mandar Ryan com ele e
deixá-lo, mas recusei, dizendo que voltaria mais tarde. Peguei um
táxi para a cidade e, quando paramos no pátio, não consegui ver a
van de Ryan. Paguei o motorista do táxi e fui para o escritório.
Sean, o pai de Ryan, estava sentado atrás da mesa e seu rosto
sorriu quando me viu.

— Emily, é tão bom ver você de novo — diz ele, estendendo a


mão para apertar a minha. — Ryan ficará desapontado por não ter
visto você. Ele está em um leilão esta tarde com nosso outro
mecânico, Kieron. Eles demorarão horas para voltar.

Sorri de volta, sentindo um pouco da tensão diminuir, sabendo


que não enfrentaria outro impasse. Eu também me senti meio
desapontada. Por mais que ele me ferisse, gostei da maneira como
colocava fogo na minha barriga. Ele sempre me fazia desafiar; me
defender.

— Tudo bem. Tenho certeza que nos encontraremos outra


hora. Você tem papelada para eu assinar?

Ele se ocupou examinando os papéis em sua mesa. Seus


sistemas de arquivamento pareciam ter saído diretamente dos
anos oitenta. Notei outro jovem entrar na parte de trás e, quando
me viu, sorriu.

— Ei, posso ajudar em alguma coisa? — O cara se aproximou


e se encostou na mesa, dando-me uma olhada.

— Afaste-se, filho. — diz Sean com força. — Esta é a garota de


Ryan. A última coisa que quero é mais um dos meus filhos faltando
na minha mesa por causa dos seus olhos errantes.

Eu só fiquei lá com minha boca aberta, provavelmente


parecendo um peixe demente.

Garota de Ryan?

Fiquei tão surpresa com seu comentário que nem consegui


falar.

— Eu sou Connor — o cara diz com um brilho nos olhos e


estende a mão para apertar a minha. — O irmão mais velho de
Ryan, mas provavelmente você já sabia disso.

Não. Eu não sabia nada sobre a família de Ryan. Só conheci


seu pai dias atrás. Eu tinha entrado em alguma zona de penumbra
estranha de Hardy?

— Eu sou Emily — eu digo me sentindo atordoada.


Sean olhou entre nós dois enquanto Connor segurava minha
mão um pouco mais do que o necessário. — Você pode deixá-la ir
agora. — Ele resmunga para o filho mais velho e, em seguida,
coloca alguns papéis na minha frente e me dá um sorriso genuíno
e comovente. — Assine aqui, meu amor.

Pego a caneta e assino, depois tiro meu cartão de crédito


pronto para pagar.

— Sem custo — afirma Sean abruptamente.

— O quê? Mas eu quero pagar do meu jeito.

Ele dá uma risadinha. — Não. Sem custo. Apenas mantenha


meu filho feliz. — Então ele pisca e empurra a papelada em uma
gaveta abarrotada.

Faço uma careta. Eu não tinha ideia do que estava


acontecendo. Não gostava de aceitar coisas de graça, não quando
vinham em circunstâncias duvidosas como essa, e para ser
honesta, eu não tinha ideia do que dizer de volta, então balancei a
cabeça e fiquei quieta. Não pensei em torcer minha cara e dizer a
ele: — Até parece. Seu filho é um psicopata — era a resposta certa.

Sean suspirou e olhou para mim novamente. Ele estava com


as chaves do meu carro nas mãos, mas as segurou por mais um
tempo e disse: — Posso te mostrar uma coisa?

— Err, sim, claro.

Ele se levantou e abriu a escotilha que separava o escritório


de onde eu estava. — Ele provavelmente vai morder minha cabeça
por mostrar isso a você, mas, novamente, talvez não, visto que é
você.
Esses homens Hardy com certeza gostavam de suas conversas
enigmáticas.

Segui Sean quando ele me chamou para o escritório, depois


me conduziu pelos fundos e pela área de trabalho ao ar livre em
direção a uma casinha no fundo de suas instalações. Ele abriu a
porta de metal e acenou com a cabeça para dentro.

— Esta é a oficina do Ryan. Para seus carros.

Entramos e Sean acendeu as luzes.

— Uau! — O carro parado no meio de sua oficina não estava


totalmente montado, mas já parecia algo que estava fora deste
mundo.

— Ele fez isso. Projetou e construiu do zero. Até mesmo ele


próprio soldou o chassi. É incrível, não é? Kieron e Connor o
ajudam com o trabalho pesado, mas ele fez todas as coisas
principais. Ele é um prodígio, meu filho.

Sean ficou ao lado com os braços cruzados, olhando com


orgulho enquanto eu circulava a peça de arte de prata na minha
frente. Essa é a única maneira que eu poderia descrever; arte.

— Ele é contratado para fazê-los. Ele está fazendo um grande


nome para si mesmo. — Sean coça o queixo pensativo. — Ele é
bom demais para este lugar, mas você já sabe disso.

Balanço a cabeça, atordoada mais uma vez em silêncio.

— Eu disse a ele que ele precisa ir para a engenharia ou estar


lá desenhando carros para as grandes empresas. Não estar preso
aqui comigo dia após dia. Ele tem talento, meu rapaz. Verdadeiro
talento.
Ele aponta para a parede traseira e eu vagueio para encontrar
polaróides de outros carros que ele tinha feito, pregados em um
quadro de cortiça.

— Isso é incrível, Sean. Você está certo, mais pessoas precisam


saber sobre isso.

Olho para suas anotações e desenhos espalhados por sua


mesa improvisada; números e cálculos matemáticos que pareciam
hieróglifos para mim estavam escritos neles. Foi quando percebi
outra polaróide saindo de baixo da pilha de papéis. Deslizei para
fora e minha respiração ficou presa no meu peito. Era uma foto
minha, tirada na festa do armazém algumas semanas atrás. Esse
maldito vestido branco se destacando em meio a toda a escuridão.
Na foto, eu estava parada perto das portas que davam para o andar
de baixo, onde encontrei Ryan e Brandon na sala de luta. Eu não
tinha ideia de que Ryan tinha me visto antes disso. Na verdade, eu
não tinha ideia do por que ele estava tirando fotos minhas.

Deslizei de volta de onde a peguei e me virei para Sean,


esperando que ele não tivesse visto também. De repente, senti-me
desconfortável por estar aqui, como se estivesse me intrometendo
em algo que não deveria. Segredos que não ganhei. Mentiras que
eu ainda não tinha descoberto.

— Ele é um bom garoto — acrescentou Sean, como se tivesse


lido minha mente e quisesse acalmar as coisas para seu filho
rebelde. — Eu conheço todas as pessoas, ele não se importaria se
eu compartilhasse isso com você, mas ele é tão reservado. Nem
mesmo eu posso voltar aqui normalmente.

— Estou feliz que você me mostrou. Não vou dizer que você o
fez. — Sorrio para ele e seus ombros relaxam.
— Estou feliz por ele ter encontrado você, Emily. Percebi uma
diferença nele nas últimas semanas. É como se ele tivesse
recuperado sua centelha.

Eu sabia que não poderia levar o crédito por isso, mas não
queria estourar a bolha de Sean. A faísca que ele viu em seu filho
veio da vingança que ele queria obter e do estilo de vida que levava.
Não eu.

Sean continuou, alheio. — Ele sofreu mais forte do que


qualquer um deles quando sua mãe morreu. Ele é o mais novo dos
meus rapazes e, no entanto, sempre foi aquele que se destacou, o
cuidador. Não sei o que faria sem ele. — Sean balança a cabeça
como se estivesse afastando pensamentos ruins e sorri para mim,
segurando minhas chaves enquanto o faz.

— Obrigada, Sean. — Pego as chaves dele e não sei por quê,


mas o abraço. Ele provavelmente pensou que eu era uma completa
esquisita, mas não pude evitar. Gostei de Sean. Ele era o que um
verdadeiro pai deveria ser. Ele estava a anos-luz de meu pai e, de
certa forma, eu estava com ciúmes. Ryan pode ter passado pela
dor de perder um dos pais, e eu não desejaria isso a ninguém, mas
ele teve sorte com Sean.

— Venha jantar uma noite — ele diz, me abraçando de volta e


dando um beijo paternal no topo da minha cabeça. — Vou dizer a
Connor para se comportar. Todos nós gostaríamos de conhecê-la
melhor.

— Talvez. — Afasto-me e suspiro. Eu gostaria de ter um pai


como Sean, e me entristece pensar que nunca o terei. A
proximidade e facilidade de ser tão familiar. Amor incondicional.
Poderia ter construído mil carros e meu pai nunca teria olhado
para mim com o orgulho de Sean.
— Diga a Ryan que passei por aqui — acrescento, me sentindo
um pouco culpada. Por mais que gostasse de Sean, sabia que, ao
deixar essa mensagem, isso irritaria Ryan, e não me importaria.
No fundo, eu queria. Aborrece-lo estava se tornando meu novo
passatempo favorito.

A noite de sexta-feira chegou e, por volta das oito, meu pai


entrou pela porta. Seu motorista carregou suas malas e meu pai
foi direto para a sala de estar, chamando o nome de minha mãe.
Não o meu. Ele não estava aqui para me ver.

Vagueei até a porta e os observei se abraçar e se beijar. Não


sei por que ela simplesmente não foi para Westminster junto
quando ele estava trabalhando. Ela não fez muito quando ficou
aqui. Apenas compras, compromissos de cabelo, manhãs de café e
ficar na minha cola sobre como resolver meu futuro.

Dei-lhes mais alguns minutos a sós, em seguida, passei para


lançar minha sombra sobre sua pequena reunião maravilhosa.
Papai se aproximou para me abraçar, mas não senti nenhum calor
ali. Ele era bom em representar um papel, dar um show. Era o seu
trabalho.

— Conseguiu algo mais com essas inscrições para a


universidade, Emily? — Nenhum, como você está? Nenhum, você
sentiu minha falta? Porque eu senti sua falta. Acho que ele só queria
outra frase de efeito para sua campanha. Olha, aqui está minha
filha, a futura… Por favor, insira qualquer profissão intelectual e
erudita que você goste.

— Eu ainda estou procurando. Ainda não decidi o que quero


fazer. Tenho um ano sabático para finalizar as coisas. Não há
pressa.
— Sabe, tenho ligações com Oxford e Cambridge. Não sei por
que você não me deixa usá-las. Isso tornaria a vida muito mais
fácil.

Não para mim. Não queria dever meu futuro a um dos


associados de meu pai. Eu faria tudo sozinha.

— E outra coisa, Emily... — Ele franze a testa para mim como


se estivesse se preparando para ler o ato de revolta. — Eu recebi
um telefonema da empresa de guinchos outro dia. Algo sobre
atender a uma chamada e você não estar lá. Isso é uma coisa
agora? Fazendo trotes sobre o seu carro quebrar?

Ele não estava feliz. Seu rosto estava vermelho brilhante e ele
olhou para mim como se eu tivesse cometido um assalto à mão
armada ou algo assim. O fato é que eu estava tão chocada quanto
ele. Ryan não tinha feito as ligações e a papelada necessárias ou
algo assim?

— Eu não tenho absolutamente nenhuma ideia do que você


está falando. Meu carro foi recolhido. Foi consertado. Nenhum
maldito trote foi feito.

— Linguagem, Emily! — minha mãe repreende. — Ela está


certa, no entanto. Emily realmente resolveu tudo sozinha. —
Mamãe diz como se eu tivesse organizado alguma proeza
gigantesca. Era um carro quebrado, pelo amor de Deus.

— Tanto faz. Eu não sou criança. Eu não faço trotes. Dê-me


algum crédito.

— Provavelmente é um descuido da parte deles — papai


respondeu, não querendo dedicar mais tempo ou esforço a algo
que era obviamente insignificante em sua vida. — Hoje em dia não
se consegue uma boa equipe.
Joguei-me no sofá e os deixei vagar, apanhados em seu
pequeno mundo. Eu queria perguntar ao meu pai sobre a conta
sobre a qual Ryan havia me questionado, mas agora não era o
momento certo. Não tive que esperar muito tempo. Cerca de duas
horas depois, meu pai estava em seu escritório revisando sua
postagem e e-mails, então entrei e fechei a porta silenciosamente
atrás de mim.

— Posso ajudar em algo? — ele diz, olhando por cima dos


óculos para mim. Senti-me como se estivesse no escritório do
diretor. Eu não estava nada confortável, mas fiquei intrigada.
Também não tinha medo de me empurrar para frente e fazer
perguntas para as quais queria respostas.

— Eu queria te perguntar sobre uma coisa. — Meu pai acena


com a mão e acena para que eu me sente na cadeira em frente à
sua mesa, mas ele continuou lendo algo na tela do computador
como se eu não estivesse lá. — Eu ouvi algo e... achei que você
poderia me dizer o que é. — Nem sabia sobre o que estava
perguntando. Então, decidi pular no fundo do poço. — O que é a
conta Rotherham?

A cabeça do meu pai virou na minha direção e o medo em seus


olhos ardeu como chamas do inferno, e então, como se um
interruptor tivesse sido acionado em seu cérebro, ele mascarou o
medo com suspeita, jogando punhais de desconfiança em minha
direção.

— Onde você ouviu esse nome?

Gaguejo e balanço minha cabeça. — Eu ouvi alguém


mencionar isso.
— Quem? Conte-me? Onde diabos você ouviu esse nome? —
O fato do meu pai ser quem é e estar xingando me dizia tudo que
eu precisava saber. Ele estava puto.

— Talvez um de seus gerentes de campanha ou relações


públicas tenha mencionado isso? Eu não sei. O que é, pai?

— Não é nada. Nada para você se aprofundar. — Ele estreita


seu olhar para mim de uma forma acusatória. — Você tem mexido
nas minhas coisas? Você veio aqui enquanto eu estava fora? Juro
por Deus, se você tem se metido em coisas que não lhe dizem
respeito...

A culpa estampada em seu rosto me deixou ainda mais curiosa


para descobrir o que diabos estava acontecendo.

— Eu não tenho bisbilhotado, se é isso que você pensa. —


Lanço um olhar de nojo para ele e me levanto da cadeira. —
Esqueça o que eu disse.

Eu não esqueceria. Esse nome causou uma reação nele e eu


precisava saber por quê. Quando chego à porta e abro para sair,
ele grita atrás de mim.

— Fique fora dos negócios sobre os quais você não sabe nada,
Emily. E nunca mais diga esse nome nesta casa novamente. Você
me ouviu?

Balanço a cabeça, mas por dentro estava preparada e ansiosa


para ir. Havia uma história lá e eu ia descobrir qual era.

Eram duas da manhã e minha casa estava mortalmente


silenciosa. Abri a porta do quarto dos meus pais e vi os dois
dormindo. Sem fazer barulho, desci sorrateiramente até seu
escritório e, quando cheguei à porta, girei a maçaneta, surpresa ao
descobrir que estava destrancada. Fui até a mesa dele e tentei
algumas gavetas, mas estavam todas trancadas. Fui até seus
arquivos, mas novamente eles estavam trancados e eu não tinha
ideia de onde as chaves estavam. A única coisa que restou foi seu
computador. Eu o liguei e quando me pediu a senha, digitei uma
combinação do nome de Danny, o meu e finalmente o da minha
mãe. Sorte da terceira vez. Eu deveria saber que ele escolheria o
nome da minha mãe como senha. Que original.

Abri algumas pastas, mas nada se destacou para mim e não


tinha ideia do que deveria estar procurando. Então, cliquei na
barra de pesquisa e digitei Rotherham. Uma pasta apareceu
imediatamente e dentro dela havia documentos, planilhas e outras
informações que pertenciam a algum tipo de conta bancária.
Parecia ser uma conta estrangeira e não reconheci nenhum dos
nomes que haviam feito depósitos ou retiradas. Mas as quantias
eram grandes. Enormes. O total de toda a conta tinha mais dígitos
do que eu já tinha visto em um extrato bancário. Oito números
para ser exata. Como diabos meu pai teve acesso a esse tipo de
dinheiro? Era o dinheiro dele? Obviamente, era algo que ele queria
que ninguém descobrisse, especialmente eu.

Pego meu telefone do bolso do roupão e tiro algumas fotos das


declarações. Tive a sensação de que isso seria algo que eu gostaria
de manter como evidência. Definitivamente, algo para investigar
melhor. Isso era lavagem de dinheiro? Ou algo pior? Seja o que for,
até a menção do nome tinha assustado meu pai. Então eu sabia
que isso só poderia ser uma má notícia para mim e minha família.

Independente do que for, eu sabia que era apenas a ponta do


iceberg.
Uma semana depois, recebemos o próximo convite dizendo que
eles cuidariam de tudo, junto com as coordenadas, que depois de
digitá-las no Sat Nav, nos levaram a uma velha piscina vitoriana.
A demolição estava prevista para o mês seguinte, e placas foram
colocadas em toda a cerca de segurança para nos dizer para
ficarmos fora. Como se isso fosse impedir qualquer um, uma vez
que ouvissem o estrondo do baixo vindo de dentro. O
estacionamento e a área ao redor estavam lotados de carros e
motos, então sabíamos que este não seria outro encontro exclusivo
como antes. Não. Eles iriam com força hoje à noite.

Não havia holofotes do lado de fora sinalizando o paradeiro de


Finn como antes. Mas as luzes da rua nesta parte da cidade não
eram tão ruins, então não tivemos que arriscar nossas vidas
escolhendo nosso caminho através dos escombros para chegar ao
prédio. Bem, a menos que você se opusesse ao fato de que vários
sinais nos diziam que o lugar não era seguro e exibiam avisos de
perigo onde quer que olhássemos.

— Você acha que o prédio em si é seguro para isso? — Effy


pergunta, olhando em volta como se esperasse que alguém pulasse
a qualquer momento.

— Vai ficar tudo bem. Eles sempre colocam esses avisos em


lugares fora de uso como este. Eles querem manter os invasores
fora. — Liv puxa a cerca para o lado para nos deixar passar, então
assume o outro lado e a segura aberta para ela. Assim que a solto,
o metal volta ao lugar.

— Invasores e drogados. Quanto tempo você acha que vai


demorar antes que eles encerrem esta festa hoje à noite? —
Pergunto.

Liv encolhe os ombros. — Em um dia normal, eu diria uma


hora. Mas esta noite há um rival local do outro lado da cidade. City
and United. Acho que a polícia vai concentrar seus esforços
daquele lado, não é? Esses rapazes não são estúpidos. Eles sabem
a melhor hora para atacar.

Senti aquele formigamento familiar de excitação ao ouvir a


música e gritos vindos de dentro. Também senti apreensão. Minha
intriga por esses quatro meninos crescia a cada dia e, no entanto,
quanto mais perto eu ficava cada vez que os encontrava, mais
confusa ficava. Era como tentar segurar a água com as mãos ou
sentir o brilho das chamas. Você podia ver, sentir como isso o
afetava, mas você nunca poderia realmente entendê-lo, porque no
minuto que você pensasse que tinha descoberto, ele se alterava, se
movia, reconfigurava e tudo que você sabia era virado de cabeça
para baixo.

Eu sabia que eles estariam aqui esta noite. Afinal, era a festa
deles. Também sabia que eles iriam querer me insultar, me fazer
perguntas para as quais eu não tinha respostas. Brincar comigo
como um tigre e sua presa. Se Danny estivesse aqui, ele ficaria
bravo por me envolver em seus jogos malucos de gato e rato. Mas
gostei da aventura. Era como um quebra-cabeça que eu precisava
desvendar.

Vimos o mesmo segurança na porta da festa do armazém e


mostramos a ele nossas mensagens de celular, que também eram
nossa passagem para o outro lado. Ele carimbou nossas mãos e
deu um passo para trás para nos deixar passar, recebendo nosso
pagamento conforme cada uma de nós passava. A área do saguão
estava abarrotada de gente andando por aí, cantando, dançando,
bebendo e fumando. O doce cheiro de maconha me atingiu e
agarrei o braço de Effy, puxando-a para mais perto da música. Liv
seguiu atrás e quando passamos pela multidão e entramos na área
de dança principal, todas paramos de lado para dar um tempo.

Havia uma piscina, que deveria estar cheia de banhistas há


muitos anos. Agora, ela estava drenada com azulejos de porcelana
pendurados nas laterais e buracos no chão. Não que isso
incomodasse alguém aqui. A piscina estava sendo usada como
pista de dança. Como qualquer um deles sairia se houvesse uma
emergência, ninguém sabia. A parte mais funda da piscina
passava por cima de suas cabeças, mas eles não pareciam se
importar. A novidade de dançar em uma piscina sem água
provavelmente era muito atraente para eles. Peculiar. As algas
verdes que estariam manchando seus sapatos e roupas não me
impressionaram muito entretanto.

Zak tinha seu DJ definido ao lado da piscina, no fundo. Luzes


estroboscópicas dançavam pela sala, dando-lhe uma vibração
elétrica assustadora. Zak estava em seu elemento, espaçado e
focado exclusivamente nas músicas que estava tocando. Olhei em
volta, mas não consegui ver nenhum dos outros meninos.
Reconheci algumas pessoas da escola, mas ninguém se destacou.

— Vamos dançar? — Liv pergunta, caminhando até os degraus


e abaixando-se para a pista de dança.

— Você vem, Em? — Effy bate no meu cotovelo em questão.

— Eu quero explorar. Este lugar é incrível e assustadoramente


estranho. — O teto gótico sobre a piscina dava a sensação de que
estávamos em um cofre. Os arcos de ferro forjado se erguiam sobre
nós e sugeriam a grandeza de antigamente. A melhor arquitetura
encontrava a decadência urbana. Aposto que Finn estava em seu
elemento esta noite.

— Você vai nos abandonar de novo? — Effy diz sorrindo. —


Estou brincando. Vá e explore. Você sabe onde nos encontrar
quando terminar. — Ela se vira e se abaixa na área de dança da
piscina ao lado de Liv e me dá um pequeno aceno.

Eu não sabia o quão segura ou estúpida era a ideia de vagar


por aqui sozinha, mas nunca fui de ouvir e estava começando a
perceber que também não gostava de fazer o que me era dito. Não
mais. Ryan Hardy, todos aqueles meninos, despertaram algo em
mim que eu não queria ignorar. A curiosidade matou o gato. Deve
ser por isso que eles têm sete vidas.

Abri caminho através da multidão e em direção às escadas que


levavam ao que costumava ser os vestiários. O cheiro almiscarado
de mofo úmido também estava misturado com suor. Foi tão
nojento que me fez sentir falta do cheiro adocicado doentio da
maconha na entrada, mas consegui passar. Eu podia ver um mar
de corpos mais adiante no corredor de azulejos e sabia exatamente
o que eles estavam fazendo aqui. A adrenalina subiu através de
mim enquanto eu me movia mais fundo na multidão de pessoas.
Zak reuniu sua congregação no andar de cima. Finn estava em
algum lugar criando magia, mas aqui era onde encontraria
Brandon e Ryan. Este era o domínio deles. O submundo decadente
da luta.

Consegui entrar à força em uma sala que estava lotada de


homens e mulheres, todos prontos para testemunhar algo
alucinante. Depois do que Chase disse sobre Ryan armando
fraudes nas apostas, eu esperava encontrá-lo aqui, mas não o
encontrei. Três caras que não reconheci estavam aceitando
apostas e o dinheiro estava sendo entregue à esquerda, à direita e
ao centro. Havia chances de serem denunciadas, mas isso não
significava nada para mim. Esta sala estava suja e mofada, escura
e depravada. Isso me deu a sensação de ter saído da Inglaterra
vitoriana onde havia sido construída. Onde a moral era frouxa, os
homens eram corruptos e apenas os mais fortes sobreviviam.

Percebi alguns dos homens olhando na minha direção, me


olhando de cima a baixo e demorando um pouco demais no meu
peito. Eu usava jeans skinny apertados e um top de colete curto
igualmente apertado, mas meus seios não estavam para fora. Olhei
para baixo, pronta para me ajustar apenas no caso e vi um braço
musculoso tatuado familiar serpenteando em volta da minha
cintura.

— Eu não posso acreditar que você veio até aqui para me ver
lutar. Você é meu amuleto da sorte? — Brandon respira em meu
ouvido enquanto fala em voz baixa, o que para ele provavelmente
acharia uma maneira sedutora. Ele passa o outro braço em volta
da minha cintura e me puxa, enterrando o rosto no meu cabelo e
respirando fundo.

Sendo segurada contra ele assim, eu poderia realmente


apreciar o quão sólido ele era. Era como uma máquina; duro, tenso
e preparado. Mas ele não me deu borboletas como Ryan. Ter
Brandon me envolvendo assim só me fazia arrepiar de irritação.
Ele não tinha o direito de colocar as mãos em mim e eu não estava
aqui para vê-lo. Não da maneira que ele pensava, de qualquer
maneira. Claro, eu queria vê-lo lutar. Estava curiosa. Mas não
estava aqui para chamar sua atenção. Meus sentidos estavam em
alerta vermelho, esperando por outra pessoa.

Agarrei suas mãos para tirá-las de mim e ele riu.


— Guardando-se para depois? Recebo o prêmio quando eu
ganhar?

— Qual prêmio? — Retruco e tento virar minha cabeça para


olhar para ele, mas ele estava tão perto que eu mal conseguia me
mover.

— Você. — Ele ri de si mesmo. Não sei por quê, ele não era
engraçado. Então ele inclina-se e dá um beijo na lateral do meu
pescoço.

— Cai fora, Brandon. Não estou interessada — eu digo com os


dentes cerrados.

— Eu gosto quando você luta comigo — ele sussurra. — Mas


você viu como eu luto, pequena Winters. Você já deve saber, eu
sempre ganho.

— Não a mim — eu digo, mantendo minha cabeça erguida e


meu corpo rígido.

— Vou ganhar você eventualmente. — Ele afrouxa o aperto em


mim e beija o topo da minha cabeça. — Como eu disse, sempre
ganho. — Ele vem para ficar na minha frente e balança as
sobrancelhas como se esperasse que eu risse ou derretesse em
seus braços. Mantenho minha expressão neutra e olho
diretamente para ele. — Oh, que frio, Winters. — E então ele ri de
si mesmo, novamente. — Frio. Winters. Viu o trocadilho que fiz?

Reviro meus olhos. Ele tinha a habilidade de brincadeira de


uma criança de sete anos.

— Eu riria de sua tentativa débil de humor, mas tenho certeza


de que você tem garotas suficientes ao seu redor que fingem. Você
não precisa de outra.
Ele joga a cabeça para trás e ri. — Não há necessidade de fingir
nada comigo, baby. Eu sou o verdadeiro negócio.

Então ele se afasta, batendo palmas e dando tapinhas nas


costas das pessoas enquanto anda. Observo-o se arrastar em
direção aos fardos de feno que foram armados para criar um ringue
de boxe improvisado. Ele era como um messias para o qual todos
eles abriam caminho. Um Deus que comandou uma audiência,
mas deu a mensagem clara de que eles precisavam ficar para trás.

Percebendo que eu o estava observando, ele pisca para mim,


então tira a camiseta e fica lá em sua calça jeans, respirando fundo
e se colocando na zona. Seu peito é rasgado e coberto de tatuagens,
e ele flexiona os músculos e salta no local, preparando-se para a
luta. Ele rola a cabeça e sacode os braços, então acena com a
cabeça para um cara à esquerda dele, que lhe entrega uma garrafa
de água. Não havia luvas de boxe ou ringue para esta luta, no
entanto. Esta era uma luta crua, indomada, com os nós dos dedos
nus. Se você for atingido, não se atreva a cair. Se caísse significava
que você nunca mais se levantaria. Isto aqui é cada um por si.

Eu podia sentir a onda de tensão no ar quando o oponente de


Brandon entrou na sala. Então, eu senti o calor nas minhas costas
de novo, só que desta vez, meu corpo derreteu do iceberg que tinha
sido literalmente minutos atrás, em uma piscina no chão, e senti-
me inclinar-me para ele antes mesmo que ele falasse.

— Eu pensei ter dito que você não pertence a este lugar. —


Ryan está atrás de mim, sua respiração abanando o lado do meu
rosto enquanto fala. Respiro fundo, inalando seu cheiro que gira
ao meu redor. Como uma droga, acalma meus nervos em
frangalhos e me faz suspirar instintivamente. — Continue fazendo
barulhinhos como esse e eu vou jogar você por cima do meu ombro
e te tirar daqui antes que você cause mais problemas.
— Não sou eu quem está causando problemas. — Eu digo,
acenando com a cabeça para onde Brandon estava parado,
intimidando seu oponente. Ele estava com um sorriso ridículo e
seus olhos estavam arregalados, como se ele estivesse tentando
parecer ainda mais louco do que era. Ele realmente não precisava
se esforçar tanto. Qualquer idiota poderia ver que ele era um
psicopata. Ele deu dois passos para frente, forçando-se a entrar no
espaço do outro cara e então bateu a testa contra ele, dizendo algo
ameaçador para ele sob sua respiração. O outro cara o empurrou
e se virou para sua equipe, rindo. Todo o tempo, Brandon ficou
focado e não vacilou.

Ryan colocou o braço em volta de mim e colocou a mão sobre


a minha barriga, puxando-me para ele como Brandon tinha feito e
eu engasguei. Certamente não me senti irritada desta vez. Não, me
sentia quente e incomodada e descobri que minha concentração
havia sido puxada para longe do acúmulo da luta, como se ele
tivesse me laçado e me amarrado a ele. Ele fez todos os nervos do
meu corpo acenderem e tudo que eu podia focar era nele, sua
respiração, a batida de seu coração que combinava com a minha.
Virei minha cabeça para o lado, sem ter certeza do que dizer, mas
então percebi o que fez Ryan reagir daquela maneira. Chase
Lockwood estava parado na porta, olhando diretamente para nós,
mas não parecia feliz. Ele parecia chateado. Olhei para Ryan e,
com certeza, ele estava olhando carrancudo para Chase, incitando-
o. Desafiando-o a vir e desafiá-lo de alguma forma. Chase balançou
a cabeça em desgosto e mudou sua atenção para Brandon.

— Você vai mijar em mim também? — Finjo não parecer


afetada por ele, mas não fiz nenhum esforço para mover sua mão
ou me afastar. Por que eu deveria? Gostava de me sentir assim;
um pouco selvagem e imprudente. Sem mencionar que eu
provavelmente estava em uma posição que a maioria das garotas
nesta festa gostariam de estar. Nos braços de Ryan Hardy. Droga,
meu corpo era um traidor. Merda, minha mente estava juntando
forças também. Estava me tornando complacente demais para o
meu próprio bem.

— Só se você gostar disso, princesa — ele diz rindo baixinho


para si mesmo.

— Bruto. — Era oficial, minha mente estava confusa e não


tinha nenhuma resposta inteligente. Ótimo.

— Por que você está aqui? — ele pergunta, se aninhando mais


profundamente no meu pescoço enquanto fala. Sinto as pontas
dos seus dedos escovar lentamente por baixo da minha blusa e
minha pele arrepia-se.

— Porque você me convidou. Recebi a mensagem. Ou isso não


era para ir para o meu telefone? — Tento manter minha cabeça
limpa e não deixar os golpes suaves que ele está dando em meu
estômago e quadril me enganar e me deixar cair sob seu feitiço.

— Eu não quis dizer neste edifício, quis dizer aqui, nesta sala.
Não é seguro aqui. — Fico imóvel, sentindo um calor crescente
dentro de mim com seu toque e suas palavras. Abafado, palavras
baixas significadas apenas para mim. Ele estava criando outra
bolha para nós. Gostava de estar nas bolhas de Ryan.

— Sinto-me segura. — E eu quero dizer isso. Por mais


indiferente e frio que Ryan pudesse ser às vezes, sentia-me segura
com ele ao meu lado. Sim, provavelmente foi ele quem me
perseguiu por aquele corredor na festa do armazém. Mas se eu
fosse realmente honesta comigo mesma, sabia que ele nunca me
machucaria. Ele foi amigo de Danny uma vez e Danny não faria
amizade com alguém que fosse cruel. O fato de Danny ter se
mantido afastado de Brandon dizia tudo.

— Bem, você não deveria.


Sorrio com sua tentativa de me enervar. Seria preciso muito
mais do que isso. — Você não deveria estar dando um golpe em
algum lugar, fazendo apostas?

— Eu tenho pessoas para fazer isso por mim. Tenho outras


coisas em mente esta noite. — Ele apoia o queixo no meu ombro e
a familiaridade que ele estava me mostrando está quebrando todas
as minhas defesas.

— Como o quê? — Prendo a respiração esperando o que ele


dirá a seguir, desejando que seus dedos toquem mais para baixo.
Deus, eu estava perdendo minha cabeça aqui.

— Tipo, o que eu vou fazer para você se comportar. — Meu


estômago revira com a sugestão de ele me obrigando a me
comportar. Imagens das deliciosas punições que ele seria capaz de
aplicar inundam minha mente e me fazem corar. Merda, eu preciso
controlar isso. Meu coração batendo está pronto para se libertar.
— Papai me contou sobre sua conversinha outro dia. — Ryan tira
a mão do meu estômago e imediatamente sinto falta de seu calor.
Ele passa um dedo em torno de um dos meus cachos, porém,
mantendo esse contato entre nós. Fico imóvel. Sean também tinha
contado a ele sobre nosso tour em sua oficina?

— Eu estava pegando meu carro. Estava no meu melhor


comportamento. — Minha voz soa mais fraca do que esperava.

— Oh, eu sei disso. Você foi convidada para o jantar de


domingo. Você não será capaz de fazer isso. — Ele larga meu cacho
e em troca meu coração cai no chão.

— Não vou? Eu gosto de um bom assado de domingo — eu


digo parecendo indiferente.
— Não pense que você vai se sentar à minha mesa tão cedo,
Winters. — E aqui estamos nós de novo, com Ryan mudando para
um modo distante e não afetado.

— É a mesa do seu pai, não a sua. De qualquer forma, o que


te faz pensar que eu gostaria de ir? Tendo a perder meu apetite
quando você está por perto.

Sim, mas não pelos motivos que estava insinuando.

— É bom saber que tenho um efeito sobre você, princesa.

— Os insetos sempre me afetam.

Ele ri alto, ganhando alguns olhares sujos. Tento abafar o


barulho do meu pulso batendo em meus ouvidos e me concentro
na luta que tinha começado. Brandon estava provocando o cara,
acenando-o para frente e projetando o queixo para fora,
implorando por um soco. No minuto em que o cara dá um golpe,
Brandon se esquiva e dá um soco direto na lateral do cara,
deixando-o sem fôlego por alguns segundos. Brandon é um lutador
inteligente, medido e calculado. Ele sabe como dançar ao redor de
seu oponente, usar suas fraquezas contra ele. Era como assistir a
um gladiador brincando com um leão ou um toureiro hipnotizando
o touro. Ele tinha aquele cara bem onde ele o queria.

— Então, você conseguiu falar com seu pai? — Ryan pergunta,


puxando-me de volta da ação mais uma vez.

— Eu fiz. — Se ele queria informações, ele teria que fazer


melhor do que isso.

— E? — Ele passa o braço em volta de mim novamente, como


se seu corpo tivesse ouvido o meu e soubesse exatamente o que
fazer para me fazer falar.
— E o quê? Ele não me disse nada — eu digo, mantendo meus
olhos em Brandon o tempo todo.

— Achei que você fosse uma boa espiã, Winters. Desistindo tão
cedo?

— Eu disse que ele não me contou. Eu não disse que não


encontrei nada, disse? — Sorri para mim mesma. Este jogo de
empurrar e puxar foi o mais divertido que eu tive... Bem, de todos
os tempos.

— Você é mais esperta do que eu pensava.

Sim. Sim, eu sou.

Tiro meu celular do bolso e toco meu código para desbloquear


a tela. Então trago as fotos que tirei das transações da conta. Meu
coração dispara quando Ryan pega meu telefone. Seus dois braços
me envolvem enquanto ele folhea cada imagem e olha as fotos por
cima do meu ombro.

— Foda-se — é tudo o que ele diz. Prendo a respiração,


sentindo como se fosse implodir a qualquer minuto com a
intensidade de tê-lo no meu espaço assim por tanto tempo. —
Precisamos ir a algum lugar mais silencioso. Preciso obter cópias
disso.

Vou pegar meu telefone de volta, mas não sou rápida o


suficiente. Ryan o guarda no bolso, agarra minha mão e me leva
para fora da sala. Eu não preciso forçar meu caminho neste
momento. As pessoas simplesmente se movem automaticamente
para Ryan. Eu teria que começar a chamar esses meninos de
Moisés em breve.
Caminhamos algumas portas pelo corredor e entramos em um
armário antigo que estava equipado com garrafas de água, toalhas
e outras coisas que Brandon provavelmente usaria depois de sua
luta. Um saco de pancadas estava pendurado no teto e pontas de
cigarro estavam em um prato sobre uma mesa dobrável. Ryan
fecha a porta atrás de nós e aponta para uma cadeira de plástico
e me diz: — Sente-se. — Mas fico parada onde estava. Em seguida,
ele tira meu celular do bolso e começa a digitar meu código de
segurança.

— Como diabos você sabe meu código?

— Acabei de ver você digitar. Lembro-me de seis dígitos. Não é


tão difícil.

— O que você está fazendo? — Faço uma careta para ele


enquanto falo. Tão flexível quanto ele me fez esta noite, não gosto
dele tendo controle sobre meu telefone.

— Enviando essas fotos para o meu telefone para que eu tenha


uma cópia. — Ele pisca para mim então, olhando para mim por
baixo de sua franja desleixada. — Meu número estará no seu
telefone agora também, você sabe, caso você precise de mim.

— Por que eu precisaria de você?

Ele bufa e me dá um olhar que envia faíscas voando pelo meu


corpo. Foi um olhar atrevido? Sedutor? Eu não fazia ideia. Minha
experiência com o sexo oposto era um tanto limitada, para dizer o
mínimo, e agora, sentia-me terrivelmente inadequada.

— Você tem alguma ideia de quem são essas pessoas? — Ele


balança meu telefone enquanto fala, indicando que se referia às
pessoas da conta.
— Nunca ouvi falar deles, mas pretendo descobrir. — Cruzo
meus braços sobre meu peito defensivamente. — Também gostaria
de saber… Por que isso é tão importante para você?

Ele dá de ombros e me devolve meu telefone.

— Vamos apenas dizer que há alguns erros que precisam ser


corrigidos. Não é nada para você se preocupar em sua cabecinha.

— Se você quer minha ajuda, eu irei ajudá-lo, se algo ruim


estiver acontecendo, você precisa ser sincero comigo.

Ele morde o lábio e sorri enquanto olha para o chão, em


seguida, de volta para mim. — O que papai diria se soubesse que
você está sendo uma menina má?

— Eu não dou a mínima. Meu pai é um idiota.

Eu vejo um fogo acender atrás de seus olhos e algo se passa


entre nós. Mas então, de repente, a porta se abre e Brandon vem
tropeçando, quase me derrubando, e cai na cadeira de plástico.
Seu rosto está uma bagunça e ele tem um corte enorme no olho
esquerdo, que pinga sangue. Até olhar para isso me deixa travada.

— O que diabos aconteceu com você? — Ryan pergunta.

— O cara tinha um soco inglês escondido no bolso de trás. A


segurança esta noite é uma merda. Como diabos ele conseguiu
passar por eles?

Brandon estava enxugando a enorme ferida aberta com uma


toalha branca que estava rapidamente ficando vermelha. Ele não
vacilou, no entanto. Ele estava tão nervoso com a adrenalina
bombeando em suas veias que não conseguia sentir nada; apenas
arrogância e petulância.
— Então, nós perdemos um monte de merda de dinheiro? Você
perdeu a luta, certo?

Resmungo para Ryan. Eu não podia acreditar que estava do


lado de Brandon, mas essa foi uma reação realmente horrível de
se ter.

— O caralho que eu perdi. Esmaguei sua cabeça contra a


parede, quebrei seu nariz e nocauteei o filho da puta. Ele ainda
está deitado lá agora, com metade de sua galera lamentando por
ele. Fizemos um maço de dinheiro esta noite. — Brandon sorri e o
sangue cobrindo seus dentes o faz parecer demoníaco. — Obrigado
pela preocupação. Winters, eu recebo meu prêmio agora?

Ryan solta um grunhido do outro lado da sala e, quando olho


para ele, está fazendo aquela coisa toda de apertar a mandíbula e
levantar os punhos de que ele parecia gostar tanto. Acho que
Brandon teve punhos suficientes por uma noite.

— Você precisa ir para o hospital — acrescento, tentando


quebrar a atmosfera tensa.

— Nah. Eu não preciso de um médico. Você pode me consertar


muito bem, não pode, Winters?

— Não! Esse não é um corte antigo qualquer. Isso é profundo


e precisa de pontos. — A ideia de tocar Brandon Mathers a
qualquer momento me enche de pavor, ainda mais quando ele está
jorrando sangue e obviamente delirando.

— Ela está certa — diz Ryan me apoiando. — Você precisa


cuidar disso.
— Eu não estou indo a lugar nenhum. Emily vai cuidar disso.
— Brandon diz com naturalidade e me lança um sorriso louco e
com dentes de sangue.

— Por que eu?

— Porque você tem toda aquela vibração de Madre Teresa,


Florence Nightingale. Além disso, sei que suas mãos serão gentis.
Você não quer bagunçar meu lindo rosto, quer?

Ouço Ryan murmurar algo sobre bagunçar ainda mais se ele


não parar com tudo. Balanço minha cabeça, inflexível de que o
rosto de Brandon seria a última coisa que eu estaria cuidando. —
Você vai desmaiar com a perda de sangue em um minuto. Não
estou te tocando.

— Eu vou fazer isso. — Ryan avança, pegando uma caixa de


primeiros socorros da prateleira atrás de Brandon.

— Não, você não vai. Você não pode simplesmente colocar um


emplastro sobre isso. Ele sangrará através de qualquer curativo
em minutos. Ele precisa ir a um hospital, levar pontos e tomar
uma injeção também.

— Preocupada que eu pegue raiva? — Brandon diz me


mandando um beijo.

— Você já é raivoso, e não, não estou preocupada. Quer saber,


se quer uma cicatriz feia para o resto da vida, vá em frente. Estou
fora daqui.

Vou embora, mas a voz de Brandon me para.

— Bem. Eu irei. Mas só se você vier comigo.


Eu realmente perco o juízo, porque contra o meu melhor
julgamento, acabo dizendo: — Tudo bem.

Viro para abrir a porta e ouço Brandon dizer: — Onde diabos


você está indo?

Achei que ele estava se referindo a mim e estava prestes a


revirar os olhos para ele e dar-lhe uma resposta idiota,
acompanhada de um ponto de interrogação sobre sua sanidade
atual, quando Ryan solta:

— Aonde ela vai, eu vou.


Nós três saímos do espaço que parecia uma despensa e
voltamos para a festa para sair por lá.

— Não por aí — diz Ryan, enganchando a mão sob meu


cotovelo e levando-me pelo corredor e para longe da ação. — Não
queremos que todos vejam. Sairemos pelos fundos.

— Você está dirigindo? — Brandon pergunta a Ryan enquanto


segura a toalha encharcada de sangue sobre o olho, mas Ryan
balança a cabeça e puxa o celular do bolso de trás.

— Consegui uma carona com Zak. Talvez Finn possa nos


levar?

— Sem chance. A irmã de Finn nos deu carona. Ligue para


Kian. Ele vai nos levar.

Eu não conhecia Kian muito bem. Eu o tinha visto na escola,


quando Danny e os outros estavam lá, mas Kian era um pouco
enigmático. Sempre na periferia do grupo e nunca se encaixando
totalmente. Ele obviamente considerava muito esses caras, porque
ele atendeu no primeiro toque e disse a Ryan que o encontraria do
lado de fora sem qualquer hesitação.
Quando saímos, vimos os faróis do carro brilhando direto para
nós e Kian estava encostado na porta do motorista.

— O que diabos aconteceu com você? — Os olhos de Kian


saltam das órbitas enquanto ele fala. Eles obviamente não estavam
acostumados a ver Brandon levar um golpe, a julgar por suas
reações esta noite.

— Não se preocupe Ki, o outro cara está bem pior. Acho que o
filho da puta ainda está desmaiado lá. — Brandon lança-lhe um
olhar furioso e salta para o banco da frente, batendo-o com força.

— Bom saber. — Kian acena com a cabeça para Ryan e eu


enquanto ambos entramos na parte de trás. Mudo de posição ao
longo do assento para deixar Ryan entrar atrás de mim. Fico grata
por Brandon ter escolhido a frente. Não iria gostar de estar com ele
aqui atrás. O cara me assusta em um dia bom e este não era um
bom dia.

Kian liga o carro, então olha para mim. — Você é Emily, certo?

Concordo.

— Prazer em conhecê-la, Emily. Sou Kian ou Ki. Qualquer um


dos dois está bom. — Ele bate na lateral da testa em saudação e,
em seguida, engrena o carro e sai em disparada como se estivesse
treinando para a NASCAR. Vou agarrar a maçaneta da porta para
me apoiar, mas Ryan coloca o braço em volta do meu ombro e me
puxa para ele.

Não gosto de estar em outro carro, não depois do que


aconteceu com Danny, mas acho que Ryan percebe isso porque
sussurra: — Você está bem. Ele é um bom motorista. Nada de ruim
vai acontecer. — Eu estava tensa, mas tê-lo por perto ajudou um
pouco.
Quando paramos do lado de fora do hospital, meu corpo
parece exausto por estar tenso e rígido com a tensão.

— Eu deveria ter dirigido — diz Ryan para mim. — Ainda é


recente, não é? — Ele deve ter sentido o quão nervosa eu estava.

— Meu irmão e melhor amigo, morreu em um acidente de


carro. Sempre vai ser difícil.

Ryan dá um aceno triste e aperta meu joelho. Eu não queria


chafurdar na pena de ninguém. Então viro-me e abro a porta,
saindo e deixando a mão de Ryan cair no assento.

— Vamos acabar com isso. Faça o check-in e resolva tudo.


Quanto menos tempo passarmos aqui, melhor. Já vi hospitais
suficientes este ano. — Caminho até as portas duplas com
propósito e os meninos me seguem. Quando a equipe vê Brandon,
eles o conduzem até um cubículo e nós o seguimos. Kian fica na
sala de espera. Ele concorda em preencher a papelada.

Uma enfermeira mais velha, na casa dos cinquenta anos, entra


apressada no cubículo e vai direto para Brandon, puxando a
toalha de seu ferimento e estalando a língua enquanto o faz. Ela
parece o tipo maternal, todas curvas suaves e simpatia, mas
quando ela fala, é tudo menos isso.

— Jesus, o que você fez, seu menino estúpido? Tem lutado? —


Ela olha de soslaio para Ryan e então volta-se para Brandon.

— O outro cara saiu pior — diz Brandon, tentando dar a ela


um sorriso atrevido e piscar os olhos. Isso apenas o faz parecer
que está tendo problemas para se concentrar.
— Eu estou ansiosa para remendá-lo mais tarde então. Não é
como se eu tivesse algo melhor para fazer aqui, em um hospital,
destinado a pessoas doentes.

Ryan murmura algo sobre Brandon ser doente mental e ela


vira a cabeça.

— Se você tem algo a dizer, garoto bonito, diga logo. Não tenho
paciência para desperdiçadores de tempo. Se tudo o que você vai
fazer é resmungar no canto, você pode sair.

Eu nunca tinha visto Ryan ser colocado em seu lugar tão


abruptamente.

— Desculpe, senhora — diz ele e afunda-se na cadeira,


olhando para mim. Ele espera que eu mergulhe nesse show de
merda e o apoie?

— E você? — Ela volta sua atenção para mim agora. — O que


uma garota adorável como você está fazendo com dois infames
como esses em um sábado à noite? Você não tem nada melhor
para fazer da sua vida? Se você fosse minha filha, eu bronzearia
seu traseiro e te castigaria por um mês.

— Pensei que as enfermeiras deveriam ser compassivas — diz


Brandon antes que eu possa responder. — Acho que quero fazer
uma substituição.

— Isto não é a Wheel of Fortune, Rocky. Você não pode escolher


quem você vê. Se você quer que eu conserte isso sem deixar uma
cicatriz de merda para trás, é melhor você mostrar um pouco mais
de respeito. Eles não me chamam de rainha dos pontos à toa.

— Título legal... Se você mora em uma prisão — responde


Brandon.
Ela dá uma gargalhada alta e a plenos pulmões para ele e
então sorri. Eu poderia dizer que ela estava começando a gostar
dele. Acho que ela gostava da brincadeira de Brandon.

— Acho que vou nos mudar para uma sala privada para os
pontos. Os meninos grandes sempre gritam mais alto. Não posso
deixar você assustar as crianças. — Ela ri e nos conduz para fora
do cubículo e pelo corredor.

— Eu não vou gritar. Não sou nenhum covarde. — Diz


Brandon, levantando-se a contragosto da cadeira e seguindo-a.

— Isso ainda está para ser visto, garoto. No meu livro, covardes
não brigam e acabam no hospital em uma noite de sábado,
arrastando seu melhor amigo e sua garota para um passeio.

— Eu não sou...

— Ela não é namorada dele. — Ryan me interrompe. A


enfermeira, Constance estava escrito em seu crachá, vira-se e dá
a Ryan e a mim um olhar penetrante.

— Longe de mim questionar qualquer arranjo estranho que


vocês jovens têm em andamento.

Bufo. O que diabos Constance estava insinuando? Senti Ryan


ligar sua mão à minha. Ele não gostou que ela tirou conclusões
precipitadas também, se ele segurar na mão fosse alguma
indicação. Brandon olhou para nós e depois para nossas mãos
unidas e bufou de sua própria irritação.

— O que podemos dizer, Constance? Estamos em alguma


merda estranha e pervertida.
— Brandon! — Eu digo. — Fale por você mesmo. — Sinto o
rubor subir do meu peito, pelo meu pescoço e pelo meu rosto.

Constance ri de novo. — Eu tenho 59 anos, garoto. Nada do


que você diga ou faça pode me chocar. Eu vi tudo.

Caminhamos para a sala privada e Constance conduz


Brandon a uma cadeira. Largo a mão de Ryan e fico de lado. Sinto-
me estranha e não sei o que fazer comigo mesma. Talvez eu devesse
ter ficado para trás na sala de espera com Kian?

Constance se ocupa preparando coisas para os pontos e


limpando o ferimento. Brandon sibila algumas vezes, mas não está
prestes a mostrar qualquer fraqueza. Então ela ergue uma seringa,
batendo nela, pronta para anestesiar a área para ele, e o rosto de
Brandon ficou branco como um fantasma.

— Que porra é essa?

— Anestésico — diz ela sem olhar para ele. — A menos que


você queira que eu costure isso com nada além de um pedaço de
madeira para você morder.

— Acho que prefiro a madeira. — Todos nós olhamos para


Brandon quando ele se senta ereto como uma haste, olhando para
a seringa como se fosse um AK-47.

— Ótimo. Você tem medo de agulhas. — Constance resmunga


novamente e força seu caminho para frente, apontando a agulha
para a testa de Brandon, pronta para injetar em torno do corte.
Brandon bufa e então afunda na cadeira.

Ele desmaiou.
O grande e malvado Brandon Mathers, boxeador de mãos nuas
e psicopata estava com medo de agulhas e desmaiou na cadeira da
enfermeira Constance.

— Oh meu Deus. Ele desmaiou. — Engasgo, segurando minha


mão sobre minha boca em choque.

— Ele faz isso o tempo todo. Ele não consegue lidar com
agulhas. — Ryan encolhe os ombros.

— E pensar que o chamei de Rocky. — Constance ri. — Mais


como o Mr. T.

— Aquilo eram aviões, não agulhas. — Ryan revira os olhos.

— Oh sim. — Constance ri e encolhe os ombros. — É melhor


injetar isso antes que ele acorde, então.

Alguns segundos depois, Brandon volta a si, mas estava tonto


e não mostrou resistência. Constance trabalhou sua magia,
limpando-o e terminando os pontos perfeitamente. Assistir ao
trabalho dela era hipnotizante. O tempo todo ela cantarolava uma
música de Lionel Richie tocando no rádio do canto.

— Seja útil, garoto — ela diz a Ryan, que estava encostado na


parede, roendo as unhas. — Vá e peça à recepção para mandar
uma pessoa aqui para que eles possam levá-lo para fora.

— Eu não preciso de uma maldita cadeira. Eu posso andar


muito bem. — Brandon levanta-se e quase desmaia novamente.
Constance o empurra para baixo no assento pelos ombros e bufa.

— Você ainda não está pronto para andar — diz ela. — Espere
mais alguns minutos. As pessoas estão sempre inseguras depois
de um episódio como o seu.
— Eu não tive a porra de um episódio — ele rosna de volta. —
Estava quente aqui, só isso.

— Tudo o que você disser, amor — Constance diz, acenando


com a cabeça para Ryan para fazer o que ela mandou.

Ryan empurra a parede e me lança um olhar, então sai.


Observo Constance retirar os instrumentos e, em seguida, envolver
a cabeça de Brandon cuidadosamente com suas bandagens.
Quando ela termina, vem ficar ao meu lado, de costas para
Brandon.

— Ele é um menino bonito. Ambos são. — Ela me dá um


sorriso conhecedor. — Os dois amam você, não é?

Gaguejo. — Eles não são meus namorados. Eles não... nós


não...

Ela ri e suspira, lançando-me um olhar severo e maternal. —


Ou eles vão quebrar seu coração, ou você vai quebrar os deles. Se
você quer minha opinião… Escolha um e fique com ele. Você não
pode manter os dois pendurados. Essa merda nunca funciona.
Confie em mim. Eu sei. Você vai perder os dois.

Faço uma careta. — Eu não estou com Brandon. Não sinto


isso por ele — sussurro, para que ele não ouça.

Ela assente. — E o outro?

— É complicado.

— Uh huh. Complicado e emocionante? Eu também já fui


jovem. Seja cuidadosa. Você terá uma grande dor de cabeça se
continuar assim. Eu vi os olhares cuidadosos que ambos estavam
lhe dando. Para seu próprio bem, escolha um e certifique-se de que
o outro saiba.

Naquele momento, Ryan volta para a sala, seguido por um


senhor empurrando uma cadeira de rodas.

— Os cubículos estão todos lotados esta noite, Con. Acho que


teremos que estacioná-lo em um corredor ou na sala de espera até
que ele esteja pronto para ir — diz o porteiro.

Constance dá um tapinha no ombro de Brandon de expressão


severa e sorri. — Ele é um osso duro de roer. Não vai precisar de
uma cama. Você poderia levá-lo até o estacionamento e ele ficará
bem.

Brandon grunhe em concordância.

Ryan e o porteiro conseguem ajudar Brandon a se sentar. O


tempo todo, Brandon os empurra para fora do caminho e os
amaldiçoa, dizendo que está bem sozinho. E eu? Ainda estava
atordoada com a pequena explosão de Constance e olhando entre
os dois garotos na minha frente.

— Fez a escolha certa? — Constance sussurra em meu ouvido.


— Se você seguir seu coração, você nunca errará.

Se eu fosse com meu coração, estaria correndo para fora deste


hospital e nunca mais olharia para trás? Eu duvido disso. Por
alguma razão, esses meninos estavam me puxando. Mas eu
sempre soube que um estava chamando meu coração. Só não
sabia se ele estava brincando com isso em troca.
Outra noite, outra tempestade de merda na vida de Ryan
Jameson Hardy. Senti como se minha força de vontade estivesse
morrendo lentamente. Tudo ao meu redor parecia estar me
incitando, me provocando. Fazendo-me sentir como se o controle
que ansiava fosse apenas uma ilusão. Eu não tinha controle. Não
quando cada pequeno movimento, cada comentário descartável ou
olhar me colocava de volta. Sempre soube que ela me deixava fraco,
mas fui bom em me enganar todos esses anos. Fazer parecer que
a pequena mentirosa não me afetava. Agora, eu não tinha tanta
certeza de que ela era a mentirosa que sempre imaginei que fosse.
Na verdade, eu sabia que ela não era. Ela foi acima e além esta
noite, por todos nós. Estava ganhando seu lugar nesta pequena
equipe fodida que tínhamos. O problema era que eu não queria
compartilhá-la, mesmo agora.

O porteiro levou Brandon para a sala de espera e olhei para


ver Emily conversando com a enfermeira Ratched. Emily olhou
para mim enquanto elas falavam, e um rubor coloriu suas
bochechas. Normalmente, vê-la nervosa assim teria me estimulado
a jogar minhas fichas como idiota. Mas algo mudou esta noite, e
não queria mais ser aquele idiota. Não para ela.

Avistei Zak e Finn sentados no canto ao lado de Kian, e


estacionamos Brandon bem perto.
— Quem está fechando esta noite? — Pergunto, sentindo-me
irritado e chateado. Nossas festas duravam o tempo que eles
precisavam e ainda era muito cedo. Com todos nós sentados aqui
assistindo a bunda de Brandon, não havia ninguém para calar a
merda. Não podíamos perder dinheiro, equipamentos de DJ ou
nossa reputação.

— Policiais vieram e nos fecharam — diz Zak. — No entanto,


tiramos tudo a tempo. Nem todo mundo, mas... — Ele deu de
ombros. — Pelo menos estamos bem.

Eu sabia que isso significava que ele fechou qualquer aposta,


coletou dinheiro e tirou todas as nossas coisas. Estávamos bem
por mais uma noite.

— Você estava lá quando eles apareceram? — Pergunto.

— Não. Tom nos mandou uma mensagem com a dica.


Limpamos o local a tempo. — Ele olha para Finn e os dois
concordam com a cabeça.

Tivemos sorte de ter Tom como aliado. Ele era um policial


local. Um cara legal. Ele estava alguns anos acima de nós na
escola, e acho que gostava dos oprimidos. Isso e viver
perigosamente. Por que outro motivo um policial sairia de seu
caminho para alertar quatro infames como nós quando uma batida
estava para acontecer? Se não fosse por Tom Riley, teríamos
falhado anos atrás.

Brandon continua a choramingar como uma cadela no canto,


reclamando de tudo e qualquer coisa. Eu não tinha filtro e nem
paciência para suas besteiras esta noite. Ele logo desabou quando
viu Emily chegando. Até ele amoleceu por causa dela.

— Ei, Winters. Você vai vir e limpar minha testa febril?


— Vai se foder — ela retruca.

Ele apertou o coração, tentando ser dramático. — Ela me ama


— brinca, e os outros riem junto. Eu não. Estava ficando cansado
de suas brincadeiras maliciosas. — Você parece bem para mim.
Vamos lá. — Caminho em direção à porta, nem mesmo esperando
para ver se algum deles me seguiria. Eu não me importo. Bem,
sim, mas eu não estava prestes a mostrar isso.

Quando chegamos ao estacionamento, olho para trás e os vejo


seguindo alguns metros. Zak estava sorrindo e passou o braço em
volta de Emily, dizendo: — Você está se tornando uma de nós
agora, Ems. Teremos que encontrar um trabalho para você. Tornar
isso oficial.

Ela faz uma careta e empurra o braço dele com nojo. — Acho
que não. Isso soa como tudo que eu não quero fazer da minha
vida... Nunca. — Ele acha que ela estava brincando. Ela não
estava. Essa garota estava ficando mais ousada a cada minuto.

Ela pegou seu telefone e começou a rolar para longe. Eu sabia


o que ela estava fazendo, procurando o número de sua amiga para
que pudesse pegar uma carona para casa.

Não vai acontecer, princesa.

Vou até Kian e estendo minha mão. — Dê-me suas chaves.

Ele as tira do bolso e me dá sem questionar.

— Você vai com Finn e Zak. Leve Brandon para casa. Vou
deixar Emily. — Viro-me para ir embora, mas Winters tem outras
ideias.

— Acho que não. Estou ligando para um Uber.


— O caralho que você está. Entre no maldito carro, Emily. —
Ela revira os olhos para mim e eu posso dizer que ela está prestes
a discutir um pouco mais, mas pensa melhor e caminha até a porta
do passageiro do carro de Kian.

— Suponho que deveria ser grata. Pelo menos este carro tem
uma porta que funciona. — Ela abre, entra e fecha a porta com
força, recostando-se com os braços cruzados e uma expressão
azeda no rosto.

Ela estava chateada, mas gostei que ela ainda fez o que lhe foi
dito. A combinação perfeita de desafio, atrevimento e maldita
atitude sexy que enviou uma mensagem direta para o meu pau.
Os outros se dirigiram ao carro de Finn, que estava estacionado
nas proximidades, e Brandon gritou para mim. — Vá com calma
com ela, camarada. Deixe algo para o resto de nós.

Chupe meu pau, Mathers. Seria um dia frio no inferno antes que
eu deixasse você chegar perto dela.

Voltamos para a casa dela em silêncio. Ela solta um bufo


ocasional, provavelmente para me dizer o quão puta está, mas
gosto dos pequenos ruídos que ela faz. Eles tinham o efeito oposto
em mim. Quando paro em frente à casa dela, desligo o motor e ela
sai do carro sem dizer uma palavra.

— Você não vai me agradecer pela carona para casa? —


Pergunto, saindo para segui-la.

Ela se vira para me encarar com uma expressão carrancuda,


parada na parte inferior de seu caminho. — Agradecer significaria
que sou grata, o que não sou. Eu só estava naquele hospital porque
você e seus amigos idiotas me arrastaram até lá. Não era do jeito
que eu queria passar a noite.
Parei bem na frente dela, certificando-me de ficar alguns
passos perto demais. Eu gostava de empurrá-la para fora de sua
zona de conforto. Gostei da maneira como seus olhos se
iluminaram quando cheguei muito perto. — Lamento ter sido uma
grande decepção para você. Talvez eu possa fazer algo para
compensar isso?

— Como o quê? Explodir-se? Dirigir penhasco abaixo? Oh...


As possibilidades são infinitas. — Ela bate no lábio em pensamento
e encaro-a. Eu não conseguia tirar meus olhos daqueles lábios
carnudos e rosados dela. As possibilidades eram realmente
infinitas, querida.

— Você fez a todos nós um favor esta noite. E não estou


falando apenas sobre o hospital. — Abaixo-me para olhá-la nos
olhos, passando os dedos pelo cabelo para dar às minhas mãos
inquietas algo para fazer. — Nunca pensei que você fosse contra o
papai como fez. Não para nós. Aquelas fotos que você tirou... Isso
foi além do esperado. Subestimei você.

Eu não sei o que dá em mim, mas inclino-me para tocar seu


rosto, acaricio sua bochecha e passo meu polegar em seu lábio
inferior. Ela era tão macia, tão delicada, e estava me matando o
quanto eu queria ter essa garota. Envolver, fazê-la minha e nunca
a deixar ir.

Inclino-me, esperando que ela se derreta em mim para o nosso


primeiro beijo. Merda, meu coração está batendo loucamente.
Sinto que vou explodir se não a beijar agora; encerrar isso e dar a
ela o que nós dois queremos. Mas assim que me inclino para frente,
ela dá um passo para trás e a expressão de repulsa em seu rosto
me faz adivinhar tudo.

Ela me odeia.
— Eu não fiz isso por você — cospe. — Se meu pai gosta de
alguma merda obscura, eu quero saber. Farei qualquer coisa para
ajudar. Mas vamos deixar uma coisa bem clara... Nada disso foi
para você. Estou fazendo isso por mim.

Fico lá com minha boca aberta como uma porra de uma


aberração enquanto ela recua, para longe de mim, então se vira e
se dirige para a porta da frente. Ela não olha para trás, nem mesmo
quando fecha a maldita porta. Apenas começo a recuar como se eu
não tivesse acabado de colocar todo o meu coração em risco,
desnudando-me, explodindo e queimando espetacularmente.
Graças a Deus os outros não estavam aqui para ver. Abri as portas
do meu coração frio por ela e o que ela fez? Arrancou as dobradiças
ensanguentadas, saqueou-as e depois foi embora, jogando o
fósforo imaginário para trás para colocar fogo nas ruínas. A única
coisa era que ela não estava prestes a me destruir.

Seu fogo apenas atiçou minhas chamas.

Seus demônios dispararam contra mim.

E percebi naquele momento, a porra de Emily Winters era tudo


que eu sempre quis.

Ela era tudo para mim.


Eu mal dormi naquela noite. Pensamentos sobre o que a
enfermeira Constance havia dito giravam em meu cérebro,
nublando meu julgamento e distorcendo minhas razões. Imagens
de Brandon e sua intenção perversa fizeram meu estômago
queimar com as insinuações encobertas e o tom decadente. Mas
foi Ryan que realmente me consumiu de todas as maneiras
possíveis.

Eu nunca soube onde eu estava com ele. Nunca soube onde


eu estava. Em um minuto, ele estaria me assustando ou
provocando, no próximo, eu tinha certeza que ele iria me beijar.
Repassei nossa última conversa uma e outra vez, analisando cada
olhar, cada palavra, e nem me faça começar com os toques. Ryan
me tocando sempre era um choque para o sistema. Mas na noite
passada, quando ele colocou a mão na minha bochecha e esfregou
meu lábio, senti como se estivesse morrendo e sendo trazida de
volta à vida de uma vez. Foi tudo demais. Muito intenso. Eu não
conseguia respirar, não conseguia me concentrar. Precisei de toda
resolução que tive para me agarrar de volta e não cair em sua
armadilha.

Porque era uma armadilha, certo? Por que outro motivo um


cara como Ryan estaria provocando uma garota como eu?
Olhando em seus olhos e vendo essa necessidade, isso me
assustou. Afastei-me, porque era a única resposta que meu
cérebro egoísta poderia conjurar.

Lute ou fuja.

De certa forma, escolhi os dois. Afastei-me dele, mas não antes


de lhe dar uma chance de despedida e colocá-lo em seu lugar.
Deixei-o saber que fiz minha escolha. A escolha que Constance
desejou que eu fizesse antes de deixar o hospital.

Eu me escolhi.

Meu pai estava fazendo algo obscuro, que nem estava em


discussão, e eu iria descobrir o que era. Mas não porque Ryan me
pediu isso. Estava fazendo isso por mim. Para a minha família. Eu
precisava proteger minha própria vida. Quando a merda atingisse
o ventilador, e iria, queria ter certeza de que minha família não
estava na linha de fogo. Eu não queria colocar meu futuro em
risco, por ninguém. E se meu pai era burro o suficiente para deixar
a bola cair e ter gente como os homens da Renaissance farejando
seu negócio, então eu não confiava que ele seria capaz de salvar a
mim ou a minha mãe quando chegasse a hora. Eu precisava saber
o que estava acontecendo.

De onde veio esse dinheiro?

Conhecimento era poder, e quando os poderes da vida do meu


pai vierem à tona por respostas, eu queria estar pronta.

Estava sentada em um café local com minhas amigas,


analisando a noite anterior e tentando entender o que tinha
acontecido nas últimas semanas. As coisas nunca eram
monótonas hoje em dia, isso era certo.

— Então, você foi para o hospital... — Liv zomba enquanto fala.

— Sim.

— Com Brandon Mathers.

— Sim.

— Por quê? Você não o odeia? — Eu não tinha certeza de como


responder a essa pergunta. Sim, eu o odiava, mas não era
totalmente sem coração.

— Ele me pediu e senti-me mal. O cara estava com metade da


sobrancelha pendurada, Liv. O que posso dizer? Tive um momento
de fraqueza.

— Você está tendo muitos desses ultimamente no que diz


respeito a esses meninos. — Ela resmunga e cruza os braços sobre
o peito, deixando-me saber que ela não aprovava minhas ações.

— O que isso deveria significar? — Pergunto, sentindo-me


defensiva de repente.

— Nada. Esqueça o que eu disse.

Mexo meu café com leite distraidamente e mordo minha


língua. Eu sabia através de Effy que as coisas com Zak não tinham
saído como planejado para Liv. Sem mencionar que eu não tinha
sido a melhor amiga de nenhuma delas recentemente, mas meio
que estava distraída. Era uma justificativa fraca, mas era a única
que eu tinha.
De repente, ouvi Liv dar um som de “Oh” e olhei para cima
para ver Chase Lockwood entrar no café e ir até o balcão. Ele deu
à garçonete um aceno de cabeça e um sorriso e encostou-se no
caixa enquanto conversava com ela. Nem um fio de cabelo estava
fora do lugar e ele tinha aquele sorriso assassino pintado apenas
para ela. Eu não tinha contado a Liv ou Effy sobre meu encontro
com Chase na floresta na festa. Sentia-me decadente só de pensar
nisso. Mas me arrependi dessa decisão no minuto em que Liv
chamou seu nome e acenou para que ele se juntasse a nós.

— O que você está fazendo? — Eu digo, afundando ainda mais


na minha cadeira, esperando que ele apenas acenasse e seguisse
em frente. Eu já tinha o suficiente acontecendo na minha cabeça
sem adicionar as mentiras de Chase Lockwood à mistura.

— Senhoras. É bom ver todas vocês. — Felizmente ele não


puxou uma cadeira para se juntar a nós, ele apenas ficou lá
sorrindo.

— Olá, Chase. Não te vimos desde a fogueira. Você está bem?


— Liv pergunta de uma maneira sedutora que me faz questionar
quais eram exatamente seus motivos. Depois do que ela disse
sobre ele não ser o que parecia na fogueira, assumi que ela não
era sua maior fã. Mas agora, estava agindo como se comesse em
suas mãos.

— Estou bem, eu acho. As coisas em casa estão um pouco


tensas. Meu pai estava falando com o seu ao telefone quando eu
saí agora, Em. Parece que algo grande está acontecendo.

Dou de ombros. Eu não sabia o que deveria dizer sobre isso.


Meu pai tinha sido um pequeno investidor em alguns negócios do
pai de Chase, mas não acho que eles eram tão próximos.
— Parece que você precisa restaurar suas energias, Chase. —
Liv ronrona, dando a ele olhos de cachorrinho ridículos.

Qual era o problema dela?

Ele acena com a cabeça e olha diretamente para mim. — Eu


com certeza poderia. Talvez se Em concordasse em sair comigo,
isso me daria algo pelo que ansiar.

Quase engasgo com meu café com leite. Engulo em seco e olho
para ele. Diria a ele que inferno e congelar tinham vindo à minha
mente, mas Chase não sabia que eu o tinha ouvido naquela noite,
e não queria lavar minha roupa suja no meio deste café. Ainda não,
de qualquer maneira. Ele estava sendo tão cavalheiresco, e isso só
me faria parecer uma vadia.

— Eu... eu não posso — murmuro, enxugando minha mão


sobre o café que respingou no meu queixo.

— Ela adoraria ir a um encontro. — Liv diz. Effy dá a ela o


mesmo olhar maligno que eu.

— Ela adoraria? Eu posso falar por mim mesma, você sabe.


Eu estou...

— Ótimo! Você está livre na sexta? Umas oito? — Ele não se


importa com o que eu disse. Ficou muito feliz em abrir caminho
através de Liv e a atitude dela não de quem não se importa.

— Não... — Tento argumentar.

— Sim. Ela está livre. Pegue-a às oito. — Liv nem olha para
mim e eu agarro seu joelho debaixo da mesa para apertá-lo e dizer
não, mas ela me ignora.
— Vejo você às oito então, Em.

Chase se afasta com o maior sorriso de merda no rosto,


pegando seu café para viagem da garçonete e dando-lhe uma
piscadela enquanto sai. Eu nunca tinha percebido como ele era
superficial antes. Na verdade, ele levou o superficial a um nível
totalmente novo. Cerro os dentes, pronta para perguntar a Liv que
porra ela estava fazendo.

— O que diabos foi isso? Porque você fez isso? Não quero sair
com Chase Lockwood. Eu não vou.

— Tudo bem, então não vá. Se você fosse, daria a Ryan o chute
que ele precisa para colocar sua bunda em marcha.

— Do que você está falando? — Eu não gostava de discutir


com minhas amigas, mas estava pronta para ir com tudo na bunda
de Liv.

— Oh vamos lá! Ryan está apaixonado por você, Em. E eu sei


que você gosta dele também. Talvez, se ele souber desse encontro,
finalmente faça algo a respeito e convide você para sair
pessoalmente. Então, talvez o resto de nós possa ter uma pausa
de ouvir sobre todos os dramas entre vocês dois.

Oh, inferno, não.

— O quê? Você precisa de uma pausa dos meus dramas? Bem.


Eu não vou incomodá-la novamente. Mas saiba disso, Liv. Você é
insana. O que faz você pensar...

Sou rudemente interrompida por Kian, o aspirante a


renascentista, que agarrou uma cadeira e se jogou na nossa mesa.
Eu nem tinha visto ele entrar. O fato de ele se juntar a nós não fez
nada para apagar o fogo em mim que Liv tinha criado por ser
minha guru de namoro não nomeada. Eu não tinha acabado com
esse assunto, nem de longe.

— Uau — diz ele, olhando para cada uma de nós. Então sorri
e balança a cabeça. — Chase Lockwood deve ter uma porra de um
desejo de morte se ele acha que pode vir aqui e te chamar para
sair.

— Oh, meu Deus. Do que você está falando? Eu não vou sair
com ele. Não estou namorando ninguém. — Estava tão cansada
disso. Senti-me pronta para caçar Chase e colocá-lo em seu lugar.
Dizer a ele em termos inequívocos que seu pau nunca iria se
molhar. Não comigo, de qualquer maneira.

— Oh, nós sabemos. Ryan bloqueoou essa merda anos atrás.

O que você disse agora?

— Repita isso? — Inclino-me para a frente na cadeira e franzo


o rosto.

— Pare de falar enigmas, short stack, e diga-nos do que diabos


você está falando. — Liv diz, indo direto ao ponto como de costume.

— Você sabe... Ryan e toda aquela coisa de 'ninguém tem


permissão para namorar Emily' que ele sempre falava na escola.
Oh. Vocês três não sabiam disso? Merda. Eu não acho que deveria
dizer nada. Pensando bem, esqueça que falei. Você não me viu
aqui.

Jogo-me para trás na minha cadeira, rolo meus olhos e solto


o maior suspiro do dia. Esse cara era inacreditável, porra.
Kian foi se levantar, mas Liv agarrou seu braço, forçando-o a
voltar para sua cadeira. — Não tão rápido, Tiny Tim. Precisamos
que nos conte tudo.

— Eu não posso. Eles são meus amigos. — Ele sorri como uma
criança que foi pega roubando biscoitos e achou que seu sorriso
doce o tiraria do gancho. Sem chance, cara. Não dessa vez.

— E nós somos três adolescentes hormonais que podem e vão


tornar sua vida um inferno se você não nos contar exatamente o
que você sabe. — Liv grita de volta para ele. Ela era imune a seus
encantos. Todas nós éramos.

— Ele não tem nada a dizer sobre quem eu namoro. Ele nunca
teve.

Eu estava tão chateada. Sabia que eles estavam por trás disso.
Eles provavelmente enviaram Kian em um exercício de foder a
mente apenas para brincar um pouco mais com a minha cabeça.
Faça a crédula Emily pensar que Ryan é um cavaleiro da armadura
brilhante. Por que não? O irmão não está por perto para negar.
Esses meninos gostavam de brincar comigo, mas eu não iria
dançar essa música.

— Foi meu irmão, Danny, quem avisou os caras, não Ryan.

— Isso é exatamente o que ele quer que você acredite. Ah,


merda. Eu vou para o inferno por causa disso. Se vocês me
delatarem, eu juro, vou perseguir seus traseiros pela eternidade.

— Temos bundas boas. O prazer será todo seu. Agora diga. —


Liv diz, dando a ele seu melhor olhar mortal.

— Nunca foi Danny quem os alertou. Foi Ryan. Ele tem uma
queda por você há anos, Em. Pensei que você soubesse disso.
Quando eu vi você sair com eles ontem e você indo para o hospital,
imaginei que ele tinha tirado a cabeça da bunda e feito algo a
respeito.

— Você está errado. Isso não faz sentido algum. — Lá vamos


nós de novo com os jogos mentais.

— Isso meio que faz. Ele olha para você como se você cagasse
arco-íris e unicórnios quando pensa que não está olhando. — Liv
fala como se estivesse com ciúmes, torcendo o nariz em desgosto.

— Liv, essa é a pior analogia que já ouvi. E ele não olha para
mim.

— Ele olha, Em — Effy interrompe. — Até eu percebi isso.

— Sim. — Kian acrescenta como se fosse uma das garotas. —


O cara é louco. Obcecado. Totalmente e absolutamente...

— Você pode parar agora — eu digo, sentindo-me


envergonhada, mortificada e geralmente desconfortável com tudo
isso.

— Se ele ouvir que você vai sair com Chase Lockwood, de todas
as pessoas, ele vai perder a cabeça. Como eu disse, Lockwood deve
ter um desejo de morte.

Eu queria que essa conversa acabasse. Não conseguia nem


pensar direito.

— Ninguém precisa perder a cabeça, porque eu não vou a


nenhum encontro. E Kian? Prefiro que você não conte a ninguém
sobre isso, especialmente Ryan.
— Como se eu estivesse prestes a deixar escapar que mijei em
seu maior segredo.

— Só para constar, eu ainda não acredito em você, mas isso


fica entre nós. Tudo isso. Compreende?

Todos concordaram em manter a boca fechada e sentei-me lá,


perguntando-me como eu iria evitar Chase Lockwood na sexta à
noite, e como iria enfrentar Ryan novamente depois de ouvir o que
Kian disse.

Quando Kian finalmente saiu com o rabo entre as pernas,


provavelmente para relatar a seus irmãos, virei-me para Liv para
deixar tudo sair.

— Que amiga você é.

— O quê? — Ela pisca como se fosse a parte inocente.

— Primeiro, você me oferece a Chase como um cordeiro de


sacrifício...

— Oh, não seja tão melodramática. É um encontro. Você não


precisa se casar com o cara.

— Jesus, Liv. Você parece minha mãe. Serei melodramática se


quiser. Acho que tenho todo o direito depois que você acabou de
foder a minha vida.

— Em, você pode simplesmente cancelar. — Effy oferece,


tentando dar uma solução que evitasse uma discussão.

— Eu não deveria ter que fazer. Não concordei com o encontro


em primeiro lugar. E em segundo lugar? Que porra foi tudo isso?
A coisa do Ryan? Em um minuto você está cansada do meu drama,
no próximo você está me causando uma carga de merda maior.

— Eu não causei nada. Oh, puta que pariu. Emily Winters tem
uma vida tão difícil. Ela tem que morar em uma casa enorme,
dirigir um carro luxuoso, fazer o papai pagar por tudo e se isso não
fosse ruim o suficiente, ela tem dois caras gostosos brigando por
ela. Como ela vai lidar com isso? Você sabe o quê? Estou farta.
Você não gosta da minha dose de realidade? Então aguente,
Docinho. — E com isso, Liv salta da cadeira e sai furiosa do café.

— O que diabos rastejou na bunda dela? — Senti que ela


estava tensa quando nos encontramos antes, mas não tinha ideia
de que ela nutria tanta animosidade por mim.

— Não é você. — Effy suspirou, alcançando o outro lado da


mesa para esfregar meu braço enquanto eu caio para frente
sentindo-me desanimada. — Ela não quis dizer nenhuma daquelas
coisas que disse. Elas não são verdadeiras.

— Não são?

— Não. Ela vai se arrepender em algumas horas, mas você


sabe Liv, ela fala antes de envolver seu cérebro. Ela está sofrendo.

— O que eu fiz para machucá-la?

— Você não. Zak. Acho que ela estava realmente afim dele, e
depois da fogueira e eles se pegando, ela pensou que ele poderia
sentir o mesmo. Ele não sente. Nós o vimos sair com Kelly Hopton
ontem à noite. Ele nem deu uma segunda olhada em Liv.

Por que os caras eram tão idiotas às vezes?


— Ele não passou a noite com ela, se isso ajuda. Eu o vi no
hospital mais tarde. — Sabia que não era um consolo. Eu também
sabia que minha intuição original sobre Zak estava certa. Ele era
um jogador. Não era o tipo de cara em quem você poderia confiar.

— Eu não acho que ajudaria. Ele é um idiota, Em, mas ela


estava com o coração partido na noite passada.

— E eu não estava lá.

— Mesmo se você estivesse, você não poderia ter feito nada


para ajudar. Acho que ela está com ciúme de sua amizade com
eles. Todos eles parecem realmente gostar de você, até mesmo
Brandon. Acho que ela criar problemas é apenas uma forma de
atacar.

Eu podia entender por que Liv se sentia tão irritada. Eu só


queria que ela tivesse me contado primeiro, em vez de causar
problemas. Nenhuma de nós sabia do que esses meninos eram
capazes, e agora eu tinha que fazer o controle de danos com Chase
e Kian. Era uma merda que eu não precisava, além do que meu
pai estava servindo. Precisava das minhas amigas do meu lado,
não me apunhalando pelas costas.

— Eu vou falar com ela. Ela provavelmente ligará para você


mais tarde esta noite. Você conhece Liv. Ficará mortificada por ter
chateado você.

Gosto do otimismo de Effy, mas não concordei. Conhecia Liv,


e levaria alguns dias e várias conversas de paz para resolvermos
isso. Sempre acontece quando brigamos. Desta vez, ela se sentia
humilhada por Zak e eu estava sentindo o peso de sua raiva.
Entendo. Você machuca as pessoas mais próximas de você, e Liv
era tão próxima de mim quanto uma irmã. Ambas eram. Eu
precisava resolver minhas coisas e colocar um fim em tudo isso.
— Cara, você precisa do seu rifle de precisão. Cara, ele está
bem aí... Porra...

Tiros soaram como se estivéssemos no meio da terceira guerra


mundial. Tentei o meu melhor para lutar, mas foi inútil. Eu estava
tendo minha bunda chutada no Call of Duty, jogando com Brandon
na casa de Zak. Lutar na vida real não era a única habilidade que
Brandon tinha, ele poderia chutar a bunda de qualquer um em
jogos também. Eu geralmente era muito bom em segurar as
pontas, mas minha mente estava em outras coisas hoje. Estava
distraído por uma morena de um metro e meio, que estava me
matando melhor do que qualquer oponente que eu já tinha
enfrentado.

Meu pequeno foguete mal-humorado.

Ela me irritou e eu gostei. Não na noite passada quando ela


dispensou minha bunda, mas hoje gostei do fogo que ela atiçou em
mim. Call of Duty simplesmente não era suficiente.

— Ry, cara. Se você não vai levar isso a sério, passe o controle
para Finn. Você serve tanto quanto um preservativo de papel de
arroz agora.
Joguei o controle para Finn, que o pegou no ar, e levantei-me
da cadeira em frente à TV para deixar ele ocupar meu cobiçado
lugar. Finn não perdeu tempo entrando no jogo e ganhando um
tapinha nas costas de Brandon. Eu tinha perdido o interesse nisso
dez minutos atrás, então fui até a mesa de jantar onde Zak havia
estabelecido seu império de TI, completo com computadores,
monitores e Deus sabe o que mais.

— Você encontrou alguma coisa? — Pergunto, folheando os


papéis que ele espalhou em sua mesa. Ele revira os olhos para mim
e os tira do meu caminho. Ele não gosta que baguncem seu
sistema de arquivamento bem elaborado.

— É, não. Ainda não. Eu irei, embora. Essas imagens e os


nomes são uma grande ajuda. Em realmente nos conseguiu
trunfos. — Ele bate o dedo no monitor para confirmar o que está
dizendo, então se vira para olhar para mim. — Você acha que ela
vai encontrar mais alguma coisa?

— Claro que ela vai. Ela mora com ele, não é? Se estiver lá, vai
encontrar. — Eu tenho fé na minha garota.

— Tem certeza que ela não está nisso também? — Zak


sussurra, então Brandon e Finn não podem ouvir.

— Sem chance. O que quer que seja tudo isso... — Faço um


gesto ao redor de sua mesa com a mão para mostrar meu ponto.
— Ela não tem ideia. Eu confio nela.

— Espero, para o nosso bem, que ela valha a pena confiar. —


Zak volta a clicar, mas não gostei do que ele disse e não o deixaria
me dispensar tão facilmente.

— Ela vale.
Noto que Brandon olha em nossa direção e balança a cabeça.
— Você ainda precisa manter seu juízo sobre você, camarada. Ela
pode ser agradável aos olhos, mas não se deixe enganar por aquele
rosto bonito. Você não vai amarelar com a gente, vai, Ry?

Aqui vamos nós novamente. Mathers estava envolvido em


nossa conversa e pronto para soltar alguma piada. Ele sempre
fazia no que dizia respeito a Emily. Ela era um calcanhar de
Aquiles para nós dois. O espinho em nossa amizade.

— Eu a conheço melhor do que qualquer um de vocês —


argumento. — Também sei que ela quer descobrir o que está
acontecendo tanto quanto nós. Por que ela não iria?

— Porque ela pode perder sua mesada e ser expulsa daquela


mansão pela bunda. Você ficaria surpreso com o que as pessoas
desesperadas estão dispostas a fazer. — Brandon estava certo.
Pessoas desesperadas faziam merdas idiotas, estúpidas, mas
Emily não. Seu pai pode estar desesperado, mas ela não.

— Ela não é assim. — Cruzo os braços, estufando meu peito


para mostrar que não estava brincando.

— Droga, você está mal, mano. — Brandon sorri, então volta


a se concentrar em seu jogo e sem perder o ritmo, ele diz: — Acho
que você precisa soltá-la. Obteremos as respostas de que
precisamos sem ela.

Zak ergue a sobrancelha e olha para mim, esperando para ver


minha reação. Acho que ele esperava que a guerra falsa da TV se
tornasse real a qualquer momento.

— Não vai acontecer — eu digo. Não consigo deixar minha


postura mais clara. Eu não faria o dito para fazer.
— E se ela estragar tudo para nós? Talvez você precise escolher
um lado, Ryan. Quando chegar a hora, certifique-se de escolher o
caminho certo. — Brandon estava mortalmente sério, mas eu
também.

— Oh, eu vou.

Olho de volta para a tela que Zak está estudando, sem ter a
menor ideia do que estava olhando, mas queria desviar a atenção
de Emily. Eu não reagia bem recentemente quando se tratava dela.
Certamente não no que dizia respeito a esses caras, de qualquer
maneira. Eles tinham o hábito de me irritar e me tornar mais
determinado a provar que eles estavam errados.

— Já sabemos o que é Morgan Rotherham? — Pergunto a Zak,


agarrando-me a um tópico que eu sabia que nos afastaria dos
meus sentimentos por Emily. — É uma empresa? Um cara? O quê?

As informações da conta que Emily havia fotografado listavam


o titular da conta principal como Morgan Rotherham. Não havia
endereço. Nada nos levou mais longe naquela toca do coelho, mas
os nomes e números que tínhamos até agora nos colocavam mais
à frente do que jamais havíamos estado.

— Nenhuma ideia. Mas como eu disse, vou descobrir. — Zak


continua digitando em seu teclado e me dispensando de sua
maneira indireta.

Sempre soubemos que Winters era um filho da puta corrupto.


É por isso que ele sempre tentou nos derrubar e arrastar nossos
nomes na lama da imprensa. Ele nos odiava. Tentou nos rebaixar
nos tablóides. Ele era o mestre nisso, usando-nos para desviar a
atenção de sua própria merda. Ele nos pintou como ladrões, mas
se estivéssemos certos em nossas suposições, ele era o maldito rei.
Golpeando o público em grande escala em comparação com tudo
o que fizemos. Eu sabia que a corrupção dele ia mais longe do que
a merda financeira que estávamos investigando agora.

Como se estivesse lendo minha mente, Finn solta: — Você


descobriu alguma coisa sobre o acidente de Danny?

— Não. E não estou perguntando a ela sobre isso. Ainda não.


— Isso era inegociável.

— Por que diabos não? — Brandon joga o controle no sofá ao


lado dele e me encara fixamente. Um olhar que diz que ele não
podia acreditar como eu estava sendo um vagabundo fraco por não
pressioná-la a falar sobre isso.

Brandon tinha a empatia de um esfregão molhado, mas podia


lê-la como um livro. Ela ainda estava sensível pra caralho, e não
estava pronta para ouvir minha pequena teoria da conspiração. Eu
sabia o que tinha visto. Também sabia que o relato feito pela
imprensa era uma besteira completa e absoluta. Disseram que
Danny estava dirigindo. Ele não estava. Quando o vi entrar no
carro que bateu poucos minutos depois, ele estava no banco do
passageiro. Eles disseram que ele estava três vezes acima do limite
legal de álcool e tinha drogas em seu sistema. O cara passou o dia
comigo e não bebeu nada mais forte do que café e Coca Diet. Ele
não fumava, nunca fumou. E eu sei que ele não usava drogas. Mas
ninguém estava interessado em ouvir o que eu tinha a dizer. A
última pessoa a vê-lo com vida, além de quem dirigia, e minha
história caiu em ouvidos surdos. Eles não queriam saber. Eles
basicamente me colocaram de lado durante o inquérito. Minha
história não valia nada, pelo menos não para a carreira política de
Alec Winters. Ele gostava de poder fazer uma campanha tão
honrosa por algo que afetou sua família. Seu complexo de Deus
era imparável após o acidente. Ele certamente não queria que
minha narrativa alternativa estragasse as coisas para ele em
Westminster.
Eu não ficaria em silêncio, no entanto.

Precisava de respostas e Danny as merecia. Ele tinha sido um


dos meus melhores amigos e eu não decepciono meus amigos.
Nunca.

— Pergunte se ela viu o laudo de toxicologia, ou melhor ainda,


peça para ela tirar uma foto da mesma forma que fez com a conta.
Podemos descobrir quem o falsificou então. — Zak sugere.

— Ou melhor ainda, Hardy pode esgueirar-se pela casa e


descobrir sozinho depois de transar com ela até o coma... Ah...
esqueci, você nem a beijou ainda, muito menos bateu naquele
traseiro. — Brandon estava de volta a dar sua opinião idiota mais
uma vez.

— Você não a beijou ainda? O que você estava fazendo ontem


à noite depois de deixá-la em casa, trocando padrões de tricô?

Finn não ajuda. Achei que você estava do meu lado.

— Foda-se você. Você não pode falar. Você se cala toda vez que
um de nós menciona Effy Spencer. E você... — chamo Zak agora.
— Você está vendo Liv de novo? Ou é Kelly Hopton agora? Eu não
consigo acompanhar.

— Não me arraste para isso. Liv sabia do acordo. Eu não


namoro. Gosto de manter minhas opções em aberto.

— Ótimo plano. Espero que você termine com isso, caso


contrário, a clínica de DST vai dedicar uma cadeira em sua sala de
espera só para você — retruco e viro-me para Brandon, mas eu
simplesmente não estava mais disposto. — E quanto à você. Não
tenho ideia do que dizer. Eu nem quero tentar.
Em sua defesa, ele não açucarou as merdas, nenhum deles
realmente.

— Estou provando os produtos até encontrar a garota certa.


Ela está lá fora, esperando por mim em algum lugar, assando
biscoitos e outras coisas até eu aparecer. — Brandon sorri.

— Sim, você continua dizendo isso a si mesmo. Existe alguém


para todos, certo? E eles dizem que os opostos se atraem. Então,
espero que você conheça essa princesa bonita, inteligente,
honesta, esperta e culta em breve. — Eu rio esperando para ver
que resposta inteligente ele me daria.

— Talvez eu já tenha.

— O que? — Eu o ouvi, só quero que ele diga novamente.

— Eu disse, aqui está um pequeno poema que escrevi na


minha cabeça, especialmente para você, mano. Rosas são
vermelhas, violetas são azuis, eu tenho cinco dedos, o do meio é
para você. — Ele me mostra o dedo do meio e pega seu controle,
voltando ao jogo e bloqueando o resto do mundo.

— Com palavras doces como essas você está fadado a


conquistá-la.

— Eu recebo de você todas as minhas dicas de relacionamento,


Ry. Quero dizer, olhe para você agora. Você está arrasando com o
show de namorado.

— Oh, eu estarei. Apenas observe e aprenda meu amigo.


Observe e aprenda.
Eu sabia que estava certa que Liv levaria alguns dias para se
acalmar. Mandei uma mensagem para ela, para tentar acalmar as
coisas, até telefonei algumas vezes, mas tudo que recebi foi sua
caixa postal. Ela voltaria eventualmente. Plantei as sementes. Eu
só precisava ser paciente e esperar.

Quanto a Chase, ele estava ignorando totalmente minhas


ligações. Provavelmente porque sabia o que eu ia dizer. E meus
textos? Eles não foram lidos. Esse cara não estava pronto para
ouvir a verdade. Ele estava vivendo em uma terra dos sonhos, no
que dizia respeito a namorar comigo. Entre eles e toda a minha
angústia por Ryan, eu estava lentamente enlouquecendo.

É por isso que eu ia ao jardim dos fundos para limpar um


pouco as ervas daninhas. Cuidar das plantas e geralmente
bloquear minha vida por algumas horas. Eu estava com meus air
pods e estava cantando junto com Machine Gun Kelly, quando algo
sai do canto do meu olho e eu me viro, quase caindo de costas na
grama, pronta para gritar alto ao mesmo tempo.

— O que diabos você está fazendo aqui? — Tiro os fones das


orelhas e os enfio no bolso da calça jeans. Então, me levanto
limpando a sujeira de minhas mãos e joelhos e franzindo o nariz
para o maldito Ryan Hardy, que está a poucos metros de mim no
meu jardim. — Como é que você entrou? — Eu sabia que ele fazia
algumas merdas obscuras às vezes, mas não tinha considerado
arrombar e entrar em minha casa como uma delas.

— Seu portão estava aberto e ouvi você assassinar uma das


minhas canções favoritas, então achei melhor entrar e salvá-la.

— Que herói, não é? — Eu digo, minha voz cheia de sarcasmo.

— Tento o meu melhor. — Ele está sorrindo como se tivesse


um segredo e realmente queria que eu perguntasse a ele sobre isso.
Eu não iria. Gostava de fazê-lo trabalhar para isso.

— Você tem bolas vindo aqui. — Estreito meus olhos para ele,
mas seu sorriso só aumenta.

— Sim, eu tenho bolas. Grandes.

Seus olhos brilham enquanto ele fala, e eu sei que ele está
tentando me fazer sentir desconfortável... de novo. Acontece que
ele tem sucesso. Discutir as bolas de Ryan ou qualquer outra parte
de sua anatomia não era algo que eu estava muito interessada em
fazer. Não na frente dele, de qualquer maneira. Agora no meu
quarto, onde ninguém podia ver... Oh merda, Em. Você precisa
parar essa linha de pensamento agora. Você se escolheu, lembra?
Eu estava começando a pensar que minhas escolhas eram
realmente ruins.

— É melhor você sair antes...

Ele me corta. — Seu pai não está em casa. Eu sei disso com
certeza. — Ele dá um passo em minha direção, sua cabeça
descansando para o lado como se estivesse medindo minha reação.
Vendo se o que ele está fazendo está bom. — De qualquer forma,
eu queria ver você. Isso é realmente uma coisa tão ruim?
— Eu não tenho mais nada para você, se é para isso que você
veio. Procurei ontem à noite, mas não há mais nada na conta de
Rotherham. Ainda não. — Falo rápido demais, sentindo-me tensa
e totalmente fora de controle.

— Quem disse que eu vim para isso? Não posso vir aqui só
para te ver?

Era tão fácil me enganar pensando que não gostava de Ryan


Hardy quando ele não estava parado na minha frente, parecendo
deliciosamente lindo de morrer em jeans skinny pretos rasgados,
uma camiseta preta justa e um casaco xadrez vermelho e preto
pendurado casualmente por cima. Era fácil não ficar presa nele
quando ele não estava olhando diretamente para mim, com o
cabelo caindo nos olhos como sempre acontecia. Eu me perguntei
como seria tirá-lo do caminho e correr meus dedos por ele. Seria
tão macio quanto parecia? E esses olhos? Não me fale em seus
olhos. Devo ter sonhado acordada com o que poderia levar ao
passar meus dedos pelos cabelos de Ryan e me perder em seus
olhos verdes, porque não vi minha mãe até que fosse tarde demais.

— Quem é você? — ela retruca bruscamente, olhando para


Ryan como se ele fosse uma lesma que estava invadindo seu
gramado perfeitamente cuidado.

— Este é Ryan, mãe. Ele era amigo de Danny. Acabou de


passar por aqui para ver como estamos lidando com isso, bem...
Você sabe.

Eu digo antes que Ryan pudesse responder e piorar as coisas.


Já estava esperando um mini colapso da minha versão 2.0
neurótica de minha mãe depois da manhã que tivemos. Papai
tinha ido embora sem se despedir dela, aparentemente. O que
resultou em um discurso retórico de uma hora dirigido a mim e a
todas as minhas falhas. Porque esse foi o motivo pelo qual meu pai
escapou ao amanhecer e foi para Westminster para mais cinco dias
de trabalho. Eu era tudo o que havia de errado em seu mundo.

Mas funcionou. Assim que ela me ouviu mencionar o nome de


Danny, visivelmente suavizou e olhou para Ryan sob uma luz
totalmente nova.

— Ryan? — ela diz, fazendo parecer mais uma pergunta do


que uma afirmação. — Danny nunca mencionou você. Veja bem,
ele foi bastante reservado sobre sua vida pessoal nos últimos
meses, não foi, Em?

Ela volta a me chamar de Em. Ela só faz isso quando está em


companhia, tentando fazer parecer que somos próximas.

— Acho que Danny tinha muitas coisas acontecendo que não


sabíamos, mãe. — Ela faz uma careta com a inflexão em minha voz
quando eu digo seu nome, então como a profissional experiente
que era, ela se endireita e dá a Ryan o sorriso brilhante de um
milhão de dólares que ela aperfeiçoou ao longo dos anos.

— Ryan, gostaria de entrar para uma bebida gelada? Está


muito calor hoje.

Está vinte graus e uma brisa. Um bom dia para o Reino Unido,
mas não eram os malditos trópicos como ela estava imaginando.
Ela obviamente queria uma desculpa para interrogar Ryan acima
de todas as coisas sobre Danny. Não posso dizer que a culpo.
Nunca perguntei a Ryan sobre meu irmão. Talvez eu devesse. O
problema era que eu ficava nervosa ao falar sobre ele com
estranhos. Estava preocupada se não seria capaz de segurar tudo
junto. Danny era um assunto delicado para mim. Eu sentia falta
dele a cada segundo do dia e descobri que bloquear tudo era o
melhor mecanismo de enfrentamento. Não muito bem a longo
prazo, mas funcionou por enquanto.
Mamãe acena para que Ryan avance e ele sorri de volta para
ela.

— Eu adoraria uma bebida gelada, Sra. Winters. Obrigado.

Ela acena com a cabeça e caminha em direção às portas


abertas do pátio. Ryan olha para mim e ergue a sobrancelha.

— Eu deveria estar preocupado? — ele pergunta.

— Não. Por mais que eu ame minha mãe, ela é tão egocêntrica
quanto um saco de Pampers. Enquanto você continuar falando
sobre Danny, ela nunca verá através de suas merdas.

Ele joga a cabeça para trás e ri. Deus, eu adorava quando ele
fazia isso.

Levo Ryan para nossa casa, bem quando mamãe está


colocando uma bandeja de bebidas na mesa de centro. A maioria
das pessoas teria distribuído latas ou pelo menos perguntado que
bebida seus convidados queriam. Não minha mãe. Ela carrega a
bandeja com copos de vidro cheios de Coca-Cola com gelo, como
se fôssemos crianças. Ah, e um prato de biscoitos só para acabar
com o tema de merda da festa do chá. Eu não deveria gemer. Pelo
menos ela estava tentando ser civilizada.

Ryan senta-se no sofá, espalhando o corpo enquanto o faz, e


deixando-me com calor e incomodada de novo, apesar do ar-
condicionado que minha mãe tinha ligado no máximo. Acho que
ela está passando pela menopausa. Talvez fosse por isso que ela
estava mais irritada do que o normal.

Ela entrega um copo a Ryan e lhe diz para se servir dos


biscoitos. A maneira como ela se senta para frente, eu poderia dizer
que ela está ansiosa por informações. Qualquer coisa que Ryan
possa lançar sobre Danny.

— Há quanto tempo você e Danny eram amigos? — Ela começa


com o básico.

Ryan mastiga o último pedaço de seu biscoito de chocolate e


olha para mim antes de falar.

— Eu conheci Danny durante todo o ensino médio, mas nos


tornamos melhores amigos nos últimos anos. Ele era um cara
legal. O melhor.

Mamãe assente e sorri. Ela realmente se transformava em


humana sempre que Danny era o assunto da conversa, o que não
era tão frequente em nossa casa atualmente. Eu sentia falta disso
na minha mãe. Sentia falta do lado mais suave que ela nos
mostrava quando éramos mais jovens. Ela nem sempre foi a
esposa troféu rígida que é hoje. Não sei o que aconteceu para
mudar as coisas, mas ela costumava nos levar ao parque para
jogar bola, nos ensinar a fazer muffins e jogar jogos de tabuleiro
conosco, fingindo não notar quando trapaceávamos. Não sei por
que tudo deu errado, mas deu.

— Conte-me algumas histórias sobre ele. Quero saber como


ele era quando não estava em casa conosco. — Mamãe bebe um
gole de chá em sua xícara de porcelana e coloca-o cuidadosamente
de volta no pires. Ela nunca usava canecas para suas bebidas
quentes. Ela se considerava educada demais para isso.

Ryan coça o queixo e depois se recosta no sofá. — Danny era


um cara legal. Ele nos fazia rir.

Mamãe sorri e balança a cabeça. — Eu só posso imaginar o


que ele fazia nas minhas costas. — O carinho nublou seus olhos e
eu poderia contar qualquer história que ela ouvisse sobre ele, não
importa o quão nojento ou digno de contrariedade, apenas a faria
amá-lo mais.

— Uma vez, embrulhamos com plástico bolha toda a sala de


aula do Sr. Manderson; cadeira, mesa, computador, tudo. Nós até
fizemos com o carro dele também. Foi tudo ideia de Danny.
Manderson levou horas para cortar tudo.

— Oh meu Deus, vocês foram pegos? — Mamãe engasga e


levanto minhas sobrancelhas para ela. Se eu tivesse contado essa
história, ela teria me deixado de castigo pelo verão e proibido meus
amigos infernais de chegarem perto de casa.

— Não. — Ryan sorri. — Os balões que enchemos o armário


da loja foi o último ato. Como saberíamos que ele tinha medo de
balões? Ele ficou traumatizado por dias.

Mamãe dá uma gargalhada completa e apropriada e eu não


posso deixar de rir também. Danny adorava uma brincadeira.

— As moedas grudadas em todo o chão do refeitório também


foi seu trabalho manual? — Pergunto, sentindo-me menos nervosa
com o jeito que essa conversa estava indo. Adorei ouvir sobre
Danny.

Ryan solta uma risada baixa. — Sim. Eu e Danny passamos


horas colando aquelas mer... Coisas em todo lugar. — Ele se
corrige, lançando um olhar na direção de minha mãe. — Assistir
pessoas tentando pegá-las nos manteve entretidos por muito
tempo.

— Você gosta de seus jogos, não é, Ryan? — Eu digo,


certificando-me de que ele saiba o significado por trás da minha
declaração.
Aquela personalidade fácil que ele assume desaparece e sinto
sua guarda subir. — Os sinalizadores durante a assembléia de fim
de ano não teve nada a ver conosco. Isso foi tudo culpa do
Brandon. — Diz Ryan com os dentes cerrados, jogando seu olhar
penetrante direto para mim.

Eu tinha ouvido falar sobre o lendário incidente dos


sinalizadores. Um salão cheio de alunos de onze anos e seus pais,
incluindo o meu, ouvindo o diretor dizer a todos que ano estelar
todos eles tiveram, e algum idiota disparou um sinalizador,
cobrindo tudo e todos em uma nuvem de fumaça roxa, estragando
a tarde inteira. Os alarmes de fumaça dispararam e todos nós
tivemos que evacuar a escola. A polícia foi chamada, mas não havia
CCTV naquela parte do prédio, então ninguém foi responsabilizado
por foder com o dia todo. Não era como se os homens da
Renaissance delatassem um dos seus. Brandon típico, agia
primeiro, pensava depois. Ele era uma maldita responsabilidade
mesmo naquela época.

— Eu lembro disso. Foi terrível. Seu pai nunca tirou as


manchas do terno. — Mamãe zomba e então sua expressão
suaviza. — Ryan, você gostaria de ver o quarto de Danny?

Quase engasgo com minha bebida. O que diabos ela estava


pensando, convidando outra pessoa para o quarto de Danny? Eu
ia lá na maioria dos dias para sentar no parapeito da janela e
pensar nele, mas para todos os outros aquele quarto sempre esteve
fora dos limites. Mamãe nem deixava a lavanderia entrar. Nós
mesmos tirávamos o pó. Não que precisasse tirar o pó. Estava
imaculado. Nós o guardávamos como um santuário para ele. Nada
mudou naquele quarto desde o dia em que ele nos deixou.

— Eu ficaria honrado. — Ryan responde me pegando


totalmente de surpresa.
Mamãe se levanta e sai para o corredor e eu sigo Ryan.

— É muito gentil da sua parte, Sra. Winters. Sinto saudades


de vê-lo como amigo. Seria bom me sentir perto dele novamente.
— Ryan está dizendo todas as palavras certas, mas eu não tinha
certeza de quão honestas elas eram. Ele realmente queria se
conectar com Danny? Foi tudo uma estratégia para chegar até
mim? Ou eu estava pensando demais em um gesto simpático do
amigo do meu irmão? Provavelmente o último. Eu não era muito
boa em ler as pessoas nos melhores momentos.

— Não mudamos nada. Até deixamos a lata de Coca-Cola na


mesa de cabeceira que ele bebeu antes de sair naquele dia. —
Mamãe estava certa. Não podíamos nem nos livrar de uma maldita
lata. Estava vazia, é claro. Um pouco como a nossa casa de família
desde que ele se foi.

— Era a bebida favorita dele — acrescenta Ryan, e meu


coração dá um salto.

Sim, era.

Talvez Ryan o conhecesse melhor do que eu percebi? Danny


bebia Coca-Cola como a maioria das pessoas bebe água, mesmo
quando ele saía para dormir. Foi por isso que todos nós ficamos
tão chocados ao descobrir que ele estava dirigindo bêbado quando
sofreu o acidente. Danny não costumava tocar em álcool. Não era
seu estilo. Bem, pensamos que não era. Mas o que nós sabíamos?

Ryan pega um porta-retratos da mesa de Danny, uma


fotografia de nós quatro; Mamãe e papai atrás, e Danny e eu
parados na frente deles. Papai estava com os braços em volta dos
meus ombros e mamãe estava abraçando Danny por trás. Ryan
sorri e inclina a foto na nossa direção e ouço o soluço travar na
garganta da minha mãe.
— Eu sinto muito. Não posso fazer isso — ela grita, cobrindo
a boca e correndo para fora da sala. Suponho que ela tenha feito
progressos. Normalmente, ela só conseguia ficar na porta antes de
fugir. Pelo menos hoje ela ultrapassou o limite.

— Eu sinto muito. — Ryan parecia arrependido e colocou a


moldura de volta para baixo com uma gentileza que eu não sabia
que ele possuía. — Eu não queria chatear sua mãe.

— Não se preocupe com isso. Essa é a maior emoção que ela


mostrou em meses. Vai fazer bem a ela agir como uma humana
por um tempo. — Sinto-me culpada no minuto em que essas
palavras saem da minha boca, mas não consigo retirá-las. A
mulher havia perdido seu filho mais velho. Eu não tinha o direito
de ser amarga e me senti uma idiota, então me sentei no parapeito
da janela e suspirei.

— Deve ser divertido um minuto em sua casa. — Ryan me dá


um sorriso simpático.

— Poderia ser pior. Eu não deveria reclamar. Não tenho nada


a reclamar. Além de perder meu irmão, mas então, todas as
famílias têm suas tristezas. A minha não é diferente.

Eu não estava procurando simpatia. Se alguma coisa, queria


uma tábua de salvação para sair do mar de desespero em que eu
e mamãe nos afogamos nos últimos meses. Eu queria viver minha
vida. Eu sabia que se Danny estivesse aqui, ele estaria me dizendo
para fazer exatamente isso, mas às vezes era difícil. Como tentar
atravessar melado todos os dias.

Alguns dias eram mais fáceis do que outros, mas todos os dias
aquela sensação de afundamento na boca do estômago era o que
me acordava. Acho que é por isso que fui atraída por toda a cena
de festas ilegais que Ryan e os outros ofereciam. Isso ajudou a
anestesiar a dor e me dar outro foco.

— Eu sei que dói. Posso ver em seus olhos. Deixe-me ajudá-la


— diz Ryan, dando pequenos passos hesitantes em minha direção.

— Eu acho que é melhor você sair. — Levanto-me, incapaz de


encarar seus olhos, e caminho até a porta, segurando-a aberta
para mostrar que seu pequeno tour mórbido havia chegado ao fim.

— Quando minha mãe morreu, houve dias em que eu nem


conseguia sair da cama. Nenhum de nós conseguia.

Prendo minha respiração. Eu sabia que Ryan estava


compartilhando algo sagrado comigo agora, e tanto quanto eu
queria que ele fosse embora, eu queria saber mais.

— Meu pai não tomou banho nem se vestiu por semanas. A


garagem perdeu clientes e quase afundamos. Foi terrível. Três
meninos e meu pai, todos abandonados para cuidar de nós
mesmos. Você pode imaginar que show de merda foi aquele.

Balanço a cabeça, mas minha boca estava seca. Não conseguia


falar.

— Mas um dia, eu a senti. Parece loucura, eu sei, mas eu a


senti ao meu lado... E sua voz... Ela me disse que eu precisava ser
forte pelo meu pai e meus irmãos. Eu sabia que era ela, porque
isso é exatamente o que ela teria dito se ainda estivesse viva.
Então, coloquei um aviso na janela da garagem para dizer que
estávamos abertos, mas apenas para lavagem de carros e
interiores. Eu era apenas uma criança. Não sabia consertar carros,
mas sabia como lavá-los e queria fazer o que pudesse para ajudar
meu pai. A notícia deve ter se espalhado porque algumas pessoas
apareceram e eu lavei seus carros para elas. Uma hora depois,
percebi que meu pai se juntou a mim e estava lavando bem ao meu
lado. Meu irmão mais velho, Liam, se juntou a nós logo depois
disso. No dia seguinte, estávamos abertos novamente, negócios
como de costume. Meu pai trabalhou vinte e quatro horas por dia
desde então.

Ele veio para ficar na minha frente e acariciou minha


bochecha enquanto uma lágrima silenciosa cai.

— Eles nunca nos deixam, Emily. Nunca. Danny sempre


estará com você.

— Eu sei — consigo soluçar. — Obrigada.

Ryan acena com a cabeça tristemente e depois aponta para o


corredor.

— Esse é o seu quarto?

Viro-me para olhar para a porta do meu quarto que ainda


tinha a placa de unicórnio com meu nome nela.

— Como você adivinhou? — Sorrio e então minha boca abre


quando ele passa por mim e anda o corredor em direção ao meu
quarto. — Você não pode entrar aí.

— Por que não? Eu quero ver o seu quarto. — O arrogante


Ryan está de volta com força total. Não posso acreditar que ele tem
coragem de marchar até a minha porta, pensando que pode ir a
qualquer lugar que quer. Ele não tem vergonha.

Ele girou a maçaneta da porta e entrou, parando no meio do


meu quarto e se virando para ver tudo.
Observá-lo parado ali, fez os cabelos da minha nuca se
arrepiarem. Ryan Hardy estava no meu quarto e parecia proibido,
mas atraente ao mesmo tempo. Como ele podia fazer isso? Fazer
meu coração quebrar em um minuto e constituir no outro. Ele se
virou para mim e senti como se ele tivesse sugado todo o ar do
espaço ao meu redor. Ele não estava apenas parado no meu
quarto, ele o estava dominando. Fazendo com que todo o resto
ficasse em segundo plano.

Minha mãe manteve a decoração bastante neutra com paredes


creme e cortinas rosa pálido e roupa de cama. Havia a desordem
usual de recordações femininas espalhada pelas minhas
prateleiras. Fotos de Liv, Effy e eu no colégio, ao lado das que
continham minha família. Fiquei envergonhada com a quantidade
de pelúcias que tinha na minha cama e junto à janela. Eu tinha
dezoito anos, mas meu quarto me fazia parecer que tinha doze.
Ryan não pareceu se importar. Ele pegou um gorro de bebê
unicórnio do meu travesseiro, apertou-o e sorriu. Não é um sorriso
desagradável, apenas um sorriso. Então caminhou até minha
penteadeira, onde minha maquiagem, cremes e perfumes estavam
cuidadosamente armazenados. Ele pegou meu frasco de perfume,
Alien de Thierry Mugler, e o cheirou, fechando os olhos ao fazê-lo.
Era essa a sua maneira de me cheirar? Qualquer que tenha sido
sua intenção, meu estômago se apertou.

— Você não deveria estar aqui — eu digo com convicção zero.


De uma forma distorcida, meio que gostei.

— Acho que é exatamente onde eu deveria estar. — Ele larga


o frasco de perfume e caminha até onde eu estava perto da porta.
Então ele estende a mão e tira uma mecha de cabelo da minha
testa, colocando-a atrás da minha orelha e fazendo minha
respiração ficar presa na garganta. — Eu acho que você já esteve
sozinha por tempo suficiente. Nós dois estivemos.
Fico muda. Ele dá um passo mais para perto de mim e eu me
movo para trás. Minhas costas estavam encostadas no bloqueio da
porta e meu coração batia tão rápido que podia ouvi-lo batendo em
meus ouvidos. Ele se inclinou na minha direção e eu congelei, em
seguida, derreti nele, tudo ao mesmo tempo. Seu cheiro era divino,
até intoxicante. Como linho recém-lavado em um dia de verão,
misturado com um toque suave de colônia e um perfume que era
exclusivamente dele. Tê-lo tão perto fez algo em mim que eu nunca
senti antes em minha vida. Isso me fez desejar mais. Eu queria ser
imprudente e me perder nele. Naquele momento, eu queria tudo
com ele.

Ele fechou a distância entre nós e seu nariz roçou o lado do


meu tão delicadamente que fez meu coração palpitar. Então seus
lábios tocaram os meus em um beijo suave e gentil. Eu não o
afastei. Eu não poderia, mesmo se tentasse. Queria isso tanto
quanto ele. Seus lábios eram quentes e ternos e me deixaram com
fome de mais. Eu gemi e ele pressionou seu corpo contra mim,
suas mãos roçando meu queixo enquanto ele me segurava no lugar
e aprofundava o beijo.

Ele deslizou sua língua ao longo do meu lábio inferior e eu me


abri para ele, deixando-o me provar e explorar com sua língua. Ele
tinha um gosto tão bom quanto parecia, como pecado e doçura,
tudo embrulhado em um pacote perversamente cruel que eu não
podia deixar de provar. Esse beijo, foi o que esperei todos esses
anos. Ele era o que eu esperava.

Ficamos ali na minha porta, nossas línguas se torcendo e


acariciando, nossos lábios fundidos da maneira mais sublime. Eu
nunca quis que acabasse. As bolhas de Ryan eram o máximo, mas
isso? Isso era diferente de tudo que eu já experimentei antes. Podia
sentir meu corpo ganhando vida, umidade como nunca tinha
conhecido se acumulando em lugares que geralmente me faziam
corar, mas hoje, eu não queria me conter. Podia sentir o quão
excitado ele estava também, enquanto apertava seus quadris em
mim e a espessura de seu jeans esfregava contra mim. O beijo ficou
mais pesado, rápido, mais urgente e então...

— O que diabos está acontecendo aqui?

Nós nos separamos ao som da voz estrondosa do meu pai


rompendo nossa névoa hipnótica cheia de luxúria. Engasgo, meus
olhos disparando de Ryan, que estava tocando seus lábios como
se não pudesse acreditar onde eles estavam, e então meu pai, que
parecia que estava prestes a pegar a espingarda da família, se é
que realmente tínhamos uma.

— Papai. Achei que você estava no trabalho — eu digo em uma


voz ofegante. O terreno se abrindo para me engolir agora teria sido
incrível.

— Eu posso ver isso — diz ele, sua voz gotejando veneno. —


Voltei para casa porque me senti culpado por ir embora sem me
despedir de sua mãe. Mas isso não vem ao caso. Que porra ele está
fazendo no seu quarto? — Ele olha ferozmente para Ryan e dá um
passo em sua direção. — Você não é bem-vindo aqui. Eu pensei
que tinha deixado isso claro há muito tempo. Fique longe da minha
filha.

Ryan sorri e olha diretamente para mim. — Nunca vai


acontecer, senhor. — Ele se vira para meu pai, parecendo que
estava se preparando para uma luta e eu sabia que tinha que
intervir.

— Ryan está saindo. Por favor, pai. Não faça disso um grande
negócio.

Ryan murmura algo sobre ser um grande negócio, mas agarro


sua mão, passo por meu pai e me dirijo para as escadas.
— Se eu te ver em minha casa de novo, vou chamar a polícia.
— Papai berra por cima do corrimão.

Ryan apenas olha para ele e sorri. — Não esperaria nada


menos de um homem que tem metade da força policial no bolso de
trás.

O rosto de papai fica em um tom preocupante de vermelho,


mas eu não queria ficar por perto para os fogos de artifício
iminentes, então arrasto Ryan para a porta da frente e para a
varanda.

— Eu sinto muito. Ele é...

— Um idiota. — Ryan termina por mim.

— O que ele quis dizer quando disse 'já te avisei para ficar
longe?' Achei que você nunca tivesse conhecido meu pai?

Ryan esfrega o queixo em pensamento e, em seguida, me lança


um olhar cauteloso. — Eu vim aqui uma vez, com Danny. Seu pai
teve uma antipatia instantânea por mim. Não consigo imaginar o
porquê. Depois disso, decidimos nos encontrar em minha casa ou
em qualquer lugar longe daqui.

— Danny nunca mencionou nada.

— Por que ele iria? Olha... Em. Não tente ler algo sobre isso.
Não é nada. Seu pai não gostava que seu filho fosse amigo de um
garoto pobre, só isso. Eu não era do lado certo da cidade e ele
sabia. Provavelmente queria me manter longe de sua linda filha
também. Mas isso nunca vai acontecer. Não agora.
Ele sorri e acaricia minha bochecha enquanto se move mais
perto de mim e meu coração e estômago dão aquele pequeno salto
novamente.

— Se ele pensa por um minuto que vou ficar longe de você,


depois daquele beijo, ele está enganado. — Ele se abaixa e dá um
beijo na minha testa. — Vejo você em breve, pequena Winters.
Muito, muito em breve.
Meu irmão, Connor, sempre me dizia “deixe-as querendo
mais”, e geralmente eu deixava. Mas não hoje. Hoje, fui eu que
parti sentindo que queria, não, precisava de mais. Foi como se eu
tivesse deixado uma parte de mim para trás quando a deixei. Que
porra de direito seu pai tinha para me ameaçar? Pode ter
funcionado quando eu era mais jovem, e ele não gostava que eu
ficasse com Danny, mas isso não funcionaria mais. Não quando se
tratava dela. Papai Winters precisava se acostumar com o fato de
que sua filha não era mais uma criança. Ela era tão absurdamente
linda e minha.

Relutantemente, voltei para a garagem para começar meu


turno. Não que eu fosse muito útil esta tarde depois do que
aconteceu com Emily. Tive a sensação de que passaria o resto do
dia revivendo o momento em que a beijei. Isso, e me perder em
pensamentos sobre as outras maneiras que eu iria mostrar-lhe o
que ela significava para mim. Estava cansado de jogar. Eu a queria
mais do que qualquer coisa, e se eu quisesse fazer isso acontecer,
tinha que intensificar, ser o cara que ela precisava que eu fosse.

Estacionei no pátio e vi Brandon conversando com Connor


sobre o capô de um velho Aston Martin que estávamos
consertando.
— Não está trabalhando hoje, preguiçoso? — Eu digo
enquanto fecho a porta da minha van e me aproximo para me
juntar a eles.

— Tirei metade do dia de folga. — Brandon dispara de volta.


— Embora, Deus sabe por que achei que seria uma boa ideia
passar aqui com vocês, filhos da puta.

Brandon trabalhava em uma academia local. O salário era


uma merda, mas ele tinha uso ilimitado do equipamento e podia
olhar para as meninas correndo nas esteiras o dia todo, então
funcionou muito bem para ele. Ele ganhou muito mais com a luta,
no entanto. Ele poderia ganhar em uma noite de luta o que ganhou
em um mês na academia. Esses eventos foram uma tábua de
salvação para todos nós. Eu tinha meus carros, Zak era um gênio
em computadores e Finn trabalhava em um call center, mas sem
as festas nossas bundas estariam quebradas pra caralho. Isso nos
deu a receita de que todos precisávamos para buscar outras
coisas. Sem mencionar a emoção que tivemos ao fazê-lo, acima das
expectativas. Ainda estávamos procurando o próximo local. Finn
estava decidido a ir para uma velha estação de bombeamento fora
da cidade. Ele disse que era o cenário perfeito para canalizar seu
fluxo criativo. Acontece que a catedral de esgoto foi invadida por
ratos e merda. Por mais incrível que parecesse por fora, por dentro
cheirava a morte e provavelmente levaria a isso também.
Precisávamos ter alguns padrões.

Nós três entramos no escritório. Eu poderia me esticar para


fazer um café para Brandon e então ele teria que ajudar ou se
foder. Tínhamos trabalho a fazer. Papai e Kieron estavam sentados
na recepção, examinando a papelada e outras coisas.

— É bom ver que você decidiu passar por aqui — papai diz,
tentando soar sarcástico, mas ele sabia que eu era o que mais
trabalhava, e eu sabia que ele não queria dizer isso.
— Achei melhor mostrar meu rosto em algum momento. —
Vou para a pequena sala que chamamos de cozinha e ligo a
chaleira, colocando as canecas prontas com os pedidos de todos.
Não preciso perguntar o que todos querem, faço bebidas quentes
quase todos os dias. Enquanto a chaleira borbulha, saio e congelo
quando vejo a porra do Chase Lockwood de pé na mesa, sorrindo
como um perdedor. Brandon estava dilatando as narinas e se
contendo pelo bem do meu pai. Connor estava franzindo a testa e
olhando entre Brandon e Chase, tentando avaliar qual era o
problema e provavelmente decidindo se precisava sair do caminho
ou se juntar a eles.

— Que porra você quer? — Eu não posso evitar. Não quero


esse vagabundo aqui na minha garagem, olhando para nós como
se estivesse nos fazendo a porra de um favor usando papai para
consertar seu carro, ou melhor, a extensão do pênis.

— Ryan, cuidado com a linguagem. — Papai se vira para me


lançar um olhar feio por ter zombado de um de seus clientes, mas
quando vê a raiva saindo de mim, ele recua. — Há algo
acontecendo aqui que eu não sei? — Ele se vira para olhar para
Lockwood, que apenas dá de ombros como o idiota que é.

— Não acho que seu filho goste de mim. — Ele sorri e tira a
chave do carro do bolso de trás. — Mas então, você não precisa
gostar de mim para cuidar do meu carro e pegar meu dinheiro, não
é?

Esse cara estava implorando para que meu punho se


conectasse com sua cara presunçosa. E apenas para promover sua
causa, ele continuou...

— Eu preciso dele pronto para sexta-feira. Tenho um encontro


quente. — Ele olha além do meu pai, para mim novamente e
zomba. — Com Emily Winters, então preciso brilhando. Tenho que
impressionar minha garota.

Eu perco a noção.

— Filho da puta. — Brandon cospe enquanto eu cambaleio


pelo espaço do escritório e abro o pequeno portão que divide a área
do cliente da frente de nossas mesas. Brandon vem ficar ao meu
lado e Connor fica na porta, sorrindo e esfregando as mãos. Ele
amava uma boa luta. Papai se levantou da cadeira.

— Não sei que jogo você está fazendo entrando aqui, filho,
falando merda sobre nossa Emily, mas sugiro que saia. Suas
coisas não são bem-vindas aqui. — O fato de papai a ter chamado
de “nossa Emily” me fez arrepiar com algo... Orgulho, talvez? Eu
não sei. Papai mal tinha falado com ela, exceto quando ela pegou
o carro uma vez. Mas era bom saber que tinha todo mundo do meu
lado. Papai jogou as chaves de volta para Lockwood e elas caíram
no chão. O cara nem conseguia pegar como um homem.

— Tanto faz. Eu vou ter certeza de dizer a ela que você disse
oi quando a vir. — Ele se abaixa para pegar as chaves, mas
Brandon as chuta para longe.

— Ela não tocaria em você com uma vara de três metros, cara.
Eu acho que você deve estar sob o efeito de alguma coisa. Talvez
seja melhor você não dirigir? Não gostaria que você fosse parado
por estar sob a influência do que quer que esteja fumando. —
Brandon se abaixa e pega as chaves, jogando-as no ar e pegando-
as novamente. — E diremos oi para Emily por você quando a
virmos mais tarde. Boa sorte com aquele encontro na sexta-feira,
você sabe, aquele com sua mão direita.

Connor ri e Lockwood sorri e balança a cabeça. Fico tenso,


pronto para encerrar essa merda de uma vez por todas.
— O que você quiser dizer a si mesmo, cara. Estou surpreso
que Kian, seu cachorrinho de colo, não te contou. Ele estava lá
quando perguntei a ela. Ele viu tudo.

Que porra é essa?

— Talvez porque ele soubesse que era uma besteira e nunca


iria acontecer. — Brandon diz ficando bem na cara de Lockwood e
me impedindo de esmurrá-lo em nosso piso de linóleo barato.

— Você precisa sumir, Lockwood — eu digo, cerrando tanto os


dentes quanto os punhos. — Você gosta de comida de hospital ou
algo assim? Porque se você continuar do jeito que está, isso é tudo
que você vai comer nos próximos meses.

Lockwood dá alguns passos ao redor de Brandon, olhando-o


fixamente. O filho da puta tinha mais bolas com ele do que eu
percebi se ele quisesse provocar Brandon. Então, ele se virou para
mim.

— Você é realmente durão quando tem seus cães de guarda de


prontidão, não é?

— Eu posso ir mano a mano com você a qualquer hora, cara.


— Avanço nele, mas o covarde se afasta.

— Jovem, acho que você precisa ir embora. Porque se meus


filhos ou o amigo deles não chutarem sua bunda logo, eu o farei.
— Confio no papai para dar a palavra final.

Lockwood zomba novamente e, em seguida, arranca as chaves


da mão de Brandon e se dirige para a porta, batendo no ombro de
Connor ao fazê-lo.
— Oh, estou indo, velho. Como se eu confiasse em um bando
de caipiras como vocês para fazer um bom trabalho no meu carro.

Eu e Brandon o seguimos para fora. Ele não vai escapar nos


xingando. Não quando ele era o maior idiota da cidade. E quanto
a desrespeitar meu pai e criticar esta garagem? Ele era um homem
morto caminhando.

— Faríamos um bom trabalho no seu carro. — Pego a


mangueira de lavagem a jato que estava caída no chão ali perto. —
Sempre fazemos um trabalho realmente completo. — Pressiono a
alavanca e a água dispara, encharcando seus tênis ridiculamente
caros e fazendo-o fazer uma dança idiota para tentar evitar os jatos
d'água que afogaram seus pés.

— E se você não estiver fora de nossa propriedade nos


próximos sessenta segundos, será a porra do interior do seu carro
que sofrerá a próxima lavagem. — Molho a frente do carro dele,
então jogo a mangueira de volta para baixo, cruzando os braços
sobre o peito e olhando para ele com nojo.

— Fuja como a vadia que você é, Lockwood. — Brandon grita,


então em uma voz mais baixa ele diz: — Sua hora vai chegar. Não
se preocupe, cara.

Eu não estava preocupado. Não sobre ele conseguir o que


estava vindo para ele, de qualquer maneira. Mas precisava ter
certeza de que ele não colocaria suas garras nela. Ele sempre foi
um idiota astuto, mas por alguma razão, ninguém nunca percebeu
isso. Mas eles iriam agora que eu estava na sua cola.

Os dias de Lockwood estavam realmente contados.


A dor latejante no meu estômago não parecia querer ir embora.
Na verdade, tinha piorado à medida que a sexta-feira se
aproximava, como a visitante indesejada que era. Na sexta-feira à
noite, a tormenta estava se tornando uma náusea total e
angustiante, apenas piorada pelo fato de eu não ter ouvido falar de
Ryan. Estava começando a me questionar se o beijo realmente
aconteceu ou foi uma invenção da minha imaginação hiperativa?
Talvez tivesse significado mais para mim do que para ele? Apenas
mais um de seus jogos mentais distorcidos.

Senti-me culpada por toda a coisa com Chase e não contar a


Ryan sobre isso. Eu sabia que ele odiava-o ardentemente, e depois
do incidente na floresta, eu meio que podia entender seu ponto. O
problema era que eu também não conseguia falar com Chase. Eu
tinha pensado em ir à casa dele para cancelar, mas em vez disso,
optei por ir pelo caminho menos confrontador. Sim, aceitaria a
farsa, mas não faria nenhum esforço. Eu usaria meu jeans skinny
rasgado e minha blusa cinza, com meu cabelo preso em um rabo
de cavalo e sem maquiagem. Se eu agisse como uma idiota, talvez
chegasse em casa às nove horas para assistir a um episódio de
New Girl. Tudo tem seu lado positivo.

Liv finalmente concordou e pediu desculpas por ser uma idiota


e aceitar o encontro em primeiro lugar. Ela até se ofereceu para ir
no meu lugar e fazer o sacrifício, como ela mesma disse. Quase
aceitei a oferta, mas eu sabia que tinha que encerrar essa merda
sozinha. Ela me devia uma, entretanto. Ela não estava lidando bem
com toda a situação de ‘Zak sendo um prostituto’. Não poderia
dizer que a culpava. Aqueles garotos da Renaissance sabiam como
mexer com a cabeça de uma garota.

Ouvi a campainha da porta da frente e meu estômago deu um


nó. Olhei para o relógio na lareira; seis horas. Ele estava duas
horas adiantado. Ótimo. Bufo meu aborrecimento e piso no
corredor para abrir a porta. Penso em pular atrás do sofá e fingir
que não há ninguém em casa, mas sabia que minha mãe estaria
voando escada abaixo se eu não abrisse a porta; deixando Chase
entrar em casa para dar mais de seus biscoitos e vibrações falsas
de maternidade. Hoje não, porra. Hoje não.

Escancarei a porta, estampando uma expressão entediada e


desinteressada no meu rosto. Quando vi Ryan parado do outro
lado, meu queixo caiu no chão.

— Uau. Você parece muito feliz em me ver. — Ryan diz


sarcasticamente, olhando para mim por baixo de sua cortina sexy
de cabelo.

Senti os nós se transformarem em borboletas nervosas e


respirei fundo, sem saber o que dizer.

— Eu... Er... eu pensei...

— Você pensou que era o seu encontro sexy da noite.


Lockwood? — O brilho em seus olhos desaparece quando ele diz
este nome, substituído por um olhar de desgosto.

Engulo em seco, tentando molhar minha boca seca, mas não


ajuda. Não tinha além de uma lixa em minha garganta.
— Como você sabia disso? — Meu coração está batendo dez
vezes. Percebo naquele momento que não queria que Chase se
interpusesse entre o que quer que eu e Ryan estávamos
construindo lentamente. Chase era uma mancha na minha
paisagem e Ryan era uma rocha que bloqueava tudo. Ele era meu
sol e Chase era uma lâmpada econômica barata de quarenta watts
que ganhou vida e desbotou com a mesma rapidez.

Ryan cruza os braços antes de falar, me dando um olhar


penetrante.

— Kian me contou. Oh, e Lockwood, quando ele veio à garagem


outro dia para se vangloriar do meu pai e de todos que ouviram
sobre como ele queria impressionar a namorada dele no encontro.
— Ele franze a testa para mim e dá um passo para trás. — Eu
posso sair se você quiser.

Ele estava com raiva de mim? Eu não fiz nada de errado aqui.

— Não — eu digo defensivamente. — Quer dizer... eu não sei.


Ele deveria estar aqui às oito e eu não sei o que fazer. — Era oficial.
Eu era uma idiota.

— Você quer sair com ele?

— Não.

— Então não faça. Saia comigo em vez disso.

Eu quero fazer uma dancinha feliz com a ideia de passar um


tempo com Ryan, mas a parte educada de mim, a que meus pais
me ensinaram desde que nasci, sentia uma onda de culpa.

— Eu não posso simplesmente furar o encontro.


— Por que não? Ele furou com um monte de garotas. Pode ser
bom para ele provar um pouco do seu próprio veneno. Vamos
torcer para que o filho da puta se engasgue com isso.

Ryan estava certo. Minha culpa foi desperdiçada em alguém


como Chase. Ele não respondeu às minhas ligações. Eu poderia
estar às portas da morte em um hospital em algum lugar, pelo que
ele sabia. E ele certamente não estava pensando em meus
sentimentos quando veio me procurar na floresta para molhar seu
pau semanas atrás. O cara tinha bolas de latão, eu admito.

— Ele realmente foi até a garagem e se gabou disso?

— Sim. — Ryan balança a cabeça e eu soube então que algo


havia acontecido.

— Ele causou uma cena?

Ryan encolhe os ombros com indiferença.

— Ele jogou seu peso um pouco ao redor, fez a si mesmo


parecer um idiota premiado. Mas papai o expulsou, e Brandon e
eu demos a ele uma pequena despedida que ele não esqueceria.

Ótimo, seu pai tinha ouvido tudo também. Eu não conhecia


Sean Hardy muito bem, mas não gostava de ser a razão pela qual
ele tinha merdas para lidar no trabalho. Eu estava mortificada.

— Você bateu nele? — Estremeço esperando pelo veredicto.

— Com meus punhos? Não. Mas com a lavadora a jato,


exatamente onde dói? Sim, eu fiz. — Ele ri pensando no que havia
feito. — O filho da puta pode dançar mais rápido do que Michael
Flatley quando ele precisa. Tão engraçado. — Ele balança a cabeça
rindo com a memória.
Eu sufoco uma risadinha. — Oh, meu Deus! Ele é um babaca
idiota. Ele tem ignorado minhas ligações durante toda a semana.
Mandei mensagens para ele tantas vezes para cancelar e ele nunca
as lê. Ele é louco.

— Claramente. Agora, vamos ficar aqui e esperar que ele


apareça e entre na conversa ou vamos sair daqui? — Ryan estende
a mão para mim e ergue a sobrancelha.

— Estou fora daqui. — Eu sorrio de volta, em seguida, pego


minha bolsa e bato a porta atrás de mim.

Chase Lockwood pode ir para o inferno.

Ryan segurou a porta do motorista de sua van aberta e eu


sorrio, subindo no console central para o banco do passageiro. Eu
queria perguntar-lhe o por que de nunca consertar a maldita coisa.
O cara havia construído seus próprios carros do zero, com certeza
ele poderia consertar uma porta quebrada, mas eu não perguntei.
De certa forma, não queria admitir que sabia sobre essa parte dele.
Era um segredo que gostava de guardar para mim mesma.

— Então, para onde estamos indo? — Eu pergunto, me


sentindo animada por estar em sua van e tão perto dele
novamente. Eu realmente não daria a mínima se fôssemos a
qualquer lugar. Eu ficaria feliz em dirigir ou sentar juntos em um
estacionamento e conversar.

Ryan suspira. — Está com fome?

— Morrendo de fome.
— Um hambúrguer de drive-thru está bom? — Ele mesmo não
parece convencido.

— Perfeito.

— Aposto que Lockwood tem uma mesa reservada em um


desses restaurantes chiques. Você sabe, o tipo que tem etiquetas
de preços maiores do que porções. Tem certeza que não quer que
eu volte para que você possa provar sua comida de merda?

Eu zombo de sua sugestão. Ele me conhecia melhor do que


isso.

— Nem em um milhão de anos. Um hambúrguer é incrível.


Vou precisar de batatas fritas e um milkshake também. Ah, e
talvez uma torta de maçã?

— Qual é a ocasião especial?

Ele obviamente não tinha visto a quantidade de fast food que


eu, Liv e Effy poderiamos comer uma vez que começamos.

— Esquivando-se da bala Chase.

— E estar comigo? — Ele sorri, olhando para mim com o canto


dos olhos. Droga, isso era sexy.

— Não se precipite.

— Por que não? — Ele lambe os lábios e volta a se concentrar


na estrada à frente. Meu foco estava em todo o lugar. — Esta é
uma oportunidade de ouro para mim. Oportunidade de mostrar
que não sou o idiota que você sempre pensou que eu fosse.
— Nunca pensei que você fosse. — Ele me lança um olhar
intrigado e eu sorrio para o meu colo. — Bem. Mas, em minha
defesa, você fez algumas coisas horríveis comigo ao longo dos anos.
E esses últimos meses? Você realmente aumentou as fichas do
idiota.

— Eu tinha que fazer algo para me proteger.

Eu congelo, sentindo meu coração parar no meu peito.

— Proteger-se de quê?

Ele não responde, apenas respira fundo e entra no drive-thru.


E eu fico lá, me perguntando do que exatamente ele pensava que
precisava de proteção quando se tratava de mim.

Ele pediu hambúrgueres, batatas fritas grandes e bebidas,


depois parou na esquina do estacionamento.

— É meu pai, não é? — Eu digo, perdendo de repente meu


apetite enquanto o vejo mergulhar em seu hambúrguer como se
ele não comesse por um mês.

— O que... hein? — ele gagueja com a boca cheia.

— Você acha que precisa ser protegido do meu pai. — Eu me


viro em meu assento para encará-lo. — O que exatamente você
acha que ele fez? Acho que mereço saber, visto que você me fez
espionar para você.

Ryan termina de mastigar, larga o hambúrguer em seu colo e


se vira para olhar para mim.

— Não estou com medo do seu pai, Emily.


— Então por que você precisa de proteção?

— Eu não estou... Oh, Jesus, pelo amor de Deus. — Ele passa


as mãos no rosto, exasperado.

— Se você não vai me dizer então...

— Tudo bem — ele retruca — Era você. Eu quis dizer você.


Pelo amor de Deus. Foi uma piada, um comentário descartável. Eu
não quero que isso se transforme em uma briga. Jesus.

— Por que você precisa de proteção de mim? — Eu não ia


deixar isso passar.

— Porque eu gosto de você, Emily. Muito. Mais do que muito.


— Noto que suas bochechas ficam rosadas e ele está olhando para
frente como se não pudesse olhar para mim.

— Eu também gosto de você. Muito. — Eu sorrio. — Mais do


que muito.

— Não estou acostumado a demonstrar meus sentimentos —


ele murmura, pegando seu hambúrguer de volta e dando uma
mordida.

— Eu posso ver.

— Eu não sou um covarde. — Ele olha para mim, mas as


paredes que ele normalmente coloca não estão lá.

— Ninguém disse que você era.

— Então, podemos comer nossos hambúrgueres agora sem


você pensar que sou algum tipo de perdedor?

Cara típico. Sempre tenho que pensar na imagem.


— Você não é um perdedor, Ryan.

— Sim? Eu me sinto como um. Se os outros estivessem aqui,


provavelmente seria chutado para o meio-fio por falar como um
covarde. — Ele me dá um sorriso torto e de repente fico com fome
de algo mais do que apenas um hambúrguer.

— Bem, eles não estão aqui. Eu estou. E eu gosto da maneira


como você fala comigo. Eu gosto das suas bolhas.

— Minhas bolhas? — Ele ri e franze a testa para mim. — Ok,


isso é algum tipo de código feminino? Porque não tenho ideia do
que isso significa.

— Isso significa que eu gosto de estar com você. Só você. Você


e eu. Nós. — Suspiro. — Agora me sinto uma perdedora.

Pego um punhado de batatas fritas e as enfio na boca,


esperando que ajudasse com a diarreia verbal que parecia ter
desenvolvido esta noite.

— Desde que mamãe morreu, tem sido difícil me abrir com


alguém — diz ele, olhando para baixo novamente. Eu posso dizer
que ele acha difícil falar sobre sua mãe, como eu acho difícil falar
sobre Danny, mas ele está tentando. Comigo, ele está se
esforçando, se colocando pra fora. — Passei anos saindo com
outras pessoas — acrescenta. — E eu tenho que admitir, isso...
Com você... É tudo novo para mim. Mas eu gosto. Eu posso ser eu
mesmo com você.

— Bom. Eu sinto o mesmo.

Ele olha para mim e sustentamos nosso olhar, sorrindo um


sorriso conhecedor. Como se segredos estivessem passando entre
nós que não precisávamos dizer em voz alta. Nossa pequena bolha.
— Estou feliz por estarmos na mesma página — diz ele, e eu
assinto, me sentindo mais relaxada em dias.

Terminamos de comer em um silêncio confortável, ambos


sorrindo para nós mesmos. Era bom saber que vi uma parte de
Ryan que ninguém mais viu. Uma parte que ele não tinha sido
capaz de mostrar ao mundo desde a tragédia de perder sua mãe.
Isso me fez sentir especial, considerando o quão próximo ele era
dos homens da Renaissance. Bebi o último gole da bebida e fiz a
pergunta que me incomodava há anos.

— Por que vocês se chamam de homens da Renaissance? É


um nome realmente horrível.

Ele joga a cabeça para trás e ri.

— E é. Mas não foi ideia minha. Acho que Brandon veio com
esse e Finn achou legal. Você sabe, artista. Eu e Zak pensamos
que era um monte de besteiras.

— E é. — Eu rio, começando a perceber que Ryan Hardy não


era o idiota obstinado que eu pensei que ele fosse.

— Por que vocês se chamam de garotas Renegadas?

Quase engasgo com meu milkshake de chocolate.

— Oh, meu Deus. Nós não o fazemos. Nenhuma de nós jamais


usou esse apelido, nunca.

— Não foi isso que Liv disse a Zak na fogueira.

Cubro meu rosto e balanço a cabeça de vergonha.


— Não admira que ele nunca a tenha ligado de volta. Que coisa
mais idiota de se dizer.

Ryan puxa minhas mãos do meu rosto enquanto ri. — Escute,


Zak é meu amigo. Eu cuido dele, mas não acho que ele seja
adequado para Liv.

— Adequado? — Sinto minha testa franzir, tentando pensar


por que diabos Liv não era uma boa opção para ninguém. Ela era
incrível. — Por quê?

— Porque ele é um jogador. Ele muda as meninas mais rápido


do que a maioria das pessoas troca suas roupas íntimas.

Sim, eu já tinha visto esse lado dele por mim mesma, e essas
dúvidas mesquinhas rastejaram em meu cérebro novamente. — E
você? — Eu não pude deixar de perguntar.

— Eu não sou Zak. — Ele estende a mão e acaricia o lado do


meu rosto. — Eu nunca serei.

Eu congelo, tensa com antecipação. Ele ia me beijar de novo?


Ele olha para os meus lábios, depois lambe os seus e acaricia
minha bochecha com o polegar. Eu era massa de modelar em suas
mãos.

— Posso te mostrar uma coisa? — ele pergunta, e meu coração


bate forte no meu peito, pensando o que exatamente ele quer me
mostrar nesta van, enquanto ele está segurando meu rosto e
estamos tendo um momento.

Eu balanço a cabeça, incapaz de formar palavras e ele se


afasta, ligando o motor e me deixando um pouco confusa.
Controle-se, Em. O que você achou que ele iria fazer? Agarrar o
pau dele no estacionamento de um restaurante familiar de fast food
e dizer “olha só isso”. Eu estava seriamente perdendo o controle.

Ele nos leva pela cidade, sempre seguindo o limite de


velocidade e olhando na minha direção de vez em quando para
verificar se eu estava bem. Ele não precisava dizer por quê. Danny.

Quando ele parou do lado de fora de um prédio velho em


ruínas, eu faço uma careta.

— Onde estamos?

— Sandland Asylum — diz ele, olhando pela janela para a


monstruosidade cinza.

Os pilares estavam gastos e em ruínas, as janelas quase todas


quebradas e a alvenaria estava descascando. Era uma
monstruosidade, mas tinha um aspecto gótico sinistro que meio
que atraía você. Como se as paredes de pedra contivessem anos de
gritos silenciosos e contos torturantes. Por mais assustador que
parecesse de fora, fiquei intrigada para descobrir mais.

— Outro local de festa? — Eu pergunto.

— Talvez, eu não sei. Finn tem seu coração voltado para o


antigo reservatório de água, mas este lugar? Há algo sobre ele. —
Ele abre a porta, em seguida, estende a mão para pegar a minha.
— Vamos. Eu quero te mostrar algo.

Pego sua mão enquanto me arrasto pelos assentos para sair.


Em seguida, ele me conduz sobre o terreno irregular e segura a
cerca quebrada aberta, para que eu pudesse atravessar.
— Sua obra? — Eu pergunto, olhando para a cerca de metal
vandalizada.

— Eu não estou dizendo nada. — Ele sorri de volta e puxa meu


braço para me levar até a entrada.

O cadeado que mantinha as portas da frente fechadas está


pendurado, e ele o tira do suporte e empurra as portas abertas. Eu
ouço o bater de asas de pássaros enquanto forçamos nosso
caminho pela abertura na entrada. Este lugar era tão antigo que
até mesmo as portas desistiram, abrindo apenas alguns
centímetros antes que as dobradiças enferrujadas rangessem e
tentassem voltar ao lugar.

Ryan não largou minha mão e nós dois ficamos parados no


enorme saguão, olhando em volta para as paredes caindo aos
pedaços e o vasto teto, que em seus melhores dias deve ter
parecido deslumbrante, mas agora o vidro que o cobria estava
quebrado, descolorido e com cocô de pássaro.

— É por aqui. — Ryan aponta para o corredor escuro que


parecia algo saído de um filme de Alfred Hitchcock. Bem, nós
tínhamos os pássaros, provavelmente eu ficaria com vertigem se
ficasse aqui por muito tempo, e só rezei para não encontrar
nenhum psicopata neste asilo.

Andamos todo caminho através dos escombros e descemos o


corredor escuro que tinha várias portas que saíam dele,
provavelmente para as proteções que costumavam usar aqui.
Nenhuma das portas estava aberta. Ryan tinha feito isso? Fechou-
as para não ter que ver as armações de metal das camas ou pensar
nos horrores que poderiam ter acontecido aqui?

Quando chegamos ao fim, descemos para uma passarela mais


estreita, onde ambos tivemos que abaixar a cabeça para evitar a
poeira e as teias de aranha baixas. De Alfred Hitchcock a Indiana
Jones em apenas alguns passos.

Assim que chegamos ao final, Ryan empurrou uma pequena


porta de madeira e nós dois entramos. O sol poente banhava este
cômodo com um brilho que desmentia os cômodos vizinhos
sinistros e ásperos, e os vitrais que emolduravam três das quatro
paredes ali iluminavam o chão empoeirado em um arco-íris de
cores. Os vidros de todas as janelas ainda estavam intactos, ao
contrário do exterior do edifício, e um altar de pedra erguia-se
majestosamente no final da sala.

— Esta é a capela do asilo — diz Ryan em um sussurro, como


se não quisesse perturbar a serenidade da sala e sua aura sagrada.

— É lindo — respondo, e era. Claro, havia tinta descascando


das paredes e, no inverno, era um frio de rachar. Mas hoje, com os
raios do sol descendo no ângulo certo para banhar este lugar em
um caleidoscópio de maravilhas, eu o teria descrito como
maravilhosamente angustiado. Perfeitamente imperfeito.

— Eu encontrei este lugar alguns dias atrás, quando estava


procurando locais. Achei que seria um bom ajuste para nosso
próximo evento. Mas quando vi esta capela, algo me deteve. Eu não
queria compartilhar isso com mais ninguém. Eu definitivamente
não queria usá-lo para as lutas de Brandon ou que Finn colocasse
sua marca nele. Eu queria ficar com isso para mim. — Ele se vira
para mim e sorri. — Você gosta disso?

— Eu amo isso.

— Então talvez possa ser o nosso lugar?

Eu acalmo com suas palavras. A ideia de um lugar que fosse


nosso, só para nós, me fez sentir especial. Como se fôssemos
especiais. Ele me puxou para mais perto dele e passou os braços
em volta da minha cintura. Coloquei minhas mãos em seu peito,
mas não porque eu fosse empurrá-lo para longe. Eu queria sentir
seu coração batendo. Eu queria saber se eu o peguei como ele me
atingiu. Ele abaixou a cabeça e roçou seus lábios contra os meus
tão suavemente que eu congelei, com medo de me mover no caso
de eu perder algo.

— Está bem? — Ele sussurra enquanto sua respiração se


mistura à minha.

Eu dou um leve aceno de cabeça, querendo manter meus


lábios tão perto dos dele quanto eu pudesse, e então ele inclinou a
cabeça e me beija. Nosso segundo beijo, e desta vez não haveria
nenhum pai para nos interromper. Tínhamos todo o tempo do
mundo. Ele tinha gosto de chiclete de menta e todos os
pensamentos perversos e sujos que eu já tive. Eu queria me afogar
nele e nunca mais voltar para respirar.

Passei meus braços em volta do seu pescoço e ele se abaixou


e então me pegou, aprofundando o beijo enquanto eu envolvia
minhas pernas em volta de sua cintura. Eu me senti devassa, livre
e não me importei. Tudo o que queria neste momento era estar
com ele. Eu pensei que o quarto estava banhado em cores, mas ele
apenas mergulhou minha alma inteira em uma vibração que
nenhuma cor poderia igualar. Ele foi a centelha que deixou meu
coração, alma, corpo e mente em chamas.

Ele nos guiou para trás até que senti minha bunda bater
contra algo sólido e frio. O altar. Sentei-me nele, mas mantive
minhas pernas presas ao redor dele. Eu não queria deixá-lo ir,
nunca. Nossas línguas exploradas, nossos lábios entrelaçados;
esta era uma dança que eu nunca quis terminar. A sensação de
sua língua deslizando sobre a minha me deixou com fome por
mais. A maneira como ela se enrolava e me provocava, com um
gosto tão bom pra caralho. Meu coração doeu por ele, meu corpo
ansiava por ele e, neste momento, eu queria tudo com ele. Ele fazia
o tempo parar e eu adorei.

Ele passou as mãos da minha cintura até a minha bunda,


apertando e gemendo em minha boca. Sentindo-me desesperada
por mais, eu corri meus dedos pela maciez de seu cabelo e então
me agarrei a ele, como se eu morresse se ele tentasse se libertar.
Ele era meu ar, minha água e tudo que eu nunca soube que
precisava.

Depois de hoje, eu sabia que nunca sobreviveria sem isso.

Ele se afastou primeiro, mas manteve sua testa pressionada


contra a minha enquanto ofegava sem fôlego. Seus olhos estavam
fechados e eu observei enquanto ele os abria lentamente, me
mostrando a profundidade da emoção que ele sentia e não
conseguia mais esconder. Eu não queria que ele fizesse. Eu lutei
contra meus sentimentos por tempo suficiente. Eu não podia mais
fazer isso.

— Jesus — ele diz enquanto segura meu rosto com as duas


mãos. — Eu preciso desacelerar isso.

Instantaneamente, meu coração bate no chão com tanta força


que sinto um golpe no estômago.

— Não — ele balbucia, vendo minha expressão solene. — Eu


não quis dizer nós. Eu quis dizer isso. Eu não quero assustar você.

Levanto minhas mãos para segurar seu rosto, assim como ele
está segurando o meu e eu o beijo, um beijo suave e gentil nos
lábios, então me afasto.
— Você não vai me assustar. Você nunca o fez e nunca o fará.
Eu quero você, Ryan Hardy. Eu quero. Você. — Faço questão de
enfatizar a última parte. Eu precisava que ele soubesse que eu
estava cem por cento.

Ele passa os braços em volta de mim para me abraçar e enterra


o rosto no meu pescoço como se estivesse me respirando.

— Não há pressa — diz ele. Eu podia sentir seu coração


batendo descontroladamente em seu peito e o apertei com força
contra mim.

— Eu sei — eu sussurro de volta. — Eu não estou indo a lugar


nenhum.

Ficamos assim por um tempo, eu sentada no altar e ele na


minha frente, nós dois segurando um ao outro como se tivéssemos
encontrado algo tão precioso que tínhamos medo de deixar ir, caso
o momento de fragilidade se espatifasse como um vidro fino frágil.

Hoje, demos um ao outro uma parte de nós que ninguém mais


tinha visto. Ele sempre seria Ryan Hardy; cara durão, homem da
Renaissance e um dos caras. Mas este menino, bem aqui em meus
braços, ele era meu Ryan. Amável, gentil, amoroso e todo meu.

Relutantemente, depois de um tempo, Ryan se afastou e disse:


— Há mais uma coisa que preciso fazer esta noite.

Eu sorrio, não tendo absolutamente nenhuma ideia do que ele


precisava fazer. Mas eu balanço a cabeça e ele segura minha mão
enquanto eu escorrego para fora do altar. Então ele passa o braço
em volta dos meus ombros e beija o topo da minha cabeça.

— É coisa de homem — ele diz com uma pitada de diversão em


sua voz.
Interessante.

Dez minutos depois, estávamos parando no meio-fio em frente


à minha casa. Olho para o relógio para ver que era pouco antes
das oito. Ótimo. Eu estava conseguindo assentos na primeira fila
para assistir Chase se levantar.

— Mesmo? — Eu olho de lado para Ryan. — Você vai me fazer


vê-lo ser abatido?

— Você não precisa olhar se não quiser, mas esperei a semana


toda por isso. — Ryan se aproxima e agarra minha mão, puxando-
a para seu colo e entrelaçando seus dedos nos meus. De repente,
eu não me importava com o que estávamos fazendo aqui. Tudo o
que importava era ele. Inclinei-me e beijei sua bochecha e ele se
virou para tomar minha boca em outro beijo de enrolar os dedos
dos pés. Eu amei a maneira como nos encaixamos tão
perfeitamente. Sua boca sobre a minha, nossas línguas
entrelaçadas. O gosto dele era hipnótico. Eu estava bem e
verdadeiramente sob seu feitiço.

Nós nos separamos quando ouvimos o barulho do motor de


um carro parando ao nosso lado.

— Hora do show. — Ryan canta, acomodando-se ainda mais


em sua cadeira e abrindo a janela. Nós assistimos enquanto Chase
se olhou no espelho, acariciando seu cabelo com gel e então
sorrindo para seu próprio reflexo.

— Que babaca. — Eu balanço minha cabeça e Ryan ri.

— Ele se ama muito mais do que jamais poderia amar


qualquer outra pessoa. Você provavelmente fez um favor a ele esta
noite, querida. O garçom só precisa colocar um espelho na mesa.
Ele pode falar docemente a noite toda.

Eu rio, mas o fato de ele ter me chamado de baby, fez o resto


de suas palavras soar como ruído branco. Eu gostava de ser seu
bebê.

Chase saiu do carro e o vimos remexer nos bolsos e retirar o


que parecia ser um pacote de papel alumínio. Preservativos.

— Filho da puta. — Ryan cospe, e eu aperto sua mão enquanto


ele fica tenso ao meu lado. Chase os enfia de volta em sua calça
jeans e nós dois o vimos sorrir para si mesmo. — Juro por Deus,
vou chutar a bunda dele um dia desses.

— Não esta noite, baby — eu digo, usando o nome carinhoso


de Ryan e ele se vira para mim e sorri, então ergueu minha mão e
beija as costas.

— Eu não preciso. Eu tenho você. Não preciso de mais nada.

Eu tive que resistir à vontade de me jogar do outro lado da van


e me lançar sobre ele.

Sim, Ryan. Você me tem.

Em vez disso, nós dois voltamos a assistir a farsa que era o


desenrolar do meu não encontro com Chase. Ele tocou a
campainha, deu uma última palmadinha e modelagem no cabelo
para garantir, e quando minha mãe atendeu, ele se endireitou, sem
dúvida dando a ela uma dose completa do amuleto Lockwood. Eu
podia ver mamãe franzindo a testa e encolhendo os ombros.

Chase começou a esfregar seu cabelo perfeitamente penteado,


fazendo-o cair fora do lugar enquanto ele tentava descobrir o que
diabos estava acontecendo. Eu não estava lá e ouvir um não era
algo que Chase Lockwood não gostava de escutar, nunca. Mesmo
quando você realmente lhe dizia, ele não ouviria. Fiquei gelada
pensando em outras vezes em que poderia ter dito não, e ele
simplesmente desconsideraria meus sentimentos. Eu tive mais do
que uma fuga de sorte. Ryan salvou minha bunda esta noite.

Mamãe e Chase ficaram por mais um minuto, mamãe


parecendo desconfortável e provavelmente perguntando se ele
gostaria de entrar e esperar, e Chase arrastando os pés,
esperançosamente, sentindo-se um idiota premiado. Em seguida,
ele se virou e desceu os degraus da nossa varanda. Mamãe mordeu
o lábio, fez uma careta e fechou a porta.

Assim que Chase estava prestes a abrir a porta do carro, Ryan


buzinou e a cabeça de Chase disparou. Ele estreitou o olhar como
se estivesse tentando descobrir quem éramos e então seu rosto
caiu. Ryan mostrou-lhe o dedo do meio, depois ligou o motor e
avançou alguns metros com a van para nos colocar ao lado do
carro estacionado de Chase. Lockwood cruzou os braços e soltou
uma risada, olhando para a estrada e depois de volta para nós
sentados na van de Ryan.

— Que bom ver você aqui, cara. — Ryan se inclina para fora
da janela e dá uma olhada em Chase. — Um conselho, da próxima
vez que você olhar para a minha garota, você estará bebendo sua
comida com um canudo.

Chase ri e vai falar, mas Ryan o interrompe.

— Você está no gelo fino, Lockwood. Quero dizer. Fique longe


de Emily e fique longe de mim. Entendeu?
Ryan colocou a mão no meu joelho e esfregou. Chase se
abaixou e seu rosto se transforma em pedra quando me vê sentada
no banco do passageiro.

— Aproveite a favela, Em — ele zomba. — Quando você quiser


tentar namorar um homem de verdade, sabe onde me encontrar.

— Isso vai ser um não categórico, Chase. Prefiro enfiar


alfinetes nos olhos — respondo bruscamente.

Não esperamos que Chase nos desse outra palavra. Nós


dissemos nossa opinião. Ele foi avisado e nenhum de nós queria
olhar para o sapo viscoso por um minuto a mais do que o
necessário. Então aceleramos e o deixamos comer nossa poeira.

Depois de alguns minutos dirigindo sem rumo, Ryan para,


desliga o motor e se vira para mim.

— Deixe-me levá-la para um encontro real, não um que eu


roubei de Lockwood.

— Você não roubou nada dele. Esse cara está delirando. Mas
sim, um encontro parece... legal.

— Legal? Vai ser mais do que legal.

Ele se arrasta até mim e acaricia meu pescoço, me fazendo


desabar em uma confusão desesperada de risos. Eu tinha cócegas
demais.

— Eu vou esperar pelo nosso próximo encontro melhor do que


legal — eu ronrono, encontrando seus lábios e me perdendo no
meu Ryan.
— Então? — Brandon se senta para frente com expectativa,
tamborilando os dedos enquanto eles balançam entre os joelhos.
— O que você achou do asilo? Alguma coisa boa?

— Não. É um impedimento. Muitos corredores e quartos


vazios. Faltou... Espírito.

Ele revira os olhos para mim e geme. — Não estamos


procurando uma porra de um local para casamento, Ry. Apenas
quatro paredes e algum tipo de telhado para nos acomodar
durante a noite. Você precisa que eu dê uma olhada nisso?

Sobre o meu cadáver. Eu não o deixaria chegar perto do lugar.


Isso não estava em discussão. Eu sabia que ele teria adorado. Ele
teria usado aquela capela como seu MGM Grand particular, se
pudesse. Mas não era para ele usar. Não mais

— Nenhum ponto. Acho que devemos verificar o sistema


hidráulico novamente. Ou talvez a velha fundição? Temos esse
lugar em nossa lista há muito tempo.

Brandon olha para mim como se estivesse examinando cada


palavra, mas não discute. Finn é quem rompe o impasse.
— Você conseguiu mais alguma coisa com Emily e toda aquela
merda com o pai dela? — Ele olha entre Zak e eu, mas é Brandon
quem responde.

— Porra, você não ouviu? Esquecemos de te dizer? Ryan


pregou a bunda de Lockwood na cruz na semana passada em cima
de Emily. O cara explodiu mais rápido do que um padrinho com
uma stripper de Las Vegas. — Ele se inclina e dá um tapa no meu
joelho para me parabenizar. Mudando de suspeito para irritado e
para orgulhoso, tudo em questão de alguns segundos.

— Belas imagens, cara. — Finn faz uma careta e depois ri


enquanto Brandon conta a todos o que tinha acontecido na noite
de sexta-feira, como se ele realmente estivesse lá assistindo a tudo
sozinho. Ele estava como um pai orgulhoso com a forma como ele
descreveu. Eu não poderia dizer se ele estava mais orgulhoso de
mim por intervir ou de Emily por concordar.

— Então, é oficial agora? Com você e Emily? Vocês são um


casal? — Finn pergunta, e Zak sorri para si mesmo.

— Sim. Ela é minha. — Dou de ombros e percebo que Brandon


cerra os dentes. — Você tem algum problema com isso? — Eu
pergunto, pronto para explodir em sua bunda ou qualquer outra
pessoa que queira me denunciar.

— Não. — Brandon balança a cabeça, mas ele não olha para


mim.

— Vou sair com ela de novo amanhã. Alguma ideia de onde é


um bom lugar para um encontro? — Eu pergunto isso para Zak, e
talvez Finn.
Brandon solta. — O quê? A parte de trás da sua van não é boa
o suficiente para ela? — E então balança as sobrancelhas
sugestivamente. Imbecil.

— Vá se foder — eu cuspo de volta, e ele dá uma risada falsa.

— Basta lembrar de que lado você está. — Brandon recosta-se


na cadeira e tenta parecer que não está chateado comigo.

— Falando em lados. — Zak se levanta e vaga pela sala de


estar para reunir alguns papéis que tinha sobre a mesa e depois
volta para se juntar a nós. — Eu tive um pequeno avanço com essa
conta. Parece que papai Winters gosta de manter as coisas limpas,
se é que você sabe o que estou dizendo.

Nós concordamos, mas Zak continua como se não tivéssemos.

— Parece que ele está lavando muito dinheiro com essa conta.
Alguns dos nomes que segui me levaram a alguns lugares bastante
sombrios. — Ele se vira para olhar diretamente para mim. —
Vamos apenas dizer, se aquela fosse a minha garota morando na
casa dele, eu a tiraria de lá.

Não sei que poder ele acha que eu tenho sobre Emily, mas eu
precisaria de mais do que um palpite e as habilidades de hacker
de Zak para convencê-la. Eu precisava de uma prova sólida que
explicasse isso para todos nós. Alec Winters era um ladrão inútil e
egoísta e, se minhas suspeitas estivessem certas, ele tinha mais do
que lavagem de dinheiro nas mãos. As dele estavam encharcadas
de sangue.

— Houve um nome que surgiu para mim, no entanto. Troy


Barker. Já ouviu falar dele? — Todos nós balançamos nossas
cabeças. — Uma grande quantia em dinheiro foi transferida dois
dias após o acidente de Danny para uma conta em seu nome. Pode
ser apenas uma coincidência, mas estou investigando. Talvez
descubra se Emily sabe quem ele é? E se você pudesse ver aquele
relatório de toxicologia ou algo assim, realmente ajudaria — diz
Zak, dirigindo-se a mim.

— Eu preciso de mais tempo. Danny é um assunto delicado


para ela. Não posso perguntar abertamente. Eu preciso construir
para isso.

— Jesus, Ryan. Você consegue se ouvir? Você embrulhou


aquelas bolas antes de entregá-las a ela para mantê-las seguras?
— Brandon explode.

— Ela pode fazer o que quiser com minhas bolas. — Eu sorrio


de volta, e ele resmunga, levantando-se para ir para a cozinha de
Zak e escapar da minha presunção. Não acho que seu comentário
sarcástico tenha obtido a reação que ele queria.

— Estou falando sério. — Zak me puxa de volta, dando-me um


olhar que me diz que eu preciso manter o foco. — Eu tentei invadir
os registros oficiais, para ver se conseguia levantar o relatório de
toxicologia ou qualquer coisa do inquérito, mas não havia nada. É
como se o acidente nunca tivesse acontecido. Online de qualquer
maneira. Cada vestígio dele desapareceu. Além de suas entrevistas
de merda e toda a besteira de 'nossa geração mais jovem está
condenada', ele fala. Nós realmente precisamos de uma ajuda aqui.

Eu concordo. Eu preciso ser homem e lembrar que estou


fazendo isso por Danny também. Se alguma coisa tivesse
acontecido comigo, eu sei que ele não teria parado por nada até
descobrir a verdade.

Eu precisava sofrer pela causa e falar com Emily.


Era seguro dizer que Chase Lockwood não seria bem-vindo em
nossa casa tão cedo. Aparentemente, ele foi além de rude com
minha mãe na sexta-feira; que estava sozinha em casa depois que
papai teve que fazer uma viagem de emergência de volta a Londres
para tratar de assuntos urgentes. Ela deixou bem claro que eu não
deveria convidá-lo de volta para cá, apesar do fato de o pai dele
negociar conosco, caso contrário, ele ouviria sua palestra bem
ensaiada sobre maus modos e etiqueta.

Às vezes, minha mãe era incrível. Não frequentemente. Mas às


vezes.

Esta noite foi meu primeiro encontro oficial com Ryan. Ele
estava me pegando às sete, mas eu não tinha ideia para onde
estávamos indo e nem o que vestir. O cara dirigia festas ilegais nas
horas vagas, eu duvidava que fosse algum clube ou bar sofisticado
e, sinceramente, eu estava bem com isso. Mais do que bem.

Ryan era a pessoa mais real da minha vida agora, além das
minhas amigas. Mas eu não queria usar jeans novamente como
todas as outras vezes que ele me viu. Oh, além do vestido branco
de senhora que eu usei no armazém alguns meses atrás. Então,
eu escolhi um vestido preto bonito de skatista. Era divertido,
sedutor e de certa maneira, sexy. Além disso, a saia larga
significava que eu seria capaz de escalar uma cerca, se necessário,
sem ser restringida pelo material. Contanto que Ryan não olhasse
para cima, claro. Eu teria minha bunda em exibição completa com
a calcinha rendada que eu estava usando por baixo.

Eu coloquei meus saltos e, em seguida, guardei um par de


sapatilhas na minha bolsa para emergências, como pisos
irregulares de floresta ou montes de entulho. Eu tinha que ser
precavida, certo?

Quando soou sete horas, ouvi a campainha e corri para abri-


la antes que minha mãe fizesse uma aparição. Ryan ficou ali
parecendo um copo alto de água no deserto. Ele estava vestindo
uma camiseta preta justa com jeans apertados e uma jaqueta de
couro. Ele exalava aquela vibração sexy de bad boy e eu sabia que
tinha que tirá-lo daqui antes que minha mãe roubasse o momento
e estragasse meus planos para a noite.

— Droga, Em. Você está... — Ele me olha de cima a baixo como


se estivesse tendo os mesmos pensamentos que eu, mas eu pulo
para frente, batendo a porta e o interrompendo.

— Sim, você também. Vamos sair daqui.

Ele ergue as sobrancelhas, então deve ter se lembrado de como


meus pais eram, porque ele se virou e marchou logo atrás de mim,
pela minha garagem, sem dar uma segunda olhada na casa. Ele
agarra minha mão para diminuir meus passos e quando me viro
ele sorri e diz: — Vá mais devagar. Eu quero que isso seja especial.

Chegamos à van dele e dei a volta por trás, apontando para a


porta do motorista.

— Ah, não precisa. Eu consertei. — Ele abre o lado do


passageiro para mim enquanto eu fico parada olhando para ele.
— Você consertou? — Nada como afirmar o óbvio, Em. Talvez
eu estivesse um pouco mais nervosa do que percebi?

— Sim. Eu não precisava antes. Ninguém nunca usou. Mas eu


tinha que consertar. — Ele encolhe os ombros. — É a sua porta
agora.

A maioria dos caras derretia o coração de uma garota com


flores, chocolates ou joias. Meu Ryan derreteu meu coração em
uma poça de gosma com uma nova porta para sua van.
Sinceramente, tive vontade de transar com ele na entrada da
garagem para mostrar como estava grata. Ele era tão perfeito,
mesmo sem saber disso.

— Chega de escalar a alavanca de câmbio. — Eu coloco minha


mão sobre meu coração para fingir que estava lisonjeada com o
gesto. Eu não deveria ter fingido. Fiquei lisonjeada. — Eu me sinto
tão especial.

— Em. Essa porta estava quebrada há quase dois anos. Eu


não consertaria para qualquer uma.

— Você diz as coisas mais doces. — Eu finjo piscar minhas


pálpebras.

— Estou apenas começando, baby.

Nós dirigimos em relativo silêncio. Eu disfarçadamente estudei


seu perfil enquanto ele se concentrava na estrada. Sua mandíbula
forte e ligeira barba por fazer me fizeram perder o foco e começar
a fantasiar sobre como seria beijá-lo. Para acariciar sua bochecha
áspera e sentir aqueles lábios macios e carnudos nos meus.
Observei enquanto ele girava o volante, flexionando os músculos
dos braços e segurando firmemente com seus longos dedos
bronzeados. Eu me perguntei o que mais ele poderia fazer com
aqueles dedos e corei, jogando minha cabeça para trás para olhar
pela janela.

— Você está bem? — ele diz, estendendo a mão para apertar


meu joelho.

— Sim. Onde estamos indo?

Ele suspira e volta a encarar a estrada à frente. — Pensei em


levar você para a capela novamente, talvez limpar o lugar e ter
nosso primeiro encontro lá, mas eu queria fazer algo um pouco
diferente. Então, estou levando você para um dos meus outros
lugares favoritos.

Paramos em um estacionamento e eu não pude evitar. — Um


parque?

— Não é qualquer parque. Este tem um jardim de floresta de


quarenta acres. Além disso, é um parque real. Se é bom o
suficiente para Liz, é bom o suficiente para mim. — Ele me dá um
sorriso arrogante e eu estreito meus olhos para ele.

— Eu nunca considerei você um conservacionista.

— Eu conheço muitas joias escondidas por essas partes.

Sim, como edifícios abandonados para fins ilegais. Eu estreito


meus olhos para ele.

— Mas esse é diferente — diz ele como se tivesse lido minha


mente e aponta para a folhagem do lado de fora de sua janela. —
Minha mãe costumava nos trazer aqui quando éramos crianças.
Acho que a overdose de testosterona em nossa casa às vezes a
afetava, então ela nos trouxe aqui para alimentar os patos e se
conectar com a natureza. Provavelmente para recuperar um pouco
de sua sanidade também após um dia de arbitragem em nossas
lutas.

Saímos da van e Ryan pegou uma grande mochila na parte de


trás e a colocou nas costas. Parecia que ele tinha embalado o
suficiente para uma estadia de fim de semana.

— Vamos caminhando? — Eu pergunto, pensando que


provavelmente precisaria daquelas sapatilhas agora, em vez dos
saltos que estava usando. Eu vasculho minha bolsa e deixo cair as
sapatilhas de balé no chão e, em seguida, chuto meus saltos,
armazenando-os na área dos pés e deslizando para as sapatilhas
brilhantes muito mais confortáveis e fáceis de usar.

Ryan ri de mim quando mudo meu calçado. — Eu acho que


deveria ter dito para você usar sapatos para caminhar. Eu não
pensei. Não estou acostumado com todas essas coisas de garotas
— diz ele, apontando para os meus pés.

— Não se preocupe com isso. Estou sempre preparada. Como


um escoteiro. — Eu não queria que ele se sentisse mal por me
trazer aqui. Ele obviamente pensou no encontro.

— Você quer dizer uma escoteira? — ele corrige.

— Sim, foi o que eu disse.

Ele ri e estende a mão para eu pegar. — Vamos, Dora. Vamos


explorar. Então, poderemos encontrar um bom local para fazer
este piquenique que meu irmão, Connor, embalou para nós.

Eu levanto minha sobrancelha para ele. Os meninos Hardy


eram cheios de surpresas. — Seu irmão, Connor, fez um
piquenique? Para nós?
— Ele pode ser um idiota às vezes, mas o que ele não sabe
sobre culinária não vale a pena saber. Ele poderia dar a Mary Berry
uma corrida por seu dinheiro.

Fiquei chocada por ele saber quem era Mary Berry. — Este é o
mesmo Connor que trabalha com você na garagem?

— Sim. Ele sempre quis ir para uma faculdade de


Gastronomia, mas então mamãe morreu e ele desistiu. Acho que
todos nós fizemos sacrifícios para o bem da família naquela época.

Droga, esse menino estava continuamente me tirando do jogo.

— Seu pai deve estar muito orgulhoso de todos vocês.

Eu aperto sua mão enquanto ele me conduz por um caminho,


através de árvores decoradas com flores e arbustos de flores com
os mais vibrantes rosa fúcsia, lilases e salpicos de amarelo que eu
já vi. Eu não tinha ideia dos nomes. A menos que fosse uma rosa
ou um lírio, eu não tinha chance de adivinhar.

Tudo que eu sabia era que este lugar era lindo. Natureza no
seu melhor. E Ryan estava compartilhando isso comigo.

— Ele é o melhor. Ele teve que aturar muita coisa ao longo dos
anos — diz Ryan, começando a se abrir comigo. — Quando mamãe
morreu, ele nos juntou. Então, tudo disparou com Liam e
Connor...

— Ele não mora por aqui, certo? Seu irmão mais velho, quero
dizer. — Eu queria perguntar o que tinha acontecido, mas não
queria que parecesse que eu estava fofocando. A notícia na cidade
era de que Liam foi embora depois de uma briga com a família.
— Não. Eu o vejo a cada poucas semanas. Ele ainda não fala
com Connor, entretanto. Acho que entrar e encontrar sua noiva na
cama do seu irmão vai fazer isso com você.

— Oh meu Deus! Isso é horrível! Ele ainda se casou com ela?

— Não. E aos olhos de Connor, ele fez um favor a Liam,


mostrando a ele como ela realmente era.

Eu estava começando a ter uma ideia mais clara da família


Hardy e por que Sean estava tão desconfiado de Connor quando o
conheci. — Eu acho que ele poderia ter encontrado uma maneira
melhor de revelá-la como a vadia que ela obviamente era.

Ryan ri. — Eu não me importava muito com ela. Não conseguia


entender o que Liam via nela para ser honesto. Ela era uma
criança mimada.

— Bem, eles dizem que o amor é cego.

— Deve ser, porque quando ela saiu, ela levou o conteúdo de


sua conta bancária com ela e ele nem tentou recuperá-lo.

Eu estremeço. — Ai! Isso é brutal.

— Sim. Ele definitivamente se esquivou de uma bala lá.


Eu sabia que este parque seria a melhor escolha. Eu pedi a
Connor seu conselho sobre o melhor lugar para levar uma garota
para fazê-la se abrir e ele acertou em cheio. Até assou um monte
de scones e bolos de fada para me ajudar a 'fechar o negócio', como
ele disse. Eu não estava mentindo quando disse que mamãe
adorava este parque, ela amava. No entanto, normalmente íamos
pelos jardins em alta velocidade, antigamente. Correndo para
chegar ao espaço aberto para que pudéssemos chutar a bola ao
redor. Mamãe teria adorado uma filha como Emily. Alguém com
quem compartilhar todos os seus momentos mais leves. Eles
estavam quase perdidos para nós.

Eu poderia dizer que Emily estava interessada no que eu tinha


a dizer. Ela prestou atenção em cada palavra minha e fez
perguntas sobre meus irmãos, genuinamente interessada em
minha resposta. Eu realmente nunca disse a ninguém sobre o
show de merda Liam-Britney-Connor, porque eu era um cara.
Nunca conversamos sobre sentimentos e merdas. Meus amigos
ouviram o que aconteceu, pensaram, 'merda,' o mesmo que eu, e
todos nós seguimos em frente. Bem, todos nós, exceto Liam, mas
essa era outra história.

Segurei a mão de Emily enquanto caminhávamos entre as


flores e tentei manter a cabeça limpa e não puxá-la para o matagal
e mostrar a ela o que eu realmente queria fazer. O lugar estava
mais ou menos deserto, exceto por alguns passeadores de cães e
um estranho casal de idosos. Quando chegamos à área do pequeno
lago enfeitado, ela se iluminou como uma árvore de Natal e
paramos para observar os patos. Eu teria me oferecido para
alimentar os filhos da puta, mas não queria atraí-los para nós. Eu
odiava aquelas merdinhas com bico mal-humorado.

— Então, eu sei um pouco mais sobre você. Mas não sei nada
sobre como toda a coisa do Renaissance começou. O que acontece
lá? — ela pergunta, sem dúvida procurando alguma fofoca.

— Você quer saber sobre aquele período de descoberta,


também conhecido como renascimento, da idade média? Ou meus
três amigos idiotas do colégio? — Eu respondo, ganhando tempo.

Ela me dá um tapa brincalhão no braço. — Seus amigos,


idiota. A menos que você tenha um desejo ardente de me dar uma
aula de história.

— Meu conhecimento da verdadeira Renaissance termina aí,


infelizmente. — Dou a ela meu melhor sorriso atrevido e cutuco
seu braço. — O que você quer saber?

— Eu acho, como todos vocês chegaram onde estão. O que fez


de vocês amigos? Eu sei que vocês sempre foram os caras
populares na escola, mas às vezes eu vejo vocês com Brandon ou
Finn e vocês são tão diferentes. — Ela encolhe os ombros e volta a
observar os patos.

— Popular? Acho que você estudou em uma escola diferente


da nossa.

— Oh, cale a boca. Vocês tinham a escola inteira enrolada em


seus dedinhos e sabem disso. Você dizia pular e todos
perguntavam a que altura.
Ela não estava errada.

— Exceto você.

— Exceto eu. Mas eu percebi você. — Ela se encosta na cerca


de madeira, observando uma família de patos passando por nós.

— Eu percebi você também. — Inclino-me e esfrego meu nariz


contra o dela. Ela dá uma risada baixa e se afasta timidamente.

— Você está tentando me distrair?

— Está funcionando? — Eu sorrio.

— Talvez.

Pensei em tirá-la do caminho e coloquei meu braço em volta


de sua cintura para puxá-la para perto de mim. Então, me lembrei
que esse encontro também era uma chance de fazê-la me contar
sobre Danny e o acidente. Para se abrir sobre o pai dela também.
Para fazer isso, eu precisava me abrir também.

— Nem sempre fomos as crianças populares. — Suspiro. Eu


não gostava de viagens pelo caminho da memória nos melhores
momentos, mas hoje, eu tinha que aprender a engolir isso. — Acho
que éramos os desajustados do ensino médio que por acaso nos
encontramos no momento certo de nossas vidas. Eu era o garoto
cuja mãe morreu, e Zak foi o primeiro a falar comigo como se eu
não fosse um leproso. Ele tinha um PlayStation em casa e não
podíamos nem comprar um Atari, então comecei a ir à casa dele
quase todos os dias depois da escola para jogar Street Fighter e
coisas assim. Sua mãe e seu pai são muito legais. Sua irmãzinha
é um pé no saco, mas toda família tem uma, certo?
— Como eu, você quer dizer. — Ela dá um sorriso triste e está
na ponta da minha língua perguntar a ela sobre Danny. — E o
Brandon? — ela diz, interrompendo meus pensamentos.

— Brandon sempre foi o garoto bravo. Não posso dizer que o


culpo. Ele foi deixado sozinho quando tinha três anos por cinco
malditos dias enquanto sua mãe ficava chapada em alguma casa
de crack em Londres. O serviço social o buscou depois que um
vizinho denunciou. Eles o encontraram vasculhando as latas de
comida, sujo em sua própria merda. Não diga a ele que eu disse
isso, a propósito. Ele chutaria minha bunda se soubesse que eu
falei sobre isso.

— Isso é de partir o coração.

— Sim. O lado bom é que sua avó se aproximou para cuidar


dele. Caso contrário, ele teria sido mastigado no sistema e cuspido
aos dezoito anos. Ele tem problemas, mas não saiu tão mal,
considerando. — Observo os patos enquanto voltam para a terra.
Os pais cuidando de seus patinhos e afofando suas penas. Até os
animais cuidavam melhor de seus filhotes do que a mãe de
Brandon. A mulher realmente era complicada.

— Ele ainda vê a mãe?

— Acho que ela nem o reconheceria se ele se aproximasse dela


na rua, vestindo uma camiseta que diz 'Sou seu filho'. Eu não acho
que ela se importe. — Emily zomba e balança a cabeça. Acho que
sua mãe não estava tão mal agora em comparação com a doadora
de óvulos de Brandon.

— Isso é tão triste.

— Ele está bem. — Isso era um eufemismo do caralho, mas eu


não estava prestes a mergulhar nas águas turvas da história da
família dos Mathers e nos derrubar. Então, mudo para o último de
nossa tripulação. — Finn não falou durante os primeiros sete anos
de sua vida. Não para adultos, pelo menos. Seus pais o
empurraram em tantos conselheiros diferentes que todos
perdemos a conta. Ele sempre amou arte, no entanto. Isso o
ajudou a se comunicar, e então, uma vez que ele se juntou à nossa
pequena gangue, não importava se ele ficasse em silêncio por
semanas a fio ou conversasse uma merda completa sobre
expressionismo abstrato ou neoclássico qualquer coisa. Nós
apenas o deixávamos fazer suas coisas. Acontece que falar sobre
os sentimentos de forma superfaturada não é páreo para um grupo
decente de amigos e alguém que está dedicando um tempo para
realmente conhecê-lo.

— Uau.

— Como eu disse, éramos os desajustados.

— E as festas? Como elas surgiram? — Ela realmente quer


chegar ao âmago da questão.

— Todos nós queríamos fazer algo por nós mesmos. Quando


nos sentamos e colocamos nossas cabeças juntas, a coisa da festa
meio que fez sentido. Eu faço as vendas. É minha praia. Portanto,
o lado do dinheiro era meu.

— E as apostas — acrescenta ela com uma pitada de


sarcasmo.

— São todos números. Quem mais vai administrar essas


probabilidades e fazer o dinheiro rolar? Zak tem o know-how de
informática. Ele trabalha toda a tecnologia; envia mensagens para
pessoas, divulga e nos posiciona nas redes sociais. Ele conquistou
aquele show de DJ desde o início também. Se deixássemos isso
para Brandon, todos estaríamos ouvindo rap pesado, rock gótico
ou dark metal. Finn queria fazer suas coisas. Nunca iríamos
discutir sobre isso. E o Brandon? Ele tem três habilidades
principais; luta, bebida e mulheres. Ele já tinha os dois últimos
cobertos, então fomos com a luta. Canaliza sua energia negativa e
todos nós ganhamos muito dinheiro.

— Você cuida de tudo — ela diz, usando nosso ditado escolhido


com sua resposta.

— Exatamente. — Eu sorrio. Eu estava orgulhoso do que


havíamos construído. Éramos quatro rapazes da classe
trabalhadora sem nada, mas agora estávamos a caminho de coisas
melhores.

— E Danny? Onde ele entrou em tudo isso? — E aqui estava.


Minha oportunidade de ouro de manobrar a conversa para onde
eu precisava ir.

— Ele veio a algumas festas, nos ajudou com algumas das


coisas legais.

— Legal? — Ela zomba, me olhando de soslaio. — O que Danny


sabe sobre isso?

— Ele me ajudou a verificar os locais. Certificou-se de que o


chão não desabaria sobre todos nós. Você sabe, logística e essas
coisas.

— Ele nunca falou sobre isso. Não para mim. — Eu poderia


dizer que ela não acreditou muito em mim. Ou talvez ela não
quisesse pensar que seu irmão fosse o quinto homem da
Renaissance.

— Ele não queria que você se envolvesse. Nenhum de nós quis.


Ela morde o lábio pensando, então se vira para mim. Meu
estômago embrulha com o que ela vai dizer, porque a julgar pela
expressão em seu rosto, não era bom.

— Kian disse algo outro dia, quando o vimos no café da cidade.

— Kian fala um monte de merda — eu cuspo de volta, sabendo


exatamente o que ela vai dizer. Kian já tinha me avisado. — O cara
nasceu sem filtro.

— Eu sei, mas ele disse que foi você que alertou as pessoas
para longe de mim. Não Danny. Eu não acreditei nele. Na verdade,
nem sei por que estou mencionando isso. É louco.

— Não é loucura — eu digo, esperando que uma dose de


realidade pudesse trabalhar a meu favor. — É verdade. Danny não
queria você envolvida nas festas... — Eu respiro fundo e pulo
daquele penhasco alto pra caralho no abismo. — Mas eu não
queria ninguém perto de você.

Ela franze a testa, sem entender o que eu estava dizendo. —


Eu não...

— Eu não queria outro idiota namorando você. Eu percebi


você, Em. Eu queria você. Então, eu espalhei a mensagem que você
era intocável.

Ela prende a respiração. — O quê? Eu não entendo? Acho que


nem mesmo registrei no seu radar. Eu era a irmãzinha desajeitada
de Danny.

— Você era minha. Mesmo naquela época, eu sabia que você


era minha. — Tento olhar nos olhos dela. Eu quero que ela veja
que eu estou falando sério, mas ela olha para frente para me evitar.
— Ryan, isso é louco e estranho, definitivamente insano e eu
deveria estar chutando sua bunda por destruir totalmente minha
experiência de colégio. Fui ao baile do final do décimo primeiro ano
com Effy como meu par. Foi humilhante.

Eu balanço minha cabeça, tentando parecer arrependido, mas


não estava. Eu não dou a mínima. Eu fiz o que fiz e ainda mantive
isso. A garota era minha. Ela era muito jovem para estar comigo
naquela época, mas eu com certeza não ficaria parado e assistiria
algum garoto idiota se mexer e levá-la para longe de mim.

— Sério, eu pensei que havia algo errado comigo. Achei que


não era boa o suficiente, Ryan. Isso é realmente uma merda de se
fazer. — Ela olha para mim agora, e a dor em seus olhos me faz
duvidar um pouco de mim mesmo. Eu empurro aquele filho da
puta fraco para o fundo da minha mente imediatamente.

— Você era muito boa, Em. Eu não vou me desculpar.

Merda, isso estava piorando rápido. Eu precisava colocar


freios nisso.

— Bem, é uma sorte para mim ter bons amigos e um irmão


incrível. Não destruiu minha autoconfiança... Muito.

— Eu sou um idiota, Em. Nunca afirmei ser outra coisa.

— Você é um idiota.

— Mas eu sou seu idiota. — Ela tenta manter o olhar severo


em seu rosto, mas eu a estava ganhando de volta, eu conseguia
ver.

— Eu poderia tornar as coisas muito difíceis para você, sabe.


— Ela estreita os olhos para mim em uma ameaça.
Eu amo este fogo nela. Ela provavelmente poderia tornar as
coisas muito difíceis para mim. Eu já tinha o pior caso de bolas
azuis que já conheci. Minha garota pode causar danos
incalculáveis. Eu aceitaria, porque era ela. — E eu vou adorar cada
minuto disso — eu digo, encorajando-a.

— Ugh. Você me frustra demais às vezes.

— Mas você me ama. — Merda que cai da minha boca antes


que meu cérebro possa entrar em ação. — Você ama isso — eu
digo, na esperança de recuperar um pouco de respeito próprio.

Os olhos arregalados que ela me dá na minha primeira


declaração suavizam ligeiramente e ela sorri. — Eu vou tolerar
você. Por enquanto.

— Em minha defesa, Danny não tentou me impedir. Ele foi


totalmente a meu favor, advertindo-os. Acho que ele gostou que
todos nós protegêssemos você.

Belo desvio, Hardy. Vamos sair dessa palavra de quatro letras


com A e voltar aos trilhos.

— Sinto falta dele. — Ela suspira, então eu a puxo para mais


perto de mim e beijo sua bochecha.

— Eu estava com ele, você sabe. Aquela última noite.

Ela engasga e se vira para mim. Seus olhos voltam para os


pires novamente.

— O que aconteceu?

Pego sua mão e a levo até uma clareira onde podemos nos
sentar na grama. Eu coloco minha mochila no chão e tiro o
cobertor que papai insistiu que eu trouxesse. Aparentemente, as
mulheres não gostam de sentar diretamente na grama. Quem
sabia?

Emily se sentou e eu me sentei ao lado dela, segurando sua


mão. Eu queria oferecer a ela algum tipo de conforto enquanto
explicava a ela tudo sobre o que tinha acontecido. Isso, e eu
simplesmente não conseguia manter minhas mãos longe dela. Eu
precisava continuar a tocá-la sempre que ela estivesse por perto.

Contei a ela que Danny só bebia Coca Diet. Que ele não tocou
em uma gota de álcool e não usou drogas, nunca. Eu também disse
a ela que outra pessoa havia buscado Danny. Ele não estava
dirigindo naquela noite. Ou pelo menos não estava quando entrou
no carro.

— Isso não faz sentido. — Ela franze a testa como se as


respostas viessem a ela aqui neste parque. — Danny foi
encontrado no banco do motorista. Não havia mais ninguém lá. E
os relatórios...

— Você viu os relatórios?

Bingo. Temos um vencedor.

— Não. Mas papai disse que o legista encontrou tudo isso...


Coisas em seu sistema.

E eu chamo de mentira.

— Seu pai te contou? Você nunca viu nenhuma evidência?

— Por que meu pai mentiria?

Porque ele é um babaca egoísta.


— Eu não sei, Em. E não quero incomodá-la, mas você precisa
ver se consegue encontrar o relatório do legista, ou um exame
toxicológico ou algo assim. Eu tenho um mau pressentimento
sobre isso.

— Você acha que não foi um acidente, não é? — O olhar frágil


em seus olhos quase me quebra.

— Não sei o que penso. Ouça, Danny era um cara bom. Mas o
que saiu depois? Foi tudo uma merda. — Respiro fundo antes de
acertá-la com a próxima bomba. — O nome Troy Barker significa
alguma coisa para você?

— Troy é o mecânico do papai. Ele mantém todos os seus


carros clássicos. Ele faz outras coisas também. Acho que ele é um
faz tudo. Papai o conhece há anos.

Isso fazia sentido. Se ele mantivesse os carros, ele levaria uma


boa soma para casa por seus esforços. Mas algo no fundo do meu
intestino me dizia que algo ainda não estava certo. — E você? Você
conhece ele? — Eu pergunto a ela.

— Na verdade não. Ele mal fala quando vem para casa, o que
não é frequente. Eles fazem a maior parte de seus negócios em
Westminster. Papai dirige os carros até ele. Para ser honesta, ele
meio que me assusta. Ele tem uma aparência assustadora. — Ela
faz uma careta e me sinto ficar tenso. Eu não gostava que ela
tivesse medo de algum filho da puta como esse Troy Barker, seja
ele quem for.

— Por que ele te assusta, baby? — Eu pergunto, me


aproximando dela.

Ela sorri levemente, provavelmente porque eu a chamei de


baby. Eu posso dizer que ela gosta disso. Isso sempre a fazia corar.
— Ele tem essa aura sobre ele. Como se ele levasse você para
sair sem suar e provavelmente fumegasse um cigarro sobre o seu
corpo moribundo e usasse você como cinzeiro. Provavelmente são
as cicatrizes. Ele tem uma cicatriz feia no rosto. Papai disse que
elas eram do exército, mas eu não acho que você receba cicatrizes
de faca dentadas dos militares. — Ela encolhe os ombros. — Acho
que simplesmente não confio nele.

Fico feliz em ouvir isso. Quem quer que fosse esse cara, eu não
gosto de pensar nele estando perto dela. Não até que
descobríssemos tudo o que podíamos.

— Se ele te assusta, fique longe. Ligue-me se precisar de mim.

Ela ri de mim. — Meu cavaleiro de armadura brilhante.

— Eu não precisaria de armadura. Eu chutaria a bunda dele


se ele ao menos olhasse para você da maneira errada. — Eu sorrio
e então volto a conversa para Danny. — Acho que seu pai prefere
usar Danny como uma frase de efeito para sua campanha do que
descobrir a verdade real. — Eu não queria dizer a ela que achava
que o pai dela tinha sangue de Danny nas mãos. Então, eu escolho
o ângulo político. Funciona.

— Isso é exatamente o que ele quer. — Ela respira fundo e um


pequeno soluço escapa. Eu não queria que ela ficasse chateada.
Eu não era o melhor em namoro, mas sabia que chorar não era o
ideal no primeiro encontro.

— Baby — eu digo, virando-me para encará-la e pegando suas


duas mãos nas minhas. — O que quer que tenha acontecido,
vamos chegar ao fundo disso, você e eu. Mas não vamos estragar
hoje. Danny não gostaria que você ficasse chateada, e se ele
estivesse sentado aqui conosco agora, ele me chamaria a atenção
por ser um idiota e te fazer chorar.
Ela ri através de uma pequena lágrima que escapou e rolou
por sua bochecha. — Eu sei.

— Por favor, não chore. — Limpo sua lágrima e me inclinei


para dar um beijinho nela. Qualquer coisa para tirar sua mente do
desgosto que ela estava enfrentando.

Eu não pude deixar de gemer quando ela me beijou de volta.


Ela tinha gosto de morango, algodão doce e todas as fantasias que
eu já tive sobre ela.

Eu poderia me perder nessa garota por dias se ela deixasse.

Ela se arrasta para perto de mim e sua boca se abre para me


deixar entrar. Eu deslizo minha língua sobre a dela e sua mão vai
para a parte de trás da minha cabeça, me puxando ainda mais. De
repente, era como se o maldito mundo inteiro tivesse caído, e tudo
que eu conseguia focar era nela. Sua boca e a maneira como ela se
sentia em meus braços, tudo macio e disposto. Eu a empurro sobre
o cobertor e ela deixa. Então eu coloco minha perna entre as dela,
deitando sobre ela e a beijando, desesperado para levar isso mais
longe, mas querendo desacelerar e capturar cada segundo disso
na minha memória.

Eu esperei muito tempo por ela.

Eu queria aproveitar cada momento com minha Emily.


Havia algo verdadeiramente hipnótico em beijar Ryan. Mesmo
em um país das maravilhas como este, onde o perfume inebriante
das flores invade seus sentidos e o som da brisa soprando e
farfalhando entre as árvores fazendo você se sentir em paz, tudo
se desvaneceu até o nada. Ele poderia me fazer esquecer onde
estávamos. A dor que sinto por perder meu irmão não foi embora,
mas ele fazia um ótimo trabalho em ofuscá-la. Quando eu estava
com ele, ele eclipsava tudo.

Ele se deita sobre mim enquanto nos beijamos no cobertor no


meio do parque, sem se importar com quem estivesse passando.
Ele ateou fogo no meu corpo. Deixou-me desesperada e devassa
por ele. A maneira como seus lábios se moviam sobre os meus
parecia... certo. Como se fossemos feitos para nos encaixarmos
assim. Eu tinha beijado caras antes, mas ninguém nunca tinha
me beijado como Ryan fazia. Ele me beijou como se eu sempre
fosse dele, com urgência e uma dica das promessas a que isso
poderia levar. Meu corpo derreteu no dele e eu corri meus dedos
por seu cabelo, em seguida, raspei minhas unhas ao longo de seu
couro cabeludo e desci até a nuca. Eu queria puxá-lo ainda mais
para dentro de mim, me afogar nele se pudesse. Eu não conseguia
o suficiente. A forma como sua língua brincava com a minha me
fazia contorcer e gemer baixinho debaixo dele.
Ryan foi o primeiro a se afastar. Eu não queria que ele fizesse,
mas ele fez. Ele acaricia meu rosto enquanto me olha como se eu
fosse a coisa mais preciosa que ele já tinha visto. Ele segura seu
rosto a milímetros do meu enquanto recupera o fôlego.

— Droga. O que você está fazendo comigo, Em? Eu me


transformei em um garoto de dezesseis anos, beijando no parque.

Eu rio. Eu acho que quando você está preso em um momento,


não importa onde você está, você tem que seguir em frente.

— Eu nunca fiquei com ninguém em um parque antes, então


não sei. — Seu rosto cai assim que eu digo isso, e eu percebo o
porquê. Ele pensa que eu o estou desafiando.

— Eu não fiz coisas assim... eu só estava... eu...

— Relaxe — eu digo, levantando minha cabeça ligeiramente


para plantar um beijo rápido em seus lábios. — Eu não quis dizer
isso. Eu gosto de ficar como garotos de dezesseis anos em público.

Ele me deixa beijá-lo, mas ele logo franze a testa e se afasta


novamente. — Eu não acho que gosto da parte pública. Eu não
gosto de compartilhar você.

— Isso é algo que você nunca terá que se preocupar comigo —


respondo, certificando-me de que ele entenda pela minha
expressão que eu estou tão distante da ex-noiva de seu irmão,
Britney, quando eles vieram.

— Eu também. — Ele olha direto nos meus olhos e faz meu


coração inchar um pouco mais por ele. — Nós realmente
deveríamos comer um pouco dessa comida que Connor preparou
para nós. — Ele não faz nenhum esforço para se afastar de mim,
apenas olha para meus lábios como se tivesse outros planos para
eles em mente.

— Eu não acho que estou com fome. — Mordo meu lábio e noto
um fogo acender em seus olhos quando o faço. — Não para um
piquenique, de qualquer maneira.

Ele dá uma risada baixa e sexy e, em seguida, abaixa a cabeça


para mordiscar e beijar minha orelha e, em seguida, mudou-se
para o meu pescoço. Essa era uma fraqueza minha.

Eu gemo e inclino minha cabeça para o lado, e Ryan se move


mais sobre mim, esfregando seus quadris em mim enquanto o faz.
Acho que beijar meu pescoço e ouvir meus gemidos eram uma
fraqueza para ele também, a julgar pela protuberância que eu
podia sentir em seu jeans.

Eu não tinha muita experiência com caras e sempre pensei


que me sentiria estranha e envergonhada de fazer coisas, mas com
Ryan parecia natural. Eu queria experimentar tudo com ele. Eu
não era tão ingênua em pensar que ele estava se guardando para
mim, mas eu nunca o tinha visto com outra garota. E as histórias
que ouvi sempre foram sobre Zak e Brandon. Ryan sempre foi mais
misterioso, como Finn.

Ryan passou de acariciar meu pescoço para beijar ao longo do


meu queixo e depois de volta para a minha boca. Suas mãos
começaram a subir pelo meu corpo e ele estava apertando meus
quadris, então elas se moveram para a minha bunda, através do
meu vestido. Eu nunca odiei uma peça de roupa tanto quanto
odiava esta. Eu queria sentir suas mãos em mim. Eu queria senti-
lo.

Eu o empurro gentilmente e sussurro: — Eu não acho que


devemos fazer isso aqui.
Ele baixa a cabeça de vergonha e diz: — Eu sei. Eu sinto muito.
Eu não posso evitar. — Não gostei de ver a culpa em seus olhos.

— Não. Eu quis dizer que precisamos ir para outro lugar.

Um sorriso malicioso aparece em seus lábios carnudos e o


brilho em seus olhos volta. — Acho que conheço o lugar certo.

Ele sai de cima de mim e estende a mão para me ajudar a


levantar. Eu pego e me levanto, escovando a saia do meu vestido e
tentando esconder o rubor que estava manchando minhas
bochechas ao ver outro casal mais velho a alguns metros de
distância, que provavelmente testemunhou tudo o que estávamos
fazendo.

— Você fica bonita quando está corada — ele sussurra em meu


ouvido e, em seguida, passa por mim para pegar o cobertor e
colocá-lo na mochila. — Vou gostar de encontrar outras maneiras
de fazer suas bochechas ficarem coradas.

Esse comentário me faz corar ainda mais.

Voltamos para a van de mãos dadas. Eu nem percebo os


arredores deslumbrantes, com suas flores silvestres e beleza
rústica. Mas eu percebo que estamos segurando as mãos um do
outro com força e estamos tão focados em sair daqui que estamos
ambos ofegantes enquanto caminhamos. Meu coração está
ameaçando abrir caminho para fora do meu peito e cair no
caminho empoeirado aos pés de Ryan. E quanto ao meu corpo,
cada terminação nervosa está ganhando vida em antecipação.

Ryan Hardy está rapidamente se tornando um vício para mim.

Um vício do qual eu não quero me recuperar.


Eu nunca tinha visto esse lado dele antes em todo o tempo que
o conhecia, bem... sabia sobre dele. Ele sempre foi o indiferente,
reservado e quieto. Não tão quieto quanto Finn, mas ele não falava
a menos que realmente precisasse. Eu me perguntei se ele tinha
sido assim com mais alguém. Eu esperava que não. Eu gostava de
pensar que esse lado sexy e suave era todo meu.

— Você está franzindo a testa. O que foi? — ele diz, puxando-


me dos meus pensamentos. Nós alcançamos sua van e ele abre a
porta para mim, mas quando eu entro, ele fica onde está e se
agacha na minha frente. — Eu não gosto desse semblante. Fale
comigo. Você quer que eu te leve para casa?

— Não — eu atiro de volta. Casa é o último lugar que eu quero


ir. — Eu só... estava pensando...

— Oh Deus. Isso vai ser ruim, não é? — Ele abaixa a cabeça,


olha para mim e eu estendo a mão para tirar o cabelo de seus
olhos. Isso o faz sorrir e eu me sinto um pouco menos ansiosa
sobre o que eu falarei a seguir.

— Eu estava pensando em você... e outras garotas.

Ele engasga e seus olhos se arregalam. — OK. Não estava


esperando por isso. Eu não sou Zak. Eu não... O quê? — Ele olha
para mim como se eu tivesse falado uma língua estrangeira. A
expressão estranha e sem esperança em seu rosto me faz dar uma
risada nervosa.

— Acho que falei errado.

— Sim. E acho que preciso sentar para ter essa conversa.


Ele se ergue e dá a volta para o lado do motorista. Fecho minha
porta e me viro para ele enquanto o vejo solta algumas respirações
profundas.

— Então, ou você está me perguntando sobre ex-namoradas


ou eu te entendi totalmente errado e você tem alguns fetiches que
nunca imaginei chegando.

— Você é diferente... quero dizer, comigo. Você sempre foi esse


idiota fechado...

— Porra, obrigado — ele interrompe.

— Você sabe o que eu quero dizer. Você é um idiota, na maioria


das vezes. Desculpe, mas é verdade. Não estou dizendo que acho
você um idiota, só...

— Vá direto ao ponto, baby. — Paro de falar e levo alguns


segundos para organizar meus pensamentos.

— Eu quero saber se você tem sido assim com outras garotas.


Do jeito que você é comigo, quero dizer.

— Em, se você está me perguntando se sou virgem, é um não.


— Ele olha para seu colo como se tivesse acabado de ouvir que era
o fim do mundo. — Eu sinto muito. Eu gostaria de poder dizer o
contrário.

— Eu sei disso. Eu meio que adivinhei isso.

Ele olha para mim e depois de algumas respirações ele fala. —


Mas se você está me perguntando se eu já amei outra pessoa, a
resposta é não. E não, nunca me senti assim antes.
Ele fecha os olhos e suspira. Quando ele os abre posso ver
honestidade e verdade ali.

— Eu gosto de estar com você, Em. Eu gosto do que estamos


construindo aqui. Eu me sinto diferente quando estou com você.
Eu sinto que posso ser eu mesmo. Eu ainda posso agir como um
idiota quando estamos em público. Definitivamente vou agir como
um perto dos rapazes, mas isso não significa que não estou doendo
por dentro, desesperado para ficar sozinho de novo. Não há garotas
com que você precisa se preocupar. Confie em mim.

— Eu sinto muito. Eu não deveria ter perguntado.

— Sim, você deveria. Eu não quero te forçar a fazer nada. Mas


confie em mim. Vou levar tudo isso no seu ritmo. Você controla
tudo.

Entramos no pátio da garagem da família de Ryan, mas ele


dirige a van pela lateral e para quando está ao lado da oficina. Sua
oficina. Eu não tinha contado a ninguém sobre Sean, seu pai, me
mostrando por aqui. Não era minha história para contar e eu meio
que gostei de ter um vislumbre secreto do mundo de Ryan. Nós
dois saímos da van ao mesmo tempo e Ryan pega minha mão.

— Eu queria te mostrar outra coisa. Eu não deixo muitas


pessoas verem isso, — ele diz enquanto se abre e se afasta para
me deixar passar primeiro, em seu espaço. — Esta é a minha
oficina. Eu faço carros aqui. — Ele fala baixinho atrás de mim.

— Uau. É incrível — eu digo, pensando que estava fazendo um


trabalho muito bom em parecer surpresa e maravilhada. Acontece
que eu era uma atriz de merda.
— Você já viu? — Ele sorri e balança a cabeça.

— O quê? Não! Tudo isto é novo para mim. Isto é...

— Meu pai mostrou a você, não foi?

Não consigo esconder meu sorriso. — Sim. Mas antes de você


ir atrás dele, ele só queria compartilhar comigo o quão orgulhoso
ele estava de você. Não fique bravo.

— Inacreditável. — Ele dá uma risadinha. Ele não está bravo.


Eu não tinha certeza do que ele estava, mas não era louco. — Eu
disse a ele que essa parte do terreno não estava aberta a ninguém.

— Bem, seu pai não achava que eu era qualquer um.

Ele deve pensar que eu estou magoada porque ele se aproxima


e coloca os braços em volta de mim para me abraçar.

— Eu não quis dizer isso. Eu quis dizer que ele precisava


passar por mim primeiro. Eu não me importo que você veja. Você
nunca poderia ser descrita como qualquer pessoa.

Eu o abraço de volta e então o quadro de cortiça na parede


chama minha atenção.

— O que é isso?

É a foto polaroid minha no armazém com meu vestido branco,


a que eu tinha visto escondida sob a papelada, na época em que
Sean me deu o grande tour. Só que desta vez ela está presa em
exibição.

Vou até ela e toco meu dedo por baixo da imagem. Eu odiei
aquela noite, mas, novamente, se eu não tivesse ido, eu estaria
aqui agora? Pensando bem, talvez eu não tivesse odiado aquela
noite tanto quanto disse que odiava.

— Você acha que eu sou um esquisito, não é? — Ele tenta


parecer culpado. Isso apenas o faz parecer mais bonito.

— O quê? — Eu digo sarcasticamente, revirando os olhos. —


Você me perseguiu, me assustou, assustou todos os caras que
conheci e agora você tem polaróides minhas pregadas na parede.
Por que eu acharia que você é um esquisitão?

Ele ri e pega a câmera que está em sua bancada. — Quando


você coloca dessa forma, eu pareço mais do que uma esquisito. —
Ele ergue a câmera polaroid e tira outra foto minha sorrindo para
ele. Quando a foto é tirada, ele a puxa e a abre, em seguida, coloca-
a ao lado do vestido branco. — Eu vou assumir. Quando se trata
de você, sou um esquisito. Talvez perseguidor soe melhor? Ou
caçador? — Ele ergue uma sobrancelha.

— Ou cara que tira fotos e não é bizarro ou estranho de jeito


nenhum. Acho que eu iria com isso. Você tem rótulos idiotas
suficientes, Sr. Renaissance.

Ele joga a cabeça para trás e ri, e eu juro que todo o meu corpo
entra em colapso. Eu sempre adorei quando ele ria assim, mas
aqui neste espaço confinado, bem na minha frente, eu não
conseguia me conter. Eu queria pular e escalá-lo, como um
macaco subindo em uma árvore.

— Então, em que você está trabalhando? — Eu pergunto,


olhando para o carro prateado que está no meio de sua oficina.
Tinha se transformado ainda mais desde a última vez que estive
aqui. Eu diria que estava pronto para voar. Parecia espetacular.
— Trabalhando? Estou tentando não parecer um babaca para
essa garota muito gostosa e linda. Mesmo que ela provavelmente
esteja pensando em um milhão de desculpas para sair daqui e
escapar.

Seu olhar passa de cômico para lascivo em segundos e ele


estende a mão e passa os dedos pelo meu braço. Um gesto tão
pequeno, e ainda assim eu sinto um arrepio me dominando.

— Eu acho que você está indo muito bem — eu consigo dizer


enquanto luto para recuperar o fôlego.

Ele abaixa a cabeça para olhar para mim com o cabelo caindo
sobre os olhos. Coloco minhas mãos em seu peito e posso sentir
seu coração batendo forte, quase tão rápido quanto o meu. Ele
engole em seco e, em seguida, com voz grave, diz: — Se a qualquer
momento eu não estiver... bem, diga-me. Sem pressão.

Eu concordo.

Há um sofá contra a parede de trás e ele pega minha mão e


me leva até ele. Eu chuto minhas sapatilhas de balé e me sento,
enrolando meus pés debaixo de mim. Ryan se aproxima de mim,
então escova meu cabelo atrás da orelha e acaricia minha
bochecha.

— Apenas me beije — eu digo, não querendo esperar mais um


segundo, e ele o faz. Ele cola seus lábios nos meus em um beijo
desesperado e faminto, pegando o que precisa. Este não foi doce e
lento como nossos outros beijos. Esse era cru e apaixonado. Ele
estava segurando minha cabeça no lugar e segurando meu cabelo.
Eu fiz o mesmo, enfiando meus dedos em seus cabelos e puxando-
o para mim. Ele moveu as mãos para minhas coxas, empurrando
por baixo da minha saia e deslizando-as para cima até que ele
estava segurando minha bunda nua.
— Porra... — Ele diz, afastando seus lábios dos meus,
levantando minha saia e olhando para baixo. Eu acho que ele gosta
de calcinhas rendadas pretas, porque quando ele vê o que eu estou
usando por baixo, ele vai direto para cima de mim.

Ele me empurra para trás, então eu fico deitada e me cobre


com todo o seu corpo, me pressionando contra o sofá. Então, seus
lábios estão de volta nos meus; sua língua me provando e
provocando, suas mãos massageando minha bunda e seus quadris
me pressionando. Eu o beijo de volta, enlaçando minha língua com
a dele, amando o quão quente e sexy ele se sente. Corro minhas
mãos de seu cabelo até o pescoço, em seguida, faço algumas
explorações por conta própria, mergulhando debaixo de sua
camiseta para sentir o abdômen duro como pedra que ele tem
escondido lá.

Ele se afasta, nós dois ofegando como se tivéssemos corrido


uma maratona, e ele estendeu a mão para puxar a camiseta pela
cabeça, o tempo todo mantendo contato visual comigo. Ele é
perfeito. Bronzeado, tonificado e com aparência boa o suficiente
para comer. Ele joga a camiseta no chão e começa a me beijar
novamente. Eu não consigo tirar minhas mãos dele. Ele é tão
suave, tão sexy e tão meu. Eu odiava que meu vestido estivesse me
impedindo de ter a experiência completa de Ryan Hardy. Eu queria
sua pele contra mim sem barreiras.

Ele começa a beijar meu pescoço e eu engasgo, fechando os


olhos. Seus dedos brincam com as alças do meu vestido e então
eu o sinto puxando, deslizando-as pelos meus braços.

— Isso está bem? — ele pergunta com uma voz rouca. Eu não
posso parar isso, mesmo se quisesse. Risca isso. Eu não quero
parar. Rapaz, eu não consigo nem formar pensamentos coerentes
agora.
— Sim — eu respondo em uma voz ofegante. Ele ergue-se
ligeiramente sobre os cotovelos e consegue puxar os braços das
alças do vestido. Eu deito com meu sutiã preto rendado
aparecendo, enquanto meu vestido está enrolado em volta da
minha cintura. A respiração de Ryan está profunda, e ele toca meu
peito delicadamente com os dedos, traçando sobre a renda. Então
ele se abaixa e coloca a boca no meu seio, sugando pela renda. Eu
dou um pequeno grito e empurro-me contra ele. É bom sentir sua
boca quente e úmida em mim, mesmo através do material.

Ele morde suavemente, levando meu mamilo enrugado em sua


boca e esfregando-o com a língua. Aí ele se solta e passa para o
meu outro seio, dando o mesmo tratamento. Eu me contorço
embaixo dele. Eu sabia que seios podiam ser sensíveis, mas eles
nunca se sentiram assim. Tê-lo beijando-os estava me deixando
molhada e eu podia sentir uma pulsação entre minhas pernas.
Engancho uma das minhas pernas sobre seu quadril e me inclino,
esfregando contra ele para conseguir algum tipo de fricção.

A mão de Ryan passa pelas minhas costas, sentindo o gancho


do meu sutiã, e então ele o agarra, puxando-o imediatamente e
deixando-o cair ao lado de sua camiseta. Eu não me senti tímida
ou envergonhada deitada sob ele assim. Sempre pensei que
sentiria, mas não. Ele me fez sentir segura, protegida, desejada. O
calor em seus olhos me fez sentir poderosa. Um poder que eu
gostava de ter. Eu queria mais.

— Você é tão linda, Em — ele sussurra enquanto olha dos


meus olhos para os meus seios e então sua boca está sobre eles
novamente; chupando, mordendo, deixando-me absolutamente
louca. Eu não consigo parar de ofegar. Eu estou sem fôlego com a
necessidade. Ele os massagea com as mãos enquanto trabalhava
com sua língua talentosa e eu seguro sua cabeça, agarrando seus
cabelos em desespero.
Eu posso sentir a dureza em seu jeans e aperto meus quadris
nele, tentando obter algum alívio. Ele move sua mão pelo meu
corpo e de volta na minha coxa, levantando minha saia. Ele
massageou minha bunda, em seguida, ele se move para dentro da
minha coxa, seus dedos acariciando tão perto de onde eu precisava
deles, mas sem chegar lá.

— Por favor — imploro baixinho no ar e ele geme, esfregando


os dedos sobre minha boceta através da minha calcinha. Tão bom
pra caralho e ainda não o suficiente.

— Você está tão molhada — ele geme em meu ouvido.


Esfregando-me repetidamente. Eu levanto meus quadris,
querendo, não, precisando de mais. — Posso tocar em você? — ele
pergunta. Eu balanço a cabeça, em seguida, dou um gemido baixo
e gutural quando ele passa o dedo por baixo da tira fina de renda
e a empurrou de lado. Em seguida, seu dedo está em mim,
deslizando pelos meus lábios e sobre o meu clitóris, fazendo-me
rolar os quadris no mesmo ritmo dele.

Ele esfrega em círculos e então lentamente se moveu para


baixo, empurrando o dedo dentro de mim e me fazendo gemer mais
alto. Eu posso sentir a palma de sua mão contra mim enquanto
ele acaricia por dentro, se curvando para frente e me fazendo suar
e ofegar por mais. É tão bom. Bom demais. Ele está me fodendo
com os dedos e eu adoro.

— Eu quero provar você — ele fala em meu ouvido e eu balanço


a cabeça novamente. Não sou capaz de falar. Eu estou muito
perdida nas sensações que ele estava criando. Tudo que eu consigo
focar é no que ele está fazendo comigo e moendo meus quadris
para me fazer sentir ainda melhor.

Ele beija minha barriga, passando a língua no meu umbigo e


eu o observo, meus olhos pesados e meu corpo como um líquido.
Eu acaricio seu cabelo enquanto ele se aventura mais abaixo e ele
olha para mim, cheio de luxúria e desejo. Eu soube naquele
momento que faria qualquer coisa por ele.

Ele puxa o dedo e eu gemo com a perda dele. Mas ele apenas
sorri e puxa minha calcinha para baixo em minhas pernas e se
limpa. Então, ele abre mais minhas pernas e suspira. — Porra, tão
linda e minha.

Ele se abaixa, usando os polegares para separar meus lábios


e então passa a língua pelo meu clitóris. Meus quadris se sacodem
para frente involuntariamente e eu grito. Puta merda, eu nunca
senti nada tão bom em toda a minha vida. Ele lambe várias vezes
ao redor do meu clitóris e, em seguida, chupa em sua boca,
esfregando a língua uma e outra vez antes de deixá-la sair
novamente.

Porra, isso vai me levar ao limite.

Ele continua lambendo, girando, chupando, me provocando


com sua língua e eu balanço meus quadris em sua boca, sendo
mais descarada do que nunca. Eu nem reconheço essa Emily. Ela
é selvagem. Ele me deixa selvagem.

Eu posso sentir que estou ficando mais tensa lá embaixo e me


agarro na beirada do sofá.

— Oh... Ryan, eu estou...

Ele empurra o dedo dentro de mim enquanto me fode com a


boca e eu perco toda a capacidade de falar. Não consigo nem
terminar minha frase. Eu sinto um aumento dentro de mim e então
todo o meu corpo começa a tremer. Minha boceta aperta com força
em seus dedos, como se os músculos estivessem entrando em
espasmo. Meu clitóris está pulsando rápido como um tambor e
minhas pernas tremem como gelatina. Puta merda. Então, é assim
que parece um orgasmo.

Ele lambe suavemente entre as minhas pernas quando


pequenas faíscas e tremores secundários disparam. Fico ali com
os olhos fechados, sentindo como se tivesse acabado de passar por
algo bíblico. Mudança de vida. Verdade seja dita, eu tinha. Sempre
foi assim? Isso tudo que consome, faz parar o coração, é
incrivelmente incrível? Pelo que Liv me disse, não era. Talvez eu
tivesse ganhado a sorte grande. Sorte da primeira vez.

Ryan descansa sobre mim, ele ainda está com sua calça jeans,
e quando eu o beijo, posso sentir meu gosto em seus lábios. É tão
excitante. E por mais saciada que eu me sinta, ainda quero senti-
lo. Fazer por ele o que ele fez por mim. Corro minha mão na frente
de sua calça jeans e posso sentir o quão impossivelmente duro ele
está. Ele interrompe nosso beijo, mas mantém sua testa
pressionada contra a minha.

— Eu não espero que você faça nada. Esta noite foi perfeita —
diz ele. Mordo meu lábio e balanço a cabeça, então abro o botão de
sua calça jeans. Eu posso sentir seu pau já saindo do topo. Mesmo
sua boxer não consegue segurá-lo. — Tem certeza? — Ele
pergunta.

— Sim. Eu quero te ver. Te tocar. — Eu sorrio e ele me ajuda


a tirar seu jeans e boxer. Ele as chuta para o chão e deita ao meu
lado no sofá, completamente nu. — Você é lindo — eu digo,
refletindo suas palavras anteriores e ele ri.

— É a primeira vez que sou chamado de bonito. — Ele bica


meu nariz e depois o esfrega na lateral do meu, dando-me um beijo
lento e sedutor. Eu amo os beijos de Ryan. Eu amo prová-lo. Mas
agora, ele está me distraindo. Mudo minha cabeça para olhar para
seu pau, que está duro, longo e grosso. Está descansando na
minha barriga e vou tocá-lo, mas hesito.

— Toque-me, baby — ele diz, pegando minha mão e


envolvendo-a em seu comprimento. É macio como veludo, embora
fosse duro. Eu não esperava isso. Ele mantém a mão sobre a
minha para me mostrar como gosta de ser acariciado. Eu estou
contente. Eu não tenho a menor ideia de como fazer isso, mas ele
não parece se importar. Quando encontro meu ritmo, ele afasta a
mão e começa a me beijar novamente, apertando meus seios e
empurrando seus quadris na minha mão. Eu não termino de
explorar, porém, e quando tiro minha mão de seu eixo e começo a
acariciar suas bolas, ele geme.

— Oh, baby. Bem desse jeito. — Eu sei que tenho que ser mais
gentil aqui, então acaricio e faço cócegas, arrastando minhas
unhas delicadamente em sua pele antes de segurá-las. — Tão bom.
— Ele geme e quando volto a esfregar seu eixo, ele começa a
empurrar mais rápido na minha mão. — Mais forte, baby. Segure-
me um pouco mais apertado. — Eu faço, e ele coloca a cabeça na
curva do meu pescoço e começa a grunhir, empurrando seus
quadris em mim.

De repente, ele se afasta e se ajoelha entre minhas pernas.

— Eu vou gozar — diz ele, afastando minha mão e bombeando


seu pau rápido em sua mão. Eu assisto fascinada quando ele
levanta minha saia de volta com uma mão e, em seguida, gotas de
sêmen branco jorraram de seu pau no meu estômago. Ouvi-lo
gemer me faz começar a pulsar novamente. É a coisa mais sexy
que eu já vi, assistir Ryan gozar em mim... por minha causa.

— Puta merda — diz ele, apoiando-se nas pernas e jogando a


cabeça para trás. — Porra.
Ele abre os olhos e olha para mim, ofegante. Estendo a mão e
corro meu polegar sobre a ponta de seu pau, economizando a
última gota, e então chupo meu polegar em minha boca. Seus
olhos saltam das órbitas.

— Puta que pariu, Em. Isso é sexy pra caralho. Porra, eu


realmente quero beijar você.

— Isso é um monte de palavrões, baby.

— Tudo muito necessário agora — diz ele, inclinando-se para


pegar uma caixa de lenços de papel da bancada de trabalho atrás
dele. Ele enxuga o meu estômago e então se deita sobre mim,
puxando-me para ele e me beijando. — Por que esperei tanto? Eu
deveria ter trancado você há muito tempo. — Ele me dá um sorriso
atrevido e eu passo meus braços em volta dele para segurá-lo
perto.

— Porque todas as coisas boas vêm para aqueles que esperam.


Ou é deixar o melhor para o fim?

— Primeiro, último, eu não me importo. Você, Em, é tudo.


Acordei, registrando rapidamente o fato de que estava
descansando minha cabeça em um peito muito quente, sólido e
babando descaradamente sobre ele. Levantei minha mão
lentamente para limpar as evidências e esperei que ele não
estivesse acordado para notar. Enquanto eu me movia, ele se
mexeu também, esticando os braços e depois deu um beijo no topo
da minha cabeça. Ainda estávamos enrolados no minúsculo sofá
de sua oficina. Não tinha ideia de que horas eram, mas esperava
que não fosse tarde demais.

Ryan se abaixou ao lado dele e pegou o celular do bolso da


calça jeans. A tela ganhou vida e ele deu um pulo, sentando-se
ereto, mas tomando cuidado para não me jogar de cima dele
enquanto o fazia.

— Merda. Baby, são cinco e meia.

Minha boca ficou seca. Como diabos conseguimos dormir a


noite toda? Eu vasculhei meu cérebro, tentando lembrar se meu
pai estaria em casa ou ainda em Londres. Eu não tinha toque de
recolher desde que fiz dezoito anos e era tecnicamente uma adulta.
Mas eu sabia que se fosse pega por ele, entrando sorrateiramente
esta manhã, minha vida não valeria a pena ser vivida no futuro
próximo. Especialmente se ele somasse dois mais dois e
descobrisse onde eu estava. Felizmente, pelos meus cálculos, ele
não voltaria até amanhã.

— Eu realmente preciso ir para casa.

Eu ainda estava com meu vestido, embora preso em volta da


minha cintura. Alisei a saia para cobrir minha nudez e olhei além
de Ryan para o chão para ver onde estava minha calcinha. Ele
estava gloriosamente nu sem nenhuma preocupação no mundo.
Eu estava cobrindo meu peito com meus braços e tentando não
corar. Na dura luz do dia, minha confiança estava começando a
diminuir.

— Não se esconda de mim. — Ele suspira, puxando meus


braços para baixo e me dando um beijo gentil. — Você é linda.
Assuma-se.

— Eu não sou tão confiante quanto você — eu digo, tentando,


mas falhando em não olhar para a ereção impressionante que ele
tem.

— É manhã. Sempre acontece isso. — Ele ri e então estende a


mão e pega nossas roupas do chão, passando meu sutiã e depois
se mexendo para colocar sua boxer. Ele se levanta e se veste em
tempo recorde enquanto eu suava de vergonha e lutava com o
fecho do sutiã. Minha primeira manhã depois da noite de ontem e
eu entendo agora. Eu entendi por que Liv a chamou de caminhada
da vergonha. Eu não sentia vergonha como tal. Não me arrependi
de nada que fiz com Ryan na noite passada. Mas eu senti a
queimação do constrangimento e da autoconsciência esta manhã
enquanto isso queimava minha pele. Eu tinha certeza de que era
da cor de uma beterraba agora.

Ryan se virou para mim e deve ter percebido minha


inquietação. Ele estava ficando muito bom em me ler.
— Você está bem? — ele perguntou, a preocupação tomando
conta dele. Ele se sentou no sofá ao meu lado e pegou minha mão.
— Por favor, me diga que eu não te assustei. Eu sei que nos
envolvemos com tudo ontem à noite, mas posso dizer
honestamente, com a mão no coração, que foi a melhor noite de
todas. — O sorriso maroto que ele me dá derrete qualquer tensão
que eu sinto em um instante.

— Já basta. Já te disse, não me assusto facilmente. Não


quando se trata de você, de qualquer maneira. Eu me diverti ontem
à noite.

— Eu nem mesmo alimentei você. Eu deveria parar para pegar


o café da manhã no caminho de volta para sua casa. Precisamos
de café também — diz ele com um grande bocejo.

— Eu acho que preciso voltar antes que minha mãe se levante.


Prefiro evitar as vinte perguntas.

— Diga a ela que você ficou na casa da sua amiga.

— Eu faria, mas eu sou uma péssima mentirosa. Ela veria


através de mim em um segundo. Não. Melhor chegar em casa e
enfrentar as consequências.

— Posso ver você hoje à noite? — ele se aventura como se


esperasse que eu dissesse não.

— Gostaria disso.

Ficamos de mãos dadas enquanto ele nos conduziu para a


manhã escura. O sol mal havia nascido e a brisa tinha aquela
sensação fresca e orvalhada da manhã. Eu me senti viva e respirei
fundo, sorrindo para Ryan enquanto o fazia. Ele foi abrir a van,
mas uma voz profunda o deteve.
— Bom dia, Emily, filho. A noite foi boa?

Nós dois nos viramos para ver Sean parado a alguns metros
de distância com uma caneca fumegante nas mãos. Ele estava
vestido com seu macacão, pronto para seu dia de trabalho. Eu não
tinha ideia de que eles começavam tão cedo.

— Olá, Sr. Hardy. Desculpa. Eu ficaria para conversar, mas


estou atrasada. — Aceno sem jeito e me encolho com o quão
ridícula eu soei. Ryan deve ter concordado quando o ouvi dar uma
risada baixa.

— É Sean, eu disse a você. — Ele olha para o relógio e olha de


volta para mim. — E eu diria que você está cerca de sete horas
atrasada, mocinha. Espero que seu pai não pegue a espingarda.
Ele pode parecer em forma, mas meu filho não pode correr tanto.

Foi a minha vez de rir baixinho.

— Filho, corra em zigue-zague. Vai ficar mais difícil para ele


dar um tiro decente — diz Sean rindo.

Como se a manhã não fosse constrangedora o suficiente,


Connor, irmão de Ryan, escolhe aquele exato momento para sair e
se juntar a nós. Ele não estava pronto para o trabalho, no entanto.
Ele tinha uma toalha enrolada em seus quadris e pingos de água
ainda escorriam por seu peito do banho que acabara de tomar.
Tentei não olhar, mas era difícil não olhar.

— Jesus. Sério, Con? — Ryan diz, e agarra a maçaneta da


porta da van com um pouco de agressividade demais, abrindo-a e
bufando ao fazê-lo.
— Gostou dos meus scones? — Connor pergunta, olhando
para mim com um brilho nos olhos. — Eles são muito bons, não
são?

— Os melhores scones que comi ontem à noite — respondo, e


Ryan sorri.

— Vou levar Em para casa, volto para limpar e começar a


trabalhar — diz Ryan se dirigindo ao pai. — E da próxima vez que
você falar com a minha garota, coloque algumas roupas, porra. —
Ele estala para Connor.

Connor jogou a cabeça para trás e ri, então ele caminha em


direção à casa em que todos viviam que ficava ao lado de sua
pequena garagem próspera. Deve ser uma característica da família
Hardy, imaginei. Não admira que todas as mulheres com quem
eles namoravam estavam perdendo a cabeça. Essa risada fazia
coisas com uma garota.

— Sinto muito pelo meu irmão idiota — diz Ryan, ligando a


van e rangendo os dentes em irritação. — Juro por Deus que ele
faz essa merda de propósito, só para foder comigo.

Estendo a mão para apertar sua coxa enquanto saíamos para


a estrada. — Eu não tenho ideia do que você está falando. Eu só
tinha olhos para você lá.

Ele ri e olha para mim antes de se concentrar novamente em


sua direção. — Boa resposta, baby. Boa resposta.

Acontece que os deuses estavam do meu lado naquela manhã


e consegui voltar para casa pouco antes das seis sem acordar
ninguém. A garrafa vazia de chardonnay de mamãe ainda estava
na ilha da cozinha. Ela provavelmente rastejou para sua cama
vazia em uma névoa induzida pelo vinho e não se levantaria até
por volta do meio-dia. Ela tendia a beber mais quando papai estava
fora. Achei que ela estava solitária. Eu tentei preencher a lacuna,
criar noites de cinema e dar a ela a atenção que eu sabia que ela
ansiava, mas fui uma substituta pobre. Quase todos os dias,
quando papai trabalhava, mamãe tomava vinho no meio da tarde.

— Isso é o que um grande orgasmo fará com você. — Liv


gargalha enquanto eu contava a ela e a Effy tudo o que tinha
acontecido desde o desastre de Chase Lockwood. Eu não tinha
certeza de como elas iriam receber a notícia sobre eu e Ryan
sermos... Bem, eu não tinha certeza do que éramos. Ele era meu
namorado? Estávamos definitivamente namorando.

— É um fato científico — ela continua, falando alto demais no


café em que estávamos e chamando atenção indesejada para nós.
— Algum hormônio ou produto químico que ele cria. Você chega
ao orgasmo e então tem o melhor sono de todos os tempos. Eu te
digo, um cara gostoso é a cura para todos os insones.

— Não acho que a insônia seja curada tão facilmente —


sussurro, balançando a cabeça, mas não posso deixar de sorrir
com o entusiasmo dela.

— Talvez não. Mas me ajuda. — Liv pisca e continua a me


interrogar sobre cada detalhe sórdido que ela conseguia arrancar
de mim, o que não foi muito. Fiquei feliz em compartilhar o básico,
mas o resto era privado, entre Ryan e eu. Eu gostei desse jeito.

— Alguma notícia de Zak? — Eu pergunto, desviando a


conversa do tamanho do pau de Ryan.
— Não diga esse nome para mim. — Liv se cala e Effy assume.

— Ele estava no Walkabout ontem à noite com Kelly Hopton.


Eles pareciam muito próximos.

Walkabout era um bar local na cidade e eu levantei minha


sobrancelha surpresa com o que elas tinham visto. Se Zak fosse se
estabelecer e namorar, Kelly Hopton seria a última garota com
quem eu esperava que ele fizesse isso. Kelly não tinha
relacionamentos. Inferno, talvez fosse esse o ponto. Eles eram o
ajuste perfeito.

— E ele disse que não namorava. Porra. Eu o odeio. — Liv toma


um gole de café e sibila quando queima a boca.

— Ele não merece você, Liv. — Eu dou um tapinha em seu


joelho, em seguida, me inclino para dar um abraço de lado.

— Ele não merece. — Ela assente com a cabeça, fungando de


volta um soluço. — Espero que, para o seu bem, Ryan seja
diferente. Esses meninos são idiotas.

Eu vejo os olhos de Effy se arregalarem e ela abrir a boca para


falar, então pensou melhor e fechou novamente.

— Ele é — respondo, porque, sinceramente, acreditava que


sim. — Ryan e Finn são bons rapazes. — Effy concorda com a
cabeça. E me lembro de perguntar a ela sobre Finn mais tarde,
quando estivéssemos sozinhas. Havia uma história ali, eu poderia
apostar.
A academia onde Brandon trabalhava poderia ter sido
reformada no estilo Finn. As paredes eram totalmente brancas com
citações estimulantes pintadas sobre elas em uma fonte preta
pouco inspiradora. Não havia nada de motivador nelas além do
fato de que diziam para fazer melhor, alcançar seus objetivos, se
esforçar até seus limites. Fazíamos isso todos os dias. Não
precisávamos de nenhuma citação de merda para nos dizer. Achei
que um pouco de arte auto-reflexiva da mente distorcida e às vezes
depravada de Finn teria funcionado melhor. Mas o que eu sei? Eu
lidava com carros e números para viver.

O barulho e zumbido do equipamento na área de treino


principal abafou Kanye lindamente dos alto-falantes ao redor da
sala. Eu entrei e me dirigi para a parte de trás, onde os rapazes
estavam esperando na sala com o ringue de boxe. Acho que
Brandon teria preferido ter o ringue no meio do ginásio. Dê a ele a
chance de mostrar o que pode fazer para todas as garotas que
malham. Em vez disso, ele teve que voltar para uma sala privada
para socar a merda do saco de pancadas, ou qualquer filho da puta
que fosse estúpido o suficiente para entrar no ringue com ele. Não
estávamos reclamando. Tornou-se um local de encontro melhor e
mais privado.

Abri a porta para encontrar Zak e Kian já lá, encostados na


parede e rangendo os dentes. Quando olhei para o ringue, pude
ver por quê. Brandon estava lá com Finn, dando a ele outra aula
de boxe. Eu já sabia que Finn tinha superado, mas Brandon não
desistia. Finn não era um lutador. Ele não era fraco, mas não
perdia o controle como o resto de nós. Brandon o via como seu
projeto de estimação. Em sua mente, ele treinaria Finn, para que
ele pudesse se defender de qualquer filho da puta que não o
olhasse de maneira certa. O problema era que eu não acho que
Finn percebia a maneira como as pessoas olhavam para ele. O
problema parecia pesar mais em Brandon do que em Finn. Acho
que é o sinal de um bom amigo. Eles protegem você mesmo quando
você acha que não precisa.

— Precisamos trabalhar em seu upper cut. — Brandon


levantou suas almofadas, mas Finn balançou a cabeça e abaixou
os braços, deixando-os cair molemente ao seu lado. — Vamos lá,
cara. Dê-me mais cinco socos. Apenas cinco. Você consegue.

— Vai se foder — diz Finn, vagando até a borda do ringue e


gesticulando para Zak ajudá-lo a tirar as luvas.

— Você nunca vai melhorar se não praticar. — Brandon rola o


pescoço e dá alguns pulos como se estivesse se preparando para a
próxima luta.

Finn ergue as mãos nuas na frente dele. — Agradeço o


sentimento, mas essas são minhas ferramentas. Elas criam minha
arte. Eu não quero danificá-las.

— Será seu rosto que ficará danificado se você não aprender


como se proteger. — Brandon atira de volta. — Como você fará arte
então, se não consegue ver através de dois olhos negros inchados?

— Por que ele precisa se proteger? Ele tem a nós — eu falo,


ganhando uma carranca de Brandon por meus problemas.
— Podemos nem sempre estar por perto — diz Brandon em voz
baixa, dando-me um olhar aguçado que me diz para recuar. Então
ele joga seus protetores no chão e se senta no meio do ringue,
olhando para cada um de nós como se estivesse escolhendo seu
próximo oponente.

— Há algo que estou perdendo aqui? — Eu pergunto, virando-


me para Zak.

Kian estava sorrindo como um idiota. Ele geralmente não


estava em nossas reuniões. Deve ter subido à cabeça dele. O filho
da puta parecia um garoto-bola em Wimbledon, estava tão
desesperado para fazer algo útil. Estava na ponta da língua dizer
a ele para pegar os cafés, mas Zak me pegou desprevenido.

— Acho que estamos prontos para ir.

— O que você quer dizer com estamos prontos para ir? — Olho
entre os caras para ver se eles sabiam mais do que eu. Não gostei
de ser deixado de fora.

— Quero dizer, nós temos todas as evidências que precisamos


para enterrar aquele filho da puta do Winters. Ele vai cair por um
longo tempo com a merda que temos sobre ele e não me fale sobre
a porra do Morgan Rotherham. — Ele sorri, esfregando as mãos.
— Eu invadi, Ry. Tenho nomes, endereços, detalhes de contas,
tudo. Ele está trapaceando há anos. Ganhou milhões. Ele vai pagar
tudo de volta com o prazer de Sua Majestade assim que colocarmos
nossos planos em ação.

— Merda. Isso vai ser épico pra caralho. — Brandon diz


sorrindo.

— O que você conseguiu? — Kian pergunta com um olhar


confuso em seu rosto.
— Nada para você se preocupar, cara. — Zak responde e então
me dá um olhar que me diz que quanto menos Kian soubesse
melhor. Ele não era o melhor em manter a boca fechada.

Eu dou um tapinha nas costas de Kian e decido que a ideia do


café era o caminho a percorrer. — Nós poderíamos tomar algumas
bebidas aqui, Ki. Você conhece nossos pedidos, não é? — Conduzo-
o até a porta e coloco o dinheiro para pagar em sua mão.

— Eu... Er... Ok, Ry. O que você disser, cara. — Ele mantém o
sorriso no rosto, mas eu poderia dizer que ele estava desapontado
por ser rebaixado. Não seria por muito tempo. Eu só precisava
ouvir a história completa e então o puxaríamos de volta, como
sempre fizemos.

Depois que ele se foi, me virei para encarar os outros. — Conte-


me.

Zak respirou fundo e sentou-se na beira do ringue. — Winters


está de conluio com alguns caras bem desagradáveis. Ele está
assumindo o controle dos negócios locais, para limpar seu dinheiro
sujo. Dinheiro de drogas. Ele está dando a eles uma fonte legítima
para administrar seus fundos. Eu tenho tudo em preto e branco.
Ele tende a flutuar entre as empresas, usando empresas diferentes
para evitar ser detectado. Acabou cometendo um grande erro ao
usar a conta Rotherham. Ele nos deu um link. Eu te digo, esse
cara vai cair para o resto da vida assim que entregarmos isso.

Eu agarro minha nuca e respiro fundo. Eu sabia que meu pai


tinha sido abordado por Winters alguns anos atrás. Prometeu a ele
uma injeção de dinheiro para sustentar seu negócio, tudo em nome
de Sandland. Apoiando sua área local como o herói que ele queria
que todos pensassem que ele era. Felizmente, papai disse a ele
onde colocar seu dinheiro. Bom trabalho também. Esse cara tinha
fodido metade da cidade na bunda sem lubrificante e nada mais
do que sua própria família. O que diabos eu deveria dizer a Emily?

— Aquele cara, Troy Barker, ele é um mecânico. Trabalha para


Winters — eu digo distraidamente. Tudo que eu conseguia focar
era no que eu diria a Em. Toda a sua vida estava prestes a explodir,
e embora eu soubesse que isso iria acontecer quando começamos
tudo isso, eu realmente não tinha pensado qual seria o impacto da
precipitação. Ela perderia tudo. Sua casa, sua família, sua maldita
mente. Depois do que aconteceu com Danny, eu não tinha certeza
de quanto mais ela poderia aguentar.

— Ele não é mecânico. — Zak olha para Brandon e depois de


volta para mim. — Ele é um faz tudo.

— Faz tudo o quê? — Eu estava perdendo a paciência


rapidamente. Tinha que pensar em um plano para depois. Um
plano para ela. Eu não poderia perdê-la. Agora não.

— É aí que minha invasão online falha. Eu estava meio que


esperando que Brandon pudesse me ajudar de outra maneira. —
Zak diz enigmaticamente.

— O quê? Para fazer uma visita a esse cara? — eu pergunto.

— Tipo isso. Mas não realmente. — Zak parecia culpado como


o inferno. Ele pode ter sido um gênio em computadores, mas não
conseguia esconder suas expressões nem que sua vida dependesse
disso.

— Você acha que ele vai falar com você? — Finn acrescenta.

— Não vamos dar a ele a porra de uma escolha — diz Brandon


cerrando a mandíbula em irritação.
— O que você vai fazer, arrancar a verdade dele? — Eu sabia
que Brandon tinha um gancho de direita cruel, mas não tínhamos
ideia de quem era esse cara. E pelo que Emily tinha me dito, ele
poderia vir a ser um grande problema para nós.

— Não me faça perguntas e eu não direi mentiras. — Às vezes,


a bravata de Brandon tinha mais força do que seus próprios
punhos. Ele era descontrolado. O que pode ter nos servido bem
nas lutas que encenamos por dinheiro, mas na vida real, eu temia
que tudo explodisse em nossos rostos.

— Eu não preciso fazer nenhuma maldita pergunta, eu já


posso adivinhar o que você vai fazer. Apenas certifique-se de não
deixar nenhuma evidência para trás. Você não quer ficar preso
compartilhando uma cela com Winters pelos próximos cinco a dez
anos. — Brandon revira os olhos para mim.

— Eu tenho uma pergunta. — Finn fala e todos nós paramos


para ouvi-lo. — Como podemos entregá-lo sem nos incriminar?
Porque tenho quase certeza de que existe uma lei contra os
hackers que temos feito. Sem falar nas festas e...

— Deixe que nós nos preocupamos com isso — diz Brandon


bruscamente. — Tom pode nos ajudar. De qualquer forma, tenho
certeza de que eles ignorariam nossos esquemas se isso
significasse que poderiam pegar peixes maiores como Winters.
Esse é o presente que continua dando. Todos esses links para o
cartel? Ninguém vai rejeitar essa merda por causa de alguns caras
dando festas ilegais como nós fazemos.

— Eu espero que você esteja certo. — Finn assente, mas pela


maneira como ele morde o lábio, eu poderia dizer que ele tinha
mais em mente.

— Fale logo, Finn — eu digo, cruzando os braços sobre o peito.


— Você acha que podemos fazer isso? O plano, quero dizer?

Todos nós olhamos um para o outro.

— Estamos planejando isso há anos. Isso vai ser épico pra


caralho, cara. — Brandon diz, pulando de sua posição sentada no
ringue. — Estou vivendo para este momento. — Ele ri e começa a
cravar os punhos no ar como se estivesse lutando contra um
oponente invisível.

— Vai ficar tudo bem. Não se preocupe tanto. — Zak dá um


tapinha nas costas de Finn e sorri quando Kian volta pela porta
com quatro copos de café Starbucks em um suporte.

— Isso vai quebrá-la. — Finn diz em voz baixa para que só eu


pudesse ouvir. — Você está realmente pronto para isso?

Fecho meus olhos e deixo minha cabeça cair para frente.

— Eu tenho que estar.


Meu telefone vibrou pela centésima vez naquela tarde. Eu olhei
para a tela e sorri quando vi a mensagem de Ryan olhando para
mim.

Posso te ver mais tarde?

Pensei em fazê-lo esperar, deixando a mensagem fervilhar um


pouco mais no meu telefone, mas nunca fui a pessoa mais
paciente, então disparei minha resposta.

Você pode me ver quando quiser.

Eu nem tinha colocado meu telefone de novo na mesa quando


ele zumbiu com uma resposta.

Isso vai ser muito então.

Eu não conseguia acreditar como as coisas mudaram. Meses


atrás, Ryan Hardy era o bad boy da cidade que eu não conseguia
nem olhar diretamente. Ele era muito intimidante. Agora, ele era
tudo em que eu pensava. Ele me consumiu de todas as maneiras
possíveis.

Eu ouvi a campainha tocar, e sabendo que minha mãe estava


fora durante o dia, eu relutantemente me levantei e me arrastei
para atender. Eu ri quando vi Ryan parado ali com um lindo buquê
de peônias rosa.

— Achei que você queria me ver mais tarde? — Eu rio, pegando


as flores. Elas tinham um cheiro celestial, assim como ele.

— Isso é mais tarde. — Ele encolhe os ombros e passa por mim


para o corredor, dando-me um beijo na bochecha.

Fecho a porta, lutando para manter o sorriso fora do meu


rosto. — Eu preciso colocar isso em um pouco de água. Quer
alguma coisa para beber?

Ele sorri e começa a andar pelo corredor, sem esperar que eu


o guie.

— Seus pais estão aqui? — ele pergunta, esticando o pescoço


para olhar por cada porta que passou. Tenho certeza de que ele já
sabia a resposta a essa pergunta, visto que eu o deixei entrar.
Depois de seu último encontro com meu pai, achei que seria
melhor manter essas duas partes do meu mundo separadas, se
quisesse uma vida fácil.

— Não. Papai está trabalhando e mamãe está fazendo botox.


Pode ser Coca? Ou você quer outra coisa?

— Vou querer a Coca por enquanto — diz ele com uma voz
rouca. — E então a outra coisa... Contanto que não seja um prato
de biscoitos de merda.

Fogos de artifício. Foi o que senti. Puro fogo de artifício


explodindo dentro de mim com a maneira como ele estava olhando
para mim. Tive uma vontade irresistível de largar as peônias no
chão e pular sobre ele. Ryan Hardy estava na minha casa e queria
outra coisa. Saber disso fez algo em mim. Eu estava um pouco
nervosa, talvez com medo, mas definitivamente excitada. Eu me
mexi na porta, sem saber o que fazer comigo mesma.

— Há um cartão nas flores. — Ele acena com a cabeça para o


buquê em minhas mãos enquanto se senta no sofá e pega o
controle remoto para ligar a TV

Eu o equilibro na curva do meu braço e tiro o pequeno


envelope branco de cima. Minhas mãos tremiam tanto que devo
ter parecido uma perdedora. Dentro havia um pequeno cartão com
um endereço e um rosto sorridente. Eu fiz uma careta, não tendo
absolutamente nenhuma ideia do que se tratava. Eu esperava
poesia ou pelo menos um comentário atrevido, não um endereço
aleatório com um emoji desenhado na parte inferior.

— É a próxima festa — ele diz enquanto muda os canais. —


Eu não queria que você recebesse uma mensagem genérica desta
vez. Você recebe o tratamento VIP.

— Uau. Estou honrada. Porém, esta não é a capela. Onde é


desta vez? — Eu teria morrido um pouco por dentro se eles
tivessem ido em frente e usado aquele pequeno santuário
deslumbrante para serem cagados por metade da cidade.

— Antiga fábrica de móveis. Finn está lá agora iniciando sua


última obra-prima. Vai ser uma merda limpar e deixar pronto, mas
vamos fazer isso. Sempre fazemos isso. — Ele se acomoda no sofá
enquanto a música tema de Top Gear toca.

— Mal posso esperar para ver. — Suspiro e vou para a cozinha,


mas paro e me viro. Eu estava grudada a ele.

— E aí? — ele pergunta, desligando a TV


— Tentei encontrar um relatório de toxicologia, mas não há
nada. Mamãe disse que papai destruiu tudo relacionado ao
acidente após o inquérito. Ela disse que ele estava com o coração
muito partido, ele precisava que tudo acabasse. Eu sinto muito. —
Eu sinto a mudança na atmosfera. Ryan depositou suas
esperanças em mim e eu fracassei. Ele mudaria de ideia sobre nós
se não achasse que eu era mais útil? Era isso que era? Uma
maneira de chegar ao meu pai? Senti uma dor aguda no peito e
estremeci. Eu não queria ser um peão em nenhum de seus jogos.

Ele se levantou do sofá, mas eu levantei minha mão. — Estou


bem. Mesmo.

Ele não parecia convencido e veio ficar na minha frente,


colocando as duas mãos de cada lado do meu rosto para que eu
não tivesse escolha a não ser olhá-lo nos olhos.

— Você não tem que ser forte comigo, Em. Estou aqui por você.

Suspiro, sentindo-me perder naqueles olhos verdes simpáticos


dele. A profundidade da emoção que eu podia ver ali me suavizou
e me senti encostada nele.

— Honestamente, está tudo bem. Trazer Danny à tona,


perguntar sobre o acidente, ajudou. Eu e mamãe falamos sobre
ele, quero dizer, realmente falamos sobre ele pela primeira vez em
meses. Acho que ajudou a nós duas. Discutimos, ficamos bravas,
choramos. Tudo o que deveríamos ter feito meses atrás. Não estou
dizendo que estamos concorrendo a mãe e filha do ano, ainda há
um longo caminho a percorrer, mas a noite passada foi um
começo. — Ele sorri e dá um beijo suave e gentil na minha testa.
— Aposto que você não sabia que bisbilhotar iria aproximar a mim
e a minha mãe.
— É bom saber que sou bom para alguma coisa. — O olhar
que ele me dá faz meu estômago torcer com a expectativa de no
que mais ele era bom. Este menino estava me transformando em
uma confusão hormonal. Se eu não me movesse logo, seria uma
piscina de desejo derretida a seus pés.

— Tenho certeza que você é bom para outras coisas também.


— Tento parecer sexy de uma forma indiferente, mas minha voz
ofegante me denuncia.

— Sim? Como o quê? — Ele se inclina para mais perto de mim


agora e a tensão que estava crescendo dentro de mim atinge o
auge.

— Eu não sei. Mas quando eu descobrir, vou deixar você saber.


— Eu realmente precisava aumentar meu jogo de sedução. As
palavras que saíram da minha boca soaram mais como um desdém
do que um “convite”. Meu coração gritou para que eu ficasse na
ponta dos pés e beijasse-o, enquanto minha cabeça me dizia para
jogar com calma, ser mais cautelosa. Eu me escolhi, certo? Jesus,
isso parecia há muito tempo, quando a enfermeira Constance
jogou cupido sob o efeito de ácido. E eu pensei que era tão forte,
fazendo tudo sobre mim. Mas agora, parada na frente de Ryan,
percebi que ser forte estava me arriscando em algo que quase
mataria de susto. Dando o salto para o desconhecido para ver
aonde isso poderia levar. Eu posso estar indo para um monte de
desgosto no que diz respeito a Ryan, mas por outro lado, pode ser
a melhor coisa que já aconteceu comigo. Ele pode ser a melhor
coisa que me aconteceu. Se eu não me arriscar, nunca saberei.

Lembrei-me de minha mãe uma vez me dizendo, tantos anos


atrás, antes que as coisas azedassem, que são as pequenas coisas
na vida que devemos valorizar. — Não se preocupe com as coisas
grandes — ela disse. — São as pequenas coisas da vida que
contam. Esses momentos no tempo que são tão fugazes como uma
borboleta. Linda, mas vai embora tão cedo. — Eu sabia o que ela
queria dizer agora.

Uma memória valia mais do que qualquer posse e eu queria


criar memórias com Ryan. Não importa quanto tempo isso
durasse. Eu queria ser forte e me permitir ver onde isso poderia
levar.

Recuei lentamente, segurando as flores para indicar que


estava levando-as para colocar um pouco de água. Ryan não se
moveu, apenas me perfurou com seu olhar sedutor, tornando mais
difícil para mim me afastar dele, mas eu o fiz, e flutuei pelo
corredor, pronta para despejar as flores no primeiro vaso de água
que pudesse colocar minhas mãos, peguei as bebidas e voltei para
ele.

Quando voltei para a sala um minuto depois, Ryan tinha ido


embora. Meu coração caiu, pensando que ele tivesse desistido de
mim e sumiu, então tentei me lembrar de ter ouvido a porta se
fechar. Eu não tinha. Onde diabos ele estava?

— Ryan? — Gritei, deixando as latas de Coca na mesa de


centro e vagando de volta para o corredor, sentindo-me confusa.

— Sim? — Eu o ouvi responder lá de cima.

O que diabos ele estava fazendo?

Subi as escadas esperando encontrá-lo no quarto de Danny,


mas ele não estava lá e a porta do meu quarto estava aberta.
Quando cheguei à porta, vi Ryan, deitado na minha cama com os
tênis tirados e as mãos atrás da cabeça. Ele ligou minha TV e
parecia muito confortável se estabelecendo para assistir algo. Ele
era tão arrogante e seguro de si, todas as características que eu o
teria questionado alguns meses atrás, mas não agora. Agora era
sexy como o inferno.

— A TV da sala é maior do que essa. — Cruzei os braços e


encostei-me no batente da porta tentando não parecer afetada,
mas ver Ryan deitado na minha cama era sexy e muito
perturbador.

— Talvez eu não tenha vindo aqui para ver a TV. — Ele aponta
o controle remoto para a frente e desliga a TV. — Talvez eu vim
aqui para saber um pouco mais sobre você. Estar em sua bolha.
Você disse que gostava de bolhas. — Ele me dá um sorriso
brincalhão e eu rio.

Ele dá um tapinha no espaço ao lado dele, então entro e fecho


a porta atrás de mim. Ando e sento na beira da cama. Ele ergue a
sobrancelha para mim e se apoia nos cotovelos.

— Você não vai facilitar isso para mim, vai? — diz ele,
estendendo a mão e acariciando meu braço, deixando um rastro
de arrepios para trás.

— Vale a pena lutar por todas as coisas boas — consigo dizer,


embora meu coração estivesse prestes a explodir. Estar na cama
com ele era como todo aniversário e Natal em um só.

— Acho que já lutamos o suficiente.

Ele se inclina e coloca a mão atrás da minha cabeça, me


puxando para beijá-lo. Eu cedo. Sempre vou ceder quando se trata
dele. Eu caio na cama, deitada metade sobre ele enquanto passa
os braços em volta de mim. Eu amo a forma como seus lábios se
moldam aos meus. A maneira como nossas línguas se entrelaçam;
saboreando, provocando, abrindo-se um para o outro. Minhas
mãos estavam coçando para tocá-lo em todos os lugares. Corri
meus dedos por seu cabelo e ele gemeu quando minhas unhas
arranharam seu couro cabeludo e depois desceram até seu
pescoço. Eu me movi mais para baixo, correndo minhas mãos em
seu peito firme e alcançando por baixo de sua camiseta para tocar
o abdômen de veludo duro que ele mantinha escondido ali.

— Eu amo o jeito que você me toca — ele sussurra enquanto


seus beijos se movem ao longo da minha mandíbula e então
descendo para o meu pescoço. Ele me rola para trás e rasteja sobre
mim, pressionando-me no colchão enquanto beija meu pescoço e
depois meu ombro. Suas mãos deslizam para baixo em meus
lados, agarrando meus quadris e, em seguida, seus dedos traçam
círculos nas minhas coxas, dançando para cima e sob a saia do
meu vestido. Ele volta a beijar meus lábios, mas eu perco todo o
foco enquanto seus dedos trabalham seu caminho para cima,
alcançando minha bunda e apertando com força.

— Não tenha medo de me tocar lá também — diz ele,


inclinando-se ligeiramente e olhando para onde meus dedos
pairam sobre os botões de sua calça jeans. Ele levanta a camiseta
pela cabeça e joga-a no chão, então olha para mim e sorri. — Vou
deixar você fazer o resto.

Uma onda de confiança toma conta de mim e puxo os botões


para afrouxar seu jeans. Sento-me de joelhos e ele ergue os quadris
para me ajudar a tirar o jeans e a boxer. Seu pau é longo, duro e...
Você chamaria um pau de lindo? Ele certamente estava
deslumbrante deitado aqui na minha cama, totalmente nu. Eu não
conseguia tirar meus olhos dele. Ele era perfeito.

Ele se sentou e me puxou para ele, me beijando e passando as


mãos pelo meu cabelo. Eu deixei meus dedos deslizarem sobre
suas coxas tensas e então entre suas pernas, e ele se moveu um
pouco, se abrindo para que eu pudesse explorar, tocá-lo e acariciá-
lo melhor. Ele quebrou nosso beijo para que pudesse me observar,
ofegando lentamente enquanto eu dava toques delicados nele. Eu
poderia dizer que estava tão afetado por isso quanto eu.

Ele pegou a saia do meu vestido em suas mãos e ergueu-a


sobre a minha cabeça. Então, quando ele me viu sentada lá com
meu sutiã rendado rosa e calcinha, ele gemeu.

— Eu juro por Deus, Em. Você é a garota mais linda que eu já


vi. Eu não posso acreditar que você é minha. — Eu adorei isso.
Que ele disse que eu era dele.

— Você também. — Coro enquanto falo, e posso dizer pelo


olhar em seus olhos que ele precisa de mais. — E você é meu. —
O calor que arde entre nós se transforma em um inferno ardente e
eu não posso mais segurar. Nenhum de nós poderia.

Ele me empurrou para a cama e me beija com força, seu corpo


cobrindo o meu e eu podia senti-lo pressionando contra minha
barriga; duro, quente e pronto para mim. Ele estende a mão para
abrir o fecho do meu sutiã e puxa-o lentamente. Então, ele está no
meu peito, levando um mamilo à boca; chupando e mordendo, em
seguida, esfregando a língua para aliviar a dor.

A maneira como ele me beijou e mordiscou me fez pulsar de


desejo. Eu me senti esfregando contra ele e suas mãos apertando
minha bunda. Então, ele agarra minha coxa, cutucando minhas
pernas abertas. Seus dedos em mim, circulando meu clitóris e
através da minha umidade. Eu gemi baixinho enquanto ele
circulava e acariciava, espalhando minha umidade e fazendo tudo
pulsar de necessidade. Quando ele empurrou seu dedo dentro de
mim, eu engasguei, e ele cobriu minha boca com a dele novamente,
acariciando sua língua no tempo de seu dedo. Eu balancei meus
quadris contra ele, desesperada por mais. A maneira como ele
enrolou os dedos dentro de mim me enviou uma espiral de êxtase
que me lembrava da outra noite.
Abaixei-me para pegar seu pau em minha mão e o acariciei,
combinando com o ritmo que ele estabeleceu. Ele empurrou seus
quadris para frente, usando minha mão para trazê-lo à sua própria
liberação.

— Oh, baby. Isso é tão bom. — Ryan grunhiu enquanto


enterrava a cabeça no meu pescoço e me fodia com os dedos. A
maneira como seu polegar e palma roçaram meu clitóris enviou
faíscas direto para mim.

Ele começou a empurrar seus quadris mais rápido em minha


mão enquanto me provocava entre as minhas pernas. A tensão
queimando se transformou em um pulso e então eu pude me sentir
caindo, indo em direção a algo alucinante.

— Estou gozando, Ryan — consegui dizer no momento em que


minhas pernas cederam e todo o meu corpo começou a tremer. O
pulso e as faíscas eram insanos. Era uma porra louca de outro
mundo, e eu não conseguia o suficiente. Eu gritei enquanto ele
continuava me esfregando, prolongando meu orgasmo, e então ele
soltou um gemido baixo e sussurrou gritando: — Porra — antes de
senti-lo engrossar e gozar na minha mão e na cama.

Ele cavalgou seu orgasmo e então caiu sobre mim, sua cabeça
enterrada profundamente entre meu pescoço e meu travesseiro.
Deitamos juntos por alguns minutos para recuperar o fôlego.
Então Ryan se levantou ligeiramente, beijou meu nariz e estendeu
a mão para pegar alguns lenços de papel do lado da minha cama
para limpar as evidências do que tínhamos feito. Eu o observei,
esperando para ver se ele faria outro movimento, talvez tentasse ir
mais longe. Por mais que eu tenha gostado, eu sabia que ele não
ficaria satisfeito apenas com a minha mão por muito tempo.

Enquanto ele nos limpava, comecei a gaguejar com minhas


palavras. — Eu... Isso foi... eu não sei... eu nunca...
Muito bom, Em. Vamos, garota. Junte suas merdas.

Ele sorri e me puxa para ele, puxando a ponta do edredom


para que descanse sobre nós. — Como eu disse antes, temos todo
o tempo do mundo. Sem pressa. Sem pressão. Eu gosto de
estarmos indo devagar.

Tive vontade de rir. Essa era a sua versão de lento? Nas


últimas duas semanas, fui mais sexual do que jamais fizera em
toda a minha vida. Sua lentidão era muito rápida em meus
registros, mas então comecei a entender o que ele queria dizer. Ele
queria que eu estabelecesse o ritmo. Eu tinha controle total. Nossa
primeira vez juntos, de estarmos juntos de maneira adequada, foi
minha escolha e ele estava disposto a esperar o quanto fosse
necessário. Ele era o oposto de um cara como Chase, e isso era um
achado muito raro nos dias de hoje.

— Eu amo isso... Estar com você assim — eu digo, respirando


e sentindo que queria me abrir para ele de outras maneiras. Deixá-
lo saber o que ele significa para mim.

— Eu também adoro. — Ele me puxa ainda mais perto e se


aninha no meu pescoço. Não havia muito espaço entre nós antes,
mas agora era como se fôssemos uma pessoa.

— Por que eu? — Eu pergunto. Não era que eu estivesse


duvidando de mim mesma, mas eu queria saber o que ele viu
tantos anos atrás. Por que ele me escolheu.

— Sempre foi você, Em. — Ele me acomoda, de forma que eu


deito com minha cabeça em seu peito e ele desenha círculos lentos
e suaves nas minhas costas enquanto fala. — Acho que a primeira
vez que realmente notei você foi na escola, na hora do almoço.
Elliot Small, nome podre, a propósito, considerando seu tamanho,
mas isso é... Tanto faz. De qualquer forma, Brandon estava sendo
um verdadeiro idiota, tentando mostrar a todos que cara era. Ele
observou Elliot atravessar a cantina com sua bandeja de almoço e
esticou o pé, fazendo o garoto cair de bunda; espaguete e
almôndegas por toda parte. O garoto estava uma bagunça do
caralho e não só por causa do molho de tomate. Todo mundo
estava rindo. Ele parecia prestes a cair no choro e eu estava prestes
a ir até lá e dizer a Brandon para parar de ser um idiota quando
você apareceu. Um foguete de um metro e meio, pronta para rasgar
Brandon por inteiro.

Eu me lembrei daquele dia. Essa foi a primeira vez que falei


com Elliot e nos tornamos bons amigos depois disso.

— Você foi incrível pra caralho naquele dia. Você disse a


Brandon que ele era um pedaço de merda. Bem, sem xingar, mas
você o fez se sentir como um idiota estimado. Muitas pessoas não
fizeram isso. Então, você ajudou Elliot a se levantar, se sujando de
molho de espaguete no processo, e o ajudou a sentar-se em uma
mesa, até mesmo dividiu seu almoço com ele.

— Ele comeu mais do que eu. — Eu rio com a memória. Eu


não tinha ideia de que Ryan tinha visto isso.

— Você me surpreendeu, Em. Você tinha metade do tamanho


de Brandon, mas acho que teria tentado nocauteá-lo se pudesse.
Assistir você naquele dia fez algo para mim. Claro, havia outras
coisas, mas isso se destacou para mim. Eu soube então que você
era a garota para mim.

— Ryan Hardy. — Eu bato em seu peito de brincadeira. — Você


se apaixonou pela garota nerd e sem jeito de quem ninguém
gostava. — Eu digo isso de brincadeira, mas ele não entende assim.
Ele coloca a mão sob meu queixo para erguer meu rosto para ele.
— Você não era sem jeito, nerd ou detestada. Eu coloquei um
bloqueio sangrento em você, pelo amor de Deus. Ninguém se
atreveu a chegar perto de você. Mas eles gostavam de você. Por que
não iriam? Eles apenas fizeram um ótimo trabalho em escondê-lo.
Eles sabiam que eu chutaria suas bundas se tentassem qualquer
coisa.

— Você é um idiota... E obrigado... eu acho. Eu realmente não


sei o que dizer. — Eu fiz uma careta e sorri ao mesmo tempo. A
confusão estava se tornando uma boa amiga minha.

— Em, você é a garota que virou meu mundo de cabeça para


baixo. Você pode ter sido uma reflexão tardia na vida de seus pais,
mas não na minha. Eu amo o jeito que você nunca deixou a
negatividade deles chegar até você. Nunca deixou isso mudar
quem você é.

— E quem sou eu? — Eu pergunto, querendo esvaziá-lo de


cada palavra bonita que ele tinha para dar.

— Você é a garota que sempre coloca todo mundo em primeiro


lugar. Família, amigos, caras estranhos derramando seu almoço
por todo o lugar. Você luta pelo que é certo. Deus sabe que você
me criticou e aos caras várias vezes ao longo dos anos. Você é a
garota que faz as pessoas se sentirem melhor apenas por estar em
uma sala. Você tem esse poder de fazer todos se sentirem bem. É
como uma luz ou, não sei, um super poder. Você é a garota com
quem todos querem estar. A garota que roubou meu coração.

Eu me senti indo. Não achei que fosse possível sentir mais por
aquele garoto deitado comigo na minha cama, mas naquele
momento ele roubou o coração do meu peito e o reivindicou como
seu.
Era oficial, eu estava me apaixonando por Ryan Hardy, e sem
saber o que dizer de volta para ele naquele momento, eu o beijei.
Eu não tinha palavras. Ações teriam que bastar.
A fábrica estava localizada na periferia da cidade. Uma posição
privilegiada para os meninos e longe o suficiente para que nenhum
barulho incomodasse os moradores locais. Eu estava aprendendo
rapidamente que era uma vitória para eles. Sem residentes irados,
sem a presença da polícia, mais tempo para festejar e ganhar
dinheiro.

Desde minha primeira experiência no armazém, passei a


respeitá-los por sua ética de trabalho e tenacidade; embora para
eventos ilegais, bebidas, jogos de azar e tudo o mais que eles
pudessem fazer, mas eles tinham um talento real para isso. Eles
eram motivados e focados. Todas as características que meu pai
nos incutiu desde cedo, mas ele não veria assim. Se ele soubesse
que eu estava no meio de uma fábrica abandonada com centenas
de outros, ele ficaria completamente louco.

— Parece que ele deixou Kelly. — Liv estava lançando punhais


para Zak enquanto ele se movia no meio da multidão em direção
ao seu DJ set com Eloise Campbell pendurada em seu braço.
Aquele garoto com certeza estava espalhando o amor por aí como
se fosse confete.

— Você é boa demais para ele. — Eu me movi para ficar em


sua linha de visão. Com sorte, bloqueando o traseiro amoroso de
Zak. — Só não olhe. Há muitos caras aqui esta noite. Vá com um
deles e para o inferno com Zak.

— Em, estou feliz por você. Você encontrou um bom...


Esperamos. Mas vou dar um tempo com os caras. Um
“prostiferiado”. — Ela se ergueu enquanto falava, já orgulhosa de
seus esforços. Eu não acreditei nela por um segundo.

— Ok, Liv. Faça o que você quer, garota.

— Oh, eu vou. Tenho vários BOBs para me manter feliz. — Eu


a encarei, sem ter a menor ideia de quem era Bob. — Você sabe,
Bob. Battery-operated-boyfriend. Você também tem isso, certo,
Em?

Eu aceno e balanço a cabeça, sentindo como se tivesse entrado


em outra dimensão.

— Por que ela precisaria de um? Ela tem Ryan para isso —
Effy diz e então cora profusamente. — Quer dizer... eu não... você
provavelmente... merda.

— Está tudo bem, Eff. Como eu disse, você faz o que quiser. E
não, Liv. Não tenho um Bob, como você disse. Mas se alguma
merda bater no ventilador, eu definitivamente irei procurar por
um.

— Vou até comprar um para você. — Liv sorri de orelha a


orelha. Eu não tenho dúvida de que ela me daria dicas e sugestões
sobre como usá-lo de forma eficaz também.

Uma hora depois, Effy não estava em lugar nenhum.


Provavelmente em um canto escuro discutindo pinceladas com
Finn, Liv comentou e eu tive que concordar. Sempre que
estávamos com os caras recentemente, Effy e Finn eram atraídos
um pelo outro. Eu estava contente. Effy merecia um pouco de
diversão. O único problema era que eu estava presa segurando vela
para Liv e um cara chamado Pete que parecia um maconheiro
clássico. Tanto para seu prostiferiado. Liv estava absorvendo a
atenção como a gata orgulhosa.

Eu bati em seu cotovelo para que ela soubesse que eu iria


encontrar Ryan. Eu sabia que os caras estavam sempre ocupados
no início dessas noites, mas eu não conseguia ficar mais longe.
Abri caminho pela multidão e entrei em outro corredor, onde uma
escada parcialmente dilapidada levava ao próximo andar.

— As escadas estão fora de uso. O chão desabou lá em cima


— diz um cara, olhando para o teto descascando. Eu me virei e fui
na direção oposta. — Se você está procurando por Mathers e a luta,
está no porão. Estava escuro pra caralho lá mais cedo, mas
usamos os geradores e os holofotes são muito bons.

Eu não tinha ideia de quem era esse cara, mas fiz sinal de
positivo com o polegar agradecendo e segui em frente. Abri
caminho entre os grupos de pessoas em volta, fumando, bebendo
e dançando ao som do contrabaixo do piso principal da fábrica.
Logo consegui encontrar o pequeno lance de escadas que levava à
área do porão. O cara estava certo quando disse que eles
acenderam as luzes, mas isso não fez nada para combater a
sensação sinistra e sombria que se apoderava quando descia aqui.
Cheirava a mofo e metálico, como se esta não fosse a primeira luta
que aconteceu aqui. Estremeci, mas assim que meu pé atingiu o
último degrau, senti um par de braços fortes me envolvendo e me
puxando para perto. Um peito quente apagou o frio em meus
ossos.

— Eu estava prestes a voltar e encontrar você. — Ryan se


aninhou em meu pescoço e me beijou. Eu girei em seu aperto e
passei meus braços ao redor dele. Senti-me tonta. Este menino
certamente me tinha sob seu feitiço.

— Fiquei entediada esperando. — Eu não me importava com


quem estava assistindo. Eu não me importava se meu pai soubesse
que estive aqui com Ryan. Eu enterrei meu rosto em sua camiseta
e o inalei. Enchendo meus pulmões com tudo o que me acalmava
e bloqueando o mundo exterior.

— Eu vi você com Liv e Effy. — Ele se abaixou e beijou o topo


da minha cabeça. — Então com Liv e Pete, mas eu não queria
interromper você. Eu não quero ser o namorado idiota que tira você
de seus amigos.

Namorado. Eu gostei daquilo. Isso fez meu coração inchar e


meu estômago embrulhar.

— Você pode interromper a qualquer momento. Eu quero que


você conheça minhas amigas. O júri delas ainda está decidindo
sobre você. Você precisa mudar isso.

Ele acenou com a cabeça e, em seguida, puxou-me para o lado,


longe das escadas e das multidões que entravam no porão.

— Porra. O que diabos eles estão fazendo aqui? — Eu me virei


para ver para onde ele estava olhando e vi Chase com seu irmão
mais velho, Jensen, e seu amigo, Brodie Yates. Jensen e Brodie
tinham ido para a mesma escola que nós, mas eles estavam no ano
anterior a Danny e Ryan. Jensen não morava mais em Sandland.
Desde que se formou na universidade, ele se mudou para Londres
e se juntou a uma empresa de contabilidade com a qual meu pai
tinha negócios. Deus sabe o que ele estava fazendo aqui. Eu não
confiaria nele. Ele pode desempenhar o papel de um homem de
negócios bem-sucedido e honesto durante o dia, mas eu ouvi que
ele era um bandido depois do expediente.
Nós os observamos desfilar como se fossem os donos do lugar,
cabeças erguidas e peitos estufados como um trio de pavões
estúpidos. Então Kian se aproximou de nós todo confuso e agitado.

— Ry. Jensen quer entrar na luta hoje à noite. Ele quer lutar
contra Brandon. — Kian estava sem fôlego, seus olhos correndo ao
redor como se esperasse que Brandon saltasse das sombras e o
jogasse no chão.

— Brandon sabe? — Ryan não vacilou. Ele não ficou


perturbado com o que Kian disse.

— Ele é totalmente a favor. Disse que vai matá-lo. Não acho


que seja uma boa ideia, Ry. — Kian estava nervoso, torcendo as
mãos e remexendo no local. Qualquer um teria pensado que ele foi
chamado para lutar contra o próprio Brandon.

— Eu penso que é uma grande ideia. Brandon precisa disso.


Ele merece.

Kian fechou a mandíbula, acenou com a cabeça como um


lunático e então virou e foi embora. Sempre achei ele um pouco
estranho. Isso acabou de provar meu ponto. O cara era um doido
de pedra.

— O que está acontecendo? Por que Kian não acha que será
uma boa ideia Brandon lutar com Jensen? Jensen é tão bom
assim?

Ryan bufa e me agarra um pouco mais forte enquanto olha em


sua direção. — Jensen acha que ele é bom, e cinco ou seis anos
atrás ele poderia ter sido melhor do que Brandon, mas não mais.
Brandon vai aniquilá-lo.
— Então, qual é o problema? Você está preocupado que ele vá
processar ou algo assim?

Ryan balança a cabeça e suspira, puxando-me ainda mais


para o canto do porão. Ele parecia cansado, seus olhos me dizendo
que esta noite era mais do que uma demonstração de força física.

— Você se lembra quando eu contei sobre a mãe de Brandon


e como sua vida familiar era uma droga? Bem, todo o 'serviço social
levando-o embora coberto com sua própria merda' meio que
chegou à escola de alguma forma. Brandon foi intimidado por anos
por Jensen, Brodie e o resto daqueles idiotas. Eles tornaram a vida
dele um inferno. Algumas das merdas fodidas que fizeram com ele
no ensino médio foi... Bem, foi difícil para nós chegarmos a um
acordo, quanto mais Brandon. Não sei como ele sobreviveu. Nós o
ajudamos onde podíamos, mas não éramos tão fortes naquela
época.

Ryan acena com a cabeça para onde Chase e seu irmão


estavam. — Aquele cara ali é a razão de Brandon ter trabalhado
tanto para se construir. Eles são o motivo pelo qual ele luta como
ele faz. Quando ele está se preparando psicologicamente, é seu
rosto que ele visualiza em sua mente. E eu sei com certeza que é
Jensen que ele está socando o tempo todo. Se Jensen quer ir
contra Brandon, eu digo para deixá-lo. O filho da puta deve
vingança e Brandon merece ser o único a dar a ele.

Eu não tinha ideia de que Brandon tinha sofrido bullying na


escola. Sempre pensei que ele era o valentão. Ele tinha sido terrível
com Elliot Small e alguns dos outros caras nos anos anteriores.
Mas acho que todo mundo tem uma história para contar e
Brandon estava carregando mais bagagem do que eu imaginava.
Ele tinha contas a acertar. Parece que esta seria a noite da
vingança.
— É por isso que você odeia Chase? — Eu pergunto. Chase
estava no nosso ano, mas sempre foi próximo de Jensen quando
ele morava em sua casa.

— Chase é um pedaço de merda. Ele ficou parado e observou


seu irmão fazer o que ele fez. Ele poderia ter impedido, mas não o
fez. Ele gostava de ver alguém sofrer. Toda a família Lockwood são
filhos da puta malucos. Todos eles merecem, mas esta noite, é a
vez de Jensen.

Eu tive um mau pressentimento no meu estômago. Eu não


gostei de como isso estava acontecendo. Eu tinha visto do que
Brandon era capaz e colocar esse tipo de sentimento na mistura
só levaria ao desastre. Um desastre para os quatro meninos, e
mesmo que Brandon não fosse meu cara favorito, eu não queria
vê-lo atrás das grades por algo que eu poderia ter impedido.

— Eu não acho que ele deveria, Ryan. Eu acho que você


precisa parar com isso. E se Brandon for longe demais?

— Ele não vai. Ele pode parecer um animal, mas sabe quando
parar. Esse medo e raiva, ele usará como uma forma de energia,
uma forma de canalizar sua vitória. Ele precisa disso, Em. Não se
trata apenas de dinheiro ou glória. Ele precisa disso para sua
própria paz de espírito. Ele passou muito tempo sendo assombrado
por seu passado e se sentindo envergonhado. Ele tem algo a provar
esta noite e esta é a melhor arena para ele fazer isso.

Ryan se afasta, mas segura meu rosto com as mãos. — Confie


em mim. Se ficar fora de controle, eu vou intervir, mas não
precisarei. O árbitro vai parar se for demais. Pode parecer bárbaro,
mas também há uma honra nisso. — Ele se inclina para me beijar
e a sensação de seus lábios nos meus faz com que minha tensão
diminua.
O que eu sei sobre luta? Não o suficiente para formar um
argumento decente contra isso e eu confiava em Ryan
completamente. Se alguém segurava Brandon, era Ryan.

Quando Brandon entrou no porão para uma rodada de


assobios e gritos, ele sorriu aquele sorriso idiota psicótico que eu
estava lentamente percebendo que era seu olhar característico. Ele
viu Ryan e eu parados no canto e colocou dois dedos nos lábios e
os beijou, jogando-os de volta para nós em saudação. Ele
realmente acreditava em sua própria animação. O problema era
que ninguém mais estava disposto a se levantar e provar que ele
estava errado. Até esta noite. Ele se virou para onde Jensen estava
com Chase, Brodie e alguns outros homens que eu não reconheci.
Brandon dilatou as narinas e pude ver a maneira como seu peito
se movia com a respiração ofegante que ele respirava. Ele flexionou
os músculos e saltou no local. Kian entregou-lhe uma garrafa de
água, mas ele o dispensou. Ele estava se esforçando para se
preparar psicologicamente dessa vez. Ele não queria distrações.

— Isso vai ficar fodido — um cara próximo a nós disse a seus


companheiros.

— Eu não gostaria de ir contra Lockwood. Ele é um maldito


animal. Uma máquina que deixa os homens inconscientes — disse
outro rindo.

— Brandon também é — eu solto e o grupo de caras ao nosso


lado se virou para olhar para mim, provavelmente para chamar de
besteira, mas quando eles viram Ryan parado atrás de mim com
os braços em volta da minha cintura, eles logo mudaram de ideia.
— Sim, está certo. Cale a boca e apenas observe, idiotas. — Eu não
sabia o que tinha acontecido comigo, mas de repente estava
torcendo pelo cara menor.
— Deus, eu te amo — diz Ryan, rindo e beijando o topo da
minha cabeça.

Eu congelo.

Ele acabou de usar a palavra com A? Em um porão, quando


estávamos prestes a assistir dois homens chutando a merda um
do outro? Eu deveria dizer algo de volta?

Eu o senti ficar tenso atrás de mim. Ele obviamente tinha


acabado de perceber o que disse e não tinha certeza de como
reagir.

— Eu sempre estarei com vocês. Todos vocês — eu respondo,


esperando cortar a tensão. Eu não queria que ele se calasse ou
pensasse que entendi de outra forma que não o que ele quis dizer.
Ele amava que eu estivesse ao seu lado. Que eu defendesse seus
amigos também. Eu tinha que me lembrar de não ler muito sobre
as coisas. Afinal, eu era a pior por analisar demais.

O cara que presumi ser o árbitro da luta disse algumas


palavras para Brandon e Jensen. Os dois homens ficaram frente a
frente, sem camisa, com os punhos erguidos prontos. Os fardos de
feno familiares mantiveram o resto das pessoas fora do ringue e
eles se inclinaram sobre eles gritando seu encorajamento. Quando
o árbitro recuou e a luta começou, senti meu estômago se revirar
em nós dolorosos. Os braços de Ryan em volta de mim ficaram
sólidos e ele começou a gritar para Brandon.

Jensen deu o primeiro soco, acertando um golpe desagradável


na mandíbula de Brandon, mas Brandon se manteve firme,
balançando a mandíbula e passando o punho fechado sobre a
boca, antes de colocar as mãos na frente do rosto. Ele não estava
se precipitando para esta luta. Ele estava fazendo o que fazia de
melhor, estudando seu oponente, esperando para ver onde estava
sua fraqueza. Eu só esperava que Jensen não usasse a lesão
anterior no olho de Brandon contra ele. Os pontos haviam sumido
há muito tempo, mas a área ainda estaria sensível.

— E se ele acertar o olho? — Eu gritei no ouvido de Ryan por


cima do barulho da multidão. — Brandon vai sangrar como antes.

— Ele prefere ter vinte golpes na cabeça do que um no corpo,


acredite em mim. Os ossos da cabeça são mais fortes do que os da
sua mão. Se Lockwood continuar batendo nele assim, ele causará
mais danos a si mesmo do que Brandon. São os socos no corpo
que doem mais.

Eu não estava convencida e quando Jensen começou a dar


golpes na cabeça de Brandon, eu tive que me virar. Eu não
aguentaria. O som do tapa quando seu punho atingiu a pele e o
som sibilante que eles fizeram enquanto se socavam, tudo me
deixou com náuseas. Brandon deu alguns bons socos, mas de
onde eu estava, Jensen parecia o melhor lutador.

— Quanto tempo até esta rodada acabar? — Eu digo no ouvido


de Ryan enquanto evito assistir o banho de sangue acontecendo.

Ryan ri. — Não há rodadas, bebê. Sem sinos, sem rodadas,


sem juízes. Você luta até vencer, essa é a beleza disso. Não há
empates e nem cagadas também. Apenas bum e boa noite. Esta é
a forma mais pura de combate. — Ele me abraça e olha para mim.
Ele não parecia nem um pouco assustado como eu. — Relaxa. Ele
não vai perder. Perder não é uma opção para Brandon. Não está
em sua mentalidade.

A multidão ao nosso redor de repente soltou um rugido


poderoso e nós dois voltamos nosso foco para a luta, para ver
Brandon controlando golpe após golpe no corpo e rosto de Jensen.
Jensen estava agarrando sua cabeça, tentando se proteger dos
golpes, mas Brandon foi implacável. Ele encontrou seu foco e
estava preparado e implacável.

— Veja. Ele prospera sob pressão. Ele precisava que Lockwood


tivesse a vantagem, para que pudesse se levantar e lutar com mais
força. — Ryan junta-se aos gritos da sala, estimulando Brandon.
Por mais corajosa e primitiva que fosse toda essa cena, eu também
não conseguia desviar o olhar. Eu queria que Brandon vencesse.

De repente, Jensen caiu no chão. Um nocaute. O árbitro saltou


na frente de Brandon para parar a luta. Ele provavelmente sabia
que Brandon gostava de insultar seus oponentes e uma luta total
com a tripulação de Jensen não seria a melhor finalização da noite.
Brandon cuspiu seu protetor bucal no chão e pegou a garrafa de
água que Kian estava segurando para ele. Então ele tomou um
grande gole, cuspiu e jogou o resto em si mesmo enquanto a
multidão aplaudia.

Minha adrenalina estava nas alturas, então a de Brandon


devia estar em órbita. Nunca pensei que sentiria algo tão visceral
enquanto observava dois homens lutando de forma tão brutal, mas
senti. Senti orgulho e fiquei grata por Brandon ter recebido a
retribuição que merecia. Não duvidei por um minuto que tudo
acabaria aqui, mas este foi um bom começo. Brandon teve seu dia.
Não era isso que toda vítima queria?

O árbitro limpou o ringue e dois outros homens avançaram,


prontos para a próxima luta. Nós não ficamos para assistir,
entretanto. Ryan me levou de volta para o corredor e desceu para
uma sala ao lado. Zak estava lá com Finn, os dois sorrindo como
lunáticos.

— Isso foi foda demais — diz Zak, e todos nós concordamos.


Brandon e Kian foram os próximos a entrar pela porta. O rosto
de Brandon estava cortado e machucado. Seu olho provavelmente
estaria tão inchado amanhã que ele lutaria para enxergar, mas ele
não se importou. Ele parecia ter ganhado na loteria. Ele saltou
sobre Ryan e os outros o seguiram, abraçando-o em parabéns.

— Derrotado, porra. Tempo. Todo. — Brandon gritou, socando


o ar.

Eu recuei, deixando-os ter seu momento.

— Venha aqui, Winters. Acho que também mereço um abraço


seu. — Brandon acena para mim, mas eu fico parada. Eu estava
orgulhosa do que ele fez. Eu me sentia feliz por ele, mas não estava
dando tapinhas nas costas dele. Isso nunca iria acontecer.

— Afaste-se, camarada — diz Ryan, parando ao meu lado e me


puxando para ele.

Brandon não gostou disso e virou mais rápido do que um peixe


fora d'água. — Ela precisa ir embora. Temos negócios para
discutir.

Ele estava tão drogado com as endorfinas que deve tê-lo


deixado bêbado. Que “negócios” ele tinha que discutir agora, com
um rosto que latejava e inchava bem diante de nossos olhos?

— Ela não vai a lugar nenhum — Ryan morde de volta. — O


que quer que você queira dizer, pode dizer na frente dela.

Percebi a careta de Zak. Eles queriam falar sobre mim ou meu


pai. Não era preciso ser um gênio para descobrir que eles estavam
fuçando alguma merda. Mas, para ser honesta, não me importava
com o que eles tinham a dizer.
— Ok, vou ser breve. — Zak cruza os braços sobre o peito,
respira fundo e olha ao redor da sala para cada um dos meninos.
— Nós temos tudo configurado. Temos tudo o que precisamos.
Iremos ao vivo na próxima sexta-feira. Como você quer jogar é
inteiramente com você, Ry. Finn, você sabe o que precisa fazer.
Brandon e eu cuidaremos da segurança. Kian, falarei com você
separadamente. Está todo mundo de acordo? — Todos eles
concordaram com a cabeça e eu apenas mordi meu lábio. Falando
em enigmas.

Eu não tinha ideia do que eles estavam falando, mas eu


descobriria.

O que quer que fosse ao vivo na sexta-feira, eu queria saber.


— O que está acontecendo, Ryan? O que vai ao vivo na sexta-
feira?

Não consegui tirar Emily de lá rápido o suficiente. Eu estava


zonzo porque finalmente estávamos fechando essa merda, mas ao
mesmo tempo senti como se um peso de chumbo tivesse atingido
meu estômago. O pensamento de machucá-la, o que nós faríamos,
parecia o maior puxão em meu estômago. Eu não queria perdê-la.
Agora não. Eu não poderia. Eu tinha acabado de encontrar o que
sonhei por tantos anos. Não havia ninguém como a minha Em.
Ninguém que acendeu um fogo em mim como ela fez, e eu não ia
deixar isso passar, por ninguém.

— Não é nada para você se preocupar, baby. — Eu sabia que


ela gostava que eu a chamasse assim. Seu rosto era um livro aberto
para mim, mas ela não vacilou ou suavizou seu olhar.

— Não me engane. Algo está acontecendo e você não quer que


eu saiba.

O que eu deveria dizer? Seu pai está prestes atingir o fundo do


poço? Provavelmente perderá sua casa, sua reputação e sua
dignidade?
Eu sabia que Zak tinha descoberto algo com Troy Barker, o
mecânico, ou melhor, o faz tudo para seu pai. Eu não sabia o que
exatamente, mas o que quer que fosse, não seria bom para Emily,
isso era certo. Eu tinha que protegê-la primeiro. E se isso
significasse esconder isso dela até que eu tivesse feito o que tinha
que fazer com os caras, eu o faria. Então eu poderia concentrar
toda a minha atenção nela. Certificar-me de que eu estaria lá para
juntar os cacos. Se ela me deixasse.

Se eu contasse a ela antes de sexta-feira o que sabia, duvido


que seria capaz de continuar com isso. Era uma lógica fodida, mas
era a única que eu tinha. Eliminar o filho da puta primeiro, lidar
com as consequências depois. Mostrar à minha garota que eu
estarei lá cem por cento e rezar para que ela não me responsabilize
pela merda que aconteceu.

— São apenas negócios. Chame de outro plano de vingança,


um pouco como a luta de Brandon esta noite. Assim que terminar,
vou te contar tudo.

— Por favor, me diga que você não está indo para o boxe sem
luvas? Eu não acho que poderia sobreviver a isso. — Observo
quando ela engole em seco, parecendo que estava prestes a
desmaiar ou a ficar puta de raiva comigo.

— Não. Eu prometo a você, eu não vou lutar. Não com meus


punhos, de qualquer maneira. — Eu a beijo e ela coloca os braços
em volta de mim, finalmente se amolecendo e se moldando em
mim. Eu tinha que me lembrar disso. Tocá-la e segurá-la perto era
a chave para cortar uma discussão ou distraí-la o melhor que
pudesse das coisas das quais eu precisava protegê-la.

— Eu confio em você — ela diz ofegante, em uma voz que foi


direto para o meu pau. Jesus, se eu não estiver dentro dela logo,
eu iria explodir. Eu queria dar a ela tempo e mantive minha regra,
sem pressão. Mas, caramba, não acho que tenha me masturbado
tanto quanto ultimamente em qualquer outro momento da minha
vida. Essa mulher era tudo em que eu pensava, e saber o quão
macia e apertada ela era nos meus dedos me fez imaginar todos os
tipos de merda que eu queria fazer com ela. Eu estava perdendo
minha maldita mente.

— Eu preciso que você faça algo por mim — eu sussurro em


seu ouvido, correndo minhas mãos até sua bunda e dando um bom
aperto.

— Qualquer coisa. — Ela engasga, enterrando a cabeça na


curva do meu pescoço e me fazendo querer pegá-la, sair dessa
merda e nunca mais voltar.

— Fique com Effy ou Liv na sexta à noite. Façam o que vocês


garotas fazem, tenham uma noite de garotas ou o que seja, mas
fique com elas. Não quero você em casa sozinha na sexta-feira.

Ela se afasta, olhando para mim com um milhão de perguntas


queimando em seus olhos, mas uma carranca profunda em seu
rosto.

— Por quê? Não posso ficar com você? — Eu tinha três


respostas para essa pergunta. Aquele que meu coração deu, que
dizia: 'Baby, você está sempre comigo. Na sexta-feira, nada mais
adoraria do que abraçá-la a noite toda em meus braços'. Em
seguida, houve uma que minha cabeça deu, que era algo como:
'Em, eu preciso de você segura. Depois de ter resolvido minha
merda, estarei ao seu lado 24 horas por dia, sete dias por semana,
mas, por favor, deixe-me fazer isso'. Então, por último, era meu
pau, que sempre tinha uma palavra a dizer quando se tratava dela.
Essa resposta envolvia minha cama, minha casa vazia no fim de
semana, cortesia da pernoite de meu pai em uma feira de negócios,
e muito tempo gasto fazendo-a esquecer o que quer que fosse que
estávamos prestes a fazer sua família passar. O júri ainda estava
decidindo sobre qual seria o vencedor, mas eventualmente eu fui
com a cabeça em meus ombros ao invés da que estava em minhas
calças e me repeti. Ela precisava estar com suas amigas. Eu
precisava dela longe de tudo.

— Bem. Eu posso fazer isso. — Ela não estava feliz e, para ser
totalmente honesto comigo mesmo, não acreditava totalmente que
ela ficaria com elas, mas não queria discutir. Eu estava cansado
de falar sobre isso.

Ela suspirou, obviamente encerrando essa conversa também


e se inclinou para me beijar. Eu a empurrei contra a parede do
corredor onde estávamos. O baixo do set de Zak vibrou nas
paredes e as pessoas passaram por nós enquanto se moviam do
porão para a área principal. Eu não me importei. Eu beijei a porra
eterna dela e agarrei sua bunda novamente, puxando-a para mais
perto para que ela soubesse o que estava fazendo comigo. Ela
enganchou sua perna sobre meu quadril e eu a segurei no lugar,
usando minha mão atrás de seu joelho para que eu pudesse
esmagar meu pau nela, deixando-a saber onde eu queria estar;
enterrado bem entre suas coxas.

Puro paraíso.
Eu o deixei me beijar e o beijei de volta com tudo que eu tinha,
mas isso não acabou. Eu não iria me curvar como a pequena
mulher. Se algo fosse acontecer na sexta-feira, eu queria estar na
frente e no centro disso. Eu não ia ser derrotada por ninguém, não
importava o quão bons beijadores eles eram, ou o quanto eles me
faziam ansiar por mais.

Eu sabia que os meninos eram grossos como ladrões quando


se tratava de sua pequena tripulação, mas eles tinham uma
fraqueza, toda organização tem. Para minha sorte, quando chegou
a sexta-feira, aquela pequena fraqueza estava sentada no canto de
um café local cuidando de uma ressaca e um expresso com doses
extras.

— Ei, Kian. — Sentei-me em frente a ele, soprando o café com


leite que comprei enquanto ele se mexia desconfortavelmente na
cadeira. — Você está pronto para esta noite? — Eu não tinha
certeza do quanto Kian sabia sobre mim, mas ele sabia muito mais
sobre os planos dos meninos do que eu, e eu usaria isso a meu
favor.

— Uh, sim, claro. Estarei na entrada. — Ele deu de ombros,


não parecendo feliz com aquele trabalho, então eu pressionei mais.

— Onde você queria estar?


Ele tomou um gole de seu café derretido e estremeceu.
Provavelmente porque tinha gosto de merda líquida, então ele
bateu a mão na mesa em frustração.

— Eu queria participar de todo o show. Eu queria estar no


palco ou lidar com a tecnologia com Zak. Eu sou bom nisso Eu sei
tanto quanto ele. Acho que eles ainda não confiam em mim o
suficiente. — Ele corre os olhos ao redor do café e depois os coloca
de volta em mim. — Eu posso não ter cabeça para números como
Ryan, e não estou fodendo Picasso como Finn, mas posso hackear
qualquer coisa que Zak pode. Eu tenho habilidades.

Golpe um. Kian tinha me dado a primeira pepita de uma pedra


muito grande que eu estava lascando. Então Zak havia hackeado
algo. As contas do meu pai, sem dúvida. Ele tinha encontrado
merda para culpá-lo e isso era algo de que eu tinha o direito de
fazer parte. Eu queria entrar agora mais do que nunca.

— Kian, eu sei que você tem habilidades. Ryan também sabe


disso. Ele está sempre falando sobre o quanto ele confia em você.
É por isso que você está nas portas esta noite. Você acha que eles
confiariam em mais alguém com isso? Se as pessoas erradas
entrarem, eles estão ferrados. — Ele acena com a cabeça e eu
posso ver seus ombros relaxarem, a tensão e a raiva estavam
começando a diminuir. Eu o tinha bem onde precisava dele. — Ki,
você pode não estar na parte principal esta noite, mas você é a
pedra angular de tudo isso. Se você não estiver lá, tudo vai para
uma merda.

— Você está certa. — Ele agarra sua xícara de café com as


duas mãos, embalando-a como se fosse sua tábua de salvação. —
Brandon ordenou a segurança. Ajudou o fato de Zak poder invadir
os e-mails de seu pai e cancelar a empresa que já havia reservado.
Brandon está usando caras da academia esta noite. Mas eu sou o
guardião do portão, não sou?
Golpe dois. Outra pequena pepita. Eles estavam planejando
algum tipo de ataque ao meu pai que envolvia acabar com sua
segurança. Não era preciso ser um gênio para adivinhar que os
caras de Brandon estavam lá como falsos guardas. Eles
protegeriam os caras antes de protegerem meu pai. Não me
incomodou como deveria. Meu pai era grande o suficiente para
cuidar de si mesmo e eu tinha a sensação de que ele merecia o que
quer que estivesse vindo em sua direção.

— Você está indo para lá agora para fazer alguma verificação?


— Prendi a respiração, desejando que Kian derramasse o chá. Eu
precisava saber o que quer que estivesse acontecendo esta noite.

— Eu poderia fazer, sim. Eu não vi o que Finn fez e


provavelmente não vou ver se estiver preso olhando para a porra
das portas. Zak está lá agora, preparando seu equipamento. Eu
poderia ajudá-lo. O centro comunitário teve um novo projetor
instalado, então ele vai precisar se conectar a ele e fazer uma
verificação de som.

Bingo. Golpeie três e você está fora.

Meu pai manteve seu diário de eventos em bloqueio. Ninguém


viu essa merda além de sua secretária e talvez minha mãe. Nunca
soube onde ele estava de um dia para o outro. Mas eu sabia que o
centro comunitário local havia passado recentemente por uma
reforma. O salão principal para ser mais exato. Então, é onde eu
precisava estar esta noite, e me impediria de fazer exatamente isso.

— Bem, boa sorte, Kian. Talvez eu te veja lá mais tarde. — Eu


me levanto e o deixo sorrindo para si mesmo. Ele não tinha
absolutamente nenhuma ideia do que acabara de fazer.
Eu prendi meu cabelo em um coque bagunçado e escolhi um
jeans skinny preto rasgado e um moletom cinza, na esperança de
me misturar com a multidão. Então, a algumas ruas de distância
do centro comunitário, entrei em pânico. O que eu estava
pensando? Este era um evento político orquestrado por meu pai.
Eu provavelmente ficaria de fora como um polegar ferido entre os
ternos poderosos e os vestidos de grife caros. Mesmo assim, meus
pés continuaram se movendo, apesar de meu cérebro gritar para
eu virar e correr para o outro lado. Quando cheguei na esquina,
porém, soltei um suspiro nervoso. Grupos de pessoas da minha
idade estavam vagando pelo local, e jeans e moletons pareciam o
uniforme de escolha. A princípio, achei estranho que eles optassem
por passar a noite de sexta-feira no centro comunitário local, mas
então percebi que não estavam aqui para ver meu pai, pelo menos
não desse jeito. Este foi o trabalho dos homens da Renaissance.
Eles provavelmente enviaram convites para esta coisa.

Eu atravessei a rua e fui até um grupo de garotas que estavam


conversando e fazendo fila para entrar. Kian estava na porta como
planejado e parecia muito satisfeito por estar lá. Eu estava
contente. Minha conversa estimulante fez bem a ele e ele estava
amando seu trabalho agora. Ele começou a falar com uma ruiva
que estava bem na minha frente, tentando conseguir algo mais
dela. Uma vantagem para nós dois, porque consegui passar pela
porta sem ele prestar atenção em mim e ele conseguiu pegar o
telefone dela para mais tarde.

Uma vez lá dentro, eu me afastei do grupo de garotas falando


alto que estavam rapidamente me dando dor de cabeça e caminhei
para o corredor principal. Eu tendia a fugir de eventos como este,
aos quais meu pai comparecia, mas eu sabia que eles geralmente
mantinham o número mínimo e colocavam cadeiras e bebidas para
a imprensa e dignitários presentes. Aqui, não havia nada.
Estávamos embalados como sardinhas, ombro a ombro. Vi alguns
homens andando pelo lado de fora do corredor com a segurança
estampada em suas camisas, mas ri comigo mesma. Eles podem
ter parecido fortes, mas eles não pareciam estar aqui para parar a
luta. Eles pareciam que estavam aqui para supervisionar.

Olhei para trás e vi uma tonelada de equipamentos de


informática configurados, mas Zak não estava lá. Ainda não. Na
frente do salão havia cadeiras dispostas no palco e as cortinas
vermelhas estavam fechadas. Tudo muito dramático. O cenário
perfeito para a tragédia que estava para acontecer. Avistei minha
mãe e meu pai, e o barulho geral e a agitação ao meu redor
diminuíram enquanto eles subiam os degraus para se sentar à
esquerda do palco. Olhei em volta me sentindo totalmente confusa
com o que diabos estava acontecendo. Além de Kian na porta e a
segurança falsa, parecia que nada estava acontecendo. Os
meninos não estavam em lugar nenhum.

Meu telefone vibrou no bolso pela centésima vez naquela noite


e quando o tirei vi uma mensagem de Effy.

Onde você está?

Eu disparei uma resposta de volta, aliviada por não ser outra


ligação ou mensagem de texto de Ryan. Eu o estava evitando
ativamente pelas próximas horas. Eu não queria mentir para ele,
mas ele queria saber onde eu estava. Então, decidi atrasar minha
resposta até que pudesse dizer a verdade.

Estou em um evento para meu pai. A mesma velha merda chata.


Por quê?

Esses três pontos começaram a dançar para me dizer que Effy


estava respondendo.
Porque Ryan conseguiu meu número e está perguntando se você
está aqui comigo. Ele disse que você está evitando suas ligações. O
que está acontecendo, garota?

Porra. Era tudo que eu precisava para Effy dizer a Ryan que
eu estava aqui.

Não diga nada a ele ainda. Eu vou ligar pra ele. Mando
mensagem para você mais tarde, ok. Não se preocupe. Não está
acontecendo nada. Vou explicar quando te ver.

Enfiei meu telefone de volta no bolso da calça jeans e observei


o prefeito subir ao palco para começar seu discurso sobre o centro
comunitário ser o coração de Sandland e como ele estava
orgulhoso por meu pai ter concordado em fazer a reabertura oficial.
A porcaria de sempre. Eu perdi o foco. Suas palavras foram apenas
uma frase de efeito. Elas não significavam nada. Quando ele se
virou para o meu pai para recebê-lo ao microfone, houve um
grande estrondo e as luzes do co:rredor se apagaram, deixando
todos nós parados na escuridão, imaginando o que diabos estava
acontecendo.

De repente, luzes estroboscópicas cortaram a multidão e o


baixo estrondoso do The Prodigy's, “Omen”, começou a tocar nos
alto-falantes ao nosso redor. Eu fiquei lá, de olhos arregalados e
congelados no lugar, hipnotizada pela música. Algumas pessoas
ao meu redor começaram a dançar como se estivessem em uma
das festas dos meninos. No palco, o prefeito estava tateando, sem
ter certeza se o que estava acontecendo fazia parte do show. Meu
pai parecia totalmente confuso, mas ele permaneceu sentado e
agarrou a mão da minha mãe.

Duas figuras vestidas todas de preto, vestindo moletons


puxados para baixo na cabeça e bandanas para esconder o rosto,
subiram ao palco e ficaram ao lado dos meus pais. A julgar por
suas expressões, eu poderia dizer que as figuras negras disseram
algo. Meu pai foi se levantar, mas a figura mais próxima a ele
colocou a mão em seu ombro para mantê-lo no lugar. Papai estava
abalado. Bastante e verdadeiramente chateado.

Então, um holofote brilhou no palco e todos se voltaram para


focar nele, prontos para ver o que aconteceria a seguir. As cortinas
se abriram, abrindo para revelar uma enorme arte de grafite com
as palavras As Escrituras na Parede escritas em tinta vermelha e
preta. Palavras enormes, tão grandes quanto a parede em que
foram pintadas, como um tapa na cara de qualquer um que as
visse. Um lembrete de que algo ruim estava para acontecer e eles
foram avisados. A multidão começou a gritar e aplaudir enquanto
a música reiterava as palavras pintadas ali; nos lembrando que
não iriam embora, precisávamos parar e ouvir.

Os meninos queriam fazer uma declaração e estavam fazendo


um trabalho incrível. A sala inteira estava zumbindo, esperando o
show que eles começaram.

No palco, uma tela desceu lentamente do teto,


momentaneamente cobrindo a arte de Finn. Em seguida, ela
ganhou vida e lá na nossa frente estava alguém usando uma
máscara de Guy Fawkes. A máscara que veio para simbolizar o
desafio a um sistema corrupto e injustiça social. Quando a pessoa
no vídeo falou, foi com uma voz robotizada. Eu não tinha ideia se
era Ryan, Brandon ou a rainha falando naquele vídeo, mas pelo
que eles estavam dizendo, eu sabia que era tudo trabalho dos
homens da Renaissance.

— Agora você saberá que este não é um evento comum. O que


estou prestes a dizer a vocês esta noite é o trabalho de muitos anos
de luta para que nossa voz seja ouvida. Eles tentaram nos calar.
Eles não querem que sejamos ouvidos. Não ficaremos mais em
silêncio. Essa é nossa vez. Teremos uma voz.
A multidão gritou e aplaudiu enquanto a tela piscava
novamente para causar efeito e uma fila de homens de “segurança”
ficava ombro a ombro protegendo o palco. De quem eu não tinha
certeza. Acho que eles estavam lá para manter meus pais e o
prefeito no palco, e não o resto de nós.

— No momento em que estou falando com você, cópias de


todos os documentos, vídeos e gravações que vocês estão prestes
a ver estão a caminho do chefe de polícia, do primeiro-ministro e
de todos os editores de tabloides deste país. Nós não seremos
silenciados.

Observei meu pai tentar se mover da cadeira novamente e ele


foi empurrado para baixo pelo cara de moletom. Minha mãe falou
com ele, mas não ajudou. Ele parecia pálido, como se estivesse na
forca prestes a encontrar seu criador.

— Haverão três verdades que vocês ouvirão esta noite. Ouça,


com muita atenção. Os que estão no poder querem que partamos.
Eles nos querem fracos. Eles nos usam. Não seremos mais usados.
Iremos tomar uma atitude.

Pessoas vestidas com moletons pretos como os que estão no


palco começaram a se misturar no meio da multidão, distribuindo
papéis para quem os levasse. Peguei um e quando olhei para baixo,
vi a conta Morgan Rotherham que meu pai tinha virado, com todas
as transações listadas, algumas destacadas também.

— Os papéis que vocês estão vendo são documentos de contas.


Provas do dinheiro sujo que um homem limpou usando nossa
cidade e as pessoas que moram nela. Esse homem é o Sr. Alec
Winters.

Meu pai começou a protestar, tentando fugir desse


assassinato de caráter que estava sendo forçado a testemunhar,
mas não iria a lugar nenhum. Seu guardião encapuzado se
certificou disso.

— Ele pegou empresas dirigidas por pessoas trabalhadoras e


honestas e fez com que confiassem em seu bom nome. Convenceu-
os de que faria o que fosse certo por eles, pela cidade em que todos
crescemos. Mas isso nunca aconteceu. Nosso honrado membro do
Parlamento, Sr. Alec Winters, usou cada uma dessas empresas
para lavar seu dinheiro. Para sangrar esta cidade até secar. Vocês
não eram nada além de um meio para um fim. Uma maneira
legítima de lavar milhões.

— E o dinheiro de quem ele estava limpando? A escória da


terra. Senhores das drogas. Criminosos que governam esta cidade
e as cidades de nosso país com sua sujeira e corrupção. Era fácil
apontar o dedo aos jovens delinquentes da sociedade. Para usá-los
como uma frase de efeito para suas campanhas políticas fodidas.
Criar uma cortina de fumaça que cobrisse o fogo real que ele
iniciou. Um incêndio que ameaçou destruir esta cidade. Alec
Winters é um ladrão, um mentiroso, um criminoso sem remorso.
Ele vai tentar encontrar uma maneira de sair dessa, mas Sr.
Winters, as escrituras na parede. As contas com todos os nomes
em seu livrinho preto estão por aí. Nós não seremos silenciados.

A tensão percorrendo o lugar era palpável. Não havia mais


gritaria. Não mais dançar como se fosse hora de festa. Todos
estavam parados olhando para a tela como se estivéssemos todos
presos em um filme de terror e ninguém sabia qual seria o próximo
movimento.

— Em breve, haverá polícia aqui para levar o Sr. Winters para


sua casa de direito. Uma cela de prisão. Quatro por quatro metros
quadrados com seu nome escrito nele. Mas ainda não terminamos.
Seremos ouvidos. E há mais duas verdades que vocês devem ouvir.
— Em 16 de dezembro do ano passado, Danny Winters morreu
tragicamente em um acidente de carro.

Eu fiquei com frio. Ouvir essa data e o nome do meu irmão


sendo falado fez todo o meu corpo tremer de medo. Eu me senti
doente. Mas não poderia partir. Eu precisava saber o que eles
diriam.

— Seu pai disse a todos nós que foi um acidente por


embriaguez ao volante. Até deu a entender que Danny poderia ter
tido coisa pior em seu sistema. Mas não foi esse o caso. Esta noite
defendemos a justiça de Danny. Esta noite as mentiras acabam.
Se você olhar suas apostilas, verá que uma grande quantia em
dinheiro foi transferida para um Troy Barker apenas 24 horas após
a morte de Danny. Agora reproduziremos uma fita de áudio
explicando por que essa transação precisou ser feita. Esta é a
nossa verdade.

A tela escureceu e, em seguida, o som de uma conversa


telefônica começou a tocar. A tela à nossa frente fornecia o roteiro
para que não tivéssemos dúvidas sobre o que estava sendo dito.
Eu escutei e li a transcrição com meu estômago embrulhando.

Troy Barker: — Fale.

Alec Winters: — Oh, Deus! Oh Deus! Eu não sei o que fazer.


Merda. É uma merda... Oh Deus, por favor. Troy. Eu não sei o que
fazer.

Troy Barker: — Acalme-se e diga-me. O que aconteceu?

Alec Winters: — É ruim, Troy. É muito ruim.

Troy Barker: — Cuspa isso, Winters. Eu não tenho a noite toda.


Diga-me onde você precisa de mim e eu estarei lá.
Alec Winters: — Curborough Lane, logo após a curva. Você
precisa vir rápido, Troy. Acho que ele está morto.

Troy Barker: — Quem está morto? Dê-me detalhes. Eu preciso


saber no que estou entrando aqui.

Alec Winters: — Meu filho. Danny. Acho que ele está morto.

Troy Barker: — Preciso de mais do que isso. É uma batida?

Alec Winters: — Não. Eu… Merda. Eu o peguei... eu estava


bebendo. Foda-se, Troy. Eu tenho bebido. Isso vai me arruinar. Não
posso perder minha posição.

Meu coração se abriu e minhas pernas quase cederam


embaixo de mim. Observei minha mãe afastar sua mão da de meu
pai, envolvendo os braços em volta de si mesma e balançando para
frente e para trás. Ela estava chorando e eu senti vontade de ir até
ela. Mas não consegui. Eu tinha que ouvir isso. Eu precisava saber
tudo.

Troy Barker: — Deixe-me ver se entendi. Você pegou seu filho.

Alec Winters: — Sim.

Troy Barker: — Em um carro.

Alec Winters: — Eu usei o carro de Danny. Era o último parado


na garagem e eu simplesmente peguei. Todos os outros estavam
estacionados.

Troy Barker: — E você dirigia quando estava bêbado.

Alec Winters: — Eu não sabia que isso iria acontecer. Eu não


queria nada disso.
Troy Barker: — Você acha que seu filho está morto?

Alec Winters: — Ele tirou o cinto de segurança para pegar algo


no banco de trás. Eu vi algo na estrada e desviei. Há sangue por
toda parte, Troy. Eu preciso de você aqui agora.

Troy Barker: — Estou a caminho. Não chame mais ninguém.


Não mova ou toque em nada até eu chegar lá. Se alguém parar,
mantenha-o lá, prenda-o, mas não chame a polícia ou a ambulância.
Eu vou lidar com isso.

O telefonema foi interrompido e o mascarado apareceu


novamente na tela.

— O que você ouviu foi a transcrição de uma ligação gravada


na noite da morte de Danny entre o Sr. Alec Winters, o pai dele, e
o Sr. Troy Barker, o faz tudo. Para nossa sorte, o Sr. Barker
manteve registros de todas as ligações e interações que teve com o
Sr. Winters. Até mesmo seu faz tudo não confiava nele. Você não
encontrará nenhum registro policial do caso de Danny, porque
todos foram destruídos. Você não encontrará relatórios de
toxicologia, porque todos foram destruídos. Os testes feitos no
carro, os respingos de sangue... Tudo falsificado, e tudo com a
palavra do nosso membro eleito do Parlamento, Sr. Alec Winters.

— Então o que aconteceu quando o faz tudo chegou lá? O Sr.


Barker e o Sr. Winters moveram Danny do banco do passageiro
onde ele havia morrido para o banco do motorista. Eles destruíram
evidências que limpariam o nome de Danny. E quando estavam
confiantes de que todos os vestígios da passagem do Sr. Winters
por ali, do motorista daquele carro, haviam sido apagados, eles
partiram. Eles entraram no carro do Sr. Barker e deixaram o
cadáver de Danny para trás, para ser encontrado por um operário
que passava às cinco horas da manhã seguinte. Eles deixaram a
cena para salvar a carreira do Sr. Winters. Então eles usaram a
morte de seu filho para fazer do Sr. Winters um santo. Um símbolo
de tudo de bom, lutando contra os jovens envenenados. Ele nos
usou como usou seu próprio filho, para promover sua carreira
política. Para ganhar dinheiro com a morte de inocentes.

Eu não tinha certeza de quanto mais eu poderia aguentar.


Minha mãe estava chorando em suas mãos. Meu pai estava se
curvando para frente, tentando parecer arrependido pelo que tinha
feito. E me senti entorpecida. Entorpecida porque não tinha mais
pai. Eu nunca o perdoaria pelo que ele fez.

A sala estava silenciosa e estranhamente escura, exceto pelas


luzes da tela à nossa frente. Eu engoli, lutando para respirar,
sentindo como se estivesse me afogando. E então o trocador de voz
começou a falar novamente.

— Três verdades que estamos entregando esta noite. E três


verdades você ouvirá. Um, Alec Winters é um ladrão corrupto,
lavando dinheiro em Sandland como se fosse seu próprio banco
privado. Dois, Alec Winters tem sangue nas mãos. Ele foi o
responsável pela morte de seu filho. Ele estava dirigindo. Deixou o
cadáver de seu filho apodrecendo em um carro destroçado
enquanto fugia da cena como o rato que é. Mas a mentira de Alec
Winters não pára por aí. Ele perdeu um filho naquela noite, mas
ainda tinha duas filhas.

Eu não tinha ouvido direito. Eu não devo ter ouvido direito.


Duas filhas?

— Fizemos uma pequena busca na conta Morgan Rotherham


que Winters usou para seu dinheiro sujo. Por que esse nome? Nós
nos perguntamos. O que ou quem é Morgan Rotherham? Morgan
Rotherham é a filha que Alec Winters teve com sua amante de
longa data, nascida três meses após o nascimento de sua outra
filha, Emily.
Eu não pude evitar um soluço vindo do fundo da minha alma.
Tudo em que eu sempre acreditei estava sendo destruído na frente
de todas essas pessoas. Tudo que eu sabia era mentira. Meu
mundo inteiro estava se despedaçando aos meus pés e tudo estava
sendo usado para entretenimento aqui esta noite.

Eu me senti quebrada.

Outro holofote brilhou do palco para a multidão e eu me virei


atordoada para ver o que eles estavam prestes a revelar a seguir.

— Senhoras e senhores, permitam-me apresentá-los à Srta.


Katherine Rotherham e sua filha, Morgan.

Parada a alguns metros de mim estava uma garota, seu rosto


tão pálido quanto o meu, e parecia que estava prestes a desmaiar
ou fugir, assim como eu. A mulher mais velha ao lado dela, sua
mãe, eu imaginei, foi pegar sua mão, mas ela se afastou
bruscamente e murmurou algo que parecia — que porra é essa.
Essa garota parecia mais com Danny do que comigo, mas ela tinha
o mesmo cabelo escuro que eu, só que o dela era liso escorrido. Eu
tinha uma irmã. Uma irmã que tinha a mesma idade que eu. Por
que eu tive que descobrir sobre isso com o resto da cidade? Isso
estava além de uma merda.

— Eu não quero fazer parte disso — ela gritou de repente para


o corredor. — Seja lá o que for esse show de merda, eu não quero
saber. — Ela olhou para onde meu pai estava sentado no palco,
com a cabeça entre as mãos. — E você não é meu pai. Você nunca
será. Te odeio. — Ela passou por sua mãe e saiu correndo do
corredor. Dei uma olhada em meus pais sentados naquele palco e
percebi então como eu estava sozinha. Não podia confiar em
ninguém, nem mesmo em Ryan. Ele sabia tudo sobre isso e não
tinha me contado. Ele deu esse show, deixando toda a cidade
descobrir os segredos nojentos da minha família antes de me
contar. Eu estava devastada.

Então, eu me virei e corri também, abrindo caminho através


da multidão que não se separava para mim tão facilmente quanto
para Morgan. Quando cheguei às portas, vi Kian e Finn parados lá
e os olhos de Finn dispararam para fora de sua cabeça quando ele
me viu.

— Oh, que merda. Emily, você não deveria ver isso. Ryan vai
enlouquecer... — Eu o interrompo, abrindo caminho através das
portas, esperando que o ar fresco da noite pudesse aliviar o aperto
em volta do meu peito.

— Eu tinha o direito de estar aqui esta noite — eu digo com


mais força do que sentia. — E agora, está feito.
Meus pés me carregaram pela estrada inconscientemente, mas
meu cérebro estava a um milhão de milhas de distância,
desligando-se do carnaval de loucos que eu acabara de
testemunhar, recusando-se à queima-roupa dar sentido a tudo.

O que iria acontecer agora? Eu ainda me importo?

Eu vi uma frota de carros de polícia com suas sirenes


disparando passando por mim, para levar meu amoroso pai sob
custódia, eu imaginei. O flash de suas luzes e o lamento que
atravessou o ar fizeram parecer que eu estava em um filme de
desastre. Só que isso não era fingimento, essa era minha vida
queimando até o chão enquanto eu caminhava através das
chamas. O calor do fogo picando minha pele, me fazendo querer
arranhar minha pele com as unhas e tirar sangue; fazer qualquer
coisa para entorpecer a dor em meu coração. A fumaça obstruindo
meus pulmões, dificultando a respiração e enchendo meus olhos
de lágrimas que não queria derramar. Mas como qualquer bom
filme de desastre, eu estava determinada a não cair sem lutar. Meu
mundo pode ter se reduzido a escombros, mas eu não era uma
desistente. Eu era uma guerreira. Eu tinha que ser.

Ouvi passos atrás de mim e senti alguém agarrar meu braço.


— Espere, Emily. Por favor. — Era Finn e eu virei, meu rosto
rígido como pedra enquanto eu olhava fixamente para ele.

— O quê? — Eu estava a segundos de distância de me virar e


me afastar dele; de todos eles.

Ele passou a mão pelo rosto e eu observei suas sobrancelhas


franzirem. Eu não acho que ele sabia o que dizer para mim agora
que ele me colocou na frente dele. Eu não tive tempo para isso. Eu
estava farta de besteiras e mentiras. Enquanto eu ia embora, ele
estendeu a mão para mim novamente.

— Em, ele não sabe que você está aqui. Se soubesse, estaria
destruindo esta cidade inteira para chegar até você.

Eu bufei uma risada e balancei minha cabeça. Eu duvidava


muito disso. Ele tinha peixes maiores para fritar. Eu não registrei
em seu radar esta noite.

— Sabe de uma coisa, Finn? Eu não me importo mais. Ele fez


sua escolha esta noite quando decidiu ir contra mim. Ele colocou
você e todos os outros nesta cidade acima de mim. Eu deveria
saber o que estava acontecendo antes de qualquer um. — Eu bato
no meu peito enquanto falo, me sentindo magoada e traída. Eu
confiei em Ryan. Eu pensei que ele estava me protegendo. Doeu
descobrir que estava tão errada.

— Não foi assim. — Finn segurou meus braços, me mantendo


no lugar enquanto falava. Ele obviamente pensou que eu estava
pronta para terminar meu relacionamento e eu tive que admitir
que ele não estava errado. — Quando tivemos aquela reunião na
fábrica outra noite, ele não sabia metade do que estava
acontecendo. Claro, ele sabia sobre a lavagem de dinheiro, mas
não sabia sobre Morgan ou Danny.
Senti outra picada no peito quando ele disse o nome do meu
irmão. Um milhão de facas enfiadas nas minhas costas não seriam
tão dolorosas quanto a que cortou meu coração neste momento.

— Não importa. Ele sabia desta noite. Ele escolheu me deixar


nessa situação sozinha. Você acha que um dia serei capaz de
mostrar minha cara por aqui novamente? Depois de tudo que
vocês fizeram?

— Ninguém vai culpar você, Emily. Você não é seu pai. — Ele
abaixou a cabeça de vergonha, em seguida, respirou fundo antes
de quebrar meu coração frágil um pouco mais. — Ele não queria
fazer isso. Quando contamos tudo a ele, ele quis ir direto para você,
mas nós o impedimos.

— Se ele quisesse me dizer, ele poderia. Desde quando Ryan


faz algo que não quer?

— Dissemos que ele precisava manter o foco. Já estávamos


nisso há anos, Em. Não podíamos nos arriscar em nada que
estragasse tudo. Não essa noite. Ryan queria te contar, mas nós o
convencemos de que seria melhor se ele esperasse até depois da
abertura. Divulgar a verdade e encontrar você. Dizer a você do jeito
dele. Sabíamos que se ele contasse primeiro, ele não iria continuar
com o que fez esta noite. Isso precisava ser feito. Se você soubesse
de tudo isso antes de revelarmos seu pai, você teria nos impedido?
Eu acho que você teria. Não podíamos correr esse risco.

Eu não tinha certeza do que teria feito. Teria sido mais gentil
ouvir em particular. Para que Ryan me contasse pessoalmente,
mas ele tentou me manter longe. Minha bunda teimosa tinha
apenas empurrado para chegar à verdade. Mas às vezes a verdade
é a coisa mais difícil de enfrentar. Minha verdade é que eu estava
sozinha e não sabia mais em quem confiar.
— Foi ele? No vídeo com a máscara? — O mundo inteiro parou
enquanto eu esperava sua resposta.

— Não. Isso foi Zak. Ryan estava no palco, porém, com


Brandon.

Esse fato me fez sentir um pouco melhor, não muito, mas era
alguma coisa. — Onde ele está agora?

— Ele ainda está lá — diz Finn, apontando para o centro


comunitário que ambos fugimos. — Quando Kian contar a ele que
vimos você, ele vai enlouquecer, Em.

— Ele quebrou meu coração. — Minha voz falha enquanto eu


falo. Meu coração estava partido por muitos motivos esta noite, e
saber que Ryan tinha sido a causa disso tornava a dor muito mais
aguda.

— Ele nunca quis partir seu coração, Em. Ele queria possuí-
lo. Ele te ama. Faz anos. Isso vai quebrá-lo também, você sabe.

Ouvir Finn dizer que Ryan me ama deveria ter me feito sentir
algo. Esperança, talvez? Mas isso não aconteceu. Tudo o que fez
foi tornar a dor muito mais insuportável. — Eu acho que ele
deveria ter pensado sobre isso antes de fazer o que fez.

— Ele fez isso por você. — Finn começou a puxar seu cabelo.
Ele não estava obtendo os resultados que queria de nossa pequena
conversa e estava começando a afetá-lo. — Quando contamos a ele
sobre Danny, merda, eu nunca vi Ry tão machucado. Ele chorou,
Em. E não porque ele perdeu um amigo assim, mas porque ele
queria protegê-la de tudo. As coisas com sua irmã, que realmente
o levaram ao limite. — Eu estremeço quando ele diz isso. Eu não
estava pronta para reconhecer aquela garota como outra coisa
senão a outra filha do meu pai.
— Ele queria ir à sua casa e confrontá-lo ali mesmo — diz Finn,
prosseguindo com sua justiça pelo discurso de Ryan. — Ele queria
tirar você de tudo e cuidar de você. Sabíamos que se isso
acontecesse, seu pai encontraria uma maneira de enterrá-lo. Ele
faria tudo ir embora. Provavelmente nos fará ir embora também.

A faca cravada em meu coração torceu com o pensamento de


algo acontecendo com Ryan. Comecei a ofegar, mas cada
respiração simplesmente não parecia o suficiente. Foi quando
percebi que, apesar de toda a dor e sofrimento que sentia agora,
uma vida sem Ryan seria muito pior. Ele trouxe a luz do sol
quando tudo ficou cinza depois de perder Danny. Ele trouxe
clareza, segurança, um motivo para sorrir durante o dia. Ele me
deu vida. Ele era minha vida. Eu o amava.

Hoje à noite, ele fez uma coisa realmente horrível e iria levar
muito tempo para superar isso, mas Ryan não tinha feito isso para
me machucar. Ele queria o máximo impacto para machucar meu
pai. Pensei que fosse um dano colateral, mas se eu parasse por um
segundo e realmente pensasse sobre isso, não era.

Ouvindo Finn, percebi que fui enganada tanto quanto o resto


da cidade, talvez até mais. Mesmo sabendo que ele era motivado
por seu trabalho, no fundo, eu confiava em meu pai para sempre
fazer a coisa certa. Para colocar nossa família em primeiro lugar,
não importa o quê. Mas ele não fez. Ele colocou sua própria
ganância egoísta e egocêntrica em primeiro lugar. O dinheiro, o
poder, o status; ele queria ter tudo, mantendo minha mãe e alguma
outra mulher ao lado. Eu ainda não conseguia analisar a situação
de Danny. Isso ainda estava muito cru, e meu cérebro não
conseguia compreender como ele podia ser tão mau. Mas Finn
estava certo. Meu pai teria enterrado tudo. Essas verdades nunca
teriam visto a luz do dia se Ryan tivesse mostrado sua mão antes
do tempo.
E eu? Nunca fui uma boa jogadora de pôquer. Usei meu
coração na manga e minhas emoções no rosto. Se eu soubesse
disso antes desta noite, teria desmoronado completamente.

— Em? — Finn interrompe meu devaneio, esfregando meu


braço e tentando chamar minha atenção de volta para o aqui e
agora. — Você quer voltar comigo? Ver Ryan? Acho que você
precisa conversar e estou preocupado com você.

— Preciso de tempo. — Eu me afasto, mas eu olho para Finn


com o olhar morto, assim ele saberia que algo havia mudado em
mim. Parte de seu raciocínio havia penetrado em minha psique, e
eu estava começando a ver as coisas com mais clareza. Não tudo,
mas foi um começo.

— Você quer que eu passe uma mensagem para ele?

Eu mordo meu lábio. Eu não tinha certeza do que dizer. Eu


mal conseguia reunir um pensamento coerente, muito menos uma
frase.

— Diga a ele... acho que entendi, mas preciso de espaço. Há


muita coisa acontecendo na minha cabeça agora. Eu preciso
processar. — Eu dou de ombros e Finn sorri.

— Entendi. Mas não o afaste. Ele esperou muito tempo por


você. Ele não vai deixar você ir e eu acho que vocês dois merecem
um pouco de felicidade quando tudo isso acabar. Fique com raiva
de seu pai. Dê-nos o inferno por hackear e cavar como fizemos.
Mas lembre-se de que tudo o que Ryan fez foi para tentar proteger
você. Você vem primeiro para ele, sempre.
Eu não queria voltar para minha casa. Eu sabia que ninguém
estaria lá, mas havia fantasmas lá que eu não estava pronta para
enfrentar. Meu pai estaria escondido em alguma delegacia de
polícia esta noite, com minha mãe esperando por ele, desesperada
por qualquer resto que ela pudesse salvar de sua vida. Essa era
uma vida da qual eu não queria mais participar.

Pensei em ir ver Effy ou Liv, mas não me sentia bem em


descarregar toda essa dor sobre elas. O fardo da dor e do ódio era
pesado. Então, optei por ir para o único lugar que sabia que não
encontraria nenhum julgamento. Um lugar que eu evitei
ativamente por meses porque negar era mais fácil de suportar do
que aceitar.

— Ei, mano. — Puxei os tufos de grama que o cortador do


cemitério não tinha alcançado ao cortar sua lápide de mármore e,
em seguida, passei meus dedos sobre a escultura de seu nome.
Mesmo agora, vendo seu nome escrito ali, não parecia real.

— Lamento não estar aqui há... Bem, desde sempre. Eu


simplesmente acho isso muito difícil. Não há um minuto do dia em
que eu não pense em você. Eu carrego você comigo, sempre. Mas
aqui... — Eu olho ao redor do cemitério assustadoramente
silencioso, onde o sentimento de minhas palavras só será sentido
pelos pássaros e pela brisa. — Aqui é demais. Muito terminal. Às
vezes, quando acordo, esqueço o que aconteceu e apenas por uma
fração de segundo não me lembro de nada. É como se você ainda
estivesse aqui conosco. Tudo está como deveria estar. Mas então
meu cérebro entra em ação e tudo piora a partir daí.

Sinto uma lágrima escorrer pelo meu rosto, a primeira de


muitas que se seguiram.

— Dan, descobri o que aconteceu hoje quando você sofreu o


acidente. Lamento não ter feito mais para limpar seu nome. Pensar
no que papai fez, como ele usou sua morte para se promover, isso
me deixa doente. Achei que tínhamos pais de merda. Acho que foi
o eufemismo do século. Mas não consigo afastar a sensação de que
todos nós o decepcionamos; pai, mãe e eu. Eu sabia no meu
íntimo... Eu sabia que você não tinha usado nada. Eu sabia que
você não bebia. Por que eu encobri a verdade diante de meus olhos
assim? Eu deveria ter lutado mais.

Deitei no chão ao lado de seu túmulo e acariciei meus dedos


pela grama macia que cobria meu irmão.

— Mas nem todo mundo desistiu de você, Danny. Ryan lutou


por você. Eu sei que você provavelmente está olhando para nós e
xingando ele, talvez eu também, por quão próximos nos tornamos.
Você sempre foi superprotetor, mas ele é um cara bom. Ele fez uma
coisa realmente horrível hoje, não me contando sobre as coisas
com papai, mas quanto mais eu penso sobre isso, mais posso ver
por que ele não disse. Acho que Finn estava certo. Eu o teria
impedido e sua verdade precisava ser contada. Todo mundo sabe
agora. Eles sabem que você é inocente. Você não estava dirigindo.
Acho que papai vai para a prisão. Não apenas por sua causa, Dan,
mas ele também estava lavando dinheiro. Parece que mamãe e eu
vamos nos mudar para uma nova casa em breve. Eu não me
importo. Eu o odeio. Nunca mais quero ver nosso pai. Ele não
merece ser chamado assim. —Suspiro. As emoções de hoje eram
como uma pedra no meu estômago e isso me paralisou.

— Deus, estou com saudades.

Eu solucei quando a imagem de Danny dando seu mergulho


ridículo na piscina durante nossas últimas férias de verão passou
pela minha mente. Ele sempre faria qualquer coisa para me fazer
sorrir. Ele me irritava todos os dias também, geralmente
monopolizando o controle remoto da TV ou sendo um idiota, mas
não é isso que todos os irmãos fazem? O meu foi o melhor. Ele
arrotava na minha cara, em seguida, me sufocava com abraços,
me fazendo passar de fumegante para riso em um nanossegundo.
Eu daria qualquer coisa para ter isso de novo.

— Papai tinha outra família — eu digo sem nenhuma emoção


por trás das palavras. Quando cheguei a essa verdade, eu me senti
como um robô fazendo seu trabalho, mas me recusando a me abrir
para a realidade do que isso significava. — Ele tem uma filha, Dan.
Ela tem a mesma idade que eu. Você sabia? O que estou dizendo,
é claro que não. Você teria me contado se tivesse. Você também
teria chutado a bunda dele por fazer isso com a mamãe.

Eu me levanto e sento de pernas cruzadas ao lado de seu


túmulo e pego algumas margaridas do chão, dando a minhas mãos
trêmulas algo para fazer.

— Eu ouvi três verdades hoje. Dizem que o azar vem em três.


O meu veio em minha direção como bolas de boliche gigantes.
Cada uma foi disparada por eles, Dan. Ryan fez parte disso e eu
quero ficar com raiva dele, porra, estou com raiva dele, mas eu...
eu o amo, Dan, e não sei o que fazer. Eu vou embora? Dar as costas
a algo que pode ser a melhor coisa que já me aconteceu? Ou eu
permaneço firme? Mostrar a eles que eles não podem me derrubar
assim. Eu luto por ele? Por nós? Estou tão confusa. Está tudo uma
merda e eu sinto que estou perdendo tudo; você, mamãe, papai e
agora Ryan. É muito.

Respiro fundo para tentar acalmar meus pensamentos


furiosos.

— O que você diria se estivesse aqui? O que você me diria para


fazer?
Fecho os olhos e imagino Danny parado bem na minha frente.
Eu o conhecia tão bem quanto qualquer pessoa e queria entrar em
sua mente. Retirar a sabedoria que ele me daria se estivesse aqui.

Senti a umidade em minhas bochechas infiltrar-se na gola do


meu moletom, mas deixei fluir. Eu precisava. Esta noite, toda a
dor de quando Danny morreu foi reaberta. Minha dor era tão real
agora quanto na manhã em que recebemos aquele telefonema que
mudou nossas vidas.

— Em, o que eu sempre te disse? Nossos pais são malucos, mas


não somos eles. O que papai fez foi uma merda, e não vamos nos
enganar, mamãe vai perdoá-lo. Ela sempre perdoa. Não importa a
merda que ele a faça passar, ela aceita. Ela é cega quando se trata
dele. Nós não somos.

— Quando eu estava lá, sempre tentei desempenhar todos os


papéis para você. O irmão mais velho irritante, a figura paterna que
realmente ficava por perto e lhe dava algumas regras básicas e o
ouvido da mãe que você nunca recebia dela. Eu odeio não estar mais
aí para fazer isso. Mas eu não te deixei, Em. Nunca te deixarei. Eu
vejo você quando você precisa de mim. Eu ouço as palavras que você
diz e as que não. Quando você se sentir tão quebrada que não
consegue mais continuar, estou aí, Em, colocando meus braços em
volta de você para segurá-la. Mas você sabe o quê? Eu não tenho
tido que fazer muito isso ultimamente. Não desde que Ryan tirou
esse papel de mim. Eu não vou mentir, ele não teria sido minha
primeira escolha para você. Eu sabia que ele tinha uma queda por
você. Ele perguntava sobre você constantemente e não conseguia
tirar os olhos de você sempre que você estava por perto. Eu ignorei.
Eu precisei. Ele era meu melhor amigo e por mais que eu quisesse
nocauteá-lo, eu sabia que ele era um cara bom. Se você o escolheu,
então isso seria entre vocês dois. Contanto que ele te fizesse feliz,
isso seria tudo que importava para mim.
— Ems, o que ele fez não foi contra você. Foi contra nosso pai.
Foi um tapa na cara da injustiça que não deveria passar
despercebida. Papai não merece se safar com o que fez, e Ryan foi
forte o suficiente para defender isso. Em, você precisa agradecê-lo,
não enterrar o cara. Se eu conheço Ryan, e acho que conheço, ele se
sentirá um milhão de vezes pior do que você pode imaginar. Esse
cara age como se fosse um osso duro de roer, mas é um molenga no
coração. Peça a ele para lhe contar sobre o Battlefield, acho que
pode surpreendê-la.

— Então, irmãzinha, acho que o que estou tentando dizer com


meu jeito incoerente e desconexo é que você precisa ser mais
moderada com você e com Ryan também. Ele te ama. Eu sei que
você o ama. A vida é curta. Leve a felicidade para onde puder.
Segure-o com tanta força que você fique tonta com esta merda. Eu
quero que minha irmã aproveite sua vida. E se ele foder tudo, dê um
chute na bunda dele, mas ele certamente não vai. Deixe que ele seja
a força de que você precisa quando estiver muito cansada de
segurar tudo junto. Eu sei que você fará o mesmo por ele quando
chegar a hora, e vai fazer. Esqueça a culpa. Deixe ir. Imagine-me
vestido de Elsa cantando isso para você e quando terminar de rir,
ouça de novo e faça. Eu te amo, Em. Estou apenas a um batimento
cardíaco de distância.

Eu caio no chão soluçando. Eu não tinha ideia de onde tudo


isso tinha vindo. Toda aquela conversa que eu acabei de inventar
na minha cabeça me exauriu e me despertou ao mesmo tempo.

Eu respirei fundo, percebendo que precisava ver Ryan. Eu


queria estar com ele. Eu estava apaixonada por ele e tinha que
fazer isso funcionar. Minha família estava em pedaços aos meus
pés, meu nome era lama e meus sentimentos reduzidos a nada.
Mas os aspectos positivos da minha vida tinham que vencer. Meus
amigos, minha coragem para sobreviver e meu amor por um
homem que, no curto espaço de tempo que estivemos juntos, não
tinha feito nada além de me defender, com Chase, com minha
família. Sempre que eu precisava dele, ele estava lá. Eu não
superaria o que aconteceu durante a noite. Eu ainda nutria
alguma raiva por ele por não ter me contado primeiro, mas entendi
seus motivos. Agora, eu queria seguir em frente com ele ao meu
lado.

Eu olhei para o meu colo e vi a pequena corrente de


margaridas que fiz. Eu sorrio e penduro no canto da lápide de
Danny.

— Da próxima vez, vou trazer flores decentes. Por enquanto,


você pode ficar com minha corrente de margaridas. Eu sei o quanto
você adorava ter isso plantado em seu cabelo quando éramos
crianças. — Eu me levanto e aliso minhas mãos no meu jeans. —
Te vejo mais tarde, mano. Eu te amo.
Tiro meu telefone do bolso, mas depois de acendê-lo, ele me
mostra que eu tenho 1% de carga e desligo. Então, volto para o
centro comunitário, pensando que talvez encontre Ryan lá. A
polícia estava tomando depoimentos e as multidões de antes
haviam acabado, mas os meninos não estavam em lugar nenhum.
Virei-me para sair e foi quando notei Kian no canto da sala,
tentando não chamar atenção para si mesmo. Quando ele me viu,
ele se encolheu e, então, relutantemente, ele veio até mim.

— Eu sinto muito, Em. — Ele ergueu ambas as mãos enquanto


caminhava em minha direção, então parou e em voz baixa me
perguntou: — Você está bem?

Eu não estava pronta para ir a outra rodada com ninguém


sobre o que tinha acontecido esta noite, então fui direto ao
assunto. — Onde está Ryan?

— Ele não está aqui. Finn disse a ele que você viu tudo e ele
fugiu. O resto deles foi embora logo depois. Foi um show de merda,
Em. Eles prenderam seu pai.

Eu não dei a mínima para ele. Eu queria saber onde Ryan


estava. Eu estava exausta o suficiente sem ter que drenar a
verdade de Kian novamente.
— Onde, Kian? Onde eles estão?

— Eu não sei, mas se eu tivesse que adivinhar...

— Por favor faça. Eu não tenho tempo para isso — eu retruco,


pronta para fugir.

— O ginásio. A academia de Brandon, onde ele trabalha. É


onde eles geralmente se encontram. Claro, há a casa de Zak, mas...

Eu não o deixo terminar. Saio pela porta e viro à esquerda.


Cada minuto que eu estava longe dele parecia um quilo extra de
miséria pesando em meu peito. Eu não aguentava mais. Ele
segurou a válvula para fornecer alguma liberação. Se eu não o
encontrasse logo, tinha certeza de que iria implodir.

As luzes dentro do ginásio ainda estavam acesas, mas a placa


na porta dizia fechado. Eu empurrei independentemente e
encontrei um cara jovem na recepção.

— Tarde. — O cara me dá um sorriso arrogante, mas logo


desaparece quando vê como eu estava preocupada. — Você está
bem? Posso lhe ajudar com algo?

— Onde está Ryan? — Não me incomodo com segundos


nomes. Eu presumo que se Brandon trabalhava aqui e eles
usavam este lugar como seu ponto de encontro, ele saberia de
quem eu estou falando.

— Provavelmente lá fora com o Brandon. — Ele gesticula


através do ginásio para um conjunto de portas. — O ringue de boxe
está ali. Diga a Brandon que estou trancando agora... — Ele foi
dizer mais alguma coisa, mas eu apenas levantei minha mão para
mostrar que tinha ouvido. Eu não fiquei por perto. Eu tinha meu
foco em outro lugar.

Quando abri as portas, não encontrei os meninos, apenas


Brandon sentado na beira do ringue de boxe, curvado para a frente
e parecendo ter acabado de sofrer a pior derrota de sua carreira.
Quando ele ouviu a porta batendo atrás de mim, ele olhou para
cima, endireitou as costas e ficou de pé. Sempre achei difícil ler
Brandon e esta noite não foi diferente. Isso foi remorso? Ou
desafio? Ele ao menos sabia como se sentia?

— Ele está aqui? — Eu pergunto, olhando em volta de todos


os cantos sombreados da sala. Havia alguns sacos de pancada
suspensos no teto e o ringue que dominava o centro parecia ter
visto dias melhores.

— Não. Ele está procurando por você. Você está bem? — Ele
se aproxima de mim como se eu fosse um animal ferido e ele não
tem certeza da melhor forma de se aproximar de mim. Na verdade,
eu não tinha visto Brandon parecer nervoso ou vulnerável, mas
era assim que ele parecia agora. Ele estava sendo cauteloso.

— Não, Brandon. Eu não estou bem. — Ele para quando


nossos pés estão quase se tocando, e eu me sinto desconfortável
por estar tão perto dele, mas não recuo. Brandon vivia do medo
dos outros e eu não queria mostrar nenhuma fraqueza. Esta noite,
eu tinha que ter a vantagem.

— Você não deveria ver aquilo. Não fizemos isso para te


machucar, Em. — Suspiro. Eu já tinha ouvido muitas desculpas.
Eu não estava aqui para obter a versão de Brandon dos eventos.
Eu só precisava ver Ryan.

— Onde ele está? — Eu repito, ignorando seu olhar simpático


e evitando a segunda rodada de justificativas.
— Quando Kian nos disse que você ouviu tudo, eu me senti
mal. Nunca quis te machucar, Emily. Pensando que você estava lá
fora, com o coração partido, chorando. Isso fez algo para mim.

Tive vontade de lhe dar uma salva de palmas por sua atuação
vencedora do Oscar. Quem ele estava tentando enganar? Brandon
Mathers não se importava com os sentimentos de ninguém,
apenas com os seus. — Isso não é sobre você, Brandon. Preciso
falar com Ryan.

— Eu também me importo, Emily. Eu me importo mais do que


você imagina.

Eu não sabia qual era o seu jogo, mas não estava prestes a me
abrir para ele, não importa o quão arrependido ele tentasse
parecer.

— Tenho certeza que sim. Danny era amigo de todos vocês.


Você pode enviar uma mensagem de texto para Ryan e pedir a ele
para vir aqui?

Ele balança sua cabeça. — Eu preciso acertar as coisas entre


nós. Não posso suportar a dor que sinto. — Ele agarra a frente de
sua camiseta, fazendo uma careta. Ele não estava fazendo nenhum
sentido. — Estou morrendo por dentro, Em.

— Lamento que você se sinta culpado por cagar na minha vida.


Vou comprar uma cesta de presentes para você se isso fizer você
se sentir melhor. — Ele não abriu um sorriso, apenas se empurrou
mais para dentro do meu espaço pessoal.

— Você sabe que não é isso que eu quero dizer. Eu não posso
continuar assim. Depois do que aconteceu esta noite, percebi que
precisava consertar. Eu deveria ter lutado mais por você. Para nós.
— O que você está falando? — Eu faço uma careta, tentando
peneirar suas palavras distorcidas para encontrar algo que fizesse
sentido.

— Eu te amo, Emily. — Antes que eu pudesse respirar, sua


mão estava segurando minha nuca e ele estava me beijando, não
lento e gentilmente como Ryan, mas áspero e desesperado.

Usei minhas duas mãos em seu peito para afastá-lo. Quando


ele percebeu que eu não estava retribuindo o que quer que fosse
essa confissão de merda, ele deu um passo para trás e limpou a
boca com as costas da mão.

— Por que diabos você fez isso? — Eu engasgo, cobrindo minha


boca e lutando contra a bile que estava subindo.

— Eu sei que Ryan te ama, mas eu também. Eu sempre amei.

Eu esfriei ao ouvir essas palavras. O sentimento deles só me


deixou desconfortável e confusa. Eu não fiz nada para encorajá-lo.
De onde diabos estava vindo tudo isso?

— O quê? — Eu consigo balbuciar. — Você tem sido um ser


humano de merda para mim noventa e nove por cento do tempo
que te conheço, Brandon. Isso não é amor. Que tipo de jogo doentio
você está jogando?

— Eu não estou jogando uma porra de jogo. Tudo que estou


pedindo é uma chance. Eu quero uma chance de te fazer feliz.
Ryan teve sua vez, agora é a minha.

Ele parecia uma criança mimada brigando por um brinquedo.


Ele era inacreditável, porra.
— Oh, meu Deus! Eu não sou um prêmio que você pode
distribuir. — Ele realmente achava que é assim que funcionavam
os relacionamentos adultos? Você queria sua vez, então jogou seus
brinquedos fora do carrinho para pegá-los?

— Eu não quis dizer isso. Estou apenas informando que você


tem outras opções.

— Opções? Que porra é essa, Brandon? Isso é confuso. Eu não


te amo. Eu nem gosto de você. Eu não estaria com você mesmo se
você fosse o último homem na terra. Isso nunca vai mudar. Confie
em mim.

Ele fecha os olhos e quando os abre novamente, posso ver que


o velho Brandon estava de volta ao jogo. Aquele que usou o ódio
como arma para se proteger.

— Você acha que Ryan é tão especial, não é? Você acha que
ele é tudo isso. Você sabia que ele só saiu com você por vingança?
Ele fez o sacrifício para o time. Ele saiu com você para que
pudéssemos arrancar de você o que precisávamos. Era tudo sobre
seu pai, nunca sobre você. Você não significava nada para ele.
Naquele dia, quando você quebrou o carro e Ryan a salvou, ele
armou tudo. Tudo o que ele fez foi para descobrir a verdade. Ele
não te ama, Emily. Ele nunca fez isso. Era tudo mentira.

Eu sabia que ele estava atacando. Segundos atrás, ele me


disse que Ryan me amava. Agora ele estava tentando me virar
contra ele. Não funcionaria.

— Poupe seu fôlego. Eu sei tudo — eu digo, orando a Deus


para que ele não surgisse com mais nada para desafiar essa teoria.
— Eu sei que ele me usou no início e eu sei que foram vocês que
me perseguiram, até que eu desabei. Vocês queriam quebrar meu
pai e não se importavam se eu quebrasse também. Mas nada disso
importa agora. Não preciso me justificar para você ou qualquer
outra pessoa. Ryan me ama. Eu sei disso. Eu também o amo. Mas
você? Você não é nada. Você vive sua vida para fazer os outros se
sentirem sem valor. Você é como uma sanguessuga, se
alimentando da felicidade de outras pessoas. Não vou deixar você
fazer isso comigo ou com Ryan. Nada do que você diga mudará o
que sinto por ele. O que temos é mais forte do que isso.

Algo dentro dele estala e ele anda cambaleando para frente


novamente, tentando me agarrar.

— Que porra está acontecendo?

Os olhos de Brandon se arregalaram com a voz berrante e ele


vira a cabeça para encarar Zak e Finn que estavam na porta. Eu
fiquei enraizada no lugar. Eu não acho que precisava de palavras
para me defender. Minhas ações disseram o suficiente.

— Estou dando a ela algumas verdades caseiras. — Brandon


mostra aquele sorriso maligno que ele normalmente guardava para
seus oponentes no ringue. — Ela precisa saber onde ela está. Eu
disse a ela que Ryan a usou. — Ele dá mais um passo para trás e
encolhe os ombros como se não fosse nada. Zak e Finn pareciam
ter levado um tapa na cara.

— Você sabe que ele vai te matar quando descobrir? — Zak diz
a Brandon, então ele se vira para falar comigo. — Não é verdade,
Em. Ele não te usou.

— Eu sei a verdade. — Vou até a porta, me sentindo mais


segura perto de Zak e Finn do que com Brandon. — E está tudo
bem. Ele queria me usar, mas é mais do que isso agora. — Eu olho
de volta para Brandon. — Não importa o que alguém diga ou faça,
isso não mudará como eu me sinto.
— Ele te machucou? — Zak diz em voz baixa.

— Se um beijo pode doer, então sim, ele me machucou. — Eu


queria conseguir aquela última torção da faca. Brandon não
merecia ser defendido. Ele era bom o suficiente para desviar os
golpes que vinham em sua direção, então felizmente dei um dos
meus.

— Que porra? — A narina de Zak dilatou-se e ele marchou


para a sala. — Você beijou Emily? Você está louco? Você quer
cagar em tudo que construímos?

Brandon estreita os olhos para mim enquanto fala com Zak.


— Ela sabe por que eu fiz isso. Ela precisava saber. Eu não vou me
desculpar por isso. Eu estava dizendo a ela que existem outros
caminhos na vida. Ela não precisa se acomodar.

Quase engasgo com o ar. — Vai se foder, Brandon. Se eu me


contentasse com você, estaria me deixando passar por uma vida
inteira de miséria. Acho que mereço mais do que isso. Não é?

Eu não queria ficar para o bis. Eu tive confronto suficiente por


uma noite e esperava ter deixado minha postura bem clara no que
se referia a Brandon Mathers. O próprio diabo teria sido um
parceiro de vida mais atraente do que ele. Pelo menos com aquele
filho da puta você sabia no que estava se metendo.
No momento em que Finn me disse que ela tinha visto tudo,
meu mundo inteiro desabou ao meu redor. Eu deveria saber que
ela encontraria uma maneira de descobrir a verdade. Ela sempre
foi teimosa, mas eu esperava ter encoberto meus rastros bem o
suficiente para ganhar um pouco mais de tempo. Presumindo que
ela tivesse ido passar a noite na casa de Effy, eu apaguei a dor da
traição e me foquei no que tinha que fazer. Mas, olhando para trás
agora, ela nunca me disse abertamente que estava lá. Ela não me
disse nada e agora eu estava tentando juntar as peças quebradas
pela queda.

Eu me resignei ao fato de que ela me culparia. Eu não tinha


contado a ela e, no fundo, sabia que deveria. Ela tinha todo o
direito de saber, mas eu fui pego de surpresa por anos tramando
um plano de vingança. Quando os outros me contaram sobre
Danny, fiquei chocado, mas, para ser totalmente honesto comigo
mesmo, não me surpreendeu. Isso rasgou meu coração, mas não
foi nenhuma surpresa. O pai de Emily era implacável. Ele não se
importava em quem machucava em sua luta para o topo. Ele era
o cara que ultrapassaria qualquer um e todos para chegar lá.
Emily não merecia ter um pai tão ruim, nem Danny, ou a garota
secreta que ele manteve escondida do mundo.

Meu único objetivo agora era encontrar Emily. Ela precisava


de mim. Descobrir que toda a sua vida foi construída em uma teia
de mentiras decadentes e cafonas a estaria matando. Eu conhecia
minha garota e ela estaria passando por um turbilhão de emoções;
raiva, culpa, mágoa, traição. Pensar nela enfrentando isso partiu
meu coração. Eu tinha que estar lá para ela, mesmo se ela quisesse
me usar como seu saco de pancadas, eu aceitaria. Enquanto ela
continuasse falando comigo, isso era o principal. Falando para que
ela pudesse se curar.

Eu não poderia perdê-la. Agora não. Eu esperei anos para ter


a chance de ganhar seu coração. Acho que também estava fazendo
um ótimo trabalho depois de um começo morno alguns meses
atrás. Tê-la em minha vida tornava tudo mais brilhante. Ela trouxe
luz quando tudo sempre tinha parecido opaco e cinza. Ela me fazia
pular da cama quase todas as manhãs, e isso não era fácil. Eu era
um bastardo miserável logo de manhã. Mas foi isso que ela fez
comigo. Ela me curou de maneiras que eu nem sabia que estavam
quebradas; minha esperança, minha fé, meus sonhos para o
futuro. Agora era a minha vez de ser a força de que ela precisava.
Tudo que eu precisava fazer era encontrá-la.

Tentei ligar para o celular dela, mas sempre que o fazia, ia


direto para o correio de voz. Ligar para Liv e Effy também não
ajudou. Elas não tinham ideia de onde ela estava e não podiam
alcançá-la. Eu encobri o que tinha acontecido, preenchendo os
fatos básicos. Elas não tinham ouvido falar sobre isso, então
imaginei que a vergonha de Emily fosse mais profunda do que eu
imaginava. Ela não conseguia nem se abrir com suas melhores
amigas.

Deixei os outros arrumarem as coisas no centro comunitário.


A polícia tinha vindo prender Alec Winters e estavam tomando
depoimentos, mas consegui contorná-los e sair. Quando eu
finalmente estacionei do lado de fora da casa dela alguns minutos
depois, toda a propriedade estava envolta em escuridão. Coloquei
as mãos em concha para espiar pelas janelas, mas não consegui
ver nada. Não querendo deixar pedra sobre pedra, resolvi tentar os
fundos. O portão estava trancado, mas isso não me impediria de
entrar. Consegui pular facilmente. Tentei todas as portas, sem
esperar encontrar nenhuma aberta, mas, surpreendentemente, o
pátio não estava trancado corretamente e eu consegui entrar na
casa.

— Em? Baby? Você está aqui?

Corri pela cozinha, olhando para as salas de estar vazias


enquanto passava em disparada. Então eu corri escada acima,
mas ela não estava aqui. Ninguém estava. Seu quarto estava
silencioso, intocado. Eu atingi meu primeiro beco sem saída da
noite.

Agarrando minha nuca em frustração, eu forcei a cabeça para


tentar pensar onde mais ela poderia estar. Uma lâmpada acendeu
em meu cérebro. Pode ser um tiro no escuro, mas valia a pena
conferir.

Parei em frente ao antigo Asilo e desliguei o motor. Estava


assustadoramente escuro aqui e não havia sinal de vida, mas
imaginei que, se ela queria um lugar para se esconder, aquele seria
um lugar tão bom quanto qualquer outro.

Eu me espremi através da cerca quebrada e abri caminho


pelos escombros. Eu não conseguia ver nada, então usei a lanterna
do meu telefone para ajudar a iluminar meu caminho. Enquanto
eu empurrava para dentro do prédio, o som dos pássaros voando
ao redor com a minha perturbação me fez pular.

— Em? Sou eu. Você está aqui? — Gritei na escuridão, mas a


única resposta foi meu eco reverberando nas paredes e
estilhaçando meus nervos já dilacerados. Não parecia bom.
Eu ignorei a dor latejante em meu coração e fiz meu caminho
até a capela. Eu estava planejando trazê-la aqui esta semana. Eu
tinha tudo planejado. Um encontro com aquele toque especial de
Ryan e Emily. Mas agora, esses planos estavam caindo mais rápido
do que os tijolos podres e a tinta descascada nas paredes do asilo.

Quando cheguei à capela, com as luzes do arco-íris dos vitrais


dançando no interior escuro e empoeirado, parei. Ela não estava
aqui. Onde diabos ela estava? Eu ficaria sem opções.

Meu telefone vibrou ao receber uma chamada e, quando vi o


nome de Zak, atendi.

— Ryan, cara. Onde você está? — Zak parecia frenético. Senti


um pico de adrenalina ao ouvi-lo assim. Eu sabia que não ia gostar
do que ele estava prestes a me dizer.

— Estou procurando Emily. Ela está com você? — Eu cerro


meus dentes esperando sua resposta. Meu estômago estava em
nós. Eu sabia que Finn tinha falado com ela e defendido minha
causa, e eu era grato a ele por isso. Não foi o ideal. Eu preferia
falar com ela eu mesmo, mas pensar que ela ouviu tudo dos outros
antes de mim, obtendo conforto deles, isso me irritava mais.

— Ela estava.

Minha boca ficou seca. Que porra de tipo de resposta foi essa?

— O que você quer dizer com ela estava? Onde diabos ela está
agora?

Eu estava perdendo minha merda rapidamente.

— Eu acho que você precisa vir para a academia. Não quero


fazer isso por telefone.
Eu não tive tempo para suas besteiras. Cortei a ligação e corri
para fora da capela. Assim que voltei para a van, tentei ligar para
Zak novamente no viva-voz enquanto dirigia, mas ele não atendeu.
Nenhum deles fez. O que diabos eu vou descobrir quando chegar
lá?

Eu caminhei através das portas para a sala dos fundos, onde


Finn, Zak e Brandon estavam em algum tipo de impasse estranho.

— Diga-me o que diabos está acontecendo? — Eu olhei para


cada um deles, mas todos eles pareciam culpados pra caralho e
olhavam para seus pés como um bando de idiotas. — O que
aconteceu? Onde ela está?

— Ela decolou cerca de meia hora atrás. Não tenho ideia de


para onde ela foi. Sinto muito, cara. — Finn era um cara bom. Ele
gostava de manter a paz. Mas eu não precisava de sua merda
neutra apologética agora. Eu precisava de respostas. Era óbvio que
algo havia acontecido.

— Por quê? O que diabos aconteceu?

Brandon se levantou e cruzou os braços sobre o peito. Eu


poderia dizer imediatamente pela postura defensiva que o que quer
que fosse, o maldito Brandon Mathers tinha escrito tudo sobre ele.

— Você a aborreceu? Juro por Deus, Brandon, se você fez algo


com ela, vou te matar.

Não foi Brandon quem falou em seguida, foi Zak, e o que ele
disse fez o sangue correr para meus ouvidos e meu cérebro se
afogar em uma mistura de ruído branco e raiva.
— Brandon deu um golpe nela. Ele beijou Emily e quando ela
o empurrou, ele disse que você não a amava, que era tudo uma
grande piada. Ele disse que você só estava saindo com ela para se
vingar do pai dela. — Zak olhou para Brandon enquanto ele falava.
Eu não conseguia nem ver direito. Se ele queria ver como seria a
vingança, ele estava prestes a receber uma grande lição.

— Bem, foi. Não foi? — Brandon teve a coragem de encolher


os ombros, como se o que Zak disse não significasse
absolutamente nada. — Eu tirei a garota de sua miséria. Eu não
aguentava vê-la ansiar por você por mais um minuto. — Ele se
virou para mim e sorriu. — Acho que te fiz um favor. Não há
necessidade de um longo rompimento.

Eu enlouqueci.

Eu realmente perdi o controle.

Eu corri até Brandon, jogando meu corpo inteiro no dele e o


jogando no chão. Ele não resistiu e quando eu recuei e dei um soco
no rosto dele, ele riu. O filho da puta realmente riu.

— Ela não acreditou nele. — Finn gritou enquanto eu dava


outro golpe no rosto sorridente e feio do meu ex-melhor amigo. —
Ela disse a Brandon que te amava. Ela te ama, Ry. Cara, ela sabe
que você a usou desde o início e não liga. Ela disse que nada que
ele pudesse dizer mudaria a maneira como ela se sentia.

Eu sabia o que Finn estava fazendo. Ele odiava confronto. Mas


isso não era sobre os sentimentos de Emily por mim, se o que ela
disse era verdade ou não. Tratava-se de Brandon fazendo o que
sempre faz; tratando as pessoas como peões em seus jogos fodidos
e evitando todas as consequências. Ele colocou as mãos na minha
garota esta noite. Ele disse coisas que eu nunca o perdoaria. Ele
era um homem morto andando até onde eu estava preocupado.
Continuei chovendo golpe após golpe no rosto de Brandon,
mas ele continuou rindo como um maníaco. Então eu senti a força
de ser puxado para trás. Zak e Finn estavam me arrastando para
longe dele, me dizendo que ele não valia a pena e para deixar para
lá.

— Deixe pra lá? Deixar ir, porra? Ele beijou minha namorada.

— Sua namorada falsa. — Brandon cuspiu sangue no chão e


se sentou, olhando para mim.

— Nada sobre o nosso relacionamento foi falso. Porra, você


sabe tudo.

— Eu sei que ela ainda é virgem. Se você me deixasse cuidar


dela como sugeri no início, eu teria dado um tapinha nessa bunda
em poucos dias. Provavelmente encerraria a merda com seu pai
mais cedo também. Você é um maldito covarde, Ry.

Lanço-me em direção a ele novamente, mas Zak e Finn são


mais rápidos desta vez e me seguram.

— Você a beijou. Porque fez isso? Você sabia o que eu sentia


por ela. Não era sobre seu pai. Não é sobre ele há muito tempo. Por
que diabos você faria isso comigo?

O sorriso em seu rosto desapareceu e ele se inclinou para


frente, esfregando as mãos no rosto. Ele engavetou a bravata e
estava tentando parecer sincero.

Muito tarde, seu bastardo traidor.

— Eu também a amo — ele diz baixinho enquanto abaixava a


cabeça de vergonha.
Eu não conseguia acreditar no que estava ouvindo. Ele estava
falando sério?

— Que porra você acabou de dizer?

— Você me ouviu. Eu também a amo. Achei que deveria


arriscar. — Ele dá de ombros, então eu observo sua expressão
mudar, caindo de volta no velho Brandon. Aquele que não se
importava com ninguém além de si mesmo. — Talvez ela só
estivesse namorando você para tentar me atingir o tempo todo. —
Eu rio. O homem estava delirando.

— Ela te odeia pra caralho, cara. Ela não consegue nem ficar
na mesma sala que você. — Zak e Finn me seguram enquanto eu
ficava tenso contra eles, tentando me libertar. O fato de ele ter dito
à minha namorada que a amava me fez querer desabar sobre ele.
Eu queria bater nele até que eles tivessem que usar registros
dentários para identificar sua carcaça de merda. O pensamento
dele perto dela me deixou louco. A ideia dela em seus braços me
tornava um assassino. O fato de que ele provavelmente passava
cada momento em sua presença pensando nela daquela maneira
me deixou perturbado e homicida. Ela não era dele. Ela era minha
garota. Ela sempre foi e sempre seria.

— Eu deveria estar rindo de você. — Eu relaxo no aperto de


Zak e Finn e sorrio, sabendo que tinha o poder de machucar
Brandon mais do que qualquer soco poderia. — Você realmente
achou que ela diria que ela te amava de volta? Por que ela amaria
um idiota como você? O que você teria a oferecer a uma garota
como Emily? Você não é nada. Mesmo sua própria mãe não queria
você.

Foi um golpe baixo, mas eu já estava na sarjeta. Era tudo que


eu tinha para lutar.
— Vai se foder, Ryan. Não pense que ainda vai levar para casa
nenhum troféu de namorado do ano. Ela sabe que você a usou.
Posso ter uma família de merda, mas pelo menos eu assumo isso.
Eu sei quem eu sou. E você? Não sabe quem você é de um dia para
o outro.

— Oh, eu sei exatamente quem eu sou. Eu sou o cara que vai


estar ao lado dela todos os dias. Não sou eu que estou mentindo
para si mesmo, perdendo-se em encontros de uma noite sem nome
e sem rosto para tentar abafar a rejeição que sente todos os dias
desde que nasceu. Usando os punhos para entorpecer a dor de ser
um perdedor e um idiota. — Eu queria dizer mais coisas, mas Finn
se intrometeu.

— Isso é o suficiente, Ry.

Eu me virei para Zak e Finn, mas eles não conseguiam nem


me olhar nos olhos.

— O suficiente? Ele colocou as mãos na minha garota e


quebrou o coração dela. Ele me apunhalou pelas costas com
aquele grande sorriso no rosto. O suficiente? Nunca será o
suficiente. Não para mim.

Vou até onde Brandon está sentado, curvado no chão. Ele olha
para mim com desafio em seus olhos e eu procuro dentro de mim
tentando encontrar um pingo de pena do cara, mas não tenho
nenhum. Eu o detesto. Não, eu o odeio.

— Para mim acabou — eu digo sem emoção. — Eu terminei


com você, com este ginásio, as mentiras, os pequenos insultos. Eu
terminei com todos vocês. As merdas do Renaiscense, as festas, o
dinheiro. Acabou.
Zak dá um passo à frente e agarra meu braço, tentando me
forçar a me virar e olhar para ele. — Você não quer dizer isso, cara.
Vamos. Brandon fodeu como sempre faz, mas vamos descansar.
Falaremos sobre isso pela manhã.

— Você não está me ouvindo. — Tiro meu braço de Zak, mas


mantenho meus olhos em Brandon. — Eu não quero falar com
nenhum de vocês. É com ela que quero falar e não consigo
encontrá-la porque você a mandou embora. Ela é tudo o que
importa. Ela vem antes de qualquer um de vocês. Então não conte
comigo. Acabou para mim. Emily vem primeiro. Não tenho tempo
para o resto de vocês. Vocês todos podem ir para o inferno.

Eu não queria mais estar lá. Brandon tinha mijado por toda a
minha vida. Eu não conseguia nem respirar o mesmo ar que ele.
Eu me virei e me dirigi para a porta.

— Por favor, Ry. Não diga isso. Tudo está aquecido agora. Não
diga coisas das quais você se arrependerá amanhã. — Finn estava
delirando se pensasse que poderíamos resolver isso durante um
café e alguns jogos de Call of Duty. Brandon tinha cortado qualquer
esperança de amizade comigo esta noite. O que ele fez foi
imperdoável. Eu não queria estar em qualquer lugar que ele
estivesse.

— A única coisa de que vou me arrepender é de ter ouvido


vocês e não contado a Emily sobre o pai dela. Todo o resto não
significa nada.

Brandon salta de seu lugar de pena no chão. — Você quer sair,


então vá se foder. Nós não precisamos de você de qualquer
maneira. Eu, Zak e Finn, vamos nos dar bem. E quando ela
finalmente der um chute na sua bunda, não volte correndo para
nós.
Olho por cima do ombro e dou a Brandon minha chance de
despedida. — Eu não quero ver você nunca mais. Fique fora do
meu caminho se você sabe o que é bom para você. Nossa amizade
acabou.

Eu dou um golpe com o ombro em Finn enquanto saio do


ginásio sem olhar para trás. Eu estava superando todas as merdas
deles. O único lugar onde eu queria estar era com Emily;
segurando-a em meus braços e me certificando de que essa noite
horrível de Deus não nos tivesse destruído para sempre.

Eu me senti quebrado por dentro, como se as lascas do meu


coração estivessem penetrando meus pulmões, tornando
impossível respirar.

Ela era a única que poderia fazer isso melhorar.

Ela era tudo para mim.


Eu tinha ficado sem ideias. Eu não tinha noção para onde
seguir. Estava ficando tarde, mas eu não desistiria. Dirigi até a
casa de Effy, pensando que talvez ela tivesse ido para lá depois de
deixar o ginásio. Uma olhada no rosto de Effy me disse que ela não
tinha novidades. Ela estava tão preocupada quanto eu. Ela ligou
para Liv enquanto eu estava parado na porta, andando de um lado
para o outro, mas também não tivemos sucesso nisso. O telefone
de Emily ainda não estava conectando e eu estava começando a
entrar em pânico.

Decidi voltar para casa e pegar o carregador do meu telefone.


Estava funcionando com cinco por cento e eu precisava mantê-lo
pelo resto da noite. Estava determinado a dirigir por cada maldita
rua até encontrá-la. Eu não me importava quanto tempo levaria.
Eu não estava desistindo. Dirigi pela casa dela novamente na
chance remota de que ela pudesse ter ido para casa, mas o lugar
ainda estava às escuras.

Quando finalmente parei do lado de fora da minha casa,


percebi que o carro de Connor havia sumido e entrei em sua vaga.

A casa estava em silêncio. Papai estava de folga na feira de


negócios e Connor estava sabe Deus onde, para passar a noite. Eu
subi as escadas de dois em dois, desesperado para pegar meu
carregador e dar o fora de lá. Quando abri a porta do meu quarto,
parei no meio do caminho. Lá, em um pequeno pacote sob o
edredom, estava minha Emily. Achei que ela estava dormindo,
enfiada em segurança sob as cobertas da cama, e prendi a
respiração por um segundo, grato por ela estar aqui. Todo esse
tempo eu estive correndo pela cidade como um louco e ela esteve
comigo o tempo todo. Era eu para quem ela tinha corrido.

Ela se virou lentamente para me encarar. O quarto estava


escuro, exceto pelo brilho dos postes de fora, e levei alguns
segundos para meus olhos se ajustarem, mas eu poderia dizer que
ela estava chorando. Todo o seu corpo parecia derrotado enquanto
ela estava lá, olhando para mim.

— Connor me deixou entrar — ela disse calmamente na sala.


— Espero que esteja tudo bem.

— Claro que está tudo bem. — Fechei a porta atrás de mim e


fui direto para ela, sentando na cama e estendendo a mão para
acariciar seu cabelo. — Eu estava preocupado com você. Eu dirigi
em todos os lugares esta noite procurando por você. Por que você
não atendeu minhas ligações?

— Meu telefone não tinha carga. Sinto muito — ela diz, mas
ela não tinha nada para se desculpar. Era eu que precisava me
desculpar. Eu deveria estar de joelhos agora, implorando para ela
me perdoar.

— Em, eu sinto muito. Eu não...

Ela se sentou e colocou os braços em volta de mim.

— Eu sei, Ryan. Não posso falar mais sobre o que aconteceu


com papai esta noite. Eu não posso lidar com isso ainda. Eu vou,
eu prometo, mas não agora. Eu não te culpo. Eu entendo porque
você fez o que fez. Mas esta noite, eu simplesmente não posso
dissecar mais um segundo disso. Eu apenas preciso de você.

Ela se afastou e pegou minha mão na dela. Foi quando ela


notou os arranhões em meus dedos.

— O que aconteceu?

— Mathers. Foi o que aconteceu. Ele me contou o que disse a


você esta noite... E o que ele fez. Eu dei um soco nele e disse-lhe
para ir para o inferno. Eu terminei com isso, Em. Eu tive o
suficiente.

— Você sabe que eu não acreditei nele, certo? Sei que não
tivemos a largada mais convencional, mas sei que o que temos
agora não é falso. É real. Para mim, de qualquer maneira. — Ela
traçou seu polegar suavemente sobre meus dedos, mas olhou para
baixo como se esperasse que eu a contradisse.

— É real para mim também. Amo você, Emily. Sempre amei e


sempre irei.

Ela olhou de volta para mim, seus olhos arregalados e sua


boca aberta como se ela não pudesse acreditar no que estava
ouvindo. Ela realmente duvidou de mim? Eu pensei que tinha
deixado meus sentimentos muito claros. Mas talvez não? Eu iria a
partir deste momento, com certeza.

— Você é tudo para mim, Em. De agora em diante, você sempre


estará em primeiro lugar, antes de todos eles. Você é o que mais
importa para mim.

— Eu também te amo. — Ela segurou minha bochecha em sua


mão e eu me inclinei, adorando estar tão perto dela. — Eu vim aqui
porque precisava estar com você. Achei que você voltaria para casa
eventualmente, e não pude evitar de ficar em sua cama. Cheira a
você. É meu cheiro favorito. — Ela corou e vê-la toda
envergonhada, bonita e sexy, enrolada nos lençóis da minha cama,
fez algo comigo. Eu soube então que morreria por essa garota.

— Posso deitar com você? Se eu não tiver você em meus braços


nos próximos segundos, acho que vou enlouquecer. — Ela riu e se
arrastou para trás para me dar espaço para ir para a cama. Ela
estava completamente vestida, mas eu me levantei e tirei meu
moletom, então desabotoei meu jeans e o puxei para baixo. Seus
olhos se arregalaram enquanto ela me observava.

— Eu não quero nenhuma barreira entre nós esta noite — eu


digo, me inclinando para agarrar seu moletom e puxá-lo para cima
e sobre sua cabeça. Ela levanta os quadris e desabotoa a calça
jeans sob as cobertas e eu observo enquanto ela os tira e os deixa
cair no chão.

— Assim está bom? — Eu pergunto, subindo sob as cobertas


e agarrando-a pela cintura para puxá-la para mim.

— Mais do que bom. — Ela suspira. Ela estava quente e


cheirava a baunilha e a mim. Enterrei minha cabeça em seu
pescoço, para que eu pudesse encher meus pulmões com ela.
Estar com ela assim parecia tão certo, como voltar para casa. Eu
nunca senti isso antes, como se tudo que eu precisasse era estar
com ela e tudo ficaria bem.

Eu não queria colocar nenhuma pressão sobre ela. Eu não


estava aqui para nada além de confortá-la. Mas quando ela ergueu
os lábios nos meus e começamos a nos beijar, não pude evitar que
meu corpo reagisse. Eu a queria muito. A dor que senti foi
dolorosa. Ela passou os dedos pelo meu cabelo e raspou as unhas
na parte de trás do meu couro cabeludo. Eu adorava quando ela
fazia isso, me dava arrepios. Eu mantive meus braços em volta de
sua cintura, mas meus quadris tinham uma mente própria, e
agora eles estavam se esfregando nela, deixando-a saber
exatamente o quanto eu gostava dela estar na minha cama.

Nosso beijo ficou mais frenético e eu a rolei, então ela estava


deitada de costas. Minha língua deslizou sobre a dela, provando e
provocando nós dois até que estávamos ofegantes e nos
contorcendo sob as cobertas. Usei ambos os braços para me
segurar sobre ela. Eu não queria fazer ela se sentir desconfortável.
Lentamente, me afastei do nosso beijo e com uma mão acariciei
seu rosto e olhei em seus olhos. Seus lábios estavam inchados e
suas bochechas estavam vermelhas. Ela era a garota mais linda
que eu já vi, e ela era toda minha.

— Eu te amo muito, Em. — Eu inclinei minha testa sobre a


dela e a inspirei como se ela fosse o meu ar.

— Eu também te amo. — Ela mordeu o lábio e me puxou para


abraçá-la. Então, na voz mais baixa e sem fôlego que eu já ouvi ela
usar, ela suspirou: — Faça amor comigo, Ryan. Por favor.
Não conseguia me conter mais. Eu precisava chegar o mais
perto dele possível. Eu queria essa conexão. Eu queria que ele
fosse meu primeiro, meu último, meu único. Ele ficou imóvel por
um segundo, respirando fundo antes de finalmente responder.

— Tem certeza, baby? Não há pressão. Podemos apenas nos


abraçar.

Eu amava os abraços de Ryan, mas esta noite eu precisava de


mais.

— Eu quero que você tire a dor. — Assim que disse isso, soube
que havia formulado errado.

— Em, não faça isso para bloquear o que aconteceu esta noite.
Você pode acordar amanhã e se arrepender. Eu não quero que você
se arrependa de nada sobre nós.

— Não. Eu não quis dizer isso. — Viro minha cabeça para olhar
para ele, para que ele pudesse ver exatamente o quão fortes eram
meus sentimentos. — Eu quero você, Ryan. Eu quero te amar tão
profundamente e tão forte quanto eu puder. Eu preciso disso. Essa
conexão que temos é tão forte. Eu não posso me conter mais. Eu
quero isso com você. Eu quero que você me ame de todas as
maneiras que puder.
— Eu te amo em todos os sentidos.

— Então cale a boca e me beije.

Seu corpo estava metade sobre o meu e eu já podia sentir o


quão duro ele estava pela forma como seus quadris se apertavam
em mim. Quando ele me beijou novamente, foi terno e amoroso.
Sua língua acariciou a minha e ele gemeu enquanto nos
aproximávamos, mas ainda não estávamos perto o suficiente.

Corri minhas unhas por suas costas e, em seguida, agarrei


sua bunda enquanto ele balançava contra mim. Eu amava sua
bunda. Era redonda, musculosa e parecia tão sexy ao flexionar
enquanto ele circulava seus quadris. Corri meus dedos sob o cós
de sua boxer e deslizei para baixo. Ele se afastou, quebrando o
beijo e ofegando pesadamente enquanto a chutava. Seu pau era
grosso, duro e bateu contra minha coxa quando saltou livre. Eu o
segurei e esfreguei lentamente, passando meu polegar sobre a
ponta que tinha uma pequena gota de umidade ali. Então eu
segurei suas bolas e o gemido que ele deu quando afundou no
travesseiro e acariciou meu pescoço me estimulou ainda mais.

Ele abriu as pernas para me dar melhor acesso e então sua


boca começou a explorar também. Beijando da minha orelha ao
pescoço e descendo em direção aos meus seios. Ele alcançou a
parte de trás do meu sutiã e o desabotoou. Em seguida, ele o
puxou e jogou no chão. Ele agarrou um seio em suas mãos,
massageando e acariciando meu mamilo enquanto lambia e
chupava o outro em sua boca quente.

Eu empurrei para frente nele e fechei meus olhos, me


perdendo nas sensações. A maneira como ele usava suas mãos e
boca em mim me fazia latejar entre as pernas. Eu estava tão
molhada, tão excitada que mal conseguia respirar.
Comecei a circular meus quadris nele, desesperada por
qualquer tipo de atrito. Ryan podia ler meu corpo melhor do que
eu, ele moveu sua mão para minha calcinha, empurrando seus
dedos por baixo enquanto sua língua continuava lambendo e
chupando meu mamilo, me deixando louca. Ele correu seus dedos
ao longo da minha umidade e eu abri minhas pernas, precisando
que ele fosse mais longe. Seu dedo circulou meu clitóris e meus
quadris resistiram com o contato. Ele empurrou um dedo dentro
de mim e eu arqueei minhas costas para fora da cama, gemendo
quando ele o enrolou dentro e me fez ver estrelas na escuridão de
seu quarto. Seus dedos deslizaram para dentro e para fora de mim,
e usou o polegar, depois a palma da mão para esfregar o meu
clitóris. Eu gemi mais alto, ele moveu sua boca do meu mamilo aos
meus lábios, capturando cada som que eu fazia, alimentando-se
deles. Sua língua se movia no mesmo ritmo de seus dedos e eu
engasguei, sentindo meus nervos ganhando vida.

— Eu vou gozar — eu digo, balançando em sua mão e


bombeando seu pau ao mesmo tempo.

Então, eu sinto.

Essa explosão de êxtase direto do meu núcleo, irradiando por


toda parte e fazendo todo o meu corpo tremer.

Ele gentilmente me puxou de volta do céu e, em seguida,


puxou sua mão para fora da minha calcinha e se levantou,
puxando-a pelas minhas pernas e me expondo a ele
completamente. Eu me sentia inchada e hipersensível, mas não
queria que nossa noite acabasse ali.

— Se você quiser parar a qualquer momento, diga-me, ok? —


Ele me olhou bem nos olhos enquanto falava. Ele ainda não tinha
gozado e eu estava desesperada para senti-lo dentro de mim. Eu
balancei a cabeça, e ele se inclinou para seu armário de cabeceira,
abriu a gaveta de cima e tirou um preservativo.

— A qualquer hora — ele repetiu enquanto rasgava a folha com


os dentes. — Você pode parar com isso a qualquer momento. —
Eu balancei a cabeça novamente enquanto ele rolava a camisinha.
Então ele se acomodou entre minhas pernas e puxou meus joelhos
para o alto. — Eu não quero machucar você, baby. Vou o mais
devagar que puder.

Ele esfregou-se para cima e para baixo na minha boceta, então


ele colocou seu pau sobre a minha entrada e eu tentei relaxar e me
abrir para ele o melhor que podia. Ele colocou os dois braços ao
lado da minha cabeça e olhou bem nos meus olhos enquanto ele
cutucava lentamente em mim. Senti uma dor aguda quando ele
empurrou o que parecia ser uma barreira impossível e não pude
evitar de fazer uma careta. Ele congelou instantaneamente.

— Você está bem?

Eu balancei a cabeça e agarrei-o pelo pescoço para puxá-lo


para mim.

— Não pare — eu sussurrei em seu ouvido e ele colocou a mão


sob meu joelho esquerdo para levantar minha perna mais alto. Ao
fazer isso, ele empurrou para frente e eu gritei, sentindo um
estiramento imperdoável quando ele me preencheu
completamente.

Seus quadris estavam pressionados contra os meus, mas ele


não se moveu. Ele respirou fundo enquanto me deixava acostumar
com ele estando dentro de mim assim. Eu estava suando e
tremendo com o que agora percebi ser nervosismo, mas logo a
picada se tornou uma dor surda.
— Você está bem? — ele perguntou novamente, soando como
se ele estivesse tudo menos isso.

Passei meus braços em volta dele e beijei seu pescoço. — Eu


te amo — eu digo. Eu queria chorar, mas segurei. A intensidade
desse momento estava me afogando.

— Eu também te amo. — Ele me beijou suavemente nos lábios


enquanto eu sentia uma pulsação suave entre minhas pernas. Era
ele ou eu? Eu não tinha ideia, mas quando ele disse: — Vou
precisar me mudar agora, baby. Isso está me matando. — Eu
sorrio e mexo meus quadris.

Ele gemeu e então eu o senti sair de mim antes de deslizar de


volta lentamente. Ele começou a girar os quadris e empurrar, e
cada vez que ele fazia sentia melhor do que a última.

Eu o segurei perto enquanto ele balançava em mim e eu


angulei meus quadris, para que pudesse espelhar seus
movimentos.

— É isso aí, baby. — Ele gemeu quando inclinei meus quadris


para levá-lo mais fundo. — Puta merda.

A onda de amor que senti por ele naquele momento enquanto


ele empurrava dentro de mim era tão esmagadora que eu não
conseguia o suficiente. Nossos corpos trabalhavam juntos;
moendo, esfregando e enviando nós dois para a borda para
eventualmente cair daquele penhasco. Estávamos ofegantes
enquanto nos agarrávamos um ao outro. Eu envolvi minhas
pernas com força em torno dele e ele segurou minha coxa enquanto
batia em mim com mais força do que antes. Ele estava se
desfazendo.
— Mais forte, Ry. Por favor — eu imploro, e ele tira a mão da
minha coxa para chegar entre nós e esfregar meu clitóris. Em
segundos, eu estava gozando forte, apertando seu pau e gritando
com a intensidade do prazer. Isso foi mais forte do que os outros
orgasmos. Foi poderoso e enquanto eu cavalgava onda após onda
de êxtase eu estremeci, agarrando-me a ele enquanto ele
continuava a balançar dentro de mim.

— Jesus. Porra — ele gritou e então gemeu. Eu o senti


engrossar e, pela maneira errática como ele se movia, imaginei que
ele também estava gozando.

Nunca esperei que minha primeira vez fosse tão especial como
foi. Eu estava totalmente preparada para algum tipo de história de
terror ou decepção, a julgar pelo que Liv e todas as outras garotas
da escola falaram. Mas com Ryan foi perfeito. Ele era perfeito. Eu
estava tão feliz por ter esperado para encontrá-lo.

Minha pessoa.

Minha alma gêmea.

Meu mundo inteiro.

Deitamos juntos, recuperando o fôlego. O corpo de Ryan me


prendeu no colchão, mas eu não me importei. Gostei de sentir o
peso dele em mim. Eu amei ouvi-lo sem fôlego por minha causa.
Assim que estabilizamos nossa respiração, ele sussurrou: —
Vamos fazer muito isso de agora em diante.

Eu rio.

— Vou cobrar isso de você.


Quando ele saiu de mim, suspirei. Não gostei de me sentir
vazia novamente. Ele se sentou e tirou a camisinha, em seguida,
saiu para o banheiro, dando-me uma vista soberba de sua linda
bunda. Quando ele voltou, ele tinha um pano na mão e se ajoelhou
e começou a me limpar.

— O que você está fazendo? — Eu me contorci ligeiramente.


Eu me sentia dolorida, mas seu pano quente estava ajudando.

— Eu deixei você toda suja, então estou limpando você. Eu


levaria você para o chuveiro, mas acho que você precisa descansar.
— Ele piscou para mim e eu balancei minha cabeça, sorrindo.

— Eu deveria tomar banho... — Eu levantei minhas mãos e


bocejei. — Mas farei isso mais tarde.

Ele se inclinou e deu um beijo em meu ponto mais sensível e


disse: — Sinto muito por te machucar, mas para que fique
registrado, eu realmente gostei.

— Você está falando com a minha vagina? — Eu rio olhando


para ele.

— Sim. Sua boceta é minha nova melhor amiga.

— Oh, meu Deus. Eu simplesmente não consigo acreditar


nisso. Você é inacreditável. — Cubro meu rosto de vergonha.

— Eu sei. Você me ama, no entanto.

— Eu amo. Muito.

Ele joga o pano no chão e rasteja de volta na cama, puxando-


me para ele, e antes que eu percebesse, nós dois estávamos
dormindo.
Acordei sentindo o peso dos braços de Ryan em volta da minha
cintura e o calor de seu corpo envolvendo o meu. Eu não queria
me mover e acordá-lo. Eu queria ficar aqui o máximo que pudesse
e saborear este momento. Ficando o mais imóvel que pude, ouvi
sua respiração constante, sentindo-a dançar na minha nuca. Senti
seu peito subir e descer contra minhas costas e, apesar de tudo o
que aconteceu, me senti segura.

Eu sabia que hoje traria um novo conjunto de desafios e dores


de cabeça para o meu caminho, mas era assim que eu queria
acordar todos os dias; nos braços do homem que eu amava,
sentindo-me querida e adorada.

Ele começou a se mexer atrás de mim e quando beijou meu


pescoço e começou a acariciar meu cabelo, levantei minha mão
para segurar seu rosto.

— Bom dia, linda — diz ele, aninhando-se no meu cabelo,


puxando-me ainda mais para ele. Eu mexi minha bunda e ele
gemeu. — Eu poderia me acostumar com isso todas as manhãs.

— Eu também — respondo, empurrando minha bunda contra


ele e sentindo o quão duro ele estava.
Suas mãos começaram a vagar, acariciando minhas coxas em
uma massagem preguiçosa e então ele puxou minha perna para
cima e para trás, para que eu estivesse mais aberta para ele. Sua
respiração estava ficando irregular e quando ele passou os dedos
ao longo da minha boceta, ele gemeu. Eu estava molhada e,
embora ainda me sentisse dolorida da noite passada, eu o queria
mais do que qualquer coisa.

Ele circulou meu clitóris e me esfregou com seus dedos


experientes. Meus quadris começaram a balançar suavemente
junto com ele, e quando ele empurrou um dedo dentro de mim, eu
engasguei.

— Eu preciso de você.

— Você quer um pouco de sexo matinal preguiçoso, baby? —


Ele não precisava perguntar. Meu corpo já havia respondido por
mim.

— Não tenho certeza sobre o preguiçoso, mas sim, eu quero.

Seu pau estava pressionado contra minha bunda e ele estava


me esfregando enquanto me fodia com os dedos. Seu outro braço
ainda estava sob minha cintura, segurando-me com força contra
ele. De todas as bolhas que ele criou para nós, esta era a minha
favorita.

Ele se inclinou para a gaveta ao lado da cama e tirou outro


preservativo. Então ele se afastou um pouco e puxou o edredom
de cima de nós. Ele queria ver o que estava fazendo; se observar
deslizando dentro de mim.

Ele esfregou seu pau ao longo de minhas dobras, espalhando


minha umidade e me fazendo esfregar de volta nele. Então ele
estava lá, empurrando dentro de mim e puxando minha perna
para cima enquanto ele fazia, para que pudesse obter o ângulo que
queria. Eu esperava uma picada, mas desta vez foi diferente. A
maneira como ele me esticou não foi dolorosa, foi fodidamente
incrível e eu arqueei minhas costas para ele, querendo mais.

O sexo preguiçoso sobre o qual ele falou se transformou em


outra coisa. Ele saiu de mim e bateu de volta com mais força, cada
estocada batendo contra minha bunda e me fazendo gemer. Eu
segurei a coluna de metal da cama enquanto ele agarrava meus
quadris e entrava em mim cada vez mais forte. Eu empurrei de
volta para ele, meus quadris girando e movendo-se no tempo com
os dele. Enquanto ele aumentava o ritmo, eu também aumentava.
Trabalhamos juntos para nos levar ao limite. Cada impulso me
deixava com fome por mais e estendi meu braço para agarrar sua
bunda enquanto usava a coluna da cama para me equilibrar.
Estávamos fodendo com tanta força e rapidez que parecia que ia
cair da cama se me soltasse.

Enterrei meu rosto no travesseiro. Meus gritos eram tão altos


que provavelmente podiam me ouvir no caminho, mas não me
importei. Eu estava tão perto. Eu movi minha mão para agarrá-lo
pelo pescoço. Estávamos ambos ofegantes, sem fôlego, perdidos
um no outro.

Ryan segurou minha barriga com uma mão e se abaixou para


esfregar meu clitóris com a outra, e antes que eu pudesse gritar,
eu gozei forte, me contraindo e apertando em torno dele. Ele
grunhiu e eu o senti pulsar dentro de mim. Ele estava gozando
também. Eu o deixei cavalgar, trazendo nós dois da órbita que
tínhamos acabado de circular. Nossas estocadas fortes se
transformaram em um balanço constante e então ele afundou a
cabeça no meu travesseiro e beijou meus ombros e pescoço
suavemente, o tempo todo sussurrando que me amava. Não pensei
que fosse possível sentir esse tipo de amor feroz. O tipo de amor
em que você precisa daquela pessoa mais do que de ar e água, mas
eu senti, naquele momento. Um amor que era cru, dolorosamente
lindo e exclusivamente nosso. Um amor que parecia tão poderoso
que só precisávamos um do outro para sobreviver. O resto do
mundo parecia sem sentido, sem importância para o que criamos
juntos.

Nosso mundo.

Nossa bolha.

Peguei sua mão na minha e entrelacei nossos dedos. Ele ainda


estava dentro de mim e eu senti como se nunca quisesse que ele
fosse embora.

— Você é tão bom nisso — eu deixo escapar em meu estado de


morte cerebral orgástica.

Ele dá uma risadinha. — Somos bons nisso. Fomos feitos um


para o outro, Em. Nem todo mundo entende isso, sabe?

Virei minha cabeça para olhar para ele. Ele quis dizer que as
pessoas não nos entendiam? Tipo, entendiam o por que éramos
um casal? Ou ele estava dizendo como nos sentimos, a
proximidade e o sexo nem sempre eram assim?

— O que eles não entendem?

— Sentir como se tivessem encontrado a outra metade em seu


todo. Saber o que é amar alguém tanto que você faria qualquer
coisa por ela. Que a felicidade deles vem antes da sua. Temos sorte,
Em. Nem todo mundo acha isso, mas nós encontramos. — Ele dá
um beijo suave no meu nariz e eu suspiro.

Ele estava certo. Minha vida não foi perfeita. Longe disso. Eu
não tinha ideia de onde iria morar depois de hoje. Meu pai
provavelmente iria para a prisão. Minha mãe perderia a cabeça, e
tudo que eu pensava que sabia no meu mundo estava queimando
no chão. Mas eu ainda tinha amor na minha vida. Eu era saudável
e tinha minhas amigas. Mas acima de tudo, eu tinha Ryan.
Quando eu estava com ele, nada mais importava. Pensar nisso me
fazia perceber que poderia ressuscitar das cinzas mais forte do que
antes, porque o tinha ao meu lado. Eu poderia fazer algo melhor
do que o que já tinha feito. Construir uma vida da qual eu poderia
me orgulhar.

— O que você está pensando? — ele sussurrou em meu ouvido.

— Estou pensando que não poderia te amar mais do que amo.


— Então me lembro de algo da noite anterior. Algo que invoquei na
minha cabeça quando estive no cemitério e falei com Danny.
Provavelmente não significava nada, e eu estava delirando,
inventando coisas em meu estado enfraquecido de dor, mas eu
tinha que perguntar. — O que é Battlefield?

Os olhos de Ryan se arregalaram ligeiramente e ele deu um


suspiro baixo.

— Danny te contou sobre isso?

Engulo em seco, não querendo admitir que tinha ouvido isso


em uma fantasia de sonho lúcido. — Eu quero ouvir você me dizer.

Ele sorri e apoiou a cabeça no meu ombro enquanto fala. —


Você tinha cerca de quinze ou dezesseis anos. Era o aniversário de
Danny e você encomendou Battlefield para o Xbox para dar a ele.
Só que não tinha chegado, e Danny ouviu você chorar com sua
mãe, perguntando se ela a levaria à cidade para comprar outro
exemplar. Sua mãe disse que era perda de dinheiro comprá-lo
duas vezes e que você teria que dar o presente com alguns dias de
atraso. Danny disse que você ficou inconsolável quando ele ouviu
você.

Eu congelo. Eu não esperava isso. Achei que não significaria


nada, mas agora estava começando a perceber que talvez minha
mente não tivesse me pregado uma peça. De que outra forma eu
saberia perguntar sobre isso? Danny realmente falou comigo
ontem à noite. Ele estava lá quando eu precisava dele.

— Lembro-me daquele dia — consigo dizer, embora minha


garganta estivesse tão apertada que mal conseguia engolir. — Mas
o pacote chegou algumas horas depois. Eu não entendo?

— Eu não conseguia suportar a ideia de você ficar tão


chateada no aniversário do seu irmão. Sua mãe era um desperdício
de espaço, porra, e Danny estava preso com algum evento para o
qual seu pai o arrastou naquela manhã. Então, fui até a cidade e
comprei outra cópia. Eu a embalei e depois coloquei na sua porta.
Tive de contar a Danny o que fiz porque sabia que o pacote original
estava para ser entregue a qualquer dia e não queria que você
descobrisse que o outro era meu. Eu queria que você tivesse algo
para dar a ele.

Eu não conseguia falar. Eu não tinha ideia do que tinha


acontecido. Todos aqueles anos atrás, quando eu nem sabia que
ele sabia que eu existia, Ryan tinha feito isso por mim. Ele tinha
saído do seu caminho para falsificar a entrega do presente de
aniversário do meu irmão, apenas para que eu não me sentisse
mal no aniversário dele. O que eu fiz para merecer um namorado
tão incrível?

Eu o aperto tão perto de mim enquanto minhas lágrimas caem.


Lágrimas por um irmão perdido que significava o mundo para mim
e lágrimas por um menino que era tudo para mim, meu futuro,
meu Ryan.
— Não chore — ele diz, enxugando minhas lágrimas e beijando
minhas bochechas úmidas. — Eu fiz isso para que você não
chorasse.

Eu rio e o abraço ainda mais forte.

— Obrigada. Essa é provavelmente a coisa mais legal que


alguém já fez por mim... E por Danny também. Você, Ryan Hardy,
é um em um milhão e nunca vou deixá-lo ir.

— Vou cobrar isso de você.

Depois que tomamos banho e nos vestimos, descemos as


escadas para a cozinha. Eu congelo quando ouço o chiar de uma
frigideira e sinto o cheiro do bacon e dos ovos cozinhando.

— Bom dia, pombinhos. — Connor está de pé no forno,


preparando um banquete para o café da manhã, sorrindo como
um idiota e usando um avental que dizia: “Quer ver minha
salsicha?” — Achei que vocês dois precisariam da energia de um
bom e farto café da manhã após as Olimpíadas de seu quarto na
noite passada... E esta manhã.

Sinto o calor queimando meu rosto e olho para Ryan, mas ele
estava lançando punhais para seu irmão.

— Coloque alguns fones de ouvido da próxima vez — ele cospe


de volta, em seguida, murmura baixinho: — Maldito pervertido. —
Ele se aproxima de mim e me dá um abraço, em seguida, volta-se
para seu irmão. — Você envergonhou minha namorada. Eu sei que
você é péssimo em falar com mulheres, mas mostre algum respeito
do caralho da próxima vez, ok?
— Está tudo bem — eu digo, tentando acalmá-lo.

Connor apenas solta uma risada e olha para mim enquanto


mexe na frigideira. — Você não está tímida perto de mim, não é,
Em? Não sinta. Eu sou um gatinho.

Ryan vai dizer algo, mas a batida da porta da frente nos faz
pular.

— Quem diabos está chamando tão cedo? — Connor tira a


panela do gás, desligou o forno e se afasta para atender a porta.

Quando Zak e Finn entram na cozinha segundos depois,


parecendo que não haviam dormido nada, eu sabia que nosso dia
estava prestes a ficar muito pior.

— Que porra está acontecendo? — Ryan pergunta, olhando


entre os dois. Pelo tom de sua voz, acho que ele realmente não
queria saber.

— Temos tentado ligar para vocês a noite toda. — Zak diz e


então olha para Finn por reforços.

— Nossos telefones morreram. Por quê? O que está


acontecendo? — Ryan pega minha mão e nós dois nos sentamos à
mesa no meio da cozinha. Zak e Finn ficam de pé e Connor se
ocupa em colocar os ovos e o bacon na mesa.

— Querem ficar para o café da manhã? — Connor pergunta,


não lendo seu público muito bem.

— Não estamos com fome. — Zak faz uma careta e Finn


assente.
— Jesus, pessoal. Fale sobre como prolongar o suspense. Você
é pior do que mulheres velhas. Diga logo, Atwood — diz Connor
enquanto coloca a comida na mesa e se senta ao meu lado,
servindo-se de uma grande porção de ovos mexidos.

— É o Brandon.

— Não é sempre? — Ryan interrompe.

— É pior desta vez. É muito pior. Ele se foi. Ontem à noite...


Foi tudo uma merda. A polícia está atrás dele. Não temos ideia de
para onde ele foi, mas é... Porra, é ruim.

Zak não estava fazendo sentido e Ryan empurrou a cadeira ao


lado dele para dizer que se sentasse.

— Você precisa desacelerar e começar do início, cara. O que


aconteceu?

Zak afunda na cadeira e Finn puxa outra para se juntar a ele.


Os dois pareciam abatidos e, quando começaram a falar,
percebemos exatamente por quê.
Eu colocaria tudo em jogo esta noite. Eu arrisquei meu
pescoço por aquela garota, para dizer a ela como me sentia, e o
que ela fez? Ela arrancou a porra do meu coração e o jogou fora
como se isso não significasse nada. Achei que ela fosse diferente.
Que ela me pegou. Mas ela era igual ao resto. Tudo o que ela viu
foi uma bagunça fodida, um lutador, um rato de rua. Eu não era
bom o suficiente para ela. Eu não era bom o suficiente para
ninguém.

Quando ela se afastou, carrancuda pelo fato de que eu a beijei,


isso doeu. Mas quando ela riu na minha cara e me disse que
preferia morrer do que estar com um homem como eu, senti
minhas entranhas esmagarem com o peso da rejeição. Eu nunca
me senti tão inútil e sem valor antes. Bem, não por muito tempo,
de qualquer maneira. Emily Winters tinha conseguido o que todos
os oponentes falharam em fazer comigo ao longo dos anos. Ela me
colocou de joelhos e me deixou fraco. Isso não aconteceria
novamente.

Eu deveria saber que Zak e Finn iriam me apunhalar pelas


costas na primeira chance que eles tivessem. Eles mal podiam
esperar para contar a Ryan o que tinha acontecido, fazendo soar
como se eu fosse um maldito predador por caçar sua garota. Eu
sei que eu ataquei quando contei a Emily sobre o plano, mas ela
tinha o direito de saber o que tinha acontecido. Ele não estava
isento de culpa em tudo isso. Ele a usou. Ele desempenhou um
papel importante em levá-la para baixo junto com seu pai.

No que me dizia respeito, eles se mereciam. Ryan teve a


coragem de dizer que estava acabado. Bem, eu também estava. Ele
era um maldito melhor amigo, colocando sua boceta antes de seus
companheiros. Acho que você nunca conhece realmente alguém.
Certamente não reconheci meus amigos esta noite. Cada um deles
me deu as costas. Eles escolheram seus lados e não era o meu. As
linhas de batalha foram traçadas e eu estava sozinho.

Quando saí da academia mais cedo, Zak e Finn fizeram uma


tentativa débil de me ligar de volta para tentar falar comigo, mas
eu sabia que era tudo falso. Eles não queriam consertar. Eles não
se importavam. Se eles fizessem, não teriam ficado parados e
deixado tudo acontecer assim. Não. Eu estava de volta à estaca
zero, sozinho, só comigo mesmo para contar. Era a melhor maneira
de estar. As pessoas apenas o desapontam e decepcionam. Eu
estava cansado de me deixar ser usado. Eu tinha que ser mais
esperto. Eu precisava mostrar a eles que eles não podiam me
empurrar.

Eu era a porra do Brandon Mathers.

Eu estava tremendo de raiva quando procurei no meu telefone


e encontrei o número de Pat Murphy. Ele era o rei do boxe sem
luvas em nossa área e eu sabia que ele tinha lutas arranjadas na
maioria das noites da semana. Agora, eu precisava desabafar e um
saco de pancadas simplesmente não ia resolver. Eu precisava
lutar.

Ele respondeu no segundo toque e me disse que poderia me


encaixar esta noite. Ele estava usando um celeiro na periferia da
cidade e me deu as instruções. Eu não sabia com quem estaria
lutando, e não me importava. Tive pena do cara que me
enfrentasse. Eu estava feroz, desequilibrado e fechando todas as
emoções como uma máquina. Prefiro sentir um soco ou um chute
do que a dor que sentia agora. Na verdade, eu precisava daquela
dor física para aliviar as cicatrizes mentais que pareciam nunca
fechar. As cicatrizes que cortavam minha alma como uma ferida
aberta e irritante. A lembrança cotidiana de que eu não era nada
e sempre seria nada.

Cheguei ao celeiro pouco antes da meia-noite, mas as lutas


não haviam acabado, estavam em pleno andamento. Eu podia
ouvir os gritos e cânticos dos homens lá dentro, e aquele
burburinho da multidão disparou minha adrenalina. Empurrando
a porta, caminhei através da multidão e quando encontrei Pat, ele
chamou um amigo dele para assumir, para que ele pudesse falar
comigo.

— Filho, você não parece bem. Tem certeza que está pronto
para isso? — Eu sabia que parecia uma merda. Eu também sabia
que Pat não brincava. Se ele pensava que eu não podia lutar, ele
não me deixaria.

— Estou bem. Apenas uma noite ruim. Eu vou ficar bem. Eu


preciso disso.

Ele levou um ou dois segundos para me estudar, então acenou


com a cabeça e me deu um tapinha nas costas.

— Tive uma resposta e tanto quando disse aos meus homens


que você estava vindo para cá. Você precisa começar a lutar por
mim, Brandon. Poderíamos ganhar muito mais dinheiro do que
aquele ringuezinho de merda que você tem com seus amigos.

Eu sempre recusei Pat quando ele se oferecia para me


gerenciar antes, mas os tempos estavam mudando. Talvez eu
precisasse de uma rota diferente?
— Talvez. Vamos ver como vai essa noite — eu digo, para
manter as linhas abertas, mas na verdade, eu não conseguia ver
além dessa próxima luta.

— Acho que você vai gostar disso. — Pat sorri enquanto


caminhávamos de volta para os fardos de feno que separavam os
lutadores da multidão. — Você deve conhecer seu oponente. Acho
que ele estudou na mesma escola que você. Brodie Yates?

Essa raiva que eu estava canalizando a partir desta noite,


pronta para liberar no meu parceiro de luta, se transformou em
uma porra de um tsunami.

Brodie fodido Yates.

Esse filho da puta merecia tudo o que estava vindo para ele.
Yates e Lockwood haviam tornado minha vida um inferno no
ensino médio e, embora eu tivesse entrado em algumas zoações e
golpes de sorte ao longo dos anos, nunca tive realmente a chance
de dar-lhe uma crítica adequada. Parece que esta era minha noite
de sorte. Brodie Yates estava prestes a experimentar toda a força
do furacão Mathers.

— Você está fodido e usando alguma coisa? — Um dos caras


de Pat perguntou, olhando para mim como se ele não pudesse
descobrir se eu era louco, insano ou simplesmente maluco.

— Estou alto com a vida, camarada. — Eu dou a ele meu


sorriso característico e ele ri.

— Parece que você já teve alguns rounds também. Isso é um


corte no lábio?

— Você deveria ver o outro cara. — Eu dei de ombros, não


dando a mínima.
— Seus olhos... Olhe o estado deles. Você parece um maldito
demônio. Estou feliz que estou muito velho para lutar, se é assim
que eles estão treinando vocês atualmente.

Tomei isso como um elogio. Se eu pudesse assustar Brodie


Yates apenas olhando para o filho da puta, então ele estaria morto
em segundos. Medo e violência, são o que me alimenta agora. Seu
medo e o nível de violência que eu queria descarregar nele. O
homem mais perigoso que você pode enfrentar é aquele que não
tem nada a perder. Eu era aquele homem.

Eu ouvi alguém atrás de mim chamar meu nome e me virei


para ver Chase, Jensen, Brodie e alguns de seus amigos
caminhando em minha direção.

— Sem amigos esta noite, Mathers? Eles finalmente viram você


como o perdedor que você é? — Jensen diz, me dando uma olhada.

— Isso é engraçado. Parece que me lembro de ter batido na


sua bunda alguns dias atrás, Lockwood. Eu esperaria os
hematomas desaparecerem antes de você vir para mim novamente.
Você pode parecer mais convincente.

— Você quer saber o que eu vejo? — Jensen não se importou


com o que eu disse. Ele era o grande homem com sua equipe ao
redor dele. Pegue-o sozinho e o cara teria mijado nas calças com a
ideia de ir contra mim novamente.

— Eu não poderia realmente dar a mínima, mas tenho certeza


que você iria me dizer. Você simplesmente não consegue calar a
boca, não é?

Seu sorriso se transformou em um rosnado. Ele não gostou


que eu não estivesse ameaçado por ele. Na verdade, ele me
estimulou ainda mais. Eu gostava de ser o azarão. Merda, eu
pegaria todos eles se Pat me deixasse.

— O que vejo é um ninguém solitário e derrotado. Um


aspirante a Tyson Fury sem carisma. Você é menos rei cigano e
mais rei de merda. Você sabe, como a merda em que eles
encontraram você quando sua mãe o deixou para foder todos os
traficantes que ela pudesse colocar as mãos.

Eu rebati e me joguei em Lockwood, mas Pat e seus homens


me seguraram.

— Uau! Guarde essa merda para o ringue, filho. Você é o


próximo. — Pat diz, me sacudindo e me dando outro olhar que me
dizia que ele não aceitaria nenhuma merda esta noite. Ele queria
uma luta limpa.

Eu balanço a cabeça em acordo silencioso. Minha luta seria a


mais limpa que eu pudesse fazer. Pat tinha tudo a ver com a honra
do boxe sem luvas, é o que ele representava. Mas esta noite, era
minha honra em jogo. Eu não estava lutando para vencer. Eu
estava lutando para destruir.

Eu puxei minha camiseta pela cabeça e a joguei para o lado


enquanto entrava na zona de luta. Brodie sorriu para mim, mas
eu apenas olhei de volta para ele, usando aqueles segundos
preciosos para focar minha energia.

Pensei em Emily e em como ela me olhou como se eu fosse


merda de cachorro em seu sapato.

Eu vi Ryan quando ele montou em mim, me socando como se


eu fosse a escória da terra e ele pisasse em mim.
Então me lembrei de ser espancado por Brodie e Jensen. Eu
ouvi os nomes que eles me chamaram. Eu vi uma imagem de
Jensen em minha mente, me segurando no banheiro dos meninos
enquanto Brodie batia com o punho em meu rosto até meu nariz
sangrar. Juro que se o professor não os tivesse parado naquele dia,
teriam me matado. Eu tinha sete anos. Eles tinham nove, talvez
dez anos, e a única punição que receberam foi um tapa no pulso e
um aviso para não fazer isso novamente.

Isso é o que acontece quando você é pobre e sua família não


vale nada nesta cidade. Você tem que esperar até ficar mais velho
para obter a vingança que lhe é devida.

À distância, pude ouvir o árbitro recitando as regras. Sem


cabeçada, sem mordidas, sem cotovelo esmagado. Eu balancei a
cabeça, mas não estava ouvindo. Todas as emoções foram
drenadas do meu corpo. Tudo o que me restou foi fogo, raiva, fúria.

O árbitro deu um passo para trás e começou. Brodie ergueu


os punhos em defesa.

— Vamos então, seu merdinha. Mostre-me o que você


conseguiu. Ou Jensen cansou você na outra noite? Você sempre
foi uma decepção. Todas essas pessoas aqui esta noite para
assistir você lutar e olhar para você, nada além de um bundão
fraco com rancor.

Eu não o ouvi. Ele pensou que suas palavras iriam me atingir,


mas eu já tinha quatorze anos de ódio armazenado dentro de mim.
Não havia espaço para mais nada.

Ele apontou o punho para fora e eu vi, mas não me abaixei


como normalmente faria. Eu queria que ele desse alguns golpes.
Essas pancadas ajudariam a anestesiar a dor. A multidão vaiou,
provavelmente pensando que eu não estava tentando. Eles
precisavam calar a boca. Eu estava no controle aqui. Eu sabia o
que estava fazendo.

Brodie deu outro soco, acertando meu lado. A dor que


irradiava pelo meu corpo ajudou a liberar um pouco da pressão na
minha cabeça, como se desse ao meu cérebro outro lugar para se
concentrar. Era exatamente o que eu precisava. Eu enrijeci meu
núcleo, deixando-o dar mais alguns golpes. A multidão estava
gritando agora. Eles pensavam que isso estava acabado e
massacrado, mas eu nem tinha começado. Nesse ringue, eu não
era um homem, era uma máquina, e essa máquina apenas acionou
o botão e mudou para o ataque.

Eu grunhi quando dei um soco em seu rosto, colocando todo


o peso do meu corpo para trás. Brodie recuou e pareceu ficar
instável em seus pés. Um golpe e eu já estava ganhando a
vantagem. Ele enxugou o rosto e balançou a cabeça para tentar se
firmar. O sangue escorria de seu nariz e eu sorri. Um nariz
quebrado foi meu primeiro presente da noite.

Eu investi contra ele, empurrando-o contra os fardos e


batendo meus punhos em seu estômago. Eu queria adicionar
algumas costelas quebradas à lista, mas quando Brodie caiu no
chão, o árbitro interveio e eu tive que recuar. O filho da puta não
ficou no chão por muito tempo. Ele estava ganhando tempo. Eu o
tinha bem onde o queria e ele sabia disso. Ele estava prestes a
receber sua bunda em um prato na frente de todas aquelas
pessoas, e isso levou quatorze anos.

Fiquei firme com os punhos erguidos prontos. Brodie


cambaleou em seus pés, mas ele não estava prestes a desistir
ainda. Era um bom trabalho também. Eu não terminaria com ele
por um longo tiro. Eu tinha muito mais luta sobrando em mim.
Eu balancei meu punho para trás e bati na lateral da cabeça
dele, pegando sua mandíbula e o fazendo voar para trás. Ele
tropeçou e tentou recuperar o equilíbrio, mas tomou um tombo e
foi quando eu ouvi… O estalo de seu crânio quando ele caiu no
chão de paralelepípedos do celeiro. Ele prendeu o pé em uma laje
solta e, a julgar pela quantidade de sangue escorrendo da parte de
trás de sua cabeça, ele não iria se levantar tão cedo.

Meus ouvidos estavam zumbindo com o zumbido da


adrenalina e eu quase podia ouvir os gritos ao meu redor. Então
as pessoas começaram a empurrar e acotovelar-se ao redor da
borda do ringue. Eu estava sobre Brodie enquanto ele estava
deitado lá, sangrando, seus olhos fechados e seu corpo se
contorcendo, e eu estava prestes a cuspir nele quando vi um flash
de cabelo loiro. Uma garota se ajoelhou e começou a embalar sua
cabeça. Ela verificou seu pulso e gritou para mim: — Acho que ele
está morto! Você o matou! Você o matou, porra!

Harper.

Harper fodida Yates, irmã gêmea de Brodie.

Eu não tinha ideia de que ela estava aqui. O que diabos eu fiz?
Eu acabei de bater em seu irmão até a morte na frente dela.
Haveria um novo lugar no inferno reservado especialmente para
mim depois desta noite, e para falar a verdade, eu não me
importava.

Pat e alguns de seus homens me empurraram para fora do


caminho e começaram a dar os primeiros socorros a Brodie. Eu
apenas fiquei lá, minha vida balançando no fio da navalha. Eu não
queria ficar para o rescaldo. Eu fiz o que vim fazer aqui. Eu mostrei
a todos o que aconteceria se eles me cruzassem. Eu não tinha
considerado a culpa de ver Harper chorando por seu irmão. Não
precisava acrescentar mais peso à vergonha que era minha vida.
Já me sentia inútil o suficiente, mas agora tinha ainda mais
motivos para me odiar. Eu era uma responsabilidade do caralho.
Eu nem conseguia me vingar direito.

Desligando as emoções que estavam vindo à tona e ameaçando


me afogar em auto-aversão, me virei e caminhei no meio da
multidão. Algumas pessoas me empurraram, gritando na minha
cara, mas eu não dei ouvidos.

— Chame uma ambulância — ouvi Pat gritar. Eu sabia que a


polícia iria me seguir e eu não ficaria por aqui para ser
abandonado. Saí do celeiro, entrei no carro e fui embora. Joguei
meu celular pela janela e continuei. Eu ia dirigir até meu
combustível acabar e então continuar. Eu não tinha para onde ir.
Eu não tinha ninguém para me importar.

Deste momento em diante, Brandon Mathers não existia mais.

Um fantasma.

Um homem esquecido.

Eu duvidava que alguém chorasse por mim. Nem mesmo eu


choraria.
— Ninguém o viu desde então. A polícia encontrou seu telefone
descartado no caminho fora do celeiro. Seu carro foi abandonado
a cerca de trinta milhas de distância. Não sabemos o que fazer. Há
um mandado de prisão contra ele, mas não temos ideia de onde
ele possa estar. O que vamos fazer, Ry? — Zak estava frenético e
Ryan parecia estar em estado de choque tanto quanto eu. Achei
que tivéssemos esgotado nossa cota de azar na noite anterior, mas
parece que o destino ainda não acabara.

— Alguma notícia sobre Brodie? — Eu perguntei enquanto


Ryan ficava sentado, atordoado.

— Ele passou a maior parte da noite em cirurgia. Não sabemos


muito, a polícia não está revelando nada, mas parece que ele teve
hemorragia interna e inchaço no cérebro. Eles estavam tentando
aliviar a pressão ou algo assim, mas ele teve uma parada cardíaca
quando caiu e eles não puderam salvá-lo. Porra, ele morreu, Em.

Eu não conseguia falar. Eu coloquei meu braço em volta de


Ryan enquanto ele se inclinava para frente em sua cadeira e corria
as mãos sobre a cabeça em pura exasperação com o quão ruim era
toda essa situação. Acordei com um pesadelo que ficava cada vez
mais sombrio e sem esperança.
— Merda. Ele vai cair por isso. — Ryan olhou para Zak e Finn
e então baixou a cabeça novamente. — Ele vai cair para o resto da
vida e é tudo culpa minha, porra.

— Isso não é culpa sua. — Eu o sacudo, para que ele olhe para
mim, mas ele não conseguia.

— Isto é. Se eu não tivesse discutido com ele na noite passada,


ele não teria lutado.

Olho para Zak e Finn, desejando que eles me ajudassem. Eu


não podia correr o risco de deixar Ryan descer em espiral por um
túnel escuro até um poço de desespero. Posso nunca mais tirá-lo
de lá.

— Ela está certa, cara. Brandon ia fazer tudo o que queria


fazer. A briga com Lockwood e Yates vinha fermentando há anos.
Algo assim sempre iria acontecer — diz Zak, e Finn concorda com
a cabeça.

— E se estamos apontando a culpa para alguém, sou tão


culpada quanto você — acrescento, segurando sua mão com as
minhas. — Eu mesma disse coisas horríveis para ele, lembra? —
Eu não ia deixar Ryan levar a culpa por isso. Eu não queria que
ele se culpasse. Precisávamos trabalhar juntos para superar essa
confusão terrível. A culpa não ajudaria ninguém agora. Não
Brandon e certamente não Brodie ou sua família.

— Você já falou com a polícia? — Ryan levanta a cabeça,


passando de atordoado a alerta em uma fração de segundo.

— Nós dois demos a eles uma declaração — diz Zak. — Eles


provavelmente estarão por aqui em breve para tomar a sua.
Dissemos a verdade a eles. Nós o vimos no início da noite, mas o
deixamos por volta das dez horas. Não estávamos nem perto do
celeiro Murphy. Não vimos nada.

— Vamos para a delegacia agora e acabar com isso. — Não


estava com vontade de esperar que a polícia viesse até nós e queria
descobrir o que aconteceu com meu pai depois da prisão da noite
anterior. Por que não matar dois coelhos com uma cajadada só?
Ryan concordou e nós quatro saímos, deixando Connor com o café
da manhã agora frio como pedra.

Nós dois demos declarações separadas, dizendo à polícia


exatamente o que sabíamos, que não era nada. Eles nos
questionaram sobre onde Brandon poderia estar, mas não
tínhamos ideia disso também. Quando saímos, algumas horas
depois, voltei para a mesa principal para perguntar sobre meu pai,
dizendo a Ryan para esperar por mim no estacionamento. Eu
precisava fazer isso sozinha.

A última pessoa que eu esperava encontrar sentada na


recepção quando cheguei lá era minha mãe e a mulher que meu
pai manteve como seu segredinho sujo por tanto tempo. As duas
estavam sentadas em um silêncio constrangedor e, quando minha
mãe me viu, deu um pulo e me abraçou.

— Em, graças a Deus você veio. Tenho tentado ligar para você
a noite toda.

Eu duvidava muito disso. Acho que estava muito longe em sua


lista de prioridades hoje.

— Eles estão mantendo seu pai. O advogado está com ele


agora, mas ele não acha que vai pagar fiança.
Eu não conseguia acreditar no que estava ouvindo. Ela
realmente o queria fora? Ela estava delirando? Obviamente ela
estava, vendo que ela estava sentada com sua amante como se
nada tivesse acontecido.

— Eu estou pouco me fodendo, mãe.

— Linguagem, Emily — ela repreende, e minhas sobrancelhas


disparam.

— Sério, mãe? Depois de tudo o que aconteceu, você vai me


responsabilizar por dizer a palavra foder. Isso é muito hipocrisia.

Ela resmungou e revirou os olhos. — Eu sei que ele cometeu


alguns erros...

— Erros? Ele matou meu irmão, seu filho. Ou você


convenientemente esqueceu essa parte?

Seus olhos ficaram marejados e eu senti uma pontada de


tristeza por ela. — Eu sei o que ele fez. E não, eu nunca vou perdoá-
lo por isso. Não passa um dia sem que eu sinta falta de Daniel. Eu
choro todos os dias. Mas talvez, com aconselhamento, seu pai...

Eu a corto. — Meu pai não merece sair daqui. Ele merece


apodrecer no inferno pelo que fez. Ele deixou Danny lá. Ele sabia
que Dan precisava de ajuda e não fez nada. Ele nem chamou uma
ambulância, mãe. Ele saiu correndo como um rato para salvar a
própria pele. Eu o odeio. Ele está morto para mim. — Minha mãe
parecia determinada a ver o lado bom em tudo quando se tratava
de meu pai e eu não tinha mais energia para discutir com ela.

Passei por minha mãe para ficar na frente da mulher que meu
pai mantinha escondida de nós. Sua amante suja. — Você sabia?
— Eu fiz o que tinha que fazer para proteger minha filha — diz
ela, segurando o nariz para cima com falsos ares de graça. Ela
precisava cortar a merda e parar de fingir ser uma dama e possuir
quem ela era; a puta do meu pai.

— Uma filha que ele nunca reconheceu e sobre a qual não


sabíamos nada. — Ela olha além de mim para olhar para minha
mãe, e foi quando eu percebi. Eu me virei para encará-la
novamente. — Você sabia? Que porra é essa, mãe?

— Tive um pressentimento.

— E você ficou com ele? Você gosta de ser capacho? Isso é uma
bagunça, até mesmo para você. — Eu não podia acreditar que
minha própria mãe suspeitava que meu pai estava tendo um caso,
sendo pai de uma criança, e ela fez vista grossa. Não admira que
ela tenha tomado a garrafa e se tornado uma concha de mulher.
Eu teria colocado algum sentido nela, mas acho que ela estava
além de qualquer ajuda.

— E agora? Vocês duas vão se tornar melhores amigas? Fazer


as unhas e comparar as notas do meu pai? Ou melhor ainda, por
que elas não vêm morar com a gente, mãe? Então, todos nós
poderemos ser uma família feliz, porra.

— Não seja ridícula, Emily. Assim que seu pai estiver em casa,
vamos resolver essas coisas.

Eu balanço minha cabeça para ela. Minha mãe era


comprovadamente louca.

— Ele não vai voltar para casa, mãe. Até eu sei que a pena de
prisão por lavagem de dinheiro é muito alta. Adicione a acusação
de homicídio culposo e ele não verá o exterior de uma cela de prisão
por muito tempo. Eu me acostumaria a morar sozinha, mãe,
porque papai não vai voltar para casa e nem eu.

Ela engasga e tenta me parar enquanto eu me dirijo para a


porta.

— Não seja ridícula. Emily, pare e volte aqui. Precisamos


conversar sobre isso. Você não pode simplesmente sair. Onde você
irá?

Eu paro, pronta para dar a ela mais um minuto. Foi tudo o


que ela conseguiu de mim por muito tempo.

— Eu não sei, mãe. Eu ficarei com Liv, Effy, ou talvez o pai de


Ryan me deixe dormir na casa deles.

Ela franze o cenho. — Ryan? Amigo de Daniel, Ryan?

— Sim, mãe. Meu namorado, Ryan. Não que isso seja da sua
conta. Acho que você perdeu o direito de ter uma palavra na minha
vida no minuto em que escolheu papai em vez de nós.

— Nunca foi uma questão de escolher lados. Eu queria, não,


eu precisava manter minha família unida. — E um trabalho de
merda que ela fez nisso.

— Eu não acho que papai recebeu o memorando. Ele estava


muito ocupado fazendo outra família sem você. — Eu podia ver a
dor em seu rosto quando disse isso, mas ela precisava ouvir as
duras verdades. Sua vida não era um jardim de rosas e ela estava
tentando preservar algo que estava irrevogavelmente quebrado.
Papel sobre rachaduras que eram buracos enormes. Nenhum
controle de danos poderia nos salvar. Como família, estávamos
acabados.
— A casa está em meu nome, Emily. Aconteça o que acontecer
com papai, eles não podem tirar isso de nós. Eu tenho dinheiro.
Ficaremos bem.

Eu sabia o que ela estava dizendo. A polícia congelaria os bens


de papai. Mas acho que ela estava se enganando. Não seria tão
fácil. Cada parte de sua vida seria examinada também. De repente,
uma pontada de arrependimento e remorso me atingiu.

— Mãe, se precisar de mim, você tem o número do meu celular.


Seja o que for, estarei lá.

Ouvi a porta de um carro se abrir e me virei para ver Ryan


parado ao lado de sua van, me lançando um olhar que perguntava
se eu estava bem. Mamãe suspirou atrás de mim e disse: —
Certifique-se de que esse menino cuide bem de você. Eu sempre
quis o melhor para você. Para ambos. — Ela começou a chorar,
então coloquei meus braços em volta dela.

— Vai levar tempo, mas vamos superar isso, mãe. Você tem
que ser forte.

Ela se afastou primeiro, enxugando os olhos para impedir que


a maquiagem escorresse. Então ela pintou seu sorriso e disse: —
Avisarei você se houver alguma novidade. O advogado deve sair em
breve.

Ela não mudaria. Não importa o que eu dissesse. Ela estava


presa em seu pequeno mundo que girava em torno do meu pai. Eu
sentia pena dela.

— OK. — Suspiro. Toda a minha luta acabou. Eu tinha que


me concentrar em mim agora. Ela era uma mulher adulta. Eu não
poderia viver a vida dela por ela e não queria o tipo de vida que ela
levava para mim. Eu tinha que fugir. Afastar-me do circo dos
Winters.

Eu tinha um futuro e ele estava parado no estacionamento


esperando por mim.
Três meses depois

As últimas semanas foram das mais difíceis que conheci desde


que mamãe morreu. Emily havia tirado a maior parte de suas
coisas da casa de sua família e estava morando com Effy, embora
tecnicamente isso não fosse verdade. Ela passava todas as noites
comigo, e papai adorava tê-la por perto, todos nós adorávamos.
Nem sempre foi fácil encontrar tempo para ficar sozinho, e essa era
parte da razão pela qual eu estava saindo com ela esta noite. Eu
tinha uma proposta que esperava, não, rezava para que ela
aceitasse.

Tentamos olhar para o futuro e planejar uma vida juntos.


Pensar no passado não ajudava nenhum de nós, mas às vezes era
difícil desligar. O julgamento do pai de Emily estava marcado para
o mês seguinte, mas não parecia bom para ele. A pena máxima por
lavagem de dinheiro no Reino Unido é de quatorze anos. Some-se
a isso a acusação de homicídio culposo pela morte de Danny e ele
teria talvez 20 anos, provavelmente a vida. O fato de ele ter deixado
Danny no banco do motorista, e o fato de dirigir alcoolizado,
significava que as probabilidades estavam contra ele. Na minha
opinião, ele merecia tudo que estava acontecendo em sua direção.
Em não queria falar sobre isso, mas eu tinha que prepará-la o
melhor que poderia. A intrusão da imprensa e da mídia que
seguiria o caso seria uma tempestade de merda para passar, mas
nós enfrentaríamos isso juntos.

Eu sempre estaria lá para ela.

Depois de tudo o que aconteceu, Emily decidiu que queria


seguir carreira no jornalismo. Acho que ela gostava de encontrar
justiça e verdade onde podia. Eu dei a ela animação para isso. Foi
enquanto examinávamos os prospectos dos cursos em que ela
estava interessada que começamos a falar sobre meu negócio de
carros kits e como eu poderia expandir e ganhar um bom sustento
com ele. Eu não queria trabalhar para meu pai para sempre e a
demanda por trabalho estava lá. Eu só precisava de ajuda para
saber o que fazer a seguir, para onde levá-lo.

Conseguimos encontrar um curso de administração de meio


período e contabilidade em uma das faculdades que ela estava
estudando, então ambos nos inscrevemos para nossos
empreendimentos separados e ambos fomos aceitos. Nunca pensei
que veria o dia em que voltaria para a escola, mas a expressão em
seu rosto quando viu aquelas cartas de aceitação valeu a pena. Eu
faria qualquer coisa para mantê-la sorrindo e dar a ela a felicidade
que ela merecia.

Quanto a Brandon, ninguém tinha ouvido falar dele desde a


noite da luta. Era como se ele tivesse sido varrido da face da terra.
Verificamos sua avó toda semana e, embora ela insistisse que não
sabia onde ele estava, notamos algumas coisas novas espalhadas
pelo quarto dela. Uma nova TV que ela não tinha ideia de como
usar, um iPad que nunca ligava e várias outras coisas que uma
senhora idosa nunca usaria. Não perguntamos de onde ela tirou o
dinheiro e não queríamos saber. O que quer que estivesse
acontecendo, era problema dela. Estávamos lá apenas para
garantir que ela tivesse uma cozinha totalmente abastecida e para
ajudar em qualquer trabalho pesado ou tarefas que ela não
pudesse realizar. Era nosso dever de irmão. Brandon teria feito o
mesmo por nós.

Zak, Finn e eu decidimos começar os eventos novamente. No


início, parecia errado fazer isso sem Brandon, mas era nisso que
todos nós éramos bons. Sentíamos falta da irmandade e, embora
não houvesse brigas, ainda tínhamos a música, a arte, o vínculo
que isso trazia para uma comunidade que tinha sido destruída
pelos eventos dos últimos meses. Nossa geração precisava do
lançamento que ele oferecia e precisávamos nos sentir úteis
novamente.

Sentei no sofá, fingindo assistir à TV, mas, sério, estava


esperando Emily. Ela estava se preparando para o nosso encontro
em nosso quarto. Connor tinha intervido para me ajudar a
configurar tudo mais cedo e ele apenas me mandou uma
mensagem para me dizer onde ele havia deixado a comida e o que
fazer quando chegássemos lá. Como se eu precisasse de instruções
sobre como preparar seu macarrão.

Quando ela finalmente saiu para me dizer que estava pronta,


eu fiquei surpreso. Minha garota estava deslumbrante em um
vestido azul claro coberto de glitter e merda brilhante que quase
roçava sua bunda. Eu estava ansioso para tirar isso dela mais
tarde.

— Isso está bom? — ela perguntou, girando para me dar o


efeito completo. Estava mais do que bem, e meu pau estava tenso
no meu jeans com o quanto eu gostava, mas eu não acho que essa
era a melhor resposta para dar a ela.

— Você está linda — eu digo, me levantando e envolvendo


meus braços em volta dela. — Você sempre está linda, mas isso é
apenas... Uau.
Ela sorri de volta para mim e quando Connor entra pela porta
segundos depois e dá a ela um assobio de lobo, eu sabia que era
hora de sair. Eu amava meu irmão, mas ele nunca sabia quando
parar.

Paramos do lado de fora do asilo e ela suspirou suavemente ao


meu lado. Eu tinha borboletas malditas e me sentia como um
completo idiota, mas eu engessei meu sorriso e guardei essa merda
para mim.

— Ainda bem, eu trouxe minhas sapatilhas. — Ela riu e pescou


suas pequenas sapatilhas de balé no porta-luvas. Ela sempre as
mantinha lá. Ela me conhecia bem. Eu não era o melhor em
planejar a logística do ponto de vista de uma mulher, mas estava
aprendendo.

— Desculpa. Eu deveria ter dito, mas não queria estragar a


surpresa. — Eu me inclino e dou um selinho nela. Não satisfeita
com isso, ela desliza o braço em volta do meu pescoço e me puxa
de volta para um beijo apropriado.

— Você nunca precisa se desculpar — ela diz enquanto se


afasta. — Agora, vamos. Vamos explorar.

Damos as mãos e avançamos pelos escombros. Este lugar


ainda não tinha sido derrubado ou marcado nas orelhas para
regeneração, mas eu estava feliz. Eu gostei da beleza que ele
mantinha em meio a toda a decadência. Era nosso. Nós estivemos
aqui algumas vezes recentemente, e Emily tinha convencido Finn
a usar o prédio principal para criar algumas obras de arte incríveis.
Ele não havia tocado na capela, entretanto. Esse lugar estava fora
dos limites.
Assim que entramos, eu a conduzi pelo corredor que Finn
pintou para se assemelhar a um túnel subterrâneo, como uma
espécie de toca com criaturas escondidas entre as raízes das
árvores. Eu juro que aquele cara poderia pintar qualquer coisa se
ele colocasse sua mente nisso. Esse corredor meio que me
assustou. Como uma merda retorcida de Alice no País das
Maravilhas sem a parte caprichosamente mágica. Permanecendo
no mesmo lugar por muito tempo e essas raízes poderiam
simplesmente se enroscar em suas pernas e arrastá-lo para baixo.
Eu imaginei que essa era a vibe que ele estava procurando. Uma
reviravolta oculta de terror. Um aviso para nunca ficar muito
confortável com o que está ao seu redor, você nunca sabe o que
está se escondendo nas sombras.

Quando chegamos à porta da capela, parei e disse a ela para


esperar um momento do lado de fora. Eu precisava ter certeza de
que tudo estaria perfeito, e estava. Connor havia seguido minhas
instruções ao pé da letra. Havia luzes de fada amarradas no
entorno, dando aquele toque mágico, com velas ao redor da borda
do chão que eu acendi, prontas para a grande revelação. A mesa e
as cadeiras estavam perfeitas, com a toalha de mesa rosa e os
talheres e um arranjo de flores rosa no centro. Connor conhecia
sua merda.

Liguei o interruptor da máquina e voltei para a porta. Ela se


virou e, quando passou pela porta e viu nossa capela, cobriu a
boca e se virou para mim com lágrimas nos olhos.

— Oh meu Deus, Ryan. Isso é lindo. Você fez tudo isso? — Ela
foi até a máquina de bolhas e riu, estendendo as mãos para pegar
as bolhas que caíam e estouravam ao tocar sua pele.

— Connor ajudou. Ele armou a maior parte para mim, mas foi
tudo ideia minha.
Eu me coloquei atrás dela e passei meus braços em volta de
sua cintura, puxando-a de volta para mim. As bolhas estavam
saindo mais rápido do que eu havia percebido e, em pouco tempo,
estávamos cercados por elas, dançando no ar e refletindo o arco-
íris dos vitrais como um caleidoscópio. O piscar das luzes de fada
tornava tudo ainda mais mágico, como se estivéssemos em nosso
próprio globo de neve. Só que não era neve, eram bolhas.

Nossa bolha.

— Você cria as melhores bolhas. Eu amo suas bolhas. — Ela


esfrega seu nariz contra o meu e eu a pego, beijando-a e
segurando-a o mais forte que posso.

— Nossas bolhas são as melhores — eu sussurro em seu


ouvido enquanto salpico beijos ao longo de seu pescoço. — Só o
melhor para minha garota.

— Eu poderia ficar em suas bolhas para sempre. Eu não


preciso de mais nada — ela diz, dando-me a chance perfeita para
minha próxima surpresa.

— Estou feliz que você disse isso, porque eu trouxe você aqui
para perguntar algo. Não é a grande questão — eu digo quando
noto seus olhos se arregalarem e um pouco chocados. — Isso virá,
acredite em mim, mas não hoje. Hoje, queria perguntar se você
daria o próximo passo comigo. Sei que não somos oficiais há muito
tempo, mas acho que ambos sabemos que isso está certo. Fomos
feitos para ficarmos juntos, ninguém pode negar isso. Você é tudo
para mim, Em. Então, com isso em mente, você moraria comigo?
Quer dizer, em um lugar só nosso. Em algum lugar sem papai ou
Connor atrapalhando nosso estilo. Só eu, você e talvez um ou dois
animais de estimação, se quiser. Um lugar que seja nosso.
Tive diarréia verbal, estava tão nervoso. Eu não deveria,
porque ela pulou em meus braços e gritou ''sim'' antes que eu
tivesse a chance de questionar.

— O dinheiro dos meus carros vai ajudar com um depósito e


ainda vou trabalhar para o papai quando puder no intervalo do
curso da faculdade. As festas também trazem um pouco. Não tanto
quanto quando Brandon estava lutando, mas é algo... — As
palavras continuaram voando para fora da minha boca,
justificando porque eu pensei que iria funcionar. Acho que passei
tanto tempo pensando nisso que tinha um argumento para todos
os ângulos.

— Nós dois trabalharemos. Não vai ser tudo por sua conta. Eu
também posso ajudar. — Ela morde o lábio e posso ver todas as
emoções passando por seu rosto. Ela estava animada e
provavelmente já planejando que almofadas coloridas comprar
para a sala de estar. A mulher era obcecada por almofadas. E elas
estavam por todo o nosso quarto, na casa do meu pai. Eu não
entendia. Todos elas acabavam no chão todas as noites. Qual era
o objetivo?

Eu tinha planejado guardar a última surpresa para o final da


noite, mas estávamos nos braços um do outro e as bolhas e luzes
deixaram minha cabeça tonta. Então, coloquei a mão no bolso para
tirar a caixa.

— Bem, eu sei que disse que essa não era a grande questão,
mas comprei algo para você. Algo que espero que você use para
mim. — Coloco a caixinha de veludo na palma das mãos e seu
rosto passa de brincalhão para sério. — Não é um anel de noivado,
ainda não, baby. Estou economizando para isso. Este… Este é um
anel de compromisso. É minha promessa a você que vou te amar
para sempre. Que prometo sempre colocá-la em primeiro lugar em
tudo o que faço. Uma promessa de que um dia você será a Sra.
Hardy, se me permitir. Quero que você use isso para que todos
saibam que você é minha.

Observo quando uma lágrima cai em seu rosto e ela estende a


mão para pegar a caixa e abri-la. Assim que a vê, sorri e tirou o
anel da caixa, colocando-o direto em sua mão esquerda.

— É lindo, Ryan. Estou sem palavras.

— Eu coloquei os nossos nomes gravados no interior e Effy me


ajudou a acertar o tamanho. Está tudo bem?

Não sei por que perguntei isso, ela não tirou os olhos do
delicado coração incrustado de diamantes desde que o colocou.

— Mas eu quero que você use um também. — Ela olha para


mim franzindo a testa. — Eu gostaria de ter sabido. Eu teria
comprado um pronto para dar a você.

— Se eu tivesse contado a você, teria estragado a surpresa, e


eu gosto de surpreender você. — Eu a pego de volta em meus
braços sentindo como se quisesse ignorar a comida que Connor
tinha feito para nós e ir direto para a sobremesa. Ela. — Se isso
faz você se sentir melhor, podemos ir e comprar um amanhã.

Ela assente e se inclina para trás para me olhar nos olhos.

— Você ganhou alguns pontos importantes de brownie, Hardy,


e ainda nem começamos o encontro adequadamente. Você vai
transar esta noite.

— É óbvio. Você realmente achou que eu seria capaz de manter


minhas mãos longe de você quando você está usando um vestido
como este? Teremos sorte se conseguirmos sobreviver ao jantar.
— Por que você acha que eu usei um vestido? Fácil acesso. —
Ela se aproxima e sussurra em meu ouvido. — E eu não estou
usando calcinha esta noite.

Não acho que haja palavras mais doces que um cara possa
ouvir do que essas.

— Estou com fome — rosno em seu pescoço enquanto a


levanto. Ela envolveu suas pernas em volta da minha cintura e eu
nos levo até o altar. — E não me refiro a massa assada de Connor.
— Eu pisco enquanto a coloco no chão e então meu maldito
telefone vibra no meu bolso de trás para me avisar sobre uma
mensagem recebida. Depois do que aconteceu recentemente, eu
não conseguia esquecer. Por mais desesperado que eu estivesse
para devorá-la na pedra em que ela estava empoleirada, levantei
meu dedo e disse: — Um segundo. Não se mexa. Deixe-me verificar
se esta não é uma mensagem de texto que altera a vida e nossa
casa não está pegando fogo.

Ela sorri, lambendo aqueles lábios rosados e carnudos dela e


eu sinto meu pau mexer, pensando em como eu faria um bom uso
daqueles lábios. Eu olhei para o meu telefone e como se uma onda
de água fria tivesse acabado de me sufocar, eu congelo.

Nós sabemos o que você fez.

É hora da vingança.

Nós estamos vindo para você.


Não sei por que esperava que alguma coisa mudasse.

Eles continuaram com suas vidas como se eu nunca tivesse


existido. Apagaram-me como uma mancha em sua história que
eles precisavam limpar. Mas eu os via. Eu os assistia o tempo todo,
porra.

Eu sou a sombra na escuridão que os segue.

Sou o problema que eles querem esquecer, mas nunca


esquecerão.

Eu sou o demônio do qual eles pensaram que finalmente se


livraram, mas ninguém poderia me afogar. Eu tenho uma voz e
está prestes a ficar muito alta.

Em breve... Eu serei seu pesadelo acordado.

Tick, tack, filhos da puta. O tempo está se esgotando.

Brandon Mathers está vindo atrás de você e quer vingança.

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