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DIVISÃO DE ENGENHARIA

CURSO DE LICENCIATURA EM ENGENHARIA DE MINAS

2° ANO/LABORAL

TURMA: A

GRUPO VII

MECÂNICA APLICADA

UNIDADE V

CAPÍTULO II

INTRODUÇÃO A PROBABILIDADE E RISCO EM ENGENHARIA DE


ROCHAS

TETE, NOVEMBRO DE 2022


Discentes:
Neusa Antônio Guirrugo
Onélsio dos Anjos
Reginaldo Miguel
Shaquil Ruben Izidro Chivale
Shelsea Nicolle Manhiça
Shelton Rafael
Sibone Luís Siboana

Mecânica Aplicada
Introdução a Probabilidade e Risco em Engenharia deRrochas

Trabalho de caracter avaliativo da disciplina


de Mecânica Aplicada, a ser apresentado à
divisão de Engenharia, do curso de
Licenciatura em Engenharia de Minas, 2º.
Ano/ Laboral, fornecido este como
recomendado pelo professor auxiliar:

Mpoiy Jacques Kanda, PhD

Tete, Novembro de 2022


Índice
1.Introdução .................................................................................................................... 6

2.Objetivos ....................................................................................................................... 7

2.1. Geral ...................................................................................................................... 7

2.2.Especifico ............................................................................................................... 7

3.Factor de Segurança e Estabilidade das Obras Mineiras ........................................ 8

3.1. Fator de segurança ........................................................................................... 8

3.2. Estabilidade de Túneis................................................................................... 10

4.Probabilidade de Ruptura das Obras Mineiras ..................................................... 12

4.1. Função de Distribuição Normal.................................................................... 12

4.2. Métodos probabilísticos ................................................................................. 13

4.3. Probabilidade da ruptura e índice de confiabilidade ................................. 13

5.Avaliação das Consequências Ligadas a Ruptura das Obras Mineiras ............... 13

5.1. Mecanismos e Modos de ruptura de obras mineiras .................................. 13

5.1.1. Mecanismos de ruptura de barragens .................................................. 13

5.1.2. Modos de ruptura de taludes ................................................................. 17

6. Avaliação de Riscos Geotécnicos e Meios de Remediação .................................... 18

6.1. Riscos em obras subterrâneas ....................................................................... 18

6.1.1. Identificação dos riscos e seus resultados ............................................. 19

6.1.2. Probabilidade, percepção e gravidade de riscos .................................. 20

6.1.3. Avaliação do risco segundo a ISO 31000 .............................................. 21

6.1.4. Principais definições para avaliação de riscos geotécnicos ................. 21

6.2. Avaliação de riscos de ruptura de taludes ................................................... 21

7.Estudos de casos........................................................................................................23

8.Conclusão ................................................................................................................... 28

9.ReferênciasBibliográficas ......................................................................................... 29
Lista de figuras

Figura 1 – Factor de segurança e dispersões associadas aos valores de resistência e


solicitação. ...................................................................................................................... 10

Figura 2 – Efeito do tamanho das escavações na formação de blocos potencialmente


instáveis. ......................................................................................................................... 11

Figura 3 – Formação de brecha por galgamento: a) início em um ponto mais fraco; b)


brecha em forma de V; c) aprofundamento da brecha; d) aumento lateral por erosão... 15

Figura 4 – Estágios de desenvolvimento de ruptura por piping. .................................... 17

Figura 5 – Tipos de rupturas em taludes de mineração a céu aberto. ............................. 18

Figura 6 – Métodos propostos para avaliação de riscos. ................................................ 23

Figura 7 – Vista da barragem de rejeitos da mineração Rio Verde após a ruptura. ....... 25
Lista de tabelas
Tabela 1 – Conceitos referentes a análise de riscos........................................................ 23
1. Introdução

A probabilidade e risco em engenharia de rochas é um dos temas importantes da


engenharia de rochas, por possibilitar o estudo das diferentes probabilidades e riscos de
ruptura de uma obra mineira e prever possíveis danos que estas rupturas podem causar ao
empreendimento, a sociedade e ao ecossistema ambiental.

Questões relacionadas com a probabilidade e riscos de ruptura de obras mineiras tem


sido uma crescente preocupação para a engenharia de rochas, devidos aos inúmeros
incidentes de ruptura de obras mineiras, que tem causado danos irreversíveis ao
ecossistema ambiental, para além do prejuízo causado ás populações afectadas pela
ruptura de tais obras, ao estado e em particular ao proprietário da obra mineira, como é o
caso do incidente ocorrido á 22 de junho de 2001 em Brasil, no município de Nova
Lima\Minas Gerais, que culminou com a ruptura da barragem de concentração de rejeitos
da mineradora Rio Verde, tendo soterrado metade do município e devastado 79 hectares
de mata atlântica.

Para o estudo da probabilidade e risco em engenharia de rochas são feitos estudos


geológicos e geotécnicos que possibilitam o conhecimento do factor de segurança
necessário para a estabilização de obras mineiras, sua probabilidade de ruptura, os
mecanismos que levam a sua ruptura, riscos geotécnicos e os possíveis meios de
remediação e erradicação dos mesmos.

Com este trabalho, pretende-se saber quais são os critérios usados para a determinação da
probabilidade e dos riscos de ruptura de obras mineiras.

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2. Objetivos
2.1.Geral
Desenvolver diversos conteúdos relacionados a introdução a Probabilidade e risco
em engenharia de rochas.
2.2.Especifico
Abordar sobre o factor de segurança e estabilidade das obras mineiras;
Abordar sobre a probabilidade de ruptura (POF) das obras mineiras;
Abordar sobre a avaliação das consequências ligadas a ruptura das obras mineiras;
Abordar sobre a avaliação de riscos geotécnicos e meios de remediação;
Abordar sobre estudos de casos a ruptura de obras mineiras.

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3. Factor de Segurança e Estabilidade das Obras Mineiras

A abertura de uma cavidade subterrânea induz uma alteração no estado de tensão pré-
existente no maciço, motivando, na maioria dos casos, a necessidade de instalação de
sistemas de suporte que garantam a estabilidade dessa cavidade.

O obiectivo primordial do proiecto de suporte de uma escavação subterrânea consiste na


utilização da rocha como o principal material estrutural resistente. Assim, deve-se evitar
deteriorar o maciço no decorrer da escavação, de forma a aplicar o mínimo de elementos
artificiais de sustentamento.

No seu estado natural, quando sujeitas a acções de compressão, a maioria das rochas duras
são bastante mais resistente que o betão e algumas são mesmo tão resistentes como o aço.

De acordo com Hoek e Brrown (1980), as principais fontes de instabilidade que ocorrem
numa cavidade subterrânea são:

Ocorrência de condições adversas em termos de geologia estrutural;


Ocorrência de excessivas tensões in situ1;
Expansão ou decomposição da rocha por acção da água ou ar;
Pressão hidráulica ou percolação de água.
3.1.Fator de segurança

O factor de segurança é achado dividindo-se a resistência do pilar pela sua tensão. Deste
modo, qualquer desenho de pilar requer estimativas previas de tensão e resistência do
pilar. O critério de aceitabilidade de um factor de segurança depende do risco tolerável
de ruptura (Kanda, 2022).

Ele pode ser considerado como um factor pelo qual os parâmetros de resistência podem
ser reduzidos.

a) Factor que minora os parâmetros de resistência ao cisalhamento (em termos de


tensões efetivas):

𝑐′ tan 𝜃′
𝜏 = 𝐹𝑆1 + 𝜎′𝑁 × FS1=FS2 (1)
𝐹𝑆2

Onde:

1
In situ – é uma expressão do latim que significa “no lugar” ou “no local”, na tradução literal para a
língua portuguesa.

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C – é a coesão (kPa)
𝜏 – é a tensão de cisalhamento
𝜎n – é a tensão normal
FS – é o factor de segurança
b) Factor que minora a resistência ao cisalhamento (em termos de tensões totais):
𝑐 tan 𝜃
𝜏 = 𝐹𝑆3 + 𝜎𝑁 × FS3=FS4 (2)
𝐹𝑆4

c) Relação entre momentos resistente (Mr) e actuante (Ma), para a superfície de


ruptura circular:
𝑀𝑟
𝐹𝑆 = (3)
𝑀𝑎

d) Relação entre forças resistentes (Fr) e actuantes (Fa), utilizada em fundações:

𝐹𝑟
𝐹𝑆 = 𝐹𝑎 (4)

e) Relação entre resistência ao cisalhamento do solo e tensões cisalhantes actuantes


no maciço:

𝑟𝑒𝑠𝑖𝑠𝑡ê𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑎𝑜 𝑐𝑖𝑠𝑎𝑙ℎ𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜
𝐹𝑆 = (5)
𝑡𝑒𝑛𝑠õ𝑒𝑠 𝑎𝑐𝑡𝑢𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠

Unwedge da Rocscience.

Este método baseia-se na avaliação da resultante das forças resistentes e actuantes nos
blocos de rocha potencialmente instáveis. O factor de segurança é calculado com base
nessa relação, conforme ilustra a seguinte formula.

𝐹𝑜𝑟ç𝑎𝑠 𝑟𝑒𝑠𝑢𝑙𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠
𝐹𝑠 = (6)
𝐹𝑜𝑟ç𝑎𝑠 𝑎𝑡𝑢𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠

Quando:

𝐹𝑆 > 1, é considerado teoricamente estável.

𝐹𝑆 = 1, o equilíbrio é instável, podendo ocorrer ruptura por escorregamento a qualquer


momento.

𝐹𝑆 < 1, não tem significado físico.

O cálculo do factor de segurança envolve um critério de resistência das descontinuidades


e para este estudo foi utilizado o critério de (Barton Bandis, 1976).

Factor de segurança parcial

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Segundo Cintra & Aoki (2010), a segurança de uma estrutura geotécnica é avaliada
através de um factor de segurança global, ou através dos factores de segurança parciais.
O fator de segurança global é determinado conforme o tipo da obra, a importância, a
finalidade e através de experiências anteriores em condições semelhantes, com o intuito,
inapropriado, de se verificar a segurança da mesma. A adoção do factor de segurança
global permite avaliar a “distância” entre os valores médios de solicitação e resistência
impostos em uma dada estrutura geotécnica e não considera as incertezas presentes nas
propriedades dos maciços rochosos.

𝑅𝑚𝑒𝑑𝑖𝑎
𝐹𝑠 = (7)
𝑆𝑚𝑒𝑑𝑖𝑎

Figura 1 – Factor de segurança e dispersões associadas aos valores de resistência e


solicitação.
Fonte: Cintra & Aoki (2010).
A figura 1 ilustra a distância entre os valores médios de solicitação e resistência impostos
em uma dada estrutura geotécnica.

O factor de segurança parcial não leva em consideração as diversas incertezas presentes


no complexo comportamento entre resistência e solicitação, quando se avalia a
estabilidade de um túnel em rocha. Em normas de engenharia estrutural adopta-se outro
conceito aos factores de segurança parciais que incidem sobre solicitações e resistências
e que são impostos sobre os valores característicos, (associado a uma probabilidade de
ocorrência), e acções e resistências. Tendo esses valores é possível determinar o índice
de confiabilidade, (β), e sua probabilidade de falha associada a uma dada estrutura sob
um dado carregamento.

3.2.Estabilidade de Túneis

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Para a estabilidade de túneis em rocha, elabora-se um modelo de representação do
comportamento geotécnico do maciço rochoso frente as solicitações impostas pelas
escavações.

A criação de um modelo matemático para avaliar as deformações, tensões e mecanismos


de colapso de tuneis em rocha, busca a opção de considerar o maciço rocho como sendo
um meio continuo ou descontínuo.

Segundo Barton (1976), para um intervalo entre 0,1 e 100 do parâmetro de Q na


classificação geométrica de Barton, não é adequada a consideração do maciço rochoso
como sendo um meio continuo equivalente.

Os diferentes tipos de falhas que podem ocorrer em escavações subterrâneas em maciços


rochosos dependem fundamentalmente e não exclusivamente do nível de tensões que a
estrutura é submetida e do grão de facturamento do maciço rochoso. Hoek et al., (1995),
apresentam de forma esquematizada os principais mecanismos de instabilidade de tuneis
em rocha relacionando o nível de tensões e o fracturamento do maciço.

A orientação da estrutura em relação aos planos principais das descontinuidades que


interceptam no túnel e o tamanho da escavação em relação as mesmas, é um dos aspectos
importante na avaliação da estabilidade de uma estrutura subterrânea em rocha.

Figura 2 – Efeito do tamanho das escavações na formação de blocos potencialmente


instáveis.
Fonte: Hudson, (2000).
Na figura 2 temos um exemplo da orientação das estruturas em relação aos planos
principais das descontinuidades e o tamanho da escavação em relação as mesmas.

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De acordo com Bray (1977), vários métodos analíticos podem ser utilizados para avaliar
a estabilidade de tuneis em rocha, dentre os quais, distinguem-se os que se baseiam na
teoria de equilíbrio limite e os que se baseiam na consideração do campo de tensões
horizontais e a rigidez das descontinuidades.

A teoria dos Blocos-Chave de Goodman e Shi (1985) é usada para a elaboração da


avaliação da estabilidade dos blocos de rocha potencialmente instáveis em uma escavação
subterrânea, combinada com a teoria de equilíbrio limite, implementados no software

4. Probabilidade de Ruptura das Obras Mineiras

Segundo Jaber (2011), a análise de estabilidade de taludes é feita com base em análises
determinísticas que não envolvem o estudo da variabilidade dos parâmetros do solo no
cálculo dos fatores de segurança e, por conseguinte o estudo de probabilidade do fator de
segurança calculado é importante. Utilizando este estudo, há um auxílio no projeto
escolhendo assim uma seção mais segura e com índices de confiabilidade maior. Com
isto pode-se projectar com base em parâmetros mais confiáveis e com um nível de
segurança adequado ao tipo de obra a ser executado.

Resultados de laboratório em solos naturais mostram que a maioria das propriedades dos
solos pode ser tratada como uma variável aleatória. Ao variar os parâmetros do solo como,
por exemplo, a coesão e o ângulo de atrito obtêm-se diversos valores de Fatores de
Segurança. Esses parâmetros são utilizados seguindo a função de distribuição normal.

4.1.Função de Distribuição Normal

Para descrever variabilidade dos dados de entrada a distribuição normal ou de Gauss é a


função mais utilizada em análises probabilísticas (Harr, 1987). É representada
matematicamente como:

(𝑥−𝜇)2
1
𝑓(𝑥) = .𝑒 2.𝜎2 (8)
√2.𝜋.𝜎

Onde:

f(x) é a frequência relativa.

σ é o desvio padrão.

µ é o valor médio.

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4.2.Métodos probabilísticos

De acordo com Jaber (2011), existem diversos métodos probabilísticos, como o método
de Monte Carlo, por exemplo. Este um método estatístico utilizado em simulações
estocásticas. É um procedimento de cálculo versátil, o qual é muito bem aplicado aos
computadores. Este método envolve a geração de observações de uma distribuição de
probabilidades e o uso da amostra obtida para aproximar à função de interesse.

4.3.Probabilidade da ruptura e índice de confiabilidade

O factor de segurança é índice usado para indicar uma estabilidade relativa de um talude.
Tal índice não leva em conta o nível de risco de um talude devido a variabilidade dos
dados de entrada. Através da análise probabilística surgem dois índices para quantificar
a estabilidade ou o nível de risco de um talude.

Se o fator de segurança for menor que 1,0 então há a certeza de falha. Para se calcular
essa probabilidade, integra-se a área abaixo da função de densidade probabilística.
Segundo Mostyn & Li (1993) apud Jaber (2011), esse índice pode ser interpretado como
a probabilidade do talude se romper se fosse construído várias vezes ou como o índice de
confiança que pode ser adotado em um projeto.

De acordo com Christian et al., 1994), O índice de confiabilidade (β) é definido em função
da média (µ), desvio padrão (σ) das simulações do fator de segurança.

(𝜇−1.0)
𝛽= 𝜎
(9)

A análise de estabilidade de taludes dessa forma, os resultados obtidos se aproximam


mais da realidade e se tornam mais confiáveis e seguros.

5. Avaliação das Consequências Ligadas a Ruptura das Obras Mineiras

A ruptura de obras mineiras é um dos grandes problemas enfrentado pela engenharia de


minas. A ruptura de obras mineiras devido a vários factores, factores estes que levam ao
rompimento de barragens de rejeito, ruptura de taludes e desabamento de tuneis e galerias
(em mineração subterrânea).

5.1.Mecanismos e Modos de ruptura de obras mineiras


5.1.1. Mecanismos de ruptura de barragens

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Sob ponto de vista a segurança de barragens de rejeito, faz-se necessário conhecer os
principais modos de ruptura a que essas estruturas estão sujeitas. Tal conhecimento
contribui para melhores julgamentos e avaliações quanto às situações praticas, que por
consequência promovem a correções de falhas (VALERIUS, 2014).

Os casos mais comuns de ruptura são as falhas, que de acordo com UEMURA (2009),
estas falhas causam a libertação brusca dos volumes reservados, que podem ser estruturais
(rompimento da barragem, contraforte, pilar e fundação) e por deficiências construtivas e
hidrológicas, causadas geralmente por galgamento da crista e escoamento sobre
paramento.

Ruptura por galgamento

O galgamento2 procede da inaptidão do vertedouro da barragem, em extravasar


inteiramente a cheia afluente ao reservatório. Esse comportamento implica a passagem
de uma parcela da vazão afluente sobre a barragem. De acordo com (LAURIANO, 2009
apud LIMA, 2016), esse problema é particularmente perigoso para barragens compostas
de material solto, como as barragens de terra.

Segundo Collischonn (1997), três situações podem causar o galgamento, são elas:

Má operação do reservatório durante a cheia;


Ocasião de uma cheia extraordinária, onde o vertedouro seja incapaz de verter
essa cheia afluente;
Formação de uma onda dentro do reservatório, de origem sísmica ou incitada pelo
deslizamento de uma grande quantidade de terra de encostas;
Formação de uma onda dentro do reservatório, de origem sísmica ou iniciada pelo
deslizamento de uma grande quantidade de terra de encoste.

De acordo com o mesmo autor, se o tempo e a intensidade do galgmento são suficientes,


inicia-se uma brecha em um ponto qualquer mais fraco na crista da barragem, e essa
brecha cresce com o tempo, por erosão, em uma velocidade que depende do material da
barragem e das características do reservatório.

2
Galgamento – Transposição de uma estrutura por uma massa de água

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Figura 3 – Formação de brecha por galgamento: a) início em um ponto mais fraco; b)
brecha em forma de V; c) aprofundamento da brecha; d) aumento lateral por erosão.
Fonte: LAURIANO (2009) apud LIMA (2016).

Na figura 3 temos um exemplo da formação de uma brecha por galgamento, desde o seu
início em um ponto mais fraco até o estágio final (aumento lateral por erosão).

Ruptura por liquefação

A liquefação é um fenômeno que ocorre, quando um solo arenoso em condições saturadas


passa a se comportar como um material no estado perdendo o atrito entre as partículas,
no entanto, para que ocorra liquefação é preciso que o solo granular seja suscetível de se
liquefazer, o que ocorre com as areias pouco compactadas (SOUZA, 2016 apud LIMA,
2016).

Para solos suscetíveis desenvolveram o fenômeno da liquefação é imperativo a existência


de condições que desencadeiam o processo, condições estas denominadas gatilhos.
Segundo (RIBEIRO, 2015), o gatilho da liquefação pode se dar por carregamentos
estáticos ou por carregamentos dinâmicos, este último causado por terramotos e
vibrações.

Segundo (DAVIES, 2002 apud LIMA, 2016), a liquefação estática tem sido estudada
com menor ênfase que a liquefação associada a eventos dinâmicos, constatando-se um
número ainda limitado de pesquisas e publicações relacionadas ao assunto na literatura
técnica. A ausência de menor número de publicações é associada ao pouco conhecimento
do fenômeno ou mesmo a um conhecimento isento de explicações associadas a
carregamentos não sísmicos. De acordo com (PEREIRA, 2005) a liquefação estática pode
estar associada a eventos tais como:

Elevação do nível de água em depósitos de materiais granulares;


Carregamentos rápidos;

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Movimentos de massas na área de influência dos depósitos de materiais
granulares;
Excesso de precipitação pluviométrica.

Vários relatos mostram a ocorrência da liquefação estática com instabilidades iniciais em


alteamentos, galgamentos, erosões internas, superfície freática elevada, dentre outros,
atribuindo-se estes mecanismos como disparador do fenômeno. Este papel secundário
dado à liquefação estática gera muito debate a esse respeito, o que é inquietante, pois
apesar de necessitar de uma instabilidade inicial para ser iniciada, é ela quem determina
o potencial destruidor da ruptura (PENNA et al, 2010 apud LIMA, 2016).

Ruptura hidráulica por “piping” ou erosão progressiva

A perda da resistência e da estabilidade de uma massa de solo por efeito das forças de
percolação é chamada de ruptura hidráulica. Quando a perda de resistência se inicia em
um ponto, ocorre erosão neste local, o que provoca ainda maior concentração de fluxo
nesta região; com o aumento do gradiente, surge maior erosão e assim, progressivamente,
forma-se um furo que progride regressivamente para o interior do solo. Este fenômeno,
conhecido pelo nome de piping3 ou erosão progressiva é uma das formas mais frequentes
de ruptura de barragens (TOMÁS, 2016 apud LIMA, 2016).

Segundo Maia (2015), piping é uma forma de ruptura hidráulica, que ocorre nos casos
onde registra-se erosão, através de carregamento dos grãos do solo pelas forças de
percolação4, que, embora aconteça internamente, seu mecanismo é semelhante à erosão
superficial provocada pela chuva. Seu início se dá num ponto de surgencia de água,
progredindo para trás em torno de um filete de água que arrasta os graus, cujo resultado
é a formação de um tubo, o que leva a ser conhecida também como retro erosão tubular.

3
Piping – é usada para converter líquidos, produtos químicos, combustíveis, gases ou outras matérias-
primas em um produto utilizável.
4
Percolação – traduz o movimento subterrâneo da água através do solo, especialmente nos solos saturados
ou próximos da saturação.

Página | 16
Figura 4 – Estágios de desenvolvimento de ruptura por piping.
Fonte: LAURIANO (2009) apud LIMA, (2016).
A figura 4 ilustra os estágios de desenvolvimento de ruptura por piping, estágios estes a
descarga protegida, erosão em sentido reverso e alargamento do tubo e o estágio que leva
a ruptura.

De acordo com Maia (2015), no caso de barramentos, deve-se observar as águas que
chegam ao reservatório, seja junto com os rejeitos, por precipitação directa, por
escoamento superficial, por processo de evaporação, e, particularmente, aquelas que
percolam pelo maciço, que merecem especial atenção.

MIRANDA, (2016) apud LIMA, (2016), considera os seguintes factores como


condicionantes ao piping:

Ausência de filtros horizontais tipo sanduiche, constituídos com materiais


fracamente permeáveis;
As condições de compactação do maciço rochoso;
Ausência de transições adequadas entre materiais granulares;
Presença de fundações arenosas.

A água mesmo indiretamente, é um dos factores desestabilizadores de barragens, tanto de


forma interna com externa em todos os modos de ruptura de barragens de rejeitos.

5.1.2. Modos de ruptura de taludes

Segundo PATTON & DEERE (1971) apud HUALLANCA, (2004), conforme a


geometria e a altura dos taludes de mineração a céu aberto, e adicionalmente, incluindo o
grau de fracturamento do maciço rochoso, as rupturas podem abranger uma determinada
escala. Estas rupturas foram divididas em três tipos:

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Rupturas locais (Tipo I) são rupturas que ocorrem em nível de bancada,
controladas por juntas e falhas dessas mesmas magnitudes.
Rupturas de maior escala (Tipo II), são rupturas controladas por descontinuidades
persistentes, tais como sistemas de juntas combinadas com falhas. Estas podem
ocorrer de acordo com a configuração geométrica das descontinuidades pré-
existentes em relação ao talude, gerando desta formaa rupturas do tipo planar ou
cunha.
Rupturas em rochas Fracturadas (Tipo III), são rupturas associadas ao alto
fracturamento, típico de rochas brandas e alteradas que influenciam a estabilidade
devido a sua baixa resistência. Este tipo de ruptura pode envolver várias bancadas
ao até o talude global.

Figura 5 – Tipos de rupturas em taludes de mineração a céu aberto.


Fonte: Modificado de PATTON & DEERE, (1971) apud HUALLANCA, (2004).

A figura 5 ilustra os três tipos de ruptura de taludes em mineração a céu aberto, rupturas
locais (I), rupturas de maior escala (II) e rupturas em rochas fraturada (III).

6. Avaliação de Riscos Geotécnicos e Meios de Remediação


6.1.Riscos em obras subterrâneas

O risco pode ser entendido como o produto da probabilidade de falha pelos custos
esperados da mesma, medido em termos monetários.

Segundo Clayton (2001), o risco pode ser definido como sendo uma combinação entre
perigo e vulnerabilidade, sendo o perigo algo com potencial de causar danos e

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vulnerabilidade como sendo um conjunto de factores que determinam a probabilidade que
o perigo se manifeste com consequências negativas. De forma mais ampla, para um
mesmo evento adverso (falha) com diferentes consequências, níveis de vulnerabilidade
são associados e o risco pode ser expresso como:

𝐶
𝑅 = 𝑃 [E]. 𝑃 [ ] . 𝑈[𝐶] (10)
𝐸

Onde:

R é o risco;

P[E] é o perigo ou a probabilidade do evento ou falha;

P[C/E] é a vulnerabilidade do evento E;

U[C] é a utilidade das consequências C.

Em obras subterrâneas existem diversos mecanismos de falha que podem ser


identificados de maneira clara e objectiva para que todos os envolvidos no projecto
possam tomar medidas para minimizá-los. Em um túnel escavado em rocha, por exemplo,
pode-se minimizar o risco da queda de blocos com a instalação de elementos de suporte,
como por exemplo, aplicação de concreto projectado e chumbadores.

O custo total esperado de uma obra subterrânea que apresenta risco de falha envolve a
soma de todos os custos que incidem durante toda a vida útil da estrutura, custos estes: a
construção, investigação, operação, manutenção, além dos custos esperados para um dado
modo de falha. Esses custos não ocorrem de maneira proporcional ao nível de segurança,
existe um ponto no qual o custo total esperado é mínimo, associado a um valor da
probabilidade de falha.

Segundo Cintra & Aoki (2010), para além dos métodos tradicionais de dimensionamento
das estruturas de suporte, quando necessários à estabilidade de uma escavação de um
túnel em rocha, devem ser elaborados analises de confiabilidade (probabilidade de falha)
para que todos os envolvidos no projecto estejam cientes do nível de risco a que a
estrutura estará submetida e a definição do risco máximo para a mesma.

6.1.1. Identificação dos riscos e seus resultados

De acordo com Kochen (2009), para a realização de um bom plano de identificação de


riscos usam-se perguntas que vão direcionar o nosso olhar para as seguintes questões:

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1. Como percebo que existem riscos? Os riscos são inevitáveis, não são bons nem
maus, são simplesmente parte de qualquer empreendimento de engenharia.
Devem ser gerenciados: identificados, reduzidos, e se possível eliminados.
2. Quais riscos devo aceitar? Quais devo rejeitar? A definição de um nível de risco
máximo cabe às entidades envolvidas no empreendimento (proprietário,
construtor, comunidades afetadas e usuários), lembrando que a noção de risco é
subjetiva, tanto o nível de risco aceitável como os riscos que precisam ser
rejeitados, é algo que deve ser definido por um colegiado.
3. Como fazer para não ficar inconsciente dos riscos? A monitoração,
acompanhamento e supervisão técnica, e avaliação constante do projecto e
construção fazem parte dos procedimentos de gerenciamento e minimização de
riscos.

O risco, em qualquer empreendimento de engenharia, é composto de três elementos:


probabilidade de ocorrência, escolha e consequência. Controles são políticas,
procedimentos, práticas ou estruturas organizacionais projectados e implantados de forma
a prover uma garantia razoável de que os objectivos do empreendimento serão atingidos,
e que eventos indesejáveis serão identificados e corrigidos, em tempo hábil.

6.1.2. Probabilidade, percepção e gravidade de riscos

Quanto a probabilidade e percepção:

Alta – quando a probabilidade de ocorrência é maior que 60%, a percepção é


iminente;
Media – quando a probabilidade de ocorrência está entre 20 e 60%, a percepção é
razoável;
Baixa – quando a probabilidade de ocorrência é menor que 20%, a percepção é
quase imperceptível;

Quanto a gravidade:

Baixa – O impacto do evento de risco é irrelevante para o empreendimento, tanto


em termos de custo, quanto de prazos, podendo ser facilmente resolvido;
Média – O impacto do evento de risco é relevante para o empreendimento e
necessita de um gerenciamento mais preciso, sob pena de prejudicar os seus
resultados;

Página | 20
Alta – O impacto do evento de risco é extremamente elevado e, no caso de não
existir uma interferência directa, imediata e precisa da equipe no empreendimento,
os resultados serão seriamente comprometidos.
6.1.3. Avaliação do risco segundo a ISO 31000

O processo de avaliação do risco segundo a ISO 31000, consiste em avaliar, controlar,


mitigar, planejar e fornecer directrizes para que o empreendimento possa controlar o risco
independentemente da sua dimensão.

Neste processo, é fundamental avaliar as incertezas de forma a tomar a melhor decisão


possível, priorizando as mesmas de modo a reduzir o dano. Assim, ao avaliar e ao tratar
riscos admissíveis, criam-se situações em que se pode trabalhar para minimizá-los.

De acordo com a ISO 31000 (ABNT, 2009), a tomada de decisão deve ser baseada nos
seguintes procedimentos:

Avaliação do risco- identificação e avaliação das informações sobre o risco;


Análise do risco: definição da origem e sua probabilidade de ocorrência,
mitigando as consequências das actividades geradoras, atribuindo parâmetros e
valores das simulações da probabilidade de ocorrência;
Aceitação do risco- após a redução a valores aceitáveis, define-se aceita-lo;
Tratamento do risco- processo de seleção e de implantação de soluções para trata-
lo. As medidas são julgadas, sendo possível a recusa de uma decisão insegura,
tomando decisões para minimizar os pontos negativos e majorar os pontos
positivos;
6.1.4. Principais definições para avaliação de riscos geotécnicos

É importante saber que análises de risco de encostas e taludes sempre existiram, mesmo
que não formalizadas, porém sem que houvesse uma estrutura para padronizar essas
avaliações. As primeiras aplicações formais de uma estrutura para análise de risco de
movimentos de massa foram utilizadas para zoneamento de deslizamentos para
planejamento urbano e gerenciamento de taludes rodoviários na década de 1970, de forma
qualitativa. Nas décadas seguintes, abordagens quantitativas começaram a ser utilizadas
e o uso dessas análises foi estendido para encostas individuais, autovias e gerenciamento
global de risco de encostas (FELL et al., 2005).

6.2.Avaliação de riscos de ruptura de taludes

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O conhecimento de riscos geológicos, geotécnicos e sua quantificação, torna-se
necessária para entender como a geotecnia pode contribuir para minimização ou
erradicação deste risco. Alguns conceitos inerentes à avaliação de risco são tratados por
Augusto Filho et al. (1990a). Evento trata de um fato já ocorrido, no qual não foram
registradas consequências danosas sociais e/ou econômicas relacionadas diretamente a
ele. Acidente refere-se a um fato já ocorrido, onde foram registradas consequências
danosas sociais e/ou econômicas (perdas e danos). Risco representa a possibilidade ou
probabilidade de ocorrência de algum dano a uma população (pessoas, estruturas físicas,
sistemas produtivos) ou a um segmento da mesma. É uma condição potencial de
ocorrência de um acidente.

De acordo com Bandeira (2003) apud Menezes (2011), vários autores discutiram os
conceitos que envolveram riscos, entre os quais Zuquete (1983), e Vernes (1984), que
define:

Natural hazard: probabilidade de ocorrência de um fenômeno dentro de um certo


período de tempo e de uma determinada área (suscetibilidade);
Risco (risk): número de perdas de vidas, de danos às pessoas e propriedades, e de
atividades econômicas interrompidas devido ao fenômeno;
Zoneamento: divisão de áreas homogêneas com graus de perigo atual ou potencial
devido a movimentos de massa;
Vulnerabilidade: grau de perda de um determinado elemento ou conjunto de
elementos de risco, devido à ocorrência de um fenômeno natural;
Elemento de risco: população, propriedades e atividades econômicas em uma
determinada área de risco;
Risco específico: grau esperado de perda devido a um fenômeno natural.

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Tabela 1 – Conceitos referentes a análise de riscos.

Fonte: Zuquete (1993) apud Menezes (2011).

Segundo Bolt et al., (1975) apud Menezes (2011), a análise de risco pode ser qualitativa,
na qual a suscetibilidade e vulnerabilidade são obtidas de forma relativa, através da
comparação com situações de risco já identificadas; ou quantitativa, através da
probabilidade de ocorrência de determinado evento, em um intervalo de tempo. Na
análise qualitativa, o risco é classificado, por exemplo, como baixo, médio e alto, e na
análise quantitativa incorpora-se a probabilidade de ocorrência do processo e a
distribuição probabilística das consequências.

Figura 6 – Métodos propostos para avaliação de riscos.


Fonte: Cerri (2001) apud Menezes (2011).

7. Estudos de casos

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Rio Verde – Cava C1 – Nova Lima
O seguinte estudo de caso é sobre uma empresa de mineração localizada em Brasil no
município de Nova Lima/MG, a empresa denominada rio verde realiza atividades de
exploração de ferro e consequentemente a disposição de seus rejeitos. No ano de 2001, a
contenção de rejeitos era realizada em uma antiga cava, denominada cava C1, a qual se
localizava ao extremo norte da mina. Essa antiga cava passou a ser usada como depósito
de rejeitos, quando sua operação foi interrompida em 1990 devido às restrições impostas
pela própria geometria da cava, que tinha 500 m de comprimento, 120 m de largura e 100
m de profundidade (DINIZ, 2006).

Os rejeitos de granulometria fina e com elevado teor de ferro, eram lançados ao extremo
sul da estrutura de contenção e se sedimentavam ao longo da mesma. De acordo com as
características de deposição comuns a este tipo de situação, as partes grossas e mais
pesadas dos rejeitos se sedimentavam mais rapidamente, enquanto que o material fino
com líquidos se dirigia para a zona norte da barragem. O direcionamento da fração fina
com líquidos para as proximidades da borda norte, somado a inexistência de um sistema
de drenagem interna, contribuiu claramente para a elevação do nível freático da barragem,
atingindo níveis inaceitáveis (DINIZ, 2006).

No segundo semestre de 1994, a barragem C1 alcançou os limites de altura da cava,


começando assim a segunda fase do projeto, com a implementação de diques de
contenção ao longo das bordas norte e leste da barragem. Para isto, começaram a ser
executados alteamentos pelo método de montante com altura de 10m por 15m de largura.
No entanto, os últimos taludes realizados antes da ruptura eram visivelmente menores do
que o informado e também não foram identificados instrumentos de monitoramento ao
longo da estrutura (DINIZ, 2006).

Em 22 de junho de 2001, ocorreu a ruptura da borda nordeste deste sistema de contenção,


cuja o alteamento se encontrava a 20m acima da cota da crista da barragem, a qual já
estava com alturas superiores a 40m em relação as bordas. Neste momento, o perímetro
da estrutura de contenção era de aproximadamente 1130m, com uma seção transversal de
45.300 m² e com taludes com inclinações médias de aproximadamente 1V:1.8H. Vale a
pena ressaltar, que esta inclinação de talude é muito acentuada para este tipo de estrutura.
A ruptura apresentou dimensões de mais ou menos 330m de largura ao longo da barragem
de rejeito, que liberou imediatamente 530.000m³ de rejeitos acumulados (DINIZ, 2006).

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O material deslizou rapidamente devido a topografia extremamente acidentada da área,
alcançando uma extensão de aproximadamente 6,3km de distância, com uma largura
média estimada de 60 metros e uma altura total de 400 metros. Observou-se que em
alguns lugares houve a deposição destes rejeitos em depressões ao longo do caminho,
enquanto que em outros, a lama expôs o solo a erosão e causando novas instabilidades, a
Figura 14 mostra a vista da barragem de rejeito após a ruptura (DINIZ, 2006).

Figura 7 – Vista da barragem de rejeitos da mineração Rio Verde após a ruptura.


Fonte: ÁVILA (2008)

A ruptura da barragem de contenção de rejeitos da Mineração Rio Verde, matou cinco


operários, destruiu a principal via de acesso, soterrou parte do município de São Sebastião
das Águas Claras e devastou 79 hectares de Mata Atlântica. Cerca de 600 mil m³ de
rejeitos alcançaram o córrego Taquaras e 30 hectares de uma área de proteção ambiental
na região (CETEM, 2016).

A mineração Rio Verde promoveu alteamentos sucessivos na Cava C1 sem o devido


licenciamento ambiental de forma intencional, não cumprindo as normas técnicas

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exigidas, pois, no procedimento de licenciamento consta apenas um alteamento de 10
metros, no entanto, foram realizados mais dois alteamentos os quais não foram
licenciados pelo órgão competente. Desta forma, não houve a elaboração de projeto
executivo da obra, considerando as informações geotécnicas necessárias à avaliação
precisa da situação de risco, e nem a intervenção de responsável técnico para acompanhar
a execução da mesma (COMARCA DE NOVA LIMA, 2007).

Além do número de alteamentos, outras possíveis causas para o incidente foram:


geometria inadequada dos alteamentos; método de lançamento dos rejeitos no
reservatório; e a inexistência de sistema de drenagem e filtração interna. A associação
destes fatores levou à situação de talude crítica, com elevação excessiva da superfície
freática e consequente ruptura (DINIZ, 2006).

As seguintes observações técnicas foram consideradas no laudo do acidente (GOMES,


2001):

Erro no método de lançamento dos rejeitos no reservatório a montante, mantendo


uma lâmina de água afastada da estrutura de contenção. Neste Caso, o lançamento
ocorreu contra a corrente e em direção ao dique;
Falta de análise das características do rejeito por meio de ensaios de laboratório
e/ou campo, buscando avaliar a capacidade de carga da barragem considerando a
cimentação dos rejeitos antes de utilizá-los como base para novos alteamentos;
Falta de dispositivos de drenagem interna;
Falta de monitoramento da estrutura de contenção e encostas durante a operação,
identificando as variações no nível da água e a ocorrência de pequenos
deslocamentos, dentre outros indícios de mau desempenho.

Entidades ambientalistas atribuíram o rompimento da barragem de rejeitos da Mineração


Rio Verde ao descaso dos governos estadual e federal na inspeção das atividades
mineradoras (CETEM, 2016). As fiscalizações da cava C1 foram realizadas pelo agente
B.M.J da FEAM ( Fundação Estadual do Meio Ambiente) - nos dias: 05 de abril de 1991;
16 de agosto de 1994; 24 de novembro de 1994; 27 de março de 1995; 13 de dezembro
de 1995; 19 de janeiro de 1996; 26 de abril de 1996; 09 de janeiro de 1997; 02 de outubro
de 1997; 26 de agosto de 1998; 02 de março de 1999; 17 de dezembro de 1999; 10 de
maio de 2000; 14 de junho de 2000; 11 de outubro de 2000; 09 e 10 de maio de 2001, ou

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seja a última inspeção foi realizado no mês anterior ao de ruptura (COMARCA DE
NOVA LIMA, 2007).

A comissão de sindicância do conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e


Agronomia de Minas Gerais (CREA-MG), concluiu que o acidente decorreu da
construção de uma obra sem a noção de técnicas adequadas, desconsiderando normas e
regulamentos pertinentes descumprindo da legislação ambiental e de segurança de
barragens (COMARCA DE NOVA LIMA, 2007).

O rompimento da barragem provocou ações cíveis e penais na Justiça mineira e em junho


de 2007, dois engenheiros da mineradora foram condenados a oito anos e oito meses de
prisão, em regime fechado, por crime ambiental. Incidiram contra eles crimes contra a
flora, a fauna, a unidade de conservação, e alegações de inadimplência das exigências do
licenciamento ambiental (CETEM, 2016). A decisão foi da Comarca de Nova Lima/MG,
ficando provado que o evento lesivo era previsível pela Mineradora Rio Verde, já que a
obra de alteamento além de ser ilegal não cumpria com as exigências de segurança e que
a mineradora em questão não tomou as medidas de precaução, assumindo assim os riscos
por falta da mesma. A implementação das medidas de precaução importaria ônus de
natureza econômica para a empresa a qual optou por evitar a realização de maiores
despesas (COMARCA DE NOVA LIMA, 2007).

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8. Conclusão

Findo o trabalho, conclui-se que a segurança de uma estrutura geotécnica é avaliada


através de um factor de segurança global e factores de segurança parciais. O fator de
segurança global pode ser determinado de acordo com o tipo da obra, a importância, a
finalidade e através de experiências anteriores em condições semelhantes, com o intuito,
verificar a segurança da mesma.

Para o estudo da probabilidade de ruptura de uma obra mineira, faz-se análise de


estabilidade com base em análises determinísticas que não envolvem o estudo da
variabilidade dos parâmetros do solo no cálculo dos fatores de segurança e, por
conseguinte o estudo de probabilidade do fator de segurança.

A avaliação das consequências ligadas a ruptura das obras mineiras é feita com base nos
mecanismos e modos de rupturas destas obras. Em caso de ruptura de barragens, os
mecanismos podem ser de ruptura por galgamento, liquefação e hidráulica. Quanto aos
modos de ruptura de obras mineiras eles podem ser avaliados em rupturas locai, rupturas
de maior escala e ruptura de rochas fracturadas, em caso de ruptura de taludes.

Conclui-se também que a avaliação de riscos geotécnicos pode ser feita com vase na
avalição ISSO 3100, que consiste em avaliar, controlar, mitigar, planejar e fornecer
directrizes para que o empreendimento possa controlar o risco independentemente da sua
dimensão.

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9. Referências Bibliográficas

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