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Rio de Janeiro
2012
Rio de Janeiro
2012
CATALOGAÇÃO NA FONTE
UERJ/REDE SIRIUS/ BIBLIOTECA CCS/A
CDU 327
Autorizo apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta dissertação, desde que
citada a fonte.
_____________________________________ ___________________________
Assinatura Data
Banca examinadora:
____________________________________________
Prof. Dr. Alexis Toribio Dantas (Orientador)
Instituto de Filosofia e Ciência Humanas - UERJ
____________________________________________
Profª. Dra. Lia Cecília Baker Fonseca Valls Pereira
Instituto de Filosofia e Ciência Humanas - UERJ
____________________________________________
Prof. Dr. Luiz Pedone
Universidade Federal Fluminense - UFF
Rio de Janeiro
2012
DEDICATÓRIA
Para Célia Simões, Yara Guimarães, Mário Afonso Lima e Wellington Amorim.
Obrigada.
AGRADECIMENTOS
Dizem que as maiores batalhas da vida são travadas quando estamos a sós.
Cabe dizer, porém, que quando construímos algo, ou quando atingimos uma meta
que levamos tanto tempo para atingir, nunca o fazemos sozinhos. A conquista de se
formar em um mestrado está longe de ser individual, pelo contrário, há muito e
muitos a agradecer. Dedico este espaço a todos que participaram deste processo,
direta ou indiretamente, das mais diversas formas, com todo tipo de apoio.
Aos meus pais, Célia Cordeiro Simões e Sylvio Florenciano Simões (in
memorian) pela base de tudo que sou hoje. Obrigada por me ensinarem a ser uma
pessoa correta, a dar valor aos estudos, a acreditar em mim mesma, e a seguir
sempre em frente mesmo quando alguns obstáculos surgissem no caminho.
Obrigada pelo seu amor incondicional e por me ensinarem os melhores valores de
um ser humano através do exemplo que sempre foram para mim. A minha mãe
Célia, um obrigado especial por me incentivar em todos os momentos, por se
orgulhar de mim, e por me permitir continuar me dedicando exclusivamente aos
estudos sem nenhuma cobrança, apenas por confiar no meu comprometimento e
potencial.
Aos meus avós, Yara Guimarães Cordeiro e Jorge Ferreira Ribeiro (in
memorian) que sempre me incentivaram nos estudos e também são exemplos de
caráter. A minha avó Yara, obrigada por ser meu exemplo de força e por me fazer
acreditar nos meus sonhos. Ao meu avô Jorge, obrigada pela inspiração, por criar
em mim o gosto pela leitura, pela história, pela geografia, pela política, pelas línguas,
pelo senso crítico, ou seja, tudo que está hoje ligado à profissão que eu escolhi.
Ao meu namorado, amigo, companheiro, crítico, psicólogo, leitor fiel, colega
de mestrado, e incentivador Mário Afonso Massière y Correa de Moraes Lima. Me
faltam palavras quando venho agradecer por tudo que você fez e continua fazendo
por mim. Obrigada pela paciência, pela gentileza, pelo carinho, pela amizade, pelas
noites mal dormidas, pelas palavras de incentivo, por estar sempre do meu lado, por
querer o melhor pra mim, pelas broncas merecidas, pela doçura, pelos agrados
quando muitas vezes eu nem merecia, por ouvir milhares de vezes as minhas
reclamações, frustrações, ideias, angústias e sempre ter alguma coisa reconfortante
pra me dizer, por me ajudar a fazer os Gráficos, por me ensinar pela milésima vez a
fazer a formatação no Word com a mesma paciência da primeira vez, e ainda assim
ter que mexer novamente em tudo porque eu não soube fazer do melhor jeito.
Obrigada por sua calma desconcertante, por sair comigo para descontrair e
continuar ouvindo sobre a minha dissertação, enfim, por ser uma pessoa
maravilhosa comigo e com todos e por felizmente fazer parte da minha vida.
Ao amigo, ex-professor e eterno mestre Wellington Amorim por ter despertado
em mim o gosto acadêmico pelo Leste Asiático, que já fazia parte das minhas
preferências televisivas e de leitura há muito tempo. Obrigada também por ter me
emprestado tantos livros, por ter lido meus trabalhos todas as vezes que pedi, por
servir de psicólogo virtual e pessoalmente sempre que eu achava que não dava
mais, por me tratar com carinho de filha e merecer da minha parte ao menos a
admiração de um pai. Agradeço por ser sempre tão correto, tão amável e tão
presente não só na vida acadêmica, mas também e principalmente na vida pessoal.
Ao professor Alexis Toribio Dantas por ter, em primeiro lugar, me aceito como
sua orientanda, por ter acreditado no meu projeto, por responder sempre meus e-
mails intermináveis, por me tranquilizar e me incentivar a todo momento, por me dar
toda liberdade que eu precisava, por confiar em mim mesmo que eu sempre tenha
atrasado alguns dias em quase todos os prazos que eu mesmo me dava, e por
parecer que estava logo ali na UERJ, quando na verdade estava do outro lado do
mundo.
Aos professores Lia Valls e Luiz Pedone por aceitarem fazer parte da minha
banca de dissertação. Obrigada à professora Lia que esteve comigo desde o
primeiro semestre do mestrado nas aulas de Integração Econômica e também na
qualificação do projeto de dissertação sempre com comentários e sugestões
interessantes para minha pesquisa. Obrigada ao professor Pedone por ser tão gentil
e interessado desde o primeiro momento em que foi convidado a fazer parte da
banca e por me tratar de forma tão acolhedora no pouco que nos conhecemos.
Comprovo a frase que já me foi dita mais de uma vez: o melhor nem sempre é
o mais fácil. Optar por um curso de mestrado pouco depois de deixar a faculdade,
escrever sobre um tema denso sobre países tão diferentes e distantes e de literatura
tão escassa no Brasil não foi uma das tarefas mais fáceis. Mas hoje, tenho a certeza
de que foi o melhor que podia fazer e a partir daqui, buscarei continuar fazendo o
melhor, para mim e para os demais.
Ao final, somente percebemos do
que somos capazes ao tentarmos,
nem que pareça impossível.
Wellington Amorim
RESUMO
ABSTRACT
This dissertation aims to analyze the international relations in East Asia with a
focus on research into the phenomenon of regional integration and the competition
for leadership in the region through the mechanisms of integration by their local
major powers, China and Japan. The Association of Southeast Asian Nations
(ASEAN) and its deployment structure, ASEAN +3, comprising the ten member
countries of the association beyond the three most influential countries in Northeast
Asia, China, Japan and South Korea, are the object of research, since that being the
main mechanisms of integration of the region, are more likely to experience Chinese
and Japanese competition for the role of main actor and regional leader. The growing
importance of the mechanisms of integration in East Asia due to the increased
integration that it has been acquiring, a different kind of integration when compared
to European Union, brings greater representation for the region in the world and for
its member countries within the region. This type of prominence acquired by the
pattern of regional framework, which provides trade growth in the region and its
development, began to attract the regional powers, once they constitute an
interesting and important instrument of regional policy. The Japanese and Chinese
States have long-standing historical problems, which brings higher distrust and
instability in the region, increasing the competition between the two actors for greater
influence in regional integration groups, believing to be possible through this
maneuver to achieve regional leadership. Thus, what this dissertation aims to show
is: how Japan and China use the mechanisms of regional integration - with ASEAN
and ASEAN +3 in evidence - to perpetuate its policy in the region as a means of
attaining power, which are the objectives, benefits and interests to become the
regional leader, and to suggest which country has the greatest potential to become a
leader and through what kind of leadership.
INTRODUÇÃO ........................................................................... 12
1 TEORIAS DE REGIONALISMO, LIDERANÇA E LIDERANÇA
REGIONAL NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS:
CONSTRUINDO UMA TEORIA ................................................. 21
1.1 Considerações Iniciais ............................................................ 21
1.2 Regionalismo em Perspectiva Teórica .................................. 26
1.3 Liderança em Perspectiva Teórica ......................................... 33
1.4 Liderança Regional em Perspectiva Teórica.......................... 44
1.5 Considerações Finais .............................................................. 52
2 REGIONALISMO E INSTITUCIONALISMO ASIÁTICOS:
HISTÓRIA, ESTRUTURA E ECONOMIA .................................. 55
2.1 Considerações Iniciais ............................................................ 55
2.2 O conceito de Leste Asiático: As diferentes ‘Ásias’ ............. 56
2.3 A Associação dos Países do Sudeste Asiático (ASEAN) ..... 59
2.3.1 Antecedentes históricos da ASEAN (Décadas de 1950/1960) .. 59
2.3.2 ASEAN – 1967 a 1989 ............................................................... 67
2.3.3 ASEAN – 1990 aos dias atuais .................................................. 74
2.3.4 O ASEAN-Way ........................................................................... 85
2.4 A ASEAN em números ............................................................. 89
2.5 Considerações Finais .............................................................. 100
3 A REDEFINIÇÃO DO LESTE ASIÁTICO: A ASEAN+3 NA
ÁREA MAIS DINÂMICA DO CAPITALISMO ............................ 103
3.1 Considerações Iniciais ............................................................ 103
3.2 Leste Asiático: o centro mais dinâmico do capitalismo e o
papel dos EUA na região ......................................................... 104
3.3 A Associação dos países do Sudeste Asiático+3: uma
retrospectiva histórica (da EAEG à ASEAN+3) ..................... 118
3.4 Leste Asiático e Livre Comércio: o que é especulação e o
que há de concreto. ASEAN+3, ASEAN+1, EAS e EAFTA .... 135
3.5 ASEAN+3 em números ............................................................ 148
3.6 Considerações Finais .............................................................. 161
4 A DISPUTA PELA LIDERANÇA REGIONAL NO LESTE
ASIÁTICO: CHINA, JAPÃO E OS MECANISMOS DE
INTEGRAÇÃO REGIONAL ...................................................... 164
4.1 Considerações Iniciais ............................................................ 164
4.2 A relação entre Japão, a região e os mecanismos de
integração regional: ASEAN e ASEAN+3 ............................... 166
4.3 A relação entre China, a região e os mecanismos de
integração regional: ASEAN e ASEAN+3 ............................... 193
4.4 Duas potências, dois tipos de liderança no Leste Asiático.. 220
4.4.1 As modernas relações Sino-Japonesas ..................................... 220
4.4.2 Duas potências, dois tipos de liderança ..................................... 236
4.5 Considerações Finais .............................................................. 247
5 CONCLUSÃO ............................................................................ 250
REFERÊNCIAS .......................................................................... 258
APÊNDICE A - Estruturas e mecanismos da ASEAN ............... 268
ANEXO A - Relato Histórico do Caminho para a Comunidade
Econômica da ASEAN ............................................................... 274
ANEXO B - Mapas da ASEAN e ASEAN+3 ............................... 275
12
INTRODUÇÃO
Em plena Guerra Fria surgia uma terceira via, formada pelos novos Estados
independentes do pós-Segunda Guerra que apesar de serem bastante diferentes
em sua essência eram pobres, dependentes, e buscavam se desenvolver e por isso
eram classificados como o Terceiro Mundo. Muitos destes países buscavam status
de “não-alinhados” na Guerra Fria, mas tinham suas preferências em relação às
potências o que transformava o Terceiro Mundo em zona de Guerra enquanto o
Primeiro e o Segundo Mundos viviam de fato a Guerra Fria e um longo período de
paz como ausência de guerra direta. (HOBSBAWN, 1995).
Entretanto, foi a mesma crise que deu origem a uma iniciativa informal entre
os países da ASEAN e as principais potências regionais, por também sentirem o
impacto da crise e entenderem que era necessário fazer algo para que a
interdependência das economias não levasse toda região para uma espiral negativa.
O estabelecimento de um encontro informal entre os países membros da ASEAN e
China, Japão e Coréia do Sul dava início a ASEAN+3, que se constituiria como tal
reunindo a noção inicial de Leste Asiático sob sua alcunha, o que ajudou a região,
no momento da crise, a vencer o estado financeiramente perigoso que se
encontrava através de pacotes de ajuda econômica e manobras cambiais.
14
fazer parte dele era imprescindível para conseguir fazer desta ferramenta uma
opção possível para a liderança regional, disputada pelos dois principais atores
regionais, Japão e China, mas observados de perto pelos EUA. É neste ponto que
esta pesquisa se inicia.
1
Temas de direitos humanos, meio ambiente, cultura, pobreza e desenvolvimento humano, embora abordados
pela comunidade sócio-cultural da ASEAN são marginalizados se comparados a assuntos de comércio e
segurança.
17
futuro), nem sempre é necessário a escolha de uma única teoria para explicar um ou
mais fenômenos.
Tabela 1: Perspectivas Teóricas para as Relações Internacionais da Ásia Fonte: ACHARYA (2008, p. 61, tradução
nossa)
Desta forma, é importante afirmar que a maneira como as teorias são tratadas
em um trabalho acadêmico, dependerão muito da forma como o pesquisador
entende e aplica as questões de ontologia e epistemologia. Furlong e Marsh (2010)
em um dos textos mais esclarecedores sobre metodologia, e principalmente sobre
ontologia e epistemologia aplicadas às ciências sociais afirmam que a orientação de
2
Regime que evita conflitos devido a um modo capitalista de desenvolvimento. É necessário ressaltar, no
entanto, que a interdependência, em si, não precisa ser capitalista – apesar de ter sido no caso da Ásia – como,
em outra época e área, o Conselho para Assistência Econômica Mútua (ou COMECON), um regime de
interdependência, com um comércio “administrado”.
24
cada cientista social em relação ao seu objeto de estudo molda sua posição
ontológica e epistemológica. Sendo assim a forma como enxergamos a ontologia e a
epistemologia deve ser entendida como algo sério e profundo justamente por
qualificar a maneira que fazemos ciência além de indicar o ponto de partida que
utilizamos para fazê-lo.3
Nas palavras dos autores ontologia “[...] é a forma e a natureza da realidade e
consequentemente, o que é possível saber sobre ela”4(FURLONG & MARSH, 2010),
ou seja,é a forma como o pesquisador enxerga o mundo ( a realidade) . Já a
epistemologia, ainda de acordo com os autores segundo a frase supracitada, é o
que possível saber sobre o mundo. Enquanto a ontologia esta voltada para a
existência, a epistemologia está voltada para o conhecimento desta existência e a
forma como é possível enxergá-la. Sendo assim, é possível dizer que questões
epistemológicas e ontológicas estão inevitavelmente ligadas. Contudo, o tipo de
relacionamento entre as duas é um assunto extremamente contestado e depende da
forma como cada grupo de escolas teóricas, divididas pelos autores entre
fundacionalistas e anti-fundacionalistas, enxergam esta questão.
Os fundacionalistas, que podem ser divididos entre positivistas – aqueles que
utilizam métodos apenas quantitativos – e realistas5 – que utilizam métodos
qualitativos e quantitativos –, acreditam que o mundo, e com isso a realidade, são
formados por objetos que possuem propriedades que são independentes do
observador, ou seja acreditam que todo observador deve enxergar e entender tais
objetos da mesma forma, uma vez que possuem as ferramentas necessárias para
tal. Por outro lado os anti-fundacionalistas – que utilizam métodos apenas
qualitativos – que são classificados como interpretativistas, acreditam que não existe
uma só realidade, e sim realidades locais e específicas que não são descobertas,
mas construídas socialmente.
3
No texto intitulado “A skin not a sweater: ontology and epistemology in political science” os autores utilizam a
metáfora usada no título “Uma pele e não um suéter” para falar sobre ontologia e epistemologia. O que Furlong e
Marsh (2010) querem dizer é que a forma como um pesquisador enxerga ontologia e epistemologia é algo muito
mais profundo do que se imagina pois se relaciona com a visão de mundo do pesquisador e molda toda sua
pesquisa, ou seja, não pode ser considerado um suéter que é possível ser mudado de tempos em tempos. Mais
que isso, é como a pele que é algo próprio, intrínseco ao pesquisador e que não pode ser mudado sempre que o
trabalho acadêmico exige.
4
O texto em língua estrangeira é: “[...] is the form and nature of reality and, consequently, what is there taht we
can be known of it.”
5
O termo realistas segundo o texto é no sentido amplo e não específico da Teoria Realista de Relações
Internacionais.
25
6 6
Regionalização “diz respeito ao crescimento da integração da sociedade em uma região” (HURRELL, 1995, p.
26) Conhecido também como “regionalismo suave” (soft regionalism), o termo dá peso a processos econômicos
autônomos, circulação crescente de pessoas e complexas redes sociais
7
Consciência e Identidade Regionais são para Hurrell, conceitos vagos mais indispensáveis e dizem respeito à
consciência dos indivíduos de fazerem parte de uma certa região socialmente construída e se identificarem com
ela;
8
Cooperação Regional entre Estados para o autor pode ser feita de maneira formal ou informal, envolve grande
parte das transações que buscam algum tipo de integração entre países, e pode servir a diversos propósitos de
econômicos a de segurança;
27
[...] em vez de trabalhar com um conceito único de aspecto muito amplo, é mais útil
decompor o conceito de ‘regionalismo’ em cinco categorias diferentes,
analiticamente diversas, embora as relações entre elas sejam fundamentais para a
teoria e a prática do regionalismo contemporâneo .(HURRELL, 19995, p. 26)
9
Integração Econômica Promovida pelo Estado é importante para o autor, pois “envolve decisões específicas de
políticas por parte dos governos, destinados a reduzir ou remover barreiras ao intercâmbio mútuo de bens,
serviços, capital e pessoas” (HURRELL, 1995, p. 29)
10
Coesão Regional que para o autor é a “possibilidade de que, [...], a combinação dos quatro primeiros
processos [...] desemboque no surgimento de uma unidade regional coesa e consolidada”. (HURRELL, 1995 ,
ps. 29-30)
11
Segundo Waltz (1979) é a estratégia do Estado mais fraco de se aliar ao Estado mais forte para tentar tirar
algum proveito desta relação.
28
12
O conceito de interdependência está ligado ao conceito de dependência que significa “o estado de ser
determinado ou fortemente afetado por forças externas”(KEOHANE & NYE,2001, p. 7, tradução nossa). O texto
em língua estrangeira é “... a state of being determined or significantly affected by external forces” ). A
interdependência seria, portanto, a dependência mútua dos países do sistema, que se daria através de
movimentação de pessoas, capital, ideias, e outros através das fronteiras do Estado, o que torna cada vez menor
o controle do Estado nacional sob tais questões.(KEOHANE & NYE, 2001)
13
O efeito transbordamento parte do princípio de que os benefícios que uma integração traz tornam cada vez
mais difícil a saída de um país desta integração, e que estes benefícios que são gerados para um membro
acabam transbordando, ou respingando e atingindo todos os outros que fazem parte daquela integração.
(HURRELL ,1995, p. 41)
29
uma vez que este estudo utiliza-se da orientação ontológica fundacionalista para
explicar também a integração na região. .
Apesar de algumas noções do construtivismo muitas vezes serem aplicadas
aos casos da ASEAN e da ASEAN+3 por diversos estudiosos do assunto (BA, 2009;
NARINE, 2009; ACHARYA, 2008 e outros) por questões de identidades,
reconhecimento e simpatia mútuos, assuntos delicados pelo passado histórico da
região, é o Institucionalismo neoliberal que.continua explicando a integração
baseada no comércio e na figura forte do Estado indispensável, enquanto
proponente de alianças e integração amistosa, para o bom funcionamento do bloco.
O que é possível perceber, é que apesar de inimizades e identidades diversas, e as
vezes ausência de simpatia mútua, o bloco foi um dos que mais se desenvolveu nas
últimas décadas. É plausível pensar que Estados que se identificam uns com os
outros, costumam argumentar a favor de uma mesma questão ou contra outra, mas
o comércio no bloco e o papel do Estado na cultura principalmente da ASEAN14
parece mostrar-se superior a isso, mantendo o bloco e seu crescimento apesar dos
diversos casos de inimizade e passado histórico conturbado.
Uma vez definida a melhor corrente teórica para trabalhar as questões da
integração regional na região do Leste Asiático, torna-se possível encaixar a ASEAN
e seu desdobramento estrutural nas cinco categorias que formam o conceito de
regionalismo segundo Hurrell (1995). A abordagem deste trabalho é voltada para
pelo menos três das cinco categorias colocadas pelo autor: a Coesão Regional, a
Cooperação Regional entre Estados e a Integração Regional promovida pelo
Estado.
Dentro da categoria de Coesão Regional dá-se destaque à duas das quatro
subcategorias que a formam: a Cooperação Regional entre Estados e a Integração
Econômica promovida pelo Estado. A primeira destas categorias se encaixa no
contexto atual da ASEAN, uma vez que é caracterizada como mais ampla e típica de
blocos que estão em formação e/ou fase de transformação, por poder se encaixar
tanto em regimes mais “frouxos” quanto mais formais no que tange à existência ou
não de instituições. Além disso, segundo Hurrell, a Cooperação Regional pode servir
a diversos propósitos, desde “respostas a desafios externos e à necessidade de
coordenação das posições regionais nas instituições internacionais” (HURREL,
14
Para melhor explicação sobre este assunto ver a seção de ASEAN-Way no próximo capitulo
32
1995, p. 28) até “para assegurar ganhos de bem-estar, promover valores comuns ou
resolver problemas comuns.”(IBID) Ainda segundo o autor, esta categoria serve bem
ao campo de segurança institucionalizada ou não, e ambas podem corresponder a
ASEAN tanto em seu período inicial durante o “velho regionalismo”15, com o
estabelecimento de um ‘agrupamento de segurança’ não-institucionalizado, quanto à
ideia da Comunidade de Segurança da ASEAN.16
Porém a categoria que mais se aproxima da ASEAN é a categoria da
Cooperação Regional Entre Estados e o fato de reforçar e promover a atuação do
Estado, mesmo que seja em conjunto como é o caso do bloco, é como prevê o
institucionalismo neoliberal. (HURREL, 1995). A categoria da Integração Regional
promovida pelo Estado, também se faz presente neste estudo uma vez que bem
como a categoria anterior, aborda a integração feita através da vontade dos
governos, como é o caso da ASEAN desde sua fundação em 1967. Contudo, uma
característica das mais importantes desta categoria é a presença de estágios de
integração que em teoria evoluem de eliminação de barreiras comerciais até o
desenvolvimento de políticas comuns como no modelo europeu, mas que podem
parar antes da criação de políticas comuns como é o caso do presente momento da
ASEAN.
As demais categorias – leia-se Regionalização; Consciência e Identidade
Regionais – também podem caracterizar a ASEAN de acordo com a escolha teórica
que é feita. Enquanto a Regionalização lembra mais o Neofuncionalismo, pois dá
grande ênfase não só a integração da sociedade em níveis mais altos, mas também
à importância das empresas e das redes estabelecidas sem a necessidade da
intervenção do Estado; a Consciência e Identidade Regionais lembra o
Construtivismo com todo o discurso da consciência e identidade regionais como pré-
requisito para a formação de uma área de integração regional. Apesar de ambas as
categorias estarem dentro do nível de análise regional (o escolhido para tratar da
ASEAN através do Institucionalismo neoliberal), não se encaixam na escolha teórica
15
É considerado velho regionalismo, por alguns autores, o fenômeno regional que ocorreu do fim do século XIX
até a década de 1980. Os acordos do velho regionalismo eram basicamente ou comerciais – de criação de
comércio – ou militares. O velho regionalismo também é conhecido por privilegiar o regionalismo fechado, ou
seja, favorecendo o comércio intra-regional vis-à-vis o extra-regional. (Notas de aula de Integração Regional,
ministrada pela Profª Patrícia Nasser Carvalho– 01/09/2009)
16
A Comunidade de Segurança da ASEAN foi concebida em 2003 pelos líderes do bloco para ser construída
com a evolução deste, bem do Fórum Regional da ASEAN criado em 1994 e que envolve membros e não-
membros da ASEAN.). Disponível em: http://www.aseansec.org/64.htm
33
Nabers(2008) e Young (1991) são autores que tratam não só da questão pura
e simples da liderança, mas também quando aplicada à disputas dentro de
instituições regionais e à formação de regimes e instituições no cenário
internacional. Para Nabers (2008), que trata em seu artigo da disputa entre China e
Japão pela liderança através dos mecanismos regionais do Leste da Ásia, a
liderança de um Estado forte com destaque internacional é indispensável para que
um grupo de países seja levado a agir de forma coletiva. A ASEAN como instituição
não possui um país que possa ser considerado líder, apesar de Indonésia, Tailândia
e Malásia terem um destaque maior dentro da associação. Por outro lado, na
ASEAN+3, China e Japão são países com grande destaque internacional,
capacidade de guiar a instituição à ação coletiva e vontade de fazê-lo.
17
O texto em língua estrangeira é: Leadership plays a crucial role in tackling internationally relevant problems
[…]. Strong leadership seems to be essential for guiding and directing a group of countries towards collective
action. On the other hand, cooperation between international actors raises questions about how to share both
costs and benefits, especially when some actors are economically and/or militarily more powerful than others.
Even if membership in a regional or global institution is inclusive and voting rules are representative, some states
may carry considerably more weight than others because their voice is considered crucial for the outcome of the
political process. These states can be considered “leaders” in international affairs.
34
18
Para fazer esta construção da escola realista Nabers utiliza as idéias dos seguintes autores: CARR; 1964;
MORGENTHAU, 1967; WALTZ, 1959, 1979,
19
Para fazer esta construção da Teoria da Estabilidade Hegemônica Nabers utiliza as idéias dos seguintes
autores: KRASNER, 1985; STRANGE, 1983.
35
20
Para fazer esta construção da Teoria da Transição de Poder Nabers utiliza as idéias dos seguintes autores:
ORGANSKI, 1968; ORGANSKI & KUGLER, 1980; KUGLER & LEMKE eds., 1996; KUGLER & LEMKE, 2000;
TAMMEN ET AL, 2000; LEMKE, 2002; KUGLER & TAMMEN & EFIRD, 2004.
21
Para fazer esta construção da Teoria da Transição de Poder Nabers utiliza as idéias dos seguintes autores:
KIM, 1991,1992; LEMKE, 2002; KUGLER & TAMMEN & EFIRD, 2004
22
Apesar de Nabers (2008) citar as três faces do poder como de autoria de Lukes (1974), outros autores já
haviam anteriormente elaborado o que depois passou a ser convencionado como a primeira e segunda faces.
Dahl (1961) foi o responsável por observar o poder de acordo com a primeira face, enquanto Bacharch& Baratz
(1963) foram os pesquisadores que acrescentarem à primeira face de Dahl, uma segunda. Lukes (1974), por fim,
36
foi quem elaborou o conceito da terceira face, como acréscimo conceitual às duas anteriormente expostas. (NYE,
2011)
23
“O termo Intersubjetividade, utilizado frequentemente pelos construtivistas, é equivalente ao de ‘conhecimento
comum’,que é usado na linguagem cotidiana. Ambos se referem às crenças mantidas por indivíduos sobre os
outros.” (NABERS, 2008 p. 10, tradução nossa) O texto em língua estrangeira é: The term ‘intersubjectivity,’
frequently used by constructivists, is equivalent to that of ‘common knowledge,’which is used in everyday
language. Both refer to the beliefs held by individuals about each other.
37
Soft power é fazer com que os outros almejem os resultados que você almeja,
cooptando-os e não os coagindo. O Soft power está na habilidade de moldar as
preferências dos outros [...] fazer com que os demais comprem os seus valores.[...]
Soft Power não é simplesmente influência, uma vez que esta pode vir através do
hard power.[...] É também a habilidade de atrair, e atração muitas vezes leva ao
consentimento. [...] A diferença entre soft e hard power está na variedade de formas
de obter o resultado desejado. [...] usando poder econômico, [...] restringindo
preferências, [...] ou apelando para o senso de atração, amor ou dever do outro e
apelando para os valores comuns [...]. Se o outro foi persuadido a cooperar com
24
O texto em língua estrangeira é: disputed, and constituted by shared ideas about self, other, and the world, and
it relies on the intersubjective internalization of ideas, norms, and identities
38
seus propósitos sem nenhuma ameaça ou troca [...] o soft power está em
25
ação. .(NYE, 2004, ps.5-7, tradução nossa)
26
Vale ressaltar que a definição de realidade (ontologia) para cada uma das duas abordagens é diversa e
segundo Furlong e Marsh (2010)pois para os fundacionalistas ou racionalistas o mundo ‘real’ existe
independente do nosso conhecimento sobre ele, enquanto para os anti-fundacionalistas ou intersubjetivos, o
mundo é socialmente construído e depende do conhecimento que temos sobre ele. Esta forma diversa de olhar
para a realidade apenas fortalece a critica feita a Nabers (2008) de que teorias intersubjetivas levam em conta
questões de influência indireta de um Estado sobre o outro e de hegemonia coletiva, enquanto as teorias
realistas se limitam apenas às questões de hard Power.
27
O texto em língua estrangeira é: first involves material incentives, which range from economic sanctions to
military strikes [...]. The second [...]relies on the modification of the basic beliefs of leaders in other nations
40
28
O texto em língua estrangeira é: Leadership [...] is a critical determinant of success or failure in the processes
of institutional bargaining that dominate efforts to form international regimes or, more generally, institutional
arrangements in international society. Yet leadership is also a complex phenomenon, ill-defined, poorly
understood, and subject to recurrent controversy among students of international affairs.
29
O texto em língua estrangeira é: The phrase "institutional bargaining" refers to efforts on the part of
autonomous actors to reach agreement among themselves on the terms of constitutional contracts or interlocking
sets of rights and rules that are expected to govern their subsequent interactions.' Occasionally, these contracts
take the form of broad, framework agreements encompassing the basic order or ordering principles of an entire
social system.[...] More often, however, institutional bargaining centers on efforts to reach agreement on the
41
provisions of more specialized institutional arrangements or regimes covering particular issue-areas in contrast to
the basic ordering principles of international society.
30
Conjunto de teorias oriundas da Psicologia que entendem que a análise do comportamento é o objeto mais
adequado para o estudo das circunstâncias.
42
31
Pessoa, grupo, organização ou sistema que afeta ou pode ser afetado por ações de uma organização ou
empresa, parte interessada ou interveniente.
44
entre os dois Estados e medir qual deles possui maior e mais densa liderança
estrutural, empresarial e intelectual dentro das instituições que, cada vez mais
representam o Leste da Ásia. Sendo assim, na soma final relativas às três formas de
liderança, poderá ser possível estabelecer qual dos dois países tem maior condição
de se tornar um líder regional, mesmo que não seja de forma exclusiva.
32
“De forma geral, os realistas tomam o Estado como uma ‘caixa-preta’ e o encaixam dentro do que chama de
modelo da ‘bola de bilhar’ (billiard-ball). Isso os leva a abstrair os processos internos de tomada de decisão e as
motivações políticas que levam os Estados a agir no plano internacional e a destacar exclusivamente a dinâmica
da relação entre estas ‘caixas’ ou estas ‘bolas’.” (NOGUEIRA & MESSARI, 2005, p. 25)
46
33
Bem público internacional é entre outras coisas: medidas antipirataria, assistência humanitária e ajudas pós-
desastres e segurança das linhas marítimas. (YAHUDA, 2008).
34
Para ter maior base para tratar das críticas da Teoria da Estabilidade Hegemônica Nabers utiliza os seguintes
autores: SNIDAL, 1985; GRUNBERG, 1990; BEESON, 2008.
47
Após tratar das teorias que considera como sendo de mainstream no quesito
liderança internacional, o autor apresenta algumas teorias emergentes relativas à
liderança regional, ou seja, passando do nível sistêmico para o nível regional, sendo
assim teorias mais especializadas dentro de um terreno mais específico. Estas
teorias como um todo partem do pressuposto de que se vive em um mundo
multipolar, ou seja, de regiões e não hegemônico e dominado apenas pela potência
global, o que por conseguinte apresenta potências regionais independentes da
existência da global. (DENT, 2008)35. Todavia, o autor também critica as teorias
emergentes, uma vez que grande parte de sua literatura se apoia nas teorias de
liderança internacional da mainstream, o que resulta no destaque das capacidades
materiais dos Estados, bem como na noção de hegemonias regionais.
Em algumas dessas teorias, segundo o autor, os termos ‘grandes potências’ e
‘potências regionais’ são trabalhados como sinônimos, mas, discordando do autor é
possível acreditar que esta seja uma questão parecida com a que ocorre com os
termos de hegemonia e liderança nas teorias mainstream, sendo possível haver uma
grande potência que também seja uma potência regional, mas não uma potência
regional que seja necessariamente uma grande potência. Segundo Dent (2008), o
termo ‘potência regional’ acaba por significar o Estado que é hegemônico ou
dominante em uma dada região, como é o caso de China e Japão no Leste da Ásia,
o que, dentro das teorias de liderança regional que derivam das teorias de liderança
internacional, não parece ser um problema. Entendendo que é aceitável pensar na
liderança regional destinada à potência(s) regional(is), ou seja a Estado(s) que
exerce(m) dominância em certa região, Flemes (2007) lista uma série de
35
Para tratar das teorias emergentes em liderança regional Nabers utiliza os seguintes autores: BUZAN &
WÆVER, 2003; FLEMES, 2007; HURRELL, 2006; KUPCHAN, 1998; LAKE & MORGAN, 1997; NABERS, 2006.
49
O Leste Asiático36 pode ser considerado hoje, uma das áreas de maior
interesse da Comunidade Internacional. A região reúne grandes potências
econômicas como a China e o Japão – contando também com a atuação direta dos
EUA– além de estar nas intermediações de Rússia e Índia, países que possuem
ampliada importância no cenário internacional. O Leste Asiático ainda engloba os
chamados quatro Tigres Asiáticos37, que a partir da década de 1970 vivenciaram
forte crescimento econômico. Há ainda a proximidade com o Sudeste Asiático,
países de economia dinâmica, PIBs per capita elevados e alta tecnologia. A maioria
destes países está interligada pela interdependência, e procuram se aproximar cada
vez mais econômica e politicamente como uma forma de aumentar seus ganhos e
criar novas oportunidades, principalmente no âmbito comercial e financeiro.
O processo de integração regional, embora não seja um fenômeno recente,
tem-se mostrado uma tendência mundial e atualmente é caracterizado por uniões
voluntárias entre Estados soberanos em áreas política e econômica para elevar
decisões a um nível supranacional. Inspirados na União Europeia, a maioria destes
blocos, porém, possui características bastante distintas de seu principal modelo. A
ASEAN, e sua extensão, a ASEAN+3, não fogem desta regra e são menos
institucionalizadas e, portanto, com aspectos supranacionais menos pronunciados
do que a UE. Todavia, não devem ser consideradas inferiores em termos de
sucesso na integração quando comparadas àquela União, já que não possuem o
mesmo histórico e não ocupam o mesmo espaço geopolítico que a Europa.
O propósito principal desta dissertação é analisar, mais que o fenômeno da
integração regional no Leste Asiático, a forma como se manifestam as
movimentações de liderança naquela região. Este capítulo busca precisar a Ásia do
Leste entre tantas outras definições de Ásia, bem com apresentar a Associação dos
Países do Sudeste Asiático em sua concepção histórica, política, econômica e
comercial.
36
O conceito de Leste Asiático será definido posteriormente na seção subsequente
37
São denominados Tigres Asiáticos: Coréia do Sul, Cingapura, Taiwan e Hong Kong.
56
Desta maneira, a Ásia não possui sentido étnico ou racial, havendo tão pouca
conexão entre o povo japonês e o da Turquia Asiática, como haveria entre o povo
chinês e o francês. Ela não possui também, nenhum sentido linguístico: diversas
línguas europeias têm maiores laços com a Índia, que o indiano tem com o coreano
ou o japonês. Politicamente, apenas com os Mongóis, pode-se encontrar alguma
ligação que unisse toda a Ásia devido ao sucesso de Genghis Khan e seus
descendentes em conquistar e manter um Império de treze séculos que se espalhou
38
da Geórgia e Pérsia para o oeste até a China e a parte oriental da Rússia.
(EMMOTT, 2008, p. 34, tradução nossa)
38
O texto em língua estrangeira é: “As such, Asia makes no particular ethnic or racial sense, for there is as much
or as little connecting together the peoples of Japan and Asian Turkey as there is the peoples of China and
France. Nor does it make any linguistic sense: Many European languages claim stronger ties to India than India
with Korean or Japanese. Politically, only in the Mongols can be found a thread that has tied the whole of Asia
together, because of the success of Genghis Khan and his descendants in conquering and maintaining a
thirteenth-century empire that spread from Georgia and Persia in the west to China and part of eastern Russia.”
57
continente, sua subdivisão é feita unindo grupos de países que de alguma forma
possuam alguma semelhança entre si. Contudo, tal postura não impede que a lógica
europeia siga ‘construindo’ o continente asiático.
Há, portanto, diversas maneiras de classificar e dividir a Ásia. Neste trabalho
sob o cunho geopolítico, o Leste Asiático – e não a Ásia Pacífico – será a região
contemplada e analisada. O conceito de Leste Asiático, diferente de Ásia Pacífico, é
mais geográfico, limitando-se à região do Leste da Ásia. O conceito de Ásia Pacífico,
criado entre os anos de 1960 e 1970, carrega um significado muito mais político,
uma vez que legitima o envolvimento norte-americano na Ásia, incluindo-a na região
do Pacífico – ou inserindo os EUA na Ásia. (McDOUGALL, 2007). Ao utilizar o termo
‘Leste Asiático’, busca-se tratar apenas dos países daquela região, excluindo-se as
potências ocidentais, principalmente os EUA.
Entretanto, a geografia do Leste Asiático, ou seja, os países que fazem parte
desta região, não são um absoluto consenso entre os estudiosos. Por diversas
vezes, para tratar da região como um todo há a inclusão ou ‘exclusão’ de alguns
países para que seja possível utilizar o conceito de forma mais acertada.
Para McDougall (2007), o Leste Asiático pode ser dividido em Nordeste e
Sudeste Asiáticos. O nordeste possui China (incluindo Hong Kong),Taiwan
(reivindicado pela China), Japão, Coréia do Sul, Coréia do Norte, Rússia e Mongólia.
O Sudeste Asiático possui por sua vez: Brunei, Myanmar 39,, Camboja, Timor Leste,
Indonésia, Laos, Malásia, Filipinas, Cingapura, Tailândia e Vietnã. Para Wan (2008)
Leste Asiático compreende a região que vai do Japão a Myanmar que inclui: o
Nordeste Asiático que pode ser dividido em continente – China e as duas Coreias –
e regiões marítimas – Japão e Taiwan; e o Sudeste Asiático que também pode ser
dividido entre continente – Myanmar, Tailândia, Laos, Vietnã e Camboja – e
arquipélago – Malásia, Cingapura, Indonésia, Brunei e Filipinas. Já Dent (2008) trata
o Leste Asiático como a região que se divide entre Sudeste e Nordeste, mas que
engloba no Sudeste: Brunei, Camboja, Timor Leste, Indonésia, Laos, Malásia,
Myanmar, Filipinas, Cingapura, Tailândia e Vietnã; e no Nordeste: Coréia do Sul,
Coréia do Norte, Mongólia, Taiwan, e as áreas administrativas de Hong Kong e
Macau. Simon (2008) afirma que em uma perspectiva geopolítica, o litoral asiático se
divide em três áreas: Nordeste – China, Japão, as duas Coreias, Taiwan e a parte
39
A denominação oficial do país é Myanmar, no entanto, na língua inglesa utiliza-se Burma, que foi traduzido
para Birmânia em português.
58
O conceito de Leste Asiático tal qual será utilizado por esta pesquisa está
intimamente ligado ao momento da criação da ASEAN+3 e a iniciativa do começo da
formação de uma identidade do Leste Asiático que englobasse todos os 13 países
que dela fazem parte (TERADA, 2003). A Crise Asiática de 1997 permitiu que os
países do Nordeste Asiático, através da primeira reunião dos países da ASEAN com
Japão, China e Coréia do Sul mostrassem sua vontade de cooperar com as
economias regionais afetadas pela crise. (McDOUGALL,2007). A Iniciativa Chiang
Mai42 criada na Reunião de Ministros das Finanças da ASEAN+3 em 2000 como
uma das formas de evitar novas crises como a crise financeira de 1997 é um dos
símbolos da aproximação dos países do Leste Asiático.
40
Para melhor compreensão da região que é apresentada neste trabalho ver mapas de Sudeste e Leste
Asiáticos apresentados no Anexo B (Figuras 2 e 3).
41
O texto na língua estrangeira é: “One cannot avoid being arbitrary in deciding which countries should be
included in a region. A regional subsystem may be determined by dozens of attributes such as proximity, pattern
of interaction and recognition.”
42
A Iniciativa Chiang Mai é um arranjo financeiro regional criado para o Leste Asiático após a crise financeira de
1997 que tem como principal finalidade estabilizar a rede de contratos de swap bilaterais entre os membros da
ASEAN+3 com o intuito de promover suporte à liquidez de países que tenham dificuldades em suas balanças de
pagamento. (ASAMI, 2005). Disponível em: http://www.asean.org/17905.pdf
59
43
O “South East Asia Command” (SEAC)
44
Burma é a denominação dada pelo Reino Unido à atual Myanmar
45
Antigo conjunto de colônias inglesas da península Malaia formado por Cingapura, Malásia, Sarawak e Bornéu.
46
Uma das ilhas que compõem a Indonésia
47
Realizada entre os Aliados, vencedores da Segunda Guerra Mundial, para decidir o futuro administrativo da
Alemanha, entre outras questões.
48
As Índias Orientais Holandesas
49
Entre os exemplo de países com históricos de rivalidade estão Japão e China, Japão e Coréia do Sul,
Indonésia e Malásia, Indonésia e Cingapura, Filipinas e Malásia, e Cingapura e Malásia.
60
Filipinas foram o primeiro país a ter sua independência aceita por sua metrópole, os
EUA, no Pós-Segunda Guerra em 1946. Logo em seguida também alcançaram sua
independência, Myanmar em 1948, Indonésia e Laos em 1949, o Camboja em 1953,
o Vietnã em 1954, a Malásia em 1957 (Sabah e Sarawak em 1963), Cingapura em
1959, e Brunei um sultanato que só deixou de ser protetorado britânico em 1984. A
Tailândia constitui outra exceção, pois foi um dos poucos países que não se tornou
colônia ocidental (o que não o poupou do enfraquecimento e diminuição em sua
soberania em 1945 devido aos ataques aos territórios franceses e britânicos na Ásia
durante a Segunda Guerra), principalmente por estar entre áreas de influência de
França e Reino Unido. Além disso, a Tailândia autorizou a entrada do exército
japonês em seu território como uma forma de auxílio ao Eixo, o que acabou fazendo
com que os Aliados tivessem uma postura diferente com o país no pós-Guerra, visto
que, apesar de não ter participado efetivamente dela, demonstrou seu apoio ao
Japão e por consequência ao Eixo. (TURNBULL, 1999). Contudo, a redução da
presença das antigas metrópoles com o início das descolonizações não significou o
afastamento imediato destas.
No final da década de 1940 estudantes asiáticos em Londres providenciaram
um espaço para a apresentação dos futuros líderes da Malásia e de Cingapura. Em
1947 as Nações Unidas providenciaram um fórum para o Sudeste Asiático, a
50
Comissão Econômica para a Ásia e o Extremo Oriente que se tornou importante
para produzir alguma organização regional. Mas a Grã Bretanha e a Índia surgiram
como as maiores forças promotoras da cooperação na região: a Grã Bretanha ao
mesmo tempo que buscou maior cooperação com os países da Commonwealth51
que faziam parte da região, estabeleceu um Comissionário Especial em Cingapura
em 1946 que devia administrar a distribuição de provisões na região e que dois anos
depois tornou-se um Comissionário Geral do Reino Unido para o Sudeste Asiático,
que tinha como objetivo mais amplo construir uma influência política na região; a
50
A Comissão Econômica para a Ásia e o Extremo Oriente foi estabelecida em 1947 pelo Conselho Econômico e
Social como uma experiência de 5 anos. Seus maiores objetivos eram iniciar e participar em ações que
pudessem ajudar na reconstrução da Ásia e do Oriente Distante, mantendo e fortalecendo as relações
econômicas entre estas áreas; fazer ou patrocinar estudos de problemas tecnológicos e econômicos na região;e
coletar avaliar e disseminar informações econômicas, tecnológicas e estatísticas. Era formada por membros e
membros associados: os membros regionais eram, Paquistão, Índia, Burma, Tailândia, Indonésia, Filipinas e
China (as Nações Unidas apenas reconheciam o governo chinês em Taiwan); os membros não-regionais eram
Afeganistão, Austrália e Nova Zelândia; os membros associados eram Nepal, Ceilão, Malaia, Bornéu, Vietnã,
Camboja, Laos, Hong Kong, Japão e Coréia do Sul. (SCHAAF 1953)
51
A Commonwealth é uma organização que visa unificar através do comércio os antigos membros do Império
Britânico.
61
Índia, por sua vez, buscava demonstrar uma postura independente, contrária ao
imperialismo e pró-nacionalismos, procurando criar conferências que pudessem
reunir os líderes dos países recém independentes como foi o caso da Conferência
das Relações Asiáticas de Nova Deli de 1947 e a Conferência Inter-Asiática de
1949, ambas patrocinadas pela Índia com o propósito de fomentar a cooperação na
Ásia. (TURNBULL, 1999).
52
O texto em língua estrangeira é: In the unstable and fragmented situation of Southeast Asia, the concept of
regionalism in the immediate postwar years was a reaction to events rather than some preconceived plan. It was
shaped in the main by a variety of sometimes conflicting external influences, ranging from personal initiatives to
the activities of United Nations agencies and of foreign governments.
53
A reunião de Bandung aconteceu em 1955 e reuniu os países de Terceiro Mundo que não queriam se
identificar nem com os EUA, tampouco com a URSS durante a Guerra Fria, desejando desta forma, criar uma via
alternativa sem um alinhamento automático, com o objetivo de buscar desenvolvimento.
62
54
O texto em língua estrangeira é: “later as primus inter pares in the Association of South-East Asian Nations
(ASEAN)”. A expressão latina primus inter pares pode ser traduzida como o primeiro entre iguais.
55
Também conhecida no Ocidente como Guerra do Vietnã, e no Vietnã como Guerra Americana (1955-1975)
63
56
O texto em língua estrangeira é: "In particular, in Southeast Asia, where the emergence of new polities has
invited conflict at all levels of it's politics, the 1963 creation of the Federation of Malaysia proved most
destabilizing. Not only did the federation's creation immediately put an end to Malaysia-Philippines relations, but it
also provided the pretext for Indonesia's three-year policy of violent Confrontation against Malaysia. Singapore's
turbulent and brief inclusion and the expulsion from the Federation(1963-1965) similarly both reflected and
exacerbated existing regional tensions. In short, regional fragmentation, not integration, seemed to be the
dominant of the day."
64
57
Tailândia e Filipinas com os EUA pela SEATO e a Malásia com o Reino Unido pelos Cinco Acordos de Força
de Defesa.
58
Foi uma guerra não declarada por parte da Indonésia contra a criação da Federação Malásia incluindo o Norte
de Bornéu e Cingapura que contou com tropas armadas e ataques navais ao território malaio.
65
59
Thanat Khoman, então Ministro das Relações Exteriores da Tailândia durante o governo de Sukarno, foi um
dos grandes responsáveis por restaurar as relações diplomáticas entre Malásia e Filipinas (TURNBULL, 1999)
60
A conjuntura política que favoreceu o surgimento da ASEAN, segundo Ba (2009), foi constituída: pela saída de
Sukarno do poder na Indonésia em 1965 e a entrada de Suharto, que através da violência eliminou todo o antigo
sistema de organização da política indonésia além dos laços que o partido comunista, que estava no poder,
tinha com a República Popular da China assumindo depois o poder no país em um governo autoritário porém
anticomunista;pela eleição também em 1965 do novo presidente das Filipinas, Ferdinand Marcos, que diferente
do antigo presidente não concordava de que o Norte de Bornéu, anexado pela Federação Malásia em 1963, era
essencial para a segurança nacional do país; pela confirmação da retirada do Reino Unido da região; e pela
intervenção problemática que os EUA tinham no Vietnã nos primeiros anos da Guerra, o que gerava nos demais
países não-comunistas da região o medo de insurreições domésticas de grupos radicais comunistas como
acontecia no Vietnã.
61
Contudo, no momento em que Malásia e Indonésia começavam a se reconciliar, após o final das ameaças
desta àquela, Cingapura ainda ressentia-se com sua violenta saída da Federação Malásia, e sentia-se
desprotegido frente aos seus vizinhos e com a retirada do Reino Unido da região. Unir-se com os demais países
do Sudeste Asiático era uma forma de garantir-se na região com a possibilidade de continuar existindo de
maneira soberana. (BA,1999)
66
62
O texto em língua estrangeira é: "Whether Asia's future is characterized by cooperation or confrontation will be
determined in large part by region's hability to construct effective multilateral institutions for integration,
collaboration, and cooperative problem solving."
63
Este foi o momento do estabelecimento de duas das principais condições para ser membro da ASEAN,
articuladas pelo então Ministro das Relações Exteriores das Filipinas: ser um Estado do Sudeste Asiático; e estar
de acordo com os princípios e propósitos da ASEAN(BA, 2009) –algo que não era, no momento, garantido por
parte do Vietnã.
68
64
Houve resistência por parte dos Estados de criar uma defesa coletiva, por poder induzir a percepção de que o
grupo era anticomunista, o que poderia dissuadir a entrada de outros Estados da região. A idéia, em não se
caracterizar como um grupo militarizado, era que, como era formado por Estados menores, não deveria se
envolver nos assuntos das potências. Isso, contudo, não significava que os Estados individualmente não
pudessem ter e aumentar suas forças militares.(BA,2009).
65
O texto em língua estrangeira é: “the Idea of regional independence and autonomy”
69
tensões neste mesmo ano uma vez que a cidade-Estado começava a executar –
apesar dos apelos pessoais de Suharto – as penas sobre dois comandos militares
indonésios devido a ações do período da Konfrontasi. Malásia e Cingapura, ambas
ex-colônias britânicas, também tiveram desentendimentos, e com o fechamento das
bases do Reino Unido nos dois países, houve tumultos em ambos para a retirada de
trabalhadores malaios de Cingapura – cerca de 45 mil – e de cingapurianos da
Malásia – em torno de 60 mil – o que colaborou para que Cingapura tivesse ainda
maior insegurança quanto a sua presença na região. (BA, 2009).
Na década de 1970, Malásia, Filipinas e Cingapura continuavam mantendo
seus laços com o ocidente, e a Indonésia de Suharto começava a abandonar o
comunismo e fazer o mesmo. Contudo, seus vizinhos voltavam a restabelecer
relações diplomáticas com a República Popular da China (RPC), o que o país só
veio a fazer no final da década de 1980, uma vez que a China havia financiado em
1965 o Partido Comunista da Indonésia de Sukarno no momento da tentativa de
golpe contra os militares, após o qual Suharto assumiu o poder. Havia ainda
relações pouco harmoniosas entre os países da região como a de Brunei – que
ainda não fazia parte da ASEAN – e Malásia que não era amigável desde que o
sultanato não quis fazer parte da Federação Malásia quando foi criada em 1963. E
apesar de Brunei forjar boas relações com Cingapura, expulsa da Federação em
1965, principalmente a partir de 1971, depois que assinou um novo acordo com a
Grã Bretanha onde o controle de assuntos internos era exclusivo do Sultão e o
controle de assuntos externos e de defesa eram britânicos, as relações com a
Malásia ainda eram nulas. Além de Brunei, Burma – que também não fazia parte da
ASEAN nesta época – estava em Guerra Civil, onde o partido comunista teve
suporte chinês, e em 1962 chegou ao poder, estabelecendo um regime autoritário.
A Tailândia também sofria no início da década uma vez que a Guerra do
Vietnã se agravava desde meados de 1960. Os EUA forneceram grande ajuda
financeira à Tailândia que serviu de base para o país durante a Guerra. Contudo, no
final da década de 1960, houve insurgências no nordeste, norte e sul lideradas pelo
partido comunista tailandês, inspirado pela situação vietnamita. Já na década de
1970, o governo, que em 1969 havia aprovado uma constituição mais liberal, temeu
os primeiros sinais da retirada das tropas americanas do Vietnã, o que levou ao
retorno do governo militar em 1971, um período conturbado politicamente com
70
revoltas civis até 1975 quando o Vietnã do Norte venceu a Guerra e o governo
militar estabeleceu-se na Tailândia. (TURNBULL, 1999).
Apesar das rivalidades entre os Estados membros da ASEAN e também dos
países da região, em 1969 foi realizada uma reunião com os representantes da
ASEAN e em 1971 o bloco assinou a Declaração de Zona de Paz, Liberdade e
Neutralidade (ou Zone of Peace, Freedom and Neutrality – ZOPFAN). As instruções
que resultaram desta reunião reforçaram alguns conceitos-chave da instituição
como: o que tornava aqueles países parte de um Sudeste Asiático, o que tinham em
comum e qual era a extensão daquele regionalismo.66 (BA, 2009). A Declaração, por
sua vez, foi uma iniciativa malaia, que teve diferentes níveis de entusiasmo entre os
membros, mas que foi assinada em uma forma modificada da original devido a
pressão de outros membros. Apesar do esforço para assinatura da Declaração –
que indicava a vontade de resolver os assuntos da região sem interferência externa
(McDOUGALL,2007) – a favor da neutralidade, não era disponibilizado nenhum
dispositivo para que de fato o envolvimento das grandes potências na região fosse
‘controlado’.(TURNBULL, 1999).
Alguns estudiosos apontam este momento como de lento desenvolvimento da
ASEAN como instituição, enquanto seus países individualmente pareciam alcançar
algum crescimento.
66
Segundo Ba (2009), as ideias que saíram deste acordo foram:que apesar de diferentes, tais Estados
possuíam características que o tornavam parte de um Sudeste Asiático como por todos terem sofrido algum tipo
de intervenção externa, por serem países pequenos dentro do sistema global de grandes potências e também
por serem próximos geograficamente; que tais características deviam toná-los uma unidade através do alcance
das metas do regionalismo; e finalmente, que o regionalismo do Sudeste Asiático deveria se estender para o
continente e para as ilhas, para países comunistas não alinhados ou não comunistas, trazendo desta forma a
união e não a divisão.
67
O texto em língua estrangeira é: “ While the individual ASEAN countries gained in confidence and prosperity,
ASEAN itself remained a relatively ineffective organization, and its members continued to confront each other on
matters such as rights of navigation in the Straits of Melaka, establishing diplomatic relations with Beijing, and the
nature of economic co-operation.”
68
Documento que codifica os princípios e condutas internacionais apreciados pela ASEAN, como a não
agressão, a não interferência e as resoluções pacíficas. (SAUNDERS, 2008)
71
69
Cúpula de Bali ou ASEAN Summit of Bali.
72
Indochina70 serviu como teste para a unidade da ASEAN uma vez que houve
respostas diferentes dos países do bloco à ação, mas serviu também para fortalecer
seus laços quanto associação, afinal não deixaram de existir depois do incidente.
(BA, 2009). Apesar de a Guerra entre China e Vietnã ter terminado semanas depois,
a situação no Camboja só se normalizou após o Vietnã retirar suas tropas do país,
em 1989 e serem realizadas eleições para um regime democrático com a ajuda e
presença das Nações Unidas.
Na primeira Cúpula oficial da ASEAN, a de Bali de 1976, além da criação do
TAC, outro importante documento para o estabelecimento da ASEAN foi lançado. A
Declaração de Concordância da ASEAN (ou Declaration of ASEAN Concord –DAC ),
reafirmou a Declaração de Bancoc, e teve como objetivo “consolidar as conquistas
da ASEAN e expandir sua cooperação nos campos econômico, social, cultural e
político”.71 (ASEAN, 1976, p. 1, tradução nossa). A Declaração lançou as bases para
a nova organização da associação, abrindo caminho para a estrutura organizacional
que possui hoje72, bem como fixou mais claramente os principais princípios que a
norteiam. Na DAC foram colocados no campo político: os encontros de Chefes de
Governo dos Estados membros, a necessidade da assinatura do TAC para aqueles
países que viessem a ter relações com o bloco, a busca pela resolução pacífica de
conflitos internos, a procura por fortalecer a solidariedade política dentro da ASEAN
e outros. No campo econômico foram estabelecidos: a Cooperação de commodities
básicas (principalmente de alimento e energia), a cooperação industrial, a
cooperação comercial, a cooperação conjunta para os problemas internacionais de
commoditie e outros problemas da economia mundial, e os dispositivos para a
cooperação econômica. Outra questão tratada na Cúpula e que fez parte da
declaração foi o melhoramento dos mecanismos internos da ASEAN, que criou o
Secretariado da ASEAN bem como deixou clara a necessidade de estudar uma nova
estrutura organizacional para o bloco a fim de aumentar sua efetividade. 73 Além dos
70
A Terceira Guerra da Indochina se deu entre a China e o Vietnã devido a invasão deste último a território
cambojano no regime do Khmer Vermelho, apoiado pela China (Fevereiro-Março 1979)
71
O texto em língua estrangeira é: “to consolidate the achievements of ASEAN and expand ASEAN cooperation
in the economic, social and political fields” Disponível em: http://www.asean.org/1216.htm
72
Os três pilares da ASEAN (o Econômico, o Político e de Segurança, e o Sócio-Cultural) serão melhor
explorados no Apêndice A “Estrutura e Mecanismos da ASEAN”.
73
Mais tarde, no ano de 2003 foi realizada a Segunda Declaração de Concordância da ASEAN que lançava esta
nova estrutura organizacional composta por três pilares que envolvem economia, política, segurança, sociedade
e cultura. Tais pilares serão abordados de maneira mais extensa na sessão “Estrutura e mecanismos da ASEAN”
73
expansão horizontal com a entrada do Sultanato de Brunei, que no mesmo ano havia
se tornado independente da Grã Bretanha. Em 1987 já na Terceira Cúpula da
ASEAN(ou ASEAN Summit), os chefes de Estado enfatizaram a necessidade de que
se fortalecesse a cooperação econômica dentro do bloco com o intuito de aumentar o
potencial comercial e de desenvolvimento através do combate ao protecionismo para
que o setor privado tivesse a oportunidade de atuar livremente na região como um
dos fatores para o desenvolvimento do bloco, de seus países e da integração entre
eles. A Terceira Cúpula da ASEAN foi fundamental para demonstrar nos anos finais
da Guerra Fria, que a associação estava modificando seu principal foco de atuação.79
Henrique Oliveira(2006) afirma que por tais motivos a ASEAN passou por três fases
distintas:
O final da Guerra Fria trouxe novo fôlego à ASEAN. “Ao mesmo tempo que as
mudanças associadas com o final da Guerra Fria [...] dividiram o Sudeste Asiático
também o isolaram como região em pontos-chave.”80(BA, 2009, p.101, tradução
nossa). Com o fim da disputa ideológica, e o surgimento dos EUA como a nova
potência, a associação pôde focar-se em outros objetivos que não voltados para a
defesa da região e da soberania de seus Estados membros frente a ameaça
comunista. Foi também nos anos de 1990 que a ASEAN aumentou seu escopo
através de uma maior expansão horizontal durante toda a década. A região do Leste
Asiático como um todo, vivia um momento de grande crescimento econômico e
rápida industrialização que se iniciou cerca de uma década após o final da Segunda
Guerra, mas que alcançava seu auge no final de 1980 e início de 1990 com Japão e
os Tigres Asiáticos. O período de inserção do bloco no bom momento econômico
pelo qual passava a Ásia começou na década de 1980, mas foi a partir de 1990 que
79
Disponível em: http://actrav.itcilo.org/actrav-english/telearn/global/ilo/blokit/asean.htm
80
O texto em língua estrangeira é: “At the same time , changes associated with the end of the Cold War [...] had
divided Southeast Asia, it also insulated Southeast Asia as a region in key ways.”
75
ficou claro que a associação começava a buscar novos objetivos, apesar de manter
os mesmos princípios do momento de sua criação e formação.
Após a entrada de Brunei no bloco no mesmo ano em que se tornou
independente ainda na década de 1980, a ASEAN abriu-se para novos membros a
partir do ano de 1995, com o desejo de representar de fato a região do Sudeste da
Ásia. O Vietnã foi, em 1995, o primeiro país a fazer parte da ASEAN no pós Guerra
Fria, o que finalmente pode realizar o desejo inicial dos idealizadores da ASEAN de
criar uma organização que incluísse minimante Indonésia, Filipinas, Malásia,
Cingapura, Tailândia e o Vietnã. (TURNBULL ,1999). Dois anos mais tarde, o Laos e
Myanmar também aderiram ao bloco que em 1999 adicionou seu último membro até
o momento, o Camboja, igualmente importante para o conceito de Sudeste Asiático
que a organização procurava criar, mas que por passar por uma Guerra Civil de
mais de uma década, ainda recuperava-se no início dos anos 1990. O Timor Leste,
também um país do Sudeste Asiático, colônia portuguesa até 1975 e depois
considerado a 27ª província indonésia, só teve sua independência reconhecida em
2002. Após declarações do então presidente José Ramos-Horta, em 2006 de que o
país precisaria de no mínimo 5 anos para estar pronto para fazer parte da ASEAN81,
em março de 2011 foi feito o pedido formal pelo Ministro das Relações Exteriores do
país para se juntar ao bloco como um Estado membro. Apesar de entusiastas
dentro da ASEAN, alguns de seus membros discordam da entrada imediata do
Timor Leste uma vez que acreditam que o bloco precisa focar-se primeiro nos países
pobres que já fazem parte da associação.82 (BBC ASIA PACIFIC, 2011). Pode haver
também certa relutância da Indonésia, tendo em vista que o Timor Leste havia sido
sua província entre 1975 e 2002. Outro país que talvez venha a participar no futuro é
a Nova Guiné, embora fique difícil caracterizá-la como do Sudeste Asiático ou
Oceania. No entanto, tendo em vista que faz parte de uma ilha que compartilha o
espaço com uma província da Indonésia, a oeste, já levanta a possibilidade, ao
menos em termos geográficos.83
81
Disponível em: http://www.asean.org/afp/154.htm
82
Disponível em: http://www.bbc.co.uk/news/world-asia-pacific-12644608
83
Comunicação oral do mestre em Relações Internacionais Wellington Dantas de Amorim, doutorando do
Programa de Pós-Graduação em Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense em novembro de
2011.
76
84
A ASEAN-6 é formada pelos 5 países fundadores, mais Brunei, o primeiro país a entrar no bloco
individualmente.
85
Disponível em: http://www.guardian.co.uk/world/feedarticle/9755825
86
Membros da ASEAN que estão localizados no Mar do Sul da China: Malásia, Indonésia, Cingapura,Tailândia,
Camboja, Filipinas, Brunei, Vietnã.
87
Países que têm disputas territoriais no Mar do Sul da China: China (e Taiwan), Filipinas, Vietnã, Malásia,
Brunei. (McDOWELL, 2011).
77
88
O texto em língua estrangeira é: “...to eliminate tariff barriers among the Southeast Asian countries with a view
to integrating the ASEAN economies into a single production base and creating a regional market of 500 million
people.”Disponível em: http://www.aseansec.org/19585.htm
89
Disponível em: http://www.aseansec.org/12375.htm
90
Disponível em: http://www.aseansec.org/19585.htm
91
Disponível em: http://www.aseansec.org/10342.htm
78
92
Disponível em: http://www.asean.org/3636.htm
93
Fazem parte da Bacia do Mekong: Tailândia, Laos, Camboja, Vietnã, Myanmar e China.
94
Disponível em: http://www.asean.org/6353.htm
95
Disponível em: http://www.asean.org/1814.htm
96
Disponível em: http://www.asean.org/691.htm
97
Os países do ARF são Austrália, Bangladesh, Brunei, Camboja, Canadá, China, Cingapura,Coréia do Sul,
Coréia do Norte, Estados Unidos, Filipinas, Índia, Indonésia, Japão, Laos, Malásia, Myanmar, Mongólia, Nova
Zelândia, Paquistão, Papua Nova Guiné,Rússia, Sri Lanka, Tailândia, Timor Leste, União Europeia e Vietnã.
Disponível em: http://aseanregionalforum.asean.org/about.html
98
A APEC que começou como um grupo informal de diálogos em 1989 pode ser considerado uma reunião das
economias regionais que tem como objetivo desenvolver uma comunidade econômica dos países da Ásia-
Pacífico.(GILL & GREEN, 2009). Membros da APEC: Austrália,Brunei, Canadá, Chile, China, Cingapura, Coréia
do Sul, Estados Unidos, Filipinas,Hong Kong, Indonésia, Japão, Malásia,México, Nova Zelândia, Papua Nova
Guiné, Peru, Rússia, Tailândia, Taiwan e Vietnã. Disponível em: http://www.apec.org/en/About-Us/About-
APEC/Member-Economies.aspx
79
99
O assunto ASEAN+3, sua formação, relação com os parceiros e histórico será abordado próximo capítulo.
100
O texto em língua estrangeira é: “In spite of its important symbolism, however, the CMI could end up without
providing a meaningful regional mechanism if it remains in its present form. In order for it to function properly, the
CMI needs to be developed as a well-defined effective and efficient regional financial arrangement. It will serve as
a basis for crisis prevention and resolution, while maintaining regional financial and monetary stability. This must
be pursued in the course of deepening regionalism in East Asia.” Disponível em: http://www.asean.org/17905.pdf
101
Para ver o histórico da ASEAN que leva a criação da Comunidade Econômica da ASEAN veja
102
Disponível em: http://www.aseansec.org/15159.htm
103
Disponível em: http://www.aseansec.org/21069.pdf
82
região ainda está em um estágio em que deve ser considerado como uma extensão
do poder e propósito nacional mais que uma força objetiva em si mesma. (GILL &
GREEN, 2009). A Declaração de Cingapura também tinha dentro de seus objetivos
aumentar a utilização de constrangimentos legais, tornar as leis mais severas,
promover os direitos humanos e a democracia, entretanto, a entrada de países com
governos ditatórios como Vietnã, Laos e Camboja, signatários da Carta, certamente
esvaziariam a maioria destas questões. (EMMOTT, 2008)
Foi também a partir de 2007 que começou a criação as ASEAN+1, Áreas de
Livre Comércio entre a ASEAN e cada um dos países do “+3”. A primeira delas foi a
chinesa que iniciou a aproximação econômica com o bloco já em 2003; e em
seguida Japão e Coréia do Sul em 2008. Cada uma das ASEAN+1 tem diferentes
características como a quantidade de liberalização do comércio entre os membros, a
quantidade de membros que fazem parte do acordo e o prazo que todos os países
tem para se adequar as normas estabelecidas. Apesar de diferentes características,
todos os ASEAN+1, que foram possibilitados pela criação da ASEAN+3, têm
basicamente o mesmo objetivo: dinamizar ainda mais a economia utilizando o
investimento direto regional para fortalecer laços entre estes países, e influenciar a
ASEAN com o intuito de poder exercer o papel de liderança regional no Leste
Asiático.
Além das relações com China, Japão e Coréia do Sul, a ASEAN também se
relaciona com diversos outros países de dentro e de fora da Ásia. Segundo os
princípios da ASEAN104, é seu dever estabelecer relações amigáveis e de mútuo
benefício, que façam parte a cooperação e parceria, com outros países, e
organizações internacionais, regionais e sub-regionais. Para conduzir as relações
externas da ASEAN, o encontro de Ministros das Relações Exteriores da ASEAN
confere aos parceiros externos seu status formal.105 Conforme estipulado no artigo
46 da Carta da ASEAN106, todos os não-membros da ASEAN, que mantém relações
104
Disponível em: http://www.aseansec.org/20164.htm
105
Disponível em: http://www.aseansec.org/20164.htm Os status podem ser de ‘Parceiro de Diálogos’; ‘Parceiro
de Diálogos para áreas especiais’; ‘Parceiro para o Desenvolvimento’; ‘Observador Especial’; ‘Convidado’ dentre
outros.
106
Disponível em: http://www.aseansec.org/22470.htm
83
Entre as relações externas mais intensas da ASEAN estão, além dos países
do “+3”: a Austrália o primeiro parceiro da ASEAN desde 1974; os Estados Unidos,
com quem se relacionam desde 1977 principalmente na área de segurança mas que
nunca ratificaram o TAC; a Nova Zelândia de quem é parceiro desde 1995, a União
Europeia, desde 1980 quando ainda era Comunidade Econômica Europeia, e é um
dos maiores parceiros comerciais do bloco mas que também está bastante presente
na área de segurança do bloco; além de parceiros menores como o MERCOSUL, a
Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC); a Organização para
Cooperaçao de Shangai (SCO) e outras.109
Mais recentemente, iniciou-se um movimento para a criação de uma
Comunidade do Leste Asiático (ou East Asia Community –EAC) que começou por
uma iniciativa sul coreana em criar um grupo que elencaria metas para o ASEAN+3
para as próximas décadas. Como relatório final deste grupo chamado Grupos de
Visão do Leste Asiático (ou East Asia Vision Group –EVG) desde 2002, levado a
Cúpula da ASEAN+3, concluiu-se que a organização deveria criar uma Cúpula do
Leste Asiático (ou East Asia Summit – EAS)110 a fim de estabelecer uma área de
livre comércio que levaria à uma Comunidade do Leste da Ásia. A propósta porém
107
Disponível em: http://www.aseansec.org/22470.htm. São os países: Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica,
Bulgária, Canadá, China, Comissão Europeia, Coréia do Sul, Dinamarca, Estados Unidos, Espanha, Finlândia,
França, Grécia, Índia, Itália, Japão, Líbia, Luxemburgo, Noruega, Nova Zelândia, Portugal, Romênia, Rússia,
Reino Unido, República Tcheca, Suíça.
108
O texto em língua estrangeira é: "Alongside ASEAN's involvement in Southeast Asian issues, the organization
has also played some role in helping its members to position themselves better in relation to the forces of
globalization, particularly at an economic level. One way this has been done is through establishing relationships
with various countries and organizations as dialogue partners."Os parceiros de diálogo da ASEAN são Japão,
EUA, UE, Austrália, Nova Zelândia, Canadá, , Programa de Desenvlvimento das Nações Unidas, Coréia do Sul,
China, Rússia.
109
Disponível em: http://www.aseansec.org/20164.htm
110
O sexto e mais recente encontro do EAS, em novembro de 2011 na Indonésia contou não só com os países
da ASEAN, Japão, China, Coréia do Sul, Índia, Nova Zelândia e Austrália mas também com EUA e Rússia cuja
presença ‘macula’ a ideia de Leste Asiático estendido uma vez que passa a ter a presença de nações que estão
além do entendido geograficamente como Leste Asiático. Disponível em: http://www.mofa.go.jp/region/asia-
paci/eas/pdfs/state111119.pdf
84
trouxe algumas divergências sobre qual seria o escopo do grupo, o que seria
considerado Leste Asiático. A China bem como a Malásia preferiam centrar este
conceito na instituição da ASEAN+3, mas Japão bem como Cingapura e Indonésia,
temendo o poder chinês que seria exercido dentro do bloco preferiram incluir Nova
Zelândia, Austrália e Índia, esta última principalmente seria vista como uma
contrabalança ao peso da China. Além disso, Nova Zelândia, Austrália e India são
vistas como democracias ocidentais, o que podeira contribuir para contrabalançar o
modelo político chinês.111. Em 2005 a ASEAN+3 criou os critérios para os futuros
membros que poderiam se encaixar no EAS: ter relações próximas com a ASEAN;
ser um parceiro de diálogos e signatário do TAC. Nova Zelândia, Austrália e Índia
possuiam os três critérios e no mesmo ano realizou-se o primeiro encontro do EAS
que não substituiu o encontro anual da ASEAN+3 como inicialmente previsto, uma
vez que China e Japão tinham preferências diferentes.(GILL&GREEN, 2009).
Mesmo com os contratempos vividos pela ASEAN para se estabelecer como
tal, desde os momentos anteriores à sua criação principalmente no que diz respeito
aos conflitos inerentes à região e a rivalidade de nacionalismos que surgiu com a
descolonização, hoje pode ser considerada como o mais duradouro e organizado
bloco regional asiático. Apesar da ênfase nas relações econômicas, há um esforço
para que seja criada uma Comunidade da ASEAN, para que a cooperação se
estenda em âmbitos mais específicos que apenas o comercial; este esforço por
muitas vezes não deixa de ser apenas uma intenção uma vez que dentro da
associação, os nacionalismos e a soberania ainda falam muito alto. Diferente da
UE, a ASEAN possui um caráter muito menos institucionalizado e flexível, com
respeito explícito à entidade do Estado e a ideia de não-intervenção nos assuntos
particulares de cada Estado.Tais características, por serem tão diferentes das do
bloco regional mais bem sucedido existente, não a caracterizam como pior ou
melhor que a UE, apenas como uma associação mais recente com históricos e
necessidades diferentes daquelas apresentadas pela Europa no momento da
formação de seu regionalismo.
Da mesma maneira que suas normas básicas guiam a forma como o
regionalismo é construído no Sudeste Asiático, elas também são alvo de
111
Comunicação oral do mestre em Relações Internacionais Wellington Dantas de Amorim, doutorando do
Programa de Pós-Graduação em Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense em novembro de
2011.
85
contestação dentro do próprio bloco pelos países que se colocam a favor de uma
integração mais profunda e que esbarram no princípio da não-intervenção em
assuntos internos, uma das clausulas primordiais da associação, o que dificulta a
atuação com relevância em aspectos de direitos humanos ou disputas territoriais.
Contudo, o recente aumento de volume do escopo da ASEAN, de seu comércio, da
economia dos seus países membros, bem como a importância de países vizinhos
como China e Japão e a própria região do Leste Asiático, torna a questão do
ASEAN-Way cada vez mais plausível de análise e investigação.
2.3.4. O ASEAN-Way
igualdade soberana;
não-interferência e não-intervenção;
diplomacia tranquila;
112
e tolerância e respeito mútuos. (HAACKE ,2005, p.1, tradução nossa.)
112
O texto em língua estrangeira é ”sovereign equality; the non-recourse to the use of force and the peaceful
settlement of conflict; non-interference and non-intervention; the non-involvement of ASEAN to address
unresolved bilateral conflict between members; quiet diplomacy; and mutual respect and tolerance.”
113
O texto em língua estrangeira é:“ are a preference for informality and a related aversion to the
institutionalization of co-operation…”
114
O texto em língua estrangeira é:“ institutional overcentralisation and voluntary relinquishment of sovereign
decision-making”
86
115
O texto em língua estrangeira é “ cooperative, consultative but not supra-national organization”
87
116
Apesar de frouxo, a ASEAN possui um corpo institucional com estrutura e mecanismos de ação bem
definidos. Para melhor compreensão destes, vide Apêndice A.
117
Mais recentemente o novo presidente eleito, Theim Seim,Primeiro Ministro do País de 2007 a 2011, quando
no mês de março assumiu a presidência, apesar de ser um ex-militar, tem provocado uma ligeira abertura
política por ser considerado mais moderado e reformista que os antigos governos. O político vem inclusive
ampliando o diálogo com a oposição através de seu símbolo maior, a ativista e política de oposição Aung San
Suu Kyi, prêmio Nobel da Paz de 1991, que viveu 15 dos últimos 21 anos em prisão domiciliar (desde 1989)
imposta pelo governo ditatorial do país, e foi libertada em novembro de 2010 recebendo inclusive a visita do
Ministro Britânico das Relações Exteriores, William Hague, no início de 2012.Disponível em:
http://www.bbc.co.uk/news/uk-politics-16417704
89
mais de US$ 1,5 trilhões no ano de 2009, mais que vizinhos como o Japão e a
Índia.118 (ASEAN-Japan Centre). A partir do Gráfico seguinte (Gráfico 1) é possível
analisar o desempenho da ASEAN frente a outras unidades regionais e países de
destaque na Ásia.
É possível perceber que o bloco, mais populoso que o MERCOSUL e também
que a UE (27) e o NAFTA, possui um total de comércio três vezes maior que o do
MERCOSUL, apesar de ter menor PIB nominal. Por outro lado, o PIB per capita do
bloco, de aproximadamente 2,5 mil dólares é mais de três vezes menor que o do
MERCOSUL, sendo superior apenas ao da Índia, em dados de 2009. Através da
comparação de dados básicos, pode-se notar, porém, que a ASEAN tem conseguido
um bom desempenho frente aos demais atores do cenário internacional,
principalmente se levada em consideração sua posição estratégica e a proximidade
com China e Japão, dois gigantes na região do Leste Asiático.
A evolução do PIB da ASEAN119, que pode ser vista no Gráfico 2, por sua
vez, é bastante relevante, passando de US$ 138,87 bilhões em 1970 para US$
710,61bilhões em 1996, o ano anterior a crise asiática e se encontrando atualmente
em US$ 1.215,86 bilhões, bem distante dos US$ 14. 194,40 bilhões da UE, ou dos
US$ 15.303,33 bilhões do NAFTA, mas não tão aquém dos US$1.483,58 do
MERCOSUL120 (Economic Research Service). O Gráfico aponta o crescimento da
parcela da participação no PIB mundial do Sudeste Asiático de 1996 a 2010 como o
5º maior atrás apenas de Leste Asiático, Sul Asiático, Oriente Médio e África, o que
demonstra que apesar do território reduzido, a ASEAN vem acompanhando a
evolução das regiões ao seu redor como Leste e Sul da China. Enquanto o PIB do
Sudeste da Ásia representa 2,42% do PIB mundial em 2010, sua participação no
comércio total mundial ultrapassa os 6,5%, mais que os 4,5% do Japão e um pouco
menos que os 8,8% da China.121 (ASEAN-Japan Centre).
118
Disponível em: http://www.asean.or.jp/en/asean/know/statistics/Latest_Statistics.html
119
Os países colocados como parte do Sudeste Asiático no Economic Reserach Service são exclusivamente os
membros da ASEAN.
120
Disponível em: http://databank.worldbank.org/ddp/home.do
121
Disponível em: http://www.asean.or.jp/en/asean/know/statistics/3.html
91
Em Bilhões
Total de Comércio US$ PIB Nominal
10.000 9.083
9.000 18.000 16.447 17.138
8.000 16.000
7.000 14.000
6.000 12.000
5.000 10.000
3.587 8.000
4.000 5.878
5.459
3.000 2.367 6.000
2.000 1.548 4.000 2.268
1.132 1.852 1.632
1.000 421 510 2.000
- -
Gráfico 1: ASEAN em comparação (População/ PIB per capta/ Total de Comércio/ PIB Nominal. 2009). Fonte: ASEAN-Japan Centre. Tradução nossa. Disponível em:
http://www.asean.or.jp/en/asean/know/statistics/Latest_Statistics.html
92
Oceania; 1,78% Oriente Médio; África; Sul Oceania; Oriente Médio; África; 2,39%
Sul Asiático; 1,71% 2,74% 1,98% Asiático; 1,87% 3,21%
Sudeste Asiático; 2,81%
Sudeste
2,07% Asiático; 2,42%
Participação no
PIB mundial América do
(1996) Norte; 28,86%
Leste Asiático; América do Norte; Participação
17,35% 30,09% no PIB Leste Asiático;
mundial 19,49%
Antiga União (2010)
Soviética; 1,92%
Antiga União
Europa; 34,12%
Soviética; 2,45%
Europa; 29,99% América
América Latina; Latina; 6,49%
6,24%
Gráfico 2: Participação no PIB mundial (1996 e 2010). Fonte: Economic Research Service. Disponível em: http://www.ers.usda.gov/Data/Macroeconomics/#HistoricalMacroTables
93
Gráfico 3: O Crescimento do PIB nominal por países e blocos econômicos. (1970-2010) Fonte: Economic
Research Service. Disponível em: www.ers.usda.gov/data/macroeconomics/#historicalmacrotables. Elaboração
nossa.
poderosos, bem como das potências emergentes, principalmente nos últimos anos.
A ASEAN, desde o final da crise financeira asiática, se posiciona frente ao Japão
quanto ao crescimento do seu PIB, aproximando-se no último ano do crescimento do
PIB chinês. Ao comparar o crescimento do PIB da ASEAN com alguns dos países
do BRICs, o padrão que é possível ser analisado, relativo ao conjunto de 10 países
da ASEAN, é de que este se assemelha ao de potências emergentes como Brasil e
Índia.
A crescente importância da região, e seu crescimento no PIB devem-se a
uma política de crescimento voltada para a exportação.
Apesar das economias da ASEAN terem subido na cadeia produtiva, a ampla
adoção de estratégias de crescimento através das exportações, também fez com
122
que se tornassem mais sensíveis às mudanças e incertezas da economia global
(BA, 2009, p.134, tradução nossa)
122
O texto em língua estrangeira é: “Though the ASEAN economies had moved up the production chain, the
wider adoption of export-led growth strategies had also made them more sensitive to the global economic shifts
and uncertainties.”
95
No tas
To do s o s dado s são preliminares; dado s excluem Cambo ja and Lao s devido ao fato de não estarem dispo níveis
1/ Inclui Á ustria, B elgica, Chipre, República Tcheca, Dinamarca, Estô nia, Finlândia, França,
A lemanha, Grécia, Hungria, Irlanda, Itália, Letô nia, Lituânia, Luxemburgo , M alta,
P aíses B aixo s, P o lô nia, P o rtugal, Eslo váquia, Eslo vênia, Espanha, Suécia, e Reino Unido
2/ Inclui to do s o s demais países e que não puderam ser atribuído a países específico s.
Tabela 2: Comércio da ASEAN com países/regiões parceiras, 2009. Fonte: ASEAN Merchandise Trade Statistics
Databe. Disponível em: www.aseansec.org/18137.htm tradução nossa.
250.000.000 50.000,00
População 45.000,00 PIB
200.000.000 40.000,00 per capita
35.000,00
150.000.000 30.000,00
25.000,00
População 2008 2008
100.000.000 20.000,00
População 2009 2009
15.000,00
50.000.000 População 2010 10.000,00 2010
5.000,00
0 0,00
Gráfico 4: Evolução da população e do PIB per capta. Fonte: Economic Research Service/ ASEAN-Japan. Disponível em:
http://www.ers.usda.gov/Data/Macroeconomics/#HistoricalMacroTables e ASEAN –Japan. Elaboração própria.
Valor em US$ milhões; Parcela em %
Exportações Intra-ASEAN Exportações Extra-ASEAN Importações Intra-ASEAN Importações Extra-ASEAN Comércio Intra-ASEAN Comércio Extra-ASEAN
Parcela do Parcela do Total de Parcela do Parcela do Total de Parcela do Parcela do
País Comércio total
Valor total de Valor total de Exportaçõe Valor total de Valor total de Importações Valor total de Valor total de
exportações exportaçõe exportaçõe exportaçõe exportaçõ exportaçõe
Brunei 1.229,3 17,1 5.939,3 s 82,9 7.168,6 1.242,8 s 51,8 1.156,8 s 48,2 2.399,6 2.472,1 es25,8 7.096,1 s74,2 9.568,2
Camboja 644,6 12,9 4.341,2 87,1 4.985,8 1.453,3 37,3 2.447,6 62,7 3.900,9 2.097,9 23,6 6.788,8 76,4 8.886,7
Indonésia 24.623,9 21,1 91.886,1 78,9 116.510,0 27.742,4 28,7 69.086,8 71,3 96.829,2 52.366,3 24,5 160.972,9 75,5 213.339,2
Laos 997,4 80,6 239,8 19,4 1.237,2 1.480,8 85,8 244,2 14,2 1.725,0 2.478,2 83,7 484,0 16,3 2.962,1
Malásia 40.365,1 25,7 116.525,8 74,3 156.890,9 31.700,2 25,7 91.630,2 74,3 123.330,5 72.065,3 25,7 208.156,0 74,3 280.221,4
Myanmar 3.196,7 50,4 3.144,8 49,6 6.341,5 2.065,7 53,7 1.784,1 46,3 3.849,9 5.262,4 51,6 4.928,9 48,4 10.191,3
Filipinas 5.838,4 15,2 32.496,2 84,8 38.334,7 11.561,1 25,4 33.972,9 74,6 45.533,9 17.399,5 20,7 66.469,1 79,3 83.868,6
Cingapura 81.646,5 30,3 188.186,0 69,7 269.832,5 59.047,6 24,0 186.737,1 76,0 245.784,7 140.694,1 27,3 374.923,1 72,7 515.617,1
Tailândia 32.490,6 21,3 120.006,6 78,7 152.497,2 26.759,5 20,0 107.010,1 80,0 133.769,6 59.250,1 20,7 227.016,7 79,3 286.266,8
Vietnã 8.554,8 15,1 48.136,2 84,9 56.691,0 13.566,7 19,6 55.664,2 80,4 69.230,9 22.121,5 17,6 103.800,4 82,4 125.921,9
ASEAN 199.587,3 24,6 610.901,9 75,4 810.489,2 176.620,1 24,3 549.734,0 75,7 726.354,1 376.207,3 24,5 1.160.635,9 75,5 1.536.843,3
Tabela 3: Comércio Intra e Extra – ASEAN, 2009. Fonte: ASEAN Merchandise Trade Statistics Databe. Disponível em: www.aseansec.org/18137.htm Tradução nossa .
97
Notas
1/ Valores são preliminares
Tabela 4: Comércio da ASEAN (2008-2009). Fonte: ASEAN Merchandise Trade Statistics Databe. Disponível
em: www.aseansec.org/18137.htm Tradução nossa
Participação no Comércio Total da ASEAN 98
2.000,0
Milhares
1.800,0 Vietnã
1.600,0 Tailândia
1.400,0 Myanmar
1.200,0 Malásia
1.000,0 Laos
800,0 Indonésia
600,0 Filipinas
400,0 Cingapura
200,0 Camboja
- Brunei
2008 2009
Gráfico 6: Participação no Comércio Total da ASEAN (2008 e 2009). Fonte: Economic Research Service.
Disponível em: www.ers.usda.gov/data/macroeconomics/#historicalmacrotables, Elaboração nossa.
Notas
1/ identificado/ranqueado segundo participação no total de exportações/importações da ASEAN
2/ Incluí o comercio com todos os demais países e aqueles que não puderam ser atribuídos a um específico
Tabela 5: Top 10 mercados de exportação e origem de Importação, 2009. Fonte: ASEAN Merchandise Trade
Statistics Databe. Disponível em: www.aseansec.org/18137.htm Tradução nossa.
No tas
1/ identificado /raqueado baseado na participação to tal de co mércio
2/ Inclui o co mércio co m to do s o s o utro s países que não tiveram valo res atribuido
Tabela 6: Top 10 países/parceiros comerciais da ASEAN, 2009. Fonte: ASEAN Merchandise Trade Statistics
Databe. Disponível em: www.aseansec.org/18137.htm Tradução nossa.
primeiras posições: são eles EUA, China, Japão e UE(25). Dentre os quatro
membros, três deles tem reconhecida relevância no cenário do Sudeste, mas mais
ainda do Leste Asiático, e o último por mais que não tenha tanta importância atual
na região, tem um passado histórico que o liga a boa parte dos países membros da
ASEAN.
A Europa, por mais que tenha perdido espaço no Sudeste Asiático, se
comparado à década anterior aos processos de descolonização, ainda mantém
fortes laços políticos e culturais que ligam ex-metrópoles às suas ex-colônias, muitas
delas ainda mantém relações constantes com suas ex-metrópoles, como é o caso de
várias ex-colônias britânicas que fazem parte da Commonwealth, o que mantém
aberta a interligação entre eles. Já Japão, China e Estados Unidos estão atualmente
mais presentes na região, inclusive no que diz respeito à atuação no cenário do
Sudeste e do Leste da Ásia. É igualmente importante para os três países manter
relações próximas de comércio, uma vez que todas as três potências tem a intenção
de exercer certa liderança regional em uma das áreas mais dinâmicas do
capitalismo. Estes três poderes da Ásia e do Pacífico sabem que para exercerem
sua influência na região é imprescindível ser um parceiro ativo e respeitoso em
relação ao bloco. Uma forma que tais Estados enxergam para mostrar sua boa
vontade para com a região é tornar-se um parceiro comercial, de cooperação e de
investimentos.
Os três atores que aparecem sempre nos cinco primeiros postos de mercados
de exportação, origem de importação, e parceiros de comércio, são atores-chave
para a elaboração da pesquisa que tem como foco entender as dinâmicas de
liderança do Leste Asiático através da ASEAN+3 e do papel dos EUA na região
dentro da APEC e do ARF. A próxima sessão trata da criação e estabelecimento da
ASEAN+3, associação criada para aproximar as maiores potências do Nordeste
Asiático aos países relativamente pequenos do Sudeste Asiático, visando, também
mostrar as formas de inserção dos EUA na região mesmo que por fora da ASEAN+3
que tinha como objetivo criar uma Comunidade do Leste Asiático.
101
123
O texto em língua estrangeira é: For ASEAN-Southeast Asia, these trends hold the promise of transforming an
East Asia that has been divided by historical and Cold War suspicions into a region that is internally and
externally more secure...
104
124
A região da Ásia Pacífico é uma noção geopolítica, construída pelos EUA para justificar sua presença naquela
região, enquanto a noção do Leste Asiático procura ser mais voltada mais para a condição geográfica com o
intuito de incluir apenas os países realmente Asiáticos.
105
Indonésia como 17ª.125 Além dos quatro países da ASEAN+3, Índia e Austrália
(dentro da noção de Leste Asiático da EAS) também se encontram na lista
respectivamente nas 10ª e 13ª posições. No ano de 2020 todas estas economias se
encontram ainda na lista da CEBR, apesar da inversão de posições, com a exceção
de China e Japão que permanecem em 2º e 3º respectivamente e Austrália em 13º –
Coréia do Sul passa para a 12ª posição e a Indonésia para a 14ª, enquanto Índia
ascende para a 5ª posição – com acréscimo da Tailândia que surge na 25ª posição.
Mas tão interessante quanto perceber que países não só do Nordeste como
também do Sudeste Asiático começam a surgir e melhorar suas posições nos
rankings de maiores PIBs mundiais é comparar o crescimento do PIB dos primeiros
colocados em ambas as listas. Enquanto o PIB norte-americano cresce de US$ 15
trilhões para US$ 21 trilhões, o chinês aumenta de quase US$ 7 trilhões para quase
US$ 18 trilhões, o que demonstra um aumento do PIB americano de 40% e do PIB
Chinês de quase 157 %.
As Tabelas 7 e 8 a seguir, que mostram as maiores economias mundiais em
2011 e uma projeção para 2020 traduzem não só a crescente importância dos
países do Leste Asiático no cenário internacional, como também a rápida
aproximação da China na primeira posição do ranking, apesar de futuros gargalos
produtivos que a China possa vir a enfrentar no médio prazo, podendo chegar a
ameaçar a hegemonia norte-americana.
PIB (bilhões PIB (bilhões
Posição País de US$) Posição País de US$)
1 EUA 15,065 16 Países Baixos 858
2 China 6,988 17 Indonésia 834
3 Japão 5,855 18 Turquia 763
4 Alemanha 3,629 19 Suíça 666
5 França 2,808 20 Suécia 572
6 Brasil 2,518 21 Arábia Saudita 560
7 Reino Unido 2,481 22 Polônia 532
8 Itália 2,246 23 Bélgica 529
9 Rússia 1,885 24 Taiwan 505
10 Índia 1,843 25 Noruega 479
11 Canada 1,759 26 Irã 475
12 Espanha 1,536 27 Argentina 435
13 Austrália 1,507 28 Áustria 425
14 México 1,185 29 África do Sul 422
15 Coréia do Sul 1,164 30 Emirados Árabes Unidos 358
Tabela 7: Maiores Economias Mundiais de 2011 Fonte: CEBR WELT Disponível em: www.ceber.com/wp-
126
content/uploads/Cebr-World-Economic-League-Table-press-release-26-December-2011.pdf
125
Taiwan também aparece em ambas as listas, na primeira como a 24ª economia e na segunda como 18ª, mas
não é citado no texto devido ao sua disputa de soberania com a China.
126
Disponível também em: https://docs.google.com/viewer?a=v&q=cache:rfUjWc3SZt4J:www.cebr.com/wp-
content/uploads/Cebr-World-Economic-League-Table-press-release-26-December-2011.pdf+&hl=pt-
106
BR&gl=br&pid=bl&srcid=ADGEESgjVX9ZVwZa_X0ZrSbVrleJvo6P6kwTo99_DmX09F257L3KUSQpRa7zwK0rJG
soO5LtTeYU6qQgw5bArTWmJZiYyQz_lyJUwEk-
mLDaBqlzxUHHS6c0n7thw2AIkhukBNOS_5Bk&sig=AHIEtbQQddsFcl3OtdxNlO9wCN4JAvBX6g
127
Ibid.
128
O texto em língua estrangeira é: “The sweeping arc of Asia – from Indian Ocean to the Bering Straits and from
Tashkent to Tasmania – stands out as the world’s most dynamic region. Unprecedented economic and political
forces powerfully shifts the region’s relationships large and small, from the rise of China and India to the
emergence of new democracies.
107
bem como a ASEAN e seus então seis Estados membros como responsáveis pelo
crescimento econômico da região, resultado de uma combinação de fatores
favoráveis para a área.
Os fatores citados por Kennedy e que ainda se encontram presentes no Leste
Asiático trazendo o diferencial para a região são: o aumento na produtividade
industrial destes países que são voltados basicamente para a exportação, o que
aumenta o comércio exterior, os transportes marítimos e os serviços financeiros de
cada um destes Estados; a transferência – através pulverização da produção e
montagem de produtos na região – de mão-de-obra intensiva não só para a
produção das manufaturas mais baratas, mas também de produtos provenientes da
mais alta tecnologia; além do aumento da produção alimentar correspondente com o
crescimento populacional da região. (KENNEDY, 1989).
Desde a década de 1980, principalmente a partir de sua segunda metade, as
atenções do ocidente estão voltadas para o Leste Asiático, devido não só ao
destaque econômico japonês, ao surgimento dos Tigres Asiáticos, ao boom dos
Países Recentemente Industrializados (ou Newly Industrialised Countries -NICs) da
Ásia129 ou a enorme ascensão chinesa da última década, mas também pela perda
de poder dos EUA e consequentemente sua perda de influência na Ásia como um
todo.
As relações internacionais da Ásia estão em um momento de transição [...] Outra
característica da nova ordem emergente na Ásia é a significância de potências
pequenas e médias, não só individualmente,mas também como parte de um grupo
130
subregional. (YAHUDA, 2008, pgs. 342-343, tradução nossa.)
A ideia de ciclos hegemônicos sustentada por Arrighi (1996), que conclui sua
obra afirmando que o quarto ciclo de acumulação de capital, o norte-americano, se
encontra em sua fase final, a fase financeira desde 1973 (a paridade foi quebrada
em 1971, o câmbio flutuante instituído em 1973) quando os EUA quebram a
paridade dólar-ouro e se estabelece um regime de câmbio flutuante e com isso o
aumento escalonado da especulação financeira, indica a possibilidade da região do
Leste Asiático abrigar a provável potência hegemônica subsequente em pelo menos
um dos cenários traçados em sua obra. Segundo o autor, que escreve em meado da
década de 1990, a potência hegemônica norte-americana já vivenciou sua crise
129
São os NIC’s asiáticos: Índia, China, Malásia, Filipinas e Tailândia.
130
O texto em língua estrangeira é: The international relations of Asia are in a period of transition.[…] A further
feature of the emerging new Asian order is the significance of smaller and medium powers, both individually and
as part of sub-regional groupings.
108
moeda originária da própria potência em declínio, o que dá à esta muito mais poder
e condições de amenizar ou mesmo conter o declínio.131
Em um dos cenários traçados por Arrighi (1996) para a substituição do papel
dos EUA como potência hegemônica nas próximas décadas, o autor aponta o Leste
Asiático como a mais provável região a possuir a próxima potência hegemônica a
estabelecer um ciclo de acumulação de capital e possuir status hegemônico mundial,
devido ao dinamismo da região. Este dinamismo é justificado pelo autor ao expor o
rápido crescimento japonês e sua forma diferenciada de investimentos na região,
baseada na maneira informal de subcontratação característica das empresas
japonesas, o que possibilitou o desenvolvimento da região como um todo,
especialmente dos Tigres Asiáticos que passaram a seguir os passos do Japão no
que ficou conhecido como Modelo dos Gansos Voadores.
131
Comunicação oral do mestre em Relações Internacionais Wellington Dantas de Amorim, doutorando do
Programa de Pós-Graduação em Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense em novembro de
2011
132
O texto em língua estrangeira é: The real resurgence of Asia began with the economic success of Japan.
Asians often refer to the image of flying geese information to describe the way smallest countries like Singapore,
South Korea, Malaysia, and others closely followed Japan’s strategy of targeting strategic industries for
development, financing major projects, exporting fiercely, and protecting infant industries.
110
Gráfico 7 : Crescimento do PIB Real – Mudanças de percentual anual do Nordeste do Sudeste Asiáticos de
133
1980 a 2011 e projeção até 2015. Fonte: FMI World Economic Outlook, 2011. Disponível em:
www.bi.go.id/NR/rdonlyres/E128B84E-FEB3-4412-B30F-
99C2A23618F2/24581/PresentationGIZoct2011JoonLianWanTradeCompatibilit.pdf Tradução Nossa.
Apesar de autores como Yahuda (2008) e Gill (2007 apud YAHUDA, 2008)
entenderem que nenhuma potência asiática tem condições de ameaçar a
proeminência dos EUA na região, é possível enxergar a ameaça que o crescimento
chinês e a aproximação cada vez maior dos países do Leste Asiático em
associações que excluem os EUA vem causando desde a ideia do Grupo Econômico
133
A região do Nordeste Asiático segundo o FMI e retratada no Gráfico inclui além de Japão, China e Coréia do
Sul, e a região do Sudeste Asiático inclui os países da ASEAN mais o Timor Leste.
111
da Ásia do Leste (ou East Asian Economic Group – EAEG) da década de 1990.
Embora os EUA estejam na região do Leste Asiático através da APEC do ARF, e
mais recentemente do EAS, no caso do ARF com o objetivo de fazer parte das
conversas e decisões de segurança da região, sua atuação como força militar,
parceiro econômico e comercial, bem como financiador e doador da região pode
estar cada vez mais comprometida frente ao crescimento de outras potências na
região.
Embora parte da academia acredite que o Leste Asiático, com ênfase na
China e sua ascensão acelerada, não represente risco imediato para a presença
americana na região ou sua atuação como potência hegemônica, Arrighi (2007)
aponta pelo menos três representantes do pensamento e da política norte-
americanos cada qual com soluções diferentes para a contenção do crescimento
chinês e da região como um todo que passa a incomodar o poder dos EUA. As três
visões apontadas e comentadas pelo autor são de Kaplan (2005), Kissinger (2005) e
Pinkerton (2005) cada uma delas representando vertentes estratégicas que estariam
como opção para os EUA, frente à emergência da China.
Kaplan adota a vertente de Contenção Militar por enxergar a possibilidade de
uma ameaça inclusive por meios militares e sugere como solução alianças militares
na região do Pacífico (em comparação direta com as alianças do Pacífico para frear
a União Soviética no período da Guerra Fria). Kissinger por sua vez aposta em uma
estratégia de Acomodação entre EUA e China por aceitar a ideia da ascensão ou ao
menos do desenvolvimento pacífico do país que, gradualmente teria seu poder
acomodado no cenário da economia política mundial. Por fim, Pinkerton é adepto da
lógica que denomina de “terceiro feliz” onde propõe que a estratégia mais acertada
por parte dos EUA em relação à China e as demais potências do Leste Asiático é
atuar apenas como uma espécie de coordenador de um balancing que deve ser
estabelecido naturalmente entre as principais potências regionais (China, Japão e
Índia) com o intuito de não se envolver no cenário de uma problemática entre eles,
que em contrapartida traria benefícios aos EUA (como aconteceu na relação EUA-
Europa no início da década de 1900) e que funcionaria como um freio onde Japão e
Índia contrabalanceariam a China e vice-versa tanto em relação a Japão quanto a
Índia. (ARRIGHI, 2007).
O autor, que critica cada uma das abordagens dos pensadores norte-
americanos tachando a primeira de ultra-realista e belicosa, a segunda de ingênua e
112
a terceira de simplista, pois não leva em consideração a dificuldade que o EUA tem
de penetrar em diversos esquemas regionais asiáticos, mantém seu pensamento de
que os EUA nada deveriam fazer em relação à China, pois no longo prazo, essa é
que vai desbancá-lo do posto de principal potência.
Apesar de não indicar claramente, Arrighi (1996) tende a acreditar que o
Japão134 seria o candidato mais preparado para assumir o quinto ciclo de
acumulação de capital no lugar dos EUA, justamente pelo passado de forte
crescimento econômico e financeiro e a rápida recuperação de momentos de crise.
O mesmo autor (2007) em “Adam Smith em Pequim” parece demonstrar que
entende a China, por sua ascensão surpreendente no comércio, na indústria, na
área financeira e também por seus números sempre apresentados em altas
proporções para o padrão mundial, é enxergada como a possível candidata a nova
potência hegemônica. Ambas as opiniões de Arrighi (1996 e 2007) não são
explicitas, apenas uma interpretação de seu texto e do momento em que escreve,
mas demonstram a validade de sua pesquisa de cerca de uma década atrás e que
aponta o Leste Asiático como uma área imprescindível para as relações
internacionais e a diminuição da presença norte-americana na região, embora não
represente um consenso no governo norte-americano.
Yahuda (2008) reitera o pensamento de Arrighi (1996, 2007), sobre a relação
dos EUA com a região do Leste Asiático e suas principais potências regionais,
apontando inicialmente que as escolas teóricas de Relações Internacionais
influenciam bastante na interpretação desta relação. Apesar de tratar da escola
liberal de Relações Internacionais, é a escola Realista que se encaixa melhor na
visão dos três pensadores citados por Arrighi (2007). Kaplan, Kissinger e Pinkerton
representam a escola realista dividida entre ofensivos e defensivos. O primeiro
tipicamente ofensivo versão “balancing”, o segundo defensivo e o terceiro ofensivo
versão “buck-passing”, ou “passar o balde” em tradução livre.
Entretanto, apesar de reconhecer os EUA como a potência predominante na
provisão de bens públicos135, que auxiliou no rápido crescimento de diversos países
134
“Como veremos, não está nada claro que a emergente liderança japonesa possa realmente traduzir-se num
quinto ciclo sistêmico de acumulação. Mas, quer possa, quer não, a extensão do avanço japonês nos processos
sistêmicos de acumulação de capital desde a crise sinalizadora do regime norte-americano é muito maior que as
trajetórias [de Alemanha, Itália e Espanha]” ( ARRIGHI, 1996, p. 349)
135
Como já dito anteriormente, o que YAHUDA define como bem público internacional é entre outras coisas:
medidas antipirataria, assistência humanitária e ajudas pós-desastres e segurança das linhas marítimas.
(YAHUDA, 2008). Há ainda outras definições de bem público como a de Paul Samuelson apresentada por Gilpin
113
Efetivo Militar
Gráfico 8: Efetivo Militar norte-americano no Leste Asiático de 1990 a 2005. Fonte: Departamento de Defesa
Americano Disponível em: http://siadapp.dmdc.osd.mil/personnel/MMIDHOME.HTM. Elaboração nossa.
(2001) onde o bem público pode ser definido pela característica de não exclusividade e consumo não
degradante, o que quer dizer, outras palavras, que qualquer um pode utilizar e que o seu uso por um indivíduo
não implica na redução do uso por outro. Gilpin (2001) ainda disserta sobre a oferta de bens públicos afirmando
que em uma economia internacional liberal inclui um sistema de comércio aberto e um sistema monetário
internacional estável. Ainda sobre bens públicos o autor afirma que são apenas providos pelo líder ou hegemon
que possua interesse em fazê-lo ou por um grupo de Estados forçados pelo hegemon a dividir o custo deste
bem. (GILPIN, 2001).
114
China valorizasse sua moeda, como também em questões militares, inclusive com
seus próprios aliados que são cautelosos ao fortalecer suas alianças militares uma
vez que nenhum deles pretende se ver em uma situação onde precise escolher
entre EUA e China. (YAHUDA, 2008)
“Não há nenhuma potência asiática desafiando abertamente os EUA, nem
mesmo a China”136(YAHUDA, 2008, p.345, tradução nossa). No entanto, o mesmo
autor, aponta uma percepção asiática de que os EUA bem como seu prestígio e
influência estão em declínio. Esta percepção pode estar atrelada ao crescimento
acelerado da China e a um entendimento, mesmo que velado, daquilo que Arrighi
(1996, 2007) afirmava, de que há pouco que os EUA possam fazer para controlar a
China e impedir a ascensão de uma nova potência hegemônica137. Ainda assim, os
EUA procuram reverter ou ao menos melhorar a sua situação no Leste Asiático,
principalmente frente à percepção que há na região quanto ao papel dos EUA.
Recentemente, em um discurso na Austrália por onde estava de passagem
para o encontro anual da APEC em novembro de 2011, o presidente norte-
americano Barack Obama reforçou a presença do país na região da Ásia Pacífico e
a aliança militar com a Austrália e questionou diversas posturas chinesas. Com a
afirmação de que após duas recentes guerras chegou o momento dos EUA se voltar
de vez para todo potencial da Ásia Pacífico por ser a região que abriga grande parte
da população mundial, algumas das potências nucleares, e ainda se constituir como
a área de crescimento mais acelerado no globo. Afirmando que a essência norte-
americana é e sempre será de um Estado do Pacífico, Obama continua sua fala
demonstrando o interesse de seu país na região que se inicia na escolha estratégica
dos EUA em desempenhar um papel de longo prazo para moldar a região e o seu
futuro.138
Na ocasião, ambos os países reiteraram seus laços através do fortalecimento
de uma aliança militar que permitirá inicialmente o envio de 250 fuzileiros da marinha
136
O texto em língua estrangeira é: None of the major Asian powers is openly challenging the United States—not
even China.
137
Arrighi (1996) lança, na conclusão de seu trabalho, três possíveis cenários da atual crise do ciclo de
acumulação de capital norte-americano O primeiro é que os antigos centros.venham a deter a fuga de capital
para o Oriente através da formação de um Império Mundial que se formaria com a apropriação pelos antigos
centros do capital excedente acumulado nos novos centros. O segundo é que os velhos centros não consigam
modificar o curso da história e deter a ascensão de uma nova potência no Leste da Ásia. O terceiro e último
aposta que a escalada de violência surgida com o fim da ordem mundial instalada na Guerra Fria levará ao caos
sistêmico que originou os ciclos de acumulação de capital 600 anos atrás, impedindo a ascensão de qualquer
potência.
138
Disponível em: http://www.smh.com.au/national/text-of-obamas-speech-to-parliament-20111117-1nkcw.html
115
139
Ibid.
140
Disponível em: http://www.bbc.co.uk/news/world-asia-15739995
141
Disponível em http://www.smh.com.au/national/text-of-obamas-speech-to-parliament-20111117-1nkcw.html
116
global, se trata de uma pura estratégia racional para evitar o aumento de poder da
China e a construção de uma ‘esfera de influência na região do Pacífico, que poderá
evoluir para o ocidente e consequentemente colocar a posição de destaque dos
EUA em risco.
Uma vez que China estabelecer uma esfera de influência segura, será fácil para
Beijing formar laços políticos mais próximos com países do hemisfério ocidental,
alguns dos quais ressentem a muito tempo a dominância dos EUA. Não é
necessária muita imaginação para ver onde isso vai levar: pela primeira vez desde o
século XIX, os Estados Unidos terão que enfrentar a possibilidade da existência de
uma potência rival com uma significativa presença militar no hemisfério ocidental.
Lembre que a tentativa soviética de colocar mísseis nucleares em Cuba levou EUA e
URSS mais próximos a guerra do que em qualquer outro momento da Guerra Fria e
145
você terá uma ideia do potencial do problema atual. (WALL, 2011, Foreign Policy,
tradução nossa)
145
O texto em língua estrangeira é: Once China established a secure sphere of influence, it would be easier for
Beijing to forge closer political ties with countries in the Western hemisphere, some of whom have long resented
U.S. dominance. It does not take a lot of imagination to see where this leads: for the first time since the 19th
century, the United States might have to face the prospect of a rival great power with a significant military
presence in the Western hemisphere. Recall that the Soviet attempt to place nuclear missiles in Cuba brought the
two countries closer to war than at any other time during the Cold War, and you get an idea of the potential for
trouble here. Disponível em: http://walt.foreignpolicy.com/posts/2011/11/18/explaining_obamas_asia_policy
146
A ideia do mecanismo de balancing ou balança dentro do realismo segundo apresentada é de
Mearsheimer(2003) e representa “quando um Estado tenta neutralizar o crescimento de uma potência
hegemônica regional por meio da constituição de alianças com outros Estados” (NOGUEIRA & MESSARI, 2005,
p.54)
118
147
A idéia do mecanismo de buck-passing segundo apresentada é de Mearsheimer (2003) e representa “quando
um Estado prefere delegar a outro Estado (ou outros Estados) a responsabilidade de neutralizar o avanço de
uma eventual potência hegemônica” (NOGUEIRA & MESSARI, 2005, p.54)
148
Comunicação oral do mestre em Relações Internacionais Wellington Dantas de Amorim, doutorando do
Programa de Pós-Graduação em Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense em novembro de
2011
149
Ibid.
119
centro e raios (hub and spoke system). (ACHARYA, 2009; KAWAI & WIGNARAJA,
2007). A ASEAN atua como um centro emergente para as atividades de FTA do
Leste Asiático, envolvendo os países com maior destaque na região, China, Japão e
Coréia do Sul através da ASEAN+3 e as FTA’s que desenvolvem. (KAWAI &
WIGNARAJA, 2007).
Apesar de viverem na sombra de seus mais poderosos vizinhos (China, Índia e
Japão) os países do Sudeste Asiático exerceram a maior influência no que tange o
desenvolvimento da abordagem de arquiteturas regionais. O Sudeste Asiático não
só é o local de surgimento da primeira organização multilateral viável da Ásia e
inicialmente voltada para segurança, a ASEAN, mas também influenciou outras
partes Ásia e da região como um todo a adotar os princípios e o modo de interação
150
regional desenvolvido no sudeste da Ásia. (ACHARYA, 2009, p. 174, tradução
nossa).
Vale ressaltar que mais recentemente além dos três países do Nordeste
Asiático, a ASEAN buscou a aproximação de Índia, Austrália e Nova Zelândia para o
estabelecimento de novas FTA’s e a ideia inicial de ampliação do conceito de Leste
Asiático com o EAS, o que demonstrou a princípio uma expansão do regionalismo e
um fortalecimento da noção de Leste Asiático.
Segundo Ba (2009), no final da década de 1980 e início de 1990 quando a
ASEAN começava a redirecionar os seus principais objetivos, surgiam debates sobre
a região do Leste Asiático e da Ásia Pacífico e seus esquemas de cooperação, visto
que sua pluralidade aumentava as possíveis respostas regionais daquela parte do
mundo. Nos anos de 1980, apesar dos primeiros sinais de recuperação dos países
desenvolvidos, a queda no preço das commodities e o crescimento das alternativas
aos produtos primários, que dominavam as exportações totais da ASEAN,
mantiveram a ansiedade nos mercados. Havia também a preocupação com o
protecionismo que poderia prejudicar o livre mercado, visto que a Rodada do
Uruguai de negociações comerciais havia falhado neste sentido.
Por outro lado, as economias da ASEAN, apesar de terem se tornado mais
sensíveis às mudanças da economia global devido à sua estratégia de crescimento
voltada para a exportação, tornavam-se alvos das ansiedades ocidentais uma vez
que passavam por dificuldades econômicas. Os EUA particularmente preocupavam-
se com os Estados da ASEAN devido à desaceleração de sua economia e a
150
O texto em língua estrangeira é: Southeast Asian countries, despite living in the shadow of their more powerful
neighbors India, China, and Japan, have exerted major influence on the development of Asian regional
approaches to regional architectures. Not only is Southeast Asia the birthplace of Association of Southeast Asian
Nations (ASEAN), but other parts of Asia and the wider region as a whole have adopted the principles and mode
of regional interaction developed in Southeast Asia.
121
Suponha que a Malásia vá sozinha a Bruxelas para fazer uma reclamação contra o
protecionismo europeu. Nossa voz será simplesmente muito fraca . Ninguém ouviria.
Mas se todo Leste Asiático disser à Europa que ela precisa abrir seus mercados, os
europeus vão saber que acessar o gigante mercado asiático os obriga a não serem
151
protecionistas. Este foi o objetivo por detrás da proposta da EAEC. (ISHIHARA e
MAHATHIR, 1995, p.44 apud TERADA, 2003, p. 257, tradução nossa.)
A escolha pelo Japão como o país que poderia vir a liderar um bloco regional
específico do Leste da Ásia parecia ser a mais acertada visto que, cada vez mais o
Japão buscava, no início da década de 1990 e até mesmo antes – a partir de 1985
com a depreciação do dólar em relação ao iene e outras moedas através do Acordo
de Plaza ( Plaza Accord) – demonstrar uma presença econômica crescente através
de investimentos, ajudas econômicas, e políticas industriais para região do Sudeste
Asiático. O volume de investimentos e comércio entre os países do Nordeste
151
O texto em língua estrangeira é: Suppose Malaysia goes alone to Brussels to lodge a complaint against
European protectionism. Our voice would simply be too small. Nobody would listen. But if the whole of East Asia
tells Europe that it must open up its markets, Europeans will know that access to the huge Asian market obliges
them not to be protectionist. That was the reasoning behind the EAEC proposal.
152
O texto em língua estrangeira é: “Malaysia is a small country, and our voice may not be heard. ASEAN is not
big enough to carry clout. But if China, Korea, and Japan are with us, perhaps people would pay attention” -
Abdul Jabar
123
Contudo, por ter sido colocada de forma repentina, a proposta da EAEC gerou
um dos maiores temores entre os Estados do Sudeste Asiático que participariam da
empreitada, uma vez que trouxe ainda mais desconfianças para os países da
ASEAN que temiam que, ligados principalmente a Japão e China, o bloco do qual já
153
Primeira condição: “oposição à criação de um bloco econômico-comercial que não estabelecesse um sistema
de comércio multilateral mais justo e mais livre”; segunda condição: “preservar a identidade e a coesão da
ASEAN bem como seus processos cooperativos com parceiros de diálogos” (BA, 2009, p. 148, tradução nossa).
O texto em língua estrangeira é: “opposition to ‘ the establishment of an economic trading bloc as that would be
contrary to ASEAN’s support for the establishment of a more fair and freer multilateral trading system” […] “ the
preservation of ASEAN’s identity and cohesion, as well it’s cooperative processes with dialogue partners”.
154
O texto em língua estrangeira é: “ The early 1990 also saw APEC gain momentum due in part to new attention
from the United States, which focused on APEC as a way to neutralize regional interest in more exclusive
groupings and in particular EAEG”
125
faziam parte seria ultrapassado. Além disso, o fato de a proposta ter sido colocada
inicialmente como um bloco comercial e não apenas como um órgão consultivo (o
que levaria a divisão da economia mundial em três NAFTA, UE e a então nascente
EAEC) gerou baixo consenso e uma retaliação por parte dos membros da ASEAN.
(TERADA, 2003). Deste momento em diante, a Malásia começou a remodelar o
conceito da EAEC com o intuito de torná-la mais aceitável para os demais países,
inclusive aqueles que fariam parte dela. Dentre os países do Sudeste Asiático,
Cingapura com o Primeiro-Ministro Goh Chok Tong se mostrou a maior entusiasta
da iniciativa concordando que os EUA deveriam ficar de fora do grupo uma vez que
já tinham uma Área de Livre Comércio com o Canadá, e que o papel da EAEC era
fortalecer o poder de barganha da ASEAN e não suplantá-la.
Ao mesmo tempo em que Cingapura representava uma das maiores
promotoras da ideia, bem como a Tailândia – que se preocupava mais com as
relações internas da ASEAN e que mais tarde deu a ideia para a criação da área de
Livre Comércio da ASEAN (TERADA, 2003) – a Indonésia resistia à proposta por se
recusar a trabalhar com a Malásia, o que impedia um consenso da ASEAN. (BA,
2009). Também era necessário levar em consideração o fato de que grande parte
destes países, como foi o caso indonésio, estavam tão envolvidos em outros
conceitos regionais como a Ásia Pacífico, o Sudeste Asiático e o Pacífico, e suas
respectivas instituições, que era difícil aceitar e lidar com um novo conceito de Leste
Asiático. Vale ressaltar ainda que eram poucos os interesses comuns na EAEC entre
os países eleitos para formá-la e também que a proposta não era clara em seus
objetivos, era algo nebuloso, do qual não se sabia muito bem o que esperar (ARIFF,
1994 apud TERADA, 2003). Por estes motivos os países eleitos para serem
membros mantiveram-se cautelosos, e tiveram diversas visões em relação aos
rumos do grupo.
Em resposta às reações temerosas para com a EAEC, a Malásia iniciou sua
tentativa de provar a ASEAN que seu propósito era antes de mais nada fortalecê-la
frente ao cenário internacional, e para tanto o país se comprometeu a não tomar
nenhuma ação que pudesse fazer o contrário. Posteriormente “a proposta descreveu
a EAEG como ‘complementar’ a, ‘suplementar’ a, bem como ‘voltado’ para o entrono
da ASEAN.” 155 (BA, 2009, p. 150, tradução nossa.) Ainda a EAEC fora caracterizada
155
O texto em língua estrangeira é: “the proposal described the EAEG as ‘complementary’, ‘suplementary’, to as
well as revolving around ASEAN.”
126
como um processo evolutivo que primeiro criaria o consenso entre os países para
depois formalizar links comerciais e econômicos. Finalmente, quando levada para
ser oficialmente apresentada a Tókio, a proposta foi entregue como um fórum frouxo
e consultivo cuja intenção não era a formação de um bloco, mas de um cáucus para
conversas e debates entre os membros (BA, 2009), mas que não foi recebida com
ânimo pelos japoneses.
Apesar da tentativa de remodelar a proposta para caber no gosto de seus
futuros membros, as reuniões Ministeriais da ASEAN daquele ano de 1991 não
chegaram a nenhuma conclusão e aos poucos a EAEG foi sendo deixada de lado –
até a chegada da ASEAN+3 alguns anos depois. Em 1991 depois que os Ministros
das Finanças da ASEAN decidiram trocar o nome de EAEG para EAEC,
acompanhando a ideia de transformar a associação em um cáucus para debates,
que os Estados da ASEAN concordaram que a EAEC precisava crescer. Contudo,
após o encontro os membros não se comprometeram de fato a criar os objetivos e a
estrutura da instituição, o que foi distanciando cada vez mais a sua realização até
que foi substituída. (TERADA, 2003).
Terada (2003), através de uma abordagem construtivista, afirma que a EAEC
não se materializou apesar de ter a mesma formação de membros que anos mais
tarde a ASEAN+3 viria a ter. O autor afirma que é importante estudar a forma como
o conceito de Leste Asiático foi construído e de que maneira foi aceito pelos países
da região no segundo momento com a ASEAN+3, diferente do primeiro com a
EAEC. Para explicar tal situação aponta: uma maior consciência dos Estados da
região de que eles de fato faziam parte de uma mesma região, consciência esta forte
o suficiente para fazer com que estes se comprometessem a cooperar com este
‘novo’ conceito de região; o fato de o desenvolvimento da ASEAN+3 ter coincidido
com a expansão horizontal da EU e a criação da Área de Livre Comércio das
Américas (ou Free Trade Area of the Americas –FTAA) no NAFTA, ou seja estar
sincronizado com o desenvolvimento de outras duas grandes instituições regionais;
bem como a experiência da crise financeira de 1997 que surgiu como um problema
regional e demonstrou a necessidade de uma abordagem financeira conjunta dos
países da região expondo a interdependência existente entre o Nordeste e o
Sudeste Asiáticos.
O momento de mudanças que se inaugurava na virada dos anos 1980 para
1990 e que trazia consigo o peso do fim da Guerra Fria e o surgimento dos EUA
127
espera-se que os demais membros o façam até 2015. (KAWAI & WIGNAJARA,
2007).
Em 1994, no mesmo ano da criação do ARF156, os países da ASEAN e do
Nordeste Asiático começam uma aproximação mais intensa mesmo que dentro dos
arranjos regionais onde conviviam com outros países e potências que não faziam
parte do contexto do Leste Asiático. Tanto no ARF quanto na APEC as potências
ocidentais costumavam se colocar contrárias às diversas posições da ASEAN,
principalmente em relação aos direitos humanos e a pouca democratização dos
países, o que acabava por reforçar ainda mais a tese malaia de que um grupo do
Leste Asiático, deveria ter algum laço cultural, uma forma de fazer diplomacia que
lhes fosse comum, diferente do que acontecia em um grupo formado por países
asiáticos e ocidentais. A melhoria e a expansão das relações entre os então 6
membros da ASEAN e os países do Nordeste da Ásia aumentava as oportunidades
de interação entre os países do Leste Asiático, e com isso a chance da criação de
um grupo que abarcasse esta região. (BA, 2009).
APEC e no ARF, o que dava oportunidade para que mesmo sem o nome de Leste
Asiático, o grupo pudesse se encontrar e debater sobre o assunto. Foi inclusive
durante o primeiro encontro do ARF em 1994 que Japão, China, Coréia do Sul e os
Estados da ASEAN (até então apenas seis) se encontraram pela primeira vez para
debaterem informalmente os princípios e objetivos da agora EAEC.(BA, 2009). No
mesmo ano, dentro do Encontro Ministerial da ASEAN, os mesmos ministros da
ASEAN se reunem com representantes dos países do Nordeste Asiático e
debateram ainda questões da EAEC. No ano seguinte Cingapura propôs a repetição
do encontro que se tornou anual, e em 1995 já com o Vietnã como novo membro da
ASEAN ocorreu mais um encontro informal realizado também no Encontro Ministerial
da ASEAN em Brunei.
Em 1996, a partir de uma iniciativa da Indonésia, durante o Encontro
Ministerial da ASEAN que incluía Japão, China e Coréia do Sul como convidados, foi
estipulado que de 1997 em diante, a reunião da ASEAN-7 com os países do
Nordeste Asiático estaria oficialmente na pauta dos Encontros Ministeriais da
ASEAN. O termo informal de ASEAN7+3 significando um conceito de Leste Asiático
dentro dos Encontros Ministeriais da ASEAN, mesmo extra-oficialmente, foi
importante para gradualmente abrir caminho para uma atmosfera mais receptiva
para o novo conceito regional que estava sendo formado. Outro catalisador para a
criação da ASEAN+3 foi o início dos Encontros Ásia-Europa158 (ou Asia-Europe
Meetings – ASEM) que começaram a ser negociados em 1995 e passaram a ocorrer
no ano de 1996.
Inicialmente, a UE estabeleceu que seus até então 15 membros participariam
do fórum e deixaram a cargo da ASEAN escolher quais países representariam a
Ásia como um todo. A ASEAN por sua vez, entendeu que a Ásia deveria ser
representada não só pelos países do Sudeste Asiático, mas também por aqueles
que faziam parte do Nordeste da Ásia e que eram as maiores economias da região.
Esta responsabilidade dada pela Europa à ASEAN e correspondida por esta com a
inclusão de China, Japão e Coréia do Sul deu ainda mais espaço à noção de Leste
Asiático trabalhada até então. (BA, 2009). Da mesma forma, enquanto a Europa
tinha a UE para estabelecer quais os países que seriam os representantes do
continente nestes encontros, a Ásia não tinha nada que ligasse o Sudeste ao
158
Atualmente, os países formadores do ASEM, um fórum inter-regional, são: Comissão Europeia, UE-27, os 13
países da ASEAN+3, Índia, Mongólia, Paquistão, Austrália, Rússia e Nova Zelândia.
130
Como já dito no capítulo anterior, a crise de 1997 foi gerada devido a uma
série de políticas macroeconômicas frouxas e a inabilidade dos países da ASEAN de
liberalizar seus mercados financeiros, ou seja, “os Estados da ASEAN fizeram isso
consigo mesmos.”161 (BA, 2009, p. 202, tradução nossa). A única solução
encontrada pela Tailândia, a de buscar ajuda no FMI se mostrou desastrosa, e
serviu de exemplo do que não fazer aos Estados da ASEAN. A preocupação dos
países da associação era que a situação piorasse e acabasse por contaminar toda a
região. Os EUA não se demonstraram vontade em dar o auxílio necessário, tão
pouco a APEC, que “não estava lá [...] respondeu lentamente”162 (BUSINESS
WORLD, 1 de outubro de 1999,p.6 apud BA, 2009, p. 210, tradução nossa).
A ASEAN, que teve suas limitações expostas pela crise e sua credibilidade
diminuída, apesar de possuir um Fundo, sabia que não era o suficiente para resolver
a questão. Por outro lado, precisava ainda buscar fortalecer a integração dentro da
associação e aumentar a coesão uma vez que havia temor por parte dos países
membros de sofrerem com a crise como aconteceu com a Indonésia e sua tentativa
159
O texto em língua estrangeira PE: “[...] the crises did not create ‘East Asia’ so much it intensified and speed up
existing processes already in train”
160
O texto em língua estrangeira é: The leaders of Japan, China and Korea were invited to the informal ASEAN
Leaders’ Meeting in December 1997, in the midst of the Asian financial crisis, which de facto initiated the
ASEAN+3 process.
161
O texto em língua estrangeira é: “...ASEAN states had done it to themselves.”
162
O texto em língua estrangeira é: “APEC was not there. It responded slowly”
132
de sair dela com ajuda do FMI. Apesar de não ter a capacidade institucional para
cuidar da crise, a ASEAN ainda era vista como uma estrutura importante para que as
questões relacionadas a esta fossem debatidas. Durante o período da crise, ainda, a
ASEAN demonstrou muito mais atividades em resposta a esta – como debate em
relação ao processo de tomada de decisão e também à adoção de maioria
qualificada – que a própria APEC. Apesar da importância que a associação parecia
ter naquele cenário de crise mesmo com suas limitações, os seus Estados membros
continuavam buscando outras possíveis soluções. (BA, 2009).
Apesar da crise instalada na região, a atenção do mundo começava a se
voltar cada vez mais para o Leste Asiático, uma vez que os países da ASEAN e as
potências do Nordeste Asiático davam continuidade aos encontros que começaram
informais e que mantinham certa regularidade. Era previsível que se saíssem da
crise, a conjuntura que formariam naquela região viria a requer a atenção dos
demais atores da comunidade internacional. Com a formalização da utilização do
termo ASEAN+3 em 1999 – que inicialmente era um processo muito mais consultivo
que é hoje – novos encontros e novas temáticas de cooperação (energia, tráfico de
drogas, agricultura e outros) surgiam entre os membros: encontros financeiros,
econômicos, de Ministros das Relações Exteriores da ASEAN+3 além de outros
encontros como o Grupo de Estudo do Leste Asiático (ou East Asia Study Group)
que tinha como objetivo explorar as possibilidades de uma integração daqueles
países, a Iniciativa Asiática de Mercado de Títulos (ou Asian Bond Market Initiative –
ABMI) bem como a Iniciativa Chiang Mai (CMI), assinada em 2001 que:
Japão teria neste momento – vide a Iniciativa Miyazawa do Japão que emprestou
cerca de 30 bilhões de dólares para as economias afetadas pela crise de setembro
de 1998 até 2000.164 (Japan Ministry of Finance). A ideia inicial do AMF, nunca
levada à frente, estabelecia cerca de 100 bilhões de dólares em ajuda financeira, e a
pesar de nunca ter saído do papel, o Japão ajudou com cerca de 44 bilhões de
dólares na recuperação de Indonésia, Tailândia e Coréia do Sul, os mais afetados
com a crise, o que ajudou a reforçar novamente a imagem do Japão como um líder
regional.(TERADA, 2003).
Já Narine (2009) afirma que pouco foi feito pela ASEAN+3, que já se reunia
desde 1994 informalmente, durante a crise para diminuir seus efeitos, principalmente
porque os esforços japoneses foram freados pelos EUA, mas também por China e
Coréia do Sul que não queriam uma influência japonesa extremamente forte na
região. A ASEAN+3 surgia como uma resposta preliminar à inércia do FMI e dos
EUA em relação à crise, a partir do entendimento asiático de que era necessária a
criação de um instrumento regional que pudesse protegê-los de novas instabilidades
financeiras. No entanto, o papel da China, segundo Xinbo (2009) é tido como
positivo durante a crise, por não ceder às pressões e fazer empréstimos aos países
mais atingidos além de relutar em depreciar sua moeda, o que ajudou a estabilizar a
região. “A promessa chinesa de não desvalorizar sua moeda também foi enaltecida
pelos países da região. Como o Ministro tailandês das Relações Exteriores, Surin,
elucidou, 'a China está carregando o fardo por seu passado isolacionista’.”165
(STRAITS TIMES, 16 dezembro, 1998 apud TERADA, 2003, p.266)
ordem no Sudeste Asiático. A crise também fez com que a ASEAN e o ‘+3’
institucionalizassem as cúpulas até então informais realizadas entre eles, uma vez
que ficara provado que o que quer que acontecesse no Nordeste Asiático –positivo
ou negativo –teria um impacto no Sudeste, e vice-versa. (TERADA, 2003).
Já na década de 2000, com os efeitos da crise controlados, os países da
ASEAN+3 aumentaram ainda mais seu relacionamento e iniciaram uma série
implementações e acordos bilaterais: em 2001 houve um acordo para câmbio entre
seus bancos centrais; em 2005 a partir de uma iniciativa japonesa a ASEAN+3
dobrou o tamanho das transações correntes do CMI e também aumentou a quantia
que cada país membro poderia retirar do fundo sem precisar cumprir as condições
do FMI; em 2007 16 acordos foram assinados entre oito países membros (Japan
Ministry of Finance apud BA, 2009)166 além do Plano de Trabalho da Cooperação da
ASEAN+3 ( ou ASEAN Plus Three Cooperation Work Plan) de 2007 a 2017 que
lançou as bases para a fundação da Cooperação entre os países da ASEAN+3, e
este relacionamento continua a se tornar cada vez mais estreito com é possível
perceber com o lançamento de uma Declaração Conjunta em resposta a crise
econômica e financeira global e também da Cooperação de Gerenciamento de
Tragédias ambas em 2009, além de continuar tratando e aprofundado o plano da
Cooperação da ASEAN+3 lançada ainda em 2007.(MOFA)167
166
Disponível em: www.mof.go.jp/english/if/as3_070505.htm
167
Disponível em: http://www.mofa.go.jp/region/asia-paci/asean/conference/asean3/
136
168
Ver Anexo A.
169
Disponível em: http://www.unescap.org/tid/projects/asianeco-asean.pdf
170
São os países da ASEAN+3 com quem Japão possui FTA’s: Brunei, Indonésia, Malásia, Filipinas, Coréia do
Sul, Cingapura, Tailândia e Vietnã.
171
São os países da ASEAN+3 com quem China possui FTA’s: Coréia, Cingapura e Tailândia
172
São os países da ASEAN+3 com quem Coréia do Sul possui FTA’s: Indonésia, Cingapura, Tailândia,Vietnã,
Malásia e China.
173
ARIC.ORG, 2011 Disponível em: http://aric.adb.org/FTAbyCountryAll.php
138
174
As 20 áreas cobrem os seguintes subitens: política e segurança, crime transnacional, economia, finanças,
agricultura e florestas, energia, minerais, turismo, saúde, trabalho, cultura e artes, meio ambiente, ciência e
tecnologia, informação, bem-estar social, desenvolvimento rural e erradicação da pobreza, administração de
desastres, jovem, mulheres, e outros subitens.
175
Essas 56 estruturas são: 1 summit, 14 comissões ministeriais, 19 Senior Officials, 2 diretores gerais, 18
encontros de nível técnico, e outros 2 encontros.
139
técnica e o segundo liberalize seu mercado agrícola sensível pode, segundo Terada
(2003), ajudar na melhoria do ambiente para a realização da EAFTA através do
desenvolvimento econômico e tecnológico dos países da região.
Ainda no ano de 2002, houve uma proposta para que fosse realizada uma
FTA entre China, Japão e Coréia do Sul, o que demonstraria o desejo da China de
construir uma FTA com o Japão. Contudo, esta sugestão ainda não se concretizou
apesar de ser debatida nos Encontros Trilaterais entre Japão China e Coréia do
Sul176, o que ainda assim reforça a tese da disputa entre Japão e China por parte da
liderança da região, fora ou dentro de uma EAFTA. Atualmente as relações de high
politics (e também questões de comércio) entre Japão, China e Coréia do Sul não
são realizadas dentro do escopo da ASEAN+3, mas sim bilateralmente entre cada
um destes atores vide seu passado histórico e a busca por uma liderança dividida e
direcionada ou não. (IBID)
Além da ASEAN+3 e a tentativa do estabelecimento de uma FTA que inclua
todos os seus membros, há ainda dois outros movimentos que relacionam o Sudeste
e o Nordeste Asiático. Ambos estão intimamente ligados aos países do “+3” e seu
passado histórico, a diferença é que ao passo que um deles é “exclusivo” o outro é
“inclusivo”. O primeiro movimento é o da ASEAN+1, como supracitado, que se
resume em FTAs principalmente dos países do “+3” individualmente com a
associação, ou seja, cada um dos grandes atores da região tem uma FTA separada
com a ASEAN no lugar de uma FTA que envolva todos os países da ASEAN+3. O
segundo movimento como também já supracitado, é o EAS anteriormente conhecido
como ASEAN+6.
Os chamados ASEAN+1 apesar de se referirem na grande maioria das vezes
aos acordos de livre comércio que a associação tem com os países do ‘+3’ também
podem ser entendidos como os FTAs que o bloco possui com outros países como
Índia, Nova Zelândia e Austrália, bem como o que está em negociação com a UE.
Contudo, uma vez que a pesquisa tem como principal enfoque a relação da ASEAN
e os países do ‘+3’, as FTAs de China, Coréia do Sul e Japão são apresentadas com
maior destaque. Os FTAs de China e Coréia do Sul e Japão tem uma diferença
básica inicial, além das datas em que cada uma delas foi estabelecida. Enquanto
China e Coréia do Sul tem com a ASEAN um acordo de livre comércio (ou FTA) que
176
O assunto dos Encontros Trilaterais será tratado mais a frente no capítulo.
141
177
Disponível em: http://www.unescap.org/tid/projects/asianeco-asean.pdf
178
Disponível em: http://www.asean.org/Fact%20Sheet/AEC/AEC-12.pdf
179
Ibid.
142
183
Disponível em:http://www.asean.org/Fact%20Sheet/AEC/AEC-12.pdf
184
Disponível em: http://www.bi.go.id/NR/rdonlyres/E128B84E-FEB3-4412-B30F-
99C2A23618F2/24581/PresentationGIZoct2011JoonLianWanTradeCompatibilit.pdf
185
Disponível em:http://www.asean.org/Fact%20Sheet/AEC/AEC-12.pdf
144
uma vez que envolve a eliminação pelo Japão de tarifas da lista de produtos normais
de 93% do valor das suas importações da ASEAN, e a eliminação pela ASEAN-6 (e
também o Vietnã, que entrou depois no acordo) de 90% das tarifas de importação da
lista de produtos normais do Japão em 10 anos.186 Para Laos, Camboja e Myanmar
que entraram depois não só na ASEAN, mas também no FTA ASEAN-Japão, haverá
um prazo de 13 anos, ou seja, para a redução de 90% de suas tarifas dos produtos
da linha de produtos normais. Para produtos da lista sensível e altamente sensível o
nível de liberalização e redução é negociado bilateralmente entre os países da
ASEAN e o Japão.187
A parceria ASEAN-Japão inclui desde seu início um acordo de comércio em
produtos e serviços, além de cooperação econômica e de investimentos, e nos
últimos anos incluiu os demais países da ASEAN, que inicialmente foram deixados
de fora (SAUNDERS, 2008). O acordo, que irá levar mais produtos e serviços a um
menor custo e com eliminação de tarifas – ou ao menos redução – para diversos
países da região, a médio e longo prazo ajudará a melhorar o padrão de vida da
população dos Estados que fazem parte do grupo.188
A CEP ASEAN-Japão também foi a primeira a estabelecer uma seção para
facilitação de comércio; para o estabelecimento de Normas, Regulamentos Técnicos
e Procedimentos de avaliação de conformidade e questões Sanitárias e
Fitossanitárias bem como a primeira a elaborar uma seção própria para cooperação
econômica entre os membros.189 (WAN, 2011) Com o estabelecimento da CEP, em
2008, o Japão se comprometeu a colocar em funcionamento a Área de Livre
Comercio ASEAN-Japão (ALCAJ) como um todo em 2018 apenas, dez anos depois
da criação da CEP, mas que terá como vantagem a vivência inicial da parceria
abrangente que poderá avançar neste período de tempo, em diversos aspectos
acabando por se tornar, apesar de tardia, uma área de livre comércio melhor
estruturada e consequentemente mais profunda. Atualmente, a CEP japonesa com a
ASEAN movimenta cerca de US$ 200 bilhões, pouco atrás da FTA ASEAN-China
que movimenta não mais que US$ 230 bilhões, e é responsável por 11% de todo
186
Disponível em: http://www.bilaterals.org/spip.php?article12479&lang=en
187
www.asean.org/Fact Sheet/AEC/AEC-12.pdf
188
Disponível em:http://www.asean.org/Fact%20Sheet/AEC/AEC-12.pdf
189
Disponível em: http://www.unescap.org/tid/projects/asianeco-asean.pdf
145
IED para a ASEAN, sendo o maior investidor externo da região, bem a frente da
China que é responsável por um pouco mais de 3,5%.190(WAN, 2011)
Os FTAs bilaterais, ou até mesmo intrabloco, nos quais a ASEAN se engaja,
apesar de possuírem diferenças relevantes, possuem também algumas
características básicas, presentes em todos os acordos de livre comércio da ASEAN
quase como ‘clausulas pétreas’:o acréscimo de novas características, o aumento do
escopo e o aprofundamento das questões tratadas; a busca pela harmonização de
políticas para evitar o efeito de spaghetti bowls ou de sobreposição de acordos; a
não utilização de uma mesma fórmula ou estrutura para diferentes FTAs entre
países diferentes; e a presença de um elemento de cooperação econômica. 191
(WAN, 2011; SEARIGHT, 2009). A Tabela 9 a seguir procura ilustrar as principais
convergências e divergências entre as FTAs de ASEAN, e ASEAN e China, Japão e
Coréia do Sul.
Acordo de Livre Acordo de Livre Parceira Econômica
Acordo de Livre
Elemento Comércio ASEAN- Comércio ASEAN- Abrangente ASEAN-
Comércio da ASEAN
China Coréia do Sul Japão
Em 10 anos a partir
Entrada em vigor da Área
1º de janeiro de 2010 1º de janeiro de 2010 1º de janeiro de 2010 da criação da
de Livre Comércio
Parceria (2008)
Tarifas:
eliminação mais que 99% no mínimo 90% no mínimo 90% no mínimo 90%
manutenção nenhuma sim (tecnologia) nenhuma nenhuma
nenhuma (mas 1% (do comércio
exclusão nenhuma 40 TL
tecnologia) total)
produtos especiais arroz e açúcar nennhum nennhum nennhum
tarifas máximas 5% (UAP) 20% SL 50% HSL nennhum nennhum
Acordos de Normas
Sanitárias e Fito-
Sim Em negociação Mínima Sim
sanitárias e de Barreiras
Técnicas ao Comércio
Sim (proteção Sim (liberalização
Agenda sob
Serviços e Investimentos AFAS and ACIA apenas para para investimento
negociação
investimento) em pauta)
Legenda:
AFAS= ASEAN Framework Agreement on Services ou Acordo-Quadro em Serviços da ASEAN
ACIA= ASEAN comprehensive investment agreement ou Acordo Abrangente de Investimentos da ASEAN
UAP= Unpreocessed Agricultural Products ou Produtos agrícolas não processados
SL= Sensitive List ou Lista Sensível
HSL= Highly Sensitive List ou Lista Altamente Sensível
TL= Trade Liberalization ou Liberalização de Comércio
Tabela 9: Acordos de Livre Comércio da ASEAN e da ASEAN com cada um dos países do '+3'. Fonte: WAN,
2011. Disponível em: http://www.unescap.org/tid/projects/asianeco-asean.pdf. Tradução nossa.
190
Disponível em: http://www.bi.go.id/NR/rdonlyres/E128B84E-FEB3-4412-B30F-
99C2A23618F2/24581/PresentationGIZoct2011JoonLianWanTradeCompatibilit.pdf
191
Disponível em: http://www.unescap.org/tid/projects/asianeco-asean.pdf
146
192
Disponível em: http://www.mofa.go.jp/region/asia-paci/eas/pdfs/state111119.pdf
147
193
http://www.ibge.gov.br/paisesat/main.php
150
12.000.000,00 8.000,00
10.000.000,00 6.000,00
8.000.000,00 4.000,00
6.000.000,00 2.000,00
4.000.000,00 -
2.000.000,00 ASEAN ASEAN+1 ASEAN+1 ASEAN+1 ASEAN+3
(China) (Japão) (Coréia)
-
ASEAN ASEAN+1 ASEAN+1 ASEAN+1 ASEAN+3
(China) (Japão) (Coréia)
População
2.500.000,00
Milhares
2.000.000,00
1.500.000,00
1.000.000,00
500.000,00
-
ASEAN ASEAN+1 (China) ASEAN+1 (Japão) ASEAN+1 (Coréia) ASEAN+3
Gráfico 9: PIB, PIB per capita e População de ASEAN, ASEAN+3 e as ASEAN+1 (com Japão, China e Coréia do Sul) no ano de 2010. Fonte: Banco Mundial Data Query e
CIA Factbook. Disponível em: http://databank.worldbank.org e https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/rankorder/2087rank.html Elaboração nossa.
151
Gráfico 10: Comércio Total da ASEAN, intra-bloco, com os países do ‘+3’ e com a ASEAN+3 hipotética de 2005
a 2010. Fonte: WAN, 2011 Disponível em: www.bi.go.id/NR/rdonlyres/E128B84E-FEB3-4412-B30F-
99C2A23618F2/24581/PresentationGIZoct2011JoonLianWanTradeCompatibilit.pdf . Tradução Nossa.
153
800000,00
0,00
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
1997
1998
600000
500000
Coréia do Sul
400000
China
300000
ASEAN
200000 ASEAN+3
100000
0
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2009
2010
1997
1998
1999
2007
2008
Milhões US$
Total de Comércio da Coréia do Sul
450000
400000
350000
300000
Japão
250000
China
200000
150000 ASEAN
100000 ASEAN+3
50000
0
1998
1999
2002
2003
2006
2007
2009
2010
1997
2000
2001
2004
2005
2008
Gráfico 11: Total de Comércio de China com Japão, Coréia do Sul, ASEAN e ASEAN+3 hipotética; de Japão com
China, Coréia do Sul, ASEAN e hipotética ASEN+3 e de Coréia do Sul com Japão, China, ASEAN e ASEAN+3
hipotética de 1997 a 2010. Fonte: Asian Regional Integration Center –ARIC. Disponível em:
www.aric.adb.org/indicators Elaboração nossa.
154
ASEAN
25%
Outros
China
51%
10%
Japão
10%
Coréia do
Sul
4%
Gráfico 12: Representação do comércio de cada um dos parceiros no Comércio Total da ASEAN, 2009. Fonte:
ASEAN Merchandise Trade Statistics Database. Disponível em: www.aseansec.org/18137.htm. Elaboração
nossa.
restante do mundo, cerca de US$ 4.49 trilhões (comércio intra e extra bloco
corresponderia a um total de US$ 7.44 trilhões), poderia garantir uma elevada
estabilidade comercial à região, que apesar de manter um comércio amplo com o
resto do mundo, demonstra uma crescente interdependência e um robusto comércio
intra-bloco.
Os fluxos de IED bem como suas origens são o que costumam caracterizar os
principais parceiros de um país, região e/ou grupo de países, são responsáveis por
grande parte do desenvolvimento do país, principalmente o econômico e também
podem ajudar a entender a importância que cada país do “+3” dá a ASEAN. No
Leste Asiático, desde 2005 as taxas de IED dos países do “+3” para a ASEAN estão
em uma tendência de crescimento, com exceção do período da crise de 2008,
quando os IEDs sofreram uma baixa não só na região, mas em todo o mundo. A
única exceção a esta regra é a China que foi na contra-mão de uma tendência de
todo o Leste Asiático em relação aos IED’s no ano de 2009 quando diminuiu seus
investimentos externos para a ASEAN ao passo que não só Japão e Coréia do Sul
como também a ASEAN aumentaram significativamente seus IED’s com a
associação como demonstra o Gráfico 13.
Além de diminuir seu IED para a ASEAN entre os anos de 2009 e 2010, a
China também é o país do Leste Asiático que menos investe na associação, como é
possível observar nos Gráficos 13 e 14, este último mais claramente aponta que o
IED chinês para a ASEAN em 2010 é menor ainda que o IED sul-coreano, o mais
modesto dos três países do Nordeste Asiático, para a associação. Alguns estudiosos
como Saunders (2008), explicam este fenômeno afirmando que a diplomacia
econômica chinesa acredita que os países asiáticos estão sendo beneficiados,
mesmo que indiretamente, pelo rápido crescimento da economia da China, e que por
156
este motivo a questão do baixo IED do país para o Sudeste Asiático através da
ASEAN pouco relevante.
Considerando que o IED pode ser uma forma de identificar parceiros
regionais, e mais ainda Estados ou grupo de Estados que acreditam no futuro da
instituição, que possuam interesses políticos e comerciais no grupo e que
justamente por isso invistam na região, é possível identificar a partir dos Gráficos
abaixo, que entre os países do ‘+3’ o Japão, e a própria ASEAN como os maiores
incentivadores do bloco. Os EUA também possuem um elevado montante de IED
enviados para a ASEAN devido ao alto interesse que o país tem nos agrupamentos
regionais do Leste bem como do Sudeste Asiáticos, não só aqueles que o país faz
parte, mas também nos que não está presente, principalmente pela preocupação de
se tornar cada vez menos relevante na região frente a aproximação dos países. O
IED dos EUA para a associação pode funcionar como uma maneira de se fazer
presente mais do que de incentivar o grupo, o que não exclui sua parcela de
importância.
Gráfico 13: Fluxo de Investimento Externo Direto para a ASEAN dos países do “+3” e da hipotética ASEAN+3 de
2005 a 2010. Fonte: WAN, 2011. Disponível em:www.bi.go.id/NR/rdonlyres/E128B84E-FEB3-4412-B30F-
99C2A23618F2/24581/PresentationGIZoct2011JoonLianWanTradeCompatibilit.pdf Tradução nossa.
157
Japão
11%
Resto do Mundo
31%
UE
22%
Intra ASEAN
16%
EUA
11%
Gráfico 14: Origem do Investimento Externo Direto para a ASEAN no ano de 2010. Fonte: WAN, 2011.
Disponível em: www.bi.go.id/NR/rdonlyres/E128B84E-FEB3-4412-B30F-
99C2A23618F2/24581/PresentationGIZoct2011JoonLianWanTradeCompatibilit.pdf. Tradução nossa.
1998
2000
2003
2006
2009
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
1997
1999
2001
2002
2004
2005
2007
2008
2010
Gráfico 15: Percentual de Exportação e Importação de China, Japão e Coréia do Sul para a região do Leste Asiático (1997 a 2010). Fonte: ARIC Disponível em:
www.aric.adb.org/indicator . Elaboração nossa.
2.106
35.000,00 32.310,66
2.000
30.000,00
1.500 25.000,00
Em US$
20.000,00
1.000 15.000,00
591 10.259,10
457 502 10.000,00 6740,820644
500
245 3.037,35
5.000,00
- -
Mercosul Nafta UE ASEAN ASEAN+3 Mercosul Nafta UE ASEAN ASEAN+3
Bilhões
9.000.000 18.000,00 17.198,58
16.222,78
8.000.000 7443043,46 16.000,00 14196,12919
7.000.000 14.000,00
Em Milhões
6.000.000 12.000,00
5.000.000 10.000,00
4.000.000 3.587.000 8.000,00
3.000.000 2.002.057,00 6.000,00
2.000.000 4.000,00 2.515,22
1.796,20
1.000.000 510.000 2.000,00
- -
Mercosul Nafta UE ASEAN ASEAN+3 Mercosul Nafta UE ASEAN ASEAN+3
Gráfico16:Comparação Fonte: ASEAN-Japan Centre, Banco Mundial Data Query e ARIC. Disponível em: http://www.asean.or.jp/en/asean/know/statistics/Latest_Statistics.html,
www.databank.worldbank.org e www.aric.adb.org/indicator
161
A região do Sudeste Asiático sempre foi uma das mais importantes rotas
naturais para o comércio mundial devido a sua posição geográfica estratégica, o que
faz com que os países da região se aproveitem desta localização privilegiada.
Apesar da proximidade dos países, parecia difícil imaginar uma associação regional
que reunisse países tão diferentes quanto os que fazem parte da ASEAN.
(JOVANOVIC, 2006). E foi igualmente difícil imaginar um esquema de integração
que envolvesse além dos diferentes países que formam o Leste Asiático, aqueles
que se encontram no Nordeste Asiático e que tem um passado histórico de
inimizade não só durante a Guerra Fria ou Segunda Guerra, mas bem antes disso.
Ainda assim, ASEAN e ASEAN+3 figuram entre os principais grupos regionais da
Ásia e se encontram no centro de outras organizações regionais existentes como o
ARF e outras que já são comentadas e estudadas e que podem em alguns anos
tornarem-se de fato concretas como o EAS, que apesar de já existir não tem um
escopo definido, e a Comunidade do Leste Asiático.
Frente ao cenário do Leste Asiático, onde países antes inimigos hoje mantêm,
senão amizade, respeito mútuo (apesar de preservarem também desconfiança entre
si) é papel da ASEAN trazer a cooperação e coordenação de políticas – mesmo que
a um nível limitado – entre esses Estados dentro da ASEAN+3, unificando e
fortalecendo o Leste Asiático, agindo como um mediador, uma vez que nem sempre
se verifica na região um “Concerto de Poderes” entre os atores mais relevantes, que
ainda disputam influência. O grande trunfo da ASEAN no Leste Asiático como um
todo é ser uma instituição pensada, erguida e mantida por países pequenos, de
pouca relevância internacional se comparados aos países do Nordeste Asiático. As
inimizades históricas impediriam que Japão, China e Coréia do Sul se reunissem
dentro de um escopo regional criado por qualquer um deles. O fato de reunirem-se
sob prisma da ASEAN na configuração da ASEAN+3, mesmo que as relações
comerciais entre eles não se deem dentro da associação, ou que ainda não exista
formalmente uma Área de Livre Comércio da ASEAN+3, dá a ASEAN um papel
central na região, e um grande peso e importância a associação. (NARINE, 2009).
Terada (2003) mostra que com menor pressão norte-americana para com o
estabelecimento da ASEAN+3 que para a criação da EAEC, o Japão sentiu-se mais
livre para participar ativamente deste desdobramento estrutural da ASEAN,
162
principalmente porque entendia que era possível que os EUA mantivessem relações
próximas com a região através da APEC nas áreas comercial e de investimentos, e
do ARF no campo de segurança. Desta forma, motivado pelo interesse político na
associação onde poderia desenvolver uma política de diálogos com os outros dois
países do Nordeste Asiático que, apesar de próximos geograficamente, estavam
distantes devido ao passado histórico que dividiam, o Japão engajou-se no
estabelecimento de encontros dentro da ASEAN+3: um deles seria um encontro de
diálogos entre os líderes de China, Coréia do Sul e do próprio Japão, e o outro, um
encontro de Ministros das Relações Exteriores da ASEAN+3. Ambas as propostas
iniciadas pelo Japão obtiveram frutos: o encontro de líderes do Nordeste Asiático
tornou-se um encontro trilateral anual e formal, que apesar de ter cessado no ano de
2005 durante o governo Koizumi no Japão (ARRIGHI, 2007), foi retomado no ano
seguinte e segue com encontros periódicos, inclusive entre seus Ministros de
Relações Exteriores, declarações de cooperação em diversas áreas como
segurança nuclear, gerenciamento de desastres naturais, promoção de energia
limpa e sustentável, bem como a escolha de uma sede para o grupo – na Coréia do
Sul com a eleição de secretários-gerais rotativos a cada ano de cada um dos três
países – além da perspectiva de um plano de livre-comércio a ser apresentando no
ano de 2012194; e o encontro de Ministros das Relações Exteriores da ASEAN+3 deu
início ao formal Encontro anual dos Ministros das Relações Exteriores em 2000. Tais
iniciativas demonstravam o pioneirismo japonês além de seu interesse político e
econômico por uma aproximação regional cada vez maior, e uma identidade do
Leste Asiático.
Por outro lado, Narine (2009) enxerga a China como uma das principais
fomentadoras da ideia da ASEAN+3, não só por seu papel durante a crise, que
194
Disponível em: http://www.mofa.go.jp/region/asia-paci/jck/summit.html; http://www.mofa.go.jp/region/asia-
paci/jck/summit1105/declaration.html; http://www.mofa.go.jp/region/asia-paci/jck/fm.html
195
O texto em língua estrangeira é: Japan’s growing support for the ASEAN+3 meetings has been paralleled by
that of China and Korea, and three Northeast Asian countries’ push for the ASEAN+3 meetings has become
6another major factor behind the development of this regional institution, consolidating an East Asian identity.
163
196
Disponível em: http://online.wsj.com/article/SB10001424052970204909104577235261220455488.html
165
197
O texto em língua estrangeira é: When membership of a regional framework is determined, who is likely to
hold the leading position in it becomes clearer. What is important is the leading position, not the leading behavior.
166
198
O termo refere-se a política ou a diplomacia baseada principalmente no poder e em fatores práticos e
materiais no lugar de noções ideológicas ou moralistas ou premissas éticas. A este respeito, a realpolitik
compartilha aspectos de sua abordagem filosófica com os de realismo e o pragmatismo.
168
199
Doutrina inaugurada pelo Primeiro-Ministro japonês Yoshida Shigeru que colocava como prioridade o
desenvolvimento econômico do país como uma forma de recuperá-lo dos estragos da Segunda Guerra Mundial e
para tal deixava os aspectos militares e de defesa do país a cargo dos EUA. Foi também durante o governo
Yoshida e dentro de sua doutrina que o país lançou sua constituição pacífica, com artigo 9 proibindo o país de
manter forças armadas como um Estado normal.
200
Exemplos de alianças bilaterais com a potência hegemônica em vigor são :Grã Bretanha entre 1902 e 1922;
Alemanha e Itália no período da Segunda Guerra Mundial, e os EUA desde 1952 até os dias atuais.
169
os EUA, mas também às outras que, apesar de menores também são importantes. A
partir do início da década de 1990, o país começou a voltar seus interesses para a
cooperação regional, principalmente depois da Guerra do Golfo (1990/91) que
impactou diretamente no pensamento japonês e fez com que o país passasse a
enviar suas forças de auto-defesa para operações internacionais de manutenção de
paz, e da campanha para tornar-se membro permanente do Conselho de Segurança
das Nações Unidas no ano de 1994. Desencorajado a conseguir se estabelecer
como membro permanente devido as reformas limitadas da ONU, o país passou a
se focar inicialmente no regionalismo da Ásia-Pacífico, e mais tarde, quase no final
da década de 1990, passou a mirar o Leste Asiático. (FUKUSHIMA, 2009).
A posição japonesa em relação ao regionalismo no Leste Asiático sempre foi
caracterizada pela oscilação entre maior e menor importância dada à região e aos
mecanismos de acordos multilaterais. Em alguns momentos, o Estado japonês dava
ênfase á uma política externa independente e enxergava o regionalismo do Leste
Asiático como uma forma de diferenciar a Ásia Pacífico (e a atuação norte-
americana na região) bem como os EUA do Leste da Ásia e dos países que
compunham esta região. A reação japonesa no pós-crise asiática de 1997 pode ser
vista como um exemplo deste momento de ênfase dada a região e a seus
mecanismos multilaterais: quando comparada a do Fundo Monetário Internacional, e
até mesmo a das demais potências ocidentais. O Japão atuou de maneira muito
mais incisiva e garantiu ajuda efetiva para a região como um todo através do suporte
financeiro e diplomático às iniciativas regionais. Contudo, apesar de demonstrar
apoio e interesse na região através de uma política externa que pode ser enxergada
como independente, o Japão ainda se utiliza do bilateralismo, principalmente com os
EUA, como sua principal configuração de política externa. (IBID.)
Segundo Fukushima (2009), a dualidade da política externa japonesa, que
varia entre independente voltada para o Leste Asiático e bilateral presa
principalmente aos EUA, traz ao país dois desafios principais: conciliar ambos já que
o regionalismo do Leste Asiático não inclui os EUA; e descobrir se é possível e de
que forma o país pode liderar e/ou buscar a liderança no Leste Asiático tendo em
vista o passado imperialista que submeteu a região à miséria e ao sofrimento no
passado201. Desta forma, o papel que o Japão terá no regionalismo do Leste Asiático
201
Após do fim do isolamento japonês imposto pela chegada do Comodoro Matthew Perry da Marinha dos EUA
no ano de 1953 que pôs fim ao sistema do shogunato, o Japão começou a se estabelecer como uma potência
170
significante do Nordeste Asiático com pretensões expansionistas. Em 1894-95 o país vencera a China na Guerra
Sino-Japonesa que tornou Taiwan colônia japonesa. Nos anos de 1904-1905 o país vencera a Rússia na Guerra
Russo-Japonesa quando a Coréia se tornou protetorado japonês e em 1910 tornou-se colônia japonesa e
quando a influência japonesa se expandiu fortemente na Manchúria. No ano de 1902 o país aliou-se a Grã
Bretanha e mais tarde entrava na Primeira Guerra Mundial como seu aliado. Na década de 1930, quando a
influência militar no país assumiu novas dimensões, o país adquiriu a Manchúria em 1931 e voltou-se novamente
para iniciar uma guerra contra a China em 1937. O Japão lançou na década de 1940 uma guerra preventiva
contra os EUA para diferenciar seu posicionamento e o norte-americano no Leste da Ásia: enquanto lançava a
Esfera de Co-Prosperidade da Grande Ásia Oriental, os EUA lançavam sua política de portas abertas. No final do
ano de 1941 o Japão bombardeou Pearl Harbor e neste momento o país controlava o Sudeste Asiático, o leste
da China, e grande parte do Pacífico Ocidental. Alguns anos depois, no final da Segunda Guerra Mundial, os
EUA bombardearam duas cidades japonesas com tecnologia nuclear, o que dava fim ao expansionismo japonês
e dava lugar a ocupação de seu território pelo General MacArthur de 1945 a 1951, ano em que o Japão tornou-
se essencialmente um ‘aliado júnior’ dos EUA,quando começou a prover bases para instalações militares dos
EUA mesmo ano em que pôde começar a criar sua Força de Auto-Defesa sob o artigo 9 da Constituição
japonesa estabelecido em 1947 que impedia o país de possuir forças militares. Já na década de 1960, os bases
japonesas serviram de apoio para os EUA na Guerra do Vietnã. O apoio mesmo que passivo do Japão aos EUA
na guerra gera até hoje críticas internacionais contra o país. (McDOUGALL, 2007)
202
O texto em língua estrangeira é: Although there can be differences of emphasis, in most cases the objectives
Japan has in Asia Pacific complement those of the United States. Where a military component is required in the
pursuit of objectives shared by the two countries, it is the military forces of the United States that will be the most
relevant, with Japan playing a supporting diplomatic role.
171
203
A Doutrina Fukuda é o nome dado aos três objetivos que guiariam a política diplomática japonesa a partir de
1977 e que surgiram a partir de um pronunciamento feito pelo então Primeiro Ministro japonês Takeo Fukuda
durante uma visita realizada aos países do Sudeste Asiático. Os três princípios que são seguidos até hoje são:
"O Japão está comprometido com a paz, e rejeita o papel de um poder militar;o Japão fará o seu melhor para
consolidar a relação de confiança mútua com base em entendimento mútuo com as nações do Sudeste
Asiático;o Japão vai cooperar positivamente com a ASEAN, enquanto visa promover uma relação baseada na
compreensão mútua com os países da Indochina e, assim, contribuir para a construção da paz e da
prosperidade em todo o Sudeste Asiático."(Disponível em: http://old.asean.or.jp/eng/asean40/fukuda.html,
tradução nossa). O texto em língua estrangeira é: "Japan is committed to peace, and rejects the role of a military
power; Japan will do its best to consolidate the relationship of mutual confidence and trust based on "heart-to-
heart" understanding with the nations of Southeast Asia; Japan will cooperate positively with ASEAN while aiming
at fostering a relationship based on mutual understanding with the countries of Indochina and will thus contribute
to the building of peace and prosperity throughout Southeast Asia."
173
204
O texto original do 9º Artigo da Constituição japonesa é o seguinte: “Sinceramente aspirantes a uma paz
internacional baseada na justiça e na ordem, o povo do Japão renuncia para sempre a guerra como um direito
soberano da Nação e a ameaça ou uso da força como meio de resolução dos litígios internacionais. 2) A fim de
concretizar o objetivo do parágrafo precedente, as forças terrestres,marítimas e aéreas, bem como qualquer
outro potencial de guerra,nunca serão mantidos. O direito de beligerância do Estado não será reconhecido”.
Disponível em: http://pt.scribd.com/doc/5523356/A-Constituicao-do-Japao. A Constituição foi aprovada em 1946.
No entanto, a ascensão do PCC na China obrigou uma “reinterpretação” por parte dos EUA, reforçando a ideia
de que o que se renunciava era o uso das forças armadas “ofensivamente”, daí o título de Forças de
Autodefesa.”
177
viam com bons olhos o movimento japonês pela liderança, e a China de forma mais
particular temia uma possível convergência de moedas. Apesar de não conseguir
seguir com o plano de criar o Fundo Monetário Asiático, o Japão lançou um
esquema chamado “Nova Iniciativa Miyazawa”, que emprestou cerca de US$ 30
bilhões para as emergências financeiras da crise, foi entendida como um
complemento ao FMI e por isso fora bem vista nos EUA, e se caracterizou mais uma
vez como uma tentativa japonesa de equilibrar boas relações bilaterais com os EUA
e aprofundamento da liderança e do multilateralismo no Leste
Asiático.(FUKUSHIMA, 2009).
As reuniões entre Japão, China, Coréia do Sul e os países da ASEAN que
surgiram no momento da crise de 1997, inicialmente seria uma reunião apenas entre
Japão e os países da ASEAN incentivada pelo então Primeiro-Ministro japonês, mas
pela intervenção de Mahathir, Primeiro Ministro malaio, prevendo problemas futuros
principalmente com a China, se tornou um fórum mais inclusivo. Com a resposta
positiva dos três países do Nordeste Asiático que faziam parte do fórum, que mais
tarde se denominaria ASEAN+3, à crise financeira de 1997 através da Iniciativa
Chiang Mai lançada no início dos anos 2000, o Japão mostrou-se mais uma vez
elemento importante dentro da atmosfera do Leste Asiático. (FUKUSHIMA, 2009).
Sob o esquema da Iniciativa Chiang Mai, o Japão enviou ajudas financeiras,
prometeu investimentos e estabeleceu acordos de swap cambial com cinco países
(Coréia do Sul, Malásia, Tailândia, Filipinas e China) enquanto a China estabeleceu
tais acordos apenas com Tailândia e Japão, o que deu uma vantagem ao Japão
dentro do Encontro de Ministros das Finanças da ASEAN+3, inicialmente proposto
pela China (HAMANAKA, 2008).
Incentivado por uma busca de aprofundamento cada vez maior na região do
Leste Asiático, o governo japonês lançou na época três artigos de opinião voltados
para questões discutidas dentro dos encontros da ASEAN+3 e que podiam ser
melhores e mais debatidas, principalmente no que se relacionava à criação de uma
comunidade do Leste Asiático. Estes artigos que expressavam diretamente a opinião
japonesa em relação ao regionalismo do qual fazia parte, traduziam também o que o
país aguardava e desejava deste tipo de mecanismo de integração.
178
205
Em relação a criação de uma Comunidade do Leste Asiático, o Estado chinês se colocava contrário ao
estabelecimento do EAS, uma vez que abria espaço para outros países que não eram considerados pela China
como pertencentes do Leste Asiático, incluindo os EUA. Para o país, o melhor caminho era o fortalecimento da
ASEAN+3, com quem se envolveu com maior força a partir da década de 1990, quando ainda era relutante
quanto a sua participação no regionalismo. Uma das características que mais chamou a atenção do país para o
grupo era a ausência dos EUA, mas por outro lado dentro do processo da ASEAN+3, a ASEAN possui a
prerrogativa de ‘posse’ enquanto os países do Nordeste Asiático são tratados como ‘convidados’. Por esta razão
a China era a favor de transformar os summits da ASEAN+3 em summits do Leste Asiático, o que daria aos
países do Sudeste e do Nordeste Asiático, o mesmo status. (HAMANAKA, 2008).
179
explicar sua política regional com a ASEAN para o início do século XXI, a China
propôs um FTA com a ASEAN para entrar em vigor em 2010. Foi neste momento,
durante a sua viagem que Koizumi, em um discurso em Cingapura, propôs a criação
de uma Comunidade do Leste Asiático. Mais tarde o país pediu apoio da ASEAN
nesta empreitada e durante o Summit anual entre Japão e ASEAN, a associação
confirmou que iria cooperar com o Japão no estabelecimento da Comunidade. E,
apesar de apoiar um diálogo regional relativo às questões financeiras, sugerindo
inclusive o Encontro dos Ministros das Finanças da ASEAN, a China não apoiou a
iniciativa de arranjos financeiros independentes do Leste Asiático, opinião que
refletia para Japão e Coréia do Sul a preferência da China pela manutenção de um
link direto entre a Iniciativa Chiang Mai e o FMI. A perspectiva chinesa enxergava
um arranjo financeiro sem a participação dos EUA dominado pelo Japão. De certa
forma a inclusão dos EUA como membro observador e depois como membro pleno
do EAS foi melhor para a China, que pode prevenir arranjos dominados tanto por
Japão quanto por EUA, (HAMANAKA, 2008) mas também significa uma certa
derrota para a China, que nos debates para o EAS sempre lutou pela ausência de
países extra-continentais.
parceiros japoneses, um dos últimos países de grande porte a assinar FTAs, nesta
empreitada foram Cingapura, Coréia do Sul, Chile e México já no final da década de
1990. (HAMANAKA, 2008).
Enquanto isso, a China buscava ativamente uma política com ênfase nos
FTAs, principalmente depois que foi aceita como membro da OMC no final de 2001.
Em 2000 o país e a ASEAN iniciaram um estudo conjunto para o estabelecimento de
uma possível FTA entre eles. Mas, considerando permanecer em balancing com
Japão e China, a associação também afirmou publicamente a possibilidade de
estabelecer o mesmo tipo de grupos de estudo conjuntos com Japão e Coréia do Sul
para tentar criar acordos como estudava estabelecer com a China. Ao perceber que
o Estado chinês estava a um passo a frente com uma política de comércio regional
bastante proativa, o Japão, sentindo-se excluído, lançou a Parceria Econômica
Abrangente entre Japão e ASEAN (ou Japan-ASEAN Comprehensive Economic
Partnership - JACEP) para contrabalançar a nascente FTA China-ASEAN, iniciando
também negociações bilaterais de FTAs com a Tailândia, as Filipinas e a Malásia no
início da década de 2000. (HAMANAKA, 2008).
Como parte da estratégia de tornar o ambiente regional mais favorável ao
Japão que a China, o país estabeleceu o que ficou conhecido como “multilateralismo
de princípios” diretamente ligado aos valores universais, democracia, governança e
o estado de direito. Tais princípios diretamente ligados a aliança entre Japão e EUA,
traziam maior dificuldade a China, que tinha preferências em uma estrutura regional
neutra de valores, o que possibilitaria a manutenção de seus próprios sem
necessidade de adaptação ou intervenções em assuntos internos.(GREEN, 2008).
Contudo, vale lembrar que, apesar do multilateralismo de princípios estabelecido
pelo Japão, as preferências neutras de valores da China se aproximam muito mais
do chamado ASEAN-Way que guia a ASEAN e o Sudeste Asiático que os valores
universais japoneses que prezam inclusive a intervenção em assuntos internos em
prol destes valores, ao contrário do que dita o ASEAN-Way.
Mais recentemente o Japão apresentou outro plano para tentar responder de
maneira efetiva as duas questões que para Fukushima (2009) definem sua atuação
no regionalismo do Leste Asiático. Uma delas foi a tentativa bem sucedida, e com
apoio japonês, de inserir os EUA no regionalismo do Leste Asiático através do EAS
que por estar cada vez mais inclusivo, com a participação de Índia, Austrália, Nova
Zelândia e agora Rússia e EUA além dos países da ASEAN+3, pode acabar se
181
tornando um ‘tiro pela culatra’ por não mais representar o Leste Asiático, e desta
forma não inserir os EUA na região como o Japão parece procurar fazer. Além disso,
o extenso histórico de ajuda, IED, e comércio com a região demonstram a vontade
do Japão de participar como ator relevante para o regionalismo do Leste Asiático, a
busca pela cooperação funcional, e o estabelecimento do EAS.
Além dos acordos de livre comércio e de parcerias econômicas negociados a
princípio bilateralmente no início e em meados da década de 2000 – cujas bases
transpareciam as visões japonesas descritas nos relatórios de anos anteriores – foi
anunciado em 2006 um plano apoiado pelo Ministério de Economia Comércio e
Indústria do Japão denominado Iniciativa Nikai formada pela Parceira Econômica
Abrangente no Leste Asiático (ou Comprehensive Economic Partnership in East Asia
– CEPEA) pelo Instituto de Pesquisa Econômica para a ASEAN e o Leste Asiático
(ou Economic Research Institute for ASEAN and East Asia – ERIA) esta última que
deveria ser entendida como uma versão da região para a Organização para a
Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).
A CEPEA, desde sua criação, tem como objetivo formar um acordo de
parceria econômica dentro do âmbito do EAS, envolvendo comércio de bens e
serviços, propriedade intelectual, investimentos e outros. A CEPEA apesar de ter
agradado a ASEAN, desagradou China e Coréia do Sul que buscavam inicialmente
desenvolver a ASEAN+3 antes do EAS. Por sua vez, o ERIA, um mecanismo de
think thank responsável por providenciar coordenação em diversas áreas na região
do Leste Asiático, procura funcionar como um complemento do Secretariado da
ASEAN e agir no campo da pesquisa voltado principalmente para a questão da
cooperação regional, da correção da desigualdade, de energia e meio ambiente
apresentando seus resultados não só para a ASEAN, mas para a ASEAN+3, para os
ASEAN+1 e para o EAS. (FUKUSHIMA, 2009).
Não só a CEPEA, mas também o ERIA são mecanismos cuja finalidade
principal é dar apoio a liberalização e a cooperação no Leste Asiático dentro da
ASEAN+3, mas também dentro do EAS antes mais restrito e hoje, mais abrangente.
O entusiasmo e a ênfase dada pelo Japão aos dois mecanismos por ele sugeridos
durante o segundo Summit do EAS pode ser explicado pela tentativa do país em
assegurar uma prosperidade proveniente da integração econômica da região, e mais
ainda, que esta prosperidade esteja necessariamente conectada a economia
japonesa, que sairia de um momento de estagnação com o crescimento da Ásia
182
207
Disponível em: http://www.ipcs.org/article_details.php?articleNo=2702
208
O texto em língua estrangeira é: an exclusive purpose of facilitating trade liberalization and economic
cooperation. Disponível em: http://www.ipcs.org/article_details.php?articleNo=2702
209
O texto em língua estrangeira é: To facilitate ASEAN Economic Community building and support ASEAN’s role
as the driver of the wider economic integration and sustainable growth in the region; To contribute to narrowing of
the development gaps and fostering research capabilities which can value-add to public policy-making; To nurture
a greater sense of community in East Asia. Disponível em: http://www.eria.org/history/index.html
183
O processo do Six Party Talks foi recebido com entusiasmo pelo Estado
japonês por estar instituindo poder diplomático ao país na região,voltado para a
península coreana, no movimento talvez mais importante neste âmbito desde a
Segunda Guerra Mundial. O Japão, além de atuar ativamente dentro do mecanismo
de conversações entre partes, também prometeu normalizar suas relações com a
Coréia do Norte, como havia feito com a Coréia do Sul em 1965, além de enviar
ajuda econômica desde que o país colocasse fim ao seu aparato nuclear e
resolvesse uma antiga questão de sequestros de japoneses pelos norte-coreanos no
final da década de 1970 e início da década de 1980, que até hoje mobiliza a
população japonesa. (FUKUSHIMA, 2009).
Porém, o Six Party Talks foi descontinuado no ano de 2009 depois de um
incidente com mísseis norte-coreanos que levaram os EUA e o Conselho de
Segurança da ONU a condenar as atitudes do Estado da Coréia do Norte e prometer
sanções ao país, o que desagradou seu governo que em declarações oficiais
abandonou o esquema de conversações em prol do desmantelamento de suas
instalações e programa nucleares. Entretanto, vale ressaltar que por quase toda a
década de 2000, o Six Party Talks permitiu que o Japão influenciasse de certa forma
através de diplomacia, as conversações de segurança regional do Leste Asiático,
mostrando-se relevante para o esquema de integração e capaz o suficiente para
estabelecer uma liderança na região.
Além da participação ativa no âmbito de segurança multilateral,
principalmente no Nordeste Asiático, com o ARF e o Six Party Talks, o Japão
também vem demonstrando estar cada vez mais ativo em exercícios multilaterais de
construção de confiança como com a participação na Conferência para Segurança e
Cooperação na Ásia Pacífico (ou Conference for Security and Cooperations in the
Asia Pacific) e em diversas outras organizações e fóruns como os fóruns trilaterais
entre o país, os EUA e a China realizados pela Asia Foundation, o Centro de
Estratégia e Estudos Internacionais(ou Center for Strategic and International
Studies) com think thanks chineses, além do Instituto para Negócios Internacionais
(ou Institute for International Affairs) no Japão. O país também procura ser mais ativo
também na Rede de Think Thanks do Leste Asiático (ou Network of East Asian
Think Thanks), formada em 2003 para debater os conceitos e as possibilidades de
uma comunidade do Leste da Ásia, bem como no Conselho para a Comunidade do
Leste Asiático (ou Council on East Asian Community) criado em 2004. (IBID)
184
210
Como ator econômico de destaque, o Japão também está presente em diversas instituições econômicas
internacionais como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional desde 1952, no Acordo Geral de Tarifas
e Comércio (GATT) desde 1955, e na Organização Mundial do Comércio (OMC) a partir de 1995. Em 1964 o
país se juntou a OCDE, foi membro fundados do G7 em 1975 e, apesar de ter menor relevância na maioria
destas instituições, basicamente por não ser membro fundador da maioria delas, procura agir com certa
liderança econômica em questões relacionadas a região da Ásia, inclusive dentro do Banco de Desenvolvimento
Asiático (ou Asian Development Bank - ADB) que embora seja uma iniciativa norte-americana sempre possuiu
um presidente japonês e permite que o país exerça um papel de liderança desde que o ADB foi criado.
185
outras esferas, o que aumenta ainda mais o poder de barganha do Japão sobre o
país em questão. A mesma situação pode ser vista quanto relacionada ao papel
japonês como investidor externo, mesmo que nem sempre o Estado japonês utilize
seus investimentos feitos em outros países como ferramenta de barganha. Ainda
assim, não é difícil que a relação e a interação entre o país destino dos
investimentos e o Japão sejam afetadas. Em relação à ajuda externa há um
entendimento que ela pode gerar desenvolvimento econômico e com isso trazer a
estabilidade política, algo que faz parte dos interesses políticos e econômicos do
Japão e também dos países que recebem auxílio japonês.
Ainda sobre a capacidade japonesa de influenciar principalmente os Estados
da região do Sudeste Asiático vale ressaltar que o país lançou um modelo a ser
seguido por seus vizinhos quando vivenciou o seu milagre econômico, onde o
Estado estava intimamente ligado a indústria. Apesar dos recentes problemas
econômicos japoneses como a estagnação de sua economia e o primeiro déficit
comercial em anos, o modelo econômico que levou o Estado a segunda colocação
mundial quando comparados diretamente os PIBs internacionais, foi aplicado em
diversos países e levou alguns deles também a rápido crescimento econômico,
como no caso dos Tigres Asiáticos, e chegou até a influenciar vizinhos maiores
como a China pós-Maoista. Estas intervenções econômicas, comerciais, financeiras
e até mesmo referentes ao modelo econômico compartilhado por vizinhos
demonstram a profundidade da influência japonesa na região do Leste da Ásia,
mesmo que o país venha perdendo espaço para uma China cada vez mais
competitiva e forte econômica e militarmente. (IBID).
211
O texto em língua estrangeira é: While Japan failed attempt to establish a Greater East Asia Co-Prosperity
Sphere in the early 1940s, it clearly occupies a leading role in Asia Pacific economic affairs today. The United
States is also important as an economic power in the region, and China is an emerging economic power. [...] As
compared with security issues, Japan is much more prepared to act independently of the United States in the
economic realm. Because of its economic strength Japan has considerable bargaining power with the United
States; at the same time the United States is even stronger economically and can sometimes compel Japan to
modify its policies.
186
regional que anteriormente era restrito para países do Leste Asiático que tinham o
intuito de construir uma comunidade do Leste Asiático. Contudo, apesar de
demonstrar um interesse mais específico pelo EAS, a ASEAN+3 não foi colocada de
lado pelo Japão, justamente por perceber que o EAS pode ser esvaziado devido ao
seu aumento horizontal, ou seja, crescimento do número de membros que não são
necessariamente daquela região, o que pode impossibilitar a criação da comunidade
exclusiva de países do Leste Asiático, tão debatida entre os países da região.
212
O texto em língua estrangeira é: For japanese policy, the EAS and APT will likely continue to coexist in a sort
of tug-of-war relationship. These two frameworks coexist because countries have different views on how large the
footprint of Asian community building should be. Until this question of the community's scope s resolved, the EAS
and APT will have to coexist - and Tokyo will need to work to balance the benefits and drawbacks of both.
188
O quarto princípio indica que a futura estrutura regional deve ser construída
nas bases do respeito e da realização da democracia, dos direitos humanos e dos
valores universais – o que certamente desagrada a China, que acredita ter outros
valores quanto a questão dos direitos humanos, enxerga a democracia de uma
forma diversa e é a favor da neutralidade – e diversidade – de valores e não de
valores universais. O Japão vem sendo bastante ativo em promover tais valores e
não é o único a fazê-lo no Leste Asiático, a pesar de haver pensamentos contrários
ao movimento japonês inclusive quando se trata da questão dos valores universais,
já que estes estão intimamente ligados aos valores disseminados pelos EUA.
Apesar do objetivo japonês de promover os valores universais seja de diminuir as
diferenças normativas entre os membros dos mecanismos regionais e de uma futura
comunidade regional com o intuito de estabilizar a região para comércio e
investimentos, mesmo os países que compartilham da visão japonesa concordam
em afirmar que não desejam os EUA como baluarte destes valores, o que lhe daria
precedentes para intervir na região através de opiniões e sugestões.
Por fim, o quinto e último princípio básico para a estrutura regional que pode
vir a ser construída pelo Japão para buscar a liderança regional entende que a
estrutura deve ser guiada por uma abordagem de cooperação funcional, que ajuda a
colocar em ordem os desafios políticos, econômicos e de segurança que a região
pode vir a enfrentar. Contudo é necessário que esta abordagem vá além das
conferências e sejam efetivas em todos os âmbitos, do econômico ao de segurança
não tradicional (terrorismo, tráfico de drogas, pirataria, tráfico humano e outros).
Uma das principais razões que faz com que o Japão acredite que uma estrutura
regional funcional seja necessária para elevar o nível da integração e de seu papel
como ator de destaque na região reside no fato de que um ambiente regional
funcional ajudaria o país a lidar com o nacionalismo e os sentimentos anti-japoneses
na região derivados de incidentes históricos, o que poderia tornar mais palpável uma
liderança japonesa reconhecida principalmente pelo Sudeste Asiático.
Contudo, apesar de em alguns momentos conseguir equilibrar o
multilateralismo regional e o bilateralismo com os EUA, e de ficar claro que uma
estrutura regional que promoveria a liderança japonesa na região ter que
necessariamente aceitar o multilateralismo e o bilateralismo que seriam
complementares, algumas inconsistências marcam a relação a relação entre Japão,
EUA e o regionalismo do Leste Asiático. Ao passo que o Japão tentou expressar sua
190
identidade asiática e destacou seu desejo por fóruns unicamente formados por
países do Leste Asiático – apesar de bem sempre se enxergar como asiáticos
(McDOUGALL, 2007) – buscou também reforçar e difundir normas e valores globais
que compartilha com os EUA além de procurar manter o conceito de regionalismo
aberto no Leste da Ásia, uma cultura bastante característica da APEC, comandada
pelos EUA. (WAN, 2008). Não só os valores e normas universais mas também o
conceito de regionalismo aberto mantém a região diretamente acessível aos EUA
que se beneficiam do crescimento econômico estável da região através da APEC e
de outros acordos com o Japão, Coréia do Sul e outros aliados. (FUKUSHIMA,
2009).
Este movimento por parte do Japão que possibilita a presença norte-
americana no Leste Asiático pode vir a prejudicar a região, que diferente dos demais
mecanismos de integração ao redor do mundo pode continuar sem ter sua própria
comunidade econômica, além de colocar em cheque sua posição em prol de
instituições puramente regionais (sem incluir países de fora do Leste Asiático) pelas
quais parece lutar quando reunido em summits ou conselhos de processos
exclusivamente regionais como a ASEAN e a ASEAN+3. Desta forma não é difícil
pensar que o Japão representa um papel duplo no Leste Asiático onde parece
querer apoiar as ações que colocam a região como auto-suficiente para tratar de
suas próprias questões, mas ao mesmo tempo continua agindo como o posto mais
avançado dos EUA à Leste podendo inserir sempre que possível os interesses e
desejos do maior parceiro ocidental japonês. Apesar de a Ásia se caracterizar como
uma região importante, onde o Japão pode exercer sua influência, e com quem tem
importantes laços econômicos, esta influência pode acabar sendo utilizada
basicamente para fortalecer seu relacionamento com os EUA, servindo como uma
ponte que liga os EUA à Ásia. (McDOUGALL, 2007).
Esta postura ambígua do país, juntamente com a diminuição de sua
importância econômica em comparação direta com a China principalmente na visão
dos países que formam a ASEAN, pode diminuir as possibilidades e os meios de
estabelecer uma liderança japonesa regional mesmo que em aspectos específicos.
Entretanto, é fato afirmar que apesar de manter relações próximas e por diversas
vezes atuar como ponte e intermediador da presença norte-americana no Leste da
Ásia, o Japão possui iniciativas e políticas na região que não dependem da presença
americana e não apresentam interferência direta deste país, que apesar de não
191
atuar diretamente sobre a política externa japonesa, é quem garante sua segurança
militar, uma vez que o país ainda não pode ser considerado um Estado normal, ou
seja, não possui um exército, apenas uma Força de Auto-Defesa usada para fins
pacíficos e para a proteção japonesa que conta investimentos de apenas 1% de seu
PIB..213
213
Não há uma unanimidade no Japão quanto a condição do país em não possuir um exército de fato. Alguns
grupos políticos acreditam que é necessário eliminar o artigo 9 da constituição japonesa que impede o país de
possuir exércitos, para poder exercer sua soberania também quanto as forças armadas do país para enfim poder
deixar de depender militarmente dos EUA. Por outro lado há aqueles que acreditam que o Japão deve continuar
sendo um Estado pacífico, mantendo artigo que proíbe as forças armadas tal qual concebem os Estados
normais, mas não são a favor da forte relação que o país tem com os EUA. Por fim há grupos que são pró-EUA e
entendem que a relação do país com os norte-americanos e o artigo 9 da constituição devem permanecer da
mesma forma. (McDOUGALL, 2007)
214
O texto em língua estrangeira é: While the relationship with the Unites States remains central to Japanese
policies in the region, Japan also pursues its own policies with the states in the region and has been increasingly
involved in the development of multilateral approaches.
192
Segunda Guerra Mundial dificulta sua total estabilização como liderança regional.
Apesar de mais de uma vez buscar veicular publicamente desculpas oficiais pelos
seus atos passados além de enviar auxílios e fazer investimentos para grande parte
dos países da região figurando como um dos maiores parceiros de investimentos e
remetente de ajuda externa para o Nordeste e o Sudeste Asiático, as memórias e o
revanchismo, mesmo muitas vezes sem razão215, impedem que a relação do Japão
com a região se normalize completamente.
Para Green (2008), as estratégias japonesas de política externa da Era Meiji
descritas no livro de Nakae Chomin em forma de romance podem até hoje ser
enxergadas nas atitudes externas do governo do Japão, mesmo que as ações
propostas pelo personagem que representa as tradições e o lado bélico do país
estejam expressas em menor número. Contudo, o autor afirma que a manutenção
da trajetória do papel japonês na região representado pela paródia de Nakae
Chomin dependerá basicamente de duas variáveis: os EUA e a China.
215
Green (2008) afirma que por diversas vezes a China utiliza a história a seu favor em questões políticas tanto
em relação a China com em relação a Coréia e a Guerra da Coréia. Também o autor afirma que apesar de
criticar o Japão pelo período em que agiu como imperialista, a China faz um discurso hipócrita pois não leva em
consideração as dezenas de mortos na região durante o período do governo de Mao Zedong.
216
O texto em língua estrangeira é: A catastrophic loss of U.S. hegemonic leadership—either through defeat in
war in Asia or retrenchment at home—would inevitably force a reorientation of Japanese security policy in the
region. Whether Japan increased internal and external balancing against China or bandwagoned with Beijing
would depend on the nature and scope of Chinese and U.S. power. A collapse of regional but not global U.S.
dominance would likely push Japan to balance China regionally […]. However, Chinese hegemonic power at a
global level would put Japan in the position of having to consider accommodation with China as both a regional
rival and leader of the international system for the first time in half a millennium. In that admittedly remote
scenario, bandwagoning with China would not be out of the question, though certainly out of character for modern
Japan.
193
se na forma como cada um desses atores conduz as suas políticas. Desta maneira,
continua sendo possível enxergar o equilíbrio da estratégia japonesa quanto a região
baseada no conto dos três bêbados de Nakae Chomin que o escreveu em 1887.
Apesar de não atuar mais como uma potência militar na região, o Japão ainda busca
se expandir como líder no Leste Asiático não mais através de ferramentas bélicas,
mas através da sua inserção na estrutura de integração regional na busca futura de
uma Comunidade, ao menos econômica do Leste Asiático (em noção mais ampla ou
mais restrita). Aliado a isto, o país vem perseguindo o objetivo que o personagem
ocidental representa no conto,o desenvolvimento econômico próprio e da região
unidos de forma interdependente.
217
A noção de Reino do Meio remete a três acepções: meio como “centro” do mundo, em termos de importância,
meio como “passagem pela qual todos os fluxos devem percorrer” e meio como “espaço da ponderação,
serenidade e harmonia, como em “caminho do meio”
194
ficava o centro do reino incluindo o Vale do rio Yangtze, formando uma região que
vivenciou longos períodos de união, apesar de ter sofrido divisões por algumas
vezes em sua história. Mais tarde, durante a dinastia Manchu que se estendeu de
1644 a 1911, o país vivenciou seu maior período expansionista incorporando a
Manchúria, mas também uma vasta área para o oeste. Um sistema de tributos
abrangia alguns países vizinhos com Coréia do Sul e Vietnã, o que influenciou
política e culturalmente aquela área, bem como o Tibet e a região da Ásia Central
que também se encontravam na área de influência chinesa. Apesar de o Japão não
fazer parte do sistema de tributos chinês, sua cultura também deriva, em grande
parte, da China. (McDOUGALL, 2007).
No final do século XIX, o vasto território chinês foi diminuído com a chegada
de países Ocidentais na região. Para a China, os europeus e americanos, com quem
não tinha quase nenhum contato, eram culturas e civilizações inferiores já que eram
muito mais recentes. Contudo, ambas as civilizações possuíam tecnologia mais
poderosa e mais avançada que a China e a partir da chegada da Grã Bretanha, ficou
clara a fraqueza tecnológica chinesa com a derrota na Guerra do Ópio de 1842 e em
outra guerra com a Grã Bretanha de 1856 a 1860. Na segunda metade do século
XIX, a China cedeu alguns portos às potências estrangeiras, como foi o caso de
Hong Kong para a Grã Bretanha. Na mesma época também perdeu grandes faixas
territoriais do norte para a Rússia. Com a Guerra Sino-Japonesa na última década
do século XIX, a China ainda perdeu Taiwan e a influência sobre a Coréia e mais
tarde em meados do século XX, a Manchúria, também para o Japão que na década
de 1940 tonou-se a maior preocupação da política externa chinesa.
Já na década de 1950, o país buscou a nível internacional, agir com
pragmatismo se aliando a Estados com interesses comuns. O país manteve a ideia
do pragmatismo nas décadas posteriores aliada às ideias do nacionalismo e do
comunismo cujo objetivo era devolver a China seu lugar de direito no mundo
buscando aliados que pudessem ajudar o país em termos de comércio, investimento
e acesso a tecnologia como formas de atingir a modernização econômica. Japão,
EUA, alguns outros países ocidentais, mas também Coréia do Sul, Malásia e
Cingapura foram importantes neste momento. (IBID)
O fantástico crescimento da China nos últimos vinte anos faz surgir uma
questão pertinente: qual é o “lugar de direito” do país no mundo e na região do Leste
Asiático de forma mais particular? Quando Chiang Kai-shek liderou o país e o levou
195
218
Esta tipologia de “geração de líderes” foi criada por Deng Xiaoping, que enxergava Mao Zedong como o
primeiro grande líder, ele próprio como o segundo, Jiang Zemin como terceiro e Hu Jintao como o quarto.
196
elogios externos e a percepção por parte dos vizinhos de uma China muito próxima
ao que se entende como uma potência responsável. A resposta positiva à sua
atuação na crise aumentou a postura proativa do país frente a cooperações
econômicas regionais, que culminou na presença chinesa cada vez mais ativa, não
só na ASEAN+3 criada no momento posterior ao ápice da crise, mas também no
mecanismo de FTA China-ASEAN. (XINBO, 2009). A assinatura da FTA China-
ASEAN ajudou a afastar o medo de que o crescimento chinês pudesse custar caro
aos países do Leste Asiático, uma vez que a China se tornaria o destino obvio dos
IEDs e o exportador claro para os mesmos mercados que os países da ASEAN
também exportavam. Apesar de também ter sido vantajoso economicamente falando
para a China, passar a fazer parte da FTA com a ASEAN também serviu para
promover a mensagem de ‘potência pacífica’ que a China queria passar para a
região. (BERSLIN, 2008).
A China está posicionada de forma singular para assumir uma postura pró-
ativa em relação às FTAs, o que inclui a iniciativa China-ASEAN. Primeiro porque a
China ainda tem muito a percorrer no que diz respeito a liberalização do seu
comércio, o que pode significar mais espaço para concessões e grandes
investimentos para parceiros em potencial. Segundo, a China tem um mercado em
expansão. E terceiro, a China é um país que é parte desenvolvido e parte em
desenvolvimento, o que pode se encaixar melhor no perfil da ASEAN ao contrário do
Japão, visto como um país desenvolvido e que prefere manter relações de livre
comércio com outros países que tenham estágios de desenvolvimento parecidos ou
equivalentes ao seu. Contudo, apesar de ter um perfil que pode inicialmente parecer
contrário ao da ASEAN, frente a iniciativa chinesa de iniciar a FTA com a
associação, o Japão começou a estabelecer uma série de acordos de parcerias
econômicas com países da ASEAN em âmbito bilateral (Cingapura, Tailândia,
Malásia Filipinas) e conseguiu estabelecer um acordo de parceria econômica com a
ASEAN em 2007, como uma forma de não ficar defasado em relação a China e a
competição que instaurou na região. (WAN, 2008)
Depois de décadas de influência modesta na Ásia, e também no Leste
Asiático, atualmente a China se mostra um ator regional muito mais importante e
ativo. Depois das reformas econômicas e da maior integração regional e global, o
Estado chinês vivenciou três décadas de rápido crescimento econômico e também
do poder nacional. Entretanto a estratégia de segurança regional aliada à uma série
199
219
São os cinco princípios: cooperação para benefícios mútuos na base da igualdade; respeito mútuo; não
interferência em assuntos internos de outros Estados; e a resolução de conflitos por meio do diálogo.
(SAUNDERS, 2008)
200
China passou a expandir sua política externa e sua diplomacia para seus países
vizinhos, passando de uma estratégia de boa vizinhança, para outra onde se
colocava como vizinho próspero, pacífico e amigável. Esta mudança de abordagem
regional se deu, pela preocupação chinesa com a segurança e a estabilidade em
sua periferia, ou seja, nos países e na região a sua volta. Esta abordagem tornou-se
mais presente visto que o terrorismo, o separatismo e o extremismo rondavam a
região da Ásia Central durante a década de 1990, o que poderia trazer instabilidade
para o Nordeste Asiático, e também porque a China passou a ter consciência de que
os EUA começavam a forçar alianças políticas e de segurança com países próximos
a China durante o mesmo período. (XINBO, 2009).
Como uma forma de dar maior atenção aos seus vizinhos, principalmente da
Ásia Central, mirando a manutenção de sua segurança e da estabilidade da região
ao seu redor por meios pacíficos, o país fundou a Associação para a Cooperação de
Shangai (ou Shangai Cooperation Organization) em meados de 2001, mesmo ano
em que o país fora aceito na OMC, demonstrando mais uma vez a guinada chinesa
a favor do estabelecimento de grupos de cooperação regional como um caminho
aceitável para sua abordagem de política externa. A entrada da China na OMC
trouxe preocupação aos países do Sudeste Asiático de que o país se tornasse um
poderoso rival na captação de IED e na parcela de mercado de exportação. Para
minimizar este sentimento por parte dos países da ASEAN, a China procurou
expandir a cooperação econômica regional para criar uma situação de ganha-ganha,
e continuar sendo enxergada como uma potência regional responsável.
(SAUNDERS, 2008). Este movimento foi o que deu início as ideias do
estabelecimento da FTA China-ASEAN, o que demonstrou a continuidade da
atividade china em favor do regionalismo na Ásia do Leste. (IBID)
A China também passou a se engajar e negociar com os países da ASEAN
de forma multilateral, lançando uma série de summits anuais com a ASEAN,
participando de forma mais ativa no ARF, e assinando uma declaração não-
220
O texto em língua estrangeira é: While the United States remains the largest final export market for East Asian
goods, East Asian economies have also become more dependent on each other for exports and capital
investment. At the same time, the center of gravity in regional trade flows is shifting from Japan to China.
201
contato com os vizinhos ao seu redor. Também não é necessário que haja uma
cooperação regional extremamente institucionalizada para que a China e seus
vizinhos consigam, através do multilateralismo, driblar obstáculos como questões de
segurança não-tradicional. Entendemos que a inserção chinesa na região através do
multilateralismo é indispensável para criar um ambiente mais amigável, seguro e
estável na região. Todavia, pensando a partir do ASEAN-Way é extremamente
importante que os arranjos multilaterais entre China e os países da região continuem
relativamente frouxos e flexíveis para não deixarem de existir e fomentarem ainda
mais o ambiente de integração regional menos rígido, quando comparado a UE, do
Leste Asiático.
O continente Asiático, e mais especificamente, a região do Leste Asiático se
constitui na área mais importante para a China nos âmbitos político, econômico e
militar, uma vez que é receptora de grande parte de sua exportação e dos seus
investimentos além de se constituir em grande fonte de matérias primas,
fornecedora de componentes, tecnologia e mercado para os produtos finais
chineses. Além de investir na região, a China também atraiu muito IED, responsável
por fomentar o aumento das exportações do país, e por levar a China a grande parte
do seu sucesso econômico derivado de operações de companhias multilaterais que
importam componentes da Ásia, montam os produtos utilizando mão de obra
chinesa e exportam o produto final para mercados ao redor do mundo. A maior parte
destas empresas está baseada na Ásia, e o que produzem corresponde a cerca de
60% das exportações chinesas.
A grande região asiática também se torna indispensável para a China em
questões geográficas e estratégicas: o país tornou-se dependente da importação de
petróleo do Oriente Médio; grande parte do tráfico naval chinês passa por águas
Asiáticas; a China faz fronteira com 14 países do Leste Asiático, da Ásia Central e
do Sul da Ásia; o que deve ser levado em consideração na sua estratégia de
segurança. E por fim a Ásia, e mais especificamente o Leste Asiático, é importante
para a China devido ao seu ambiente político que reúne potências como Japão e
Índia e a própria China, além de abrigar também economias avançadas como Coréia
do Sul e Cingapura. Além disso, o Leste Asiático possui cerca de 30% de toda
população mundial e 19% do PIB global. (SAUNDERS, 2008).
203
O apelo de uma política externa nacionalista mais assertiva ganha ainda mais
destaque se ela é vista como capaz de triunfar sobre as ambições regionais dos
EUA e/ou do Japão, que nos leva à importância do balancing e na formação de
222
coalizões na política regional chinesa. (BRESLIN, 2008, p. 134, tradução nossa)
221
O texto em língua estrangeira é: If Asia were able to act collectively , it could rival the geopolitical weight of
North America and Europe”
222
O texto em língua estrangeira é: The appeal of a more assertive nationalist foreign policy gains even greater
resonance if it is seen to trump US and/or Japanese regional ambitions, which brings us to the importance of
balancing and coalition-building in China's regional policy.
204
Outro objetivo chinês é utilizar sua política externa para facilitar o alcance da
estabilidade e do crescimento econômico do país, uma vez que suas alianças
internacionais podem vir a fomentar o processo do crescimento da economia do país
através do comércio e dos investimentos. Estudiosos chineses entendem que é
necessário continuar mantendo o crescimento chinês já que acreditam que, caso o
Estado falhe em conseguir continuar atingindo suas metas econômicas, o sistema
político existente pode começar a se enfraquecer, o que significa que o país
continuará se mantendo estável caso a economia não deixe de crescer.
(McDOUGALL, 2007).
A China possui uma estratégia regional para o Leste Asiático derivado de sua
grande estratégia global, cuja preocupação é manter a estabilidade da região, bem
como a manutenção do poder do Partido Comunista dentro do país, o que significa
que, por anos os líderes chineses buscaram manter a estabilidade internacional para
que este ambiente pudesse dar auxílio a modernização econômica que o país vem
fazendo. Para manter um ambiente estável no Leste Asiático a China vem evitando
conflitos regionais com as EUA que ainda se configuram na maior potência em
atuação na região. Entretanto, algumas elites poderosas dentro do país acreditam
que a presença norte-americana na região tem como objetivo subverter o sistema
político chinês e cercear sua expansão militar e econômica. Contudo, o governo
chinês mantém a postura de construir uma relação positiva com os EUA e com
qualquer grande potência regional, com o intuito de estabelecer uma ordem
multipolar, mas que não constranja o crescimento continuado chinês. (SAUNDERS,
2008).
O engajamento multipolar na região vivenciado pelo Estado chinês que
passou a corresponder como parte de sua política externa, mais ainda para o Leste
Asiático, além da confiança que a China passou a ter neste tipo de mecanismo
possibilitou que o país enxergasse com bons olhos a criação de uma Comunidade
que envolvesse todo Leste Asiático. O estabelecimento de uma comunidade do
Leste Asiático no pensamento chinês, assim como no japonês, é algo que deve ser
feito para o futuro de médio, mas principalmente de longo prazo. O país acredita que
uma comunidade que envolva toda a região deve se constituir como um mecanismo
cooperativo e amplo que evolua gradualmente de processos de cooperação
econômica regional, mais tarde política, em seguida de segurança, depois social e
205
por fim cultural. Uma comunidade ampla do Leste Asiático deve, portanto começar
com uma comunidade econômica, que ainda não se estabeleceu o que significa que
atingir o patamar de uma comunidade regional que seja responsável pela relação
entre todos os seus membros seja em for o âmbito ainda está muito distante.223
Apesar de inicialmente ter acreditado que o EAS poderia se posicionar como
a evolução do Summit da ASEAN+3 onde os treze países do grupo possuiriam a
mesma importância e teriam condições de criar uma comunidade do Leste Asiático
iniciada pela relação mais próxima dos países da ASEAN e os países do Nordeste,
elevando o regionalismo naquela parte da Ásia a um nível superior, a entrada de
países não asiáticos, e o posicionamento da ASEAN novamente como anfitriã e,
portanto, ‘superior’ em comparação com os demais países frustraram as
expectativas chinesas quanto à funcionalidade do EAS para a criação de uma
comunidade verdadeiramente do Leste Asiático. (XINBO, 2009). Desta maneira, o
governo chinês enxergou a entrada de novos membros no EAS através da proposta
feita pelo Japão, como uma forma de diminuir seu poder dentro do grupo e perseguir
a liderança na região. Apesar de se opor a esta posição, a China não pôde se
colocar completa e abertamente contrária à entrada de países como Austrália e
Índia, pelo fato do país buscar estabelecer maior aproximação e amizade com
ambos. (WAN, 2008).
Por estes motivos, o país passou a incentivar o escopo da ASEAN+3, mais
restritivo, como o mais propício para servir de base para a criação de uma
comunidade do Leste da Ásia. Após a decepção com o EAS, a China passou a ter
vários motivos para enxergar que uma possível evolução da ASEAN+3 seria mais
benéfica para a construção de uma comunidade do Leste Asiático nos moldes que
enxergava como corretos. Antes de mais nada, a ASEAN+3 provê uma estrutura
importante para incentivar e promover a cooperação econômica regional em níveis
múltiplos onde os treze países que fazem parte do grupo podem conjuntamente
planejar e promover a cooperação econômica e a integração regional; também o
desdobramento estrutural da ASEAN permite que os três países do Nordeste
223
Dentro e fora da China existem grupos que acreditam no futuro desta comunidade, e outros que não
entendem ser possível estabelecê-la de fato. Os otimistas enxergam que a crescente interdependência entre os
países do Leste Asiático cria também um aumento de normas comuns e de um senso de partilha do de um futuro
comum. Já os pessimistas veem o fato da abertura do mecanismo do EAS, que era para ser a base para a
comunidade exclusiva do Leste Asiático, com a entrada de países de fora da região pode complicar a evolução
do processo, e até mesmo congelá-lo. (XINBO, 2009).
206
Gráfico 17: Distribuição total do gasto militar mundial no ano de 2010, tradução nossa. Disponível em: SIPRI
Military Database 2011, http://milexdata.sipri.org e http://www.globalissues.org/article/75/world-military-
spending#WorldMilitarySpending
224
A reforma do PLA é feita com base em três pilares: “(1) desenvolvimento, aquisição e desdobramento de
novos sistemas de armas e capacidades; (2) reformas institucionais e sistêmicas para melhorar o
profissionalismo e a qualidade dod militares chineses, e (3) desenvolvimento de novas doutrinas de combate
para empregar esses novos recursos.” (FINKELSTEN, 2007 apud SAUNDERS, 2008). O texto em língua
estrangeira é: (1) development, procurement, and fielding of new weapons systems and capabilities; (2)
institutional and systemic reforms to improve the professionalism and quality of Chinese military personnel; and
(3) development of new war-fighting doctrines for employing these new capabilities.
225
A questão do Mar da China Meridional para a China, não é apenas territorial é algo mais profundo. O país
acredita que tem o direito sobre a região, por estar intimamente ligada com sua história. A reivindicação chinesa
210
traz conflitos com uma série de países do Sudeste Asiático como Vietnã, Filipinas, Brunei, Malásia, Indonésia e
também com o Japão que está no Nordeste Asiático. (McDOUGALL, 2007)
226
O texto em língua estrangeira é: Some of the new military capabilities China is developing will significantly
expand the PLA’s ability to project power within Asia.
227
O texto em língua estrangeira é: While the defense forces might be the most obvious dimension of a state's
hard power, military power derives ultimately from a country's economic strength.
211
quem mantém trocas comerciais e uma via de investimentos, tornando-se cada vez
mais importante para as economias destes países, que apostam no crescimento
continuado chinês. O mercado chinês tornou-se cada vez mais atrativo ao redor do
mundo, principalmente na região, por ser extenso e absorver todo tipo de produto,
de commodities passando por produtos manufaturados, chegando a produtos de alta
tecnologia. A China tornou-se o maior mercado de exportação também para países
de economia avançada como Coréia do Sul, Taiwan e Japão, que pode inclusive ter
sua economia estagnada beneficiada pelo crescimento chinês. .A diplomacia
econômica chinesa procura favorecer um ambiente que consiga atingir o benefício
mútuo e relações de “ganha-ganha”. (SAUNDERS, 2008).
Apesar de ter aberto uma via de IED para com os países do Leste Asiático, a
China não pode ser enxergada como a maior fornecedora de IEDs da região, já que
possui baixas escalas globais e regionais de investimento como mostram os
Gráficos 13 e 14 do capítulo anterior. Embora tenha crescido muito de 2005 até
2009, inclusive no período da bolha financeira nos EUA, para 2010 os investimentos
chineses destinados para a ASEAN caíram consideravelmente, representando
apenas 4% de todo montante de IED que a associação recebeu em 2010. Contudo,
vale ressaltar que a China começou a encorajar seus investidores a tornarem-se
globais a partir de 2003, possuindo um bom desenvolvimento até 2009. Mesmo com
a baixa dos investimentos para a ASEAN em 2010, a expectativa é que os
investimentos chineses voltem a crescer tendo em vista o papel cada vez mais
importante e engajado da China na região. Mesmo pouco expressivos quando
comparados ao IED provido pelo Japão, EUA, União Europeia e outros, é possível
identificar quatro tipos básicos de investimentos chinês no Leste Asiático.
O primeiro tipo é voltado basicamente para Cingapura e é amplamente
baseado em tentativas de comprar níveis mais elevados do processo de produção
que a China carece, principalmente nos serviços às empresas. O segundo, a partir
da década de 1990 voltados para o aumento da capacidade manufatureira da
Tailândia e do Camboja, principalmente em produtos de baixo valor agregado e
mão-de-obra intensiva. O terceiro tipo em projetos de infraestrutura, principalmente
de transportes. E o quarto, o mais significativo e mais longo, e que não se resume
apenas a região do Leste Asiático, é o investimento voltado para a busca de
recursos naturais, como petróleo, para a China em outros países, e até mesmo em
outros continentes. A presença chinesa na África e seus investimentos voltados para
212
a região tem como finalidade a transmissão dos recursos naturais do continente para
o país, que possui uma indústria crescente e ausência destes recursos. (BERSLIN,
2008).
Entretanto, laços econômicos com a China podem afetar de forma negativa os
interesses particulares de alguns setores internos de países parceiros ou até mesmo
levar a déficits comerciais. Apesar de ser uma grande oportunidade de mercado
para diversos produtores regionais, mas para muitos não é o mercado chinês que
está guiando os novos padrões de investimento e comércio regionais, mas
mercados externos que produzem na China. A grande preocupação é que por várias
vezes, a China não é a exclusiva fonte de poder no mercado, mas funciona somente
como um condutor pelo qual o poder do mercado externo afeta as economias na
região uma vez que a China serve como parte de uma longa cadeia de produção,
pois atrai empresas multilaterais devido ao baixo custo de produção. (BERSLIN,
2008). Também o aumento da interação econômica chinesa com o restante do
mundo diminui a autossuficiência do país, podendo encorajar a sua pluralização,
mas ao mesmo tempo pode passar a diminuir o sistema político autoritário chinês.
Contudo, a diversificação de parceiros comerciais que a China vem experimentando
desde o aumento de sua inserção na economia mundial aumenta as chances do
país continuar atingindo suas metas econômicas de crescimento e desenvolvimento.
(McDOUGALL, 2007).
A China ainda paira de forma muito intensa sobre a Ásia, com toda sua força
econômica global. A ASEAN terá de se envolver com a China tanto como
concorrente, quanto como parceira - uma relação complicada e que tem que ser
228
administrada de maneira pudente. (BERSLIN, 2008, p. 142, tradução nossa)
228
O texto em língua estrangeira é: China still looms very large over Asia, and is a global economic force to be
reckoned with. ASEAN will have to engage China both as competitor and partner- an intricate relationship that
has to be managed prudently.
213
Tabela 12: Acordos de Livre Comércio da China: implementados, sob negociação e em análise no ano de 2009,
tradução nossa. Fonte: Asia Pacific Customs & Trade Disponível em:
http://www.pwccustoms.com/webmedia/doc/633910492656405807_fta_lower_land_cost.pdf
229
O valor total do comércio total da China com o Leste Asiático no ano de 2010 foi de mais de US$ 874 bilhões
contra mais de US$ 662 bilhões do comércio japonês com a região. Disponível em: www.aric.adb.org/indicator e
www.databank.worldbank.org
216
inicialmente atribuída a Zheng Bijan, que trabalhou com Hu Jintao na Escola Central
do Partido na época que Hu fora diretor da Escola, criou o conceito na primeira
metade na década de 2000, com o intuito de dar à China uma nova proeminência
política internacional inspirada nas 24 palavras estratégicas atribuídas a Deng
Xiaoping na década de 1980 que serviriam de guia para que a China se tornasse
uma grande potência de fato nos seus próprios termos e sem atrair atenções
indesejadas e represálias do restante do mundo. O autor do conceito afirmava que
em 25 anos de reformas o país conseguiu encontrar uma via que possibilitava a
construção de um país socialista com características chinesas no contexto do
mundo globalizado de hoje. A política elaborada por Zheng possui três pontos
principais:
Esta foi uma declaração para aumentar a confiança dos países da região na
China que procura provar que apesar de continuar voltando suas atenções para as
questões domésticas, o país procura também atuar de forma construtiva no Leste
Asiático. Esta noção era continuamente repetida pelos líderes chineses com a
intenção de demonstrar que não havia nenhuma vontade de impor uma hegemonia
na região. Foi inclusive durante um summit entre o país e a ASEAN em 2006 que o
então presidente chinês que “a China apoia o papel de liderança da ASEAN nos
negócios regionais e na cooperação regional”231 . Não são todos, porém, que são
convencidos por esta retórica. (BERSLIN, 2008).
230
O texto em língua estrangeira é: - China getting actively and economically involved in the globalization
process, but doing so on its own terms and on the basis of its own capacities; - At the same time entails China
relying on domestic institutional innovations, industrial restructuring, developing domestic markets, transforming
high savings into investment capital, and improving the quality of the workforce to overcome the limitations
imposed by resources and other circumstantial problems;- The use of force seeking of hegemony to be avoided to
enable China to rise on the basis of the above two points.
231
O texto em língua estrangeira é: “China consistently supports ASEAN’s leading tole in regional affairs and
regional co-operation.”
218
233
O texto em língua estrangeira é: Chinese policy is not Just concerned with the U.S., but also with preventing
Japanese leadership, on its own or in partnership with the US.”
220
234
O texto em língua estrangeira é: Whereas the United States theoretically has the option of reducing its
presence or even withdrawing from the region, China and Japan are inextricably part of its future.
221
e principalmente ao Tratado Mútuo de Segurança entre Japão e EUA 235 (ou US-
Japan Mutual Security Treaty) de 1951, o que significa que enquanto houvesse um
antagonismo entre China e EUA, haveria também hostilidade entre Japão e China.
Quando as relações entre China e EUA melhoraram, o mesmo aconteceu com as
relações Sino-Japonesas, quando pioraram não foi diferente. Nos momentos em que
o antagonismo prevalecia entre Japão e China costumava ser agravado pelas
memórias históricas das guerras e do imperialismo que a primeira tem do segundo
com a Guerra Sino-Japonesa do final do século XIX, com a ocupação da Manchúria
em 1931, e a outra Guerra contra a China em 1937. Durante a Guerra Fria,
principalmente nas décadas de 1950 e 1960,o claro antagonismo entre os Estados
chinês e japonês prevaleceu também nas relações de China com
Japão.(McDOUGALL, 2007)
Durante os anos de 1950, a relação entre China e Japão era diretamente
influenciada pelo domínio que os EUA exerciam sobre o Japão. No início da década
quando EUA e Japão assinaram o tratado que selava a paz com a China, o fizeram
com a República da China, estabelecida em Taiwan, e não com a República Popular
da China (ou People’s Republic China – PRC), no continente. Este movimento feito
pelo Estado japonês seguia a direção norte-americana em não reconhecer a PRC,
apoiando sua política de contenção do país, mas ainda assim o Japão mantinha
relações comerciais com a China baseando-se na separação da política da
economia. A partir de 1965 o Japão já era o maior parceiro comercial da China,
passando a frente da URSS, entretanto, continuava mantendo laços fortes com
Taiwan o que desagradava o governo chinês. (McDOUGALL,2007). É possível
perceber que desde a década de 1960 que a interdependência tem um traço forte na
região do Leste Asiático, que a partir de 1967 com a ASEAN só tende a aumentar,
apesar do passado de inimizades que ronda a região.
Nas últimas seis décadas, as estruturas internas do Japão para suas relações
com a China, estão fixadas nas imposições do pós Guerra estabelecidas quando foi
vencido no final da Segunda Guerra Mundial. Como país vencido o Japão foi
obrigado a aceitar a ocupação dos Aliados, reformas guiadas pró-democratização e
desmilitarização. Durante a Guerra Fria, se alinhou com os EUA como uma forma de
235
O Tratado Mútuo de Segurança foi assinado em 1951 e ratificado um ano depois pelos EUA. No tratado, o
Japão dava concessão aos EUA de estabelecer presença militar no Extremo Oriente e proíbe o Japão de
fornecer bases militares para qualquer potência estrangeira sem o consentimento dos EUA.
222
garantir sua ‘liberdade’ depois de ter assinado o Tratado de Paz de São Francisco
de 1951 e a partir de então passou a seguir uma política de militarização limitada,
concentração de investimentos na economia e supressão de fatores nacionalistas e
históricos em sua identidade interna e externa como parte da Doutrina Yoshida
extremamente pragmática. (HUGHES, 2008).
A normalização das relações entre China e Japão aconteceu no início dos
anos de 1970, quando em setembro de 1972 durante a visita do presidente norte-
americano Richard Nixon, a China e os EUA assinaram o Comunicado de Shangai
(ou Shangai Communiqué) que estipulou a reaproximação dos países e
consequentemente de China e Japão. No Comunicado de Shangai ficou estipulado
que a normalização das relações ente China e EUA era um desejo de todas as
nações e extremamente importante para a paz e a prosperidade no mundo.
Também, ficou acordado que não poderia haver uma disputa de hegemonia na
região da Ásia Pacífico, pelo lado chinês, americano, ou de qualquer outra potência,
o que claro, incluiria o Japão. A assinatura do comunicado foi vista por parte da
China como muito importante para afastar a possibilidade de ter o Japão, que
apesar de contido pelos EUA, ainda trazia uma aura de insegurança para a região.
Mais tarde no final da década em 1978, a assinatura do Tratado de Paz e Amizade
(ou Treaty of Peace and Friendship) consolidou a relação Sino-Japonesa e o
restabelecimento da diplomacia entre os dois países. (McDOUGALL, 2007).
Antes mesmo da assinatura dos tratados de 1972 e 1978 que normalizaram
as relações entres os países, uma série de eventos pró-China no Japão, mesmo que
baseados em afinidades culturais superficiais e até mesmo românticas, como a
‘diplomacia dos pandas’ que acontece até hoje, como símbolo de demonstração de
respeito e amizade ajudou a fortalecer o consenso sobre a necessidade do
fortalecimento das relações. Entretanto, questões culturais, históricas e de
identidade nacional, alinhadas com a política pragmática japonesa, foram deixadas
de lado na agenda de política Sino-Japonesa, o que demonstra uma necessidade de
“varrer para debaixo do tapete” estas questões, deixando que se acumulassem nas
próximas décadas e tornando-se um dos principais pontos fracos da relação entre os
dois países. O Communiqué e o Tratado da década de 1970 também não fazem
menções explicitas a história e aceitam o direito chinês às reparações pelo Japão
uma vez que as relações deveriam ser a partir de agora de não-agressão. Outras
questões também ligadas a acontecimentos históricos, como disputas territoriais,
223
deixavam clara a fragilidade da relação. Nos anos de 1982 e 1986 houve protestos
chineses contra explicações brandas em livros escolares japoneses sobre o que o
exército do Japão havia feito durante a Guerra Sino-Japonesa;em 1985 o governo
chinês se colocou contrário a uma visita que o Primeiro Ministro japonês da época,
Nakasone Yasuhiro, havia feito ao templo Yasukuni, que honra os soldados
japoneses mortos em combate, inclusive alguns que foram considerados criminosos
de guerra (visitas ao templo por autoridades japonesas sempre enfraquecem a
relação com a China); em 1987 uma decisão da Alta Corte de Osaka decidiu que um
albergue estudantil localizado em Kyoto e que havia sido adquirido pela República
da China antes da revolução de Mao, que separou as duas Chinas, era de direito de
Taiwan e não da PRC trouxe novo enfraquecimento as relações uma vez que a PRC
afirmava que esse era um sinal de que o Japão não reconhecia um único governo
chinês e que se aproximava cada vez mais de Taiwan. (McDOUGALL, 2007). "Mas
isso foi neutralizado com as promessas continuas de empréstimos em ienes e o
reconhecimento contrito, porém discreto por parte do Japão das agressões
passadas." (DRIFTE, 2003, pg. 28-29 apud HUGHES, 2008, p.43, tradução nossa).
Outro episódio que criou tensões entre China e Japão foi o Massacre da
Praça da Paz Celestial (ou Tiananmen Saquare) em 1989 que interrompeu as
relações entre os dois países por algum tempo. O Japão buscou tratar deste assunto
com bastante cautela, afinal como ficara provado para a China era, e continua
sendo, um vizinho importante política e economicamente. Por um lado as potências
ocidentais, principalmente os EUA, pressionavam o Japão a agir de maneira mais
dura em relação à atitude do governo chinês, mesmo que não fosse da vontade
japonesa. Por outro lado, os eventos da Guerra de 1937-1945 entre Japão e China e
as atrocidade cometidas pelo Japão durante a Guerra, faziam com que o país fosse
menos crítico em relação aos eventos que ocorrem durante as manifestações na
Praça da Paz Celestial. Apesar de relutante, em seguir os países ocidentais em
sanções à China, em meados de 1989 o Japão afirmou que suspenderia um
programa de cinco anos de empréstimos em condições favoráveis que somavam
US$ 5,5 bilhões que começaria em menos de um ano.
Apesar de os EUA terem seguido com sanções à China, no ano de 1990, o
programa de empréstimos em condições favoráveis à China foram retomados pelo
Japão como uma forma de manter boas relações com a China já que o país não se
225
sentia no ‘direito’ de criticá-la. Também foi o Primeiro Ministro japonês Tokishi Kaifu
o primeiro chefe de um Estado de peso a visitar a China depois da questão da Praça
da Paz Celestial em 1991, o que deu ênfase às relações Sino-Japonesas e fez com
que o Japão servisse de ponte entre a China e os países ocidentais. Durante a visita
do Primeiro Ministro japonês, a China anunciou que concordaria assinar o Tratado
do Não-Proliferação(TNP) e atuar de forma cooperativa com a Coréia e o Camboja.
Através deste ato, o Japão começou a buscar um maior papel internacional,
particularmente na região do Leste Asiático, para si próprio. (GREEN, 2008)
236
O texto em língua estrangeira é: In this sense, ten, Japan's post war relations with China remained stuck in a
time warp of the post-war settlement and concomitant domestic system, meaning that for Japan in this period
history never ended. But in another sense, Sino-Japanese relations, even though they began in 1972, never had
the opportunity to start afresh as the issue of history was deliberately brushed aside.
237
O texto em língua estrangeira é: For the most part, trade balances have been in Japan’s favor, although the
balance has changed more recently.”
226
238
Assembleia japonesa.
228
1996, momento em que a China laçou alguns mísseis que caíram ao redor da ilha,
em um primeiro momento ainda em 1995 com o intuito de alertar a ilha da política de
uma só China e não duas, e no segundo momento como retaliação deliberada às
eleições para presidente de Taiwan, o Japão buscou tomar uma postura neutra,
entre os EUA, que foram contra os ataques, e a China, afinal, era um país
importante para a região. Entretanto, uma Declaração de Segurança Conjunta
assinada entre os EUA e o Japão levantaram as suspeitas chinesas de que o Japão
teria a intenção de se envolver diretamente na crise, e em outras tantas que
envolvessem o Taiwan, o que até o momento não aconteceu. (GREEN, 2008).
A questão de soberania sobre as Ilhas Senkaku/Diaoyu no Mar da China
Meridional aflorou no final do ano de 1990, quando o Japão retirou o reconhecimento
sobre um farol que estava nas ilhas depois de grande reclamação por parte de
China e Taiwan. Novamente, na China, a culpa do Japão pela Guerra falava mais
alto e a imprensa afirmava que a invasão japonesa neste território chinês revelava a
mentalidade expansionista do Japão e o ressurgimento do seu militarismo. (China
Quarterly nº125, 1991 apud McDOUGALL). Além de ter declarado que a soberania
das ilhas era indisputável, a China também propôs que retomando o que ambos os
países haviam feito em 1972, novamente adiar a questão da soberania das ilhas,
desenvolver os recursos naturais nas águas ao redor das ilhas, e abrir os recursos
pesqueiros do local para o mundo. Contudo em 1996 as disputas voltaram a
acontecer quando novamente ativistas construíram novo foral nas ilhas além de
outras estruturas, o que gerou protestos em Hong Kong e Taiwan. No mesmo ano o
Japão declarou uma Zona Econômica Exclusiva (ZEE) em cerca de 370 km ao redor
das ilhas e pressionou os EUA a afirmarem que seu tratado de segurança incluía
também aquela região. Em 1997, novamente Japão e China acordaram em adiar a
questão da soberania e estabeleceram uma zona de administração conjunta na ZEE
estabelecida pelo Japão.
Entretanto entre 2003 e 2004 novos ativistas desta vez chineses, fizeram
quatro tentativas de desembarcar na ilha, e quando conseguiram sete chineses
foram presos pela polícia japonesa e depois enviados novamente para a China. Este
ato levou a novos protestos na China que reclamavam que o Japão presumia que as
ilhas eram seu território. A disputa, mesmo que menos ativa, continua entre Japão,
China e também Taiwan, uma vez que acredita-se que o Mar da China Meridional
pode ser uma área rica em gás e petróleo. (McDOUGALL, 2007). Mais
229
239
Disponível em: http://www.cbc.ca/news/world/story/2010/10/05/japan-china-meeting-105.html
230
Conselho de Segurança. Além disso, outras motivações levaram a China a negar tão
veementemente a presença permanente do Japão ou de outra nação asiática como
a Índia no Conselho de Segurança. A presença de outro membro asiático diminuiria
o papel chinês como o único membro e representante do continente asiático no
conselho. (McDOUGALL, 2007).
Novamente, em 2007, outra questão relacionada a Yasukuni, desta vez uma
doação de Abe para o templo, estremeceu novamente a relação com a China, mas
não por muito tempo. A visita do Primeiro Ministro chinês Wen Jiabao à Dieta
japonesa no mesmo ano, após o episódio das doações de Abe, serviu para selar
esta questão, e para buscar melhorar as questões históricas entre os dois países.
Durante seu discurso na Assembleia do Japão, Wen se referiu a guerra japonesa
como de agressão, mas avaliou de maneira positiva as tentativas do país em se
desculpar pelo ocorrido preferindo não levantar questões polêmicas como o templo
Yasukuni e as “mulheres de conforto”240 de Nanjing.(HUGHES, 2008).
Porém, a partir da troca de visitas entre os Primeiros Ministros dos dois
países, ambos pareciam comprometidos em voltar a manter bons laços e construir
um relacionamento recíproco estratégico. O progresso começou a ser feito na forma
de dois summits realizados um no final de 2006 e outro no final de 2007, e da
postura pró China do novo Primeiro Ministro japonês Fukuda Yasuo, que prometeu
continuar aprimorando a relação entre os dois países. Finalmente, as relações
diplomáticas entre os chineses e japoneses parecia entrar em uma fase mais estável
sendo beneficiada com o grande número de summits e atividades de alto nível
realizadas com maior frequência além de diálogos e encontros estabelecidos em
termos regionais. A melhora do relacionamento entre os países foi acompanhado do
anuncio de uma “nova era”241 das relações Sino-Japonesas. (ROSE, 2008).
Assim como nas décadas de 1950 e 1960, a retomada das relações Sino-
Japonesas após o fim do governo de Koizumi se deu através de um aumento de
240
O termo mulheres de conforto é um eufemismo para tratar a questão das mulheres que eram obrigadas a se
prostituirem ou eram escravas sexuais em bordéis militares japoneses durante a Segunda Guerra Mundial. A
maioria das mulheres era de províncias chinesas e sul-coreanas, apesar de haver também mulheres obrigadas a
fazerem este papel de outros países do Sudeste Asiático. Por ser uma questão recente e delicada, ela ainda
permeia as relações de Japão e China onde a última pede reparos do primeiro também em relação a esta
questão.
241
O termo “nova era” é frequentemente utilizado quando se fala das relações Sino-Japonesas. Diversas “novas
eras” foram proclamadas desde a década de 1970 com a retomada das relações de ambas as partes. Uma “nova
era” quando anunciada oficialmente, geralmente é acompanhada por apoio governamental a intercâmbio de
estudantes e cultural e outros aspectos da diplomacia pública, também geralmente gera novas ajudas e planos
de empréstimos do Japão para a China. (ROSE, 2008).
231
[...] antipatias através da história provavelmente não serão resolvidas com gestos
políticos como summits bilaterais, ou por um spillover positivo gerado pela
interdependência econômica. Essas medidas certamente ajudarão como um passo
242
na direção correta para mitigar as tensões. (HUGHES, 2008, p. 39, tradução
nossa)
Uma das maiores iniciativas neste momento foi a criação do primeiro projeto
conjunto oficial de história entre China e Japão, que envolvia um grupo de dez
pesquisadores de cada país para estudar o período da mais recente Guerra Sino-
Japonesa e emitir um reporte final com o parecer conjunto sobre suas percepções.
As áreas mais sensíveis nas quais os autores dos relatórios discordavam, incluíam
as mesmas questões que são problemáticas entre Japão e China. Ainda assim, os
pesquisadores acreditaram ter chegado a um consenso sobre estes e outros
assuntos, mas novamente, os resultados do grupo foram menos relevantes que o
simbolismo sino-japonês de buscar conjuntamente, debater e resolver questões
históricas que impedem até hoje um bom desenvolvimento, ou ao menos uma maior
estabilidade das relações entre os dois atores. (ROSE, 2008).
Sobre a relação Sino-Japonesa no início do século XXI, McDougall (2007),
entende de cada um dos países apresenta perspectivas diferentes quando olha para
242
O texto em língua estrangeira é:[...] antipathies over history are unlikely to be resolved by political gestures
such as bilateral summits, or by positive spillover from the economic interdependency.
232
[...] mesmo que essas mudanças dinâmicas estruturais ofereçam oportunidades para
uma cooperação sino-japonesa melhorada, que os formuladores de política de
ambos os lados estão realmente buscando, ao mesmo tempo a sua má gestão no
passado - e má gestão potencial no futuro - é também capaz de produzir laços
piorados ao invés dos interesses comuns que muitos políticos japoneses
243
esperam. (HUGHES, 2008, p. 39)
Apesar da “nova era” estipulada entre China e Japão após o governo Koizumi,
com o aumento de relações de alto nível entre os dois países e fortalecimento dos
laços de amizade, o antagonismo entre China e Japão persiste. Um bom exemplo é
a disputa em torno da Comunidade do Leste Asiático relação ao seu escopo e
principalmente em relação aos seus membros. Enquanto a China era a favor de que
uma comunidade do Leste Asiático fosse desenvolvida no âmbito dos summits da
ASEAN+3, o Japão dava ênfase ao discurso da EAS com o verdadeiro intuito de
243
O texto em língua estrangeira é: "...even as these changing structural dynamics provide opportunities for
enhanced Sino-Japanese cooperation that policy-makers on both sides are genuinely attempting to exploit, at the
same time their mismanagement in the past - and potential mismanagement in the future - is also capable of
producing worsening ties rather than the shared interests that many Japanese policy makers hope for."
234
244
O texto em língua estrangeira é: The psychological, military, and diplomatic challenges posed by China’s
sudden rise and uncertain future are inescapable for Japan. Asia retains its hierarchical pull, and Japan and
China have never been powerful at the same time the way they are today. Chinese and Japanese aspirations
236
also collide. Both nations are motivated by a profound sense of incompleteness. China seeks territorial integrity
and a return to its central role in the region, but it confronts a Japan that seeks to move beyond the postwar
period and to re-establish lost national pride. Japan’s economic interdependence with China provides a stability to
the two countries’ bilateral relations, but not a certainty or predictability about where they will head.
245
O texto em língua estrangeira é: Leadership is mainly a discursive project, relying on intersubjective
understandings for collective action to become possible.
237
japonesa na região, no que diz respeito a IED, ajudas externas e comércio, são
relativamente mais intensas e profundas que a chinesa.
Com o destaque cada vez maior dado para a ASEAN, a ASEAN+3 e a busca
pela criação de uma comunidade regional no Leste Asiático, a atuação de China e
Japão na região, mesmo figurando entre os atores de maior peso, deverá perpassar
estes mecanismos de integração regional, que já são cobiçados por ambos os
países desde a década de 1970 no caso japonês e de 1990 no caso chinês. Apesar
de uma posição futura ainda incerta quanto líder na região o fato é que esta está
diretamente ligada ao papel que as capacidades materiais dos dois Estado
desempenharão no contexto regional. Também, a existência e a importância dos
mecanismos de integração regional no Leste Asiático influenciam diretamente a
política externa de China e Japão que precisam passar a fazer seus cálculos
partindo do princípio que o Sudeste Asiático tem mais influência que nunca, nas
relações econômicas, comerciais e na balança de poder do Leste Asiático.
Algumas ações da China, por exemplo, ainda persistem como ameaçadoras
para o Sudeste Asiático e consequentemente para a ASEAN como um todo, de
forma a atingir também a região maior do Leste da Ásia. A estagnação da economia
japonesa nos últimos anos bem como o crescimento econômico chinês, que já
representa o maior da região, transforma a China em um imã para IEDs de todas as
partes do mundo, o que já preocupa os países da ASEAN de uma possível queda
nos investimentos externos direitos nos países do bloco. (NABERS, 2008). Essa
preocupação é ainda maior quando constatamos que o IED da China para a região
em que se encontram os membros da associação é bem diminuta se comparada aos
outros dois países do Sudeste Asiático, Japão e Coréia do Sul (vide Gráfico 14 no
capítulo anterior). Estes fatos significam que embora receba uma quantidade grande
de IED, a China não os repassa de maneira satisfatória para a região.
A entrada da China na OMC também causa preocupação à grande parte dos
países da ASEAN. A Malásia é um exemplo que teme que tal ação afete diretamente
sua economia e principalmente sua indústria de eletrônicos. O status chinês de
plataforma de produção mundial unido a filiação à instituição que regula o comércio
ao redor do globo ameaça causar o esvaziamento da indústria de outros países
devido ao baixo custo de produção, aos baixos impostos e ao valor menor do
produto final que é feito na China. Também, a expansão do país sobre os territórios
do Mar da China Meridional aliados ao desenvolvimento de suas forças armadas
238
levam desconfiança à região, mesmo que o país procure fazer declarações que
comprovem seu baixo perfil nestes quesitos, uma vez que a maioria destas
declarações não tem caráter obrigatório. (IBID). É justo afirmar que ao contrário de
Japão e Coréia do Sul, a China ainda é um país em desenvolvimento, mas ao
alcançar um patamar tão alto como o de candidata a liderança regional, é necessário
que leve em consideração todas estas questões.
Por outro lado, mesmo com sua economia estagnada e possuindo um
histórico de rivalidade adquirido pela sombra do imperialismo japonês em tempos
mais remotos e mais modernos no Sudeste Asiático, o Japão é uma das maiores
fontes de IED da região, e o maior doador, ou seja, fonte de ajuda ao
desenvolvimento dentro e fora da associação como mostra a Tabela 14 a seguir.
Apesar de ser provável que a quantidade relativa e absoluta de IED da China para a
região tende somente a crescer, não é possível garantir que conseguirá no curto
prazo se sobrepor ao conjunto de ajudas através de investimentos e auxílio prestado
pelo Japão a ASEAN e a região como um todo.
Em Milhões de US$
Camboja Malásia Total para a área
1ºdoador Japão 139 1ºdoador Japão 192 Japão 4.116
2º doador AsDB* 79 2º doador EUA 17 AID** 1.107
3ºdoador EUA 78 3ºdoador Alemanha 11 AsDB* 494
Filipinas Myanmar França 430
1ºdoador Japão 686 1ºdoador Intituições da UE 66 Austrália 349
2º doador EUA 135 2º doador Reino Unido 49 EUA 269
3ºdoador França 104 3ºdoador Japão 48 Intituições da UE 66
Indonésia Tailândia Reino Unido 49
1ºdoador Japão 1505 1ºdoador Japão 171 Alemanha 11
2º doador Austrália 349 2º doador EUA 39
3ºdoador França 326 3ºdoador Fundo Global 37
Laos Vietnam
1ºdoador Japão 109 1ºdoador Japão 1266
2º doador AsDB* 65 2º doador AID** 1059
3ºdoador AID** 48 3ºdoador AsDB* 350
Fonte OCDE Obs2: Os dados de Cingapura e Brunei
* Asian Development Bank (Banco de Desenvolvimento Asiático) não estão disponíveis na OCDE
** Agência Internacional de desenvolvimento uma vez que não são considerados
Obs1: A China não divulga seus dados de Ajuda Externa. países em desenvoltimento.
Tabela 14: Maiores doadores de ajuda externa para a região do Sudeste Asiático e o total para a área, média
dos anos de 2009 e 2010, elaboração própria. Fonte: OCDE Statistics. Disponível em:
http://www.oecd.org/document/0,3746,en_2649_201185_46462759_1_1_1_1,00.html
China podem atuar com a intenção de conquistar algum tipo de liderança regional
para si.
Segundo o conceito teórico, em primeiro lugar é recomendável que ambos os
Estados eliminem o máximo que puderem do medo e da desconfiança que os países
que formam este multilateralismo-regional possam ter em relação a cada um dos
países. Em segundo lugar é importante que cada um dos atores possa demonstrar
seu papel de “potência responsável” para o restante dos membros dos mecanismos
regionais multilaterais para que um vínculo de confiança possa ser criado e a
liderança estabelecida. Por fim, o autor afirma que ao se relacionar com a
possibilidade do desenvolvimento da liderança regional a partir do escopo do
multilateralismo-regional, dois são os principais aspectos determinantes, voltados
para fora da região. O primeiro é a capacidade dos atores-líderes regionais
representarem o interesse da região em fóruns multilaterais-globais e o segundo a
forma como esta liderança afeta o funcionamento dos principais mecanismos de
governança global. .
Neste sentido cabe dizer que o Japão está há muito mais tempo que a China
atuando dentro dos mecanismos de multilateralismo-regional do Leste e do Sudeste
Asiáticos, sempre agindo de forma a diminuir as desconfianças e medos que o país
gerou na região durante e até mesmo depois dos anos de seu imperialismo regional.
Para isso, o país procura passar a imagem de uma potência responsável através de
investimentos externos diretos, da transferência de auxílio ao desenvolvimento, à
catástrofes, empréstimos a taxas favoráveis aos países da região além de diversas
outras ferramentas comerciais, financeiras e econômicas
Apesar de ter quase três décadas de vantagem quando o assunto é o
relacionamento japonês com os mecanismos de integração regional, a forma como a
China passou a fazer parte deste escopo foi favorável ao país. O papel que o Estado
chinês teve durante a crise asiática de 1997 e a maneira como a criação de um novo
mecanismo informal, com a participação da China, reduziu as possíveis perdas que
a região viria a sofrer caso nada disso fosse feito também foi importante para colocar
a China como uma potência responsável. Entretanto, ao mesmo tempo em que o
desenvolvido pelo Estado chinês assim que passou a fazer parte do multilateralismo
regional do Leste Asiático foi louvado pelos demais membros do mecanismo, o
aumento dos gastos militares do país, a disputa de regiões no Mar da China
Meridional, lançamentos de mísseis durante a crise dos mísseis de Taiwan, o
243
246
Segundo “A avaliação das contribuições dos Estados-Membros para o orçamento regular das Nações Unidas
para 2012” Disponível em: http://documents-dds-
ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/N11/653/67/pdf/N1165367.pdf?OpenElement
247
Disponível em: http://www.imf.org/external/np/sec/pr/2011/pdfs/quota_tbl.pdf
244
papéis: estabilizar a região no que diz respeito aos assuntos de segurança e criar
regras para a economia regional.
Pensando no impasse entre Japão e China quando a existência de uma
liderança regional, a reivindicação de poder não pode ser comprovada, uma vez que
nenhum dos dois países deixa claro a existência de uma vontade de ser líder, mas
sim uma vontade de que o outro não o seja. Desta forma, a reivindicação de poder
aparece quando um país se coloca contrário à ação do outro afirmando que tal ato
pode desestabilizar a região, ou então simplesmente quando toma medidas
contrárias a ação do primeiro. Japão e China possuem recursos de poder, até em
demasia quando se pensa que dois países com tamanha capacidade de liderança
regional estão dividindo uma mesma região. Os recursos de poder japoneses estão
mais voltados para a economia, as finanças e o comércio enquanto a China, além de
possuir este mesmo recurso de poder, possui também um poderio militar que
diferente do japonês pode ser usado, sem constrangimentos legais, para atacar sem
necessidade de ter sido atacado antes.
248
O texto em língua estrangeira é: [..] Japan has a number of power assets available. However, there are
constraints on Japan's ability to use its military power. Japan has generally adopted a low profile approach in
attempting to realize it's objectives. This does not mean that Japan is not prepared to exercise leadership, but it
means of doing so emphasize quiet diplomacy.(RIX, 1993 apud McDOUGALL, 2008).
249
Disponível em: http://www.asean.org/20191.htm
245
Entre Japão e China é possível perceber que todos os três tipos de liderança
fazem parte da estratégica de cada um dos países em tornar-se líder regional em
maior ou menor intensidade. O Japão possui um poder estrutural relevante como
terceira maior economia mundial, como país exportador de alta tecnologia, e como
grande fonte de IED. Entretanto, em comparação direta com a China, o Japão
possui uma liderança estrutural mais modesta se pensarmos que a China é a maior
plataforma produtora e o maior mercado do mundo, além de ser a segunda maior
economia mundial e dona de uma força militar em plena expansão.
A liderança empresarial, que dá destaque as habilidades de negociação, mas
também a qualidade da negociação, uma vez que o líder empresarial busca
maximizar os benefícios para a maior quantidade possível de atores, é possível ser
enxergada em destaque nos dois países. Por ter uma tradição mais antiga com os
mecanismos de integração da região, o Japão pode ser considerado um líder
empresarial ao buscar acordos voltados para os mais diversos temas com a ASEAN
desde 1976, entretanto pode ter sua liderança empresarial comprometida já que
preferia inicialmente estabelecer acordos comerciais e econômicos apenas com os
membros fundadores da associação mais Brunei assim que Laos, Camboja, Vietnã e
Myanmar entraram para a associação, o que excluía praticamente metade da
associação e não buscava maximizar o benefício a todos.
A China por sua vez procurou sempre incluir todos os membros da
associação em seus acordos, o que inspirou o Japão a fazer o mesmo quando da
criação de seu acordo de comércio com a ASEAN. Também dentro de mecanismos
multilaterais globais como o G-20, a China tem a tendência a buscar acordos que
satisfaçam suas demandas, grande parte delas que também são demandas dos
países da região. Quando pensamos ainda na capacidade pura de negociação é
possível perceber que a China tem maior capacidade de negociação em questões
comerciais, econômicas e até mesmo militares por ter maior poder de barganha
adquirido devido ao seu extenso poder estrutural, mas perde grande parte deste
poder de negociação quando as questões se voltam para os direitos humanos,
trabalho escravo, liberdade de imprensa e outras questões mais delicadas para o
governo chinês.
Em relação a liderança intelectual é possível perceber que o Japão possui
alguma vantagem quando comparado a China neste quesito. O Japão mantém
diversos encontros, reuniões e fóruns com a ASEAN voltados para questões de
247
cada vez mais o interesse dos países que possuem maior peso estrutural e que
estão localizados no Nordeste Asiático. A corrida de China e Japão para aumentar
seus vínculos com tais mecanismos, principalmente através da ASEAN e da
ASEAN+3, refletem a importância destes para ambos os atores e representam uma
das formas mais recorrentes da disputa travada entre os dois países.
O verdadeiro objetivo da busca pela liderança regional não é alcançar poder e
crescimento econômico no curto prazo, mas antes disso estabilizar a região para
poder então pensar no seu desenvolvimento e no acúmulo de poder relativo dentro
de um arcabouço cada vez mais integrado. Tanto China quanto Japão entendem a
necessidade de um Leste Asiático estável, mas nenhum dos dois confia no outro
para permitir que esta estabilidade seja adquirida gradualmente, mas com a
possibilidade de uma ameaça do ‘rival’ em se tornar o líder ou o hegemon isolado da
região, o que diminuiria o poder regional e global do outro. Desta forma, o país que
se estabelece como líder tem a prerrogativa de ser aquele que conseguiu estabilizar
a região e promover com isso a paz e a prosperidade dos países que lá se
encontram. A partir do respeito e da visão do líder como uma potência responsável e
ativa na comunidade internacional e regional, os ganhos políticos e econômicos se
tornam consequência do bom trabalho executado anteriormente para os cenários
internacional e local.
Com a dualidade de uma disputa pela liderança regional travada nos termos
de low profile, onde nenhum dos dois atores afirma estar competindo para uma
posição de líder, mesmo que seja, antes de mais nada, para impedir o outro de sê-
lo, a liderança que pode emergir deste cenário apresentaria duas características
marcantes. A liderança pode ser compartilhada, onde cada qual, mesmo sem
concordar plenamente, torna-se mais forte e consequentemente líder em diferentes
seguimentos, podendo ter mais ou menos poder que o outro; ou então de uma
corrida de ambas as partes para cancelar a liderança, mesmo que parcial do outro,
uma vez que esta poderia representar mais instabilidade para a região e seus
mecanismos de integração.
Esta disputa de liderança entre os principais países do Nordeste Asiático que
perpassa os mecanismos de integração da região, que representam e reúnem
grande parte das relações que são travadas no Leste Asiático, acabam dando para a
ASEAN, principalmente, um alto poder de barganha. A associação pode se
beneficiar desta disputa, uma vez que ela desencadeia uma competição entre os
249
aspirantes a líder, por busca de maiores e melhores laços com a ASEAN. Esta
competição entre China e Japão pode possibilitar que a ASEAN tenha o poder de
influenciar nos termos dos acordos que sejam assinados entre os dois atores e a
ASEAN, tornando-os minimamente mais favoráveis à ela, mesmo que seja a parte
menos poderosa destas relações. Além disso, o papel central da ASEAN tanto na
ASEAN+3, onde os países do +3 tem status de ‘visitantes’ como no EAS, onde a
ASEAN mais uma vez costuma ter a palavra final durante os encontros, dá a
associação destaque internacional crescente e até mesmo regional frente a
potências externas que fazem parte de outros mecanismos como ARF e APEC, mas
que entendem a importância da associação na região e passam a respeitá-la um
pouco mais quando atuam dentro dos mesmos mecanismos regionais.
As considerações feitas ao longo deste capítulo buscaram responder as
questões que foram levantadas em seu princípio. Entretanto, apesar de a possível
liderança chinesa se sobressair quando comparada à liderança japonesa, é
impossível descartar qualquer um dos dois países do cenário que se desenha no
Leste Asiático. Apesar de possuírem importâncias variadas na região, a China de
hoje não existiria sem os IEDs e auxílio externo do Japão, bem como o Japão de
hoje, que tenta abandonar as questões históricas para iniciar uma nova onda de
relacionamentos com os países da região, não existiria da forma que hoje existe,
sem a China e sua pressão em relação a culpa da Guerra. A disputa pela liderança
regional é, portanto, mais uma forma de interação Sino-Japonesa, que ainda
desgastada, precisa encontrar uma maneira de superar o passado e utilizar seu
incrível poder econômico e comercial para impulsionar cada vez mais a região, nas
bases da cooperação e da competição saudável, e não do conflito.
250
5. CONCLUSÃO
Para Japão e China, a busca por uma posição de liderança regional significa
antes de poder econômico, comercial, financeiro ou político, estabilidade política e
geopolítica. Apesar de ambos os países não confirmarem ou não agirem claramente
para alcançar a liderança, a falta de confiança que um tem no outro os leva para
uma corrida que tem como finalidade impedir que o outro se torne líder ou
hegemônico regionalmente. A desconfiança mútua alimentada por um lado pelo
histórico imperialista japonês e por outro pelo crescimento espetacular chinês nas
últimas décadas, leva os dois países a enxergarem os mecanismos de integração
como uma opção para uma liderança indireta que não leve a região direto para uma
batalha pela disputa direta do poder, mas que possa vir a impedir, pelas
circunstâncias relacionadas ao regionalismo, o domínio da região por parte do outro.
250
Comunicação oral do doutor em Sociologia pela USP Henrique Altemani Oliveira durante o 3º Encontro Anual
da Associação Brasileira de Relações Internacionais em São Paulo-2011.
254
esta pesquisa, i) mesmo que o Japão possua amplo poder estrutural baseado em
grande parte no desenvolvimento de sua tecnologia, na sua economia estruturada, e
na alta troca comercial, a China, possui atualmente maior poder estrutural devido a
sua extensa economia em desenvolvimento aliado ao seu poder militar que também
está sofrendo processo de expansão e modernização; j) as habilidades de um líder
empresarial podem ser enxergadas tanto no Japão quanto na China, mas a busca
chinesa por sempre incluir todos os membros da ASEAN em seus acordos de livre
comércio ao contrário do que o Japão fazia no princípio, e também pela
possibilidade maior de que a China consiga representar melhor a região quando em
organismos multilaterias-globais, é mais provável que suas características
preencham com melhor este tipo de liderança; l) o Japão parece ser mais apto para
possuir os pré-requisitos de um líder intelectual uma vez que tem o costume,
principalmente com os mecanismos de integração regional, de estabelecer acordos
e frequentar encontros e reuniões de assuntos que são entendidos como
paradiplomáticos, ou seja, que estão fora da alta política; também o Japão tem
tradição na formação de acadêmicos e pesquisadores, inclusive nas áreas exatas
como economia e política, tradição esta que esta sendo recentemente retomada
pela China.
Não obstante, nada impede que os dois países possam figurar como
lideranças regionais, cada qual em âmbitos diferentes. Mas é praticamente evidente
o fato de que continuarão procurando diminuir ou anular a liderança ou a
257
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Acesso em: 08/01/2012
WAN, Ming. The Political Economy of East Asia: Striving for Wealth and Power.
Washington: Congressional Quarterly Press, 2008
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YAHUDA, Michael. Looking Ahead: a new Asian order? In: SHAMBAUGH, David
YAHUDA, Michael. International relations of Asia. Plymouth: Rowman
Littlefield,2008
251
ASEAN Ministerial Meeting
252
ASEAN Economic Ministers
253
Disponível em: http://www.aseansec.org/21069.pdf
269
ASEAN SUMMIT254
254
ASEAN SUMMIT (ou Cúpula da ASEAN) segundo Declaração de Cingapura de 2007. Disponível em:
http://www.aseansec.org/21069.pdf
255
Disponível em : http://www.aseansec.org/23112.htm#Article-8 .
270
256
Disponível em: http://www.aseansec.org/24472.htm
257
Disponível em: http://www.asean.org/25410.htm
258
Disponível em: http://www.asean.org/26265.htm
259
ASEAN SUMMIT segundo Declaração de Cingapura de 2007. Disponível
em:http://www.aseansec.org/21069.pdf
271
Estes Conselhos, que se encontram ao menos duas vezes por ano, referem-
se aos Conselhos da Comunidade Sócio-Cultural; Política e de Segurança; e
Econômica. Cada Estado-membro possui uma representação, eleita no próprio país,
para os encontros dos conselhos das comunidades.
Segundo a Carta, cada um dos conselhos deve ter sob sua orientação Órgãos
de Setores Ministeriais da ASEAN que tratem de assuntos que sejam relacionados a
cada pilar. Para cumprir os objetivos dos três pilares da Comunidade da ASEAN, os
conselhos devem: assegurar a implementação das decisões relevantes do ASEAN
Summit; coordenar o trabalho dos diferentes setores sob sua jurisdição; além de
realizar relatórios com recomendações para o ASEAN Summit acerca dos assuntos
que lhes cabem.
Órgãos de Setores Ministeriais da ASEAN261
260
Ibid.
261
Ibid.
262
Ibid.
272
263
Ibid.
264
Ibid.
265
Ibid.
273
266
Ibid.
267
Disponível em: http://www.aseanfoundation.org/index2.php?main=about.htm#a
268
Austrália, Canadá, China, União Europeia, Índia, Japão, Nova Zelândia, Coréia do Sul, Rússia, Estados
Unidos e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (VANNAK ,2006)
274
Imagem 1: Histórico para a Concretização da Comunidade Econômica da ASEAN. Fonte: WAN, 2011 Disponível
em: http://www.bi.go.id/NR/rdonlyres/E128B84E-FEB3-4412-B30F-
99C2A23618F2/24581/PresentationGIZoct2011JoonLianWanTradeCompatibilit.pdf
275
Imagem 2: Mapa com os países do Sudeste Asiático que formam a ASEAN. Fonte: Mizzima Elections 2010
Disponível em: http://www.mizzima.com/international-policy/asean.html
Imagem 3: Mapa do Leste Asiático com os países integrantes da ASEAN+3. Fonte: Japan Focus. Disponível em:
http://www.japanfocus.org/-a_-yang/3054