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RESUMO: ABSTRACT:
O presente artigo busca discutir os We intend to discuss what are
novos desafios para conservadores the new challenge for the paper
de obras de arte em papel diante art conservator considering the
da produção contemporânea. contemporânea art. We discribe
Tais desafios são elencados na some of these challengers intending
intenção de incorporar à discussão to get together the tecnics and
técnica e tecnológica as questões the tecnological issues os art. For
próprias às artes. Nesse sentido, this is essencial to understand the
é vital compreender o papel do work of the musician-conservator
museólogo-conservador diante in front of the contemporany art
da produção contemporânea and its relations with the artists
e sua relação com as novas esperiments and proposes.
experimentações que têm no
papel sua base de especulação
poética.
PALAVRAS-CHAVE: KEYWORDS:
papel, conservação, arte paper, conservation, contemporany
contemporânea art
1 * Possui graduação em Licenciatura Em Educação Artistica pela Universidade de Brasília (1990), mes-
trado em Arte e Tecnologia da Imagem pela Universidade de Brasília (1999) e Doutorado em Desen-
volvimento Sustentável (2008) pelo CDS/UnB. Foi Diretora de Esporte, Arte e Cultura do Decanato de
Assuntos Comunitarios da UnB de 1994 a 1997 e Decana de Assuntos Comunitarios da Universidade
de Brasilia de 1997 a 2005. Atualmente é Diretora Cultural da Associação Brasileira Técnica de Celu-
lose e Papel e professora Adjunta Dedicação Exclusiva do Departamento de Artes Visuais do Instituto
de Artes da Universidade de Brasília. Sua area de atuação é Artes, com ênfase em Arte Educação. Atual-
mente é coordenadora do curso de graduação a distância de Licenciatura em Artes Visuais do Progra-
ma Prolicenciatura. Sua linha de pesquisa é Materiais em Arte e Papel Artesanal, atuando principalmente
nos seguintes temas: materiais para arte educação, papel artesanal, reciclagem, reaproveitamento, celu-
lose e papel, materiais em arte e inclusão social. Detém duas patentes registradas no INPI, Reciclagem
de Papel Moeda (1996) e Reciclagem de Bitucas de Cigarro (2003).
Thérèse Hofmann Gatti
remontam há cinco mil anos. Até hoje no museu do Cairo, no Egito, são pro-
duzidos papiros com o mesmo processo milenar de retirar a casca da planta
Cyperus papyrus, deixar de molho para extrair o açúcar e intumescer as
fibras. Depois, dispor as tiras em oposição e prensar. Não há uso de colas ou
cargas. O material se apresenta extremamente receptivo a tintas mais aguadas
e com resistência para ser enrolado e desenrolado várias vezes. A cor mais
106 escura ou mais clara dependerá do tempo de imersão das fibras na tina com
água. Este tempo pode ser de uma semana ou mais.
MUSEOLOGIA & INTERDISCIPLINARIDADE Vol.1, nº2, jul/dez de 2012
Figura 1 - Papiro
Fonte: A autora.
Os incas usavam para registro cordas com nós que se chamava quipo,
ou quipu. Segundo Bronowiski (1983), estes nós forneciam um sistema de in-
formações intrincado. Cada família registrava nestes quipos sua história, suas
posses, terras, gado, grãos, números de nascimentos e mortes. Quando havia
um casamento, as duas famílias uniam os quipos.
As mensagens chegavam ao inca sob a forma de dados númericos
marcados em pedaços de cordões, chamados quipus […]. Os núme-
107
ros que descreviam a vida de um homem no Peru eram coletados
em uma espécie de cartão perfurado ao reverso, um cartão de com-
putador em braille, organizado sob a forma de nos em um barbante
(BRONOWISKI, 1983, p. 101).
O papel só veio a ser descoberto por volta de 105 d.C. Esta data ficou
registrada como sendo a da descoberta, pois foi a primeira vez que alguém
descreveu por escrito o processo de fabricação do papel. Registros arqueo-
lógicos já nos informam da existência de papeis anteriores a esta data. Porém
em 105 d.C., Ts’ai Lun, funcionário imperial do imperador Ho Ti deixou re-
gistrado para a posteridade a “receita” da produção de papel. Na China há
um ditado que diz “Tsáng Chieh fez os blocos de impressão e Ts’ai Lun fez o
papel” (HUNTER, 1978, p. 50).
E por falar em blocos de impressão, apesar da xilogravura já ser conhe-
cida há séculos pelos orientais, é de Gutemberg o crédito pela impressão de
tipos móveis. Em 1450 com a invenção da prensa de Gutemberg o papel se
consolida como suporte de escrita.
O mundo de papel
A história do papel desde o século XV é muito conhecida e seu uso não
apenas disseminou um suporte de impressão, mas possibilitou toda uma mu-
dança de comportamento na relação com a informação, no que concerne sua
produção, difusão e recepção (CHARTIER, 1999). No atual estatuto da produ-
ção de arte contemporânea, o papel passou a ser um elemento que ocupa uma
posição dúbia: artefato que remete à tradição acadêmica das artes e, ao mesmo
tempo, elemento-suporte crucial para as investigações poéticas atuais.
Tanto no que concerne às operações retóricas e metodológicas que
rejeitaram o papel (no bojo dos suportes tradicionais) a partir dos anos de
1960, quanto àqueles que o instituíram como forma privilegiada de suas poéti-
cas (pensemos nas obras de Mira Schendel em papel de arroz que se transfor-
maram num pesadelo para reservas técnicas que não controlam as condições
de temperatura e umidade), o papel permanece como problema essencial
para conservadores dedicados às obras produzidas nos últimos 50 anos. Seja
porque sua configuração direta à obra adquiriu uma complexidade ímpar, ou
porque se transformou, estranhamente no mundo das novas tecnologias, num
suporte-registro que em muito ultrapassa seu caráter documental. Claro, sem
contar seu antigo uso como suporte para as diferentes formas de grava-
ção, desenho e pintura. No primeiro caso, os artistas estão continuamente
alocando o material a outros materiais. Obras onde o papel é aglutinado a
metais (como operar a prevenção da ferrugem e seu impacto sobre o papel),
a pigmentos e materiais orgânicos perecíveis (como preservar tais materiais
e compreender o impacto sobre o suporte) ou, ainda, alocado em ambientes
Conservação de Materiais em Arte e Papel: desafios da arte contemporânea
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