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Resumo
Belo Horizonte possui muitas igrejas tombadas na sua região metropolitana e muitas delas estão em
estágio avançado de degradação. É necessário um levantamento do estado geral das igrejas para que
sejam providenciados os trabalhos de restauração. Por fazerem parte do patrimônio histórico,
ensaios destrutivos ou mesmo semi-destrutivos não são indicados, pois podem danificar e
descaracterizar as construções históricas. Este trabalho tem como objetivo apresentar a aplicação da
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termografia como método não destrutivo para detectar manifestações patológicas no patrimônio.
Foi analisada a igreja de Nossa Senhora do Rosário, em Caeté/MG, Brasil e aplicada a técnica não
destrutiva da termografia passiva. As manifestações patológicas e suas prováveis causas foram
levantadas e mapeadas. A termografia se mostrou um método rápido e eficiente, pois pôde
direcionar as primeiras ações de restauração aos locais mais afetados.
1. Introdução
O Artigo 216 da Constituição Federal de 1988 conceitua Patrimônio Cultural como “os bens de
natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à
identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira”. A
Constituição estabelece ainda a parceria entre o poder público e as comunidades para a promoção e
proteção do Patrimônio Cultural Brasileiro “por meio de inventários, registros, vigilância,
tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação.“
No entanto, diante da atual situação de degradação em que se encontram algumas dessas unidades
tombadas, vê-se a necessidade de se iniciar estudos que proporcionem materiais de base para
futuros processos de restauração. Este trabalho apresenta o auxílio da Termografia no processo
inicial de levantamento de patologias nas fachadas da Capela Nossa Senhora do Rosário em Caeté. A
termografia é uma técnica não destrutiva que consiste na captação de termogramas ou imagens de
calor invisíveis ao olho humano na superfície de um objeto por meio de uma câmara termográfica. A
câmera funciona baseando-se no fenômeno da radiação térmica emitida pelos corpos limitando-se a
banda espectral de infravermelhos, captando a energia em forma de calor e a convertendo em sinal
elétrico, assim produzindo as imagens e calculando a temperatura (MENDONÇA, 2005).
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inspeção geral da fachada analisada, podendo-se alcançar significativas distâncias sem a necessidade
de instalação de estruturas temporárias, facilitando o estudo e direcionando os locais onde, de fato,
será necessário realização de ensaios in loco (BAUER, E.; CASTRO, E. K.; HILDENBERG, A.; PAVON, E.;
CROVA.; MIRAGLIA).
A Figura 01 apresenta a localização de Caeté, cidade onde foi realizado o estudo de caso, em relação
à Região Metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais e ao Brasil.
Figura 01: Localização da Capela Nossa Senhora do Rosário Fonte: Base cartográfica do IBGE modificada.
Para estudo de caso foi analisada a Capela de Nossa Senhora do Rosário em Caeté, Região
Metropolitana de Belo Horizonte. A Capela está implantada na orientação Leste-Oeste em um
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terreno elevado, situado à Rua do Bonfim, utilizado também como cemitério ainda em atividade. A
Figura 02 indica sua implantação no terreno e suas fachadas frontais e laterais, a fim de facilitar a
compreensão do objeto de estudo.
Figura 02: Situação e fachadas da Capela Nossa Senhora do Rosário. Fonte: Memorial da Arquidiocese de Belo Horizonte,
2016. 602p. il. (Inventário, 101)
Segundo Inventário do Memorial da Arquidiocese de Belo Horizonte, não se sabe ao certo a data de
sua construção, sendo estimada para o início do século XVIII. A edificação apresenta dois estilos
arquitetônicos, o Colonial e o Barroco, “A Capela possui partido arquitetônico da segunda
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modalidade das construções religiosas em Minas Gerais. Consiste em átrio com coro alto à entrada,
nave, capela-mor, corredores laterais à capela-mor, e sacristia ao fundo, transversal ao plano
longitudinal da nave e capela-mor” (Memorial da Arquidiocese de Belo Horizonte, 2016).
Figura 03: Fachada frontal da Capela Nossa Senhora do Rosário. Fonte: Autores
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Figura 04: vista da Capela Nossa Senhora do Rosário. Fonte: Autores
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Figura 05: Espectro eletromagnético,. Fonte: Marins, 2012
A literatura apresenta dois métodos para aplicação da termografia: o ativo e o passivo, Figura 06.
Enquanto o método ativo demanda uma fonte externa e artificial para aquecimento do material
analisado, o método passivo caracteriza-se pela geração de termogramas a partir do retorno vindo
do objeto após aquecimento por fonte natural (CORTIZO, 2007).
A termografia passiva tem como resultado uma perspectiva qualitativa, pois a investigação
conduzida terá como fim a análise dos indicativos de anormalidades registrados. Em contrapartida,
quando opta-se pelo processo de indução térmica, pode-se obter resultados de caráter quantitativo,
visto que há a possibilidade de controlar parâmetros laboratoriais como fluxo térmico da fonte de
calor, temperatura ambiente, etc. (MALDAGUE, 2001 apud FIGUEIREDO, 2016, p. 43).
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Figura 06: Técnica de termografia passiva e possibilidades da técnica ativa. Fonte: Cortizo, 2007
Devido, tanto ao porte do edifício quanto à sua implantação, entende-se como mais eficaz a
utilização do método passivo, uma vez que a dificuldade para aquecer a totalidade das superfícies
contrapõe o fato de suas fachadas serem atingidas diretamente por raios diretos de luz solar.
2. Metodologia
Em um primeiro momento, realizou-se uma sondagem histórica acerca da edificação, tendo sido
consideradas informações que tangenciam a datação da construção da igreja. O levantamento
contemplou documentações fornecidas por órgãos públicos vinculados à questão do patrimônio,
como Iphan, o Iepha e a Secretaria de Cultura Municipal. Outras informações foram coletadas do
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inventário feito pelo arquiteto da Arquidiocese de Belo Horizonte, Hebert Gerson Soares Júnior e por
relatos concedidos pelo pároco responsável pela igreja, Pe. Carlos Antônio da Silva. Já as
informações sobre o processo construtivo que não constavam no levantamento feita pela
Arquidiocese, foram inferidas a partir das características das construções típicas do período que se
assemelham à Capela do Rosário, juntamente com inspeções visuais feitas na visita técnica.
Posteriormente, uma visita em campo foi conduzida a fim de levantar, por meio do uso de
termografia, as condições atuais dos diversos sistemas do prédio; com maior destaque para
vedações e estruturas, devido à mais fácil acessibilidade.
Durante a visita de campo foram considerados os seguintes aspectos ambientais para compensação
de cálculo feita pelo aparelho termográfico: temperatura ambiente; umidade relativa do ar; distância
entre objeto e a câmera; e horário do início dos ensaios. Os três primeiros parâmetros são inseridos
na própria configuração do aparelho, que realiza os cálculos automaticamente. Foi utilizada a
câmera termográfica Flir T450sc, de resolução 320x240 pixels e captura da variação termal em
<30mK a 30°C, Figura 07.
Figura 07: Câmera termográfica modelo FLIR T450s². Fonte: Flir Systems.
Optou-se pela termografia das fachadas, devido à constante radiação causada pelos raios de luz solar
direta. A princípio, buscou-se estudar todas as fachadas por meio de registros termográficos e de
inspeções visuais, a fim de se obter um quadro geral das condições dos diversos sistemas. Durante o
processo, ao prospectar as regiões destoantes, analisavam-se as especificidades, entre a inspeção
visual e a termografia correspondente. Foram, então, registrados detalhes pontuais para uma maior
minúcia no gráfico de temperatura. Devido às dimensões do edifício, os registros foram feitos por
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faixas de aproximadamente 2 metros. Ao final, as fachadas foram levantadas por inteiro - com
exceção à fachada sul, por estar obstruída por túmulos.
3. Resultados e discussão
As principais manifestações identificadas pela câmera termográfica eram visíveis a olho nu. Os casos
de maior ocorrência têm, notoriamente, direta relação com a presença de umidade. Isso se deve ao
fato de o terreno onde a capela é implantada abrigar, concomitantemente, atividades de um
cemitério ainda em utilização. Para além disso, os problemas de drenagem acarretam danos à
edificação; sobretudo nas regiões de embasamento, Figura 08.
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Figura 08: Capilaridade da umidade no embasamento da capela. Fonte: Autores.
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A Figura 10 indica a presença de manchas e escorrimento de argamassas, que provavelmente foram
lavadas pelas chuvas. A foto termográfica mostra as diferenças de temperatura nesta região.
Com base nos registros da Figura 11, percebe-se que a ausência de beirais e elementos com função
similar a pingadeiras nos marcos das portas e janelas, com fim de conduzir as águas decorrentes de
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chuvas, o que facilitou o desenvolvimento das manifestações patológicas por todo o percurso da
água. Regiões com protuberâncias, tais como os grandes marcos em pedra das fachadas, geram
ambientes favoráveis para o acúmulo do fluido, onde foram observados bolores.
4. Considerações Finais
Após as análises realizadas, o estudo permitiu inferir que manifestações patológicas de maior
ocorrência nesta igreja têm relação direta com a presença de umidade. O cemitério que circunda a
edificação é uma das principais possíveis causas para tal umidade devido à constante movimentação
de terra próximo a edificação que acarretou em problemas na fundação e permite infiltração de
água por debaixo do edifício.
O principal problema encontrado, umidade, percorre vários pontos da edificação e está longe de ser
resolvido devido a sua fundação estar em contato direto com vários túmulos que são
frequentemente revolvidos.
Agradecimentos
Referências
BAUER, E.; CASTRO, E. K.; HILDENBERG, A.; PAVON, E. Critérios para a aplicação da termografia de
infravermelho passiva como técnica auxiliar ao diagnóstico de patologias em fachadas de edifícios.
Revista Politecnica (Instituto Politécnico Bahia), v. 26, p. 266–277, 2014
Belo Horizonte - Memorial da Arquidiocese de Belo Horizonte, 2016. 602p. il. (Inventário, 101)
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Brasil - Constituição da República Federativa do Brasil, 1988
CROVA, C. ; MIRAGLIA, F. In: CONVEGNO INTERNAZIONALE SCIENZA E BENI CULTURALI, 34°, 2018,
Anais, Bressanone: Arcadia Ricerche, 2018, p. 352.
FIGUEREDO, C. A. S. Avaliação de ligações em madeira em estruturas de coberturas antigas por
técnica termográfica. Tese (Pós-graduação) - Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte,
2016.
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