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A DOCUMENTAÇÃO COMO FERRAMENTA DE PRESERVAÇÃO DA

CULTURA ARTÍSTICA NO BRASIL E EM PORTUGAL: A PINTURA


ILUSIONISTA ENTRE A FORMA BARROCA E ROCOCÓ

MELLO, MAGNO M. (1); JESUS, VIVIANE O. (2); OLIVEIRA, ANDREA F. (3)

1. Universidade Federal de Minas Gerais. Departamento Filosofia e Ciências Humanas


Av. Antônio Carlos 6627. Pampulha. Belo Horizonte/MG. Cep. 31.270-901.
magnomello@gmail.com

2. Universidade Federal de Minas Gerais. Grupo de Pesquisa Perspectiva Pictorum.


Rua Dr. Silvio Cézar Leite 301/703. Salgado Filho. Aracaju/SE. Cep. 49.020-060.
arq.vivi@gmail.com

2. Universidade Federal da Bahia. Departamento Arquitetura e Urbanismo


Rua Jordão de Oliveira 513. Atalaia. Aracaju/SE. Cep. 49.037-330.
andreaoliveiraarquiteta@gmail.com

RESUMO
Esse trabalho se enquadra na linha investigativa da arquitetura, da história da arte e da
documentação inventarial, que tem como objetivo primário a catalogação sistemática e a elaboração
de um banco de dados disponibilizado via web, para auxiliar no estudo da pintura de simulação
arquitetônica do tempo barroco/rococó, entre Portugal e Brasil. Este tema tem seu ponto fulcral na
história dos métodos da representação tendo no, desenho, o principal instrumento de estudo e de
comunicação. Esta A história dos métodos de representação se apoia na literatura técnica, ou seja,
tratados de arquitetura, de geometria, de perspectiva e ainda em alguns estudos sobre óptica. Este
estudo concentra esforços em examinar a representação pictórica nos tetos das naves, sacristias ou
capelas-mores. É o momento de se criar três tipos de registro. O primeiro fotográfico e imagético; o
segundo, pertinente ao acervo bibliográfico e, por último, um registro documental. Criar um
organograma tipológico para compreender melhor o universo das diferentes pinturas: materiais,
técnicas e tipos de suporte. Para tal, os partidos pictóricos italianos e portugueses poderão ajudar a
construir um universo colonial próprio. O conteúdo dessa pesquisa será sistematizado em fichas,
após a alimentação e cadastro dessas informações em um banco de dados que é gráfico-textual,
tendo como registro – fotografias, mapas, plantas, legendas, gráficos e a descrição histórica – com a
finalidade de localizar, identificar, quantificar e especificar cada espécime. Aqui será apresentado a
investigação da pintura sergipana do tempo do barroco na cidade de Divina Pastora. Uma
preocupação com a documentação imagética, mas, ao mesmo tempo, com questões formais e
culturais da história da arte.
Palavras-chave: Quadratura, Falsa Arquitetura, Inventário, Divina Pastora/SE.

V SEMINÁRIO IBERO-AMAERICANO ARQUITETURA E DOCUMENTAÇÃO


BELO HORIZONTE – DE 24 A 26 DE Outubro de 2017
INTRODUÇÃO

No Brasil, desde a criação do antigo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional


(SPHAN), a documentação é uma forma de proteção prevista no Decreto Lei nº 25 de 30 de
novembro de 1937, que institui através do tombamento o instrumento legal para proteção
dos bens móveis e imóveis de valor excepcional e de vinculação a fotos memoráveis da
história do Brasil, além do que consta no Art. 216 da Constituição Federal de 1988 quando
em seu § 1º diz, “O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e
protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância,
tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação”.

A necessidade de proteção e conservação desses bens, não só os monumentos


arquitetônicos, mas principalmente seus acervos, bens móveis e integrados, mostrou-se
importante em pesquisas e documentação arquivística dos trabalhos realizados: por Carlos
Otto, José Valadares em pesquisas realizadas para o atual Instituto do Patrimônio Histórico
e Artístico Nacional (Iphan) das igrejas de Salvador, Germain Bazin, em destaque para as
obras de Aleijadinho e arquitetura religiosa e, outros autores que realizaram levantamentos
e transcrições documentais sobre bens móveis e integrados (IPHAN, 2000, p.02).

Nesse contexto, em 1985, através de decisão do conselho consultivo do Iphan, o efeito do


tombamento se estende aos bens móveis e integrados das edificações tombadas, devendo
anexar a todos os processos os inventários desses acervos. Como afirma Lygia Martins
Costa (IPHAN, 2000, p.34) em seu texto que conceitua bens integrados, ela destaca a
multiplicidades desses bens que se constituem de pinturas, retábulos, esculturas,
mobiliários, entre outros, diretamente relacionados à arquitetura, mas pertencentes a uma
categoria artística pela peculiaridade, exigindo uma amplitude de conhecimento e uma
multidisciplinaridade de profissionais que comuniquem, dialoguem, expliquem e
complementem os fenômenos artísticos de maneira mais abrangente.

A realidade desses inventários no Brasil tem início em 1986 quando o Iphan implanta o
Inventário Nacional de Bens Móveis e Integrados (INBMI) que teve como objetivo conhecer
e identificar de forma sistemática os acervos das edificações religiosas, civis e militares
tombadas pela instituição. O foco das ações do inventário transpôs o espaço da arquitetura
e do seu entorno. A multidisciplinaridade das espécies, materiais, técnicas e determinados
aspectos, como é o caso da pintura de forros e paredes que integram a construção, mas
que podem ser removidos, coloca a responsabilidade em técnicos da história da arte para

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explicar os fenômenos artísticos e, através do registro inventariado, promover a gestão e a
proteção desses bens.

É nesse universo que o presente estudo segue a linha investigativa da arquitetura, da


história da arte e da documentação inventarial para auxiliar a especificidade da pintura de
simulação arquitetônica do tempo barroco/rococó, entre Portugal e Brasil. Este estudo teve
seu percurso inicial em Portugal, a partir das pesquisas de doutoramento do Prof. Magno
Mello na Universidade Nova de Lisboa. Deste modo, entre 1998 e 2002 foram realizados
diversos inventários que resultaram em publicações específicas. Tais como a pintura
ilusionista das cidades de Santarém, de Évora e de Faro, publicadas em Portugal entre 2000
e 2004. A continuidade deste foco investigativo foi trazida para o Brasil e, em 2006, criou-se
o grupo de pesquisa intitulado Perspectiva Pictorum registrado em 2007 pela Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) e cadastrado na CAPES logo em seguida. Na
continuidade e para uma melhor visualização da pesquisa optou-se por realizar bienalmente
eventos internacionais de história da arte para discutir este gênero pictórico. O inventário
conta ainda com a colaboração do Grupo de Pesquisa em História da Arte (Departamento
de Arquitetura) da Università degli Studi di Firenze, para ampliar as pesquisas e contar com
novas linguagens.

O objetivo principal deste trabalho é propor uma metodologia de inventário através da


análise de dados já catalogados e a elaboração de fichas para uma base de dados,
contendo as informações necessárias, imagens, plantas e mapas sobre as pinturas em falsa
arquitetura. Pretende-se, com essa estrutura inédita, organizar todo material existente e
ampliar a busca de dados facilitando e fomentando a pesquisa sobre o tema além da
preservação e conservação desses bens.

A ideia é que o inventário seja realizado paralelo à gestão desses bens, no que concerne à
conservação e preservação e não apenas no registro das informações. Prevê-se que o
conhecimento das técnicas de representação através da literatura fundamente a realização
de trabalhos de restauração e de preservação com bases conceituais e tecnológicas
apropriadas.

Este projeto está sendo desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa Perspectiva Pictorum e
concentra esforços em examinar a representação pictórica nos tetos das naves, sacristias
ou capelas-mores e, de forma sistemática, catalogar em fichas de inventário especificas os
dados disponibilizados via web com a finalidade de reunir, disponibilizar e compartilhar o
acervo com a comunidade científica.

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1 INVENTÁRIO COMO FERRAMENTA DE PRESERVAÇÃO

Entende-se por inventário um processo exaustivo e sistemático de pesquisa para


levantamento de informações sobre um determinado objeto, num delimitado recorte
espacial, que dependerá da área onde se encontra o bem cultural que, para a pesquisa em
curso, detentora da pintura em falsa arquitetura. Nesse sentido, esse procedimento
investigativo também tem a finalidade de identificar e tornar conhecido, de forma acurada,
os resultados das pesquisas.

O método de inventário compreende a ficha de inventário, elaborada de acordo com o bem


integrado e que, no caso específico deste projeto, são as pinturas dos tetos no tempo do
barroco/rococó entre Brasil e Portugal podendo registrar desde a fotografia, dados técnicos,
identificação, informações relativas aos histórico, a iconografia da pintura, as características
estilísticas e ornamentais da pintura e da estrutura do suporte, estado de conservação e,
principalmente, os métodos de representação, tendo no desenho o instrumento, apoiados na
literatura técnica dos tratados de arquitetura, da geometria, da perspectiva e óptica.

O estudo das técnicas perspécticas usadas pelos quadraturistas se baseia na análise dos
aparatos decorativos que vários artistas deixaram. Um grave problema que o Brasil tem
enfrentado é a falta do entendimento dos métodos e modelos do desenho e da restituição
pictórica para a preservação, conservação e restauração da pintura e seu suporte.

Um dos aspectos mais significativos desta investigação, envolvendo todas as considerações


para uma real análise da construção perspéctica e para o entendimento deste processo
usado pelo artista, diz respeito à importância do levantamento em verdadeira grandeza do
desenho e da pintura sobre a superfície curva. Para uma correta análise da técnica do
desenho e da restituição pictórica, temos de dispor de reprodução em escala de cada
superfície que desejamos estudar.

É evidente que sem o acurado levantamento1 do ambiente acompanhado de uma restituição


da superfície pintada, baseados em modelos italianos, cada tentativa de estudar as regras
perspécticas e a construção arquitetônica virtual resultará de privados fundamentos
científicos. As condições de levantamento constituem uma base de conhecimentos
fundamentais para o exercício da atividade crítica e interpretativa das expressões artísticas

1 O levantamento terá como opção, as instruções contidas no Caderno Técnico, Volume 7, elaborado pelo
Programa Monumenta / Iphan: “A documentação como ferramenta de preservação da memória: cadastro,
fotografia, fotogrametria e arqueologia” do autor Mário Mendonça de Oliveira.
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do movimento quadraturista, que formarão as bases para eventuais intervenções de
conservação e preservação.

Neste contexto, o inventário reunirá informações para dar suporte às pesquisas sobre o
estudo das regras perspécticas e a construção do espaço arquitetural, utilizando-se de
fundamentos científicos e de conhecimentos essenciais para o exercício da atividade crítica
e interpretativa das expressões artísticas do movimento da quadratura.

1.1 Acervo Inicial

Diante da inexistência dos registros gráficos, objeto em questão que é representado pelas
pinturas de tetos em falsa arquitetura, o inventário transformou-se numa primeira base de
dados intitulada, A arquitetura do engano: pintura de falsa arquitetura barroca em Portugal e
no Brasil. Em 2013, onde foram cadastrados 520 (quinhentas e vinte) pinturas/obras e cerca
de 140 (cento e quarenta) autores entre Brasil e Portugal.

Analisando as fichas preenchidas de cada obra, que se tratava de acervos de fotos,


informações de artigos, teses e dissertações das pinturas em questão, verificou-se a
necessidade de ajustar a denominação de alguns campos para permitir sua vinculação a um
vocabulário controlado, melhorar a visibilidade para a leitura da informação, ampliar a
estrutura para a inserção de novos dados e principalmente a definição de uma metodologia
para preenchimento da ficha de inventário e análise gráfica e textual dos tetos pintados.

Esse acervo subsidiou a reformulação do banco de dados possibilitando a continuidade, de


forma mais estruturada, visando incluir os demais acervos do país e ultrapassar fronteiras. A
intenção da pesquisa sobre falsa arquitetura realizada pelo grupo de pesquisa Perspectiva
Pictorum é resgatar o universo dos tratados da pintura, desde a Europa até a América
Portuguesa, reconhecendo e difundindo o conhecimento perspéctico.

Neste contexto (Tabela 01), o banco de dados inicialmente formulado, continha as


informações necessárias para a catalogação de diversos dados para embasar pesquisas,
mas não um instrumento de gestão dos bens integrados e, principalmente, do estudo das
representações perspécticas baseados e conceituados através da literatura dos tratados da
arquitetura e pintura.

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CLASSE SUB-CLASSE
Nome Cidade Bairro Confirmar CPF
CADASTRO DE
E-mail UF Telefone Instituição
USUÁRIO
Confirmar e-mail Endereço CPF Dados para login:
CEP usuário / senha
LOGIN Nome do Usuário
ADMINISTRADOR Senha
Nome do Usuário
LOGIN USUÁRIO
Senha
Autor Fonte documental Período de atuação Local do óbito
INSERIR AUTORES
Data de Nascimento Fonte bibliográfica Local de nascimento Atuação
Data do óbito Nota crítica Local de atuação
Título Distrito Iconografia Bibliografia
Autor Edifício Restauro Localização
Atribuição Dimensão Restauro autoria Técnica
INSERIR OBRAS Atribuído por Suporte Restauro data Tipologia / Estilo
País Material Tombamento Nota crítica
Província / Estado Cronologia Instituição Imagem
Conselho / Município Proveniência DT tombamento
Freguesia Legenda Fonte documental
Por autor Por cronologia Por município
MODO BUSCA
Por bibliografia Por iconografia Por nota crítica
Título Distrito Restauro Bibliografia
Autor Edifício Restauro autoria Localização
Atribuição Dimensão Restauro data Técnica
VISUALIZAR OBRAS Atribuído por Suporte Tombamento Tipologia / Estilo
País Material Instituição Nota crítica
Província / Estado Cronologia DT tombamento Imagem
Conselho / Município Proveniência Fonte documental
Freguesia Legenda
Iconografia
Autor Data do óbito Nota crítica Local de atuação
VISUALIZAR AUTOR Data de Nascimento Fonte documental Período de atuação Local do óbito
Fonte bibliográfica Local de nascimento Atuação
Tabela 01: Componente banco de dados.
Fonte: Elaborado pela equipe do projeto, 2017.

Assim, esta base de dados é apresentada no formato de um catálogo. A elaboração de uma


nova proposta metodológica para tal inventário tem, necessariamente, como ponto de
partida, as informações coletadas previamente e o método de cadastro de autores. As
informações sobre as obras serão complementadas com o propósito de adequar o processo
metodológico à luz da teoria desenvolvida sobre os tratados da arquitetura e da pintura
sobre os processos de reprodução da pintura em falsa arquitetura.

1.2 Sistematização dos dados

A base de estudo para o inventário é a identificação com os principais dados referentes de


cada pintura pesquisada. É o momento de se criar três tipos de registro: o primeiro
fotográfico e imagético; o segundo, pertinente ao acervo bibliográfico e, por último, um
registro documental. Como um segundo estágio do processo metodológico, é basilar iniciar
os trabalhos a partir do método analítico. A partir deste processo poder-se-á melhor situar o
núcleo pictórico em questão, para futuramente investigar a cultura artística regional entre o
século XVIII e XIX.

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Com todos estes registros, o trabalho de gabinete se torna mais apurado e teremos um
mapeamento de toda a região do país, podendo paralelamente formar núcleos comparativos
e abrir novas frentes para a continuidade das investigações em outros países. Um terceiro
momento do caminho metodológico diz respeito à identificação dos modelos interpretativos
da pintura em diversos tipos de suportes. Neste momento, outra necessidade se faz sentir.
Criar um organograma tipológico para compreender melhor o universo das diferentes
pinturas, ou seja, os materiais, as técnicas e os tipos de suporte que receberam as ditas
representações. Para tal, os partidos pictóricos italianos e portugueses poderão ajudar a
construir um universo colonial próprio. Esta identificação poderá ajudar a conseguir
informações técnicas e interpretativas do período barroco-rococó.

Outro aspecto nesta investigação diz respeito ao universo teórico-cultural, ou seja, as


questões referentes à tratadística do período barroco. Os escritos sobre perspectiva
aparecem inicialmente como capítulos separados, dentro de tratados sobre a arquitetura. O
conteúdo dessa pesquisa será sistematizado em fichas, após a alimentação e cadastro
dessas informações em um banco de dados gráfico e textual, que terá como registro –
fotografias, mapas, plantas, legendas, gráficos e a descrição histórica – com a finalidade de
localizar, identificar, quantificar e especificar.

Constam nas fichas, além da fotografia, dados técnicos de identificação, plantas dos
monumentos, mapas e informações relativas ao histórico, à iconografia, às características
estilísticas e ornamentais e ao estado de conservação de cada teto. Será definido um
vocabulário controlado destinado à classificação e definição dos pormenores inventariados
especificamente em cada pintura de falsa arquitetura. A descrição e identificação dos tetos é
feita a partir de consulta bibliográfica de diferentes autores.

No que diz respeito aos textos teóricos é fundamental um olhar minucioso no tratado de
perspectiva do jesuíta ANDREA POZZO (1642-1709), como também na tratadística anterior
com os franceses MILIETT DECHALES (1621-1678) e JEAN DUBREUIL (1602-1670),
ambos ligados a Companhia de Jesus e teóricos da perspectiva. É a tentativa de conciliar a
prática com a teoria.

A metodologia aqui apresentada contribui para que se alcancem os objetivos deste trabalho:

1. Mapeamento das regiões / localidades onde existem os tetos com pintura em falsa
arquitetura;

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2. Planejamento das ações e varredura preliminar por meio de visitas, definição da
equipe multidisciplinar, levantamento fotográfico inicial e reconhecimento da área e
do monumento;

3. Sistematização das fontes e documentos disponíveis sobre autores e a cultura


artística referente ao bem em estudo;

4. Realização do inventário com o preenchimento de fichas (Figuras 01, 02 e 03);

5. Interlocução da equipe multidisciplinar para fortalecimento do padrão de conduta


intelectual;

6. Alimentação do banco de dados;

7. Criação de uma biblioteca digital, disponibilizada via web, que facilitará a


comparação entre diferentes regiões, além de oferecer subsídios para ampliação da
pesquisa na área.

Os itens distribuídos nas fichas estão organizados em 03 (três) partes que irão compor a
base de dados. Essa modelagem facilita a visualização e permite a clara distribuição dos
campos necessários para a inserção das informações: a primeira parte consta das
informações do monumento, da imagem, do acervo bibliográfico e documental; a segunda
parte descreve o processo metodológico e analítico para situar o núcleo pictórico e a cultura
artística; a terceira parte identifica os modelos interpretativos das pinturas e tipos de
suportes além da investigação teórico-cultural referente à tratadística do período barroco.

Dicionário de Dados e Roteiro de Preenchimento:

LOCALIZAÇÃO Descrição
Informar o país onde se encontra o edifício e conforme a
País / Província / Estado
localidade indicar a província ou estado.
Conselho / Município Informar o nome do conselho ou município.
Informar o endereço completo do edifício onde se encontra a
Endereço
pintura.
Informar o nome completo do proprietário do objeto ou do
Proprietário
edifício onde se encontra o bem.
Nome completo e endereço do responsável pela guarda do
Responsável / Endereço
bem.
Acervo Denominação do monumento que abriga a pintura.
Localização precisa do bem integrado em relação aos
Local no edifício
ambientes internos do edifício.
Indicar na planta baixa do edifício a localização da pintura em
Planta Baixa edifício
seu espaço interno.
Mapa Localizar a edificação na cidade (georreferenciada)

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IDENTIFICAÇÃO DA OBRA Descrição
Objeto Termo pelo qual o bem é identificado.
Preencher com o nome consagrado da pintura ou nome da
Título
descrição da imagem pintada.
Época Indicar ano ou século da pintura.
Informar o nome do autor e / ou o nome do pesquisador que
Autor / Atribuição
atribuiu a um pintor uma obra de autoria não documentada.
Material / Técnica Informar os principais materiais do suporte e técnicas da pintura.
Suporte Nome da estrutura predial onde a pintura foi realizada.
Transcrever quaisquer marcas, inscrições, desenhos e textos
Legenda / Marcas / Inscrições
inseridos na própria pintura.
Informar altura, comprimento, largura, profundidade, diâmetro e
Dimensões
circunferência, escritos em cm (centímetros).
Proteção Legal Informar o nível de tombamento e a situação legal.
Condições de Segurança Indicar a condição de segurança do suporte.
Estado de Conservação Indicar o estado de conservação da pintura.
Documentação Fotográfica Informações referente a imagem e operador.
Descrever a pintura inventariada, partindo do geral para o
Descrição
particular.
Imagem Inserir imagem da pintura.
ANÁLISE HISTÓRICO-ARTÍSTICA Descrição
Especificação do estado de Fazer o diagnóstico do estado de conservação da pintura.
conservação
Restaurações / Restauradores / Data Indicar se a pintura e suporte foi objeto de alguma
intervenção, quem fez e quando.
Informar os materiais e os processos técnicos usados na
Características técnicas
pintura e suporte.
Características estilísticas Informar as características estilísticas da pintura.
Características iconográficas / Destacar os elementos iconográficos que justifiquem o tema
ornamentais representado na pintura.
Transcrever trechos de documentos referentes a datação e
Dados históricos
atribuição da pintura.
Referências Bibliográficas / Informar as referências bibliográficas e arquivísticas de
Arquivísticas acordo com as normas da ABNT.
Espaço reservado para anotações como complementação
Nota Crítica
das informações.
PROCESSO METODOLÓGICO Descrição
Método analítico para investigar o Informar o método para situar o núcleo pictórico e a
núcleo pictórico investigação da cultura artística.
INVESTIGAÇÃO TEÓRICO - Descrição
CULTURAL
Identificação dos modelos Representar os modelos e os diversos tipos de suporte.
interpretativos
Informar a base teórico-cultural referente a tratadística do
Investigação tratadística
período barroco.
RESPONSÁVEIS Descrição
Preenchimento técnico Informar nome completo, atribuição no projeto e data.
Revisão técnica Informar nome completo, atribuição no projeto e data.
Execução do inventário Informar nome completo, atribuição no projeto e data.

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2 CONSTRUINDO O OBJETO DE PESQUISA: A IGREJA NOSSA
SENHORA DIVINA PASTORA

Nessa nova proposta, ainda em fase experimental, será privilegiada a investigação das
pinturas sergipanas, entre os séculos XVII e XVIII, inicialmente na cidade de Divina Pastora,
na Igreja Nossa Senhora Divina Pastora e, em seguida, ampliaremos para as cidades de
São Cristóvão e Nossa Senhora do Socorro, regiões que se encontra um considerável
complexo arquitetônico e artístico, com destaque às pinturas de falsa arquitetura do período
colonial, reconhecidas como patrimônio nacional.

É importante destacar que as pesquisas social, cultural e estética voltadas à análise da


história da arte, da arquitetura e das práticas artísticas, com ênfase nas pinturas de teto no
estado de Sergipe, implicam em problemas gerais para a investigação científica nesta área
especifica, já que os estudos históricos e artísticos são restritos para alguns pesquisadores
e instituições acadêmicas no país.

Maria Thetis Nunes, em seus livros Sergipe Colonial I e II, relata as manifestações
historiográficas e artísticas do estado de Sergipe, conceituando as características
arquitetônicas e influências de teor artístico na formação das edificações, do contexto
urbano e a relação social. Ainda de acordo com Nunes (2006), em Sergipe são raros os
remanescentes artísticos do século XVII, pois somente no decorrer do século XVIII podemos
destacar os monumentos religiosos, os quais apresentam em suas fachadas remanescentes
do Renascimento e nos espaços internos a linguagem do Barroco.

É na passagem do século XVII para o XVIII que são construídos em Sergipe os primeiros
edifícios religiosos, seguindo as ideias do barroco e das ordens religiosas que
desempenharam papel fundamental nessas construções e na formação cultural. Destaque
para a presença efetiva dos jesuítas e de outras ordens que se fizeram presentes como os
franciscanos, carmelitas, beneditinos e dominicanos, contribuindo tanto na catequização
como nas construções, definindo o traçado urbano e, ainda, trazendo a linguagem dos
tratados na arquitetura e pintura (HOORNAERT, 1994 apud LIMA, 1997). Além de inúmeras
doações financeiras, a indústria do açúcar também possibilitou, em grande escala, a
construção de raros exemplares da arquitetura religiosa e civil, tanto no período colonial,
como no provincial (NUNES, 2006). A produção se destaca pela habilidade, técnica e
diversidade dos elementos arquitetônicos e estilísticos, tornando-os singulares de
reconhecimento como patrimônio artístico e nacional.

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Para dar suporte ao objeto desta pesquisa, foi necessária uma investigação pormenorizada
em textos e artigos científicos, além de pesquisa de campo no monumento incialmente
escolhido, possui originalidade tipológica caracterizada por ter ao longo da nave, um
corredor aberto por cinco arcadas. Além da linguagem dos elementos decorativos e
integrados da arquitetura como seu frontispício que assinala o inconfundível estilo jesuítico
do nordeste, destacam-se quatro forros considerados como a maior pintura ilusionista de
Sergipe, localizados no nártex, nave, capela mor e sacristia. Tombada pelo Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) – Inscrita nos Livros Histórico e de Belas
Artes, Processo nº 290, março de 1943.

A Igreja Matriz Nossa Senhora Divina Pastora é uma construção jesuítica em estilo Barroco
do século XVIII e os aspectos apresentados por ela são fundamentais para a compreensão
das artes no Brasil colonial durante o século XVIII e parte do XIX, que é subdividido em área
litorânea e cultura mineira. Na primeira, os jesuítas circulam com modelos simples e
complexos, a representação perspéctica, o saber cristão na arte e na ciência com domínio
das regras matemáticas e geométricas. Destaque para o perímetro do Brasil Colonial, onde
o foco é da pintura de perspectiva arquitetônica da cidade de Salvador, considerada como
principal por ter sido receptora e geradora de uma nova matriz portuguesa, espalhando esta
arte por todo litoral brasileiro. Assim, como é destacado por Mello, “como a máxima
repercussão, vê-se a decoração do teto da nave da Igreja de Nossa Senhora da Divina
Pastora em Sergipe, da autoria de José Teófilo de Jesus” (2015, p. 156). Por outro lado, em
Minas Gerais, conhecido como pequenos núcleos de grande quadro da pintura colonial
foram caracterizados pelo “esvaiamento das pesadas quadraturas e instituindo uma maior
ligeireza na elevação das suas arquiteturas pintadas, quase numa total desintegração delas”
(MELLO, 2016, p. 167).

Desse modo, para efeitos metodológicos, as fichas de inventário (Figuras 01, 02 e 03) serão
os documentos que representarão os resultados dessa pesquisa. Ainda um instrumento em
construção, pois o processo é experimental, as fichas são flexíveis e a aplicação é
fundamental para o desenvolvimento do inventário, que tem com premissa a construção de
uma rede de investigação para a construção de um instrumento metodológico, de modo que
possa ser aplicado em outras regiões do país que também sejam detentoras de semelhante
bem integrado.

Nas figuras abaixo, pode-se ter uma compreensão geral do que serão as fichas de
inventário e que, posteriormente, farão parte de sistema de banco de dados.

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Figura 01: Ficha de Inventário 01/03.
Fonte: Elaborada pela equipe do projeto, 2017.
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Figura 02: Ficha de Inventário 02/03.
Fonte: Elaborada pela equipe do projeto, 2017.
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Figura 03: Ficha de Inventário 03/03.
Fonte: Elaborada pela equipe do projeto, 2017.
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3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme explicitado anteriormente, este estudo se preocupa com a decoração de tetos em


perspectiva e, dessa forma, toma como ponto fundamental as análises artístico-culturais,
suas projeções de espaço finito e infinito e o uso constante e absoluto do quadro
recolocado. Destaca, ainda, a importância de entender os métodos de representação,
incluindo o do gráfico codificado e aplicado no campo artístico para o entendimento dos
tetos pintados, permitindo reviver o comportamento do artista em relação à construção
quadraturista que propõe.

Compreendemos a importância de resgatar o interesse e a relação dos aportes teóricos e


científicos através das reflexões sociais, culturais e estéticas, de modo que, esta pesquisa
possibilitará a compreensão da produção das pinturas de perspectiva com ênfase nos tetos
de templos religiosos através da biografia de Pozzo com ênfase no seu tratado e na sua
circulação no Brasil, abordando, assim, os aspectos técnicos dos elementos decorativos e
estruturais da arquitetura pintada.

Apesar da complexibilidade da pesquisa, verifica-se a necessidade da realização deste


inventário como etapa preliminar para reconstrução do banco de dados, outrora iniciado e
rico em informações, porém, carece de pormenorizado entendimento das regras
perspécticas representadas nas decorações e pinturas dos tetos e paredes. Ao mesmo
tempo, entende que esse procedimento metodológico e a disponibilização desses dados
estabelece e amplia a possibilidade e a necessidade de cooperação entre os responsáveis
pelo inventário e os especialistas das áreas de conhecimento relevante.

Diante disso, surge a construção da base de dados Pictorum na web. Pictorum é uma
coleção de fichas com informações sobre as pinturas em falsa arquitetura. O banco de
dados, em fase de desenvolvimento, seguirá diretrizes sobre catalogação de forma que os
registros armazenados possam ser fontes possíveis de recuperação e compartilhamento.

Assim, na internet, é possível a colaboração de conteúdos por usuários cadastrados,


profissionais interessados para inserção de novas informações da literatura técnica, ou seja,
tratados de arquitetura, de geometria, de perspectiva e dos estudos sobre óptica, facilitando
o compartilhamento através das redes para a comunidade científica.

Assim, espera-se que o inventário, que é um importante instrumento para a precisão na


identificação dos bens e a sistematização das informações sobre história, técnica, tratados
de pintura e arquitetura e representações das pinturas em falsa arquitetura que são de

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interesse histórico e cultural, seja de fácil leitura e traga o entendimento e conhecimento aos
profissionais envolvidos para a preservação e gestão desses acervos. Esse será o grande
desafio da arquitetura e da história da arte para a preservação.

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5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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educação, da cultura e do desporto. Disponível em:
http://www.cultura.gov.br/documents/10907/963783/Constitui%C3%A7%C3%A3o+Federal+
da+Cultura.pdf/9185e6c0-1cca-4ccd-a109-89f116ae2c9d. Acesso em 18 out. 2017.

BRASIL. Decreto-lei n. º 25, de 30 de novembro de 1937. Organiza a proteção do patrimônio


histórico e artístico nacional. Disponível em:
http://portal.iphan.gov.br/uploads/legislacao/Decreto_no_25_de_30_de_novembro_de_1937.
pdf. Acesso em: 18 out. 2017.

HOORNAERT, Eduardo. A igreja no Brasil – Colônia: 1550 – 1800. 3.ed. São Paulo:
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IPHAN. Manual de preenchimento da ficha do Inventário nacional de bens móveis e


integrados. Brasília: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional / Departamento de
Identificação e Documentação, 2000.

LIMA, Carmem Barreto. Divina Pastora, Sergipe: uma alternativa de intervenção. Salvador,
1997 (Dissertação de Mestrado em Arquitetura e Urbanismo / UFBA).

MELLO, Magno Moraes. O Ciclo de Ouro do Quadraturismo entre Portugal e Brasil: o


desafio da perspectiva – a percepção pictórica na Arte Barroca, In Cultura Artística e
Conservação de Acervos Coloniais. (Org. Sabrina Mara Sant’Anna, Luiz Alberto Ribeiro
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MELLO, Magno Moraes. Os tetos pintados: uma moda decorativa através dos tempos, In
Tetos do Brasil: origem, história e arte. (Org. Renata Lima). Grupo Bradesco Seguro,
Editora Babel, 2016, p. 113-185.

NUNES, Maria Thetis. Sergipe Colonial I. 2.ed. São Cristovão: Editora UFS; Aracaju:
Fundação Oviêdo Teixeira, 2006.

NUNES, Maria Thetis. Sergipe Colonial II. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1996.

OLIVEIRA, Mário Mendonça de. A documentação como ferramenta de preservação e da


memória. Brasília: Iphan/Programa Monumenta, 2008).

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