Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO
Esse trabalho se enquadra na linha investigativa da arquitetura, da história da arte e da
documentação inventarial, que tem como objetivo primário a catalogação sistemática e a elaboração
de um banco de dados disponibilizado via web, para auxiliar no estudo da pintura de simulação
arquitetônica do tempo barroco/rococó, entre Portugal e Brasil. Este tema tem seu ponto fulcral na
história dos métodos da representação tendo no, desenho, o principal instrumento de estudo e de
comunicação. Esta A história dos métodos de representação se apoia na literatura técnica, ou seja,
tratados de arquitetura, de geometria, de perspectiva e ainda em alguns estudos sobre óptica. Este
estudo concentra esforços em examinar a representação pictórica nos tetos das naves, sacristias ou
capelas-mores. É o momento de se criar três tipos de registro. O primeiro fotográfico e imagético; o
segundo, pertinente ao acervo bibliográfico e, por último, um registro documental. Criar um
organograma tipológico para compreender melhor o universo das diferentes pinturas: materiais,
técnicas e tipos de suporte. Para tal, os partidos pictóricos italianos e portugueses poderão ajudar a
construir um universo colonial próprio. O conteúdo dessa pesquisa será sistematizado em fichas,
após a alimentação e cadastro dessas informações em um banco de dados que é gráfico-textual,
tendo como registro – fotografias, mapas, plantas, legendas, gráficos e a descrição histórica – com a
finalidade de localizar, identificar, quantificar e especificar cada espécime. Aqui será apresentado a
investigação da pintura sergipana do tempo do barroco na cidade de Divina Pastora. Uma
preocupação com a documentação imagética, mas, ao mesmo tempo, com questões formais e
culturais da história da arte.
Palavras-chave: Quadratura, Falsa Arquitetura, Inventário, Divina Pastora/SE.
A realidade desses inventários no Brasil tem início em 1986 quando o Iphan implanta o
Inventário Nacional de Bens Móveis e Integrados (INBMI) que teve como objetivo conhecer
e identificar de forma sistemática os acervos das edificações religiosas, civis e militares
tombadas pela instituição. O foco das ações do inventário transpôs o espaço da arquitetura
e do seu entorno. A multidisciplinaridade das espécies, materiais, técnicas e determinados
aspectos, como é o caso da pintura de forros e paredes que integram a construção, mas
que podem ser removidos, coloca a responsabilidade em técnicos da história da arte para
A ideia é que o inventário seja realizado paralelo à gestão desses bens, no que concerne à
conservação e preservação e não apenas no registro das informações. Prevê-se que o
conhecimento das técnicas de representação através da literatura fundamente a realização
de trabalhos de restauração e de preservação com bases conceituais e tecnológicas
apropriadas.
Este projeto está sendo desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa Perspectiva Pictorum e
concentra esforços em examinar a representação pictórica nos tetos das naves, sacristias
ou capelas-mores e, de forma sistemática, catalogar em fichas de inventário especificas os
dados disponibilizados via web com a finalidade de reunir, disponibilizar e compartilhar o
acervo com a comunidade científica.
O estudo das técnicas perspécticas usadas pelos quadraturistas se baseia na análise dos
aparatos decorativos que vários artistas deixaram. Um grave problema que o Brasil tem
enfrentado é a falta do entendimento dos métodos e modelos do desenho e da restituição
pictórica para a preservação, conservação e restauração da pintura e seu suporte.
1 O levantamento terá como opção, as instruções contidas no Caderno Técnico, Volume 7, elaborado pelo
Programa Monumenta / Iphan: “A documentação como ferramenta de preservação da memória: cadastro,
fotografia, fotogrametria e arqueologia” do autor Mário Mendonça de Oliveira.
V SEMINÁRIO IBERO-AMAERICANO ARQUITETURA E DOCUMENTAÇÃO
BELO HORIZONTE – DE 24 A 26 DE Outubro de 2017
do movimento quadraturista, que formarão as bases para eventuais intervenções de
conservação e preservação.
Neste contexto, o inventário reunirá informações para dar suporte às pesquisas sobre o
estudo das regras perspécticas e a construção do espaço arquitetural, utilizando-se de
fundamentos científicos e de conhecimentos essenciais para o exercício da atividade crítica
e interpretativa das expressões artísticas do movimento da quadratura.
Diante da inexistência dos registros gráficos, objeto em questão que é representado pelas
pinturas de tetos em falsa arquitetura, o inventário transformou-se numa primeira base de
dados intitulada, A arquitetura do engano: pintura de falsa arquitetura barroca em Portugal e
no Brasil. Em 2013, onde foram cadastrados 520 (quinhentas e vinte) pinturas/obras e cerca
de 140 (cento e quarenta) autores entre Brasil e Portugal.
Constam nas fichas, além da fotografia, dados técnicos de identificação, plantas dos
monumentos, mapas e informações relativas ao histórico, à iconografia, às características
estilísticas e ornamentais e ao estado de conservação de cada teto. Será definido um
vocabulário controlado destinado à classificação e definição dos pormenores inventariados
especificamente em cada pintura de falsa arquitetura. A descrição e identificação dos tetos é
feita a partir de consulta bibliográfica de diferentes autores.
No que diz respeito aos textos teóricos é fundamental um olhar minucioso no tratado de
perspectiva do jesuíta ANDREA POZZO (1642-1709), como também na tratadística anterior
com os franceses MILIETT DECHALES (1621-1678) e JEAN DUBREUIL (1602-1670),
ambos ligados a Companhia de Jesus e teóricos da perspectiva. É a tentativa de conciliar a
prática com a teoria.
A metodologia aqui apresentada contribui para que se alcancem os objetivos deste trabalho:
1. Mapeamento das regiões / localidades onde existem os tetos com pintura em falsa
arquitetura;
Os itens distribuídos nas fichas estão organizados em 03 (três) partes que irão compor a
base de dados. Essa modelagem facilita a visualização e permite a clara distribuição dos
campos necessários para a inserção das informações: a primeira parte consta das
informações do monumento, da imagem, do acervo bibliográfico e documental; a segunda
parte descreve o processo metodológico e analítico para situar o núcleo pictórico e a cultura
artística; a terceira parte identifica os modelos interpretativos das pinturas e tipos de
suportes além da investigação teórico-cultural referente à tratadística do período barroco.
LOCALIZAÇÃO Descrição
Informar o país onde se encontra o edifício e conforme a
País / Província / Estado
localidade indicar a província ou estado.
Conselho / Município Informar o nome do conselho ou município.
Informar o endereço completo do edifício onde se encontra a
Endereço
pintura.
Informar o nome completo do proprietário do objeto ou do
Proprietário
edifício onde se encontra o bem.
Nome completo e endereço do responsável pela guarda do
Responsável / Endereço
bem.
Acervo Denominação do monumento que abriga a pintura.
Localização precisa do bem integrado em relação aos
Local no edifício
ambientes internos do edifício.
Indicar na planta baixa do edifício a localização da pintura em
Planta Baixa edifício
seu espaço interno.
Mapa Localizar a edificação na cidade (georreferenciada)
Nessa nova proposta, ainda em fase experimental, será privilegiada a investigação das
pinturas sergipanas, entre os séculos XVII e XVIII, inicialmente na cidade de Divina Pastora,
na Igreja Nossa Senhora Divina Pastora e, em seguida, ampliaremos para as cidades de
São Cristóvão e Nossa Senhora do Socorro, regiões que se encontra um considerável
complexo arquitetônico e artístico, com destaque às pinturas de falsa arquitetura do período
colonial, reconhecidas como patrimônio nacional.
Maria Thetis Nunes, em seus livros Sergipe Colonial I e II, relata as manifestações
historiográficas e artísticas do estado de Sergipe, conceituando as características
arquitetônicas e influências de teor artístico na formação das edificações, do contexto
urbano e a relação social. Ainda de acordo com Nunes (2006), em Sergipe são raros os
remanescentes artísticos do século XVII, pois somente no decorrer do século XVIII podemos
destacar os monumentos religiosos, os quais apresentam em suas fachadas remanescentes
do Renascimento e nos espaços internos a linguagem do Barroco.
É na passagem do século XVII para o XVIII que são construídos em Sergipe os primeiros
edifícios religiosos, seguindo as ideias do barroco e das ordens religiosas que
desempenharam papel fundamental nessas construções e na formação cultural. Destaque
para a presença efetiva dos jesuítas e de outras ordens que se fizeram presentes como os
franciscanos, carmelitas, beneditinos e dominicanos, contribuindo tanto na catequização
como nas construções, definindo o traçado urbano e, ainda, trazendo a linguagem dos
tratados na arquitetura e pintura (HOORNAERT, 1994 apud LIMA, 1997). Além de inúmeras
doações financeiras, a indústria do açúcar também possibilitou, em grande escala, a
construção de raros exemplares da arquitetura religiosa e civil, tanto no período colonial,
como no provincial (NUNES, 2006). A produção se destaca pela habilidade, técnica e
diversidade dos elementos arquitetônicos e estilísticos, tornando-os singulares de
reconhecimento como patrimônio artístico e nacional.
A Igreja Matriz Nossa Senhora Divina Pastora é uma construção jesuítica em estilo Barroco
do século XVIII e os aspectos apresentados por ela são fundamentais para a compreensão
das artes no Brasil colonial durante o século XVIII e parte do XIX, que é subdividido em área
litorânea e cultura mineira. Na primeira, os jesuítas circulam com modelos simples e
complexos, a representação perspéctica, o saber cristão na arte e na ciência com domínio
das regras matemáticas e geométricas. Destaque para o perímetro do Brasil Colonial, onde
o foco é da pintura de perspectiva arquitetônica da cidade de Salvador, considerada como
principal por ter sido receptora e geradora de uma nova matriz portuguesa, espalhando esta
arte por todo litoral brasileiro. Assim, como é destacado por Mello, “como a máxima
repercussão, vê-se a decoração do teto da nave da Igreja de Nossa Senhora da Divina
Pastora em Sergipe, da autoria de José Teófilo de Jesus” (2015, p. 156). Por outro lado, em
Minas Gerais, conhecido como pequenos núcleos de grande quadro da pintura colonial
foram caracterizados pelo “esvaiamento das pesadas quadraturas e instituindo uma maior
ligeireza na elevação das suas arquiteturas pintadas, quase numa total desintegração delas”
(MELLO, 2016, p. 167).
Desse modo, para efeitos metodológicos, as fichas de inventário (Figuras 01, 02 e 03) serão
os documentos que representarão os resultados dessa pesquisa. Ainda um instrumento em
construção, pois o processo é experimental, as fichas são flexíveis e a aplicação é
fundamental para o desenvolvimento do inventário, que tem com premissa a construção de
uma rede de investigação para a construção de um instrumento metodológico, de modo que
possa ser aplicado em outras regiões do país que também sejam detentoras de semelhante
bem integrado.
Nas figuras abaixo, pode-se ter uma compreensão geral do que serão as fichas de
inventário e que, posteriormente, farão parte de sistema de banco de dados.
Diante disso, surge a construção da base de dados Pictorum na web. Pictorum é uma
coleção de fichas com informações sobre as pinturas em falsa arquitetura. O banco de
dados, em fase de desenvolvimento, seguirá diretrizes sobre catalogação de forma que os
registros armazenados possam ser fontes possíveis de recuperação e compartilhamento.
HOORNAERT, Eduardo. A igreja no Brasil – Colônia: 1550 – 1800. 3.ed. São Paulo:
Brasiliense, 1994.
LIMA, Carmem Barreto. Divina Pastora, Sergipe: uma alternativa de intervenção. Salvador,
1997 (Dissertação de Mestrado em Arquitetura e Urbanismo / UFBA).
MELLO, Magno Moraes. Os tetos pintados: uma moda decorativa através dos tempos, In
Tetos do Brasil: origem, história e arte. (Org. Renata Lima). Grupo Bradesco Seguro,
Editora Babel, 2016, p. 113-185.
NUNES, Maria Thetis. Sergipe Colonial I. 2.ed. São Cristovão: Editora UFS; Aracaju:
Fundação Oviêdo Teixeira, 2006.
NUNES, Maria Thetis. Sergipe Colonial II. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1996.