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PROJETO INTEGRADOR: UM RELATO DOS DESAFIOS E RESULTADOS DE


EXECUÇÃO NA ENGENHARIA DE CONTROLE E AUTOMAÇÃO NO INSTITUTO
FEDERAL CATARINENSE – CAMPUS LUZERNA

Conference Paper · September 2016

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4 authors, including:

Antonio Ribas Neto Marcos Fiorin


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Catarinense (IFC) Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia Catarinense
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Rafael Garlet Oliveira


Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia Catarinense
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COBENGE 2016
XLIV CONGRESSO BRASILEIRO DE EDUCAÇÃO EM ENGENHARIA
27 a 30 de setembro de 2016
UFRN / ABENGE

PROJETO INTEGRADOR: UM RELATO DOS DESAFIOS E


RESULTADOS DE EXECUÇÃO NA ENGENHARIA DE CONTROLE E
AUTOMAÇÃO NO INSTITUTO FEDERAL CATARINENSE – CAMPUS
LUZERNA

Antonio Ribas Neto – antonioribas@luzerna.ifc.edu.br


Jessé de Pelegrin – jesse@luzerna.ifc.edu.br
Marcos Fiorin – marcos.fiorin@luzerna.ifc.edu.br
Mauro André Pagliosa – mauro.pagliosa@luzerna.ifc.edu.br
Rafael Garlet de Oliveira – rafael.oliveira@luzerna.ifc.edu.br
Ricardo Kerschbaumer – ricardo@luzerna.ifc.edu.br
Tiago Dequigiovani – tiago@luzerna.ifc.edu.br
Instituto Federal Catarinense – Campus Luzerna, Engenharia de Controle e Automação
Rua Vigário Frei João, nº550, Centro
CEP 89609-000 – Luzerna – SC

Resumo: Neste trabalho são apresentados relatos, análises e resultados, referente a um


componente curricular do curso de Engenharia de Controle e Automação do Instituto
Federal Catarinense – IFC Campus Luzerna, denominado Projeto Integrador. Este
componente curricular tem por objetivo integrar diversos conteúdos estudados pelos alunos
em componentes curriculares teóricos, através da implementação de um projeto desenvolvido
na instituição, porém visando aplicações práticas. Este componente curricular proporciona
ao aluno vivenciar uma situação real de trabalho, para que o mesmo seja capaz de:
desenvolver, gerenciar e executar projetos de automação industrial e controle de processos.
A participação do professor na execução do projeto tem o intuito de sanar eventuais dúvidas
e, principalmente, instigar os alunos a propor soluções aos problemas encontrados com base
em nos conhecimentos previamente adquiridos. O projeto executado é documentado pelos
alunos através de um relatório técnico descrevendo detalhadamente os métodos e as
ferramentas utilizadas, e é realizada uma apresentação oral para uma banca formada pelo
professor do componente e professores convidados. As seções a seguir descrevem dados
históricos do IFC Luzerna, o processo de concepção do projeto integrador, e exemplos de
projetos desenvolvidos, como um controle de temperatura com pastilha Peltier e um sistema
de geração de energia com bicicletas.

Palavras-chave: Projeto Integrador, Interdisciplinaridade, Integração Teoria e Prática.

1. INTRODUÇÃO

A rápida mudança das tecnologias aliada a fatores como redução de desperdícios,


investimentos com capital limitado e mercado de trabalho competitivo está exigindo um
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profissional cada vez mais capaz de lidar com pessoas, trabalhar em equipe, mesclar o
conhecimento, lidar com pressão emocional, entre outras qualidades.
A demanda por este tipo de profissional é mais notável quando se fala em engenheiros,
que são em grande parte os precursores no desenvolvimento da nossa sociedade. Vários
trabalhos ratificam esta informação, dentre eles podem-se citar os trabalhos de Carvalho e
Tonini (2014), Pereira (2005), Nose e Rebelatto (2001) e Veraszto et al (2003). Mas como
formar as bases para este profissional? E como ter certeza que ele desenvolveu tais
características?
A maioria dos cursos de engenharia tem seus currículos compostos por componentes
curriculares pouco cooperativos, isto é, há uma fraca interação entre conteúdos que estão
relacionados apenas por estarem alocados em componentes curriculares distintos. Esta forma
de desenvolvimento do currículo acaba deixando uma lacuna na formação do futuro
profissional, pois na indústria, a maior parte dos projetos executados e problemas enfrentados
necessitam de conhecimento integrado do currículo, e que muitas vezes, no início de suas
carreiras, os engenheiros possuem dificuldades de conciliar.
No que segue neste trabalho, é dissertado sobre a experiência da inserção de
componentes curriculares no currículo da Engenharia de Controle e Automação (ECA), na
tentativa de conciliar teoria e prática juntamente com interdisciplinaridade e assim possibilitar
uma formação mais ampla no que se refere à execução de projetos práticos, diferenciando-se
um pouco das engenharias com currículos tradicionais.

2. DAS CONCEPÇÕES, DISPOSIÇÕES E EXECUÇÃO DO PROJETO


INTEGRADOR NO ÂMBITO GERAL E DO CAMPUS

A busca pela formação de um egresso com componentes curriculares integrados é


claramente incentivada nos documentos norteadores dos órgãos de ensino e dos conselhos de
classe. No que se refere à ECA, na Resolução 427 do CONFEA (1999) e no documento dos
Referenciais Curriculares Nacionais dos Cursos de Bacharelado e Licenciatura (MEC, 2010),
há uma almejada lista de competências que se espera que o futuro profissional apresente e/ou
tenha desenvolvido (de preferência os dois) quando formado nesta modalidade. O próprio
Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) (ver INEP (2002)), parte integrante
do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes), na portaria Inep nº 251
possui em seus objetivos a avaliação dessa integração de conhecimentos.
Medeiros e Gariba Júnior (2006) destacam a importância da utilização de projetos na
construção do conhecimento discente no que tange aos cursos superiores de tecnologia. Uma
rápida pesquisa na Internet retorna uma vasta lista de cursos que contêm projetos integradores
em seu currículo para que os discentes desenvolvam o conhecimento de forma integrada e
ajudem no entendimento do que cada curso se propõe a formar, a maioria de datas bem mais
recentes do que o trabalho feito pelos autores supracitados.
A inserção do componente curricular nos cursos oferecidos pelo Instituto Federal
Catarinense (IFC) – Campus Luzerna é um pouco mais antiga do que estas mudanças e
análises recentes, como é visto a seguir na sua breve história.

2.1. Um pouco de história do IFC – Campus Luzerna para o entendimento do que


compõe o projeto integrador no curso de ECA
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As instalações físicas e a infraestrutura de salas de aula e laboratórios que hoje


pertencem ao IFC – Campus Luzerna foram fundadas em 1999, para abrigar a Escola Técnica
Vale do Rio do Peixe (ETVARPE), instituição fundada em 1999 que, até 2008, ofereceu
cursos técnicos e profissionalizantes para estudantes da região do Vale do Rio do Peixe. Em
2010 ocorreu a federalização da ETVARPE, passando a integrar o IFC. Em 25 de março de
2010, iniciaram-se as atividades.
Na época em que a Instituição era ETVARPE, entre 2002 e 2009, ela já contava com
alguns cursos, dentre eles o técnico em Automação Industrial, o qual possuía em seu Plano de
Curso componentes curriculares denominados “Projeto Integrado”, especificamente Projeto
Integrado I, Projeto Integrado II e Projeto Integrado III. Um dos principais objetivos destes
componentes curriculares naquela época era proporcionar a integração entre os professores, o
que resultou na melhora da qualidade do curso.
Desta forma, as execuções dos projetos integradores nestes cursos técnicos foram de
grande importância para a elaboração do projeto pedagógico de curso da ECA e
posteriormente para outros cursos ofertados no Campus.
Atualmente o curso de ECA contém dois componentes de projeto integrador, cada um
com carga horária de 60 h, distribuídos na grade do curso. O Projeto Integrador I está inserido
no sexto semestre, tendo como pré-requisitos componentes que envolvam modelagem e
controladores programáveis, eletrônica básica e gestão de projetos e o Projeto Integrador II,
que está alocado no nono semestre, tendo como pré-requisitos o próprio Projeto Integrador I e
outros componentes curriculares como hidráulica e pneumática e instrumentação para
controle.
Os acadêmicos que cursam estes componentes, pelo menos os de Projeto Integrador II,
já tiveram contato com componentes como Metrologia, Instalações Elétricas Prediais, Redes
Industriais e Sistemas Supervisórios, Processamento Digital de Sinais e Introdução à
Identificação de Sistemas, entre outros específicos.
Vale ainda ressaltar que os componentes de projetos integradores são componentes
obrigatórios no currículo do curso de ECA deste Campus.

2.2. Dos objetivos básicos dos projetos integradores que compõe o currículo do curso
superior em ECA do Campus Luzerna

O Parecer CNE/CES 1.362 de 2001 (BRASIL, 2002), traz uma lista de competências e
habilidades que os egressos dos cursos de engenharia devem ter adquirido ao término destes
cursos.
Abranger todas as competências em apenas um ou dois componentes curriculares é
uma tarefa desafiadora. Apesar de quase todos os currículos dos cursos de engenharia terem
um componente de estágio supervisionado e em alguns casos, um de trabalho de conclusão –
os quais também servem para desenvolver e aprimorar estas reivindicações – é multo
complicado executá-las em componentes com perfil teórico como por exemplo Física,
Cálculo e Álgebra, principalmente porque estes geralmente são dispostos nos primeiros
semestres.
No curso de ECA deste Campus, o objetivo geral dos projetos integradores no
currículo é reforçar o aprendizado teórico e prático do estudante, aplicando os conhecimentos
já adquiridos no decorrer do curso para o desenvolvimento e implementação de um projeto
técnico aplicado. Alguns objetivos específicos desses projetos integradores são:
 Integrar o conteúdo das componentes curriculares dos semestres anteriores;
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 Capacitar o aluno a desenvolver projetos e soluções para problemas;


 Desenvolver as habilidades do aluno com o manuseio e aplicação de
ferramentas, instrumentos de medidas e equipamentos de laboratório;
 Incentivar o trabalho em grupo;
 Desenvolver habilidades de apresentação em público;
 Incentivar a busca por inovações tecnológicas no desenvolvimento do projeto.
Em uma primeira instância, todos os objetivos parecem facilmente exequíveis, porém,
à medida que o projeto integrador vai sendo desenvolvido, as dificuldades de lidar com estes
objetivos vão aparecendo. Percebe-se claramente quais acadêmicos possuem dificuldades de
se expressar, seja em forma escrita ou oralmente; quais têm dificuldades de trabalhar em
grupo; quais têm dificuldade de associar e por em prática o conhecimento adquirido
separadamente nos componentes curriculares anteriores.
Fica muito evidente também, a dificuldades da maioria dos acadêmicos gerenciar o
tempo de execução do projeto. Também é expressiva a falta de criatividade de alguns
acadêmicos em relação à abordagem e solução de problemas. Outros, entretanto, superam
suas dificuldades e desempenham de modo admirável o projeto.

2.3. Definição, delimitação e execução da proposta de Projeto Integrador

A definição do projeto a ser desenvolvido nos projetos integradores é uma das fases
mais difíceis e complicadas. Um projeto mal definido ou mal delimitado resultará em
problemas de execução, falhas na elaboração do cronograma e listas de materiais, além de
influenciar diretamente na aprovação do acadêmico. Nesta etapa, além dos acadêmicos que
cursam os componentes, todos os professores, principalmente dos componentes específicos e
profissionalizantes, participam e dão sua contribuição.
O componente curricular é iniciado assim como aos outros, com a apresentação do
plano de ensino e são fornecidas as instruções gerais que norteiam a definição, a delimitação e
a execução da proposta. Há um espaço de tempo de até quatro semanas para levantamento de
um problema de engenharia, tanto pelos professores, quanto pelos acadêmicos. Este também é
um dos momentos mais relevantes de cada projeto, pois abre espaço para acordos de
cooperação entre o Instituto e as empresas, pois o projeto não fica delimitado a situações
fictícias criadas dentro do Campus, mas está aberto a tratar de analisar e resolver problemas
reais enfrentados pelas indústrias da região.
As etapas do projeto integrador seguem uma estrutura diferente à exposta em
Medeiros e Gariba Júnior (2006), com etapas mais detalhadas. A definição destas etapas é o
resultado do aprimoramento e da experiência adquirida pelos professores no curso, desde o
momento que lecionavam no curso técnico de Automação Industrial até o presente momento,
na ECA. Cabe ressaltar que estas etapas aplicam-se de maneira muito semelhantemente nos
projetos integradores do ensino médio integrado em Automação Industrial.
As etapas são:

Definição do projeto, planejamento, elaboração e apresentação do pré-projeto


É onde se faz a divisão das equipes, definição e limitação do projeto e planeja-se o
desenvolvimento da proposta de trabalho. Também são realizadas pesquisas bibliográficas,
discussões e troca de ideias a respeito do projeto a ser desenvolvido. Logo que são definidos
os requisitos, é iniciada a elaboração das listas de materiais e o cronograma de execução.
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O resultado das ações acima implica na elaboração e apresentação de um pré-projeto,


na forma escrita e oralmente. O documento do pré-projeto passa por uma avaliação dos
professores responsáveis pelo componente curricular durante o semestre, e também com a
apreciação de outros professores do curso, que realizam suas considerações, sugestões, e
avaliam juntamente com as equipes a sua exequibilidade.

Montagem, execução e testes


Esta é a etapa reservada para realizar o que o próprio sugere e também para as
orientações e direções técnicas dos professores quando necessário, ambas feitas de forma
limitada, pois pretende-se desenvolver a busca das informações, a solução de problemas pelos
próprios membros da equipe. Caso contrário o projeto integrador não cumpre seus objetivos.
Esta etapa é extremamente importante, pois é nela que se começa a diagnosticar o
perfil do futuro profissional, sendo neste momento que os professores devem tomar as
providências para que sejam desenvolvidas as competências e as habilidades que os egressos
do curso necessitam ter.
Nesta fase os membros das equipes despertam ou aprimoram suas habilidades, pois
devem se esforçar ao máximo para gerenciar recursos, materiais e prazos; trabalhar com
metas; desenvolver a organização e prioridade da execução do projeto; aprender a trabalhar
em equipe; aprender a superar dificuldades; buscar a solução dos problemas de forma
autônoma; entre outras. Não é definido inflexivelmente um tempo para o cumprimento dessa
etapa, porém, ele se encontra extremamente ligado com o cronograma definido no pré-projeto.

Elaboração do relatório final do projeto integrador


Ao final do projeto, cada equipe deve produzir um documento técnico que apresente e
descreva o projeto desenvolvido, de forma detalhada, relatando todas as atividades
desenvolvidas, resultados e discussões. Seu desenvolvimento deve ser conduzido de maneira
que siga as normas técnicas de elaboração de textos, com linguagem culta e ao mesmo tempo
com termos técnicos, seguindo os princípios metodológicos e científicos. É uma forma de
despertar as aptidões de escrita, leitura e comunicação nos futuros engenheiros. Um modelo
inicial é fornecido às equipes para ser editado, servindo como o esqueleto do relatório final do
projeto integrador, sendo que no final este documento é avaliado pelo(s) professor(es) e é
utilizado como documento de referência para comprovação e análise dos detalhes de
execução.

Apresentação do projeto integrador


Geralmente é feita de forma aberta, a todos os discentes do curso que possam ou
queiram participar e aos professores também. O convite é feito principalmente aos
acadêmicos das fases anteriores àquelas que contêm os projetos integradores. É feita dessa
maneira para que possa fornecer um conhecimento preliminar aos outros acadêmicos do
curso.

Avaliação e considerações
No final da apresentação, depois das considerações dos professores responsáveis, a
argumentação é aberta aos demais presentes. Não havendo mais questionamentos ou dúvidas
dos demais na plateia, é dada por encerrada a apresentação do projeto.
A avaliação é composta de vários segmentos e em diversas direções. Estas avaliações
compreendem o desenvolvimento da proposta de trabalho contendo detalhes do projeto, o
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cronograma e a lista de materiais previstos. Também é avaliado o desempenho individual do


aluno no decorrer do projeto, o relatório final e a apresentação do trabalho. Não são excluídas
da avaliação as respostas às perguntas realizadas pelos professores do componente curricular
e também dos demais presentes. A execução parcial ou o não funcionamento do projeto
requer uma análise em detalhes pelos docentes. Estes itens são avaliados com base nas
justificativas apresentadas pelas equipes e se razoáveis o projeto ainda pode ser considerado
como executado.

2.4. Requisitos e obrigações dos professores para ministrar o componente


curricular

Primeiramente, deve-se esclarecer que não faz parte deste trabalho julgar a capacidade
de um docente em ministrar componentes de projetos integradores. Este relato é baseado na
experiência dos autores, que majoritariamente concordam com algumas características
consideradas como importantes para o perfil do professor ministrante.
No Campus, a definição do docente se dá através de reuniões do núcleo docente
estruturante, que discute incialmente ideias de projeto compatíveis com a ementa do
componente curricular, considerando os equipamentos e técnicas que o projeto deve envolver.
Partindo deste princípio, o professor com conhecimento e afinidade na área é convidado a
lecionar, e que por vezes, pode ser mais de um docente. O histórico do curso neste Campus é
de dois professores ministrando o componente curricular, e claro, os demais prestam suporte
às equipes.
Dentre as atitudes dos professores, cabe o perfil de um cliente/proprietário, que exige
o cumprimento de um contrato fictício entre professor e aluno. Este contrato é estabelecido
através da proposta de projeto, e com base nos objetivos e no cronograma apresentados é feita
a exigência, tudo para condicionar os acadêmicos a situações comuns aos profissionais da
área.
É de incumbência do professor desafiar os alunos a enfrentarem os problemas e
situações adversas encontradas durante a execução do projeto. O desafio traduz-se em
encontrar alternativas para componentes, técnicas que não se adequaram às propostas,
ajustamento ao prazo proposto, entre outros. Isso significa que cabe ao professor nortear as
equipes frente às dificuldades, e de forma alguma executar/desenvolver o projeto, nem mesmo
uma fração do projeto, por menor que seja. Em suma, voltamos a comparar o comportamento
do professor como de um cliente ou de um chefe/supervisor, que cobra fortemente prazos,
qualidade, eficiência, custo, entre outros quesitos.

2.5. O que os alunos da ECA pensam sobre os componentes integradores

Para retratar o ponto de vista dos alunos, uma parcela de acadêmicos que cursaram ao
menos um dos componentes curriculares de Projeto Integrador foram consultados através de
um questionário. Nesse questionário foram abordadas questões sobre a percepção da
componente curricular, o auxílio do projeto no entendimento e integração de outros
conteúdos, as maiores dificuldades encontradas, a contribuição para a sua formação
profissional e a atuação dos professores na condução dos projetos.
Na concepção geral dos alunos o componente curricular é relevante e é um diferencial
para sua formação profissional, pois alia trabalho em equipe, integração entre diversos
componentes, além de facilitar o entendimento de conceitos teóricos quando visualizados na
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prática. Também foi relatado pelos alunos a possibilidade de desenvolver suas habilidades na
resolução de problemas, através da pesquisa teórica e aplicação de seus próprios
conhecimentos. Os alunos têm preferência por projetos que traduzem problemas reais da
indústria e que exigem um planejamento para o cumprimento do cronograma, mesmo tendo
considerado que uma das principais dificuldades seja o cumprimento do prazo estabelecido.
Como os projetos são interdisciplinares, os alunos também relatam que muitas vezes
demandam de equipamentos que não são usuais do curso, e, portanto, isso exige adequações
no projeto. Para eles é ideal que haja o acompanhamento de professores das diferentes áreas
técnicas envolvidas no projeto.

2.6. Exemplos de projetos integradores desenvolvidos no curso de ECA

Controle de temperatura com pastilhas Peltier


Este projeto teve como objetivo implementar o controle de temperatura interna de uma
caixa térmica através da utilização de uma pastilha Peltier, para estabelecer baixas
temperaturas. O projeto demandou conhecimento de diversas áreas como instrumentação,
eletrônica industrial, microcontroladores, controladores lógicos programáveis (CLPs) e
sistemas supervisórios. Vale ressaltar que, para comercialização, o projeto poderia ser
desenvolvido sem o CLP e sistema supervisório, porém, como o objetivo do componente
curricular é integrar o máximo de conteúdos ofertados no curso, esses componentes foram
incluídos. Alguns resultados do projeto são mostrados na Figura 1, onde pode-se observar o
protótipo completo do projeto e uma das telas do sistema supervisório.

Figura 1 – Protótipo montado (à esquerda) e tela do supervisório (à direita).

Projeto Ecobikes
Uma das atividades desenvolvidas em um projeto integrador surgiu de uma demanda
de um evento nacional, a Feira de Ciência, Tecnologia e Inovação – GERA 2015, com o
propósito de expor na feira um ambiente de interação do público visitante com a tecnologia.
Diante desta demanda, Campus assumiu a autoria do desenvolvimento do Projeto Ecobikes,
como forma de colaborar com a feira e, ao mesmo tempo, contribuir para a aplicação dos
conhecimentos dos acadêmicos da ECA. O Projeto Ecobikes teve como objetivo construir um
conjunto de geração de energia a partir de bicicletas e apresentar os dados obtidos em um
sistema supervisório. Para despertar o interesse do público, a energia gerada poderia ser
direcionada para a recarga de celulares e ainda ascender lâmpadas, o que desencadeou uma
competição para ver quem ascendia mais lâmpadas. Neste projeto foram utilizados
conhecimentos de instrumentação eletrônica, CLPs, redes e sistemas supervisórios, gestão de
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projetos, conversão de energia e instalações elétricas industriais. A Figura 2 contém o


diagrama de bloco do sistema desenvolvido uma imagem do evento.
Figura 2 – Diagrama de blocos do sistema desenvolvido (à esquerda) e uma imagem do
evento (à direita).

O projeto se tornou a atração principal da feira, principalmente por interagir com o


público. Um vídeo registrado durante a feira pode ser visualizado em
<http://g1.globo.com/sc/santa-catarina/jornal-do-almoco/videos/t/centro-oeste/v/feira-gera-
traz-projetos-tecnologicos-inovadores-ate-domingo-20/4479619/>.
Devido o sucesso do projeto, o mesmo foi exposto na Feira ENIT 2015 – Encontro de
Negócios, Inovação e Tecnologia na cidade de São Bento do Sul e na VIII MICTI – Mostra
Nacional de Iniciação Científica, Tecnológica Interdisciplinar.

2.7. Dificuldades encontradas

De acordo com o perfil tecnológico do curso, um dos entraves com os quais o


componente curricular em questão se depara ainda é o tradicional afastamento entre
instituições de ensino e indústria, como apresentado em Rapini (2007). Uma maior interação
com as demandas de inovação provenientes dos meios produtivos industriais facilitaria, em
muitos casos, a escolha de um tema para os projetos.
Os Projetos Integradores existem não somente com o objetivo de ensino e aplicação de
metodologias estudadas no curso, mas também de busca de inovações tecnológicas. Este
afastamento do mundo acadêmico tem como consequência ainda a questão dos materiais
utilizados nos projetos. Em todos os casos até então, os materiais empregados, sejam
permanentes ou de consumo, são provenientes dos próprios laboratórios e orçamento do
Campus. Nesse caso, os equipamentos e materiais disponibilizados são sempre limitados aos
já existentes, não permitindo que se pense em ideias inovadoras que dependam de novos
componentes.
Outros fatores que devem ser comentados são as negligências por parte dos alunos em
seguir normas, procedimentos e utilização dos materiais, laboratórios e equipamentos; a falta
de pró-atividade por parte de alguns membros das equipes e a insegurança dos acadêmicos em
executar os procedimentos, este último mesmo quando supervisionados.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Além dos projetos integradores contribuírem para a formação das habilidades e


competências dos egressos, também servem para diagnosticar outros fatores, como o nível de
conhecimento dos acadêmicos, percepção de onde estão as lacunas no ensino por parte dos
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professores, na avaliação do conteúdo abordado em outros componentes curriculares,


inclusive na reformulação de ementas, métodos e aulas experimentais.
Percebe-se também que alguns acadêmicos apresentaram muita afinidade na execução
do projeto, mas pouca na elaboração do relatório; alguns apresentaram muita afinidade com
desenvolvimento de circuitos eletrônicos, mas pouco com elaboração de programas de CLPs;
outros apresentarem características de líder e gestor, mas pouca agilidade na operação e
manipulação de instrumentos; entre outras.
Do ponto de vista geral, os projetos integradores têm se mostrado como um meio
diferenciado de aprendizado para os acadêmicos, proporcionando o desenvolvimento de suas
habilidades e competências e, para os professores, têm sido um meio de diagnóstico do nível
de ensino, buscando subsequente discussão e aprimoramento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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aprovada em 11 de março de 2002b: Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso
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Seção 1, p. 17. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES1362.pdf>.
Acesso em: 06 jun. 2016

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Anais. Belo Horizonte: 2014.

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TEIXEIRA (INEP). Portaria Inep nº 251, de 02 de junho de 2014: Dispões sobre as
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MEDEIROS, Caroline de; GARIBA JÚNIOR, Maurício. Projeto integrador: uma


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XXXIV CONGRESSO BRASILEIRO DE EDUCAÇÃO EM ENGENHARIA, 2006, Passo
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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO (MEC). Referenciais curriculares nacionais dos cursos de


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CONGRESSO BRASILEIRO DE EDUCAÇÃO EM ENGENHARIA, 2003, Rio de Janeiro.
Anais. Rio de Janeiro: 2003.

INTEGRATOR PROJECT: A REPORT ABOUT CHALLENGES AND


RESULTS OF CARRYING OUT IN CONTROL AND AUTOMATION
ENGINEERING AT INSTITUTO FEDERAL CATARINENSE - CAMPUS
LUZERNA

Abstract: This paper presents reports, analyses and results referring to the development of a
curricular component of Control and Automation Engineering course of Instituto Federal
Catarinente - IFC Campus Luzerna, called Integrator Project. This curricular component
aims to integrate different contents learned by students from theoretical curriculum
components through the implementation of a project developed in the institution, but seeking
practical applications. This curricular component provides to students to experience a real
work situation, so that they are able to develop, manage and implement industrial automation
projects and process control. The participation of the professor in the implementation of the
project is intended only to explain some doubts and especially to instigate the students to
propose solutions to the problems based on the previously acquired knowledge. The project is
development and documented by the students in a technical report describing in detail the
methods and tools used and is made an oral presentation to an examination board consisting
of the professor responsible for the subject and some invited professors. The following
sections describe the historical information about IFC Luzerna, the conception about
integrator project and examples of developed projects such as a temperature control using
Peltier chip and power generation system with bicycles.

Key-words: Integrator project, Interdisciplinarity, Theory and practice integration.

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