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(NEO)CORPORATIVISMO

O Corporativismo é uma doutrina que propugna a organização da coletividade baseada


na associação representativa dos interesses e das atividades profissionais (corporações).
Propõe, graças à solidariedade orgânica dos interesses concretos e às fórmulas de
colaboração que daí podem derivar, a remoção ou neutralização dos elementos de
conflito: a concorrência no plano econômico, a luta de classes no plano social, as
diferenças ideológicas no plano político.

O desmantelamento do aparelho corporativo é contemporâneo aos começos da


Revolução Industrial. As combination laws britânicas são de 1799. A lei Le Chapelier
francesa remonta a 1791. Por um lado, reconhece-se no ordenamento corporativo,
segundo as teses da ciência econômica clássica, um obstáculo ao adequado
funcionamento da economia de mercado. (...) Por outro lado, tem-se em vista remover
todo o interesse intermediário entre o interesse particular do indivíduo e o interesse
geral do Estado e considera-se o espírito de corporação incompatível com o processo de
modernização do sistema político. (...) As novas formas associativas que surgem com a
Revolução Industrial baseiam-se não na conciliação dos interesses de categoria, na sua
acumulação encastoada em uma ordem institucional orgânica, mas no conflito dos
interesses e na luta de classes. (...) O modelo corporativo defende a colaboração entre as
classes no âmbito das categorias. Sua interpretação da dialética social é otimista, ao
passo que as premissas em que se baseia o modelo sindical são conflitantes e
pessimistas.

[compreensão do corporativismo tradicional como “solidarismo”]

[remeter às corporações de ofício medievais]

INCISA, Ludovico. “Corporativismo”. In: BOBBIO, Norberto; et alli (coord).


Dicionário de Política. 11.ª ed. Brasília: Editora UNB, 1998, p. 287.

Dadas estas premissas, podemos distinguir um Corporativismo “contra-revolucionário”


ou tradicional do Corporativismo “dirigista”, enquanto, na prática e na teoria, está-se
delineando a terceira figura do Corporativismo “tecnocrático”.

INCISA, Ludovico. “Corporativismo”. In: BOBBIO, Norberto; et alli (coord).


Dicionário de Política. 11.ª ed. Brasília: Editora UNB, 1998, p. 288.

Enquanto o Corporativismo tradicional é essencialmente pluralista e tende à difusão do


poder, o Corporativismo fascista é monístico (não é por acaso que está filosoficamente
ligado ao idealismo), tenta reduzir à unidade, àquela unidade dinâmica que é ambição
do sistema, todo o complexo produtivo. No Corporativismo tradicional, as corporações
se contrapõem ao Estado; no Corporativismo fascista, as corporações estão
subordinadas ao Estado, são órgãos do Estado.

INCISA, Ludovico. “Corporativismo”. In: BOBBIO, Norberto; et alli (coord).


Dicionário de Política. 11.ª ed. Brasília: Editora UNB, 1998, p. 289.
O prefixo “neo”, assim como os adjetivos “societário”, “liberal”, “democrático”,
“contratado”, “voluntarista”, utilizados em seu lugar por diferentes autores (...) quer
sublinhar a necessidade de se distinguir este conceito do outro, clássico, de
corporativismo, irremediavelmente comprometido por sua identificação ideológica com
o fascismo. O tipo de relações entre Estado e sociedade civil que os dois conceitos
pretendem identificar não é, na realidade, muito diferente. Ambos “referem-se a
tentativas para reviver algo da unidade orgânica da sociedade medieval, como reação ao
individualismo e à atomização produzidos pelo liberalismo” (Crouch 1977b). A
diferença fundamental é a seguinte: num sistema neocorporativista a organização
representativa dos interesses particulares é livre para aceitar ou não suas relações com o
Estado, contribuindo, portanto, para defini-las enquanto que no corporativismo clássico
é o próprio Estado que impõe e define estas relações.
(...) Para os autores que se referem à definição de Schmitter (1974), o
Neocorporativismo é uma particular forma de intermediação dos interesses entre
sociedade civil e Estado, diferente e até oposta à amplamente conhecida como
pluralista. Contrariamente ao que ocorre no sistema pluralista, no sistema
neocorporativista os interesses gerados na sociedade civil são organizados em números
limitados de associações (principalmente em “grupos de produtores”, isto é, sindicatos
dos trabalhadores e dos empresários, associações de agricultores, etc.) cuja diferença
está fundamentalmente nas funções por elas desenvolvidas, não competindo, portanto,
entre si. Estas associações têm uma estrutura interna centralizada e hierárquica, e
pertencer a elas é muitas vezes uma obrigação, pelo menos de fato quando não de
direito. O aspecto mais característico, porém, está na sua específica relação com a
máquina do Estado. É o Estado que dá a estas associações o reconhecimento
institucional e o monopólio na representação dos interesses do grupo, assim como é o
Estado que delega a elas um conjunto de funções públicas.

REGINI, Marino. “Neocorporativismo”. In: BOBBIO, Norberto; et alli (coord).


Dicionário de Política. 11.ª ed. Brasília: Editora UNB, 1998, p. 818.

“referem-se a tentativas para reviver algo da unidade orgânica da sociedade medieval,


como reação ao individualismo e à atomização produzidos pelo liberalismo”

CROUCH, Colin. Class conflict and the Industrial Relations Crisis. London:
Heinemann, 1977.

Mas grande parte da literatura relativa ao Neocorporativismo se refere a um momento


de processo político que pode ser analiticamente distinguido do momento da mediação
de interesses entre sociedade civil e Estado. O Neocorporativismo é visto, neste caso,
como uma específica maneira de formação das opções políticas por parte da máquina
do Estado. No Neocorporativismo as grandes organizações representativas dos
interesses não se limitam a exercer pressões externas — como acontece no modelo
pluralista — mas são envolvidas diretamente, ou incorporadas, no processo de formação
e de gestão das decisões. O Neocorporativismo consiste, desta forma, de acordo com
diversos autores, na “participação dos grandes grupos sociais organizados na formação
da política do Estado, e principalmente da política econômica” (Lehmbruch 1977).
REGINI, Marino. “Neocorporativismo”. In: BOBBIO, Norberto; et alli (coord).
Dicionário de Política. 11.ª ed. Brasília: Editora UNB, 1998, p. 818-819.

CLIENTELISMO

Em Roma entendia-se como clientela uma relação entre sujeitos de status diverso que se
urdia à margem, mas na órbita da comunidade familiar: relação de dependência tanto
econômica como política, sancionada pelo próprio foro religioso, entre um indivíduo de
posição mais elevada (patronus) que protege seus clientes, os defende em juízo,
testemunha a seu favor, lhes destina as próprias terras para cultivo e seus gados para
criar, e um ou mais clientes, indivíduos que gozam do status libertatis, geralmente
escravos libertos ou estrangeiros imigrados, os quais retribuem, não só mostrando
submissão e deferência, como também obedecendo e auxiliando de variadas maneiras o
patronus, defendendo-o com as armas, testemunhando a seu favor ante os tribunais e
prestando-lhe, além disso, ajuda financeira, quando as circunstâncias o exigem.

MASTROPAOLO, Alfio. “Clientelismo”. In: BOBBIO, Norberto; et alli (coord).


Dicionário de Política. 11.ª ed. Brasília: Editora UNB, 1998, p. 177.

Há apenas uma diferença fundamental [entre o clientelismo tradicional e o moderno]:


enquanto na sociedade pré-moderna, os sistemas de clientela formavam verdadeiros e
autênticos microssistemas autônomos, que, excepcionalmente, sobrevivem como tais,
apresentando-se como alternativa do sistema político estadual, no sistema político
moderno, eles tenderam a coligar-se e a integrar-se numa posição subordinada ao
sistema político. Exemplo clássico disso é o partido dos “notáveis” — não os notáveis
em sentido genérico, mas os senhores fundiários — onde acabava, como ocorria com os
“senhores de casa” pré-modernos, uma rede de relações de clientela que agora se
transforma, porém, em estruturas de acesso e contacto com o sistema político.
Sobretudo na época do sufrágio restrito — mas não faltam exemplos após a introdução
do sufrágio universal —, o notável, a quem, de direito e de fato, está reservado um trato
privilegiado com o poder político, serve de elemento de ligação do poder com a
sociedade civil e com seus próprios clientes, a quem continua a dispensar proteção e
ajuda diante de um poder frequentemente distante e hostil, em troca do consenso
eleitoral.

MASTROPAOLO, Alfio. “Clientelismo”. In: BOBBIO, Norberto; et alli (coord).


Dicionário de Política. 11.ª ed. Brasília: Editora UNB, 1998, p. 177-178.

É importante observar como esta forma de Clientelismo, à semelhança do Clientelismo


tradicional, tem, por resultado, não uma forma de consenso institucionalizado, mas uma
rede de fidelidades pessoais que passa, quer pelo uso pessoal por parte da classe
política, dos recursos estatais, quer, partindo destes, em termos mais mediatos, pela
apropriação de recursos "civis" autônomos. (...) Envolve formas de aquisição do
consenso através de permuta e, por isso, fenômenos de personalização do poder, aliás
extremamente evidentes.

MASTROPAOLO, Alfio. “Clientelismo”. In: BOBBIO, Norberto; et alli (coord).


Dicionário de Política. 11.ª ed. Brasília: Editora UNB, 1998, p. 178.

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