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ARCANOS MENORES

Os quatro Naipes
Os quatro naipes do tarô – simbolizados pela Taça (Copas), Bastão (Paus),
Espada (Espadas) e Pentáculo (Ouros) – são descrições, no sentido da
forma, de experiências em quatro diferentes dimensões ou fases da vida.
Tal como os antigos quatro elementos da filosofia grega, doa quais se
acreditava que todas as coisas manifestas fossem criadas, os quatro naipes
englobam cada faceta das experiências da vida. Em certo sentido, eles
revelam, com maior detalhe e em um nível mais pessoal, a jornada
arquetípica retratada pelas 22 cartas dos arcanos maiores. Cada naipe
focaliza um determinado aspecto do ciclo global e o examina por meio de
diferentes e detalhadas fases de desenvolvimento.
Cada naipe dos Arcanos Menores pode ser dividido em dois grupos: as
cartas numeradas, das quais há dez cartas em cada naipe, e as cartas de
corte, das quais há quatro em cada naipe. Por intermédio das cartas
numeradas, podemos vislumbrar as experiências cotidianas da vida, que
nos acometem por meio de acontecimentos, do tratamento com outras
pessoas e por meio de estados passageiros da mente ou do sentimento.
Cada uma das cartas numeradas refletem uma experiência típica ou
arquetípica e, mais cedo ou mais tarde, durante o transcorrer da vida, nós
nos encontramos em cada um desses pequenos cenários. É por isso que as
cartas numeradas são, de forma geral, interpretadas de um ponto de vista
divinatório como reflexos de fatos ou acontecimentos do mundo exterior,
embora elas sejam, na realidade, tão “psicológicas” quanto as cartas do
Arcanos Maiores.
As cartas da corte pertencentes a cada naipe – Pajem, Cavaleiro, Rainha e
Rei – diferem das cartas numeradas, porque elas não descrevem fatos ou
experiências, mas representam tipos de caráter ou dimensões de uma
determinada fase da vida que podem ser descritos por figuras humanas.
Apesar de se apresentarem de modo hierárquico, elas têm o mesmo valor,
porem o diferente grau de poder material indica o seu diferente grau de
consolidação no mundo exterior.
Os Pajens de todos os naipes dos Arcanos Menores são imagens dos jovens,
inicios delicados das qualidades do específico naipe. Em outras palavras,
essa é a parte mais primitiva daquela fase da vida em sua forma juvenil,
frágil e incipiente, precisando de cuidado e proteção para que suas
qualidades se desenvolvam totalmente.
Os Cavaleiros são imagem da fase adolescente volátil e energética do
específico naipe. Esse é o espirito jovem, energético e buscador que nos
impulsiona a explorar e a experimentar aquela particular fase da vida.
As Rainhas em todos os quatro naipes são imagens das qualidades estáveis
e receptivas de uma fase específica da vida. Aqui a energia e o anseio não
fluem mais com tanto abandono no ambiente – é o que a Psicologia
chamaria de acting-out (psicodrama) -; ao contrário, eles são mantidos
interiormente, contidos e concentrados para que uma força maior possa
emergir. Aqui os valores dos indivíduos são formados e encenados pelas
únicas figuras femininas das cartas da corte.
Os Reis em todos os quatro naipes são imagens das qualidades dinâmicas,
expansivas e diretivas do naipe específico. Essas poderosas figuras
masculinas representa o uso total das energias dessa fase de vida para
construir e concretizar no mundo exterior.
As personalidades arquetípicas das cartas da corte não descrevem
qualidades pertinentes unicamente a homens ou a mulheres, apesar de as
imagens serem definitivamente sexuadas. Ao contrário, esses rostos
masculinos e femininos implicam qualidade de energia receptivas ou
diretivas: masculino e feminino em um nível mais profundo e disponíveis a
homens e mulheres. Essas figuras são maiores do que as das cartas
numeradas dos Arcanos Menores, embora não tão abrangentes e
profundas quanto as figuras dos Arcanos Maiores. A Rainha de Ouros, por
exemplo, compartilha algumas das qualidades terrenas da Imperatriz, mas
incorpora todas as amplas e profundas dimensões da Mãe do Mundo. A
Rainha de Copas compartilha alguns atributos intuitivos tanto da
Sacerdotisa quanto da Lua; mas essas duas últimas são maiores, porque as
profundezas do inconsciente contem mais do que simplesmente as
intuições e os sentimentos passionais encenados pela Rainha de Copas.
As cartas da corte contêm seu próprio mistério, porque, frequentemente,
elas penetram na vida do indivíduo não somente como uma experiência
interior, mas como pessoas reais. Aqui voltamos ao enigma do que a
Psicologia chama de sincronicidade, porque, quando algo está maduro para
ser desenvolvido dentro de nós, muitas vezes o encontramos no mundo
exterior; e quando estivermos a caminho de nos tornar um certo tipo de
pessoa e precisamos desenvolver certas qualidades internas,
frequentemente essa exata pessoa aparece “externamente” como um
catalisador do qual podemos aprender mais sobre nós mesmos. Muitos
relacionamentos acontecem em nossas vidas, porque a outra pessoa
incorpora algo que nós, com o tempo, devemos aprender a interiorizar.
Dessa forma, as cartas da corte abrangem os domínios da psique e da
matéria de maneira perturbadora, pois esses tipos de personalidades
podem entrar em nossas vidas como pessoas, além de descrever qualidades
que nós mesmos estamos em processo de desenvolver.

Os naipes de Copas correspondem ao antigo elemento água que, como


diziam, deu origem à vida. A água é fluida, sem forma, mutável e vaga, mas
tão real e poderosa, à sua maneira, quanto rocha sólida. Os ritmos e as
profundezas do mar são maravilhosos, mas perigosos. Assim também é o
mundo do sentimento, pois, apesar de os sentimentos mudarem e
assumirem sua coloração de acordo com a situação que os cercam, eles
possuem seu próprio ritmo, realidade e poder. As 14 cartas do naipe de
Copas descrevem o desenvolvimento dos sentimentos durante a vida, as
maneiras típicas pelas quais as nossas emoções mudam e aprofundam por
meio de experiências humanas características, do catalisador de outras
pessoas e do tipo de caráter que incorporam o mundo do sentimento em
sua forma mais pura. O símbolo da copa sempre foi associado ao coração,
pois o fluido que contém é o fluido do sentimento. Quer seja essa a água
clara do amor espiritual ou o vinho vermelho-sangue da paixão, a copa da
qual bebemos é o veículo pelo qual experimentamos o relacionamento.

O naipe de Paus corresponde ao antigo elemento fogo que, como diziam,


surgiu espontaneamente do nada e podia alterar e transformar tudo o que
tocava sem mudar a si mesmo. O fogo é volátil, um transformador de
formas, nem sólido nem liquido, mas um catalisador que reduz objetos aos
seus mais básicos componentes, transformando a sua natureza. Assim
também é o mundo da imaginação criativa, que podem produzir imagens
do nada e que transforma objetos no mundo concreto e “real”, incutido
neles significado e objetivo, embora a própria imaginação permaneça
inatingível. O símbolo do bastão (naipe de Paus) é relacionado com a vara
do mágico que, por meio do misterioso poder da imaginação, pode conjurar
objetos a existir e pode perceber ligações que a mente comum não pode
enxergar. As 14 cartas do naipe de Paus descrevem o desenvolvimento da
imaginação criativa e dos desafios com os quais nos deparamos no mundo
exterior, sua utilidade, os perigos da insensata imaginação excessiva e os
personagens típicos que incorporam mais puramente o domínio da
imaginação.

O naipe de Espadas corresponde ao antigo elemento ar que, sendo invisível,


se acreditava ser a respiração do espirito que concebeu a ideia da criação
antes que fosse manifestada. A morada do céu era a sede de Zeus, rei dos
deuses, de onde formulou suas leis e elaborou o plano para a evolução do
homem. Assim, o elemento ar simboliza o domínio da mente, as faculdades
da conceituação e o pensamento abstrato que devem preceder qualquer
ato de criação e que proporciona estrutura e significado à vida. A espada
com seus dois gumes cortantes é a imagem adequada para o poder
ambivalente da mente, que pode penetrar a situação mais obscura e mais
incompreensível com sua agudeza e, ao mesmo tempo, cortar com sua
lamina inflexível. As 14 cartas do naipe de Espadas descrevem o
desenvolvimento dessa faculdade racional em sua forma obscura e clara
por meio de conflitos, disputas e separações que os pensamentos e as
palavras podem provocar; pela clareza e pela compreensão que a mente
pode oferecer, e pelos tipos característicos que integram o domínio da
mente em sua forma mais pura.

O naipe de Ouros (Pentáculos) correspondem ao antigo elemento terra, a


argila essencial da qual fomos formados e para qual devemos voltar
derradeiramente. A terra é tanto o nosso início quanto o nosso fim, e a
experiência do corpo é a realidade original antes que qualquer sentimento,
imagem ou espirito possa habitá-la. A terra pode ser trabalhada e formada
para construir casas e outras criações, e a própria vida exige ajustes para as
necessidades de nossos corpos por meio do alimento, do abrigo, da
vestimenta e do dinheiro que simboliza o merecimento, o valor e a
recompensa pela energia empregada. O símbolo do pentáculo – a moeda
de ouro cunhada com a estrela de cinco pontas de Hermes, o deus da magia,
dos mercadores e das transações – significa dinheiro. Mas o dinheiro em si
é um dos símbolos mais profundos e intimamente ligado ao nosso sentido
de valor e merecimento em tudo que realizamos na vida. O pentáculo
também é um prato no qual o alimento pode ser servido, um recipiente que
guarda tudo que criamos. As 14 cartas do naipe de Ouros descrevem o
desenvolvimento da “realidade da função” e o ajuste gradativo, durante a
vida, de necessidades, desafios, decepções e recompensas do mundo
material, assim como os personagens típicos que incorporam o mundo da
terra em sua forma mais pura.

Os antigos filósofos declaravam que esses quatro elementos estão em nós


e, em um sentido interior, todos nós possuímos essas quatro diferentes
dimensões da vida e quatro diferentes modos de nos adaptarmos a ela.
Todos devemos passar por experiências arquetípicas nos quatro reinos, ou
seja, elas tendem a seguir certos padrões humanos básicos. O curso dos
relacionamentos humanos, por exemplo, é um caminho que, apesar de
bem conhecido, todas as vezes que o trilhamos é como se fosse pela
primeira vez. A nossa herança de Mitologia, folclore e contos de fadas, sem
mencionar a grande literatura e arte do mundo, revela todas as típicas
situações humanas do amor – separação, idealismo, decepção, rejeição,
conquista, realização, união e perda.
Em razão de nossas experiências serem típicas de cada um dos quatros
reinos, exploraremos cada uma das cartas numeradas dos quatro naipes
por meio de um mito particular que abrange as dez cartas e que incorpora
essas experiências características. Exploraremos as quatro cartas da corte
de cada naipe por intermédio de figuras humanas da Mitologia que
personificam os tipos característicos daquele naipe. Dessa forma,
poderemos examinar detalhadamente os essenciais padrões humanos do
desenvolvimento que ocorre emocional, criativa, intelectual e fisicamente.

Para as cartas numeradas do naipe de Copas, consideramos o mito de Eros


e Psiquê, pois essa é uma história arquetípica de amor cujo desenrolar se
relaciona com as principais experiências nos relacionamentos com as outras
pessoas.
Para as cartas numeradas do naipe de Paus, analisaremos o mito de Jasão
e o Velocino de Ouro, pois essa é uma história de aventura e de conquista
da imaginação criativa sobre as limitações da matéria. O desenrolar dessa
história relaciona-se com as principais experiências no esforço para
expandir as nossas vidas criativamente.

Para as cartas numeradas do naipe de Espadas, acompanharemos o mito


de Orestes e a maldição da Casa de Atreu, pois essa é uma história
arquetípica dos usos e dos abusos da mente, e dos conflitos, disputas e
reconciliações que encontramos por meio de nossa ética e de nossos
princípios.

E para as cartas numeradas do naipe de Ouros, investigaremos o mito de


Dédalo, pois essa é uma história arquetípica do destino do espirito
encarnado em matéria imperfeita e o desenvolvimento das destrezas e
habilidades do mundo da forma.

Fonte: Juliet Sharman-Burke e Liz Greene. O Tarô Mitológico.

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