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PESQUISA: o Júri no Brasil, na visão dos membros do Ministério Público do

1
Estado do Paraná com até 5 anos de carreira

Ricardo Augusto Farias Monteiro


Promotor de Justiça no Estado do Paraná.

Resumo: ​A partir da colheita informal, por amostragem, de opiniões e críticas que


vem sendo atribuídas ao Júri, o presente trabalho visa realizar pesquisa virtual para
conhecer opiniões pessoais e em qual grau o público-alvo entende aplicável
algumas críticas que estão sendo impingidas ao Júri no Brasil, visando suprir, em
alguma medida, lacuna de conhecimento institucional sobre a real visão dos
membros do Ministério Público, em início de carreira, sobre aspectos pragmáticos e
críticas ao Júri no Brasil. Com a produção deste conhecimento, será viável,
institucionalmente: i) identificar temas que necessitam de maior atenção em cursos
de formação de promotores e em formações continuadas; ii) desmistificar críticas e
lugares-comuns, visando evitar viés de confirmação que prejudique a atuação
ministerial ao longo da carreira; e iii) desenvolver a vocação para a atribuição
interdisciplinar de “​Promotor do Júri​”.

Abstract: ​Since an informal collection, by sampling, of opinions and criticism that has
been attributed to the Jury, the present work intent to perform a virtual research to
know personal opinions and which rate the target audience understands applicable
some criticisms that are being imposed on the Jury in the Brazil, in order to fill some
institutional knowledge gap of the real vision of members of the Prosecutor's Office,
at the beginning of their career, on pragmatic and critical aspects to the Jury in Brazil.
With the production of this knowledge, it will be feasible, institutionally: i) to identify
themes that need greater attention in training courses for prosecutors and in
continuing career education; ii) demystify critics and commonplaces, in order to avoid
confirmation biases that jeopardize the prosecutos performance throughout the
career; and iii) to develop the vocation for the interdisciplinary attribution of "Jury’s
Prosecutor".

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Por corte metodológico, considera-se como público-alvo os membros de tomaram posse a partir de 01 de
janeiro de 2014.

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Delimitação do problema: ​a falta de conhecimento institucional sobre a real visão
dos membros do Ministério Público, em início de carreira, sobre aspectos
pragmáticos e críticas ao Júri no Brasil.

Justificativa: somente a partir do conhecimento atual de dados que evidenciem a


visão do Júri por parte dos Promotores de Justiça em início de carreira, que se
poderá, institucionalmente: i) identificar temas que necessitam de maior atenção em
cursos de formação de promotores e em formações continuadas; ii) desmistificar
críticas e lugares-comuns, visando evitar viés de confirmação que prejudique a
atuação ministerial ao longo da carreira; e iii) desenvolver a vocação para a
atribuição interdisciplinar de “​Promotor do Júri​”;

Objetivo do trabalho: ​A partir da colheita, por amostragem, de opiniões e críticas


que vem sendo atribuídas ao Júri, o presente trabalho objetiva realizar pesquisa
2
virtual para conhecer opiniões pessoais e em que grau o público-alvo entende
aplicável algumas críticas que estão sendo impingidas ao Júri no Brasil.

Sumário: Apresentação da pesquisa ao público-alvo. Perguntas iniciais sobre o


tempo de carreira e entrância. PERGUNTAS PESSOAIS DE CARÁTER GERAL
SOBRE O JÚRI. SOBRE APLICABILIDADE DE ALGUMAS CRÍTICAS À
INSTITUIÇÃO DO JÚRI. PERGUNTA BONUS.

Desenvolvimento:

“PESQUISA SOBRE OPINIÕES PESSOAIS E CRÍTICAS AO JÚRI NO BRASIL

PÚBLICO ALVO​: Membros do Ministério Público com até 5 anos de carreira


(JANEIRO/2014 ATÉ ATUALMENTE)

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2
Via aplicativo “GoogleForms”, da Plataforma Google.

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O questionário tem cunho acadêmico. É garantido o sigilo. As respostas não serão
valoradas como corretas ou incorretas. As respostas são pessoais (e de cunho
íntimo) e devem refletir o pensamento dos membros do Ministério Público quando do
início da carreira (período um pouco anterior à posse e durante os primeiros
semestres/anos de carreira).

1. ​Há quanto tempo você está em exercício na carreira do Ministério Público?

menos de 1 ano
de 1 até 2 anos
de 2 até 3 anos
de 3 até 4 anos
de 4 até 5 anos e meio

2. ​Atualmente você está em que grau da carreira?

Promotor Substituto
Promotor de Justiça de entrância inicial
Promotor de Justiça de entrância intermediária
Promotor de Justiça de entrância final

PERGUNTAS PESSOAIS DE CARÁTER GERAL SOBRE O JÚRI

3. ​1) Imagine hipoteticamente que o Júri não tivesse previsão constitucional


(art. 5º, XXXVIII). Você concorda que hoje em dia, em pleno século XXI, o
julgamento pelo Júri NÃO se justifica mais como anteriormente?

CONCORDO INTEGRALMENTE. O julgamento pelo Júri NÃO se justifica


mais atualmente.
CONCORDO, como REGRA. O Júri NÃO se justifica mais na grande maioria
dos casos. Porém, há exceções.
DISCORDO, como REGRA. O Júri ainda SE JUSTIFICA na grande maioria
dos casos. Porém, há exceções.

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DISCORDO INTEGRALMENTE. Atualmente o julgamento pelo Júri SE
JUSTIFICA na mesma medida que antes.

4. ​2) Atualmente, se a Instituição do Júri fosse extinta no Brasil, seria melhor?

SIM, com certeza.


Acho que SIM.
Acho que NÃO.
NÃO, com certeza.

5. ​3) Com a entrada em exercício no Ministério Público e a atuação em algumas


sessões de julgamento, sua opinião inicial sobre o Júri, em alguma medida,
alterou-se?

SIM, minha opinião mudou bastante. ​Ir para a pergunta 6.


SIM, minha opinião mudou um pouco. ​Ir para a pergunta 6.
NÃO, mantive a mesma opinião de antes de atuar. ​Ir para a pergunta 7.

6. ​3.1 Já que sua opinião se alterou, foi em qual sentido?

estou mais contrário ao Júri


estou mais favorável ao Júri

7. ​4) Você até gosta (ou não) de fazer Júri, mas, pessoalmente, acha que sua
existência não é essencial para o sistema jurídico brasileiro?

CONCORDO, com certeza. O Júri não é essencial para o nosso sistema


jurídico.
Em princípio, CONCORDO. Ainda preciso refletir, mas acho que o Júri não é
essencial para o nosso sistema jurídico.
Em princípio, DISCORDO. Ainda preciso refletir, mas acho que o Júri é
essencial para o nosso sistema jurídico.
DISCORDO, com certeza. O Júri é essencial para o nosso sistema jurídico.

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8. ​5) Você acha que o TEMPO necessário PARA SE PREPARAR para um "bom
plenário" É DESPROPORCIONAL em relação a outras atividades ministeriais E
ISSO muitas vezes ACABA PREJUDICANDO a atuação em OUTROS TEMAS
IMPORTANTES?

SIM. Em geral, o tempo necessário para se preparar é desproporcional. O


preparo para o plenário muitas vezes acaba prejudicando o exercício de
outras atividades ministeriais muito mais importantes e prioritárias para a
sociedade em geral. E isso é péssimo. Priorizo outros temas importantes para
a sociedade, o preparo para o Júri fica, definitivamente, para depois.
SIM, às vezes. O tempo necessário para se preparar pode ser
desproporcional, podendo ocorrer conflito com outras áreas importantes. Se
isso ocorrer, priorizo os temas coletivos e depois me preparo para o Júri como
(e quando) der.
SIM, às vezes. O tempo necessário para se preparar pode ser
desproporcional, podendo ocorrer conflito com outras áreas importantes. Se
isso ocorrer, priorizo o preparo para o plenário e depois atuo no coletivo como
(e quando) der.
NÃO, não vejo desproporcionalidade. O Júri está entre as atividades
ministeriais mais importantes e prioritárias. Nenhuma é mais importante.
Priorizo o Júri, o resto fica, definitivamente, para depois.

9. ​6) Quantas sessões de julgamento de Plenário de Júri você já participou


como órgão do Ministério Público?

de 0 até 4
de 5 a 15
de 16 a 25
de 26 a 40
mais de 40

10. ​7) Hoje, você gosta de "fazer" Júri?

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Adoro.
Gosto.
Não gosto.
Detesto.

SOBRE AS CRÍTICAS À INSTITUIÇÃO DO JÚRI

QUAIS DAS CRÍTICAS abaixo, você acha que atualmente SE APLICAM e


PREJUDICAM o instituto do Júri no Brasil?

11. ​7.1) É muito gasto estrutural, pessoal e de tempo que “fere” o princípio da
eficiência (desperdício de tempo e dinheiro - não vale a pena).

SE APLICA. Como é hoje no Brasil, o Júri é contraproducente e ineficiente


para dar resposta à demanda de crimes contra a vida. Não vale a pena.
EM GERAL, SE APLICA. A crítica procede em boa parte dos casos. Esses
"gastos", em geral, são desproporcionais. Mudanças legislativas precisam ser
repensadas para que o Júri siga valendo a pena.
EM GERAL, NÃO SE APLICA. Reconheço, em poucos casos, alguma
procedência na crítica. Porém, isso não justifica grandes mudanças de
legislação.
NÃO SE APLICA. O bem jurídico tutelado justifica os referidos "gastos", que
considero proporcionais ao objeto do Júri. Nada deve ser alterado na
legislação porque o formato é adequado.

12. ​7.2) Há o risco de decisões absurdas.

SE APLICA. O risco de decisões absurdas é sempre maior com jurados do


que com o Juiz togado.
EM GERAL, SE APLICA. Na grande maioria dos casos, o risco de decisões
absurdas é maior com jurados do que com o Juiz togado.

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EM GERAL, NÃO SE APLICA. Se tudo ocorrer bem no plenário, é numa
ínfima minoria de casos que o risco de decisões absurdas pelos jurados pode
ser maior que com o Juiz togado.
NÃO SE APLICA. Se tudo ocorrer bem no plenário, o risco de decisões
absurdas é o mesmo que com o Juiz togado (com quem, não raro, ocorrem).

13. ​7.3) Muitos jurados não entendem os quesitos da votação.

SE APLICA. MUITOS jurados não entendem e não há muito o que ser feito
sobre isso.
EM GERAL, SE APLICA. Por mais adequada que for a atuação, ALGUNS
jurados não entendem.
NÃO SE APLICA. Se o jurado não entender, é por falta de preparo do
membro em se comunicar com o jurado.

14. ​7.4) o risco de julgamento “contrário à prova” é maior do que em outros


julgamentos pelo juiz togado.

SE APLICA. O risco é SEMPRE maior.


EM GERAL, SE APLICA. O risco na MAIORIA dos casos é maior.
EM GERAL, NÃO SE APLICA. Com uma boa atuação, muito
EXCEPCIONALMENTE o risco pode ser maior.
NÃO SE APLICA. A diferente valoração que é dada às provas e argumentos
jurídicos pelos jurados não significa "julgamento contrário à prova".

15. ​7.5) muitos jurados já vão “de má-vontade” para a sessão de julgamento.

SE APLICA. E sobre isso não há o que ser feito.


EM GERAL, SE APLICA. Há estratégias que podem "resgatar" o interesse de
um ou outro jurado, mas são pouco eficientes.
EM GERAL, NÃO SE APLICA. Há estratégias que conseguem "resgatar" o
interesse do jurado, na maioria dos casos.

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NÃO SE APLICA. Há estratégias sempre eficientes para "resgatar" o
interesse do jurado.

16. ​7.6) a “encenação” prevalece sobre os elementos dos autos e sobre


argumentos jurídicos.

SE APLICA. Quase tudo se resolve em pura "encenação".


EM GERAL, SE APLICA. Aspectos teatrais tem grande relevância.
EM GERAL, NÃO SE APLICA. Pode ocorrer de a "encenação" prevalecer.
Porém, em regra, não prevalece em face de uma boa atuação.
NÃO SE APLICA. Se a "encenação" prevalecer, sem dúvida, é por falta de
preparo, erro estratégico ou erro na execução da sustentação em plenário.

17. ​7.7) No julgamento, a “visão de mundo”, idiossincrasias e o preconceito


dos jurados predomina sobre “tudo o que é técnico no direito”.

SE APLICA. No julgamento, a “visão de mundo”, idiossincrasias e o


preconceito dos jurados predomina sobre “tudo o que é técnico no direito”.
NÃO SE APLICA. O Juiz togado sofre o mesmo grau de influência de sua
“visão de mundo”, idiossincrasias e preconceito no julgamento. Ele apenas
não as expressa na decisão.

18. ​7.8) não acho correto/justo prevalecer o princípio da “íntima convicção”


sobre o princípio da “fundamentação racional das decisões”.

SE APLICA. Não é justo prevalecer o princípio da “íntima convicção” sobre o


princípio da “fundamentação racional das decisões”.
NÃO SE APLICA. As regras de fundamentação externa da decisão, não
influem em como se dá, em si, o "processo decisório".

19. ​7.9) o fato de não haver fundamentação explícita da decisão prejudica


significativamente o necessário “controle” das decisões judiciais.

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SE APLICA. A fundamentação explícita é o que há de mais importante para o
"controle" das decisões.
NÃO SE APLICA. No Júri, o execício do "controle" da decisão judicial pelas
partes se dá por mecanismos muito mais eficientes.

20. ​7.10) especialmente no interior, muitos advogados não são preparados


para o Júri, o que prejudica a plenitude de defesa e influi na “justiça” da
decisão.

SE APLICA. A falta de preparo técnico de alguns advogados prejudica a


plenitude de defesa e influi na "justiça" da decisão.
NÃO SE APLICA. A identificação com a cidade, o uso da "linguagem do
povo", e a proximidade com cidadãos se sobrepuja em face de qualquer
(suposto) despreparo técnico do advogado.

PERGUNTA BÔNUS

20. - Considerando as críticas sobre o gasto estrutural, pessoal e de tempo


para a realização do Júri e a crítica que há sobre a instrução repetitiva do
processo. Você acha que atualmente seria melhor extinguir a 1ª fase de
instrução judicial (que culmina na decisão de pronúncia)?

Na hipótese discutida, o processo seguiria direto para instrução em Plenário de


julgamento pelo Tribunal do Júri, a partir de decisão que, analisando os argumentos
da resposta à acusação, entenderia não ser caso de absolvição sumária (art. 397 do
CPP) e que concluiria por indícios suficientes de materialidade e autoria.

SIM.
Preciso refletir, mas acho que SIM.
Preciso refletir, mas acho que NÃO.
NÃO.”

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CONCLUSÃO: A pesquisa produziu conhecimento referente 93,5% do público-alvo
(em anexo). Atingiu-se 135 participantes de um público-alvo de 144 membros do
Ministério Público paranaense que foram empossados a partir de janeiro de 2014
(apenas 9 não responderam). O resultado da pesquisa é preocupante e denota a
necessidade do desenvolvimento e execução de políticas institucionais e cursos de
3
formação que despertem a vocação do órgão ministerial para o exercício
interdisciplinar e transcendente do mister de “Promotor do Júri”, razão pela qual se
propõe a aprovação de tese institucional no 23º Congresso Nacional do Ministério
Público – 2019.

3
Em sentido filosófico.

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REFERÊNCIAS

BONFIM, Edilson Mougenot. Júri: do inquérito ao plenário. 4ª ed. rev. e ampl. São
Paulo: Saraiva, 2012.
CAMPOS, Walfredo Cunha. Tribunal do Júri: teoria e prática. 5ª ed. São Paulo:
Atlas, 2015.
EUA. EJournalUSA – Anatomia de um Tribunal de Júri. Vol. 14, n.º 7, Julho.
Washington DC: Departamento de Estado dos EUA, 2009.
Google Forms. Disponível em: <https://www.google.com/forms/about/> Acessado em
12/05/2019.
LOUREIRO, Caio Marcio. O Princípio da Plenitude da Tutela da Vida no Tribunal do
Júri. Cuiabá: Carlini & Caniato, 2017.
NOVAIS, Cesar Danilo Ribeiro de. A Defesa da Vida no Tribunal do Júri. Cuiabá:
KCM Editora, 2012.
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ. Perfil dos Jurados nas
Comarcas do Paraná –. 1ª Ed. Curitiba. 2015. Disponível em:
<http://www.criminal.mppr.mp.br/arquivos/File/materialjuri/Perfil_dos_Jurados_nas_C
omarcas_do_Parana.pdf> Acessado em 12/05/2019.
SCHRITZMEYER, Ana Lucia Pastore. Jogo, ritual e teatro: um estudo antropológico
do Tribunal do Júri. São Paulo: Terceiro Nome. 2012.
SILVA, Danni Sales. Júri: persuasão na tribuna. Curitiba: Juruá, 2018.
SOUZA, Leonardo Giardin de. Bandidolatria e Democídio: ensaios sobre garantismo
penal e a criminalidade no Brasil / Leonardo Giardin de Souza, Diego Pessi. 3ª ed.
Porto Alegre: SV Editora, 2018.
VIVEIROS, Mauro. Tribunal do Júri na Ordem Constitucional Brasileira: Um Órgão
da Cidadania. 1ª. ed. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2003.

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