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PRIMEIRAS PALAVRAS
O filme 2001, Uma Odisséia no Espaço, foi escrito, produzido e dirigido por
Stanley Kubrick. É considerado uma obra marcante não apenas para a ficção
científica mas também para toda a história do cinema. O diretor teve tempo e
liberdade para trabalhar temas complexos que envolvem os limites do conhecimento
humano. Para isso, contou com a parceria do escritor inglês Arthur. C. Clarke.
Durante o processo de escrita do roteiro, pesquisaram livros de ciência e antropologia,
além de se aprofundarem na literatura de Joseph Campbell, reconhecido por seu
trabalho em mitologia e religião comparada.
A dedicação de Kubrick converteu-se na realização de um filme considerado
uma obra-prima, explorado em livros, ensaios, críticas e artigos ao longo dos anos.
Este trabalho não tem a pretensão de abordar o filme como um todo, nem mesmo a
presunção de contribuir com uma crítica original à extensa literatura que existe ao
redor da obra. A proposta é nos concentrarmos em torno da análise de uma única cena
e relacionar sua inserção dentro do filme.
1
MARTIN, Marcel. A Linguagem Cinematográfica. Brasiliense: São Paulo, 2003, p. 92.
ANTES DA CENA
A cena que este trabalho se propõe a analisar está inscrita dentro do trecho do
filme intitulado "Aurora do Homem". Como o próprio nome já diz, este trecho
descreve o período de existência de uma proto-humanidade. Um momento em que
estes primatas ainda não dominavam o fogo, tampouco a caça. Juntavam-se em
bandos, coletando alimentos, num modo de vida absolutamente rudimentar. É neste
contexto que um grupo destes hominídeos despertam do sono tendo à sua frente a
surpreendente materialização de um monólito de formas retas, de cor negra,
impenetrável e indecifrável. Uma verdadeira aparição mágica. Os proto-homens
acordam assustados com a presença de algo que não estava lá na noite anterior, ficam
agitados, promovem urros e uma série de movimentos hostis. Aos poucos, vão se
acalmando e, ao final, parecem fascinados com essa presença enigmática, chegando
ao ponto de acariciar aquilo que antes causava histeria. Esta cena do surgimento do
monólito é anterior à cena que analisaremos, mas sua descrição é importante porque a
sua última imagem é resgatada na cena seguinte em forma de insert. E a imagem que
finaliza o primeiro contato dos hominídeos com o monólito mostra o estranho objeto
em contra-plongée numa composição com um pedaço do Sol e da Lua.
MITO DE HERMES E SIMBOLOGIA
Este posicionamento das figuras já nos fornece uma chave de entrada para a
interpretação simbólica da imagem. A meia-lua voltada para o alto está apta para
receber as intuições provenientes de um plano sensível, elevado, metafísico, ou
qualquer outro termo apropriado que entenda que o plano superior funciona como
uma espécie de repositório das idéias, da utopia, da sublimação. Pois bem, a meia-lua
cumpre essa tarefa de captar, sintonizar, sua própria figura assemelha-se ao contorno
de uma cuia, uma vasilha. Captada a informação, ou a inspiração, esta é transmitida
para uma instância mais perene: o espírito representado pelo círculo. Sem começo e
sem fim, o círculo é uma das figuras, se não for a mais empregada, para representar a
eternidade. Por isso a idéia de espírito, algo que está além das vicissitudes do tempo
ou do espaço. O espírito seria a essência, seria a idéia de que há algo por trás do
vivente, que deixa de ser vivente se abandonado por este que o compõe e o vivifica.
Já a cruz está numa posição abaixo, isto seria dizer que ela está a serviço do espírito.
O espírito, guiado pela alma, conduz a matéria, transforma-a por meio da sua vontade.
Esta matéria pode ser tanto a mais densa, como a madeira e metal, ou sutil como o
som que forma as palavras.
Percebemos que o símbolo de Mercúrio possui uma relação intrínseca com o
mito de Hermes. No fundo, os dois representam as mesmas idéias e potencialidades.
Afinal, a habilidade de transformar o mundo por meio da habilidade manual e da
inteligência, de comunicar-se, de locomover-se são faculdades atribuídas tanto a
Hermes, quanto a Mercúrio.
DESCRIÇÃO DA CENA
ANÁLISE
Para analisar esta cena é preciso prosseguir com o filme. Nas cenas seguintes,
o grupo de hominídeos que tiveram contato com o monólito e, portanto, pertencem ao
grupo do indivíduo que usou um osso como tacape para acertar um crânio e esmagá-
lo, são mostrados comendo carne, algo que ainda não tinha sido possível. Pelo
contrário, antes da cena com o osso, Kubrick fez questão de ressaltar a fragilidade
desse princípio da humanidade com uma cena em que um primata é atacado por um
leopardo. A transformação do osso em arma de combate altera o status de vítima para
predador. Outra cena que é retomada adiante é aquela em que ocorre uma disputa por
uma fonte de água. O primeiro grupo de hominídeos derrotados volta a confrontar
seus inimigos. Dessa vez eles voltam armados de ossos/tacapes. O grupo
tecnologicamente superior sai vencedor. Um de seus membros joga o osso para o céu.
Acontece o famoso corte do osso para o satélite no espaço. A primeira tecnologia dá
lugar à última, num salto temporal de milhares de anos. O maior corte da história do
cinema.
Esse corte deve muito à cena que estamos analisando e, para nos
aprofundarmos na análise, resgatamos uma passagem do livro A Linguagem
Cinematográfica;
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS