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Kerlen Torres Ramos1, Maria Julia Scheidegger Marinato2, Rubia Caus Pereira3
1
Graduanda em Odontologia (FAESA), e-mail: kerlentorres@hotmail.com
2
Graduada em Odontologia (FAESA), e-mail: maju_0395@hotmail.com
3
Mestre em Endodontia (SÃO LEOPOLDO MANDIC), especialista em Endodontia (UNICAMP), cirurgiã-dentista
(FAESA), professora do curso de Odontologia (FAESA), e-mail: rubiacaus@gmail.com
Resumo: A Odontologia do Esporte, uma nova área de atuação do cirurgião-dentista, visa oferecer a
promoção de saúde bucal do atleta, prevenir futuras lesões orofaciais, assim como melhorar seu rendimento,
uma vez que a saúde bucal insatisfatória pode impactar na sua performance. As injúrias traumáticas podem
ser causadas por acidentes, quedas, maus-tratos, hábitos parafuncionais e a prática de esportes, esse último
apresentando uma parcela significativa. O objetivo principal do esporte é proporcionar bem-estar ao praticante,
porém em muitos casos sua integridade se compromete pela falta de cuidado e proteção. Desta forma,
visando proteger a cavidade bucal de futuros traumatismos, recomenda-se o uso de protetor bucal durante
a prática de esportes, pois está comprovado que este é capaz de reduzir significativamente as chances de
traumas dentários. O protetor bucal é feito de material rígido e ao mesmo tempo flexível, que se encaixa
nos dentes, e ao ser usado corretamente, irá exercer a sua valiosa função. O cirurgião-dentista deve estar
atento a seus pacientes que praticam esportes, informando-os e incentivando-os sobre o uso de protetores
bucais. Essa revisão de literatura irá ressaltar a importância do uso dos protetores bucais no traumatismo
dentário, sua classificação e seu modo de confecção.
Palavras-chave: Odontologia do esporte. Traumatismo dentário. Protetor bucal.
INTRODUÇÃO
A palavra prevenção tem um grande destaque prevenção é um pouco esquecida ou realmente
dentro da odontologia. É o caso da cárie dentária, ignorada tanto pelos profissionais quanto pelos
por exemplo, que se prevenida desde o seu início pacientes, como ocorre na prevenção de traumas
pode evitar futuros problemas mais graves ao dentários, que acontecem frequentemente associados
indivíduo. Entretanto, em outras situações, essa ao esporte.
34 Ramos, K. T. et al. Revista Científica Faesa, Vitória, ES, v. 13, n. 1, p. 33-36, 2017
o incentivo, tende-se a reduzir o número de traumas e pontas vivas dos dentes, ocorrendo assim uma
dentários ocasionados por esportes, uma vez que eles redução de lacerações e lesões dos tecidos moles.
estarão protegidos. O protetor bucal ideal deve recobrir todas as
Os capacetes, as máscaras faciais e os protetores superfícies oclusais, prolongando-se na vestibular
bucais são recomendados na literatura como meios até 3 mm do sulco mucodental, lingualmente
de reduzir ou impedir as lesões orofaciais, assim prolongando-se entre 4 e 6 mm, estendendo-se até
como para diminuir significativamente as concussões, a região de tuberosidade, de espessura reduzida
hemorragias cerebrais, perda de consciência e outras dentro dos limites fisiológicos em dimensão vertical
lesões mais graves relacionadas ao sistema nervoso de repouso, com a oclusão correta para prevenir o
central, as quais podem levar ao óbito (BARBERINI, deslizamento posterior ou lateral da mandíbula para
AUN, CALDEIRA, 2002). que não ocorra lesão na articulação temporomandibular
O protetor bucal, um equipamento de proteção ou fratura mandibular (MEGALE, 2008).
individual (EPI), teve o seu desenvolvimento na década A Word Dental Federation (FDI), em 1990 apud
de 1920 e foi criado para proteger os praticantes de Fernandes (2005, p. 63), listou alguns critérios
esporte contra impactos na região maxilar. A proteção para a construção de um protetor bucal eficaz: ser
dos tecidos orais durante os esportes de contato confeccionado por um material resiliente, que possa
foi registrada pela primeira vez em 1913 por um facilmente ser lavado, limpo e desinfetado; ter retenção
boxeador inglês, Ted “Kid” Lewis, que utilizou um adequada para permanecer em posição durante a
protetor bucal feito de guta-percha. Desde aquela atividade esportiva e permitir uma relação oclusal
época, a utilização de protetores bucais e, em alguns normal para dar máxima proteção; deve absorver e
países, de capacetes tornou-se obrigatória no boxe dispensar a energia de um choque por cobrir o arco
(BARBERINI, AUN, CALDEIRA, 2002). No Brasil, dental maxilar, excluir as interferências, reproduzir
são poucos os esportes que regulamentam o uso de o relacionamento oclusal, permitir a respiração bucal
protetores bucais obrigatórios. e proteger os tecidos moles.
Os protetores bucais têm como principais funções Atualmente, existem três tipos diferentes de
manter os tecidos moles (lábios, bochechas e língua) protetor: o tipo I (stock), protetor bucal de estoque
afastados dos dentes; amortecer golpes frontais ou pré-fabricado, são encontrados geralmente em três
diretos contra os dentes anteriores, absorvendo e tamanhos nas lojas de artigos esportivos e não têm
redistribuindo as forças do impacto por toda a arcada; capacidade de se ajustar às características morfológicas
evitar danos às cúspides ou às restaurações dos do indivíduo. O tipo II (mouth-formed) é adaptado
dentes posteriores causados pelo impacto de dentes ou modelado de acordo com a boca do paciente,
antagonistas; prevenir distúrbios na ATM, concussões popularmente conhecido como “ferve e morde”.
cerebrais e outros danos intracranianos mais sérios; E o tipo III (custom-made), que é personalizado ou
proporcionar vantagens psicológicas, aumentando a individualizado, feito sob medida pelo cirurgião-dentista.
confiança do atleta; estabilizar fraturas ósseas e dentes Os protetores bucais podem ser divididos também
avulsionados e sustentar dentes adjacentes, de modo em protetores prontos (tipo I e tipo II), que são feitos
que usuários de próteses removíveis possam retirá-las em látex ou cloreto de polivinil de baixo custo e
durante o esporte, prevenindo possíveis fraturas e tamanho padrão. Possuem a desvantagem de impedir
a deglutição ou inalação acidental de fragmentos a fala e a respiração, já que só são mantidos no lugar
(SIZO et al., 2009). pela oclusão, também não existindo evidências
A National Youth Sports Foundation (NYSF), uma de que eles redistribuam o impacto. Os protetores
fundação sem fins lucrativos dos EUA que se dedica feitos especialmente pelo cirurgião-dentista (tipo III)
a reduzir o número e a gravidade das lesões de jovens constituem-se de uma moldeira externa razoavelmente
em atividades desportivas, afirma que cerca de cinco rígida e um material de preenchimento macio e
milhões de dentes foram perdidos em 2006 durante resiliente, com melhor adaptação. É considerado o
práticas desportivas, e os atletas que praticam esportes melhor tipo de protetor, porém bem mais caros que
de contato têm cerca de 10% a mais de possibilidade os anteriores, não atrapalham a fala nem a respiração
de sofrer lesões orofaciais durante uma competição e são confortáveis (PADILHA, 2012).
esportiva, sendo de 33% a 56% durante toda a sua O autor ainda destacou a existência de um quarto
carreira (PADILHA, 2012). tipo de protetor, semelhante ao terceiro, confeccionado
De acordo com Yoshinobu, Kumamoto, Kazunori em várias camadas e que também pode ser feito por um
(2009), citados por Barros (2012), o funcionamento cirurgião-dentista com um equipamento pressurizado.
do protetor bucal se dá através da absorção de parte da A eficácia depende sobretudo da espessura do
energia de um impacto e dissipação da parte restante, protetor, dado que a absorção das forças aumenta
também mantém os tecidos moles livres das arestas com o aumento da espessura; no entanto, não deve
36 Ramos, K. T. et al. Revista Científica Faesa, Vitória, ES, v. 13, n. 1, p. 33-36, 2017
À professora orientadora Rubia Caus Pereira, da WULKAN, M.; JUNIOR, J.; BOTTER, D. Epidemiologia
Faculdades Integradas Espírito-Santenses (FAESA), do trauma facial. Revista da Associação Medica
pela orientação, dedicação e paciência. Brasileira, São Paulo, v. 51, n. 5, p. 290-295, out. 2005.