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PORTO ALEGRE
2020
1
Porto Alegre
2020
2
Resumo: Este trabalho visa orientar profissionais da engenharia e prevenção contra incêndios
na elaboração de projetos e na instalação de sistemas de alarme e detecção (FDAS – Fire
Detection and Fire Alarm Systems) em unidades hospitalares, oferecendo uma visão acerca da
modelagem elétrica ideal a ser escolhida. Sabe-se que um diagnóstico precoce dos sinistros em
locais onde os ocupantes possuem mobilidade reduzida é de fundamental importância para
salvar vidas. A escolha do sistema de alarme e detecção ideal deve levar em consideração uma
série de fatores, principalmente no que diz respeito à diminuição do número de falhas e tempo
de resposta, bem como de alarmes falsos. Para cada ambiente a ser protegido há a possibilidade
de dois tipos de ligações elétricas: Classe A (loop/em anel) ou Classe B (espinha de peixe).
Neste estudo realizou-se um comparativo entre casos reais de sistemas endereçáveis de alarme
e detecção de incêndios, em dois hospitais da Serra Gaúcha. Esses dois sistemas foram
monitorados, registrando-se as falhas e alarmes falsos identificados pela central de cada unidade
hospitalar. Também foram realizados ensaios de tempo de resposta de sinalização, conforme o
modelo elétrico de cada instalação. Sendo assim e levando em consideração critérios técnicos,
definiu-se a ligação Classe A como o melhor arranjo para executar a instalação deste FDAS.
Abstract: Abstract: This work aims at guiding engineering and fire prevention professionals in
the project elaboration and alarm and detection systems (FDAS - Fire Detection and Fire Alarm
Systems) installation in hospital units, offering a vision to the ideal electrical modeling to be
chosen. It is known that in places where occupants have reduced mobility, an early diagnosis is
fundamental in saving lives. The choice of the ideal alarm and detection system must consider
a number of factors, mainly regarding the decrease in the number of failures and response time,
as well as false alarms. For each environment to be protected we have the possibility of two
types of electrical connections: Class A (loop / ring) or Class B (fishbone). In this study, a
comparison was made between real cases of addressable alarm and fire detection systems in
two hospitals in Serra Gaúcha. These two systems were monitored, recording the faults and
false alarms identified by the central of each hospital unit, and tests of signaling response time,
according to the electrical model of each installation. Therefore, considering technical criteria,
the Class A connection was defined as the best arrangement to perform the installation of this
FDAS.
Keywords: Alarm and Fire Detection. Addressable Central. Hospitals. Electrical Modeling.
Peripherals. Faults. False Alarms. Response Time.
1
Engenheiro de Controle e Automação pela PUC – RS. Engenheiro de Segurança do Trabalho pela UCS –
Caxias do Sul. E-mail: moisescitton@hotmail.com.
2
Engenheiro Civil pela PUC – RS e ENISE/França. Mestre em Arquitetura pela Unisinos – RS e doutorando em
Engenharia Civil Unisinos e Engenharia de Incêndio UC/Portugal. Orientador deste projeto.
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1 INTRODUÇÃO
ou ocupam esse edifício. Instalações de saúde e ASC’s (Ambulatory Surgery Center Safety) em
particular são ocupadas por pessoas que podem ter um atraso e/ou capacidade inibida de
evacuar, os códigos exigem que essas instalações sejam equipadas com um sistema de alarme
de incêndio (LYMAN, 2018).
O Instituto Sprinkler Brasil e a Associação Brasileira para o Desenvolvimento do
Edifício Hospitalar promoveram debates dedicados à segurança contra incêndio em hospitais.
Somente em 2019, foram registrados 32 incêndios em unidades hospitalares no Brasil, mas
apenas 10% das ocorrências foram noticiadas. O baixo índice de divulgação gera um problema
ainda maior: pacientes tendem a acreditar que hospitais estão isentos de acidentes, mas a
realidade é oposta. “As características das edificações hospitalares tendem a agravar ainda mais
os incêndios. Considerando a baixa mobilidade das pessoas internadas e a falta de treinamento
de emergência de quem está no hospital no momento, deve-se imaginar o impacto que as
chamas podem proporcionar”, comenta Marcelo Lima, diretor-geral do Instituto Sprinkler
Brasil (INSTITUTO SPRINKLER BRASIL, 2020).
O coração de um sistema de alarme e detecção é o painel de controle principal de alarme
de incêndio (FACP). FACP’s coletam dados de dispositivos de detecção ou indicação do
sistema, processam os dados e em seguida fazem com que o sistema aja sobre os dados, se
necessário. FACP’s também podem detectar falhas no sistema que exigem reparo e
manutenção. Depois que os sinais de alarme são enviados ao painel de alarme de incêndio, o
painel deve notificar os ocupantes do edifício que uma emergência está em andamento. Códigos
de segurança contra incêndio e vida requerem que a notificação seja audível e visual. Como
alguns ocupantes podem ter problemas auditivos, o código também exige um sinal visual a ser
produzido por uma luz estroboscópica (LYMAN, 2018).
Da análise de confiabilidade de um sistema de alarme de incêndio, tanto o efeito de
redução de risco como o efeito colateral do uso desse sistema podem ser melhores
compreendidos (CHEN, 2011). Revisões dos poucos estudos anteriores das abordagens
existentes para alarmes de incêndio indicam uma série de possíveis fragilidades nos sistemas
de alarme existentes (TONG; CANTER, 1985).
Os falsos alarmes - em termos de engenharia de segurança contra incêndio - são alarmes
de incêndio na ausência de condições reais de fogo. Eles estão relacionados à troca de
informações e ocorrem como efeito colateral das tecnologias do sistema e do processo de
alerta. Os sensores altamente sensíveis nos detectores de incêndio possibilitam a identificação
de incêndios em um estágio inicial, mas isso também torna o FDAS suscetível a alarmes falsos
5
(FESTAG, 2016). Os alarmes falsos podem ser reduzidos enquanto aumenta a sensibilidade (ou
seja, diminuindo o tempo de detecção de incêndios reais) (GOTTUK et al., 2002).
Os circuitos da classe A devem poder transmitir um sinal mesmo com uma falha aberta
ou de terra no circuito, enquanto os circuitos da classe B não precisam. A conexão de loop pode
ser "tolerante a falhas", portanto permitindo operação contínua se houver uma quebra no cabo
ou falha do dispositivo. A conexão do FACP aos dispositivos pode ser "endereçável" ou
"supervisionada". Para dispositivos endereçáveis, o monitoramento é realizado pesquisando
dispositivos individuais. Para não endereçável o monitoramento dos dispositivos é realizado
através da detecção de corrente elétrica. O FACP fornece uma pequena corrente que, se
interrompida, indicam problemas como: falha ou dispositivo ausente (SINOPOLI, 2010).
2 REFERENCIAL TEÓRICO
A NBR 5410:2004 (NBR 5410:2004 – ABNT, 2004) define como serviços de segurança
em seu item 3.5.1:
Serviços essenciais numa edificação:
para a segurança das pessoas;
para evitar danos ao ambiente ou aos bens.
Estes serviços requerem também uma alimentação especial ou fonte de segurança,
(NBR 5410:2004 – ABNT, 2004). São exemplos de serviços de segurança:
iluminação de segurança (“iluminação de emergência”);
bombas de incêndio;
elevadores para brigada de incêndio e bombeiros;
sistemas de alarme, como os de incêndio, fumaça, CO e intrusão;
sistemas de exaustão de fumaça;
equipamentos médicos essenciais.
O projeto de sistemas de detecção e alarme de incêndio deve conter todos os elementos
necessários ao seu completo funcionamento, de forma a garantir a detecção de um princípio de
incêndio, no menor tempo possível (NBR 17.240:2010 – ABNT, 2010).
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A central de alarme e detecção e o painel repetidor devem ficar em local onde haja
constante vigilância humana e de fácil visualização. A central deve acionar o alarme geral da
edificação, devendo ser audível em toda área. (PM DO ESTADO DE SP, 2019). Segundo a
NBR 17.240, a central de alarme e detecção deve verificar as seguintes sinalizações de falha: -
falha na alimentação primária; - falha na ligação da bateria; - baixa isolação ou fuga a terra
(NBR 17.240:2010 – ABNT, 2010).
Os detectores pontuais de fumaça devem atender os requisitos da ISO 7240 e ISO 7240-
15. Eles são utilizados para monitorar basicamente todos os tipos de ambientes, cuja
característica no início da combustão é a geração de fumaça. Detectores de fumaça
fotoelétricos: este tipo de detector contém um olho elétrico, gerando um feixe de luz
infravermelha (IR) dentro de sua caixa. Quando a fumaça entra no detector, ela refrata a luz
infravermelha e um alarme é acionado em resposta. Em ambientes com a presença de vapor,
gases ou muitas partículas em suspensão, onde os detectores estariam sujeitos a alarmes
indesejáveis, alternativas com outros tipos de detectores devem ser analisadas (NBR
17.240:2010 – ABNT, 2010).
O acionador manual deve ser instalado em local de trânsito de pessoas em caso de
emergência, como saída de áreas de trabalho, áreas de lazer, corredores, saídas de emergência
etc. Os avisadores sonoros e/ ou visuais devem ser instalados em quantidades suficientes, nos
locais que permitam sua visualização e/ ou audição. Eles devem ser supervisionados pela
central, com relação a rompimentos de fios e cabos em suas ligações. Nos sistemas de alarme
e detecção de incêndio, todos os avisadores sonoros e visuais devem possuir tensão de operação
nominal de 24 Vcc (NBR 17.240:2010 – ABNT, 2010).
Os circuitos dos sistemas de detecção e alarme de incêndio devem atender aos requisitos
da NBR 5410 (NBR 5410:2004 – ABNT, 2004). Os condutores devem ser de cobre, blindados
e ter isolação não propagante à chama. Os condutores elétricos dos cabos multipares devem ter
bitola mínima de 0,50 mm². Estes circuitos devem ser protegidos contra influências capacitivas
e indutivas, bem como, isolação contra campos eletromagnéticos. Não são permitidas soldas ou
emendas de fios ou cabos dentro de eletrodutos, bandejas, calhas, caixas de ligação e de
passagem. Quando necessárias, devem ser feitas em bornes, ou em caixas terminais apropriadas
(NBR 17.240:2010 – ABNT, 2010).
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O item 6.1.5 da NBR 17.240 (NBR 17.240:2010 – ABNT, 2010) traz em relação a falhas
e falsos alarmes:
todos os circuitos de detecção, alarme e comando devem ser supervisionados contra
interrupção de linha e esta sinalizada como falha;
todos os circuitos de detecção devem ser protegidos contra curto-circuito,
sinalizando a ocorrência;
os circuitos de alarme e comando devem ser protegidos contra rompimento e curto-
circuito, sinalizando a ocorrência.
O ensaio de atuação deve ser efetuado fazendo-se entrar em condição de alarme um
detector ou acionador manual correspondente, deve atuar dentro de 30s (NBR 17.240/2010).
3 MATERIAIS DE MÉTODOS
Para relatar as similaridades e eventuais diferenças dos dois sistemas, veja a Tabela 1.
Observando a Tabela 1, podemos dimensionar as instalações de alarme e detecção em estudo.
Conhecidos os sistemas analisados, passaremos a organizar a coleta dos dados. Neste estudo
tomamos como referência os ensaios referenciados na norma brasileira NBR 17.240/2010
(NBR 17.240:2010 – ABNT, 2010), sejam eles: registro do número de falhas e alarmes falsos,
bem como, o tempo de sinalização dos sistemas.
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4 RESULTADOS E DICUSSÕES.
Por outro lado, efetuou-se o ensaio previsto em norma para descobrir o tempo de
resposta de sinalização dos referidos sistemas, completando o tripé de informações que foram
coletadas neste estudo: número de falhas, alarmes falsos e tempo de resposta de sinalização.
Para realizar este teste utilizou-se um “spray” especial para testes de detectores pontuais
de fumaça. Após o uso do equipamento, segundo os procedimentos definidos pelo fabricante,
registrou-se os tempos de resposta de sinalização dos diferentes sistemas, testando cada sistema
05 vezes. Construiu-se o gráfico abaixo com os resultados, com os tempos medidos em
segundos (s):
A partir dos resultados podemos analisar o funcionamento dos dois sistemas em análise.
É possível observar pela Tabela 2 que o número de falhas e alarmes falsos ocorre com maior
frequência no sistema da Unidade 02. O número de ocorrências dentro do período de coleta de
dados é três vezes maior que na Unidade 01. Esse padrão está diretamente associado à
modelagem elétrica escolhida. Da mesma forma, no Gráfico 1, fica evidenciado a diferença de
velocidade no tempo de sinalização. O sistema em loop (Classe A) produz uma resposta mais
rápida e efetiva que o sistema espinha de peixe (Classe B), em 80% dos ensaios. Em apenas um
deles, justamente no detector mais próximo a central é que os tempos de sinalização se
equivalem. A interação com a central e a resposta a possíveis sinistros se mostra mais efetiva
na ligação Classe A. Por fim, ao analisarmos a qualidade do sinal elétrico das instalações, no
periférico mais distante da central do FDAs, verificamos uma pequena diferença de qualidade
do sinal elétrico no sistema da Unidade 01, fato que corrobora com os dados coletados
anteriormente. Uma curiosidade que deve ser considerada neste estudo é a interferência dos
equipamentos de climatização na geração de alarmes falsos: é preciso escolher um local
adequado para a instalação dos detectores, ou seja, que os mesmos não sejam instalados
próximos à saída de ar dos equipamentos, diminuindo assim a possibilidade de eventos
indesejados na central de alarme e detecção.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após a análise de dados e as verificações dos sistemas FDAs em análise conclui-se que a
modelagem em loop (Classe A) apresenta resultados mais eficientes em termos de
confiabilidade, qualidade do sinal elétrico e tempo de resposta de sinalização. Em resumo o
sistema em loop permite uma comunicação mais ágil e eficiente com a central de alarme e
detecção, pois a varredura do sistema ocorre nos dois sentidos, diminuindo o tempo de resposta
da instalação. Por outro lado, o sistema executado em espinha de peixe (Classe B) produz
resultados menos significativos, porém vale destacar, que o sistema Classe B também apresenta
condições de atendimento aos requisitos normativos, ficando a cargo do projetista a escolha da
modelagem elétrica a ser utilizada. No caso de hospitais e unidades de saúde (ACSs) é preciso
considerar que a mobilidade reduzida dos ocupantes requer um sistema com alta confiabilidade,
bem como, com tempo de resposta de sinalização reduzido, para que em caso de sinistros os
responsáveis pelo plano de evacuação consigam realizar a remoção de todos os ocupantes da
edificação com segurança. Da mesma forma, a reação da brigada de incêndio a um eventual
incêndio, ocorra no menor tempo possível.
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