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Manual B1

Ficha 2: Porto

1. Ler nas estrelinhas


Leia o texto seguinte.

Lenda dos Tripeiros


[A] Tripeiro. Ao natural ou residente do Porto é aplicada, desde há séculos, a
alcunha1 de “tripeiro”. Porquê? Porque come tripas, obviamente. De resto, entre a
rica gastronomia da urbe2 , emerge como o seu prato mais emblemático e identitário
as “tripas à moda do Porto”. A receita tradicional impõe que as tripas, de vitela,
5 sejam bem limpas, esfregando-as com sal e limão, sendo depois cozidas em água e
sal. Mas este é, apenas, o início de um longo e apetitoso processo que, até à sua
conceção final, fará juntar às tripas um conjunto muito significativo de outras carnes,
nomeadamente mão de vitela, chouriça de carne 3 , salpicão4 , toucinho entremeado5
e frango. Esta especialidade é, também, devidamente confecionada com feijão de
10 manteiga, cenouras e alguma cebola. Salsa, sal, pimenta preta, entre outros
ingredientes, garantem, mas também exigem, que se deixe apurar bem este prato.
Fundamental, porque também se come com os olhos, é que seja servido numa bela
terrina6 de barro, polvilhado com cominhos e salsa picada. É, também incontornável,
que seja acompanhado por arroz branco seco.
15 [B] É um prato delicioso. Mas, recorrendo às “tripas”, é também uma receita rara
e sui generis que tem despertado a estranheza e a admiração de quem, vindo de
fora da cidade, se depara com esta iguaria 7. Ora, tão exótico e singular prato tem
que ter uma explicação. Nem que seja lendária. E é o que realmente acontece
desde há muito tempo. Com efeito, as tripas à moda do Porto possuem uma lenda e
20 são, segundo essa narrativa tradicional, resultado do profundo envolvimento do
burgo na expedição militar comandada pelo rei D. João I que, em 1415, conquistou a
cidade norte-africana de Ceuta iniciando, assim, o processo da expansão marítima e
colonial que caracterizaria o nosso país durante os séculos seguintes.
[C] Lenda à parte, os acontecimentos históricos são relativamente bem
25 conhecidos: rodeado de grande segredo, em 1414, o monarca decide organizar uma
expedição a Ceuta com o objetivo de a conquistar. Precisava para isso de uma
armada poderosa, tendo encarregado dois dos seus filhos, os infantes D. Henrique e
D. Pedro, de a organizar. D. Pedro deveria preparar embarcações no Tejo, enquanto
D. Henrique teria que fazer o mesmo nos estaleiros do Douro. Havia já 30 anos que
30 o rei possuía uma relação muito privilegiada com o Porto e sabia que poderia contar
com o auxílio da cidade. Na base desta relação encontrava-se, entre outros, o facto
de o apoio dos burgueses portuenses ter sido decisivo na sua chegada ao trono
durante a crise de 1383-85. Aliás, reconhecido por tal auxílio, D. João I tinha feito
questão de se casar no Porto com D. Filipa de Lencastre e de, posteriormente, aqui
35 lhe nascer um dos seus filhos: Henrique, o mesmo que agora enviava, em missão
fotocopiável

secreta, a este burgo.

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6. Cidadelas – Fichas de revisão

[D] Todo o Porto se entregou de um modo muito significativo ao projeto. A


armada zarpou da cidade no dia 10 desse mesmo mês e, à partida, era composta
por mais de setenta navios. Poucos dias decorridos, deu-se a junção com a frota
40 organizada no Tejo pelo seu irmão e, revelado entretanto o objetivo da missão ao
numeroso grupo de homens embarcados (vários milhares, entre os quais muitos
portuenses), cerca de um mês depois consumava-se, com assinalável êxito, o
assalto da cidade marroquina.
[E] Mas, o que é que tudo isto tem a ver com as tripas? É aqui que entra a
45 lenda. Segundo a tradição, o Porto, além de todo o trabalho na construção dos
navios, forneceu também tudo o que tinha para os mantimentos da frota.
Nomeadamente carne. Todas as carnes que possuía tinham sido limpas, salgadas
e devidamente acamadas nas embarcações. A cidade, sacrificada, tinha ficado
apenas com as miudezas (pedaços), nomeadamente as “tripas”, e foi com elas que
50 teve que inventar alternativas alimentares. Surgia, assim, o prato das “tripas à
moda do Porto” que acabaria por se perpetuar até aos nossos dias e tornar-se, ele
próprio, num dos elementos mais característicos da cidade. De tal forma que, com
ele, nascia também a alcunha de “tripeiro” para os habitantes do Porto.
In http://joelcleto.no.comunidades.net (adaptado e editado)
1. Nome informal, cognome; 2. Cidade (do latim “Urbs”); 3 e 4. Espécie de enchido; 5. Parte do porco;
6. Prato utilizado para servir comida; 7. Alimento, petisco.

1.1. Ando à procura


Em que parágrafo ou parágrafos encontra as seguintes afirmações? Note
que há duas afirmações erradas.

1. A parte da lenda. 5. Um prato que chama a atenção.


2. Uma expedição secreta. 6. O ano preciso em que tudo
3. Como cozinhar as tripas. 7. aconteceu.
O sucesso da expedição.
4. A palavra vem de estômago. 8. As tripas, usadas para fazer barcos.

1.2. Dar conta


Selecione do texto:
1. Duas palavras e/ou expressões idiomáticas que já conhece, e explique-as.
__________________________________________________________________
2. Duas informações sobre gastronomia, cozinha ou História que já conhece das
unidades anteriores. _______________________________________________
3. Duas formas verbais marcadas a negrito, explicando o seu significado no contexto.
__________________________________________________________________

1.3. Dois a dois


Com o seu colega, discuta o que faz quando prepara uma viagem
a uma nova cidade. Use os verbos seguintes:

preparar · recomendar · pedir · sugerir · experimentar · provar...


fotocopiável

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