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[...]
Do alto podia ver tudo sem ser visto. Então chegaram àquele lugar quarenta homens
muito fortes e bem armados, com caras de poucos amigos. Ali Babá concluiu que
eram quarenta ladrões.
Os homens desapearam dos cavalos e puseram no chão sacos pesados que continham
ouro e prata. O mais forte dos ladrões, que era o chefe, aproximou-se da rocha e
disse:
— Abre-te, Sésamo!
Assim que essas palavras foram pronunciadas, abriu-se uma porta na caverna. Todos
passaram por ela, e a porta se fechou novamente. Depois de muito tempo, a
passagem voltou a se abrir, e por ela saíram os quarenta ladrões. Quando todos
estavam fora, o chefe disse:
— Fecha-te, Sésamo!
A porta se abriu e Ali Babá ficou sem palavras diante do que os seus olhos viram: uma
grande caverna, cheia dos tecidos mais finos, tapetes belíssimos, e uma enorme
quantidade de moedas de ouro e prata dentro de sacos. [...]
Gabarito: 1C | 2B
“Abre-te Sésamo!” Ouvimos o pobre vendedor de lenha gritar diante da montanha.
Seu grito nos chega de longe, de algum lugar do Oriente entre os séculos VIII e XV e
vem até nós completamente audível. As aventuras desse homem simples, de bom
coração, como diz seu nome — “baba”, que quer dizer honesto em árabe –, ganharam
mais uma versão, tão caprichada e cuidadosa que faria inveja aos vizires e grão-
vizires. Ali Babá é personagem das Mil e uma noites, livro, ou livros, cuja
importância, essência e fascínio se perdem no tempo. Contados e recontados de
forma apaixonada em todo o mundo, por milhares de vozes, por tradutores,
pesquisadores, estudiosos e tantos contadores de histórias, os mil contos são
patrimônio cultural da humanidade. Galland traduziu no século XVIII, Luc adaptou e
Ruth Salles fez uma primorosa tradução. Nesse esforço coletivo e gratuito de
gerações, os leitores vão aprender sobre odres, azeites, mercados, portas mouriscas,
especiarias, figueiras e nomes diferentes, como Cassim, Fairuz, Hussein, Chainás…
Alguém começou a contar essa história há mil noites e mil anos… e ainda não
terminou.
Notas
1..O irmão de Ali-Babá, Folha de São Paulo, Seção Opinião, A2, 22.10.2001.
5..Naquele tempo eles eram felizes. Só havia 40 ladrões. Hoje, temos 40 ladrões por
quilômetro quadrado. Além dos corruptos.
6..Ao contrário do que se pensa, Ali-Babá não era ladrão. Os 40 ladrões eram 40
mesmo: 39 e o chefe, Cogiá Hussein. O nome da história leva a imaginar
erroneamente que os ladrões eram 40, mais um, Ali Babá, o chefe.
7..Sésamo deriva do lat. Sésamon, gergelim, planta originária do Oriente, cujos grãos
são usados na culinária.
Na verdade [2], Cassim, irmão mais velho de Ali-Babá, casou-se com uma moça rica,
filha de abastado mercador. Morto este, o casal herdou toda a herança. Cassim-Babá
ficou rico [3]. Ali, ao contrário, casou-se com uma jovem pobre. Viviam mal, longe
da cidade. Ali era lenhador e só possuía três burrinhos, com os quais levava lenha
para vender na cidade [4].
Um dia, quando Ali-Babá estava cortando lenha perto de uma montanha,
aproximaram-se numa grande poeira nada menos do que 40 ladrões [5]. Um deles,
Cogiá Hussein, o chefe [6], aproximou-se da parede da montanha e gritou:
– “Abre-te, sésamo!”
Abriu-se uma porta na rocha por onde entraram os 40 ladrões, cada um carregando
uma grande sacola. Minutos depois, todos saíram, agora com as sacolas vazias. E
Cogiá outra vez gritou:
– “Fecha-te, sésamo!”
E a porta se fechou.
Ali desceu de uma árvore, onde havia se escondido, e gritou na direção da parede:
Ali encheu uma sacola de moedas de ouro, abriu a porta da caverna com a senha
mágica e gritou:
– “Close yourself, sésamo!”
E a porta se fechou. Em casa, Ali e sua mulher inventaram de contar quantas moedas
havia na sacola. Para isso, ela pediu uma vasilha emprestada à esposa de Cassim.
Esta pensou:
“– Eles são tão pobres! O que teriam para ser contado?” Resolveu colocar um pouco
de sebo no interior da vasilha. Assim, alguma coisa nela ficaria grudada e saberiam
do que se tratava.
Não deu outra: uma moeda de ouro ficou pregada no fundo da vasilha.
No dia seguinte, Cassim, que, embora rico, era muito invejoso, “apertou” Ali-Babá,
que acabou revelando o segredo dos ladrões e as palavras mágicas.
Cassim não perdeu tempo. Arriou 10 mulas e 20 cestos e rumou para a montanha.
Foi assim que Cassim, surpreendido com a boca na botija pelos 44 ladrões [8], acabou
executado.
Alkarismi
(800-850)
Os povos do oriente médio sempre tiveram muita curiosidade e interesse pelos números. A
palavra algarismo é uma homenagem ao matemático, astrônomo e geógrafo árabe Alkarismi,
que nasceu por volta de 800 A.D. e morreu por volta de 850 A.D.
Com a intenção de tornar Bagdá o centro cultural da época, o califa Harum-al-Rashid mandou
vir da Índia livros de matemática, que logo foram traduzidos para o árabe. Estudando esses
livros, Alkarismi compreendeu o tesouro que os matemáticos hindus haviam descobertos.
Os comentários que seguem foram baseados na obra O homem que calculava, de Malba
Tahan (pseudônimo do professor de matemática, Julio Cesar de Melo e Souza).
Em suas atividades ilícitas, para juntar riquezas os ladrões roubavam, isto é, subtraiam e,
juntavam, isto é, somavam ao botim acumulado. O que faziam, então, os ladrões? Subtraiam e
somavam!
O número 40 é o maior número que pode ser decomposto em quatro partes desiguais e, com
elas, formar por adição e subtração todos os números inteiros desde o 1 até o 40. Essas
partes são: 1, 3, 9, 27. Note outra coisa notável: estes quatro números formam uma progressão
geométrica de razão 3!
Vejam como os 40 primeiros números inteiros são formados com aquelas quatro partes:
1 = 1 14 = 27 - 9 - 3 - 1
15 = 27 - 9 - 3
16 = 27 - 9 - 3 + 1
2 = 3 - 1 17 = 27 - 9 - 1
3 = 3 18 = 27 - 9
4 = 3 + 1 19 = 27 - 9 + 1
20 = 27 - 9 + 3 - 1
21 = 27 - 9 + 3
5 = 9 - 3 - 1 22 = 27 - 9 + 3 + 1
6 = 9 - 3 23 = 27 - 3 - 1
7 = 9 - 3 + 1 24 = 27 - 3
8 = 9 - 1 25 = 27 - 3 + 1
9 = 9 26 = 27 - 1
10 = 9 + 1 27 = 27
11 = 9 + 3 - 1 28 = 27 + 1
12 = 9 + 3 29 = 27 + 3 -1
13 = 9 + 3 + 1 30 = 27 + 3
31 = 27 + 3 + 1
32 = 27 + 9 - 3 - 1
33 = 27 + 9 - 3
34 = 27 + 9 - 3 + 1
35 = 27 + 9 - 1
36 = 27 + 9
37 = 27 + 9 + 1
38 = 27 + 9 + 3 - 1
39 = 27 + 9 + 3
40 = 27 + 9 + 3 + 1
Note o número 1 aparece uma vez logo após o sinal =, o número 3 aparece três vezes, o 9
nove vezes e o 27 vinte e sete vezes! Note, também, que cada um dos quatro números
(1,3,9,27) aparece vinte e sete vezes nas quarenta relações.
Essa curiosa propriedade matemática e o fascínio daquele povo pelos números parecem
justificar a escolha do 40 pelos narradores da história de Ali Babá