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Cenário Energético

Seminário
Eficiência no Uso de Recursos Naturais

Marco Antonio Siqueira


marco@psr-inc.com

S, Paulo, 12 de fevereiro de 2015

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Agenda

► A estrutura de oferta e demanda do setor elétrico

► As condições de suprimento

► Caracterização da atual crise financeira

► O que precisa ser endereçado no curto prazo

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Médio e Longo Prazo: Potenciais regionais

Nordeste:
Norte:

Eólica
Hidroelétrica GNL e Carvão
Carvão importado Importado

Sul:

Sudeste/C.Oeste:
Pequeno potencial hidro,
Eólica
térmica gás natural,
Carvão nacional óleo, biomassa e nuclear
Pequeno potencial
Hidro

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Características da oferta de energia
► Hidroelétrica:
 65% da capacidade total instalada
 Usinas em diferentes bacias e com grandes reservatórios para armazenamento
 Várias usinas em cascata no mesmo rio pertencentes a diferentes empresas

Owner:

Source: ONS

► Biomassa, eólicas e PCHS: 10% capacidade

► Usinas térmicas (GN, Carvão, nuclear, óleo diesel e combustível) :


25% da capacidade instalada
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Características da oferta - a complementaridade das fontes
no Brasil

► Hidros ► Atributos interessantes

 Grandes usinas na Amazônia  Complementariedade geográfica


 Biomassa  Produção com sazonalidades
 Eólica (NE e S) complementares
 PCHs Geração Sazonal

Portfólio de Hidro, eólica e biomassa permite combinação entre economia


de escala e flexibilidade

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A produção hidro terá expressiva redução de sua
participação na matriz
100%

90%

80%
% Garantia Física Total do SIN

70%

60%

50%

40%
Redução da participação hidrelétrica na produção de 74% em 2014
30% para 65% em 2030 e aumento da participação eólica de 0,6% em
20%
2014 para cerca de 11% em 2030.
10%

0%
2014 2017 2020 2025 2030
Solar 0.0% 0.0% 0.0% 0.3% 0.6%
Outros 2.6% 2.2% 1.9% 2.2% 1.1%
Óleo Diesel/Comb. 4.4% 3.8% 3.3% 2.1% 0.6%
Carvão Nacional 1.9% 1.4% 2.0% 1.8% 1.5%
Carvão Importado 1.9% 1.6% 1.4% 1.2% 1.0%
Biomassa 1.6% 1.4% 2.7% 2.3% 2.0%
Nuclear 2.5% 2.2% 3.3% 3.7% 4.8%
Eólicas 0.6% 6.0% 9.8% 10.4% 11.4%
Gás Natural 10.0% 9.7% 9.6% 11.0% 12.5%
UHE 74.3% 71.6% 65.9% 64.9% 64.9%
“Outros” inclui Proinfa e termelétricas a gás de processo
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Características da demanda de energia

► Consumo de energia 475.000 GWh em 2014


 Consumidores regulados supridos pelas distribuidoras
 Clientes livres
 Consumidor livre demanda de ponta ≥ 3 MW, conectados ≥ 69 kV
 Consumidores com carga ≥ 500 kW podem contratar de fontes renováveis e tem
incentivos com desconto de tarifas de T/D

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A evolução do consumo e estrutura do mercado de energia

4,8% a.a

2,3% a.a
RACIONAMENTO
2003 = 2000

3,6% a.a

PIB: 3,0% a.a

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Agenda

► A estrutura de oferta e demanda do setor elétrico

► As condições de suprimento

► Caracterização da atual crise financeira

► O que precisa ser endereçado no curto prazo

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A evolução do armazenamento hidrelétrico 2012-2014 indica
alguma fragilidade estrutural

PIOR
armaz.
da história
MELHOR
armaz.
da história

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Houve escassez severa em 2012, 2013 e 2014?

2013 foi um ano bom...


140%
2012 foi um ano razoável...
120%

100% 97%
ENA SIN (% MLT)

87%
80% 83% 2013
80%
67%
2001
60%
2012
2014
40%

20% 1953 ... e 2014 foi 9º pior do histórico


0%
1%
4%
6%
8%
11%
13%
15%
18%
20%
23%
25%
27%
30%
32%
35%
37%
39%
42%
44%
46%
49%
51%
54%
56%
58%
61%
63%
65%
68%
70%
73%
75%
77%
80%
82%
85%
87%
89%
92%
94%
96%
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E o triênio 2012/2014?

Foi o 16º pior do


histórico

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Se não foi a seca, por que o sistema esvaziou?

Porque as restrições operativas reais são piores do que as representadas


nos modelos oficiais de planejamento
87% 87% 86%
85% 86%
82%
80% 80%
79%
77% 77% 76%
74%
80%
77% 70%
75% 75% 68% 67%
72% 72% 65% 65%
62% 62%
67%
57% 63%
55% 54% 62% 61% 60%
51%
57%
55% 55%

49%
47% 46%
Se o passado fosse 44%
43%
reconstituído (“backcasting”) 40%
37% 38%
com os modelos oficiais de 33%
Simulado 31%
simulação, o nível dos Esta diferença possibilitaria o atendimento
Real
reservatórios em dezembro a uma carga anual de 5,3 GW médios
de 2013 seria 65% (22 pp
maior do que o real)

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E o mês de janeiro de 2015?

 Vazões em janeiro: as piores da história


• SE: 43% (antes, a pior era 44% em 1953)
• NE: 26% (antes, a pior era 34% em 1971)
• SIN: 57% (segunda pior)

 Combinação de um janeiro ruim com condições iniciais de


armazenamento péssimas ⇒ preocupações com suprimento e com o
recrudescimento do desequilíbrio econômico-financeiro do setor.
78%
72% 75% 73% 73% 76% 75%

64% 63%
56% 57%
54%
50% 48%
43%
39%
SIN (% max)

38%
33%
31/Jan

22%

1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

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E a correlação do setor elétrico com o abastecimento de
água?

► 2014 foi o pior ano de hidrologia registrado no sistema


Cantareira (SP)
► A afluência em 2014 foi de 25% da média histórica.

► A pior seca até então (1955) foi de 56% da média, mais que o
dobro do evento do ano passado.
► O triênio 2012-2014 é mais seco que 1953-1955

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2012-2014
1953-1955
0%
20%
40%
60%
80%
100%
120%
140%
160%

52%
2012-2014

66%
1954-1956
2003-2005
1952-1954
2005-2007
1942-1944
1944-1946
1968-1970
2010-2012
1955-1957
1977-1979
1933-1935
1993-1995
1979-1981
1972-1974
1939-1941
1964-1966
1934-1936
Curva de permanência (vazões do Cantareira)

1949-1951
1961-1963
1959-1961
1980-1982
1976-1978
1938-1940
1960-1962
1937-1939
1931-1933
1981-1983
Agenda

► A estrutura de oferta e demanda do setor elétrico

► As condições de suprimento

► Caracterização da atual crise financeira

► O que precisa ser endereçado no curto prazo

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Origens da crise
A exposição das distribuidoras no mercado de curto prazo
► As distribuidoras de energia têm a obrigação legal de estarem 100% contratadas,
e são penalizadas se voluntariamente não contratarem ou errarem as previsões de
evolução de seu mercado.
► Em dezembro de 2012, as distribuidoras tiveram o vencimento de 8.600 MW
médios em contratos de aquisição de energia oriundos do 1º leilão de energia
existente realizado em 2005.
► Em função da renovação das concessões da geração e da cotização de energia
das usinas renovadas, não foi realizada a recontratação da energia que venceria
ao final de 2012 (não se realizou o leilão A-1).
► O governo esperava a adesão de todos os geradores à proposta de renovação
das concessões da MP 579, o que não ocorreu.
► Como consequência, as distribuidoras ficaram com exposição de 2.000 MW
médios em 2013 e obrigadas a comprar a diferença entre seus consumos e
montantes contratados no mercado de curto prazo.

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... para complicar, os preços de curto prazo se elevaram
fortemente em 2013
► O preço médio em 2013 (R$ 262/MWh), foi cerca de R$ 100/MWh maior que o
preço médio de 2012 e impactou fortemente o caixa das distribuidoras.
► Em 2014, preço médio de R$ 690/MWh impactou não só as exposições
contratuais das distribuidoras, mas também os geradores hidroelétricos em função
do GSF.

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Configurou-se então a crise financeira ...

► Problema: devido ao volume de exposição no mercado spot e aos preços de curto


prazo as despesas para fazer frente à liquidação mensal na CCEE causaram
custo excessivo às concessionárias de distribuição.
► As distribuidoras têm garantia de repasse às tarifas dos custos desta exposição
involuntária, entretanto esta compensação só ocorre uma vez por ano, na época
da revisão/reajuste tarifário
 Até esta data as distribuidoras precisariam arcar com as despesas.
 No entanto, o custo excessivo impactou o equilíbrio econômico-financeiro das
empresas.
► O governo emprestou (sem juros) R$ 10 bilhões, a serem pagos em 5 anos a partir
de 2015.
► Além disto, o Tesouro já havia aportado R$ 8,5 bilhões em subsídios para garantir
a redução de 20% nas tarifas almejada pelo governo
► Custo total de 2013: 18,5 bilhões de reais

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Configurou-se então a crise financeira ...

► Em 2014, os montantes descontratados (cerca de 2.500 MW médios) e os preços de curto


prazo foram ainda maiores (cerca R$ 690/MWh em 2014 x R$ 260/MWh em 2013), levando
a um desequilíbrio ainda mais severo.

► Gastos das distribuidoras que serão pagos pelos consumidores: R$ 27,7 bilhões:
 R$ 17,8 bilhões de empréstimos bancários (Conta ACR) a serem pagos em quatro anos;
 R$ 2,5 bilhões de empréstimo adicional;
 R$ 7,4 bilhões suportados pelas empresas a serem repassados nos reajustes de 2015.
► Adicionalmente....
► Houve um aporte do Tesouro para subsidiar a CDE de R$ 9.9 bilhões;
► A CDE por sua vez apresentaria ainda um déficit de R$ 4 bilhões referente aos gastos
de 2014 e um “custo” adicional de R$ 6 bilhões recém anunciados pelo governo.
► Custo total em 2014: R$ 47,6 bilhões (27,7 + 9,9 + 4,0 + 6,0)

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Estimativa de impacto tarifário

Tarifa de Fornecimento Residencial 485


(média de 30 distribuidoras)

+41%
R$/MWh - valores nominais

338 344

-18%
276 284 +21%

+3%

Dez/2012 Mar/2013 Dez/2013 Nov/2014(*) Projeção 2015(*)

Tarifa sem PIS/COFINS/ICMS - Fonte: SAMP/ANEEL, PSR (*estimativa)

Breakdown dos impactos em 2015 (Efeitos aproximamdos):


• Inflação = 6%
• Pagamento dos empréstimos (Tesouro e Conta ACR) = 11%
• CDE (orçamento de 23 bi que resultou dos déficits existentes + a
retirada dos aportes do Tesouro) = 14%
• Custos com energia = 10%

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Outros custos ainda em discussão não transferidos às tarifas

► Indenização dos ativos de transmissão anteriores à 2000

 Previsto R$ 10 bilhões, transmissoras estimam R$ 20 bilhões


► Prejuízos causados às hidrelétricas pelo esvaziamento acelerado dos
reservatórios: cerca de R$ 20 bilhões
 Hidrelétricas geraram abaixo dos contratos (GSF) e compraram energia a
preços muito elevados;
 Não é óbvio que este problema tenha sido ocasionado pela hidrologia e que
seja risco de mercado.
► Indenização do valor residual das concessões que serão leiloadas em 2015

 O fundo setorial RGR, destinado a estas indenizações, não tem recursos;


 Grande risco de judicialização, pois contratos de concessão definem
indenização por valor contábil, governo quer usar metodologia (VNR).

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Agenda

► As condições de suprimento do setor elétrico

► Caracterização da crise financeira no setor

► O que precisa ser endereçado no curto prazo

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Clarear as questões relativas à operação conjunta água e
eletricidade

► Nos anos anteriores, o setor elétrico desatendeu (“relaxou”)


os requisitos de uso múltiplo da água
 Navegação (e.g. hidrovia do Tietê), irrigação, turismo, requisitos
ambientais etc.
 “Bola dividida” institucional entre ANA e ONS pois, à exceção do
abastecimento humano, não há como “desempatar” prioridades

► Estes requisitos revisados devem ser representados de


maneira diferente da atual nos modelos operativos do setor
elétrico
 Manter um armazenamento preventivo – caso do Paraíba do Sul

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Eficiência, racionalização ou racionamento, precisam levar
em conta o equilíbrio da indústria

► Além de ações que busquem o uso eficiente de energia, gestões


que tragam impactos sobre a demanda no curto prazo são
necessários.
► Busca de eficiência, racionalização ou mesmo um racionamento
devem ser pensados considerando os tempos de resposta para
evitar um custo ainda mais elevado à sociedade.
► Racionalização e incentivo à eficiência parece ser o caminho
(conforme declarações do governo). No entanto ele pode ter
impactos negativos sobre o mercado, potencializando a crise
financeira do setor se não configurados em um arcabouço legal.

26
MUITO OBRIGADO

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