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BIBLIOTECA DA VILA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA SORE A CRIAÇÃO DE UMA

BIBLIOTECA COMUNITÁRIA

Resumo: Esse trabalho visa apresentar um relato das atividades desenvolvidas na Biblioteca da Vila cujo foco foi organizar um
espaço interativo dentro da Casa da Comunidade para servir de biblioteca comunitária da Vila Aparecida para toda população
que se encontra em situação de vulnerabilidade social nessa região de Florianópolis, Santa Catarina. Foi realizado o tratamento
técnico do acervo disponível e a promoção de atividades culturais e educacionais para comunidade por meio de parcerias.
Percebeu-se muitas dificuldades para implementação de mais ações com periodicidade pela falta de recursos, pois a Casa da
Comunidade não está regularizada e não pode receber recursos públicos advindos de projetos de captação externa e na
Universidade não havia editais vigentes para receber financiamento. Além disso, as instituições parceiras também não puderam
colaborar de forma efetiva com promoção de atividades culturais e educacionais previstas no projeto, agravado pela mudança
de liderança na Casa da Comunidade.

Palavras-chave: Biblioteca Comunitária. Inclusão social. Vulnerabilidade social. Biblioteca da Vila.

1 INTRODUÇÃO

Bibliotecas comunitárias tem funções muito importantes como promover o resgate da cultural
popular e uma formação político cidadã, o fortalecimento da comunidade na qual ela está inserida e
principalmente, a valorização do indivíduo enquanto ser transformador da sociedade conforme Soares et
al (2019). Pensando nisso, por interesse dos líderes comunitários da Vila Aparecida, foi criada uma
biblioteca dentro da Casa da Comunidade em março de 2020, porém, devido ao distanciamento social
causado pela pandemia do COVID-19, as atividades foram interrompidas e reiniciadas somente em 2022
com a implementação do projeto de extensão “Biblioteca Comunitária da Vila Aparecida: espaço de ação
e interação” vinculado ao curso de Biblioteconomia da Universidade do Estado de Santa Catarina.
Assim, esse trabalho visa apresentar um relato das atividades desenvolvidas na Biblioteca da Vila
cujo foco foi organizar um espaço dentro da Casa da Comunidade para servir de biblioteca comunitária da
Vila Aparecida, em Florianópolis, para a população que se encontra em situação de vulnerabilidade
social.
Além de oferecer um espaço com acesso à diferentes recursos e fontes de informação para auxiliar
as crianças e jovens da comunidade da Vila Aparecida na construção do conhecimento, a ideia inicial
também era desenvolver ações que visem fomentar atividades culturais e educacionais no espaço da
biblioteca comunitária. Atualmente, a comunidade da Vila Aparecida tem mais de 18 mil habitantes que
vivem em situação de vulnerabilidade social sendo que é importante destacar que a iniciativa em
organizar essa biblioteca no bairro partiu dos próprios líderes comunitários que cederam parte do espaço
da Casa da Comunidade para essa finalidade conforme serão relatadas as atividades nesse trabalho.

2 DESENVOLVIMENTO

Ao falar em vulnerabilidade social, inclusão e comunidades, é importante destacar que as


bibliotecas têm como principal função propiciar o acesso e a democratização da informação bem como
viabilizar um processo educativo no que se refere à formação de leitores e de usuários que incorporem a
preocupação com a preservação dos acervos enquanto bem público. Dessa forma, as bibliotecas
comunitárias além de cumprirem esse papel também visam minimizar as diferenças culturais, raciais,
econômicas e educacionais e contribuem para o desenvolvimento social, porém elas devem ser munidas
de um bom acervo considerando a cultura e costumes que está inserida, possibilitando o livre e gratuito
acesso à informação para minimizar a vulnerabilidade social e promover inclusão de todos dessas
comunidades carentes.
Bibliotecas comunitárias são instituições voltadas para disseminar informação e cultura em locais
de carência econômica. Na chamada sociedade da informação, ainda existem pessoas desinformadas, não
pela opção de não quererem fazer parte desse processo, mas porque se veem privadas do direito de
participação. Isso se deve ao fato de que a informação só está acessível a quem pode pagar por ela, pois a
informação está contida em suportes informacionais como: Internet, livros, revistas, etc., cujo valor
ultrapassa o poder aquisitivo de grande parcela da população (JESUS, sd. p. 2).
As bibliotecas comunitárias funcionam como uma espécie de ferramenta na ação do
desenvolvimento das comunidades e ajuda diretamente na formação de novos leitores. Estes espaços são
tão importantes que funcionam como centros culturais e informacionais ao alcance de todos que além de
promover o acesso à informação possibilita também o resgate da cidadania, a formação do indivíduo, a
autoestima e a integração social, no desenvolvimento de um olhar crítico e uma sociedade mais
consciente. Muitas bibliotecas comunitárias estão presentes em regiões onde o Estado não atende
culturalmente.
Vale destacar que “as bibliotecas comunitárias são mantidas pela própria comunidade ou por
instituições do terceiro setor e não apresentam vínculo com instituições ligadas ao Estado” (BASTOS,
ALMEIDA, ROMAO, 2011, p. 55). Segundo esses autores as bibliotecas comunitárias vão muito além de
um local que represente apenas um espaço de consulta ou de pesquisa, devolução e empréstimo de livros
(como é o sentido dominante em relação à biblioteca escolar). As existências dessas bibliotecas, que
atendem às necessidades de informação, podem ainda, minimizar a exclusão social, assim, além de
disponibilizar um local de livros visando a formação de leitores, democratização do acesso à informação,
o fortalecimento da identidade cultural e o desenvolvimento social das pessoas que utilizarão o espaço.

2.1 Bibliotecas comunitárias e inclusão social

Em meio a um contexto de desigualdades sociais e baixos índices de leitura no país, as bibliotecas


comunitárias são importantes espaços de acesso à cultura que possibilitam diferentes recursos e fontes de
informação para a população. Nascem por iniciativa das próprias comunidades que reconhecem a
importância dessas fortalezas para construção da identidade e formação cidadã das pessoas que convivem
nesses lugares de constante vulnerabilidade social. Uma comunidade pode ser entendida como um grupo
de pessoas que convivem em uma mesma área territorial e que compartilham condições de vida
semelhantes. Porém, embora a localização seja uma característica necessária de uma comunidade, o que
garante sua existência é a partilha de experiências e modos de vida que promovam certa coesão social.
Essa coesão confere a seus membros um sentimento de responsabilidade e comprometimento que,
movidos pelas relações familiares e vicinais essencialmente orgânicas e intuitivas, saem em busca de seus
objetivos (SUAIDEN, 1995; MACHADO, 2008).
Assim, como as bibliotecas públicas, as bibliotecas comunitárias têm a função social de oportunizar
acesso público a diferentes fontes de informação, porém não são subsidiadas por órgãos governamentais e
sim pela própria comunidade e parceiros. Conceitualmente falando, pode se afirmar que as bibliotecas
comunitárias são: bibliotecas criadas efetivamente pela e não para a comunidade, como resultado de uma
ação cultural, sua perspectiva comum do grupo gira em torno do combate à exclusão informacional como
forma de luta pela igualdade e justiça social, caracteriza se pela articulação local e o forte vínculo com a
comunidade, localizam se em geral em regiões periféricas, não são instituições governamentais, ou com
vinculação direta aos Municípios, Estados ou Federação (MACHADO, 2008).
Em relação à função, assim como as bibliotecas públicas, Suaiden (1995) destaca que a verdadeira
função dela só é alcançada quando possui uma íntima interação com a comunidade. Sem essa interação, é
difícil cumprir com seu objetivo de ser um dispositivo de acesso à informação para todas as pessoas. Por
isso, é preciso que exista engajamento da biblioteca com seus usuários, para que, cientes da importância
desta, possam atuar e lutar juntos por mais incentivos e apoio governamental (SUAIDEN, 1995).
De acordo com Alves (2020) essa aproximação com a comunidade e com seus interagentes se
revela também na necessidade que a biblioteca tem de estender e interiorizar os seus serviços para atender
aos habitantes da periferia e interagir melhor com esse público. Quando isso não ocorre, a biblioteca corre
o risco de perder sua função social e sua razão de existência. As bibliotecas comunitárias são também
espaços de leitura tem o objetivo de garantir o uso público e comunitário dos livros como essência, mas
também se organizam em torno de pautas sociais e também de acesso à cultura.
Além de todos os benefícios que a leitura e a informação podem trazer para os indivíduos a partir do
acesso ao conhecimento oferecido pelas bibliotecas, seja em forma de ação cultural, pela mediação de
leitura ou por simplesmente disponibilizar um espaço para a discussão de temas comunitários, oficinas,
empréstimo de livros, busca por informação utilitária, entre outros, a presença desses espaços também
contribui para o desenvolvimento local de suas comunidades. Pensando nesses benefícios e importância
desses espaços nas comunidades é que foi criada a Biblioteca da Vila para minimizar as condições de
vulnerabilidade informacional na comunidade da Vila Aparecida, na região continental de Florianópolis.

2.2 Surgimento da Biblioteca da Vila

Em 2019, durante reunião com líderes comunitários da Vila foi expressa a vontade de criar uma
biblioteca lá porque havia uma demanda da comunidade, principalmente para atender as crianças e jovens
que ficavam muito tempo ociosos pelas ruas da vila, assim estavam buscando parcerias para realizar
atividades esportivas e também criar uma biblioteca dentro da Casa da Comunidade.
Dessa forma, iniciou-se um trabalho de captação de livros, jogos, brinquedos por meio de doações
nas igrejas, nas escolas, nas universidades, na prefeitura e também na própria comunidade e foi feito uma
ampla seleção e organização para inaugurar o espaço na semana de março de 2020, membros da
comunidade ajudaram com a pintura do ambiente, das caixas de feira que serviram como estantes e da
organização do espaço:
Figura 1 – Organização do espaço que seria a biblioteca

Fonte: Acervo pessoal da autora (2020)


Em 13 de março de 2020 foi feita a inauguração da Biblioteca da Vila oficinas e atividades
diversas:

Figura 2 – Inauguração da Biblioteca da Vila

Fonte: Acervo pessoal da autora (2020)

Entretanto, veio a pandemia do COVID-19 e os decretos de distanciamento social ocasionando o


fechamento da Casa da Comunidade logo após a inauguração da Biblioteca da Vila, que retornou as
atividades início de 2021 com o trabalho voluntário da bibliotecária Daniela Spudeit que participou da
organização do espaço desde a concepção da ideia. Em 2022, a profissional que também atua como
professora do curso de Biblioteconomia criou o projeto de extensão “Biblioteca Comunitária da Vila
Aparecida: espaço de ação e interação” que contou com a participação de instituições parceiras para
realização das atividades de organização técnica do acervo e organização de atividades culturais e
educacionais como ACB, CRB e UDESC. Infelizmente por diferentes motivos, ao longo do projeto
somente a equipe da Biblioteca da UDESC participou efetivamente do projeto cuja organização do acervo
infantil e juvenil foi feita por meio da classificação por cores. Também foi feita a mudança do espaço
físico para outra sala maior dentro da Casa da Comunidade e foram realizadas algumas oficinas de
mediação de leitura e contação de histórias conforme imagens a seguir:

Figura 3 – Atividades realizadas na Biblioteca da Vila

Fonte: Acervo pessoal da autora (2020)


3 CONCLUSÃO

A ideia desse trabalho é apresentar as experiências e desafios da criação de uma biblioteca


comunitária para servir como espaço interativo dentro da Casa da Comunidade da Vila Aparecida. Assim,
foram realizadas algumas ações para arrecadar livros infantis e juvenis para compor o acervo que foi
focado nas crianças e jovens da comunidade de acordo com a demanda apresentada pelos líderes
comunitários.
O acervo foi selecionado e organizado para atender ao objetivo promovendo acesso à literatura,
dicionários, obras de referência em geral para a comunidade. É importante informar que antes não havia
um espaço organizado para a comunidade ter acesso a fontes de informação e um ambiente para leitura.
Percebeu-se muitas dificuldades para implementação de mais ações culturais e educacionais com
periodicidade pela falta de recursos, pois a Casa da Comunidade não está regularizada e não pode receber
recursos públicos e não havia editais vigentes na universidade. Além disso, as instituições parceiras
também não puderam colaborar de forma efetiva com promoção de atividades culturais e educacionais,
agravado pela mudança de liderança na Casa da Comunidade que afetou a organização das atividades.
No mês de outubro de 2022 o espaço Casa da Comunidade, onde fica a biblioteca, foi cedido para
atividades do Projeto Bairro Educador mantido pela Prefeitura de Florianópolis. Mas a biblioteca
permaneceu lá e continua aberta à comunidade, porém agora o espaço é gerenciado pela Prefeitura.
Iniciativas como dessa biblioteca comunitária visam a democratização da cultura, o
desenvolvimento da cidadania, o fortalecimento da identidade e a construção de conhecimentos das
pessoas que utilizam esses espaços, no caso pessoas que estão em situação de vulnerabilidade social, que
de outra forma, não teriam acesso a uma biblioteca e as fontes de informação lá disponibilizadas. Porém,
é importante que haja um trabalho colaborativo e coletivo das lideranças da comunidade com instituições
públicas e privadas para efetivação das atividades que devem ser implementadas de forma estratégica e
vitalizadas com recursos financeiros advindos de diferentes formas.

REFERÊNCIAS

ALVES, Mariana de Souza. Biblioteca comunitária: conceitos, relevância cultural e políticas. Revista Brasileira
de Biblioteconomia e Documentação, São Paulo, v. 16, p. 1-29, 2020. Disponível em
https://rbbd.febab.org.br/rbbd/article/view/1252. Acesso em: 20 fev. 2022.
BASTOS, G. G.; ALMEIDA, M. A.; ROMÃO, L. M. S. Bibliotecas comunitárias: mapeando conceitos e
analisando discursos. Informação & Sociedade: Estudos, v. 21, n. 3, 2011.
JESUS, Maria S. de. Implantação de bibliotecas comunitárias nos municípios do estado da Bahia. Disponível
em https://bibliotextos.files.wordpress.com/2011/08/implantac3a7c3a3o-da-bibliotecas-comuntc3a1rias-no-esta do-
da-bahia.pdf. Acesso em: 24 fev. 2022.
MACHADO, Elisa Campos. Bibliotecas comunitárias como prática social no Brasil. 2008. Tese (Doutorado em
Ciência da Informação) – Universidade de São Paulo, 2008.
SOARES, Nashila F. et al. Biblioteca comunitária: análise sobre seu conceito, função e papel social. Revista
ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis, v. 24, n. 2, p. 405-419, abr./jun., 2019.
SPUDEIT, Daniela F. A. O. Relatório de atividade de extensão do projeto Biblioteca Comunitária da Vila
Aparecida: espaço de ação e interação. Florianópolis, UDESC, 2022.
SUAIDEN, E. Biblioteca pública e a informação à comunidade. São Paulo: Global, 1995.

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