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Anos Atrás

Fazia uns dias que Beatriz não sabia o que era ter tranquilidade e conforto.

Seu pai tinha dinheiro e influência, mas após um grande escândalo envolvendo ele e
sua empresa foi necessário que sua família inteira pagasse pelo erro dele. Não
importando quantas roupas, bens e casas eles vendessem para tentar cobrir aquilo, a
vergonha e os olhos de todos estavam sobre os Volpi condenando a eles sem pensar
duas vezes.

Onde um dia estiveram numa grande mansão de muitos cômodos, três salas para
refeições e uma garagem para até uma dúzia de carros, agora estavam sentados a mesa
de uma casa minúscula de apenas um quarto para dormir, tomando café da manhã
simples a base de pão e café preto, para piorar sendo servidos por eles mesmos, sem
nenhum tipo de empregado. Um grande choque para os membros mais jovens da família
que cresceram sempre com pessoas em seu entorno, os rodeando como se fazia insetos
a coisas boas.

A visão que eles possuíam sobre si mesmos, de forma que foi um completo susto
descobrir que aquelas pessoas com eles não eram parte da sua vida e nem mesmo de
uma vida normal.

— Preciso que deem seu melhor e não percam essa bolsa. Seu pai veio para cá apenas
para que pudessem...

Colocando o talher no prato, Beatriz franziu as sobrancelhas, olhou para mãe com
irritação e, de forma silenciosa, a desafiou a continuar aquela história se
pudesse.

Estavam numa casa de dois quartos, com goteiras por todo lado quando chovia, chão
de madeira barulhento e cheio de cupim, além de móveis se desfazendo com qualquer
tipo de esforço sobre eles.

Nunca na sua vida passou por tanta dificuldade, tendo que dividir um único banheiro
com seus pais e irmão. Era absurdo ter que ouvir algo como se aquela situação
estivesse acontecendo por conta deles, não das ações de seu pai. Que havia
condenado a todos uma vida inteira de miséria, tendo um cômodo parte cozinha e
parte sala, com uma divisão mixuruca por meio de uma bancada velha de madeira
podre.

— Não foi por conta da bolsa que nós nos mudamos, mamãe...! Pare de agir como se
fosse essa a razão que nos trouxe a esse país! — dizendo com ironia, Beatriz se
levanta da mesa, colocando força o bastante para quebrar um dos pés bambos do
móvel.

O que aconteceu com o móvel que deu um som horrível antes de quebrar e acabar com o
café da manhã.

— Ótimo! Agora não temos onde comer, Beatriz! Parabéns! — Dante, seu irmão mais
novo diz alegre enquanto bate palmas.

Como se não bastasse os olhos castanhos dele mais escuros pela irritação por conta
da situação causada pela irmã mais velha, seu tom de sarcasmo exagerado e nada
sutil só a deixavam mais e mais estressada. Afinal de contas, como em meio a aquele
inferno, aquele pirralho havia conseguido finalizar os cachos que possuía tão bem e
sem poder comprar os melhores produtos?

Beatriz estava a dias tentando organizar seu cabelo e já cogitava ceder a prancha e
escova para não ter que ficar implorando ao pai os cremes que sempre usou para sua
finalização diária. Agora seu irmão seguia facilmente, aparentemente nada abalado
com a mudança brusca de poder aquisitivo da família deles.

— Me erra, garoto! Quando estávamos numa casa descente você vivia comendo em
qualquer lugar, não na mesa de refeições! Não tem porque sentir falta se não usava
antes! — Beatriz acusa seu irmão que a mostra o seu dedo médio juntamente de sua
língua.

Na sua arte de ser chato, se unir a sua mãe para irritar ela, Dante era um expert
definitivamente. Parecia que todos estavam cegos ao real problema ali. O grande
senhor Volpi havia os causado tudo aquilo. Como poderia não sofrer repreensões e
toda culpa recaia sobre ela, que apenas estava insatisfeita com tudo?

— Chega, Beatriz! Esse assunto não é permitido a mesa de refeições! Vai agora para
suas aulas antes que eu a ponha de castigo! Deixe seu irmão em paz!

Com essa ameaça a mulher apenas prendeu seus cachos rebeldes e cheios de frizz num
rabo de cavalo, preso por uma mecha do próprio cabelo, enquanto olhava a própria
mãe pensando no quanto ela estava sendo injusta.

Com um suspiro de resignação por final, Bia deu de ombros e levantando as mãos num
sinal de desistência pegou sua mochila no chão, que sujou com alguns pedaços de
frutas que caíram da mesa destruída, a limpando e pondo nas costas.

Não é como se sua família desse a mulheres no geral muito mais que ordens e ofensas
dirigidas. Sua mãe mesmo não sendo uma Volpi de berço, certamente aprendeu o
bastante com sua sogra para que Beatriz sofresse o suficiente com todas repreensões
que ela tinha por qualquer motivo estúpido. Como dizer o que pensava sobre seu pai
corrupto e egoísta.

— Como você pode insistir em proteger ele quando tirou tudo que tínhamos? — acusa
sua mãe a olhando de soslaio, antes de correr para porta rumo a saída da casa.

Morava numa área simples, sem vizinhos famosos ou pessoas de boas relações. Sua
sorte foi que seu último ano do ensino médio havia sido um ano maravilhoso,
portanto não aconteceu nada além do já esperado. Sua formatura, despedida dos
amigos e aprovação na universidade do melhor lugar de New York.

Logo seu futuro estava pré preparado e só cabia a Beatriz seguir seus passos já
calculados para que tivesse uma carreira de sucesso, pensou todo o caminho até a
faculdade.

Nunca na sua vida fez algo tão ruim quanto andar de metrô. Era cheio, as pessoas
estranhas e ninguém queria ceder nem um milímetro que fosse a ajudando a ficar numa
posição confortável durante a viagem até a seu novo lugar mais importante:

Onde faria sua faculdade de administração de finanças e posteriormente abriria sua


própria firma.

Tudo que a mantinha sã até a hora de descer, onde um rapaz a ajudou, puxando Bia
para fora do trem a tempo dela não perder a estação no seu primeiro dia.

Algo bom, mas só incrível pelo simples fato de daquele cara ser lindo. Era loiro,
tinha olhos claros, corpo atlético, estatura alta e um olhar muito sedutor. Isso
até o cara em questão abrir a boca.

— Hey! Você tem cara de alguém rica.... Mamãe e papai obrigaram a vir a pé pra
faculdade, foi? Deveria evitar de passear por aí com essa Birkin... — o menino
brincando faz Beatriz olhá-lo com raiva, recebendo um olhar de constrangimento do
desconhecido.

Algumas pessoas eram simplesmente inconvenientes sem se dar conta, ela pensa ao ver
o rapaz correr até ela animado, ignorando o fato que Beatriz o deixou falando
sozinho na saída do metrô.

— O que quer? — ela soou rude com o mesmo que apenas riu e estendeu sua mão,
ajeitando seus fios loiros bagunçado pela corrida dele.

Se tivesse ficado mais um segundo calado, certamente ela iria ter puxado algum
agradecimento ou coisa do gênero.

— Não quis ofender. Na real eu tava brincando, moça... Meu nome é Jonathan, qual o
seu? — perguntou a Beatriz que apenas o olha confusa resmungando por final seu
nome.

Não importava o quanto falasse baixo e sem muita vontade de dizer ao informar que
seu nome era Beatriz a reação era sempre a mesma. Que o rapaz teve assim como
muitos outros antes:

— Do Inferno de Dante? Sério? Seus pais gostavam do livro, imagino!

Revirando os olhos, se arrependeu de dizê-lo seu nome e de maneira surpreendente


foi guiada para universidade pelo rapaz que era incrivelmente popular e adorado
pelos alunos do lugar.

Até porque quem não gostaria de um projeto de deus fútil desses.

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