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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO


INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
MESTRADO EM GEOGRAFIA

ELCIO BUENO DE MAGALHÃES

ESTUDO DOS CASOS DE HOMICÍDIOS REGISTRADOS NO MUNICÍPIO


DE CUIABÁ-MT EM 2007, COM EMPREGO DE TÉCNICAS DE ANÁLISE
ESPACIAL.

Cuiabá-MT
2010
ELCIO BUENO DE MAGALHÃES

ESTUDO DOS CASOS DE HOMICÍDIOS REGISTRADOS NO MUNICÍPIO


DE CUIABÁ-MT EM 2007, COM EMPREGO DE TÉCNICAS DE ANÁLISE
ESPACIAL.

Dissertação de Mestrado em Geografia, para obtenção


do título de Mestre em Geografia, pela Universidade
Federal de Mato Grosso, Instituto de Ciências
Humanas e Sociais, Programa de Pós-Graduação em
Geografia.

Área de Concentração: Meio Ambiente e


Desenvolvimento Regional.

Orientador: Professor Pós- Dr. Luiz da Rosa Garcia Netto

Cuiabá-MT
2010
Dados Internacionais de Catalogação na Fonte

M188e Magalhães, Elcio Bueno de.

Estudo dos casos de homicídios registrados no município de Cuiabá-MT


em 2007, com emprego de técnicas de análise espacial / Elcio Bueno de
Magalhães. – 2010.
215 f. : il. color. ; 30 cm.

Orientador : Luiz da Rosa Garcia Netto.

Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Mato Grosso,


Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Programa de Pós-
Graduação em Geografia, Cuiabá, 2010.

Inclui bibliografia.

Ficha Catalográfica elaborada pelo Bibliotecário Jordan Antonio de Souza - CRB1/2099

Permitida a reprodução parcial ou total desde que citada a fonte


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ELCIO BUENO DE MAGALHÃES

ESTUDO DOS CASOS DE HOMICÍDIOS REGISTRADOS NO MUNICÍPIO


DE CUIABÁ-MT EM 2007, COM EMPREGO DE TÉCNICAS DE ANÁLISE
ESPACIAL.

Dissertação de Mestrado em Geografia, para obtenção do título de Mestre em Geografia,


pela Universidade Federal de Mato Grosso, Instituto de Ciências Humanas e Sociais,
Programa de Pós-Graduação em Geografia.

Banca Examinadora

_________________________________
Prof. Pós- Dr. Luiz da Rosa Garcia Netto
Orientador, Dpto. De Geografia, UFMT

________________________________________
Prof. Dr. Cornélio Silvano Vilarinho Neto
Banca Interna, Dpto. de Geografia, UFMT

______________________________
Prof. Dr. Naldson Ramos Costa
Banca Externa, Dpto. de Sociologia, UFMT

Conceito: ________________________________________________________________

Cuiabá-MT, 17 de Junho de 2010.


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DEDICATÓRIA

A minha querida e amada filha, KEZIA, fonte de


inspiração, força que me fez levantar dia após dia,
coragem que me fez ir ao embate, não importando
à força ou tamanho dos obstáculos e oponentes à
frente dispostos. Obrigado por existir minha filha.
E às Praças das Polícias Militares que pelo simples
fato de ocuparem um cargo hierarquicamente
subordinado a outros, são injusta e erroneamente
taxados de raça inferior, não inteligente, dado ao
ócio e não dignos de pensar e tomar decisões!
Encorajo a estes, a dedicarem a vida ao estudo
para que não pensem assim e nem aceite
pensamentos desta natureza no seio de nossa
sociedade!
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AGRADECIMENTOS

Ao Pai Criador que por alguma razão permitiu minha existência, pois sem a
vontade Dele nada do que é seria e nada será, pois sei da perfeição do seu agir.
Aos meus Pais e irmãos que mesmo na simplicidade do dia a dia que a vida de
lavradores lhes tem dado, souberam do jeito e no momento deles oferecer-me condições,
situações e momentos que me conduziram a certeza de que a busca pelo conhecimento
era o melhor caminho para que eu pudesse superar as dificuldades, saciar a sede de
justiça, aplainar os terrenos das desigualdades, vencer as arbitrariedades constantemente
impostas, as tempestades que sempre surgem e subir ao pódio, galgar os louros da vitória
mesmo quando as profecias dos hipócritas de outrora prediziam o contrário as minhas lutas
e sonhos que muitas vezes foram sufocados, mas jamais extintos.
Ao meu orientador Profº. Pós- Dr. Luiz da Rosa Garcia Netto, pela amizade,
confiança, por sempre ter doado seu tempo, pela paciência ao dispor ouvir minhas
inquietações, pela honrada companhia, pelos filmes que assistimos, pelos churrascos que
só ele sabe fazer, pelos conselhos que em muito serviram para vida pessoal e
especialmente para esta conquista. Agradeço ainda pelos estímulos dispensados, pelos
puxões de orelhas nos momentos certos, pelo conduzir ao caminho certo, pelas
preocupações e por fazer-me afastar das cegas teimosias que muito me acometeram.
Aos amigos, Edilair (Diana), Ronis Zaina, Flávio e família. Obrigado pela
amizade, pelas dicas, conselhos que em muito contribuíram para esta conquista.
Aos mestrandos da Turma 2008, pelos ideais compartilhados, pelos momentos
de alegria e integração, pela força e companheirismo da maioria. Obrigado a todos.
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Aos meus chefes, especialmente ao Superintendente de Segurança


Estratégica, da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (SEJUSP-MT), Dr.
Romel Luiz dos Santos, agradeço pelo crédito em minha pessoa, por ter estendido as
mãos nos momentos impares, por ter me ajudado na conclusão desta pesquisa, quando da
concessão de direitos, da cessão de materiais logísticos e por incondicionalmente ter me
oferecido ajuda. Obrigado! Que Nosso Pai Celestial o abençoe sempre.
Ao chefe imediato Major BM Sílvio e companheiros de serviço Capitão PM
Zaina, Subtenente PM Sigarini, Investigador Manoel Vieira, Soldado PM Uchoa,
Investigadora Rosângela, Investigador Luis Fernando e Escrivã Lucimar e demais
companheiros, obrigado pelo apoio e paciência quando dos momentos difíceis.
Aos servidores do Instituto de Medicina Legal, da Perícia Oficial de Identificação
Técnica do Estado de Mato Grosso (IML-POLITEC-MT), Melquíades, por ter franqueado
acesso aos Laudos de Necropsia. As servidoras Lourdes, Mimi e estagiários, pela
companhia, confiança depositada, pelo bom papo e pelos cafezinhos, quando da coleta de
dados nos laudos. Um muito Obrigado!
A Tatiane, na época especial amiga, hoje namorada que se dispôs a atender
minhas solicitações, corrigindo meus escritos, sendo minha séria companheira, que a seu
modo me fez ver e entender muitas das entrelinhas que compõe o emaranhado da vida.
Mulher de opinião solidificada! Admirável! Obrigado!
A Alzeni, um obrigado!
A minha amada filha Kezia, motivação de vida, estrela que não deixou que eu
perdesse o alvo, que neste caso foi a conclusão deste trabalho. Obrigado por existir filha!
E àquelas pessoas que na jornada da vida figuraram como obstáculos
animados tentando impedir, malograr meus sonhos, minhas idéias e ideais, pondo em
xeque minha honra, minha dignidade, minha capacidade de discernimento e abstração,
minha disposição a vitória, duvidando de minha lucidez e inteligência. Agradeço a todos
eles, pois seus malefícios e impedimentos foram de extrema valia, e servindo de
combustível que me manteve de pé e literalmente ligado aos objetivos a serem alcançados.
As demais pessoas e amigos que de alguma maneira contribuíram para este
feito, Obrigado.
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Comentando a problemática situação geral do


mundo com o amigo Ernest Jones em Abril de 1932,
Freud disse: “Talvez estejamos repetindo o gesto
ridículo de salvar uma gaiola de passarinho,
enquanto a casa está pegando fogo”.

Peter Gay, 1989


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RESUMO

Este trabalho estuda os homicídios registrados no Município de Cuiabá-MT, um problema social que
a todos atinge naquilo que é mais valioso, a vida, causando medo, alterações na paisagem urbana e
adoção de novos hábitos e costumes. Tem como objetivo principal estudar os homicídios registrados
no Município de Cuiabá-MT em 2007, através da caracterização pessoal, contextual, temporal e
com emprego de técnicas de análise espacial. Durante o estudo, foram feitos os seguintes
procedimentos metodológicos: 1) Levantamento e revisão bibliográfica; 2) Escolha das instituições,
onde se fez a coleta dos dados; 3) Escolha das variáveis de caráter pessoal, contextual, temporal e
espacial; 4) Coleta de dados em instituições governamentais; 5) Sistematização de dados em forma
de tabelas, quadros, figuras, discussão e análise dos mesmos; 6) Levantamento de campo, para
coleta de coordenadas UTM com GPS e confirmação, correção de endereços incompletos e adição
de endereços não informados; 7) Espacialização dos homicídios, e; 8) Análise dos dados. Para
análise dos dados estruturou-se a pesquisa em quatro dimensões: a pessoal que considerou as
variáveis referentes às vítimas (sexo, faixa etária, cor ou raça, estada civil, tempo de escolaridade,
profissões ou ocupações, local de origem e local de residência); a contextual, referente às
circunstâncias nas quais esses homicídios ocorreram (motivações do crime e agente da causa
morte); a dimensão temporal refere-se ao tempo em que os homicídios ocorreram (mês, dia da
semana e horário) e a espacial, considerou os locais onde ocorreram os homicídios (local de
ocorrência, tipo de local de ocorrência e logradouros). Também foram feitas comparações das áreas
de ocorrência de homicídios com os respectivos níveis médios de renda de cada área. Os
resultados alcançados foram os seguintes: 89,3% das vítimas eram do sexo masculino; 74,8% eram
pessoas adultas com idade entre 20 e 59 anos; 65,0% eram de cor ou raça parda; 83,0% eram
solteiros; 45,1% possuíam de 4 a 7 anos de tempo de instrução escolar; 19,0% trabalhavam em
serviços gerais, 15,5% eram estudantes e 12,6% na área da construção civil como profissão ou
ocupação quando assassinadas; 67,5% eram naturais de Mato Grosso; 91,7% residiam em Mato
Grosso quando mortas; 32,5% dos crimes não tiveram a motivação apurada, 19,4% tiveram como
motivação rixa/acertos de contas e 16,5% o envolvimento com drogas; 76,6% foram praticados com
uso de armas de fogo; dentre os meses analisados, 12,6% ocorreram no mês de setembro, 11,7%
em janeiro e 10,2% em junho; 21,8% aos domingos e 20,4% aos sábados; 33,0% no período das
00h00min. às 06h00 min. e 31,5% no período das 18h01min. as 23h59 min.; 6,8% dos homicídios
no bairro Morada da Serra, 6,8% no bairro Pedra 90, 3,9% no bairro Alvorada; 42,7% ocorreram em
vias públicas e 14,5% em residência particular e os logradouros que mais concentraram homicídios
foram: a avenida Fernando Corrêa da Costa e avenida Beira Rio, com 3 homicídios cada. Da
comparação das áreas com registro de homicídios com os respectivos níveis de renda, constatou-se
que os homicídios concentraram-se nas áreas classificadas como baixa e médio-baixa.

Palavras-chave: violência, homicídios, análise espacial.


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ABSTRACT

This work studies the homicides registered in the city of Cuiabá-MT, a social problem that reaches all
people in what it is more valuable for them, their life, causing fear, alterations in the urban landscape
and adoption of new habits and customs. It has as objective main to study the homicides registered
in the city of Cuiabá-MT in 2007, through personal characterization, contextual characterization,
secular and spatial characterization the, with job of techniques of spatial analysis. During the study,
the following methodological procedures had been made: 1) Survey and bibliographical revision; 2)
Choice of the institutions, where it made the collection of the data; 3) Choice of the variable of
personal character, contextual character, secular and spatial character e; 4) Collection of data in
governmental institutions; 5) Systematization of data in tables, pictures, figures, discussion and it
analysis of the same ones; 6) Survey on field, for collection of co-ordinated UTM with GPS and
confirmation, correction of incomplete addresses and addition of new addresses weren´t informed; 7)
Spatialization of the homicides and 8) Analysis of the data. For analysis of the data the research was
structuralized in four dimensions: the personal dimension that considered the variable referring to the
victims (sex, age band, color or race, civil state, time of instruction, professions or occupations, place
of origin and place of residence); contextual dimension, referring the circumstances in what these
homicides had occurred (motivations of the crime and agent of the death’s cause); the secular
dimension refers to the time where the homicides had occurred (month, day of the week and
schedule) and the spatial dimension that considered the places where the homicides had occurred
(local of occurrence, type of occurrence place and public parks). Also comparisons of the areas of
occurrence of homicides with the respective average levels of income in each area had been made.
The results reached had been the following: 89.3% of the victims were of the masculine sex; 74.8%
were adult people with age between 20 and 59 years; 65.0% were Africans descendents or medium
brown race; 83.0% were single; 45.1% with age between 4 and 7 years of instruction time; 19.0%
works in general services, 15.5% were students and 12.6% works in the building as profession or
occupation when assassinated; 67.5% were born in Mato Grosso state; 91.7% lives in Mato Grosso
when deceased; 32.5% of the crimes had not the motivation identified, 19.4% had as motivation
dispute/brawl and 16.5% were involved with drugs; 76.6% had been practised with use of firearms;
according the months studied, 12.6% had occurred in the month of September, 11.7% in January
and 10.2% in June; 21.8% to sundays and 20.4% to Saturdays; 33.0% in the period of 00h00min.
06h00 min. e 31.5% in the period of 18h01min. 23h59 min. ; 6.8% of the homicides in the Morada da
Serra town, 6.8% in the Pedra Noventa town, 3.9% in the Alvorada town; 42.7% had occurred in
public ways and 14.5% in particular residence. The public parks that had more concentrated
homicides had been: the avenue Fernando Corrêa da Costa and avenue Beira Rio, with 3 homicides
each one. Of the comparison of the areas with register of homicides with the respective levels of
income, evidenced that the homicides had been concentrated in the classified areas as low and
medium-low.

Keywords: violence, homicides, space analysis.


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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Fontes e variáveis selecionadas para o estudo dos homicídios. ........................ 51

Quadro 2- Área Territorial do Município de Cuiabá/MT, por distritos..................................... 61

Quadro 3 - Números de homicídios registrados em Cuiabá-MT nos anos de 2000 a


2006, com ênfase nos sexos masculino e feminino............................................................. 114

Quadro 4 - Número de migrantes atendidos pelo Centro da Pastoral para Migrantes,


segundo o Estado de Naturalidade. ...................................................................................... 130

Quadro 5 - Demonstrativo dos bairros e localidades com concentração de homicídios


na Macrozona Urbana de Cuiabá-MT, ano 2007. ................................................................ 156

Quadro 6 - Bairros e localidades da Macrozona Urbana de Cuiabá-MT, com registro


de homicídios em 2007.......................................................................................................... 159

Quadro 7 - Áreas rurais com registro de homicídios em 2007............................................. 168

Quadro 8 - Endereços com concentração de homicídios, 2007.......................................... 174


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LISTAS DE FIGURAS

Figura 1: Fluxograma das Etapas metodológicas realizadas. ...............................................42

Figura 2: Mapa da Área de Estudo, Município de Cuiabá-MT com Macrozona Urbana......60

Figura 3: mapa do município de cuiabá-mt, com a distribuição dos homicídios registrados


no ano 2007 .......................................................................................................................... 158

Figura 4: mapa de distribuição dos homicídios registrados na macrozona urbana de


Cuiabá-MT, ano 2007 ........................................................................................................... 167

Figura 5: mapa de áreas de concentração de homicídios na macrozona urbana de cuiabá-


mt, ano 2007 ......................................................................................................................... 168
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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Distribuição dos Homicídios registrados em Cuiabá-MT, segundo o Sexo


das Vítimas............................................................................................................................. 113

Tabela 2 - Distribuição dos Homicídios registrados em Cuiabá-MT, segundo a Faixa


Etária das Vítimas. ................................................................................................................. 117

Tabela 3 - Distribuição dos Homicídios registrados em Cuiabá-MT, segundo a Cor ou


Raça das Vítimas. .................................................................................................................. 118

Tabela 4 - Distribuição dos Homicídios registrados em Cuiabá-MT, segundo o Estado


Civil das Vítimas. .................................................................................................................... 122

Tabela 5 - Distribuição dos Homicídios registrados em Cuiabá-MT, segundo o Tempo


de Escolaridade das Vítimas. ................................................................................................ 124

Tabela 6 - Distribuição dos Homicídios registrados em Cuiabá-MT, segundo as


Profissões ou Ocupações das Vítimas. ................................................................................ 126

Tabela 7 - Distribuição dos homicídios registrados em Cuiabá-MT, segundo o Local


de Origem das Vítimas. ......................................................................................................... 129

Tabela 8 - Distribuição dos Homicídios registrados em Cuiabá-MT, segundo o Local


de Residência das Vítimas. ................................................................................................... 132

Tabela 9 - Distribuição dos homicídios registrados em Cuiabá-MT, segundo a


Motivação do Crime. .............................................................................................................. 134

Tabela 10 - Distribuição dos homicídios registrados em Cuiabá-MT, segundo o


Agente da Causa Morte......................................................................................................... 140

Tabela 11 - Distribuição dos homicídios registrados em Cuiabá-MT, segundo os


Meses do Ano. ....................................................................................................................... 144

Tabela 12 - Distribuição dos Homicídios registrados em Cuiabá-MT, segundo os Dias


da Semana. ............................................................................................................................ 146

Tabela 13 - Distribuição dos Homicídios registrados em Cuiabá-MT, segundo o


Horário de Ocorrência............................................................................................................ 148

Tabela 14- Distribuição dos Homicídios registrados em Cuiabá-MT, segundo o Local


de Ocorrência. ........................................................................................................................ 151

Tabela 15 - Distribuição dos homicídios registrados em Cuiabá-MT, segundo o Tipo


de Local de Ocorrência.......................................................................................................... 170
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LISTA DE SIGLAS

1. BASA - Banco da Amazônia


2. BD - Banco de Dados
3. BO - Boletim de Ocorrência
4. CAE - Completa Aleatoriedade Espacial
5. CEAC - Coordenadoria de Estatística e Análise Criminal
6. CGTI - Coordenadoria Geral de Tecnologia da Informação
7. CPTEC - Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos
8. DATASUS - Banco de Dados do Sistema Único de Saúde
9. DEHPP - Delegacia Especializada em Homicídios e Proteção à Pessoa
10. DO - Declaração de Óbito
11. GIS - Geographif Information System
12. GPS - Sistema de Posicionamento Global
13. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
14. IML - Instituto de Medicina Legal
15. INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
16. INPE - Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais
17. IP - Inquérito Policial
18. IPDU - Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Urbano
19. MS - Ministério da Saúde
20. OEI - Organização dos Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a
Cultura
21. OPAS - Organização Pan-Americana da Saúde
22. OMS - Organização Mundial da Saúde
23. PIN - Plano Nacional de Integração
24. PJC - Polícia Judiciária Civil
25. PM - Polícia Militar
26. PME - Pesquisa Mensal de Emprego
27. PNSE - Pesquisa Nacional de Saúde Escolar
28. PSMC - Pronto Socorro Municipal de Cuiabá
29 POLITEC - Perícia Oficial de Identificação Técnica
30. POLOAMAZÔNIA - Pólo da Amazônia
31. POLOCENTRO - Pólo dos Cerrados
32. POLONOROESTE - Pólo do Noroeste
33. PROBOR - Programa da Borracha
34. RITLA - Rede de Informação Tecnológica Latino Americana
35. SEJUSP - Secretaria de Estado, Justiça e Segurança Pública
36. SENASP - Secretaria Nacional de Segurança Pública
37. SIG - Sistema Geográfico de Informação
14

38. SIM - Sistema de Informações sobre Mortalidade


39. SISNAD - Sistema Nacional de Políticas sobre Drogas
40. SROP - Sistema de Registro de Ocorrências Policiais
41. SUDAM - Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia
42. SUSE - Superintendência de Segurança Estratégica
43. UF - Unidade Federativa
44. UPM - Unidade Policial Militar
45. UTM - Universal Transversal de Mercator
46. UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura
47. WI - Web Inteligence
15

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.........................................................................................................................17

1 ENFOQUES TEÓRICO-METODOLÓGICOS ....................................................................30


1.1 O MODELO TEÓRICO .....................................................................................................30
1.2 OS MÉTODOS UTILIZADOS ...........................................................................................33
1.2.1 O Método Comparativo para Análise dos Homicídios ..................................................33
1.2.2 Método de Análise Espacial ...........................................................................................37
1.2.2.1 O Método Estimador Kernel ........................................................................................39
1.3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .......................................................................40
1.3.1 Etapas Metodológicas ....................................................................................................42
1.3.1.1 Levantamentos e Revisão Bibliográfica......................................................................44
1.3.1.2 Escolha das Instituições ..............................................................................................45
1.3.1.3 Escolha das Variáveis .................................................................................................47
1.3.1.4 Coleta dos Dados ........................................................................................................51
1.3.1.5 Sistematização dos Dados..........................................................................................52
1.3.1.6 Levantamentos de Campo ..........................................................................................53
1.3.1.7 Espacialização dos Homicídios...................................................................................55
1.3.1.8 Análise dos Dados .......................................................................................................56

2 A ÁREA DE ESTUDO E SUA CARACTERIZAÇÃO ..........................................................60


2.1 CUIABÁ E SUA LOCALIZAÇÃO ......................................................................................60
2.2 CUIABÁ E SUA HISTÓRIA ...............................................................................................62
2.3 CUIABÁ E SEU DESENVOLVIMENTO...........................................................................64
2.4 CUIABÁ E A VIOLÊNCIA..................................................................................................69

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA..........................................................................................75
3.1 A VIOLÊNCIA, ORIGENS E SIGNIFICADOS ................................................................75
16

3.2 A PERCEPÇÃO DA VIOLÊNCIA .....................................................................................83


3.3 A VIOLÊNCIA NA FORMA DE HOMICÍDIOS NO BRASIL ............................................87
3.4 A VIOLÊNCIA URBANA E A GEOGRAFIA .....................................................................96
3.5 A COMPREENSÃO DO ESPAÇO E A ANÁLISE ESPACIAL .....................................104
3.6 A ANÁLISE DE PADRÕES DE DADOS POR PONTOS..............................................107
3.7 A ANÁLISE DA DENSIDADE POR PONTOS ...............................................................109

4 DISCUSSÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS ..............................................................113


4.1 A DIMENSÃO PESSOAL DOS CRIMES DE HOMICÍDIOS ........................................113
4.2 A DIMENSÃO CONTEXTUAL DOS CRIMES DE HOMICÍDIOS.................................133
4.3 A DIMENSÃO TEMPORAL DOS CRIMES DE HOMICÍDIOS .....................................143
4.4 A DIMENSÃO ESPACIAL DOS CRIMES DE HOMICÍDIOS........................................150
4.5 SÍNTESE DOS RESULTADOS ......................................................................................174

CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................................180

REFERÊNCIAS .....................................................................................................................192

APÊNDICE.............................................................................................................................204
17

INTRODUÇÃO

A origem da violência confunde com a do homem. Por mais que recuemos no


tempo, percebemos que a violência sempre esteve ao lado do homem, quando não a sua
frente ditando o que fazer, para que fazer e quando fazer.
Se considerarmos o homem como resultado da evolução das espécies,
conforme apregoou Charles Darwin na Teoria da Evolução, vemos que a violência estava
presente desde os hominídeos e desde então, sempre acompanhou o ser humano.
Defensores da teoria afirmam que no processo evolutivo da espécie humana, quem
sobreviveu não foi o mais forte nem o mais inteligente, mas os que conseguiram adaptar-
se, ou seja, venceu os obstáculos, e neste contexto não inclui somente as intempéries da
natureza, mas os ataques de feras, como também de tribos rivais. E com certeza, o
emprego da violência e o uso de objetos como arma foram cruciais para a sobrevivência.
Neste contexto, o verbo adaptar-se soa como condição necessária para não derrota e
extinção. Adaptar-se muitas vezes pode ter significado abandonar a vida simples de coleta
de pastores, entre outras para especializar-se na arte da defesa e ataque aos inimigos que
os ameaçavam. Atualmente, tal prática e habilidades ainda perduram e não perderam de
sua necessidade, pois diuturnamente o homem tem que se adaptar aos diversos
ambientes e realidades frente às exigências e conflitos que surgem no seu caminho.
E, se considerarmos a Teoria Criacionista, cujos defensores pregam que o
homem não se auto-criou, mas é obra de Deus que o criou, assim como está escrito na
Bíblia, que além da criação do homem por Deus encontramos também a criação não só do
mundo, mas do universo. E, também na Bíblia, encontramos evidências claras de que
diversas formas de violência se fez presente na vida cotidiana do homem, especialmente a
violência na forma de homicídios. A este respeito, o Livro de Gênesis 4. 8, narra o conflito
entre Caim e Abel, que segundo a tradição judaico-cristã, é o primeiro crime de homicídio
registrado na historia da humanidade. Sobre este fato, a (BÍBLIA,1993, p. 6) diz o seguinte:
“E falou Caim com o seu irmão Abel; e sucedeu que, estando eles no campo, se levantou
Caim contra seu irmão e o matou”.
Assim sendo, entendemos que a violência sempre fez parte do viver do homem
em sociedade. Para Odàlia (1983) os hominídeos sobreviveram porque souberam suprir
18

suas debilidades através da construção e uso de artefatos de defesa e ataque. Para o


autor, o que garantiu a sobrevivência de nossos ancestrais, foi à capacidade de produzir
violência numa escala desconhecida pelo outros animais.
Contudo, assevera o autor, atualmente, a violência banalizou-se deixou de ser
apenas um instrumento de defesa para a sobrevivência e tomou novos contornos, recobriu
com formas sutis e deixou de ser uma agressividade necessária frente a um universo hostil,
passando a ser um produto da forma como o homem passou a organizar sua vida. Ou
seja, a violência tornou-se algo inerente ao homem (ODÁLIA, 1983, p. 14).
Esta banalização por sua vez deu quando não legalidade, aceitabilidade no agir
das pessoas que ao sofrerem uma agressão, passaram a revidar de imediato da mesma
forma e intensidade da agressão sofrida. Revidar uma agressão soa bem no meio social, é
fazer justiça, já que esperar o agir do poder judiciário é algo moroso, burocrático e
duvidoso, pois é ínfima a garantia de que a verdadeira justiça seja feita, ainda mais tratando
da forma de violência que ceifa a vida humana. Não há pena que compensa a perda da
vida.
Ter a violência como instrumento de solução de conflitos, é demonstrar,
virilidade força, poder e até satisfação pessoal, pois é nestas práticas que os atores
envolvidos costumam por em práticas os seus desejos e vontades, cometendo as maiores
atrocidades contra seus semelhantes, quando por banalidades executam homens,
mulheres, jovens, adultos e idosos, com requintes de crueldade. Pois não é raro encontrar
nas vielas e matagais, cadáveres carbonizados, esmagados e com separação de parte do
corpo ou amputação de membros.
E pelo constante manifestar no dia a dia e nos diversos espaços do município,
somos obrigados considerar que a violência, não é privilégio de uma minoria, de um lugar
ou época. Plagiando Odália (1983), podemos afirmar que é democrática, pois a todos
atingem, não importando a classe social, o nível de instrução, à cor ou raça e sexo. Todos
estão sujeitos a ela. Sair à rua para estudar, trabalhar ou divertir é tão arriscado quanto ficar
em casa. Portanto, há de considerar que a referida democracia pode não ser plena,
especialmente quando a maioria dos casos de violência concentra nas periferias urbanas,
cuja população mais atingida são pessoas de cor parda, com pouca escolaridade que
exercem funções mal remuneradas, isto especialmente na cidade de Cuiabá-MT.
O constante manifestar da forma de violência no meio da sociedade, aliado a
ausência de medidas eficazes de controle por parte do Poder Público, fez com que
imperasse nas pessoas o medo de figurarem como a próxima vítima da violência,
19

especialmente da violência na forma de homicídios que atinge a pessoa naquilo que é mais
valioso, a vida. Assim, com medo de ser a próxima vítima, e diante da ferrenha exposição
de casos de violência por parte da mídia, a sociedade tem experimentado um viver em
estado de alerta, tornando-se vítimas de um vigilantismo exacerbado.
O resultado disso é observado na cidade, onde os habitantes passaram a
buscar nos condomínios fechados, vigiados dia e noite por homens armados, cães de
guarda, além de inúmeros equipamentos eletrônicos, como sensores, alarmes, câmaras
para filmagens, entre outros, um lugar de segurança pessoa e familiar. As casas tornaram-
se verdadeiras fortalezas, podemos dizer que as grades de ferro tornaram-se instrumento
de decoração das residências.
Em razão disso, a paisagem urbana experimentou uma peculiar mudança.
Sobre esta mudança imposta a paisagem pela violência, Odália (1983, p. 10) comenta que
o desenho arquitetural da cidade buscou adaptar-se às novas condições da vida familiar. O
que antes era valorizado, como o espaço externo, os jardins com suas rosas e margaridas,
hoje dá valor ao espaço interno, a arquitetura voltou-se para dentro passando a buscar
segurança e defesa. Os espaços tornaram-se fechados, o exterior foi abandonado.
Ainda sobre as mudanças impressas na paisagem urbana em razão do
fenômeno violência o autor compara as residências de hoje como verdadeiras prisões, tudo
para proteger e defender a vida e o patrimônio, isto nos bairros mais elegantes. Nos bairros
da periferia e das favelas, para se protegerem e defenderem as populações dão carta
branca aos grupos organizados e quadrilhas vinculas ao mundo das contravenções e do
tráfico de drogas, tornando coniventes, quando cúmplices dos criminosos.
Assim sendo, a violência um fenômeno inerente à pessoa humana, é algo
extremamente nocivo a vida das pessoas, quer seja no aspecto social, econômico-
financeiro e biológico, pois expõe à pessoa humana a mais vil das condições que é a morte
por causas externas, ou seja, não natural, além de onerar o poder público quando do
mover do aparato estatal para o atendimento da ocorrência, quer seja para registrar o
delito, socorrer a vítima, fazer internações hospitalares, diligências policiais entre outros
procedimentos.
E é neste contexto da violência na forma de homicídio como um problema
social que a todos atinge, é que ela promove o medo e gera patologias em razão das
cenas grotescas de cadáveres caídos no meio da rua ou resultante da divulgação da mídia
sensacionalista, que busca na miséria de uns alcançar objetivos escusos ou se auto-
promeverem, pois, são comuns em Cuiabá, apresentadores de programas televisivos
20

abraçarem a temática violência e em seguida tornarem membros eletivos do Poder


Executivo municipal, estadual e federal à custa da miséria alheia e de promessas de
soluções milagrosas para problema.
Como os demais lugares, Cuiabá, sempre foi palco da violência, sua fundação
por Moreira Cabral em 1719, foi com prática de violência, se não fosse matando e
expulsando indígenas que aqui habitavam, a Cuiabá do presente talvez não existisse. E a
prática da violência como nos demais cantos do País acompanhou a evolução social,
ganhou novos contornos, novas roupagens, novos significados, ora aceita, ora negada, ora
oficializada, ora marginalizada.
Houve tempos que era comum, os cuiabanos dormirem com as portas das
residências abertas, sentarem nas calçadas de frente a casa para conversar com vizinhos
e cumprimentar transeuntes. Mas, as relações de amizades, de confiança, foram
substituídas ou abandonadas. O comportamento social é dinâmico por isso, sujeito as aos
eventos econômicos, social e claro, informacional.
A abordagem histórica é algo necessário que nos conduz ao entendimento das
condições e fatores que inseriu Cuiabá no contexto nacional e internacional, principalmente
a partir do século XX, especificamente a partir da década de 1940 com as políticas de
ocupação do Centro-Oeste, do Governo Vargas, denominada “Marcha para o Oeste” e das
políticas de integração nacional dos governos militares a partir da década de 1960, quando
consideráveis contingentes populacionais tiveram a região como o seu eldorado.
É neste contexto, de migração populacional e quebra do isolamento territorial
em relação ao restante do país e o mundo, a ausência de apoio governamental, a
introdução de técnicas avançadas de produção agrícola em detrimento as tradicionais
técnicas camponesas de subsistência, êxodo rural, aglomeração urbana, surgimento das
periferias, desemprego, subemprego e exclusão social, que o fenômeno violência se
agrava na Capital, especialmente a partir dos anos de 1980, quando a prática da violência
tradicional motivada pela garantia da honra ou pela disputa entre famílias pela liderança do
poder político local e regional ou pela posse de terras, cede e dá lugar as formas de
violência contemporânea, que são os roubos, furtos, seqüestros, latrocínios e homicídios,
receados das mais diversas motivações, onde as drogas e as futilezas das práticas
violentas tornaram o carro chefe do fenômeno estudado.
Sobre este fenômeno, considera-se a explicação de (SINGER apud SARAIVA
1989, p. 16), que diz que a migração do campo para a cidade é resultante de dois fatores
que levam a expulsão dos moradores do campo. Um deles, segundo o autor, é decorrente
21

da introdução de relações de produção capitalista nestas áreas, que acarretam a


expropriação dos camponeses, a expulsão de agregados, parceiros e outros agricultores
não proprietários, tendo por objetivo o aumento da produtividade do trabalho e a
conseqüente redução do nível de emprego.
Para Saraiva (1989, p. 21) tais fatores causam mais problema do que resolve
com a explosão urbana, pois é impossível que a cidade tenha condições de abrigar em
condições toleráveis uma população que chega em levas crescentes. As favelas proliferam
nos arredores dos grandes centros, convertendo-se em grave problema social que os
governos ainda não souberam como resolver.
Assim, a Cuiabá, que antes servira de entreposto para a ocupação de espaços
do próprio Estado, como também da Amazônia, passou a partir da expulsão dos
camponeses servir como ancoradouro de mão-de-obra desqualificada para o espaço
urbano, numa cidade, cuja infra-estrutura não suportava o contingente populacional. E
neste cenário, ou seja, de desemprego, subemprego, surgimento de periferia no espaço
urbano, a violência tomou lugar de destaque.
Desde então, a ocorrência das diversas formas de violência e crimes tem-se
avolumado de modo contínuo e permanente nas grandes cidades e concentrações
urbanas do Brasil, atingindo principalmente os jovens. E Cuiabá, a exemplo do País não
ficou para trás em termos de produção de vítimas.
Considerando a década de 1997 a 2007 o número total de homicídios
registrados pelo Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) no Brasil foi de 40.507 e
passou para 47.707, o que segundo (WAISELFISZ, 2010, p. 17; 18) representou um
incremento de 17,8%, pouco inferior ao incremento populacional do período que, segundo
estimativas oficiais foi de 18,6%.
Neste intervalo de tempo considerado, a região Centro-Oeste apresentou um
ritmo de crescimento menor, mas acima da média nacional, fechando a década com uma
taxa de 30,7 homicídios por 100 mil habitantes. Cuiabá também apresentou uma queda
nos números de homicídios em 2006 e 2007 e fechou a década com uma taxa de 38,8
homicídios por 100 mil habitantes (WAISELFISZ, 2010).
Ainda, em relação ao ano de 2007, isto com base nos dados desta pesquisa,
constatou-se que Cuiabá registrou em 2007, 206 homicídios, o que corresponde a uma
taxa de anual de 32,3 homicídios por 100 mil habitantes, isto considerando a Contagem
Populacional do IBGE 2007 que foi de 523.830 habitantes.
22

E complementando, Waiselfisz (2010, p. 22; 27), aponta que no período de


1997 a 2007, o Estado de Mato Grosso ocupou o 6º lugar no ranking dos homicídios por
100 mil habitantes, perdendo apenas para os estados de Alagoas (1º), Espírito Santo (2º),
Pernambuco (3º), Rio de Janeiro (4º) e Distrito Federal (5º). E a capital Cuiabá o 12º lugar
no ranking das capitais, isto em relação à década de 1997 a 2007, conforme dados do
SIM/DATASUS, perdendo apenas para as capitais: Maceió (1º), recife (2º), Vitória (3º),
João Pessoa (4º), Porto Velho (5º), Belo Horizonte (6º), Salvador (7º), Porto Alegre (8º),
Curitiba (9º), Fortaleza (10º) e Aracaju (11º).
Ocupando esta posição no ranking da violência na forma de homicídios, vê-se
que os homicídios têm concentrados em vítimas adultas e jovens, de cor ou raça parda e
com baixa escolaridade. Quanto às áreas onde ocorreram os homicídios, destacaram as
de periferia, cujo nível médio de renda baixa e médio-baixa contou com 53,6% das vítimas
de homicídios. Além disso, a maioria dos homicídios registrados no município foram
consumados em vias públicas, residências e estabelecimentos comerciais,
respectivamente, especialmente por motivos banais, como rixas, acertos de contas e
envolvimento com drogas.
Diante desse panorama, o presente estudo tem como objetivo principal estudar
os homicídios registrados no Município de Cuiabá-MT em 2007, através da caracterização
pessoal, contextual, temporal e espacial, com emprego de técnicas de análise espacial. O
estudo busca contribuir para um maior entendimento das especificidades que cercam os
casos de mortes por homicídio no município, através da análise das variáveis que
caracterizam a vítima, as circunstâncias que envolvem a ocorrência do crime, o tempo e o
espaço, com emprego de técnicas de análise espacial.
Dentre os objetivos específicos procurou-se inicialmente coletar dado referente
a forma de violência, isto após ter escolhido as instituições e as respectivas fontes que
foram: os Laudos de Necropsia do Instituto de Medicina Legal (IML), da Perícia Oficial de
Identificação Técnica (POLITEC-MT), os Boletins de Ocorrência (BO), do Sistema de
Registro de Ocorrências Policiais (SROP), da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança
Pública do Estado de Mato Grosso (SEJUSP-MT), as Planilhas Mensais de Homicídios e o
Livro de Registro Simplificado de Ocorrências Policiais, estes dois últimos documentos da
Delegacia Especializada em Homicídios e Proteção à Pessoa (DEHPP), da Polícia
Judiciária Civil do Estado de Mato Grosso (PJC-MT).
Pessoas adaptam as mais diversas situações. O que é essencial a uma
pessoa, a outra pode ser irrelevante. Do mesmo modo é a violência para a pessoa
23

humana, para alguns é mal repugnável, que fere, amedronta, força a adoção de novos
hábitos e costumes e até migração em busca de um lugar onde possa haver paz e
segurança. Outros têm na violência, o instrumento de defesa e ataque, a violência é um
modo de vida, quando não meio que lhe dá o sustento, que lhe garante vida.
Neste, contexto, vemos o quão é salutar conhecer os atores envolvidos em atos
de violência. Sabendo que nem sempre a vítima é o mais fraco, o menos inteligente o pior
de conduta, como também, nem sempre a vítima é o inocente no conflito que resultou em
violência e morte. Na prática da violência, o forte pode tornar-se vítima do fraco, o que está
armado, do desarmado, o agressor tornar-se vítima e assim por diante. Diversos fatores
contribuem para a consumação da violência, entre eles, o efeito surpresa, o tipo de arma
empregado, e claro à vontade pela consumação da violência.
Diante disso, temos que o estudo da dimensão pessoal, ou seja, o perfil da
vítima é algo extremamente importante no estudo da violência, pois é através desta
dimensão que podemos identificar quem no decorrer do tempo e em determinado espaço
figurou como vítima. A idade, o sexo, o estudo civil, a religião, a cor ou raça, sua origem,
como também o nível de instrução, e local de residência, são categorias que de algum
modo move a pessoa a ser vítima ou agressor? Diante dessa incógnita, busca-se neste
estudo identificar e caracterizar o perfil das vítimas de homicídios registrados em Cuiabá.
Da mesma forma, busca-se identificar e caracterizar o contexto e os
instrumentos de consumação dos homicídios, pois entende que a motivação é fruto de
diversas facetas sustentadas pela sociedade, resultado da formação cultural de cada grupo
social. Sendo assim, é produto da relação interpessoal, portanto subjetivo, dependente dos
valores pessoais, ou seja, é relativo, pois um ato ou agravo pode para uma pessoa ser
digno de punição ou agressão, para outros pode ser motivos de piadas, sorrisos, pedidos
mútuos de desculpas e até um convite para assentar a mesa e tomar uma cerveja. O
contrário também pode suceder, onde pedidos de desculpas pode soar como ofensa e
agressões não só verbais mais também físicas. O divisor de águas nestes casos são os
crimes, resultantes de ações anteriores, como dívidas de drogas, onde o único meio de
solução do conflito é a morte do outro.
Há de considerar que nestes casos, o instrumento utilizado, ou meio
empregado, ou agente da causa morte, é um elemento crucial na solução de conflitos da
mais variadas envergaduras. Especialmente se o instrumento for uma arma de fogo, pois
quem tem uma arma de fogo sob sua posse, se vê investido de poder, e, portanto no direito
de decidir pela vida e pela morte do outro. Por isso, conhecer o instrumento utilizado na
24

prática da violência na forma de homicídios é de extrema importância, pois mostra os


pontos nefrálgicos da sociedade contribuindo para a adoção de políticas de segurança
pública, especialmente no que refere ao combate ao tráfico de armas de fogo através das
fronteiras com os países vizinhos, ou no caso de rever as legislações que permitem
emissões de portes de armas no País.
Outra dimensão importante nos estudos dos homicídios é o tempo de
ocorrência, pois é com o identificar do tempo de ocorrências dos homicídios, que é possível
saber quais os eventos contribuíram e pode vir a contribuir para a ocorrência da forma de
violência num determinado período, ou seja, tempo. É através da análise das variáveis
temporais, que é possível identificarem os elementos que possam estar contribuindo para a
violência. Como por exemplo, se os homicídios ocorrem mais a noite e nos finais de
semana. Através destas variáveis, também é possível verificar outras, como o local, onde
está concentrando a violência, o perfil social das pessoas que frenquentam o ambiente, o
horário sujeito a ocorrência, como também os motivos, entre outras variáveis.
Agora, sob a perspectiva de que num mesmo espaço existem áreas para as
quais grupos populacionais são mais vulneráveis ao fenômeno violência, busca-se
identificar e caracterizar os espaços onde ocorrerem os homicídios. Dentre as questões
relativas à localização dos homicídios, destaca-se a caracterização das áreas urbanas e
rurais, pelo viés do número de ocorrência e nível de renda da área, como também pelo tipo
de local, apontando se é ambiente de via pública, residência particular, estabelecimento
comercial, bem como o logradouro em si, através da identificação da rua, avenida,
travessa, estrada, rodovia, com detalhe para quadra, lote, residência, quilometro e ponto de
referência, quando possível, considerando é claro a fragilidade dos dados. Tudo isso, para
conhecer em plano a distribuição dos homicídios e suas respectivas zonas de
concentração de risco, com a produção de mapas que demonstre os locais de ocorrências
e as respectivas zonas de risco de mortes por homicídios no Município de Cuiabá-MT.
Por último, sugerir adoção de medidas de controle da forma de violência e
adoção de políticas públicas e sociais que atendam os grupos populacionais em risco.
Assim, com base nestes objetivos, o presente estudo busca responder às
seguintes perguntas: Existem no Município de Cuiabá, grupos de pessoas que por
pertencerem a um determinado grupo social, étnico, econômico e cultural, figure como
potenciais vítimas de crimes de homicídios? Existem zonas espaciais de concentração de
crimes de homicídios? A ocorrência de homicídios em Cuiabá-MT obedece a uma lógica
temporal como (período noturno e final de semana) ou sua ocorrência dá se de forma
25

aleatória no tempo? Do mesmo modo, as vítimas de homicídios são em geral pessoas com
baixo nível de instrução escolar e de cor ou raça não branca?
As respostas a estes questionamentos em muito contribuirão para os gestores
públicos em geral e de segurança pública em específico quando da adoção de políticas
públicas, sociais e segurança pública, pois, através terão condições de conhecer quais são
as potenciais vítimas de homicídios, as circunstâncias geradoras, os instrumentos utilizados
(agente da causa morte) empregado na prática da violência, o tempo e o espaço onde
ocorrem os homicídios. Além disso, terão condições e meios para saber se a forma de
violência é concentrada ou dispersa no espaço e tempo. E a partir de então, terão
informações necessárias para adoção de políticas públicas e sociais e de segurança
pública, e subsídios para adoção de formas de policiamento adequado a forma de violência
estudada tanto no tempo como no espaço, além de saber quais os grupos de pessoas
mais atingidos pela forma de violência, além disso, terão também subsídios para
desenvolverem diversos estudos e análise do problema.
A possibilidade de adoção de policiamento voltado à realidade da violência na
forma de homicídios contribuirá para o uso racional das viaturas e equipamentos, além de
economizar combustível e poupar os policiais de jornadas desgastantes e infrutíferas, com
serviços que não atende a realidade do espaço habitado, por não conhecerem os sujeitos
do crime, os locais com maior possibilidade de ocorrência, como também o tempo e a
trama vivida pela sociedade do local. Diante disso, entende que o agir policial devem ser
sustentado em informações fiéis sobre os eventos registrados, as potenciais vítimas, o tipo
de armamento utilizado, os principais horários e dias da semana, sujeito a sua a ocorrência,
e assim por diante. Agindo de modo contrário, especialmente, sob pressão externa, é
submeter à instituição e seus servidores a descrédito, além de incorrer em gastos
desnecessários.
Por isso, vê que o uso de tecnologias modernas capazes de armazenar,
manipular dados e produzir informações com uso de softwares específicos, pode ser útil no
estudo e análise das formas de violência registradas no espaço geográfico quer seja ele
urbano ou rural.
Os softwares SIG, é uma ferramenta útil, pois além de propiciar a coleta,
gestão, análise e representação de dados georreferenciados, permite também o controle e
a gestão do território (MUZZARELLI; SECONDINI, DURAZZI, 1993). Este atributo dos
softwares SIGs, é muito útil para a gestão de território, onde as ocorrências de crimes
26

figuram como um problema a ser solucionado. Especialmente os crimes de homicídios que


tira o bem maior da pessoa humana, a vida.
Além disso, o uso dos dados georreferenciados, serve como instrumento capaz
de demonstrar os pontos de concentração das ocorrências de crimes no espaço
geográfico, além de fornecer com velocidade e precisão um panorama da realidade em
questão, através de mapas digitais, dando-lhes subsídios para que o tomador de decisões
administre o evento de maneira eficaz e em tempo oportuno, pois o crime é um fenômeno
dinâmico. E isto, é possível com o contínuo acompanhamento dos eventos registrados no
espaço geográfico e sua análise, possibilitando a definição de estratégias e ações de
combate e controle do tipo de violência que pela contínua incidência pode desestabilizar o
momento social, com a imposição de novos hábitos e costumes, além de quebrar ou
enfraquecer as relações humanas, essencial para o desenvolvimento de um povo.
Assim, tendo o ano de 2007 como espaços tempo da pesquisa, e o município
de Cuiabá-MT, como espaço geográfico, buscou-se responder os questionamentos acima
a partir do recorte da dimensão pessoal, temporal, contextual e espacial dos homicídios.
E, tem-se que o presente estudo justifica-se pelo caráter social nele impresso e
por buscar identificar e caracterizar através de levantamentos em documentos públicos
oficiais o perfil das vítimas (dimensão pessoal), os locais de ocorrência dos homicídios
(dimensão espacial), como também, o tempo, as circunstâncias e instrumentos utilizados
(dimensão contextual) na consumação dos homicídios, tanto no espaço urbano como no
rural. E a partir de então, saber se o evento homicídios é algo específico de um local e de
um grupo de pessoas, podendo a partir de então, adotar políticas públicas e sociais.
Além disso, entende-se que o conhecimento pormenorizado da forma de
violência pode auxiliar os gestores públicos na tomada de decisões no que diz respeito à
adoção de políticas publicas, sociais e de segurança pública, que vão desde a construção
de escolas ou mais salas de aulas, quadras esportivas e centro de socialização, iluminação
pública, limpeza de terrenos baldios entre outras; ou com ações assistenciais, eventos
educativos, recreativos, esportivos e lúdicos de modo a atrair o grupo de população
identificado como grupo de risco, afastando-os das condições ou ambientes de riscos, além
de induzi-las a adoção de novos hábitos e costumes.
Considerando o que propomos, a dissertação está organizada em capítulos que
procuram fornecer elementos para o estudo dos homicídios registrados no município no
ano 2007, com uso de técnicas de análise espacial. Para isso, está assim distribuída: O
Primeiro capítulo, Enfoques teórico-metodológicos; Segundo capítulo, A área de estudo e
27

sua caracterização; Terceiro capítulo, Fundamentação teórica, e; Quarto capítulo,


Discussão e Análise dos Resultados. E, por fim, as considerações finais, onde é
apresentado um panorama geral da análise dos resultados obtidos, seguida de
apresentação de medidas e sugestões para controle da forma de violência no espaço, isto
amparado nos dados das variáveis estudadas.
Desta forma no primeiro capítulo, “Enfoques teórico-metodológicos” tratam em
primeiro momento de mostrar algumas das diversas formas de abordagem da violência,
como um todo como da violência na forma de homicídio em particular. Para este estudo em
específico os crimes de homicídios são abordados como um fenômeno social fruto da
desorganização social, resultante da perda de valores e do desfazimento da família e de
vínculos de vizinhança, como também da perda de objetivos e de identidade, dos seres
humanos face às transformações do mundo, sofridas especialmente no espaço urbano
quando do advento da urbanização e do acelerado crescimento populacional em curto
espaço de tempo, gerando as mais diversas formas de problemas no sítio urbano como
desemprego, favelização, entre outros problemas a violência.
Para verificação dos resultados dos estudos, lançou mão neste capítulo de
métodos para o estudo da violência como fenômeno social, como o método comparativo
de Émile Durkheim, que dentre outras aplicabilidades e funcionalidades, desvenda a
natureza das relações que se estabelecem entre as partes e o todo, além de revelar as
conexões causais que mantém a ordem e o funcionamento do organismo social, a
semelhança dos organismos biológicos. Além de estabelecer as bases da objetividade e da
cientificidade do conhecimento sobre o social, delimitando o objeto de estudo através da
observação sociológica, da constituição dos tipos sociais médios e explicando o fato social
propriamente dito.
Como também do método de análise espacial “Estimador Kernel”, um método
que proporciona descrição efetiva da dependência espacial dentro de um padrão pontual
em determinada área, verificando se os eventos estão distribuídos ao acaso, ou
regularmente ou se em conglomerados específicos, isto de acordo com o raio de
consideração escolhido, respeitando os objetivos a serem alcançados.
Além disso, o capítulo em questão apresenta de forma seqüencial os
procedimentos metodológicos adotados para realização da pesquisa, sendo eles assim
distribuídos: levantamento e revisão bibliográfica, escolha das instituições, escolha das
variáveis, coleta de dados, sistematização dos dados, o levantamento de campo, a
espacialização dos homicídios e a análise dos dados.
28

No segundo capítulo, “A área de estudo e sua caracterização” é apresentado de


forma lógica à localização da área de estudo, ou seja, o Município de Cuiabá-MT, realçado
com a inserção de um mapa, Figura 1, p. 59 que põe em destaque à Macrozona Urbana,
como também a área rural do município. Além disso, considera o desenvolvimento histórico
da cidade, com ênfase no processo de migração, o desenvolvimento urbano, e o
acirramento da violência, como resultado do boom populacional aliado ao desemprego, a
periferização da cidade, entre outros fatores.
No terceiro capítulo, “Fundamentação Teórica”, são feitos discussões teóricas
sobre as origens e significados da violência, mostrando que a violência tem sua origem
ligada à origem do homem, quer ele fruto da evolução das espécies, como apregoou
Charles Darwin, ou como um ser criado por Deus em determinado momento da formação
do mundo, como está escrito na Bíblia. Além disso, procurou-se dentre as diversas
literaturas que tratam do assunto, um conceito, uma definição para o termo “violência”.
Também teorizou sobre a percepção da violência pela sociedade, a violência na forma de
homicídios no Brasil, apresentando um panorama da violência no Brasil, especialmente,
por meio de estudos feitos por diversos autores e instituições de ensino e pesquisa que
estudam a temática a nível local, regional e até nacional.
Teorizou também sobre a violência urbana e a geografia, sustentados
especificamente nos estudos da violência realizada pela Escola de Chicago que aponta a
violência como resultada da desagregação social, experimentadas especialmente pela
modificação do espaço urbano, resultante da intensa migração, quebra da relação de
vizinhança, desemprego, entre outros eventos. Além disso, considerou a geografia pelo
viés da compreensão e análise de eventos dispostos no espaço, quer seja, pela análise de
padrões de dados por pontos e por densidade de pontos.
E por fim, o quarto capítulo, “Discussão e Análise dos Resultados”, apresenta
os dados sobre os homicídios registrados no Município de Cuiabá-MT no ano 2007. Nesta,
considera o perfil das vítimas, denominado dimensão pessoal, a qual considera as
categorias que caracteriza a vítima em si, como podemos verificar: (sexo, faixa etária, cor
ou raça, estado civil, tempo de escolaridade, profissões ou ocupações, local de origem e
local de residência); a dimensão contextual, que trata das circunstâncias e meios que
levaram a consumação da forma de violência, que são: (motivação do crime e agente da
causa morte); a dimensão temporal, que mostra através das categorias temporais (mês do
ano, dia da semana e horário) o período de maior incidência da violência na forma de
homicídios e a dimensão espacial, que sustentada nas categorias (local da ocorrência, tipo
29

de local da ocorrência e logradouro), buscou identificar e caracterizar o local onde


ocorreram os homicídios.
Também neste capítulo são feitas correlações entre as variáveis sociais
(dimensão pessoal) e as variáveis espaciais (dimensão espacial), especificamente com
áreas (bairros e localidades) onde ocorreram crimes de homicídios e os seus respectivos
nível renda, isto de acordo com dados do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Urbano
(IPDU), da Prefeitura Municipal de Cuiabá de 2007.
Por fim, o capítulo traz uma análise sobre a configuração espacial das mortes
por homicídios, a partir da localização dos eventos segundo os locais de ocorrências,
logradouros das áreas da Macrozona Urbana e da zona rural do município. Além disso,
apresenta uma síntese dos dados obtidos.
Uma discussão geral sobre o desenvolvimento da pesquisa e os resultados
alcançados a luz dos objetivos propostos é apresentada nas considerações finais.
30

1 ENFOQUES TEÓRICO-METODOLÓGICOS

A construção de um arcabouço teórico sólido para a explicação das causas da


criminalidade em cidades não é uma tarefa fácil de fazer, isto porque não são poucas as
correntes que abordam o tema. Na literatura, são encontradas diferentes teorias que
explicam o fenômeno criminalidade, violência em suas diversas forma em particular e de
forma geral.
Existem aquelas que explicam através de uma patologia individual, as que
consideram como produto de um sistema social perverso, as que entendem o crime como
consequência da desorganização social, resultante da perda de valores e do desfazimento
da família e de vínculos de vizinhança, além das que pregam ser em razão da perda de
objetivos e de identidade, face às transformações do mundo, como também as teorias
econômicas que entendem o crime como um problema econômico. Em todas as
abordagens encontramos contribuições importantes, as quais podem ser complementares
e não excludentes entre si.

1.1 O MODELO TEÓRICO

Neste contexto optamos por fazer um estudo ecológico espacial, baseado na


análise de dados primários, onde pretendem-se caracterizar a forma de violência pelo viés
do contexto pessoal, contextual, com emprego de técnicas de análise espacial.
A construção do modelo teórico para explicar a violência na forma de
homicídios tem como ponto de partida a Teoria da Ecologia Humana da Escola de
Chicago, criada pó Robert Ezra Park (1864-1944), Ernest Watson Burgess (1886-1966),
Roderick Ducam Mckenzie (1885-1940) e outros. Estes nos idos de 1890 em razão das
alterações vivenciadas pela cidade de Chicago nos Estados Unidos, devido ao grande fluxo
de migrantes em busca de novas frentes de trabalho, como também pela peculiaridade da
localização geográfica da cidade e pelo momento político vivido, aportaram na cidade.
Como resultado causou profundas alterações nas relações sociais, além de contribuir para
31

o aumento da densidade populacional e consequentemente da demanda de recursos para


satisfação das necessidades básicas. Diante da impossibilidade de atender tais demandas,
ocorreu na cidade um significativo aumento da criminalidade. Alguns estudiosos a
classificam como avassaladora. Para Freitas (2004), nesse momento, foi visível o
surgimento de novos fenômenos sociais que trouxeram mudanças de ordem econômica,
demográfica espacial, bem como alterações nos costumes e nas formas de interação e
controle social. O contexto social surgido a partir de então, criou, igualmente, profundas
desigualdades sociais, que foram propícias ao surgimento de desvios de conduta, sendo
muitos destes caracterizados como crimes.
Assim, o espaço urbano tornou-se um local de interações sociais que rompeu
com os instrumentos tradicionais de controle social. As instituições de outrora que
mantinham a ordem local (a igreja, escola e família) passaram a sofrer influência da
desestabilização da vida nas cidades, sendo, portanto, modificadas também
consideravelmente.
Estas modificações afetaram os laços de vizinhança que foram atingidos pela
impessoalidade e pelo anonimato das relações sociais urbanas. Altas taxas de
criminalidade, delinquência, prostituição, corrupção e alcoolismo foi o que passou a
predominar. Para o autor, a mistura de culturas, aliada às condições de vida do momento,
contribuíram para o aumento da criminalidade, fazendo com que Chicago atingisse, em
1920, o título de campeã mundial do crime organizado.
As atenções voltaram-se para a situação vivida em Chicago, com a
Universidade de Chicago, surge a Escola de Chicago, também conhecida por alguns como
“Sociologia da cidade grande”. A qual, utilizando de método empírico e da observação,
buscou respostas para a problemática enfrentada pela sociedade e pelas autoridades
locais no enfrentamento do problema criminal. E pesquisadores como Park, Burgess,
Mckenzie, Thrasher, Shaw, Mckay, estudaram a cidade, seu desenvolvimento industrial,
migração e imigração, da natureza dos conflitos, formação de grupos e culturas humanas.
E concebeu a grande cidade “como unidade ecológica”, “organismo vivo” que produz
“delinquência, isto de acordo com a área habitada e pelo tipo de ser humano nela habitante
(GARCÍA-PABLOS, 1999, p. 244; 245).
Esta teoria buscou, segundo (GARCÍA-PABLOS, 1999; FREITAS, 2004),
explicar o fato criminoso a partir da conceituação de Durkheim de desorganização social,
resultante da perda de valores e do desfazimento da família, da ausência de vínculos de
vizinhança, acarretando falência do controle informal, de mobilidade constante e,
32

principalmente, ao desenho, do mapa da cidade. E mais, concluíram que quanto mais


próxima da localização da área central, maior era a taxa de criminalidade, e em segundo
lugar constatou que as taxas mais altas apontavam para os locais onde havia uma maior
deterioração o espaço físico e pouca densidade demográfica. E por último, que mesmo
sendo realizadas modificações na zona do entorno da área central, neste caso a Zona II da
aludida teoria, as taxas de crimes permaneceriam elevadas.
Apesar das críticas sofridas, a teoria sobreviveu e voltou a ser aplicada nas
décadas de 1970 e 1980 e influenciou concepções teóricas sobre a violência, dentre elas a
Teoria Estrutural-funcionalista do desvio e da anomia de Émile Durkheim, a qual explica o
crime tal como um problema social resultante das tensões existentes na estrutura da
sociedade, ocasionadas pela desorganização social, que tem origem no conceito de
anomia formulada pelo próprio Durkheim (FREITAS, 2004)
Para (FREITAS, 2004, p. 108), o que liga a Escola de Chicago à teoria da
anomia é o enfoque na forma em que as condições sociais produzem criminalidade.
Privilegiando os aspectos sociológicos e não os individuais, a Teoria Ecológica,
tem por base a vida coletiva que consiste na interação entre meio ambiente, população e
crime organizado. Para esta teoria o comportamento humano é moldado pelas
características sócio-ambientais (FREITAS, 2004).
E por isso, os “ecologistas de Chicago”, viram que somente a intervenção a
partir de políticas públicas preventivas seria capaz de diminuírem a criminalidade, por meio
do aumento do controle social em áreas pobres do espaço urbano (FREITAS, 2004).
Neste sentido, Park desenvolve a ideia de playgrounds, que se caracteriza por apresentar
áreas de lazer, voltadas para a formação de associações permanentes entre as crianças,
sendo estas áreas administradas ou monitoradas por agências que formam o caráter da
pessoa, como escola, igreja ou outras instituições locais, servindo assim como
instrumentos fomentadores de vínculos positivos entre as pessoas a partir da infância,
numa tentativa de preencher o espaço formador que antes era ocupado pela família, já que
as condições da vida urbana transformaram-na por meio de suas contínuas pressões e
exigências fazendo com que os lares de antes transformassem em meros dormitórios
(PARK apud FREITAS, 2004; p. 86-87).
33

1.2 OS MÉTODOS UTILIZADOS

Ao propor estudar os casos de homicídios, o que vem a mente, apesar da


limitação temporal, é algo muito amplo. Estudar os casos os casos de homicídios, em si
não se resume estudar apenas vítimas e autores, nem tampouco, certas variáveis que
qualificam os atores que por alguma razão possa ter se envolvido no ato de violência que
resultou na morte de uma pessoa aqui nominada como “vítima”. O tema em questão nos
leva a incluir no estudo o ambiente onde ocorreu o crime, as circunstâncias que o
motivaram e meios empregados para a prática, bem como o tempo, e claro o espaço onde
ocorreu o crime. Deixando claro, que o termo crime, para este caso, é sinônimo de
homicídios consumados, os quais são tratados como uma forma violência dentre as várias
consideradas por estudiosos das diversas áreas do conhecimento.
Diante disso, a presente pesquisa não se resume a levantamentos de dados ou
localização de eventos do tipo homicídios no espaço. Como também não está
enclausurada a uma única ciência. Podemos dizer que é interdisciplinar, pois além do
cunho geográfico, ela busca nas teorias sociológicas explicações para a forma de violência
ora estudada.
Assim, para análise das variáveis da dimensão pessoal, como também para a
contextual, temporal e espacial utilizamos o método comparativo. Para a produção dos
mapas de pontos e zonas de concentração de homicídios e análise espacial dos eventos
utilizamos o método estatístico de estimação de parâmetros, o “Método Estimador Kernel
ou Função K, que será abordado mais adiante.

1.2.1 O Método Comparativo para Análise dos Homicídios

Assim, utilizando o Método Comparativo proposto por Émile Durkheim em sua


obra denominada “As regras do método sociológico”, que sustenta em dois postulados,
onde o primeiro afirma que a sociedade deva ser estudada como os demais organismos
biológicos, possuindo uma lógica organizativa semelhante à das sociedades animais; e a
segunda que diz que para conhecer e explicar o organismo social é preciso desvendar
suas conexões essenciais, formadas pelas relações de causalidade e de funcionalidade
que lhe são inerentes.
Assim, tendo que o estudo em questão se enquadra no proposto do segundo
postulado, e, que de acordo com Durkheim (1985), apesar de ser este decorrente do
primeiro postulado, refere-se às relações de causalidade que constituem a essência dos
34

fatos sociais, sendo o alvo da explicação sociológica. E, por sua vez, as relações causais, o
elo dos fenômenos coletivos (fatos sociais) com suas partes constituintes (os indivíduos
que integram a sociedade).
Diante disso, segundo Durkheim (1985), desvendar a natureza das relações
que se estabelecem entre as partes (indivíduos) e o todo (a sociedade), significam revelar
as conexões causais que mantêm a ordem e o funcionamento do organismo social, à
semelhança do que ocorre com os demais organismos biológicos. Para o estudioso, no
estudo dos fatos sociais, o pesquisador deve procurar revelar as causas, orientando-se a
partir dos efeitos por elas produzidos. Deve agir de forma análoga a um médico, que busca
amainar a dor (efeito) de seu paciente, atacando a doença (causa) que lhe dá origem.
Trazendo este argumento para a realidade da pesquisa, seria como atacar, ou
melhor, conhecer quem são as vítimas, seu perfil social, os locais de ocorrência, as
circunstâncias e meios que contribuíram para a ocorrência da forma de violência, e o tempo
em que ocorreu para em seguida definir estratégias de combate e controle das causas da
forma de violência, que pode ser inúmeras.
Considerando os postulados de Durkheim, que estabelece as bases da
objetividade e da cientificidade do conhecimento sobre o social, Fernandes (1980, p. 71)
afirma que a construção analítica de Durkheim assenta em três patamares distintos que
são: a delimitação do objeto através da observação sociológica; a constituição dos tipos
sociais médios (ou as instâncias empíricas), e; a explicação do fato social propriamente
dito. Com respeito à delimitação do objeto, deve-se mencionar ainda a distinção entre os
fatos de natureza normal e os patológicos.
No que refere à definição dos fenômenos sociais em si mesmos destacados
dos indivíduos conscientes que formulam representações a seu respeito como objeto de
análise da sociologia, Durkheim rejeita tanto o normalismo das generalizações filosóficas,
quanto o individualismo e o gradualismo das explicações positivas. As primeiras, pelo fato
de a sociologia não ser um corolário da psicologia e não tratar dos fenômenos relativos à
vida individual e particular de cada ser humano, e segundo porque as sociedades humanas
não existem por justaposição, sendo as de tipo superior mera evolução daquelas mais
simples (DURKHEIM, 1985).
A este respeito, Fernandes (1980, p. 71) explica a ciência realista e racionalista,
como define Durkheim, deve entender a conduta humana e o racionalismo científico, pois,
a partir de uma análise temporal, é possível reduzir os fatos sociais a um conjunto de
relações de causa e efeito. E com esta postura, Durkheim rompe com as formulações de
35

Comte, Spencer e Stuart Mill, que não obstante tem declarado que os fatos sociais são
fatos da natureza, não os trataram como coisas, ou seja, enquanto objetos do método
positivo.
Para Durkheim (1985, p. 89-90), o social se explica pelo social, isto é, as
conexões causais fundamentais se desvendam a partir das relações sociais por elas
próprias engendradas, e, muitas vezes, não perceptíveis a ‘olho nu’. Para Durkheim, ao
contrário de Comte, ‘o todo não é idêntico à soma das partes, e constitui algo diferente, e
cujas propriedades divergem daquelas que apresentam as partes de que é composto [...]’.
‘A sociedade não é uma simples soma de indivíduos, e sim um sistema formado pela sua
associação, que representa uma realidade específica com seus caracteres próprios’.
Segundo o mesmo autor, a sociologia deve seguir o caminho da
experimentação indireta ou a análise das variações concomitantes, fazendo uso, portanto,
de um procedimento indutivo, e não dedutivo, como propunham Comte e Bacon. Pela
variação concomitante, ou pelo simples paralelismo de uma variável, pode-se verificar se a
causa é permanente e, neste caso, verificar se há uma lei de explicação.
Quanto à aplicação do método comparativo de maneira científica, Durkheim vai
além e diz que para isso devemos tomar por base as comparações que instituirmos a
seguinte proposição: a um mesmo efeito corresponde sempre uma mesma causa
(DURKHEIM, 1985, p. 112).
E mais, de acordo com Durkheim (1985, p. 109), não temos senão um meio de
demonstrar que um fenômeno é causa de outro, e é comparar os casos em que estão
simultaneamente presentes ou ausentes, procurando ver se as variações que apresentam
nestas diferentes combinações de circunstâncias testemunham que um depende do outro.
Na sociologia, é preciso fornecer ao investigador recursos metodológicos que
sejam capazes de neutralizar ou pelo menos controlar a complexidade dos seus objetos
(fatos sociais), pois a simples demonstração dos objetos revela-se insuficientes para
garantir que os vários efeitos possuem uma única causalidade. A probabilidade de erro é
grande, mesmo ao se determinar que tal efeito corresponde a esta ou aquela causa,
mesmo depois de estudá-los cientificamente (DURKHEIM, 1985).
Durkheim tinha ciência de que por mais competente que pudesse ser o
investigador, ele dificilmente poderia garantir certeza total na análise dos efeitos ou dos
antecedentes históricos (conhecidos ou não) responsáveis por uma determinada causa. A
comparação é aqui destacada em sua proposta teórico-metodológica, ao fazer a seguir
afirmação:
36

[...] para que uma variação seja demonstrativa, não é necessário que
todas as variações diferentes que comparamos tenham sido rigorosamente
excluídas. O simples paralelismo de valores pelos quais passam dois fenômenos,
desde que sido estabelecido num número suficiente de casos bastante variados, é
a prova de que existe entre eles uma relação [...]. A concomitância constante é,
pois, ela mesma, uma lei, seja qual for o estado dos fenômenos que restaram fora
da comparação (DURKHEIM, 1985, p. 113; 114).

Mas, em contínuo, Durkheim (1985, p. 116) assevera que além de a


comparação auxiliar o investigador ao determinar a relação causal fundamental dos fatos
sociais, existe ainda outra razão que torna o método das variações concomitantes
(comparações) o instrumento por excelência da explicação sociológica. Para o autor, esta
razão está no fato de que este método:

[...] não nos obriga nem a enumerações incompletas, nem a


observações superficiais. Para que dê resultados, bastam alguns fatos. Desde que
se provou que, num certo número de casos, dois fenômenos variam, um e outro,
da mesma maneira, pode-se ter a certeza de que nos encontramos em presença
de uma lei.

Ou seja, é pela comparação entre dois fatos sociais, ou seja, entre um fato
crucial e um vulgar (do senso comum) que o sociólogo pode determinar o que é
fundamental, estabelecendo a causa principal a partir da qual derivam efeitos e
consequências diversas e que, portanto, merece ser investigada.
E sobre a comparação entre dois fenômenos, Durkheim (1985), destaca é
preciso recorrer à interpretação para se chegar à causa comum entre ambos. Para se
estabelecer uma relação de causalidade entre eles pode-se proceder da seguinte modo:

1º, “[...] procurar, com auxílio da dedução, saber como um dos dois
termos pode produzir outro”; 2º, “[...] verificar o resultado desta dedução com o
auxílio de experiências, isto é, de novas comparações”, e;3º, “[...] se a dedução for
possível e se a verificação é bem sucedida, poder-se-á encarar a prova como
terminada” (DURKHEIM, 1985, p. 115).

Entretanto, se não houver nenhuma relação entre os fatos analisados,


sobretudo se não houver nenhuma relação entre a hipótese inicial e a lei demonstrada,
então é preciso recorrer a um terceiro fenômeno, com o qual os fenômenos anteriormente
comparados tenham relação. Aplica-se então, novamente, o método das variações
concomitantes, ou seja, o método comparativo.
Para Durkheim, a comparação não é simplesmente uma técnica de trabalho,
utilizada para fazer analogias entre dois ou mais fatos, estabelecendo entre elas diferenças
37

e semelhanças, é um método sociológico por excelência, pois é através dele que podemos
demonstrar o princípio de que cada efeito corresponde a uma causa. Durkheim, também
demonstrou como, em distintas sociedades, o crime, o casamento, o suicídio e a
poupança, são diferentes e sofrem variações, possuindo causalidades comuns, como por
exemplo, a existência ou não da solidariedade (seu grande tema de pesquisa)
(DURKHEIM, 1985).
Ainda sobre o método comparativo, Sheneider; Schimitt (1998, p. 49), destacam
que a comparação enquanto momento da atividade cognitiva pode ser considerado como
inerente ao processo de construção do conhecimento nas ciências sociais. É lançando mão
de um tipo de raciocínio comparativo que podemos descobrir regularidades, perceber
deslocamentos e transformações, construir modelos e tipologias, identificando
continuidades e descontinuidades, semelhanças e diferenças, explicitando as
determinações mais gerais que regem os fenômenos sociais.
Para alguns autores, a impossibilidade de aplicar o método experimental às
ciências sociais, reproduzindo-o em laboratório, os fenômenos estudados, faz com que a
comparação se torne um requisito fundamental em termos de objetividades científica. É ela
que nos permite romper com a singularidade dos eventos, formulando leis capazes de
explicar o social. Neste contexto, a comparação aparece como sendo inerente a qualquer
pesquisa no campo das ciências sociais, esteja ela direcionada para a compreensão de um
evento singular ou voltada para o estudo de uma série de casos previamente escolhidos
(SHENEIDER; SCHIMITT, 1998, p. 49),

1.2.2 Método de Análise Espacial

Se retrocedermos no tempo, veremos que a utilização de mapas e a


preocupação com a distribuição geográfica de eventos e fatos é bem antiga. Em 1768, foi
utilizada pelo médico escocês James Lind, que publicou o livro “An Essay on Diseases
Incidental to Europeans in Hot Climates”, no qual procurou explicações para a distribuição
de doenças, chegando inclusive a atribuir riscos a determinadas áreas geográficas
específicas (BARRET, 1991).
Outro caso semelhante e de sucesso, no estudo da distribuição espacial de
doenças foi o aplicado por John Snow em 1854, quando ocorria em Londres uma das
várias epidemias de cólera trazidas das Índias. Pouco se sabia então sobre os mecanismos
causais da doença. Duas vertentes científicas procuravam explicá-la: uma relacionando-a
38

aos miasmas, concentrados nas regiões baixas e pantanosas da cidade, e outra à ingestão
de água insalubre. Estudos posteriores confirmaram a hipótese sobre ingestão de água
insalubre, localizando em mapas os pontos de captação de água, especificamente onde
concentravam dejetos de pacientes coléricos. Para Câmara, et al., (2004), essa é uma
situação típica onde a relação espacial entre os dados contribuiu significativamente para o
avanço na compreensão do fenômeno, sendo este um dos primeiros exemplos da análise
espacial.
Contudo, apesar de maioria dos estudos que tem utilizado da análise espacial
estar voltados para a saúde, e em específico a epidemiologia, a de considerar sua
aplicação na análise da violência como fenômeno social, utilizando das técnicas de
mapeamento e análise da distribuição de eventos no espaço.
Pois, como afirma Nobre; Carvalho (1996), os mapas são instrumentos
descritivos, exploratórios e também uma representação gráfica das análises. No Brasil,
entretanto, a utilização de recursos e técnicas de mapeamento, ainda é incipiente.
Mas de acordo com Pereira; Silva (2001, p. 107), é nos anos 90 do século XX
que a ferramenta SIG se desenvolve passando ser aplicada em atividades de gestão e
planejamento urbano, como se percebe pela enorme quantidade de trabalhos apresentado
em simpósios e seminários relatando experiências em nível nacional.
Estando assim de acordo com Santana; Dias (2009, p. 161) a aplicação do SIG
condicionada à possibilidade de aplicação e a necessidade de espacialização do atributo,
objeto de estudo, pois conforme os autores, na ferramenta SIG existem as seguintes
aplicações: “para pesquisa e educação; planejamento urbano e regional; transporte e
logística; gerenciamento da informação em estado real; saúde pública e segurança;
distribuição de mapas e banco de dados; gerenciamento de infraestrutura; aplicações em
negócios”. E destacam que tais aplicações se ampliam com outras desenvolvidas por
agências especiais e pelo governo e que variam de acordo com a escala escolhida, cidade,
município, Estado, País, entre outras.
Um fenômeno geográfico pode ser analisado de forma e precisão diferentes
dependendo do objetivo da aplicação. Cada aplicação requer a manipulação de fenômenos
geográficos distintos, associados a diferentes características e propriedades que variam no
espaço e no tempo. Toda essa variedade de aplicação está associada ao grande e variado
número de usuários que irão demandar SIGs adequados para especificidades ou que
delas possam dar conta, isto segundo (MAGUIRE apud CÂMARA et al., 1996, p. 27; 28).
39

Sobre a aplicação do SIG na área da segurança em específico (SANDO et al.


Apud FRANÇA GOLDNER, 2006, p. 4), expõe que o Departamento de Transporte do
Estado de Louisiana dos EUA, para análise de acidentes de trânsito desenvolveu uma
ferramenta baseada em SIG que permitiu identificar locais na rodovia onde ocorriam
frequentemente tipos particulares de acidentes de trânsito. Também o Departamento de
Tampa na Flórida usou o SIG para análise de acidentes nas rodovias estaduais, além de
possibilitar a criação de mapas para consultas a partir da base de dados TraCS (Traffic
Criminal Software), que permiti análises espaciais integrando o TraCS com outras bases de
dados para obter locais potencialmente críticos e desenvolver medidas apropriadas.
Assim sendo, temos que a análise de eventos dispostos no espaço, não se
restringe a doenças e que como se analisa a distribuição de eventos da saúde e da
epidemiologia em específico. E que podemos usar das mesmas ferramentas para análise
da distribuição de crimes como homicídios através das diversas técnicas de mapeamento e
análise da distribuição de eventos no espaço, as quais permitem descrever de uma
maneira gráfica, diversos fenômenos em saúde, desde a distribuição de padrões de
morbimortalidade até a alocação de serviços, passando pelo estudo da acessibilidade
(CRUZ, 1996).
Dentre as técnicas, utilizou-se o mapa de localização de pontos que é o tipo
mais simples, onde sobre uma base cartográfica, são assimilados através de pontos, a
localização de eventos, casos de doenças, unidades de saúde, fontes poluentes, e
também eventos relacionados à violência, como locais de ocorrência de homicídios,
locais de residência das vítimas, entre outras categorias, [grifo nosso]. Em geral cada
ponto representa um número definido de casos, sendo eventualmente também utilizados
códigos de cores para representar grupos de casos (GESLER apud CRUZ, 1996, p. 10;
11).
Para isso, utilizou-se Sobre o Método Estimador de Kernel, abaixo exposto.

1.2.2.1 O Método Estimador Kernel

A estimação Kernel é um método de análise de padrões espaciais dos eventos


pontuais em muito utilizado em diversas áreas de pesquisa, especialmente com a
recente proliferação de bancos de dados georreferenciados, consequência dos avanços
obtidos nos sistemas de informações geográficas (GIS) Gatrell, et al., (1996).
40

A função K (Kernel Estimador) ou “medida reduzida de segundo momento”,


introduzida originalmente por Ripley (1976), é um método que proporciona uma descrição
efetiva da dependência espacial dentro de um padrão pontual em determinada área, ou
seja, verifica se os eventos estão distribuídos ao acaso, se eles se encontram em padrão
de regularidade, ou se existem conglomerados específicos, sendo tal análise possível para
uma vasta gama de escalas espaciais.
A função K é definida como um número esperado de eventos dentro de uma
distância h de um evento arbitrário dividido pela intensidade de pontos na região. Sua
estimação baseia-se na variação do número médio de outros eventos em torno de um
evento qualquer, à medida que variamos do raio de consideração.
Seu objetivo é obter uma estimativa suavizada da densidade de eventos por
unidade de área, uma propriedade de grande relevância para a análise do comportamento
de um processo estocástico espacial.
A popularidade da função K encontra-se primeiramente na facilidade de sua
estimação se comparada com outras medidas de segunda ordem para processos pontuais
como a função de intensidade de segunda ordem. Ela apresenta uma propriedade muito
útil, a invariância sob redução aleatória, o que permite que o tamanho de amostra não
interfira na sua estimação. Sob a hipótese de Completa Aleatoriedade Espacial (CAE), que
reflete uma disposição casual dos eventos, sem interações entre eles, a função K é
expressa como: K(h)= .
Portanto, devem-se considerar as desvantagens do Kernel Estimator, que são a
forte dependência no raio de busca e a excessiva suavização da superfície, que pode em
alguns casos esconder variações locais importantes (CAMARGO; FUCKS; CÂMARA,
2004, p. 7).
E do ponto de vista computacional, a principal dificuldade em se fazerem
estimações de Kernel numa certa região surge da necessidade de se identificarem os
eventos próximos aos nós de uma grade fina colocada sobre a área de interesse. Daí
surge a importância de se utilizarem algoritmos eficientes para a determinação dos
conjuntos de vizinhos mais próximos (GATRELL, et al., 1996).

1.3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A escolha de uma metodologia para analisar a violência na forma de homicídios


não é tarefa fácil. A falta de um modelo explicativo abrangente sobre os homicídios tem
41

gerado propostas de intervenções quase sempre parciais refletindo a linha de pensamento


sobre o assunto por parte do pesquisador.
Contudo, os avanços tecnológicos na área de geoprocessamento têm permitido
incorporar a estrutura espacial das variáveis, oferecendo a vantagem de poder analisar o
problema enquanto problema social, particularizado, em seu contexto socioeconômico,
cultural e ambiental.
Ainda, além do potencial explicativo, essas técnicas de análise permitem
identificar grupos populacionais, áreas de risco e orientar intervenções de forma mais
precisa.
Assim, tendo que o estudo em questão não se resume apenas a análise
espacial dos crimes de homicídios registrados no município de Cuiabá-MT, no ano 2007,
mas também em caracterizar a dimensão pessoal, contextual, temporal da forma de
violência estudada, como podemos verificar no fluxograma abaixo, ou seja, figura 1.
42

Definição do Tema

1ª Etapa

Levantamento Bibliográfico Definição dos Objetivos Escolha da Área de Estudo

3ª Etapa 2ª Etapa 4ª Etapa

Escolha das Instituições

5ª Etapa

SROP/SEJUSP IML/POLITEC DEHPP/PJC

7ª Etapa 6ª Etapa 8ª Etapa

Escolha das Variáveis

9ª Etapa

Sistematização dos Dados Coleta de Dados Levantamento de Campo

11ª Etapa 10ª Etapa 12ª Etapa

Análise de Dados e
Representação Gráfica
(Mapas)

Figura 1: Fluxograma das Etapas metodológicas realizadas.


Elaborado e Organizado por: Elcio Bueno de Magalhães, 2010.

1.3.1 Etapas Metodológicas

A delimitação do tema de trabalho, os objetivos e a seleção da área de estudo


foram efetivamente definidas no decorrer do Curso de Mestrado, especialmente após ter
ciência da realidade que cercava o tema, especialmente no que concerne a organização;
43

armazenamento e acesso as instituições que em razão do serviço prestado figura como


fonte em si ou como detentora ou administradora das fontes de dados aqui consideradas.
A Delegacia Especializada em Homicídios e Proteção à Pessoa (DEHPP) da
Polícia Judiciária Civil do Estado de Mato Grosso (PJC-MT), responsável pelo registro das
ocorrências de homicídios, instauração de inquéritos, investigação e armazenamento dos
Boletins de Ocorrência (BO), entre outras funções. Atualmente esta Delegacia produz
mensalmente Planilhas de Homicídios, e repassam as unidades de segurança pública,
especialmente a Coordenadoria de Estatística da Polícia Civil, seção de assessoramento
ao Diretor Geral da Polícia, e esta quando solicitada à Coordenadoria de Estatística e
Análise Criminal (CEAC), da Superintendência de Segurança Estratégica (SuSE), da
Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública do Estado de Mato Grosso
(SEJUSP/MT), bem como a APOEG, setor de estatística da Polícia Militar do Estado de
Mato Grosso (PM/MT).
O Sistema de Registro de Ocorrência Policiais (SROP), da Base de Dados
Oracle, da Secretaria de Estado, Justiça e Segurança Pública do Estado de Mato Grosso
(SEJUSP-MT), administrado pela Polícia Judiciária Civil (PJC) permite o acesso a Base de
Dados (BD) mediante cadastrado e posterior acesso através de login e senha, e somente
para pesquisa direta nos boletins ou através da ferramenta de busca Web Inteligence (WI).
O Instituto de Medicina Legal (IML), da Perícia Oficial de Identificação Técnica
do Estado de Mato Grosso (POLITEC-MT), dentre os documentos produzidos, o Laudo de
Necropsia, é o documento onde registra especialmente as mortes por causas externas,
como homicídios, roubo seguido de morte, lesão corporal seguida de morte, acidentes de
trânsito, afogamentos, suicídios, acidentes de trabalho, entre outras. O acesso aos Laudos
de Necropsia deu-se mediante solicitação oficial via ofício encaminhado ao superintendente
da POLITEC-MT, que autorizou a coleta de dados diretamente nos laudos, os quais
estavam armazenados em caixa – box.
O conhecimento do método de análise espacial ocorreu do interesse pelo
assunto, quando da percepção de sua aplicabilidade na gestão de crimes como o de
homicídio que em muito amedronta as pessoas pelas vítimas que produz em seu meio,
como pelos gastos que geram aos cofres públicos, quando do socorro de vítimas, prisão,
encarceramento e julgamentos de suspeitos e autores do tipo de crimes.
Como também pelo descrédito tributado as instituições policiais, que pela falta
de um gerenciamento eficaz de seu produto, ou seja, os Boletins de Ocorrência trabalham
as cegas, sem saberem os meses do ano, os dias da semana, os horários do dia, os locais
44

e tipos de locais de ocorrências, bem como as motivações do crime por elas mesmas
registrados. Enquanto se fazem blitz de trânsito nas principais vias da cidade, roubos,
furtos, homicídios estão ocorrendo em outras partes da cidade. Enquanto policiam as áreas
centrais, a periferia é dominada pelo tráfico e demais formas de violência. Com isso, as
polícias passam a serem percebidas como algo não necessário a sociedade.

1.3.1.1 Levantamentos e Revisão Bibliográfica

Tendo em vista a análise dos homicídios e a compreensão de suas causas,


bem como sua distribuição espacial no Município de Cuiabá-MT, primeiramente fez-se
levantamentos bibliográficos em livros, revistas especializadas, teses e dissertações e
demais produções científicas, disponíveis na Biblioteca Central da Universidade Federal de
Mato Grosso e através da rede mundial de computadores (internet), onde acessou-se
diversos sites de universidades, faculdades fundações, institutos e núcleos de estudos, que
tem como foco de pesquisa o estudo e o acompanhamento da violência, tanto em suas
cidades de origem, unidades da federação e o País como um todo.
A leitura das referências levantadas permitiu constatar que os autores que
estudam a violência na forma de homicídios, o consideram como um fenômeno violento,
que atinge o homem não só com o ato de tirar a vida, mas também com manifestar de um
permanente estado de preocupação e medo, causando lhes stress, levando-o a busca pela
proteção pessoal e de seus entes queridos (família), além disso, este estado de
preocupação somado a outros sentimentos levam as pessoas, especialmente as
residentes no espaço urbano a se fecharem fazendo de suas casas sua proteção. Proteção
esta reforçada com a valorização do espaço interno. As grades e aparelhagem de
monitoramento e vigilância integraram a estrutura residencial. E novos hábitos e costumes
ao modo de viver dos citadinos, tudo em prol da proteção e segurança contra ações de
pessoas criminosas.
Em razão destas particularidades, a violência na forma de homicídio, passou
segundo estudiosos do assunto a ser percebida como um fenômeno violento, que rompeu
as percepções reducionistas, que impunham a idéia de que violência é “algo de pobre”, de
“favelas ou favelados”, de “pessoas negras”.
Tornou-se algo universal, que atinge a tudo e todos independentemente da
classe social, da cor ou raça, do local onde reside. Ultrapassou as barreiras anteriormente
levantadas, não mais ficando presas a questões preconceituosas, cujos critérios eram as
características físicas das pessoas, seu status quo, poder econômico ou algo do gênero.
45

1.3.1.2 Escolha das Instituições

As informações relacionadas às mortes por homicídios são as mais confiáveis.


Contudo, ainda existem problemas no que refere à coleta de dados nos BOs de ambas as
instituições policiais. Na análise dos crimes de homicídios, não há como trabalhar com
dados de apenas uma instituição, pois nem todas consideram as variáveis necessárias ao
estudo do tipo de crime objetivado, sendo necessário, portanto, cruzar dados de variáveis
de outras fontes, neste caso, instituições, como mostra o Quadro 1, p. 49.
Por estas razões, escolheram-se três instituições cujos documentos por elas
produzidos seriam fontes para coleta de dados, sendo elas: Instituto de Medicina Legal
(IML), da Perícia Oficial de Identificação Técnica do Estado de Mato Grosso (POLITEC-
MT); Sistema de Registro de Ocorrências Policiais (SROP), da Secretaria de Estado
Justiça e Segurança Pública (SEJUSP-MT) e a Delegacia Especializada em Homicídios e
Proteção à Pessoa (DEHPP), da Polícia Judiciária Civil do Estado de Mato Grosso (PJC-
MT), conforme podemos verificar no Quadro 1, p. 49 que distribui as variáveis escolhida por
instituições.
Para escolha das instituições, considerou-se em primeiro lugar o acesso aos
dados, e em segundo lugar, a forma de armazenamento e em terceiro as variáveis
contempladas nos documentos, quer fosse ele laudos, boletins de ocorrência ou planilhas.
Assim, o acesso aos Laudos de Necropsia do IML-POLITEC-MT foi franqueado
após solicitação oficial via ofício, como anteriormente comentado. O acesso ao SROP,
mediante requerimento, cadastro profissional e solicitação de login e senha, sendo
permitido o acesso apenas para pesquisa direta nos Boletins de Ocorrência (BO)
armazenados na Base de Dados Oracle, ou através da ferramenta de busca Web
Inteligence, isto após treinamento ministrado por servidores da Coordenadoria Geral de
Tecnologia da Informação (CGTI), da SEJUSP-MT.
O acesso as fontes de dados DEHPP, da PJC-MT, como Planilhas Mensais de
Homicídios e Livro de Registro Simplificado de Ocorrências Policiais, também ocorreu
mediante solicitação oficial. Contudo, os laços pessoais entre servidores das instituições, o
conhecimento mútuo foi de relevante importância para abertura das portas e acesso aos
arquivos das referidas instituições.
Quanto às variáveis que atendesse ao propósito da pesquisa, vale destacar que
nenhuma das fontes de dados escolhida, atendeu na totalidade os objetivos da pesquisa,
46

sendo necessário fazer cruzamentos de dados entre variáveis de mesma natureza entre as
respectivas fontes.
Apesar dos Boletins de Ocorrência (B.Os) da Base de Dados do SROP da
SEJUSP-MT possuírem variáveis que caracterizam a vítima, o local de ocorrência, o tempo
de ocorrência, grande parcela dos dados das referidas variáveis constam como não
informados ou não identificados, ou simplesmente não estavam preenchidos ou
preenchidos de forma errada prejudicando o estudo do tipo de crime em questão. É comum
verificar nos boletins de ocorrência, dados que deveriam estar escritos num campo
específico do boletim de ocorrência, estarem em outro ou no histórico do documento.
Enquanto que o campo do referido dado permanece não preenchido. Esta prática também
é como nos (BOs) de ambas as instituições policiais, prejudicando em muito a coleta de
dados nos documentos, quer seja manualmente ou através da ferramenta de busca.
Se a falha é comum nos (BOs) de ambas as instituições policiais, logo, as
Planilhas Mensais de Homicídios produzidas pela DEHPP, sofre do mesmo mal, pois seus
dados são originários também dos (BOs) do SROP. O diferencial, é que as Planilhas
podem ser atualizadas, em razão das investigações empreendidas pelos investigadores da
PJC, pelo menos seria o normal que os dados fossem atualizados de acordo as
investigações dos crimes!
Por sua vez, os Laudos de Necropsia, além de contemplar variáveis que
caracteriza as vítimas (dimensão pessoal), o local de ocorrência (espacial), o tempo de
ocorrência (temporal) e as circunstâncias da ocorrência (contextual), os dados contidos nas
Declarações de Óbito (DO) anexo aos Laudos sempre estavam preenchidas de forma
correta, contudo, grande parte dos laudos não possuíam anexo os DOs, prejudicando a
coleta de dados, e em razão desta falta, considerou em segundo plano, os dados do
preâmbulos dos laudos.
Além desta dificuldade, a forma de armazenamento dos laudos, como também
a condição do ambiente onde estavam armazenados desfavorecem a realização da
pesquisa. A sala onde os laudos estavam arquivados localizava na época ao laudo da sala
de necropsia, por isso era muito forte o odor no ambiente, que somado a falta de ventilação
e climatização adequada, podemos afirmar que a sala de armazenamento era um
ambiente insalubre. Além disso, a falta de estrutura física como mesas e cadeiras era outro
agravante. O trato e o armazenamento dos laudos não levaram em conta a natureza da
morte quando do armazenamento. Laudos de vítimas de homicídios, latrocínios, acidentes
de trânsito, acidentes de trabalho, suicídios, afogamentos e de causa não determinada ou a
47

esclarecer eram armazenadas em conjunto dificultando em muito a pesquisa por natureza


de crime em específico como homicídios.
Além disso, o IML de Cuiabá, também atende ocorrências de vítimas fatais
oriundas dos demais municípios do Estado, especialmente aquelas feridas ou doentes são
removidas para esta Capital onde após período de internação vem a óbito. Neste contexto
também inclui o Município de Várzea Grande-MT, quando vítimas das variadas formas de
violências são removidas para Capital e falecem. Dentre os empecilhos expostos,
envolvendo o órgão em questão, a exceção foi à atenção e o bom trato dispensado pelos
servidores do setor, no que refere as dúvidas e entraves surgido quando do desenrolar da
pesquisa, apesar de quase sempre não terem uma solução para as dúvidas ou problema
do tipo: Onde está o laudo número tal? Por que este laudo não tem anexa a Declaração de
Óbito? Porque neste laudo não existe o preâmbulo, documento comum numa maioria
esmagadora dos documentos produzidos pelo órgão?

1.3.1.3 Escolha das Variáveis

Com vista a alcançar os objetivos da pesquisa, as variáveis utilizadas foram


selecionadas considerando-se sua utilidade e importância para o estudo. Foram coletadas
em diferentes instituições, tal como foi apresentado anteriormente.
Diante disso, as variáveis selecionadas para análise dos homicídios foram
distribuídas em quatro grupos dispostos da seguinte forma:

1) Dimensão Pessoal - sexo, faixa etária, cor ou raça, estada civil, tempo de
escolaridade, profissões ou ocupações, local de origem, local de residência;
2) Dimensão Espacial - local de ocorrência, tipo de local de ocorrência e
logradouros;
3) Dimensão Contextual - motivação do crime e agente da causa morte;
4) Dimensão Temporal - mês do ano, dia da semana e horário da ocorrência.

De todas as variáveis consideradas, as variáveis sexo, faixa etária, cor ou raça,


estado civil, local de ocorrência, tipo de local de ocorrência, logradouros, mês do ano, dia
da semana e horário da ocorrência tiveram como fonte principal os Laudos de Necropsia,
do IML, extraídos especialmente das DOs e dos preâmbulos que são documentos que de
48

certo modo identifica a vítima. Os dados dos preâmbulos dos laudos só foram utilizados
quando da inexistência das DOs nos respectivos laudos.
Estas variáveis posteriormente tiveram os respectivos dados cruzados com os
dados das variáveis dos Boletins de Ocorrência Policial armazenado na Base de Dados
Oracle do SROP-SEJUSP-MT, bem como com os dados das variáveis das Planilhas
Mensais de Homicídios da DEHPP da PJC-MT.
Já, as variáveis, tempo de escolaridade, profissões ou ocupações, local de
origem, local de residência foram extraídas apenas dos Laudos de Necropsia do IML,
portanto, seus respectivos dados não foram submetidos a cruzamentos em razão de tais
variáveis não serem contempladas pelas demais fontes O mesmo acorreu com a variável
“motivação do crime, que teve as Planilhas Mensais de Homicídios da DEHPP como
única fonte de pesquisa.
A variável motivação do crime das Planilhas Mensais da DEHPP é produto das
investigações policiais que via de regra iniciam-se a partir do registro da ocorrência no local
do crime, sendo, portanto legalmente formalizada com a instauração do Inquérito Policial
(IP) pela autoridade policial, encerrando-se com o julgamento do processo pelo judiciário,
após trânsito em julgado. Todavia, há de se destacar que os referidos dados são sensíveis
e sujeitos alterações que na maioria das vezes não são repassadas aos demais órgãos e
instituições envolvidas com o fenômeno violência, como as polícias e demais instituições.
Por estas razões, o estudo em questão, considera-se como válidos os dados
fornecidos pela PJC, os quais são resultados de investigações policiais. Doutra maneira,
seria impossível considerar esta variável como parte deste estudo em razão da demora nos
tramite judiciais.
Por sua vez, a variável “agente da causa morte” teve como fonte de coleta de
dados os Laudos de Necropsia do IML, sendo os dados posteriormente comparados e
confrontados com os das Planilhas Mensais de Homicídios da DEHPP.
Quanto às precariedades de dados das fontes consideradas, vale destacar que
é uma características inerente as instituições consideradas ou aos seus servidores
considerar ou desconsiderar o que eles acham ou não importante sobre a caracterização
das vítimas, agressores, locais de ocorrência, circunstâncias, meios empregados e o tempo
de ocorrência. Dentre as instituições selecionadas, as variáveis, cujos dados são mais
confiáveis são as coletadas via Laudos de Necropsia do IML, apesar das falhas, como
ausências de documentos importantes nos laudos como a Declaração de Óbitos, bem
49

como a falta de dados nos próprios DOs, como profissão ou ocupação, idade, cor ou raça,
estado civil, entre outros.
Mesmo após comparação e confronto de dados entre as fontes, verificou-se
que, 11,2% da variável cor ou raça, 18,9% da de tempo de escolaridade e 6,3% das
profissões ou ocupações constavam como não informadas ou ignoradas quando do
preenchimento dos documentos oficiais mencionados.
Contudo, vale destacar que do montante de dados não informados é resultante
da ausência de documentos pessoais da vítima quando da ocorrência da forma de
violência, bem como de familiares ou pessoas conhecidas que no momento pudessem
prestar informações ou fornecer dados que atendesse a necessidade dos documentos a
preencher no local. Em muitos dos casos, esta falta de pessoas dispostas a fornecer e
prestar informações é devido o medo de se envolver em conflitos e por não confiar na
eficácia e interesse das instituições policiais em solucionar o crime.
Esta falta de informações também ocorre quando do preenchimento do
endereço de ocorrência do delito, pois é comum nos BOs faltarem nome de avenida, rua,
travessa, praça, quadra, lote, número de casa, ponto de referência como também de
bairros, vilas, condomínios e até da cidade. Que argumento justifica falhas de tal
envergadura? Contudo, há de considerar que o endereçamento das avenidas, ruas,
quadras, lotes, e casas, como também os nomes dos bairros, vilas e condomínios, é um
problema a ser considerado na cidade e que muito atrapalha a gestão do território,
especialmente no que concerne a localização de eventos no espaço, como por exemplo,
os crimes de homicídios. Mas esquecer ou ignorar a cidade onde ocorreu o delito, só pode
ser descaso para com a sociedade, falta de esmero daqueles que deveriam honrar o
qualificador “servidor público”.
Em razão destas falhas humanas, e no intuito de que este estudo chegasse o
mais próximo possível da realidade imposta pela forma de violência, é que se considerou
para este as instituições IML/POLITEC, DEHPP/PJC e SROP/SEJUSP, cujos documentos
públicos por elas produzidos ou armazenados serviram como fonte de coleta de dados, os
Laudos de Necropsia, as Planilhas Mensais de Homicídios e o Livro de Registro
Simplificado de Ocorrências Policiais e os Boletins de Ocorrências Policiais. Sem estas
instituições/fontes, muitas das variáveis aqui estudada teriam ficado de fora, especialmente
as relacionadas a dimensão pessoal em específico.
Em razão desta peculiaridade, certas variáveis foram selecionadas com base
na metodologia utilizada por Gawryszewski (2002, p. 35), que assim procedeu: “Para
50

aquelas que podem ser encontradas em vários locais, ou seja, várias fontes, a
informação que consta na Declaração de Óbito foi à escolhida [grifo nosso].
Explicando o procedimento adotado pelo autor em questão, destaca-se a título
de exemplo, que no caso de uma variável como “cor ou raça da vítima” que é contemplada
pelas três fontes de dados, apresentar disparidades e dados entre as três fontes, ou seja,
cada fonte apresentar um valor. Neste caso, considerou os dados dos Laudos de
Necropsia do IML e assim por diante.
Como órgão responsável pelos procedimentos de identificação da vítima,
exames de necropsia, liberação do cadáver para sepultamento, o qual via de regra tem
maior acesso aos documentos das vítimas, como também contato com familiares das
vítimas, o IML possui desta forma maior facilidade para uma coleta de dados que melhor
caracterize a vítima. Assim, no caso das variáveis contempladas em todas as fontes
selecionadas, independente de cruzamento de dados, consideraram-se como dados de
maior importância os dados dos Laudos de Necropsia do IML. E na ausência de dados
desta fonte, considerou-se a da DEHPP e assim por diante.
Mas, o problema não se encerra aqui, além das divergências em termos de
valores referentes a determinadas categorias das variáveis, há também os dados
ignorados, pelo não preenchimento das variáveis, como também, as divergências em
relação à classificação de categorias das variáveis. Um exemplo destas divergências é a
variável que trata da escolaridade da vítima. Nas Declarações de Óbitos anexos aos
Laudos de Necropsia, lê-se “tempo de escolaridade”, ou seja, a variável é considerada por
faixas de tempo, como pode ser observado na Tabela 5, enquanto que os BOs das polícias
civil e militar consideram a escolaridade por nível de instrução, classificando-o em: ensino
fundamental, ensino médio, ensino superior e outros.
Diante da gravidade do problema, das lacunas e divergências de dados
existentes entre as fontes selecionadas, o Quadro 1 apresenta a partir destas fontes de
dados, as variáveis selecionadas para o estudo da violência na forma de homicídios.
51

Fontes
Variáveis
IML SROP/SEJUSP DHPP/PJC

Sexo X X X
Faixa Etária X X X
Cor ou Raça X X X
Estado Civil X X X
Tempo de Escolaridade X
Profissões ou Ocupações X
Local de Origem X
Local de Residência X
Local de Ocorrência X X X
Tipo de Local de ocorrência X X X
Endereço da Ocorrência X X X
Motivação do Crime X
Agente da Causa Morte X X
Mês do Ano X X X
Dia da Semana X X X
Horário da Ocorrência X X X
Quadro 1 - Fontes e variáveis selecionadas para o estudo dos homicídios.
Elaborado e organizado por: Elcio Bueno de Magalhães, 2010.

Os endereços de ocorrência dos homicídios, ou seja, “logradouros e locais” de


encontro de cadáveres também tiveram como fonte de pesquisa, os Laudos de Necropsia
do IML, os BOs do SROP, as Planilhas Mensais da DEHPP e o Livro de Registro
Simplificado de Ocorrências Policiais, da DEHPP, ano 2007. Que depois de identificadas as
vítimas, os endereços primeiramente coletados dos Laudos de Necropsia do IML, foram
cruzados e comparados com os dados das demais fontes consideradas.

1.3.1.4 Coleta dos Dados

A coleta dos dados sobre os homicídios registrados no Município de Cuiabá no


ano de 2007 foi realizada nas seguintes instituições: Instituto de Medicina Legal (IML), da
Perícia Oficial de Identificação Técnica do Estado de Mato Grosso (POLITEC-/MT); na
Base de Dados Oracle do Sistema de Registro de Ocorrência Policiais (SROP), da
Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública do Estado de Mato Grosso
(SEJUSP-MT) e na Delegacia Especializada em Homicídios e Proteção à Pessoa
(DEHPP), da Polícia Judiciária Civil do Estado de Mato Grosso (PJC-MT).
52

A Base Cartográfica do Município de Cuiabá ano 2005 foi cedida pela SEJUSP-
MT, bem como o Software Arc Gis utilizado na produção dos mapas de pontos e de zonas
quentes de homicídios.
A escolha do ano de 2007 para estudo dos homicídios registrados no Município
de Cuiabá-MT se deu em razão da maior disponibilidade dos dados. Já que o ano anterior
já estava no arquivo morto, em péssimas condições de armazenamento e de salubridade.
Os anos 2007 em razão de pendências de laudos complementares ainda estavam
acondicionados em uma sala à parte, diga-se de passagem, em melhores condições que
os laudos do ano anterior, isto no caso do IML. Os laudos dos anos subseqüentes
constavam ainda de muitas pendências de exames, o que naquele período prejudicaria um
possível levantamento e coleta de dados. A mesma desorganização era verificada na Base
de Dados da SEJUSP-MT, tanto em relação aos anos anteriores, como os posteriores em
razão da incipiente replicação dos BOs por parte das instituições policiais. Esta situação
agravou a tal ponto que o sistema SROP foi substituído por outro atual via web. Os dados
armazenados se perderam. Na DEHPP, a realidade é semelhante a encontrada no IML, os
BOs ainda são armazenados em pastas arquivos sem um mínimo de controle.

1.3.1.5 Sistematização dos Dados

Os dados foram sistematizados em forma de tabelas, quadros e figuras


(mapas). Calculou-se percentagem dos homicídios para o total de ocorrências registradas.
Para cada dado das variáveis consideradas foram calculadas as percentagens. Para o
cálculo da taxa de homicídio registrados no ano considerado na pesquisa, utilizou-se dados
populacionais do IBGE, referente a Contagem Populacional de 2007.
Além disso, as variáveis foram consideradas segundo suas categorias.
Exemplo, para o variável sexo da vítima, considerou-se as categorias masculinas e
femininas e não identificado ou informado. A variável local de ocorrência considerou para o
espaço urbano o abairramento vigente, ou seja, a divisão em áreas como bairros,
localidades e distritos. Para o espaço rural, a divisão por distrito/comunidade. Do mesmo
modo, para a variável horário de ocorrência considerou quatro intervalos de tempo que são:
das 00h00min às 06h00min; das 06h01min às 12h00min; das 12h01min às 18h00min e
das 18h01 às 23h59min, além do intervalo dos horários não informados ou não
identificados. E assim procedeu com as demais variáveis consideradas no estudo.
53

1.3.1.6 Levantamentos de Campo

De posse da planilha de logradouros (endereços) separados por bairros e


localidades de ocorrência dos homicídios, um automóvel e um aparelho de navegação
GPS marca Garmin HC, modelo Etrex, ambos cedidos pela SuSE-SEJUSP-MT saiu a
campo para localização geográfica dos 206 locais de ocorrência.
Tendo preliminarmente delimitado o espaço urbano em grandes áreas, de
acordo com as principais vias de acesso de modo a evitar deslocamentos desnecessários,
procedeu-se a localização geográfica dos locais onde ocorreram os homicídios com uso do
aparelho GPS, durante o mês de novembro de 2009, período diurno.
Para os endereços incompletos, procurou-se complementá-lo através de
conversa informal, haja vista que apesar de o automóvel utilizado ser oficial, ou seja, do
Estado, era descaracterizado, como se fosse carro particular, portanto, durante a realização
do levantamento geográfico, nós identificamos aos comerciantes e moradores como
estudantes que pesquisavam violência na forma de homicídios, os quais, salvo exceções,
sempre foram prestativos, informando-nos a localização do ocorrido quando não em
detalhes, pelo menos com algum ponto de referência. Em razão deste procedimento, do
total de endereços, apenas 32 permaneceu com endereços incompletos em razão da falta
de dados como número de quadra, o número do estabelecimento. Em alguns casos, o
nome da rua ou avenida.
Esta categoria de endereços incompletos respondeu por 15,5% dos homicídios
registrados. Para estes casos em específico adotaram-se os seguintes procedimentos:
para os logradouros que constavam apenas o nome da rua ou avenida, consideramos um
local que correspondesse aproximadamente a metade da extensão da rua ou avenida
tirando com uso do GPS o ponto de ocorrência; para os logradouros, que possuíam nome
da rua ou avenida, número da quadra e não possuía o número do estabelecimento ou
residência, nem um ponto de referência e os moradores ou comerciantes das imediações
não souberam ou não quiseram prestar informação a respeito do evento, consideramos
como ponto de ocorrência um lugar que correspondesse ao centro da quadra, passando
desta forma, este local corresponder como local de ocorrência para efeito desta pesquisa;
para os logradouros não informados ou não identificados nos documentos pesquisados e
não localizados quando do levantamento de campo, após indagação da população local,
os quais somaram um total de 5 endereços, considerou-se para o caso como ponto de
ocorrência, a praça do bairro, e quando da ausência desta, a igreja católica, e na ausência
54

desta, uma igreja de outra denominação que por prática possuam prédios próprios e não
locados, o que favorece uma futura localização, sem maiores entraves. Desta forma,
nenhum dos 206 homicídios registrados no município ficou sem serem localizados
geograficamente no espaço do município de Cuiabá, que seja o espaço urbano ou rural.
Outros entraves enfrentados na questão dos endereços foram as abreviações
de nomes de ruas, os apelidos ou nomes populares, ou logradouros que tiveram o nome
trocado no decorrer das gestões políticas do município, cujas placas antigas de
identificação não foram substituídas, passando a coexistir uma espécie de concorrência
entre o antigo e atual nome. Um exemplo de ocorrência destes fatos é o bairro Novo
Colorado, onde grande parte dos logradouros possui dois nomes que os identificam,
ficando o pesquisador a deriva diante da confusão produzida pela inércia pública no que
refere ao planejamento urbano da cidade.
Além destes entraves, outros 14,7% dos endereços corresponderam ao Pronto
Socorro Municipal de Cuiabá (PSMC), localizado na Avenida General Vale, 192, no bairro
dos Bandeirantes, nesta capital, como se os locais de ocorrência da forma de violência
estudada fosse a unidade de saúde, negando assim o verdadeiro local de conflito, tudo por
falta de um acompanhamento eficaz dos casos de crimes contra a pessoa. Neste contexto,
o bairro dos Bandeirantes constou como o bairro mais violento da capital, somando um
total de 29 ocorrências de homicídios. Todavia, na realidade, estas vítimas foram agredidas
em outros logradouros, de bairros da capital e socorridas até ao PSMC, onde faleceram,
durante o trajeto, ou após serem atendidas, ou quando da internação, cujo óbito ocorreu
dias ou meses após a ocorrência de agressão. Portanto, como fora mencionado acima, por
falta de um acompanhamento dos crimes contra a pessoa, os endereços de ocorrências do
conflito que produziu a violência e em razão dos ferimentos provocados a vítima foi
socorrida ao PSM ou outra unidade de saúde, cai em esquecimento, sendo substituído pelo
da unidade onde ocorre posteriormente o óbito da vítima.
Falecendo no PSMC, a Polícia Judiciária Civil é solicitada para liberação do
cadáver, e consequentemente outro BO é registrado, sem nenhum vínculo com o anterior,
que normalmente pode ter sido registrado como “tentativa de homicídio”. Assim, passa a
existir dois BOs, um com endereço do local da ocorrência, outro com o do óbito. Ou,
quando a vítima, falece no trajeto do PSMC ou logo após atendimento de emergência,
também passa constar o endereço do PSMC.
A ocorrência de crimes contra a vítima que envolve prestação de socorro é uma
situação atípica vivenciada pelos policiais, pois quando do atendimento da ocorrência,
55

pessoas acotovelam-se para ver o moribundo, gritam, choram, ameaçam em razão da


possível perda do ente querido, como também por medo, e por isso exigem do
representante do Estado o inimaginável.
Diante disso, o policial se fragmenta entre atender a vítima, proteger a si próprio
e a vítima, prestar informações, afastar curiosos e suspeitos, solicitar apoio, entre outros
afazeres, como identificar a vítima, testemunhas, colher informações sobre o ocorrido. É
preciso muita atenção, o agressor pode tentar consumar o crime com a certeza de óbito no
local e o policial de defensor da vítima ao solo, pode ser percebida como obstáculo, barreira
a ser transposta pelo agressor que visa alcançar o seu propósito, que é matar a vítima de
uma vez por toda.
Diante disso, como colher nome de logradouro onde ocorreu o fato, como
saber o número da quadra e estabelecimento que pode estar a metros de distância do local
que não pode ser abandonado? Para complicar a situação, este policial não tem como
obrigação voltar ao local para colher informações adicional sobre o ocorrido. O boletim de
ocorrência é registrado com tais pendências, como se nada faltasse. Do mesmo modo, os
policiais que registram BO de liberação de cadáver no PSMC ou outro estabelecimento de
saúde, não têm como obrigação saber onde e quando a vítima foi agredida e porque.
Outros, às cegas investigam o crime. Penso que este conflito institucional só será resolvido
quando da existência de um modelo de polícia, cujos policiais exerçam o ciclo completo de
polícia, que inicia com a prevenção do crime e termina com a investigação de autoria e e
prisão dos suspeitos.

1.3.1.7 Espacialização dos Homicídios

Para a espacialização dos pontos onde ocorreram os homicídios, utilizou-se a


Base Cartográfica de Cuiabá ano 2005 e o software ArcGis versão 9.3.1 módulo ArcMap,
licença ArcEditor com extensão espacial “spacial analyst, ambos cedidos pela Secretaria
de Estado de Justiça e Segurança Pública do Estado de Mato Grosso (SEJUSP-MT), o
qual, através do método de Kernel Estimator, cujo raio de influência que define a
vizinhança do ponto a ser interpolado foi de 1000 metros, produziu os Mapas de
distribuição dos homicídios registrados em Cuiabá durante o ano 2007, conforme pode-se
observar a Figura 3: Mapa do Município de Cuiabá-MT, com a distribuição dos homicídios
registrados no ano 2007 (p. 153); a Figura 4: Mapa de distribuição dos homicídios
registrados na Macrozona Urbana de Cuiabá-MT, ano 2007 (p. 163) e a Figura 5: Mapa de
áreas de concentração de homicídios na Macrozona Urbana de Cuiabá-MT, ano 2007 (p.
56

164). Estes por sua vez permite a visualização em plano dos locais de ocorrência, como
das áreas de concentração (clusters) de homicídios, especialmente dentro dos limites da
Macrozona Urbana do município.
Na construção destes mapas, o estimador de densidade Kernel, a partir da
distribuição pontual dos homicídios, estima sua densidade por meio da definição do número
de ocorrências em um raio de interesse que define a vizinhança do ponto a ser interpolada,
o qual foi definido em 1.000 metros. Salientando que um raio muito amplo, resulta em uma
superfície excessivamente suavizada e, quando pequeno, gera uma superfície
demasiadamente fracionada.

1.3.1.8 Análise dos Dados

Para efeito deste estudo, os eventos estudados, ou seja, os homicídios como


fenômeno social que produz vítima com o ato de tirar a vida do semelhante foi decomposto
em quatro dimensões, isto, com o propósito de conhecer em particular as nuances da
forma de violência, tanto no que concerne a pessoa da vítima, ou seja, sua característica
física, como também seu perfil social ainda que de forma resumida. Do mesmo modo,
buscou-se também neste contexto caracterizar a dimensão tempo, situando os eventos
registrados no tempo cronológico, como também a dimensão espacial, através da
caracterização dos locais de ocorrência dos homicídios no espaço; a dimensão contextual,
situando os homicídios, segundo as circunstâncias e meios que contribuíram para a sua
ocorrência.
As fontes de dados como Laudos de Necropsia, Boletins de Ocorrência,
Planilhas de Mensais de Homicídios e Livro de Registro Simplificado de Ocorrências
Policiais foram submetidos ao procedimento de análise de conteúdo a fim de serem
coletadas as variáveis que atendessem aos objetivos da pesquisa, assim distribuídos:

a) Variáveis Pessoais: relacionada apenas à pessoa da vítima, capazes de


definir o perfil social das mesmas, como: sexo, faixa etária, cor ou raça,
estada civil, tempo de escolaridade, profissões ou ocupações, local de
origem e local de residência;
b) Variáveis Contextuais: relativas às circunstâncias em que ocorreu os
homicídios, sendo a motivação do crime e agente da causa morte;
57

c) Variáveis Temporais: Relacionadas ao momento no tempo em que ocorreu o


delito que resultaria da morte da vítima, como: mês do ano, dia da semana e
horário.
d) Variáveis Espaciais: Relativas ao espaço onde ocorreu o homicídio, como
local de ocorrência, que refere a área (bairros, localidades, que inclui dentre
outros tipos, assentamentos, loteamentos e distritos). Nesta pesquisa, o
termo distrito, com exceção do Distrito Industrial localizado dentro da
Macrozona Urbana, o qual é considerado como bairro. Os demais, ou seja,
o Distrito Coxipó do Ouro e o Distrito Nossa Senhora da Guia, em especial
refere-se à zona rural onde ocorreram mortes por homicídios. Também
consideramos a variável “tipo de local”, e a variável logradouro, que
corresponde aos endereços onde ocorreram os homicídios. A exceção foi
para os casos em que os endereços foram registrados parcialmente ou
foram totalmente ignorados quando do registro da ocorrência.

Para o processo de análise e discussão dos resultados, foram adotou-se as


sugestões apresentadas por Gil (1999) e a tarefa distribuída nos seguintes passos:
a) Estabelecimento de categorias para agrupamento dos dados coletados;
b) Tabulação dos dados com a contagem dos casos que estão em várias
categorias, nas modalidades tabulação simples e tabulação cruzada;
c) Análise estatística dos dados;
d) Interpretação e discussão dos dados

O agrupamento dos dados obedeceu às seguintes categorias:

a) Sexo: masculino, feminino e não informado;


b) Jovens (0 a 19 anos); adultos (20 a 59 anos), idosos (de 60 anos acima) e
não informado;
c) Cor ou raça: branca, parda, negra e não informado;
d) Estado civil: solteiro, casado, separado judicialmente, viúvo, união estável,
não informado;
e) Tempo de escolaridade: nenhuma, de 1 a 3 anos, de 4 a 7 anos, de 8 a 11
anos, de 12 anos e mais, e não informado;
58

f) Profissões ou ocupações: serviços auxiliares, estudantes, ocupações da


construção civil, ocupações de reparações de veículos, ocupações com
comércio varejista, ocupações de comércio ambulante, serviços domésticos,
ocupações da segurança particular, desempregado, profissões de ensino
superior, condutores de veículos, ocupações de escritórios, ocupações de
serviços de beleza, ocupações de metalurgia, artesão e marceneiro,
ocupações agrícolas, servidor público, aposentado, frentistas, ocupações de
segurança pública, militar, empresário, bancário e não informado;
g) Local de origem, esta variável classifica o Estado onde a vítima nasceu,
sendo eles: Mato Grosso, Paraná, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Ceará,
Minas Gerais, Pará, Goiás, Bahia, Rondônia, Acre, Amazonas, Espírito
Santo, Alagoas, Maranhão, Distrito Federal, Santa Catarina, Rio Grande do
Sul e não informado, e;
h) Motivação do crime: considerou nesta variável os apontamentos contidos
nas Planilhas de Mensais de Homicídios da DEHPP, assim distribuídas:
apurar, rixa/acertos de conta, envolvimento com drogas, fútil/briga/briga em
bar, vingança, passional, briga familiar, bala perdida, confronto com a
polícia, dívida, ambição, disparo acidental, crime de mando, execução,
tentativa de roubo, disputa por terra, não informado.
i) Agente da causa morte: instrumento perfura contundente (arma de fogo),
instrumento perfuro cortante (arma branca) força física, instrumento
contundente (não identificado), pedaço de madeira, pedra, arma artesanal
(chuço), machado, facão, cabo de energia (fio), meio líquido (água) e não
informado.
j) Mês do ano: janeiro, fevereiro, março, abril, maio, junho, julho, agosto,
setembro, outubro, novembro, dezembro;
k) Dia da semana: segunda-feira, terça-feira, quarta-feira, quinta-feira, sexta-
feira, sábado e domingo;
l) Horário: horário de ocorrência do delito, distribuídos nos seguintes
intervalos de horas: das 00h00min às 06h00min, das 06h01min às
12h00min, das 12h01min às 18h00min, das 18h01min às 23h59min e não
informado;
59

m) Local de residência, esta classifica a Estado onde a vítima residia quando


foi assassinada, sendo: Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Acre,
Alagoas, Rondônia e não informado;
n) Local de ocorrência, esta variável por sua vez classifica as áreas (bairros,
localidades e distritos) onde ocorreram as mortes por homicídios. Destas, 81
áreas estão circunscrita aos limites da Macrozona Urbana e apenas 2 a
área rural;
o) Tipo de local de ocorrência, esta natureza específica o local onde o delito
ocorreu, sendo assim classificada: via pública, residência particular,
estabelecimento comercial, matagal, presídio, chácara, praça, estrada, casa
abandonada, rio, parque, veículo, propriedade agrícola e não informado.
p) Logradouro: esta variável considera os endereços onde ocorreu a prática
da violência e não o óbito em si.
60

2 A ÁREA DE ESTUDO E SUA CARACTERIZAÇÃO

2.1 CUIABÁ E SUA LOCALIZAÇÃO

Localizada na porção centro-sul do Estado de Mato Grosso, na região


denominada Depressão Cuiabana, à margem esquerda do rio Cuiabá, afluente da margem
esquerda do rio Paraguai, pertencendo à Bacia do Prata. No Centro Geodésico da América
Latina, a cidade de Cuiabá, possui as seguintes coordenadas geográficas 15º 8 35’ 56”s e
56º8 06’ 01” WGr, apresentando uma altitude de 165 metros acima do nível do mar
(ROMANCINI, 2005, p. 31).
Como podemos observar a Figura 1, mostra a área de estudo, ou seja, os
Municípios com seus respectivos municípios vizinhos que: Acorizal, Rosário Oeste e
Chapada dos Guimarães ao norte; Chapada dos Guimarães, a Leste; Santo Antonio do
Leverger, ao Sul; e Várzea Grande e Acorizal, a Oeste, isto de acordo com (CUIABÁ,
2007a, p. 38).

Figura 2: Mapa da Área de Estudo, Município de Cuiabá-MT com Macrozona Urbana


Fonte: Base Cartográfica da SEJUSP/MT, ano 2005.
Organizado por: Elcio Bueno de Magalhães, 2010.
61

A população do município é de 526.346 mil habitantes (IBGE 2007), O


Município de Cuiabá possui uma área de 3.538,17 Km², destes, 254,57 Km² corresponde à
Macrozona Urbana, definida de acordo com a (Lei n. 4.719/04) de 3.283,60 Km² área rural.
E, além do distrito-sede de Cuiabá, integram-se o município os distritos do Coxipó da
Ponte, (com área de 1.462, 07 Km²), o do Coxipó do Ouro (com área de 458,67 Km²) o de
Nossa Senhora da Guia (com área de 1.333, 52 Km²) (CUIABÁ, 2007a, p. 38).
Assim diante do exposto temos no Município de Cuiabá a seguinte configuração
em termos de composição territorial, conforme podemos observar no Quadro 2, abaixo
disposto.

Distritos Área (Km²)

Cuiabá (sede) 283,91

Guia 1.333,52

Coxipó do Ouro 458,67

Coxipó da Ponte 1.462,07

Total 3.538,17

Quadro 2- Área Territorial do Município de Cuiabá/MT, por distritos.


Fonte: Adaptado, SEPLAN, 2005.
Elaborado e organizado por: Elcio Bueno de Magalhães, 2009.

O Perímetro Urbano de Cuiabá é resultado de definições que remontou desde o


ano de 1938 até os dias atuais. Assim, a partir do Ato n.176, de 25 de julho de 1938 que
definiu o perímetro urbano de Cuiabá, este foi redefinido e ampliado por noves vezes, ou
seja, em 1960, 1974, 1978, 1979, 1982, 1994, 2003, e 2004 quando o então Prefeito
Roberto França sancionou a Lei n. 4.719/2004, ampliando o perímetro urbano dando a ele
os limites atuais que é de 254,57 km² (CUIABÁ, 2007b, p. 9; 10; 11; 12).
Todavia, em razão da ampliação do perímetro urbano, espaços compostos por
sítios e chácaras foram incorporados a Macrozona Urbana, ficando por sua vez, o urbano
em meio ao rural e vice-versa, como podemos observar o entorno do bairro Tijucal, Altos
do Coxipó, Santa Cruz Jardim Universitário e muitos outros. Esta realidade além de fazer
com que a cidade apresente densidade demográfica baixíssima, dificulta a otimização da
infraestrutura urbana, a qual seria possível com uma densidade de 250 hab./há. Desta
forma, a baixa densidade demográfica além de dificultar a gestão do espaço cria ambiente
62

própria para a especulação imobiliária. Por estas razões, em 2007, o Prefeito Wilson
Santos, ao consolidar o Plano Diretor de Desenvolvimento Estratégico da Cidade, através
da Lei Complementar n. 0150/2007, determinou em seu artigo 89 a proibição da ampliação
do perímetro urbano pelo período de 10 anos, salvo em situação de calamidade pública
(CUIABÁ, 2007b, p. 12).
Assim definida, a Macrozona Urbana está parcelada em áreas administrativas, as
quais foram criadas pela Lei n. 3.262, de 11 de janeiro de 1994, que regulamentou o artigo
74 da Lei Orgânica do Município de Cuiabá, criando quatro regionais administrativas assim
dispostas: Regional Norte com uma área de 30,7 km², a Regional Centro-Oeste com 49,23
km², a Regional Centro-Leste com 46,01 km² e a Regional Sul - Leste com 128,63 km².
(CUIABÁ, 2007a, p. 37; CUIABÁ, 2010, p. 21).
E estas, de acordo com a Lei n. 3.723/1997, divididas em bairros. Cuiabá (2007b,
p. 21). De um total de 125 bairros incluído as áreas de expansão urbana e 378 localidades
(loteamentos regulares, loteamentos clandestinos, assentamentos informais, núcleos ou
conjuntos habitacionais, condomínios). Destas subdivisões, a Regional Norte conta 12
bairros e 67 localidades; a Regional Sul com 39 bairros e 102 localidades; a Regional Leste
com 50 bairros e 111 localidades e a Regional Oeste com 24 bairros e 98 localidades
(CUIABÁ, 2010, p. 25; 29; 35; 41).

2.2 CUIABÁ E SUA HISTÓRIA

Cuiabá, cuja origem é resultado de incursões de bandeirantes paulistas que


buscavam capturar índios para servirem de mão-de-obra na produção de produtos tropicais
no nordeste brasileiro para atender interesses da Coroa Portuguesa que intencionava
abastecer o mercado europeu, viabilizando assim a colonização da então Colônia
(SIQUEIRA; COSTA; CARVALHO, 1990, p. 10).
E é em razão deste avanço que as terras de Mato Grosso foram palmilhadas
por bandeiras paulistas como Antonio Pires de Campos, que no encalço dos índios
Coxiponés atingiu o rio Coxipó, em 1718. Como também, a bandeira de Pascoal Moreira
Cabral, que acidentalmente encontrou ouro nas barrancas do citado rio, em 1719.
Descoberta que relegou a segundo plano a préia de índios para as atividades mineradoras,
ainda que com técnicas rudimentares (SIQUEIRA; COSTA; CARVALHO, 1990, p. 10; 11).
A partir de então, em razão de necessidades de se organizar uma estrutura
social diversa da anterior que era de caráter nômade, Pascoal Moreira Cabral lavrou a ata
63

de criação de Cuiabá em 08/04/1719 cientificando o governador da Capitânia de São


Paulo, Dom Pedro de Almeida Portugal sobre o achado e sobre sua forma de organização,
além de requerer a eles o termo de certidão do achado (SIQUEIRA; COSTA; CARVALHO,
1990, p. 11; 12).
Este ato da parte de Pascoal Moreira Cabral atraiu milhares de migrantes que
em busca de enriquecimento povoaram o então Arraial da Forquilha. Em 1722, Miguel Sutil
descobriu ouro no local que corresponde à atual Avenida Tenente Coronel Duarte
(Prainha), próximo a Igreja do Rosário, a qual foi batizada como “Lavras do Sutil”. Esta por
sua vez atraiu a população do Arraial da Forquilha, formando o terceiro “arraial” que se
desenvolveu, constituindo-se posteriormente na cidade de Cuiabá (SIQUEIRA; COSTA;
CARVALHO, 1990; PÓVOAS, 1995).
A descoberta do ouro em Cuiabá, não só atraíram migrantes, mas de acordo
com Vilarinho Neto (2008, p. 16), “o ouro foi à base econômica responsável pelo
surgimento tanto da cidade de Cuiabá, como do Estado de Mato Grosso”.
E, por isso, o autor ressalta:

a origem da cidade de Cuiabá não foge à regra das demais que


surgiram na época da mineração, pois a preocupação das pessoas que vieram
para Mato Grosso era a garimpagem de ouro e não a formação de cidade
(VILARINHO NETO, 2008, p. 16).

Por este motivo, segundo o autor, a formatação do espaço urbano da cidade de


Cuiabá, em sua primeira fase de produção, configurou-se com a presença de casas
construídas junto aos veios auríferos e suas primeiras ruas se cruzavam de forma aleatória
sem qualquer planejamento prévio, arqueadas ou retilíneas, ajustando-se a topografia do
terreno, como ainda se observa na área central mais antiga da cidade (VILARINHO NETO,
2008, p. 16).
Com a ocupação efetiva e a organização social consolidada, o Estado de Mato
Grosso, tornou-se lugar de produção de cana-de-açúcar, especialmente nos arredores de
Cuiabá, cuja cidade era considerada o marco inicial do Estado. Paralelamente, a
agricultura, o Estado também experimentou o desenvolvimento da agropecuária, que
também foi responsável pela fixação do homem no espaço, sustentada pela criação do
gado bovino que integrou efetivamente o Pantanal mato-grossense.
Assim, alicerçada na agricultura de cana-de-açúcar e pecuária bovina, o Estado
experimentou a sua formação territorial sustentada na ideologia da acumulação fundiária,
64

que perdura até hoje. Desta forma, o autor ressalta que a produção do espaço na cidade
de Cuiabá segue as regras básicas do capitalismo, no qual o espaço socialmente
produzido se põe a serviço da acumulação do capital e que o acesso à terra, na cidade só
acontece mediante a compra da propriedade, ao pagamento de um aluguel, ou através do
processo de ocupação irregular, como única alternativa que resta aos sem-tetos, pois o
modelo econômico vigente só beneficia aos mais favorecidos financeiramente (VILARINHO
NETO, 2008, p. 16; 17).

2.3 CUIABÁ E SEU DESENVOLVIMENTO

O desenvolvimento de Cuiabá como cidade está atrelado ao desenvolvimento


do Estado e estes por sua vez a adoção de políticas desenvolvimentistas por parte do
Governo Federal. Não há como falar de um sem considerar o outro no contexto e de
ambos sem considerar as políticas governamentais. Considerando tudo isso, é possível
falarmos do surgimento da violência como resultado da explosão demográfica sofrida pela
cidade de Cuiabá e pelo Estado como um todo paralelo a implementação das políticas de
ocupação do território brasileiro, na época tratado como “vazios demográficos”, as quais
serão abordadas de forma sucinta neste estudo.
Antes da adoção destas políticas, isto no final do século XIX, Cuiabá vivia isolado
do País e do mundo, dependendo da única via de acesso, o rio Paraguai, cuja navegação
enfrentava problemas (VILARINHO NETO, 2008, p. 23).
Esta realidade começou a mudar somente a partir da década de 1920, com o
melhoramento do sistema de transporte rodoviário, quando Cuiabá passou a viver uma
fase desenvolvimentista. Sendo esta incrementada nas décadas de 1950 e 1960, com a
adoção de políticas governamentais voltadas para a expansão rumo aos “espaços vazios”
(FERREIRA, 2001, p. 446).
Contudo, vale lembrar que a política de ocupação dos “espaços vazios”, teve
início no final da década de 1940, com o Governo de Getúlio Vargas, o qual buscou com a
adoção desta política não só ocupar os chamados “espaços vazios” entre as “ilhas
econômicas” que formavam no Brasil, mas também objetivou sanar problemas políticos de
segurança interna, como aglomeração de desocupados nos grandes centros urbanos,
propiciar trabalho aos flagelados da seca do nordeste, substituir a migração estrangeira,
evitando a penetração de ideologias exóticas que pudessem contribuir para o surgimento e
agravamentos de conflitos sociais (NEIVA apud VELHO, 1982, p. 149).
65

No entanto, segundo (CORRÊA apud ROMANCINI, 1996, p. 32; 33) mudanças


mais profundas na economia e no espaço urbano de Cuiabá, ocorreram a partir dos anos de
1960, quando o Governo Federal, através do Projeto de Integração Nacional, promoveu a
incorporação da Amazônia ao processo geral de expansão capitalista, transformando-a em
fronteira do capital, atendendo interesses da burguesia nacional e do capital estrangeiro.
Na década de 1970, o governo militar lançou a “Operação Amazônia”, a qual
objetivava atacar em várias frentes os problemas da região. Para isso, o Governo criou
vários programas federais de apoio, entre eles, a Superintendência do Desenvolvimento da
Amazônia (SUDAM), o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), o
Banco da Amazônia (BASA), o Pólo da Amazônia (POLAMAZÔNIA), o Pólo do Noroeste
(POLONOROESTE), o Pólo dos Cerrados (POLOCENTRO), o Programa da Borracha
(PROBOR), e outros, com objetivo de viabilizar a ocupação produtiva e a integração da
Amazônia e do Centro-Oeste ao restante do Brasil (ROMANCINI, 1996; BARROZO, 2008, p.
19).
Assim, com o propósito de ocupar os vazios demográficos do oeste brasileiro, lo
Governo Federal, através do Plano de Integração Nacional (PIN), estabelecido na década de
1970, planejou e executou rodovias federais como a Transamazônica, a Cuiabá-Santarém, a
Cuiabá-Porto Velha e a Perimetral Norte, além de oferecer na época, incentivos fiscais e
crédito subsidiado para empresários do Sul-Sudeste se instalarem na Amazônia. Em razão
destas ofertas, centenas de empresas atraídas pelos “incentivos fiscais”, pelas terras
abundantes e baixo custo e pelo crédito fácil e barato tiveram projetos aprovados pela
SUDAM (BARROZO, 2008, p. 20).
O INCRA instalou projetos de colonização ao longo das rodovias federais. Os
militares que carregavam a preocupação de ordem estratégica na extensa fronteira com
países vizinhos e territórios coloniais, como as Guianas, viabilizou o plano de
desenvolvimento regional através da reestruturação dos órgãos regionais existentes. E neste
contexto, a SUDAM substitui a SPVEA, tendo como função o desenvolvimento da Amazônia
a partir de uma visão empresarial.
Concomitante a estes fatos, na década de 1960, o Governo Federal implementou
no Centro-Sul do Brasil política de modernização da agricultura para competir com o
mercado internacional, privilegiando algumas culturas de exportação. Em razão desta
política, pequenos agricultores da então região, receberam incentivos, ou melhor, lotes de
100 a 200 hectares de terra em Mato Grosso e no Território Federal de Rondônia, em troca
de seus minifúndios e pequenas propriedades que foram reagrupados, viabilizando a
66

mecanização, uma das condições para a modernização das culturas de trigo e soja
(BARROZO, 2008, p. 21).
Fatos semelhantes também ocorreram no Estado do Paraná onde cafezais
foram destruídos a mando do governo, sendo os pequenos proprietários obrigados a
deslocarem para as cidades ou para as fronteiras agrícolas, no caso, Mato Grosso e
Rondônia (BARROZO, 2008, p. 21).
Assim, com estas ações, o governo executou o plano de (re) ocupação dos
vazios demográficos do Centro-Oeste e da Amazônia, com o objetivo de garantir a
segurança nacional, de produzir para o mercado interno e externo e deslocar milhares de
famílias de agricultores do Sul, para poder viabilizar a modernização conservadora naquela
região. Além disso, esvaziou os conflitos fundiários ainda latentes desde a criação das
“ligas camponesas” (BARROZO, 2008, p. 22).
A década de 1970 foi o marco divisor, onde a cidade de Cuiabá rompeu as
barreiras do isolamento em relação a contato com outros centros de desenvolvimento,
passando a sofrer os impactos do “novo modelo de desenvolvimento” adotado pelo país no
período. A região foi incorporada aos grandes projetos de desenvolvimento de forma direta,
através da construção de estradas (Projeto de Integração Nacional) e de forma indireta, pela
colonização da Região Noroeste do País (Projeto Pólo noroeste) e pela colonização do norte
do Estado. Aliado a estes eventos, a cidade também teve boom populacional, pois em 30
anos, sua população apresentou um crescimento de aproximadamente 359 % (CASTRO,
1990).
Sobre o crescimento populacional experimentado pela cidade de Cuiabá, (COY,
1994, p. 138) destaca que o crescimento populacional das cidades, pode segundo o autor
ser considerado um dos fenômenos mais importantes do desenvolvimento sócio-
econômico e espacial das regiões periféricas do Centro-Oeste e da Amazônia (COY, 1994,
p. 138).
Para Romancini (2009, p. 54), a criação da Universidade Federal de Mato
Grosso, a implantação dos linhões de energia elétrica a partir da Cachoeira Dourada (em
Goiás), a ampliação e pavimentação da rede viária na década de 1970, facilitou o fluxo
populacional para a cidade, bem como as oportunidades de negócios e emprego nos
diversos setores da economia urbana, contribuindo para o aumento populacional de Cuiabá.
Por estas razões, a população urbana que era de 88.254 habitantes em 1970,
atingiu 198.086 em 1980, 395.662 em 1991 e 526.830 habitantes em 2007, isto de acordo
com (IBGE, 2008).
67

E neste contexto, o Estado de Mato Grosso obteve uma posição específica e


estratégica, ligando, de certa maneira, as regiões periféricas da Amazônia ocidental aos
centros do País. Isto favoreceu em particular o crescimento do aglomerado urbano de
Cuiabá/Várzea Grande, denominado ‘Portal da Amazônia’, cuja função de ponto de apoio
estratégico e de central de decisão a nível regional foi se intensificando no âmbito da
ocupação das fronteiras do Norte e do Centro-Oeste dirigida pelo Estado e por forças
capitalistas. A centralidade desta metrópole regional aumentou significativamente com a
incorporação da periferia. A migração inter-regional acentuada, oriunda, sobretudo das
regiões Sul e Sudeste do Brasil, contribuindo significativamente para o crescimento
desordenado desta cidade de boom (COY, 1994; VILARIINHO NETO, 2009).
Paralelamente à expansão das cidades, as áreas rurais mato-grossense
passaram por transformações profundas, no decorrer dos anos de 1970 e 1980, pelo
surgimento de frentes agrícolas e pela introdução de sistemas agrícolas ‘modernizados’
(produção mecanizada de soja) por um lado e pela crise simultânea dos sistemas agrícolas
tradicionais (produção camponesa de subsistência) por outro. Em função da falta de apoio
á pequena produção, a situação do setor agrícola como um todo agravou-se
gradativamente no decorrer dos anos de 1980. E, por conseguinte, estes fenômenos
causaram o êxodo rural e refletem-se nas cidades da região pelos contingentes de
migrantes do hinterland rural, os quais procuram em número crescente os bairros
periféricos das cidades (COY, 1994, p. 140).
Diante disso, há de considerar como no Sul e no Estado do Paraná, os
pequenos proprietários e minfundiários foram expulsos de suas posses pela força do
capital sob o aval do governo, para dar lugar aos sistemas agrícola modernizados. No
Estado de Mato Grosso e região Amazônica ocorreu algo semelhante. Do mesmo modo as
empresas agrícolas expulsaram os pequenos proprietários que sem assistência do governo
vivia em estado de miséria absoluta. Expulsos, foram habitar nas cidades, formando as
periferias urbanas e reproduzindo o estado de miséria antes vivido no espaço rural.
Sobre este processo, Vilarinho Neto (2008, p. 18) destaca que os grupos sociais
excluídos do processo produtivo, não têm alternativas para se estabelecer no espaço urbano
da cidade, a não ser a que lhes resta: ocupar os terrenos de propriedade pública ou privada
não edificadas, nas zonas urbanas das cidades. Essa é uma prática que ajuda a fomentar o
processo de desigualdade da sociedade capitalista e também transformar o espaço urbano
em um palco onde se realiza a maioria dos movimentos reivindicatórios de todos os tipos:
68

religiosos, dos sem-tetos, folclóricos, estudantis, culturais, salarial etc., portanto, o espaço
urbano constitui-se em um campo de lutas constantes (VILARINHO NETO, 2008, p. 18).
Hoje, de acordo com Vilarinho Neto (2008; 2009), a cidade de Cuiabá constitui-se
no maior centro comercial e de prestação de serviços do estado, atendendo tanto o interior,
como os Estados de Rondônia, Acre e Pará. O seu crescimento populacional, nas últimas
três décadas de final de século, constituiu com um dos elementos responsáveis pelo
processo que a transformou em uma metrópole regional. Uma das causas que justifica o
crescimento populacional é a ilusão do emprego garantido, que forçou a migração em ritmo
intensivo para Cuiabá, centro polarizador da economia estadual.
E diante da incapacidade da cidade de absorver toda a mão-de-obra resultante
do fluxo de migratório, iniciou-se na cidade o processo de aumento acelerado do
desemprego. Hoje a cidade vive um sério problema de subemprego, com uma parcela
significativa dos habitantes inseridas no mercado de trabalho da economia informal, como
também grande parte vive sem nenhum tipo de trabalho, vivendo na absoluta miséria. Para o
autor, talvez este seja o elemento principal que levou a cidade ser classificada como a quarta
no ranking da violência do País (VILARINHO NETO, p. 39).
A respeito da eclosão do fenômeno violência na cidade nos últimos tempos,
(VILMAR FARIA apud COSTA, 2004, p. 21) acrescenta que o processo de desenvolvimento
recente no Brasil acarretou maior concentração da população urbana, insuficiência crescente
de criação de empregos industriais e concentração de pobreza urbana nas áreas
metropolitanas do País. Sobre este problema o autor destaca as seguintes causas: o
escasso dinamismo do setor industrial em gerar empregos; a outra seria a acentuação do
grau de concentração da população urbana elevando o grau de primazia existente no urbano
[...].
Esta situação demonstra de acordo com Vilarinho Neto (2008; 2009), a falta de
uma política séria de planejamento urbano em Cuiabá, capaz de atender a população
marginalizada, contribuindo com isso para o surgimento de espaço social favorável à
proliferação da violência urbana, problema que vem acontecendo em Cuiabá
cotidianamente, como roubos, assaltos, seqüestros e homicídios, objeto deste estudo, que
pela forma e intensidade como é manifestado no seio da sociedade e tem deixado em
permanente estado de alerta, vítimas do medo.
69

2.4 CUIABÁ E A VIOLÊNCIA

Os moradores mais antigos de Cuiabá, “os cuiabanos” falam de uma capital


diferente da atual, uma capital da década de 1980. Sobre esta cidade e o modo de vida
experimentado pelo “cuiabanos” no período, Póvoas (1983), destaca que os cuiabanos
falam de uma cidade tranqüila, ordeira, onde quase todos se conheciam por laços de
parentesco, de solidariedade e de comunhão; falam de uma temporalidade não mais
existente, onde devido ao calor, deixavam-se as portas e janelas abertas para melhor
circular o ar, não sendo jamais incomodados por estranhos ou ladrões; falam de um tempo
em que se sentavam na calçada, nos finais de tarde, para conversar com os vizinhos e
cumprimentar transeuntes. Portanto, asseveram que este tempo já passou e que tudo ficou
mais perigoso. O risco de ser assaltado ou roubado é infinitivamente maior nos dias atuais
e, por esta razão, os hábitos e costumes foram mudando devido à percepção que as
pessoas passaram a ter da violência e da criminalidade. Para o autor, isto indica que
estamos vivendo outra temporalidade, onde a insegurança, representada pelo aumento da
violência e da criminalidade, deu origem a novas conflitualidades desconhecidas da moral e
dos costumes do povo cuiabano. Não que não existisse violência no interior da sociedade
mato-grossense em períodos anteriores, mas a violência até então era tida como normal,
pois decorria dos conflitos pela posse da terra e das disputas entre famílias e de indivíduos
em defesa da honra e da propriedade.
A de considerar que a prática da violência em defesa da honra e da
propriedade, sempre foi algo louvável pela sociedade. Quem a prática quando não
aplaudido pela sociedade era considerado um exemplo a ser seguido, era considerado
uma pessoa reta e corajosa.
Anormal, é o tipo de violência que conduziu à sociedade a mudança de hábitos e
costumes tão cultivados no passado. Hábitos como os das relações de parentesco, de
solidariedade e de comunhão, o de deixar portas e janelas abertas para melhor circular o ar,
sem serem incomodados por estranhos ou ladrões, ou sentarem na calçada nos fins de
tarde para conversar com os vizinhos e cumprimentar os transeuntes. Tudo ficou perigoso. É
iminente a possibilidade de toda a família e parte dela ser vítima de alguma forma de
violência. Todos são suspeitos, todos desconfiam e suspeitam de todos.
Enfim, a violência não é, e não foi e não será um privilégio de poucos e tampouco
de uma época, como diz Odália (1983), por mais que cidades tornem fortalezas fechadas, os
70

viventes nelas presos estarão livres da violência externa, mas reféns da violência interna,
produzida por eles próprios.
Contudo, deixando a questão da defesa da honra e da propriedade de lado e
considerando a violência em si, como ato que fere, oprime e mata, ou seja, tira o maior bem
que a pessoa humana possui a “vida”, seremos sensatos ao considerar que a violência
sempre fez parte da história de Cuiabá, veremos que a prática da violência sempre esteve
presente no meio social, sempre foi algo comum tanto por aqueles que detinham o poder
de mando quanto por aqueles que viviam na marginalidade. Deixando claro que o termo
“marginalidade” aqui utilizado, não se reduz a sinônimo ou condição de criminoso, marginal
ou fora da lei, mas por não pertencerem à casta dos “senhores de bens”, “homens bons” ou
“amigos do rei” que de acordo com seus interesses usavam do poder público para, a seu
modo, garantir-se no tempo e no espaço.
Assim, muitas vezes, em razão desta vil condição, homens querem fossem em
busca de riquezas, ou por estarem como fugitivos, ou a mando de terceiros, ou como
escravos e degredados embrenhavam sertão adentro aprisionando índios que deixasse ser
aprisionados e matando aqueles que recusassem tal imposição.
Neste contexto, a violência não era algo esporádico, era uma prática constante,
se não um hábito que fazia parte do cotidiano das pessoas. A violência ditava o sucesso da
empreitada dos bravios homens de outrora.
Para melhor entendermos o significado da palavra violência e a dimensão que
ela nos oferece, Ferreira (1995, p. 674) através Novo Dicionário Aurélio diz: violência é
“qualidade de violento, ato de violentar. Em se tratando de termos jurídicos diz que “violência”
é: “constrangimento físico ou moral; uso da força; coação”.
Assim, diante de tais significados ora expostos pelo autor e considerando a
questão dos atos de violência praticados na então hoje capital Cuiabá desde a chegada dos
bandeirantes, somos obrigados a considerar que esta cidade foi fundada sob os auspícios
da violência e que tal prática não ficou circunscrita a costumes e hábitos de um grupo de
pessoas, de um povo de uma época, mas acompanhou o desenvolver da sociedade no
decorrer dos tempos, não importando o contexto político, econômico vivido pela cidade, hoje
Capital de Estado que em razão da influência que exerce sobre a região é considerada
como “metrópole regional” assim como podemos verificar no artigo do Professor Vilarinho
Neto, intitulado “Cuiabá, uma metrópole regional”, lançado em 2008.
Portanto, é necessário considerar que a violência, especialmente a registrada em
Cuiabá, não se resume a questão de violentar, nem tampouco de constranger alguém
71

mediante o uso da força e coação. Se analisarmos os fatos registrados, veremos que via de
regra a cidade sempre foi palco das mais variadas formas de violência, quer seja ela
praticada contra o silvícola, ou o chamado natural, bem como contra o negro ou o branco, o
pobre ou o rico, enfim contra tudo e todos. Embora, faz necessário considerar que a forma
como foi e é manifestada, como também sua intensidade e dispersão no espaço variam de
acordo com a condição social, econômica e racial das vítimas. Ser pobre e morar na periferia
da cidade são uma condição preponderante para que a pessoa seja inserida no contexto da
violência, especialmente a violência na forma de homicídios. Contudo, considerando as
palavras de Nilo Odália em sua obra “O que é violência”, vemos que o autor afirma que a
violência é democrática em sua disseminação no meio da sociedade.
Assim, considerando a afirmação do autor e a realidade verificada na cidade de
Cuiabá-MT, faz necessário considerar que a diferença coexiste apenas no número de
vítimas e no local de ocorrência, pois a incidência da forma de violência contra pessoas com
melhores condições sociais e em áreas (bairros), cujo nível de renda é classificado como
médio-alta ou alta foi bem menor que nos demais.
E, considerando a violência em Cuiabá, é possível considerar com base nos
argumentos de Romancini (2005, p. 16; 17) que trata das transformações experimentadas
por Cuiabá na década de 70, que o evento é fruto destas mesmas transformações
vivenciadas no período. Para a autora, foi na década de 70 que Cuiabá experimentou o
asfaltamento das vias públicas, a verticalização da cidade, a criação de novas áreas
residenciais e comerciais, as quais trouxeram como consequências o surgimento dos bairros
periféricos, o aumento da especulação imobiliária, a falta de saneamento básico, a
degradação ambiental, problemas referentes ao trânsito, o desemprego e a violência.
Para Costa (2004, p. 19), o fenômeno violência é resultado das transformações
ocorridas na sociedade, tanto a nível global, como regional e que para compreendê-la, é
necessário percebê-la como uma das novas questões sociais que tem se manifestado
através das várias relações de poder nas sociedades contemporâneas, as quais estão
carregadas de conflitos sociais que cada vez mais comprometem as formas de integração
entre os indivíduos e grupos sociais na sociedade.
E não diferente das realidades enfrentadas por outras cidades, e Estados, de
acordo com Costa (2004, p. 20), no Estado de Mato Grosso, a violência e a criminalidade
tornaram-se uma das grandes preocupações dos governantes e da sociedade, envolvendo
as redes de sociabilidade e de poder.
72

Além disso, segundo o autor, a violência em Mato Grosso tem mobilizado a


atenção das autoridades, da opinião pública e da sociedade civil, pois passaram a fazer
parte da vida cotidiana das pessoas, atingindo a todos indistintamente: crianças e jovens;
homens e mulheres; adultos e velhos; ricos e pobres (COSTA, 2004, p. 19).
E neste contexto, de acordo com Costa (2004, p. 23), Cuiabá passou a deter o
título de campeã em crescimento da taxa de homicídios em todas as faixas etárias, bem
como em incremento da taxa de homicídios, na região, praticados contra os jovens entre 15
a 24 anos. Além do mais, o autor destaca:

Estas são as origens da violência urbana que, a nosso ver, contribuíram ou


pode estar influenciando no aumento da violência e da criminalidade violenta em
Cuiabá, nos últimos dez anos. O crescimento urbano acelerado, provocado pelas
correntes migratórias, por atração, nos anos 70 e 80; a mecanização do campo, que
acabou provocando a expulsão dos trabalhadores, dos camponeses, dos posseiros e
pequenos proprietários que perderam suas terras e foram obrigados a buscar sua
sobrevivência nas cidades; a desestruturação das redes de sociabilidade e a
dificuldade de estabelecer novas formas de convivência num ambiente novo,
marcado pelo medo, pela desconfiança e pelo conflito, são os desafios que essas
novas populações urbanas terão que enfrentar. Por outro lado, a falta de emprego
para os trabalhadores que vieram do campo ou deles foram expulsos, a falta de
infraestrutura nas cidades, tais como saúde, moradia, energia e saneamento,
levaram milhares de pessoas a se segregarem nos bairros periféricos onde prolifera
a miséria e a falta de condições de vida e trabalho. É neste ambiente que os conflitos
e a criminalidade se desenvolvem. Neste ambiente forma-se um “caldo de cultura”
muito propício para as práticas ilícitas, voltadas para a sobrevivência, muitas vezes
associadas a pequenos roubos, furtos e até envolvimento com o tráfico de drogas.
Daí nascem os conflitos, os desajustes e as violências que vitimam milhares de
pessoas, indo desde a pequena ofensa as brigas de rua, nos bares de cada esquina
das periferias, a quebra das regras jurídicas (desrespeito à lei), até à criminalidade
considerada violenta e hedionda (COSTA, 2004, p. 24).

Os governantes que promoveram as políticas de integração dos espaços vazios


querem sejam o Governo Vargas na década de 1940 com a “Marcha para o Oeste” ou os
governos militares nas décadas de 1960 e 1970 com a política de integração nacional foram
irresponsáveis ao pensar no envio de tamanho contingente populacional e não pensar
primeiramente no preparo a região no que tange a infraestrutura. Apenas a abertura de
rodovias não foi suficiente. Era necessário ir além de ocupar espaço e rasgar florestas com
máquinas pesadas e construir estradas. Pensar no material humano era primordial, não
apenas como força de trabalho. O material humano, como as máquinas necessitam de
cuidados especiais. Sem tais cuidados, o almejado avanço sobre a selva não resultou no
esperado. Pessoas que deviam manter-se fixam no campo por inúmeros fatores
regressaram para as cidades, especialmente a cidade de Cuiabá-MT.
73

Assim, por falta governamental que atendesse o migrante, houve o


abarrotamento das cidades do entorno, dentre elas Cuiabá que sofreu um boom
populacional que em razão da ausência de infraestrutura em termos de moradia e oferta de
emprego, a cidade experimentou o aparecimento da figura do desempregado, do
subempregado, o surgimento da periferia, dos conflitos, das reivindicações e da violência, é
claro. Como não enfrentar tais problemas diante de tamanho desajuste social?
E como agravante, para a questão da violência em Cuiabá, Costa (2004, p. 25),
põe em destaque a localização da cidade e comenta:

Mato Grosso entrou na rota do crime organizado, por fazer fronteira com o
país vizinho, Bolívia, para onde vão os automóveis, as carretas e as cargas roubadas
e de onde voltam as drogas (cocaína e maconha) e as armas de fogo, cuja primeira
escala é feita em Cuiabá. Isto, segundo as autoridades ligadas à segurança e ao
judiciário, vem agravando ainda mais o quadro da criminalidade violenta em Mato
Grosso, principalmente na Capital. Alguns grupos formados em outros estados
acabam montando “base de operações” em Cuiabá e Cáceres, além de outros
municípios fronteiriços. [...].

Considerando a fala do pesquisador em questão, vale destacar que a questão


da fronteira é problema a ser considerado. A droga figura como uma das principais
motivações de ocorrência dos crimes de homicídios no município de Cuiabá, e a arma de
fogo como o principal instrumento empregado na prática do homicídio, isto no ano 2007,
ano considerado nesta pesquisa. Também é necessário considerar que a droga não
influência somente a prática de homicídios, podendo ela ser agente motivador da prática de
roubos, furtos, prostituição, entre outros crimes, pois como é de conhecimento geral, este
tipo de produto entorpece a pessoa levando-o a prática de crimes pela falsa coragem
oferecida, pela perda da noção de perigo ou para saciar o vício.
Neste contexto a arma de fogo, serve como elemento que dá poder, causa o
efeito presença e faz diminuir a capacidade de reação das vítimas. E uma das principais
formas de combate a estas formas de violência é a adoção de policiamento eficaz e
contínuo das fronteiras e a punição emblemática dos agentes do tipo de crime.
Agora, em se tratando dos homicídios registrados no Município de Cuiabá-MT,
verifica-se que nos últimos quatro anos de registros de homicídios, ou seja, nos anos de
2006 a 2009, período que inclui o ano da pesquisa, o número absoluto disponibilizados no
site oficial da PJC-MT mostra que a forma de violência estudada tem ceifado um número
considerável de vidas, pois, no período 826 pessoas foram assassinadas. Deste total, 25,9%
foram vitimadas no ano de 2006; 24,9% em 2007; 24,3% em 2008 e 24,8% em 2009.
74

Por fim, de acordo com Waiselfisz (2008, p. 28; 35; 61), dos 556 municípios
brasileiros com maiores taxas de homicídios na população total, em 2006, Cuiabá ocupou o
198º na classificação geral, estando entre os 10% municípios mais violentos do País. Ainda
segundo o autor, a cidade também está entre os 200 municípios com maior número de
homicídios contra população jovem no ano 2006, ocupando o 29º lugar no ranking da
violência fatal.
Diante do exposto, tem-se que a forma de violência homicídios é um problema
latente na cidade de Cuiabá que além de ceifar vidas que é o bem mais precioso da pessoa
humana, também atinge de forma contundente o futuro da sociedade e das famílias, quando
tiram do contexto social pessoas em plenas condições de atender as necessidades do
mercado quer seja, como mão-de-obra ou consumidor, além da forma de violência quebrar o
estado de normalidade vivido na sociedade, exigindo do Estado como poder constituído a
redefinição de prioridades face aos momentos vividos pela sociedade, quer seja em razão da
intensidade dos eventos e dos problemas causados, passando a exigir do Estado, adoção
de políticas públicas, sociais e no caso do problema violência, a adoção de políticas de
segurança pública. Além disso, a violência é um evento social oneroso e de difícil controle,
pois como é de conhecimento envolve uma gama de fatores que por sua natureza extrapola
as fronteiras de responsabilidades das instituições de segurança pública, de Estado como
um todo, envolvendo também a sociedade que por lei tem responsabilidade a cumprir, como
o Estado tem as suas obrigações.
75

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

a violência urbana tem ampliado o medo social [...]. O medo social vem
alterando profundamente o território e o tecido urbano e, consequentemente, a vida
cotidiana da população. Todos sentem afetados, ameaçados e correndo perigo.
Ameaças reais vindas de sujeitos reais são contrapostas a ameaças potenciais
típicas do imaginário singular coletivo, produzido pelos índices perversos do
crescimento da violência nas cidades. [...]. Os sentimentos generalizados são de
insegurança, ameaça raiva, ódio, medo e desesperança (BAIERL, 2004, p. 20).

3.1 A VIOLÊNCIA, ORIGENS E SIGNIFICADOS

A violência é um dos eternos problemas da tória social e da prática política e


relacional da humanidade. Não se conhece nenhuma sociedade onde a violência não
tenha estado tão presente. Pelo contrário, a dialética do desenvolvimento social traz à tona
os problemas mais vitais e angustiantes do ser humano, levando filósofos como Engels, a
afirmar que ‘a história é, talvez, a mais cruel das deusas que arrasta sua carruagem triunfal
sobre montões de cadáveres, tanto durante as guerras, como em período de
desenvolvimento pacífico’ (ENGELS apud MINAYO, 1994, p. 7).
Para Minayo (1994, p. 7), desde tempos imemoriais existe uma preocupação do
ser humano em entender a essência do fenômeno violência, sua natureza, suas origens e
meios apropriados, fim de atenuá-la, preveni-la e eliminá-la da convivência social. E em
razão disso, hoje é praticamente unânime, por exemplo, a ideia de que a violência não faz
parte da natureza humana e que a mesma não tem raízes biológicas. Trata-se de um
complexo e dinâmico fenômeno biopsicossocial, mas seu espaço de criação e
desenvolvimento é a vida em sociedade. E, de acordo com o autor para entendê-la, há de
se apelar para a especificidade histórica. A partir de então, conclui que na configuração da
violência, se cruzam problemas da política, da economia, da moral, do Direito, da
Psicologia, das relações humanas e institucionais, e do plano individual.
Para Minayo (1994, p. 7), na sua dialética de interioridade/exterioridade, a
violência integra não só a racionalidade da história, mas a origem da própria consciência,
por isso mesmo não podendo ser tratada de forma fatalista: é sempre um caminho possível
76

em contraposição a tolerância, ao diálogo, ao reconhecimento e a civilização como mostra


(FREUD, 1974; HABERNAS; 1980 HEGEL,1980 e SARTRE, 1980), entre outros.
E neste contexto, encontramos em Rousseau (1997, p. 65; 66) a base de
sustentação, a qual diz que o homem procura por aquilo que ele deseja usufruir. As
paixões encontram sua origem em nossas necessidades e seu progresso em nossos
conhecimentos, pois só se podem temer as coisas segundo as idéias que delas se possa
fazer ou pelo simples impulso da natureza; o homem selvagem, é privado de toda espécie
de luzes, só experimentam as paixões desta última espécie, não ultrapassando, pois os
desejos a suas necessidades físicas. Para este, os únicos bens que conhece no universo
são a alimentação, uma fêmea e o repouso; os únicos males que teme a dor, e a fome. A
morte não é conhecida pelo animal, sendo o conhecimento da morte e de seus terrores
uma das primeiras aquisições feitas pelo homem ao distanciar-se da condição animal.
Diante destas peculiaridades e complexidade, a violência deve ser analisada
em rede, isto segundo advertência de (DOMENACH apud MINAYO, 1994, p. 7), que
destaca o seguinte sobre a manifestação da violência:

‘Suas formas mais atrozes e mais condenáveis geralmente ocultam


outras situações menos escandalosas por se encontrarem prolongadas no tempo e
protegidas por ideologias ou instituições de aparência respeitável. A violência dos
indivíduos e grupos tem que ser relacionada com a do Estado. A dos conflitos com
a da ordem’.

É fato que a violência praticada pelos indivíduos e grupos de indivíduos tem que
se relacionar com a violência praticada pelo Estado. Vejo que seria impossível dissociar
uma da outra, até porque, a violência reproduzida pelo Estado estaria até certo ponto
representando a vontade da coletividade, mesmo que esta coletividade se resuma a um
restrito grupo de pessoas que detém o poder de decisão. Para estes, a prática da violência
e tida como sinônimo de ordem. É um meio para impor o equilíbrio, mesmo que para isso,
pequenas práticas violentas sejam cessadas com força extrema.
Por estas razões e diante das controvérsias que cercam o fenômeno violência
Denisov (1986, p. 38) afirma: ‘existem multidões de fatores os mais diversos que incidem
simultaneamente sobre a conduta humana e todos os motivos do comportamento e da
ação violenta passam pela mente’.
Sobre as causas que levam as pessoas a cometerem crimes, (RIBEIRO, 2004,
p. 56) aponta que na natureza do homem encontramos três causas principais de discórdia.
Primeiro, a competição; segundo, a desconfiança; e terceiro, a glória. E sobre estas três
causas destaca:
77

A primeira leva os homens a atacar os outros tendo em vista o lucro; a


segunda, a segurança; e a terceira, a reputação. Os primeiros usam a violência
para tornarem senhores das pessoas, mulheres, filhos e rebanhos dos outros
homens; os segundos, para defendê-los; e os terceiros por milharias, como uma
palavra, um sorriso, uma diferença de opinião, e qualquer outro sinal de desprezo,
quer seja diretamente dirigido as suas pessoas, quer indiretamente a seus
parentes, seus amigos, sua nação, sua profissão ou seu nome.

Sempre o ser humano se achou no direito de decidir pelo semelhante. Nunca


faltou na historia da humanidade, pessoas que se apresentassem ou se
autodeterminassem donos, senhores de outras pessoas, ou grupos de pessoas. Pessoas
sempre buscaram dominar outras, sob os mais diversos pretextos. E para efetivação desta
busca, via de regra utilizaram da força e da violência. Neste meio, há também os que
utilizam da violência por selvageria, que por motivos infundados atacam o semelhante.
Neste contexto, um sorriso pode servir como elemento desencadeador de um ato de
violência.
E neste contexto, Odália (1983, p. 13) questiona, a violência é um fenômeno
típico de nossa época, é um traço que individualiza o nosso tempo, é um elemento
estrutural que define nossos dias, dando a nós um estilo de vida específico, característico
da época, de nossas condições de viver em sociedade, distinto das sociedades que
viveram há cem, duzentos anos atrás?
Não concordo que a violência seja algo específico de nosso tempo e da
sociedade hoje existente. A violência sempre fez parte da vida da pessoa humana e
consequentemente da sociedade. Creio que o que difere o hoje do ontem é o imediatismo
com que as coisas se materializam, e claro a variedade de fatores que levam a eclosão da
violência em todas as suas formas no meio social. Há de considerar que o acirramento das
condições sociais tem figurado como elemento preponderante para o agravamento da
situação atual, além de figurar ao mesmo tempo como elemento que imprime a diferença
entre a violência do passado e a do presente.
A este respeito, Ferreira; Penna (2005, p. 155) afirma que a violência sempre
existiu em todas as sociedades e em todos os tempos como forma de resolver conflitos
entre pessoas, na família, na comunidade e entre países.
Do mesmo modo, Baierl (2004, p. 21) destaca que a “violência é um fenômeno
que sempre existiu na história do homem, em todos os tempos e lugares, assumindo
formas e manifestações diferenciadas”.
Como prova de que a violência é algo que acompanha o homem no tempo e
espaço, (WAISELFISZ apud FERREIRA; PENNA, 2005, p. 155), afirmam:
78

Na atualidade a violência tradicional (a de natureza como roubos,


delinquência e homicídios) somaram-se a atos que ferem os direitos humanos,
como (os de natureza sexual, maus-tratos, discriminação de gênero e de raça,
englobando não apenas a agressão física, mas também situações de humilhação,
exclusão, ameaças, desrespeito.

De acordo com a fala dos autores, é possível considerar que a violência


verificada na atualidade deixou a forma simples do passado fundindo com as demais
formas de violência. Desta forma, podemos considerar que a prática da violência na
atualidade passou por um processo de aprimoramento, senão de sofisticação em sua
prática. Os agentes da violência e do crime organizaram-se e especializaram-se. Exemplo
disso, são os assaltantes de bancos que planejam a ação por longo período, analisam os
mínimos detalhes, tudo em busca do sucesso na empreitada, êxito na ação, buscando é
claro diminuir no máximo os eventos inesperados, como ausência de dinheiro ou outros
bens nos cofres, como também possíveis confrontos com seguranças e policiais, quer
quando da prática do crime propriamente dito, durante a fuga ou logo após.
No intuito de evitar possíveis transtornos, definem antecipadamente à rota de
fuga, os locais de esconderijo, o tipo de veículos, o armamento e outros equipamentos de
primeira linha e novos, cuja aplicabilidade e precisão no uso superam em muito os
utilizados pelas polícias, que no geral mantém os policiais de ruas armados com armas
obsoletas, munições em pouca quantidade e no geral com a validade expirada, sem falar
nas viaturas, cuja motorização e aerodinâmica é totalmente imprópria para a execução de
ações e manobras de alto risco, pois não só os policiais põem suas vidas em risco, como
também a da sociedade se forçar uma situação com equipamentos e meios impróprios
para tal fim.
Assim, diante das várias formas que a violência tem-se manifestado no decorrer
dos tempos e entre os grupos sociais, falar em um conceito de violência holístico pronto e
acabado que contemple cada uma das sociedades com suas culturas, tradições e valores
são algo muito difícil. A este respeito, (CHAUÍ apud BAIERL, 2004, p. 22), afirma que a
dificuldade está no fato de que cada cultura e cada sociedade constroem compreensões do
significado e do sentido da violência, dando-lhe conteúdos diferenciados em cada tempo e
espaço. Para o autor, a violência é definida de acordo com aquilo que ela entende como
mal, vício e violência. O que poder ser considerado violência para um grupo social, para
outra pode não ter tanto peso.
Pensado da mesma forma, Anastásia (2005, p. 112), destaca a violência é:
79

Sempre entendida e definida em função de valores que constituem o


sagrado de um determinado grupo. Por isso mesmo, não há discurso ou saber
universal sobre a violência, estando cada sociedade às voltas com sua própria
violência, segundo seus próprios critérios {...}.

Desta forma, percebe-se que o assunto violência é algo inerente a espécie


humana e que sua percepção, aceitação e negação estão atreladas aos costumes,
tradições e crenças de cada grupo social, podendo ser rigidamente percebida e punida por
um povo e ser uma prática comum em outro, portando, é algo relativo e sua conceituação é
muito volátil, pelo fato de ser permeada por permissões e proibições dentre os povos no
decorrer dos tempos.
Assim, diante de tais possibilidades, considerarmos a violência pelo contexto
bíblico tem-se o seguinte:

a palavra violência’ na Bíblica é “HAMAS”, que significa, ‘injustiça, ser


violento com, tratar violentamente’. A palavra é usada frequentemente como idéia
de violência pecaminosa. É também sinônimo de extrema impiedade. Observamos
que a primeira ocorrência desta palavra na Escritura ocorre em conexão com outro
termo forte “Shahat”, que significa cova, destruição, túmulo (corrupção). A palavra
liga-se com o conceito de Sheol (mundo dos mortos). Em Gênesis 6. 11 lemos: ‘A
terra, porém estava corrompida diante da face de Deus; e encheu-se a terra de
violência’. Aqui, literalmente, a terra (mundo) está na cova, no túmulo e se parece
muito com Sheol e por isso ela encheu-se de violência pecaminosa! [...] (A
VIOLÊNCIA. s.d., 1).

Analisando a citação acima, faz-nos considerar que na Bíblia a violência é


sinônimo de injustiça e de impiedade, é algo pertencente a alguém violento, e tudo que é
injusto e violento é classificado como pecado, ou seja, algo que aborrece e contraria a
vontade de Deus. E vai mais longe ao afirmar que os praticantes de tais atos estão mortos.
Mortos não fisicamente, mas espiritualmente. Diante disso, podemos considerar que quem
prática violência contra o semelhante, é alguém que está fora do propósito do Deus Criador
que prega o amor entre os viventes. Os que fazem o contrário estão mortos, ou seja,
quebrou o contrato social, portanto, é alguém perigoso para a sociedade, pois, deixou de
cumprir o que fora antecipadamente definido como certo, como norma a ser seguida, e por
isso precisa ser lançado fora, ou seja, preso, encarcerado. Neste sentido, a cadeia é a
cova, e consequentemente o mundo dos mortos
Esta forma de perceber a violência está sustentada na Bíblia, no Livro de
Ezequiel capítulo 28, versículo 16, onde diz: “na multiplicação do teu comércio se encheu o
teu interior de violência, e pecaste; pelo que te lançarei profanado fora do monte de Deus, e
te farei perecer, ó querubim protetor, entre pedras afogueadas” (BÍBLIA, 1993, p. 801).
80

Este texto bíblico em especial, refere-se a rebelião do anjo Lúcifer aos


propósitos de Deus, cuja punição foi o lançamento do céu para o inferno, o qual é
idealizado como um lugar quente, onde o fogo é permanente e queima a tudo que nele
existente. Contudo, trazendo para a realidade dos homens, o mundo físico, o lançar fora do
monte, significa, creio, o ato de tirar o transgressor do meio social, preservando os que
obedecem, ou seja, cumprem o contrato.
Ainda procurando definir violência, Chauí (1984, p. 15), fala do que é produto da
cultura, tradições e valores de cada povo no decorrer da história. Para a autora, é: “todo ato
de brutalidade, sevícia e abuso físico e/ou psíquico contra alguém e caracteriza relações
intersubjetivas e sociais definidas pela opressão, intimidação, pelo medo ou terror”.
Quanto a percepção da violência como um ato violento, Odália (1983, p. 23)
comenta:

Nem sempre a violência se apresenta como um ato, como uma relação,


como um fato, que possuam uma estrutura facilmente identificável. O contrário,
talvez, fosse mais próximo da realidade. Ou seja, o ato violento se insinua
frequentemente, como um ato natural, cuja essência passa despercebida. Perceber
um ato como violência demanda do homem um esforço para superar sua
aparência de ato rotineiro, natural e como que inscrito na ordem das coisas. O ato
violento não traz em si uma etiqueta de identificação. O mais óbvio dos atos
violentos, a agressão física, o tirar a vida de outrem, não é tão simples, pois pode
envolver tantas sutilezas e tantas mediações que pode vir a ser descaracterizado
como violência. [...]. Matar em defesa da honra, qualquer seja essa honra, em
muitas sociedades e grupos sociais, deixa de ser um ato de violência para se
converter em ato normal - quando não moral - de preservação de valores que são
julgados acima do respeito à vida humana (ODÁLIA, 1983, p. 23).

Como já anteriormente comentado, perceber ou identificar e até classificar um


ato violento de um indivíduo ou de uma pessoa é algo muito complicado e por sinal difícil de
fazer, a cultura e as tradições são os elementos basilares do como se percebe um ato
violento. Exemplo cometer um crime para preservar a honra, a propriedade pode de acordo
com a cultura de certos povos deixarem de ser uma violência, assumindo status de ato
normal, aceitável.
Contudo, apesar destas exposições, a violência ainda figura como obstáculo a
ser superado, tanto no que refere a seu significado e análise, como nas formas de
enfretamento, começando pela sua correta identificação no contexto dos conflitos sociais,
visto que em razão de sua banalização passou a ser rotulada como coisa deste ou daquele
personagem e desta e daquela época. Exemplo disso encontrou em Baierl (2004, p. 51),
que apresenta o seguinte argumento: “parece que a violência tornou-se um hábito, parte do
cotidiano [...] banal... Repetitiva... Coisa de pobre para alguns... Coisa de bandidos e de
traficantes para outros”.
81

Assim, diante destas percepções, historicamente, a violência foi comumente


identificada como sinônimo de criminalidade e, em razão disso quase sempre foi objeto de
reflexão exclusiva das ciências jurídicas.
Mas recentemente, de acordo com Souza (1993, p. 2), a violência passou a ser
incorporada de forma mais sistemática por outras áreas do conhecimento. Assim, seus
contornos, enquanto objeto de investigação científica, passaram, então, por sucessivos
redelineamentos e vão, aos poucos, construindo uma visão mais ampla e multifacetada do
objeto.
Desta forma, algumas áreas do conhecimento vêm tentando desvendar
determinados aspectos da violência encobertos nas práticas sociais (demonstrando uma
maior consciência do problema, também em virtude dos seus crescentes índices).
O mesmo argumento encontra-se em análise do assunto realizada pela
Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) que em seu último documento sobre o
tema afirmou:

‘a violência, pelo número de vítima e a magnitude de sequelas orgânicas


e emocionais que produz, adquiriu um caráter endêmico e se converteu num
problema de saúde pública em vários países’ [...] ‘ O setor de saúde constitui a
encruzilhada para onde confluem todos os corolários da violência, pela pressão que
exercem suas vítimas sobre os serviços de urgência, de atenção especializada, de
reabilitação física, psicológica e de assistência social’ (OPAS 1993, p. 1).

Classificar a violência como problema de saúde pública é muita presunção da


parte dos epidemiologistas. Violência é um tema interdisciplinar e por isso não fica reclusa a
saúde pública. É um problema social, resultado da desagregação social vivida no País nas
últimas décadas, principalmente após a adoção de políticas de ocupação do Centro-Oeste
e Norte do País através da política governamental denominada “Marcha para o Oeste” do
Governo Vargas no final da década de 1930 e com os governos militares especialmente
durante as décadas de 1960 e 1970, através da política de integração nacional, que
posteriormente findou em êxodo rural e consequentemente em inchaço do sítio urbano,
que agravado pela falta de oferta de emprego, de moradia, entre outros meios estruturais,
gerou colapso da vida na cidade, principalmente com o surgimento do fenômeno violência.
Assim, não sendo, portanto, a violência um problema específico da saúde, mas
que afeta a saúde em razão das vítimas sobreviventes serem inevitavelmente conduzidas a
saúde para cuidados especializados, quando da prestação de socorro, atendimento
emergencial, tratamento, reabilitação, entre outros procedimentos.
82

Contudo, segundo (AGUDELO apud MINAYO, 1994, p. 9), apesar da violência


não ser um problema de saúde, ela afeta a saúde, por representar segundo o autor um
risco maior para a realização do processo vital humano: ameaça a vida, altera a saúde,
produz enfermidade e provoca a morte como realidade ou como possibilidade próxima.
E, segundo OPAS (1993, p. 1), em razão do número de vítimas e a magnitude
de sequelas orgânicas e emocionais que produz, a violência adquiriu caráter endêmico e se
converteu em problema de saúde pública em vários países. Assim sendo, por constituir-se
em encruzilhada para onde confluem todos os corolários da violência. Encontrou espaço na
agenda da saúde pública no final da década de 1980, isto em razão das mortes e traumas
ocorridos por causas violentas virem aumentando a passos alarmantes na Região das
Américas, contribuindo para anos potenciais de vida perdidos e demandando respostas do
sistema (MIANAYO, 1994, p. 90).
Diante da gravidade do problema, em 1993, a Opas na sua XXXVII Reunião do
Conselho Diretor, decidiu instar aos governos membros que estabeleçam políticas e planos
nacionais de prevenção e controle da violência, com a colaboração de todos os setores
sociais envolvidos. Em 1994, a Opas elaborou um plano de ação regional, dando prioridade
a este tema em sua atuação (MINAYO, 1994, p. 9).
Contudo, a abordagem científica do tema violência no Brasil, há vários anos tem
sido objeto de estudo, por parte de estudiosos como: (BARROS, 1984; CASSORLA, 1984;
COHN, 1986; KOIFMAM; BLANK; SOUZA, 1983; LAURENTI, 1972; MEDRADO FARIA et
al., 1983; MENDES, 1976; SZWARCWALD, 1985; YUNES; PRIMO, 1983).
Porém, de acordo com (MINAYO, 1994, p. 9), é no final dos anos 80 que se
iniciaram os estudos mais integrados, articulando reflexões da Filosofia, das Ciências
Humanas e da Epidemiologia. Hoje, ainda informalmente, há uma rede de comunicação e
de informação que potencializa as pesquisas e descobertas na área da saúde. Contudo, a
autora salienta que há muito a ser implementado, tanto no que concernem as
investigações, como a propostas de ação e de intervenção nos serviços.
Para a autora, na América, como no Brasil, a focalização sobre a área da
violência vem do impacto cada vez maior que ela representa na vida da população, bem
como, por extensão, no setor saúde.
Mas, isto tudo é fruto do como a violência tem sido percebida no meio social.
Mas não sendo um problema específico da saúde pública, este setor é visto como o mais
importante do contexto, senão o mais utilizado e sobrecarregado, pois é a saúde o segundo
receptor das mazelas produzidas pela violência. A primeira seria as polícias, mas por não
83

gerirem o assunto com a devida presteza e dedicação, não é considerada como


responsável pelo controle e diminuição do evento no meio social, mas fomentador, quando
não atua de modo preventivo evitando a atuação dos criminosos no tempo e espaço,
formando áreas de risco no meio da sociedade.
Além disso, não provocam os gestores de modo a adotarem políticas de
controle de venda de bebidas alcoólicas, de combate ao tráfico, venda e uso de drogas e
tráfico e venda de armas de fogo, cujos produtos e meios são os que mais têm motivado a
ocorrência e a prática da violência na forma de homicídios.
O como perceber a violência, é fundamental para o seu controle e combate.

3.2 A PERCEPÇÃO DA VIOLÊNCIA

Considerando o fenômeno violência como algo urbano, ou seja, como violência


urbana, Baierl (2004, p. 21) expõe que na historia da humanidade, muitas atrocidades
foram e são legitimadas à medida que se dão dentro de padrões éticos entendidos como
toleráveis.
A este respeito, o autor destaca que sabemos que tirar a vida de uma pessoa é
um ato ilícito, hediondo e, portanto, passível de punição. No entanto, é socialmente
‘legítimo’ tirar a vida de pessoas em situações de guerra, em legítima defesa e também em
intervenções respaldadas pela lei (BAIERL, 2004, p. 21).
Neste emaranhado de atos de violência, afirmar o que é lícito ou ilícito é muito
difícil e depende, segundo (BAIERL, 2004, p. 21), de um processo de construção de cada
sociedade.
Neste contexto, de acordo com Odália (1983, p. 23), insere razões, costumes,
tradições, leis explícitas ou implícitas, que encobrem certas práticas violentas normais na
vida em sociedade, dificultando a percepção e a compreensão de imediato de algo que
pode ser lícito ou ilícito.
Assim, no intuito de clarear o assunto, Baierl (2004, p. 21), cita como exemplo
fatos, que expressam a relativização do lícito e do ilícito, como podemos verificar a seguir:

um bandido ou criminoso é assassinado, até chegarmos a sentir um


alívio e quase podemos afirmar: ‘Foi bom que morreu’. Quando uma mulher, que
costuma ser espancada pelo marido, consegue revidar com a mesma intensidade
a violência sofrida, a reação de quase todos, em especial das mulheres, é de
84

satisfação. Comentários do tipo: ‘Ele bem que merecia’. Estas são tônicas de
conversas cotidianas sobre as diversas facetas da violência.
Sobre a manifestação expressa de satisfação por ver um criminoso ser morto
ou simplesmente agredido física e moralmente, é um fato comum na sociedade
contemporânea. Pessoas, é claro, com as devidas exceções, sentem prazer, ficam
eufóricas ao ver cenas de violência ou perigo. É comum pessoas presenciarem alguma
forma de violência e si colocarem no lugar dos personagens envolvidos no conflito e
manifestarem opiniões sobre o ocorrido e até dar detalhes de como agiria se fosse ele um
dos personagem envolvidos no conflito, expondo formas e meios de terminar o litígio de
forma rápida e precisa. Também é comum fazerem pré-julgamentos, condenando ou
absolvendo e até penalizando as partes com agressões morais, físicas e até com
linchamentos de um ou de todos os envolvidos. Também nestas situações, é comum
pessoas fotografarem as cenas produzidas pelos atos de violência, especialmente se tais
atos redundarem em mortes. Chegam a atrapalharem o trabalho policial, pelo tumulto que
provocam para ver as vítimas em estado cadavérico, chegando a descaracterizar o local de
crime, pisando, removendo e subtraindo vestígios e produtos da cena do crime, mesmo
sob vigilância e repressão tácita de policiais.
Em meio a estes acontecimentos prevalecem o desrespeito pela pessoa
humana, o descaso, a frieza, o desrespeito pela polícia, além de revelar é claro, o estado
de anomia vivido pela sociedade que vê na prática da violência um ato de fazer justiça,
satisfazendo suas vontades e desejos. É com a violência, que o ser humano se sente
poderoso e com direito de decidir pelo outro, mesmo que convenções sociais apontem para
direção oposta. Matar alguém, apesar da tipificação criminal, pode ser ainda algo visto
como moral e justificável, isto dependendo das razões e motivações, como também dos
personagens envolvidos, especialmente em uma sociedade capitalista como a nossa onde
os valores morais têm preço, pedigree e classe social.
Ainda exemplificando tal situação, entendemos que matar em defesa da honra
deixa de ser um ato de violência para se converter em ato normal, moral e de preservação
de valores, como demonstra o Livro de Deuteronômio no capítulo 22. 20; 21, que dize o
seguinte:

Porém se este negócio for verdade, que a virgindade se não achou na


moça. Então levarão a moça à porta da casa de seu pai, e os homens da sua
cidade a apedrejarão com pedras, até que morra; pois fez loucura em Israel,
prostituindo-se na casa de seu pai. Assim tirarás o mal do meio de ti (BÍBLIA, 1993,
p. 209).
85

Nesta passagem bíblica, vemos o já acima comentado, o ato de imputar


“justiça” contra alguém que cometeu algo nocivo aos costumes da sociedade da época.
Mesmo se a prática foi de caráter comportamental, autorizava-se na época o cometimento
de um crime para lavar a honra, tirar a mácula, apagar a impureza cometida pelo acusado,
neste caso, acusada de crimes sexuais.
Da mesma forma, o Livro de Deuteronômio no capítulo 22. 22, diz: “Quando um
homem for achado deitado com mulher casada com marido, então ambos morrerão o
homem que se deitou com a mulher, e a mulher. Assim tirarás o mau de Israel” (BÍBLIA,
1993, p. 209).
Diante do exposto, é possível considerar que matar alguém pode de acordo
com as razões, costumes, tradições e leis, deixar de ser um ato de violência e tornar algo
moral e até servir de regra, de exemplos aos membros da sociedade. Pois terão a certeza
da aplicação da pena em nome da preservação de valores que são julgados acima do
respeito à vida humana. E Cosso, entende que a prática do erro será menor na sociedade
pelo fato da iminente punição.
Ainda sobre a prática justificável de atos de violência, vemos que não ficou
restrita a fatos narrados na Bíblia, mas de fato acompanhou o homem no desenrolar da
história da humanidade. Exemplos disso encontraram na fala de Anastásia (2005, p. 57), a
qual discorre sobre fatos ocorridos nos sertões da Comarca dos Rios das Mortes das
Minas setecentistas: Sobre tais fatos a autora declara:

os malfeitores eram, em geral, agregados de homens de posse e os


ajudavam nas suas transgressões, tal como aconteceu com Cláudio Dias de Aguiar
que, acusado de não pagar a capitação, teve seus escravos confiscados pelo
capitão-do-mato, Francisco Dias dos Reis. Inconformado com a apreensão de seus
cativos, Dias Aguiar foi recuperá-los, acompanhado de dois sobrinhos, dois
escravos e dois forros Manoel Lopes, Silvestre Lopes, Valério Tavares, Pantaleão
de Toledo e outros mais agregados. Como represálias assaltaram a roça do
capitão para matá-lo e, como ele estivesse ausente, assassinaram o seu feitor. O
ouvidor da comarca do Rio das Mortes estava ciente das dificuldades de castigar
Dias Aguiar e seus sequazes ‘por andarem os ditos sempre ocultos e por partes
remotas’. Assim, ordenou a vários capitães e soldados dos matos que se dirigissem
às paragens onde pudessem estar escondidos os facinorosos e, caso os
encontrassem e os mesmos lhes resistissem à prisão, os atacassem ‘ com fogo até
os prender ou matar na forma que Sua Majestade determina’.

Esta citação explicita dois exemplos típicos de violência, cuja prática é


justificada pelos praticantes. Um porque o Estado tomou parte de seus bens por não
pagamento de tributo, achou no direito de reaver tais bens, ou seja, escravos e ainda tentar
contra o representante do Estado e seus auxiliares. O Estado por sua vez, ofendido,
86

autoriza seus servidores a executar a justiça, mesmo que pra isso use da violência.
Sempre, quer seja do lado oficial ou não foi é ainda é comum práticas de semelhante
natureza. Não é por mera coincidência que nosso Código Penal em seu artigo 23 trata das
excludentes de ilicitudes, ou seja, dá a violência, legalidade, quando obedecido certas
normas.
É diante destes atos de pura violência que produz as mais variadas atrocidades
contra a pessoa humana que vemos pessoas aceitarem tais atos como algo normal é até
necessário. A este respeito, (BAIERL, 2004, p. 62) afirma:

[...] as pessoas já não ficam mais indignadas: sentem medo e uma


profunda insegurança. As pessoas têm medo de sair de casa, de ficar em casa, de
assalto, de estupro, o imprevisto e vivem em sobressaltos. Medo de ser roubada no
farol e de ter seu carro levado por bandidos na frente de casa. Medo de sair à noite
e de ir aos lugares que, em outros tempos, freqüentava com tranqüilidade.

As pessoas já estão anestesiadas pela violência, já não se comove com as


grotescas cenas em plena avenida, ou na rua em frente a residência, contudo é refém do
medo, e por medo mudam seus hábitos e costumes, faz da moradia uma fortaleza,
restringem as amizades a um pequeno grupo de pessoas, entre outras atitudes.
E como resultado disso tudo, a violência tornou-se algo complexo e de múltiplas
facetas, as quais abrangem diversos fatores e que há muito extrapolou o ambiente policial,
colocando-se para a sociedade como um código a ser decifrado. Também destaca que a
importância da violência na cidade não se resume a uma questão quantitativa segundo o
número de pessoas atingidas, mas sim a abrangência e a complexidade da forma que ela
se apresenta. Para o autor, é isso que preocupa (FERREIRA; PENNA, 2005, p. 156).
O mesmo autor aponta que a solução deste problema depende da vontade dos
administradores em buscar entendê-lo e a partir de então, apontar um norte a ser seguido,
tanto no que concerne ao combate, como a prevenção. O autor também demonstra a
necessidade de atentar para os diferentes aspectos do problema que é a violência, quando
do seu enfrentamento. Expõe também a necessidade de considerar as diversas
abordagens e assimilar olhares que complementem os já existentes (FERREIRA; PENNA,
2005, p. 156).
Ainda tratando da solução do problema violência, Baierl (2004, p. 206),
completa, a violência é:
87

um fenômeno complexo e multifacetado, que exige ações integradas, se


não para solucioná-lo, pelo menos para reduzir seus índices e seus impactos na
vida das pessoas, dos grupos, da sociedade. Trata-se de um fenômeno universal,
que recorta o conjunto das instituições e organizações sociais, econômicas e
políticas, e, portanto, deve ser compreendido e explicado em sua totalidade, para
que os conjuntos dos obstáculos possam ser enfrentados. Não pode ser reduzido
somente como um caso de polícia, ou de saúde pública, ou como de pobreza e
miséria, ou como advinda de situações psicológicas e intrafamiliares, ou como um
problema cultural, como ausência de solidariedade. A violência não pode ser
tratada como objeto desta ou daquela área do conhecimento, deste ou daquele
órgão público. Trata-se de um fenômeno que deve ser enfrentado por toda a
sociedade.

Para o autor, a violência é complexa, passível de controle e não de solução, e


que para controlá-la, é necessária ação integrada de diversos órgãos e instituições
públicas, bem como da sociedade como um todo. E com isso, faz-nos entender que a
violência não é assunto de polícia apenas e que a culpa de sua existência não está na
precariedade e na falta de ações focadas da polícia, apesar de contribuir para o seu
acirramento. A causa da existência e da continuidade da violência está na sociedade como
um todo, e, portanto, é tão antiga quanto a existência do homem. E devemos ter por certo
que a existência de uma polícia fraca e desfocada do objeto de ação não é mero acaso, é
algo útil para garantir os que buscam e estão no poder.

3.3 A VIOLÊNCIA NA FORMA DE HOMICÍDIOS NO BRASIL

O Código Penal Brasileiro consigna quatro tipos de homicídio: simples,


qualificado, culposo e privilegiado ou preteritencional. Para acontecer o homicídio
simples, é necessário o dolo, isto é, a vontade livre e consciente exercida,
objetivando como resultado a morte de uma pessoa. O homicídio qualificado é
punido com mais severidade, de acordo com as razões que levam um indivíduo a
tirar a vida de outrem, se mediante motivo torpe, motivo fútil, por meio insidioso ou
cruel, por recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido e para
assegurar a vantagem de outro crime, estas são as qualificadoras que designam o
homicídio qualificado. No homicídio culposo ocorre uma circunstância curiosa e
completamente diferente, porque nele o agente não tem a intenção, nem assumiu o
risco de produzi-lo, nem tampouco se encontrava executando qualquer ato ilícito. O
homicídio privilegiado ou preteritencional é aquele em que o indivíduo recebe uma
pena menor, exatamente porque o Estado reconhece que houve motivos para o
crime (RAMOS; LIMA, 2008, p. 1).

Considerando o que está escrito no Código Penal Brasileiro (CPB), vemos que
existe segundo a legislação vigente no País, ocorrência de crimes de homicídios com a
vontade do agente em produzir a morte do semelhante e aquele que não há a vontade,
além daquele classificado como qualificado, no qual o agente diminui a capacidade de
reação da vítima ou usa de motivos torpe, fútil e de crueldade para consumar a forma de
violência. Enfim, o que notamos nesta classificação, acima de tudo, é uma velada
88

autorização ou legalização da forma de violência, pois oferece instruções para se cometer


um crime e não ser punido ou ser punido com pena brada e irrelevante. Aqui, nos
cientificamos que o elevado índice de ocorrência da violência na forma de homicídios, não
pode ser atribuído a questão policial. Neste caso o problema já alcança o judiciário, e assim
por diante.
Os autores em questão ainda destacam que para a consumação do crime de
homicídio, é necessária a morte da vítima, ou seja, a agressão à vida humana na forma
mais extrema possível. O homicídio é a destruição culpável e antijurídica da vida de um
homem por outro homem (RAMOS; LIMA, 2008, p. 1).
E mais, segundo Ramos; Lima (2008, p. 1), o crime de homicídio, isto sob a
ótica do Direito Penal de acordo com o que estabelece a doutrina só pode ser praticado
contra a pessoa viva, como também não é considerado homicídio o crime cometido contra
o ser humano antes de se começar a nascer, a este crime dá-se o nome de aborto ou
feticídio.
Do mesmo modo, Baierl (2004, p. 102) destaca que o homicídio é uma
modalidade de crime que provoca a morte de uma pessoa, seja por motivo fútil ou não. A
morte da pessoa, nesse tipo de delito, envolve determinados tipos de relações entre
agressor e/ou mandante do crime e a vítima.
Portanto, de acordo com Adorno (2002, p. 107; 108), apesar do grave problema
que a violência na forma de homicídios representa para a pessoa e para sociedade, a
preocupação com suas consequências é recente tanto no mundo como no Brasil, isto
comparado com o início de sua prática. No Brasil, conforme explica o autor, a preocupação
remonta há cerca de três décadas, quando se iniciou o debate e a reflexão acerca da
forma de violência, por parte da esquerda e pelos defensores de direitos humanos.
Portanto, sua visibilidade só ganhou foro público durante a transição da ditadura para a
democracia.
E é fato que o despertar para a violência no Brasil, foi principalmente para a
violência de Estado, posta em prática durante o regime ditatorial, no qual o cidadão era
percebido como ameaça ao poder constituído.
A este respeito, (TAVARES-DOS-SANTOS apud TAVARES-DOS-SANTOS,
2002, p. 84) destaca que o despertar do Brasil para a violência deu-se devido a violência de
Estado imposta durante a Ditadura Militar (1964-1984), assim como a violência contra o
Estado, aparecendo assim, a violência política e a violência urbana.
89

Ainda sobre a violência na década de 1980, Maricato (1996, p. 77) afirma que o
crescimento dos homicídios e latrocínios, roubos, seqüestros e assaltos foram tão
alarmantes que se pôs como evidência, passando a fazer parte da experiência pessoal
cotidiana, “[...] não apenas como assunto dos que têm muito a perder, mas também e,
sobretudo dos que têm apenas a própria vida”.
Para Minayo (1994, p. 9) foi no final dos anos 80 que iniciaram os estudos mais
integrados, articulando reflexões da Filosofia, das Ciências Humanas e da Epidemiologia. E
que nas Américas como um todo e no Brasil, a focalização sobre a área da violência se deu
em razão do impacto que ela representou na vida da população, bem como por extensão
no setor da saúde.
Ainda sobre o despertar para a violência no Brasil, Ramos; Paiva (2009, p. 39)
argumenta:

Durante muito tempo, a sociedade, as universidades brasileiras


assistiram a estas mortes praticamente em silêncio. A partir dos anos 90, diferentes
setores da sociedade despertaram para a gravidade do quadro e se articularam
não só para denunciar esta situação, mas também para desenvolver pesquisas e
realizar experiências inovadoras de gestão de políticas públicas. Os jornais também
responderam a esta nova percepção e iniciaram um processo de qualificação da
cobertura, ainda em andamento.

O despertar para a violência tem contribuído para a valorização do assunto no


mundo acadêmico. De coisa de marginal, a violência foi renomeada para problema social,
de saúde pública, tornou-se alvo de estudos de diversos pesquisadores que buscam
explicar o fenômeno por meio da adoção de diversas teorias e a partir destas propuseram a
adoção de políticas públicas com o propósito de controle. Neste meio, a imprensa
contribuiu com a divulgação e denuncia da manifestação da violência na sociedade,
apontando culpados, denunciando suspeitos, protegendo vítimas e testemunhas. Além, é
claro de contribuir para a proliferação do medo social quando usam das generalizações
para chamar a atenção das autoridades e da sociedade para o problema.
A violência é um problema que se avolumou após o processo de
democratização do País. Sobre este processo, cientistas sociais assinalam que após o
processo de democratização e abertura política do governo brasileiro, a violência e as
atividades criminais cresceram substancialmente no País, atingindo níveis nunca antes
vistos. Considerando todos os óbitos por causas externas que ocorreram no Brasil nas
duas últimas décadas, os homicídios ganharam destaque, ocupando o primeiro lugar entre
90

as causas de morte precoce desde 1997 (AZEVEDO-LIRA; DRUMMOND - Jr apud


PERES, 2004, p. 19).
Em se tratando de números da violência na forma de homicídios no Brasil, o
(IBGE, 2007, p. 2; 3) apontou que após os anos 60, com a intensificação do processo de
urbanização do País, cresceram as diferenças entre a mortalidade masculina e a feminina,
sendo este fato decorrente, principalmente da maior incidência de mortes por causas
externas entre os homens, especialmente os jovens e adultos. Também mostra que entre
os anos de 1960 e 2006, a sobre mortalidade masculina cresceu muito, principalmente na
faixa dos 20 aos 24 anos de idade: em 1960, a chance de um homem com 20 anos de
idade morrer antes de passar para o grupo etário seguinte (25 a 29 anos) era 1,1 vezes
maior que a de uma mulher do mesmo grupo etário. Já em 2006, a chance masculina, na
mesma comparação com a chance feminina, no mesmo grupo etário (20 a 24 anos),
aumentou para 4,1 vezes.
Sobre as causas do aumento da subremortalidade masculina, (IBGE, 2007),
observa que é em razão dos óbitos por causas externas (ou violentos), ser mais freqüentes
entre homens do que entre mulheres. E com base em dados do Ministério da Saúde (MS)
mostra que no de 2005, houve 1.003.005 óbitos no Brasil, sendo que 12% deles foram por
causas externas. E entre estes, 85,5% ocorreram contra população masculina, além dos
13,7% dos óbitos ocorridos em hospitais no ano 2005 que podem não terem sido
notificados.
Agora sobre os 125.816 óbitos por causas externas, isto sustentado em dados
do Ministério da Saúde, o (IBGE, 2007) aponta que a predominância recaiu sobre as
mortes causadas por homicídios 37,1%, e estes por sua vez sobre a população do sexo
masculino, com um percentual de 40,%. Além disso, destaca que as mortes por homicídios,
por exemplo, quase duplicaram, desde 1980, indo no período, de 19,8% para 37,1% entre
o total de óbitos, de 22,4% para 40,8% entre os homens e de 9,4% para 18,3% entre as
mulheres. No que refere aos grupos etários, dos 20 aos 29 anos, entre 1980 e 2005, os
percentuais relativos às mortes por homicídios, quase duplicaram indo, de 28,8% para
52,9% entre o total de óbitos, de 30,7% para 55,1% entre os homens e 17,1% para 33,0
entre as mulheres.
Nos anos de 1979 a 1998, no Brasil, o número de homicídios cresceu 128,6%,
ou seja, no período considerado foram mortas 515.986 pessoas por homicídios. Deste total,
no ano de 1997, o Estado do Rio de Janeiro destacou como o estado com maior taxa de
homicídios por 100 mil habitantes que foi de 58,7, seguido por Pernambuco, com 49,7 e
91

Espírito Santo, com 49,6%. O Estado de São Paulo apresentou o maior número absoluto
de mortes por homicídios, ou seja, 12.536 casos, mas a taxa de homicídios por 100 mil
habitantes foi de 36,1 (POMPEU apud LIMA, 2002, p. 25).
Destes homicídios registrados em 1997, o autor também apontou que 60% dos
casos ocorreram nas regiões metropolitanas dos Estados onde estavam concentradas
31% da população do País. Desse percentual, 40% ocorreram nas regiões metropolitanas
de São Paulo e Rio de Janeiro. E destes 20% ocorreram especificamente nos municípios
de São Paulo e Rio de Janeiro. Valendo salientar, que no período, a população de tais
cidades correspondia a 9,68% da população brasileira apenas (POMPEU apud LIMA,
2002, p. 26).
Ainda, (POMPEU apud LIMA, 2002, p. 26), identificou no período considerado,
que dentre as capitais brasileiras, especificamente no ano de 1997, as capitais de Vitória e
Recife foram identificadas como sendo as mais violentas, apresentando taxas de 100
mortes por 100 mil habitantes, enquanto que as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro
apresentaram taxas de 65 e 56 respectivamente.
Sobre as cidades de Vitória e Recife, o autor acrescenta que o destaque de
ambas não está sustentado apenas na taxa por 100 mil habitantes, mas também na
evolução da taxa, uma vez que em 1980 detinham uma taxa de 16 e 34 homicídios por 100
mil habitantes, respectivamente. Além disso, alerta, a probabilidade de morrer assassinado
é maior nestas duas cidades (POMPEU apud LIMA, 2002, p. 26).
Para (POMPEU apud LIMA, 2002, p. 25) dos homicídios ocorridos no Brasil
“entre 1979 e 1997, a proporção sobre o total de mortes da população brasileira passou de
1,57% do total de mortes do país para 4,4%, ou seja, para cada 100 pessoas que morrem
no Brasil, quase cinco são assassinadas”.
E, (CHESNAIS apud LIMA, 2002, p. 26) complementa: “estes dados justificam
dizer que a violência criminal no Brasil tem características de epidemia, cuja disseminação
já atinge boa parte do país, mas não de forma homogênea”.
Sobre estes fatos, alerta, que a situação complica quando consideramos o
estudo de (POMPEU apud LIMA, 2002, p. 26) que apresentam dados a respeito dos
homicídios registrados na zona rural e urbana, pois para o autor, “quando consideradas as
áreas rurais e urbanas do país, 90% dos homicídios foram cometidos nas regiões urbanas”.
Quanto a participação da forma de violência homicídios no contexto das mortes
por causas externas no Brasil, (MELLO JORGE et al. apud LIMA, 2002, p. 14), argumenta
que o homicídio foi à causa que mais contribuiu para o crescimento da mortalidade por
92

causas externas. E que no período de 1980 a 1996, as mortes por homicídio cresceram
120%, e, a partir do final de década de 1980, ultrapassaram o número de óbitos por
acidentes de trânsito
Também sobre os números de homicídios registrados no Brasil, Ramos; Paiva (
2009, p. 30), diz que aproximadamente cinquenta mil pessoas são assassinadas a cada
ano no País. E, com base em dados do sistema de saúde, referente ao período de 1980 e
2005, aponta que 845 mil brasileiros foram assassinados. Em relação a este período, a
taxa de homicídios aumentou 77% em uma década, passando de 15,2 homicídios por 100
mil habitantes em 1984 para 26,9 homicídios em 2004 e se situando acima de 25, por 100
mil habitantes nos anos seguintes, índice que nos situa entre os países mais violentos do
mundo. Países da Europa Ocidental têm taxas de dois ou três homicídios por 100 mil
habitantes.
Os mesmos autores vão mais além ao apontar que os homicídios no País
apresentam alta concentração em certos segmentos, configurando um padrão que pode
ser chamado de IGCC: idade, gênero, cor e classe. E destaca que a taxa de homicídios
contra jovens negros do sexo masculino, aos 23 anos no Rio de Janeiro, é de 380 por 100
mil habitantes. Em Pernambuco, essa taxa ultrapassa os 400 por 100 mil! (RAMOS;
PAIVA, 2009, p. 30).
Sobre esta concentração da forma de violência em determinado grupo de
pessoas no País, Ramos; Paiva (2009, p. 31) assevera:

[...] estão em curso no Brasil, há pelo menos duas décadas, dinâmicas


que resultam numa matança que alguns analistas comparam a um genocídio:
jovens pobres e negros que morrem e matam num enfrentamento autofágico e
fratricida, sem quartel, sem bandeira e sem razão (RAMOS; PAIVA, 2009, p. 31).

De fato é uma realidade preocupante que atinge o País, onde os jovens, futuros
adultos e força economicamente ativa estão sendo ceifados prematuramente.
Especialmente os pobres, negros. Além disso, mostra que algo está errado neste meio,
pois o autor fala em genocídio, autofagia, fratricídio, ou seja, um grupo de pessoa em
específico estão se auto exterminando. Logo o problema está neles próprios, podendo as
mortes registradas ser resultante de disputas por espaços para prática de outros crimes
como tráfico de drogas.
Agora, quanto os homicídios praticados com uso de armas de fogo,
(FERNANDES et al. apud PERES, 2004, p. 27) aponta que a taxa de mortalidade por
armas de fogo no Brasil (incluindo homicídios, acidentes, mortes por intervenção legal e
93

com intenção indeterminada) cresceu 211,6% no período de 1979 a 1999, passando de 6,0
por 100 mil habitantes para 18,7 por 100 mil habitantes, o que equivaleu a 27% dos óbitos
por causas externas na população total e por 42% na população masculina de 15-19 anos.
A razão masculina: feminina de mortes por armas de fogo no Brasil foi de 13,4% em 1999.
Ainda sobre homicídios praticados com uso de armas de fogo (MELLO JORGE;
SOARES; YAZABI; ORTIZ FLORES; ZALUAR; ASSIS; SAAD apud ADORNO, 2002, p.
92) destacam:

Em todo o país, o alvo preferencial dessas mortes compreende


adolescentes e jovens adultos masculinos, em especial procedentes das chamadas
classes populares urbanas, tendência que vem sendo observada em inúmeros
estudos sobre mortalidade por causas violentas.

A arma de fogo é um instrumento que denota força aquele que detém a sua
posse, seja ele oriundo das classes populares ou não. Contudo, na periferia, até então por
causa da ausência do poder público, especialmente da polícia, a lida com a arma de fogo
não é fruto de momentos, mas uma constante quer o agente esteja na escola, na igreja, no
bar ou simplesmente na rua. A arma é o passaporte que dá acesso, que afugenta inimigos,
concorrentes e também ferramenta de solução de conflitos que poderia ser sanado através
de uma simples conversa. Sem a arma muitas das mortes seriam evitadas, mas de posse
de arma, especialmente a arma de fogo, desaforos, injúrias e ameaças não são ignoradas,
são extirpadas com a morte do oponente.
Além disso, a arma de fogo possui uma característica especial, evita o confronto
corpo a corpo, o embate entre vítima e agressor ou vice-versa. Em tese, a arma de fogo é
um instrumento que produz a vontade do agente de forma limpa e eficaz, diminuindo a
possibilidade de ferimentos de ambas as partes, além de desencorajar a ação de defesa da
vítima, por parte de amigos e familiares, garantindo ao agente praticante a integridade
física, maior possibilidade de êxito na prática da violência e a possibilidade de fuga.
Para (SOUZA apud PERES, 2004, p. 27) isto com base em dados do Sistema
de Informação de Mortalidade, as armas de fogo foram as mais utilizadas nos homicídios
registrados no Brasil nos anos de 1980. Nas capitais a proporção de homicídios foi superior
a 50%, sendo que as porcentagens mais elevadas foram encontradas no Rio de Janeiro
(83,4% em 1980 e 73,8% em 1989), em Recife (70,2% em 1980 e 79,2% em 1989), em
Belo Horizonte (63,4% em 1980) e em Porto Alegre (63,7% em 1989).
Ainda sobre o uso de armas de fogo na prática de homicídios no Brasil, o autor
afirma se considerarmos todos os óbitos por causas externas ocorridos em nove capitais
94

(Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e
Porto Alegre), 14,5% foram decorrentes de lesão por PAF em 1980 e 26% em 1989.
Na década de 90, em todos os estados da região Centro-Oeste, a mortalidade
proporcional por causas externas superou a encontrada para o Brasil, especialmente no
Mato Grosso com 20,7% e Distrito Federal com 19,9%. Mas considerando as mortes por
armas de fogo, nos estados da referida região, o Distrito Federal ocupa o terceiro lugar com
28,2% e Mato Grosso apresenta a mais baixa percentagem, 19,3%. Contudo, se
considerarmos as 19.013 mortes por armas de fogo, 34,6% ocorreram em Goiás, 23,6% no
Distrito Federal, 23,2% em Mato Grosso do Sul e 18,7% em Mato Grosso. Os homicídios
estão em primeiro lugar como causa externa de morte em Mato Grosso do Sul e em Mato
Grosso, e em segundo lugar Goiás e o Distrito Federal PERES, 2004, p. 63).
Agora, sobre os 265.975 homicídios registrados no Brasil na década de 1990,
92,3%, ou seja, 245.455 foram contra pessoas do sexo masculino e 20.187 (7,6%) contra
pessoas do sexo feminino, o que significa que os homicídios sobre pessoas do sexo
masculino são 12 vezes superior aos homicídios sobre pessoas do sexo feminino. Para o
autor, o excesso de mortes por armas de fogo contra a população masculina varia de 8,6
na região e 13,3 nas regiões Nordeste e Sudeste (PERES, 2004, p. 69).
Quanto à incidência de mortes por homicídios sobre sexo das vítimas (PERES,
2004, p. 69) aponta que as diferenças são fortemente evidentes quando considerado os
dados de mortes por causas específicas. Para este caso, o autor expõe que enquanto os
homicídios são a primeira causa externa de morte na população masculina em todo o País
e em quatro regiões, com exceção da região Sul onde ocupava o segundo lugar. A
população feminina ocupa o terceiro lugar em todo o País e nas regiões Norte, Nordeste,
Sudeste e Centro-Oeste, e quarto na região Sul.
Agora sobre a arma utilizada na prática de homicídios no Brasil na década de
1990, o autor evidencia a existência de padrões diferentes em relação às armas utilizadas,
contra as populações masculinas e femininas. Para o autor, a população masculina, é em
sua grande maioria vitimada com uso de arma de fogo, cuja proporção variou de 67,3% na
região Nordeste, 53,1% na região Norte, enquanto que na população feminina a maioria
dos homicídios foi cometida com outras armas, com exceção da região Nordeste onde
51,8% das vítimas do sexo feminino foram vitimadas com armas de fogo (PERES, 2004, p.
69).
Agora, quanto à concentração espacial dos homicídios cometidos no País, isto
de acordo com dados da Organização dos Estados Ibero-americanos para a Educação, a
95

Ciência e a Cultura (OEI), com apoio do Ministério da Saúde (MS), (RICHARD; MILANI,
2007, p. 1), comenta que dos 48.345 homicídios registrados entre os anos de 1994 e 2004,
34.712 concentraram-se em apenas 10% dos municípios brasileiros, ou seja, em 556
municípios.
Ainda segundo os autores esta concentração mostra que a violência tem
crescido em direção ao interior do País e não só nas grandes capitais e regiões
metropolitanas. E neste cenário, a região Centro-Oeste apresentou-se como uma das
regiões onde as mortes violentas têm ocorrido com maior intensidade, principalmente
considerando o Estado de Mato Grosso, o qual de acordo com o estudo, foi representado
por cidades ranqueadas entre as dez cidades mais violentas do País. Dentre elas, Mato
Grosso contou com Colniza (1º lugar) que em 2004, registrou 165,3 homicídios por 100
mil/habitantes, enquanto a média nacional foi de 27,2 mortes; Juruena (2º); São José do
Xingu (5º); Aripuanã (8º). As outras cidades pertenciam a outros estados (RICHARD;
MILANI, 2007, p. 1).
Com base no autor, podemos considerar que as formas de violência registradas
no País, especialmente a forma homicídios, é um fenômeno que tem concentrado em
determinados espaços, cujas características são favoráveis a sua proliferação e evolução
no tempo e no espaço. E, há de considerar, que essa fuga ou migração em direção ao
interior do País é, senão um alastramento das redes criminosas, que estabelecidas nos
grandes centros, agora buscam estabelecer-se no interior, criando de certa forma
entrepostos da criminalidade, cuja única finalidade é facilitar o fluxo pessoas, informações e
produtos úteis a prática da atividade criminosa, como por exemplo, armas de fogos, drogas,
veículos roubados para países vizinhos, como Bolívia, Paraguai e outros.
A ocorrência da forma de violência, é claro com suas devidas exceções,
especialmente no caso de Cuiabá, seria resultante de momentâneos desagregamento
desta rede, ou pela disputa entre elas por espaço e, é claro por clientela, digo mercado
consumidor.
E neste contexto, o conhecimento do espaço, é algo de extrema importância,
como também de seus habitantes. Mas, é através do conhecimento do espaço que as
instituições de segurança pública terão condições de saber “como”, “quando”, “onde” e
“porque” da ocorrência da forma de violência.
É certa que a violência é algo inerente a pessoa humana, mas sua
concentração em determinado espaço, tempo e grupos de pessoas, cujas características
predominantes das vítimas têm desenhado um grupo de pessoas, que em razão das
96

características físicas, raciais, condições sociais em que estão inseridas, figuram como
potenciais grupos de risco e sujeitas a serem vitimadas pela violência na forma de
homicídios em lugares, tempo e por motivações específicas, como têm sido observados
ultimamente.
Neste contexto, a Geografia, como ciência que estuda as relações humanas
nas suas variadas formas, como também a distribuição espacial de fenômenos, ou seja, a
disposição de eventos no terreno é de bom alvitre considerar a ciência geográfica no
estudo de fenômenos sociais como a violência e a partir dela identificar as causas e os
espaços de concentração dos fenômenos produzidos no meio social, para munidos de
dados válidos e fidedignos, adotarem estratégias de combate e controle.

3.4 A VIOLÊNCIA URBANA E A GEOGRAFIA

A espacialidade é uma categoria geográfica muito utilizada pela Geografia nos


estudos de eventos dispostos no espaço. Através do estudo de eventos espaciais, é
possível conhecer a distribuição, a concentração, migração, como também a dispersão dos
eventos quer seja eles sociais, físicos ou naturais, contribuindo eficazmente para adoção de
políticas públicas por parte dos gestores governamentais, isto considerando em específico
os eventos relacionados a violência tanto urbana como rural. A gestão de eventos
espaciais em muito contribui para a tomada de decisões por parte dos gestores públicos e
privados.
Contudo, apesar de tal importância, a abordagem sobre a criminalidade era
feita, sobretudo, por criminólogos e sociólogos. A este respeito, (FÉLIX, 2002, p. 27) lembra
somente a partir da década de 1970 através da Escola Geográfica do Crime, que buscou-
se esclarecer, a partir de diversas teorias e análises interdisciplinares, os processos que
levam à distribuição diferenciada dos crimes no espaço geográfico. A este respeito, a
autora acrescenta que o crime é um fenômeno social e, portanto, “[...] reflete certas
condições de vida, diferenciadas por situações, culturais, políticas, demográficas, espaciais,
etc., e é o estudo destas condições que levará à compreensão dos níveis de variação da
violência.
Para (FÉLIX apud SANTOS, 2006, p. 59), há muito tempo, a Geografia Urbana
preocupou-se em analisar o crescimento demográfico e espacial das cidades, identificarem
suas funções e sua difusão para outros espaços em função da dinâmica econômica. Mas
questões relacionadas às desorganizações sociais ocorridas no interior desses espaços, e
97

aí inclui a criminalidade, cujas preocupações e atenções eram restritas a atuações apenas


de criminólogos e sociólogos.
A Geografia, como ciência que também preocupa com o planejamento urbano
metropolitano tem que a criminalidade provoca grande rearranjo ambiental, com
surgimento de novos espaços defensivos, e, portanto, de acordo com Félix (2002, p. 137),
a ciência em questão não pode ficar a margem do problema da criminalidade. Para a
autora, a criminalidade altera o ambiente ao induzir a criação de espaços “defensivos”, ou
seja, de locais que “asseguram” a segurança, como condomínios fechados, os shoppings
centers, entre outros.
Para Félix (2002, p. 4), a Geografia do Crime tem explicado a tendência do
aumento da criminalidade urbana nos últimos anos no Brasil, partindo do pressuposto de
que “Os espaços de ocupação espacial (econômicos, políticos, etc.) acabam gerando
certos espaços contributivos, provocativos e até marginais”. Neste contexto, o
questionamento sobre o crime é feito a partir de três abordagens: dinâmica social, dinâmica
demográfica e dinâmica espacial.
A análise da dinâmica social (social-histórica e de segregações, ou seja, dos
processos sociais competentes a um dado espaço e tempo, são primordiais para a
compreensão da dinâmica criminal e dos “(des) ajustes sócio-espaciais”. Sobre esta
dinâmica, Félix (2002) afirma que a análise do contexto de um espaço, bem como de sua
população por meio de jornais é um procedimento que leva à compreensão da sociedade
que nele habita, a partir do conhecimento de seus anseios, perspectivas e temores. Além
do mais, a técnica em questão, permite, segundo a autora, traçar o perfil da (des)
organização social e entender a sua dinâmica.
A dinâmica demográfica por sua vez, de acordo com Félix (2002), é o segundo
elemento fundamental na análise da criminalidade; todavia, destaca-se que os valores
demográficos relacionados ao sexo, à idade, à mobilidade, entre outros, vão além dos
números, sendo de fundamental importância na compreensão da criminalidade, pois ela é
uma variável que intervém no fenômeno.
Sobre esta realidade, Félix (2002, p. 139), assevera:

Uma deficiência dos estudos criminais, também notada entre os


geógrafos, é a utilização das estatísticas criminais sem críticas, como se as taxas
fossem por si mesmas um fato social. É preciso pensar o controle social como um
elemento constitutivo do comportamento desviante, pesquisando-se os
controladores da mesma forma que os controlados.
98

A este respeito, Souza (1994, p. 270), destaca:

a falta de controle social faz com que o medo e o sentimento de


insegurança aumentem [...] encolhe a liberdade de locomover-se pela cidade e
usufruir dos espaços sem temer ser assaltado, importunado ou receber uma ‘bala
perdida’ na cabeça. Tal fenômeno induz à segregação e à auto-segregação, esta
última baseada em condomínios, que parecem representar uma busca de
autonomia sendo este um paradoxo na realidade brasileira atual.

Os argumentos acima expostos expressam a pura realidade vivenciada pelos


centros urbanos nos dias atuais. Pois diante da inércia do Estado em prover um serviço de
segurança pública de qualidade, acaba permitindo a ascensão do poder criminoso no
espaço urbano, cuja constante ação tem provocado o enclausuramento da sociedade. O
medo a estas imprimido tem forçado a adoção de novos hábitos e costumes. Casas tem-se
tornado verdadeiras fortalezas, sem falar nos condomínios fechados que são vigiados dia e
noite por homens, cães e equipamentos eletrônicos de última geração. O medo gerou a
paranóia, todos são suspeitos, a ameaça contra a vida é constante, mesmo da parte
daqueles que buscam apenas a defesa contra a violência.
Contudo, há de considerar que a ausência de outros serviços públicos também
contribui para o arrefecimento da realidade que impera, especialmente quando o espaço
urbano é carente de serviços básicos como iluminação pública, entre outros como
transportes, saúde, educação, lazer. O ambiente de penumbra e terrenos baldios figura
como típicos locais para prática de crimes, como estupro, roubos, assaltos, latrocínios,
homicídios, e outros como tráfico de drogas.
Quanto ao enfrentamento deste evento, Souza (1994, p. 37), assegura: que não
deve, jamais, restringir-se à mera repressão, [...], e que a atenção deve-se voltar para à
compreensão dos espaços onde a violência tem sido mais intensa, pois o conhecimento do
contexto social pode ajudar a interpretar os agravos violentos que ocorrem no local.
Considerando os argumentos do autor, há de concordar que a repressão como
único meio de combate e controle da violência não é suficiente, até porque considerável
número de registro de homicídios não se restrige a problema de polícia ou da segurança
pública. Exemplo destes casos são os homicídios praticados por paixão, ciúmes, quando
casais em seus lares entram em conflitos e findam tirando a vida do companheiro (a). Caso
semelhante são os homicídios que ocorrerem dentro de residências, resultante do
consumo de bebida alcoólica entre desavenças.
Neste quadro, também vale considerar a questão da constante busca por
aproximação entre polícia e sociedade, onde a polícia veste-se de bom cordeiro,
99

descaracterizando-se como instituição policial, quando substitui sua identidade instituicional


por filosofias alheias a realidade do País, deixando de lado sua função fim para assumirem
papéis de outras instituições como Educação, Saúde, Promoção Social, Turismo entre
outras, para quais não são preparados e se quer faz parte do rol de suas atribuições.
Enquanto a criminalidade contínua a tecer sua envolvente rede de violência sob a tutela da
sociedade que contínua avessa a aproximação das polícias em seu torão, mesmo com a
construção de unidades policiais na praça do bairro ou entre suas residências, ou com a
troca da cor dos uniformes/fardas dos policiais, cores das viaturas ou armamentos
utilizados. Uma polícia é forte quando se tem homens motivados, treinados e tratados de
forma humanos, e claros bem remunerados a ponto de garantir-lhes uma vida confortável e
socialmente aceita. Neste contexto, também deve também estar presente a formação
profissional voltada especialmente para a questão social. O compromisso entre as
instituições policiais e demais poderes deve ser uma regra, do contrário, as polícias
continuarão prendendo e o judiciário na contramão deixando de cumprir suas funções
quando se faz da morosidade no julgamento dos processos requisitos para absolvição de
criminosos, isto, quando não utilizam da fábrica de “habeas-corpus”, para antecipar o
desmonte do trabalho policial.
Ainda considerando a questão espacial, Najar; Marques (2003), afirma que é no
espaço que o homem se reproduz. Também, Corrêa (2000, p. 25) diz que “o espaço é o
lócus da reprodução das relações sociais de produção”. Indo mais além, (LEFÉBRVE apud
SANTOS, 2006, p. 63), afirma: “O espaço é social”. A sociedade imprime no espaço seu
modo de vida, sua cotidianidade. Para Trindade Junior (1998), “[...] o espaço não é apenas
produto ou reflexo das relações sociais, ele é também força capaz de reproduzir tais
relações.
Do mesmo modo e seguindo a linha de raciocínio dos autores acima, Corrêa
(2000, p. 26) comenta:

[...] uma sociedade só se torna concreta através de seu espaço, do


espaço que ela produz e, por outro lado, o espaço só é inteligível através da
sociedade. Não há, assim, porque falar em sociedade e espaço como se fossem
coisas separadas que nós reuniríamos a posterior, mas sim de formação sócio-
espacial.

Diante disso, somos forçados a aceitar que espaço e sociedade se confundem


uma expressa o outro. A sociedade sem espaço não existe e o espaço sem sociedade, é
desprovido de uma identidade que o identifica, caracteriza. Por isso, a necessidade de
100

estudá-lo de forma integrada, conjunta, pois só assim, será possível entender o “por que”
da ocorrência de eventos, como o homicídios, entre outros eventos.
Neste contexto, Santos, (1997, p. 71), declara: “O espaço é resultado da ação
dos homens sobre o próprio espaço intermediados pelos objetos naturais e artificiais”
Assim, o espaço em Geografia, não pode ser definido apenas com o sentido de
localização de fenômenos ou atividades humanas. Para Carlos (1990, p. 15), o espaço é
produto histórico e social das relações estabelecidas entre a sociedade e o meio. E que tais
relações existe por meio do trabalho, no qual o homem figura como sujeito do processo ao
construir e reproduzir o lugar que habita.
Aqui está a raiz das diferenças entre os diversos espaços e sociedades, pois se
é o homem agindo no espaço no decorrer do tempo que produz e dá as sua identidade no
espaço por ele habitado, logo, existirá no meio social, diferentes espaços com diferentes
identidades, pois são frutos de diferentes processos de construção no decorrer do tempo, e
consequentemente, os eventos sociais que afloram nestas sociedades serão distintos um
do outro, em razão do processo de construção de cada sociedade e seus determinados
espaços.
A este respeito, Minayo (1997), argumenta que a análise histórica do espaço
urbano revela que a violência manifesta-se de diferentes formas, nos diversos meios
sociais, devido às relações políticas e culturais construídas diacronicamente.
Assim, deduz-se que a violência não é exterior ao indivíduo, pois está inserida
no contexto das relações sociais.
Por isso, Zanotelli; Coutinho (2003, p. 215), fala o seguinte a respeito do
fenômeno social violência:

Diante do acelerado processo de anomia que atinge as aglomerações


urbanas e parcialmente os bairros periféricos, faz-se mister buscar conhecer a
distribuição sócio-espacial do fenômeno da violência, que é uma das mais sérias
manifestações da desagregação social da atualidade.

Pois de acordo com o autor, a representação espacial permite uma leitura


sintética e analítica do fenômeno e, por meio de associação e comparação entre os
diversos lugares, em diferentes momentos, há a possibilidade de compreender as causas
da diferenciação sócio-espacial dos eventos, neste caso, dos eventos ou circunstâncias
violentas.
101

E neste contexto, a Geografia que segundo Zanotelli (2001), detém ferramentas


conceituais capazes de analisar a relação entre o espaço e o crime, o espaço e a violência,
e, simplificadamente, o espaço social.
E complementando, Félix (2002, p. 139), destaca:

[...] a participação da Geografia nos eventos criminais não tem como


objetivo principal encontrar soluções para um problema que é universal e tem
resistido aos mais diversos programas preventivos e “curativos”, desenvolvidos em
países com condições sócio-políticas e econômicas mais diversas. Contudo, inserir
em seu campo de estudo a criminalidade pode ser altamente produtivo para a
compreensão das causas e, mesmo que não se proponham soluções,
questionarem o problema de forma global e suas implicações sócio-demográficas
já é altamente produtivo para futuros estudos.

Sabiamente o autor situa a Geografia no contexto da criminalidade ao destacar


que não é papel da ciência criar soluções miraculosas para o problema da violência que há
muito assola as sociedades. A Geografia tem sua importância no controle da criminalidade,
mas ela como ciência apenas questiona o problema da violência, apontando suas
consequências para a sociedade no presente e no futuro, pois se não controlado, a
violência tende a figurar como uma força que caminha na contramão do desenvolvimento
social e econômico do País, principalmente em razão das mazelas por elas produzidas,
que vão desde o ceifamento de vidas prematuras até ao sobrecarregamento do erário
público quando do aumento vertiginoso da demanda de internações, medicações,
indenizações e reabilitações dos sobreviventes e encarceramento de criminosos.
Sendo assim, a violência é um grave problema da sociedade atual e, tal como
assegura Félix (2002), sendo a Geografia uma ciência humana, não pode ficar à margem
das discussões acerca desse fenômeno. E lembra que debates sobre e como os geógrafos
deveriam colaborar com a solução dos problemas sociais vem aumentando desde o final
da década de 1960.
A autora, digo, Félix (2002, p. 109) vai mais além quando assinala a seguinte
questão: “Se o homem, em seu contexto sócio-espacial, é o principal objeto dos estudos
desenvolvidos pela Geografia Humana, é natural que o seu bem-estar e a sua qualidade de
vida também sejam foco de indagação geográfica.
Como ciência humana, a Geografia, por força de tradição da produção
geográfica, em tratando de estudo de violência, restringe-se à preocupação com a
espacialização do fenômeno, ou seja, preocupa-se em localizar as ocorrências criminosas
no espaço urbano e correlacioná-las às condições do local onde ocorreram os crimes
(FERREIRA; PENNA, 2005, p. 156).
102

Em termos de estudo da violência, a preocupação com a sua espacialização


faz parte do pensar de Corrêa, (1987, p. 54), que destaca que a organização espacial é a
própria sociedade espacializada, é a natureza primitiva transformada pelo trabalho social,
ou seja, é o resultado da ação do homem no espaço, quando cultiva os campos, constrói
estradas, moinhos, casas, entre outras coisas. São os objetivos fixos ou formas
espacialmente distribuídas e/ou organizadas sobre a superfície da Terra de acordo com
alguma lógica.
Sinônimos de estrutura territorial, configuração espacial, formação espacial,
arranjo espacial, espaço geográfico, espaço social, espaço socialmente produzido ou,
simplesmente espaço, a organização espacial de uma sociedade, é segundo (CORRÊA,
1987, p. 54; 55), um:

Conjunto de objetos criados pelo homem e dispostos sobre a superfície


da Terra, é assim um meio de vida no presente (produção), mas também uma
condição para o futuro (reprodução). [...] é, como já vimos, expressão da produção
material do homem resultado de seu trabalho social.

Considerando a fala do autor, é possível entender e considerar como fora


mencionado no decorrer desta pesquisa que a organização espacial de uma sociedade
reflete sua história, costumes, tradições e valores. E imbuída neste meio, pode estar a
violência, cuja origem remonta desde os primórdios desta sociedade produtora do espaço.
A violência pode, neste ínterim ser um meio de vida de seus habitantes, um instrumento de
solução de conflitos. E com certeza, o controle deste fenômeno não está na intensidade ou
modelo de policiamento e técnica de defesa a ser adotado ou empregado, está na
mudança de valores, e vale deixar claro que valores não são substituídos a toque de
mágica.
Já para (LEFEBVRE apud GODOY, 2004, p. 31), o espaço consiste, grosso
modo, no lugar onde as relações capitalistas se reproduzem e se localizam com todas as
suas manifestações de conflitos e contradições.
Sendo assim, a organização espacial resultado do trabalho social reflete tanto a
natureza classista da produção e do consumo de bens materiais como o controle exercido
sobre as relações entre as classes sociais que emergiram das relações sociais ligadas à
produção, que ocorre no espaço geográfico criado pela sociedade, visando a sua
realização e reprodução, de modo que ela própria como sociedade se repita, reproduza no
espaço organizado ou produzido. Pois, caso ocorra o contrário, como deixa em evidência o
autor, a sociedade se extinguirá (CORRÊA, 1987, p. 55; 56; 57).
103

E, em se tratando de produção e reprodução do espaço, Corrêa (1987, p. 67),


afirma que o produto da ação humana ao longo do tempo, a organização espacial é um
reflexo social, ‘conseqüência do trabalho e da divisão do trabalho’. Sobre isto, (LEFEBVRE
apud CORRÊA, 1987, p. 67) comentam: “é o resultado do trabalho social que transforma
diferentemente a natureza primitiva, criando formas espaciais diversas sobre a superfície
da Terra”
E, pelo fato de o trabalho social e a divisão do trabalho só ocorrer em
sociedades com certo nível de desenvolvimento das forças produtivas e de um modo
dominante de suas relações, de acordo com o autor, a organização do espaço nesta
sociedade, refletirá suas características existentes reproduzindo também suas classes
sociais e seus conflitos (CORRÊA, 1987, p. 67).
Neste contexto, as “rugosidades” são as marcas, rastros que denunciam a
existência do passado, e consequentemente, de acordo com Corrêa (1987, p. 71; 72), o
presente condiciona o futuro, ou seja, as formas espaciais presentes acabam por ditar o
futuro da sociedade. Podemos afirmar diante disso, que este fato possui um caráter
determinista, pois, o hoje refletirá ou espelhará, ou melhor, imporá o que irá existir e ocorrer
no futuro. De acordo com os autores, a divisão espacial obedece a critérios sociais ou outro
critério qualquer e o futuro consequentemente será resultado do hoje existe e o hoje é uma
cópia do foi no passado. Por isso, impera nos atores sociais, diversos costumes,
comportamentos e posturas perante a sociedade como um todo. E neste contexto, a
violência em suas variadas formas pode ser considerada um evento equalizador para
aqueles que vivem a margem do que é socialmente aceito.
A este respeito, Corrêa (1987, p. 74; 75) complementa, a organização espacial
não é somente um reflexo da sociedade, mas uma condição para o seu futuro, isto é, da
reprodução social, fato que pode ser agravado com a crescente urbanização, fruto da
acumulação das formas espaciais trazida à tona pelo capitalismo contemporâneo, que fez
surgir nas cidades às periferias de autoconstrução, favelas em áreas alagadiças e morros,
cortiços, bairros dos diferentes segmentos da classe média e as habitações suntuosas e
seletivas dos capitalistas e executivos, cercados e sob vigilância de uma polícia particular.
As quais, de acordo com o autor é a expressão acabada de uma elite que se impõe,
enquanto a periferia das grandes cidades é habitada por uma enorme e crescente força de
trabalho não qualificada, cuja parte do cotidiano é desperdiçada com deslocamentos da
residência ao trabalho e vice versa.
104

E desta forma, de acordo com Duarte; Matias (2005, p. 191), o homem como
ser ativo no mundo organiza e cria espaços arrumando e desarrumando de acordo com
sua cultura e seus objetivos, quer seja eles particulares ou sociais, de organizar o espaço
vivido.
E inserindo a violência na forma de homicídios no contexto, é notório que ela
tem provocado a criação de novos espaços e desarrumado os existentes, através da
imposição do medo, da mudança de hábitos anteriormente cultivados, através da
transformação das casas em verdadeiros presídios, vigiados por cães, homens armados e
equipamentos de vigilância eletrônica. E neste meio, a compreensão da realidade vivida
pela sociedade, pode se dar com a análise dos eventos registrados no espaço, cujos
caracteres são manifestados na produção do espaço e nas relações sociais vigentes.

3.5 A COMPREENSÃO DO ESPAÇO E A ANÁLISE ESPACIAL

Análise espacial é o estudo quantitativo de fenômenos que são localizados no


espaço. Utiliza-se a expressão análise de dados espaciais: em oposição à análise de
dados em geral, quando as técnicas utilizadas consideram explicitamente a localização
espacial. Pode-se entender a análise espacial como ‘[...] habilidade de manipular dados
espaciais de diferentes formas e extrair significados adicionais’ (BAILEY apud CARVALHO;
CRUZ, 1998, p. 3154).
Para Duque; Mendes (2006, p. 62), o sistema mais adequado para análise
espacial de dados geográficos é o SIG (Sistema de Informação Geográfica), cuja tradução
é “Geographif Information System (GIS)” que se difere dos demais sistemas pela sua
capacidade de estabelecer relações espaciais entre elementos gráficos. O Sistema de
Informação Geográfico (SIG) também é um instrumento de elaboração eletrônica que
permite gestão, análise e representação automática de dados georreferenciados.
A este respeito, (ROCHA apud DUQUE; MENDES, 2006, p. 62) afirma:

Que sua capacidade é conhecida como topologia, ou seja, o estudo


genérico dos lugares geométricos, com suas propriedades e relações. Essa
estrutura, além de descrever a localização e a geometria das entidades de um
mapa, define relações de conectividade (conectado a, ligado a, ao lado de),
proximidade, pertinência e interseção.

Ainda discutindo sistema, Duque; Mendes (2006, p. 63), aponta que as


principais funções do SIG referem-se ao manuseio de informações espacialmente
localizadas, permitindo controle e gestão do território. Daí, o crescente interesse em sua
105

aplicação para ações que envolvam o território geográfico, urbanístico e ambiental,


levando-se em conta a conscientização a respeito de suas limitações. Outro fator relevante
ao uso do SIG deve-se ao custo/benefício que garante a aquisição de informações de uma
forma vantajosa.
Além disso, a partir de um banco de dados, o SIG permite gerar novas
informações e não apenas recuperá-las. O SIG também é muito utilizado no uso de
inventários e apoio à prática do planejamento, uma vez que propicia a análise dos
componentes socioeconômicos de forma quantitativa ou qualitativa.
Os SIGs também possuem bancos de dados que podem ser subdivididos em
banco de dados georreferenciados (bases cartográficas), os quais descrevem a forma e a
posição das características da superfície, e em banco de dados alfanuméricos (tabelas de
dados), os quais descrevem os atributos dessas características, sistemas estes que
armazenam e recuperam informações da área trabalhada, representando-a com maior ou
menor detalhe (DUQUE; MENDES, 2006, p. 64; 65).
Quanto a compreensão do espaço, Câmara et al. (2004, p. 1), comenta que
compreender a distribuição espacial de dados oriundos de fenômenos ocorridos no espaço
constitui hoje grande desafio para a elucidação de questões centrais em diversas áreas do
conhecimento, seja em saúde, em ambiente, em geologia, em agronomia, entre outras
áreas.
E destacam que tais estudos estão tornando cada vez mais comuns, devido à
disponibilidade de Sistemas de Informação Geográfica (SIG) de baixo custo e com
interfaces amigáveis, que segundo os autores permitem a visualização espacial de
variáveis como população de indivíduos, índices de qualidade de vida ou vendas de
empresa numa região através de mapas. Para isso, basta dispor de um banco de dados e
de uma base geográfica (como um mapa de municípios), e o SIG é capaz de apresentar
um mapa colorido permitindo a visualização do padrão espacial do fenômeno (CÂMARA et
al., 2004, p. 1).
Além disso, esclarecem que além da percepção visual da distribuição espacial do
problema, é muito útil em traduzir os padrões existentes com considerações objetivas e
mensuráveis, como os seguintes casos, enumerados pelos autores que são: os
“Epidemiologistas” que coletam dados sobre ocorrência de doenças. A distribuição dos
casos de uma doença forma um padrão espacial? Existe associação com alguma fonte de
poluição? Evidência o contágio? Variou no tempo? Deseja-se investigar se existe alguma
concentração espacial na distribuição de roubos. Roubos que ocorrem em determinadas
106

áreas estão correlacionados com características dessas áreas? “Geólogos” desejam


estimar a extensão de um depósito mineral em uma região a partir de amostras. Podem-se
usar essas amostras para estimar a distribuição do mineral na região? Deseja-se analisar
uma região para fins de zoneamento agrícola. Como escolher o variável explicativo solo,
vegetação, geomorfologia e determinar qual a distribuição de cada uma delas para definir
em que local o tipo de cultura é mais adequado? (CÂMARA et al., 2004, p. 1).
E salientam que todos esses problemas fazem parte da análise espacial de
dados geográficos, cuja ênfase é mensurar propriedades e relacionamentos, levando em
conta a localização espacial do fenômeno em estudo de forma explícita, onde a idéia
principal é incorporar o espaço à análise do que se deseja fazer (CÂMARA et al., 2004, p.
2).
Como exemplo desse tipo de análise que incorporou a categoria espaço, temos
o fato ocorrido no século XIX por John Snow, especificamente em 1854, quando ocorria em
Londres uma das várias epidemias de cólera trazidas das índias. Pelo fato de pouco se
saber sobre os mecanismos causais da doença, duas vertentes científicas procuravam
explicá-las: uma relacionando-as aos miasmas, concentrados nas regiões baixas e
pantanosas da cidade, e outra à ingestão de água insalubre.
A partir de então, produziram mapas com a localização das residências dos
óbitos ocasionados pela doença e as bombas de água que abasteciam a cidade,
permitindo visualizar claramente uma destas em Broad Street como o epicentro da
epidemia. Estudos realizados posteriormente confirmaram a hipótese, corroboradas por
outras informações tais como a localização do ponto de captação de água desta bomba a
jusante da cidade, em local onde a concentração de dejetos, inclusive de pacientes
coléricos era máxima (CARVALHO; CRUZ, 1998; CÂMARA et al., 2004).
Para os aludidos autores, o exemplo acima, é um exemplo de análise espacial,
uma situação típica onde a relação espacial entre os dados contribuiu significativamente
para o avanço da compreensão do fenômeno (CÂMARA et al., 2004, p. 2).
Esta é uma forma de se analisar determinado evento, portanto, existem outras
formas, e para Câmara et al. (2004, p. 3) a taxonomia, a mais utilizada para caracterizar os
problemas de análise espacial considera três tipos de dados, sendo eles os seguintes:
a) Eventos ou Padrões Pontuais – fenômenos expressos através de
ocorrências identificadas como pontos localizados no espaço, denominados
processos pontuais. São exemplos: localização de crimes, ocorrência de
doenças, e localização de espécies vegetais.
107

b) Superfícies Contínuas - estimadas a partir de um conjunto de amostras de


campo que pode estar regularmente ou irregularmente distribuídas.
Usualmente, este tipo de dados é resultante de levantamentos de recursos
naturais e que incluem mapas geológicos, topográficos, ecológicos,
fitogeográficos e pedológicos.
c) Áreas com Contagens e Taxas Agregadas – trata-se de dados associados a
levantamentos populacionais, como censos e estatísticas de saúde, e que
originalmente se referem a indivíduos localizados em pontos específicos do
espaço. Por razões de confidencialidade, estes dados são agregados em
unidades de análise, usualmente delimitadas por polígonos fechados (setores
censitários, zonas de endereçamento postal, municípios).

A partir do exposto e segundo Câmara et al. (2004, p. 3; 4), verifica-se que o


problema para a análise espacial, tanto para lidar com dados ambientais ou com dados
socioeconômicos, para ambos os casos está na escolha de um modelo inferencial que
considere explicitamente os relacionamentos espaciais presentes no fenômeno. Em geral,
o processo de modelagem é precedido de uma fase de análise exploratória, associada à
representação visual de dados sob forma de gráficos e mapas e a identificação de padrões
de dependência espacial no fenômeno em estudo.
A este respeito abordaremos em seguida, a análise de eventos por pontos,
teoria esta que corresponde a prática adotada neste estudo relativo ao estudo dos
homicídios registrados em Cuiabá-MT no ano 2007.

3.6 A ANÁLISE DE PADRÕES DE DADOS POR PONTOS

Para (BAILEY; GATRELLA apud BARCELOS; SILVA; ANDRADE, 2007, p. 34)


o padrão de pontos é considerado o modo mais simples de representar dados espaciais. É
definido como uma base de dados contendo uma série de localização de pontos, numa
determinada região de estudo, onde ocorreu o evento de interesse. Em sua apresentação
mais simples, esses dados espaciais contêm apenas as coordenadas dos eventos. Um
exemplo para este tipo, são os mapas que mostram pontos como eventos de saúde, como
o de John Snow para o caso de epidemia do cólera em Londres em 1854 e outros como a
investigação de hepatite A no Município de Macapá-AP.
108

Segundo (NERI apud BARCELOS; SILVA; ANDRADE, 2007, p. 34; 35), os


dados sobre a doença de hepatite A, investigada em Macapá-AP foram obtidos com base
na notificação de casos, usando o Sistema Nacional de Agravos de Notificação (SINAN),
cuja localização dos casos foi feita através do registro de coordenadas geográficas no local
de residência, utilizando-se um GPS.
Os padrões de distribuição de eventos desta natureza podem de acordo com
(WARD; CARPENTER apud BARCELOS; SILVA; ANDRADE, 2007, p. 36) apresentar-se
das seguintes formas:
O padrão aglomerado, também conhecido como agrupado ou clusterizado, nos
quais, os eventos apresentam-se concentrados no espaço; o do tipo regular, os eventos
apresentam com uma distância média entre os pontos que tende a ser constante. Os
pontos estão espalhados no espaço, mas mantendo uma regularidade entre eles. É como
se a distribuição dos pontos tivesse sido planejada para que um ponto não estivesse muito
longe do outro; e o padrão aleatório não tem nenhum modelo de distribuição. Ele ocorre por
um completo acaso.
E neste contexto, onde os eventos distribuem-se de forma aglomerada, regular
ou aleatória, as técnicas de análise espacial permitem identificar áreas com concentração
aparentemente alta de eventos e possibilitam avaliar se o aparente aglomerado de casos
ocorreu ou não ao acaso. Estes podem ser identificados através de testes estatísticos.
Testes estes, utilizados em análise espacial, podem segundo (BESAG;
NEWEL, 1991; LAWSON; KULLDORF, 1999), ser agrupados em duas grandes categorias:
a) Testes globais compreendem a maioria dos testes para identificação de
aglomerados espaciais de doenças, em que todos os casos são processados. Esses
procedimentos testam a presença de aglomerados sem ter a habilidade de identificar a
localização dos mesmos (trabalham com o conjunto total dos pontos mapeados). Dessa
forma, testam a hipótese de que não existe aglomerado na região contra a hipótese
alternativa de que existe conglomerado sem especificar sua localização.
b) Testes focais, ou locais para a identificação de aglomerados são usados
quando se tem uma fonte primária pré-definida, ou seja, verificam a existência de
aglomerados em regiões definidas a priori, antes da observação do evento. São
especialmente úteis quando existe forte suspeita de um agente etiológico.
Além destes, os testes de detecção de aglomerados pode ser considerada uma
terceira categoria na qual é possível identificar o local da ocorrência do aglomerado e, além
disso, testar sua significância estatística. Este e os testes globais complementam-se e têm
109

uma boa aplicação no estudo espacial de aglomerados em diversos cenários


epidemiológicos.
Também, segundo Barcelos; Silva; Andrade (2007, p. 37) existe diversas
técnicas disponíveis de análise exploratória espacial para detectar e mapear “áreas
quentes” ou aglomeradas.
Dentre as técnicas de exploração espacial, destaca-se a técnica de Kernel,
método estatístico utilizado nesta pesquisa como ferramenta de identificação de
aglomerados de homicídios, através dos locais de ocorrência. Além disso, estas técnicas
têm sido amplamente utilizadas recentemente em áreas como saúde e ambiente,
especialmente na análise de eventos ou padrões pontuais.

3.7 A ANÁLISE DA DENSIDADE POR PONTOS

Dentre os procedimentos para estimar densidade de eventos, a estimativa


Kernel é a mais conhecida e a mais utilizada, desempenhando um papel importante no
contexto epidemiológico para identificar a concentração de casos (GATRELL, et al. Apud
BARCELOS; SILVA; ANDRADE, 2007, p. 44).
Para Barcelos; Silva; Andrade (2007, p. 44), a estimativa Kernel é uma técnica
de interpolação exploratória que gera uma superfície de densidade para a identificação
visual de “áreas quentes”. A ocorrência de uma área quente é percebida como uma
concentração de eventos que indica de alguma forma a aglomeração em uma distribuição
espacial.
O Kernel é uma técnica estatística, de interpolação não paramétrica, em que
uma distribuição de pontos ou eventos é transformada numa “superfície contínua de risco”
para a sua ocorrência. Esse procedimento permite filtrar a variabilidade de um conjunto de
dados, sem, no entanto, alterar de forma essencial, as suas características locais (BAILEY;
GATRELL apud BARCELOS; SILVA; ANDRADE, 2007, p. 44).
Segundo (CROMLEY; MCLAFFERTY apud BARCELOS; SILVA; ANDRADE,
2007, p. 44), o estimador Kernel não é um método de detecção de aglomerados por si,
mas, um método de explorar e mostrar o padrão de pontos de dados em saúde e outros
eventos, como crimes [grifo nosso], além de ser útil a partir do momento em que gera
uma superfície contínua a partir de dados pontuais.
Para (LEVINE apud BARCELOS; SILVA; ANDRADE, 2007, p. 44), o estimador
Kernel produz uma superfície contínua, com densidades calculadas em todas as
110

localizações, desta forma, o investigador não precisa definir de forma arbitrária onde
“cortar” a “área quente”, isto é, uma densidade a partir da qual se considera que os pontos
formam um aglomerado.
Contudo, de acordo com (CÂMARA; CARVALHO apud BARCELOS; SILVA;
ANDRADE, 2007, p. 44), é importante ressaltar que a interpretação dos resultados obtidos
mediante a análise com o Estimador Kernel é subjetiva e depende do conhecimento prévio
da área de estudo. A técnica apresenta como uma das maiores vantagens, a rápida
visualização de áreas que merecem atenção, além de não ser afetada por divisões político-
administrativas. Sendo, portanto, o estimador Kernel, uma boa alternativa para se avaliar o
comportamento dos padrões de pontos em uma determinada área de estudo, sendo
considerado muito útil para fornecer uma visão geral da distribuição de primeira ordem dos
eventos.
Para a aplicação da estimativa Kernel, isto de acordo com (BARCELOS; SILVA;
ANDRADE, 2007, p. 45), é necessário a definição de dois parâmetros básicos, que são:

a) raio de influência ( ) que define a vizinhança do ponto a ser interpolado e


controla o alisamento da superfície gerada. É o raio de um disco, centrado em
s, que é uma localização na região R, no qual pontos s vão contribuir para a
estimativa da função de intensidade;

b) uma função de estimação K (Kernel) com propriedades de suavização do


fenômeno. Os Kernel, normal ou quântico são os mais comumente utilizados.
Se s representa uma localização em R e são as localizações das n
observações, então a intensidade (s), em s é estimada por:

Onde o K é uma função de densidade bivariada escolhida, ou seja, a função de


estimação ou de alisamento, conhecida como Kernel. O parâmetro é conhecido como
raio de influência ou largura da banda e determina o grau de suavização da superfície de
saída. A função bidimensional é ajustada sobre os eventos considerados compondo uma
superfície cujo valor será proporcional à intensidade dos eventos por unidade de área.
111

A escolha da função Kernel (se quadrática, normal, triangular ou uniforme) a ser


utilizada não é um ponto crítico, contudo a escolha do raio de influência é crucial,
produzindo significantes alterações na estimativa final. Essa função realiza a contagem dos
eventos dentro de uma região de influência, ponderando-os pela distância, de cada um, a
uma localização de interesse (CÂMARA et al. apud BARCELOS; SILVA; ANDRADE, 2007,
p. 45).
Do ponto de vista visual, quando se aplica o estimador de intensidade sobre
uma grade de localizações na área R, pode-se pensar numa função tridimensional que
‘visita cada ponto s na grade. A distância para cada evento observado , que cai na área
de influência, é medida e contribui para a estimativa de intensidade em s de acordo com
distância de s (BARCELOS; SILVA; ANDRADE, 2007, p. 45; 46).
Agora, a escolha do padrão de suavização é de importância fundamental na
estimativa de densidade dos eventos e depende do objetivo do estudo e do tipo de evento
estudado. Para identificar áreas específicas e de menor abrangência para atuação, valores
menores de raio de influência podem ser mais indicados (ex: doenças transmitidas por
insetos), contudo, esta abordagem pode gerar áreas múltiplas e pulverizadas de atuação.
Se o objetivo é identificar áreas mais abrangentes para aperfeiçoar as intervenções, a
largura da banda mais ampla torna a opção melhor. Se o objetivo do estudo é explorar os
dados para a formulação de hipóteses, diferentes raios de influência devem ser
empregados (SILVERMAN apud BARCELOS; SILVA; ANDRADE, 2007, p. 47; 48).
Contudo, de acordo com (BAILEY; GATRELL, 1995; CROMELY;
MCLAFFERTY, 2002), na prática, para o cálculo de Kernel, o investigador pode

experimentar diferentes valores de gerando assim variações de intensidade até


encontrar o padrão que melhor se adapte à região estudada refletindo a densidade local
dos eventos.
Além disso, de acordo com Câmara; Carvalho (2004, p. 6), o estimador de
intensidade é muito útil para nos fornecer uma visão geral da distribuição de primeira ordem
dos eventos. Trata-se de um indicador de fácil uso e interpretação, podendo ser aplicado
como estimador para casos de mortalidade por causas externas, como foi utilizado na
capital Porto Alegre, com dados de 1996, onde, a localização dos homicídios foi
caracterizada com a cor vermelha, acidentes de trânsito com amarelo e suicídios com azul.
Enfim, o Kernel Estimator mostra por meio da interpolação o padrão de distribuição de
pontos com concentrações e espalhamentos de eventos, isto conforme a realidade de cada
112

ambiente considerado. Como podemos verificar em específico a análise espacial dos


homicídios registrados no Município de Cuiabá-MT em 2007.
113

4 DISCUSSÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS


4.1 A DIMENSÃO PESSOAL DOS CRIMES DE HOMICÍDIOS

Tendo como principal objetivo o estudo dos homicídios registrados no Município


de Cuiabá-MT em 2007, através da caracterização do perfil das vítimas como dos locais de
ocorrência da forma de violência, procurou-se em primeiro lugar analisar as variáveis
relacionadas as vítimas em especial, tais como: sexo das vítimas, faixa etária, cor/raça,
estado civil, tempo de escolaridade, profissões/ocupações, local de origem (nascimento),
local de residência.
Assim, a Tabela 1 que apresenta a distribuição dos homicídios registrados no
Município de Cuiabá-MT, segundo o Sexo da vítima.

Tabela 1 - Distribuição dos Homicídios registrados em Cuiabá-MT, segundo o Sexo das Vítimas.

N. de
Sexo das Vítimas (%)
Homicídios
Masculino 184 89,3%
Feminino 20 9,7%
Não Informado 2 1,0%
TOTAL 206 100,0%
. Fonte: Laudos de Necropsia do Instituto de Medicina Legal (IML), Boletins de Ocorrência do SROP e Planilhas
Mensais da DEHPP, 2007.
Elaborado e organizado por: Elcio Bueno de Magalhães, 2010.

Analisando a Tabela 1, constata-se que do total de homicídios registrados,


89,3% das vítimas eram do sexo masculino e apenas 9,7% do sexo feminino. Os demais,
ou seja, o 1% restante eram vítimas que não tiveram o sexo identificado ou informado
quando do preenchimento dos documentos oficiais considerados neste estudo. Podendo,
também tal falta ser resultante do estado, digo das condições em que o corpo foi
encontrado. Pois não é incomum encontrar vítimas, cujos corpos estão faltando membros,
carbonizados, em avançado estado de decomposição, como também em estado
esquelético e sem documentos que os identifique, dificultando em muito a identificação civil
114

da vítima por parte dos órgãos de segurança pública que terão que recorrer a exames
antropológicos para identificar as vítimas encontradas na aludida situação.
Contudo, apesar destes obstáculos, percebe-se a notória predominância das
vítimas do sexo masculino nos crimes de homicídios registrados no município. Realidade
esta que não se restringe ao ano pesquisado, pois, se considerarmos o período de 2000 a
2007, como está posto no Quadro 3, podemos verificar em número absoluto e em
percentual os homicídios registrado no período, com destaque para o sexo das vítimas.

Vítimas do
Total de Vítimas do
Ano/Ocorrência Sexo (%) (%)
vítimas Sexo
Masculino
Feminino
2000 317 296 93,3 21 6,6
2001 336 313 93,1 23 6,8
2002 233 215 92,2 18 7,7
2003 235 213 90,6 22 9,4
2004 218 195 89,4 23 10,5
2005 226 213 94,2 13 5,7
2006 221 212 95,9 9. 4,1
2007(1) 206 184 89,3 20 9,70
Quadro 3 - Números de homicídios registrados em Cuiabá-MT nos anos de 2000 a 2006, com ênfase nos
sexos masculino e feminino
Fonte: Adaptado, SIM/DATASUS
Elaborado e organizado por: Elcio Bueno de Magalhães, 2010.
Duas vítimas não tiveram o sexo identificado até o momento da coleta de dados.

Analisando o quadro acima exposto, verifica-se que a participação do sexo


masculino nas mortes por homicídio sempre foi alta. A série histórica mostra que a
predominância das vítimas do sexo masculino em violência na forma de homicídios é uma
realidade no Município de Cuiabá-MT. Todos os anos apresentaram percentuais acima de
90,0%, exceto os anos 2004 e 2007 que apresentaram percentuais de 89,4% e 89,3%
respectivamente. Quanto à escalada da forma de violência contra a pessoa do sexo
masculino, o quadro mostra através dos registros uma queda significativa nos percentuais
desde o ano 2000 até o ano 2004. A partir deste, ou seja, em 2005 e 2006 verificou-se um
aumento da participação masculina na condição de vítimas da forma de violência estudada,
no patamar de 4,8% e 6,5% respectivamente. Portanto, em 2007, esta realidade inverteu e
apresentou uma queda de 6,6% em relação ao ano anterior.
Realidade distinta a participação masculina é a feminina no período analisado,
pelo menos no que refere as tendências apresentadas pelos percentuais, pois enquanto a
participação masculina apresentou tendência de queda no período compreendido entre os
anos de 2000 a 2004, a feminina apresentou uma tendência de aumento, cujo ápice foi o
115

próprio ano de 2004, que teve 10,5% de participação feminina como vítima. Com um
acumulado de 3,9% de aumento neste intervalo isto em relação aos ano 2000, os dois
anos subseqüentes, ou seja, 2005 e 2006 apresentaram uma queda de 4,8% e 6,4%
respectivamente. Mas por sua vez o ano 2007 apresentou em relação aos ano 2006 um
aumento de 5,6%, indicando de forma o início de uma nova escalada para a participação
feminina na condição de vítimas da forma de violência homicídios, isto segundo os dados
contidos no quadro acima.
Corroborando a realidade acima apresentada, (WAISELFISZ apud PERES,
2004, p. 21) afirma, a população jovem do sexo masculino é a mais afetada com taxas de
mortalidade extremamente elevadas entre idades de 15 a 49 anos. E destaca que o risco
de um jovem do sexo masculino morrer por homicídio é 11 vezes maior do que o do sexo
feminino.
Do mesmo modo, a SENASP (2006, p. 16), com base em informações das
Polícias Civis dos Estados no que refere aos crimes de homicídios registrados durante os
anos de 2004 e 2005, revela que as vítimas de homicídios dolosos caracterizam-se por ser
majoritariamente masculinas com idades entre 18 e 24 anos.
Autores como (MELLO JORGE, 1988; MINAYO, 1994; SAAD et al.,1998
SOUZA, 1994; SOUZA; ASSIS, 1989; SZWARCWALD, 1989), também indicam que as
principais vítimas de homicídios são jovens do sexo masculino, de cor parda ou negra, com
baixa escolaridade e pouca qualificação profissional.
Sobre a grande participação da população jovem na condição de vítimas dos
crimes de homicídios, (CECARELLI apud SOUZA, 2005, p. 61) destaca que é na
adolescência que os jovens se abrem para o mundo e em razão disso tornam-se mais
expostos e vulneráveis aos riscos de serem vítimas de eventos violentos.
Ainda sobre a participação dos jovens em violência na forma de homicídios, o
(IBGE, 2009) apresentou no dia 18 de dezembro do corrente ano, a Pesquisa Nacional de
Saúde Escolar (PNSE) 2009, em matéria intitulada “IBGE revela hábitos e costumes e
riscos vividos pelos estudantes das capitais brasileiras”, onde demonstra que quanto ao
envolvimento em brigas com arma branca, 6,1% dos alunos tiveram envolvimento nos
últimos 30 dias, sendo tal prática mais comum em alunos do sexo masculino, 9,0%, a mais
do que os alunos do sexo feminino que foi de 3,4%. Quanto ao envolvimento em brigas
com uso de arma de fogo, o envolvimento do sexo masculino foi maior em relação ao
feminino. A capital Boa Vista e Curituba apresentou o maior percentual, 9,4% e 9,2%,
respectivamente.
116

Para (CECARELLI apud SOUZA, 2005, p. 61), situações deste tipo são
agravadas pelo fato de os adolescentes vivenciarem eventos típicos de sua fase, como
tensões, ansiedades geradas por uma identidade constantemente ameaçada e que
necessita ser reforçada por meio de comportamentos reafirmadores, viris e agressivos,
tornando-os agentes da violência e por outro lado expondo-os a agressões e outras formas
de violência que estes comportamentos propiciam transformando-os em alvo da violência,
tanto como vítimas, como infratores.
Considerando esta realidade, (FERREIRA; CASTIÑEIRA apud MAIA, 1999, p.
121), destacam “esse fenômeno vem provocando uma regressão no padrão de
mortalidade da população paulista. Para estes autores, a importância que estas mortes
vêm assumindo particularmente entre a população masculina de 15 a 34 anos de idade,
pode em um futuro próximo, acarretar uma estagnação e até mesmo reversão nos ganhos
da esperança de vida ao nascer.
Enfim, diante do exposto, verifica-se que a questão do sexo é algo
extremamente relevante, se levado em conta a exposição a eventos de risco, bem como na
promoção de eventos violentos, especialmente no caso da sociedade de nossa época,
cujos valores sociais são sustentados no patriarcalismo, onde as pessoas do sexo
masculino são educadas para ser a cabeça do lar, o chefe de família, o líder, o tomador de
decisões.
Assim, por estarem sujeitos a situações culturalmente implícitas, é normal, ou
melhor, é socialmente aceito que pessoas do sexo masculino demonstrem força, coragem,
virilidade, meça força, a desafie, seja bruto e bravio e submeta-se a situações de desafios e
confrontos. Contudo, estas pessoas não são preparadas para lidar com a perda, derrota e
ofensa e quando isso ocorre, o revide, a vingança é o próximo passo a ser dado pelos
diversos atores envolvidos, quer seja ele residente na periferia ou em condomínios de luxo.
Eliminar o adversário é a melhor saída, é demonstração extrema de coragem e força.
E é neste contexto, que quase que diariamente jovens, do sexo masculino
figuram como personagens das mais diversas formas de violência, e dentre elas,
especificamente a violência na forma de homicídios, como podemos observar neste
estudo.
A Tabela 2, por sua vez apresenta por faixa etária a distribuição dos homicídios
registrados no Município de Cuiabá-MT, durante o ano 2007.
117

Tabela 2 - Distribuição dos Homicídios registrados em Cuiabá-MT, segundo a Faixa Etária das Vítimas.
N. de
Faixa Etária (%)
Homicídios
Até 11 anos 3 1,5%
De 12 à 17 anos 19 9,2%
De 18 à 24 anos 73 35,4%
De 25 à 29 anos 36 17,5%
De 30 à 34 anos 22 10,7%
De 35 à 64 anos 48 23,3%
De 65 à 74 anos 1 0,5%
De 75 anos e mais 0 0,0%
Não Informado 4 1,9%
TOTAL 206 100,0%
Fonte: Laudos de Necropsia do Instituto de Medicina Legal (IML), Boletins de Ocorrência do SROP e Planilhas
Mensais da DEHPP, 2007.
Elaborado e organização por: Elcio Bueno de Magalhães, 2010.

Analisando a Tabela 2, constata-se que a violência na forma de homicídios


registrados no período recaiu especialmente sobre a população jovem do município. Os
jovens foram majoritamente atingidos, principalmente aqueles cuja idade estava
compreendida entre 18 e 24 anos, a qual respondeu em percentuais por 35,4% do total de
homicídios registrados no ano. De forma menos voraz, mais ainda significativa, as faixas
etárias de 25 a 29 anos, 17,5%; a de 30 a 34 anos, 10,7% e a de 35 a 64 anos, 23,3%
foram atingidas. Estas juntas representaram perfizeram um percentual de 87,0% das
vítimas de homicídios registrados no período.
Pessoas com idades entre 18 e 64 anos em uma sociedade é de extrema valia,
pois, é o grupo economicamente ativo, ou seja, é um grupo composto por pessoas em
condições de trabalho, é a força motriz que gera divisas, além disso, representa o resultado
das ações governamentais materializadas por meio da adoção de políticas de saúde,
educação entre outras. Ceifar esta fatia populacional é atingir de forma contundente a
economia da cidade. São graves os malefícios de eventos de tal magnitude no meio social.
Ter a vida de uma pessoa economicamente ativa tirada, significa não só a quebra de
estrutura familiar, com o ato de desinteirar a família e produzir instabilidade social e
econômica, mas também gerar ônus ao Estado duas vezes, quando do mover deste para
socorrer a vítima, prender suspeito, dar assistência a família de ambos, perde tudo que já
foi investido na pessoa, isto sem considerar as indenizações que possa surgir.
De semelhante importância também são as categorias anterior e posterior as
apresentadas, a vitimização de menores como a de idosos demonstra de certa forma que a
118

violência saiu dos guetos e avançou sobre a família como um todo independente da idade
ou grupo etário que está inserido, ou onde reside. E que como podemos verificar na Tabela
15, estar em casa e frequentar a rua em frente à residência ou simplesmente descuidar da
prole pode significar pertencer ao grupo de risco ou estar em situação de risco. Neste
contexto, é de bom alvitre considerar que a ausência do poder público contribui em muito
para institucionalização de locais de riscos quer seja ele espaço urbano ou rural. Mas a
certeza da não punição pelo ato cometido por parte do criminoso é um elemento a
considerar quando da prática de um crime, ainda mais quando tais atributos se aliam a falta
de valores pessoais. Sem estes, a família, o direito, a vida do outro é um mero detalhe
diante das inúmeras possibilidades e matar alguém é sinônimo de coragem, esperteza,
bravura, mesmo que a vítima seja uma criança, um jovem ou um idoso e que o agente
motivador da ação, seja um olhar reprovador, uma cobrança de atitude, um esbarrão na
rua e até mesmo um simples sorriso.
A tabela 3 apresenta por critério de cor ou raça das vítimas a distribuição dos
homicídios registrados no Município de Cuiabá-MT no ano 2007.

Tabela 3 - Distribuição dos Homicídios registrados em Cuiabá-MT, segundo a Cor ou Raça das Vítimas.

N. de
Cor ou Raça (%)
Homicídios
Branca 36 17,5%
Parda 134 65,0%
Negra 14 6,8%
Não Informado 22 10,6%
TOTAL 206 100,0%
Fonte: Laudos de Necropsia do Instituto de Medicina Legal (IML), Boletins de Ocorrência do SROP e Planilhas
Mensais da DEHPP, 2007.
Elaborado e organizado por: Elcio Bueno de Magalhães, 2010.

Analisando a Tabela 3, constata-se que dos homicídios registrados no


Município de Cuiabá-MT, as vítimas de cor ou raça classificada como parda, foram as mais
atingidas pela forma de violência, 65,0% do total. Em seguida, as classificadas como
brancas, com 17,5%. Por último, as classificadas como negras com 6,8%. Um percentual
de 10,6% das vítimas não teve a cor ou raça identificada ou informada nos documentos
oficiais.
Diante do exposto, verifica-se uma predominância da população de cor ou raça
parda em Cuiabá-MT, em relação aos demais grupos populacionais, isto na condição de
vítimas, especialmente na forma de violência homicídios. Expressando a realidade
119

encontrada na maioria das Unidades Federativas do País. Contudo, caber destacar o fato
desta predominância pode não estar alicerçado na historia de marginalização social a que
o grupo social identificado foi submetido no Brasil, mas também pelo fato de figurarem
como a grande maioria da população do País de um modo geral, ou seja, pela
predominância das pessoas de cor ou parda em relação as demais. A este respeito, o
IBGE (2006, p. 248), aponta que a composição racial do Estado de Mato Grosso era em
2006 de 36,7% para brancos, 7,0% para negros, 55,2% para pardos e 1,1% para amarelos
e indígenas. O estudo não particularizou a composição racial das capitais, todavia, há de
considerar que a composição racial da Capital dificilmente apresentaria uma realidade
diversa a identificada no Estado, isto em razão da sua historia de fundação, que via de
regra se deu sob os auspícios da servidão negra e indígena. Desta forma, pode a cidade
refletir a realidade verificada no Estado, logo, a questão da cor ou raça, também pode não
figurar como um indicador de vulnerabilidade a forma de violência estudada, podendo
assim, a ocorrência de homicídios serem motivado por outros fatores, apesar do grupo ter
atrelado a si a pouca alfabetização se comparado com os de cor ou raça branca, e
consequentemente ocuparem funções e profissões, cujos salários são menores, que
aqueles, além de via de regra, habitarem em sua grande maioria na periferia. Enfim, são
excluídos socialmente, portanto, expostos a violência em maior grau que os brancos, que
por perceberem melhores salários, residem em melhores condições, portanto, não ficam
tão expostos quanto os de cor ou raça parda, cuja história de exclusão remonta a época da
escravidão e perpetuada pelo descaso governamental quando da adoção de políticas
públicas e sociais.
Sobre o envolvimento de pessoas de cor negra em crimes de homicídios no
Brasil, (MONKEN apud SANTOS, 2006, p. 168), destaca: “o risco de mortes por homicídios
é de 87% para negros”. Ainda que pese o fato de que na época a população negra era em
menor número que a população branca, isto em nível de Brasil, conforme destaca (IBGE,
2006, p. 245). Em 2006, segundo IBGE, a composição racial do Brasil era de 49,9% de
brancos e 43,2% de pardos, 6,3% de pretos e 0,7% de amarelos e indígenas, com
tendência de crescimento para os pretos e pardos. Considerando a questão da exposição a
violência na forma de homicídios, a pesquisa do IBGE, mostra que a questão não está
ancorada em números de determinados grupos em relação a outros, cujo, número de
habitantes é superior, portanto é menos vulnerável a forma de violência.
A maior exposição dos negros ou pardos aos homicídios também é encontrada
estudos de Barbosa (1998, p. 100; 101), que ao estudar o perfil da mortalidade nos Estado
120

de São Paulo, chegou a seguinte conclusão “que os índices estatísticos disponíveis à


época sobre mortes violentas revelaram que homens negros tinham maior risco que os
brancos de morrer por homicídios.”
Ainda sobre a participação das pessoas de cor ou raça negra nos crimes de
homicídios, (SOARES FILHO apud SILVA; CARNEIRO, 2009, p. 26), isto com base em
estudos sobre homicídios realizados no ano 2003, afirma:

Os negros apresentavam os maiores índices de mortalidade por


homicídios em todas as regiões brasileiras. Segundo o estudo, 60% dos homicídios
30.841 ocorridos naquele ano foram em áreas metropolitanas, de acordo com a
análise de mortes por região e negros foram as principais vítimas.

Assim, com base nas informações do autor, temos que a violência na forma de
homicídios, tem recaído especialmente nas regiões metropolitanas sobre pessoas de cor
ou raça não branca, portanto, parda ou negra, até porque a classificação de acordo é
democrática, ficando a critério da pela se autodeclarar. Demonstrando com isso, que há
não um grupo de pessoas, mas uma raça humana vulnerável a violência especialmente na
forma de homicídios no seio da sociedade brasileira, cuja causa e fatores de exposição
está a identificar. Seria a história de servidão e opressão e de descaso por parte do
governo a causa da marginalidade hoje? Digo marginalidade no sentido amplo, não só na
questão social, mas criminal também, pois como descendentes de escravos os negros do
Brasil, sempre estiveram a reboque das políticas sociais de governo. A eles sempre
restaram os serviços mais pesados e mal remunerados. Para as mulheres negras, com
raras exceções, trabalho sempre carregou consigo o sinônimo de babá, doméstica,
lavandeira, entre outros, para os homens, porteiros, caseiros, jardineiros, pedreiros, entre
profissões e ocupações.
Os negros do Brasil, sempre estiveram no final da fila no que refere as suas
vontades e necessidades, sempre discriminados, e tendo o trabalho pesado, com jornadas
extras de trabalho. Estudar sempre foi algo que sempre soou como luxo, tanto pela
indisponibilidade de tempo como pela falta de recursos financeiros que fatalmente os
impulsionava ao trabalho para garantir o sustento diário. A exceção tem sido materializada
no Governo do Presidente Lula que com a adoção de políticas sociais alcançou as pessoas
consideradas como de baixa renda beneficiando, com programas como bolsa família, bolsa
escola, bolsa gás, dando a elas qualidade de vida, além de democratizar o acesso a
121

universidade do País através do ENEM, PROUNI e créditos educativos, e programas de


cotas raciais.
Contudo, sabemos que os frutos de tais políticas são de médio em longo prazo,
e que o problema da violência é notável e atual, cuja carruagem da morte já tem sido
arrastada por longas décadas e produzido milhares de vítimas no País, por isso, é iminente
o mover do Estado não de forma paliativa, mas responsável, identificando as causas
motivadoras da violência para combatê-las, não somente como problema de polícia, mas
como problema social que remonta desde o Brasil Colônia.
Ainda sobre a participação do negro em crimes, Kilsztajn et al. (2005, p. 1409),
argumenta:

A questão negra não se resume à questão social. Os negros estão


sobre-representados nas camadas pobres, de baixa escolaridade, no trabalho
infantil, no trabalho informal, nos empregos domésticos (de lavanderia/passador,
lixeiro, varredor etc.); por outro lado, estão excluídos ou sub-representados entre
advogados, juízes, médicos, dentistas, engenheiros, professores universitários etc.
E o valor do rendimento pessoal do trabalho de negros é sempre inferior ao das
demais categorias de raça/cor, mesmo quando se controla o nível de escolaridade
(KILSZTAJN et al., 2005, p. 1409).

Diante do exposto, mesmo contrariando opinião de alguns autores que estudam


o assunto, acredito que o problema da violência recair com maior intensidade sobre as
pessoas de cor ou raça parda ou negra, é de fato um problema social, especialmente
quando se considera as questões da sobre-representação do grupo em termos de
escolaridade, trabalho infantil e informal, empregos domésticos, dentre outras ocupações,
como também quando consideramos a sub-representação entre os advogados, juízes,
dentistas, médicos e outros, como também a questão dos rendimentos que são menores,
mesmo quando o critério escolaridade é equivalente.
Confirmando os argumentos do autor acima citado, (DRUMOND apud
KILSZTAJN et al., 2005, 1412), “aponta que as vítimas fatais da violência em São Paulo
são predominantemente pessoas do sexo masculino, de baixa escolaridade, jovens e
negros”.
Contudo, (HANNON et al. apud KILSZTAJN et al., 2005, 1412), destaca “que
estudo realizado em 134 cidades norte-americanas, concluiu que a variável raça não é
estatisticamente significativa para a taxa de homicídio, quando devidamente controlados os
coeficientes de pobreza”. E argumenta que se controlado a escolaridade, as variáveis
demográficas sexo e idade da vítima, a variável raça deixa de ser estatisticamente
significativa para a questão violência com homicídios e a probabilidade de uma pessoa
122

jovem do sexo masculino com baixa escolaridade ser assassinado é a mesma para negros
e não-negros.
Diante de tais afirmações, é possível entender que o fato de pessoas de cor ou
raça negra figurarem como vítimas ou autores de crimes, não denotam que as pessoas
pertencentes aos referidos grupos pertençam a um elo perdido da sociedade, sujeitos e
prontos a contínua prática de crimes. Tampouco se pode aceitar que pessoas são ou
deixam de ser criminosas, simplesmente pelo fato de pertencer a um determinado grupo
social ou por ser de uma determinada cor, raça ou possuir determinada fisionomia física
como afirmara no passado o lendário criminalista italiano “Lombroso”. Mas que pessoas de
cor ou raça, com as devidas exceções, ocupam esta posição marginal é em razão de sua
história que envolveu servidão, massacres, extermínios, aprisionamentos, segregações,
cujos malefícios, hoje se materializam em analfabetismo, moradias precárias, subempregos
e consequentemente a marginalidade, não porque a raça é predisposta a tal prática, mas
porque as circunstâncias econômicas e sociais oferecidas e negadas os conduzem a tal
situação que queira ou não. Infelizmente para nossa sociedade a cor é um quesito que
simboliza status, sabedoria, beleza, entre outros adjetivos.
A tabela 4 apresenta por estado civil a distribuição dos homicídios registrados
no Município de Cuiabá-MT no ano 2007.

Tabela 4 - Distribuição dos Homicídios registrados em Cuiabá-MT, segundo o Estado Civil das Vítimas.

N. de
Estado Civil (%)
homicídios

Solteiro 171 83,0%


Casado 17 8,2%
Separado Judicialmente 6 3,0%
Viúvo 0 0,0%
União Estável 0 0,0%
Não Informado 12 5,8%
TOTAL 206 100,0%
Fonte: Laudos de Necropsia do Instituto de Medicina Legal (IML), Boletins de Ocorrência do SROP e Planilhas
Mensais da DEHPP, 2007.
Elaborado e organizado por: Elcio Bueno de Magalhães, 2010.

Analisando a Tabela 4, verifica-se que do total de homicídios, 83,0% incidiram


sobre as vítimas, cujo estado civil na época eram solteiras. Seguindo uma lógica
decrescente, 8,2% homicídios recaíram em vítimas casadas; 3,0% em vítimas separadas
123

judicialmente. Outros 5,8% dos homicídios não tiveram o estado civil das vítimas
identificado ou informado.
Este panorama de crimes de homicídios por estado civil das vítimas é de
acordo com (MONKEN apud SANTOS, 2006, p. 169), também encontrado em nível de
Brasil. E a este respeito o autor comenta: “os homicídios são maiores entre solteiros porque
eles se expõem mais, e que os fatores religião e família estruturada diminuem a exposição
a situações de risco.” Isto crê, para os casados!
Ainda sobre o risco de figurarem como vítimas de homicídios em razão do
estado civil, Cruz; Batitucci (2007, p. 91), destaca: “[...] o risco de vitimização é mais baixo
entre os casados do que entre os solteiros”.
Para o mesmo autor, o entendimento dessa relação é dado pela menor
exposição a situações de risco. Os homens casados, tomados em conjunto, se expõem a
situações de risco com menor freqüência do que os solteiros (CRUZ; BATITUCCI, 2007, p.
91).
Na tentativa de melhor explicar a questão do maior ou menor envolvimento em
situações de risco em razão do estado civil da vítima (SOARES; BORGES apud CRUZ;
BATITUCCI, 2007, p. 91), sustentados em dados referentes a homicídios nos Estados de
São Paulo e do Rio de Janeiro, mostram que o grupo de solteiros apresentou uma taxa de
risco mais elevada em todos os grupos de idade.
Quanto ao risco das mulheres serem assassinadas, Cruz; Batitucci (2007, p.
91), destaca que o casamento aumenta de ser assassinada por alguém de dentro de casa
e diminui o risco de serem vitimas de pessoas de fora de casa. Para os autores em geral as
mulheres são assassinadas pelo marido, namorado ou outro tipo de parceiro.
E ainda destaca que do mesmo modo que as mulheres possuem menos riscos
de serem vitimadas por não ficarem expostas em locais e horários de risco. O casamento
também protege homens casados mais do que as mulheres.
Como expôs anteriormente o casamento não diminui o risco de a mulher ser
assassinada, haja vista, que no geral os algozes das mulheres casadas, via de regra são
os próprios companheiros. A proteção da mulher estaria em ela não frequentar locais de
risco como os homens freqüentam. Em contrapartida, o casamento representa para os
homens maior segurança e proteção, pois casados, os homens em tese deixam de
frequentar os locais de risco frequentados quando da época de solteiros.
Deste modo, vale considerar que a questão da violência na forma de
homicídios, segundo o estado civil da vítima, é algo intrigante, pois para o homem o
124

adjetivo solteiro é sinônimo de risco, para o casado, proteção, enquanto que para a mulher,
a situação inverte sendo o casamento uma proteção para eventos externos, mas um risco
internamente, ou seja, como integrante de uma família, a mulher está exposta ao risco de
ser vitimada pelo esposo ou companheiro. Sobre a situação da mulher os autores
asseveram, é no ambiente familiar ou no relacionamento mais próximo, afetivo que vive o
perigo de a mulher ser assassinada, pelo marido, namorado, amante, entre outros.
Além disso, a segurança da mulher na família é agravada quando se considera
a questão da cultura, da religião, pois é neste meio cultural e religioso, especialmente das
famílias adeptas da tradição religiosa judaico-cristã, onde o homem é considerado o
“cabeça” da família, e por isso deve ocupar a direção da casa como um todo, incluindo a
mulher que é percebida como propriedade particular do marido, e qualquer desvio passa a
ser merecedora de castigo, corretivo e é neste emaranhado de cultura, tradição,
autoridade, proprietário e subordinação que surge a agressão física e, consequentemente o
homicídio.
A tabela 5 apresenta por Tempo de Escolaridade a distribuição dos homicídios
registrados no Município de Cuiabá-MT no ano 2007.

Tabela 5 - Distribuição dos Homicídios registrados em Cuiabá-MT, segundo o Tempo de Escolaridade das
Vítimas.
N. de
Tempo de Escolaridade (%)
homicídios
Nenhuma 4 1,9%
De 1 à 3 anos 19 9,2%
De 4 à 7 anos 93 45,1%
De 8 à 11 anos 45 21,8%
De 12 anos e mais 6 2,9%
Não Informado 39 18,9%
TOTAL 206 100,0%
Fonte: Laudos de Necropsia do Instituto de Medicina Legal (IML).
Elaborado e organizado por: Elcio Bueno de Magalhães, 2010.

Analisando a Tabela 5, constata-se que a violência na forma de homicídios tem


atingido em sua grande maioria vítimas com baixo nível de instrução educacional. Se
somarmos as faixas de tempo de escolaridade, como “nenhuma” escolaridade até a faixa
“de 8 a 11 anos, veremos que 78,1% das vítimas de homicídios eram analfabetas (sem
escolaridade); ou possuíam os seguintes tempos de escolaridade (de 1 a 3 anos; de 4 a 7
anos e de 8 a 11 anos), o que na realidade não corresponde ao ensino médio completo, ou
seja, as vítimas em sua grande maioria são pessoas não instruídas e consequentemente
125

não preparadas para o mercado de trabalho, como pode ser observado na (Tabela 6), a
qual demonstra as profissões ou ocupações das vítimas, que via de regra pela natureza
dos serviços exigidos dispensam uma formação escolar aprimorada. Dentre as faixas de
tempo de escolaridade, a de 4 a 7 anos, destacou-se em relação as demais, respondendo
por 45,1% das vítimas da forma de violência homicídios.
Mas a exceção está na faixa das vítimas que possuíam na época da violência 12
anos ou mais tempo de escolaridade, cujo percentual foi de 2,9% das vítimas. Esta faixa de
tempo de escolaridade permite-nos considerar que na pior das hipóteses, as vítimas
possuíam o ensino médio como nível de instrução e na melhor, um curso superior.
Hipótese que pode ser confirmada quando confrontada com os dados da (Tabela 6) que
demonstra um total de três profissões ou ocupações que por sua natureza exige uma
formação de nível superior, como é o caso dos professores, do advogado e do analista de
sistemas, isto desconsiderando os 13 homicídios, cujas vítimas não tiveram a profissão ou
ocupação identificada. Os demais homicídios incidiram sobre 18,9% das vítimas que não
tiveram o tempo de escolaridade identificado ou informado.
Diante do exposto, é possível considerarmos que a violência na forma de
homicídios no Município de Cuiabá-MT, é um evento característico de populações com
baixo nível de escolaridade.
A este respeito, (CÁRDIA; SCHIFFER; ADORNO; POLETO apud SANTOS,
2006, p. 170) em estudos sobre o assunto, verificaram que as taxas de homicídios são
mais elevadas em locais onde há uma concentração de pessoas com baixo nível de
escolaridade.
A realidade verificada em Cuiabá-MT no período considerado não foge a
encontrada pelos autores, pois se considerarmos a categoria cor ou raça com a tempo de
escolaridade, veremos que 71,8% das vítimas da forma de violência foram classificadas
como de cor ou raça parda ou negra, isto segundo os dados contidos na Tabela 3, e 80,9%
com tempo de escolaridade abaixo de 11 anos, ou seja, não possuíam na época do óbito
se quer o ensino médio, demonstrando desta forma a existência de um grupo específico de
pessoas, que em razão das condições sociais tem figurado como grupo de risco, isto para
a violência na forma de homicídios.
A respeito desta ligação de cor ou raça com baixo nível de instrução escolar, o
IBGE (2009, p. 1), aponta que:
126

A população em idade ativa preta ou parda era menos escolarizada que


essa população branca, enquanto os primeiros tinham 7,6 anos de estudo, em
média, os últimos tinham 9,1 anos. [...]. Em março de 2009, foi apurado, também,
que 5,5% das pessoas pretas ou pardas com 10 a 17 anos não frequentavam a
escola (entre os brancos, o percentual era de 4,8%) e 10,0% das que tinham acima
de 18 anos frequentavam ou já freqüentaram curso de nível superior (28,7% para
os brancos).

A pesquisa do IBGE mostra a realidade dos grupos sociais brasileiro por cor ou
raça, e confirma o anteriormente comentado, mostrando a sub-representação das pessoas
de cor ou raça negra, “pretas” como classifica o órgão em questão ou parda, em termos de
escolaridade, isto em relação ao grupo de cor ou raça branca, que no geral são sobre-
representados em termos de escolaridade, bem como nas profissões ou ocupações,
enquanto os demais são sub-representados nas profissões ou ocupações e nos salários.
A tabela 6 apresenta por Profissões e Ocupações das vítimas a distribuição dos
homicídios registrados no Município de Cuiabá-MT no ano 2007.

Tabela 6 - Distribuição dos Homicídios registrados em Cuiabá-MT, segundo as Profissões ou Ocupações das
Vítimas.

N. de
Profissões ou Ocupações (%)
homicídios
Serviços Auxiliares 45 21,8%
Estudantes 32 15,5%
Ocupações da construção civil 26 12,6%
Ocupações com comércio varejista 17 8,2%
Ocupações de reparo de veículos 11 5,3%
Serviços domésticos 8 4,0%
Ocupações da segurança particular 6 3,0%
Autônomo 6 3,0%
Ocupações de escritórios 6 3,0%
Desempregado 5 2,4%
Profissões de ensino superior 4 2,0%
Condutores de veículos 4 2,0%
Ocupações de metalurgia 4 2,0%
Ocupações de serviços de beleza 3 1,4%
Ocupações do comércio ambulante 3 1,4%
Artesão e marceneiro 2 1,0%
Ocupações agrícolas 2 1,0%
Servidor público 2 1,0%
Aposentado 2 1,0%
Frentista 1 0,5%
Ocupações de segurança pública (PM) 1 0,5%
TOTAL 206 100,0%
Fonte: Laudos de Necropsia do Instituto de Medicina Legal (IML).
Elaborado e organizado por: Elcio Bueno de Magalhães, 2010.
127

Cont. Tab. 6
N. de
Profissões ou Ocupações (%)
Homicídios
Militar 1 0,5%
Empresário 1 0,5%
Bancário 1 0,5%
Não Informado 13 6,3%
TOTAL 206 100,0%
Fonte: Laudos de Necropsia do Instituto de Medicina Legal (IML).
Elaborado e organizado por: Elcio Bueno de Magalhães, 2010.

Analisando a Tabela 6, constata-se que a violência na forma de homicídios tem


atingido maciçamente vítimas com baixo perfil ocupacional, pois como podemos observar
21,8%, ocupavam na época da consumação da forma de violência funções nominadas
como serviços auxiliares; 15,5% eram estudantes, 12,6% exerciam ocupações da
construção civil; 8,2% ocupações do comércio varejista; 5,3% ocupações de reparo de
veículos; 4,0% serviços domésticos; 3,0% ocupações da segurança particular; 3,0%
autônomo; 3,0% ocupações de escritórios; 2,4%; desempregado; 2,0% profissões de
ensino superior; 2,0% condutores de veículos; 2,0% ocupações de metalurgia; 1,4%
ocupações de serviço de beleza; 1,4% ocupações de comércio ambulante; 1,0% artesão e
marceneiro; 1,0% ocupações agrícolas; 1,0% servidores públicos e 1,0% aposentados.
Estes juntos perfizeram um percentual de 91,2% dos homicídios.
As demais profissões ou ocupações como (frentista, ocupações de segurança
pública, militar e empresário), responderam por 2,4% do total dos homicídios. Outros 6,3%
não tiveram suas respectivas profissões ou ocupações identificadas ou informadas.
Considerando as categorias identificadas, dentre as várias, a de serviços
auxiliares, estudante e a de ocupações da construção civil, não deixando de dar à devida
importância as demais, estas três profissões ou ocupações possuem uma importância
peculiar, se não social no contexto da forma de violência estudada como de outras
também, pois, não são raras as vezes que a mídia expõe a públicas imagens de acusados
e ao tentar qualificá-lo profissionalmente perguntam ao suspeito ou acusado o que ele faz
da vida, e sem titubear respondem quase na totalidade que são estudantes, pedreiros,
jardineiros, ou algo do gênero. Diante disso, e sem entrar no mérito se a condição de ser
estudante garante alguém como profissionalmente, vale destacar que as categorias, salvo
a de estudante que pode ser provada mediante matrícula ou certificados, as demais,
dificilmente são, pois, a maioria são práticos no ramo e por isso, dificilmente possui um
documento que comprove sua habilidade profissional. Portanto, a profissão de pedreiro
128

subscrita nos boletins de ocorrência policial pode de fato referir a situação ocupacional da
vítima, como também pode ser um tributo ao falecido por parte da família, mesmo sabendo
que nada entendia dom ramo da construção civil e que na verdade era um desocupado,
isto hipoteticamente, pois se assim ocorre, a ocupação de pedreiro e ajudante estaria
sendo jogada ao submundo, tornando-se sinônimo de marginalidade.
Também, verificamos que a maiorias das vítimas ocupavam quando vitimadas,
profissões ou funções que em razão das habilidades e técnicas a serem desempenhadas,
exigiam pouca instrução escolar dos trabalhadores e consequentemente ofereciam baixos
salários.
Neste contexto, somos forçados a retroceder a Tabela 5 que nos mostra que
71,8% das vítimas possuíam se quer o ensino médio completo. Logo, a carência de
instrução escolar é o fio condutor para a marginalização social, pois, sem estudo, as
pessoas são obrigadas a se venderem a custo de baixos salários e consequentemente
morarem na periferia, lugar que pelo descaso do poder público, é carente de infraestrutura
urbana, necessária para o uma vida saudável e tranqüila. E é neste ambiente dominado
pela carência pública e social, que a várias formas de violência se manifesta atingindo a
tudo e a todos. Neste tipo de ambiente, a violência é percebida como uma válvula de
escape quer seja pela ilusão de força e poder, ou pelo ideal de falso conforto e ascensão
social.
E para piorar o quadro, o IBGE (2009, p. 1) mostra em pesquisa mensal de
empregos realizada em março de 2009, a participação da cor na questão das profissões ou
ocupações e aponta:

Considerando as características de trabalho, por posição na ocupação, a


categoria de trabalhadores domésticos foi a que apresentou maior participação de
pretos ou pardos (61,6%). Por agrupamento de atividade, no total das seis regiões
metropolitanas, a construção e os serviços domésticos foram os que mostraram
predominância dos pretos ou pardos, ou seja, 59,6% das pessoas ocupadas na
construção e 61,6% das pessoas ocupadas nos serviços domésticos pertenciam a
esse grupo [...].

O IBGE, contínua mostrando o estado de marginalização social em que as


pessoas de cor ou raça preta ou parda estão inseridas. E destaca a sub-representação no
que refere as profissões ou ocupações ocupadas ou exercidas pelo grupo de pessoas
consideradas, onde, via de regra, trabalham em profissões ou ocupações de risco, mal-
remunerada, que exige grande disposição física e longas jornadas de trabalho como forma
de complementação dos ganhos no fim do mês. Sem falar é claro, que quase sempre
129

trabalham na clandestinidade, pois, no geral não tem a carteira de trabalho assinada,


perpetuando a marginalização social quando da aposentadoria e após ela.
Ainda sobre o por perfil ocupacional das vítimas de homicídios, isto com base
em estudo desenvolvido em Belo Horizonte-MG, (ANDRADE et al., 2003, p. 19) aponta
que a maioria das vítimas de ações criminosas, ocupavam na época da ocorrência do
crime, ocupações da construção civil, esta representada por um percentual de 25,8%,
seguido das ocupações do comércio varejista, com 8,4% e por serviços auxiliares,
ocupações de bares e restaurantes, condutores de veículos, ocupações de reparação e
manutenção em geral. Destas, apenas 7,0% possuíam registro da atividade no mercado de
trabalho, ou seja, uma parcela considerável das vítimas enquadrava-se como
subempregados.
A tabela 7 apresenta por Local de Origem (Naturalidade) das vítimas a
distribuição dos homicídios registrados no Município de Cuiabá-MT no ano 2007.

Tabela 7 - Distribuição dos homicídios registrados em Cuiabá-MT, segundo o Local de Origem das Vítimas.

N. de
Local de origem (%)
Homicídios
Mato Grosso 139 67,5%
Paraná 10 4,8%
Mato Grosso do Sul 9 4,4%
São Paulo 9 4,4%
Ceará 4 1,9%
Minas Gerais 4 1,9%
Pará 4 1,9%
Goiás 2 1,0%
Bahia 2 1,0%
Rondônia 2 1,0%
Acre 2 1,0%
Amazonas 1 0,5%
Espírito Santo 1 0,5%
Alagoas 1 0,5%
Maranhão 1 0,5%
Distrito Federal 1 0,5%
Santa Catarina 1 0,5%
Rio Grande do Sul 1 0,5%
Não Informado 12 5,8%
TOTAL 206 100,%
Fonte: Laudos de Necropsia de Instituto de Medicina Legal (IML), 2007.
Elaborado e organizado por: Elcio Bueno de Magalhães, 2010.
130

Analisando a Tabela 7, constata-se que a violência na forma de homicídios tem


atingindo na grande maioria, vítima, cujo local de origem (nascimento é o próprio Estado de
Mato Grosso, especialmente o Município de Cuiabá), com um percentual de 67,5%;
seguida das vítimas naturais do Estado do Paraná, com 4,8%; Mato Grosso do Sul e São
Paulo, com 4,4% cada; Ceará, Minas Gerais e Pará, com 1,9% cada; Goiás, Bahia,
Rondônia e Acre com 1,0% cada; Amazonas, Espírito Santo, Alagoas, Maranhão, Distrito
Federal, Santa Catarina e Rio Grande do Sul com 0,5% cada. Valendo destacar que outras
5,8% das vítimas não tiveram o local de origem identificado ou informado.
Diante, do exposto, verifica-se que a violência na forma de homicídios em
Cuiabá-MT se apresenta como um fenômeno não atrelado a conflitos culturais, étnicos e
racistas, haja vista que a grande maioria das vítimas é natural do próprio estado,
especialmente da área de estudo. As outras 17 Unidades Federativas (UFs) responderam
juntas com 26,6% vítimas de homicídios, com destaque para os Estados do Paraná, Mato
Grosso do Sul e São Paulo, que juntas somaram 28 vítimas.
Se considerarmos a migração de outros estados para Cuiabá, verifica-se que a
área de estudo tem recebido migrantes de municípios do próprio estado e de outros
estados como do Paraná e de São Paulo entre outros, cuja migração remonta desde a
descoberta das minas de ouro quando da chegada dos bandeirantes, sendo esta
incentivada por políticas governamentais como a “Marcha para o Oeste”, na “Era Vargas” e
na década de 70 e 80 através de políticas de integração nacional também implementada
pelo Governo Federal que objetivava anexar os grandes vazios demográficos ao processo
produtivo nacional.
Em razão destas políticas governamentais, o Estado de Mato Grosso apresenta
esta rica composição étnica, resultante do processo migratório como podemos verificar
abaixo no Quadro 4.
Anos
Estado de origem Total
2002 2003 2004 2005
Mato Grosso 176 140 196 168 680
Paraná 117 144 97 129 487
São Paulo 123 128 109 101 461
Minas Gerais 63 64 66 79 272
Total 806 772 775 859 3212
Quadro 4 - Número de migrantes atendidos pelo Centro da Pastoral para Migrantes, segundo o Estado de
Naturalidade.
Fonte: Adaptado, CPM, 2007.
Elaborado e organizado por: Elcio Bueno de Magalhães, 2010.
131

Cont. Quadro 4.
Anos
Estado de origem Total
2002 2003 2004 2005
Maranhão 55 47 67 74 243
Bahia 62 53 51 47 213
Mato Grosso do Sul 44 50 41 67 202
Goiás 36 32 41 49 158
Rio Grande do Sul 23 30 26 31 110
Rondônia 37 20 9 26 92
Ceará 27 18 11 21 77
Santa Catarina 20 11 19 11 61
Pará 6 12 23 13 54
Espírito Santo 6 17 6 16 45
Amazonas 6 3 5 15 29
Distrito Federal 3 3 5 6 17
Acre 2 0 3 6 11
Total 806 772 775 859 3212
Quadro 5 - Número de migrantes atendidos pelo Centro da Pastoral para Migrantes, segundo o Estado de
Naturalidade.
Fonte: Adaptado, CPM, 2007.
Elaborado e organizado por: Elcio Bueno de Magalhães, 2010.

Sobre a presença de migrantes em Cuiabá, oriundos de diversas partes do


País, o Município de Cuiabá expressa à realidade dos fluxos migratórios inter-regionais.
Como se pode constatar, de acordo com Camarano; Beltrão (2000, p. 7), os migrantes
oriundos da região Sul tiveram como destino preferencial as regiões Centro-Oeste e
Sudeste, isto, no período de 1991 a 1996. Por isso, é comum que migrantes figurem como
vítimas de violência na cidade de Cuiabá.
A tabela 8 apresenta por Local de Residência das vítimas a distribuição dos
homicídios registrados no Município de Cuiabá-MT no ano 2007.
132

Tabela 8 - Distribuição dos Homicídios registrados em Cuiabá-MT, segundo o Local de Residência das Vítimas.

N. de
Local de Residência (%)
Homicídios
Mato Grosso 189 91,7%
Mato Grosso do Sul 2 1,0%
São Paulo 1 0,5%
Acre 1 0,5%
Alagoas 1 0,5%
Rondônia 1 0,5%
Não Informado 11 5,3%
TOTAL 206 100,0%
Fonte: Laudos de Necropsia de Instituto de Medicina Legal (IML), 2007.
Elaborado e organizado por: Elcio Bueno de Magalhães, 2010.

Analisando a Tabela 8 constata-se que do total de vítimas de homicídios, 91,7%


residiam no Estado de Mato Grosso; 1,0% em Mato Grosso do Sul; 0,5% em São Paulo;
0,5% no Acre; 0,5% no Alagoas; 0,5% em Rondônia. Outros 5,3% não tiveram o local de
residência identificado ou informado.
Diante disso, é possível considerar que a violência na forma de homicídio
registrada no Município de Cuiabá-MT, no ano 2007, é um tipo de violência doméstica, ou
seja, circunscrita majoritariamente a população natural ou residente cidade. Realidade que
nos faz considerar que a forma de violência estudada, não é resultante de choque cultural
entre pessoas das diversas Unidades da Federação (UF), até então, porque é irrelevante a
participação de pessoas de outras UFs. Logo, as causas da forma de violência estão no
modo de se relacionar das pessoas, cujos valores pessoais ruíram, pois é comum pessoas
se matarem por coisas banais, como um esbarrão, um sorriso, o ato derramar um copo de
cerveja, uma fechada no caótico transito da cidade e até em razão de uma entrada forte
num jogo de futebol. Para morrer assassinado em Cuiabá a pessoa não precisa fazer muita
coisa, talvez parassem o sinal vermelho e parar o veículo numa faixa de pedestre para um
transeunte passar pode ser um grande motivo para sofrer a agressão fatal por parte de um
motorista qualquer que acha que tal ato é uma ofensa a sua pessoa e que ofensa a sua
pessoa.
No entanto, é necessário esclarecer que “morrer em Cuiabá não é sinônimo de
residir em Cuiabá”, pois as vítimas podem ter sido mortas quando por aqui passavam de
viagem, ou por estarem a passeio ou a serviço, ou algo do gênero. Portanto, se
subtrairmos este percentual do total de naturais de Mato Grosso, tem um percentual de
24,2% de vítimas não naturais, mais residentes em Mato Grosso, portanto migrante. Neste
133

caso, as demais vítimas não teria tido o local de origem ou o local de residência identificado
ou informado.
Portanto, se, considerarmos os 91,7% das vítimas residentes em Mato Grosso
e mortas em Cuiabá mais os 5,3%, cujos locais de residência não foram identificados,
teríamos um percentual de 97,0% de vítimas residentes em Mato e assassinada em
Cuiabá. Mas, se deste percentual tirar os 73,3% considerados naturais, incluindo é claro as
vítimas com os locais de origem não informada ou identificada teriam um percentual de
23,7% de migrantes residindo em Mato Grosso, e apenas 2,9% que residiam fora deste
Estado quando foram vitimados. Porém, se considerarmos como residentes em Mato
Grosso apenas os 91,7% e deste subtrairmos os 67,5% reconhecidamente naturais de
Mato Grosso, teríamos um percentual de 24,2% de migrantes que residiam no Estado
quando foram assassinados em Cuiabá.
Depois de considerarmos o perfil das vítimas da forma de violência,
consideraremos a seguir a dimensão contextual em que ocorreu a violência, isto é os
motivos e circunstâncias em que ocorreram os homicídios no Município de Cuiabá-MT.

4.2 A DIMENSÃO CONTEXTUAL DOS CRIMES DE HOMICÍDIOS

Sabendo que a violência é algo inerente a pessoa humana, temos também que
sua ocorrência, ou seja, sua eclosão e consumação em determinado espaço e tempo é
resultante de circunstâncias e eventos motivadores, que podem ser em razão de conflitos
de opiniões, como também da falta de valores, onde qualquer ato ou atitude pode alimentar
agressões morais e físicas contra os semelhantes, especialmente quando tais conflitos
ocorrem em ambientes que imperam o uso e consumo de bebidas alcoólicas e substâncias
entorpecentes. E neste contexto, o meio, ou seja, o instrumento a ser empregado, neste
caso denominado “agente da causa morte”, é elemento preponderante para a consumação
de um crime, especificamente do homicídio em si, que é consumado com o ato de tirar a
vida da pessoa humana.
Sem o agente da causa morte a disposição, especialmente a arma de fogo,
muitos conflitos, muitos dos homicídios dificilmente seriam consumados, salvos os casos
extremos, quando o agressor utiliza de qualquer instrumento para sua prática. A arma de
fogo faz a pessoa sentir-se dona da situação, além de dotá-la da falsa noção de poder
sobre aquele que figura como oponente e consequentemente, fazendo com que um
conflito que poderia ter sido extinto pela via da democracia, finda da forma mais extrema,
134

ou seja, com a morte de uma das partes beligerantes, quando não de terceiros sem se
quer ter se envolvido no conflito, ou de ambas as partes envolvidas.
A Tabela 9 apresenta por Motivação de Crime a distribuição dos homicídios
registrados no Município de Cuiabá-MT no ano 2007.

Tabela 9 - Distribuição dos homicídios registrados em Cuiabá-MT, segundo a Motivação do Crime.

N. de
Motivação do Crime (%)
Homicídios
A apurar 67 32,5%
Rixa/Acertos de conta 40 19,4%
Envolvimento com drogas 34 16,5%
Fútil/Briga/Briga em Bar 23 11,2%
Vingança 16 7,8%
Passional 7 3,4%
Briga Familiar 2 1,0%
Bala perdida 2 1,0%
Confronto com a Polícia 2 1,0%
Dívida 2 1,0%
Ambição 2 1,0%
Disparo acidental 1 0,5%
Crime de mando 1 0,5%
Execução 1 0,5%
Tentativa de furto de veiculo 1 0,5%
Tentativa de roubo 1 0,5%
Disputa por terra 1 0,5%
Não Informado 3 1,5%
TOTAL 206 100,0%
Fonte: Planilhas mensais de homicídios da DEHPP, 2007.
Elaborado e organizado por: Elcio Bueno de Magalhães, 2010.

Analisando a Tabela 9 constata-se que do total de homicídios, 32,5% não


tiveram a motivação identificada, quando da coleta de dados, portanto consta como “a
apurar”, ou seja, depende de investigação policial, o que ocorre oficialmente após
instauração de Inquérito Policial (IP). Contudo, inquéritos são arquivados sem uma solução,
processos abarrotam os cartórios dos fóruns e tribunais anos a fio sem serem julgados e
mais, as estatísticas, mesmo da DEHPP/PJC não são atualizadas segundo as conclusões
dos IPs e dos julgamentos dos processos criminais.
Desta forma, os dados referentes a esta variável aqui utilizada, são sustentados
apenas nos dados das Planilhas Mensais de Homicídios da DEHPP, podendo, portanto,
apresentar um panorama totalmente diverso se confrontados com dados dos Boletins de
Ocorrência como dos Inquéritos Policiais e Processos Criminais transitados em julgado.
135

Mas ainda considerando os das categorias consideradas da variável “motivação


do crime”, em segundo lugar verificou-se a motivação “rixa/acertos de contas”, com 19,4%
dos homicídios registrados. Motivação esta, geralmente resultante de conflitos banais,
discussão sem uma motivação clara, que acaba por produzir a morte de uma das partes,
quer seja no local e hora da ocorrência do conflito, logo após ou dias após, quer seja por
medo da outra parte ou simplesmente como ato de demonstração de força, coragem,
braveza ou vingança.
Em terceiro lugar, a motivação “envolvimento com drogas” incidiu em 16,5%
dos homicídios. Esta por sua natureza e característica, assemelha à anterior, pois também
usa da prática de acertos de contas como meio de solução de conflitos, disputas em geral,
como também para demonstrar força, dominar território, sanar dívidas, eliminar
concorrentes, e correção de atitudes, isto quando alguns dos envolvidos deixam de
satisfazer as exigências do chefe ou tenta trapaceá-lo, subtraindo substâncias tóxicas,
fazendo acordos com concorrentes, entre outras situações. Para este caso em especial, a
morte é um tipo de punição exemplar, um aviso aos demais membros, caso planejam agir
de modo semelhante.
O único documento oficial que poderia comprovar se a vítima era ou não
usuária de algum tipo de entorpecente, é o Laudo de Necropsia, portanto, para que tal
informação conste no referido documento, faz necessário que a autoridade policial
presidente do Inquérito Policial o requeira junto ao IML da POLITEC-MT, que o fará como
laudo complementar que será apensado ao principal. No entanto, quando da coleta de
dados neste órgão, foi comum verificar as requisições, tanto deste exame em específico,
como de outros, porém, raramente havia nos laudos, outro complementando o anterior com
tais dados, no que diz respeito a esta temática.
E razão desta falta, considerou-se apenas os dados das Planilhas da DEHPP,
que com base em investigações policiais, afirma que o crime ocorreu em razão do
envolvimento da vítima com o tipo de crime em particular, ou seja, uso ou tráfico de drogas.
Do mesmo modo, é comum verificar nos Boletins de Ocorrência, tanto da PJC, como da
PM dados que apontam que a vítima era usuária de drogas e que a motivação do crime foi
em decorrência do envolvimento com drogas ou por outras razões. Contudo, há de
destacar que estes dados são de caráter preliminar, pois via de regra tais dados são
colhidos no local de ocorrência do crime, quando do registro do BO, segundo informações
prestadas por populares e familiares.
136

A quarta motivação, “fútil/briga/briga em bar”, respondeu por 11,2% dos


homicídios, sendo esta em geral, resultado de conflitos sem grande fundamento, como as
anteriores, que por incapacidade de gerenciar conflitos, quer por razões da influência de
álcool ou entorpecentes os autores da forma de violência findam agredindo um ao outro a
ponto de tirar a vida de um amigo de bar, de parentes e de estranhos.
Sobre esta motivação em específico, Ferreira (1998, p. 73), comenta que é
resultado de uma discussão, cujas razões a primeira vista parecem não ter muita
importância, e neste contexto, a morte é percebida como uma solução extremada para o
conflito. E, apesar de envolver marginais no conflito, nem sempre a motivação que resultou
em morte possui ligação com o mundo do crime. Portanto, um homicídio que é resultado de
um conflito, cujas razões eram fúteis, envolve coisas do cotidiano, onde homens comuns
(sem envolvimento com o crime) mataram homens comuns, homens comuns mataram
bandidos, bandidos mataram homens comuns, bandidos mataram bandidos por
discussões cotidianas.
Desta forma, as quatro primeiras motivações dispostas na tabela, com exceção
da motivação “a apurar”, perfizeram 47,1% homicídios. As demais motivações, como
vingança respondeu por 7,8%; passional, por 3,4%; briga familiar, por 1,0%; bala perdida,
por 1,0%; confronto com a polícia, por 1,0%; dívida, por 1,0%; ambição, por 1,0%; disparo
acidental, por 0,5%; crime de mando, por 0,5%; execução, por 0,5%; tentativa de furto de
veículo, por 0,5%; tentativa de roubo, por 0,5%; disputa por terra, por 0,5% e não
informado, por 1,5%, respondendo estas categorias por 20,4% dos homicídios.
Isto mostra que em geral, o problema da ocorrência de homicídios em Cuiabá-
MT, especialmente no espaço urbano, é resultado de futilidades, resultantes de conflitos
travados em bares e lanchonetes, shows, rua e em residências, recheados pelo
envolvimento dos autores com drogas lícitas e ilícitas. Desta forma, tem-se que os
elementos geradores da forma de violência homicídios em Cuiabá-MT, é a droga
(maconha, cocaína, álcool e outras), acompanhado do processo de anomia presente na
sociedade que tem levado a banalização social, da perda de valores, onde tudo é
passageiro e substituível.
É claro, que no meio desta ceara não devemos esquecer a desestruturação da
família, seguida da latente terceirização do lar, onde os pais deixaram de cumprir suas
funções de chefes de família, delegando tal função a terceiros como (secretárias,
domésticas, babás, professores entre outros profissionais), para dedicarem a profissões ou
ocupações externas aos lares, passando o dia todo fora de casa, tornando-se quase que
137

estranhos na própria família, pois se quer participam das fases de desenvolvimento dos
filhos, e consequentemente a família se forma sem vínculos de afetividade, sem um
referencial sólido a ser seguido na vida.
Além disso, não devemos esquecer a deficiente ou inexistente distribuição de
renda, que massacra há séculos a maioria da população brasileira, contribuindo para a
manutenção do “status quo” de uma minoria e a miséria da grande maioria, forçando a fuga
dos pais e mães ao mercado de trabalho como forma de complementar a renda mensal e
custear a despesas familiares, gerando consequentemente o que acima foi exposto.
Parte desta realidade pode ser sanada e controlada com a adoção de políticas
públicas, social séria que promova a distribuição de renda gere empregos, construa
moradias dignas, oferte educação gratuita e de qualidade, bem como assistência médica e
psicológica a população e especialmente aos dependentes e usuários de entorpecentes.
Além disso, é necessário que combata todo o ciclo de produção de drogas naturais e
sintéticas e adote medidas de controle de venda de bebidas a pessoas, por lugares,
horários em específico, como shows e eventos que em geral atrai multidões de pessoas,
ambiente perfeito para eclosão de violências nas mais variadas formas.
Sobre os motivos que levam a ocorrência de um homicídio, Santos (2006, p.
199; 200), diz: “o uso de drogas condiciona a prática de diversos crimes, tais como roubos,
latrocínios e homicídios”, e ainda destaca que “pelo fato do homicídio ser um crime
complexo e multifatorial, dificilmente apresentará uma única causa.” E compreendê-lo não é
algo fácil, pois suas características são diversas, especialmente no que refere ao fator
motivador da agressão. Que para entender os homicídios, “faz-se necessário contextualizar
os dados sobre os mesmos, pois são as relações sociais que evidenciam e caracterizam o
espaço geográfico e os fenômenos sociais neles desencadeados”
E, na busca de entender a relação do envolvimento com drogas e o crime de
homicídios, (GOLDSTEIN apud FILHO et al., 2001) em estudos realizados no Estado de
Nova Yorque, identificou três maneiras pelas quais os homicídios eram associadas às
drogas no ano de 1984: 25% eram homicídios psicofarmacológicos, cometidos sob pesada
intoxicação de álcool ou de drogas; 10% foram homicídios sistêmicos, perpetrados entre
pessoas envolvidas em redes de venda de drogas; menos de 2% referiam-se à modalidade
compulsiva econômica, cometidos no decurso de roubos e assaltos a cidadãos comuns.
Assim, entendendo as drogas como um problema que em muito tem
contribuído para a ocorrência de homicídios e que o seu combate pode resultar em
diminuição do tipo de violência, (LARANJEIRAS apud SANTOS, 2006, p. 198), argumenta
138

que para combater as drogas e as suas consequências, é necessário conhecer os fatores


de risco para atuar sobre eles. Dessa forma, o autor afirma que quanto mais droga houver
em um determinado espaço e quanto mais organizado for o tráfico, desorganizada será a
polícia, e desestruturado o controle social desse espaço, e maior é o risco de adolescentes
e jovens usarem drogas.
Ainda sobre a questão da droga e os homicídios, (LARANJEIRAS apud
SANTOS, 2006, p. 198), afirmam que o problema a ser enfrentado pelas corporações
policiais no combate à droga é a questão do aumento da oferta desse produto, causado
pela diminuição acentuada do seu preço. Com isso, os pontos de venda aumentam e a
probabilidade de se fazer usuários torna-se maior.
Nesta ótica, o autor nos leva a considerar que a desvalorização do produto no
mercado contribui para sua proliferação no terreno e consequentemente aumento dos
usuários, pois, com baixo valor ela torna-se acessível a um grupo maior de pessoas e
consequentemente a busca incessante do produto para atender a demanda do mercado.
Ou seja, o combate da droga não está somente no impedimento da ação do plantador, do
traficante que traz a droga para a cidade, mas também no combate aos responsáveis pela
distribuição interna, como também dos usuários, que figuram como traficantes, além do
tratamento dos viciados crônicos, pois são deles que depende o sucesso dos plantadores e
dos traficantes.
E ainda pensando sobre o controle do produto droga, apontado como um
problema a ser combatido, especialmente no que refere ao objetivo de diminuir o número
de homicídios no espaço urbano (LARANJEIRAS apud SANTOS, 2006, p. 199), aponta
que a polícia deve mapear os pontos de venda da droga com o intuito de tentar,
estrategicamente isolar de forma progressiva os pontos de tráfico no sentido de eliminá-los,
levando ao aumento dos preços e consequentemente a diminuição do consumo.
Para o autor seria o mapeamento dos pontos de drogas um instrumento para
adoção de ações estratégicas de combate a venda de drogas. O autor prega o isolamento
das áreas foco, impedindo a entrada do produto, levando a extinção da prática criminosa
ligada ao tráfico pela ausência do produto droga.
A ideia é válida, contudo, é necessário considerar se as instituições policiais
têm condições de assim proceder, se contará com respaldo da sociedade, pois, há de
considerar que o comércio da droga em muitos locais é o principal agente fomentador da
economia, e seu impedimento gerará crises locais e consequentemente o
descontentamento de grande parte da população que recairá especialmente sobre a polícia
139

e especificamente sobre os policiais que via de regra sofrerá ataques das mais variadas
formas, tudo para por em xeque a forma de agir adotada pelas instituições policiais, bem
como a idoneidade da instituição e de seus agentes. Além disso, é necessário considerar a
migração da atividade criminosa para outras formas de crimes, até então inexistentes no
local, como, por exemplo, o homicídio, pela via da pistolagem. Também é questionável a
alegação do autor quando afirma que o encarecimento da droga em razão do cercamento
imposto pelos órgãos policiais servirá como agente desmotivador da atividade criminosa.
Entendo que o cercamento valorizará ainda mais o produto e consequentemente
encorajará os traficantes a manter a atividade pelo lucro obtido, pois com preço elevado, e
escassez do produto aumentará a procura, isto é a lógica da “lei da oferta e da procura”, e
traficar numa realidade assim é algo rentável, compensador, ainda mais quando da
incerteza de punição por parte do judiciário.
Diante disso, é necessário considerar que o produto droga, especialmente a
maconha e cocaína, não figura como problema a ser combatido apenas pelos órgãos de
segurança local, mas o regional e nacional, além de envolver os demais órgãos da
administração pública, bem como a sociedade como um todo. O combate deve focar todos
os envolvidos na modalidade de crime, desde o usuário na base da pirâmide até o
financiador da atividade que no geral não aparece na teia da organização criminosa. Enfim,
é necessário desarticular as redes criminosas que tem no comércio de drogas, sua
profissão, que tem conduzido jovens e adultos ao vício, à criminalidade, à prisão e
consequentemente a morte.
Porém, em vez de combater, a nova lei de drogas, a Lei n. 11.343, de 23 ago.
2006, que instituiu o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD),
parece caminhar na contramão do discurso de antemão propagado, pois em vez
criminalizar totalmente o uso e o comércio, pensou em tratar os elos deste mal de forma e
com pesos diferenciados, quando praticamente isentou de culpa o usuário, conforme está
previsto no artigo 28, inciso I,II, III e § 1º, que diz o seguinte:

Artigo 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou


trouxer contigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo
com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas: I -
advertência sobre os efeitos das drogas; II – prestação de serviços à comunidade;
III – medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. § 1º Às
mesmas medidas submete-se quem para seu consumo pessoal, semeia, cultiva ou
colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de substância ou
produto capaz de causar dependência física ou psíquica.
140

Assim, percebe-se que ao aprovarem esta lei, os legisladores esqueceram que


o usuário e traficante são elementos de utilidade impar para a efetivação da drogatização
da sociedade, sem um o outro sucumbe. Também é necessário esclarecer que o combate
ao tipo de crime não está apenas em mapear locais de ocorrência como muitos
desavisados afirmam. Além disso, é necessário ter em mente que a produção de mapas
referente às formas de violência serve apenas como instrumento que subsidia a adoção de
estratégias de combate como muitos outros instrumentos. Dentre outras funcionalidades, o
mapa mostra onde concentra os eventos a serem combatidos ou controlados. Agora se a
informação mostrada é válida ou não depende do compromisso e da habilidade de quem a
coleta e sistematiza. E mais, é preciso aceitar que o problema em questão não se resolve
apenas com o agir isolado dos órgãos de segurança pública.
Outro ponto a ser considerado no estudo dos homicídios, especificamente é o
agente da causa morte, pois este contribui em muito para a prática e consumação da
violência na forma de homicídios.
Assim, neste contexto, a Tabela 10 apresenta por Agente da Causa Morte, a
distribuição dos homicídios registrados no Município de Cuiabá-MT, ano 2007.

Tabela 10 - Distribuição dos homicídios registrados em Cuiabá-MT, segundo o Agente da Causa Morte.

N. de
Agente da Causa Morte (%)
Homicídios

Instrumentos Perfuram Contundentes (Arma de Fogo) 158 76,6%


Instrumento Perfuram Cortantes (Arma Branca) 25 12,1%
Força Física 6 3,0%
Instrumento Contundente (Não Identificado) 5 2,4%
Pedaço de madeira 4 2,0%
Pedra 2 1,0%
Arma artesanal (chuço) 1 0,5%
Machado 1 0,5%
Facão 1 0,5%
Cabo de energia (fio) 1 0,5%
Meio Líquido (Água) 1 0,5%
Não Informado 1 0,5%
TOTAL 206 100,0%
Fonte: Laudos de Necropsia de Instituto de Medicina Legal (IML) e Planilhas Mensais da DEHPP, 2007.
Elaborado e organizado por: Elcio Bueno de Magalhães, 2010.

Analisando a Tabela 10, constata-se que do total de homicídios registrados,


76,6%, foram consumados com uso de arma de fogo; 12,1%, com uso de arma branca;
3,0%, com emprego da força física; 2,4%, com instrumento contundente, que pode ser
141

pedra, pedaço de madeira ou outro objeto o qual não foi identificado; 2,0%, com pedaço de
madeira; 1,0%, com pedra; 0,5%, com arma artesanal (chuço); 0,5%, com machado; 0,5%,
com facão; 0,5%, com cabo de energia (fio); 0,5%, com meio líquido (água). E, outros 0,5%
dos homicídios não tiveram o agente da causa morte informado ou identificado.
Quanto ao uso de armas de fogo na prática de homicídios, tem-se que não é
algo restrito aos limites do Município de Cuiabá, nem tampouco a divisa do Estado de Mato
Grosso. Sobre este fato, (MESQUITA NETO, 2001 PERES, 2004; PERES; SANTOS,
2005; WAISELFISZ, 2005), dentre outros, comprovaram essa é uma tendência tanto no
Brasil, como no restante do mundo.
No entanto, apesar do grande número de vítimas provocado pelo emprego da
arma de fogo na solução de conflitos, a população brasileira votou contra a proibição do
comércio de armas de fogo e munições, no referendo realizado em outubro de 2006 no
Brasil. Da população, 63, 94% votaram contra o desarmamento, e apenas 36,06% votaram
a favor da proibição (REFERENDO..., 2005).
A este respeito, ou seja, arma de fogo e as mortes por ela produzidas,
(SANTOS, 2006, p. 173), comenta:

Sabe-se que a solução para a diminuição das mortes por armas de fogo
no Brasil perpassa por vários fatores, e não se restringem apenas à proibição do
seu porte ou à fabricação de munições. É necessário que haja uma mudança
cultural, ou seja, a arma de fogo representa um símbolo de superioridade, de
domínio e autoridade, sobretudo para os homens que, desde a infância, querem
divertir-se com armas de fogo de brinquedo, respondendo a modelos observados
na sociedade, tanto por meio direto quanto por meio de representações culturais
(programas de televisão e cinema) ou por outras mídias.

Face aos argumentos do autor, só nos resta concordar e contribuir com o seu
pensamento e acrescentar que portar arma de fogo em nosso País é algo cultural, é
símbolo de força, poder e autoridade. Apenas a proibição do porte e da fabricação não
seria suficiente para manter a sociedade desarmada, especialmente quando consideramos
a imensa fronteira do Brasil com diversos outros países, dentre eles o Paraguai e a Bolívia
que representa um corredor aberto para entrada de armas, munições e drogas. A proibição
de porte e fabricação seria um grande passo para o desarmamento, se primeiramente
fôssemos capazes de barrar a entrada dos referidos produtos e ferramentas por meio de
nossas fronteiras, depois disso, para se ter uma sociedade desarmada e pacífica seria
necessário mudança dos valores hoje incrustados na sociedade. Creio que um passo
importantíssimo neste cenário seria investindo maciçamente na educação, de modo que
142

nos brasileiros tornássemos capazes de pensar e tomar decisões sensatas em situações


de crises e restrições.
Para (REISS; FERNADES et al. apud PERES, 2004, p. 33) a contribuição das
armas de fogo para a taxa de violência varia em diferentes países e está relacionada a
vários fatores tais como legislação, organização e eficiência dos sistemas judicial e policial,
mercado ilegal de armas, tráfico de drogas, cultura da violência e processos sociais, como
urbanização, exclusão social e mudanças nas estruturas demográficas e familiares, as
influenciam em muito no aumento da violência como um todo.
Desta forma, segundo Peres (2004, p. 33) a violência por armas de fogo faz
parte de um problema mais complexo, que é o aumento da violência e da atividade criminal
como um fato global.
É fato que as armas de fogo incrementam a prática da violência, dando a seus
detentores a capacidade de enfrentamento do poder constituído e até de subjulgamento ou
do estabelecimento de poderes paralelos, como podemos citar as organizações criminosas
que se autodenominam Comando Vermelho (CV), Primeiro Comando da Capital (PCC),
entre outras em nível de Brasil, como em nível de mundo, que constantemente tem
desestabilizado o poder de Estado, com suas práticas terroristas.
Diante disso, autores, como (COOK, 1978; KELLERMAN, 1993; MULLER;
HAMENWAI, 2002; WIEBE, 2003) ressaltam a importância da disponibilidade de armas de
fogo como um fator de risco no que tange a mortes violentas, e sustentam que o controle
da disponibilidade e uso de armas de fogo ajudará a diminuir as taxas de violência.
O autor em questão é sensato ao expor tais opiniões acerca da disponibilidade
de armas de fogo na sociedade e a ocorrência de mortes violentas, e, no que concerne a
esta realidade, somos forçados concordar com o autor em questão e ratificar a
necessidade de adoção de políticas de controle do uso e posse das armas de fogo a
apenas servidores, cuja função justifica a posse e o porte como é o caso dos policiais, dos
membros do Ministério Público, e magistrados, isto mediante um criterioso e contínuo
preparo profissional. Conceder portes de armas de fogo a cidadãos comuns é contribuir
para o surgimento de forças contrárias aos interesses da coletividade e consequentemente
do Estado que por lei detém o poder de polícia.
Quanto ao emprego de outros agentes da causa morte na prática de
homicídios, com arma branca (tipo faca), força física, instrumento contundente, dentre eles
pedaços de madeiras e pedras, pode em parte refletir a ausência da arma de fogo, fazendo
com que o agressor quando do surgimento do conflito recorresse a outros meios para
143

alcançar o intento que era a morte do oponente, ou simplesmente reflete o já anteriormente


dito, que a violência está no ser humano e o acompanha desde a sua origem, quer seja o
homem fruto da teoria evolucionista, ou da teoria criacionista. E neste contexto, as armas
utilizadas para a prática da violência serviram e servem apenas como instrumentos de
consumação dos intentos do homem que o acompanha desde tempos imemoriais. E claro
que o homem no decorrer dos tempos procurou aperfeiçoar as técnicas e práticas da
violência querem seja ela utilizada para defesa ou ataque, e neste meio, as armas foram
sendo melhoradas. Um exemplo disso são as armas de fogo, cada vez mais práticas e
eficazes na produção de vítimas fatais.
Importante como os agentes da causa morte para o estudo dos homicídios, são
o tempo da ocorrência, como veremos a seguir.

4.3 A DIMENSÃO TEMPORAL DOS CRIMES DE HOMICÍDIOS

Com o objetivo de identificar e caracterizar o tempo de ocorrência dos


homicídios no Município de Cuiabá-MT no ano 2007 apresentará a seguir o variável mês
do ano, dia da semana e horário de ocorrência, pois se entende que a partir destas
variáveis é possível ter um panorama real da concentração da forma de violência, em
relação ao tempo cronológico das ocorrências da forma de violência estudada.
Além disso, é possível também saber se os homicídios são eventos
característicos de determinada época do ano, dia da semana e faixa de horário do dia. E a
partir de então, sugerir adoção de medidas de controle, podendo, neste caso,
especialmente a Polícia Militar reforçar o policiamento ostensivo nos meses, dias da
semana e horários identificados como críticos, ou seja, sujeitos a ocorrência da forma de
violência em questão, evitando que onere os cofres públicos com policiamentos
desfocados, ganhando com isso também a confiança da sociedade pelo êxito dos serviços
executados. Sustentados em dados que expressam a realidade da forma de violência
registrada, também é possível adotar estratégias de policiamento com reforços específicos
segundo as vulnerabilidades identificadas, preservando recursos materiais e humanos em
determinados momentos para saturar em outros, isto é claro mediante o constante
monitoramento dos eventos registrados pelas instituições policiais.
Desta forma, sempre as polícias terão condições de identificar as deficiências
que imperam ou estão sujeitas a imperarem em seu território, e mais, terão informações
necessárias para adotar estratégias de controle e combate da violência, além de manter-se
sempre a frente dos eventos criminógenos, sendo proativos e não reativos.
144

A Tabela 11 apresenta por Meses do ano a distribuição dos homicídios


registrados no Município de Cuiabá-MT, ano 2007.

Tabela 11 - Distribuição dos homicídios registrados em Cuiabá-MT, segundo os Meses do Ano.

N. de
Meses do ano (%)
Homicídios
Janeiro 23 11,7%
Fevereiro 20 9,7%
Março 13 6,3%
Abril 11 5,3%
Maio 13 6,3%
Junho 21 10,2%
Julho 16 7,8%
Agosto 15 7,3%
Setembro 26 12,6%
Outubro 16 7,8%
Novembro 18 8,7%
Dezembro 14 6,3%
TOTAL 206 100,0%
Fonte: Laudos de Necropsia do Instituto de Medicina Legal (IML), Boletins de Ocorrência do SROP e Planilhas
Mensais da DEHPP, 2007.
Organização: Elcio Bueno de Magalhães, 2010.

Analisando a Tabela 11, constata-se uma ligeira concentração das ocorrências


de homicídios nos meses setembro, com 12,6%; janeiro, com 11,7%; junho com 10,2%;
fevereiro com 9,7% e novembro com 8,7%. Os demais meses apresentaram registros de
homicídios abaixo da média mensal que foi de 17,1 homicídios/mês, cuja soma dos
registros perfizeram 47,6%. Os meses que apresentaram números acima da média mensal
perfizeram juntos 52,4% do total de homicídios registrados no período.
Considerando a distribuição dos homicídios por mês do ano, (MAIA, 1999, p. 4)
comenta que a sazonalidade é uma característica importante dos homicídios e cita como
exemplo São Paulo que no ano de 1999, apresentou uma grande concentração entre os
meses do ano, no que refere a registro de homicídios. E destaca que foi possível perceber
que a maior parcela das mortes por homicídios ocorreram nos últimos dois meses do ano,
e que a partir de fevereiro, a média de homicídios apresentou uma queda até o mês de
maio.
Comparando o que o autor apresenta da cidade de São Paulo, verifica-se que a
cidade de Cuiabá apresenta uma realidade distinta no que refere a concentração de
homicídios por meses do ano, pois setembro foi o mês que mais houve registro de
145

homicídios, seguido dos meses de junho, janeiro e junho respectivamente, os quais


apresentaram registros acima da média mensal. Os com registro abaixo da média também
distribuíram de forma aleatória pelo ano.
Esta distinção entre as cidades pode ser resultante de eventos específicos de
cada cidade, pois cada qual possui sua história, cultura, tradição, localização, clima e
condição econômica financeira. E é fato que estes elementos podem influenciar e
determinar a ocorrência da forma de violência estudada.
No caso de Cuiabá, o clima pode ser elemento preponderante para existência
de hábitos específicos para grande parte da população. Apesar da ausência de elementos
que possa confirmar tal idéia, pois ainda não há estudos a respeito, portanto, é de
conhecimento popular que em dias de calor extremo, sair das residências para fugir do
calor é quase que uma regra, especialmente à noite e durante o dia nos finais de semana.
E o elemento utilizado no combate a alta temperatura é geralmente a “cerveja”, chamada
carinhosamente de “uma bem gelada!” O contrário ocorre em dias de temperatura amena,
a população torna-se caseira, e por consequência, a rua fica deserta, os estabelecimentos
comerciais, como bares e lanchonetes ficam pouco movimentados.
Desta forma, o clima do tipo tropical continental, dominante na cidade pode ser
um fator externo que leva pessoas as ruas, em busca de refrigério a base de bebidas
alcoólicas e consequentemente a envolvimento em conflitos e mortes. Portanto, suposição
depende de estudo específica.
Contudo, há de colocar em evidência que a questão já despertou estudiosos do
assunto, como Veíssimo; Mendonça (2004, p. 7) que ao considerarem o clima e a
ocorrência de crimes, comentaram que temperaturas do ar elevadas além de causar
desconforto térmico, influenciam na vida humana, desencadeando comportamentos
humanos diversificados que somados a variação diária de temperatura do ar podem levar a
ocorrência de criminalidade, isto na cidade de Curitiba, especialmente durante o período de
maior aquecimento do dia e a ocorrência das mais expressivas ilhas de calor urbano. “E
que após estabelecerem correlação entre clima e criminalidade, perceberam que em
Curitiba o maior índice de criminalidade ocorreu entre 15h00 e 0h00”. Período, que
segundo os autores, corresponde ao de alterações sofridas pelo organismo humano,
principalmente em razão do cansaço que é um elemento desencadeador da predisposição
humana a prática de criminalidade. Todavia, destacam que o clima no caso em particular a
temperatura do ar, é somente um dos fatores do ambiente a influenciar o desenvolvimento
desta patologia social na cidade.
146

Para Cuiabá em específico, há de considerar, isto segundo dados do


CPTEC/INPE, que no ano 2007, especialmente o mês de setembro, a temperatura média
mensal foi de 37ºC, confirmando a pesquisa de Veríssimo; Mendonça (2004). Setembro foi
o mês que mais registrou homicídios em Cuiabá. Foram 26 homicídios, ou seja, 12,6% do
total.
Diante da ausência de dados que relacione clima e crime em Cuiabá-MT, torna-
se impossível falar que a maior incidência dos homicídios no mês foi em razão da alta
temperatura, contudo, há de por em destaque o fato de que a elevada temperatura leva os
moradores da cidade a buscarem meios para amenizar seus efeitos, e sair para rua e
frequentar bares, lanchonetes, organizar eventos festivos como shows locais, regionais e
nacionais no período de temperatura mais elevada é um fato a considerar. Ainda mais
quando se sabe que nos referidos estabelecimentos e eventos, o consumo de bebidas
alcoólicas e outros tipos de drogas é uma regra. Desta forma, a fuga do calor finda por criar
ambientes e situações favoráveis a ocorrência de conflitos e violência com mortes.
A Tabela 12 apresenta a distribuição dos homicídios registrados no Município
de Cuiabá-MT, segundo os dias da semana da ocorrência do fato.

Tabela 12 - Distribuição dos Homicídios registrados em Cuiabá-MT, segundo os Dias da Semana.

N. de
Dia da Semana (%)
Homicídios
Segunda-Feira 22 10,7%
Terça-Feira 25 12,1%
Quarta-Feira 22 10,7%
Quinta-Feira 24 11,7%
Sexta-Feira 26 12,6%
Sábado 42 20,4%
Domingo 45 21,8%
TOTAL 206 100,0%
Fonte: Laudos de Necropsia do Instituto de Medicina Legal (IML), Boletins de Ocorrência do SROP e Planilhas
Mensais da DEHPP, 2007.
Elaborado e organizado por: Elcio Bueno de Magalhães, 2010.

Analisando a Tabela 12 constata-se que no período analisado ocorreu em


Cuiabá-MT uma média 0,6 homicídios/dia, os quais concentraram-se nos finais de
semanas, ou seja, nos dias de sábados, com 20,4% e domingos, com 21,8% perfazendo
juntos 42,2%. Os demais dias da semana concentraram juntos um percentual de 57,8% do
total de homicídios. Destes, os dias de sextas-feiras destacaram em relação os demais,
147

demonstrando que o referido dia é uma extensão do final de semana, portanto parte
integrante dos dias de sábado e domingo.
É nos dias de sextas-feiras, que pessoas aproveitam para dar uma relaxada
esticando o término do serviço com idas a bares e lanchonetes próximo ao serviço, ou
esticando as aulas das escolas e universidades, com jogos de futebol, idas a bares,
lanchonetes, boates e shows em geral, tudo regado a cerveja, whisky entre outras bebidas
alcoólicas e drogas ilícitas.
É cultural os alunos de escolas, especialmente as particulares, cursinhos pré-
vestibulares e universidades, matarem as aulas das sextas-feiras a noite para irem
embebedarem em estabelecimentos boemios anexo aos prédios das universidades,
faculdades e centros universitários e outros lugares e eventos para consumirem bebidas
alcoólicas, drogas e curtirem músicas. Esta prática já se tornou rotina, um hábito e quem
foge a isto é taxado, rotulado com inúmeros adjetivos, e além de serem vítimas de
“bullying”, entre outras práticas.
E a consequência destes hábitos e práticas é a violência, que pode resultar em
mortes, cujas motivações são as mais diversas como podemos verificar na Tabela 09,
como também furtos a e de veículos, quando desavisados deixam seus automóveis em
locais ermos por longo período, além de acidentes de trânsitos, entre outros tipos e formas
de violência. Uma atuação contínua e eficaz das polícias mostraria que as maiorias dos
envolvidos nestas práticas violentas estariam sob efeito de álcool, ou de outras drogas.
Considerando a ocorrência de homicídios por dia da semana, (MAIA, 1999, p.
5) mostra que a ocorrência de mortes por homicídios ocorrem nos dias de sábados e
domingos. Do mesmo modo, (GAWRYSZEWSKI; KAHN; MELLO JORGE, 2005, p. 631)
afirmam com base em estudos dos homicídios registrados no segundo semestre de 2001
no Município de São Paulo, que a maior incidência da forma de violência ocorreu nos dias
correspondente aos finais de semanas. E, especialmente nos dias de sábado, domingo e
sexta-feira. O dia de quarta-feira foi o que apresentou menor número de homicídios.
Considerando Cuiabá, verifica-se o mesmo, pois os dias de quartas-feiras foram os que
apresentaram menor número de homicídios no período analisado.
Da mesma forma, Santos (2006, p. 174) afirma que em Uberlândia-MG, os
homicídios tendem a ocorrer preferencialmente nos finais de semana, em especial aos
domingos, como também aos sábados. Realidade esta também verificada nesta Capital,
especialmente no período de tempo considerado nesta pesquisa.
148

Para (TOLEDO; BORGES; SOARES; BEATO FILHO apud SANTOS, 2006, p.


174) aponta uma tendência de ocorrência de homicídios em finais de semana, tanto no
Brasil, como também em outros países.
E sobre esta tendência, (BORGES; SOARES apud SANTOS, 2006, p. 174)
explicam que a ocorrência do tipo de violência, é resultado da exposição das pessoas em
situações de risco nos finais de semana, ao saírem para se divertir, por exemplo. Ainda
sobre à ocorrência de homicídios nos demais dias da semana, o mesmo autor comenta
que o pequeno número de ocorrência durante a semana se explica porque as pessoas
realizam ações, tais como ir à escola ou ao trabalho, que são práticas cotidianas com
menos risco de vitimização.
Esta sazonalidade semanal nos leva a considerar que a ocorrência de
homicídios é de fato um fenômeno restrito a espécie humana e que o cerne de tudo está na
conflitante relação interpessoal, quer seja na rua, nos bares e lanchonetes, na escola ou
mesmo na residência familiar, não importa o local, sempre as pessoas estarão e entrarão
em conflito, isto em razão dos valores e culturas que são diversos. O diferencial neste
contexto é a forma de lidar com os conflitos, é neste intervalo social que surge a violência.
A Tabela 13 apresenta a distribuição dos homicídios registrados no Município
de Cuiabá-MT durante ao ano de 2007, segundo o horário de ocorrência da ocorrência.

Tabela 13 - Distribuição dos Homicídios registrados em Cuiabá-MT, segundo o Horário de Ocorrência.

N. de
Horário da Ocorrência (%)
Homicídios
Das 00h00min às 06h00min 69 33,0%
Das 06h01min às 12h00min 25 12,6%
Das 12h01min às 18h00min 38 19,0%
Das 18h01min às 23h59min 66 31,5%
Não Informado 8 3,9%
TOTAL 206 100,0%
Fonte: Laudos de Necropsia do Instituto de Medicina Legal (IML), Boletins de Ocorrência do SROP e Planilhas
Mensais da DEHPP, 2007.
Elaborado e organizado por: Elcio Bueno de Magalhães, 2010.

Analisando a Tabela 13, constata-se que as ocorrências de homicídios


concentraram no período noturno, especialmente nos intervalos de tempo compreendido
entre as 00h00min às 06h00min, com um percentual de 33,0% dos homicídios e no
intervalo das 18h01min às 23h59min, com 31,5% dos homicídios. Estes intervalos de
149

tempo juntos perfizeram 64,6% dos homicídios, enquanto que os outros dois intervalos que
correspondem ao período diurno perfizeram 35,4% dos homicídios.
Sobre a ocorrência de homicídios por horário, (FRONZA; COSTA apud
SECRETTI; JACOBI; ZANINI, 2009, p. 30), sustentado em estudo sobre mortalidade por
causas externas em Santa Maria-RS apontou que o número de homicídios não se
distribuiu igualmente, conforme os períodos do dia (p<0,001), sendo que o maior número
de vítimas por homicídios ocorreu a partir das 18h00min até 00h00min com um percentual
de 40,74% seguido da madrugada, com 27,04%.
Um estudo realizado em Caxias do Sul, na serra gaúcha, mostra, também, em
primeiro lugar, o período da noite com 37,48% dos homicídios e em segundo lugar o
período da tarde com 24,78% dos homicídios.
Diante exposto, é possível considerar que a expressiva incidência da violência
na forma de homicídios em Cuiabá-MT, durante o período noturno, pode estar relacionada
à questão de hábitos noturnos da população que tem nos bares, lanchonetes e congêneres
um ponto de encontro de amigos, lugar de recreação, de relaxamento físico e mental, local
de distração e ponto de paquera e de confusão, discórdia, zombaria e consequentemente
agressões físicas, o estopim para a ocorrência de morte quer seja no local e momento da
eclosão dos conflitos, ou posteriormente, motivado pela vingança, acerto de contas e assim
por diante.
Em meio a estas possibilidades oferecidas pelo cultivo de tais práticas e
hábitos, o entorpecimento pelo álcool, provoca a alteração dos ânimos, diminuem a
capacidade de raciocínio, aumentando as chances de solução de um conflito qualquer dar-
se mediante uso de violência. Nestes ambientes, as pessoas tornam-se vulneráveis,
presas fáceis de práticas violentas, ainda mais em razão das condições do ambiente que
geralmente são mal iluminados, favorecendo a ação dos agressores que sempre buscam
além de ocultar sua identidade, também atingir a vítima de surpresa, sem alarmar demais
pessoas, evitando reações de outras, e claro a culpa pelo crime.
Também vale destacar que durante o levantamento de campo para localização
geográfica dos pontos onde ocorreram os homicídios, foi possível constatar, mesmo quase
dois anos após os registros dos homicídios, que a maioria da forma de violência ocorreram
em locais próximos a bares e lanchonetes; de terrenos baldios e matagais; em vias não
asfaltadas e com trafegabilidade difícil ou impossível e sem iluminação pública.
Diante disso, temos que aceitar que a solução para o problema da violência na
forma de homicídios em Cuiabá, especialmente no espaço urbano, não é responsabilidade
150

apenas dos órgãos de segurança pública, apesar destas se quer conhecer em detalhe as
deficiências de seu território, contudo, entendo que não a solução, mas o controle do
fenômeno social homicídios, está na conjugação de forças e objetivos por parte das demais
instituições públicas de todas as esferas, bem como da sociedade como um todo, pois
seria tamanha insensatez atribuir as polícias à culpa pelo problema social “homicídios”,
quando grandes partes destes crimes ocorrem em lugares, onde até o transitar a pé é uma
prática imperiosa para espécie humana.
Tão importante como o contexto, os eventos e circunstâncias que levam a
ocorrência da violência na forma de homicídios, é o espaço onde ocorre a violência, como
podemos certificar a seguir.

4.4 A DIMENSÃO ESPACIAL DOS CRIMES DE HOMICÍDIOS

Com o objetivo de identificar e caracterizar o espaço de ocorrência dos


homicídios considerou-se os locais de ocorrência bem como os tipos de locais de
ocorrência dos homicídios como variáveis importantes para a caracterização da forma de
violência, pois é a partir destas variáveis que se saberá onde está ocorrendo à forma de
violência, se está concentrando em uma ou várias áreas do espaço urbano ou rural. Com
um estudo mais específico, também será possível saber quais eventos tem contribuído
para eclosão da forma de violência.
Assim, com o objetivo de caracterizar os locais de ocorrência dos homicídios,
considerou-se a variável local de ocorrência (bairro), tipo de local de ocorrência e endereço
da ocorrência (logradouros). De posse destas variáveis, foi possível saber o bairro, a
avenida, a rua, a travessa, a praça, o estabelecimento onde ocorreu o homicídio, quer seja
ele de natureza comercial, residencial, de ensino, de trabalho, recreativo entre outros. E a
partir de então conhecer qual o local possui a características e atributos que favorecem a
ocorrência da forma de violência em questão. Se é em vias públicas, residência Particular,
estabelecimento comercial, praças, escolas, matagais, ou outras.
Diante disso, a tabela 14 apresenta por Local de Ocorrência a distribuição dos
homicídios registrados no Município de Cuiabá-MT no ano 2007.
151

Tabela 14- Distribuição dos Homicídios registrados em Cuiabá-MT, segundo o Local de Ocorrência.
N. de
Local de Ocorrência (%)
Homicídios
Bairro Morada da Serra/ Núcleos Habitacionais CPA- I,II, III e IV 14 6,8%
Bairro Pedra 90 14 6,8%
Bairro Alvorada 8 3,9%
Bairro Novo Paraíso-I e II 7 3,4%
Loteamento Altos da Serra 7 3,4%
Loteamento Três Barras 6 2,9%
Bairro Planalto 6 2,9%
Distrito Coxipó do Ouro/Zona Rural 6 2,9%
AEU/ Assentamento Doutor Fábio Leite 5 2,4%
Bairro Osmar Cabral 5 2,4%
Bairro Dom Aquino 5 2,4%
Loteamento Jardim Santa Izabel 5 2,4%
Bairro Novo Horizonte 4 1,9%
Bairro 1º de Março 4 1,9%
Bairro Cohab São Gonçalo 4 1,9%
Bairro Tijucal 3 1,5%
Bairro Jardim Vitória 3 1,5%
Loteamento e Conjunto Habitacional Novo Milênio 3 1,5%
Bairro Nova Esperança 3 1,5%
Bairro Morada da Serra/ Loteamento Jardim Brasil 3 1,5%
Bairro Jardim Fortaleza 3 1,5%
Bairro da Lixeira 3 1,5%
Bairro Pedregal 3 1,5%
Bairro do Porto 3 1,5%
Loteamento Novo Colorado 3 1,5%
Bairro Centro Sul 2 1,5%
Bairro Morado da Serra/Tancredo Neves 2 1,0%
Bairro Carumbé 2 1,0%
Bairro Distrito Industrial 2 1,0%
Bairro Jardim Industriário 2 1,0%
Loteamento Pascoal Ramos 2 1,0%
Bairro Jardim Mossoró 2 1,0%
Loteamento Altos da Glória 2 1,0%
Bairro Jardim Florianópolis 2 1,0%
Bairro Coophamil 2 1,0%
Bairro Bandeirante 2 1,0%
Bairro Belo Vista 2 1,0%
TOTAL 206 100,0%
Fonte: Laudos de Necropsia do Instituto de Medicina Legal (IML), Boletins de Ocorrência do SROP e Planilhas
Mensais da DEHPP, 2007.
Elaborado e organizado por: Elcio Bueno de Magalhães, 2010.
152

Cont. Tabela 14
Distribuição dos Homicídios registrados em Cuiabá-MT, segundo o Local de Ocorrência
N. de
Local de Ocorrência do Óbito (%)
Homicídios
Loteamento Jardim Leblon 2 1,0%
Bairro Parque Cuiabá 2 1,0%
Bairro Altos do Coxipó 2 1,0%
Assentamento Castelo Branco 2 1,0%
Bairro do Quilombo 2 1,0%
Distrito Nossa Senhora da Guia e Aguaçu 2 1,0%
Bairro Centro Norte 1 1,0%
Bairro Bordas da Chapada-II 1 0,5%
Bairro Paiaguás 1 0,5%
Assentamento Jardim Itapuã 1 0,5%
Loteamento Jardim Bom Clima 1 0,5%
Loteamento Ribeirão do Lipa 1 0,5%
Loteamento Vila Nova do Coxipó 1 0,5%
Bairro Morada da Serra/ Vila Rosa 1 0,5%
Bairro Morada da Serra/Centro América 1 0,5%
Bairro Bosque da Saúde 1 0,5%
Bairro Canjica 1 0,5%
Bairro dos Araés 1 0,5%
Bairro do Areão 1 0,5%
Bairro Jardim Comodoro 1 0,5%
Bairro Jardim Gramado 1 0,5%
Loteamento Jardim Cuiabá 1 0,5%
Assentamento Jardim Liberdade 1 0,5%
Bairro Verdão 1 0,5%
Bairro da Goiabeira 1 0,5%
Bairro Cidade Alta 1 0,5%
Bairro Cidade Verde 1 0,5%
Loteamento Novo Terceiro 1 0,5%
Bairro Grande Terceiro/Parque Beira Rio (Condomínio Vertical) 1 0,5%
Assentamento São Mateus 1 0,5%
Bairro Praeirinho 1 0,5%
Bairro Jardim Paulista 1 0,5%
Bairro do Poção 1 0,5%
Bairro Jardim das Américas 1 0,5%
Bairro Boa Esperança 1 0,5%
Bairro São José 1 0,5%
Bairro Coxipó 1 0,5%
Assentamento Jardim Botânico 1 0,5%
TOTAL 206 100,0%
Fonte: Laudos de Necropsia do Instituto de Medicina Legal (IML), Boletins de Ocorrência do SROP e Planilhas
Mensais da DEHPP, 2007.
Elaborado e organizado por: Elcio Bueno de Magalhães, 2010.
153

Cont. Tabela 14
Distribuição dos Homicídios registrados em Cuiabá-MT, segundo o Local de Ocorrência
N. de
Local de Ocorrência (%)
Homicídios
Bairro Nossa Senhora Aparecida 1 0,5%
Bairro Parque Ohara 1 0,5%
Loteamento Residencial Itapajé 1 0,5%
Bairro São João Del Rey 1 0,5%
Núcleo Habitacional Jardim Presidente-II 1 0,5%
Bairro São Sebastião/Chácaras 1 0,5%
Loteamento Jardim das Palmeiras 1 0,5%
Bairro Recanto das Seriemas 1 0,5%
TOTAL 206 100,0%
Fonte: Laudos de Necropsia do Instituto de Medicina Legal (IML), Boletins de Ocorrência do SROP e Planilhas
Mensais da DEHPP, 2007.
Elaborado e organizado por: Elcio Bueno de Magalhães, 2010.

Analisando a Tabela 14 constata-se que os 206 homicídios registrados no


Município de Cuiabá-MT, concentraram espacialmente em apenas 83 áreas. Destas,
97,6% estão localizadas dentro da Macrozona Urbana e 2,4% em ambientes de zona rural,
ou seja, em distritos fora dos limites da Macrozona, conforme podemos observar na Figura
3, o mapa que mostra através de pontos a “Distribuição espacial dos homicídios registrados
no Município de Cuiabá-MT, no ano 2007”, com realce para a Macrozona Urbana.
154
155

Desta forma, os homicídios registrados na Macrozona Urbana concentraram-se


em 81 áreas (bairros e localidades), das 502 áreas existentes na macrozona, onde 124 são
bairros e 378 localidades, como: loteamentos regulares, loteamentos clandestinos,
assentamentos informais, núcleos habitacionais, condomínios, desmembramentos e um
distrito industrial, segundo (CUIABÁ 2010, p. 25; 29; 35; 41). As duas áreas rurais onde
houve registro da forma de violência foram: o Distrito Coxipó do Ouro e o Distrito Nossa
Senhora da Guia, neste inclui o Povoado Aguaçu, área do Distrito da Guia.
Das 502 áreas do espaço urbano, 16,1%, registraram homicídios no ano 2007.
Destas 50,6% concentraram 76,7% dos homicídios, ou seja, os homicídios registrados no
Município de Cuiabá-MT, em 2007 concentraram-se espacialmente em 43 áreas, isto
incluindo as 2 áreas rurais, que juntas registraram um total de 8 homicídios. Destacando
ainda que estas 43 áreas concentrassem juntas um total de 166 casos de homicídios, o
que representa 80,6% dos homicídios registrados no período.
As outras 40 áreas registraram-se apenas 19,4% dos homicídios, ou seja, 1
homicídios por área, não sendo portanto estas para efeito deste estudo considerada como
áreas de concentração de homicídios.
Agora, se considerarmos apenas o espaço urbano, veremos que os homicídios
concentraram-se em apenas 41 áreas (bairros e localidades), das 502 existentes, isto é
considerando as áreas, cujo número de homicídios registrados foi maior que um (h>1).
Estes, em percentual perfizeram 76,7% dos homicídios registrados. Se considerarmos as
áreas urbanas (bairros e localidades), cujo número de homicídios foi igual a (h=1), veremos
que os homicídios registrados na Macrozona Urbana do município perfizeram um
percentual de 96,1% e as áreas rurais 3,9%. Valendo destacar que as duas áreas rurais,
registraram mais de um homicídio cada, desta forma figuram também como área de
concentração de homicídios, apesar da dispersão considerável dos pontos, especialmente
no Distrito Nossa Senhora da Guia.
Quantos as áreas (bairros e localidades) que apresentaram concentração de
homicídios, considerou-se como local de concentração de homicídios os locais, cujo
número de registros de ocorrências foi maior que 1, ou seja, (h>1).
O Quadro 5, apresenta a distribuição das áreas (bairros e localidades), com
destaque para a região administrativa em que estão inseridos, o número de homicídios
registrados de forma particularizada, a população de cada área, o nível de renda e a área
territorial ocupada, permitindo relacionar o evento violência com o nível de renda das
respectivas áreas.
156

A exceção neste caso é para as áreas do tipo localidades, que em razão da


forma como foi criada, ou seja, pela via da ocupação espontânea, as respectivas áreas,
especialmente as localizadas nos limites da Macrozona Urbana, são, portanto
consideradas áreas ilegais pelo poder público municipal que em razão de pendências
referentes a legalização do espaço não são reconhecidas como bairros, portanto ficam a
margem da administração municipal. Em razão disso, deparamos com a falta de dados
como número de habitante, o nível de renda, área ocupada, prejudicando em muito a
realização de estudos desta natureza, quando da identificação de eventos que possam
estar contribuindo para ocorrência da forma de violência em questão.
O Quadro 5 apresenta em ordem decrescente por número de registro de
homicídios as 39 áreas do espaço que apresentaram concentração da forma de violência
no ano 2007.

N. de Nível de Área
Áreas (Bairros e Localidades) Regionais População
Homicídios Renda (Km²)
Bairro Morada da Serra Norte 14 59.529 Médio-Baixa 743,8
Pedra 90 Sul 14 18.563 Baixa 659,06
Bairro Alvorada Oeste 8 12.183 Médio-Alta 230,12
Bairro Novo Paraíso Norte 7 4.393 Baixa 97,73
Loteamento Altos da Serra Leste 7 .... .... ....
Bairro Três Barras Norte 6 6.495 Baixa 127,29
Bairro Planalto Leste 6 5.935 Baixa 66,9
Assentamento Doutor Fábio Leite Leste 5 .... .... ....
Bairro Osmar Cabral Sul 5 4.316 Baixa 96,83
Bairro Dom Aquino Leste 5 13.052 Média 179,53
Bairro Jardim Santa Izabel Oeste 5 9.375 Médio-Baixa 139,52
Bairro Novo Horizonte Leste 4 3.747 Baixa 43,46
Bairro 1º de Março Leste 4 7.014 Baixa 134
Bairro Cohab São Gonçalo Sul 4 4.625 Médio-Baixa 43
Bairro Tijucal Sul 3 16.745 Médio-Baixa 188,48
Bairro Jardim Vitória Norte 3 9.044 Baixa 118
Loteamento e Conj. Hab. Novo
Milênio Sul 3 .... .... ....
Bairro Nova Esperança Sul 3 1.627 Baixa 265,3
Loteamento Jardim Brasil Norte 3 .... .... ....
Bairro Jardim Fortaleza Sul 3 4.036 Baixa 65,22
Bairro da Lixeira Leste 3 4.789 Médio-Baixa 66,41
TOTAL....................................... .... 158 .... .... ....
Quadro 6 - Demonstrativo dos bairros e localidades com concentração de homicídios na Macrozona Urbana de
Cuiabá-MT, ano 2007.
Fonte: Adaptado, do IPDU; Boletins de Ocorrência e Laudos de Necropsia, 2007.
Elaboração e organizado por: Elcio Bueno de Magalhães, 2010.
157

Cont. Quadro 5.
N. de Nível de Área
Áreas (Bairros e Localidades) Regionais População
Homicídios Renda (Km²)
Bairro Pedregal Leste 3 7.117 Médio-Baixa 61,41
Bairro do Porto Oeste 3 9.266 Média 248,22
Bairro Novo Colorado Oeste 3 2.784 Baixa 76,33
Bairro Centro Sul Oeste 2 4.468 Médio-Alta 129,24
Bairro do Quilombo Oeste 2 7.718 Médio-Alta 148,12
Bairro Tancredo Neves Norte 2 .... .... ....
Bairro Jardim Carumbé Leste 2 2.326 Médio-Baixa 30,13
Bairro Distrito Industrial Sul 2 331 Médio-Baixa 710
Bairro Jardim Industriário Sul 2 7.274 Médio-Baixa 239,56
Bairro Pascoal Ramos Sul 2 1804 Médio-Baixa 431,62
Bairro Jardim Mossoró Sul 2 993 Médio-Baixa 91,38
Loteamento Altos da Glória Norte 2 .... .... ....
Bairro Jardim Florianópolis Norte 2 4.432 Baixa 71,54
Bairro Coophamil Oeste 2 5.983 Média 198,07
Bairro dos Bandeirantes Leste 2 1.190 Médio-Alta 176,41
Bairro Bela Vista Leste 2 3.834 Baixa 29
Bairro Jardim Leblon Leste 2 4.199 Médio-Baixa 71,94
Bairro Parque Cuiabá Sul 2 9.362 Média 256,17
Bairro Altos do Coxipó Sul 2 1.322 Média 234,59
Assentamento Castelo Branco Leste 2 .... .... ....
TOTAL....................................... .... 158 .... .... ....
Quadro 7 - Demonstrativo dos bairros e localidades com concentração de homicídios na Macrozona Urbana de
Cuiabá-MT, ano 2007.
Fonte: Adaptado, do IPDU; Boletins de Ocorrência e Laudos de Necropsia, 2007.
Elaboração e organizado por: Elcio Bueno de Magalhães, 2010.

Assim, considerando as 41 áreas (bairros e localidades) urbanas que


apresentaram concentração de homicídios, 13 áreas eram em 2007 classificadas como de
renda baixa, sendo estas áreas as seguintes: Pedra 90, com 14 homicídios; Novo Paraíso,
com 7; Três Barras e Planalto com 6 cada; Osmar Cabral, com 5; Novo Horizonte e 1º de
Março, com 4 cada; Jardim Vitória, Nova Esperança, Jardim Fortaleza e Novo Colorado,
com 3 cada e Jardim Florianópolis e Bela Vista, com 2 cada, respondendo estes por um
total de 62 homicídios, o que corresponde a um percentual de 30,0% do todo.
Quanto à localização destes bairros, todos com exceção do bairro Belos Vista
que apesar de ser de baixa renda, está localizado em uma parte do espaço urbana muito
valorizada, principalmente após a construção do Shopping Pantanal e de vários edifícios
residenciais na borda do Parque Massairo Okamura criado no início desta década. As
demais áreas estão em região de periferia, cujo entorno é ocupado por localidades, cujo
158

processo de ocupação se deu principalmente de forma espontânea resultado da ação de


grupos de pessoas excluídas socialmente ou sob a direção de políticos locais e
empresários que objetivavam apossar de parte da área visando posterior especulação
imobiliária, ou simplesmente para forçar a ampliação da Macrozona, visando a valorização
outras áreas de interesse.
Além do mais, vale destacar que a distribuição geográfica destes bairros de
baixa renda não é de forma contínua, ao contrário, está na maioria dos casos dispersos no
espaço, quando muito formando pequenas ilhas, como os bairros Pedra 90 e Nova
Esperança, localizado na regional sul da cidade, os quais somaram juntos 17 homicídios;
os bairros Osmar Cabral, Jardim Fortaleza, também localizado na mesma regional,
somaram 8 homicídios; os bairros Novo Paraíso, Jardim Vitória e Jardim Florianópolis,
localizados na regional norte somaram juntos um total de 12 homicídios; os bairros Três
Barras e 1º de Março, também na regional norte com 10 homicídios; os bairros Planalto e
Novo Horizonte localizados na regional leste, com 10 homicídios; o bairro Bela Vista,
também na regional leste, com 2 e o bairro Novo Colorado localizado na regional oeste,
com 3 homicídios.
Com classificação de renda médio-baixa, temos 12 áreas, sendo elas assim
distribuídas: na regional sul, os bairro Cohab São Gonçalo e Jardim Mossoró, com 6
homicídios; bairros Distrito Industrial, Jardim Industriário e Pascoal Ramos, também com 6
homicídios; o bairro Tijucal, com 3 homicídios; na regional leste, os bairros da Lixeira,
Pedregal, Jardim Leblon e Carumbé, com 10 homicídios; na regional norte, o bairro Morada
da Serra com 14 homicídios e na regional oeste, o bairro Jardim Santa Izabel com 5
homicídios. Estas áreas somaram juntos 44 homicídios, ou seja, 21,3% do total registrado
no período.
Classificadas como de renda média, 5 áreas que apresentaram concentração
de homicídios no período foram: ídios, identificou-se 12,8% das áreas, sendo elas: os
bairros Dom Aquino na regional leste, com 5 homicídios; os bairros do Porto e Coophamil,
na regional oeste, com 5 homicídios, e os bairros Parque Cuiabá e Altos do Coxipó na
regional sul, com 4 homicídios. Para esta categoria de renda, houve 14 homicídios, ou seja,
6,8% do total.
Com renda médio-alta, apenas 4 áreas apresentaram concentração da forma
de violência, sendo elas: os bairros Alvorada, Centro Sul e do Quilombo na regional oeste,
com 12 homicídios e o bairro dos Bandeirantes na regional leste, com 2 homicídios. Juntas
159

as áreas deste nível de renda, concentraram 14 homicídios, ou seja, 6,8% do total dos
homicídios.
E por último, 7 áreas que apresentaram concentração de homicídios apesar de
reconhecida pela Lei de Abairramento da cidade, não possuam na época classificação do
nível de renda médio da população nela residente, tampouco a área ocupada e o número
de habitantes, prejudicando com isso, a análise da forma de violência pelo viés da renda
por bairro ou localidade.
É considerável o prejuízo para o estudo, bem como para outros os
pesquisadores que ao buscarem estudarem a violência relacionando-a com os níveis de
renda, áreas e população das respectivas áreas esbarram com os mesmos entraves ora
encontrados. Das 7 localidades, que constam como áreas de concentração de homicídios,
identificamos o Loteamento Altos da Serra na regional norte, com 7 homicídios, o
Assentamento Doutor Fábio Leite na regional leste, com 5; o Loteamento e Conjunto
Habitacional Novo Milênio na regional sul, com 3, o Desmembramento Tancredo Neves e o
Loteamento Altos da Glória na regional norte, ambos com 2 homicídios e o Assentamento
Castelo Branco na regional leste, com 2. Estas áreas juntas somaram um total de 24
homicídios, ou seja, 11,6% do todo.
A seguir o Quanto 6, apresenta as 40 áreas urbanas, cujo número de
homicídios registrados por áreas foi de um homicídio, portanto não considerada como área
de concentração espacial de homicídios.
N. de Nível de Área
Áreas (Bairros e Localidades) Regionais População
Homicídios Renda (Km²)
Bairro Bordas da Chapada II Norte 1 .... .... ....
Bairro Paiaguás Norte 1 3.903 Média 66,6
Desmembramento Centro América Norte 1 .... .... ....
Assentamento Jardim Itapuã Norte 1 .... .... ....
Bairro São João Del Rey Sul 1 5.041 Baixa 108,19
Bairro Jardim Nossa Senhora
Aparecida Sul 1 2.577 Média 98
Bairro Parque Ohara Sul 1 1.083 Média 115,26
Loteamento Residencial Itapajé Sul 1 .... .... ....
Bairro São Sebastião Sul 1 1.461 Baixa 200
Assentamento Jardim Liberdade Sul 1 .... Baixa ....
Bairro Jardim das Palmeiras Sul 1 930 Média 40,5
TOTAL..................................... .... 40 .... .... ....
Quadro 8 - Bairros e localidades da Macrozona Urbana de Cuiabá-MT, com registro de homicídios em 2007.
Fonte: Adaptado, do IPDU; Boletins de Ocorrência e Laudos de Necropsia, 2007.
Elaboração e organizado por: Elcio Bueno de Magalhães, 2010.
160

Cont. Quadro 6.
N. de Nível de Área
Áreas (bairros e Localidades) Regionais População
Homicídios Renda (Km²)
Bairro Jardim Gramado Sul 1 1.873 Média 120,64
Bairro Jardim Comodoro Sul 1 709 Médio-Baixa 48,34
Assentamento Jardim Botânico Sul 1 ... ... ...
Núcleo Habitacional Jardim
Presidente-II Sul 1 2.304 Médio-Baixa 128,44
Loteamento Vila Nova do Coxipó Sul 1 .... .... ....
Bairro Coxipó Sul 1 2.704 Média 221,4
Bairro São José Sul 1 598 Média 215,14
Bairro Jardim das Américas Leste 1 2.962 Alta 110,7
Bairro Boa Esperança Leste 1 5.964 Médio-Alta 176,41
Bairro Jardim Paulista Leste 1 2.076 Média 39,2
Bairro do Poção Leste 1 4.596 Média 82,62
Bairro do Areão Leste 1 5.637 Média 104,75
Assentamento São Mateus Leste 1 .... .... ....
Bairro Praeirinho Leste 1 2.102 Baixa 41,14
Bairro Grande Terceiro/Parque
Beira Rio Leste 1 4.881 Médio-Baixa 87,53
Bairro Bosque da Saúde Leste 1 3.325 Médio-Alta 66,35
Bairro Canjica Leste 1 2.860 Médio-Baixa 34
Desmembramento Vila Rosa Leste 1 .... .... ....
Bairro Recanto da Siriema Leste 1 .... .... ....
Bairro Centro Norte Oeste 1 2.782 Médio-Alta 81,43
Bairro Cidade Alta Oeste 1 2.757 Média 218,86
Bairro Cidade Verde Oeste 1 2.757 Médio-Baixa 48,84
Bairro Novo Terceiro Oeste 1 3.774 Médio-Baixa 34,69
Bairro Verdão Oeste 1 .... .... ....
Bairro da Goiabeira Oeste 1 6.664 Médio-Alta 96,24
Bairro Jardim Cuiabá Oeste 1 1.058 Médio-Alta 69,45
Bairro dos Araés Oeste 1 5.538 Médio-Alta 88,17
Loteamento Ribeirão do Lipa Oeste 1 2.244 Baixa 396,87
Loteamento Bom Clima Oeste 1 .... .... ....
TOTAL..................................... .... 40 .... .... ....
Quadro 6: Bairros e localidades da Macrozona Urbana de Cuiabá-MT, com registro de homicídios em
2007.
Fonte: Adaptado, do IPDU; Boletins de Ocorrência e Laudos de Necropsia, 2007.
Elaboração e organizado por: Elcio Bueno de Magalhães, 2010.

Analisando o Quadro 6, constata-se que as 40 áreas (bairros e localidades) da


Macrozona Urbana, consideradas na quadro, são áreas, cujo número de registro de
homicídios foi igual a 1, ou seja, (h=1), portanto, considerando-os de forma isolada,
independente, não apresentou concentração espacial de eventos, os homicídios.
161

Contudo, se considerarmos a questão de proximidades entre as áreas, é


possível que estas áreas formem ou somem a outras áreas formando zonas de
concentração de ocorrências de homicídios, ou seja, “clusters”. Um exemplo desta
ocorrência são os bairros São João Del Rey, São Sebastião, Assentamento Jardim
Liberdade e Loteamento Vila Nova do Coxipó, localizados no entorno do bairro Osmar
Cabral, que por si só não representa para este estudo uma zona de concentração de
homicídios, contudo, em razão da proximidade destas áreas, acabou formando uma só
área de concentração. Algo semelhante também foi observado com o Desmembramento
Centro América e Desmembramento Vila Rosa, localizados no entorno do bairro Morada
da Serra, entre outros que podem estar contíguos a outras zonas de concentração, como
podemos observar na Figura 5.
Quanto ao nível de renda destas áreas, constatamos de acordo com dados do
IPDU referente ao ano 2007, que das áreas com registro de homicídios, 5 eram
classificadas na época como de renda baixa, sendo elas: os bairros São João Del Rey, São
Sebastião e Jardim Liberdade na regional sul; o bairro Praeirinho na regional leste; o bairro
Ribeirão do Lipa, na regional oeste.
Com nível de renda médio-baixa, 6 áreas, sendo elas: os bairros Jardim
Comodoro e Núcleo Habitacional Jardim Presidente-II, na regional sul; o bairro Grande
Terceiro/Parque Beira Rio e o bairro Canjica na regional leste, os bairros Cidade Verde e
Novo Terceiro na regional oeste.
Com nível de renda média, 11 áreas, sendo elas: o bairro Paiaguás na regional
norte; os bairros Nossa Senhora Aparecida, Parque Ohara, Jardim das Palmeiras, Jardim
Gramado, Coxipó e São José, na regional sul; os bairros Jardim Paulista, do Poção e do
Areão, na regional leste e o bairro Cidade Alta, na regional oeste.
Estas por sua vez encontram-se dispostas numa faixa intermediária do
perímetro urbano, ora servindo de limite entre o urbano e o rural, ora entremeios de bairros
e localidades de níveis rendas inferiores. Geralmente, são dotados de boa infraestrutura
urbana, contudo sujeitos a inundação quando do período de chuvas, em razão do grande
número de edificações construídas nas margens do córrego Gambá, um afluente do rio
Cuiabá, cujo leito é quase todo canalizado.
As áreas classificadas como renda médio-alta um total de 6 áreas, sendo elas:
os bairros Boa Esperança e Bosque da Saúde, na regional leste; os bairros Centro Norte,
da Goiabeira, Jardim Cuiabá, dos Araés na regional oeste. Uma característica peculiar
destas áreas é o fato de elas com as devidas exceções estarem localizadas próximo da
162

área central da cidade ou na área central propriamente dita e por isso, serem compostas de
estabelecimentos comerciais de primeira linha, como lojas de grifes, joalheiras,
restaurantes, shoppings centers, áreas bancárias, universidade, ou seja, são providas de
meios que pela natureza em específico de cada estabelecimento atraem grande número
de pessoas e consequentemente de conflitos, cujas motivações assemelham aos
registrados nas demais áreas, até porque apesar das referidas áreas serem compostas por
grande variedade de estabelecimentos comerciais, ainda não deixaram de ocuparem o
seus espaços com edificações residências, que via de regra é de alto padrão,
especialmente em bairros como o Boa Esperança, Bosque da Saúde, do Quilombo entre
outros.
Por renda alta, apenas 01 área com registro de homicídios, sendo ela: o bairro
Jardim das Américas, na regional leste. Esta por sua vez, é um bairro habitado por
políticos, empresários e a elevada casta da administração pública. Em termos de
valorização imobiliária, o valor do metro quadrado do bairro é altíssimo e, além disso, tem a
disposição supermercados de primeira linha, universidade, shopping centers, galerias,
várias concessionárias de veículos das mais variadas marcas, e diversas prestadoras de
serviços.
Em razão disso, é uma área muito freqüentada por pessoas das mais variadas
classes sociais que tem ali como um local impar para lazer e entretenimento devido ao
Shopping Center Três Américas, como também local de trabalho, em específico nas
residências e condomínios de luxo existente, como também no shopping entre outros
estabelecimentos comerciais.
Outras 11 áreas que apresentaram registro de homicídios, classificadas pela
Prefeitura como localidades não possuíam dados referente ao nível de renda, população e
a área ocupada, ficando deste modo, o estudo prejudicado neste aspecto.
Contudo, as localidades são as seguintes: Bordas da Chapada-II,
Desmembramento Centro América e Assentamento Jardim Itapuã, na regional norte;
Loteamento Residencial Itapajé, Assentamento Jardim Botânico, Loteamento Vila Nova do
Coxipó e Assentamento Jardim Liberdade, na regional sul; Assentamento São Mateus,
Desmembramento Vila Rosa e Recanto da Siriema, na regional leste, e bairro Verdão e
Loteamento Bom Clima, na regional oeste.
Em se tratando da localização destas áreas dentro dos limites da Macrozona
Urbana, constata-se que os bairros de baixa renda como as demais que apresentaram
concentração espacial de homicídios, estão localizados em região de periferia distante do
163

centro e cercado de áreas verdes e quase sempre ocupando áreas de preservação


permanente, como nascentes, matas de galerias entre outras áreas não habitáveis, além
disso, são carentes de infraestrutura, como água encanada, iluminação pública, asfalto,
transporte público entre outros serviços essenciais.
Nestas áreas, é comum encontrar ruas e vielas servindo de leito de córregos e
de esgotos, ruas interditadas por ausência de ponte ou em razão dos bueiros estarem
danificados. A iluminação pública é precária e receada de gatos e gambiarras.
Consideráveis trechos de ruas não são trafegáveis por veículos, em razão do mau estado
de conservação, isto, especialmente nas localidades de ocupação espontânea, portanto
não regularizada.
Com raras exceções, as avenidas principais são pavimentadas. Vale destacar
que tais observações foram realizadas quando do levantamento geográfico dos endereços
de ocorrência dos homicídios em novembro de 2009, quase dois anos após o registro da
maioria dos homicídios do ano pesquisado, fato que nos leva a considerar que a realidade
das referidas áreas na época da ocorrência do crime em questão poderia ser até mais
grave do que a hoje observada.
As Figuras 3 e 4 a seguir mostram através de mapas a “Distribuição dos
homicídios registrados na Macrozona Urbana de Cuiabá-MT, ano 2007” e “As áreas de
concentração de homicídios na Macrozona Urbana de Cuiabá-MT, ano 2007”.
166

Outro fato a considerar em termos de localização dos homicídios é a localização


das unidades policiais dentro da Macrozona Urbana, especialmente da Polícia Militar que
tem como função constitucional “a polícia ostensiva e a preservação da ordem e a
segurança pública”, no entanto, percebe-se que diante dos números de homicídios
registrados nas imediações destas unidades policiais, é que a polícia não trabalha ou que a
pessoa humana não é o alvo de atuação da instituição de segurança pública, ou a violência
na forma de homicídios é um evento, cuja solução exige mais do que viaturas policiais
dispostas nas ruas dia e noite sem o conhecimento das verdadeiras causas que levam a
ocorrência do tipo de evento social em questão.
Significativas parcelas dos homicídios ocorreram na área ou nas imediações
onde está ou estava instalada uma Unidade Policial Militar (UPM). Exemplo disso, é a
regional norte da capital que conta com o 3º Batalhão da Polícia Militar instalado no bairro
Morada da Serra, especificamente no Núcleo Habitacional do CPA IV, a Companhia de
Polícia Comunitária do Três Barras, a Base Comunitária do Jardim Vitória, no entanto, só
no bairro Morada da Serra registrou-se no período 14 homicídios, conforme podemos
observar na Tabela 9, isto sem mencionar os homicídios dos bairros vizinhos como
loteamento Jardim Brasil, com 1º de Março, Desmembramento Tancredo Neves,
Desmembramento Vila Rosa, Desmembramento Centro América. Estas áreas somaram
junto um total de 25 homicídios.
Também, no bairro Três Barras foram registrados 6 homicídios, além dos
registrados nos bairros vizinhos, conforme consta na mesma tabela, como: o Loteamentos
Altos da Glória, o Assentamento Doutor Fábio Leite e o Distrito Coxipó do Ouro, sendo este
área rural. Estas somaram juntos 26 homicídios.
A mesma realidade foi verificada na área da Base Comunitária do Jardim
Vitória, onde registrou-se 3 homicídios, mais os que ocorreram no Loteamento Novo
Paraíso, Jardim Florianópolis, Loteamento Jardim Itapuã, Paiaguás e o bairro Bordas da
Chapada, as quais somaram juntas 15 homicídios.
Para a Companhia do Ribeirão do Lipa, apenas um homicídio, contudo, os
bairros vizinhos como Novo Colorado, Loteamento Bom Clima e o bairro Alvorada, o
terceiro bairro mais violento da capital se considerarmos o número absoluto de mortes por
homicídios registrados no período, um acumulado de 13 homicídios no ano.
No bairro dos Araés onde está instalado a Base Comunitária do Araés, a
situação não é diferente, pois no próprio bairro, também ocorreu um homicídio, como
167

também noutros bairro dentro da área de atuação, como o bairro do Quilombo, com 2
homicídios, somando assim um total de 3 homicídios no ano.
E assim, a historia se repete com a Companhia de Polícia Comunitária do
Bosque da Saúde, com a do bairro Planalto, do Pedregal, do Jardim Santa Izabel, do
Loteamento São Mateus, do 1º Batalhão, do bairro da Lixeira, do bairro Osmar Cabral, do
bairro Pedra 90 e do 9º Batalhão no bairro Parque Cuiabá, como também nos locais onde
estão os Centros Integrados de Segurança e Cidadania (CISC) e as delegacias
metropolitanas e municipais. Valendo destacar que as considerações expostas neste
estudo acerca dos homicídios registrados nas proximidades das unidades de polícia não
levou em conta a área de atuação em específico das respectivas unidades, portanto,
considerou apenas a questão de proximidade, podendo as áreas aqui consideradas como
pertencente a área de atuação de uma unidade policial ser totalmente distinta da aqui
considerada.
A exceção para ocorrência forma de violência homicídios por localização das
unidades policiais militares em Cuiabá esta na Base Comunitária do Moinho, localizada na
área do bairro Jardim Imperial, cujo bairro e entorno, não houve registro de ocorrência
homicídios no período analisado.
Ainda considerando a localização dos homicídios no espaço urbano de Cuiabá-
MT, percebe-se também ao considerar os Quadros 5 e 6 que tratam dos níveis médios de
renda das áreas da Macrozona, que a violência na forma de homicídios apresentou
concentração no quesito renda da área. Neste enfoque, vê-se que do total de 206
homicídios, 67 casos ocorreram em áreas cuja renda era na época classificada como
baixa; 49, como médio-baixa; 25, como média; 20, como médio-alta; 01 como alta e 44
áreas, cuja classificação sem classificação por serem consideradas pela Prefeitura como
localidades. Neste grupo estão inclusas as áreas rurais que houve registro da forma de
violência.
O Quadro 7, mostra a distribuição dos homicídios registrados na zona rural de
Cuiabá-MT, sob a ótica da concentração da forma de violência ora analisada.
168

Tipo de N.º de Nível e


Áreas (Distritos) População Área (km²)
Área Homicídios Renda
Zona
Distrito Coxipó do Ouro Rural 6 382 .... 458,67
Distrito Nossa Senhora da Guia e Zona
Aguaçu Rural 2 3.801 .... 1.333,52
Total 8 .... .... ....
Quadro 9 - Áreas rurais com registro de homicídios em 2007.
Fonte: Adaptado, do IPDU; Boletins de Ocorrência e Laudos de Necropsia, 2007.
Elaboração e organizado por: Elcio Bueno de Magalhães, 2010.

Dos homicídios registrados no município de Cuiabá-MT no ano 2007, 3,9%


ocorreram em áreas rurais como o Distrito do Coxipó do Ouro, com um total de 6
homicídios, e o Distrito Nossa Senhora da Guia, com 2 homicídios.
No Distrito Coxipó do Ouro, os homicídios concentraram-se especialmente nas
imediações da localidade Ponte de Ferro (prolongamento da Avenida Coxipó Mirim), com 2
homicídios, região esta composta por chácaras e pequenos sítios, utilizados pelos
proprietários especialmente nos finais de semana como local de veraneio, onde tem-se por
hábitos o consumo de bebidas alcoólica regados com momentos de desfrute das
refrescantes águas do rio Coxipó, excelentes para amenizar a alta temperatura
predominante na Depressão Cuiabana durante quase todo o ano.
Além das chácaras e sítios, a localidade conta também com um local público
de banho, o qual dá nome a localidade em razão da antiga Ponte de Ferro sobre o rio
Coxipó. Também denominado Balneário da Ponte de Ferro, a localidade tradicionalmente
serve como ponto de aglomeração de enormes quantidades de pessoas, principalmente as
residentes nos arrebaldes da Grande Morada da Serra e região, que tem o local, como
ponto de recreação nos finais de semana para banhos de rio e ingestão de bebida
alcoólica, música e conflitos interpessoais. Por esta razão, o local é popularmente
denominado como “local problemático e perigoso”. E quem lá freqüenta são taxados de
problemáticos quando não de marginais oriundos do Três Barras, 1º de Março, Doutor
Fábio Leite, Altos da Serra e outras áreas das imediações.
Além disso, por ser uma localidade isolada, é propícia para cometimento de
diversas formas de crimes, como seqüestro, roubos, furtos, agressões físicas e homicídios
propriamente dito. Além de servir como local de consumação de crimes cuja origem iniciou-
se no espaço urbano. Exemplo disso são os casos em que as vítimas são raptadas na
cidade e levadas para a localidade onde são assassinadas e seus corpos ocultados em
meio à vegetação de cerrado que predomina em quase toda a localidade e seus arredores.
169

A Figura 2 demonstra bem a localização dos locais de ocorrência de homicídios localizados


no entorno da Macrozona Urbana, ou seja, na zona rural.
Outro local de concentração de homicídios do distrito em questão é a Estrada
vicinal que dá acesso a Comunidade Coxipó do Ouro, principalmente nas imediações do
Aterro Sanitário Quilombo, com 3 vítimas. Localizada em área rural, próximo aos bairros
Novo Paraíso e Barreiro Branco. Nesta área, os cadáveres sempre foram encontrados no
entorno do Aterro Sanitário, principalmente em matagais que margeiam a estrada que dá
acesso ao Povoado Coxipó do Ouro, denotando, que no geral as vítimas são levadas para
a região e mortas no local em razão das facilidades de ocultação tanto do cadáver como da
prática delituosa. Também, há casos em que as vítimas são executadas em outro lugar e
levadas em seguida para a região onde são desovadas.
O outro local identificado no aludido distrito foi a Fazenda Nossa Senhora da
Penha, na Comunidade Tranquilo, onde a vítima foi atingida por disparo de arma de fogo
do tipo espingarda, quando da ocorrência de uma festa.
O Distrito Nossa Senhora da Guia, contou com 2 registros de homicídios, sendo
um cadáver encontrado em avançado estado de putrefação em meio as pastagens de uma
propriedade rural localizada na margem direita da Rodovia Elder Cândia (MT-010), sentido
Cuiabá/distrito, no Km 08. A outra vítima foi localizada nas margens da Estrada Carioca do
Assentamento Marcolana próximo ao Povoado Aguaçu, também conhecido como Distrito
Aguaçu, contudo, parte integrante do Distrito Nossa Senhora da Guia.
Assim, diante do exposto, verifica-se, que em se tratando de concentração
espacial, os homicídios registrados na zona rural do município de Cuiabá-MT em 2007
concentraram-se no Distrito Coxipó do Ouro, especialmente no entorno das áreas da
regional norte, como o Loteamento Novo Paraíso, Jardim Vitória, Loteamento Jardim Brasil,
bairro 1º de Março, Loteamento Altos da Glória, bairro Três Barras, e parte da regional
leste, ou seja, o Assentamento Doutor Fábio Leite e os Loteamentos Altos da Serra, os
quais registraram junto um total de 33 homicídios no período analisado.
No entanto, vale por em evidência o fato de que a zona rural com raras
exceções pode ter figurado como local de desovas de cadáveres, especialmente os
encontrados nas imediações do aterro sanitário, como também o encontrado na margem
da MT-010 km 08 (Estrada da Guia), como também o encontrado na Estrada Carioca, no
Povoado Aguaçu.
No geral, os corpos das vítimas foram encontrados em locais de difícil acesso,
cercado por bosques, ou seja, áreas de vegetação nativa do tipo cerrado ou em meio a
170

pastagens e matas de galeria e ciliares. Além do fato de quase sempre, os corpos ter sido
encontrado em avançado estado de decomposição, e sem documentos pessoais que o
identificassem e com parte do corpo ou todo o corpo descaracterizado por esmagamento,
carbonização ou separação de membros. Artifício utilizado para dificultar a identificação da
vítima e consequentemente do autor do crime. Além, da clara demonstração de desprezo
pela vítima.
Exemplo disso é o homicídio da vítima “(xxxx), de 15 anos de idade encontrada
no dia 23/xx/2007, na Estrada do Coxipó do Ouro, nas proximidades do Aterro Sanitário do
Quilombo, local popularmente denominado “Lixão”, onde de acordo com o breve relato
existente no histórico do Boletim de Ocorrência (BO) da Polícia Civil anexo ao Laudo de
Necropsia n. xxx/07, temos o seguite: “a vítima fora encontrada em um matagal, em
avançado estado de decomposição, apresentando várias lesões de instrumento
contundente e perfuro cortante pelo corpo”.
A seguir a Tabela 15 apresenta por Tipo de Local de Ocorrência, a distribuição
dos homicídios registrados no Município de Cuiabá-MT, ano 2007

Tabela 15 - Distribuição dos homicídios registrados em Cuiabá-MT, segundo o Tipo de Local de Ocorrência

N. de
Tipo do Local de Ocorrência (%)
Homicídios
Via Pública 88 42,7%
Residência Particular 30 14,5%
Estabelecimento Comercial 19 9,2%
Matagal 10 4,8%
Presídio 5 2,4%
Chácara 4 2,0%
Praça 3 1,4%
Estrada 2 1,0%
Casa Abandonada 2 1,0%
Rio 2 1,0%
Parque 1 0,5%
Veículo 1 0,5%
Propriedade Agrícola 1 0,5%
Não Informado 40 19,4%
TOTAL 206 100,0%
Fonte: Laudos de Necropsia do Instituto de Medicina Legal (IML), Boletins de Ocorrência do SROP e Planilhas
Mensais da DEHPP, 2007.
Elaborado e organizado por: Elcio Bueno de Magalhães, 2010.

Analisando a Tabela 15 constata-se que do total de homicídios, 42,7%,


ocorreram em vias públicas, isto é quando as vítimas estavam na rua, quer seja ido ou
171

voltando de eventos festivos, trabalho, escola, ou estavam na rua em frente a residência


com amigos ou parentes quando foi surpreendido e agredido fatalmente.
Outros 14,5% ocorreram em residências particulares. Neste tipo de local, os
homicídios, via de regra, foram consumados dentro das residências da própria vítima, de
familiares ou de terceiros. No geral, as vítimas foram agredidas na própria residência por
alguém da família ou por agressores que chegaram na residência e chamaram pela vítima
e esta ao atendê-lo foi alvejada e quando não perseguida pelos suspeitos até o interior da
residência, onde o crime resultou em óbito da vítima. Comum também foram os casos em
que as vítimas foram perseguidas e em fuga adentraram em residência de terceiros ou de
familiares onde foram alcançadas e assassinadas.
Em terceiro lugar, os “estabelecimentos comerciais”, especialmente, bares,
lanchonetes e postos de combustíveis, com 9,2% dos homicídios. De acordo com relatos
contidos nos BOs, neste caso em especial, as vítimas foram agredidas fatalmente quando
estavam sentadas em bares e lanchonetes consumindo bebidas alcoólicas, tanto sozinhas
como acompanhadas, ou quando saia destes estabelecimentos após terem consumido
algum tipo de bebida alcoólica e foram surpreendidas por uma ou mais pessoas que via de
regra estavam em motocicletas e que após a prática da violência evadiram-se rapidamente
do local. Também, identificamos casos em que os suspeitos quando da prática da forma de
violência estavam em veículos automotores, de bicicletas e até a pé. Em muitos dos casos
de cometimento dos homicídios nos tipos de locais em específico, os suspeitos após
aproximarem da vítima e antes de avejarem a vítima com disparos de arma de fogo, tipo de
arma mais empregado nestas situações e ambientes, chamaram a atenção da vítima com
palavras do tipo (nome, apelido ou xingamentos) para em seguida alvejá-la e fugir.
A exceção a regra para o caso de vítimas terem sido alvejadas em
estabelecimentos comerciais, é o caso das vítimas que foram alvejadas quando da
ocorrência de assaltos. Um exemplo a ser considerado é o caso que ocorreu no Posto de
Combustível Bom Clima, localizado entre a Avenida República do Líbano e a Avenida Hélio
Ribeiro, no Bairro Paiaguás, nesta Capital, quando durante a realização de um assalto, a
presença policial ensejou a reação dos marginais que trocaram tiros com a Guarnição da
PM, e uma criança foi atingida por “bala perdida” e faleceu. Os assaltantes foram presos
logo após.
Em quarto lugar, “matagal”, com 4,8% dos homicídios. Pouca informação há
sobre a ocorrência de homicídios em local do tipo “matagal”, portanto, há concenso que no
geral o tipo de crime ocorre em outro ambiente e posteriormente o corpo das vítimas são
172

desovados em locais do tipo “matagal”. via de regra, os conflitos ocorrem em tempo e


ambientes distintos sem que necessário a vítima seja morta no ato do conflito. Esta prática
exige maior planejamento, e claro a ocultação do corpo, por isso, a vítima geralmente é
raptada em algum lugar e conduzida para locais ermos onde é vitimada e desovada,
podendo o corpo sofrer descaraterizações como amputação de membros, carbonização,
esmagação entre outras formas, tudo para dificultar posterior identificação civil. Destacando
ainda que nestes casos, nem sempre a vítima tem sua vida ceifada no local onde é
desovada, podendo ser morta em um local e desovada em outro até porque o manuseio de
um corpo sem vida facilita a ação do praticante do crime.
Geralmente os locais escolhidos para desova é do tipo onde predomina
vegetação do tipo de cerrado, mata de ciliar e de galeria. O tipo de vegetação contribui para
dificulta o acesso e claro o encontro do cadáver que quase sempre são encontrados em
avançado estado de decomposição, quando não e estado esquelético e sem documentos
de identificação civil.
Exemplos de locais de matagais onde foram encontrados cadáveres produto de
crimes de homicídios foram: o matagal existente atrás do Clube Monte Líbano, no
Loteamento Bom Clima, com 1 vítima; a margem direita da MT-010, Km 08 (Rodovia Elder
Cândia, vulgo Estrada da Guia), com 1 vítima; Estrada Carioca, no Assentamento
Marcolana, Distrito Aguaçu, com 1 vítima; Estrada do Coxipó do Ouro, próximo ao Aterro
Sanitário Quilombo, com 2 vítimas, Estrada da ABRA, próximo ao Aterro Sanitário
Quilombo/Coxipó do Ouro, com 1 vítima e a Fazenda Nossa Senhora da Penha, localizada
na Comunidade Tranquilo no Distrito Coxipó do Ouro, com 1 vítima, a Avenida Coxipó
Mirim na Comunidade da Ponte de Ferro, com 2 vítimas e o Bairro Recanto das Siriemas,
fundos do Condomínio Belvedere, com 1 vítima.
Os demais homicídios distribuíram-se em presídios, com 4,8%; chácara, com
2,0%; praça, com 1,4%; estrada, com 1,0%; casa abandonada, com 1,0%; rio, com 1,0%;
parque, com 0,5%; veículo com 0,5% e propriedade agrícola, com 0,5%. Estes tipos de
locais perfizeram junto um percentual de 10,2% dos homicídios registrados. Outros 19,4%
dos homicídios não tiveram o tipo de local de ocorrência informado ou identificado.
Ainda tratando dos locais de ocorrência dos homicídios, o Quadro 10 do
Apêndice 1 mostra os 206 logradouros (endereços) onde ocorreram as mortes por
homicídios no Município de Cuiabá-MT no ano 2007, com os respectivos bairros e
coordenadas UTM (Universa Transversal de Mercator) coletadas com uso de um Aparelho
GPS durante o mês de novembro de 2009.
173

Do total de logradouros, constataram-se quando do levantamento geográfico


dos locais de ocorrência que considerável parcela das avenidas, ruas e estradas onde
ocorreram os eventos, ou seja, aproximadamente 55,0% eram pavimentadas com asfalto,
e menos 30,0,% não possuíam pavimentação asfáltica, ou seja, era de terra e em mal
estado de conservação e 15,5% não tiveram os locais de ocorrência identificados em razão
da falta de endereços que os localizasse, portanto, os tipos de vias não foram identificadas
quando do levantamento geográfico.
Quanto a iluminação dos locais onde ocorreram a forma de violência
homicídios, aproximadamente 76,2% eram iluminados, ou pelo menos possuíam postes de
iluminação pública. Digo possuíam postes, pois, é comum as lâmpadas dos postes
estarem quebradas, resultado da ação de vândalos ou simplesmente inoperantes por falta
de manutenção por parte da Prefeitura ou da concessionária de energia elétrica da cidade.
Neste contexto, inclui os chamados “gatos” ou “gambiarras”, que se estendem por vielas
esburracadas das áreas periféricas da cidade Outros 8,3% não possuíam iluminação, e
15,5% restante corresponde aos endereços não informados.
E quanto a trafegabilidade dos locais onde ocorreram os crimes de homicídios,
constatamos que 73,3% das vias eram trafegáveis, sendo asfaltadas ou não; 10,2%
trafegável com dificuldade; 1,0% não trafegável e 15,5% referem-se aos endereços não
informados. Exemplo de rua não trafegável é a Rua Bakaeri, no Assentamento Doutor
Fábio Leite, onde esta além de possuir um bueiro danificado, estava totalmente tomada por
vegetação, existindo onde era pra ser a rua apenas um caminho utilizado por pedestres,
bicicleteiros e alguns motociclistas que por lá se aventuravam.
Considerando o entorno dos locais onde ocorreram os homicídios, constatou-se
que 35,4% ocorreram próximos a terrenos baldios ou de matagais; 41,8% ocorreram dentro
ou nas proximidades de bares, lanchonetes e postos de combustíveis, isto quando as
vítimas estavam consumindo bebidas alcoólicas ou logo após terem consumido. Os demais
homicídios ocorreram em residência particular, estrada, rio, veículo, prédio publico e assim
por diante como podemos verificar na Tabela 15.
Considerando a incidência da violência na forma de homicídios por endereço,
constata-se que do total apenas em 17 endereços apresentou mais de um registro no ano,
isto desconsiderando os homicídios que não tiveram os endereços de ocorrência
identificado e informado, que perfizeram um percentual de 15,5%. Valendo destacar que
deste percentual, 5 locais de ocorrência de homicídios não tiveram os endereços
identificados. Os demais endereços identificados e informados apresentavam pendências
174

quanto ao número de quadra ou da casa onde ocorreu a forma de violência. O Quadro 8 a


seguir apresenta os endereços com incidência de registro da forma de violência.

N. de
Logradouros Áreas
Homicídios

Bairro do Porto
Avenida Beira Rio 3
Bairro Novo Terceiro
Bairro Jardim das Américas
Avenida Fernando Corrêa da Costa Bairro Coxipó 3

Bairro São José


Bairro Altos do Coxipó
Avenida Doutor Meirelles 2
Loteamento e Conjunto Habitacional Novo
Milênio

Avenida Tuiuiú Bairro Morada da Serra/Núcleo Habitacional


do CPA-IV-1ª Etapa 2
Avenida 72 Bairro Pedra 90 2
Rua 06 Bairro Pedra 90 2
Avenida José Torquato da Silva Bairro Novo Paraíso 2
Avenida Dante Martins de Oliveira Bairro Planalto 2
Rua Irmã Elvira Paris Bairro Dom Aquino 2
Rua N Bairro 1º de Março 2
Rua 17 Bairro Bela Vista 2
Rua 15 Bairro Cohab São Gonçalo 2
Rodovia BR-364/Presídio Bairro Pascoal Ramos 2
Avenida Gonçalo Antunes de Barros Bairro Carumbé 2
Rua 19 Loteamento Altos da Glória 2
Quadro 10 - Endereços com concentração de homicídios, 2007.
Fonte: Planilhas de Homicídios da DEHPP; Laudos de Necropsia do IML e Boletim de Ocorrência do SROP,
2007.
Elaborado e organizado por: Elcio Bueno de Magalhães, 2010.

4.5 SÍNTESE DOS RESULTADOS

Em síntese, constatou-se nesse estudo que a violência na forma de homicídio


no município de Cuiabá-MT, caracteriza-se como violência tipicamente urbana, isto com
base nos registrados de homicídios no período, onde 96,1% ocorreram em área urbana, ou
seja, dentro dos limites da Macrozona Urbana.
175

Em se tratando da dimensão pessoal, verificou-se que 89,3% das vítimas de


homicídios eram do sexo masculino; 74,8% tinham idade compreendida entre 20 e 59
anos; 65,0% eram de cor ou raça parda; 83,0% eram solteiras; 45,1% possuíam apenas 4
a 7anos de tempo de escolaridade; 21,8% tinham serviços auxiliares como profissão;
15,5% eram estudantes e 12,6% ocupavam-se de funções da construção civil; 67,5% eram
naturais de Mato Grosso e 91,7% residiam em Mato Grosso quando vitimados.
Da dimensão contextual, constatou-se que 32,5% não tiveram a motivação
apurada; 19,4% apontadas como rixa/acertos de contas e 16,5% resultante de
envolvimento com drogas. Considerando o agente da causa morte, 76,6% das vítimas
foram vitimadas com uso de arma de fogo e 12,6% com arma branca.
Considerando a dimensão temporal, tem-se que 12,6% das vitimas perderam
suas vidas no mês de setembro; 11,7% em janeiro e 10,2% em junho; 21,8% em dias de
domingo e 20,4% em dias de sábados. Quanto ao horário, 33,0% foram vitimadas no
período das 00h00min as 06h01min e 31,5% no período das 18h01min às 23h59min.
Quanto a dimensão espacial, local de ocorrência dos homicídios, constata-se
que a forma de violência concentrou-se em 83, sendo que duas é da zona rural. Das 81
áreas do espaço urbano com registro de homicídios destacaram em concentração dos da
forma da violência o bairro Morada da Serra (Núcleos Habitacionais do CPA-I, II, III e IV),
com 6,8% dos homicídios; o bairro Pedra 90, com 6,8%, o bairro Alvorada, com 3,9%, o
bairro Novo Paraíso, com 3,4%, o Loteamento Altos da Serra, com 3,4%, o bairro Três
Barras, com 2,9%; o bairro Planalto, com 2,9%, o Assentamento Doutor Fábio Leite, com
2,4%, o bairro Osmar Cabral, 2,4%, o bairro Dom Aquino, com 2,4% e o bairro Jardim
Santa Izabel, com 2,4%. As demais áreas apresentaram percentuais de registro da forma
de violência menores que 2,0%.
Valendo destacar que a concentração dos casos de homicídios em áreas
específicas do espaço urbano desenhou área hot Spots ou “zonas quentes” de
concentração da forma de violência, denotando a existência de áreas de risco,
especialmente em razão da elevada incidência do evento estudado, conforme podemos
constatar na Figura 5 a qual apresenta as áreas de ocorrências de homicídios as quais
concentraram num percentual de 90,3% isto considerando as áreas (localidades)
periféricas não contempladas pelo levantamento socioeconômico realizado pela Prefeitura
Municipal através do IPDU no ano de 2007.
Dos tipos de locais de ocorrência, 42,7% ocorreram em vias públicas, 14,5%
em residências particulares e 9,2% em estabelecimentos comerciais. Os demais
176

homicídios ocorreram de forma menos concentrada em matagais, presídio, casas


abandonadas, veículos, parques e assim por diante como podemos observar na Tabela 15.
Dos logradouros, apenas 17 apresentaram mais de registro da forma de violência
estudada, assim demonstrada no Quadro 8. Ademais, as informações contidas no Quadro
9 confirma o já apresentado.
Considerando o acima apresentado, sabendo que a violência é um fenômeno
extra-social, ou seja, que suas causas e consequências extrapolam o caráter humano,
avançando em direção a política, a economia, a criminologia, a psicologia e até a biologia
para alguns estudiosos, e no município, e especialmente na cidade Cuiabá-MT, a realidade
não é diferente, pois de acordo com os resultados desta pesquisa, podemos considerar
que o pertencer a um determinado grupo social ou classe econômica, como também morar
em determinada área da cidade, os hábitos cultivados, como ficar na rua até madrugada,
frequentar bares, lanchonetes e congêneres, ingerir bebida alcoólica são situações que
potencializam as chances da pessoa ser vítima da forma de violência, ainda mais se estas
potenciais vítimas carregarem consigo o lastro da ilegalidade, como estarem envolvidas
com uso e tráfico de entorpecentes, com práticas de roubos e furtos de modo geral, como
também estarem envolvidos com conflitos resultantes do comportamento como rixa, brigas,
vingança, cobrança de dívidas e situações que envolvem sentimentos e paixões. Tudo
isso, aliado ao modelo de polícia que não foca policiamento no cidadão, mesmo diante da
guerra urbana que não cessa em ceifar vidas, morrer em Cuiabá, é muito fácil, basta estar
na hora e no lugar errado e comportar e agir a caráter do que aqui está posto. Assim
agindo, a pessoa humana pode ser vitimado dentro da própria residência, na calçada em
frente a residência, no bar da esquina e assim por diante.
E neste contexto, a periferia cuiabana se apresenta como um lugar de violência,
com as devidas exceções, é nas áreas periféricas de Cuiabá-MT que concentraram os
registros da forma de violência estudada, cujas vítimas são em sua grande maioria
detentores de uma renda média mensal que os classificam como pertencentes aos grupos
de renda baixa, médio-baixa e média. E para piorar a situação de exclusão vai além da
questão econômica, avançado para a questão social, cultural entre outros, pois como
podemos verificar, as vítimas em sua grande maioria são predominantemente não brancas,
ou seja, é parda, pouco alfabetizadas e ocupadas com profissões que não exigem grandes
habilidades mentais e tampouco formação escolar aprimorada. A violência revela-se como
um processo que a todos atinge, uns tirando a vida, outros partes do corpo, outras a
tranqüilidade e o sossego de outrora. Do mesmo atinge a economia da cidade, a família
177

quando vitima um de seus membros e da mesma forma quando se prende o autor da


violência.
Sobre a questão de residir em áreas de periferias, Ferreira; Penna (2005, p.
158) destaca que nestas áreas, além de predominar a cultura da pobreza, predomina
também o desemprego, o comércio informal, a prática da autoconstrução criando dentro do
tecido urbano abandonado pelo Estado e pelas instituições públicas, condições para o
rompimento do contrato social, fazendo com que a população excluída socialmente e
espacialmente vivam em redutos dominados por toda forma de crime e violência, desde a
discriminação, e inacesso aos direitos de cidadão e à própria cidadania (FERREIRA;
PENNA, 2005, p. 158).
Considerando a violência e a criminalidade como um processo, (SOUZA apud
FERREIRA; PENNA, 2005, p. 168), alertam elas são um processo, no qual a urbanização
por seu caráter excludente segrega espacialmente os pobres, contudo deixam claro que
nem a violência e a criminalidade é produto da pobreza. Sobre esta questão, destacam, a
segregação socioespacial com periferização formam os enclaves de mão-de-obra
submissa, prato cheio para o crime organizado. O tráfico de drogas e outras atividades
criminosas tornam-se a única alternativa de ganhar na vida para a população pobre,
desempregada e sem alternativas; ‘a pobreza é funcional para o tráfico de drogas, o qual
devora a juventude das favelas como mão-de-obra barata e descartável’. E conclui, logo a
pobreza é uma empresa que tem disponível mão-de-obra para o crime, o espaço a arena
onde acontecem os eventos que levam a pessoa pobre a sujeitar ao crime, por falta de
alternativas, como também pela opção de ganhar a vida, ou seja, conseguir meios para
viver. O vilão da história seria o Estado ausente que em vez de incluir a população dispersa
com adoção de políticas públicas, exclui e segrega ou permite que isto aconteça, com sua
ausência, surgindo a partir de então o rompimento do contrato social e o domínio do crime
no espaço
Além do mais, a forma de violência estudada em Cuiabá-MT, é em razão da
forma e locais onde tem ocorrido um problema cuja solução não está na contração de
policiais e compra ou locação de viaturas, mas no envolvimento de toda a sociedade e
poder público de modo a promover inclusão social, urbanização e mudanças de valores,
fato que não acontece da noite para o dia. Neste contexto, a aproximação da polícia e
comunidade e da comunidade para a polícia é uma boa saída. Sem a vontade e o agir
neste sentido de ambas as partes de nada adianta criar unidades policiais em áreas
identificadas como zonas de risco, pois com certeza polícia e sociedade serão beligerantes
178

e ambas sairão perdedores na área conflituosa e crime cada vez mais firmará seus
tentáculos e consequentemente continuamos a ver corpos estendidos pelas ruas, famílias
desfeitas, viaturas policiais desviadas do policiamento para registro de ocorrência de fato
consumado, perdendo no caso da Polícia Militar a gênese de sua função que o
policiamento ostensivo e a Polícia Civil a função de polícia judiciária do Estado, quando
deixa de investigar crime anterior para registro de outro. Desta forma, ambas as instituições
sempre estarão apagando fogo em vez de impedir o seu surgindo no meio da sociedade. A
sociedade também continuará sendo prejudicada, pois estará a conta seus mortos e a viver
em constante medo de ser ou ter alguém próximo na condição de vítima da violência, o
homicídio.

VARIÁVEIS SÍNTESE

Sexo Masculino 89,3%


Faixa Etária Adultos (20 a 59 anos) 74,8%
Cor ou Raça Parda 65,0%
Estado Civil Solteiro 83,0%
Tempo de Escolaridade De 4 a 7 anos 45,1%
Serviços auxiliares 21,8%
Profissões ou Ocupações Estudantes 15,5%
Ocupações da construção civil 12,6%
Local de Origem Mato Grosso 67,5%
Local de Residência Mato Grosso 91,7%
A apurar 32,5%
Motivação do Crime Rixa/acertos de contas 19,4%
Envolvimento com drogas 16,5%
Arma de Fogo 76,6%
Agente da Causa Morte
Arma Branca 12,1%
Setembro 12,6%
Mês do Ano Janeiro 11,7%
Junho 10,2%
Sábado 20,4%
Dia da Semana
Domingo 21,8%
Das 00h00 as 06h00min 33,0%
Horário
Das 18h01 as 23h59min 31,5%
Bairro Morado da Serra 6,8%
Local de Ocorrência Bairro Pedra 90 6,8%
Bairro Alvorada 3,9%
Quadro 11: Síntese das variáveis analisadas neste estudo.
Elaborado e organizado por: Elcio Bueno de Magalhães, 2010.
179

Cont. Quadro 9.

VARIÁVEIS SÍNTESE

Via públicas 42,7%


Tipo de Local de ocorrência Residência Particular 14,5%
Estabelecimento Comercial 9,2%
Avenida Fernando Corrêa da Costa
Logradouro
Avenida Beira Rio
Quadro 12 : Síntese das variáveis analisadas neste estudo.
Elaborado e organizado por: Elcio Bueno de Magalhães, 2010.
180

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A violência é um fenômeno difícil de ser compreendido por causa da sua


característica multifacetada e multicausal. As consequências advindas dela são muitas, e
algumas delas, irreversíveis. Combatê-la é uma tarefa difícil, e normalmente sem
resultados rápidos, principalmente se a violência que se deseja conter for à violência na
forma de homicídios, cuja consumação se dá com a morte da pessoa humana.
Esta forma de violência envolve uma série de fatores que são cruciais para seu
surgimento e permanência no meio social. Neste contexto, estão inclusos valores pessoais
e coletivos, a história de vida, hábitos e costumes, de um povo que pode alimentar ou
ressaçar a violência nas suas variadas formas.
Além disso, a questão sócio-econômica tem relevante importância servindo
como via de mão dupla, produzindo excluídos e incluídos socialmente através da rede de
dependência e de exploração que ela estabelece no meio social. E em razão desta rede
sempre haverá algozes e vítimas e pessoas que incessantemente tentarão subjugar o
semelhante, criando com isso situações de conflito que é o combustível para eclosão de
atos isolada de violência e de violência generalizada.
Praticar violência contra alguém e submeter outrem a sua vontade é muita vez
sinônimo de poder, sabedoria e coragem e quem não a prática finda por figurar como
vítima, alvo de toda espécie de prática nociva que pode dominar as ruas, a igreja, a escola
e o próprio lar. A violência pode até tornar-se um modo de vida para uma família,
moradores de um bairro e cidade e quem a ele não adere é percebido como ameaça,
portanto sujeito a violência.
É por estas razões que vemos especialmente nos espaços urbanos, a
existência de zonas de domínio, onde determinadas áreas do espaço são e estão divididas
e sob o mando de pessoas ou grupos de pessoas que pelo carisma ou terror impõem sua
vontade e aspirações aos demais. E assim, surgem as zonas de crimes, áreas sob o
domínio de criminosos que a vosso modo governam o espaço impondo ao arrepio do
poder público, as suas regras de convivência e código de conduta e quem não cumpre ou
181

subleva é punido com a pena capital. E, por conveniência ou inércia do poder constituído,
aparece o que se denomina hoje de poder paralelo, onde a sociedade por medo alienação
ou corrupção social se cega pelos atos de violência que ocorre na sua rua, na escola de
seu, no ônibus que o leva para o trabalho, tornam-se surdas pela pelo que ouvem e mudas
quando por algum motivo deixam de cumprir o que está previsto no “caput” do Artigo 144
da Constituição Federal que diz: “A segurança pública, dever do Estado, direito e
responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da
incolumidade das pessoas e do patrimônio (...)”. E assim por medo ou conveniência da
sociedade e do Poder Público, as ruas das cidades tem se tornado a cada dia palco de
uma guerra social que todos sabem que existem e não podem negar até porque negar sua
existência seria negar a si próprio, seria ignorar suas próprias vítimas que já foram abatidas
ou estão na fila da violência para serem abatidas, quer seja na rua, na residência, escola,
no sinaleiro da esquina ou na lanchonete do bairro. A ameaça é latente e real, a os corpos
que já tombaram e tombam no dia a dia é prova disso, o que é falso é o comportamento
das pessoas e do Estado perante o que por eles próprios são registrados quer seja em
documentos oficiais e nos cemitérios quando do sepultamento de suas vítimas.
Em Cuiabá-MT, a situação não foge a esta realidade, especialmente falando
das mortes por homicídios, conforme mostra os dados desta pesquisa. Com base nestes
dados, podemos afirmar a capital Cuiabá é um espaço violento e que a forma de violência
estudada é preponderantemente urbana, pois no período de tempo considerado, ou seja, o
ano 2007, dos 206 homicídios registrados, 96,1% ocorreu na zona urbana, ou seja, dentro
dos limites da Macrozona Urbana, a qual conta com 124 bairros oficiais e 378 localidades.
Em mais, a forma de violência registrada se apresenta de forma extremamente
concentrada, pois das 502 áreas (bairros e localidades) contidas no espaço urbano, apenas
em 81 áreas registrou homicídios no período. E do total de homicídios registrados, 158
ocorreram, melhor concentraram em apenas 41 áreas. Apenas 41 áreas do espaço urbano
registraram mais de um homicídio no ano 2007.
Diante disso, o risco de uma pessoa ser vitimada pela violência na forma de
homicídio em Cuiabá-MT está condicionado aos hábitos e práticas sociais da pessoa aliado
aos locais que freqüentam e estes por sua vez refletem a condição socioeconômica da
vítima, ou seja, a maioria das vítimas de homicídios na época da prática da violência que
redundou em sua morte residia em áreas, cujo nível médio de renda dos domicílios eram
classificado como baixo e médio-baixo. Além disso, a maioria das vítimas era de cor ou
raça não branca, ou seja, parda ou negra, com baixo nível de alfabetização e
182

profissionalmente ocupadas com funções que, não geral, não exigiam formação técnico
cientifica e consequentemente eram mal remunerados.
Enfim, a forma de violência em Cuiabá-MT, especialmente no ano 2007,
desenha-se como um problema social, cuja solução não está em aumento de efetivo da
polícia e tampouco na adoção de forma paliativas de policiamento, contudo, cabe salientar
que um policiamento focado em grupos identificados como vulneráveis e em períodos e
áreas críticas, digo dias da semana, horário e áreas (bairros e localidades) e logradouros
que concentraram ocorrência de homicídios podem ser de extrema valia, mesmo que tais
policiamentos sirvam a princípio para evitar apenas o desgaste do aparato estatal com
ações desprovida de objeto de ação. Digo isso, porque é oneroso para o Estado e a
sociedade dispor na rua, inúmeros policiais e viaturas em situações de estresse e risco sem
saber onde, quando e porque determinada forma de violência tem ocorrido. É necessário
que se conheça quem vai de combatido ou controlado. No caso dos crimes de homicídios,
o controle da venda de bebida alcoólica, o combate da venda e uso de drogas e da arma
de fogo seria uma boa pedida. E isso, não se combate de forma isolada, é necessário
parceria com as demais instituições públicas e com a sociedade, pois, um problema social
desta envergadura tem suas raízes fixadas na forma como a sociedade foi formada e se
mantém na atualidade, com suas práticas excludentes, produzindo a cada dia mais suas
vítimas que fatalmente serão abatidas quando sem opção de lazer buscam nos bares da
periferia momentos de diversão.
Considerando o embasamento teórico, como pesquisa comparativa, esta se
sustentou na abordagem teórico-metodológica da Teoria da Ecologia Humana da Escola
de Chicago proposta por Park, Burgess e Mackenzie do início do século XX, quando
estudaram os fenômenos sociais surgidos na cidade de Chicago após esta ter recebido
grande fluxo migratório em razão do processo de industrialização, gerando em razão deste
diversos problemas entre eles, o crime. Neste contexto, também se considerou a Teoria da
Anomia de Émile Durkheim, adaptada por Robert Merton, que diz ser o crime resultado da
não realização dos objetivos por parte dos membros da sociedade por causa da falta de
meios que proporcionasse a realização, gerando a desregulação social e o crime, como
consequência.
A escolha de uma abordagem teórico-metodológica e de um método específico
para estudo e análise de fenômenos sociais, como a violência, especificamente na forma
de homicídios, foi uma tarefa árdua tanto pelo seu caráter interdisciplinar como também
pelo poucos estudos que tratasse especificamente o assunto como problema social. A
183

maioria das produções existentes aborda o assunto como problema de saúde pública e da
epidemiologia, da criminologia, da psicologia, das ciências jurídicas e ciências aplicadas e
humanas, com destaque para a sociologia. A Geografia, via de regra, aborda o assunto
pelo viés do espaço, ou seja, as formas de violências são estudadas como eventos
espaciais e por isso, buscam saber onde estão localizadas, onde concentram e assim por
diante, esquecendo de considerar as demais dimensões do fenômeno estudado, que como
este vai além da dimensão espacial, incluindo no contexto do estudo a pessoa, ou seja, a
vítima, o tempo da ocorrência, como também as circunstâncias em que a forma de
violência ocorreu. Reduzir a utilidade da Geografia, a simples técnicas de especialização de
eventos, seria, dentre as diversas atrocidades capazes de serem cometidas, no mínimo a
clara demonstração de falta de conhecimento a cerca da ciência em questão.
Este emaranhado de abordagens teóricas a cerca do assunto se justifica em
razão da intrincada relação humana, que pela sua intensidade e magnitude que manifesta
causa patologias na sociedade, forçando a adoção de novos hábitos e costumes, tudo em
busca de ambientes que dê um mínimo de segurança e proteção.
Assim, dentre as dificuldades enfrentadas neste estudo, a abordagem teórico-
metodológica é a mais aceitável a meu entender, apesar de ser positivista, ela atrela o
surgimento do crime a explosão demográfica, aumento população marginalizada na
cidade, que geralmente habitam espaços não legalizados da malha urbana, ou seja,
residem em áreas, cuja ocupação deu-se através da ocupação espontânea, local
desprovido da presença da administração pública, portanto dominado pelo crime.
Dos objetivos propostos, todos foram alcançados. A maior dificuldade
encontrada foi em relação à análise espacial das ocorrências de homicídios, cujas razões
foram acima expostas. Considerando o objetivo principal que é “estudar os homicídios
registrados no Município de Cuiabá-MT em 2007, através de sua caracterização pessoal,
contextual, temporal e espacial, com emprego de técnicas de análise espacial”, foi possível
ter um desenho da forma de violência registrada no Município de Cuiabá-MT como um
todo, desde a dimensão pessoal, que caracterizou o perfil da vítima, a dimensão contextual
que tratou das motivações do crime e do meio empregado em sua prática em particular,
como também a dimensão temporal, que mostrou apesar do curto período analisado, o
espaço-tempo em que a forma de violência se concentrou e a dimensão espacial que
através da distribuição dos eventos mostrou onde a forma de violência concentrou
espacialmente no período analisado. Sendo possível verificar a existência de áreas de risco
para a forma de violência homicídios, isto especialmente nas áreas de periferia do espaço
184

urbano da cidade de Cuiabá. E neste contexto, constatou-se que a forma de violência, pelo
menos no que valha ao período de tempo considerado, é um evento característico do
espaço urbano.
Assim, como o objetivo principal, os objetivos específicos foram alcançados,
mesmo diante das consideráveis dificuldades enfrentadas no que diz respeito a meios de
locomoção e logística, forma de armazenamento dos documentos, tanto dos laudos do
IML, como dos BOs da DEHPP, e no que diz respeito ao acesso a Base de Dados SROP
da SEJUSP-MT.
Com base nestes objetivos a pesquisa procurou responder as perguntas acerca
do tema abordado, questões estas peculiares, pois, sua resposta, em muito esclareceram o
assunto abordado. Desta forma, primeiramente quis saber: “Existem no Município de
Cuiabá, grupos de pessoas que por pertencerem a um determinado grupo social, étnico,
econômico e cultural, figure como potenciais vítimas de crimes de homicídios?” Para esta
pergunta, a resposta é sim, pois na análise dos dados, identificou-se a existência de um
grupo de pessoas, em específico, cujas características sócio-demográficas se
assemelham. Para a forma de violência estudada, prevaleceu às vítimas adultas, com
idade entre 20 e 59 anos, do sexo masculino, solteiras, de cor ou raça parda, com baixo
nível de escolaridade, que se ocupavam laboralmente de baixa relevância social, que no
geral exigiam pouco ou quase nenhum conhecimento técnico-científico, e por
conseqüência percebiam baixa remuneração mensal. Em razão deste quadro de exclusão,
as vítimas geralmente residiam em áreas periféricas da cidade. Portanto, faz-se necessário
considerar outras condicionantes responsáveis pelo desenho deste quadro insólito e não
ater somente a característica ou perfil da vítima para explicar o evento em si.
O segundo questionamento, “Se existem zonas espaciais de concentração de
crimes de homicídios?” A resposta, como a anterior, também é positiva, ou seja, é “sim”.
Pois, desde a sistematização dos dados e principalmente após a análise da distribuição de
pontos com o método Kernel de densidade de eventos, cujas localizações foram realizadas
através do sistema de informações geográficas que permitiu a visualização de locais,
áreas, onde houve concentração de ocorrências de homicídios no período estudado.
“A ocorrência de homicídios em Cuiabá-MT obedece a uma lógica temporal
como (período noturno e final de semana) ou sua ocorrência no tempo dá-se de forma
aleatória?”. Considerando a dimensão temporal de ocorrência dos homicídios, cabe
destacar que afirmar algo ou apontar tendência para um determinado evento sustentado
em um único período de tempo, como é o caso de estudo, que tem como espaço tempo de
185

pesquisa apenas um ano de registro de homicídios, é algo muito perigoso e a chance de


incorrer em erros é enorme, portanto, em razão disso, atenho-me a afirmar que no período
considerado a forma de violência apresentou uma leve concentração nos meses de
setembro, janeiro e junho. Para os dias da semana, o destaque foi para os dias de sábado
e domingo e para o horário de ocorrência, o destaque foi para o período noturno,
especialmente proeminência para o período da madrugada, ou seja, das 00h00minutos ás
06h00minutos.
Por último, “as vítimas de homicídios são em geral pessoas com baixo nível de
instrução e de cor ou raça não branca”? Esta questão como a anterior depende de um
período de tempo mais extenso de estudo para melhor desenhar o quadro, portanto, no
período analisado, verificou-se que 78,1% das vítimas possuíam no máximo até o ensino
médio como nível de instrução escolar, sendo que deste percentual, 56,3% tinha até o
ensino fundamental. Quanto à cor ou raça das vítimas, cerca de 72,0% foram identificadas
como de cor ou raça parda e negra, ou seja, não branca.
Quanto aos resultados alcançados neste trabalho, a de considerar que eles
legitimam o sentimento de insegurança e medo vivido pela população de Cuiabá,
especialmente se considerarmos população residente no espaço urbano em específico.
Considerando a dimensão pessoal, que caracteriza a vítima, a análise dos
dados apresentou o seguinte quadro: pessoas adultas do sexo masculino, de cor ou raça
parda, solteiras, com baixa escolaridade, cujas ocupações laborais assentaram em
profissões ou ocupações com pouca relevância social e baixa remuneração mensal, até
porque, o seu exercício não uma formação escolar aprimorada, tampouco uma
especialidade e sim força física para o exercício das funções laborais como é o caso das
funções/ocupações serviços gerais, construção civil, reparações de veículos, comércio
varejista, ambulante, serviços domésticos, segurança, condutores de veículos, entre outras.
A exceção para este quadro está nas profissões de ensino superior e servidores públicos,
cuja representação em termos de percentuais foi insignificante. Outros 15,5% das vítimas
foram classificados como estudantes apenas quando da ocorrência da forma de violência
estudada.
A dimensão contextual, que neste estudo trata das circunstâncias da ocorrência
da forma de violência e dos meios empregados para sua consumação, mostrou em
primeiro momento, isto referente à variável “motivação do crime” que o serviço de
investigação policial é deficiente especialmente no que refere aos crimes de homicídios,
pois no ano 2007, 32,5% do total não teve a motivação identificada, constando portanto
186

como a “a apurar”. As demais motivações dos homicídios registrados no período


concentraram-se em rixa/acertos de contas, envolvimentos com drogas, fútil/briga e briga
em bar.
Neste contexto, está inserido como elemento de relevante importância para
eclosão de conflitos que findam em mortes de uma das partes, as drogas, quer seja ela
lícita ou ilícita. São o uso ou o tráfico de entorpecentes, como também o consumo de
bebidas alcoólicas, elementos criadores de situações e de ambientes favoráveis para a
prática da violência. A pessoa inebriada por estas substâncias torna-se alvo fácil, tanto pelo
fato de criar como de se envolver em conflitos com pessoas estranhas ou com familiares e
pelo fato de geralmente estarem entorpecidas, são facilmente vitimadas. E para estas
situações, as motivações são inúmeras, podendo ser um motivo fútil, passional, uma briga
e até um acerto de conta por questão relativa ao tráfico de drogas. Uma realidade que
exemplifica esta situação é o fato verificado nesta pesquisa, quando se constata que
apenas 9,2% das vítimas foram vitimadas em estabelecimentos comerciais como (bares e
lanchonetes), no entanto grande parcela dos homicídios ocorreu nas proximidades de
bares e lanchonetes, fato que nos leva a deduzir que as vítimas ali estavam porque
pretendiam ir as tais estabelecimentos e foram vitimadas ou porque já haviam saído e
foram vitimadas. Enfim, bares e lanchonetes em Cuiabá-MT figuram como ambientes
propícios a prática de violência, quer seja pela existência de crimes de tráfico e uso de
entorpecentes ou é o consumo de bebidas alcoólicas o elemento que conduz a ocorrência
de outros crimes e consequentemente de homicídios.
O agente da causa morte, é outra variável importante deste grupo, pois
expressa de modo contundente, a agressividade da população, quando se arremessa para
a agressão física contra outra pessoa. O emprego da arma de fogo nos casos dos crimes
de homicídios registrados foi de 76,6% no período. Fato este demonstra que a intenção dos
agressores quando da decisão de agredir a outra pessoa não era apenas ferir, mas
eliminá-la do contexto no qual estava inserida, quer seja, um conflito resultante de um
desentendimento de trânsito na rua, ou de um campo de várzea, do condomínio de luxo, do
barzinho da esquina de um bairro da periferia, ou da lanchonete de luxo freqüentada pela
alta sociedade nos finais de semana.
O emprego da arma de fogo como meio de solução de conflitos, demonstra a
perda de valores sociais, do senso de amor ao próximo, o descrédito pelas leis e pelo
sistema judicial e policial do País. Também desenha o quadro de uma sociedade emotiva,
imediatista, que vive sem perspectivas de futuro, corroborando com que apregoa a Teoria
187

da Anomia, que fala da falta de objetivos e atrela esta falta de objetivos a eclosão do crime.
Entendo que há um esforço em tirar a vida do semelhante quando uma pessoa usa de uma
arma de fogo como meio de solução de conflitos, além de mostrar claramente que a
sociedade está desregulada, e doente socialmente falando, pois expressa a falta de
objetivos, de sonhos, de ideais por parte dos praticantes da violência em questão, pois se
quer pensam ou consideram o futuro, a família, e a liberdade que em termos de
importância para a pessoa humana seria o segundo maior bem a ser zelado, perdendo
apenas para a vida, creio eu ser o bem maior a ser protegido. Talvez um sistema judicial
operante e sério que desse a sociedade a certeza de punição quando da quebra do
contrato social, serviria como elemento desmotivador da prática da violência e do crime e
até de incentivo a adoção de novos valores, especialmente no que diz respeito à vida da
pessoa humana. E claro, neste contexto estaria inserido uma polícia motivada, reta no
cumprimento da sua função, e consequentemente respeitada pela sociedade, onde os
policiais certos do amparo judicial jamais carregavam consigo a prática da violência policial
como forma de punição antecipada dos transgressores da lei, pela certeza da punição do
criminoso preso por ele, mesmo quando este o agrida moral e fisicamente.
A certeza da punição do criminoso, além de motivar a polícia, desmotiva o
criminoso no outro extremo, por entender que a prática criminosa deixa de ser
compensável. E desta forma, pode-se experimentar o recuo nas estatísticas oficiais de
segurança pública, que será refletida no meio social como um todo, esta manifesta em paz
social e claro, qualidade de vida.
A dimensão temporal também mostrou que a forma de violência concentrou em
finais de semana e durante a noite, especialmente no período da madrugada das (00h00
min ás 06h00min). A variável mês do ano por sua vez não desenha um quadro confiável,
isto em razão do curto período de tempo estudado, portanto carente de um período de
tempo de estudo mais longo para mostrar a existência de sazonalidade e de tendências.
Creio que a análise desta variável seria mais proveitosa com uma série histórica da forma
de violência, em particular. Apenas um ano de pesquisa inviabiliza qualquer inferência para
a questão.
Por fim, a dimensão espacial, que trata das variáveis referentes aos locais de
ocorrência da violência na forma de homicídios, como áreas (bairros e localidades) para o
espaço urbano e a área rural (distritos/comunidades). Destas, a zona urbana concentrou
96,1%.
188

Deixando para um segundo momento à questão da concentração dos


homicídios como elemento caracterizador de áreas de risco, evidenciamos em primeiro
momento o fato de que as mortes por homicídios em Cuiabá-MT espelham a realidade
vivida pela cidade na década de 1970 e 1980, quando experimentou um boom demográfico
aliado a expansão do sítio urbano, que resultou em ocupações espontâneas de terras
públicas e privadas formando o que hoje é conhecida como periferia, local carente de infra-
estrutura urbana, cuja população em sua maioria é composta por pessoas desempregadas
e subempregadas. Simultâneo a este acontecimento, a cidade também experimentou a
quebra das relações de proximidade estabelecidas por elos de vizinhança e confiança. O
agravamento da violência impôs novos hábitos e costumes à sociedade, e a partir de
então, a violência tornou-se uma constante nos espaços urbanos, especialmente.
Agora, a análise da distribuição espacial dos homicídios, com uso de método de
Kernel de densidade de eventos, cujas localizações foram realizadas através do Sistema
de Informações Geográficas, permitiu a visualização dos locais de ocorrência, bem como
das áreas que apresentaram concentração dos eventos. A simples identificação destas
áreas oferece informações importantes ao Poder Público para que este em conjunto com a
sociedade possa trabalharem no espaço segundo as particularidades ora identificadas, pois
como sabemos, a concentração de ocorrências de homicídios é um indicativo de
considerável importância para adoção de políticas públicas e de segurança pública,
capazes de controlar a incidência do tipo de crime, e claro atenuar os conflitos sociais,
dando a sociedade maior sensação de insegurança.
E neste contexto, (MAIA, 1999, p. 128), destaca o mapeamento das mortes por
homicídios e a análise das características demográficas e sociais das vítimas são
instrumentos relevantes para o monitoramento da consequente mortalidade. Estas
informações podem contribuir para o planejamento de ações na área de segurança, no
sentido de procurar minimizar esta questão que procura a todos.
Com isso, tem-se que o espaço geográfico é uma categoria para a
compreensão dos problemas sociais, e no caso específico deste estudo, revela-se uma
categoria importante para aprender o problema do homicídio em Cuiabá-MT, como
também em outros espaços urbanos, além de revelar a potencialidade geoestratégica no
combate, prevenção e estruturação de ações múltiplas, coercitivas, mas, sobretudo,
educativa para em longo prazo, salvar vidas.
189

Sendo a violência é algo inerente a pessoa humana, portanto, um fenômeno,


cuja solução é muito difícil, especialmente quando se considera os valores, as tradições e a
cultura de cada ser humano integrante dos grupos sociais que formam a sociedade.
Com isso, temos que o assunto violência é algo complexo, passível de controle
e não de solução, e pensando assim, sugere a adoção de medidas e procedimentos que
vão desde a coleta de dados á adoção de políticas públicas e de segurança pública.
Valendo destacar ainda que neste contexto de combate e controle das formas de violência,
é imprescindível o envolvimento da sociedade organizada, não apenas como delatora de
criminoso, mas como integrante de todo o sistema, de modo que possam conhecer a
polícia, os deveres e responsabilidades, como também as deficiências e necessidades das
instituições policiais e de seus integrantes, tendo sempre em mente que o policial acima de
tudo é em primeiro lugar um ser humano como os demais não policiais e que em razão é
falho, limitado e, portanto sujeito as mesmas dificuldades dos demais membros da
sociedade.
Diante disso, sugere:

a) Adoção de um boletim de ocorrência policial único, que contemple além das


variáveis do atual, as variáveis relacionadas à renda da vítima, religião e característica do
ambiente onde ocorreu o crime, considerando a iluminação pública, o tipo de pavimentação
da via, as condições de trafegabilidade, como também as condições tempo-climático (se no
momento da ocorrência, o tempo estava chuvoso, nublado, ensolarado ou frio), se ocorria
algum evento festivo, entre outras variáveis. Entende-se que a adoção do boletim único de
ocorrência policial, em primeiro lugar minimizará a sutil concorrência impressa entre a
Polícia Civil e a Polícia Militar; segundo, evitará a dispersão e o choque de dados quando
da sua coleta para estudo das formas de violência registradas. Além disso, é necessário o
treinamento dos servidores da segurança pública no preenchimento dos boletins de
ocorrência e demais documentos relativos aos crimes registrados, bem como ao uso do
sistema de registro e gerenciamento do banco de dados SROP;
b) Equiparação das áreas de atuação das unidades da PJC com as áreas das
unidades da PM ou vice-versa. Atualmente este é um dos grandes problemas enfrentados
quando do levantamento de dados sobre crimes registrados em Cuiabá, como em outras
cidades, onde existem mais uma unidade PM, em especial. Dificilmente as áreas das
instituições se coincidem, dificultando a coleta de dados, a comparação, como também a
definição de estratégias e ações de combate e controle das formas de violência presente
190

na área. A falta de coincidência de áreas entre as unidades das policiais contribui para a
existência de entraves administrativos frutos de imposições e embargos de caráter pessoal
por parte de diretores e comandantes;
c) A atualização da base cartográfica do Município de Cuiabá e sua extensão a
zona rural é outra necessidade a ser efetivada. Com uma base digital atualizada, é possível
espacializar de modo eficaz não só os homicídios, mas as demais formas de violência,
contribuindo para gestão dos eventos violentos registrados pelas instituições policiais de
forma rápida e precisa, por parte dos tomadores de decisões. É conhecendo as vítimas e
os autores dos crimes que se cria condições para combatê-los de forma eficaz. Atualmente,
o levantamento geográfico dos locais de ocorrência com uso de aparelho de GPS acoplado
a viatura policial seria uma medida de extrema importância, pois além de evitar gastos com
levantamentos posteriores, possibilitaria a gestos dos eventos de imediato, como também a
tomada de decisões sustentadas e dados fidedignos, diminuindo em muito a possibilidade
de erros;
d) Também é necessário que políticas públicas sociais sejam implementadas,
por parte do município, do estado e da união, especialmente com investimento no social,
de modo a melhorar o acesso das pessoas aos serviços públicos básicos, como
saneamento básico, escolas, unidades de saúde pública, áreas de lazer e entretenimento.
Consoante a estas políticas, também é preciso que o Poder Público implemente políticas
sociais de combate ao desemprego à concentração de renda e o analfabetismo,
promovendo inclusão social;
A respeito da implementação de políticas públicas e sociais como instrumento
de controle da violência, Zaluar (1996), destaca que um país democrático e justo não pode
existir sem tais políticas. Pois, segundo a autora, os que vivem submetidos a um contexto
social excludente são os mais penalizados em relação, não só ao acesso de bens
materiais, mas ao acesso ao emprego, a saúde, a educação, ao lazer e ao
desenvolvimento pessoal.
e) É necessário criar meios de iniba a entrada ilegal de armas de fogo através
das fronteiras com os países vizinhos, e;
f) E por fim, vê-se a necessidade do efetivo combate das drogas lícitas e
ilícitas, como do comércio ilegal de armas de fogo, pois entende-se que estas substâncias
e as armas de fogo figuram como uns dos principais elementos que promove e alimenta o
crime e a violência em Cuiabá e no País. Sem as drogas muitas dos homicídios em
especial deixariam de ocorrer, pois como podemos verificar grande percentual dos crimes
191

tiveram como motivação primária o envolvimento das partes com entorpecentes. Do


mesmo modo, sem as armas de fogo, a maioria dos crimes não teria ocorrido e os futuros
deixaram de ocorrer. A arma de fogo encoraja a pessoa a tentar contra a outra.
Para seu controle, vê a necessidade do efetivo patrulhamento das fronteiras,
com forças policiais federais e estaduais, conjugadas com as forças armadas,
especialmente o Exército e a Força Aérea, esta última muita útil na fiscalização e combate
ao tráfego aéreo na região de drogas e armas de fogo e munições, que alimentam
organizações criminosas no Brasil e demais países, especialmente os do norte da América
do Sul. Uma medida extrema seria copiar o que os Estados Unidos adotou com o México,
e construir muro na divisa dos países fronteiriços e monitorá-la diuturnamente com forças
de segurança e defesa, permitindo o acesso ao Brasil apenas em portões
estrategicamente dispostos no terreno. Nestas, veículos e pessoas seriam identificados,
vistoriados e revistados e sua permanência em nosso país controlada.
Isso significaria, além de um investimento maciço em segurança e defesa, uma
nova postura perante a criminalidade e os países vizinhos, que a princípio retaliarão tal
postura, pois, a de considerar que a prática criminosa que impera na região de fronteira é
de extrema valia para a economia dos signatários como para as pessoas que utilizam de
tais práticas criminosas. Uma postura de tal magnitude poderia atingir de forma
contundente a economia de alguns países vizinhos, como a nossa também, mas o ganho
em segurança, qualidade de vida e paz social recompensaria.
Mas antes da adoção de qualquer política pública que vise o controle da
violência, quer seja ela na forma de homicídios ou outra, entendo que primeiro faz-se
necessário a identificar quais pessoas ou grupos de pessoas figuram em situação
vulnerável na sociedade, qual a forma de violência predominante, o tempo que é mais
propício a sua ocorrência, as circunstâncias preponderantes, como também os espaços e
os fatores que tem contribuem para tais concentrações, quer seja ela pessoal, contextual,
temporal ou espacial. Do contrário de nada adianta implantar lei seca para controle do
consumo de bebida alcoólica, se apenas conjecturamos que o álcool pode estar
contribuindo para o surgimento de conflitos e consequentemente de mortes por homicídios,
por exemplo.
192

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Informação Tecnológica Latino-Americana. Brasília, 2008. Disponível em:
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203

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SIQUEIRA, E. M. Revivendo Mato Grosso. Cuiabá: SEDUC, 1997.


204

APÊNDICE
205

APÊNDICE 1

Endereços dos homicídios Coordenadas UTM


Logradouros Bairros X Y
604527 8278284
Rua Rondonópolis, Quadra 68, Lote 03 (próximo ao PSF) AEU/Assentamento Doutor Fábio Leite
Avenida Miguel Sutil, 14042 (Trevo do Coophamil/Cimento Cauê) Coophamil 593648 8273678

Avenida República do Líbano/Rua Jacarandá (próximo ao Hotel Casa Grande) Alvorada 597886 8277420

Rua 216, Quadra 46, número 12 Tijucal 605814 8271424

*End. Incompleto/Rua Amador Tut /Avenida Governador Valadares AEU/ Loteamento Altos da Serra 603997 8277550
**End. Ignorado/Rua Goiás/Rua Vilhena (Igreja Nossa Senhora Aparecida/Paróquia Divino 603703 8277572
Espírito Santo Novo Horizonte
Rua F, Quadra 13, número 03 (próximo a Escola Estadual Professora Zélia Costa de 604241 8269933
Almeida) Núcleo Habitacional Jardim Presidente-II
Rua 15, Quadra 21, Casa 26/Rua 21 (Bar da Família) Conjunto Habitacional Novo Milênio 606901 8273252
592798 8274872
Avenida Hítrio Corrêa da Costa, 850 (Bar do José) Jardim Santa Izabel
Rua Bela Vista, 551 Alvorada 598063 8277866

Avenida V2, Quadra 29, número 30/Travessa J (Bar do Negrão) Nova Esperança-II 610084 8269994

**End. Ignorado (Ponto Considerado/TREVO Avenida República do Líbano/Rua Poxoréo Alvorada 597847 8277282

*End. Incompleto/Avenida Integração 03 (em frente a Igreja Presbiteriana do Brasil) Pedra 90 -1ª Etapa 611960 8271983

Avenida Beira Rio/Avenida Miguel Sutil (Restaurante Anauê) Porto 594473 8272833

Avenida Projetada, Quadra 34 (próximo a Central Funilaria e Pintura) Morada da Serra/Centro América 601401 8278976

*End. Incompleto/Rua 13 (próximo ao Pregão GM) Morada da Serra/Núcleo Habitacional CPA IV-4ª Etapa 603533 8280086

Avenida Dante Martins de Oliveira, Quadra 01, número 57/Rua João Gomes Sobrinho Planalto 603071 8277253
Quadro 8: Distribuição dos endereços de registro de homicídios no Município de Cuiabá-MT, ano 2007.
Fonte: Laudos de Necropsia do IML/POLITEC-MT;
Boletins de Ocorrência Policial do Sistema de Registro de Ocorrências Policiais- SROP/SEJUSP-MT;
Planilhas Mensais da Delegacia Especializada em Homicídios e Proteção a Pessoa- DEHPP/PJC-MT e,
Livro de Registro Simplificado de Ocorrências Policiais da DEHPP/PJC-MT.
*Endereço Incompleto.
**Endereço Ignorado.
Elaborado e organizado Por: Elcio Bueno de Magalhães, 2010.
206

Cont. Quadro 8.
Endereços dos homicídios Coordenadas UTM
Logradouros Bairros/Localidades X Y
*End. Incompleto/Avenida Fernando Corrêa da Costa (em frente a Três Cinco Veículos Jardim das Américas 598813 8274085
607705 8272235
* End. Incompleto/Via de acesso a Eletronorte (próximo ao Lixão) Conjunto Habitacional Novo Milênio
Rua V, número 408/Rua N Nova Esperança-II 610723 8270623
Rua José Carlos de Oliveira (ou Rua C), Quadra 20, número 23 (próximo ao Mercado do 594877 8279055
Paulista) Novo Colorado
**End. Ignorado/Rua Mato Grosso (próximo a Caixa D' Água) AEU/Loteamento Altos da Serra 604951 8277136
601854 8278077
Rua 13, Quadra 13, número 07 Morada da Serra/Tancredo Neves
Rua Ester Marques, 05/Rua Francisval de Brito Cidade Alta 593936 8273962
604188 8277605
*End. Incompleto/Avenida Governador Valadares/Rua Boa Viagem, 34, número 12 AEU/ Loteamento Altos da Serra
Rua 34/Rua Mato Grosso (próximo a Caixa D' Água) AEU/Loteamento Altos da Serra 604963 8277146
601754 8281466
*End. Incompleto/ Avenida Jaime Campos (Mercado Paraíso) Paraíso/ Loteamento Novo Paraíso-II
Rua 18 (ou Rua Paraíso, 123)/ próximo ao Campo Praeirinho 598870 8271829

Rua 63, Quadra 232, número 04/Rua 72 Pedra 90 -2ª Etapa 613572 8271680

Rodovia BR-364 (Presídio Central de Cuiabá) Pascoal Ramos 608829 8269402

Avenida Beira Rio (Rio Cuiabá/próximo ao Museu do Rio) Porto 595738 8273469

Avenida Agrícola Paes de Barros, 1968/Rua Vereador Wilson Alves Denis Jardim Santa Izabel 593453 8274759

Rua 32, Quadra 160, número24 Pedra 90 - 1ª Etapa 612764 8271471

*End. Incompleto/Rua Bom Jesus/Rua Dom Antonio Malam Poção 597968 8274656

Avenida Gonçalo Antunes de Barros, 3245 (Cadeia Pública do Carumbé) Carumbé 601742 8277119
Quadro 8: Distribuição dos endereços de registro de homicídios no Município de Cuiabá-MT, ano 2007.
Fonte: Laudos de Necropsia do IML/POLITEC-MT;
Boletins de Ocorrência Policial do Sistema de Registro de Ocorrências Policiais- SROP/SEJUSP-MT;
Planilhas Mensais da Delegacia Especializada em Homicídios e Proteção a Pessoa- DEHPP/PJC-MT e,
Livro de Registro Simplificado de Ocorrências Policiais da DEHPP/PJC-MT.
*Endereço Incompleto.
**Endereço Ignorado.
Elaborado e organizado Por: Elcio Bueno de Magalhães, 2010.
207

Cont. Quadro 8.
Endereços de homicídios Coordenadas UTM
Logradouros Bairros/Localidades X Y
Avenida Tuiuiú, 45/Avenida Professora Alice Freire (próximo a Escola Estadual Dione Augusta Morada da Serra/Núcleo Habitacional CPA 602892 8279465
da Silva Souza) IV-1ª Etapa
Rua 12, Quadra 06, número 21 Assentamento Castelo Branco 599892 8276544

Rua Neblina/Rua Monte Azul (Bar Serra Negra/Centro Comunitário) Planalto 603195 8277063

Rua Almerindo de Almeida, 122/Rua Vitória Alvorada 598038 8277758

Avenida Doutor Meirelles (aprox. 1.500m após a ACADEPOL) Osmar Cabral 607002 8274302

Rua D5, Quadra 63, número 04 (Rosi Modas) Parque Cuiabá 602435 8268481

Rua Z, Quadra 10, Lote 11 (próximo a ponte de concreto) Planalto 603820 8276983

Rua 33, Quadra 27, número 72 AEU 2/Três Barras 604623 8280052

Travessas Figueiras, 76 (próximo ao Ferro Velho do Caio) Parque Ohara 602464 8271540

Avenida Guanabara, Quadra 169, Lote 26 AEU/Loteamento Altos da Serra 604569 8277190

Rua Rio Grande do Sul/Rua Piracicaba Novo Horizonte 603917 8277634

Rua 06, Quadra 27, número 517 Jardim Industriário 609982 8269904

Rua Alto Araguaia, Quadra 116 (ou Rua 63, Quadra 116, número 03) Morada da Serra/Núcleo Habitacional CPA II 602217 8279067

Rua Alberto Gomes de Assis, 395 Loteamento Vila Nova do Coxipó 607270 8273054

Rua Amaral Moreira/Rua Fernando Costa (próximo a Panificadora do Netinho) Areão 598636 8275183

Rua Paiaguás, Quadra 09 (Campo de Futebol) Jardim Mossoró 602286 8269689

*End. Incompleto/Avenida Coxipó Mirim/Ponte de Ferro Distrito Coxipó do Ouro/Zona Rural 609907 8281405
598139 8278991
Avenida República do Líbano/Avenida Hélio Ribeiro (Posto de Combustível Bom Clima) Paiaguás
Quadro 8: Distribuição dos endereços de registro de homicídios no Município de Cuiabá-MT, ano 2007.
Fonte: Laudos de Necropsia do IML/POLITEC-MT;
Boletins de Ocorrência Policial do Sistema de Registro de Ocorrências Policiais- SROP/SEJUSP-MT;
Planilhas Mensais da Delegacia Especializada em Homicídios e Proteção a Pessoa- DEHPP/PJC-MT e,
Livro de Registro Simplificado de Ocorrências Policiais da DEHPP/PJC-MT.
*Endereço Incompleto.
**Endereço Ignorado.
Elaborado e organizado Por: Elcio Bueno de Magalhães, 2010.
208

Cont. Quadro 8.
Endereços dos homicídios Coordenadas UTM
Logradouros Bairros/Localidades X Y
*End. Incompleto/Estrada do Coxipó do Ouro (próximo ao Aterro Sanitário Quilombo) Distrito Coxipó do Ouro/Zona Rural 604012 8285845
*End. Incompleto/Rua Barão de Vila Bela/Avenida Carmindo de Campos (Rancing Car) Assentamento São Mateus 597108 8273364
Rua Jacarandá, 358/Rua Amambaí Alvorada 598238 8277469
AEU/ Assentamento Doutor Fábio 604431 8278194
*End. Incompleto/Rua Sapezal (Igreja Presbiteriana do Brasil) Leite
Avenida São Sebastião/Praça Cai Cai (Paróquia Nossa Senhora da Boa Morte) Goiabeiras 595622 8275396
Morada da Serra/Núcleo 603042 8278996
Rua 02, Quadra 10, Bloco 04 (Bar do Ceará/Praça do CPA-III) Habitacional CPA-III, Setor 2
Rua Amazonas, Quadra 169, Lote 26 AEU/Loteamento Altos da Serra 604515 8277012
Rua 26, Quadra 139/Avenida Nilton Rabelo de Castro (próximo a Torre de Celular) Pedra 90-1ª Etapa 612362 8271281
Rua P1, Quadra 51, número 05 Parque Cuiabá 602741 8267867
Rua E-5/Rua J-10 (próximo ao Campo de Futebol) Nossa Senhora Aparecida 602118 8270644
*End. Incompleto/Rua 07 (próximo a Ponte) AEU 2/Três Barras 604848 8279523
*End. Incompleto/Rua 06, número 02/Avenida Nilton Rabelo de Castro Pedra 90-1ª Etapa 611517 8271602
Rua Alexandre Rodrigues, 384 Dom Aquino 597123 8273801
*End. Incompleto/Rua 09 Nova Esperança-III 609635 8269035
608829 8269395
Rodovia BR-364 (Presídio Central de Cuiabá) Pascoal Ramos
Avenida 08 de Abril/Avenida Ranulfo Paes de Barros (próximo ao CISC OESTE) 594630 8274804
Verdão
Morada da Serra/Núcleo 602991 8279083
Rua 03, Bloco 03, número 201 (Prédio) Habitacional CPA-III- Setor 2
Rua17, Quadra 35, número 284 Bela Vista 600222 8277023
Rua 17, Quadra 35, número 284 Bela Vista 600219 8277024
Quadro 8: Distribuição dos endereços de registro de homicídios no Município de Cuiabá-MT, ano 2007.
Fonte: Laudos de Necropsia do IML/POLITEC-MT;
Boletins de Ocorrência Policial do Sistema de Registro de Ocorrências Policiais- SROP/SEJUSP-MT;
Planilhas Mensais da Delegacia Especializada em Homicídios e Proteção a Pessoa- DEHPP/PJC-MT e,
Livro de Registro Simplificado de Ocorrências Policiais da DEHPP/PJC-MT.
*Endereço Incompleto.
**Endereço Ignorado.
Elaborado e organizado Por: Elcio Bueno de Magalhães, 2010.
209

Cont. Quadro 8.
Endereços dos homicídios Coordenadas UTM
Logradouros Bairros/localidades X Y
Avenida Fernando Corrêa da Costa/Avenida Beira Rio (Açofer) Coxipó 600557 8272471
604417 8286357
*End. Incompleto/Estrada do Coxipó do Ouro (próximo ao Aterro Sanitário Quilombo) Distrito Coxipó do Ouro/Zona Rural
Rodovia Emanuel Pinheiro, MT-251, Quadra 01, número 01 (antigo Bar do Ronaldo) Assentamento Jardim Itapuã 598015 8279875

*End. Incompleto/ Estrada (Caixa D' Água) Recanto das Siriemas 604283 8275542
Morada da Serra/Núcleo 603620 8279630
Rua 143, Quadra 145, Casa 10 Habitacional CPA IV-4ª Etapa
Rua P, Quadra 62, número 20 Pedra 90-3ª Etapa 612164 8272320

*End. Incompleto/Estrada do Coxipó do Ouro (próximo ao Aterro Sanitário Quilombo) Distrito Coxipó do Ouro/Zona Rural 605509 8286609

*End. Incompleto/Rua Adelaide Benvindo (em frente a Igreja Evangélica Pentecostal) Assentamento Jardim Liberdade 608351 8273778

*End. Incompleto/Rua Instambú Bordas da Chapada-II 598132 8278211

Rua Ituberá (antigo Centro Comunitário) Canjica 599297 8276902

Avenida Doutor Meirelles/Avenida Principal, Quadra 01, Lote 01 Loteamento Novo Milênio 606332 8273458

Rua Neblina/Rua Monte Azul (Bar Serra Negra/Centro Comunitário) Planalto 603199 8277068

*End. Incompleto/Avenida Castro Alves (próximo ao Correios) Jardim Santa Izabel 593516 8274908

Avenida N, Quadra 19, número 05 (Bar Bibitar) Jardim Mossoró 603059 8269769

Rua dos Borolos, 266 (ou Rua Emanuel Pinheiro) Santa Helena 596735 8276743
AEU/Assentamento Doutor Fábio 605510 8279364
Rua Tucunaré/Rua Campo Verde (próximo ao Posto de Assistência Anália Franco) Leite
Rua L, Quadra 66, número 17/Rua 15 Pedra 90- 3ª Etapa 612241 8272513
Quadro 8: Distribuição dos endereços de registro de homicídios no Município de Cuiabá-MT, ano 2007.
Fonte: Laudos de Necropsia do IML/POLITEC-MT;
Boletins de Ocorrência Policial do Sistema de Registro de Ocorrências Policiais- SROP/SEJUSP-MT;
Planilhas Mensais da Delegacia Especializada em Homicídios e Proteção a Pessoa- DEHPP/PJC-MT e,
Livro de Registro Simplificado de Ocorrências Policiais da DEHPP/PJC-MT.
*Endereço Incompleto.
**Endereço Ignorado.
Elaborado e organizado Por: Elcio Bueno de Magalhães, 2010.
210

Cont. Quadro 8.
Endereços dos Homicídios Coordenadas UTM
Logradouros Bairros/Localidades X Y
602462 8276973
Avenida Dante Martins de Oliveira, Quadra (Boyte Explendor) Planalto
Morada da Serra/Núcleo Habitacional CPA- 602703 8278454
Rua 46 (próximo ao EMEB- 1º Tenente Otacílio Sebastião da Cruz) III- Setor 4
Rua Monte Sinai (entrada do Residencial Planalto-II) Planalto 599513 8278644

Avenida B, Quadra 25, Casa 04/Rua 11 Cohab São Gonçalo 602475 8269885

Rua 03, Quadra 113 Morada da Serra/ Loteamento Jardim Brasil 603606 8280182

*End. Incompleto/ Avenida Principal (Igreja São Francisco de Assis) Osmar Cabral 607632 8273702

Avenida V2, Quadra 09(ou Avenida Tsunami Goga) Assentamento Jardim Botânico 610059 8268978

Rua Joaquim Gomes Moreno, 260 Ribeirão do Lipa 610059 8268978

Rua 19/Rua 07, Quadra 35, Casa 15 (Bar do Índio) AEU 2/Loteamento Altos da Glória 604675 8281011

Avenida Beira Rio (Cais do Porto/Rio Cuiabá), Próximo a Sanecap. Porto 604675 8281011

Rua G (próximo esquina com a Avenida 04) 1º de Março 604035 8281010

Avenida 72/Rua 57 (próximo ao Mini Estádio) Pedra 90-2ª Etapa 613439 8271421

Avenida Manoel Ramos Lima, 279 (Pantanal Lanches) Coophamil 593457 8273137

Rua Egídia de Souza/Rua Benedito de Souza Paraíso/Loteamento Novo Paraíso-II 601222 8281309

Rua 19, Quadra 44/Rua 13 AEU 2/Loteamento Altos da Glória 605007 8281188
604375 8279574
**End. Ignorado (próximo ao Linhão) Área de Expansão Urbana 2/Três Barras
593399 8273960
Rua Manaus, 243 (fundos do Posto de Combustível Idasa) Cidade Verde
Quadro 8: Distribuição dos endereços de registro de homicídios no Município de Cuiabá-MT, ano 2007.
Fonte: Laudos de Necropsia do IML/POLITEC-MT;
Boletins de Ocorrência Policial do Sistema de Registro de Ocorrências Policiais- SROP/SEJUSP-MT;
Planilhas Mensais da Delegacia Especializada em Homicídios e Proteção a Pessoa- DEHPP/PJC-MT e,
Livro de Registro Simplificado de Ocorrências Policiais da DEHPP/PJC-MT.
*Endereço Incompleto.
**Endereço Ignorado.
Elaborado e organizado Por: Elcio Bueno de Magalhães, 2010.
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Cont. Quadro 8.
Endereços dos homicídios Coordenadas UTM
Logradouros Bairros/Localidades X Y
**End. Ignorado/Chácara próximo ao Linhão) Morada da Serra/ Loteamento Jardim Brasil 604361 8279341

Rua Amazonas, Quadra 27, número 174 (em frente a H Distribuidora de Gás, Água e Bebidas) Novo Horizonte 603719 8277690

Rua Tapuã, 70 Novo Terceiro 593429 8273599

Rua 56, Quadra 195, número 03 Pedra 90-2ª Etapa 613163 8271422

Rua 13 de Junho, 544 (Hotel Tropical) Centro Sul 596717 8274945

*End. Incompleto/Rodovia dos Imigrantes (Posto de Combustível 10) Distrito Industrial 607021 8269310

Avenida 02/Rua 09, Quadra 19 (Lanchonete Ki-Sombra) Osmar Cabral 607542 8273459

Avenida A, Quadra 02, número 18 (próximo ao Campinho) Jardim Fortaleza 608037 8273508

Rua 10, Quadra 13, número 17/Avenida 30 Jardim Industriário 609366 8269245

Rua Fenellon Muller, 714 Dom Aquino 597602 8273969

Avenida Senador Louremberg Nunes Rocha, Quadra 31, Casa 21 Paraíso/Loteamento Novo Paraíso-II 601368 8281147

Rua 08, Quadra 18, número 278 Osmar Cabral 607752 8273642

Avenida B, Quadra 27, número 02 (Bar do Rony) Cohab São Gonçalo 602537 8269899

Rua 11, Quadra 01, Casa 22 Assentamento Castelo Branco 599948 8276755

Rua 21, Quadra 40, número 11/Rua 23 (Bar Skinão Lanches) Jardim Florianópolis 598690 8280984

Avenida Historiador Rubens de Mendonça (em frente a Costelaria do Gaúcho) Morada da Serra/ Núcleo Habitacional CPA-I 601312 8280416

Rua Alameda 02, Quadra 41, Lote 01/ Rua 25 Morada da Serra/Núcleo Habitacional CPA-III - Setor 5 603704 8278502

Rua Poxoréo, 31 (em frente ao Hotel União) Alvorada 597914 8277270

Rua 09, Quadra 22, Casa 23/Rua 06 Altos do Coxipó 605070 8271665
Quadro 8: Distribuição dos endereços de registro de homicídios no Município de Cuiabá-MT, ano 2007.
Fonte: Laudos de Necropsia do IML/POLITEC-MT;
Boletins de Ocorrência Policial do Sistema de Registro de Ocorrências Policiais- SROP/SEJUSP-MT;
Planilhas Mensais da Delegacia Especializada em Homicídios e Proteção a Pessoa- DEHPP/PJC-MT e,
Livro de Registro Simplificado de Ocorrências Policiais da DEHPP/PJC-MT.
*Endereço Incompleto.
**Endereço Ignorado.
Elaborado e organizado Por: Elcio Bueno de Magalhães, 2010.
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Cont. Quadro 8.
Endereços dos homicídios Coordenadas UTM
Rua Doutor Lebrinha, Quadra 63, número 09 Paraíso/ Loteamento Novo Paraíso-II 601521 8281641

Rua N, Quadra 24, Lote 18 1º de Março 604187 8280514

Rua 15, Quadra 28, Casa 10 (Bar Santo Antonio) Cohab São Gonçalo 602641 8269874

Rua Bakaeri, Quadra 112, Casa 115 AEU/ Assentamento Doutor Fábio Leite 604068 8277897

Avenida Gonçalo Antunes de Barros (Complexo Pomeri) Carumbé 602488 8277319

Rodovia Elder Cândia/MT-010, Km 08 (aproximadamente 1000m da Estrada Machado) Distrito Nossa Senhora da Guia/Zona Rural 593632 8286217

Rua N/Rua M 1º de Março 604182 8280782

Rua Maricá, 62 Pedregal 599618 8275186

*End. Estrada Carioca/Assentamento Marcolana (aproximadamente 3 Km do vilarejo) Distrito Aguaçu/Zona Rural 595722 8308317

Rua Olacir de Souza/Rua Benedito de Souza Paraíso/Loteamento Novo Paraíso-II 601224 8281236

Rua Militão/Rua Santos Rocha (próximo ao Posto de Saúde) Jardim Leblon 599197 8275235

Rua Rio Grande do Sul, 184 Jardim Paulista 598021 8273271


Morada da Serra/Núcleo Habitacional CPA- 602433 8279318
Rua Porto Esperidião/Rua Professora Alice Freire (Lubricenter) II
Morada da Serra/Núcleo Habitacional CPA- 602859 8278234
*End. Incompleto/Rua 61, Quadra 08 (Praça) III
599515 8278649
Rua Juara (em frente à EMEB Coronel Otacílio Jorge da Silva) Morada da Serra/Tancredo Neves
603743 8280320
Rua B, Quadra 12, número 37 1º de Março
603684 8270659
Avenida Fernando Corrêa da Costa, 7.250 (próximo a Beira Rio Material para Construção) São José
609077 8272174
Avenida São Gerônimo, 1496 (Chácara) São Sebastião/Chácaras
Quadro: Distribuição dos endereços de registro de homicídios no Município de Cuiabá-MT, ano 2007.
Fonte: Laudos de Necropsia do IML/POLITEC-MT;
Boletins de Ocorrência Policial do Sistema de Registro de Ocorrências Policiais- SROP/SEJUSP-MT;
Planilhas Mensais da Delegacia Especializada em Homicídios e Proteção a Pessoa- DEHPP/PJC-MT e,
Livro de Registro Simplificado de Ocorrências Policiais da DEHPP/PJC-MT.
*Endereço Incompleto.
**Endereço Ignorado.
Elaborado e organizado Por: Elcio Bueno de Magalhães, 2010.
213

Cont. Quadro 8.
Endereços dos homicídios Coordenadas UTM
Logradouros X Y
Rua dos Trabalhadores, 791 Jardim Santa Izabel 592946 8274790
Rua Porto Alegre, Quadra 06, Lote 03 (próximo a PSF) AEU/ Assentamento Doutor Fábio Leite 604941 8278721
Avenida José Torquato da Silva, Quadra 04, número 11/Rua 5A Paraíso/ Loteamento Novo Paraíso-II 602524 8280172
Avenida Tuiuiú, 45/Avenida Professora Alice Freire (próximo a Escola Estadual Dione Morada da Serra/Núcleo Habitacional 602747 8279612
Augusta da Silva Souza) CPA-IV
Rua 31, Quadra 155, número 33 Pedra 90-1ª Etapa 612527 8271016
Avenida Presidente Marques, 413 Quilombo 596436 8275963
Rua Manoel Ferreira Mendonça, 367 (próximo ao Lar da Criança) Bandeirantes 597472 8275065
Rua 04, Quadra 05, Casa 189 Jardim Comodoro 602660 8270441
Rua 23, Quadra 44, número 308 Jardim Vitória 599420 8281917
Rua 27, Quadra 12, número 27 Três Barras 604616 8279685
Avenida Aclimação, 335 (Hospital São Mateus) Bosque da Saúde 598924 8276532
Rodovia BR-364, número 1630 (Posto de Combustível São Mateus) Distrito Industrial 609127 8268833
Rua Frei Quirino ou Rua J/Rua Nicola Sava Leventi (Bar do Pipoca) Novo Colorado 594706 8278833
Rua Caramuru (Praça da Escola Estadual Rafael Rueda- CAIC) Pedra 90-1ª Etapa 611716 8271644
Rua Itaúba, Quadra 19, número 13 (Terreno Baldio) Jardim Gramado 600955 8270490
*End. Incompleto/ Estrada da Comunidade Tranquilo/Fazenda Nossa Senhora da Penha Distrito Coxipó do Ouro/Zona Rural 610022 8284782
Quadro 8: Distribuição dos endereços de registro de homicídios no Município de Cuiabá-MT, ano 2007.
Fonte: Laudos de Necropsia do IML/POLITEC-MT;
Boletins de Ocorrência Policial do Sistema de Registro de Ocorrências Policiais- SROP/SEJUSP-MT;
Planilhas Mensais da Delegacia Especializada em Homicídios e Proteção a Pessoa- DEHPP/PJC-MT e,
Livro de Registro Simplificado de Ocorrências Policiais da DEHPP/PJC-MT.
*Endereço Incompleto.
**Endereço Ignorado.
Elaborado e organizado Por: Elcio Bueno de Magalhães, 2010.
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Cont. Quadro 8.
Endereços dos Homicídios coordenadas UTM
Logradouros Bairros/Localidades X Y
Rua 12, Quadra 57 (Praça do CAIC) Pedra 90-1ª Etapa 611733 8271603

Rua Suasuí/Rua Floriano Peixoto Morada da Serra/Vila Rosa 603103 8277852

Rua Espiridião Nelson Nunes, Quadra 09 (ou Rua A) Novo Colorado 594586 8279056

Avenida Coronel Escolástico/Avenida Tenente Coronel Duarte (Parque Morro da Luz) Bandeirantes 597382 8275583

Rua S4, Quadra 117 (Bar do Cebola) Tijucal- Setor 4 606173 8271204

Rua Allan Kardec, 315/Rua Clara Nunes Jardim Santa Izabel 593133 8275222

Rua 06 (Hospital abandonado) Pedra 90-3ª Etapa 611797 8272286

Rua 15, Quadra 28, Casa 10 (Bar do Luiz) Cohab São Gonçalo 602642 8269872

Rua 09, Quadra 13/ou Avenida Bakaeri/Rua Terena (próximo ao Bar dos Amigos) Loteamento Residencial Itapajé 602353 8268915
607663 8272758
Rua F16, Quadra 16, Casa 06/Rua F 18 Jardim Fortaleza
596849 8273748
Rua Irmã Elvira Paris, 135 (próximo a BEUX Auto Peças Ltda) Dom Aquino
609782 8281286
*End. Incompleto/Avenida Coxipó Mirim/Ponte de Ferro/Chácara Taperão Distrito Coxipó do Ouro/Zona Rural
Paraíso/ Loteamento Novo Paraíso- 601103 8281141
Avenida Torquato da Silva, Quadra 02, Casa 10 (Bar Novo Mato Grosso) II
604819 8279322
Rua 04, Quadra 06, Lote 25 Três Barras
597039 8275494
*End. Incompleto/Rua Pedro Celestino (Praça da República/Calçadão) Centro Sul
598355 8275754
Rua São Luiz/Rua São João (Bar do Sampaio) Lixeira
607479 8273447
Rua 48/Rua 46 (próximo a Caixa D' Água) São João Del Rey
Quadro: Distribuição dos endereços de registro de homicídios no Município de Cuiabá-MT, ano 2007.
Fonte: Laudos de Necropsia do IML/POLITEC-MT;
Boletins de Ocorrência Policial do Sistema de Registro de Ocorrências Policiais- SROP/SEJUSP-MT;
Planilhas Mensais da Delegacia Especializada em Homicídios e Proteção a Pessoa- DEHPP/PJC-MT e,
Livro de Registro Simplificado de Ocorrências Policiais da DEHPP/PJC-MT.
*Endereço Incompleto.
**Endereço Ignorado.
Elaborado e organizado Por: Elcio Bueno de Magalhães, 2010.
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Cont. Quadro 8.
Endereços dos Homicídios Coordenadas UTM
Logradouros Bairros/Localidades X Y
Avenida Brasília, Quadra 42/Rua Curitiba (Kit net) Novo Horizonte 603653 8277418

Rua 08, Quadra 14, número 14 Jardim Vitória 599981 8281326

Rua Marambaia, 109 Pedregal 599473 8275332

Rua S1/Rua 120, Quadra 26 Tijucal-Setor 1 605190 8271035

Rua 29/Rua 13 (próximo ao Campo de Futebol) Três Barras 604587 8279925


602138 8279804
End. Incompleto/Rua 68 (Praça Cultural) Morada da Serra/Núcleo Habitacional CPA-II
End. Incompleto/Rua 07 de Janeiro (Supermercado Compre Mais) Jardim Leblon 599108 8275598

Rua C, número 144 Lixeira 598526 8275896

Rua Maracanã, 77 Pedregal 599473 8275613

Rua 19, Quadra 33, número 27 (Serralheria e Vidraçaria Soares) Jardim Florianópolis 598519 8280836
Morada da Serra/Núcleo Habitacional CPA-IV-4ª 603684 8279954
Rua 131, Quadra 113, Casa 19 (próximo a Mercearia Real) Etapa
Avenida 08 de Abril/Rua Padre Vanir Delfino Cesar (Bar do Boa) Jardim Cuiabá 595298 8275339

Rua Gago Coutinho, 447 (próximo ao Hospital Ortopédico) Araés 597568 8276174

Rua F 07, Quadra 06, Casa 38 Jardim Fortaleza 608033 8273389

Avenida Doutor Meirelles (Posto de Combustível Brasileirinho) Altos do Coxipó 605209 8271544

Rua Engenheiro Ricardo Franco, 415/Travessa Padre Masserati (Estrela Bar) Centro Sul 597249 8275731
Avenida Alziro Zarur/Rua 35 (Bar Zapata) 599952 8273625
Boa Esperança
Rua Santa Terezinha/Rua Comendador Henrique (próximo a Distribuidora e Mercearia 597591 8273756
Dom Aquino) Dom Aquino
Quadro 8: Distribuição dos endereços de registro de homicídios no Município de Cuiabá-MT, ano 2007.
Fonte: Laudos de Necropsia do IML/POLITEC-MT;
Boletins de Ocorrência Policial do Sistema de Registro de Ocorrências Policiais- SROP/SEJUSP-MT;
Planilhas Mensais da Delegacia Especializada em Homicídios e Proteção a Pessoa- DEHPP/PJC-MT e,
Livro de Registro Simplificado de Ocorrências Policiais da DEHPP/PJC-MT.
*Endereço Incompleto.
**Endereço Ignorado.
Elaborado e organizado Por: Elcio Bueno de Magalhães, 2010.
216

Cont. Quadro 8.
Endereços dos Homicídios Coordenadas UTM
Logradouros Bairros/Localidades X Y
598721 8275575
Avenida João Gomes Sobrinho, 1035/Rua Nicola Sava Leventi (Bar do Pipoca) Lixeira
Rua 06, Quadra 10, Número 222 Jardim Vitória 600205 8281441
Grande Terceiro/Parque Residencial Beira Rio 598484 8272207
Avenida Beira Rio, Quadra 28, número 27 (Condomínio Vertical)
End. Incompleto/Matagal atrás do Clube Monte Líbano Loteamento Jardim Bom Clima 597815 8278549

Rua 02, Quadra 03, Casa 56/ou Rua Cajá Manga Osmar Cabral 607387 8273901
597866 8277277
End. Incompleto/Ponto Considerado/Trevo da Avenida República do Líbano/Rua Poxoréo Alvorada
Rua Espatódias, 37 (Chácara abandonada) Jardim das Palmeiras 602230 8272438
604204 8277575
End. Incompleto/Rua Governador Valadares (próximo a Lanchonete Big Bom) AEU/ Loteamento Altos da Serra
597943 8277236
Rua Jules Rimet, 100 (Distribuição Center Gás) Alvorada
603691 8280129
Rua 123 (próximo a Igreja Assembléia de Deus) Morada da Serra/Loteamento Jardim Brasil
597062 8273928
Rua Irmã Elvira Paris/Avenida Major Gama (próximo a Prosol) Dom Aquino
611930 8272098
Rua 12, Quadra 54, número 04 Pedra 90
Quadro 8: Distribuição dos endereços de registro de homicídios no Município de Cuiabá-MT, ano 2007.
Fonte: Laudos de Necropsia do IML/POLITEC-MT;
Boletins de Ocorrência Policial do Sistema de Registro de Ocorrências Policiais- SROP/SEJUSP-MT;
Planilhas Mensais da Delegacia Especializada em Homicídios e Proteção a Pessoa- DEHPP/PJC-MT e,
Livro de Registro Simplificado de Ocorrências Policiais da DEHPP/PJC-MT.
*Endereço Incompleto.
**Endereço Ignorado.
Elaborado e organizado Por: Elcio Bueno de Magalhães, 2010.

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