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Universidade Tecnológica Federal do Paraná

PR
UNIVERS IDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ
Campus Londrina
Coordenação de Engenharia Ambiental
I. Introdução:

I.1 Normas de Segurança

I.1.a EPI: Equipamento de Proteção Individual


O trabalho em laboratório exige a utilização de determinados equipamentos que
proporcionam a integridade física da pessoa, chamados EPIs. Cada aluno deverá ter o seu próprio
conjunto básico de EPIs composto de:
a) Óculos de segurança;
b) Avental que deve ter as seguintes características:
- comprimento: até a altura dos joelhos;
- mangas compridas;
- confeccionado em algodão;
c) Luvas de látex;
 Sem estes itens, não será admitida a realização da aula prática.

I.1.b Regra Primeira


O trabalho em laboratório exige concentração. Não converse desnecessariamente, nem
distraia seus colegas.
Laboratório não é local de brincadeiras: tal atitude é inadmissível neste local e motivo
para de expulsão da aula prática!

I.1.c Regras Gerais de Caráter Pessoal


- No trabalho em laboratório devem ser utilizados, além das EPIs, calças compridas e sapatos
fechados, com sola antiderrapante e sem saltos altos;
- Os cabelos compridos devem estar presos;
- Certifique-se da localização e funcionamento dos Equipamentos de Proteção Coletivos – EPCs :
extintores de incêndio, lava-olhos e chuveiros de emergência;
- Certifique-se da localização das saídas de emergência
- Não pipete nenhum tipo de produto com a boca. Use sempre o pipetador;
- Não misture material de laboratório com seus pertences pessoais;
- Não leve as mãos à boca ou aos olhos quando estiver manuseando produtos químicos;
- Lave cuidadosamente as mãos com bastante água e sabão, antes de sair do laboratório;
- Não coloque nenhum alimento nas bancadas, armários, geladeiras e estufas dos laboratórios.
- Não utilize vidraria de laboratório como utensílio doméstico;
- Não fumar, comer, beber ou aplicar cosméticos em laboratórios;
- Não use lentes de contato no laboratório, pois podem ser danificadas por vapores de produtos
químicos, causando lesões oculares graves;
- Não se exponha a radiação UV, IV ou de luminosidade muito intensa sem a proteção adequada
(óculos com lentes filtrantes);
- Feche todas as gavetas e porta que abrir.

I.1.d Regras Gerais do Laboratório


- Mantenha bancadas sempre limpas e livres de materiais estranhos ao trabalho. Deixe bolsas e
mochilas no local indicado pelo professor ou técnico;
- Faça uma limpeza prévia, com água, ao esvaziar um frasco de reagente, antes de colocá-lo para
lavagem. Esta água de lavagem é considerada resíduo do reagente;
- Rotule imediatamente qualquer reagente ou solução preparada e as amostras coletadas;
- Retire da bancada os materiais, amostras e reagentes empregados em um determinado
experimento, logo após o seu término;
- Jogue papéis usados e materiais inservíveis na lata de lixo somente quando não representar risco
para as pessoas ou meio ambiente;
- Limpe imediatamente qualquer derramamento de produtos químicos. Em caso de dúvida sobre a
toxicidade ou cuidados especiais a serem tomados com o produto, entre em contato com o professor
ou técnico responsável;

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- Em caso de derramamento de líquidos inflamáveis, produtos tóxicos ou corrosivos, tome as seguintes
providências:
- Interrompa o trabalho;
- Advirta as pessoas próximas sobre o ocorrido;
- Solicite ou efetue a limpeza imediata;
- Alerte o professor ou responsável pelo laboratório;
- Verifique e corrija a causa do problema.

I.1.e Vidrarias
- Não utilize material de vidro quando trincado;
- Coloque todo o material de vidro inservível no local identificado para este fim;
- Não deposite cacos de vidro em recipiente de lixo;
- Proteja as mãos (com luvas de amianto, preferivelmente) quando for necessário manipular peças de
vidro que estejam quentes;
- Use luvas grossas (de raspa de couro) e óculos de proteção sempre que:
- Atravessar ou remover tubos de vidro ou termômetros em rolhas de borracha ou
cortiça;
- Remover tampas de vidro emperradas;
- remover cacos de vidro de superfícies;
- Não deixe frascos quentes sem proteção sobre as bancadas do laboratório, coloque-os sobre placas
de amianto.
- Tome cuidado ao aquecer recipiente de vidro com chama direta. Use, sempre que possível uma tela
para dispersão de calor sobre a chama.
- Não pressurize recipientes de vidro sem conhecer a resistência dos mesmos.

I.1.f Regras de Uso de Equipamentos


Regra geral: Leia atentamente as instruções sobre a operação do equipamento antes de
iniciar o trabalho. Saiba de antemão o que fazer no caso de emergência, como por exemplo, a falta de
energia ou água.

Equipamentos elétricos
- Só opere o equipamento quando os fios, tomadas e plugs estiverem em perfeitas condições; o fio
terra estiver ligado; tiver certeza da voltagem correta entre equipamento e circuitos.
- Não instale nem opere equipamentos elétricos sobre superfícies úmidas.
- Remova frascos inflamáveis das proximidades do local onde será utilizado equipamento elétrico.
- Enxugue qualquer líquido derramado no chão antes de operar o equipamento.

Chapas ou mantas de aquecimento


- Não deixe chapas/mantas aquecedoras ligadas sem o aviso “LIGADA”.
- Dentro da capela, use apenas chapas ou mantas de aquecimento;
- Não ligue chapas ou mantas de aquecimento que tenham resíduos aderidos sobre a sua superfície.

Muflas
- Não deixe mufla em operação sem o aviso “Ligada”.
- Não abra bruscamente a porta da mufla quando estiver aquecida.
- Não tente remover ou introduzir material na mufla sem utilizar pinças adequadas, protetor facial e
luvas de amianto.
- Não evapore líquidos na mufla.

O uso de chama no laboratório


- Não acenda o bico de Bunsen sem antes verificar e eliminar os seguintes problemas:
- Vazamentos
- Dobra no tubo de gás
- Ajuste inadequado entre o tubo de gás e suas conexões
- Existência de materiais ou produtos inflamáveis ao redor do bico
- Nunca acenda o bico de Bunsen com a válvula de gás muito aberta.

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O uso de sistemas a vácuo
- Somente opere sistemas de vácuo usando uma proteção frontal no rosto.
- Não faça vácuo rapidamente em equipamentos de vidro.
- Recubra com fita de amianto qualquer equipamento de vidro sobre o qual haja dúvida quanto à
resistência ao vácuo operacional.
- Use frascos de segurança em sistemas a vácuo e verifique-os periodicamente.

O uso de capelas
- Nunca inicie um trabalho sem verificar se:
- O sistema de exaustão está funcionando;
- O piso e a janela da capela estejam limpos;
- As janelas da capela estejam funcionando perfeitamente.
- Nunca inicie um trabalho que exige aquecimento sem antes remover os produtos inflamáveis da
capela.
- Deixe na capela apenas o material (equipamentos e reagentes) que serão efetivamente utilizados,
remova todo e qualquer material desnecessário, principalmente produtos químicos.
- Mantenha as janelas das capelas com o mínimo possível de abertura.
- Nunca coloque o rosto dentro da capela.
- Instale equipamentos ou frascos de reagentes a pelo menos 20 cm da janela da capela.
- Em caso de paralisação do exaustor, tome as seguintes providências:
- Interrompa o trabalho imediatamente;
- Feche ao máximo a janela da capela;
- Avise ao pessoal do laboratório o que ocorreu;
- Somente reinicie o trabalho no mínimo 5 minutos depois da normalização do
sistema de exaustão;

I.1.g Regras de Manipulação de Produtos Químicos

Líquidos inflamáveis
- Não manipule líquidos inflamáveis sem se certificar da inexistência de fontes de ignição nas
proximidades: aparelhos que geram calor, tomadas, interruptores, lâmpadas, etc.
- Use a capela para trabalho com líquidos inflamáveis que exijam aquecimento.
- Use protetor facial e luvas de couro quando for necessária a agitação de frascos fechados contendo
líquidos inflamáveis e/ou extremamente voláteis.
- Nunca jogue líquidos inflamáveis na pia. Guarde-os em recipiente próprios para resíduos de
inflamáveis.

Produtos tóxicos
- Antes de iniciar qualquer tipo de operação, procure informações toxicológicas (toxidez e via de
ingresso no organismo) sobre todos os produtos que serão utilizados e/ou formados no trabalho a
ser executado.
- FONTES DE INFORMAÇÃO SOBRE TOXICIDADE: Rótulo do produto, The Merck Index, MSDS (Material
Safety Data Sheets)
- Trabalhe somente na capela. Não descarte na pia os resíduos de produtos tóxicos.
Não descarte no lixo material contaminado com produtos tóxicos (papel de filtro, papel toalha, etc.).
- Interrompa o trabalho imediatamente, caso sinta algum sintoma, como dor de cabeça, náuseas, etc.

Produtos corrosivos
- Nunca descarte diretamente na pia. Os resíduos devem ser neutralizados, diluídos e descartados na
pia, desde que não tenham propriedades tóxicas importantes.
- A diluição de soluções concentradas de produtos corrosivos deve ser feita sempre acrescentando o
produto concentrado sobre o diluente. Por exemplo: ácido sulfúrico sobre a água.

Produtos Incompatíveis
- Antes de misturar substâncias verifique sua compatibilidade:

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Algumas Substâncias Incompatíveis 2.
SUBSTÂNCIAS INCOMPATÍVEL COM
Acetona Ácido sulfúrico concentrado e misturas de ácido nítrico
Ácido Acético Óxido de cromo IV, ácido nítrico, ácido perclórico, peróxidos,
permanganato, anilina, líquidos e gases combustíveis.
Ácido Nítrico Ácido acético, anilina, líquido e gases combustíveis.
Ácido Oxálico Prata, sais de mercúrio.
Ácido sulfúrico (H2 SO4) Clorato de potássio, perclorato de potássio, permanganato de
potássio (e compostos similares de metais leves, como sódio e
lítio)
Água cloreto de etila, metais alcalinos e alcalino terrosos, seus
hidretos e óxidos, peróxido de bário, carbetos, ácido crômico,
oxicloreto de fósforo, pentacloreto de fósforo, pentóxido de
fósforo, ácido sulfúrico, tetróxido de enxofre.
Amônia (anidra) Mercúrio, cloreto, hipoclorito de cálcio, iodeto, brometo e ácido
fluorídrico.
Amônio Nitrato Ácidos, metais em pó, substâncias orgânicas ou combustíveis
finamente divididos
Anilina Ácido nítrico, peróxido de hidrogênio
Brometo Amônia, acetileno, butadieno, hidrocarbonos, hidrogênio, sódio,
metais finamente divididos, terebintina e outros
hidrocarbonetos.
Carvão Ativo Hipoclorito de cálcio, oxidantes
Cobre Acetileno, peróxido de hidrogênio
Hidrocarbonetos (ex. metano, Flúor, cloro, bromo, ácido crômico, peróxido de sódio
propano, butano, benzeno, tolueno
etc)
Hipocloritos ácidos, carvão ativado
Iodo acetileno, amônia (aquosa ou anidra), hidrogênio
Líquidos inflamáveis Nitrato de amônio, peróxido de hidrogênio, ácido nítrico,
peróxido de sódio, halogênios
Nitratos ácido sulfúrico
Nitrato de amônio ácidos, metais finamente divididos, líquidos inflamáveis,
cloratos, nitratos, enxofre, materiais orgânicos ou combustíveis
finamente divididos.
Oxigênio óleos, graxas, hidrogênio, gases, sólidos ou líquidos inflamáveis
Permanganato de Potássio Glicerina, etilenoglicol, ácido sulfúrico
Peróxido de Hidrogênio Cobre, cromo, ferro, álcoois, acetonas, substâncias
combustíveis.

Cilindros de Gás
- Evitar instalar cilindros de gases comprimidos no interior dos laboratórios.
- Manter os cilindros sempre presos com correntes e ao abrigo de calor.
- Jamais retirar o protetor da válvula do cilindro.
- Utilizar carrinhos apropriados para o transporte de cilindros.
- Quando fora de uso, conservar os cilindros com o capacete de proteção.
- Não abra a válvula principal sem antes ter certeza de que a válvula redutora está fechada.
- Abra aos poucos e nunca totalmente a válvula principal do cilindro.

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I.2 Aparelhagem e Vidraria Básicas

I.2.a Vidrarias
As vidrarias encontradas em laboratório são desenhadas de acordo com sua finalidade
específica. Algumas são destinadas especificamente para preparo e estoque de soluções, ao passo
que outras são desenhadas para operações de transferência de líquidos e soluções. A seguir são
descritas as características e finalidades de algumas das vidrarias mais comuns utilizadas em um
laboratório de química.

- Balão Volumétrico: vidraria de precisão para o preparo e armazenagem


de soluções. Balões volumétricos possuem uma marca que indicam um
volume fixo com precisão, calibrados em temperatura específica (indicada
no frasco) e, portanto, não devem ser utilizados para aquecimento. Os
processos de dissolução e diluição envolvem aquecimento ou
resfriamento da solução, portanto, realize estes procedimentos
adicionando o soluto e o solvente de forma que o volume da solução fique
alguns centímetros abaixo da marca do gargalo. Espere até que a
solução atinja o equi-

líbrio térmico com o ambiente e só então complete o volume até a marca, adicionando o solvente gota
a gota.
Preenchimento correto de recipientes volumétricos: o volume
indicado no rótulo do recipiente é atingido precisamente quando o
menisco (ponto mínimo da depressão da superfície do líquido)
formado no gargalo do frasco atinge a marca do frasco. É
importante, neste processo de nivelamento, manter a marca do
frasco no mesmo plano horizontal dos olhos para

evitar efeitos de paralaxe. Obs: Para soluções opacas, nas quais não é possível visualizar o menisco,
por convenção, nivela-se a parte superior do menisco.
- Pipeta Volumétrica: vidraria de precisão para transferência de volumes
fixos de líquidos e soluções. Possuem uma marca que indicam um
volume fixo com precisão, calibrados em temperatura específica
(indicada na pipeta).
- Pipeta graduada: vidraria para transferência de pequenos volumes
variáveis, e possui uma escala impressa indicando o
volume dispensado (o topo marca o zero). A leitura da escala deve ser feita através do menisco como
descrito acima.
Utilização correta de pipetas: o preenchimento da pipeta
por sucção do líquido deve ser feito utilizando-se um
pipetador (pêra). Em hipótese nenhuma deve a sucção do
liquido ser feita com a boca.

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- Béquer: vidraria de utilização geral como dissolução de sólidos,
transferência de soluções, aquecimento de líquidos, etc. Possui
graduação indicando volumes aproximados apenas como
estimativa grosseira: esta escala de volume não é precisa.

- Erlenmeyer: vidraria de utilização geral como aquecimento de


líquidos, procedimento de reações químicas, etc. Seu formato
permite a agitação intensiva do meio reacional sem risco de
derramamento do conteúdo. Possui graduação indicando
volumes aproximados apenas como estimativa grosseira.

- Tubos de Ensaio: usado para realizar reações


químicas em pequenas escalas, para fins de
testes. Caso haja necessidade de aquecimento,
este deve ser manuseado com uma pinça
apropriada, mantendo-o inclinado e
movimentando-o constantemente sobre a chama,
tomando-se o cuidado de não direcionar a boca do tubo
para si ou outras pessoas.
- Cilindro graduado (proveta): Utilizado para medidas
aproximadas de volumes e para transferência de
líquidos.
- Bureta: Vidraria utilizada para transferência de volumes
variáveis. Possui uma escala impressa indicando o
volume dispensado (o topo marca o zero) e um registro
que permite a transferência lenta (gota a gota) do
líquido. É utilizada principalmente em titulações.
proveta bureta
- Funil de separação: - Condensadores: São
Utilizado para a utilizados nos
separação de processos de
líquidos imiscíveis. destilação fracionada
ou destilação simples.

- Balão de fundo redondo: -Vidro de Relógio:


Utilizado para aquecimento e usado para cobrir
evaporação de líquidos e na béqueres durante
montagem de sistemas de evaporações,
destilação (há versões com pesagens, etc.
mais de uma boca para
situações particulares).

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- Funil: usado para - Bastão de Vidro: Usado na
transferências de agitação e transferência de
líquidos e para líquidos.
filtrações. O funil com
colo longo e estrias é
chamado de funil
analítico

I.2.b Acessórios
Além de vidrarias, alguns assessórios são muito comuns em laboratórios. Estes acessórios
são descritos e ilustrados abaixo:
- Utensílios de Porcelana:
1. Cadinho: usado em calcinações de substâncias.
2. Triângulo de Porcelana: usado para sustentar cadinhos de
porcelana em aquecimentos diretos no bico de Bunsen.
3. Almofariz e Pistilo: usados para triturar e pulverizar
substâncias sólidas.
4. Cápsula: usada na evaporação de líquidos.
5. Funil de Büchner: usado em conjunto com um kitassato para
filtrações a vácuo.
6. Espátula: usada para a transferência de sólidos.

- Utensílios Metálicos:
1. Suporte Universal, Mufa e Garra: usados na sustentação de
peças para as mais diferentes finalidades, por exemplo, garra
para buretas (garra dupla), garra para destiladores (formato
arredondado), anel para funil, etc.
2. Pinça Metálica: usada para segurar objetos aquecidos.
3. Tripé: usado como suporte de telas de amianto e de
triângulos para aquecimento com bico de Bunsen.
4. Espátula: similar a de porcelana, contudo tem limitações
quanto ao ataque por substâncias corrosivas.
- Demais Utensílios
1. Tela de Amianto: usada para produzir uma
distribuição uniforme de calor durante o
aquecimento com um bico de gás.
2. Pinça de Madeira: usada para segurar tubos
de ensaio;
3. Pisseta: usualmente feita de plástico, pode
conter água destilada.
4 Bico de Bunsen: Utilizado para o aquecimento
por chama.

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Características e manuseio do bico de Bunsen:
O gás entra no queimador pela sua base e seu fluxo é regulado por uma torneira externa na
parte inferior (ou lateral) do bico. À medida que o gás sobe pelo tubo do queimador, o ar é injetado
através de orifícios situados um pouco acima da base. A quantidade de ar pode ser controlada
girando-se o anel que fica sobre os orifícios.
A etapa inicial para se acender um bico de gás é fechar a entrada de ar e posicionar o
queimador longe de objetos inflamáveis. A seguir, deve-se abrir o gás e acender o queimador. A chama
obtida apresenta uma cor amarela brilhante e é bastante grande. Esta chama é "fria" e inadequada ao
uso porque a mistura é pouco oxidante. Para que uma chama mais quente seja obtida, deve-se deixar
o ar entrar gradualmente no sistema, até que sua coloração se torne azulada. Nota-se então, duas
regiões cônicas distintas, como mostradas na figura acima a interna, mais fria, chamada de zona
redutora, e a externa, quase invisível, chamada de zona oxidante. A região mais quente, com
temperatura em torno de 1560 °C, está situada logo acima do cone interno.

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I.3 Dados experimentais

I.3.a Erros de Medidas


O processo experimental envolve a observação e determinação do valor de certas
propriedades ou variáveis. Salvo se a propriedade varie discretamente, i. e., só possa assumir valores
inteiros, como o número de pessoas num local, o número de gotas no escoamento de um conta-gotas,
etc., a propriedade pode assumir qualquer valor dentro de um universo de números reais. Como é
impossível escrever ou determinar tal valor com precisão infinita, este pode ser representado por um
intervalo, no qual se tem certeza de que o valor se encontre no interior. A extensão deste intervalo

indica a precisão com que se determina o valor medido. Por exemplo, o número 2 pode ser
determinado nos seguintes intervalos:

1 < 2 < 2, com erro inferior a 1


1,4 < 2 < 1,5, com erro inferior a 0,1
1,41 < 2 < 1,42, com erro inferior a 0,01

Num processo de medida experimental, a extensão deste intervalo é determinada pelas


características do instrumento de medida utilizado. Por exemplo, ao se efetuar uma medida utilizando
uma régua com divisão em milímetros, só se pode garantir o valor medido até o milímetro, que é o
limite inferior da escala. Assim, se o valor do comprimento for, em centímetros, de 1,4142......, a régua
só permitiria alcançar a primeira casa decimal deste valor. Como no quadro acima, só poderíamos
afirmar, com certeza, que a distância é algo entre 1,4 e 1,5 cm. Tal intervalo fica bem especificado
pela representação do valor como 1,45  0,05, ou seja, entra-se numa casa decimal além da divisão
da régua. Para se evitar este procedimento um tanto subjetivo, convenciona-se que, numa medida
deste tipo, toma-se o valor mais próximo e atribui-se o erro como sendo igual á menor divisão de
escala que se dispõe. Assim, o resultado da medida passa a ser dado por 1,4  0,1. Isto aumenta o
intervalo incerteza, mas o contém. Via de regra, é admissível aumentar um pouco a estimativa do
erro, como nesse exemplo, no entanto, não se deve abusar desse expediente.
Há casos em que a incerteza associada a uma medida não pode ser diretamente identificada.
É o caso de equipamentos de medidas eletrônicos, mais elaborados e complicados. Nestes casos, a
incerteza de uma medida é especificada pelo fabricante do equipamento.
A incerteza pode acompanhar o valor medido como no exemplo anterior (1,4 0,1 cm – e
neste caso é chamado erro absoluto) ou pode ser representada como uma razão entre o erro
absoluto e o valor medido. Nesta forma, a incerteza é chamada erro relativo. O erro relativo pode
aparecer multiplicado por 100 e expresso em porcentagem. Por exemplo, o erro relativo de 0,05
pode ser indicado como 5 % (5  100 = 0,05). O dado experimental 1,4  0,1 indica um erro relativo
de 0,1/1,4 = 0,072 e pode ser representado por 1,4 cm  7,2%. Normalmente, não se expressa o
erro relativo com mais do que 2 algarismos significativos e o erro absoluto se expressa com apenas
um algarismo significativo.
O número acompanhado de seu erro absoluto, como 1,4  0,1, indica que o último algarismo
carrega a incerteza no valor, e que, qualquer algarismo a mais que se escreva além deste não possui

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significado. Isto especifica o número de algarismos significativos em um dado experimental. O número
de algarismos significativos é igual à quantidade de algarismos do número, sem contar os zeros à
esquerda do primeiro algarismo diferente de zero, e contando os demais zeros que aparecerem.
Efetua-se esta contagem desde o início até o algarismo que carrega a incerteza, incluindo este último.
Ex: 0,0103  3 algarismos significativos;
0,1000  4 algarismos significativos;
0,10  2 algarismos significativos;
Observe que no contexto de dados experimentais, o valor 0,1000 é diferente de 0,10 quanto à
precisão do dado. Quando um dado experimental é apresentado sem o erro explícito, assume-se que a
incerteza está no último número: 0,1000 = 0,1000 0,0001 e 0,10 = 0,10 0,01.
Nem todas as propriedades podem ser medidas diretamente. Por exemplo, se não se dispõe
de um velocímetro, pode-se determinar a velocidade indiretamente pela determinação da distância
percorrida e do tempo gasto para percorrê-la, e efetuar a divisão destas medidas. Estas medidas
possuem as limitações descritas anteriormente quanto à precisão, e vão propagar suas incertezas
para o valor calculado de velocidade. Pode-se demonstrar as seguintes regras de operações com
valores especificados por um intervalo (valores com erros):
A) Adição e subtração: o erro absoluto no resultado é igual à soma dos erros absolutos dos
valores individuais somados ou subtraídos.
Ex. (0.5 0.2) + (0.2 0.1) = (0.7 0.3); (0.5 0.2) – (0.2 0.1) = (0.3 0.3)
B) Multiplicação e divisão por um número exato (sem incerteza): o erro absoluto no resultado é
igual ao erro absoluto multiplicado ou dividido pelo número exato. Isto significa que o erro relativo
não sofre alteração.
Ex. (0.5 0.1) ÷ 2 = (0.25 0.05); (0.5 0.1) x 2 = (1.0 0.2);
C) Multiplicação e divisão: o erro relativo no resultado é igual à soma dos erros relativos dos
valores multiplicados ou divididos.
Ex. (0.5 0.1) ÷ (0.5 0.1) = (0.5 20%) ÷ (0.5 20%) = (1.0  40%) = (1.0 0.4)
(0.5 0.1) x (2.0 0.2) = (0.5 20%) x (2.0 10%) = (1.0  30%) = (1.0 0.3)

D) Potenciação e Radiciação ( x   x  ) : o erro relativo no resultado é igual à ao erro

relativo do valor multiplicado pelo expoente (). Como alfa pode ser qualquer valor real, incluindo os
fracionários, a regra vale também para radiciação.
Ex. (2.0 0.2)2 = (2.0 10%)2 =(4.0 20%) = (4.0  0.8)
(4.0  0.4) = (4.0 10%)½ = (2.0 5%) = (2.0  0,1)
Normalmente, após operações sucessivas entre dados experimentais com incertezas
associadas, o resultado final apresenta uma incerteza maior do que aquelas dos dados originais.
Dessa forma, ambos resultado e incerteza não se encontram na forma apropriada de representação
(na maioria das vezes, estão com excessivos algarismos). A primeira atitude a se tomar é o cálculo do
erro absoluto e então, o arredondamento deste para apenas um algarismo significativo. Sabendo-se o
valor do erro absoluto, arredonda-se o valor do resultado para o número apropriado de algarismos
significativos, de forma que a incerteza esteja no último algarismo significativo do valor do resultado. A
regra de arredondamento difere nos dois casos. No arredondamento do erro absoluto, aumenta-se
em uma unidade o seu primeiro algarismo diferente de zero, i. e., arredonda-se ‘para cima’. No

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arredondamento do resultado, procede-se de maneira normal, i. e., se o algarismo posterior ao último
algarismo significativo for maior ou igual a 5, aumenta-se o ultimo algarismo significativo de uma
unidade; se o algarismo posterior ao último algarismo significativo for menor ou igual a 4, o último
algarismo significativo não se altera. Ex. (0.5 0.2) ÷ 2 = (0.25 0.1)  (0.3 0.2);
(0.5 0.2) x (2,10 0.04) = (0.5 40%) x (2,1 2%) = (1.05 42%) = (1.05 0.44)  (1.1 0.5)
Como o erro sempre aumenta a cada processo de arredondamento, só se procede ao
arredondamento (tanto no valor quanto na incerteza) no resultado final, e nunca em cada etapa do
cálculo. Durante o cálculo, trabalha-se com quantas casas decimais e algarismos significativos a
máquina suportar. Com isso, evita-se que no final o erro esteja superestimado devido a
arredondamentos sucessivos.

I.3.b Erros de experimentais


Intuitivamente, ninguém espera que uma seqüência de medidas experimentais (duas ou mais)
resulte sempre exatamente o mesmo valor. Normalmente, a discrepância entre medidas sucessivas
ocorre com amplitudes maiores do que o intervalo de incerteza associado ao processo de medida
(sessão anterior). A incerteza, ou erro de medida, está relacionada a uma única medida, ao passo que,
a discrepância entre resultados provenientes de repetições de um experimento está associada a uma
seqüência de repetições da medida. No primeiro caso, a incerteza provém do fato de não poder-se
fazer uma leitura com o número de algarismos significativos que se queira, mas esta incerteza pode
ser controlada ou diminuída pela utilização de equipamentos mais precisos. No último caso, o erro
provém do aparato experimental como um todo, incluindo seu ambiente, ou seja, de fatores que estão
fora do controle do experimentador. Dois tipos de erros experimentais podem ser identificados: o erro
sistemático e o erro aleatório.
O erro aleatório é probabilístico, e está associado à flutuações nas inúmeras condições que
influenciam numa medida, como por exemplo, pequenas flutuações térmicas no sistema experimental,
ruídos internos dos equipamentos de medida, etc. Este tipo de erro, por ser proveniente de flutuações,
normalmente se manifesta como flutuações nos resultados, ou seja, ora o resultado se apresenta
acima do valor real da propriedade medida, ora o resultado se apresenta abaixo do valor real. Isto
significa que na soma de um número grande de medidas, os erros aleatórios se cancelam, e o valor
médio fica próximo do valor real da propriedade medida. Este tipo de erro é tratável matematicamente
e pode ser eliminado, ou ao menos avaliado, para um sistema experimental.
O erro sistemático, ao contrário, não se apresenta como flutuações, ou seja, este erro produz
desvios sempre numa direção, isto é, leva o valor medido sempre acima (ou abaixo) do valor real em
todas as repetições do experimento. Assim, estes erros não se cancelam quando se obtém a média.
Este tipo de erro não é tratável matematicamente e sua presença só pode ser identificada quando se
conhece de antemão o valor real da propriedade medida. Exemplos de erro sistemático são
equipamentos mal calibrados, suposições indevidas a respeito do sistema experimental (por exemplo,
considerar um gás como se comportando segundo a lei dos gases ideais em situações onde tal
consideração não é válida), etc.
O erro sistemático está associado com a exatidão de um sistema experimental, ou seja, o
quanto a média dos resultados experimentais se apresenta próxima ou não do valor real conhecido. O
erro aleatório está relacionado com a precisão do sistema experimental, ou seja, a amplitude com
que os vários resultados oscilam em torno da média. O erro aleatório pode ser tratado pela

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estatística. A primeira atitude frente uma população de dados experimentais, é a determinação do
valor médio desta população, ou seja, pela identificação da tendência central dos dados experimentais.
A média ( x ), para uma população de dados (x1, x2, x3, ...xn ) é definida como:

1 n
x  xi
n i 1
A média, por si só, revela muito pouco a respeito da distribuição de uma população de dados.
2
Uma segunda característica de uma distribuição é a variância (  ), que mede a tendência destes
dados de se localizarem mais ou menos densamente em torno da média:

1 n
2   x i  x 2
n  1 i 1
A raiz quadrada da variância é denominada de desvio padrão (  ) :

n
 x i  x 2
 i 1
n 1
O desvio padrão é uma forma de se avaliar a média dos desvios em torno do valor médio.
Outra característica da distribuição é denominado desvio médio (D):

1 n
D  xi  x
n i 1
O desvio médio e o desvio padrão são geralmente da mesma ordem de magnitude e possuem
a mesma interpretação (dispersão em torno da média). A utilização do desvio padrão, entretanto, é
mais comum pelo fato de ser mais difícil tratar matematicamente a função módulo que aparece na
fórmula do desvio médio.
Como mencionado anteriormente, os resultados experimentais contendo erro aleatório são
tratados estatisticamente como uma distribuição. Se as fontes de erro aleatório forem puramente
probabilísticas (ou estocásticas) pode-se mostrar que a distribuição de valores em torno da média
ocorre segundo uma curva gaussiana (devido a C. F. Gauss) (chamada também de distribuição
normal), dada pela equação:

x
2
x  x 
1 2
p( x )  e 
p(x)

 2

A curva de distribuição normal ou gaussiana possui a seguinte interpretação: o valor da


função em um dado valor de x está relacionado à parcela da população com valor x. A probabilidade de
se obter um dado valor dentro de um intervalo x1 < x < x2 é dada pela área sob a curva neste intervalo,
como mostra a figura abaixo:

12
A probabilidade de um valor medido estar dentro do intervalo em questão é a chamada
expectativa de um valor neste intervalo. A distribuição gaussiana está normalizada de forma que a
área sob a curva seja igual a 1 (100%) em todo intervalo de menos infinito até mais infinito, ou seja, a
probabilidade de que uma medida resulte em qualquer valor possível é 100 %.
A maioria das pessoas reconhece, intuitivamente, o significado da média ( x ) de um conjunto
de dados. Da discussão acima, pode-se determinar o significado do desvio padrão (): Num conjunto
de dados experimentais sujeitos a erros aleatórios, 68 % dos dados vão cair na faixa de x  , 95 %
dos dados vão cair entre x  2 e 99,7 % (!) dos dados estarão entre x  3.
Como comentário final, convém mencionar que a distribuição gaussiana (e assim o significado
de desvio padrão) é válida para erros provenientes de fontes puramente estocásticas. Na vida real, os
erros aleatórios podem não ser puramente estocásticos, mas podem apresentar uma componente
determinística. Isto resulta numa tendência em desviar os valores medidos para uma direção
preferencial (ou para valores acima ou abaixo ) em relação à média, como também em outras formas
de distorções da curva normal. Nestes casos, a expectativa de valores num intervalo não pode ser
calculada como apresentada acima. Se há uma forte suspeita de que os dados experimentais se
distribuem de forma diferente da distribuição normal, existem tratamentos estatísticos mais
profundos para representar corretamente os dados experimentais, bem como outras funções de
distribuição possíveis. Mesmo assim, a distribuição gaussiana é sempre admitida a priori como uma
boa aproximação do comportamento das populações de dados experimentais.

I.3.c Exercícios:
1) Determine o número de algarismos significativos dos números abaixo:
a) 0,00256 b) 1,00256 c) 75.010,00 d) 350 e) 35 x 101 f) 3,50 x 102

2) Arredonde os valores dados abaixo para o número de algarismos significativos indicado entre
parênteses.
a) 0,756 (2) b) 101,050 (4) c) 1,498 (1) d) 103,46 (3) e) 904,999 (5) f) 0,0015 (1)

3) Efetue as operações com os seguintes valores de medidas experimentais:


a) 0,039 + 2,01 b) 7,0 - 5,049 c) 1,0 - 0,023 - 0,0005 d) 0,99 – 1,0

4) Efetue as operações com os seguintes valores de medidas experimentais e expresse os resultados


indicando seus erros absolutos:

13
a) (5,02  0,02) + (3,10  0,05) b) (16,1  1%) + (0,1  0,1) c) (25,2  0,02) x (3,95  0,05)
d) (48,5  0,05) x 10 (inteiro) e) (25,3  0,3)  (17,2  0,5)

5) Um guarda rodoviário observou que um carro percorreu duas marcas de referência


distantes 100 m em 4,4 s. As marcas de referência são duas faixas pintadas no asfalto com
espessura de 20 cm e o cronômetro do guarda possui precisão de décimo de segundo. Se o limite de
velocidade naquela rodovia é de 80 km/h, pode o guarda multar o motorista do carro seguramente?

6) Uma seqüência de 25 observações de uma dada


1,98 2,00 1,96 1,94 1,99 propriedade resultou no conjunto de dados ao lado.
2,03 1,98 1,97 2,02 1,93 Determine o valor médio, o desvio padrão e a
2,01 2,00 1,98 2,02 2,00 variância dos dados experimentais.
2,03 1,94 2,00 1,99 1,96
1,98 1,99 1,97 1,95 1,98

7) Dois métodos distintos, denominados A e B, foram utilizados para determinação da


velocidade de um automóvel. Os resultados obtidos da aplicação sucessiva de cada um dos métodos
são mostrados na tabela abaixo, em km/h.
Método A Método B
80,0 80,0 79,9 79,6 80,0 79,9 80,5 80,7
80,1 80,1 80,0 80,2 80,0 80,1 80,2 80,2
79,9 80 80,0 80,4 80,1 80,3 79,8 79,9
80,0 79,8 79,9 80,1 80,4 80,1 80,2 80,9
79,9 79,9 80,1 79,8 80,1 80,2 80,3 79,7
A velocidade real do automóvel era de exatos 80 km/h. De posse desta observação,
classifique relativamente os dois métodos com respeito à precisão e exatidão?

I.3.d Informação Adicional: Conversões de Unidades


Tabelas de Conversão:
Magnitude
Tera (T) Giga (G) Mega (M) Kilo (k) Mili (m) Micro () Nano (n) Pico (p)
x 10 12
x 10 9
x 10 6
x 10 3
x 10 -3
x 10 -6
x 10 -9
x 10-12

MASSA COMPRIMENTO Temperatura Pressão


1 onça (oz) = 28,35 g 1 polegada (in) = 2,54 cm T(K) = 273,15 + T(C) 1 Torr = 1 mmHg
1 libra (lb) = 453,6 g 1 pé (ft) = 30,48 cm T(F) = 32 + 9/5 x T(C) 1 atm = 760 Torr
1 jarda (yd) = 0,914 m 1 atm = 101.325 Pa
1 milha (mi) = 1,6093 km 1 bar = 100.000 Pa

O método de análise dimensional para conversão de unidades baseia-se em realizar


operações numéricas com valores acompanhados de suas unidades. Neste processo, naturalmente,

14
só podem ser somados e subtraídos valores com mesma unidade. Nas operações de multiplicação e
divisão, as unidades são tratadas como se fossem números quaisquer, que podem ser cancelados,
elevados ao quadrado, remanejados, etc. Exemplificando, dentro deste contexto, pode-se afirmar que:
1 ft 30,48 cm 1
se 1 ft  30,48 cm   1, inversamente  1
30,48 cm 1 ft 1
Como a multiplicação de um valor por 1 não altera este valor, pode-se fazer a conversão de, por
exemplo, 15 pés para centímetros, da seguinte forma:
30,48 cm
15,0 ft  15,0 ft x 1  15,0 ft x  457 cm
1 ft
e, a conversão de 50 centímetros para pés:
1 ft
50,0 cm  50,0 cm x 1  50,0 cm
 x  1,64 ft
30,48 cm
A grande utilidade da análise dimensional é que esta pode ser utilizada em cadeia: suponha que se
deseja determinar o valor de 1,00 kg m/s2 em unidades de g cm/min2, então:
1000 g
1 kg  1000 g  1
1 kg
100 cm
1 m  100 cm  1
1m
2
60 s  60 s  2
1 min  60 s  1   1 1
1 min  1 min 
e assim,
2
m m 1000 g 100 cm  60 s 
1,00 kg  1,00 kg x x x 
s2 s 2 1 kg 1 m  1 min 
2
m m 1000 g 100 cm 3600 s
1,00 kg  1,00 kg x x x
s2 s 2 1 kg 1m 1 min 2
m cm
1,00 kg  3,60x108 g
s2 min 2
Convém ressaltar um ponto a respeito da análise dimensional: Ela só pode ser usada na
conversão de unidades que se relacionam por um fator multiplicativo, ou seja, aquelas em que o valor
zero em uma unidade corresponde ao valor zero na outra unidade, e este é o único ponto que
apresenta valores iguais, quando expressos nas duas unidades distintas. A análise dimensional pode
ser utilizada nas conversões de unidades de massa porque o valor de massa zero, é zero, quer se use
o grama ou a onça como unidade. O mesmo não acontece com as conversões de unidades de
temperatura (Kelvin, graus Celsius e graus Fahrenheit), pois o zero de uma escala não coincide com o
zero em outra. Assim, a conversão de unidades de temperatura deve ser feita estritamente pelas
fórmulas de conversão, e não por análise dimensional. Pelo mesmo motivo não se pode utilizar a
popular “regra de três” para conversões de temperatura.

15
I.4 Instruções para Elaboração de Relatórios e Caderno de Laboratório
Os cadernos de laboratório devem conter todos os dados pertinentes ao experimento (de
modo sucinto) como a metodologia utilizada e seus fundamentos, os dados obtidos (na forma de
tabelas), comentários/observações dos fatos relevantes ocorridos durante o experimento, o
tratamento e discussão dos dados (cálculos, gráficos, etc), e uma conclusão. Um esquema da
organização do caderno de laboratório é dado a seguir:

- Data: XX/XX/XX Experimento XX: Título do experimento.

- Objetivos: descrever sucintamente o(s) principal(is) objetivo(s) do experimento;

- Fundamentação: descrever resumidamente os fundamentos teóricos suficientes para compreensão


do procedimento experimental adotado. (1 ou 2 parágrafos são suficientes)

- Procedimento: descrever o procedimento a ser realizado, de modo claro e sucinto (sem o mesmo
nível de detalhamento do roteiro), anotando as precauções necessárias (produtos perigosos,
procedimentos que exijam atenção especial ou de risco, etc.)

Obs: Os tópicos acima devem estar pronto antes da realização da prática. No início da prática, o
caderno de laboratório será verificado. Se o grupo não tiver preparado o caderno antes, serão
descontados pontos da nota atribuída à prática em questão.

- Início da prática: Anote as informações pertinentes do ambiente do laboratório: temperatura e


pressão atmosférica (estes dados estarão disponíveis);

- durante a execução da prática, anote todos os dados obtidos (massa/volume precisos de reagentes
e produtos utilizados de fato e não os indicados no roteiro), como também toda informação e
observação a respeito do experimento que julgar relevante.

- Ao término do experimento, inicie o tratamento dos dados, construção dos gráficos, etc para
obtenção do resultado pretendido (objetivo). Isto deve constar no caderno de laboratório. Esta etapa e
as subseqüentes podem ser realizadas em casa, ou na biblioteca, etc.

- Discussão do resultado: discuta se o resultado obtido está ou não em acordo com o esperado e
quais as implicações do resultado obtido. Se possível, compare com resultados obtidos de outras
fontes (cite-as nas referencias bibiliográficas) e sugira causas prováveis para explicar discrepâncias
entre os seus resultados e aqueles da literatura. (1 ou 2 parágrafos apenas)

- Conclusão: relate as principais conclusões, de modo sucinto, que puderam ser obtidas da realização
do experimento: mencione se o objetivo proposto foi alcançado pelo método proposto (se não foi,
indique ou sugira o motivo), indique o resultado obtido e suas implicações (1 parágrafo)

- Referências Bibliográficas : citar as fontes de dados e conceitos utilizados..

16
II. Práticas:

II.1 Prática 01: Exatidão de Medidas Volumétricas e Calibração de Vidrarias

II1.a Objetivos

1) Coletar dados quantitativos e interpretar os erros envolvidos em observações quantitativas;


2) Avaliar as precisões de distintos equipamentos de medida;
3) Calibrar vidrarias de medidas de volume;

II.1.b Introdução

Há dois tipos de erro associados ao processo de medida, como discutido anteriormente: o


erro aleatório (devido à flutuações estocásticas) e o erro sistemático (devido à diferença entre a
média das medidas e o valor real da propriedade). A magnitude do erro aleatório determina a
precisão do processo de medida ao passo que a magnitude do erro sistemático determina a exatidão
do processo de medida.
O erro sistemático de um equipamento pode ser determinado se conhecermos o valor real
da propriedade medida. Por exemplo, o volume real absoluto de uma pipeta volumétrica com indicação
de 5 ml pode ser de 4,75 ml, sendo a diferença proveniente do processo de fabricação ou contração
térmica da pipeta. Se tivermos um meio confiável de determinar o valor real do volume, pode-se utilizar
este valor sempre que a pipeta for utilizada. Diz-se que a pipeta foi calibrada. Para obter o valor real é
necessário ter a mão de algum método que forneça um valor mais exato do volume real.
O equipamento de uso geral mais preciso e exato em um laboratório é a balança analítica,
utilizada para determinações de massa. O volume de uma substância pode ser determinado com a
mesma exatidão e precisão da medida de massa se dispusermos de valores precisos de densidade da
substância pela fórmula: V = m/d onde V é o volume, m a massa e d a densidade.
Nesta prática, vamos utilizar valores precisos de densidade da água para determinar o
volume exato de vidrarias de precisão como a bureta e a pipeta e verificarmos comparativamente a
exatidão desses instrumentos. No caso da pipeta volumétrica, o procedimento será feito de modo a
eliminar o erro aleatório pela repetição do procedimento e obtenção da média (processo adequado de
calibração). Na segunda parte, vamos avaliar a exatidão de outras vidrarias como a proveta e o
béquer, comparando os valores indicados por estas vidrarias para um mesmo volume de líquido.

II.1.c Cuidados

 O uso das várias balanças disponíveis será explicado pelo professor no início da aula;
 A balança é um instrumento de precisão, DEVENDO SER MANTIDA LIMPA! Utilizar um pincel
para remover partículas sólidas que porventura venham a cair na câmara de pesagem ou sobre o(s)
prato(s); materiais líquidos derramados devem ser removidos utilizando um papel absorvente;
 Nunca pesar diretamente sobre o prato. Utilizar um béquer ou um pedaço de papel para
depositar o material a ser pesado, lembrando de calibrar a balança (tara);

II.1.d Parte Experimental

Material Necessário
-Suporte universal com Garra para bureta; -Proveta de 25 mL;
-Bureta de 50 mL; -2 Béqueres de 50 mL e 1 de 250 mL;
-Pipeta volumétrica de 25 mL e pipetador; -3 Erlenmeyers de 50 mL com rolha;
-Pipeta graduada de 10 mL; -1 Termômetro e 1 erlenmeyer de 250 ml

17
- Procedimento:
A) Verificação da Exatidão de Vidrarias e Calibração da Pipeta Volumétrica:
1. Verificar se os erlenmeyers e as rolhas que foram fornecidos estão devidamente limpos e secos.
Em seguida, usar etiquetas para marcá-los como 1, 2 e 3. IMPORTANTE: NÃO TROCAR AS ROLHAS
QUANDO PESAR;
2. Pesar estes frascos, COM AS ROLHAS CORRESPONDENTES, em uma balança analítica e anotar as
medidas no caderno de laboratório. Utilizar um papel para segurar o material de vidro a fim de evitar
alterações de peso devido à gordura das mãos;
3. Utilizando o suporte universal e a garra apropriada, montar a bureta.
4. Encher a bureta com água destilada, observando para que não haja bolhas de ar retidas na região
próxima à torneira. Se forem observadas bolhas de ar, abrir a torneira, deixando o fluxo de água
arrastá-las. Terminar de completar o volume da bureta, até a marca de zero, anotando em seguida a
leitura do volume inicial com o devido erro (a partir da escala);
5. Transferir aproximadamente 25 mL da água contida na bureta ao frasco 1, fechar o frasco COM A
ROLHA CORRESPONDENTE, esperar cerca de 30 segundos para que a água escorra pelas paredes
da bureta e então ler o volume final, anotando-o devidamente;
6. Utilizando a pipeta volumétrica de 25 mL transferir, com o auxílio de um pipetador, 25 mL de água
destilada ao frasco 2, tampando-o em seguida COM A ROLHA CORRESPONDENTE;
7. Repetir o procedimento anterior utilizando a pipeta graduada de 10 mL, transferindo 25 mL de
água para o frasco 3. OBSERVAR QUE COM A PIPETA GRADUADA A TRANSFERÊNCIA É REALIZADA
EM TRÊS ETAPAS;
8. Anotar a temperatura ambiente;
9. Pesar os frascos COM AS ROLHAS CORRESPONDENTES, com a mesma balança utilizada
anteriormente, anotando os novos valores no caderno de laboratório e a temperatura ambiente;
10. Repetir este procedimento por mais duas vezes para a pipeta volumétrica, utilizando os frascos 1
e 3, que devem ter sido esvaziados, secos e pesados novamente;

B) Comparação de Medidas de Volume com Vidrarias Diferentes:

1. Descartar a água contida no cilindro graduado (proveta), deixando-o escorrer por cerca de 10
segundos;
2. Em seguida, completar o volume da bureta com água e anotar o volume marcado;
3. Colocar a proveta sob a bureta e preenchê-la até a marca de 25 mL, tão exatamente quanto
possível;
4. Em seguida, ler o volume marcado na bureta, esvaziar a proveta e repetir o procedimento por mais
duas vezes;
5. Repetir o mesmo procedimento dos parágrafos anteriores por três vezes, utilizando o béquer no
lugar da proveta;
6. Anotar os volumes iniciais e finais da bureta no caderno de laboratório.

18
II.1.e Tratamento dos Dados Experimentais

A) Primeira Parte:
Calcule os valores de massa dos volumes de água destilada indicados pelas vidrarias
utilizadas com os valores das massas de (água + frasco) e do frasco seco. Utilize tabela ao final para
converter os valores de massa em volume de água. Faça seus cálculos sempre indicando os erros de
medida e o erro no resultado final. No final discuta seu resultado indicando se o volume real obtido
estava contido no intervalo de incerteza declarada pelo fabricante (no caso da pipeta volumétrica) ou
obtida pelo valor da escala (bureta e pipeta graduada). Indique possíveis fontes do erro sistemático
observado.

Fonte: The Perry’s Chemical Engineers’ Handbook, 7th Ed. New York: McGraw-Hill, 1997.

Obs1: Os valores estão em kg/m3. Para passar para g/cm3 basta dividir por 1000. Exemplo a 20,5C
a densidade da água é de 998,099 kg/m3 = 0,998099 g/cm3
Obs2: os valores da tabela acima possuem precisão de 6 algarismos significativos o que seria mais
que suficiente para calcular o volume com a mesma precisão a partir de valores de massa com 6
algarismos significativos. Entretanto, a medida de temperatura (se você utilizou um termômetro com
escala de 1C, sua medida de temperatura da água tem erro de no mínimo  0.5C na melhor das
hipóteses) isso limita a precisão dos valores de densidade para 4 algarismos significativos. Por
exemplo, se a medida de temperatura foi de T = 22,0C  0.5C, então o valor de temperatura pode
ter sido qualquer coisa entre 21,5C e 22,5C. Portanto (ver tabela) a densidade pode da água pode
ser descrita dentro da faixa entre 0,997883 e 0,997656  0,9977  0,0002 g/cm3.

B) Segunda parte:
Discuta a exatidão do béquer e da proveta em comparação à bureta e a exatidão desta em relação à
pipeta volumétrica e graduada (com os dados da parte A).

19
II.2 Prática 02: Preparo e Padronização de Soluções

II.2.a Objetivos

1) Rever os conceitos de soluções e unidades de concentração (molaridade);


2) Aprender a preparar soluções aquosas, realizar diluições e determinar concentrações de soluções;
3) Introduzir a técnica de titulação;

II.2.b Introdução

A) Medidas de Concentração e Preparo de Soluções:


Uma SOLUÇÃO é uma mistura homogênea de duas ou mais substâncias em que a dispersão
de uma substância na outra se dá na escala de suas partículas (moléculas, íons ou átomos). Quando
um dos componentes de uma mistura é um gás ou um sólido e o outro é um líquido, o primeiro é
chamado de SOLUTO e o último de SOLVENTE. Quando ambos os componentes são líquidos, o
componente em maior quantidade é denominado SOLVENTE e o componente em menor quantidade é
o SOLUTO. Pode haver vários solutos em uma solução - uma solução não precisa ter somente dois
componentes.
A composição (quantidades relativas dos componentes) de uma solução pode ser expressa
de diferentes maneiras. Para defini-las, vamos admitir uma solução de dois componentes, A (solvente)
e B (soluto), e adotar a seguinte notação:
mA, mB: massa, em gramas, de A e B;
nA, nB: quantidade de matéria, em mols, de A e B;
VA, VB: volume, em litros, de A e B puros;
V: volume total da solução, em litros.
As formas mais importantes de medida da composição de soluções líquidas são as seguintes:
a) FRAÇÃO EM VOLUME de B = VB / V, ou seja, o volume de B puro dividido pelo volume total da
solução. Deve ser notado que, em geral, V  VA + VB; usualmente há uma alteração significativa do
volume quando duas substâncias formam uma solução. Esta forma de medida é empregada
exclusivamente em soluções líquido-líquido e seu uso mais comum é comercial, quando sempre o valor
é expresso em porcentagem (VB/V  100 %);
b) FRAÇÃO MOLAR de B, representada por xB, é a razão entre a quantidade de matéria de B (em
moles) e a quantidade de matéria total na mistura (em moles):
nB
xB 
nA  n B
Um mol tem um número fixo de partículas (número de Avogadro); portanto, a fração molar de B é a
fração de todas as moléculas em uma solução que são moléculas de B. Através desta definição: xA + xB
= 1. No caso de soluções com mais de dois componentes: xA + xB + xC + … = 1;
c) MOLALIDADE de B (mB) é a quantidade de matéria de B dissolvida em 1kg de A. Como a massa é
usualmente medida em gramas, a expressão para molalidade é:
1000  n B
mB  , (m em gramas)
A

ma
A unidade de molaridade é moles/kg, comumente chamada de molal (m). A molalidade é utilizada em
situações experimentais em que a temperatura pode ou deve variar durante um experimento, como
por exemplo, a determinação de concentração por crioscopia.
d) MOLARIDADE de B é a quantidade de matéria do soluto B por litro de solução:
nB
MB  , (V em litros)
V
A molaridade de B pode ser representada como: [B] ou MB (a primeira forma é preferível para evitar
confusão com o símbolo para massa molar de B, que é expressa por MB em vários textos). Quando a
molaridade de uma solução é conhecida, certo volume dela pode ser medido e o número de moles de
B neste volume pode ser calculado. A unidade de molaridade é moles/L, comumente chamada de

20
molar (M). As seguintes formas de expressão são equivalentes: a molaridade de B é 0,1moles/L ou a
molaridade de B é 0,1 M ou simplesmente, a solução é 0,1 molar. A molaridade é a forma mais
popular de se expressar concentrações pela facilidade com que soluções de molaridade conhecida
são preparadas em laboratório. A desvantagem desta forma de medida é que a molaridade varia com
a temperatura devido à expansão ou contração da solução.
No caso de solutos sólidos de elevada pureza, a solução pode ser preparada com
concentração precisa utilizando-se uma balança de precisão para determinar a massa. Assim, o
número de moles pode ser determinado com precisão:
mB
nB  (PM = massa molar de B em g/mol)
B

PM B
Se esta massa for dissolvida no solvente até a obtenção de um volume conhecido com precisão (em
um balão volumétrico), a molaridade da solução pode ser calculada com precisão adequada para
utilização em análises.
No caso de solutos líquidos, a solução é feita por diluição. Se dispusermos de uma solução
concentrada de molaridade M1 e tomamos um volume desta solução igual a V1, pela definição de
molaridade o número de moles de soluto que temos é nB = M1 V1. Se adicionarmos solvente a este
volume até que a solução resultante tenha volume V2 (diluição), a molaridade da solução diluída (M2)
será:
nB MV
M2  , como n = M V , temos: M 2  1 1
B 1 1

V2 V2
A regra básica de diluição acima é mais fácil de memorizar na forma: M1.V1 = M2.V2, No caso de
preparo de soluções, o que queremos determinar é o volume a ser tomado de um soluto líquido
concentrado (V1) para obtermos por diluição um volume conhecido (V2 ) de solução diluída de
molaridade desejada (M2). Pela equação de diluição:
M 2 V2
V1 
M1
Os valores de V2 (volume do balão volumétrico) e M2 (concentração desejada) são conhecidos.
Devemos calcular M1 a partir dos dados de densidade, porcentagem em massa (quando o soluto não
é encontrado puro comercialmente como ácido sulfúrico, amônia, etc; a porcentagem também é
chamada de título) e massa molar do solvente (estas informações normalmente podem ser obtidas
no rótulo do produto). A molaridade do produto comercial pode ser determinada pela seguinte
fórmula:
d(g / L) (%)
M1   , d(g/L) indica que a densidade deve ser expressa em gramas por L
PM B 100
Por exemplo: o ácido sulfúrico (PM = 98,08 g/mol) concentrado encontrado comercialmente é uma
solução 98 % em peso de ácido sulfúrico, e possui uma densidade de 1,84 kg/L a 20C (estas
informações são obtidas no rótulo do produto). Nesta solução
1840 98
M1   = 18,4 M
98,08 100
Para preparar 500 ml (V2) uma solução 0,5 M (M2) de ácido sulfúrico deve-se pipetar um volume (V1)
do produto comercial de:
0,5  500
V1  = 13,6 ml
18,4
e) NORMALIDADE de B, representada por NB, está estreitamente relacionada com a molaridade; ela é,
de fato, o produto da molaridade por um número inteiro que depende do tipo de reação que o soluto
pode participar: NB =feq[B], onde feq é um fator que indica a equivalência. Esta fórmula simples vem do
conceito de número de equivalentes ne = feqnB. Dessa forma a normalidade é definida como número de
equivalentes de B por litro de solução. Por exemplo, para a solução 0,5 M de ácido sulfúrico (H2SO4), o
fator de equivalência é igual a 2 para uma reação ácido-base, pois este ácido possui 2 hidrogênios
ionizáveis. Dessa forma, será necessário o dobro da quantidade de uma mesma base para neutralizar
uma solução 0,5 M de ácido sulfúrico do que seria necessário para neutralizar uma solução 0,5 M de

21
ácido clorídrico (HCl – feq = 1 pois há apenas um hidrogênio ionizável). A solução 0,5 M de ácido
sulfúrico tem normalidade NB= 20,5 = 1 N.
Determinação do fator de equivalência: para ácido, o fator de equivalência é igual ao número de
hidrogênios ionizáveis. Por exemplo, HCl  feq = 1; H2 SO4  feq = 2; H3PO4  feq = 3. Para bases o fator
de equivalência é igual ao número de hidroxilas (OH). Por exemplo, NaOH  feq = 1; Ca(OH)2  feq = 2.
Para solutos participantes de reações de óxido-redução, feq é calculado pelo número de elétrons
transferido na sua semi-reação.
A normalidade é utilizada para cálculos envolvendo o procedimento de titulação, pois neste
processo sempre há uma reação envolvida (ácido-base, redox, etc.). Quando a titulação atinge o ponto
de equivalência (marcado por algum indicador), o número equivalentes de titulante é igual ao número
de equivalentes de titulado pois a reação se completou. Nessa situação, pela igualdade do número de
equivalentes: Na.Va = Nb.Vb, onde Na e Va são a normalidade e o volume adicionado de solução titulante e
Na e Va são a normalidade e o volume inicial de solução titulada. Este procedimento permite determinar
a normalidade de uma solução (titulada) através do conhecimento da normalidade de outra solução
(titulante).

B) Padronização de Soluções:
Como vimos anteriormente, podemos obter soluções de concentração (molaridade ou
normalidade) bem precisa a partir de solutos sólidos puros, devido á grande precisão do processo de
pesagem (balança analítica). Por outro lado, o preparo de soluções com solutos líquidos, a menor
precisão das medidas de volume limita a precisão que podemos calcular a concentração. O mesmo
acontece com solutos sólidos no caso da presença de impurezas não controladas. Exemplo disso são
sólidos higroscópicos que absorvem água do ambiente com o passar do tempo. Quando pesamos
uma massa destes sólidos higroscópicos, parte desta massa á devido à água e assim a quantidade do
soluto realmente utilizado no preparo da solução é incerta. Nestes últimos casos, a concentração
precisa da solução preparada deve ser determinada por um processo chamado padronização.
A padronização envolve muitas vezes a titulação de um volume conhecido (V1) da solução
preparada de normalidade incerta (N1) com uma solução de normalidade conhecida e precisa (N2). A
normalidade da solução preparada é calculada pelo volume gasto do titulante (V2) por
N 2V2
N1 
V1
A solução titulante deve ter normalidade conhecida com precisão e portanto deve ter sido preparada
com solutos que permitam tal procedimento direto (solutos sólidos de elevada pureza). Estes solutos
são chamados de padrões primários. Um bom padrão primário é um sólido que pode ser mantido no
laboratório sem alterar seu grau de pureza (i. e., composição estável). Um exemplo de padrão primário
é o ácido oxálico di-hidratado (H2C2O4.2H2O) ou o biftalato de potássio (KHC8 H4O4). Estes ácidos (padrão
primário) pode ser utilizado para padronizar uma base, ou seja, determinar sua normalidade com
precisão. Basta pesar uma massa de padrão primário (ácido oxálico ou biftalato de potássio)
diretamente num erlenmeyer e titular este ácido com a base de normalidade incerta. A normalidade
da base é determinada por:
ne
Nb 
Vb
onde Vb é o volume da base gasto na titulação e ne é o número de equivalentes de padrão primário. No
caso do biftalato de potássio, o número de equivalentes é igual ao próprio número de moles.
O NaOH não é um padrão primário ideal pois, além de higroscópico, durante o preparo da
solução, parte dos íons hidroxila (OH-) são consumidos na neutralização de ácido carbônico da água
destilada utilizada, proveniente da absorção de CO2 ambiente. Por essa razão, a água destilada para
preparo de soluções alcalinas são previamente fervidas para eliminar o máximo possível de CO2
dissolvido. Além disso, a concentração da base é alterada por ataque ao vidro do recipiente e por isso
soluções alcalinas não devem ser armazenadas em frascos de vidro.
A base padronizada pelo padrão primário se torna então um padrão secundário depois de
padronizada e pode ser utilizada para padronizar outras soluções de ácidos por titulação ácido-base.
Nesta prática vamos preparar soluções de ácido clorídrico (HCl) e hidróxido de sódio (NaOH) de
concentração aproximada 0,1 N. Em seguida, a solução de hidróxido de sódio será padronizada por

22
titulação de uma massa conhecida de biftalato de potássio para cálculo preciso de sua concentração.
Por fim, a solução de HCl preparada será padronizada utilizando-se a solução padronizada de hidróxido
de sódio.

II.2.c Cuidados

 Ácido clorídrico : corrosivo e fumegante: deve ser manuseado com luvas e na capela;
 Hidróxido de Sódio: corrosivo: deve ser manuseado com luvas;

II.2.d Parte Experimental

Material Necessário
- Suporte universal com Garra para bureta; - Chapa aquecedora;
- Bureta de 50 mL; - Béquer de 500 ml;
- Erlenmeyer de 250 ml; - Vidro de relógio (p/ béquer de 500 ml)
- Pipetas volumétricas de 25 mL e pipetador; - Espátula;
- Pipeta graduada de 5 mL; Reagentes:
- 2 Béqueres de 50 mL e 1 de 250 mL; - NaOH sólido;
- Bastão de vidro; - Ácido Clorídrico concentrado;
- 2 balões volumétricos de 250 ml e 1 de 100 ml; - Biftalato de Potássio;
- Solução alcoólica de fenolftaleína 1%

- Cálculos prévios (feitos no caderno de laboratório):


1. Calcular a quantidade de hidróxido de sódio necessária para preparar 250 mL de uma solução
aquosa com concentração aproximada de 0,1 M;
2. Calcular a molaridade do ácido clorídrico comercial e o volume necessário deste para preparar
250 mL de uma solução com concentração aproximada de 0,1 M (utilizar os dados do rótulo: título e
densidade);
3. Calcular a massa de biftalato de potássio necessária para neutralização de 25 mL de solução de
NaOH 0,1 mol L-1; Reação:
KHC8H4O4 + NaOH  KNaC8H4 O4 + H2O
Biftalato de potássio
4. Estimar o volume de solução de NaOH 0,1 mol L-1 para neutralizar 25mL de solução de HCl 0,1 M.
Esta estimativa será útil para agilizar a titulação e prevenir a invalidação da titulação por excesso de
titulante;

- Procedimento:

A) Preparo e Padronização do NaOH 0,1 M:


1. Pesar rapidamente a massa de NaOH calculada. O procedimento de pesagem deve ser feito
rapidamente, pois o NaOH é higroscópico (absorve água da atmosfera) e, também por este motivo,
deve ser utilizado um béquer (50 mL) para a pesagem. Não se preocupar em pesar exatamente a
massa calculada, pois a solução será padronizada a seguir. Anotar a massa utilizada;

23
2. Adicionar água no béquer até aproximadamente metade de seu volume para dissolver o NaOH.
Transferir a mistura para um balão de 250 mL;
3. Repetir esta operação até não haver mais traços de NaOH no béquer;
4. Completar o volume do balão volumétrico (até a marca no pescoço deste) com água destilada,
fechar o frasco e homogeneizar a solução;
5. (padronização) Enxaguar a bureta com cerca de 5 mL da solução de NaOH;
6. Preencher a bureta com a solução de NaOH até cerca de 2/3 de seu volume e verificar a
existência de bolhas de ar. Havendo bolhas, eliminá-las adicionando mais solução de NaOH;
7. Preencher o restante da bureta com a solução até acima da marca de zero. Abrindo a torneira,
deixar a solução gotejar e, cuidadosamente, estabelecer o seu volume na marca de zero. Se a leitura
inicial não for exatamente zero, anotar este valor como volume inicial para subtração do volume final;
8. Pesar cuidadosamente a quantidade de biftalato de potássio calculada (padrão primário) capaz de
neutralizar 25 mL da solução de NaOH 0,1 M. O biftalato de potássio pode ser pesado sobre um
pedaço de papel acetinado. Não se esquecer de anotar a massa exata de biftalato de potássio pesada;
8. Transferir essa massa para um erlenmeyer de 250 mL e adicionar aproximadamente 50 mL de
água;
9. Colocar três gotas do indicador fenolftaleína na solução de biftalato contida no erlenmeyer e iniciar
o processo de titulação. Como o volume aproximado da solução de NaOH necessário para a
neutralização do biftalato foi calculado, cerca de 2/3 desse volume da solução de NaOH podem ser
rapidamente transferidos para o erlenmeyer contendo a solução de biftalato. Enquanto estiver
efetuando esta transferência da solução da bureta para o erlenmeyer, mantenha a solução do
erlenmeyer sob constante agitação;
10. O restante do volume da solução de NaOH deve ser transferido vagarosamente, observando a cor
da solução. Este é um ponto importante, pois a neutralização das soluções será detectada através da
mudança de cor do indicador;
13. Quando a solução de biftalato mudar de cor, parar a transferência da solução de NaOH e anotar o
valor do volume de solução como volume final;
Obs: UMA OBSERVAÇÃO IMPORTANTE É QUE QUANDO O NAOH ESTÁ SENDO ADICIONADO A
SOLUÇÃO DESENVOLVE UMA COLORAÇÃO AVERMELHADA NA REGIÃO DE CONTATO DA GOTA COM
A SOLUÇÃO DO ERLENMEYER. ESTA COLORAÇÃO DESAPARECE COM A AGITAÇÃO DO FRASCO. O
DESAPARECIMENTO TORNA-SE MAIS LENTO COM A PROGRESSÃO DA TITULAÇÃO INDICANDO
ASSIM QUE, A ADIÇÃO DA SOLUÇÃO DE NAOH DEVE SER FEITA MAIS LENTAMENTE.

B) Preparo, Diluição e Padronização do HCl 0,1 M

1. Em um balão volumétrico de 250 mL adicionar aproximadamente 100 mL de água destilada;


2. Com o uso de uma pipeta graduada, adicionar ao balão volumétrico o volume de HCl calculado
previamente;
3. Adicionar água no balão até próximo da marca do menisco;
4. Fechar o balão e agitar, para homogeneizar a solução;
5. Aguardar alguns minutos e completar o volume com água (com uma pisseta) até a marca.
Homogeneizar uma vez mais;

24
6. (padronização) Com uma pipeta volumétrica de 25 mL, transferir 25 mL da solução de HCl
preparada anteriormente para o erlenmeyer de 250 mL;
7. Adicionar 2 ou 3 gotas do indicador fenolftaleína;
8. Titular com a solução de NaOH contida na bureta. Não se esquecer de completar o nível da bureta
até o zero, anotando o volume inicial se ligeiramente diferente de zero;
9. Adicionar 2/3 do volume calculado previamente para neutralizar os 25 mL da solução de HCl;
10. Proceder ao restante da titulação como anteriormente e anotar o volume final. dispensar o
conteúdo do erlenmeyer e lavar este frasco com água destilada;
11. (diluição) Em um balão volumétrico de 100 mL, adicionar água de forma a completar
aproximadamente ¼ de seu volume;
12. Utilizando uma pipeta volumétrica de 25 mL, adicionar 25 mL da solução de HCl e homogeneizar
a mistura. Completar em seguida o nível da solução até a marca no pescoço do balão volumétrico,
homogeneizando mais uma vez a solução;
13. Transferir 25 mL desta solução para o erlenmeyer com o auxílio de uma pipeta volumétrica.
Adicionar 2 ou 3 gotas do indicador fenolftaleína;
14. Zerar a bureta com solução de NaOH e proceder a titulação como anteriormente;

Obs: Por uma questão de tempo, os procedimentos de padronização (titulações) foram feitas uma
única vez nesta prática. Para uma padronização adequada, as titulações deveriam ser feitas no
mínimo 3 vezes para obtenção da média e desvios.

II.2.e Tratamento dos Dados Experimentais

A) Solução de NaOH: Calcule a normalidade (e molaridade) da solução de NaOH através da massa


pesada de NaOH (admitindo que o NaOH fosse puro). Calcule a normalidade (e molaridade) da solução
de NaOH resultante do processo de padronização. Explique as diferenças observadas.

B) Solução de HCl: Calcule a normalidade (e molaridade) da solução de HCl preparada inicialmente


pelo processo de padronização. Use a lei de diluição e calcule qual deveria ser a normalidade (e
molaridade) da solução diluída. Compare este valor com o obtido da padronização da solução diluída.

25
II.3 Prática 03: Titulação Ácido-Base (Fortes)

II.3.a Objetivos

1) Construir a curva de titulação ácido-base de ácidos e bases fortes;


2) Entender o conceito de pH;
3) Determinar o pH do ponto de equivalência e escolher adequadamente o indicador do ponto de
equivalência;
4) Aprender a utilizar o pH-metro e medir o pH de soluções;

II.3.b Introdução

A volumetria de neutralização ou ácido-base é um método de análise baseado na reação


entre íons H+ e OH- :
H+ + OH-  H2O
Em uma solução contendo um ácido forte, todo o ácido está dissociado. Exemplo de ácido forte é o
ácido clorídrico HCl. Em solução aquosa, o HCl está virtualmente completamente dissociado:
HCl  H+ + Cl-
Dessa forma, não existe a molécula de HCl em solução aquosa, apenas os íons H+ e Cl-. O mesmo
acontece com uma base forte. Exemplo de base forte é o hidróxido de sódio NaOH. Em meio aquoso o
NaOH completamente se solubiliza formando íon Na+ e OH-.
NaOH  Na+ + OH-
As soluções de ácidos e bases são caracterizadas por seu pH. A definição de pH é:
pH = -Log aH+
onde aH+ é a atividade do íon H+. A atividade é relacionada por com a concentração molar do íon por:
aH+ =  H+[H+ ],
 H+ é o coeficiente de atividade e depende da concentração total de cargas em solução (força iônica).
Para soluções iônicas muito diluídas, quando a concentração total de íons é inferior a 10-3 M, o
coeficiente de atividade é próximo de 1 e a atividade é igual ao valor da concentração molar dos íons.
Este não é o caso geral e por isso não se pode determinar diretamente [H+] por medidas de pH. A
medida do pH é feita com um instrumento chamado pHmetro (“peagâmetro”), cujo funcionamento é
explicado num quadro no final da introdução.
A água pura sempre tem uma quantidade igual de íons H+ e OH- devido ao equilíbrio de
autoprotólise ou dissociação da água:
H2O  H+ + OH- Kw (25C)= 110-14 (1)
+ -
as concentrações de H e OH neste caso são iguais (pela estequiometria da reação) e a para a água
pura a 25C, [H+ ] = [OH-]=110-7 M. Neste caso, aH+ = [H+] e o pH da água pura é
pH = -Log (110-7) = 7
O pH = 7 é então o valor quando [H+ ] = [OH-] e é chamada do pH neutro.
Quando um ácido é adicionado à água pura, há um aumento na concentração de H+ : [H+] > 110-7
Neste caso, o pH fica menor do que 7 (note o sinal – antes do logaritmo). Toda solução com pH < 7 é
uma solução ácida onde [H+] > [OH-]. Por outro lado, se uma base é adicionada à água pura, há um
aumento na concentração de OH-. Como conseqüência, o equilíbrio de dissociação da água (Eq. 1) se

26
desloca para formação de água e portanto, consumo de H+: [H+] < 110-7. Neste caso, o pH fica maior
do que 7 e toda solução pH > 7 é uma solução básica, na qual [H+] < [OH-].
A análise por volumetria de neutralização de um ácido com uma base consiste na adição de
uma solução de uma base de concentração conhecida a um volume conhecido de solução de um
ácido cuja concentração deseja-se determinar. Neste processo, a solução do ácido tem excesso de
íons H+ em relação aos íons OH- e, portanto pH < 7. Com a adição sucessiva da base (íons OH-) estes
vão reagindo com os íons H+ através da reação (1) e a diferença entre [H+ ] e [OH-] vai diminuindo e
como conseqüência o pH aumenta. No caso da titulação de uma base por um ácido ocorre o oposto e
o pH vai diminuindo com a adição do ácido.
O ponto da titulação em que o número de equivalentes de base adicionado for igual ao
número de equivalentes de ácido presente inicialmente na solução de ácido é chamado de Ponto de
Equivalência (PE). No ponto de equivalência, a normalidade da solução desconhecida ou amostra pode
ser calculada por
N b Vb
Na  (2)
Va
onde Nb é a normalidade conhecida da base, Vb é o volume adicionado da base e Va é o volume inicial da
amostra da solução ácida. Portanto, o
ponto final de uma titulação de ácido com 14 14
Titulação ácido forte Titulação base forte
base é o ponto de equivalência. Se a 12
com base forte
12
com ácido forte

adição de base continuar além do ponto 10 10

de equivalência, o pH continua
pH

pH
8 8
PE PE
aumentando. As figuras ao lado mostram 7.0 7.0
6 6

as curvas típicas de variação do pH em


4 4
função do volume de titulante adicionado
2 2
para uma titulações de neutralização. O
0 0
ponto de equivalência ocorre em um pH 0 10 20 30 40 50 0 10 20 30 40 50
Vb / ml Va / ml
específico chamado de pH no ponto de
equivalência. No caso de ácidos e bases
fortes, o pH no ponto de equivalência é 7. Observe que quando a titulação está longe do ponto de
equivalência, o pH varia muito lentamente com a adição do titulante, ao passo que na proximidade do
PE a mudança de pH é abrupta: uma adição mínima (algumas gotas) leva a uma enorme variação do
pH.
A análise volumétrica clássica não é feita com acompanhamento do pH. Neste caso, o ponto
final da titulação (PF) deve ser determinado com o auxílio de um indicador. Note que nem sempre o
ponto final coincide com o ponto de equivalência. A equação (2) para a determinação da concentração
da amostra só é válida estritamente no PE. O sucesso de uma análise volumétrica depende, portanto
da escolha adequada do indicador para que o PF esteja o mais próximo possível do PE. Os indicadores
ácido-base são normalmente ácidos fracos na forma HInd que se dissociam fracamente através do
equilíbrio:
HInd  H+ + Ind- K Ind (3)
onde KInd é a constante de equilíbrio de dissociação do indicador. Os valores da constante de equilíbrio
de dissociação de ácidos fracos são geralmente dadas de forma indireta pelo pK = - Log(K) por uma
conveniência que vai ficar mais clara adiante. As formas protonada (HInd) e deprotonada (Ind- ) do

27
indicador possuem cores diferentes. Quando o indicador está em meio fortemente ácido, há um
excesso de íons H+ e pelo princípio de Le Chatelier o equlíbrio da Eq. 3 está deslocado para a forma
protonada (HInd) e a solução tem a coloração dessa forma predominante. Quando o indicador está
em meio fortemente básico, ocorre o oposto e o indicador está predominante na forma deprotonada
(Ind-) que confere sua coloração à solução. A mudança de cor da solução ocorre no pH onde as
concentrações das duas formas do indicador são iguais: [HInd] = [Ind- ]. Esta condição acontece
quando o pH = pKInd (por isso é conveniente representar a constante nesta forma). A mudança de cor
da solução ocorre de maneira contínua e é sensível ao olho humano numa faixa aproximada de 1
unidade de pH acima e abaixo do pKInd, que é chamada de faixa de viragem do indicador = pK Ind  1. Por
exemplo a fenolftaleína tem um pK Ind = 9.1 e sua mudança de incolor (ácido) para rosa (básico) ocorre
na faixa de pH entre 8.1 e 10.1. Um bom indicador para titulações de ácidos e bases fortes deve ter
seu pK Ind o mais próximo possível de 7. A fenolftaleína é comumente utilizada nestas titulações, apesar
da viragem começar em pH = 8.1. Observe as curvas de titulação: a mudança do pH 7 para o pH 8
ocorre de forma tão abrupta que a diferença entre os volumes adicionados nestes pHs seria menor
do que o volume de uma gota e portanto menor que o erro de leitura da bureta.
Assim, a incerteza proveniente da leitura de volume
é maior que o erro da viragem do indicador. 11
0,1 N
Entretanto, as mudanças de pH com volume 10
0,01 N
9
faixa de viragem
adicionado são mais abruptas quanto mais da fenolftaleina 0,001 N
8
concentradas foram as soluções envolvidas na
pH

7
titulação (titulante e amostra). Para soluções mais 6

diluídas, as variações de pH próximo de PE são mais 5

suaves e a utilização da fenolftaleína pode incorrer 4

em erros apreciáveis, como mostra a figura ao lado. 3


24.7 24.8 24.9 25.0 25.1 25.2 25.3
V / ml
Nesta prática, as curvas de titulação de
ácidos e bases fortes serão levantas com o auxílio
de um pHmetro. As titulações serão realizadas na presença de dois indicadores diferentes para
determinação da faixa de viragem dos mesmos e de sua aplicabilidade neste tipo de titulação.

II.3.c Cuidados e precauções

 Soluções de Ácido Clorídrico Hidróxido de Sódio: provocam irritações na pele e devem ser
manuseado com luvas;
 pHmetro: este equipamento requer cuidado no manuseio pois seu bulbo é composto de uma
membrana de vidro e portanto sensível.

28
Funcionamento de um pHmetro
A maioria dos pHmetros é composto de um conjunto
chamado eletrodo de membrana de vidro, como mostrado na figura
ao lado, que na realidade é composto de dois eletrodos e uma
membrana de vidro entre eles. O funcionamento do pHmetro é
baseado na medida da diferença de potencial entre um eletrodo
(prata/cloreto de prata: Ag/AgCl) de referência imerso em solução
de KCl saturada (com potencial constante) e um eletrodo do mesmo
tipo, mas imerso em solução contendo íons H+, normalmente HCl 0,1
M. Quando o conjunto é imerso na solução que se deseja determinar
o pH, estes eletrodos se comunicam em solução pelo vidro
sinterizado e pela de membrana de vidro que fica entre eles. Por
causa da diferença de concentração de íons H+ dos dois lados da
membrana (solução amostra e o HCl 0,1 M no interior), aparece uma
diferença de potencial na membrana de vidro. Esta diferença de
potencial da membrana somada à diferença de potencial total entre
os dois eletrodos (V na figura). Portanto, em soluções de diferentes
pH, a diferença de potencial é diferente.
Os circuitos eletrônicos do pHmetro fazem a conversão
entre a diferença de potencial V e o pH da solução. Para tanto, o equipamento deve “conhecer” o
valor da diferença de potencial de soluções de pH conhecido. Isto é feito durante a calibração de pH,
onde o V é registrado pelo pHmetro para algumas soluções padrão (de pH bem definidos). Os íons H+
estão sempre migrando (lentamente) para dentro e fora da membrana de vidro, as características da
membrana mudam lentamente com o tempo: os pHmetros devem ser calibrados periodicamente.

II.3.d Parte Experimental

Material Necessário
- Suporte universal com Garra para bureta; Reagentes:
- Bureta de 50 mL e Proveta de 25 ml; - Solução de NaOH 0,1 N;
- 3 Béqueres 2 de 50 ml e 1 de 250 ml; - Solução de HCl 0,1 N;
- Pipeta volumétrica de 25 mL e pipetador; - Indicador fenolftaleína
- Agitador magnético e “pulga” (ou “peixinho”); - Indicador alaranjado de metila

- Procedimento:

A) Calibração do pHmetro:
Dependendo da marca e do modelo, cada pHmetro tem seu procedimento particular de
calibração. Verifique qual é o caso junto ao técnico antes de iniciar o procedimento. Os cuidados com o
eletrodo de membrana é o mesmo para qualquer modelo:
Toda vez que for trocar a solução em contato com o bulbo, este deve ser lavado. Para
tanto, lave cuidadosamente o bulbo de vidro com água destilada, recolhendo a água em um béquer, e
em seguida seque com papel absorvente macio.

29
Após o termino das medidas de pH ou calibração, lave o eletrodo com água destilada, recolocar o
bulbo de vidro na solução de repouso. (completar o nível da solução se necessário).
Não deixe o bulbo fora do meio aquoso por tempos longos.

B) Curva de Titulação de Ácido Forte:


1. Encher a bureta com solução de NaOH 0,1 N e zerar a bureta. Verifique se não há bolhas no bico
da bureta;
2. Colocar o béquer de 250 ml sobre o agitador magnético com a pulga dentro e adicionar a este 25
ml de água destilada. Testar o movimento da pulga para verificar se ela está girando de modo estável.
3. Adicionar ao béquer 25 ml de solução 0,1 N de HCl e 1 gota de indicador fenolftaleína.
4. Lavar cuidadosamente o bulbo de vidro do pHmetro como anteriormente. Cuidadosamente, ajustar
o bulbo para medir o pH da solução do béquer. Não deixe o bulbo muito próximo da pulga e desligue a
agitação caso o movimento da pulga perca estabilidade.
5. Inicie a adição da base: faça adições de 5 ml em 5ml até o total de 20 ml adicionados, sempre
esperando o pH estabilizar e anotando seu valor a cada adição.
6. Depois adicione de 1 em 1 ml até o total de 23 ml, esperando o pH estabilizar e anotando seu valor.
7. A partir deste ponto adicione lentamente, gota a gota, parando quando o uma mudança de 0.5
unidades de pH for observada. Anote o volume adicionado e o valor de pH.
8. Repita o procedimento do item 7 até que o pH esteja acima de 9;
9. Continue a adição de 1 em 1 ml (item 6) até que 30 ml tenham sido adicionados.
10. Adicione a base de 5 em 5 ml (item 5) até completar 50 ml total de base adicionada.
Obs. Junto com as medidas de pH e volume adicionado, anote qualquer mudanças de cor observada
na solução.

C) Curva de Titulação de Base Forte:


Repita o procedimento B) utilizando a solução de HCl 0,1 N como titulante (na bureta), a solução de
NaOH 0,1 N como amostra (béquer) e uma gota de alaranjado de metila como indicador.

II.3.e Tratamento dos Dados Experimentais

A) Em um papel milimetrado, construa os gráficos de pH vs. Volume adicionado para obter as curvas
de titulação de ácido forte e base forte, indicando o ponto de equivalência e a região onde as
mudanças de cor da solução foram observadas. Se você tiver domínio de softwares como o Excel ou
Origin, faça as curvas utilizando estes aplicativos.

B) Com as observações sobre mudança de cor observadas, discuta a aplicabilidade dos indicadores
utilizados para as análises volumétricas de neutralização. O alaranjado de metila seria um bom
indicador para marcar o ponto final da titulação do HCl?

30
II.4 Prática 04: Titulação Ácido-Base (Fracos)

II.4.a Objetivos

1) Construir a curva de titulação ácido-base de ácidos e bases fracas;


2) Identificar o efeito tampão na curva de titulação;
3) Determinar o pH do ponto de equivalência e escolher adequadamente o indicador do ponto de
equivalência;

II.4.b Introdução e referencial teórico

Em uma solução contendo um ácido ou base forte, todo o ácido/base está dissociado
gerando H+/OH-, como é o caso do ácido clorídrico ou hidróxido de sódio:
HCl  H+ + Cl- NaOH  Na+ + OH-
Dessa forma, não existe a molécula de HCl ou a base original NaOH em solução aquosa, apenas os
íons H+ e Cl- ou Na+ e OH-. No caso de ácidos fracos ou bases fracas, a dissociação não é completa e
existe um equilíbrio entre as formas iônicas e o ácido/base não dissociado. Este é o caso do ácido
acético ou amônia:
H3C-COOH ⇌ H3C-COO- + H+ Ka
NH3 + H2O ⇌ NH4 + OH + -
Kb
onde K a e K b são as constantes de equilíbrio de ionização do ácido e da base, normalmente
representados na forma logarítmica pK a e pKb (pK = - Log K). Como conseqüência, o número de moles
de íons H+ (ou OH-, no caso de uma base) é menor do que o número de moles de ácido fraco (ou base
fraca) com que a solução foi preparada. Por exemplo, se prepararmos 1 L de solução com 0,1 mol de
HCl (ácido forte), todo HCl se dissocia e produz 0,1 mol de íons H+ , resultando em uma solução com
[H+] = 0,1 M e pH próximo de 1. O ácido acético tem K a = 1.810-5 (pKa = 4.8) e se prepararmos a
solução com 0,1 mol este ácido, a solução terá [H+] < 0,1 M e pH > 1. Com o valor da constante de
equilíbrio de dissociação e as equações de balanço de massa e de carga na solução do ácido (base)
fraco é possível calcular exatamente a [H+].
Em decorrência desse comportamento de ácidos e bases fracas em solução aquosa, suas
curvas de titulação apresentam características distintas daquelas de ácidos e bases fortes. Exemplos
de curvas de titulação de um ácido fraco e de uma base fraca com constantes de ionização igual a
1.810-5 são mostrados na figura abaixo:

14 -5
-5
T itu la ç ã o á c id o f r a c o ( k a = 1 ,8 x 1 0 ) T itu la ç ã o b a s e f r a c a ( k b = 1 ,8 x 1 0 )
c o m b a s e f o r te 11 c o m á c id o fo r te
12
9 ,2 = 1 4 - p K b
9
10
pH

PE
pH

8 .6
7
8
5 .4
5 PE
6
4 ,8 = p K a
1 /2 PE 3
4

1
2
0 10 20 30 40 50 0 10 20 30 40 50
V ad / m l V ad / m l

31
As curvas de titulação de ácidos e bases fracas
possuem duas diferenças marcantes em relação à curvas 14

análogas de ácidos fortes (figura ao lado): 12

10
1) o perfil da curva até o PE (ponto de equivalências) é 8.6 -5
PE (ác. fraco, pKa = 1,8x10 )

pH
8
marcadamente diferente, apresentando uma inflexão 7.0 PE (ác. forte)
6
quando o volume adicionado do titulante for a metade (V½ ) ácido fraco
4
do volume adicionado no PE. Este ponto é marcado como
2 ácido forte
½ PE. Nesse ponto o pH = pK a (ácido) ou 14 – pKb (base);
0

2) O pH no PE é diferente de 7 e depende dos valores de K a 0 10 20


Va / ml
30 40 50

e Kb, ou seja, do ácido (base) fraco em questão.


A região da curva de titulação próxima à ½ PE pode ser analisada mais facilmente com a
equação de Henderson-Hasselbach, que relaciona o pH e a razão entre as concentrações do ácido e
de seu ânion (base conjugada no conceito de Brönsted-Lowry):
HA ⇌ A- + H+ Ka

[A ]
pH  pK a  Log (Equação de Henderson-Hasselbach)
[HA ]
Na metade do ponto de equivalência, aproximadamente metade do ácido inicialmente presente foi
completamente neutralizado ( na forma de A- )e a outra metade está na forma de ácido (HA), de forma
que [HA]  [A-], e portanto pH  pKa. Observe que na vizinhança de ½ PE a inclinação da curva de
titulação é muito pequena. Isto significa que nesta região, o pH varia pouco com adição de base. Este
comportamento é chamado de efeito tampão.
No ponto de equivalência, quando o número de moles de base adicionada é igual ao número
de moles de ácido inicialmente presente na solução, há um excesso de íons OH- em relação aos íons
H+ pois o ácido não está completamente dissociado e, portanto há um residual de espécie HA que não
produziu íons H+. Dessa forma, no PE, a [H+] < [OH-] e conseqüentemente, o pH > 7 no caso da titulação
de ácidos fracos. Fazendo o mesmo raciocínio para o caso de bases fracas, no PE a [OH-] < [H+] e
assim o pH < 7 na titulação de bases fracas.
O pH no ponto de equivalência da titulação de ácidos e bases fracos depende da extensão do
desbalanceamento entre os íons H+ e OH- (o quanto [H+]  [OH-]) e, portanto, da quantidade
remanescente de ácido/base não dissociada. Esta quantidade depende do Ka ou Kb e da concentração
inicial do ácido ou base fraca e portanto varia para cada ácido/base fraca e das condições da
titulação. Como conseqüência, de modo geral não se sabe de antemão qual o valor do pH no PE na
titulação de ácidos e bases fracos pois não se sabe a princípio a Curva de Titulação na
vizinhança de PE
2

concentração da amostra titulada. Ainda assim, mesmo no caso de


e
ent
ng
ta

ácidos e bases fracos, há um abrupto salto de pH na vizinhança do PE, o 10


riz

que permite sua identificação. A determinação do PE nestes casos


iat
ed
m

x/2
pH

depende de procedimentos de análise da curva de titulação por ponto PE


médio
8
métodos gráficos ou por métodos de derivadas (se algum aplicativo
1
e
nt
e

capaz de extrair derivadas de dados experimentais for disponível). O


ng

x/2
ta

método gráfico é baseado na simetria da curva de titulação em torno


6
do ponto de equivalência (figura ao lado). Se a curva de titulação for
22 23 24 25 26 27 28
Vad / ml
perfeitamente simétrica em relação ao PE, então a mediatriz entre duas

32
retas tangentes à curva e que tenham a mesma inclinação deve cruzar a curva de no PE. Portanto
para localizar o PE basta construir duas retas paralelas (com auxílio de um esquadro) e que sejam
tangentes á curva de titulação nas proximidades do PE (tangentes 1 e dois no gráfico anterior). Em
seguida, traça-se uma reta entre as duas tangentes e determina-se o ponto médio desta reta. Por fim,
basta desenhar uma reta paralela às tangentes (com o esquadro) e que passe por este ponto médio
(mediatriz). O PE fica localizado pelo cruzamento desta mediatriz com a curva te titulação.
O método das derivadas é baseado no fato de que a curva de titulação passa por uma
inclinação (= derivada) máxima no PE. Assim, o gráfico da derivada mostra um valor máximo no PE e
permite sua identificação de forma mais imediata. Esta técnica também permite identificar o ½ PE no
caso pois neste ponto, a inclinação (derivada) é um valor mínimo. Quando o máximo e o mínimo não
são facilmente identificados com precisão, procede-se a uma segunda derivação (derivada da derivada
= derivada segunda). Neste gráfico, os pontos PE e ½ PE são marcados pelos valores onde a cruza o
eixo do volume – eixo x – e são chamados de zeros da curva. Estes gráficos da curva de titulação e de
suas derivadas 1ª e 2ª são mostrados na figura abaixo:
14 1.0
Curva de Titulação a
1 derivada
0.1 a
2 derivada
12
0.8
PE = zero
10 da curva
0.6
0.0
dpH/dVad

PE
pH

8 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50

d2pH/dV2ad
0.4
Vad / ml
1/2 PE = ponto PE = ponto
6 de mínimo de máximo 1/2 PE = zero
da curva
0.2 -0.1
4

0.0
2
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
0 10 20 30 40 50
Vad / ml V ad / ml -0.2

O fundamento do método das derivadas é que as variações das curvas vão ficando mais e mais
salientes a medida que se deriva a curva original sucessivamente (derivada 1ª e depois derivada 2ª).
Esta também é a origem de suas dificuldades de aplicação a dados experimentais, pois os desvios
devido aos erros experimentais (ruídos) ficam também potencializados a cada derivação e na maioria
dos casos práticos, a curva original deve passar por algum procedimento de filtragem de ruídos antes
de se proceder as derivadas.
Por fim, cabe ressaltar que tanto o método das tangentes como o método das derivadas
podem ser aplicados a qualquer titulação, tanto de ácidos e bases fracos como fortes, ou ainda outros
métodos de titulação potenciométrica. Nesta prática será construída a curva de titulação de um ácido
fraco e o método das tangentes será aplicado para determinar o PE.

II.4.c Cuidados e precauções

 Soluções de Ácido Acético e Hidróxido de Sódio: provocam irritações na pele e devem ser
manuseado com luvas;
 pHmetro: este equipamento requer cuidado no manuseio pois seu bulbo é composto de uma
membrana de vidro e portanto sensível.

33
II.4.d Parte Experimental

Material Necessário
- Suporte universal com Garra para bureta; Reagentes:
- Bureta de 50 mL e Proveta de 25 ml; - Solução de NaOH 0,1 N;
- 2 Béqueres 1 de 50 ml e 1 de 250 ml; - Solução de H3C-COOH (ácido acético) 0,1 N;
- Pipeta volumétrica de 25 mL e pipetador; - Indicador fenolftaleína.
- Agitador magnético e “pulga” (ou “peixinho”);

- Procedimento:

A) Calibração do pHmetro:
1. Calibre o pH como na prática anterior.

B) Curva de Titulação de Ácido fraco:


1. Encher a bureta com solução de NaOH 0,1 N e zerar a bureta. Verifique se não há bolhas no bico
da bureta;
2. Colocar o béquer de 250 ml sobre o agitador magnético com a pulga dentro e adicionar a este 25
ml de água destilada. Testar o movimento da pulga para verificar se ela está girando de modo estável.
3. Adicionar ao béquer 25 ml de solução 0,1 N de ácido acético e 1 gota de indicador fenolftaleína.
4. Lavar e secar cuidadosamente o bulbo de vidro do pHmetro. Cuidadosamente, ajustar o bulbo para
medir o pH da solução do béquer. Não deixe o bulbo muito próximo da pulga e desligue a agitação
caso o movimento da pulga perca estabilidade.
5. Inicie a adição da base: faça adições de 5 ml em 5ml até o total de 10 ml adicionados, sempre
esperando o pH estabilizar e anotando seu valor a cada adição.
6. Depois adicione de 1 em 1 ml até o total de 23 ml, esperando o pH estabilizar e anotando seu valor.
7. A partir deste ponto adicione lentamente, de 4 a 5 gotas por vez para obter uma leitura diferente
na bureta. Anote o volume adicionado e o valor de pH.
8. Continue o procedimento do item 7 até que o pH esteja acima de 10;
9. Continue a adição de 1 em 1 ml (item 6) até que 30 ml tenham sido adicionados.
10. Adicione a base de 5 em 5 ml (item 5) até completar 50 ml total de base adicionada.
Obs. Junto com as medidas de pH e volume adicionado, anote qualquer mudanças de cor observada
na solução.

II.4.e Tratamento dos Dados Experimentais

A) Em um papel milimetrado, construa os gráficos de pH vs. Volume adicionado para obter as curvas
de titulação de ácido fraco com base forte. Se você tiver domínio de softwares como o Excel ou Origin,
faça as curvas utilizando estes aplicativos.

B) Utilize o método das tangentes para determinar o PE a partir do gráfico obtido. Se você tiver
domínio de algum software como o Excel ou Origin que diponha derivação para análise de dados, faça

34
as curvas de derivadas 1ª e 2ª e compare o volume e pH do PE obtido por este método e o método
anterior.

C) A partir do PE, determine o pH em ½ PE. Compare o valor obtido com o valor teórico do pKa do
ácido acético (4.76).

D) Compare o valor do pH do ponto de equivalência determinado pela curva com a faixa da viragem do
indicador e discuta a aplicabilidade da fenolftaleína como indicador para esta titulação.

35
II.5 Prática 05: Soluções Tampão

II.5.a Objetivos

1) Calcular a composição para preparo de soluções tampão de força iônica e pH desejado;


2) Estudar o comportamento das soluções tampão;
3) Verificar a capacidade de tamponamento de soluções tampão;

II.5.b Introdução

As curvas de titulação de ácidos e


bases fracas indicam um comportamento 9
PE

interessante na vizinhança da metade do ponto 8

de equivalência ½ PE. Nessa região a


7
concentração do ácido na forma não

pH
dissociada HA tem valor próximo do valor da 6

concentração de sua base conjugada, o ânion 5 pH1/2 = pKa 1/2 PE faixa do


tampão
A-, e a inclinação da curva é pequena nesta pKa +/- 1
4
região. Como a inclinação é pequena, o pH
varia pouco com a adição de OH- (ou mesmo H+ 3
V1/2 Va / ml VPE
se imaginarmos o caminho reverso na curva).
Este comportamento é chamado de efeito
tampão. O efeito tampão pode ser facilmente compreendido quando consideramos o equilíbrio de
dissociação:
HA ⇌ A- + H+ Ka (1)
Quando as concentrações de HA e A- são próximas, a adição de H+ desloca o equilíbrio acima no
sentido de consumo do H+ adicionado (princípio de Le Chatelier) de forma que a [H+] permanece quase
inalterada com a adição, desde que a quantidade adicionada não exceda as quantidades presentes de
HA e A-. Da mesma forma, a adição de OH- consome íons H+ pela reação do equilíbrio iônico da água.
Em resposta, o equilíbrio da equação 1 se desloca no sentido de repor o H+ consumido (princípio de Le
Chatelier), o que mantém a [H+] praticamente inalterada, desde que também neste caso, a quantidade
adicionada não exceda as quantidades inicialmente presentes de HA e A-.
As soluções tampão, ou seja, soluções que contém concentrações próximas de um ácido
fraco HA e de sua base conjugada A- são utilizadas quando se deseja realizar algum experimento ou
procedimento de análise nos quais é importante que o pH permaneça inalterado. Como exposto
anteriormente, a capacidade das soluções tampão de assimilarem a adição de H+ ou OH- (quer
diretamente ou pela produção destas espécies durante alguma reação química ocorrente no meio
tamponado) depende das concentrações presentes no tampão de HA e A-. Na região de efeito
tampão, o pH não depende dos valores absolutos das concentrações destas espécies, apenas da
razão entre elas, como mostra a equação de henderson-Hasselbach:
[A  ]
pH  pK a  Log
[HA ]
pela equação, se as concentrações do ácido HA e da base conjugada A- forem iguais a 0,01M, o pH da
solução deve ser igual ao pKa. Se as concentrações fossem iguais a 1,0 M, o pH também seria igual a
pKa. A única diferença seria que, a solução tampão de menor concentração teria menor capacidade

36
de assimilar adições de íons H+ ou OH- e manter o pH constante. A concentração máxima de íons H+
ou OH- que uma solução tampão pode assimilar sem alterar significativamente o pH é dado pela
seguinte relação entre as concentrações de HA e e A-:

[HA ]  [A  ]
C max  2,3 
[HA ]  [ A  ]
No caso das soluções tampão do exemplo anterior, as capacidades ( ou poder tamponante) seriam:
0,01  0,01
Cmax  2,3   0,01M , ou seja , 0,01 moles de íons H+/OH- por litro de tampão
0,01  0,01

1,0  1,0
C max  2,3   1,0 M , ou seja , 1,0 moles de íons H+/OH- por litro de tampão
1,0  1,0
vemos portanto que, embora as duas soluções tampão tenham o mesmo pH, a solução de maior
concentração suporta a adição de uma quantidade até 100 vezes maior de ácidos ou bases. Uma
conseqüência do fato do pH depender da razão das concentrações de ácido e base conjugadas é a
invariabilidade do pH de soluções tampão frente à diluição. A diluição de um tampão, embora altere as
concentrações das espécies iônicas (e, portanto a capacidade de tamponamento) não altera o pH.
Para um determinado par conjugado ácido-base (descrito pelo seu pK a), pode-se preparar
soluções tampão em qualquer pH na faixa aproximada entre pKa – 1 < pH < pKa +1 pela escolha da
razão apropriada entre as concentrações do ácido e seu ânion (ou base conjugada) de acordo com a
equação de Henderson-Hasselbach. Entretanto, como pode ser verificado pela a equação que define o
poder tamponante, a medida que as concentrações do ácido e da base conjugada vão ficando
diferentes, o poder tamponante fica menor. O máximo poder tamponante é obtido quando as
concentrações da ácido e da base conjugada são iguais (situação em que pH do tampão = pKa).
Quando o pH está fora da faixa pKa  1, a concentração de um dos componentes do tampão é mais
que 10 vezes menor que a do outro componente e o poder tamponante é praticamente perdido.
Uma propriedade importante de um meio aquoso de eletrólitos é a sua força iônica (I):
I = ½ zi2.[i]
onde zi é a carga da espécie iônica i e [i] a sua concentração. A soma é feita para todas as espécies
iônicas presentes na solução. A velocidade e a constante de equilíbrio de reações químicas envolvendo
íons dependem em geral da força iônica do meio. Se numa reação química há formação ou consumo
de íons H+ e OH-, a utilização de um meio tamponado é uma maneira de se manter tanto as
concentrações de H+ e OH-, constantes, bem como a força iônica. Soluções tampão podem ser
preparadas para atender não só ao requisito de pH constante (dentro da faixa pKa  1), como também
para manter a força iônica constante em reações que envolvem íons H+ e OH-.
O cálculo das concentrações de necessárias para fazer uma solução tampão de força iônica
e pH desejados pode ser feito pela utilização das equações de Henderson-Hasselbach e pela definição
de força iônica. Por exemplo, suponha que seja necessário um tampão acetato (par conjugado acido
acético e íon acetato, pka = 4.8) com pH = 5 e força iônica I = 0,5. Pela equação de Henderson-
Hasselbach as concentrações de ácido acético [HOAc] e ânion acetato [OAc-] devem estar na seguinte
proporção:

37
[A  ] [OAc  ] [OAc  ]
pH  pK a  Log substituindo os valores: 5  4,8  Log  Log  0, 2 e
[HA ] [ HOAc ] [ HOAc ]

[OAc  ]
 100, 2  1,6 . Isso indica que, para pH 5, a relação entre as concentrações de acido acético e
[HOAc ]
acetato devem estar na proporção tal que [OAc-] = 1,6 [HOAc]. A força iônica do meio vem do sal de
acetato adicionado (por exemplo acetato de sódio NaOAc). O acetato de sódio dissocia
completamente e produz íons OAc- (z = -1) e Na+ (z = +1), cada íon com a mesma concentração do sal
adicionado. A força iônica nesse caso é dada por: I = ½ (+1)2[Na+]+½ (+1)2[OAc-].
I = ½ [Na+]+½ [OAc-].
Como proporção estequiométrica de sódio e acetato no sal é 1:1, então a [Na+] = [OAc-] e a força
iônica é igual à própria concentração do sal ( I = ½ [OAc-].+½ [OAc-] = [OAc-]). Sendo assim, o tampão
acetato de força iônica 0,5 deve ter [OAc-] = 0,5 M. para que este tampão tenha pH = 5, a
concentração do ácido do ácido acético deve ser [HOAc] = [OAc-]/1,6 = 0,31 M. Dessa forma, o
tampão acetato desejado (pH = 5 e I = 0,5) pode ser preparado pela adição de 0,5 moles de NaOAc
(acetato de sódio) e 0,31 moles de HOAc (ácido acético) por litro de tampão.
Uma maneira de alternativa de se preparar um tampão é pela neutralização parcial do ácido
fraco. Nesse caso, o mesmo tampão anterior poderia ser obtido pela mistura de 0,5 moles de NaOH
a uma solução contendo 0,81 moles de HOAc de modo a obter para cada litro. Os 0,5 moles de NaOH
iriam neutralizar a mesma quantidade (0,5 moles) de HOAc produzindo 0,5 moles de acetato no meio
e deixando 0,31 moles (0,81 – 0,5) de HOAc não neutralizados. este método é mais prático pois o pH
pode ser ajustado com maior precisão pela adição controlada da base, evitando erros provenientes
dos cálculos aproximados envolvidos no outro método. Em geral, no preparo de um tampão por
qualquer dos métodos, o ajuste final do pH pela adição controlada de ácido ou base forte deve ser feita
quando possível, tomando o cuidado para não alterar significativamente a força iônica.
Um tampão biológico muito importante é o tampão fosfato. O ácido fosfórico tem 3
hidrogênios ionizáveis. Cada equilíbrio de dissociação tem seu próprio valor de pKa:
H3PO4 ⇌ H2 PO4- + H+ pKa1 = 1,96
H2PO4 - ⇌ HPO4 -2 + H+ pKa2 = 7,12
HPO4 ⇌ PO4 + H
- -3 +
pKa2 = 12,32
Cada um destes equilíbrios pode dar origem a um tampão de pH na faixa de pKa  1 e podemos
escrever uma equação de Henderson-Hasselbach para cada equilíbrio de dissociação:
[ H 2 PO 4 ] [HPO 4 2 ] [PO 4 3 ]
pH  pK a1  Log , pH  pK a 2  Log 
e pH  pK a 3  Log ,
[H 3 PO 4 ] [H 2 PO 4 ] [HPO 4 2 ]
Como o pH característico de sistemas biológicos fica em torno de 7, o tampão formado pelas
espécies dihidrógeno fosfato (H2 PO4-) e hidrógeno fosfato (HPO4-2 ) é adequado para manter o pH na
faixa de interesse em sistemas biológicos. este tampão pode ser obtido por mistura na quantidade e
proporção apropriada de sais dos íons H2PO4- e HPO4 -2 de modo a se obter uma solução com pH e
força iônica desejados.
Nesta prática serão preparadas soluções tampão e suas resistência á variação de pH
verificadas em comparação a uma solução não tamponada.

38
II.5.c Cuidados e precauções

 Soluções de Ácido Acético, Ácido Fosfórico, Ácido Clorídrico e Hidróxido de Sódio: provocam
irritações na pele e devem ser manuseado com luvas;
 pHmetro: este equipamento requer cuidado no manuseio pois seu bulbo é composto de uma
membrana de vidro e portanto sensível.

II.5.d Parte Experimental

Material Necessário
- Suporte universal com Garra para bureta; Reagentes:
- Bureta de 50 mL e Proveta de 25 ml; - Solução de NaOH 1 M;
- Béqueres 3 de 100 ml e 1 de 250 ml; - Solução de H3C-COOH (ácido acético) 1 M;
- Pipeta volumétrica de 10 mL e pipetador; - Solução de H3 PO4 1 M;
- Agitador magnético e “pulga” (ou “peixinho”); - Solução de HCl 0,001 M;.
- Pipeta Pasteur;
- 3 balões Volumétricos de 100 ml;

- Cálculos prévios (feitos no caderno de laboratório):


1. Calcular os volumes de hidróxido de sódio 1,0 M e Ácido Acético 1,0 M necessários para preparar
100 mL de a) um tampão acetato de pH = 5,5 e força iônica 0,2 M, b) um tampão acetato de pH =
4.8 e força iônica 0,2 M;
2. Calcular o volume Ácido Fosfórico 1,0 M necessários para preparar 100 mL de um tampão fosfato
de pH = 7.4 e força iônica 0,5 M.
3. Calcular a capacidade de tamponamento de cada tampão dos itens anteriores;

- Procedimento:

A) Calibração do pHmetro:
1. Calibre o pH como na prática anterior.

B) Preparo das Soluções Tampão:


1. Prepare as soluções de tampão acetato conforme os cálculos anteriores adicionando o ácido e a
base inicialmente em um béquer de 100 ml contendo 25 ml de água destilada. Meça o pH do tampão
preparado a e corrija se necessário pela cuidadosa adição (gota a gota) de mais base ou ácido
conforme necessário com auxílio de uma pipeta Pasteur. Transfira para o balão de 100 ml e complete
até a marca com água destilada;
2. Transfira um pouco das soluções tampão preparadas para um béquer de 100 ml, meça o pH final e
anote.
3. Prepare a solução de tampão fosfato adicionando inicialmente a quantidade calculada do ácido
fosfórico 1,0 M em um béquer de 100 ml. Adicione uma quantidade 1,5 vezes maior de solução 1,0

39
M de NaOH. Nesse ponto o pH deve estar próximo ao valor de pKa2 (7,12) do ácido fosfórico (por
que?). Meça o pH do tampão preparado a e continue adicionando solução de NaOH com a pipeta
Pasteur até atingir o valor desejado de pH (7,4). Faça a adição de maneira cautelosa quando o pH
estiver próximo de 7,4. Transfira a solução para o balão de 100 ml e complete até a marca com água
destilada;
4. Transfira um pouco da solução tampão preparada para um béquer de 100 ml, meça o pH final e
anote.

C) Teste de Diluição das Soluções Tampão:


1. Tome uma alíquota de 5 ml da solução tampão de acetato pH 5,5 e transfira para um béquer de
100 ml.
2. Adicione 45 ml de água destilada ao béquer. Este procedimento corresponde de modo aproximado
à diluição do tampão por um fator de 10.
3. Meça o pH do tampão diluído. Anote este valor.
4. Compare com o valor do pH do tampão original (não diluído) e calcule a variação do pH devido á
diluição.
5. Repita o procedimento anterior para os demais tampões preparados. Reserve a solução diluída de
tampão acetato com pH 4,8 para a próxima etapa.
6. Transfira aproximadamente 25 ml da solução, meça e anote o pH desta solução.
7. Tome uma alíquota de 5 ml desta solução 0,001 M de HCl e transfira para outro béquer.
8. Adicione 45 ml de água (como anteriormente), meça o pH após a diluição e calcule a variação de
pH devido à diluição.

D) Teste de Capacidade das Soluções Tampão:


1. Encher a bureta com solução de NaOH 1,0 M e zerar a bureta. Verifique se não há bolhas no bico
da bureta;
2. Colocar o béquer de 250 ml sobre o agitador magnético com a pulga dentro e adicionar a este 50
ml da solução tampão acetato pH 5,5. Testar o movimento da pulga para verificar se ela está girando
de modo estável.
3. Cuidadosamente, ajustar o bulbo para medir o pH da solução do béquer. Não deixe o bulbo muito
próximo da pulga e desligue a agitação caso o movimento da pulga perca estabilidade.
4. Inicie a adição da base: faça adições de 1 ml em 1 ml até que o pH esteja acima de 5,8 (este é o pH
em que o tampão acetato perde sua capacidade de tamponamento). Anote o volume gasto e calcule a
capacidade do tampão pela fórmula C = Vb/25; Compare com os valores calculados;
5. Repita o procedimento para as demais soluções tampão, inclusive para a solução tampão de
acetato de pH 4,8 diluída obtida na parte anterior. No caso do tampão fosfato, o poder tamponante é
perdido quando o pH ultrapassa o valor de 8,1.

II.5.e Tratamento dos Resultados Experimentais

Comente os resultados observados quanto á resistência à mudança de pH, a capacidade de


tamponamento das soluções investigadas e o efeito da diluição na capacidade de tamponamento (no
caso da solução de tampão acetato de pH 4,8).

40
II.6 Prática 06: Titulação Redox : Iodometria

II.6.a Objetivos

1) Aplicar a técnica de iodometria.


2) Detectar o ponto final de titulações redox.

II.6.b Introdução

A volumetria de óxido-redução ou redox é um método de análise baseado na ocorrência de


reações onde há transferência de elétrons ou reações redox. Nestas reações ao menos uma das
espécies participantes (redutor) perde seus elétrons para outras espécies (oxidantes). Em uma
titulação redox, o titulante (de normalidade conhecida) é uma espécie redutora (ou oxidante) e o
titulado é uma espécie oxidante (ou redutora). Durante uma titulação redox, o titulado vai sendo
consumido e conseqüentemente o potencial de redução/oxidação do titulado é modificado. Nesse
aspecto, o potencial eletroquímico da solução titulada tem papel análogo ao pH no caso de titulações
de neutralização (ácido-base) e na vizinhança do ponto de equivalência há um salto brusco no potencial
eletroquímico da solução. Um exemplo de titulação redox é a determinação de iodo (I2) por íon
tiossulfato (S2 O3 -2). Durante a titulação ocorre a seguinte reação de óxido-redução:
I2 + 2 S2O3-2  2 I- + S4O6 -2
Nessa reação o iodo é reduzido a iodeto pelo tiossulfato (que se oxida a tetrationato). O ponto final da
titulação pode ser marcado utilizando-se amido como indicador. O amido na presença de iodo e iodeto
forma um complexo de intensa coloração anil. No ponto de equivalência, o iodo é quase que
completamente consumido e a solução perde a coloração anil. Também no ponto de equivalência,
cada mol de iodo é reduzido por 2 moles de tiossulfato e o cálculo da concentração molar de iodo
deve levar em conta esta estequiometria: MI2 × VI2 = MS2O3 × V S2O3 /2 (no P.E)
Esta reação pode ser utilizada para determinação por titulação redox de qualquer substância oxidante
que pode ser reduzida pelo iodeto para forma iodo:
substância oxidante + 2 I-  substancia reduzida + I2
Na seqüência, a titulação do iodo produzido pela reação acima se torna uma maneira de
determinar por via indireta a concentração da substância oxidante. Esta técnica de determinação é
chamada de iodometria.
Nessa prática será feita a determinação de cloro ativo na água sanitária comercial. A
substância ativa em germicidas ou alvejantes é o hipoclorito (ClO-) de cálcio (ou de sódio). A qualidade
do alvejante/germicida é medida em função da sua capacidade em fornecer cloro ativo. O cloro está
em equilíbrio com o hipoclorito e íons cloreto em meio ácido:
ClO-(aq) + Cl-(aq)+ 2 H+(aq) ⇌ Cl2(aq) + H2O
A quantidade de cloro ativo no alvejante pode ser feita por iodometria: adiciona-se à solução do
alvejante uma quantidade em excesso de íons iodeto e o iodo é formado pela reação do iodeto com o
cloro:
Cl2(aq) + 2 I-(aq)  I2(aq)+ 2Cl-(aq)
O iodo liberado na reação acima é então titulado com solução de tiossulfato de sódio. A reação deve
ser realizada usando-se ácido sulfúrico para acidificar o meio. Isso garante que o equilíbrio entre o
hipoclorito e o cloro fica deslocado no sentido de formação do cloro. Como a quantidade molar de

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cloro ativo presente forma a mesma quantidade molar de iodo (estequiometria 1:1 entre Cl2 e I2 ), a
concentração molar do cloro ativo pode ser calculada por:
MCl2 × Valiq = MS2O3 × Vtit /2 (1)
Onde Valiq é o volume da alíquota de alvejante retirado para análise e Vtit é o volume de tiossulfato gasto
na titulação.
Na iodometria, o titulante tiossulfato não é um bom padrão primário já que não é um
composto muito estável e sofre lenta degradação. A solução de tiossulfato deve, portanto ser
padronizada. Um bom padrão primário para a padronização do tiossulfato é o íon dicromato. A
padronização do tiossulfato com dicromato (Cr2O7 -2) segue o mesmo procedimento da iodometria.
Pesa-se uma massa conhecida de dicromato de potássio e adiciona-se excesso de iodeto de potássio
em meio ácido para formação do iodo segundo a reação:
Cr2O7 -2 + 14H+ + 6I-  3I2 + 2Cr+3 + 7 H2O
O iodo formado é então titulado com tiossulfato. Como para cada mol de dicromato há formação de 3
moles de iodo, podemos escrever a reação da titulação de padronização do tiossulfato
3 I2 + 6 S2O3-2  6 I- + 3 S4O6 -2
De forma que a reação global da padronização pode ser escrita como:
Cr2O7-2 + 14H+ + 6 S2O3-2  + 2Cr+3 + 3 S4 O6 -2 + 7 H2O
Nesse caso, no PE, o cálculo da concentração molar de tiossulfato deve levar em conta a
estequiometria de 6 moles de tiossulfato reduzem 1 mol de dicromato: MS2O3 = 6 nCr2O7 1000/ Vpad (no
P.E), em que Vpad é o volume gasto de tiossulfato na padronização em ml e nCr2O7 é o numero de moles
pesado do padrão primário dicromato de potássio.
O cálculo da concentração de tiossulfato durante a padronização não precisa ser feito
explicitamente. Se substituirmos a fórmula anterior da molaridade de tiossulfato na equação 1 (da
titulação do alvejante), obtemos:
n Cr 2 O 7  Vtit
M Cl 2  3  1000 
Vpad  Valiq

II.6.c Precauções
 As soluções e produtos utilizados podem causar irritações nos olhos e na pele e devem ser
manuseados com cuidado.

II.6.d Parte Experimental

Material Necessário
- Suporte universal com Garra para bureta; - 0,5 L Solução de Na2S2O3 0,1 M (tiossulfato de
- Erlenmeyer de 125 ml; sódio);
- Bureta de 50 mL e Proveta de 25 ml; - 200 ml Solução de KI 10 % (iodeto de potássio);
- 1 Béquer de 100 ml e 1 de 250 ml; - 50 ml Solução de Amido 0.5 % ;
- Pipeta volumétrica de 2 mL e pipetador; - 0,5 L Solução de H2 SO4 1,0 M (ácido sulfúrico);
- Pipeta Graduada de 10 ml - K2Cr2 O7 (dicromato de Potássio);
- Alvejante comercial

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- Cálculos prévios (feitos no caderno de laboratório):
1. Calcular a massa de dicromato de potássio (PM = 294,19 g/mol) para que na titulação com
tiossulfato (iodometria) sejam gastos 25 ml de solução 0,1 M de tiossulfato.

- Procedimento:

A) Padronização do Tiossulfato:
1. Pese a massa calculada de dicromato de potássio em um papel de pesagem e transfira para o
erlenmeyer. Anotar a massa;
2. Adicione ao erlenmeyer 20 ml de água destilada e mais 20 ml de solução de ácido sulfúrico 1,0 M.
Agite até dissolução completa do dicromato.
3. Adicione 5 ml de solução de KI 10% e aguarde por volta de 10 minutos para a reação se completar
se possível em ambiente escuro (dentro do armário);
4. Encher e zerar a bureta com a solução de tiossulfato, verificando para que não haja bolhas;
5. Proceder a titulação da solução de dicromato até que esta adquira uma coloração amarelo pálida.
Neste ponto interromper a titulação e adicionar 1 ml de solução 0,5 % de amido.
6. Prosseguir a titulação até o desaparecimento da coloração anil. Anotar o volume.

B) Determinação do Cloro Ativo no Alvejante Comercial:


1. Adicionar 25 ml de água destilada ao erlenmeyer;
2. Tome uma alíquota de 2 ml do alvejante comercial e adicione ao erlenmeyer;
3. Adicione 10 ml de solução de KI 10% e 20 ml de solução de ácido sulfúrico 1,0 M. Aguarde alguns
minutos para a reação se completar;
4. Completar e zerar a bureta com a solução de tiossulfato;
5. Proceder a titulação da solução de amostra até que esta adquira uma coloração amarelo pálida.
Neste ponto interromper a titulação e adicionar 1 ml de solução 0,5 % de amido.
6. Prosseguir a titulação até o desaparecimento da coloração anil. Anotar o volume.

II.6.e Tratamento dos Resultados Experimentais

Calcule a concentração molar de cloro ativo no alvejante em moles por litro e em gramas por
litro. Compare com o valor declarado na embalagem do produto comercial utilizado.
.

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II.7 Prática 07: Titulação Redox : Permanganatometria

II.7.a Objetivos

1) Aplicar a técnica de permanganatometria para determinação de água oxigenada.

II.7.b Introdução

A permanganatometria é uma técnica de volumetria de óxido-redução (como a iodometria)


em que o titilante é o permanganato de potássio (KMnO4). Em meio ácido, o permanganato, de intensa
coloração violeta), é reduzido a íons manganês (II) – Mn2+, que é incolor:
MnO4- + 8 H+ + 5 e-  Mn2+ + 4 H2O
Dessa forma, a permanganatometria é uma titulação auto-indicada (dispensa indicador) pois ao
primeiro excesso do titulante (permanganato), a solução adquire uma coloração violácea indicando o
ponto final.
A padronização da solução do titulante KMnO4 pode ser feita utilizando-se o oxalato de sódio
(Na2C2O4) como padrão primário. O oxalato é oxidado a CO2 em meio ácido:
C2O42-  2 CO2 + 2 e-
O permanganato é reduzido a Mn(II) num processo que envolve 5 elétrons e o oxalato requer 2
elétrons para se oxidar a dióxido de carbono, de forma que a estequiometria da reação global é:
2MnO4- + 5C2O42- + 16 H+  2 Mn2+ + 10 CO2 + 8 H2O
No ponto final da padronização, a molaridade do permanganato deve ser calculada como:
2 n Na 2C 2 O4
M MnO 4  
5 VMnO 4
Onde nNa2C2O4 é o número de moles de oxalato de sódio e VMnO4 é o volume em litros gastos na titulação de
padronização. A reação entre o permanganato e o oxalato é um processo relativamente lento a
temperatura ambiente e melhores resultados são obtidos se a titulação é feita a quente.
A solução de permanganato padronizada pode ser utilizada para determinar a concentração
de outras espécies passíveis de serem oxidadas por permanganatometria. Nesta prática será feita a
determinação de água oxigenada (H2O2) no produto comercialmente disponível. A água ogigenada é
oxidada a oxigênio pela reação:
H2O2  2 H+ + O2 + 2 e-
Semelhante ao caso da reação de padronização, a estequiometria da reação global é 5 : 2 para
balanceamento do número de elétrons envolvidos:
2MnO4 - + 5 H2O2 + 6 H+  2 Mn2+ + 5 O2 + 8 H2O
No ponto final da titulação, a molaridade da água oxigenada deve ser calculada como:
5 M MnO4  VMnO4
M H 2O 2  
2 VH 2O2
As soluções comerciais de água oxigenada têm concentrações indicadas em termos de
volumes (10 volumes, 30 volumes, etc). Esta indicação se refere ao volume de oxigênio em ml
desprendido nas CNTP (273 K e 1 atm) por 1,0 ml de solução de água oxigenada pela decomposição
da água oxigenada:
H2O2  H2O + ½ O2

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Para calcular a concentração da água oxigenada em volumes a partir da concentração molar, pode-se
utilizar a lei dos gases ideais para calcular volume em ml de certo número de moles de oxigênio nas
CNTP:
VO2 = nO2  22,41000.
Pela reação de decomposição da água oxigenada tem-se que 1 mol H2O2 produz ½ mol de O2. O
número de moles H2O2 de em 1 ml nH2O2 = MH2O2 / 1000 e o número de O2 evoluído de um ml seria a
metade deste valor:
VO2 = MH2O2  11,2.

II.7.c Precauções
 As soluções e produtos utilizados (oxidantes/redutores fortes) podem causar irritações na
pele e devem ser manuseados com cuidado.
 Não coloque o termômetro nas soluções durante a titulação. O permanganato reage
explosivamente com subst6ancias orgânicas como o álcool. O controle de temperatura deve ser feito
pelo banho térmico.

II.7.d Parte Experimental

Material Necessário
- Suporte universal com Garra para bureta; - 0,5 L Solução de KMnO4 0,02 M (permanganato
- 2 Erlenmeyer de 250 ml; de potássio);
- Bureta de 50 mL e Proveta de 25 ml; - 0,5 L Solução H2SO4 1:8 (v/v)
- 1 Béquer de 100 ml; - 5 g Na2C2O4 (oxalato de sódio) (previamente
- Micropipeta de 1000 mL (uso comum); deixado por 2 h em estufa a 120 C) ;
- Chapa aquecedora e béquer de 1 L; - Água Oxigenada Comercial (10 volumes)
- termômetro;

- Cálculos prévios (feitos no caderno de laboratório):


1. Calcular a massa de oxalato de sódio (PM = 134,00 g/mol) para que na padronização do
permanganato sejam gastos 25 ml de solução 0,02 M de permanganato.

- Procedimento:

A) Padronização do Permanganato:
1. Pese a massa calculada de oxalato de sódio em um papel de pesagem e transfira para o
erlenmeyer. Anotar a massa;
2. Adicione ao erlenmeyer 50 ml de água destilada e mais 15 ml de solução de ácido sulfúrico 1:8 v/v
Agite até dissolução completa do oxalato.
3. Mergulhe o erlenmeyer no béquer de 1 L contendo água a aproximadamente 90 C e espere até o
equilíbrio térmico;
4. Encher e zerar a bureta com a solução de permanganato, verificando para que não haja bolhas;

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5. Proceder a titulação da solução de oxalato até que esta adquira uma coloração violácea pálida que
se mantenha por 30 segundos. Anotar o volume. Obs: No ponto final, a solução titulada deve estar
acima de 60C e, portanto a titulação deve ser feita rapidamente.
6. repita o procedimento (duplicata).

B) Determinação do Água Oxigenada no Produto Comercial:


1. Adicionar 40 ml de água destilada ao erlenmeyer;
2. Tome uma alíquota de 1 ml de água oxigenada 10 volumes comercial e adicione ao erlenmeyer;
3. Adicione 15 ml de solução de ácido sulfúrico 1:8 v/v.
4. Completar e zerar a bureta com a solução de permanganato;
5. Proceder a titulação da solução de amostra até que esta adquira uma coloração uma coloração
violácea pálida que se mantenha por 30 segundos. Anotar o volume.
6. Repetir o procedimento uma vez mais.

II.7.e Tratamento dos Resultados Experimentais

Calcule a concentração de água oxigenada no produto comercial em moles por litro e em


volumes de oxigênio. Compare com o valor declarado na embalagem do produto comercial.
.

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II.8 Prática 08: Titulação de Precipitação

II.8.a Objetivos

1) Aplicar a técnica de Argentometria.


2) Examinar os métodos de detecção do ponto final de titulações de precipitação.

II.8.b Introdução

A volumetria de precipitação é um método de análise baseado na baixa solubilidade de


determinados compostos, normalmente sais. Por exemplo, o cloreto de prata AgCl tem baixa
solubilidade em água e o íon cloreto pode ser titulado com uma solução de concentração conhecida
de um sal solúvel de prata, como o nitrato de prata (AgNO3). neste processo ocorre a seguinte reação
de precipitação:
Ag+ + Cl-  AgCl(s)
Devido à baixa solubilidade do cloreto de prata, os íons prata e cloreto residuais em equilíbrio com o
sal sólido precipitado estão em concentrações baixíssimas e praticamente todo o cloreto é
precipitado. O equilíbrio de solubilidade de sais é regido pela constante ou produto de solubilidade (K ps):
AgCl(s) ⇌ Ag+(aq) + Cl-(aq) Kps = [Ag+][Cl-]
Para o cloreto de prata, o valor do produto de solubilidade é K ps = 2,810-10. No ponto de equivalência,
quando as concentrações de Ag+ e Cl- são iguais, as concentrações de equilíbrio (residuais) são:
[Ag+] = [Cl-] = (Kps)½ = 1,710-5 M.
Apesar do grande número de reações de precipitação conhecidas que resultantes em
precipitados pouco solúveis, poucas podem ser utilizadas para fins quantitativos. Para que uma reação
possa ser utilizada em titulação de precipitação alguns requisitos são necessários. A reação deve ser
suficientemente rápida e completa, produzindo um precipitado de composição constante e conhecida
e de baixa solubilidade.
A detecção do ponto final de uma titulação de precipitação não pode ser feita diretamente,
pois é muito difícil identificar o momento em que a precipitação deixa de ocorrer. Nesses casos, a
detecção do ponto final deve ser feita por método indireto, com auxílio de um indicador. Os métodos
de detecção existentes para titulações de precipitação são baseados nos fenômenos de adsorção ou
co-precipitação. Por estes motivos as titulações por precipitação são pouco utilizadas na análise
quantitativa convencional, exceto para uma pequena classe de compostos, que incluem as titulações
de íons prata, haletos (Cl-, Br-, I-) e pseudo-haletos (SCN-, N3-) denominadas TITULAÇÕES
ARGENTOMÉTRICAS, e a determinação do íon sulfato por titulação com formação de sulfato de bário.
Em 1856, Mohr introduziu o íon cromato como indicador para a titulação de íons cloreto com
íons prata, permitindo visualizar o ponto final. Neste método o ponto final é determinado pelo
aparecimento da cor avermelhada do precipitado Ag2CrO4 ao primeiro excesso de íons prata
adicionado durante a titulação. Esse método será utilizado na presente prática. Outros métodos
importantes em argentometria dignos de menção são os métodos de Volhard (Fe3+ e SCN-) e de Fajans
(diclorofluoresceína).

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II.8.c Precauções
 O AgNO3 é oxidante, podendo causar irritações e manchas na pele e deve ser manuseado
com cuidado.

II.8.d Parte Experimental

Material Necessário
- Suporte universal com Garra para bureta; - 0,5 L Solução de AgNO3 0,05 M (nitrato de
- Bureta de 50 mL e Proveta de 25 ml; prata);
- 1 Béquer de 50 ml; - 50 ml Solução de K2 CrO4 0,1 M (cromato de
- Erlenmeyer de 125 ml; potássio);
- Pipeta volumétrica de 25 mL e pipetador; - NaCl sólido (cloreto de sódio);

- Cálculos prévios (feitos no caderno de laboratório):


1. Calcular a massa de cloreto de sódio (PM = 58,44 g/mol) para que na titulação com nitrato de
prata sejam gastos 25 ml de solução 0,05 M de nitrato de prata.

- Procedimento:

A) Padronização do Nitrato de Prata:


1. Pese a massa calculada de cloreto de sódio em um papel de pesagem e transfira para o
erlenmeyer. Anotar a massa;
2. Adicione ao erlenmeyer 25 ml de água destilada e agite até dissolução completa do cloreto de
sódio.
3. Adicione 1 ml de solução de K2CrO4 0,1 M;
4. Encher e zerar a bureta com a solução de nitrato de prata, verificando para que não haja bolhas;
5. Proceder a titulação da solução de cloreto de sódio até que apareça a coloração avermelhada do
cromato de prata precipitado. Anotar o volume.
6. Repetir o procedimento mais uma vez e calcular a concentração de nitrato de prata pela média.

B) Determinação do Cloreto na Solução Desconhecida;


1. Tome uma alíquota de 25 ml da solução de concentração desconhecida de cloreto e transfira para
o erlenmeyer;
2. Adicione 1 ml de solução de K2CrO4 0,1 M;
3. Completar e zerar a bureta com a solução de nitrato de prata;
4. Proceder a titulação da solução de amostra como anteriormente. Anote o volume;

II.8.e Tratamento dos Resultados Experimentais

Calcule a concentração molar de cloreto na solução desconhecida.

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