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Colectânea de Legislação de Direito Penal

FACULDADE DE DIREITO DE BISSAU


Centro de Estudos e Apoio às Reformas Legislativas

GUINÉ-BISSAU
Colectânea
de Legislação Fundamental de
Direito Penal

Organizada por:
João Pedro C. Alves de Campos

Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer processo electrónico,
mecânico ou fotográfico, incluindo fotocópia, xerocópia ou gravação, sem autorização
prévia do editor.
Exceptuam-se as transcrições de curtas passagens para efeitos de apresentação, crítica
ou discussão das ideias e opiniões contidas no livro. Esta excepção não pode, no entanto,
ser interpretada como permitindo a transcrição de textos em recolhas antológicas ou
similares, da qual possa resultar prejuízo para o interesse pela obra. LISBOA
2 Os infractores são passíveis de procedimento judicial, nos termos da lei. 2007 3
Colectânea de Legislação de Direito Penal

ÍNDICE

Prefácio ...................................................................................................... 9
Nota prévia do organizador ........................................................................ 13
Código Penal (Decreto-Lei nº 4/93 – Suplemento ao Boletim Oficial nº 41,
de 13 de Outubro de 1993, com as alterações introduzidas pela Lei nº
2/2002, publicada no Boletim Oficial nº 21, de 27 de Maio de 2002 e pelo
artigo 13º da Lei nº 7/97, de 2 de Dezembro, publicada no suplemento ao
Boletim Oficial nº 48, de 2 de Dezembro de 1997) .................................... 17
Cargos Políticos – Definição do regime jurídico dos crimes da responsabilidade
de titulares de cargos políticos (Lei nº 14/97 – Suplemento ao Boletim
Oficial nº 48, de 2 de Dezembro de 1997 ................................................... 85
Legislação relativa a estupefacientes (Decreto-Lei nº 2-B, de 28 de Outubro
de 1993 – 1º Suplemento ao Boletim Oficial nº 43, de 1993) .................... 99
Indicação das sanções relativas à devastação das florestas por meio de
queimadas e incêndios – Lei Florestal (Decreto-Lei nº 4-A/91 – Boletim
Oficial nº 43, de 29 de Outubro de 1991) .................................................. 121
Lei do Inquilinato – Disposições Penais (Decreto nº 13-A/89, de 9 de Junho
de 1989 – 2º Suplemento ao Boletim Oficial nº 23º, de 9 de Junho de
1989) .......................................................................................................... 127
Ficha Técnica Crimes contra a Economia Nacional (Lei nº 1/79 – Suplemento ao Boletim
Título: Oficial nº 22, de 8 de Junho de 1979) ........................................................ 129
Colectânea de Legislação Fundamental de Direito Penal Infracções antieconómicas e contra a saúde pública (Decreto nº 20/77 –
Organização: Boletim Oficial nº 20, de 14 de Maio de 1977) .......................................... 135
João Pedro C. Alves de Campos Lei do Recenseamento Eleitoral – extracto (Lei nº 2/98, de 23 de Abril –
Edição: Suplemento ao Boletim Oficial nº 17, de 28 de Abril de 1998) ................. 149
AAFDL Lei Eleitoral para o Presidente da República e Assembleia Nacional Popular
Alameda da Universidade – 1649-014 LISBOA
– extracto (Lei nº 3/98, de 23 de Abril – Suplemento ao Boletim Oficial nº
Fotocomposição: 17, de 28 de Abril de 1998) ....................................................................... 153
AAFDL Lei relativa ao processo eleitoral, respeitante ao poder autárquico – extracto
Impressão: (Lei nº 6/96 – Suplemento ao Boletim Oficial nº 38, de 16 de Setembro de
AAFDL 1996) .......................................................................................................... 159
Tiragem: Código dos Contratos Públicos – extracto (Decreto-Lei nº 4/2002 – Boletim
4 750 exs. Oficial nº 48, de 3 de Dezembro de 2002) ................................................. 161 5
Colectânea de Legislação de Direito Penal

Tabela Salarial (Decreto nº 4-A/2004 – Suplemento ao Boletim Oficial nº Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (Ratificada, para adesão
23, de 8 de Junho de 2004) ........................................................................ 165 pela Resolução nº 3/89 – publicada no Boletim Oficial nº 9, de 3 de Março
de 1989) ..................................................................................................... 265
Alteração da unidade monetária legal do Peso Guineense (PG) para o Franco
da Comunidade Financeira Africana – FCFA (Lei nº 1/97 – Suplemento Código Penal de 1886 – algumas normas relativas às contravenções, mantidas
ao Boletim Oficial nº 12, de 24 de Março de 1997) ................................... 169 em vigor pelo artigo 3º do Decreto-Lei nº 4/93, de 13 de Outubro de 1993
(Decreto de 16 de Setembro de 1886 – publicado no Diário do Governo nº
Repressão da contrafacção e falsificação da moeda (Lei nº 7/97, de 2 de 213, de 20 de Setembro de 1886 ................................................................ 285
Dezembro – Suplemento ao Boletim Oficial nº 48, de 2 de Dezembro de
1997) .......................................................................................................... 171 Constituição da República da Guiné-Bissau (extracto) – Constituição
aprovada a 16 de Maio de 1984 (alterada pela Lei Constitucional nº 1/91, de
Usura – UEMOA (Lei nº 13/97 – Suplemento ao Boletim Oficial nº 48, de 9 de Maio – Suplemento ao Boletim Oficial nº 18, de 9 de Maio de 1991,
2 de Dezembro de 1997) ............................................................................ 177 pela Lei Constitucional nº 2/91, de 4 de Dezembro de 1991 – Suplemento ao
Lei Uniforme relativa à Luta Contra o Branqueamento de Capitais (Resolução Boletim Oficial nº 48, de 4 de Dezembro de 1991 e 3º Suplemento ao Boletim
nº 4/PL/2004 – Suplemento ao Boletim Oficial nº 44, de 2 de Novembro de Oficial nº 48, de 6 de Dezembro de 1991, pela Lei Constitucional
2004) .......................................................................................................... 183 nº 1/93 – 2º Suplemento ao Boletim Oficial nº 8, de 21 de Fevereiro de 1993,
pela Lei Constitucional nº 1/95, de 1 de Dezembro – Suplemento ao Boletim
Regulamentação Bancária – Disposições Penais (Lei nº 10/97 – Suplemento
Oficial nº 49, de 4 de Dezembro de 1995 e pela Lei Constitucional nº 1/96
ao Boletim Oficial nº 48, de 2 de Dezembro de 1997) ............................... 215
– Boletim Oficial nº 50, de 16 de Dezembro de 1996) ............................... 289
Regime Geral das Instituições Mutualistas ou Cooperativas de Poupança
Índice Legislativo (por ordem cronológica) ............................................... 301
de Crédito – Disposições Penais (Lei nº 11/97 – Suplemento ao Boletim
Oficial nº 48, de 2 de Dezembro de 1997) ................................................. 223
Lei Uniforme sobre os Instrumentos de Pagamento – Disposições Penais
(Lei nº 12/97 – Suplemento ao Boletim Oficial nº 48, de 2 de Dezembro
de 1997) ..................................................................................................... 229
OHADA – Acto Uniforme relativo ao Direito Das Sociedades Comerciais
e ao Agrupamento de Interesse Económico (extracto: Disposições Penais) ..... 241
OHADA – Acto Uniforme para a Organização dos Processos Colectivos de
Apuramento do Passivo (extracto: Disposições Penais) .............................. 249
OHADA – Acto Uniforme relativo à organização e harmonização das
contabilidades das empresas situadas nos Estados-Membros do Tratado
relativo à Harmonização do Direito dos Negócios em África (extracto:
Disposições Penais) .................................................................................... 257
Carta Africana sobre Direitos do Homem e dos Povos – extracto (Resolução
nº 20/85 – Suplemento ao Boletim Oficial nº 49, de 7 de Dezembro de
1985) .......................................................................................................... 261
Declaração Universal dos Direitos Humanos – extracto ............................ 263

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Colectânea de Legislação de Direito Penal

PREFÁCIO

A colectânea de Direito Penal que agora se dá à estampa resulta de uma


iniciativa a todos os títulos louvável e merecedora dos maiores encómios. Primeiro
porque dota os operadores forenses e judiciários de um instrumento imprescindível
para o seu trabalho quotidiano. Num país em que as leis têm escassa difusão e o
jornal oficial não chega a terras do interior, é sem dúvida da maior importância
para juizes, magistrados do Ministério Público, polícia judiciária e advogados,
poderem dispor fisicamente da lei em qualquer ponto do território nacional.
Segundo, porque a junção de vários diplomas numa colectânea, segundo um
critério temático, facilita o conhecimento e o estudo do Direito. É possível agora
perceber qual o substracto legislativo em que assenta o Direito Penal guineense,
confrontar as soluções político-criminais que animam os diferentes diplomas e
descobrir as linhas de continuidade e de descontinuidade entre elas. Permitindo
isto, a colectânea promove a cultura jurídica.
Com a publicação de colectâneas como esta, sai a ganhar o Estado de Direito
da Guiné-Bissau. Desde logo porque sem uma divulgação razoável das leis não é
possível ordenar a vida pública segundo a lei. Os tribunais, sobretudo os que ficam
distantes dos grandes centros urbanos, os outros operadores judiciários e mesmo
as autoridades policiais administram a justiça e zelam pela segurança pública
segundo hábitos e procedimentos que não raras vezes se afastam da lei e do melhor
direito. Mas também os cidadãos perdem com essa falta de divulgação, pois não
só ignoram os limites da acção do Estado, não se apercebendo muitas vezes de que
os seus interesses estão a ser lesados, como desconhecem os direitos e faculdades
que as leis lhes conferem e bem assim os deveres de que são destinatários. Uma
sociedade em que as leis só são acessíveis a alguns é um ambiente propício para
que a vida pública seja dominada por uma casta privilegiada que tem acesso
exclusivo às leis e pode, por isso, conduzir os seus interesses como bem lhe apraz.
Um tal estado de coisas acentua as desigualdades sociais e é inimigo da cidadania
e do Estado de Direito. Por certo que a publicação de colectâneas não se destina a
servir a maioria da população. Factores de ordem vária, que vão desde o anal-
fabetismo até ao dado de que os leigos não dominam as técnicas de interpretação
jurídica,fazem com que não seja esse o objectivo principal de tal publicação. Mas
ela vai seguramente ampliar a difusão e fomentar o conhecimento das leis junto
daqueles que as aplicam, que pretendem ver assegurado o seu cumprimento e que
de um modo geral com elas têm de lidar todos os dias. E desse jeito é a condução
da vida pública segundo o Direito e o estatuto do cidadão que saem a lucrar.

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Colectânea de Legislação de Direito Penal

Se a estes aspectos acrescentarmos a circunstância de o Direito Penal, num e o empenho dos docentes da Faculdade de Direito que constituem o seu capital
Estado de Direito, ser fortemente cunhado pelo princípio da legalidade, com as humano, ao mesmo tempo que contribui para reforçar a importância do seu papel
suas exigências de lei escrita, estrita, certa e prévia, melhor se percebererá a na vida jurídica da Guiné-Bissau.
importância da presente colectânea. Na verdade, se os órgãos da administração da
justiça não conhecerem a lei penal e não dominarem razoavelmente as técnicas da Lisboa, Outubro de 2006
sua interpretação e aplicação, as suas decisões estarão irremediavemente inquinadas
de invalidade e insconstitucionalidade e, perante um tal cenário, é todo o Estado
de Direito que soçobra de uma forma drástica. Augusto Silva Dias
A segunda razão pela qual o Estado de Direito beneficia com a divulgação das Professor Auxiliar da Faculdade de Direito de Lisboa
leis é que só através dela se obtém a percepção das boas e das más leis. O conhe- Vice-Presidente do Instituto da Cooperação Jurídica da
cimento das leis é pressuposto indispensável da sua valoração e da sua reforma. Faculdade de Direito de Lisboa
O principal diploma desta colectânea, o Código Penal, contém soluções dificil-
mente compatíveis com princípios constitucionais que formam a estrutura de
validade do Direito Penal do Estado de Direito, como sejam os princípios da
legalidade e da proporcionalidade, e soluções desajustadas em relação às modernas
orientações da política criminal em matéria de criminalidade organizada e trans-
nacional. Não é este o lugar para proceder a um levantamento exaustivo dos
problemas, mas deixamos como exemplos daquela difícil compatibilidade a
desproporção notória entre as penas aplicáveis a crimes agravados pelo resultado
dentro do mesmo capítulo, como acontece nos crimes contra a integridade física
(v. artigos116º, 117º e 121º, nº 2), o excesso de indeterminação legal patente na
agravação do homicídio (artigo108º) e na equiparação da omissão à acção (artigo
20º) e como exemplos do referido desajustamento a fraca expressão no plano
sancionatório das penas patrimoniais e das penas substitutivas, entre as quais não
figuram, por exemplo, institutos tão adequados à realidade guineense como a
prisão por dias livres e o regime de semi-detenção, a ausência de incriminações
respeitantes ao tráfico de seres humanos e à extracção e comércio de órgãos
humanos e da previsão de crimes cometidos sobre ou através de meios informáticos
(acolhidos pela generalidade das ordens jurídicas). O Código Penal conta com
treze anos de vigência sem ter sido objecto de uma intervenção visando o seu
aperfeiçoamento constitucional e a sua adaptação à realidade criminal. Esperamos
que a publicação da presente colectânea contribua para um ambiente propício à
inauguração de um ciclo de reformas da legislação penal.
Uma última palavra de congratulações para o Centro de Estudos da Faculdade
de Direito de Bissau, em particular para o actual Assessor Científico, que a ele
preside, o Mestre Rui Ataíde, e para o responsável pela organização da colectânea,
o Dr. João Pedro Campos. Há muito que o Centro de Estudos vem dando um apoio
inestimável à consolidação do Estado de Direito na Guiné-Bissau, desde a
participação na formação de magistrados e a realização regular de conferências e
de jornadas jurídicas até à elaboração de Ante-projectos legislativos e de legislação
10 anotada. A organização desta colectânea demonstra a vitalidade daquela instituição 11
Colectânea de Legislação de Direito Penal

NOTA PRÉVIA DO ORGANIZADOR

Com a Proclamação Solene do Estado da Guiné-Bissau, realizada pela Assembleia


Nacional Popular, reunida na Região Libertada do Boé a 24 de Setembro de 1973,
(embora o reconhecimento da independência da Guiné-Bissau pelo Estado
português, só venha a realizar-se em 10 de Setembro de 1974) uma das questões
mais imediatas que este novo Estado teve que solucionar dizia respeito ao vazio
legal que provocaria a revogação total e imediata dos normativos jurídicos
deixados pelo “colonizador”.
O caminho seguido não foi o da revogação total e imediata. A Lei nº 1/741, a
primeira lei posterior à Proclamação do Estado e à Constituição da República da
Guiné-Bissau, evitando o hipotético vazio jurídico-legal, manteve vigente toda a
legislação portuguesa em vigor à data da Proclamação do Estado soberano da
Guiné-Bissau, em tudo o que não fosse contrário à soberania nacional, à
Constituição da República, às leis ordinárias e aos princípios do PAIGC2.
Vinte anos depois, a 13 de Outubro de 1993 foi aprovado pelo Decreto-Lei nº
4/93 o primeiro Código Penal da Guiné-Bissau, pondo-se fim à vigência de mais
de cem anos do Código Penal de 1852, profundamente alterado pela “Nova
Reforma Penal” de 1884, cujo resultado final viria a ser o Código Penal de 1886.
O Código Penal da Guiné-Bissau de 1993 inspirou-se sem dúvida, no Código
Penal português de 1982, tendo sido pontualmente adaptado à realidade guineense.
Em alguns casos, de forma bastante imperfeita, tanto tecnicamente, como de um
ponto de vista político-criminal.
Por estas razões, também o Código de 1993 não conseguiu escapar a críticas
doutrinais severas. E logo em 1997/1998 foi elaborado um “Projecto atinente à
elaboração de um novo Código Penal Guineense”, findo o qual, foi solicitado um
parecer ao Centro de Estudos e Apoio às Reformas Legislativas da Faculdade de
Direito de Bissau. Nesse parecer, podemos constatar que na verdade, não existia
um verdadeiro projecto de reforma penal, mas apenas um simples projecto de
revisão legislativa, que não deixava de afirmar e/ou confirmar os princípios
jurídico-penais oportunamente vertidos no Código Penal de 1993.
A Parte Geral (artigos 1º a 99º) do Código Penal em vigor, corresponde na sua
globalidade a um Código que respeita as exigências de um Estado de Direito
Democrático, reflexo dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, constitu-

1
Decreto-Lei nº 4/93 – Suplemento ao B.O. nº 41, de 13 de Outubro de 1993, com
as alterações introduzidas pela Lei nº 2/2002, publicada no B.O. nº 21, de 27 de Maio
de 2002 e pelo artigo 13º da Lei nº 7/97, de 2 de Dezembro, publicada no suplemento
ao B.O. nº 48, de 2 de Dezembro de 1997.
2
12 Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo-Verde. 13
Colectânea de Legislação de Direito Penal

cionalmente previstos. São afirmados e plasmados todos os grandes princípios uma forma mais fácil e articulada de descobrir e trabalhar as matérias nucleares
jurídico-penalmente relevantes, como o princípio da legalidade, o princípio da do Direito Penal vigente na Guiné-Bissau.
humanidade das penas, o princípio da culpa, o princípio da propor-cionalidade e No desempenho de funções de regência da disciplina de Direito Penal I, na
o princípio da subsidiariedade do Direito Penal. Faculdade de Direito de Bissau, fomos recolhendo muitos diplomas relevantes
No que respeita à Parte Especial (artigos 100º a 250º) o Código Penal de 1993 praticamente desconhecidos, a seguir digitalizados, com o subsequente tratamento
seguiu os mesmos critérios de sistematização dos Códigos Penais modernos de texto, procedendo-se, ainda, à verificação de eventuais normativos constantes
baseados no bem jurídico e, dentro de cada grupo de incriminações, paradigmatica- do Código Penal que já não estivessem em vigor.
mente, na forma modelar, simples, de ofensa do mesmo, seguindo-se as formas Quanto ao critério de selecção dos diplomas, não se esqueceu o objectivo
essencialmente pedagógico e didáctico desta colectânea, optando-se por todos os
qualificadas e privilegiadas (v.g. crimes contra a vida, a integridade física e, de
diplomas que tivessem uma relação mais forte com o estudo do Direito Penal,
certo modo, a propriedade).
reconhecendo igualmente a importância da presente colectânea para um eventual,
No entanto, o Código Penal de 1993 não permaneceu absolutamente “cristalizado” mas necessário, processo de revisão legislativa.
no tempo, podendo ser identificados pelo menos três diplomas que modificaram Em nota de rodapé apresentamos sempre a data da publicação no Boletim
directamente o conteúdo de alguns normativos do Código Penal de 1993. Desde Oficial dos diversos diplomas. Procedeu-se, sempre que possível, à indicação das
logo, a Lei nº 2/20023 de 27 de Maio, que altera o tipo legal de furto qualificado, normas revogadas, bem como de questões que só podem ser compreendidas com
introduzindo um normativo específico para o gado bovino, a Lei nº 7/97 de 2 de a leitura de outros diplomas legais. Corrigiram-se também os erros ortográficos mais
Dezembro4, que tendo em conta a adesão da República da Guiné-Bissau à então manifestos, sendo os restantes fruto do próprio texto original. Por último, por uma
União Monetária Oeste Africana (UMOA), hoje União Económica e Monetária questão de facilidade de leitura e organização da própria colectânea, todos os textos
Oeste-Africana (UEMOA)5, introduz alterações a nível de prevenção e repressão da obtidos foram uniformizados, já que no Boletim Oficial se apresentam, muitas
contrafacção ou falsificação de moeda, aplicando os princípios da União Monetária vezes, com tipos de letra e tamanho diversos, dentro do mesmo diploma legal.
Oeste Africana, definidos pelo Tratado constitutivo (artigo 22º), com o objectivo Antes de terminar, são devidas várias palavras de agradecimento. Ao Sr. Augusto
de alcançar uma regulamentação uniforme nesta matéria e finalmente, a legislação César Tolentino, Ex. – Director do INACEP – Imprensa Nacional, E.P., pessoa
penal eleitoral constante do Código Penal de 1993 foi parcialmente revogada por que nunca poupou esforços para corresponder às muitas solicitações que lhe
um conjunto de diplomas de 1998, sobre o recenseamento eleitoral e sobre a fizemos, ao Dr. Higino Cardoso, pela disponibilização do seu índice de legislação,
eleições para o Presidente da República e para a Assembleia Nacional Popular. ao Professor Doutor Augusto Silva Dias, Vice-Presidente do Instituto da Cooperação
Foi surgindo igualmente um grande número de diplomas que se integram no Jurídica da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, responsável pela
que é hoje em dia designado por Direito Penal secundário ou extravagante, corres- cooperação universitária com a Guiné-Bissau, ao Dr. Rui Ataíde, Assessor Científico
pondendo usualmente à protecção de direitos sociais, económicos e culturais. Neste da Faculdade de Direito de Bissau, pelo apoio incondicional que ambos prestaram
âmbito tem especial importância o papel cada vez mais determinante da UEMOA, a esta iniciativa, ao Dr. Carlos Neves da Associação Académica da Faculdade de
Direito de Lisboa, pelo profissionalismo demonstrado em todo o processo de edição,
como o demonstra a Lei Uniforme relativa à luta contra o branqueamento de
ao I.P.A.D. (Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento), ao G.R.I.E.C.
capitais, bem como da “Organisation pour l’Harmonisation en Afrique du Droit des
(Gabinete para as Relações Internacionais Europeias e de Cooperação do Ministério
Affaires” – OHADA6, cujos Actos Uniformes criaram novas normas incriminadoras. da Justiça), à Fundação Calouste Gulbenkian, ao Banco Santander e à Petromar,
A presente colectânea de Direito Penal tem como objectivo possibilitar a sem cujos patrocínios esta edição não teria sido possível.
consulta, num único volume, da legislação fundamental de Direito Penal da Finalmente, disponibiliza-se o nosso correio electrónico, a fim dos interessados
Guiné-Bissau, não assumindo, portanto, propósitos de compilação enciclopédica enviarem as suas sugestões como forma de melhorar o trabalho, ora apresentado,
de todas as disposições penais mas, antes, facultar aos alunos da Faculdade de numa futura edição.
Direito de Bissau, aos profissionais do foro e, em geral, a todos os interessados,
Bissau, 3 de Outubro de 2006

3
Publicada no B.O. nº 21, de 27 de Maio de 2002. João Pedro C. Alves de Campos
4
Publicada no suplemento ao B.O. nº 48, de 2 de Dezembro de 1997. Assistente da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
5
http://www.uemoa.int. Regente da Faculdade de Direito de Bissau
14
6
http://www.ohada.com, http://www.ohadalegis.com. jpalvescampos@gmail.com 15
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal

Decreto-Lei nº 4/93, de 13 de Outubro1


Código Penal

Este primeiro Código Penal Guineense vem conhecer a luz do dia, precisamente,
numa altura em que o País, a Guiné-Bissau, comemora o seu vigésimo aniversário
de proclamação de Independência Nacional e se prepara para uma reforma
Político-Social que, certamente, será marcada sob o signo de democracia multi-
partidária na senda de um Estado-de-Direito Democrático.
Expõem-se desta forma, os motivos e a razão de ser Politíco-Histórico-Social
da revogação do Código Penal herdado do colonizador. Diploma com, aproximada-
mente, um século e meio de existência que, tendo servido aos Monarcas, também
servira aos Republicanos. Daí que, apesar das várias roupagens com que se veio
desfilando através das sucessivas reformas, há que reconhecer que uma simples
reforma não almejaria o espírito e a substância do novo pulsar Sócio-Criminal de
uma Guiné Independente e Democrática.
A acrescer a tudo isso está que o texto do diploma dos meados do século
dezanove, já não corresponde nem à filosofia doutrinal, nem à técnica jurídico-
criminal hodierna. Aliás, fora um diploma idealizado e corporizado para uma
comunidade concreta – a Lusitana – e que só por razões políticas acabaria por vir
a estender-se, a sua aplicabilidade, à então Colónia da Guiné.
O presente diploma é resultante da necessidade de modernização e da
harmonização da Justiça penal.
Dai que o presente Código, apesar de substancial incorporização de matrizes
sócio-culturais Guineenses, seja embebido nos ensinamentos filosóficos Romano-
-Germánicos e, sobretudo, de jurisprudências e doutrinas portuguesas de que o
nosso direito é legatário.
Tem o actual Código Penal como pressuposto basilar, no plano de ciência penal,
a máxima segunda a qual “o mal não se cura com outro mal mas, sim, com exemplo
e a prática do bem!”.
Eis a razão por que na refrega entre teorias etiológicas e utilitaristas, acabaria
por se enveredar pela terceira via – a ecléctica.
Se é hoje um dado adquirido o desacordo com a teoria do “Homo-delinquens”,
não deixa de ser outro dado adquirido a repulsa da utilização do delinquente como
cobaia tal como pretendem as teorias utilitaristas. Aliás tem vindo a ser aceite, já
maioritariamente, a ideia segundo a qual não ser “o mal da pena que repara o dano

1
16 Decreto-Lei nº 4/93, Suplemento ao B.O. nº 41, de 13 de Outubro de 1993. 17
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal

do crime nem tão pouco previne, por si só a repetição dos danos, mas sim, uma ARTIGO 5º
justa e ponderada coordenação de medidas em que o propósito preventivo supera O presente diploma entra em vigor no trigésimo dia a contar da data da sua
o repressivo”. Daí que a tónica da prevenção especial, só, verdadeiramente, ganhe publicação.
sentido e eficácia se houver uma participação real, dialogante e efectiva do
delinquente. Aprovado em 15 de Setembro de 1993.
Estas as razões por que o presente Código se enveredou pela assunção da Promulgado em 6 de Outubro de 1993.
“desdramatização do ritual”, co-responsabilizando as entidades penitenciárias no
êxito ou fracasso ressocializador. Publique-se.
Constituem, assim, as traves mestras do diploma os consagrados princípios da O Presidente do Conselho de Estado, General João Bernardo Vieira.
legalidade e da culpa como limite da pena.
E isto sem se olvidar ser nas medidas não detentivas que se depositam as maiores TÍTULO I
esperanças. Aliás, numa política criminal cuja tónica se vem voltando para uma DA LEI PENAL
pedagogia social e, sobretudo, de responsabilização de pais, educadores e toda a
sociedade, em geral, outro não seria de se esperar que tais medidas. O recurso às CAPÍTULO I
medidas detentivas e outras que impliquem o corte das liberdades e garantias DISPOSIÇÕES GERAIS
surgem, assim, como a última e extrema alternativa que se oferece ao decisor.
Em suma, pugnamos pela tese segundo a qual a nossa maior segurança está na ARTIGO 1º
preservação da nossa liberdade. Não somos livres porque somos fortes: ao (Aplicação da lei penal)
contrário, somos fortes porque somos livres.
Salvo os crimes essencialmente militares, as disposições deste Código são
O Conselho de Estado decreta, nos termos do artigo 133º da Constituição, o
aplicáveis a todas as demais infracções criminais, independentemente da lei que
seguinte:
as tipifique.
ARTIGO 1º
ARTIGO 2º
É aprovado o Código Penal, que faz parte do presente decreto-lei.
(Princípio da legalidade)
ARTIGO 2º
1. Só constitui crime o facto descrito e declarado como tal por lei ou que esta
sancionar com uma das penas previstas no presente Código.
Consideram se feitas para as correspondentes disposições do Código Penal
2. A lei criminal só se aplica aos factos praticados posteriormente à sua entrada
todas as remissões para as normas do Código anterior contidas em lei penais
em vigor.
avulsas.
3. A lei que tipifique um facto como crime ou que determinar a sanção aplicável
é insusceptível de aplicação analógica mas admite interpretação extensiva.
ARTIGO 3º
1. Com excepção das normas relativas a contravenções, são revogados o Código
ARTIGO 3º
Penal aprovado pelo Decreto-Lei de 16 de Setembro de 1886 e todas as disposições
(Retroactividade da lei penal)
legais que prevêem e punem factos incriminados pelo novo Código Penal.
2. Continuam em vigor as normas de Processo Penal contidas nos tratados e 1. A lei penal posterior à prática de um crime será aplicada sempre que se revelar
convenções internacionais. concretamente mais favorável ao agente.
2. O disposto no número anterior é aplicável aos casos em que a decisão já tenha
ARTIGO 4º transitado em julgado mas a sanção ainda não tenha sido cumprida nem declarada
Mantém-se em vigor as normas de Direito substantivo e processual relativas a extinta.
contravenções. Aos limites da multa e à prisão em sua alternativa, aplicam-se as 3. O disposto nos números anteriores implica a aplicação global do regime
disposições do novo Código Penal. resultante da lei nova mais favorável.
18 19
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal

ARTIGO 4º 2. Sendo aplicável a lei penal guineense o facto será julgado segundo a lei do
(Momento da prática do facto) lugar da sua prática se esta for concretamente mais favorável ao agente. A sanção
O facto considera-se praticado no momento em que o agente actuou ou, no caso aplicável será convertida na que lhe corresponder no sistema penal ou inexistindo
de omissão, deveria ter actuado, independentemente do momento em que o correspondência, na que a lei guineense prever para o facto.
resultado típico se tenha produzido. 3. No caso de o agente ser julgado na Guiné-Bissau tendo-o sido anteriormente
no lugar da prática do facto atender-se-á à pena que já tenha cumprido no
ARTIGO 5º estrangeiro.
(Aplicação territorial da lei penal)
A lei penal guineense é aplicável aos factos praticados em território da Guiné- ARTIGO 9º
-Bissau, independentemente da nacionalidade do agente. (Lugar da prática do facto)
O facto considera-se praticado tanto no lugar em que, total ou parcialmente, e
ARTIGO 6º sob qualquer forma de comparticipação, o agente actuou ou, no caso de omissão,
(Crimes praticados a bordo de navios ou aeronave) deveria ler actuado, como naquele em que o resultado típico se tenha produzido.
Para efeitos do disposto no artigo anterior consideram-se território da Guiné-
-Bissau os navios e as aeronaves de matrícula ou sob pavilhão guineense. TÍTULO II
DO CRIME
ARTIGO 7º
(Factos praticados fora do território nacional) CAPÍTULO I
1. Salvo tratado ou convenção em contrário, a lei penal da Guiné-Bissau é DOS AGENTES DO CRIME
aplicável a factos praticados fora do território nacional desde que:
a) Constituam algum dos crimes previstos no título VII, no Capítulo III do ARTIGO 10º
título III ou nos artigos 203º, 204º e 205º do Código Penal; (Pessoas singulares)
b) Constituam algum dos crimes previstos no título I ou nos artigos 124º, 125º, As pessoas singulares apenas são susceptíveis de responsabilidade criminal a
195º e 196º do Código Penal e o agente seja encontrado na Guiné-Bissau não sendo partir dos 16 anos de idade.
possível a sua extradição;
c) Se trate de factos praticados por guineenses ou por estrangeiros contra ARTIGO 11º
guineenses, sendo os agentes encontrados na Guiné-Bissau. (Pessoas colectivas)
2. No caso previsto na alínea anterior, se o agente não viver habitualmente na 1. As sociedades e quaisquer pessoas colectivas de direito privado são sus-
Guiné-Bissau ao tempo da prática dos factos, a lei penal guineense só se aplicará ceptíveis de responsabilidade criminal pelos crimes praticados com o objectivo de
desde que: realizar fins próprios em execução de decisões tomadas pelos seus órgãos.
a) Tais factos sejam criminalmente puníveis pela legislação do lugar em que 2. Os titulares dos órgãos de uma sociedade ou de quaisquer pessoas colectivas,
foram praticados; ou quem actue em nome de terceiro, respondem individualmente pelos factos que
b) Constituam crime que admita extradição e esta não possa ser concedida. praticarem como representante, no seu próprio interesse ou com excesso de poder.

ARTIGO 8º ARTIGO 12º


(Restrições à aplicação da Lei Guineense) (Jovens delinquentes)
1. A lei penal guineense só é aplicável a factos praticados fora do território Aos delinquentes com mais de 16 e menos de 20 anos será aplicável a pena
nacional quando o agente não lenha sido julgado no lugar da prática do facto ou abstracta correspondente ao tipo de ilícito violado especialmente atenuada.
tendo-o sido, se subtrair ao cumprimento total ou parcial da sanção.
20 21
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal

ARTIGO 13º demais agentes que tenham conhecimento de que essas qualidades ou relações
(Inimputabilidade em razão de anomalia psíquica) especiais se verificam num dos comparticipantes.
É inimputável quem, no momento da prática do facto, em virtude de uma
anomalia psíquica não intencional, é incapaz de avaliar a ilicitude da sua conduta CAPÍTULO II
ou de se determinar de acordo com essa avaliação. DA CONDUTA DO AGENTE

ARTIGO 14º ARTIGO 20º


(Agentes do crime) (Equiparação da omissão à acção)
A participação na prática de um crime pode assumir a forma de autoria, co- 1. Salvo se outra for a intenção da lei, o tipo legal de crime prevê não só a
-autoria ou cumplicidade. punição da acção adequada a produzir o resultado típico, mas também da omissão
da acção adequada a evitá-lo sempre que existir um dever jurídico que pessoalmente
ARTIGO 15º obrigue o omitente a impedir o resultado.
(Autoria) 2. Ao emitente é aplicável a pena correspondente ao tipo de ilícito violado,
É punível como autor quem executa o facto, por si mesmo, por intermédio de atenuada especialmente se as circunstâncias do caso o justificarem.
outrem ou, dolosamente, instiga um terceiro à prática de um crime.
ARTIGO 21º
ARTIGO 16º (Responsabilidade penal)
(Co-autoria) 1. Regra geral, o agente só é susceptível de ser punido criminalmente quando
1. Se vários autores, por acordo, tácito ou expresso, tomarem parte directa na tiver agido com dolo.
execução ou actuarem conjuntamente em conjugação de esforços para a prática do 2. O facto praticado com negligência só é punível criminalmente quando a lei
mesmo facto, responderão como co-autores. o determine expressamente.
2. Salvo disposição legal em contrário, a co-autoria é uma circunstância 3. Quando a pena aplicável a um facto for agravada em função da produção de
agravante de carácter geral. um resultado não intencional, a agravação só é relevante se esse resultado puder
ser imputado ao agente a título de negligência, pelo menos.
ARTIGO 17º
(Cumplicidade) ARTIGO 22º
1. É punível como cúmplice quem, dolosamente e fora dos casos previstos nos (Espécies de dolo)
artigos anteriores, ajuda terceiro a praticar um crime. 1. Age com dolo quem, representando um facto que preenche um tipo de ilícito,
2. É aplicável ao cúmplice a pena correspondente ao tipo de ilícito, especialmente actua com intenção de o realizar.
atenuada. 2. Age ainda com dolo quem representando a realização de facto que preenche
um tipo de ilícito como consequência necessária da sua conduta, o realiza.
ARTIGO 18º 3. Quando a realização de um facto for representada como uma consequência
(Culpa na comparticipação) possível da conduta, haverá dolo se o agente actuar conformando-se com aquela
Cada comparticipante é punido segundo a sua culpa, independentemente da realização.
punição ou do grau de culpa dos outros comparticipantes.
ARTIGO 23º
ARTIGO 19º (Espécies de negligência)
(Ilicitude na comparticipação) Age com negligência quem, por não proceder com cuidado a que, segundo as
A ilicitude ou o grau de ilicitude do facto, quando depender de certas qualidades circunstâncias, está obrigado e de que é capaz:
22 ou relações especiais do agente, reflecte-se na responsabilidade criminal dos 23
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal

a) Representa como possível a realização de um facto correspondente a um tipo ARTIGO 29º


de crime, mas actua sem se conformar com essa realização; (Não punibilidade da tentativa)
b) Não chega sequer a representar a possibilidade da realização do facto. 1. A tentativa não é punível se o meio empregue for inapto ou o objecto for
inidóneo para a consumação do crime.
ARTIGO 24º 2. A tentativa não é punível se o agente voluntariamente abandonar a execução
(Erro sobre factualidade típica) da resolução criminal, ou, terminada a execução, impedir a consumação do crime,
1. Erro sobre os elementos de facto ou de direito de um tipo de ilícito exclui ou, consumado este, obstar à verificação do resultado não típico.
o dolo, sem prejuízo de a conduta do agente poder ser punida a título de negligência 3. Nos casos de comparticipação a desistência da tentativa só afasta a punição
nos casos previstos na lei. se o desistente, independentemente dos demais comparticipantes persistirem na
2. O preceituado no número anterior abrange o erro sobre um estado de coisas execução do desígnio criminoso, impedir ou actuar de forma adequada a obstar
que, a existir, excluiria a ilicitude do facto ou a culpa do agente. a consumação ou à verificação do resultado não típico.

ARTIGO 25º ARTIGO 30º


(Erro sobre a proibição) (Concurso de crime)
1. O erro sobre a proibição afasta a culpa do agente sempre que lhe não for O número de crime determina-se pelo número de tipos de crimes efectivamente
censurável. cometidos, ou pelo número de vezes que o mesmo tipo for preenchido pela conduta
2. Se o agente, actuando com a normal diligência, pudesse ter evitado o erro, do agente.
será punido com a pena correspondente ao tipo de ilícito doloso especialmente
atenuada. ARTIGO 31º
(Crime continuado)
ARTIGO 26º Constitui um só crime continuado a realização plúrima do mesmo tipo de crime
(Erro na execução do facto) ou de vários tipos de crime que fundamentalmente protejam o mesmo bem jurídico,
O agente que actua para realizar um determinado tipo de ilícito mas que, por executada por forma essencialmente homogénea e no quadro da solicitação de uma
erro na execução, vem a atingir um objecto diferente do pretendido será punido mesma situação exterior que diminua consideravelmente a culpa do agente.
apenas pelo crime consumado ou pelos crimes efectivamente tentado e consumado,
conforme exista ou não identidade típica do valor protegido criminalmente. CAPÍTULO III
DAS CAUSAS DE EXCLUSÃO DA ILICITUDE E DA CULPA
ARTIGO 27º
(Actos preparatórios) ARTIGO 32º
Os actos preparatórios não são puníveis, salvo disposição em contrário. (Princípio geral)
O facto não é criminalmente punível quando a sua ilicitude for excluída pela
ARTIGO 28º ordem jurídica considerada na sua totalidade.
(Tentativa)
1. Há tentativa quando o agente pratica actos de execução de um crime que ARTIGO 33º
decidiu cometer, sem que, por facto independente da sua vontade, o crime se (Legítima defesa)
chegue a consumar. 1. A actuação do agente em legítima defesa exclui a ilicitude da conduta.
2. A tentativa é punível nos crimes dolosos a cuja consumação corresponda pena 2. Considera-se legítima defesa a actuação necessária ao afastamento de uma
de prisão superior a 3 anos e nos demais casos que a lei expressamente determinar. agressão ilícita, iminente ou em início de execução mas ainda não terminada, a
3. Salvo disposição em contrário, a tentativa é punível com a pena correspondente quaisquer interesses protegidos pela ordem jurídica e pertencentes ao agente ou a
ao crime consumado, especialmente atenuada. terceiro.
24 25
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal

ARTIGO 34º TÍTULO III


(Excesso de legítima defesa) DAS CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS DA INFRACÇÃO CRIMINAL
1. A conduta do agente é ilícita se empregar meios que pela sua espécie e grau
de utilização forem manifestamente excessivos para a acção defensiva, mas a pena CAPÍTULO I
pode ser especialmente atenuada. DAS PENAS
2. O excesso de meios utilizados devido a perturbação, medo ou susto com-
preensíveis, exclui a culpa do agente. SECÇÃO I
DISPOSIÇÕES GERAIS
ARTIGO 35º
(Estado de necessidade justificante) ARTIGO 38º
Não é ilícito o facto praticado como meio adequado para afastar um perigo (Regras gerais)
actual que ameace interesses juridicamente protegidos do agente ou de terceiro, 1. Ninguém pode ser submetido a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou
quando se verifiquem os seguintes requisitos: degradantes.
a) Não ter sido voluntariamente criada pelo agente a situação de perigo, salvo 2. A execução das sanções criminais far-se-á respeitando a dignidade humana
tratando-se de proteger o interesse de terceiro; dos condenados.
b) Haver sensível superioridade do interesse a salvaguardar relativamente ao 3. São proibidas as sanções criminais de duração ilimitada2.
interesse sacrificado; 4. As sanções criminais são pessoais e intransmissíveis.
c) Ser razoável impor ao lesado o sacrifício do seu interesse em atenção à
ARTIGO 39º
natureza ou ao valor do interesse ameaçado.
(Sanções criminais)
ARTIGO 36º No presente Código encontram-se previstas as seguintes sanções:
(Estado de necessidade desculpante) a) Penas principais: a prisão, a multa, a prestação de trabalho social e a admo-
estação;
1. Age sem culpa quem praticar um facto ilícito adequado a afastar um perigo
b) Medidas de segurança: internamento em estabelecimento hospitalar, interdição
actual, e não removível de outro modo, que ameace a vida, a integridade física,
de profissão e expulsão de estrangeiros;
a honra ou a liberdade do agente ou de terceiro, quando não seja razoável exigir
c) Penas acessórias: suspensão temporária de profissão, demissão e expulsão de
dele, segundo as circunstâncias do caso, comportamento diferente.
estrangeiros.
2. Se o perigo ameaçar interesses jurídicos diferentes dos referidos no número
anterior, e se se verificarem os restantes pressupostos ali mencionados, pode a pena
ARTIGO 40º
ser especialmente atenuada ou, excepcionalmente, o agente ser dela isento.
(Penas aplicáveis às pessoas colectivas)
As penas aplicáveis às pessoas colectivas e sociedades são: a multa, a exclusão
ARTIGO 37º
temporária de concursos públicos ou de acesso a subsídios estatais ou de orga-
(Conflito de deveres)
nizações supra estaduais, o encerramento temporário e a dissolução.
1. Não é ilícito o facto de quem, no caso de conflito no cumprimento de deveres
jurídicos ou de ordens legítimas da autoridade, satisfaz o dever ou a ordem de valor
igual ou superior ao do dever ou ordem que sacrifica.
2. O dever de obediência hierárquica cessa quando conduz à prática de um
crime.

2
26 Ver artigo 36º, nº 2 da Constituição da República da Guiné-Bissau. 27
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal

SECÇÃO II 4. Sempre que as circunstâncias do caso o justifique, o tribunal poderá autorizar


PENAS PRINCIPAIS o pagamento em prestações até ao limite de dois anos subsequentes à condenação.
5. O não pagamento injustificado de uma das prestações importa o vencimento
ARTIGO 41º de todas.
(Duração da pena de prisão) 6. Se o tipo legal do crime não indicar a duração da multa, esta será corres-
1. A pena de prisão tem a duração mínima de 10 dias e máxima de 25 anos, sem pondente à pena de prisão fixada no tipo.
prejuízo do que se vier a estabelecer sobre a prisão perpétua.
2. No caso da acumulação de infracções em que a soma material das penas ARTIGO 45º
concretamente aplicadas ultrapassar 50 anos de prisão, pode a pena única resul- (Prisão alternativa à pena de multa)
tante do cúmulo jurídico ser fixada até ao máximo de 30 anos de prisão. A decisão que aplicar a pena de multa fixará prisão em alternativa pelo tempo
correspondente à multa reduzido a dois terços.
ARTIGO 42º
(Substituição da prisão por multa) ARTIGO 46º
1. A pena de prisão não superior a 6 meses será substituída por multa sempre (Substituição da multa por trabalho social)
que as exigências de prevenção de futuros crimes não imponham o cumprimento 1. A requerimento do réu ou do Ministério Público, o tribunal substituirá a pena
da prisão e, face às circunstâncias do caso, o tribunal entenda não dever suspender de multa, não superior a um ano, por trabalho social.
a execução. 2. O requerimento, sob pena de indeferimento, conterá a indicação das
2. A duração da multa substitutiva é igual ao tempo de prisão que tiver sido condições em que se oferece a prestação de trabalho social.
aplicada. 3. A decisão de substituir a multa por trabalho pode ser proferida na sentença
3. É aplicável à multa substitutiva da prisão o regime dos artigos 44º e 45º. ou em despacho posterior, desde que o requerimento tenha sido apresentado antes
de ordenada a penhora no processo de execução instaurado por falta de pagamento
ARTIGO 43º da multa.
(Substituição da prisão por trabalho social)
A pena de prisão não superior a um ano pode ser substituída por prestação de ARTIGO 47º
trabalho social sempre que, por razões de prevenção criminal, o tribunal não deva (Prestação de trabalho social)
decretar a suspensão da pena de prisão e o delinquente aceite expressamente prestar 1. O trabalho social consiste na prestação gratuita de trabalho em organismo
o trabalho. público ou a outras entidades que o tribunal repute de interesse comunitário.
2. A duração do trabalho que o delinquente deva prestar é fixada pelo tribunal
ARTIGO 44º em função do tipo de serviço prestado e respectivo vencimento se devesse ser
(Pena de multa) remunerado, mas sem nunca ultrapassar metade do tempo de prisão.
1. A pena de multa é fixada em tempo, no mínimo de 10 dias e máximo de três 3. O trabalho a prestar poderá ser computado em horas, dias ou meses, ser
anos. prestado durante ou fora do horário normal de serviço, de forma contínua ou não
2. Um mês de multa corresponde a 30 dias e um ano a 365 dias. consistir em determinado resultado, de modo a que não seja afectada a sobrevivência
3. Cada dia de multa corresponde a uma quantia entre 5.000.00 pesos3 e 50.000.00 do réu nem dos seus familiares.
pesos que o tribunal fixará em função da situação económica e financeira do 4. Compete ao organismo a quem for prestado o trabalho social velar pela
condenado. observância das prescrições técnicas e das normas de trabalho relativas à actividade
em referência.

3
Como consequência da adesão da Guiné-Bissau à UEMOA (União Económica e
Monetária Oeste Africana), a partir de 2 de Maio de 1997, a unidade monetária da República Peso Guineense deverá ser convertido em Francos CFA à razão de 65.00 PG por 1 FCFA
28 da Guiné-Bissau, passou a ser o Franco da Comunidade Financeira Africana (FCFA). O – Lei nº 1/97, de 24 de Março de 1997, Suplemento ao B.O. nº 12, de 24 de Março de 1997. 29
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal

5. A recusa injustificada em efectuar a prestação de trabalho depois de aceite, ARTIGO 52º


implica o cumprimento da prisão aplicada inicialmente. (Demissão)
1. O funcionário público condenado pela prática de crime a que corresponda
ARTIGO 48º pena de prisão superior a 3 anos poderá ser demitido da função pública se ocorrer
(Isenção ou redução de pena) alguma das seguintes situações:
1. Se o condenado em multa ou em prestação de trabalho social não cumprir a) O crime ter sido praticado com flagrante e grave abuso do cargo que exerce;
a pena devido a circunstâncias posteriores à condenação que impossibilitem ou b) Ter havido grave violação dos deveres inerentes ao cargo que desempenha;
dificultem o seu cumprimento e lhe não sejam imputáveis, o tribunal poderá c) As circunstâncias do caso revelarem que o agente é incapaz ou indigno de
decretar a redução ou a isenção da pena. continuar a exercer a função em que está investido.
2. O disposto no número anterior é aplicável à pena de multa que substitui a 2. A pena de demissão não importa a perda do direito à aposentação ou à
prisão. reforma nos termos gerais.
3. O funcionário demitido poderá ser reabilitado para o exercício de cargos
ARTIGO 49º públicos se, decorridos três anos após a condenação, o requerer e demonstrar
(Admoestação) comportamento adequado ao exercício de funções públicas.
Se o delinquente for considerado culpado pela prática de crime a que,
concretamente, corresponda pena de prisão não superior a 3 anos ou multa até ao ARTIGO 53º
mesmo limite, o tribunal poderá limitar-se a admoestá-lo desde que: (Expulsão)
a) O dano causado pela conduta criminoso tenha sido reparado; 1. Os cidadãos estrangeiros condenados pela prática de crime a que corresponda
b) Se trate de delinquente primário; pena de prisão superior a três anos poderão ser expulsos do território nacional se
c) A prevenção criminal e a recuperação do delinquente se bastem com a nele residirem há menos de 15 anos:
admoestação. a) Por um período até 2 anos se residentes há mais de 10 e menos de 15 anos;
b) Por um período até 5 anos se residentes há mais de 5 e menos de 10 anos;
ARTIGO 50º d) Por um período até 10 anos se residentes há menos de 5 anos.
(Execução da pena de admoestação) 2. A pena de expulsão será executada independentemente do cumprimento total
1. A admoestação consiste numa solene e adequada repreensão oral feita pelo ou parcial da pena principal e será suspensa se a pena principal também tiver sido.
tribunal ao réu, após trânsito em julgado da decisão que a aplicar.
2. A admoestação é executada em audiência pública e não se confunde com a SECÇÃO IV
alocução final. PENAS APLICÁVEIS ÀS SOCIEDADES E PESSOAS COLECTIVAS

SECÇÃO III ARTIGO 54º


PENAS ACESSÓRIAS (Pena de multa)
1. Os limites mínimo e máximo previstos no artigo 44º, nºs 1 e 3, são elevados
ARTIGO 51º
para o triplo sempre que se refira a multa a aplicar às sociedades e pessoas
(Suspensão temporária)
colectivas.
1. O tribunal que condenar um réu a pena de prisão efectiva decretará a 2. A pena de multa é susceptível de ser aplicável a todos os tipos de crime
suspensão do exercício de qualquer cargo público que exerça, pelo período de praticados por sociedades ou por pessoas colectivas, independentemente da
cumprimento da pena. moldura abstracta prevista para a pena de prisão ou tipo violado.
2. Durante o período de suspensão o condenado perde os seus direitos e
regalias inerentes ao exercício efectivo da função.

30 31
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal

ARTIGO 55º ARTIGO 58º


(Dissolução) (Suspensão da prisão condicionada a deveres)
1. A pena de dissolução só será aplicável se a sociedade ou a pessoa colectiva 1. O tribunal deverá condicionar a suspensão da execução da pena de prisão ao
praticar um tipo de crime a que corresponda pena de prisão máxima superior a cumprimento de certos deveres não humilhantes que facilitem ou reforcem o
nove anos e, atentas as circunstâncias do caso, a pena de multa for manifestamente afastamento do agente da prática de futuros crimes.
insuficiente, mesmo aplicada conjuntamente com as demais penas, para prevenir 2. Podem condicionar a suspensão, nomeadamente, os seguintes deveres:
a prática de futuros crimes. a) Reparação ou garantia de reparação dos prejuízos causados pelo crime em
2. A dissolução implica a suspensão de toda a actividade, cancelamento do prazo determinado;
alvará, arrolamento dos bens propriedade da sociedade ou pessoa colectiva e a b) Apresentação pública de desculpas ao ofendido;
liquidação a cargo de pessoa idónea nomeada pelo tribunal. c) Desempenho de determinadas tarefas conexas com o crime praticado;
3. O remanescente, efectuada a liquidação, será declarado perdido a favor do d) Entrega de quantia simbólica ao Estado ou instituição de beneficência.
Estado ou reverterá para os sócios, conforme tenha ou não ficado provado a sua 3. É correspondentemente aplicável o disposto no artigo 57º, nº 1.
origem criminosa.
ARTIGO 59º
ARTIGO 56º (Suspensão com acompanhamento social)
(Exclusão e encerramento temporário) 1. Quando a suspensão simples ou condicionada da pena de prisão for insuficiente
Nos crimes puníveis com prisão de limite máximo superior a três anos, para garantir a recuperação do delinquente e o seu afastamento de actividades
acessoriamente à pena de multa, o tribunal poderá decretar o encerramento criminosas, o tribunal decretará a suspensão sujeitando o réu ao acompanhamento
temporário do estabelecimento ou instalações da pessoa colectiva ou a exclusão de por serviço social enquanto o período de suspensão durar.
concursos e subsídios públicos por tempo determinado, se tais medidas se 2. Incumbe ao serviço social ou funcionário a indicar pelo Ministério da Justiça,
revelarem necessárias para prevenir a prática de futuros crimes. conjuntamente com o réu, o Ministério Público e o Juiz da condenação, elaborar
um plano de readaptação social que, aprovado pelo tribunal, terá de ser cumprido
SECÇÃO V pelo condenado com a assistência do referido funcionário ou serviço social de
SUSPENSÃO DA EXECUÇÃO DA PENA reinserção.
3. Do plano de readaptação social deverão constar todos os deveres a que o
ARTIGO 57º
condenado fica sujeito durante o período de suspensão e, se necessário, a obrigação
(Pressupostos e duração) de internamento ou tratamento em estabelecimentos adequados, sempre que as
circunstâncias o exijam.
1. Sempre que a pena de prisão aplicada não for superior a três anos o tribunal
4. É correspondentemente aplicável o disposto no artigo 57º, nº l.
poderá suspender a sua execução por um período a fixar entre um e cinco anos,
a contar do trânsito em julgado da decisão.
ARTIGO 60º
2. A suspensão será decretada se o tribunal concluir que a simples condenação (Suspensão da execução da pena de multa)
constitui advertência suficiente para que o réu, futuramente, não cometa outros
1. A pena de multa só poderá ser suspensa se o condenado não tiver possibi-
crimes.
lidade de a pagar e estiverem preenchidos os demais pressupostos consagrados no
3. A decisão conterá os fundamentos que determinaram a suspensão, nomea-
artigo 57º.
damente, a personalidade do agente, as circunstâncias em que foi praticado o
2. Não é aplicável à pena de multa o regime dos artigos 58º e 59º.
crime, o comportamento anterior e, muito especialmente, a previsibilidade da
conduta futura e as condições de vida.
ARTIGO 61º
(Pessoas colectivas)
Salvo disposição de lei em contrário, o regime da suspensão da execução da
32 pena não é aplicável às sociedades e pessoas colectivas. 33
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal

ARTIGO 62º 2. Estas circunstâncias operam o seu efeito na moldura abstracta da pena
(Modificação do regime de suspensão) posteriormente às circunstâncias de facto que apenas qualificam determinados
Se durante o período de suspensão o agente não cumprir dolosamente os deveres tipos legais, se concorrerem no mesmo caso.
impostos na sentença ou for julgado e condenado por outro crime o tribunal,
atentas as circunstâncias, poderá alterar o regime de suspensão inicialmente ARTIGO 67º
fixado, modificar os deveres impostos ou advertir solenemente o condenado. (Reincidência)
1. Todo o agente que, em consequência da prática de um crime doloso, tiver
ARTIGO 63º cumprido pena de prisão e, posteriormente, praticar, sob qualquer forma, um novo
(Revogação da suspensão) crime a que corresponda pena de prisão, será declarado reincidente se as cir-
1. A suspensão será sempre revogada se, durante o respectivo período, o cunstâncias do caso mostrarem que a condenação anterior não constituiu suficiente
condenado cometer crime doloso por que venha a ser punido com pena de prisão. prevenção contra o crime.
2. Se o condenado reincidir no não cumprimento doloso ou nos casos em que 2. Se entre as práticas dos crimes referidos no número anterior mediarem mais
não for possível ou se revelar insuficiente a modificação do regime, o tribunal de quatro anos não se verifica a reincidência; para o prazo referido não conta o
também revogará a suspensão. tempo em que o agente tiver cumprido pena privativa de liberdade.
3. A revogação da suspensão não dá ao condenado o direito de exigir a 3. Em caso de reincidência o limite mínimo da pena aplicável ao crime é
restituição de prestações efectuadas durante a suspensão e por causa dela. elevado de um quarto da diferença entre os limites mínimo e máximo da referida
pena.
ARTIGO 64º
ARTIGO 68º
(Extinção da pena)
(Especial tendência criminosa)
A não revogação da suspensão determina a extinção da pena e dos seus efeitos.
1. Todo o agente que praticar um crime doloso a que devesse aplicar-se, con-
cretamente, pena de prisão efectiva superior a um ano será declarado delinquente
CAPÍTULO II
com especial tendência para o crime se, cumulativamente, se verificarem os
DA DETERMINAÇÃO DA PENA
seguintes pressupostos:
a) Ter praticado anteriormente três ou mais crimes dolosos a que tenha sido
SECÇÃO I
aplicada prisão;
MOLDURA ABSTRACTA DA PENA
b) Ter decorrido menos de quatro anos entre cada um dos crimes referidos e
o seguinte;
ARTIGO 65º
c) A avaliação conjunta dos factos e da personalidade do agente revelar
(Escolha da pena)
acentuada tendência para o crime;
1. Em princípio, o tribunal aplicará a pena não privativa da liberdade, sempre d) Esta tendência subsistir no momento do julgamento.
que o tipo legal o admitir, como alternativa à pena privativa. 2. A pena aplicável ao agente é a do crime cometido elevando-se o limite
2. Nestes casos, o tribunal só aplicará a pena privativa de liberdade quando a máximo de um terço da diferença entre os limites mínimo e máximo da pena
não privativa não satisfazer as exigências de reprovação e prevenção criminal ou prevista no tipo legal violado.
se mostrar insuficiente para a recuperação social do delinquente. 3. O disposto neste artigo prevalece sobre as regras próprias da punição da
reincidência.
ARTIGO 66º
(Circunstâncias agravantes modificativas) ARTIGO 69º
1. A circunstância do agente de um crime ser reincidente ou manifestar ten- (Sociedades e pessoas colectivas)
dência para a prática de factos criminosos opera a modificação da moldura penal As disposições relativas à reincidência e aos agentes de especial tendência
prevista no tipo legal violado. criminosa são aplicáveis às sociedades e pessoas colectivas.
34 35
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal

ARTIGO 70º 3. Nos casos em que não for possível repercutir o efeito atenuativo no limite
(Circunstâncias atenuantes modificativas ou especiais) mínimo da pena deve o tribunal atender a esse facto na determinação concreta da
1. As circunstâncias de facto que atenuam especialmente a pena abstracta do pena.
tipo legal somam os seus efeitos apenas em dois graus.
2. As circunstâncias que ultrapassem esses dois graus revelam como circunstâncias ARTIGO 73º
de carácter geral na determinação da pena concreta. (Punição do crime continuado)
O crime continuado é punível com a pena correspondente à conduta mais grave
ARTIGO 71º que integra a continuação.
(Atenuação especial da pena)
1. O tribunal pode atenuar especialmente a pena para além dos casos expressa- SECÇÃO II
mente previstos na lei, quando existam circunstâncias anteriores ou posteriores ao MOLDURA CONCRETA DA PENA
crime, ou contemporâneas dele que diminuam por forma acentuada a ilicitude do
facto ou a culpa do agente. ARTIGO 74º
2. Serão consideradas para este efeito, entre outras, as circunstâncias seguintes: (Determinação concreta da pena)
a) Ter o agente actuado sob a influência de ameaça grave ou sob o ascendente 1. Encontrada a moldura abstracta da pena nos termos dos artigos anteriores,
da pessoa de quem depende ou a quem deve obediência; o tribunal avaliará todas as circunstâncias que, não fazendo parte do tipo, agravem
b) Ter sido a conduta do agente determinada por motivo honroso, por forte ou diminuam a responsabilidade do agente.
solicitação ou tentação da própria vítima ou por provocação injusta, ou ofensa 2. Com base nestas circunstâncias fixar-se-á, dentro dos limites legais da pena,
imerecida; o máximo exacto que o tribunal considere necessário para sancionar a culpa do
c) Ter havido actos demonstrativos do arrependimento sincero do agente, agente.
nomeadamente a reparação, na medida possível, dos danos causados; 3. A pena aplicada ao agente não poderá, em circunstância alguma, ultrapassar
d) Ter decorrido muito tempo sobre a prática do crime, mantendo o agente boa o limite adequado à culpa mas, atendendo à necessidade de prevenção de futuros
conduta; crimes por parte do agente, poderá ser inferior àquele limite.
e) Ser portador de imputabilidade sensivelmente diminuída.
ARTIGO 75º
ARTIGO 72º (Cúmulo jurídico das penas de prisão)
(Grau da atenuação especial) 1. Quando alguém tiver praticado vários crimes antes de transitar em julgado
1. Nos casos de atenuação especial da pena o limite máximo será, sucessivamente, a condenação por qualquer deles, será condenado numa única pena.
2. Se o conhecimento da prática dos crimes em relação do concurso for posterior
diminuído de um terço.
à decisão transitada, proferir-se-á nova sentença determinativa da pena única.
2. Quanto ao limite mínimo atender-se-á às seguintes alterações:
3. A pena única será determinada com base na avaliação conjunta dos factos e
a) Se o limite mínimo da pena for de dez anos ou mais de prisão, passará a
da personalidade do agente.
sê-lo de três anos de prisão;
4. A pena única tem como limite mínimo a pena mais grave e como limite
b) Se o limite mínimo da pena for de três anos ou mais, mas inferior a dez anos,
máximo a soma das diversas penas com respeito pelos limites fixados no artigo 41º.
passará a ser o mínimo legal da pena de prisão;
5. As penas acessórias permanecem inalteráveis nos casos de cumulação
c) Se o limite mínimo da pena coincidir com o mínimo legal, substituir-se-á
jurídica de penas de prisão.
a prisão por multa dentro dos limites legais desta;
d) A pena de multa será reduzida conforme for razoável até ao limite mínimo
ARTIGO 76º
legal;
(Cúmulo das penas de multa)
e) Se, devendo atenuar-se especialmente a pena por duas vezes, não for possível
As penas de multa cumulam-se materialmente entre si e permanecem inde-
em nenhum dos casos diminuir o seu limite, isentar-se-á o agente dela.
36 pendentes da pena de prisão. 37
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal

CAPÍTULO III CAPÍTULO IV


DAS MEDIDAS DE SEGURANÇA OUTRAS CONSEQUÊNCIAS DO CRIME

ARTIGO 77º ARTIGO 82º


(Medida de segurança de internamento) (Perda dos objectos do crime)
Quando um facto descrito num tipo legal de crime for praticado por indivíduo 1. Serão declarados perdidos a favor do Estado os objectos que sirvam ou
inimputável nos termos do artigo 13º, será este mandado internar pelo tribunal em estavam destinados a servir para a prática de um crime, ou que por este foram
estabelecimento adequado, sempre que, por virtude da anomalia psíquica da produzidos, quando pela sua natureza ou pelas circunstâncias do caso ponham em
natureza e da gravidade do facto praticado, houver fundado receio que venha a perigo a segurança das pessoas, a moral ou a ordem pública, ou ofereçam sérios
praticar outros factos típicos graves. riscos de serem utilizados para o cometimento de novos crimes.
2. Ficam salvaguardados os direitos de terceiro que não tenham concorrido nem
ARTIGO 78º tirado vantagem de utilização dos objectos de que sejam proprietários.
(Duração) 3.O tribunal fixará o destino dos objectos declarados perdidos sempre que a lei
1. Se o facto praticado pelo inimputável for punível com pena de prisão até três o não fizer.
anos o internamento não poderá durar mais de um ano.
2. Se o facto praticado pelo inimputável for punível com pena de prisão superior ARTIGO 83º
a três anos o internamento terá a duração máxima de seis anos sempre que a pena (Perda de vantagens consequência do crime)
aplicável for igual ou superior a este limite e, nos demais casos, a duração corres- Todas as coisas, direitos ou vantagens adquiridas em consequência da prática
pondente ao limite máximo da pena. de um crime, de forma directa ou indirecta, serão declarados perdidos a favor do
Estado.
ARTIGO 79º
(Cessação da medida) ARTIGO 84º
(Indemnização pelos danos causados)
A medida cessa quando cessar o estado de perigosidade criminal que a originou
ou, mantendo-se este, quando for atingido o limite de duração máxima da medida. 1. A indemnização de perdas e danos emergentes de um crime é obrigatório e
oficiosamente decretada pelo tribunal.
ARTIGO 80º
2. Os pressupostos e o cálculo da indemnização regulam-se pelas normas de
(Substituição da medida de internamento) direito civil substantivo.
3. O responsável pela indemnização pode efectuar transacção da mesma dando
1. A medida de internamento pode ser substituída pela expulsão do território
disso conhecimento ao tribunal, sob pena de ineficácia do acto.
nacional quando aplicável a estrangeiros.
2. É correspondentemente aplicável o disposto no artigo 53º, nº l.
TÍTULO IV
DA EXTINÇÃO DA RESPONSABILIDADE CRIMINAL
ARTIGO 81º
(Medida de interdição profissional) CAPÍTULO I
Quando um indivíduo inimputável por anomalia psíquica praticar um acto EXTINÇÃO DO DIREITO DE QUEIXA
previsto num tipo legal de crime, relacionado com a actividade profissional que
exerce e existir fundado receio de, enquanto mantiver essa ocupação, continuar a ARTIGO 85º
praticar factos idênticos, o tribunal pode proibi-lo do exercício da respectiva (Prazo para o exercício do direito de queixa)
actividade por um período de um a cinco anos, atendendo às circunstâncias do caso 1. Quando o procedimento criminal depender de queixa esta deve ser apre-
e à personalidade do agente. sentada nos seis meses após o titular ter tomado conhecimento do facto, sob pena
38 de extinção do direito de queixa. 39
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal

2. Se no decurso desse prazo, vier a falecer o titular do direito ou a ficar incapaz, ARTIGO 89º
sem o exercer, inicia-se nova contagem de prazo, a partir da morte ou da data da (Suspensão da prescrição)
incapacidade. 1. A prescrição do procedimento criminal suspende-se, para além dos casos
3. O prazo conta-se autonomamente para cada um dos vários titulares da queixa. especialmente previstos na lei, durante o tempo em que:
a) O procedimento criminal não puder legalmente iniciar-se ou continuar por
ARTIGO 86º falta de autorização legal ou de sentença a proferir por tribunal não penal, ou por
(O direito de queixa na comparticipação) efeito da devolução de uma questão prejudicial a juízo não penal:
Se o direito de queixa tiver de ser exercido contra vários comparticipantes num b) O delinquente cumprir, no estrangeiro, pena ou medida de segurança
crime, o não exercício tempestivo da queixa relativamente a um deles extingue o privativas da liberdade.
procedimento criminal em relação aos outros, mesmo que contra estes tenha sido 2. A prescrição volta a correr a partir do dia em que cessar a causa da suspensão.
tempestivamente exercido aquele direito.
CAPÍTULO III
CAPÍTULO II PRESCRIÇÃO DAS PENAS E DAS MEDIDAS DE SEGURANÇA
PRESCRIÇÃO DO PROCEDIMENTO CRIMINAL
ARTIGO 90º
ARTIGO 87º (Prazos de prescrição das penas)
(Prazos de prescrição) 1. As penas prescrevem nos seguintes prazos:
1. O procedimento criminal extingue-se, por efeito de prescrição, logo que a) Vinte e cinco anos, se forem superiores a dez anos de prisão;
sobre a prática do crime tiverem decorrido os seguintes prazos: b) Vinte anos, se forem superiores a cinco anos de prisão, mas não ultrapassarem
a) Vinte anos, quando se tratar de crimes puníveis com pena de prisão cujo os dez anos;
limite máximo for superior a dez anos; c) Doze anos, se forem superiores a dois anos de prisão, mas não ultrapassem
b) Quinze anos, quando se tratar de crimes puníveis com pena de prisão cujo os cinco anos;
limite máximo for superior a cinco anos, mas que não exceda dez anos; d) Cinco anos, nas restantes penas de prisão;
c) Sete anos, quando se tratar de crimes puníveis com pena de prisão cujo limite e) Três anos, nas penas de multa.
máximo for superior a um ano, mas que não exceda cinco anos; 2. O prazo de prescrição das penas conta-se a partir do trânsito em julgado da
d) Três anos, nos restantes casos. decisão que a aplicar.
2. Quando a lei estabelecer para qualquer crime, em alternativa, pena de prisão
ou de multa, só a primeira é considerada para efeito da fixação do prazo de ARTIGO 91º
prescrição do respectivo procedimento criminal. (Preterição das penas acessórias)
A prescrição das penas acessórias fica sujeita ao regime da prescrição da pena
ARTIGO 88º principal de que for dependente.
(Contagem do prazo)
1. O prazo de prescrição do procedimento criminal corre desde o dia em que ARTIGO 92º
o facto se tiver consumado ou desde o dia do último acto de execução quando se (Prazos de prescrição das medidas de segurança)
tratar de crime não consumado, crime continuado ou crime habitual. 1. As medidas de segurança prescrevem nos seguintes prazos:
2. Nos crimes permanentes o prazo de prescrição conta-se desde o dia em que a) Quinze anos, se privativas de liberdade;
cessar a consumação. b) Cinco anos, se não privativas de liberdade;
3. No caso de cumplicidade atender-se-á ao facto do autor. c) Dois anos, nos casos restantes.
2. É correspondentemente aplicável o que dispõe o artigo 89º, nº 2.
40 41
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal

ARTIGO 93º ARTIGO 98º


(Suspensão de prescrição) (Perdão genérico)
1. A prescrição das penas e das medidas de segurança suspende-se, para além 1. O perdão genérico extingue, total ou parcialmente a pena.
dos casos especialmente previstos na lei, durante o tempo em que: 2. O perdão genérico, em caso de cúmulo jurídico, incide sobre a pena única,
a) Por força da lei, a execução não puder começar ou continuar; salvo disposição em contrário.
b) Após a evasão do condenado de estabelecimento prisional ou de internamento
em que cumpre a sanção, enquanto não for recapturado; ARTIGO 99º
c) O condenado estiver a cumprir outra pena ou medida de segurança privativas (Indulto)
de liberdade; 1. O indulto extingue a pena, no todo ou em parte, ou substitui-a por outra
d) Perdurar a dilação do pagamento da multa; prevista na lei e mais favorável ao condenado.
e) O condenado estiver temporariamente impedido de prestar o trabalho social. 2. É correspondentemente aplicável o que dispõe o artigo 95º, nºs 2 e 4.
2. A prescrição volta a cessar a partir do dia em que cessa a causa da suspensão.
PARTE ESPECIAL
CAPÍTULO IV
OUTRAS CAUSAS DE EXTINÇÃO TÍTULO I
DOS CRIMES CONTRA A PAZ, A HUMANIDADE E A LIBERDADE
ARTIGO 94º
(Outras causas) ARTIGO 100º
Para além dos casos especialmente previstos na lei, a responsabilidade criminal (Incitamento a guerra)
extingue-se ainda pela morte, pela amnistia, pelo perdão genérica e pelo indulto. 1. Quem, por qualquer meio, pública e repetidamente, incitar ao ódio contra
uma raça, um povo ou uma nação, com intenção de provocar uma guerra ou de
ARTIGO 95º impedir a convivência pacífica entre as diversas raças, povos ou nações, é punido
(Morte do agente) com pena de prisão de um a cinco anos.
A morte do agente extingue o procedimento criminal como sanção criminal que 2. Na mesma pena incorre quem aliciar ou recrutar cidadãos guineenses para,
lhe tenha sido aplicada. ao serviço de grupo ou potência estrangeira, efectuar uma guerra contra um Estado
ou para derrubar o Governo legítimo doutro Estado por meios violentos.
ARTIGO 96º
ARTIGO 101º
(Amnistia)
(Genocídio)
1. A amnistia extingue o procedimento criminal e faz cessar a execução da
1. Quem, com intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico,
sanção ainda não cumprida na totalidade, bem como os seus efeitos e as penas
racial ou religioso, praticar:
acessórias na medida em que for possível.
a) Homicídio ou ofensa à integridade física grave de elementos do grupo;
2. A amnistia não prejudica a indemnização de perdas e danos que for devida.
b) Por qualquer meio, actos que impeçam à procriação ou o nascimento no grupo;
3. A amnistia pode ser aplicável sob condição.
c) Separação por meios violentos de elementos do grupo para outro grupo;
4. Regra geral, a amnistia não aproveita aos reincidentes ou delinquentes com
d) Sujeição do grupo a condições de existência ou a tratamentos cruéis,
especial tendência criminosa.
degradantes ou desumanos, susceptíveis de virem a provocar a sua destruição, total
ou parcial;
ARTIGO 97º
e) Confisco ou apreensão generalizada dos bens propriedade dos elementos
(Amnistia e concurso de crimes) do grupo;
Salvo disposição em contrário, a amnistia é aplicada a cada um dos crimes a que f) Proibição de determinadas actividades comerciais, industriais ou profissionais
foi concedida. aos elementos do grupo;
42 43
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal

g) Difusão de epidemia susceptível de causar a morte ou ofensas graves à psicológico grave ou no emprego de produtos químicos, drogas ou outros meios,
integridade física de elementos do grupo; naturais ou artificiais, com intenção de perturbar a capacidade de determinação ou
h) Proibição, omissão ou impedimento por qualquer meio a que seja prestada a livre manifestação de vontade da vítima.
assistência humanitária aos elementos do grupo, adequada a combater situações 4. O disposto no número anterior não abrange as consequências limitativas da
de epidemia ou de grave carência alimentar; liberdade de determinação decorrentes da normal execução das sanções ou
é punido com pena de prisão de dez a vinte e cinco anos. medidas previstas no nº 1.
2. Quem, pública e directamente, incitar à prática de algumas das acções
anteriormente descritas é punido com pena de prisão de um a dez anos. ARTIGO 104º
(Agravação)
ARTIGO 102º 1. Quem, nos termos e condições referidas no artigo anterior:
(Descriminação racial) a) Produzir ofensa grave à integridade física;
1. Quem: b) Empregar meios ou métodos de tortura particularmente graves, designa-
a) Fundar ou constituir organização ou desenvolver actividades de propaganda damente: espancamento, electrochoque, simulacro de execução, substâncias
organizada que incitem à discriminação, ao ódio ou à violência raciais, ou que a alucinatórias, abuso sexual ou ameaça sobre familiares;
encorajem; ou c) Praticar tais actos como forma de impedir ou dificultar o livre exercício de
b) Participar na organização ou nas actividades referidas na alínea anterior ou direitos políticos ou sindicais constitucionalmente consagrados;
lhes prestar assistência, incluindo o seu financiamento; d) Praticar habitualmente os actos referidos no artigo anterior;
é punido com pena de prisão de um a oito anos. é punido com pena de prisão de quatro a quinze anos.
2. Quem, em reunião pública, por escrito destinado à divulgação ou através de 2. Se dos factos descritos neste artigo ou no anterior resultar suicídio ou morte
qualquer meio de comunicação social, com a intenção de incitar à discriminação da vítima, o agente e punido com pena de prisão de cinco a vinte anos.
racial ou de a encorajar, provocar actos de violência contra pessoa ou grupo de
pessoas por causa da sua raça cor ou origem étnica, e punido com pena de prisão ARTIGO 105º
de um a cinco anos. (Omissão de denúncia)
1. O superior hierárquico que, tendo conhecimento da pratica, por subordinado,
ARTIGO 103º de alguns dos factos descritos nos artigos 103º e 104º, não fizer a denúncia nos três
(Actos contra a liberdade humana) dias imediatos ao conhecimento do facto, é punido com pena de prisão de um a
1. Quem, tendo por função a prevenção, a investigação, a decisão, relativamente cinco anos.
a qualquer tipo de infracção, a execução das respectivas sanções ou a protecção, 2. Todo aquele a quem, por razões profissionais e oficialmente, for dado conhe-
guarda ou vigilância de pessoas detidas ou presas: cimento da prática de factos descritos nos artigos 103º e 104º, e não comunicar
a) A torturar ou tratar de forma cruel, degradante ou desumana; imediatamente ao superior hierárquico ou efectuar a respectiva denúncia, é punido
b) A castigar por acto cometido ou supostamente cometido por ela ou por outra com a pena prevista no número anterior especialmente atenuada.
pessoa;
c) A intimidar ou para intimidar outra pessoa; ou ARTIGO 106º
d) Obter dela ou de outra pessoa confissão, depoimento, declaração ou informação; (Escravatura)
é punido com pena de prisão de um a oito anos. 1. Quem, por qualquer meio, colocar outro ser humano na situação de escravo,
2. Na mesma pena incorre quem, por sua iniciativa, por ordem de superior ou se servir dele nessa condição ou, para manter a referida situação, o ceder ou receber
de acordo com a entidade competente para exercer a função referida no número doutra pessoa, é punido com pena de prisão de cinco a quinze anos.
anterior, assumir o desempenho dessa função praticando qualquer dos actos aí 2. Se os actos referidos no número anterior foram praticados:
descritos. a) Como forma de facilitar a exploração ou o uso sexual da vítima, pelo próprio
3. Considera-se tortura, tratamento cruel, degradante ou desumano o acto que agente ou por terceiro;
44 consista em infringir sofrimento físico ou psicológico agudo, cansaço físico ou 45
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal

b) Sendo a vítima menor de dezasseis anos de idade; ou no grupo étnico a que pertencem, são punidos com pena de prisão de dois a oito
c) Desempenhando o agente o cargo que lhe confira autoridade pública ou anos, se tais circunstâncias revelarem uma diminuição acentuada da culpa.
religiosa perante um grupo, região ou totalidade do país; 2. A mãe que tirar a vida do filho durante o parto, ou logo após este e ainda sob
o agente é punido com pena de prisão de cinco a vinte anos. a sua influência perturbadora, é punida com pena de prisão de um a quatro anos,
se o fizer como forma de encobrir a desonra ou vergonha social.
TÍTULO II
DOS CRIMES CONTRA AS PESSOAS ARTIGO 111º
(Homicídio negligente)
CAPÍTULO I 1. Quem, por negligência, tirara vida a outra pessoa, é punido com pena de
CONTRA A VIDA prisão até três anos ou com pena de multa.
2. Nos casos em que o agente actuar com negligência grosseira é punido com
ARTIGO 107º pena de prisão até quatro anos.
(Homicídio)
Quem tirar a vida a outra pessoa é punido com pena de prisão de oito a dezoito ARTIGO 112º
anos. (Aborto)
1. Quem provocar aborto em mulher grávida contra ou sem consentimento, se
ARTIGO 108º for possível obtê-lo, é punido com pena de prisão de três a dez anos.
(Homicídio agravado) 2. Quem efectuar aborto fora das instalações clínicas, adequadas ou sem que
Se no caso concreto, a morte for: para tal se encontre profissionalmente habilitado, é punido com pena de prisão de
a) Relativa a alguém cuja função social ou o tipo de relação existente entre a dois a seis anos, independentemente do resultado.
vítima e o agente acentuam de forma especial e altamente significativa o desvalor 3. A mulher grávida que consentir ao aborto nas condições descritas no número
da acção; anterior é aplicada a pena de prisão aí referida, especialmente atenuada se a conduta
b) Resultante de um modo de preparação ou de execução do acto ou de meios tiver por objectivo ocultar a desonra.
utilizados que revelam um especial e elevado grau de ilicitude;
c) Determinada por motivos ou por finalidade que patenteiam um especial ARTIGO 113º
aumento da culpa do agente; (Abandono ou exposição)
este é punido com pena de prisão de doze a vinte e cinco anos. 1. Quem, intencionalmente, colocar em perigo a vida de outra pessoa:
a) Expondo-a em lugar que a sujeite a uma situação de que ela só por si, não
ARTIGO 109º
possa defender-se; ou
(Incitamento ao suicídio) b) Abandonando-a sem defesa, em razão da idade, deficiência física ou doença,
1. Quem incitar outra pessoa a suicidar-se, ou lhe prestar ajuda para esse fim, sempre que ao agente coubesse o dever de a guardar, vigiar ou assistir;
é punido com pena de prisão até três anos ou pena de multa, se o suicídio vier é punido com pena de prisão de um a cinco anos.
efectivamente a ser tentado ou a consumar-se. 2. Se do facto resultar:
2. Quem, por qualquer forma adequada e repetidamente fizer a apologia a) Uma ofensa grave para a integridade física, o agente é punido com pena de
pública de suicídio, é punido com pena de prisão até um ano ou com pena de multa. prisão de um a oito anos;
b) A morte, o agente é punido com pena de prisão de quatro a doze anos.
ARTIGO 110º
(Infanticídio)
1. A mãe, o pai ou os avós que, durante o primeiro mês de vida do filho ou do
neto, lhe tirarem a vida por este ter nascido com manifesta deficiência física ou
46 doença, ou compreensivelmente influenciados por usos e costumes que vigorarem 47
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal

CAPÍTULO II ARTIGO 118º


CONTRA A INTEGRIDADE FÍSICA (Ofensas corporais negligentes)
1. Quem, por negligência, ofender o corpo ou a saúde de outra pessoa, é punido
ARTIGO 114º com pena de prisão até um ano ou com pena de multa.
(Ofensas corporais simples) 2. O procedimento criminal depende de queixa.
1. Quem ofender o corpo ou a saúde de outra pessoa, é punido com pena de
prisão até três anos ou com pena de multa. ARTIGO 119º
2. O procedimento criminal depende de queixa. (Ofensas corporais recíprocas)
1. Quando duas pessoas se ofenderem, reciprocamente, no corpo ou na saúde,
ARTIGO 115º não agindo nenhuma delas em legítima defesa e não ocorrendo nenhum dos efeitos
(Ofensas corporais graves) previstos no artigo l44º, nem a morte dalgum dos intervenientes, são punidos com
1. Quem ofender o corpo ou a saúde de outra pessoa com a intenção de: pena de prisão até dois anos ou com pena de multa.
a) A privar de importante órgão ou membro; 2. O procedimento criminal depende de queixa.
b) A desfigurar grave e permanentemente;
c) Lhe afectar a capacidade de trabalho, as capacidades intelectuais, ou de ARTIGO 120º
procriação de maneira grave e duradoira ou definitivamente; (Participação em rixa)
d) Lhe provocar doença permanente ou anomalia psíquica incurável; ou 1. Quem intervier ou tomar parte em rixa de dois ou mais pessoas, donde resulte
e) Lhe criar perigo para a vida; morte ou ofensa corporal grave, é punido com pena de prisão até dois anos ou com
é punido com pena de prisão de dois a oito anos. pena de multa.
2. As intervenções e outros tratamentos médicos feitos por quem se encontra 2. A participação em rixa não é punível quando for determinada por motivo
profissionalmente habilitado não se consideram ofensas corporais: porém, da não censurável, nomeadamente quando visar reagir contra um ataque, defender
violação das “legis artis” resultar um perigo para o corpo, a saúde ou a vida do outrem ou separar os contendores.
paciente, o agente será punido com prisão de seis meses a três anos.
ARTIGO 121º
ARTIGO 116º (Ofensas corporais por meio de substâncias venenosas)
(Agravação pelo resultado) 1. Quem ofender o corpo ou a saúde de outrem ministrando-lhe substâncias
1. Quem, querendo tão só ofender o corpo ou a saúde de outra pessoa: venenosas ou prejudiciais à saúde física ou psíquica, é punido com pena de prisão
a) Lhe causar a morte por negligência, é punido com pena de prisão de um a de um a cinco anos.
cinco anos; 2. Se sobrevier alguma das consequências previstas no artigo 114º ou a morte
b) Lhe causar as ofensas previstas no artigo 115º, é punido com pena de prisão da vítima, o agente é punido, respectivamente, com pena de prisão de um a oito
até quatro anos. anos e de dois a dez anos.
2. Quem, querendo causar a outra pessoa alguma das ofensas previstas no artigo
115º, é punido com pena de prisão de dois a dez anos, se por negligência, lhe vier CAPÍTULO III
a produzir a morte. CONTRA A LIBERDADE PESSOAL

ARTIGO 117º ARTIGO 122º


(Ofensas privilegiadas) (Ameaças)
Quem, habilitado para efeito e devidamente autorizado, efectuar a circuncisão 1. Quem ameaçar outra pessoa com a prática de um crime de forma a que lhe
ou excisão sem proceder com cuidados adequados para evitar que se produzam os provoque medo ou inquietação ou a prejudicar a sua liberdade de determinação,
efeitos previstos no nº 1 do artigo 115º ou a morte da vítima, e estes sobrevierem, é punido com pena de prisão até um ano ou com pena de multa.
48 é punido, respectivamente, com pena de prisão até três anos e de um a cinco anos. 2. O procedimento criminal depende de queixa. 49
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal

ARTIGO 123º 2. Quem, na presença da vítima, proferir palavras, praticar ou lhe imputar
(Coacção) qualquer outro facto lesivo da sua honra e consideração, é punido com pena de
1. Quem, por meio de violência ou de ameaça que não constitua crime, prisão até seis meses ou com pena de multa.
constranger outra pessoa a uma omissão, ou a suportar uma actividade, é punido 3. O procedimento criminal depende de queixa.
com pena de prisão até três anos ou com pena de multa.
2. Se a coacção for realizada mediante a ameaça de um crime ou por funcionário ARTIGO 127º
abusando grosseiramente das suas funções a pena é de prisão até três anos. (Agravação)
3. A tentativa é punível. 1. Se os factos descritos no artigo anterior forem praticados:
a) Por meio de órgão de comunicação social;
ARTIGO 124º b) Contra quem desempenhar funções públicas, religiosas ou políticas, no
(Sequestro) exercício dessas funções e por causa delas, o agente é punido com pena prevista
1. Quem, fora dos casos previstos na lei processual penal, detiver, prender, nesse artigo agravadas de um terço no seu limite máximo.
mantiver presa ou detida outra pessoa, ou de qualquer outra forma a privar da 2. A agravação será de metade do limite máximo se ocorrerem cumulativa-
liberdade, é punido com pena de prisão até três anos ou com pena de multa. mente as circunstâncias referidas no número anterior.
2. A pena aplicável é de dois a oito anos de prisão se a privação da liberdade:
a) Durar mais de setenta e duas horas; ARTIGO 128º
b) For efectuada por meio de ofensa à integridade física, tortura ou qualquer (Prova da verdade dos factos)
outro tratamento cruel, degradante ou desumano; Tratando-se de imputação de factos, se o agente provar a verdade dos mesmos,
c) Vier a causar, por negligência do agente, a morte da vítima ou tiver como a conduta não será punível.
resultado o suicídio desta;
d) Respeitar a autoridade pública, religiosa ou política. ARTIGO 129º
(Injúrias discriminatórias)
ARTIGO 125º 1. Se a injúria consistir em expressões ou considerações que visem discriminar
(Rapto) a vítima por causa da raça, religião ou etnia, ofendendo-a na sua honra e con-
1. Quem por qualquer meio, raptar outra pessoa para obter do próprio ou de sideração, o agente é punido com pena de prisão até dois anos ou multa.
terceiro um resgate, a prática ou omissão de um facto ou a suportar uma actividade, 2. O procedimento criminal depende de queixa.
é punido com prisão de dois a dez anos.
2. A pena aplicável é de três a doze anos de prisão se o rapto for efectuado com ARTIGO 130º
violência, ou se verificar alguma das circunstâncias previstas no artigo 124º, nº 2, (Ofensa ao prestígio de pessoa colectiva ou equiparada)
alíneas b) e c). 1. A prática dos factos descritos no artigo 126º e a difusão de factos inverídicos
susceptíveis de abalar a credibilidade, confiança ou prestígio devidos às pessoas
CAPÍTULO IV colectivas ou quaisquer outras instituições sociais, é punida com pena de prisão até
CONTRA A HONRA seis meses ou com pena de multa.
2. O procedimento criminal depende de queixa.
ARTIGO 126º
(Difamação e injúrias) ARTIGO 131º
1. Quem, publicamente e na ausência da vítima, de viva voz, ou por qualquer (Ofensa à memória de pessoa falecida)
outro meio de comunicação, imputar a outra pessoa um facto ou emitir um juízo 1. Quem, por qualquer forma, ofender gravemente a memória de pessoa
ofensivo da sua honra e consideração, ou transmitir essa imputação ou juízo a falecida, é punido com pena de prisão até seis meses ou com pena de multa.
terceiros se não tiver sido produzida pelo agente, é punido com pena de prisão até 2. É correspondentemente aplicável o disposto no artigo 127º.
50 um ano ou com pena de multa. 3. O procedimento criminal depende sempre de queixa. 51
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal

ARTIGO 132º ARTIGO 135º


(Publicidade da sentença) (Exibicionismo sexual)
Sempre que os crimes previstos nesta secção tenham sido praticados com recurso 1. Quem, publicamente, importunar outra pessoa com a prática de actos de
a órgãos de comunicação social o tribunal determinará a publicidade de sentença carácter sexual, é punido com pena de prisão até três anos ou multa.
condenatória pelo mesmo órgão de comunicação, sob pena de desobediência. 2. Na mesma pena incorre quem praticar acto sexual de relevo ou cópula perante
outra pessoa, contra a vontade desta e mesmo que em privado.
CAPÍTULO V 3. A tentativa é punível.
CONTRA A LIBERDADE SEXUAL
ARTIGO 136º
ARTIGO 133º (Exploração de actividade sexual de terceiro)
(Violação) 1. Quem, com intenção lucrativa ou fazendo disso modo de vida, fomentar,
1. Quem, através de violência, ameaça grave ou qualquer outra forma de coacção, facilitar ou de qualquer modo contribuir para que outra pessoa exerça a pros-
mantiver cópula com mulher ou a constranger a ter com terceiro, é punido com tituição ou pratique actos sexuais de relevo, é punido com pena de prisão até três
pena de prisão de três a doze anos. anos ou pena de multa.
2. Na mesma pena incorre quem, por alguma das formas descritas no artigo 2. Se o agente se aproveitar dalguma das circunstâncias seguintes:
anterior, praticar qualquer outro acto sexual significativo com homem ou mulher a) Exploração de situação de abandono ou de necessidade económica da vítima;
ou obrigar a que o tenha com terceiro. b) Exercendo violência, ameaça grave ou coacção sobre a vítima; ou
3. Nos casos em que a pouca idade, a inexperiência da vida, a afectação por c) Deslocando a vítima para país estrangeiro;
anomalia psíquica ou a diminuição física ou psíquica, temporária ou permanente é punido com pena de prisão de dois a dez anos.
da vítima tenha sido aproveitada pelo agente para mais facilmente praticar os 3. A tentativa, no caso do nº 1, é punível.
factos descritos nos números anteriores a pena aplicável será agravada de um terço
no limite máximo. ARTIGO 137º
4. Se a vítima, pelo seu comportamento, tiver contribuído de forma sensível (Agravação)
para o facto, a pena é atenuada especialmente. 1. As penas previstas nos artigos 133º e 134º, são agravadas de um terço, nos
seus limites, se:
ARTIGO 134º a) A vítima estiver numa situação de dependência familiar, subordinação
(Abuso sexual) hierárquica ou sob vigilância ou confiado à guarda do agente;
1. Quem praticar cópula com mulher com mais de 12 e menos de 16 anos de b) O agente tiver transmitido à vítima doença venérea, sifilítica ou o síndroma
idade aproveitando-se da sua inexperiência ou independentemente da idade, se de imunodeficiência adquirida;
aproveitar do facto de a vítima sofrer de anomalia psíquica ou se encontrar c) Em consequência dos factos a vítima tentar ou consumar o suicídio ou
diminuída física ou psiquicamente, temporária ou permanentemente, é punido resultar a morte.
com pena de prisão de dois a oito anos. 2. Concorrendo mais do que uma das circunstâncias anteriores só a primeira
2. Se o agente tiver acto sexual significativo com homem ou mulher, de idade releva como agravante modificativa e as demais serão valoradas na determinação
superior a 12 anos, aproveitando-se de alguma das circunstâncias descritas no da pena concreta.
número anterior, é punido com pena de prisão de um a cinco anos.
3. Se o agente, sem recurso a violência, ameaça grave ou coacção, tiver cópula ARTIGO 138º
ou acto sexual significativo com pessoa de sexo feminino ou este último com (Procedimento criminal)
pessoa do sexo masculino, de 12 anos ou menos de idade, presume-se, até ser 1. O procedimento criminal pelos crimes previstos nos artigos 133º, 134º e 135º
fundadamente posto em causa, que se aproveitou da incapacidade de determinação depende de queixa, salvo quando resulta a morte ou suicídio da vítima.
sexual da vítima sendo o agente punido com pena de prisão de dois a dez anos.
52 53
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal

2. Se o agente do crime for o único titular do direito de queixa compete ao 3. Quem divulgar o conteúdo de cartas, encomendas, escritos fechados, tele-
Ministério Público decidir do seu exercício, atento o interesse da vítima e ouvida fonemas ou outras comunicações referidas nos números anteriores, é punido com
esta. pena de prisão até um ano ou com pena de multa, ainda que tenha tido conheci-
mento desse contendo de forma lícita.
CAPÍTULO VI 4. Se o agente que proceder à divulgação tiver praticado alguns dos factos
CONTRA A VIDA PRIVADA descrito nos nºs l e 2 como meio de adquirir o referido conhecimento do conteúdo
que divulgar, é punido, por ambas as condutas, com pena de prisão até dezoito
ARTIGO 139º meses ou com pena multa.
(Violação de domicílio) 5. Se os factos descritos nos números anteriores forem praticados por fun-
1. Quem, sem consentimento, se introduzir na habitação de outra pessoa ou, cionário de serviços dos correios, telégrafos, telefones ou telecomunicações as
autorizado a entrar, nela permanecer depois de intimado a retirar-se, é punido com penas aplicáveis são elevadas de um terço nos seus limites.
pena de prisão até um ano ou com pena de multa. 6. O procedimento criminal depende de queixa.
2. Se o agente, para mais facilmente cometer crime, se aproveitar da noite, do
facto de a habitação se situar em lugar ermo, de serem três ou mais pessoas a ARTIGO 142º
praticar o facto, utilizar arma, usar de violência ou ameaça de violência ou actuar (Violação de segredo)
por meio de escalamento, arrombamento ou chave falsa, é punido com pena de 1. Quem, sem consentimento, revelar segredo alheio de que tenha tomado
prisão até três anos ou com pena de multa. conhecimento em razão do seu estado, ofício, emprego, profissão ou arte, é punido
3. Se existirem pessoas no interior da habitação quando o agente cometer o com pena de prisão até um ano ou pena de multa.
crime é aplicável a mesma pena do número anterior que será agravada de um terço 2. O procedimento criminal depende de queixa.
do limite máximo se ocorrer, simultaneamente, alguma das circunstâncias
referidas. ARTIGO 143º
4. A tentativa é punível. (Devassa da vida privada)
1. Quem, por qualquer meio mesmo lícito, tomar conhecimento de factos
ARTIGO 140º relativos à intimidade da vida privada de outra pessoa e os divulgar publicamente
(Introdução noutros lugares vedados ao público) sem justa causa, é punido com pena de prisão até três meses ou multa.
1. Quem, nas circunstâncias descritas no nº l do artigo anterior, entrar ou 2. O procedimento criminal depende de queixa.
permanecer em qualquer lugar fechado ou vedado e não livremente acessível ao
público, é punido com pena de prisão até seis meses ou com pena de multa. CAPÍTULO VII
2. Se se verificar alguma das circunstâncias referidas no artigo139º, nº 2, o DIVERSOS
agente é punido com pena de prisão até um ano ou com pena de multa.
3. O procedimento criminal depende de queixa. ARTIGO 144º
(Omissão de auxílio)
ARTIGO 141º 1. Quem, em caso de grave necessidade de outra pessoa que se encontrar em
(Violação de correspondência ou de telecomunicações) perigo de vida, deixar de a socorrer directamente ou por intermédio de terceiros,
1. Quem, sem consentimento ou fora dos casos processualmente admissíveis, quando o pudesse fazer sem qualquer risco pessoal grave, é punido com pena de
abrir encomenda, carta ou qualquer outro escrito destinado a outra pessoa, ou prisão até um ano ou com pena de multa.
tomar conhecimento do seu conteúdo, ou impedir que seja recebida pelo seu 2. Se o agente for médico ou profissional de saúde, é punido com pena de prisão
destinatário, é punido com pena de prisão até um ano ou com pena de multa. até três anos ou com pena de multa.
2. Na mesma pena incorre quem, nas mesmas circunstâncias, se intrometer ou 3. No caso previsto no número anterior, acessoriamente, poderá ser decretada a
tomar conhecimento do conteúdo de comunicação telefónica, telegráfica ou por suspensão da actividade profissional do agente por um período de tempo até um ano.
54 qualquer outro meio de telecomunicação. 4. O procedimento criminal depende de queixa. 55
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal

TÍTULO III 2. Se ocorrer alguma das circunstâncias descritas no número anterior e a coisa
DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÓNIO furtada tiver um valor superior a dez vezes o salário correspondente à letra “Z” da
Função Pública5, o agente é punido com pena de prisão de seis meses a sete anos.
CAPÍTULO I 3. Se verificada alguma das circunstâncias descritas no nº l e a coisa furtada tiver
CONTRA A PROPRIEDADE um valor superior a vinte vezes o salário correspondente à letra “Z” da Função
Pública, o agente é punido com pena de prisão de um a dez anos.
ARTIGO 145º 4. Se, verificada alguma das circunstâncias descritas no nº 1, o valor da coisa
(Furto) furtada for superior a quarenta vezes o salário correspondente a letra “Z” da
1. Quem, com ilegítima intenção de apropriação para si ou para outrem, subtrair Função Pública, o agente é punido com pena de prisão de dois a doze anos.
coisa móvel alheia, é punido com pena de prisão até três anos ou com pena de 5. Se concorrerem mais do que uma das circunstâncias descritas no nº l só é
multa. relevante como circunstância modificativa uma delas, sendo as demais ponderadas
2. A tentativa é punível. na determinação concreta da pena, se não puderem constituir crime autónomo.
6. Se o valor da coisa furtada for superior a um décimo do salário correspondente
ARTIGO 146º à letra “Z” da Função Pública, as circunstâncias descritas no nº 1 funcionarão como
(Furto qualificado) agravantes de carácter geral.
Se:
a) A coisa móvel alheia possuir elevado valor científico, artístico ou histórico, ARTIGO 146º-A6
ou for importante para o desenvolvimento tecnológico ou económico; 1. Quem com ilegítima intenção de apropriação para si ou para outrem, subtrair
b) A coisa móvel alheia for um veículo, transportada em veículo ou por cabeça de gado bovino alheio, é punido com pena de prisão até cinco anos.
passageiro de transportes colectivos, ou se encontrar no cais ou gare de embarque 2. Ao lesado assistirá sempre o direito a:
ou desembarque; a) Restituição imediata do gado roubado;
c) A coisa móvel for cabeça de gado não bovino4; b) Indemnização de 5 cabeças de gado ou correspondente, por cada gado
d) A coisa móvel alheia estiver afecta ao culto religioso ou à veneração da roubado.
memória dos mortos e se encontrar em lugar destinado ao culto ou em cemitério; 3. No caso previsto no nº 1 do presente artigo, aplicam-se igualmente as
e) A vítima ficar em situação económica difícil; disposições dos nºs 2, 3 e 4 do artigo 146º.
f) O agente aproveitar a noite para mais facilmente se introduzir em habitação,
estabelecimento comercial ou industrial com a intenção de furtar; ARTIGO 147º
g) O agente usar chaves falsas, escalamento ou arrombamento na concretização (Abuso de confiança)
do seu desígnio; 1. Quem, ilegitimamente se apropriar de coisa móvel que lhe tenha sido entregue
h) O agente se aproveitar da situação de especial debilidade da vítima de por título não translativo da propriedade, é punido com pena de prisão até três anos
desastre, acidente ou calamidade pública; ou com pena de multa.
i) O agente fizer da prática de furtos modo de vida; ou 2. A tentativa é punível.
j) O crime for praticado por três ou mais pessoas, incluindo o agente;
este é punido com pena de prisão até cinco anos.

5
A actual tabela salarial (Decreto nº 4-A/2004) apresenta 15 escalões para a letra
“Z”, o que não se verificava na anterior tabela salarial. Todas as referências à letra “Z”
da Função Pública devem ser feitas para o referido diploma.
6
4
Alteração, em itálico, introduzida pela Lei nº 2/2002, publicada no B.O. nº 21, de Artigo introduzido pela Lei nº 2/2002, publicada no B.O. nº 21, de 27 de Maio
56 27 de Maio de 2002. de 2002. 57
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ARTIGO 148º 4. Se do facto vier a resultar a morte de outra pessoa, o agente é punido com
(Abuso de confiança qualificado) pena de prisão de três a quinze anos.
1. Se a coisa referida no artigo anterior for de valor superior a dez vezes o salário
correspondente à letra “Z” da Função Pública, o agente é punido com pena de ARTIGO 152º
prisão até cinco anos. (Violência após a subtracção)
2. Se a coisa referido tiver um valor vinte vezes superior ao salário correspon- Quem, surpreendido em flagrante delito de furto, actuar da forma descrita no
dente à letra “Z” da Função Pública, o agente é punido com pena de prisão de um artigo anterior para conservar ou impedir a restituição das coisas apropriadas, é
a oito anos. punido com as penas de crime de roubo.
3. As penas previstas no artigo147º e nos números anteriores são agravadas de
um terço no limite mínimo e máximo se o agente tiver recebido a coisa em depósito ARTIGO 153º
imposto por lei em razão de ofício, emprego ou profissão, ou na qualidade de tutor, (Dano)
curador ou depositário judicial. 1. Quem, total ou parcialmente, destruir, danificar, desfigurar ou tornar inu-
tilizável coisa alheia, é punido com pena de prisão até três anos ou multa.
ARTIGO 149º 2. A tentativa é punível.
(Arrependimento activo) 3. O procedimento criminal depende de queixa.
Quando, após a prática dos crimes previstos nos artigos 145º a 148º e antes de
iniciada a audiência de julgamento, o agente praticar actos que visem a restituição ARTIGO 154º
ou a reparação, integral ou parcial, dos prejuízos causados e demonstre um sincero (Dano qualificado)
arrependimento, a pena pode ser especialmente atenuada. 1. Se a coisa danificada:
a) Se destinar a uso e utilidade pública;
ARTIGO 150º b) Tiver um valor superior a dez vezes o salário correspondente à letra “Z” da
(Furto de uso) Função Pública; ou
1. Quem utilizar automóvel ou outro veículo motorizado, aeronave, barco ou c) Tiver um importante valor científico, artístico ou histórico ou possuir grande
bicicleta, sem autorização de quem de direito, é punido com pena de prisão até dois importância para o desenvolvimento tecnológico ou científico;
anos ou com pena de multa. d) For meio de comunicação ou transporte de grande importância social;
2. A tentativa é punível. o agente é punido com pena de prisão de um a oito anos.
3. O procedimento criminal depende de queixa. 2. Se:
a) O agente agir com violência contra uma pessoa, com ameaça, com perigo
ARTIGO 151º iminente para a vida ou a integridade física, ou pondo-a na impossibilidade de
(Roubo) resistir; ou
1. Quem, com ilegítima intenção de apropriação para si ou para outra pessoa, b) A coisa danificada tiver valor superior a vinte vezes o salário correspondente
subtrair, ou constranger a que lhe seja entregue, coisa móvel alheia, por meio de à letra “Z” da Função Pública;
violência contra uma pessoa, de ameaça com perigo iminente para a vida ou para o agente é punido com pena de prisão de dois a doze anos.
a integridade física ou pondo-a na impossibilidade de resistir, é punido com pena
de prisão de um a dez anos. ARTIGO 155º
2. Se o valor da coisa apropriada for superior a dez vezes o salário correspondente (Dano involuntário)
à letra “Z” da Função Pública ou se verificar alguma das circunstâncias previstas 1. Quem, por negligência, praticar os factos descritos no artigo 153º, é punido
no artigo 146º, nº 1, o agente é punido com pena de prisão de dois a dez anos. com pena de prisão até três meses ou com pena de multa.
3. Se da conduta do agente resultar perigo para a vida da vítima ou lhe forem 2. Se o valor da coisa danificada for superior a vinte vezes o salário correspon-
causadas ofensas à integridade física graves, o agente é punido com pena de prisão dente a letra “Z” da Função Pública, o agente é punido com pena de prisão até seis
de dois a doze anos. meses ou com pena de multa.
58 3. O procedimento criminal depende de queixa. 59
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ARTIGO 156º 2. Se o meio empregue constituir crime punível com pena superior à referida
(Queimada fora da época) no artigo anterior será essa pena aplicável.
1. Quem efectuar queimada prematura fora dos meses de Novembro e Dezembro, 3. A tentativa é punível.
de que resulte a destruição de floresta, plantação ou culturas, é punido com prisão 4. O procedimento criminal depende de queixa.
até dois anos ou com pena de multa.
2. Quem efectuar queimada nos meses de Novembro ou Dezembro e por ARTIGO 161º
negligência provocar os factos descritos no número anterior, é punido com prisão (Alteração de marcos)
até um ano ou com pena de multa. 1. Quem, com intenção de apropriação, total ou parcial, de coisa imóvel alheia,
para si ou para outra pessoa, arrancar ou alterar marco ou qualquer outro sinal
ARTIGO 157º destinado a estabelecer limites de propriedades, é punido com pena de prisão até
(Queimada intencional) seis meses ou com pena de multa.
Quem, independentemente da época do ano, utilizar o fogo para a produção de 2. O procedimento criminal depende de queixa.
carvão, na extracção de mel, para caçar, para abrir caminho ou por qualquer outro
motivo fizer queimada provocando incêndio de que resulte a destruição de ARTIGO 162º
floresta, plantações ou culturas, é punido com prisão até cinco anos. (Procedimento criminal)
No caso dos artigos 145º, 147º e 151º, o procedimento criminal depende de
ARTIGO 158º queixa se o proprietário da coisa for cônjuge, ascendente, descendente, adoptante,
(Agravação) adoptado, parente ou afim até ao 2º grau.
Se os factos descritos no artigo anterior forem relativos a parques nacionais,
florestas estabelecidas ou sob a protecção, o agente é punido com pena de prisão ARTIGO 163º
de um a seis anos. (Arrombamento, escalamento e chaves falsas)
1. É arrombamento o rompimento, fractura ou destruição, no todo ou em parte,
ARTIGO 159º de dispositivo destinado a fechar ou impedir a entrada, exterior ou interiormente,
(Incêndio qualificado) de casa ou de lugar fechado dela dependente.
1. Quem, querendo provocar incêndio em casa, edifício, estabelecimento, meio 2. É escalamento a introdução em casa ou em lugar fechado dele dependente,
de transporte, floresta, seara ou qualquer outro bem e, desta maneira, criar perigo por local não destinado normalmente à entrada ou por qualquer dispositivo
de vida, integridade física ou bens patrimoniais de valor superior a cem vezes o destinado a fechar ou impedir a entrada ou a passagem.
salário correspondente à letra “Z” da Função Pública, é punido com prisão de dois 3. São chaves falsas:
a dez anos. a) As imitadas, contrafeitas ou alteradas;
2. Se a conduta descrita no número anterior for praticada por negligência, o b) As verdadeiras quando, fortuita ou sub-repticiamente, estiverem fora do
agente é punido com pena de prisão de um a cinco anos. poder de quem tiver o direito de as usar; e
3. Se apenas o perigo referido no número um for criado por negligência, o c) As gazuas ou quaisquer instrumentos que possam servir para abrir fechaduras
agente é punido com pena de prisão de um a seis anos. ou outros dispositivos de segurança.

ARTIGO 160º CAPÍTULO II


(Usurpação de coisa imóvel) CONTRA O PATRIMÓNIO EM GERAL
1. Quem, por meio de violência ou ameaça grave sobre outra pessoa, invadir
ou ocupar coisa imóvel alheia, ou, pelos mesmos meios, aí pretender continuar ARTIGO 164º
depois de intimado a retirar-se, com intenção de exercer direito de propriedade, (Burla)
posse, uso ou servidão não tutelados por lei, sentença, contrato ou acto adminis- 1. Quem, com intenção de obter para si ou para terceiro enriquecimento
60 trativo, é punido com pena de prisão até três anos ou com pena de multa. ilegítimo, por meio de erro ou engano sobre factos que astuciosamente provocou, 61
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal

determinar outrem à pratica de actos que lhe causem, ou causem a outra pessoa, ARTIGO 168º
prejuízo patrimonial, é punido com pena de prisão até três anos ou com pena de (Receptação atenuada)
multa. Quem, sem previamente se ter assegurado da sua legítima proveniência,
2. A tentativa é punível. adquirir ou receber, a qualquer título, coisa que, pela sua natureza ou pela sua
3. É correspondentemente aplicável o disposto no artigo 149º. qualidade de quem a detém ou lha oferece, ou pelo montante do preço ou condições
de venda ou oferta, faz suspeitar a uma pessoa medianamente diligente que provém
ARTIGO 165º de condutas criminosas contra o património de outra pessoa, e punido com pena
(Burla qualificada) de prisão até dois anos ou com pena de multa.
1. Se:
a) O prejuízo causado for de valor superior a vinte vezes o salário correspondente ARTIGO 169º
à letra “Z” da Função Pública; (Ajuda ao criminoso)
b) O agente fizer modo de vida da prática da burla; ou Quem, após a prática de um crime contra o património, ajudar o agente do crime
c) A pessoa prejudicada ficar em difícil situação económica; a aproveitar-se da coisa assim obtida ou de benefício directamente resultante da
o agente é punido com pena de prisão de um a dez anos. coisa apropriada, é punido com pena de prisão até dois anos ou com pena de multa.
2. É correspondentemente aplicável o que dispõe a artigo 149º.
ARTIGO 170º
ARTIGO 166º (Administração danosa)
(Extorsão) 1. Quem estiver encarregado de dispor ou de administrar interesses, serviços
1. Quem, com intenção de conseguir para si ou para terceiro enriquecimento ou bens patrimoniais alheios, mesmo sendo sócio da sociedade ou pessoa colectiva
ilegítimo, constranger outra pessoa, por meio de violência ou de ameaça com mal a que pertençam esses bens, interesses ou serviços, e por ter infringido intencional-
importante, a uma disposição patrimonial que acarrete, para ela ou para outrem, mente as regras de controle e de gestão ou por ter actuado com grave violação e
prejuízo, é punido com pena de prisão de um a seis anos. deveres inerentes à função causar dano patrimonial economicamente significativo,
2. Se se verificarem os pressupostos consagrados no artigo 151º, nºs 2, 3 e 4, é punido com prisão até cinco anos.
a conduta do agente é punida as com penas aí previstas. 2. Se os bens, interesses ou serviços pertencerem ao Estado a pessoa colectiva
de utilidade pública, a uma cooperativa ou associação popular a pena aplicável é
ARTIGO 167º de seis meses a seis anos de prisão.
(Receptação) 3. As mesmas penas são aplicáveis a quem se apropriar ou permitir que se
1. Quem, com intenção de obter, para si ou para outra pessoa, vantagem apropriem ilegitimamente de coisas de que apenas podiam dispor no âmbito e com
patrimonial, dissimular coisa que foi obtida por outrem mediante crime contra o as finalidades próprias de quem administra património alheio.
património, a receber, a empenhar, a adquirir por qualquer título, a detiver,
conservar, transmitir ou contribuir para a transmitir, ou de qualquer outra forma ARTIGO 171º
assegurar, para si ou para outra pessoa, a sua posse ou o valor ou produto (Administração abusiva)
directamente dela resultantes, é punido com pena de prisão de um a oito anos. 1. Quem, estando nas condições descritas no nº l do artigo anterior, causa grave
2. Se: dano patrimonial por não agir com diligência a que segundo as circunstâncias
a) O agente fizer de receptação modo de vida, ou a pratique habitualmente; estava obrigado e de que era capaz, é punido com pena de prisão até um ano ou
b) Os bens, valores ou produtos tiverem um valor superior a dez vezes o salário com pena de multa.
correspondente à letra “Z” da Função Pública; 2. Se a situação for relativa a bens ou coisas pertencentes ao Estado, pessoa
é punido com pena de prisão de dois a doze anos. colectiva de utilidade Pública, cooperativa ou associação popular a pena aplicável
é agravada de metade no seu limite máximo.
3. O procedimento criminal depende de queixa.
62 63
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal

ARTIGO 172º ARTIGO 176º*


(Falência ou insolvência intencional) (Contrafacção de moda)
1. Quem, por qualquer meio, conduzir uma sociedade à situação de falência ou 1. Quem praticar contrafacção de moeda ou depreciar moeda metálica legítima,
se colocar na situação de insolvente, com intenção de prejudicar os credores, se com intenção de a pôr em circulação como verdadeira é punido com prisão de três
a falência ou insolvência for declarada, é punido com pena de prisão de um a oito a doze anos.
anos. 2. Se o agente além de praticar os factos descritos no número anterior, colocar
2 Se os factos descritos no número anterior, respeitarem a empresas públicas efectivamente a moeda em circulação, a pena é agravada de um terço no seu valor
ou cooperativas a pena é agravada de um terço nos seus limites. máximo.
3. Quem, por acordo com o fiscalizador, expuser à venda, puser em circulação
ARTIGO 173º ou por qualquer outro meio difundir a moeda referida no nº l, é punido com pena
(Falência ou insolvência negligente) de prisão de três a doze anos.
Quem provocar falência ou insolvência por grave incúria ou imprudência,
prodigalidade ou despesas manifestamente exageradas, ou grave negligência no ARTIGO 177º*
exercício da sua actividade, é punido com pena de prisão até um ano ou com pena (Passagem de moda falsa)
de multa, se a falência ou insolvência forem declaradas. Quem, fora dos casos previstos no nº 3 do artigo anterior, adquirir para pôr em
circulação ou puser efectivamente em circulação, vender ou por qualquer meio
CAPÍTULO III difundir a moeda contrafeita ou depreciada, como se de verdadeira se tratasse, é
CONTRA A ECONOMIA NACIONAL punido com pena de prisão de um a seis anos.

ARTIGO 174º ARTIGO 178º


(Fraude fiscal) (Contrafacção de valores selados)
1. Quem, para não pagar ou permitir a terceiro que não pague, total ou parcial- 1. Quem, para os vender, utilizar ou por qualquer outro modo os puser em
mente, qualquer imposto, taxa ou outra obrigação pecuniária fiscal devida ao circulação como legítimos, praticar contrafacção ou falsificação de valores
Estado: selados ou timbrados cujo fabrico e fornecimento pertença exclusivamente ao
a) Não declarando os factos sujeitos a tributação ou os necessários à sua Estado Guineense, é punido com prisão de dois a oito anos.
liquidação; 2. Quem praticar os factos descritos no número anterior relativamente a
b) Declarar incorrectamente os factos em que se funda a tributação; ou estampilhas postais em uso pelos Correios da Guiné-Bissau é punido com pena de
c) Impedir por qualquer meio ou sonegar os elementos necessários a uma prisão até três anos ou com pena de multa.
correcta fiscalização da actividade ou factos sujeitos à tributação; 3. Quem utilizar os valores selados ou timbrados ou as estampilhas fiscais com
é punido com pena de prisão de um a cinco anos. as características referidas nos números anteriores é punido com pena de prisão até
2. Se a quantia devida e não paga por o agente ter actuado nos termos descritos três anos ou com pena de multa.
no nº anterior for superior a dez vezes o valor do salário correspondente à letra “Z” 4. A tentativa é punível.
da Função Pública, o agente é punido com pena de prisão de um a oito anos.
ARTIGO 179º
ARTIGO 175º (Contrafacção de selos, cunhos, marcas ou chancelas)
(Perturbação de acto público) 1. Quem, com intenção de os empregar como autênticos ou intactos, adquirir,
Quem, com intenção de impedir ou prejudicar os resultados de arrematação contrafizer ou falsificar selos, cunhos, marcas ou chancelas de qualquer autoridade
judicial ou contra a arrematação ou concurso públicos, conseguir, por meio de ou repartição pública é punido com pena de prisão de um a seis anos.
dádiva, promessa, violência ou ameaça, que alguém não lance ou não concorra ou
que, embora lançando e arrematando, o faça em condições de falta de liberdade
na prática daqueles actos, é punido com prisão até três anos ou com pena de multa. *
Ambas as disposições foram revogadas pelo artigo 13º da Lei nº 7/97 de 2 de Dezembro,
64 Suplemento ao B.O. nº 48, de 2 de Dezembro de 1997, que faz parte da presente colectânea. 65
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal

2. Quem utilizar os objectos referidos no numero anterior sabendo-os falsificados 2. Se a pessoa for impedida de se inscrever ou convencida a inscrever-se por
ou sem autorização de quem de direito, para causar prejuízo a outra pessoa ou ao meio de violência ou engano astuciosamente provocado a pena aplicável é a de
Estado, é punido com prisão até três anos ou pena de multa. prisão até cinco anos.
3. Se quem utilizar os referidos objectos for o próprio falsificador a pena do 3 A tentativa é punível.
nº l será agravada de um terço no limite máximo.
4. No caso do nº 2 a tentativa é punível. ARTIGO 183º
(Candidato inelegível)
ARTIGO 180º 1. Quem, sabendo que não tem capacidade eleitoral para ser eleito, apresentar
(Pesos e medidas) a sua candidatura, é punido com pena de prisão até três anos ou com pena de multa.
1. Quem, com intenção de prejudicar outra pessoa ou Estado falsificar ou por 2. A tentativa é punível.
qualquer outro meio alterar ou utilizar depois de praticados tais actos, pesos,
medidas, balanças ou outros instrumentos de medida, é punido com prisão até três ARTIGO 184º
anos ou com pena de multa. (Falta de cadernos eleitorais)
2. A tentativa é punível. Quem, para impedir a realização de acto eleitoral, estando encarregue da
elaboração ou correcção dos cadernos eleitorais, não proceder à sua execução ou
ARTIGO 181º impedir que o substituto legal o faça, é punido com pena de prisão até três anos
(Apreensão e perda) ou com pena de multa.
Serão apreendidas e postas fora de uso ou destruídas as moedas contrafeitas,
falsificadas ou diferenciadas, e objectos equiparados, assim como os pesos, ARTIGO 185º
medidas ou todo e qualquer instrumento destinado à prática dos crimes previstos (Propaganda eleitoral ilícita)
neste capítulo. 1. Quem usar meio de propaganda legalmente proibido ou continuar a pro-
paganda eleitoral para além do prazo legalmente estabelecido ou em local proibido
TÍTULO IV é punido com prisão até seis meses ou com pena de multa.
DOS CRIMES RELATIVOS AO PROCESSO ELEITORAL7 2. Quem impedir o exercício do direito de propaganda eleitoral ou proceder à
sua destruição ilegítima é punido com pena de prisão até dois anos ou com pena
ARTIGO 182º de multa.
(Fraude no recenseamento)
ARTIGO 186º
1. Quem impedir outra pessoa que sabe ter direito a inscrever-se, fizer constar
(Obstrução à liberdade de escolha)
factos que sabe não verdadeiros, omitir factos que devia inscrever ou por qualquer
outro meio falsificar o recenseamento eleitoral é punido com pena de prisão até 1. Quem por meio de violência, ameaça de violência ou mediante engano
três anos ou com pena de multa. fraudulento constranger outra pessoa a não votar ou a votar num determinado
sentido é punido com prisão até três anos ou com pena de multa.
2. É aplicável a mesma pena a quem solicitado a auxiliar na votação pessoa
invisual ou quem legalmente a tal tiver direito, desrespeitar o sentido de voto que
lhe for comunicado.
7
3. A tentativa é punível.
Ver Lei do Recenseamento Eleitoral (extracto) – publicada no Suplemento ao B.O.
nº 17, de 28 de Abril de 1998, Lei Eleitoral para o Presidente da República e Assembleia
Nacional Popular (extracto) – Lei nº 3/98, de 23 de Abril – publicada no Suplemento ARTIGO 187º
ao B.O. nº 17, de 28 de Abril de 1998 e a Lei relativa ao Processo Eleitoral, respeitante (Perturbação do acto eleitoral)
ao poder autárquico (extracto) – Lei nº 6/96 – publicada no B.O. nº 38, de 16 de Setembro 1. Quem, por qualquer meio, perturbar o funcionamento da assembleia de voto
66 de 1996, que revogaram tácita e parcialmente esta matéria. é punido com prisão até seis meses ou com pena de multa. 67
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal

2. Se a perturbação resultar de: ARTIGO 192º


a) Violência ou ameaça de violência; (Violação do segredo do escrutínio)
b) Tumulto ou ajuntamento populacional junto da assembleia; Quem em acto eleitoral realizado por escrutínio secreto, violar tal segredo,
c) Corte intencional de energia eléctrica; tomando ou dando conhecimento do sentido de voto doutra pessoa, é punido com
d) Falta de alguém indispensável ao acto, e a realização do acto deva con- pena de prisão até um ano ou com pena de multa.
siderar-se gravemente afectada se se iniciar ou continuar;
o agente é punido com pena de prisão de um a seis anos. ARTIGO 193º
3. É correspondentemente aplicável o disposto nos números anteriores ao (Agravação)
apuramento dos resultados após o acto eleitoral. Se quem praticar algum dos crimes previstos no presente título desempenhar
funções públicas, nomeadamente no Governo, na Assembleia Nacional Popular,
ARTIGO 188º no Conselho de Estado, nas Forças Armadas, como Magistrado Judicial ou do
(Obstrução à fiscalização do acto eleitoral) Ministério Público nas diversas forças policiais ou nos órgãos administrativos
1. Quem, por qualquer modo, impedir o representante de qualquer força regionais, é punido com as sanções previstas no tipo preenchido elevados os
política, legalmente constituída e concorrente ao acto eleitoral, de exercer as suas respectivos limites para o dobro.
competências fiscalizadoras é punido com prisão até três anos ou com pena de
multa. TÍTULO V
2. A tentativa é punível. DOS CRIMES CONTRA A VIDA EM SOCIEDADE

ARTIGO 189º CAPÍTULO I


(Fraude na votação) A FAMÍLIA, A RELIGIÃO E O RESPEITO PELOS MORTOS
1. Quem votar sem ter direito de voto ou o fizer mais de uma vez relativamente
ao mesmo acto eleitoral é punido com pena de prisão até três anos ou com pena ARTIGO 194º
de multa. (Falsificação do estado civil)
2. Na mesma pena incorre quem permitir, dolosamente, a pratica dos factos 1. Quem fizer ou omitir declarações em que se baseie o registo de actos civis com
descritos no número anterior. a intenção de alterar, privar ou encobrir o estado civil ou a posição jurídica familiar
3. A tentativa é punível. doutra pessoa, é punido com pena de prisão até dois anos ou com pena de multa.
2. Na mesma pena incorre o funcionário que efectuar o registo de tais factos,
ARTIGO 190º sabendo-os não verdadeiros.
(Fraude no escrutínio)
ARTIGO 195º
Quem, por qualquer modo, viciar a contagem dos votos no acto de apuramento
(No cumprimento de obrigação alimentar)
ou publicação, dos resultados eleitorais é punido com pena de prisão de um a cinco
anos. Quem estiver obrigado a prestar alimentos, tenha condições de o fazer e deixar
de cumprir a obrigação de maneira a colocar cm perigo a satisfação das necessidades
ARTIGO 191º
fundamentais do alimentando, é punido com pena de prisão até três anos ou com
pena de multa, mesmo que o auxílio prestado por outrem afaste o referido perigo.
(Recusa de cargo eleitoral)
2. O procedimento criminal depende de queixa.
Quem for nomeado para fazer parte das mesas das assembleias de votos e,
injustificadamente, recusar assumir ou abandonar essas funções, é punido com ARTIGO 196º
pena de prisão até seis meses ou com pena de multa. (Subtracção de menor)
1. Quem subtrair ou se recusar a entregar menor à pessoa a quem estiver
confiada a sua guarda ou determinar o menor a fugir, é punido com prisão até três
68 anos ou com pena de multa. 69
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal

2. Se os factos descritos no número anterior forem praticados com violência ou 2. É equiparada à falsificação de notação técnica a acção perturbadora sobre
qualquer outra ameaça significativa, o limite máximo da pena é aumentada de um aparelhos técnicos ou automáticos por meio da qual se influenciem os resultados
terço. da notação.
3. O procedimento criminal depende de queixa. 3. A tentativa é punível.

ARTIGO 197º ARTIGO 200º


(Perturbação de exercício religioso) (Falsificação qualificada)
1. Quem, por meio de violência ou de ameaça grave perturbar ou impedir a 1. Se os factos referidos no nº l do artigo anterior respeitarem a documento
realização de actos de culto religioso, é punido com prisão até seis meses ou com autêntico ou com igual força, a testamento cerrado, a vale de correio, a letra de
pena de multa. câmbio, a cheque, outros documentos comerciais transmissíveis por endosso ou
2. Na mesma pena incorre quem profanar lugar ou objecto de culto ou veneração a notação técnica relativa à identificação, em parte ou todo, de veículos auto-
religiosa de forma a causar perturbação da tranquilidade pública. móveis, aeronaves ou barcos, o agente é punido com prisão de dois a oito anos.
3. O procedimento criminal depende de queixa. 2. Se os factos descritos no número anterior ou no nº l do artigo 193º, forem
praticados por funcionário, no exercício das suas funções, o agente é punido com
ARTIGO 198º prisão de dois a oito anos.
(Perturbação de cerimónia fúnebre)
1. Quem, por meio de violência ou ameaça grave, perturbar ou impedir a ARTIGO 201º
realização de cerimónia fúnebre, é punido com prisão até seis meses ou com pena (Uso de documento de identificação alheia)
de multa. Quem, com intenção de causar prejuízo a outra pessoa ou ao Estado, utilizar
2. Na mesma pena incorre quem profanar lugar ou objectos destinados ao documento de identificação de que é titular outra pessoa, é punido com pena de
cerimonial fúnebre ou profanar o cadáver. prisão até seis meses ou com pena de multa.
3. O procedimento criminal depende de queixa.
ARTIGO 202º
CAPÍTULO II (Falsificação por funcionário)
FALSIFICAÇÕES O funcionário que, no exercício das suas funções:
a) Omitir facto que o documento a que a lei atribuir fé pública se destina a
ARTIGO 199º certificar ou autenticar; ou
(Falsificação de documentos ou notação técnica) b) Intercalar acto ou documento em protocolo, registo ou livro oficial sem
1. Quem, com intenção de causar prejuízo a outra pessoa ou ao Estado, ou de cumprir as formalidades legais, com intenção de causar prejuízo a outra pessoa ou
obter para si ou para outra pessoa benefício ilegítimo: ao Estado, ou de obter para si ou para outra pessoa benefício ilegítimo;
a) Fabricar documentos, ou notação técnica falsos, falsificar ou alterar docu- é punido com pena de prisão até quatro anos.
mento ou abusar da assinatura de outra pessoa para elaborar documento falso;
b) Fizer constar falsamente de documento ou notação técnica facto juridicamente TÍTULO VI
DOS CRIMES CONTRA A PAZ E A ORDEM PÚBLICA
relevante;
c) Atestar falsamente, com base em conhecimentos profissionais, técnicos ou
ARTIGO 203º
científicos, sobre o estado ou qualidade física ou psíquica de pessoa, animais ou
(Organização terrorista)
coisas; ou
d) Usar qualquer dos documentos ou notações técnicas referidos nas alíneas 1. Quem promover, fundar, financiar, chefiar ou dirigir grupo, organização ou
anteriores, fabricado ou falsificado ou emitido por outrem; associação terrorista, é punido com pena de prisão de cinco a vinte anos.
é punido com pena de prisão até três anos ou com pena de multa. 2. Considera-se grupo, organização ou associação terrorista todo o agrupamento
70 de duas ou mais pessoas que, actuando concertadamente, visam prejudicar a 71
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal

integridade ou a independência nacionais, impedir, alterar ou subverter o funciona- ARTIGO 207º


mento das instituições do Estado previstas na Constituição, forçar a autoridade (Associação criminosa)
pública a praticar um acto, a abster-se de o praticar ou a tolerar que se pratique, 1. Quem promover ou fundar grupo, organização ou associação cuja finalidade
ou a intimidar certas pessoas, grupo de pessoas ou a população em geral mediante ou actividade seja dirigida a prática de crimes, é punido com pena de prisão de três
a prática de crime. a dez anos.
3. Quem aderir ao grupo, organização ou associação terrorista ou de qualquer 2. Quem aderir, apoiar ou participar em qualquer das actividades de tais grupos,
outra forma ajudar a executar ou executar os actos referidos no número anterior, é punido com a pena de um a seis anos especialmente atenuada se as circunstâncias
é punido com prisão de três a quinze anos. justificarem.
4. Quem praticar actos preparatórios da constituição de grupo, organização ou 3. Quem chefiar ou dirigir os grupos referidos nos números anteriores, é punido
associação terrorista, é punido com pena de prisão de um a dez anos. com pena de prisão de dois a oito anos.

ARTIGO 204º ARTIGO 208º


(Tomada de refém) (Instigação à pratica de crime)
1. Quem para realizar qualquer das finalidades descritas no artigo anterior, pela 1. Quem, publicamente e por qualquer meio, incitar à prática de um crime, é
violência ou ameaça de violência, privar outra pessoa da liberdade a mantiver, punido com pena de prisão até dois anos ou com pena de multa.
contra vontade, em determinados locais ou a impedir de livremente a abandonar 2. Quem, também publicamente, elogiar ou recompensar quem tiver praticado
ou contactar com outra pessoa, é punido com pena de prisão de dez anos a vinte algum crime de modo a que, com tal conduta, incite à prática de idênticos crimes,
e cinco anos. é punido com prisão até dois anos ou com pena de multa.
2. Os actos preparatórios são punidos com prisão de um a dez anos. 3. Se no caso dos números anteriores vier a ser praticado o crime cuja prática
3. Se o sujeito passivo da conduta descrita no nº l for titular de algum órgão de o agente tinha instigado, a pena aplicável, se outra mais grave lhe não corresponder
soberania a pena de prisão é de cinco a vinte anos.
por força de disposição legal, é de um a cinco anos de prisão.
ARTIGO 205º
ARTIGO 209º
(Desvio ou tomada de navio ou aeronave)
(Atentado contra a saúde pública)
1. Quem se apoderar ou desviar da sua rota normal navio ou aeronave, é punido
1. Quem colocar à venda, administrar ou ceder por qualquer forma a outra
com pena de prisão de dois a doze anos.
pessoa produtos alimentares ou farmacêuticos deteriorados e susceptíveis de pôr
2. Se o navio ou aeronave transportar pessoas na altura em que forem praticados
em perigo a vida, é punido com prisão de um a dez anos.
os factos descritos no número anterior a pena de prisão é de cinco a quinze anos.
2. Se sobrevier a morte por causa do consumo de tais produtos, a pena de prisão
3. Se da conduta referida nos números anteriores resultar perigo grave para a
é agravada de um terço nos seus limites.
vida das pessoas a pena de prisão é de cinco a vinte anos.
ARTIGO 210º
ARTIGO 206º
(Armas proibidas) (Proibição de comercialização)
1. Quem, fora das prescrições legais, fabricar, importar, transportar, vender ou 1. Quem, sem estar habilitado, vender, administrar ou ceder por qualquer
ceder a outrem armas de fogo, armas químicas, munições para aquelas armas ou forma, habitualmente, a outras pessoas, produtos farmacêuticos ou outros cujos
qualquer tipo de explosivo, é punido com prisão até três anos ou com pena de multa. comércio e prescrição sejam reservados a profissionais da saúde, é punido com
2. Quem praticar os factos descritos no número anterior relativamente a armas pena de prisão até três anos ou com multa.
de guerra, é punido com prisão de dois a oito anos. 2. Na mesma pena incorre quem, sem estar habilitado ao exercício profissional
3. A simples detenção porte ou uso de arma de fogo em que o agente não esteja de actos médicos os praticar de forma habitual.
legalmente autorizado, é punível com pena de prisão até um ano ou com pena de 3. Se em consequência da prática dos factos descritos no número anterior
multa. resultar perigo para vida doutra pessoa, a pena é de um a cinco anos de prisão.
72 73
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal

ARTIGO 211º integridade do território nacional, como forma de submissão ou entrega à soberania
(Atentado contra a segurança dos transportes) estrangeira, é punido com pena de prisão de dez a vinte anos.
1. Quem praticar qualquer facto adequado a provocar a falta ou a diminuição
da segurança em meio de transporte e, deste modo, vier a criar um perigo para a ARTIGO 216º
vida ou para a integridade física de outra pessoa, é punido com pena de prisão de (Serviço ou colaboração com forças armadas inimigas)
um a dez anos. 1. O cidadão guineense que colaborar com país ou grupos estrangeiro ou com
2. A negligência relativamente à conduta ou ao perigo referidos no número os seus representantes, ou que servir debaixo da bandeira do país estrangeiro
anterior, é punida com pena de prisão até três anos ou com pena de multa. durante guerra ou acção armada contra a Guiné-Bissau, é punido com pena de
prisão de cinco a vinte anos.
ARTIGO 212º 2. Os actos preparatórios relativos aos factos descritos no número anterior, são
(Condução perigosa) punidos com pena de prisão de dois a doze anos.
1. Quem conduzir qualquer veículo em via pública e, por não estar em con- 3. Quem, sendo guineense ou residente no território nacional, praticar actos
dições de o fazer em segurança ou por violar grosseiramente as regras de circulação adequados a ajudar ou facilitar qualquer acção armada ou guerra contra a Guiné-
rodoviária, criar perigo para a vida ou para a integridade física de outrem, é punido -Bissau por país ou grupo estrangeiro, é punido com pena de prisão de cinco a
com prisão de um a cinco anos. quinze anos.
2. É correspondentemente aplicável o disposto no nº 2 do artigo anterior, sendo
a pena aplicável de prisão até um ano ou multa. ARTIGO 217º
(Sabotagem contra a defesa nacional)
ARTIGO 213º Quem destruir, danificar ou tornar não utilizável, total ou parcialmente:
(Participação em motim) a) Obras ou materiais próprios ou afectos às forças armadas;
1. Quem tomar parte em motim público, durante o qual forem cometidas b) Vias ou meios de comunicação ou de transporte;
colectivamente violências contra pessoas ou propriedades, será punido com c) Quaisquer outras instalações relacionadas com comunicações ou transportes;
prisão de seis meses até um ano, se outra pena mais grave lhe não couber pela d) Fábricas ou depósitos, com intenção de prejudicar ou colocar em perigo a
participação no crime cometido. defesa nacional;
2. A pena de prisão será de um a três anos, se o agente provocou ou dirigiu o é punido com pena de prisão de cinco a quinze anos.
motim.
3. Os limites mínimos e máximos de pena elevar-se-ão no caso dos números ARTIGO 218º
anteriores ao dobro se o motim foi armado. (Campanha contra esforço pela paz)
Quem, sendo guineense ou residente no território nacional, em tempo de
ARTIGO 214º preparação ou de guerra, difundir por qualquer meio, de modo a tornar público,
(Exercício de direitos políticos) rumores ou afirmações, próprias ou alheias, que saiba serem, total ou parcialmente,
Quem impedir, por violência ou ameaça, a outrem de exercer os seus direitos falsas, para prejudicar o esforço pela paz da Guiné-Bissau ou para auxiliar o
políticos, é punido com pena de prisão de três meses até um ano. inimigo estrangeiro, é punido com prisão de dois a oito anos.

TÍTULO VII ARTIGO 219º


DOS CRIMES CONTRA A SEGURANÇA DO ESTADO (Violação de segredo do Estado)
1. Quem, pondo em perigo o interesse do Estado guineense relativo à sua
ARTIGO 215º segurança exterior ou à condução da sua política externa, transmitir, tornar
(Traição à Pátria) acessível a pessoa não autorizada ou tornar público facto, documento, plano,
Quem, por meio de violência, ameaça de violência, usurpação ou abuso de objecto, conhecimento ou qualquer outra informação que devessem, por causa
funções de soberania, impedir ou tentar impedir o exercício da soberania nacional daquele interesse, permanecer secretos em relação a país estrangeiro, é punido com
74 no território ou em parte do território da Guiné-Bissau ou puser em perigo a pena de prisão de um mês a dez anos. 75
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal

2. Quem colaborar com governo ou grupo estrangeiro com intenção de praticar ARTIGO 223º
os factos referidos no número anterior ou recrutar ou auxiliar outra pessoa encarre- (Crime contra pessoa que goze de protecção internacional)
gada de os praticar, é punido com a mesma pena do número anterior. 1. Quem praticar qualquer crime contra pessoa que goze de protecção inter-
3. Se o agente que praticar os factos descritos nos números anteriores exercer nacional quando esta se encontrar no desempenho de funções oficiais na Guiné-
qualquer função política, pública ou militar que, pela sua natureza, devesse inibi- -Bissau, é punido com a pena correspondente ao crime agravada de um terço nos
-lo de praticar tais factos mais fortemente do que ao cidadão comum, é punido com seus limites, sem prejuízo do disposto nos artigos 41º e 44º, e desde que haja
pena de prisão de um a quinze anos. reciprocidade no tratamento penal de tais factos quando as vítimas representarem
outros Estados.
ARTIGO 220º 2. Gozam de protecção internacional para o efeito do disposto no presente
(Infidelidade diplomática) artigo:
Quem, representando oficiosamente o Estado guineense, com intenção de a) Chefe de Estado, Chefe do Governo ou Ministro dos Negócios Estrangeiros
prejudicar direitos ou interesses nacionais: e membros de família que os acompanhem;
a) Conduzir negócio de Estado com governo estrangeiro ou organização inter- b) Representante ou funcionário de Estado estrangeiro ou agente de organização
nacional; ou internacional que, no momento do crime, gozam de protecção especial segundo
b) Assumir compromissos em nome da Guiné-Bissau sem para isso estar o direito internacional e família que os acompanhem.
devidamente autorizado;
é punido com pena de prisão de dois a doze anos. ARTIGO 224º
(Ultraje de símbolos nacionais)
ARTIGO 221º Quem, publicamente, por palavras, gestos ou divulgações de escrito, ou por
(Alteração do Estado de direito) outro meio de comunicação com público, ultrajar a República, a bandeira ou hino
1. Quem, por meio de violência ou ameaça de violência, tentar destruir, alterar nacional, as armas ou emblemas da soberania guineense ou faltar ao respeito que
ou submeter o Estado de direito constitucionalmente estabelecido, é punido com lhe é devido, é punido com prisão até três anos.
prisão de cinco a quinze anos.
2. Se o facto anterior for praticado por meio de violência armada, o agente é TÍTULO VIII
punido com prisão de cinco a quinze anos. DOS CRIMES CONTRA A REALIZAÇÃO DA JUSTIÇA
3. O incitamento público ou a distribuição de armas para a prática dos factos
referidos nos números anteriores é, respectivamente, punido com pena de corres- ARTIGO 225º
pondência à tentativa. (Falsidade por parte de interveniente em acto processual)
1. Quem, num processo judicial perante tribunal ou funcionário competente
ARTIGO 222º como meio de prova, declaração, informações, relatórios ou quaisquer outros
(Atentado contra o Chefe de Estado) documentos, prestar depoimento de parte, intervier como assistente, testemunha,
1. Quem atentar contra a vida, a integridade física ou a liberdade do Chefe de perito técnico, tradutor ou interprete ou prestar declarações à identidade, ante-
Estado, de quem constitucionalmente o substituir ou de quem tenha sido eleito cedente criminais, na qualidade de suspeito, prestando declarações e informações
para o cargo, mesmo antes de tomar posse, é punido com pena de prisão de cinco falsas ou elaborando relatório ou quaisquer outros documentos falsos, é punido
a quinze anos, se ao facto não corresponder pena mais grave por força de outra com prisão até quatro anos.
disposição legal. 2. Na mesma pena incorre quem, sem justa causa, se recusar a prestar declarações
2. Em caso de consumação de crime contra a vida, a integridade física ou a e informações ou a elaborar relatórios ou quaisquer outros documentos.
liberdade, o agente é punido com a pena correspondente ao crime praticado 3. Se o agente praticar os factos referidos nos números anteriores depois de
agravado de um terço nos seus limites, sem prejuízo do disposto nos artigos 41º advertido das consequências penais a que se expõe, a pena é de um a cinco anos
e 44º. de prisão.
76 77
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal

4. Se, em consequência das condutas anteriormente descritas alguém for privado 2. Se a falsa imputação se referir a ilícito contra-ordenacional, ou disciplinar
da liberdade, o agente é punido com prisão de dois a oito anos. a pena será especialmente atenuada.
3. Se os factos referidos nos números anteriores forem dolosamente promovidos
ARTIGO 226º por algum funcionário encarregado de instaurar o respectivo procedimento, as
(Arrependimento) penas aplicáveis são agravadas de um terço nos seus limites.
O arrependimento e a retracção do agente que tiver praticado algum dos factos
descritos no artigo anterior antes da falsidade ter sido tomada em conta na decisão ARTIGO 231º
ou ter causado prejuízo a outra pessoa, equivale à desistência. (Não promoção)
1. Quem tendo conhecimento da prática de um crime público por determinada
ARTIGO 227º pessoa e, estando obrigado a participá-lo, não o fizer, é punido com a pena cor-
(Suborno) respondente ao crime que encobriu, especialmente atenuada.
Quem convencer ou tentar convencer outra pessoa, através de dádiva ou 2. Não é de aplicar a atenuação especial referida no número anterior se o crime
promessa de vantagem patrimonial ou não patrimonial, praticar qualquer dos encoberto for algum dos regulados.
factos referidos no artigo 204º, sem que este venha a ser praticado, é punido com
pena de prisão até três anos ou com multa. ARTIGO 232º
(Prevaricação)
ARTIGO 228º 1. O funcionário que em qualquer fase dum processo jurisdicional, com
(Coacção sobre magistrado) intenção de beneficiar ou prejudicar outra pessoa, praticar qualquer acto no âmbito
1. Quem, aproveitando-se do facto de estar investido em cargo de natureza dos poderes funcionais de que é titular, conscientemente e contra direito, é punido
política, púbica, militar ou policial ameaçar algum magistrado de qualquer mal com pena de prisão de um a seis anos.
ou por qualquer outro meio actuar de forma a impedi-lo de exercer livremente as 2. Se do facto descrito no número anterior resultar a privação da liberdade de
suas funções, é punido com prisão de dois a dez anos. uma pessoa ou se o acto se traduzir numa situação de prisão ou detenção ilegal,
2. Se, em consequência da conduta descrita no número anterior, o magistrado a pena é de dois a dez anos de prisão.
omitir ou praticar acto em violação de lei expressa e de que resulte prejuízo para
terceiros, a pena é de três a doze anos de prisão. ARTIGO 233º
(Prevaricação do advogado ou solicitador)
ARTIGO 229º
1. O advogado ou solicitador que intencionalmente prejudicar causa entregue
(Obstrução à actividade jurisdicional)
ao seu patrocínio, é punido com pena de prisão até cinco anos.
1. Quem, por qualquer meio, se opuser, dificultar ou impedir o cumprimento 2. O advogado ou solicitador que, na mesma causa, advogar ou exercer
ou execução de alguma decisão judicial transitada em julgado, é punido com pena solicitadoria relativamente a pessoas cujos interesses estejam em conflito, com
de prisão de um a cinco anos. intenção de actuar em benefício ou prejuízo de algum deles, é punido com prisão
2. Se o agente que praticar os factos descritos no número anterior for algum dos de um a cinco anos.
referidos no artigo 219º, nº 3, a pena é de dois a dez anos de prisão.
ARTIGO 234º
ARTIGO 230º
(Simulação do crime)
(Denúncia caluniosa)
1. Quem, sem o imputar a pessoa determinada, denunciar crime ou fizer criar
1. Quem, por qualquer meio, perante autoridade ou publicamente, com a
suspeita da sua prática à autoridade competente, sabendo que se não verificou, é
consciência da falsidade da imputação, denunciar ou lançar sobre determinada
punido com pena de prisão até dois anos ou com multa.
pessoa a suspeita da prática de um crime, com a intenção de que contra ele se
2. Se o facto respeitar a contravenção, contra-ordenação ou ilícito disciplinar,
instaure procedimento criminal, é punido com pena de prisão até três anos ou com
o agente é punido com pena de prisão até seis meses ou com multa.
78 multa. 79
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal

3. Se os factos descritos nos números anteriores forem praticados por fun- ARTIGO 239º
cionários encarregues de instaurar o respectivo procedimento, as penas aplicáveis (Desobediência)
são agravadas de um terço nos seus limites. 1. Quem, depois de advertido de que a sua conduta é susceptível de gerar
responsabilidade criminal, faltar ou persistir na falta à obediência devida a ordem
ARTIGO 235º ou mandado legítimos, regularmente comunicados e provenientes de entidade
(Favorecimento pessoal) competente, é punido com pena de prisão até cinco anos ou com multa.
1. Quem, total ou parcialmente, impedir prestar ou iludir actividade probatória 2. Nos casos em que a disposição legal qualificar o facto como desobediência
ou preventiva de autoridade competente, com intenção ou com consciência de qualificada, a pena é de três anos de prisão ou multa.
tentar que outra pessoa, que praticou um crime seja submetida a pena ou medida 3. Desobediência a concretas proibições ou interdições cominadas em sentença
de segurança, é punido com pena de prisão até três anos ou com multa. criminal como pena acessória ou medidas de segurança não privativa de liberdade,
2. A tentativa é punível. é punível com a pena referida no nº l.
3. Se o favorecimento for praticado por funcionário que intervenha ou tenha
competência para intervir no processo ou que seja encarregue de executar pena ou ARTIGO 240º
medida de segurança ou para ordenar a má execução, a pena é de um a cinco anos (Tirada de presos)
de prisão. 1. Quem, por meios ilegais, libertar ou, por qualquer meio, auxiliar a evasão
de pessoa legalmente privada da liberdade, é punido com prisão de um a seis anos.
ARTIGO 236º 2. Se os factos descritos forem praticados com uso de violência, utilizando
(Não punibilidade do favorecimento) armas ou com a colaboração de mais de duas pessoas, a pena é de prisão de um a
O agente que procurar com a prática do facto evitar que contra si seja aplicada oito anos.
ou executada pena ou medida de segurança ou que agir para benefício do cônjuge,
ascendente, descendente, parente até ao 2º grau, não é punível. ARTIGO 2 41º
(Evasão)
ARTIGO 237º 1. Quem encontrando-se legalmente privado da liberdade, se evadir, é punido
(Violação do segredo de justiça) com pena de prisão até três anos.
Quem, sem justa causa, tornar público o teor de acto processual penal abrangido 2. Se a evasão for conseguida por algum dos meios descritos no nº 2 do artigo
pelo segredo de justiça ou em que tenha sido decidido excluir a publicidade, é anterior, a pena é de um a cinco anos de prisão.
punido com pena de prisão de seis meses a três anos ou com pena de multa.
ARTIGO 242º
TÍTULO IX (Auxílio de funcionário à evasão)
DOS CRIMES CONTRA A AUTORIDADE PÚBLICA 1. O funcionário que auxilie na prática de algum dos factos descritos nos artigos
233º e 234º, é punido com as penas aí indicadas agravadas de um terço nos seus
ARTIGO 238º limites.
(Obstrução à autoridade pública) 2. Se o funcionário devesse exercer a guarda ou vigilância sobre o evadido e,
1. Quem, por meio de violência ou ameaça grave contra funcionário ou agente mesmo assim, tiver auxiliado naqueles factos, a pena é agravada de um quarto nos
de forças militares, militarizados ou policiais, se opuser à prática de acto relativo seus limites.
ao exercício das suas funções ou constranger à prática de acto contrário aos seus 3. No caso do número anterior, se a evasão for devida a negligência grosseira
deveres, é punido com pena de prisão de um a seis anos. por parte do funcionário encarregue da guarda ou da vigilância do evadido, a pena
2. Se o acto referido no número anterior for efectivamente praticado ou im- é de prisão até três anos ou multa.
pedido de ser praticado, a pena é de um a dezoito anos de prisão.
80 81
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal

ARTIGO 243º TÍTULO X


(Motim de presos) DOS CRIMES COMETIDOS NO EXERCÍCIO DAS FUNÇÕES PÚBLICAS
1. Quem, encontrando-se legalmente privado da liberdade, concertada e em
comunhão de esforços com outra pessoa nas mesmas circunstâncias, atacarem ou ARTIGO 247º
ameaçarem com violência, quem estiver encarregado da sua vigilância ou guarda, (Corrupção passiva)
para conseguirem a sua evasão ou a de terceiro, ou para obrigarem a prática de acto 1. O funcionário que por si, por interposta pessoa com o seu consentimento ou
ou à abstenção da sua prática, é punido com prisão de um a oito anos. autorização, solicitar ou aceitar, para si ou para terceiro, sem que lhe seja devida,
2. Se forem conseguidos os intentos de evasão própria ou alheia, a pena é de vantagem patrimonial ou não patrimonial, ou a sua promessa, como contrapartida
dois a dez anos de prisão. de acto ou omissão contrários aos deveres do cargo, é punido com pena de prisão
de dois a dez anos.
ARTIGO 244º 2. Se o facto não for executado, o agente é punido com pena até três anos ou
(Usurpação de funções públicas) com pena de multa.
Quem: 3. Se os factos descritos no nº 1 do presente artigo o forem como contrapartida
a) Para tal não estiver autorizado, exercer funções ou praticar actos próprios de de acto ou de omissão não contrárias aos deveres do cargo, o funcionário é punido
funcionários, de comando militar ou de força policial, arrogando-se, expressa ou com pena de prisão até três anos ou com multa.
tacitamente, essa qualidade; 4. Se o agente, antes da prática do facto, voluntariamente repudiar o oferecimento
b) Continuar no exercício de funções públicas, depois de lhe ter sido oficial- ou promessa que aceitar, ou restituir a vantagem, ou tratando-se de coisa fungível,
mente notificada demissão ou suspensão de funções; o seu valor, não será punido.
é punido com pena de prisão até quatro anos.
ARTIGO 248º
ARTIGO 245º (Corrupção activa)
(Desencaminho ou destruição de objectos sob poder público) 1. Quem por si, por interposta pessoa, com o seu consentimento ou ratificação,
Quem destruir, danificai ou inutilizar, total ou parcialmente, ou por qualquer der ou prometer a funcionário, ou a terceiro com conhecimento daquele, vantagem
forma, subtrair ao poder público, a que está sujeito, documento ou outro objecto patrimonial ou não patrimonial que ao funcionário não seja devida, é punido com
móvel, bem como coisa que tiver sido arrestada, apreendida ou objecto de pena de prisão de um mês a cinco anos.
providência cautelar, é punido com pena de prisão de um a seis anos, se pena mais 2. Se o fim for o indicado no artigo 242º, nº 3, o agente é punido com pena de
grave lhe não couber por força de outra disposição legal. prisão até dois anos ou com pena de multa.

ARTIGO 246º ARTIGO 249º


(Quebra de marcos e selos) (Peculato)
Quem abrir, romper ou inutilizar, total ou parcialmente, marcas ou selos, 1. O funcionário que ilegitimamente se apropriar, em proveito próprio ou de
apostos legitimamente por funcionário competente, para identificar ou manter outra pessoa, de dinheiro ou qualquer coisa móvel, pública ou particular, que lhe
inviolável qualquer coisa, ou para certificar que sobre esta recaiu arresto apreensão tenha sido entregue, esteja na sua posse ou lhe seja acessível em razão das suas
ou providência cautelar, é punido com pena de prisão de três anos ou com pena funções, é punido com pena de prisão de dois a doze anos, se pena mais grave lhe
de multa. não couber por força de outra disposição legal.
2. Se o funcionário der de empréstimo, empenhar ou, de qualquer forma,
onerar valores ou objectos referidos no nº l, é punido com pena de prisão até três
anos ou com pena de multa, se pena mais grave lhe não couber por força de outra
disposição legal.

82 83
Colectânea de Legislação de Direito Penal Cargos Políticos

ARTIGO 250º
(Peculato de uso)
O funcionário que fizer uso ou permitir que outra pessoa faça uso para fins Lei nº 14/97, de 2 de Dezembro*
alheios àqueles a que se destinem, de veículos ou de outras coisas obter, para si ou
Cargos Políticos
para terceiro, benefício ilegítimo ou causar prejuízo a outra pessoa, é punido com
prisão até três anos ou com multa, se pena mais grave, lhe não couber por força
A responsabilização dos titulares de cargos políticos é um dos elementos
de outra disposição legal.
intrínsecos do princípio democrático. Por isso a Constituição da República da
Guiné-Bissau, preceitua que “os titulares de cargos políticos respondem política
e criminalmente pelos actos e omissões que pratiquem no exercício das suas
funções”.
Os crimes praticados por titulares de cargos políticos no exercício das suas
funções constituem a infracção de bens ou valores particulares relevantes da ordem
constitucional, cuja promoção e defesa constituem dever funcional dos titulares
de cargos políticos. Por isso existe uma conexão entre essa responsabilidade
criminal e a responsabilidade política, transformando-se a censura criminal numa
censura política, com as necessárias consequências em relação ao desempenho do
cargo. Posto que a responsabilidade criminal do titular de cargo político é mais
elevada do que a responsabilidade criminal comum, pelo facto do agente dispor
de uma certa liberdade de conformação e gozar de uma relação de confiança
pública. Daí a existência de especificidades quanto ao tipo de penas e seus efeitos.
Na Guiné-Bissau a necessidade de consolidação e aperfeiçoamento do sistema
democrático impõe que se torne efectiva essa responsabilidade que se traduz quer
no dever de prestar contas, quer no sancionamento da condução errada ou ilícita
dos negócios públicos.
Assim:
A Assembleia Nacional Popular decreta, nos termos do artigo 61º e alínea c)
do nº 1 do artigo 85º, ambos da Constituição da República, o seguinte:

CAPÍTULO I
DOS CRIMES DE RESPONSABILIDADE DE TITULAR
DE CARGO POLÍTICO EM GERAL

ARTIGO 1º
(Âmbito)
A presente lei determina os crimes de responsabilidade que os titulares de
cargos políticos possam cometer no exercício das suas funções, e por causa delas,
as sanções que lhes são aplicáveis e os respectivos efeitos.

*
84 Suplemento ao B.O. nº 48, de 2 de Dezembro de 1997. 85
Colectânea de Legislação de Direito Penal Cargos Políticos

ARTIGO 2º ARTIGO 6º
(Definição genérica) (Atenuação especial)
Consideram-se crimes de responsabilidade praticados por titulares de cargos As penas aplicáveis aos crimes de responsabilidade cometidos por titular de
políticos, além dos crimes previstos na presente lei, os previstos na lei penal geral cargo político no exercício das suas funções poderá ser especialmente atenuada,
com referência expressa ao exercício de funções políticas ou os que se prove terem para além dos casos previstos na lei geral, quando se mostre que o bem ou valor
sido praticados com flagrante desvio ou abuso da função ou com grave violação sacrificados o foram para salvaguarda de outros constitucionalmente relevantes ou
dos deveres inerentes. quando for diminuto e grau de responsabilidade funcional do agente e não haja
lugar à exclusão da ilicitude ou da culpa nos termos gerais.
ARTIGO 3º
(Cargos políticos) CAPÍTULO II
Para efeitos da presente lei, consideram-se cargos políticos, o exercício de DOS CRIMES DE RESPONSABILIDADE DE TITULARES
funções de: DE CARGO POLÍTICO EM ESPECIAL
a) Presidente da República;
b) Presidente da Assembleia Nacional Popular; ARTIGO 7º
c) Deputado à Assembleia Nacional Popular; (Traição à Pátria)
d) Membros do Governo; O titular de cargo político que, com flagrante desvio ou abuso das suas funções
e) Presidente do Supremo Tribunal de Justiça; ou com grave violação dos inerentes deveres, ainda que por meio não violento nem
f) Procurador Geral da República; de ameaça de violência, tentar separar ou entregar a totalidade ou uma parte do
g) Presidente do Tribunal de Contas; território da República da Guiné-Bissau a País estrangeiro como forma de sub-
h) Membro de Órgão representativo de Autarquias Locais; missão, prejudicar ou puser em perigo a independência do País, será punido com
i) Membro da Inspecção Superior Contra a Corrupção; prisão de 10 a 20 anos.
j) Magistrado Judicial;
k) Embaixador; ARTIGO 8º
l) Governador de Região; (Atentado contra a Constituição da República)
m) Director Geral. 1. O titular de cargo político que no exercício das suas funções atente contra
a Constituição da República, visando alterá-la ou suspendê-la, por forma violenta
ARTIGO 4º ou por recurso a meios que não os democráticos nela previstos, será punido com
(Punibilidade da tentativa) prisão de 5 a 15 anos.
Nos crimes previstos na presente lei a tentativa é punível independentemente 2. Se o efeito do crime previsto no número anterior se não tiver seguido, a pena
da medida legal da pena, sem prejuízo do disposto no artigo 28º do Código Penal. será de 2 a 8 anos.

ARTIGO 5º ARTIGO 9º
(Agravação especial) (Atentado contra o Estado de Direito)
As penas aplicáveis aos crimes previstos na lei penal geral, se cometidos por 1. O titular de cargo político que com flagrante desvio ou abuso das suas funções
titular de cargos políticos no exercício das suas funções e quando qualificados ou com grave violação de deveres inerentes, ainda que por meio não violento nem
como crimes de responsabilidade nos termos da presente lei serão agravadas de um de ameaça de violência tentar destruir, alterar ou subverter o estado de direito
quarto dos seus limites mínimo e máximo. constitucionalmente estabelecido, nomeadamente os direitos, liberdades e garantias
estabelecidas na Constituição da República da Guiné-Bissau, na Declaração
Universal dos Direitos do Homem e na Carta Africana dos Direitos do Homem e
dos Povos, será punido com pena de prisão de 5 a 15 anos.
86 87
Colectânea de Legislação de Direito Penal Cargos Políticos

2. Se o efeito do crime previsto no número anterior se não tiver seguido, a pena ARTIGO 13º
será de 2 a 8 anos. (Desacatamento ou obstrução à actividade jurisdicional)
O titular de cargo político que, no exercício das suas funções se opuser, recusar
ARTIGO 10º acatamento ou impedir o cumprimento ou execução de decisão judicial transitada
(Infidelidade diplomática) em julgado, é punido com prisão até 18 meses.
1. O titular de cargo político que, representando a República da Guiné-Bissau,
com intenção de prejudicar direitos ou interesses nacionais, conduzir negócio de ARTIGO 14º
Estado com Governo ou Organismo Internacional ou assumir compromissos em (Denegação de justiça)
nome da Guiné-Bissau sem que para isso esteja devidamente autorizado, é punido O titular de cargo político que, no exercício das suas funções, se recusar a
com pena de prisão de 2 a 12 anos. aplicar o direito ou a administrar a justiça que nos termos das suas atribuições e
competências, será punido com prisão até 18 meses e multa até 50 dias.
ARTIGO 11º
(Suspensão ou restrição ilícita de direitos, liberdades e garantias) ARTIGO 15º
1.O titular de cargo político que, no exercício das suas funções ou com grave (Prevaricação)
violação dos inerentes deveres, suspender o exercício de direitos, liberdades e O titular de cargo político que conscientemente conduzir ou decidir contra
garantias não susceptíveis de suspensão ou sem recurso legítimo aos estados de direito um processo em que intervenha no exercício das suas funções, com
sítio ou de emergência, ou impedir ou restringir aquele exercício, com violação intenção de, por essa forma, prejudicar ou beneficiar alguém, será punido com
grave das regras de execução do estado declarado, será condenado a prisão de 2 prisão de 2 a 8 anos.
a 8 anos.
2. Se os actos previstos no número anterior forem praticados com uso de ARTIGO 16º
violência ou ameaça de violência, a pena será de prisão de 2 a 4 anos. (Violação de normas de execução orçamental)
O titular de cargo político que, no exercício das suas competências de direcção,
ARTIGO 12º conscientemente, viole normas de execução orçamental:
(Coação contra órgãos constitucionais) a) Contraindo encargos não permitidos por lei;
1. O titular e cargo político que, por meio não violento e sem ameaça de b) Autorizando pagamento sem o visto do tribunal de contas legalmente previsto;
violência, constranger ou obstacular o livre exercício de atribuições de Órgãos de c) Autorizado ou promovendo operações de tesouraria ou alterações orçamentais
Soberania ou por qualquer meio actuar de forma a impedi-lo de exercer livremente proibidas por lei;
as suas funções, será punido com pena de prisão de 2 a 8 anos, se ao facto não d) Utilizando dotações ou fundos secretos, com violação das normas da
corresponder pena mais grave por força de outra disposição legal. universalidade e especificação legalmente previstas.
2. Quando os factos descritos no número anterior forem praticados contra Será punido com prisão até 18 meses se ao facto não corresponder outra pena
Órgão de Autarquia Local, a pena de prisão será de 1 a 5 anos. mais grave por força de outra disposição legal.
3. Se a coação referida no nº 1 do presente artigo for cometida contra Membros
ARTIGO 17º
de Órgãos de Soberania, a pena de prisão será de 1 a 5 anos e se praticada contra
Membros de órgãos de Autarquia Local, será de 6 meses a 3 anos. (Corrupção passiva para acto ilícito)
4. Se a coação referida no nº 1 for praticada contra magistrado, a pena será de 1. O titular de cargo político que no exercício das suas funções, por si ou
2 a 10 anos. interposta pessoa, com o seu consentimento ou ratificação, solicitar ou receber,
5. Se em consequência da conduta referida no número anterior, o Magistrado para si ou para o seu conjugue, parente ou afins até ao terceiro grau, sem que lhes
vier a omitir ou praticar acto em que violação de lei expressa e de resulte prejuízo sejam devidos, dinheiro, promessa de dinheiro, ou qualquer vantagem patrimonial
para terceiros, a pena será de 3 a 12 anos de prisão. ou não patrimonial. como contrapartida da prática de actos que impliquem
violação dos deveres do seu cargo ou omissão de acto que tenha o dever de praticar
88 e que, nomeadamente, consiste: 89
Colectânea de Legislação de Direito Penal Cargos Políticos

a) Em dispensa de tratamento de favor a pessoa, empresa, ou organização 3. A isenção de pena prevista no nº 1, só aproveitará ao agente de corrupção
determinada; activa se o mesmo voluntariamente aceitar o repúdio de promessa ou a restituição
b) Em violação de lei, através de intervenção em processo, tomada de decisão do dinheiro ou vantagem que houver feito ou dado.
ou participação em decisão de que resulte concessão de benefícios, subvenções,
recompensas, empréstimo, prémios, outorga de direitos, exclusão ou extinção de ARTIGO 21º
obrigações e adjudicação ou celebração de contratos. (Participação económica em negócio)
Será punido com prisão de 2 a 10 anos e multa de 100 a 200 dias. 1. O titular de cargo político que, com o propósito de obter, de forma ilícita,
2. Se o acto não for executado ou se não se verificar a omissão, a pena será de para si ou para terceiro, participação económica, lesar os interesses patrimoniais
prisão até 3 anos e multa até 100 dias. que, no todo ou em parte, lhe cumpra, em razão das suas funções, administrar,
fiscalizar, defender ou realizar, será punido com prisão de 1 a 5 anos e multa de
ARTIGO 18º 50 a 100 dias.
(Corrupção passiva para acto lícito) 2. O titular de cargo político que, de algum modo, receber vantagem patrimonial
O titular de cargo político que, no exercício das suas funções, por si ou inter- ilícita por consequência de um acto jurídico-civil concernente a interesses de que,
posta pessoa, com o seu consentimento ou rectificação, solicitar ou receber dinheiro, por virtude das suas funções e no momento do acto tenha, total ou parcialmente,
promessa de dinheiro ou qualquer vantagem patrimonial ou não patrimonial a que a causa, será punido com multa de 50 a 150 dias.
não tenha direito, para si ou para o seu cônjuge, parentes ou afins até ao terceiro 3. O titular de cargo político que, por qualquer forma, receber vantagem
grau, para a prática de acto ou omissão de acto não contrários aos deveres do seu económica por virtude de cobrança, arrecadação, liquidação ou pagamento que,
cargo e que caibam nas suas atribuições, será punido com prisão até 3 anos ou multa por força das suas funções esteja, total ou parcialmente, encarregado de fazer ou
até 100 dias. ordenar, desde que se não verificar prejuízo económico para o Estado, será punido
com multa de 50 a 150 dias.
ARTIGO 19º
(Corrupção activa) ARTIGO 22º
O titular de cargo político que, no exercício das suas funções, por si ou por (Peculato)
interposta pessoa, com o seu consentimento ou ratificação, der ou prometer a outro 1. O titular de cargo político que, no exercício das suas funções, em proveito
titular de cargo político, a funcionário ou aos cônjuges, parentes ou afins daqueles, próprio ou de terceiro, se apropriar ilicitamente de dinheiro ou qualquer outra
até ao terceiro grau, dinheiro ou outra vantagem patrimonial ou não patrimonial coisa móvel, pública ou particular, que lhe tenha sido entregue, esteja na sua posse
que não lhes sejam devidos, com prisão de 1 mês a 5 anos e multa de 100 a 200 ou lhe seja acessível em razão das suas funções, será punido com prisão de 2 a 12
dias. anos e multa até 150 dias, se pena mais grave lhe não couber por força de outra
disposição legal.
ARTIGO 20º 2. Se o titular de cargo político der de empréstimo, empenhar ou de qualquer
(Isenção de pena) forma onerar valores ou objectos referidos no nº 1, com a consequência de poder
1. O titular de cargo político que nos casos previstos nos artigos 17º e 18º, prejudicar o Estado ou o seu proprietário, será punido com prisão até 3 anos e
voluntariamente repudiar promessa ou oferecimento que tenha aceite, ou restituir multa até 80 dias.
o que ilegalmente tenha recebido antes de praticado o acto ou de consumada a 3. O titular de cargo político que der a dinheiro público um destino para uso
omissão, ficará isento de pena. público diferente daquele a que estiver legalmente afectado, será punido com
2. O infractor que nos casos previstos nos artigos 17º e 18º, participe o crime prisão até 18º meses ou multa de 20 a 50 dias, salvo caso devidamente justificado.
às autoridades competentes antes que qualquer outro co-infractor o tenha feito ou
ARTIGO 23º
antes que se tenha iniciado investigação oficial ou procedimento criminal, fica
isento de pena, sendo irrelevante a participação simultânea do facto. (Peculato por erro de outrem)
O titular do cargo político que no exercício das suas funções, mas aproveitando-
90 se de erro de outrem, receber, para si ou para terceiro, taxas, emolumentos ou 91
Colectânea de Legislação de Direito Penal Cargos Políticos

outras importâncias não devidas, ou superior às devidas, será punido com prisão 3. O procedimento criminal depende de queixa da entidade que superintenda,
até 3 anos ou multa até 150 dias. ainda que a título de tutela, no órgão de que o infractor seja titular, ou do ofendido,
salvo se esse for o Estado.
ARTIGO 24º
(Abuso de poderes) CAPÍTULO III
1. O titular de cargo político que abusar dos poderes ou violar os deveres DOS EFEITOS DAS PENAS
inerentes às suas funções, com o objectivo de receber, para si ou para terceiro,
benefício ilegítimo ou de causar prejuízo a outrem, nomeadamente ao Estado, será ARTIGO 28º
punido com prisão de 6 meses a 3 anos ou multa de 50 a 100 dias, se outra pena (Efeito das penas aplicadas ao Presidente da República)
mais grave não se lhe aplicar por força de outra disposição legal. A condenação definitiva do Presidente da República por crime de responsa-
2. Incorre nas penas previstas no número anterior o titular de cargo político que bilidade cometido no exercício das suas funções implica a destituição do cargo e
efectuar fraudulentamente concessões ou celebrar contratos em benefícios de a impossibilidade de reeleição, após verificação pelo Supremo Tribunal de Justiça
terceiro ou prejuízo de Estado. da ocorrência dos correspondentes pressupostos constitucionais legais.

ARTIGO 25º ARTIGO 29º


(Emprego de força pública contra a execução de lei ou de ordem legal) (Efeitos das penas aplicadas a outros titulares de cargos políticos
O titular de cargo político que, sendo competente, em razão das suas funções, de natureza electiva)
para requisitar ou ordenar o emprego de força pública, requisitar ou ordenar esse Perdem o mandato por virtude de condenação definitiva por crime de respon-
emprego para impedir a execução de alguma lei, de mandato regular da justiça ou sabilidade cometido no exercício das suas funções, os seguintes titulares de cargos
de ordem legal de alguma autoridade pública, será punido com prisão de 1 a 5 anos políticos:
e multa de 50 a 150 dias. a) Presidente da Assembleia Nacional Popular;
b) Deputado à Assembleia Nacional Popular;
ARTIGO 26º c) Membro de Órgão Representativo de Autarquia Local.
(Recusa de cooperação)
ARTIGO 30º
O titular de cargo político a quem. em razão das competências do seu cargo,
(Efeitos de pena aplicada ao Primeiro Ministro)
tenha sido solicitada cooperação, através de requisição legal da autoridade com-
petente para administração da justiça ou qualquer serviço público, se recusar a A condenação definitiva do Primeiro-Ministro por crime de responsabilidade
prestá-la, sem motivo legítimo, será punido com prisão de 3 meses a 1 ano ou multa cometido no exercício das suas funções implica a respectiva demissão pelo Presi-
de 50 a 100 dias. dente da República, bem como as consequências previstas na Constituição.

ARTIGO 31º
ARTIGO 27º
(Efeitos de pena aplicadas a outros titulares de cargos políticos
(Violação de segredo)
de natureza não electiva)
1.O titular de cargo político que sem estar devidamente autorizado, revelar
Implica de direito a respectiva demissão com as consequências constitucionais
segredo de que tenha tido conhecimento ou lhe tenha sido confiado no exercício
e legais a condenação definitiva por crime de responsabilidade no exercício das
das suas funções, com a intenção de obter, para si ou para outrem, um benefício
suas funções dos seguintes titulares de cargos políticos:
legítimo ou de causar um prejuízo do interesse público ou de terceiros, será punido
a) Presidente do Supremo Tribunal;
com prisão até 3 anos ou multa de 100 a 200 dias.
b) Procurador Geral da República;
2. A violação de segredo prevista no nº 1, será punida mesmo quando praticada
c) Presidente do Tribunal de Contas;
depois de o titular de cargo político ter deixado de exercer as suas funções.
d) Membros do Governo;
92 e) Governador de Região. 93
Colectânea de Legislação de Direito Penal Cargos Políticos

CAPÍTULO IV ARTIGO 36º


REGRAS ESPECIAIS DE PROCESSO (Do direito de acção)
Nos crimes a que se refere a presente lei têm legitimidade para promover o
ARTIGO 32º processo penal, para além do Ministério Público:
(Princípios gerais) a) A Assembleia Nacional Popular, em relação ao Presidente da República;
Aplicam-se à instrução e julgamento dos crimes de responsabilidade a que se b) A entidade ou cidadão directamente ofendido pelo acto considerado delituoso;
refere a presente lei as regras gerais de competência e de processo com as espe- c) O Membro de Assembleia deliberativa relativamente aos crimes imputados
cialidades constantes dos artigos seguintes. a titulares de cargos políticos que, individualmente ou através do respectivo órgão,
respondam perante essa Assembleia;
ARTIGO 33º d) As entidades que exercem tutela sobre órgãos políticos, relativamente a
(Regras especiais aplicáveis ao Presidente da República) crimes imputados a titulares de órgãos tutelados;
1. O Presidente da República responde perante o plenário do Supremo Tribunal e) A Inspecção Superior Contra a Corrupção;
de Justiça pelos crimes de responsabilidade praticados no exercício das suas f) A entidade a quem compete a exoneração ou demissão de titulares de cargos
funções. políticos, relativamente a crimes imputados a estes.
2. Compete à Assembleia Nacional Popular, requerer ao Procurador Geral da
República a promoção da acção penal contra o Presidente da República sob ARTIGO 37º
proposta de 1/3 e aprovação de 2/3 dos Deputados em efectividade de funções. (Julgamento em separado)
Por razões de celeridade a instrução e o julgamento dos processos relativos a
ARTIGO 34º crimes de responsabilidade de titular de cargo político far-se-ão em separado
(Regras especiais aplicáveis a Deputado à Assembleia Nacional Popular) relativamente aos processos de outros presumíveis co-autores que não sejam
1. Nenhum Deputado pode ser detido ou preso sem autorização da ANP, salvo, titulares de cargos políticos.
em caso de flagrante delito e por crime punível com pena de prisão maior.
2. Movido procedimento criminal contra um Deputado à Assembleia Nacional ARTIGO 38º
Popular, salvo em caso de pena de prisão maior, a Assembleia decidirá se o (Liberdade de alteração do rol das testemunhas)
mandato do deputado deve ou não ser suspenso para efeitos de seguimento do Sem prejuízo do disposto no artigo 216º do Código de Processo Penal, nos
processo. processos de julgamento de titulares de cargos políticos por crimes cometidos no
3. O Presidente da ANP responde perante o Plenário do Supremo Tribunal de exercício das suas funções são permitidas alterações do rol de testemunhas e a
Justiça. junção de novos documentos até 3 dias antes da data marcada para o início de
julgamento, sendo para o efeito irrelevante o adiantamento deste.
ARTIGO 35º
(Regras especiais aplicáveis a Membro do Governo) ARTIGO 39º
1. Motivo procedimento contra um Membro do Governo e indiciados este (Denúncia caluniosa)
definitivamente por despacho de pronúncia ou equivalente, salvo caso de crime 1. Da decisão de absolver o titular de cargo político acusado de crime de
punível com pena maior, a Assembleia Nacional Popular decide se o membro do responsabilidade ou da decisão que o condene com base em factos diferentes
Governo deve ou não ser suspenso para efeitos de seguimento do processo. daqueles que constam na denúncia era dado conhecimento ao Ministério Público
2. O Primeiro-Ministro responde no Tribunal de Círculo de Bissau, com recurso para o efeito de procedimento, ser for esse ocaso, pelo crime previsto e punido pelo
para o Supremo Tribunal de Justiça. artigo 230º do Código Penal.
2. As penas previstas por aquela disposição legal serão agravadas nos termos
gerais, em razão do acréscimo da gravidade que empresta à natureza caluniosa da
denúncia a qualidade do ofendido.
94 95
Colectânea de Legislação de Direito Penal Cargos Políticos

CAPÍTULO V CAPÍTULO VI
DA RESPONSABILIDADE CIVIL EMERGENTE DE CRIME DISPOSIÇÃO FINAL
DE RESPONSABILIDADE DE TITULARES DE CARGO POLÍTICO
ARTIGO 44º
ARTIGO 40º (Norma revogatória)
(Princípios gerais) São revogadas todas as disposições legais e regulamentares contrárias à presente
1. A indemnização por perdas e danos emergentes de crime de responsabilidade lei.
praticado por titular de cargo político no exercício das suas funções rege-se pela
lei civil. ARTIGO 45º
2. O Estado responde solidariamente com o titular de cargo político pelas (Entra em vigor)
perdas e danos emergentes dos crimes referidos no número anterior. A presente lei entra imediatamente em vigor, após a sua publicação no Boletim
3. O Estado em direito de regresso contra o titular de cargo político por crime Oficial.
de responsabilidade cometido no exercício das suas funções de que resulte
obrigação de indemnizar. Aprovada em 11 de Agosto de 1997.
4.O Estado ficará sub-rogado no direito do lesado à indemnização, nos termos O Presidente da Assembleia Nacional Popular, Malam Bacai Sanha.
gerais, até ao montante que tiver satisfeito.
Promulgada em 24 de Novembro de 1997.
ARTIGO 41º O Presidente da República, João Bernardo Vieira.
(Dever de indemnizar)
1. Nos termos gerais do direito, a absolvição do titular de cargo político pelo
Tribunal Criminal não extingue o dever de indemnizar não conexo com a res-
ponsabilidade criminal podendo a respectiva indemnização ser requerida através
de Tribunal Civil.
2. Sem prejuízo do número anterior, quando o tribunal absolva o réu na acção
penal por força da atenção especial prevista na presente lei, poderá, contudo
arbitrar ao ofendido uma quantia que, em seu juízo, considere razoável e justi-
ficada como reparação por perdas e danos.

ARTIGO 42º
(Opção do foro)
O pedido de indemnização por perdas e danos conexos com crime de res-
ponsabilidade praticado por titular de cargo político no exercício das suas funções
pode ser deduzido no processo em que corre acção penal ou requerido, separada-
mente, em acção intentada no Tribunal Civil.

ARTIGO 43º
(Regime de prescrição)
O direito à indemnização prescreve nos mesmos prazos do procedimento
criminal.
96 97
Colectânea de Legislação de Direito Penal Legislação Relativa a Estupefacientes

Decreto-Lei nº 2-B/93, de 28 de Outubro1


Legislação relativa a estupefacientes

Reconhecendo os esforços, a nível mundial, que têm vindo a travar os Governos


na luta contra o cultivo, o tráfico e o consumo da droga, expresso em legislação
nacionais e internacionais atinentes;
Concordando e harmonizando-se com os restantes Países, o Conselho de
Estado, logo nos primórdios da Independência, compreendendo a dimensão do
problema do tráfico e do consumo de estupefacientes, aprovou, pelo Decreto-Lei
nº 1/76 de 21 de Abril, a Lei de combate à droga;
Volvidos, porém, dezasseis anos sobre o início da vigência daquele diploma
impõe, a prática, proceder não apenas a revisão e adequação de alguma das
medidas no anterior diploma consagradas, mas também ajustamentos estruturais
a até institucionais;
A crescer ao acima exposto consagra-se uma das maiores preocupações do
Programa das Nações Unidas para o Controle Internacional da Droga (PNUCID),
que é o da harmonização da legislação Antidroga a nível da África e do Planeta.
Posto estar harmonizado o presente projecto com a legislação daquele departamento
das Nações Unidas;
Nesta conformidade;
O Conselho de Estado decreta nos termos do nº 2 do artigo 64º da Constituição
para valer como lei, o seguinte:

TÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS

ARTIGO 1º
(Direito das convenções e tabelas)
l. As normas do presente decreto-lei são interpretadas de harmonia com as
convenções relativas a estupefacientes, substâncias psicotrópicas ou precursores,
ratificadas ou a ratificar pela Guiné-Bissau.
2. As referências neste decreto-lei a tabelas de estupefacientes, substâncias
psicotrópicas ou precursores entendem-se reportadas às tabelas anexas as quais são
obrigatoriamente actualizadas nos termos aí previstos.

1
98 1º Suplemento ao B.O. nº 43, de 28 de Outubro de 1993. 99
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3. Para efeito de aplicação das disposições do presente decreto-lei, estabelece-se ARTIGO 4º


uma distinção entre “droga de alto risco”, representadas pelo conjunto das plantas (Drogas de risco)
e substâncias constantes dos quadros I e II, “drogas de risco”, representadas pelo Quem, sem encontrar autorizado, praticar alguma das acções referidas no nº 1
conjunto das plantas e substâncias constantes do quadro III e precursores, do artigo 3º, respeitante a drogas incluídas na tabela III, é punido com pena de
representados pelas substâncias classificadas no quadro IV. prisão de 2 a 8 anos.

ARTIGO 2º ARTIGO 5º
(Definições) (Equipamentos, materiais e precursores)
No presente decreto-lei: 1. Quem, sem se encontrar autorizado, produzir, fabricar, extrair, preparar,
a) As expressões “abuso de droga” e “uso ilícito” significam o uso de drogas oferecer, puser à venda, vender, distribuir, comprar, ceder ou por qualquer título
proibidas e o uso sem receita médica de outras drogas colocadas sob controlo no receber, proporcionar a outrem, transportar, importar exportar, fizer transitar
território nacional; equipamentos, materiais ou substâncias inscritas na tabela IV, sabendo que são ou
b) O termo “toxicodependente” designa a pessoa em estado de dependência vão ser utilizados no cultivo, produção ou fabrico ilícitos de estupefacientes ou
física e ou psíquica em face de uma droga colocada sob controlo no território substâncias psicotrópicas, é punido com pena de prisão de l a 10 anos.
nacional. 2. Quem, sem se encontrar autorizado, detiver, a qual quer título, equipamentos,
materiais ou substâncias inscritas na tabela IV, sabendo que são ou vão ser
TÍTULO II utilizados no cultivo, produção ou fabrico ilícitos de estupefacientes ou substâncias
PRODUÇÃO E TRÁFICO ILÍCITOS DE SUBSTÂNCIA SOB CONTROLO psicotrópicas, é púnico com pena de prisão de 1 a 5 anos.
3. Se o agente beneficia de autorização, é punido:
CAPÍTULO I
a) No caso do nº l, com pena de prisão de l a 12 anos;
INCRIMINAÇÕES E PENAS PRINCIPAIS
b) No caso do nº 2, com pena de prisão de l a 8 anos.
ARTIGO 3º
ARTIGO 6º
(Drogas de alto risco)
(Conversão, transferência ou dissimulação de bens ou produtos)
1. Quem, sem se encontrar autorizado, cultivar, produzir, fabricar, extrair,
1. Quem, sabendo que os bens ou produtos são provenientes da prática, sob
preparar, oferecer, puser à venda, vender, distribuir, comprar, ceder ou por qual-
qualquer forma de comparticipação, de infracção prevista nos artigos 3º, 4º, 5º,
quer título receber, proporcionar a outrem, transportar, importar, fizer transitar
8º e 9º:
ou ilicitamente detiver, fora dos casos previstos no artigo 20º, plantas, substâncias
a) Converte, transfere, auxilia ou facilita alguma operação de conversão ou
ou preparações compreendidas nas tabelas I e II, é punido com pena de prisão de
* transferência desses bens ou produtos, no todo ou em parte, directa ou indirectamente,
a 12 anos.
com o fim de ocultar ou dissimular a sua origem ilícita ou de auxiliar uma pessoa
2. Quem agindo em contrário de autorização concedida, ilicitamente ceder,
implicada na prática de qualquer uma dessas infracções a eximir-se às consequências
introduzir ou diligenciar por que outrem introduza no comércio plantas, substâncias
jurídicas dos seus actos, é punido com pena de prisão de 2 a 12 anos;
ou preparações referidas no número anterior, é punido com pena de prisão de 3
b) Oculta ou dissimula a verdadeira natureza, origem, localização, disposição,
a 15 anos.
movimentação, propriedade desses bens ou produtos ou de direitos a eles relativos,
3. Na pena prevista no número anterior aquele que cultivar plantas, produzir
é punido com pena de prisão de 2 a 10 anos;
ou fabricar substâncias ou preparações diversas das que constam do título de
c) Os adquire ou recebe a qualquer título utiliza, detém ou conserva, é punido
autorização.
com pena de prisão de l a 5 anos.
2. A punição pelos crimes previstos no número anterior não excederá a aplicável
às correspondentes infracções dos artigos 3º a 5º, 8º e 9º.
*
100 O texto que consta do Boletim Oficial não apresenta este valor 101
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3. A punição pelos crimes previstos no nº l tem lugar ainda que os factos ARTIGO 8º
referidos nos artigos 3º a 5º, 8º e 9º, hajam sido praticados fora do território (Traficante-consumidor)
nacional. 1. Quando, pela prática de algum dos factos referidos no artigo 3º, o agente tiver
por finalidade exclusiva conseguir plantas, substâncias ou preparações para uso
CAPÍTULO II pessoal, a pena é de prisão até 2 anos.
AGRAVAÇÃO DAS PENAS 2. A tentativa é punível.
3. Não é aplicável o disposto no nº l, mas as deposições gerais deste diploma,
ARTIGO 7º quando o agente detiver plantas, substâncias ou preparações em quantidade que
(Causas de agravação) exceda a necessária para o consumo médio individual durante o período de 5 dias.
As penas previstas nos artigos 3º a 6º, são aumentadas de um quarto nos seus
limites mínimo e máximo se: ARTIGO 9º
a) As substâncias ou preparações foram entregues ou se destinavam a menores (Abuso do exercido de profissão)
ou diminuídos psíquicos; 1. As penas previstas nos artigos 3º e 4º são aplicadas ao médico que passe
b) As substâncias ou preparações foram distribuídas por grande número de receitas, ministre ou entregue substâncias ou preparações aí indicadas, com fim
pessoas; não terapêutico.
c) O agente obteve ou procurava obter avultada compensação remuneratória; 2. As mesmas penas são aplicadas ao farmacêutico ou a quem o substitua na
d) O agente for funcionário incumbido da prevenção ou repressão dessas sua ausência ou impedimento que vender ou entregar aquelas substâncias ou
infracções; preparações para fim não terapêutico.
e) O agente for médico, farmacêutico ou qualquer outro técnico de saúde, 3. Em caso de condenação nos termos dos números anteriores, o tribunal
funcionário das alfândegas, dos serviços prisionais ou dos serviços de reinserção comunica as decisões à Ordem dos Médicos, à Ordem dos Farmacêuticos e ao
social, trabalhadores dos correios, telégrafos, telefones ou telecomunicações, Ministério da Saúde.
docente, educador ou trabalhador de estabelecimento de educação ou trabalhador
de serviços ou instituições de acção social, e o facto for praticado no exercício da ARTIGO 10º
sua profissão; (Associações criminosas)
f) O agente participar em outras actividades criminosas organizadas, de âmbito l. Quem promover, fundar ou financiar grupo, organização ou associação de
internacional; duas ou mais pessoas que actuando concertadamente, vise praticar algum dos
g) O agente participar em outras actividades ilegais facilitadas pela prática da
crimes previstos nos artigos 3º a 6º, é punido com pena de prisão de 4 a 10 anos.
infracção;
2. Quem prestar colaboração, directa ou indirecta, aderir ou apoiar o grupo,
h) A infracção tiver sido cometida em instalações de serviço de tratamento de
organização ou associação referidos no número anterior, é punido com pena de
consumidores de droga, de reinserção social, de serviços ou instituições de acção
prisão de l a 5 anos.
social, em estabelecimento prisional, unidade militar, estabelecimento de educação,
3. Incorre na pena de 6 a 14 anos de prisão quem chefiar ou dirigir grupo,
ou em outros locais onde os alunos ou estudantes se dediquem à prática de
organização ou associação referidos o nº l.
actividades educativas, desportivas ou sociais, ou na sua imediações;
4. Se o grupo, organização ou associação tiver como finalidade ou actividade
i) O agente utilizar a colaboração, por qualquer forma, de menores ou de
a conversão, transferência, dissimulação ou receptação de bens ou produtos dos
diminuídos psíquicos;
crimes previstos nos artigos 3º a 6º, o agente é punido:
j) O agente actuar como membro de bando destinado a prática reiterada dos
a) Nos casos dos nºs l e 3, com pena de prisão de 2 a 6 anos;
crimes previstos nos artigos 3º a 6º, com colaboração de, pelo menos, outro
b) No caso do nº 2, com pena de prisão de l a 6 anos.
membro de bando;
l) As substâncias ou preparações foram corrompidas, alteradas ou adulteradas,
por manipulação ou mistura, aumentando o perigo para a vida ou para a integridade
102 física de outrem. 103
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ARTIGO 11º 5. Verificadas as condições referidas nos nºs 3 e 4 a autoridade competente


(Incitamento) para a investigação dá conhecimento dos factos à autoridade administrativa que
Aqueles que, por qualquer meio, incitarem ao cometimento de um dos delitos concedeu a autorização de abertura do estabelecimento, que decidirá sobre o
previstos nos artigos 3º a 6º e 8º, são punidos com a pena prevista para a infracção encerramento.
respectiva.
ARTIGO 14º
ARTIGO 12º (Desobediência qualificada)
(Incitamento ao uso de estupefaciente ou substâncias psicotrópicas) 1. Quem se opuser a actos de fiscalização ou se negar a exibir os documentos
1. Quem induzir, incitar ou instigar outra pessoa, em público ou em privado, exigidos depois de advertidos das consequências penais da sua conduta, é punido
ou por qualquer modo facilitar o uso ilícito de plantas, substância ou preparações com a pena correspondente ao crime de desobediência qualificada.
compreendidas nas tabelas I e II, é punido com pena de prisão até 3 anos. 2. Incorre em igual pena, quem não cumprir em tempo as obrigações de
2. Se se tratar de substâncias ou preparações compreendida na tabela III, a pena participação urgente de subtracção ou extravio de substância ou documentos
é de prisão até l ano. referidos no diploma anteriormente mencionado.
3. Os limites mínimo e máximo das penas são aumentados de um terço se:
a) Os factos foram praticados em prejuízo de menor, diminuído psíquico ou CAPÍTULO III
de pessoa que se encontrava ao cuidado do agente do crime para tratamento, ATENUAÇÃO OU ISENÇÃO DE PENA EM SITUAÇÕES ESPECIAIS
educação, instrução, vigilância ou guarda;
b) Ocorreu alguma das circunstâncias previstas nas alíneas d), e) ou h) do ARTIGO 15º
artigo 7º. (Atenuação ou dispensa de pena)
Se, nos casos previstos nos artigos 3º a 6º, 9º e 10º, o agente abandonar
ARTIGO 13º voluntariamente a sua actividade, afastar ou fizer diminuir por forma considerável
(Trafico e consumo em lugares públicos ou de reunião) o perigo produzido pela conduta, impedir ou se esforçar seriamente por impedir
1. Quem, sendo proprietário, gerente, director ou, por qualquer título, explore que o resultado que a lei quer evitar se verifique, ou auxiliar concretamente as
hotel, restaurante, café, taberna, clube, casa ou recinto de reunião, de espectáculo autoridades na recolha de provas decisivas para a identificação ou a captura de
ou de diversão, consentir que esse lugar seja utilizado para o tráfico ou uso ilícito outros responsáveis, particularmente tratando-se de grupos, organizações ou
de plantas, substância ou preparações incluídas nas tabelas I a III, é punido com associações pode a pena ser-lhe especialmente atenuada ou ter lugar a dispensa de
pena de prisão de l a 6 anos. pena.
2. Quem, tendo ao seu dispor edifício, recinto vedado ou veículo, consente que
seja habitualmente utilizado para o tráfico ou uso ilícito de plantas, substâncias ou CAPÍTULO IV
preparações incluídas nas tabelas I a III, é punido com pena de prisão de l a 5 anos. MEDIDAS E PENAS ACESSÓRIAS
3. Sem prejuízo do disposto nos números anteriores, o agente que, após
notificação nos termos do nº 4, não tomar as medidas adequadas para evitar que ARTIGO 16º
os lugares neles mencionados sejam utilizados para o tráfico ou o uso ilícito de (Perda de bens ou direitos relacionados com o facto)
plantas, substâncias ou preparações incluídas nas tabelas I a III, é punido com pena 1. Os tribunais declaram perdidas a favor do Estado as plantas e substâncias
de prisão até 5 anos. apreendidas em virtude da prática de infracção prevista no presente diploma, que
4. O disposto no número anterior só é aplicável após duas apreensões de plantas, não tiverem sido destruídas ou entregues a organismo autorizado para a sua uti-
substâncias ou preparações incluídas nas tabelas I a III, realizadas por autoridade lização lícita, ainda que nenhuma pessoa determinada possa ser punida pelo facto.
judiciária ou por órgão de polícia criminal, devidamente notificadas ao agente 2. Os tribunais declaram igualmente perdidos a favor do Estado as instalações,
referido nos nºs l e 2, e não mediando entre elas período superior a um ano, ainda materiais, equipamentos e outros bens móveis utilizados ou destinados a ser
que sem identificação dos detentores. utilizados para a prática da infracção, sem prejuízo dos direitos de terceiros de boa
104 fé, bem como as recompensas dadas ou prometidas aos agentes da infracção. 105
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ARTIGO 17º 4. Se o réu for absolvido cessará imediatamente o encerramento ordenado


(Bens transformados, convertidos ou misturados) administrativamente.
l. Nos casos previstos no presente diploma, os tribunais ordenam ainda a perda
a favor do Estado dos produtos provenientes da infracção, directamente adquiridos TÍTULO III
pelos agentes, para si ou para outrem, dos bens móveis ou imóveis nos quais foram CONSUMO DE DROGA
transformados ou convertidos e, até ao montante do valor estimado dos produtos TRATAMENTO DA TOXICODEPENDÊNCIA
em causa, dos bens adquiridos legitimamente com os quais os ditos produtos foram
misturados, bem como dos rendimentos, juros, lucros e outras vantagens extraídas ARTIGO 20º
desses produtos, dos bens nos quais estes foram transformados ou investidos, ou (Consumo)
bens com que tenham sido misturados. l. Quem consumir ou, para o seu consumo, cultivar, adquirir ou detiver plantas,
2. Se os direitos, objecto ou vantagens referidos no número anterior não substâncias ou preparações compreendidas nas tabelas I a III cuja fraca quantidade
puderem ser apropriados em espécie, a perda é substituída pelo pagamento ao permitida considera que se destinavam ao seu consumo pessoal, é punido:
Estado do respectivo valor. a) Se se trata de planta ou substância classificada de alto risco, incluindo o óleo
3. O disposto nos números anteriores aplica-se aos direitos, objectos ou vantagens de cannabis, com a pena de prisão de 2 meses a l ano.
obtidos mediante transacção ou troca com os direitos, objecto, objectos ou vantagens b) Se se trata de um derivado da planta da cannabis diferente de óleo de cannabis,
directamente conseguidos por meio da infracção. com a pena de prisão de l mês a 6 meses.
c) Se se trata de planta ou substância classificada como droga de risco, com pena
ARTIGO 18º de prisão de 15 dias a 3 meses.
(Destino dos bens declarados perdidos a favor do Estado) 2. O interessado pode ser dispensado de pena se cumulativamente preencher os
1. Os bens e produtos declarados perdidos a favor do Estado nos termos dos seguintes requisitos:
artigos anteriores ou montante proveniente da sua venda, são utilizados em acções a) Não tiver atingido a maioridade;
e medidas de prevenção do consumo de droga, de tratamento e reinserção de b) Não for reincidente;
toxicodependentes e de combate ao tráfico. c) Mediante declaração solene perante o Magistrado se comprometer a não
2. A forma e percentagem de distribuição dos bens e produtos são estabelecidas recomeçar.
por decreto do Governo.
3. Na falta de acordo ou tratado, os bens e produtos apreendidos a solicitação ARTIGO 21º
de autoridades de Estado estrangeiro ou os fundos provenientes da sua venda, (Tratamento espontâneo e atendimento de consumidores)
pertencem ao Estado onde se encontrava no momento da apreensão. 1. Quem utilize ilicitamente, para consumo individual, plantas, substâncias ou
preparações compreendidas nas tabelas I a III e solicite a assistência de serviços de
ARTIGO 19º saúde do Estado ou particulares terá a garantia de anonimato.
(Expulsão de estrangeiros e encerramento de estabelecimento) 2. Os médicos, técnicos e restante pessoal do estabelecimento que assista o
1. Sem prejuízo do disposto no artigo 24º, em caso de condenação por crime paciente estão sujeitos ao dever de segredo profissional, não sendo obrigados a
de tráfico previsto no presente diploma, se o arguido for estrangeiro, o tribunal depor em tribunal ou a prestar informações às entidades policiais sobre a natureza
pode ordenar a sua expulsão do país, por período não inferior a 10 anos. e evolução do processo terapêutico.
2. Na sentença condenatória pela prática de crime previsto no artigo 13º, e 3. O Ministério da Saúde desenvolverá, através dos serviços respectivos, as
independentemente da interdição de profissão ou actividade, pode ser decretado acções necessárias à prestação de atendimento a toxicodependentes ou outros
o encerramento do estabelecimento ou lugar público onde os factos tenham consumidores que se apresentam espontaneamente e fiscalizará as condições em
ocorridos, pelo período de 1 a 5 anos. que as entidades privadas atendem os toxicodependentes.
3. Tendo havido prévio encerramento ordenado judicial ou administrativa-
mente, o período decorridos será levado em conta na sentença.
106 107
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ARTIGO 22º ARTIGO 25º


(Suspensão da pena e obrigação de tratamento) (Aplicação da lei penal nacional)
l. Se o arguido tiver sido condenado pela prática do crime previsto no artigo Para efeitos do presente diploma, a lei penal da Guiné-Bissau é ainda aplicável
20º ou de outro que com ele se encontre numa relação directa de conexão e tiver a factos cometidos fora do território nacional:
sido considerado toxicodependente, pode o tribunal suspender a execução da pena a) Quando praticados por estrangeiros, desde que o agente se encontre em
de acordo com a lei geral, sob condição, para além do outros deveres ou regras de território nacional, e não seja extraditado;
conduta adequados, de se sujeitar a tratamento ou a internamento em estabele- b) Sob reserva de acordos concluídos entre Estado, quando praticados a bordo
cimento apropriado, o que comprovará pela forma e no tempo que o tribunal de navio em relação ao qual o Estado do pavilhão autorizou o Estado da Guiné-
determinar. -Bissau a examinar, a visitar ou a tomar, em caso de descoberta de provas de
2. Se durante o período da suspensão da execução da pena o toxicodependente participação em tráfico ilícito, as medidas apropriadas face ao navio, às pessoas
culposamente não se sujeitar ao tratamento ou ao internamento ou deixar de a bordo e à carga.
cumprir qualquer dos outros deveres ou regras de conduta impostos pelo tribunal,
aplica-se o disposto na lei penal para a falta de cumprimento desses deveres ou ARTIGO 26º
regras de conduta. (Medidas respeitantes a menores)
3. Revogada a suspensão, o cumprimento da pena terá lugar, de preferência em Compete aos tribunais com jurisdição na área de menores a aplicação das
zona apropriada do estabelecimento prisional, sendo prestada a assistência médica medidas previstas neste diploma, com as devidas adaptações, quando a pessoa a
necessária. elas sujeita for menor, nos termos da legislação especial de menores, e sem pre-
4. Pode, com as devidas adaptações, ser aplicados o regime de prova. juízo da aplicação pelos tribunais comuns da legislação respeitante a jovens dos
16 aos 21 anos.
ARTIGO 23º
(Tratamento no âmbito de processo pendente) ARTIGO 27º
1. Sempre que o tratamento, em qualquer das modalidades seguidas, decorra (Legislação processual penal)
no âmbito de um processo pendente em tribunal, o médico ou o estabelecimento Na falta de disposição específica do presente diploma, são aplicáveis subsi-
enviam, de 3 em 3 meses, se outro período não for fixado, uma informação sobre diariamente as normas do Código de Processo Penal e legislação complementar.
a evolução da pessoa a ele sujeita, com respeito pela confidencialidade da relação
terapêutica, podendo sugerir as medidas que entendam convenientes. CAPÍTULO II
2. Após a recepção da informação referida no número anterior, o tribunal DISPOSIÇÕES ESPECIAIS DE PROCESSO
pronuncia-se, se o entender necessário, sobre a situação processual do visado.
ARTIGO 28º
TÍTULO IV (Buscas e apreensões)
LEGISLAÇÃO SUBSIDIÁRIA 1. As visitas, buscas e apreensões aos locais onde sejam fabricadas, transformadas
ou armazenadas ilicitamente droga de alto risco, droga de risco ou precursores,
CAPÍTULO I equipamentos e materiais destinados à cultura, produção ou fabrico ilícito das
LEGISLAÇÃO PENAL E PROCESSUAL mesmas, são permitidas a qualquer hora do dia ou da noite.
2. Às diligências a efectuar em casa de habitação são precedidas de autorização
ARTIGO 24º escrita da autoridade judiciária competente, nos termos das leis de processo.
(Legislação penal) 3. Em caso de infracções previstas no presente diploma, as drogas e precursores
são imediatamente apreendidos, o mesmo se fazendo quanto a instalações, materiais,
Na falta de disposição específica do presente diploma são aplicáveis, subsidiaria-
equipamentos e outros bens móveis suspeitos de terem sido utilizados ou de se
mente, as disposições da parte geral do Código penal e legislação complementar.
destinarem a ser utilizados para a prática do crime, somas e valores mobiliários
108 suspeitos de proveniência directa ou indirecta da infracção, bem como de todos 109
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os documentos que facilitem a sua prova ou a culpabilidade dos seus autores, sem com o país ou países destinatários e outro eventuais países de trânsito, a identi-
que o segredo possa ser invocado. ficação e arguição do maior número de participantes nas diversas operações de
tráfico e distribuição, mas sem prejuízo de exercício da acção penal pelos factos
ARTIGO 29º aos quais a lei nacional é aplicável.
(Revista e perícia) 2. A autorização só é concedida a pedido de país destinatário, desde que:
l. Quando houver indícios sérios de quem alguém oculta ou transporta no seu a) Seja conhecido detalhadamente o itinerário provável dos portadores e a
corpo estupefacientes ou substâncias psicotrópicas é ordenada revista e, se identificação suficiente destes;
necessário, proceder-se a perícia. b) Seja garantida pelas autoridades competentes dos países de destino e dos
2. O visado pode ser conduzido a unidade hospitalar ou a outro estabelecimento países de trânsito a segurança das substâncias contra riscos de fuga ou extravio;
adequado e aí permanecer pelo tempo estritamente necessário à realização da c) As autoridades judiciárias competentes dos países de destino ou de trânsito
perícia. se comprometam a comunicar, com urgência, informação pormenorizada sobre
3. A revista é efectuada pelo funcionário habilitado a constar a infracção, o qual os resultados da operação e os pormenores da acção desenvolvidas por cada um
relatará por escrito à autoridade judiciária competente, no prazo máximo de 48 dos agentes da prática dos crimes, especialmente dos que agiram na Guiné-Bissau.
horas, o resultado da diligência. 3. Apesar de concedida a autorização mencionada anteriormente, a Policia
4. Quem, depois de devidamente advertido das consequências penais do seu Judiciária intervém se as margens de segurança tiverem diminuído sensivelmente,
acto, se recusar a ser submetido a revista ou a perícia autorizada nos termos do se se verificar alteração imprevista de itinerário ou qualquer outra circunstância
número anterior, é punido com pena de prisão até 2 anos. que dificulte a futura apreensão das substâncias e a captura dos agentes: se aquela
intervenção não tiver sido comunicada previamente à entidade que concede a
ARTIGO 30º autorização, é-o nas 24 horas seguintes, mediante relato escrito.
(Sistema financeiro e bancário) 4. Por acordo com o país de destino, as substâncias em trânsito podem ser
1. Sempre que haja indícios sérios de que um individuo suficientemente substituídas parcialmente por outras inócuas, de tal se lavrando o respectivo auto.
identificado utiliza ou utilizou o sistema financeiro, bancário ou instituições simi- 5. Os contactos internacionais podem ser efectuados através do Gabinete
lares, para efectuar operações relacionadas com prática das infracções previstas Nacional da Interpol.
nos artigos 3º a 6º e 10º, a autoridade judiciária competente pode autorizar, sem 6. Qualquer entidade que receba pedidos de entregas controladas canaliza-os
que o segredo profissional ou bancário lhe possa ser oposto: imediatamente para a Polícia Judiciária para execução.
a) A colocação sob vigilância, por período determinado, de contas bancárias;
b) O acesso por período determinado a sistema informáticos usados naquelas ARTIGO 32º
operações; (Prisão preventiva)
c) A exibição ou fornecimento de quaisquer informações ou documentos l. Sempre que o crime imputado for de tráfico de droga desvio de precursores,
financeiros, bancários, fiscais ou comerciais. branqueamento de capitais ou de associação criminosa, e o arguido se encontre
2. Os estabelecimentos financeiros bancários e instituições similares, públicos preso preventivamente, ao ponderar a sua libertação, o juiz tomará especialmente
ou privados, podem, por sua iniciativa, alertar as autoridades judiciárias com- em conta os recursos económicos do arguido utilizáveis para suportar a quebra da
petentes sobre as operações que suspeitem relacionadas com a prática das caução e o perigo de continuação da actividade criminosa, em termos nacionais
infracções referidas no nº l, não constituindo tal procedimento uma violação do e internacionais.
segredo profissional ou bancário, nem implicando responsabilidade civil. 2. Antes de se pronunciar sobre a subsistência dos pressupostos da prisão
preventiva, o juiz recolherá a informação actualizada que possa interessar ao
ARTIGO 31º reexame daqueles pressupostos.
(Entregas controladas)
l. Pode ser autorizada, caso a caso, pelo Ministério Público, a não actuação da
Policia Judiciária sobre os portadores de substâncias estupefacientes ou psicotrópicas
110 em trânsito por Guiné-Bissau com a finalidade de proporcionar, em colaboração 111
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CAPÍTULO III 4. No prazo de 5 dias após a junção do relatório do exame laboratorial, a auto-
DISPOSIÇÕES DE NATUREZA INVESTIGATÓRIA ridade judiciária competente ordena a destruição da droga remanescente, despacho
que é cumprido em período não superior a 30 dias, ficando a droga até à destruição,
ARTIGO 33º guardada em cofre forte.
(Investigação criminal) 5. A destruição da droga faz-se por incineração, na presença de um magistrado,
A investigação do tráfico ilícito de plantas, substâncias, preparações e pre- de um funcionário designado para o efeito, de um técnico de laboratório, lavrando-
cursores compreendidos nas tabelas anexas ao presente diploma é da competência -se o auto respectivo; numa mesma operação de incineração podem realizar-se
exclusiva da Polícia Judiciária. destruições de droga apreendida em vários processos.
6. Proferida decisão definitiva, o tribunal ordena a destruição da amostra
ARTIGO 34º guardada em cofre, o que se fará com observância do disposto no nº 5, sendo-lhe
(Conduta não punível) remetida cópia do auto respectivo.
1. Não é punível a conduta do funcionário de investigação criminal que, para
fins de inquérito e sem revelação da sua qualidade e identidade, aceitar directamente ARTIGO 37º
ou por intermédio de um terceiro a entrega de estupefacientes ou substâncias (Amostras pedidas por entidades estrangeiras)
psicotrópicas. 1. Podem ser enviadas amostras de substâncias e preparações que tenham sido
2. O relato de tais factos é junto ao processo no prazo máximo de 24 horas. apreendidas, a solicitação de entidades estrangeiras, para fins científicos ou de
investigação, mesmo na pendência do processo.
ARTIGO 35º 2. Para o efeito, o pedido é transmitido à autoridade judiciária competente, que
(Protecção das fontes de informação) decidirá sobre a sua satisfação.
1. Nenhum funcionário de investigação criminal, declarante ou testemunha, é 3. O pedido pode ser apresentado através do Gabinete Nacional da Interpol.
obrigado a revelar ao tribunal a identificação ou qualquer elemento que leve à
identificação de alguém que tenha auxiliado a polícia na descoberta de infracção ARTIGO 38º
prevista no presente diploma. (Comunicação de decisões)
2. Se, no decurso da audiência de julgamento, o tribunal se convencer que a 1. São comunicadas à Entidade Coordenadora do Combate à Droga todas as
pessoa que auxiliou a polícia transmitiu dados ou informações que sabia ou devia apreensões de plantas, substâncias e preparações compreendidas nas tabelas I a IV.
saber serem falsos, pode obrigar à revelação da sua identidade e à inquirição em 2. Os tribunais enviam à mesma Entidade cópia das decisões proferidas em
audiência dela. processo-crime por infracções previstas no presente diploma.
3. Na situação prevista na parte final do número anterior, o presidente do
tribunal pode decidir a exclusão ou restrição da publicidade da audiência. TÍTULO V
COORDENAÇÃO NACIONAL E COOPERAÇÃO INTERNACIONAL
CAPÍTULO IV NA LUTA CONTRA O TRÁFICO ILÍCITO
DESTRUIÇÃO DE DROGA E RECOLHA DE AMOSTRAS
ARTIGO 39º
ARTIGO 36º (Coordenação do combate à droga)2
(Exame e destruição das substâncias) l. Será criada, na dependência do Primeiro-ministro, uma Comissão Nacional
l. As plantas, substâncias e preparações apreendidas são examinadas, por ordem com a finalidade de propor as estratégias e coordenar as acções políticas emanadas
da autoridade judiciária competente, no mais curto prazo de tempo possível. do Governo em todos os domínios do combate à droga, sendo a sua composição
2. Após o exame laboratorial, o perito procede recolha, identificação, pesagem e atribuição objecto de decreto.
– bruta e líquida –, acondicionamento e selagem de uma amostra, no caso de a
quantidade de droga o permitir, e do remanescente, se o houver.
3. A amostra fica guardada em cofre do organismo que procede à investigação 2
A Comissão Interministerial de Combate à Droga, foi criada pelo Decreto nº 11/94
112 até decisão final. de 14 de Fevereiro, publicado no Boletim Oficial nº 7 de 14 de Fevereiro de 1994. 113
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2. Será igualmente criada uma estrutura de coordenação do combate ao tráfico


ilícito, tanto no plano nacional como internacional, na dependência do Procurador
Geral da República.

ARTIGO 40º TABELA I


(Cooperação internacional)
No tocante a extradição, auxílio judiciário mútuo, execução de sentenças penais QUADRO IV
QUADRO I
estrangeiras e transmissão de processos criminais, aplicam-se os tratados, convenções
e acordos a que a Guiné-Bissau se vinculou e subsidiariamente o disposto na Brolanfetamina Acetorfina
Convenção das Nações Unidas de 1988 contra o tráfico de estupefacientes e de Catinona Alfacetilmetadol
substâncias psicotrópicas. DET Acetil-alfa-metilfentanil
DMA Cannabis e resina de cannabis
DISPOSIÇÕES FINAIS DMHP Cetobemidona
DMT Desomorfma
ARTIGO 41º DOET Etorfina
(Norma revogatória) Eticiclidina Heroína
Fica revogada o Decreto-Lei nº 1/76, de 21 de Abril. (+) – Lisergida, LSD, LSD-25 Alfa-medilatiofentanil
MDMA Beta-hidroxifentanil
ARTIGO 42º Mescalina Beta-hidroxi-3-metilfentanil
(Entrada em vigor) Metil-4 aminorex 3 – metilfentanil
O presente diploma entra imediatamente em vigor. MMDA 3 – metiltiofentanil
N-etil MD Para-fluorofentanil
Aprovado em 9 de Setembro de 1993. Parahexilo PEPAD
Promulgado em 9 de Setembro de 1993. PMA Tiofentanil
Psilocina, Psilotsin
Publique-se. Psilocibina
O Presidente do Conselho de Estado, General João Bernardo Vieira. Rolicilidina
STP, DOM
ANEXO Tenanfetamina
(A que se refere o nº 2 do artigo 1º) Tenociclidina
Tetrahidrocanabinol
Este anexo compreende: TMA
– As substâncias adiante designadas pela sua denominação comum inter-
nacional ou nome utilizado nas convenções internacionais em vigor;
– Os seus isómeros, salvo excepções expressas em todos os casos onde possam
existir em conformidade com a fórmula química correspondente às ditas substâncias;
– Os ésteres e éteres destas substâncias em todas as formas em que possam
existir;
– Os sais destas substâncias, compreendidos ainda os sais dos ésteres, de éteres
e de isómeros em todas as formas em que estes sais possam existir;
114 — As preparações destas substâncias, salvo excepções previstas pela lei: 115
Colectânea de Legislação de Direito Penal Legislação Relativa a Estupefacientes

TABELA II

QUADRO I QUADRO I (cont.) QUADRO I (cont.)


Acetilmetadol Fenoperidina Oximorfona
Alfameprodina Fentanil Petidina
Alfametadol Furetidina Petidina, intermediário A de (ciano – 4 metil-1 fenil – 4 piperidina)
Alfa – metilfentanil Hidrocodona Petidina, intermediário B do (éster etílico do ácido fenil – 4 piperidino
Alfaprodina Hidromorfinol carboxílico – 4)
Alfentamil Hidromorfona Petidina, intermediário C do (acido metil-1 fenil-4 piperidino carboxílico – 4)
Alilprodina Hidroxipetina Piminodína
Anileridina Isometadona Piritramida
Benxetidina Levometorfano Proheptazina
Benzilmorfina Levomoramida Properidina
Batacetilmetadol Levofenacilmorfano Racemetorfano
Betameprodina Levorfanol Recemoramida
Bezitramida Metazonia Racemorfano
Butirato de dioxafetilo Metadona Sufentamil
Clonitazeno Metadona, intermediário da (ciano – Tebacona
Coca (folha de) 4 dimetilamino – 2 difenil – 4,4 Tebaina
Cocaína butano) Tilidina
Codoxina Metildesorfina Trimeperidina
Concentrado de palha de papoila Metildihidromorfina
Dextromoramida Metopão
Diampromida Moramida
Dietiltiambuteno Morferidina QUADRO II QUADRO II (cont.)
Difenoxina Morfina Acetildiidrocodeina Dexanfetamina
Dimenoxadol Morfina metobrometo e outros Codeína Fenciclidina
Dimefeptanol derivados morfinicos com azoto Dextropropoxifeno Fenetilina
Dimetiltiambuteno pentavalente Diidrocodeina Levanfetamina
Difenoxilato Mirofina Etilmorfina Mecloqualona
Dipipanona Nicomorfina Folcodina Metanfetamina
Drotebanol Noracimetadol Nicocodina Metaqualona
Ecgonina esteres e derivados Norlevorfanol Nicodicodina Metilfenidato
Etilmetiltiambuteno Normetadona Norcodeína Racemato de Metanfetamina
Etonitazeno Normorfina Propirano Renmetrazina
Etoxeridina Norpipanona Anfetamina Secobarbital
Fenampromida N-Oximorfina
Fenazocina Ópio
Fenomorfano Oxicodona
116 117
Colectânea de Legislação de Direito Penal Legislação Relativa a Estupefacientes

TABELA III

QUADRO III QUADRO IV QUADRO IV (cont.)


Da Convenção de 1961 sobre
estupefacientes Alobarbital Pipradol
Acetilhidrocodeina Alprazolan Prazepam
Codeína Anfepramona Propilhexedrina
Díhidrocodeina Barbital Pirovalerona
Etilmorfina Benzefetamina Secbutabarbital
Folcodina Bromazepan Temazepam
Nicocodina Butobarbital Tetrazepam
Nicodicodina Camazepan Triazolam
Norcodeina Clordiazepóxido Vinilbital
Amobarbital Clobazam
Buprenorfina Clonazepam
Butalbital Clorazepato TABELA IV (PERCURSORES)
Catina Clotiazepan
Ciclobarbital Cloxazolan Este anexo compreende:
Glutetamida Diazepan As substâncias adiante designadas pela sua denominação comum internacional
Pentazocina Estazolan ou pelo nome utilizado nas Convenções Internacionais em vigor;
Pentobarbital Etciorvinol Os sais destas substâncias em todas as formas que possam existir, à excepção
do ácido sulfúrico e do ácido clorídrico.
QUADRO IV (cont.) QUADRO IV (cont.)
Etinamato Lorazepan QUADRO I QUADRO II
Etilanfetamina Lormetazepan
Fencanfamina Mazindol Ácido lisérgico Acetona
Fendimetrazina Medazepan Efedrina Ácido Antranílico
Fenobarbital Mefenorex Ergometrina Ácido fenilacético
Fenproporex Meprobamato Ergotamina Anidricdo acético
Fentermina Metilfenobarbital Fenil-1 propanona-2 Éter etílico
Fludiazepan Metilprilone Pseudo – efedrina Piperidina
Flunitrazepam Midazolam Ácido N – acetilantranílico Ácido clorídrico
Flurazepam Nimetazepam Isosafrole Metiletilcetona
Halazepam Nitrazepam Metilenadioxio – 3, 4 fenil Permanganato de potássio
Haloxazolam Nordazepam propanona – 2 Ácido sulfúrico
Ketazolam Oxazepam Piperonal Tolueno
Lefetamina Oxazolam Safrole
Loflazepato de Etilo Pemolina
Loprazolan Pinazepam
118 119
Colectânea de Legislação de Direito Penal Sanções Relativas à Devastação das Florestas

Decreto-Lei nº 4-A/91, de 29 de Outubro*


Sanções relativas à devastação das florestas por meio
de queimadas e incêndios

LEI FLORESTAL

[...]

ARTIGO 26º
(Abate de árvores)
1. O abate total ou parcial de árvores ou de vegetação arbórea situadas em
terrenos agrícolas, ou em terrenos delimitados circundando uma habitação, um
edifício industrial, comercial ou administrativo pode ser efectuado com dispensa
de autorização da Direcção Geral das Florestas e Caça e sem pagamento de
qualquer taxa, desde que o arvoredo abatido se destine à utilização do próprio.
Quando se destina à utilização por terceiros terá o respectivo proprietário que
requerer à Direcção Geral das Florestas e Caça autorização prévia de abate e
proceder ao pagamento das taxas em vigor e efectuar a venda de acordo com as
tabelas vigentes.
2. O abate total ou parcial de árvores ou de vegetação arbórea do domínio
florestal da Guiné-Bissau situadas em terrenos cedidos pelo Estado para fins
agrícolas, está sujeito à vistoria e autorização prévia da Direcção Geral das
Florestas e Caça, sendo a autorização de abate concedida mediante o pagamento
das taxas aplicadas às concessões florestais.

[...]

ARTIGO 41º
(Arroteamento)
1. Os arroteamentos no domínio florestal serão submetidos a autorização prévia
do Serviço Florestal ou de outra autoridade definida em diploma regulamentar.
2. Existe arroteamento nos termos do presente diploma quando a vegetação
arbórea ou arbustiva de um terreno de domínio florestal é cortada, arrancada ou
destruída por qualquer processo, incluindo queimadas, com vista a dar ao solo
outra afectação.

*
120 Suplemento ao B.O. nº 43, de 29 de Outubro de 1991. 121
Colectânea de Legislação de Direito Penal Sanções Relativas à Devastação das Florestas

3. O corte ou a destruição por qualquer processo, de vegetação arbórea ou 2. O confisco ou a restituição das madeiras ou outros produtos florestais é
arbustiva de um terreno do domínio florestal previamente à sua exploração obrigatório. Em caso de reincidência os utensílios, veículos ou máquinas empregues
temporária para fins agrícolas não é constitutiva de arroteamento quando forem na prática da infracção serão confiscadas.
seguidos por uma regeneração natural ou por repovoamento.
4. Um diploma regulamentar aprovado em conselho de Ministros proporá ARTIGO 55º
normas relativas ao exercício das actividades de agricultura itinerante. (Arroteamento ilegal)
1. Os autores das infracções ao disposto no artigo 41º do presente diploma
[...] relativas ao arroteamento, serão punidos com uma pena de prisão de 6 meses até
1 ano e sujeitos ao pagamento de multa cujo montante será igual ao dobro da taxa
ARTIGO 44º de arroteamento que deveria ter sido legalmente paga.
(Utilização do fogo para prevenção contra os incêndios florestais, 2. O confisco ou a restituição das madeiras ou produtos florestais abatidos é
arroteamento e em terrenos agrícolas) obrigatória. Em caso de reincidência os utensílios, veículos ou máquinas empregues
1. O recurso à prática dos fogos controlados, efectuados em período conve- na prática da infracção serão confiscadas.
nientes, fogos precoces, com vista à destruição prévia de material, combustível, 3. A parcela arroteada deverá ser repovoada.
como medida preventiva de ocorrência de fogos florestais, poderá ser efectuada
desde que autorizada pela Direcção Geral das Florestas e Caça e sempre sob super- ARTIGO 56º
visão de técnicos e meios considerados necessários à boa execução de tal prática. (Infracções às disposições relativas à protecção e a luta
2. O ateamento do fogo por efeitos de arroteamento deverá ser sempre feito da contra os incêndios e queimadas)
presença do titular da autorização e após declaração prévia junto do presidente da 1. O ateamento de incêndios ou queimadas nos terrenos do domínio florestal da
secção ou das secções interessadas. O titular da autorização é responsável pela Guiné-Bissau, desde que não tenha lugar nos termos permitidos pela lei, é punido
prorrogação do fogo se houver negligência da sua parte.
com uma pena de prisão de 2 anos até 3 anos e com uma multa de 100.000.00 PG
3. O ateamento de fogo em terrenos agrícolas ou utilizados unicamente para fins
até 1.000.000.00 PG/ha uma destas somente. A pena de prisão neste caso não é
pastoris deverá ser sempre feita na presença do chefe da tabanca em nome da qual
remível nem pode ser suspensa.
os terrenos estão registados ou do proprietário ou concessionário da exploração e
2. O ateamento de incêndios ou queimadas por negligência nos terrenos do
após declaração prévia junto do presidente da secção e do responsável florestal
domínio florestal da Guiné-Bissau, é punido com pena de 3 meses até 6 meses e
territorialmente competente. O chefe da tabanca, o proprietário ou concessionário
sujeitos ao pagamento de uma multa de 50.000.00 PG/há, cumulativa ou alterna-
da exploração, segundo os casos, serão responsáveis pela propagação do fogo se
tivamente, de acordo com a extensão dos danos ou prejuízos causados.
houver negligência da sua parte.
3. Quem, ao atear um fogo para fins de arroteamento, de preparação de terrenos
4. O titular da autorização de arroteamento, o chefe da tabanca, proprietário ou
agrícolas ou utilizados unicamente para fins pastoris não tiver respeitado os pro-
concessionário da exploração florestal, segundo os casos, deverão adoptar as
medidas necessárias para evitar a propagação do fogo. Estas medidas incluirão a cedimentos referidos no artigo 44º, nº 3, será punido com uma multa de 50.000.00
presença de uma brigada de luta contra os incêndios. PG/ha até 500.000.00 PG/há.

[...] ARTIGO 57º


(Obstrução com violência ou ameaças de violência
ARTIGO 54º contra um agente de fiscalização)
(Abate ilegal de árvores) Quem dificultar ou obstruir com violência ou ameaça de violência a acção dos
1. Os autores da infracção ao disposto no artigo 26º do presente diploma, serão agentes de fiscalização, será punido com uma pena de prisão de 6 meses até 1 ano
punidos com pena de prisão de 1 ano até 2 anos e sujeitos ao pagamento de uma e sujeito ao pagamento de uma multa de 1.000.000.00 PG até 3.000.000.00 PG,
multa cujo montante será pelo menos igual ao dobro do valor dos pagamentos que cumulativa ou alternadamente de acordo com a extensão dos danos ou prejuízos
deveriam ser efectuados, cumulativa ou alternadamente, de acordo com a extensão causados.
122 dos danos ou prejuízos causados. 123
Colectânea de Legislação de Direito Penal Sanções Relativas à Devastação das Florestas

ARTIGO 58º ARTIGO 62º


(Outras infracções) (Transacção)
As demais infracções ao presente diploma e aos regulamentos adoptados para 1. Salvo o caso de reincidência e da infracção definida no artigo 59º, o Director
a sua execução, serão punidos com uma multa de 50.000.00 PG até 2.000.000.00 Geral das Florestas e Caça, o responsável nacional ou os chefes regionais a guarda
PG. florestal poderão renunciar a transmitir o acto de notícia de uma infracção ao
Agente do Ministério Público competente e transigir com o autor da infracção.
ARTIGO 59º 2. O montante de transacção não poderá ser inferior ao mínimo da multa de que
(Circunstâncias agravantes) é possível o autor da infracção.
1. As sanções previstas no presente diploma serão elevadas para o triplo nos 3. Toda ou parte da transacção poderá ser paga em bens, serviços, ou execução
seguintes casos: de trabalhos de harmonia com as disposições regulamentares adoptadas no âmbito
a) Se as madeiras, as árvores ou a vegetação arbustiva se encontrar numa área do artigo 60º.
classificada submetida ao regime de protecção ou em área protegida, ou em zonas 4. A apreensão ou a restituição das madeiras e produtos florestais objecto de
de protecção especial ou em zonas de repovoamento com essências indígenas; infracção é obrigatória.
b) Se o autor da infracção for um agente da administração ou um chefe de
tabanca ou agir por conta destes; [...]
c) Se toda ou parte da infracção tiver sido cometida do pôr ao nascer do sol;
d) Se em caso de reincidência.
2. Considera-se que há reincidência se nos cinco anos que precederam a prática
da infracção o seu autor já tiver sido condenado ao pagamento de uma multa de
transacção ou sido condenado por um tribunal por infracção ao presente diploma.

ARTIGO 60º
(Remissão de penas)
1. Por decreto do Conselho de Ministros serão determinadas as condições de
remissão das penas, definidas pelo presente diploma, e que devem consistir em
fornecimento de bens ou prestações de serviços fixando-se igualmente o valor
compensatório dos mesmos.
2. Indicar-se-á sempre aos infractores beneficiários das penas:
a) A natureza do fornecimento em bens ou tipo de serviço e trabalhos a prestar;
b) O lugar de realização dos trabalhos;
c) O prazo de pagamento ou de prestação dos serviços ou execução dos trabalhos
assim como as condições de supervisão destes.

ARTIGO 61º
(Regras processuais e de competência)
Salvo disposição em sentido contrário, são aplicadas no âmbito do presente
diploma as normas processuais de competência dos tribunais em vigor na Guiné-
-Bissau.

124 125
Colectânea de Legislação de Direito Penal Lei do Inquilinato

Decreto nº 13-A/89, de 9 de Junho de 1989*


Lei do Inquilinato

[...]

ARTIGO 73º
O arrendatário não pode cobrar do subarrendatário renda superior à devida pelo
contrato de arrendamento, acrescida de 20% na sublocação total e 10% na parcial.

[...]

CAPÍTULO V
DISPOSIÇÕES FISCAIS

ARTIGO 107º
l. Quando o arrendamento for reduzido a escrito particular, deve o senhorio
apresentar na respectiva repartição ou delegação do Ministério das Finanças, três
exemplares referidos no nº 3 do artigo 5º do Decreto nº 30.117, de 8 de Dezembro
de 1939, dentro dos dez dias posteriores à data da celebração do contrato, apondo
o selo no triplicado.
2. Quando o arrendamento for reduzido a escritura pública, o imposto do selo
será pago pela forma prescrita na respectiva lei e o notário enviará ao Ministério
das Finanças, cópia do contrato, em papel comum, até ao dia 10 do mês seguinte
ao da sua celebração.

ARTIGO 108º
A importância da renda anual servirá de base, nas repartições ou delegações de
Finanças, à fixação do rendimento ilíquido do prédio para efeito da liquidação,
lançamento e cobrança da contribuição predial, salvo se for inferior ao rendimento
inscrito na matriz.

*
126 2º Suplemento ao B.O. nº 23, de 9 de Junho de 1989. 127
Colectânea de Legislação de Direito Penal Crimes Contra a Economia Nacional

CAPÍTULO VI
DISPOSIÇÕES PENAIS
Lei nº 1/79*
ARTIGO 109º
A inobservância do preceituado no artigo 107º será punida nos termos Crimes contra a Economia Nacional
actualmente vigentes.
Para o desenvolvimento económico do nosso país e a construção duma economia
ARTIGO 110º nacional independente é necessário transformar a realidade objectiva do atraso em
que foi deixado o nosso povo e criar as bases indispensáveis à edificação duma vida
Constitui crime de especulação, punível nos termos da legislação respectiva:
nova livre de exploração para o seu bem estar e progresso do nosso País.
a) A recusa do recibo da renda paga;
Considerando que se tem registado atentados contra a nossa economia;
b) O facto de o senhorio ou o arrendatário sublocador de casa destinada a
Considerando a necessidade de adoptar medidas enérgicas tendentes a desen-
habitação receber do seu inquilino, a título de cedência de chave ou qualquer outro, corajar toda e qualquer acção contra a economia nacional;
recompensa ou remuneração que não seja a renda; A Assembleia Nacional Popular, no uso das faculdades atribuídas pelos artigos
c) O facto de o arrendatário receber qualquer quantia, que não constitua 28º e 29º da Constituição, decreta e eu promulgo a lei seguinte:
indemnização ou compensação legal, pela extinção do arrendamento ou pela
cessão do local em caso que seja o de trespasse; ARTIGO 1º
d) A infracção, por parte do arrendatário sublocador, ao disposto no artigo 73º. (Conceito)
É crime contra a economia nacional a violação voluntária das directrizes gerais
[...] dos órgãos superiores do PAIGC sobre o funcionamento da economia do País, das
leis, regulamentos e decisões estatais assim como das prescrições dos órgãos
colectivos de gestão, nomeadamente, sobre a condução dos negócios, a organização
do trabalho, a utilização do património social ou os cuidados a serem tomados com
o referido património social.

ARTIGO 2º
(Tentativa)
A tentativa da prática de crime contra a economia nacional será punida como
se de crime consumado se tratasse.

ARTIGO 3º
(Cumplicidade e encobrimento)
A cumplicidade e o encobrimento de crime contra a economia nacional é
equiparada à autoria.

ARTIGO 4º
(Irremissibilidade da pena)
A pena de trabalho produtivo obrigatório nos crimes contra a economia nacional
não é remível nem pode ser suspensa.

*
128 Suplemento ao B.O. nº 22, de 8 de Junho de 1979. 129
Colectânea de Legislação de Direito Penal Crimes Contra a Economia Nacional

ARTIGO 5º ARTIGO 8º
(Falência ou insolvência) (Delapidação de bens do Estado)
1. Aquele que, dolosamente cause a falência ou insolvência de uma organização Aquele que, numa organização económica do Estado ou com interesse económico
económica do Estado, ou com interesse económico estatal, ou em que o Estado estatal ou que o Estado tenha participação, maliciosamente ou com culpa grave
tenha participação, será punido com trabalho produtivo obrigatório de oito a doze danificar, deixar danificar total ou parcialmente, mercadorias, produtos, bens e
anos, e demitido. equipamentos, nomeadamente, fontes de energia, carros, tractores, jangadas ou
2. Se o crime previsto no número um tiver sido meramente culposo, indepen- outras unidades frota terrestre, marítima ou aérea, pertencentes às organizações
dentemente de toda a intenção maléfica, o autor será punido com trabalho produtivo referidas, será condenado nas seguintes penas:
obrigatório de dois a oito anos e demitido. a) De 2 a 8 anos de trabalho produtivo obrigatório se o valor não for superior
a 500.000.00 PG;
ARTIGO 6º b). De 8 a 12 anos de trabalho produtivo obrigatório se o valor for superior a
(Contratos manifestamente prejudiciais) 500.000.00 PG e inferior a 1.000.000.00 PG;
1. Aquele que, numa organização económica do estado, ou com interesse c) De 12 a 15 anos de trabalho produtivo obrigatório se o valor for superior a
económico estatal, ou em que o estado tenha participação, voluntariamente, 1.000.000.00 PG;
outorgue contratos manifestamente prejudiciais para a organização ou contrários d) Como pena acessória do crime previsto no corpo deste artigo o Tribunal
aos seus poderes e por esse facto cause prejuízos ao Estado, será punido com pena decretará a reposição total do património social lesado.
de trabalho produtivo obrigatório de dois a oito anos e demitido. e) Se o crime tiver sido meramente culposo, independentemente de toda a
2. Se em virtude do crime previsto no número anterior resultarem prejuízos intenção maléfica, o autor será unicamente condenado na reposição total do
iguais ou superiores a um milhão de pesos o autor será punido com trabalho património social lesado.
produtivo obrigatório de oito a doze anos e demitido.
ARTIGO 9º
ARTIGO 7º (Tráfico de divisas)
(Uso indevido de poderes de gestão) 1. Aquele que, contrariando as prescrições em vigor, compre, venda ou troque
1. Aquele que, numa organização económica do Estado, ou com interesse dinheiro em ouro, moeda estrangeira, divisas ou metais preciosos ou que no intuito
económico estatal ou em que o Estado tenha participação, no intuito de obter de revenda compre ou venda, sem autorização, obras feitas em metal precioso ou
vantagens patrimoniais ilícitas a alheias à sua organização, crie ou guarde no País objectos preciosos, será punido com trabalho produtivo obrigatório de 2 a 8 anos.
ou fora dele bens ou fundos ilícitos ou que falsifique documentos, balanços, 2. Se o autor do crime previsto no número anterior organizar uma rede de
inventários, ou que por qualquer forma use poderes de gestão patrimonial para revendedores ou de intermediários, ou se obtiver vantagens patrimoniais ilícitas
obter vantagens pessoais, ilícitas, será punido com trabalho produtivo obrigatório iguais ou superiores a um milhão de pesos, será punido com trabalho produtivo
de dois a oito anos e demitido. obrigatório de 6 a 10 anos.
2. Se em consequência do crime prejuízos para a organização em quantia 3. Como pena acessória do crime previsto no nº 1 o Tribunal decretará o
superior a um milhão de pesos, o autor será punido com trabalho produtivo confisco do objecto do crime.
obrigatório de oito a doze anos e demitido.
3. Como pena acessória do crime previsto no nº 1, o Tribunal decretará o ARTIGO 10º
confisco de todos os bens e fundos fraudulentamente adquiridos, ou a reposição 1. Aquele que, sem autorização, exportar, fizer exportar, importar ou fizer
integral dos valores desviados. importar, notas, moedas com curso legal no território nacional, será punido com
trabalho produtivo obrigatório de 2 a 8 anos.
2. Se em virtude do crime previsto no número anterior o valor for igual ou
superior a um milhão de pesos, o autor será punido com trabalho produtivo
obrigatório de 8 a 12 anos.
130 131
Colectânea de Legislação de Direito Penal Crimes Contra a Economia Nacional

ARTIGO 11º ARTIGO 14º


1. Aquele que, contrariando as prescrições legais, exportar, fizer exportar (Sociedades Comerciais e Entidades Colectivas)
dinheiro, ouro, moeda estrangeira, divisas ou metais preciosos, obras feitas em Pelos crimes contra a economia nacional praticados por uma sociedade ou
metais preciosos ou objectos preciosos, será punido com trabalho produtivo qualquer entidade colectiva presume-se a culpabilidade dos Administradores,
obrigatório de 2 a 8 anos. Gerentes ou Directores a quem serão aplicadas as respectivas penas, sem prejuízo
2. Se em virtude do crime previsto no número anterior, o valor for igual ou da responsabilidade do agente material.
superior a um milhão de pesos, o autor, será punido com trabalho produtivo
obrigatório de 8 a 12 anos. ARTIGO 15º
(Crime por omissão)
ARTIGO 12º Aquele que, podendo faze-lo, não impedir, prevenir ou denunciar aos órgãos
(Fraude fiscal) competentes, a perpetração de crime contra a economia nacional, será punido com
1. Aquele que, no desejo de subtrair-se ou fazer outrem subtrair-se, total ou a mesma pena que couber ao autor.
parcialmente, ao pagamento de imposto, taxas legais ou outra obrigação pecuniária
legal, forneça aos órgãos do Estado dados relativos aos lucros, objecto, ou factos ARTIGO 16º
influência na determinação do quantitativo dessas obrigações, ou que no mesmo (Açambarcamento)
intuito, no caso de declarações obrigatórias, não declare o rendimento, o objecto As penas previstas para o crime de açambarcamento de acordo com os artigos
ou qualquer facto com influência na determinação do quantitativo das obrigações 18º, 19º e 20º do Decreto nº 20/77, de 14 de Maio de 1977, passam a ser as
pecuniárias legais, será punido com trabalho produtivo obrigatório de trinta dias seguintes:
a dois anos. Artigo 18º – De 2 a 8 anos de trabalho produtivo obrigatório e multa corres-
2. Se em consequência do crime previsto no número anterior o autor sonegar pondente a metade do valor da mercadoria açambarcada ou escondida.
um quantitativo de imposto ou outra obrigação pecuniária legal, igual ou superior § 1º – De 30 dias a 2 anos de trabalho produtivo obrigatório e multa cor-
a cinquenta mil pesos, mas inferior a cento e cinquenta mil pesos, será punido com respondente a 20% da mercadoria açambarcada ou escondida.
trabalho produtivo obrigatório de dois a oito anos. § 2º – De 2 a 8 anos de trabalho produtivo obrigatório e multa correspondente
3. Se ultrapassar o quantitativo de cento e cinquenta mil pesos o autor será a metade do valor da respectiva mercadoria.
punido com trabalho produtivo obrigatório de oito a doze anos. Artigo 19º – Multa de 5.000.00 a 100.00.00 pesos.
4. Como pena acessória do crime previsto no nº 1 deste artigo, o Tribunal § 1º – Multa de 5.000.00 a 100.000.00 pesos.
decretará multa correspondente ao dobro do quantitativo do imposto, taxa ou § 2º – Multa de 10.000.00 a 200.00.00 pesos.
obrigação. Artigo 20º – De 30 dias a 2 anos de trabalho produtivo obrigatório e multa de
5.000.00 a 50.000.00 pesos.
ARTIGO 13º Artigo 20º
(Não desembarque aduaneiro de mercadorias) § único. – Multa de 5.000.00 a 20.000.00 pesos.
1. Aquele que, dentro do prazo legal, dentro do prazo legal, não efectuar ou
ARTIGO 17º
dificultar o desembarque aduaneiro de mercadorias reputadas necessárias ao
(Desvio de bens)
consumo interno, será punido com trabalho produtivo obrigatório de 30 dias a 2
1. Aquele que, desempenhando funções numa organização económica estatal,
anos.
ou com interesse económico estatal, ou em que o Estado tenha participação,
2. Se a mercadoria não desembaraçada se deteriorar e o seu valor for superior
danificar, desviar, furtar, maliciosamente deixar danificar, furtar ou aplicar a uso
a 500.000.00 pesos, a pena será de 2 a 8 anos de trabalho produtivo obrigatório.
próprio ou alheio, dinheiro, mercadorias, produtos e outros bens pertencentes às
organizações acima mencionadas, será condenado nas seguintes penas:
a) De 2 a 8 anos de trabalho produtivo obrigatório, se o valor não for superior
132 a 500.00.00 pesos; 133
Colectânea de Legislação de Direito Penal Infracções Antieconómicas e Contra a Saúde Pública

b) De 8 a 12 anos de trabalho produtivo obrigatório, se o valor for superior a


500.000.00 e inferior a 1.000.000.00 pesos;
c) De 12 a 15 anos de trabalho produtivo obrigatório, se o valor for superior Decreto nº 20/77*
a 1.000.000.00 pesos.
2. Como pena acessória do crime previsto no nº 1 deste artigo, o Tribunal Infracções antieconómicas e contra a saúde pública
decretará o confisco dos bens adquiridos ilicitamente.
Considerando que se torna necessário reagir com prontidão contra todas as
tentativas de alta artificial dos preços pela onda de oportunismo e pela ânsia
Promulgada em 8 de Junho de 1979.
insaciável do lucro, geradoras muitas vezes de agravamentos gerais e ilegítimos
A Vice-Presidente da Assembleia Nacional popular, Carmem Pereira.
do custo de vida;
Considerando ainda que a legislação disciplinadora das infracções antieconó-
Publique-se.
micas e contra a saúde pública se encontra actualmente dispersa impondo-se,
O Presidente do Conselho de Estado, Luiz Cabral.
assim, a sua condensação numa só diploma, com a introdução de algumas alterações
ditadas pela exigência dos condicionalismos locais;
Sob proposta do Comissariado de Estado do Comércio e Artesanato;
No exercício das atribuições e competências que lhe cabem ao abrigo dos
artigos 46º e 47º da Constituição;
O Conselho de Comissários de Estado decreta, e eu promulgo, o seguinte:

DAS INFRACÇÕES ANTIECONÓMICAS E CONTRA A SAÚDE PÚBLICA

CAPÍTULO I
DAS INFRACÇÕES E DAS PENAS

ARTIGO 1º
É equiparado a comerciante, para efeitos deste diploma, todo o individuo ou
colectividade que, mesmo acidentalmente, compre para revenda, por grosso ou
retalho.

ARTIGO 2º
Presume-se que aqueles que actuam em nome e por conta de outrem, procedem
em virtude de instruções recebidas, sem embargo da responsabilidade que
pessoalmente lhes possa caber.

ARTIGO 3º
As sociedades civis e comerciais são solidariamente responsáveis pelas multas
e indemnizações a que forem condenados os seus representantes ou empregados,
desde que estes tenham agido nessa qualidade ou no interesse da sociedade.

*
134 B.O. nº 20, de 14 de Maio de 1977. 135
Colectânea de Legislação de Direito Penal Infracções Antieconómicas e Contra a Saúde Pública

ARTIGO 4º a) Encerramento do estabelecimento;


São consideradas circunstâncias agravantes, além das estabelecidas no artigo b) A cessação das licenças ou autorizações relacionadas com o exercício da
34º do Código Penal, as seguintes: profissão e, para vendedores das feiras ou mercados públicos, a perda da concessão
a) Ter a inflação influído na subida dos preços no mercado; ou proibição de ocupação dos locais de venda;
b) Ter o infractor favorecido interesses estrangeiros, em detrimento da c) A suspensão do exercício dos direitos provenientes da inscrição no respectivo
Economia Nacional; departamento competente.
c) Ter a infracção sido praticada em estado de carência ou insuficiência de
produtos ou mercadorias para o abastecimento do País, desde que o seu objecto ARTIGO 9º
tenha sido algum desses produtos ou mercadorias; Não obsta à aplicação do disposto no número antecedente a transmissão do
d) Ter a infracção sido praticada encontrando-se o País em estado de guerra ou estabelecimento efectuada quer após a perpetração do crime que dê lugar à
de mobilização preventiva; interdição do exercício da profissão, quer depois da instauração, conhecido o
e) Ter-se o infractor aproveitado do estado de carência do comprador ou do arguido, do processo de segurança.
mercado;
f) Ser manifesto o perigo da saúde do consumidor; ARTIGO 10º
g) Ter a infracção permitido alcançar lucros excessivos ou ter sido praticada O encerramento do estabelecimento em consequência da aplicação de medida
com intenção de os obter; de segurança não constitui justa causa para o despedimento de empregados ou
h) Ser grande o volume de negócios sou das existências do infractor. assalariados nem fundamento para a suspensão ou redução do pagamento das
respectivas remuneração.
ARTIGO 5º
A pena complementar de multa, relativa a cada infracção, será graduada nos ARTIGO 11º
termos seguintes: As medidas preventivas podem ser impostas cumulativamente com as sanções
a) No crime de especulação, terá como limite mínimo a quantia de 10.000.00 de carácter penal ou ser isoladamente decretadas nos termos da legislação res-
PG; pectiva, devendo a sua aplicação ser proposta pelo Ministério Público em processo
b) Nas outras infracções, não inferior ao dobro do valor da mercadoria que organizado por esta entidade ou à mesma remetidos pelos departamentos do Estado
constitui objecto da infracção, com o mínimo de 5.000.00 PG; competentes.
c) Em qualquer dos caos será superior a 1.000.000.00 PG.
ARTIGO 12º
ARTIGO 6º A aplicação das medidas preventivas tem por fundamento o perigo de actividade
Serão declarados perdidos a favor do Estado os produtos ou mercadorias que delituosa contra a saúde dos consumidores ou contra os interesses da Economia
constituam objecto das infracções dolosas previstas nos artigos 19º, 37º e 38º. Nacional, sendo considerados como indicies especialmente reveladores dessa
perigosidade:
ARTIGO 7º a) O concurso de três condenações por crime dolosos previstos neste decreto;
São aplicáveis, no domínio das actividades ilícitas a que se refere este decreto, b) A condenação por crime que revele manifesto desprezo pelos interesses da
as medidas de segurança fixadas pelo artigo 70º Código Penal. Economia Nacional ou da Saúde Pública.
c) A comparticipação voluntária em associação ou acordo destinada a obter, por
ARTIGO 8º qualquer modo, a alteração do movimento normal da vida económica ou o
A medida de interdição do exercício da profissão pode ser imposta a qualquer aproveitamento consciente da actividade da associação ou do funcionamento do
comerciante, industrial, com as necessárias adaptações, às sociedades civil e acordo.
comercial, é além dos efeitos e consequências prescritas no Código Penal, importa:
136 137
Colectânea de Legislação de Direito Penal Infracções Antieconómicas e Contra a Saúde Pública

ARTIGO 13º § 2º – É equiparado à ocultação:


No caso de reincidência, os limites máximo e mínimo da pena de prisão e de a) O armazenamento de mercadorias ou produtos em locais não indicados às
multa nunca podem ser inferiores ao dobro. autoridades de fiscalização, quando essa indicação seja devidamente
exigida;
ARTIGO 14º b) A recusa ou falsidade da declaração sobre existências, quando exigida
São equiparadas à reincidência as circunstâncias d) e f) do artigo 4º e qualquer pelas autoridades encarregadas da fiscalização;
outra a que o governo, por decreto, temporariamente atribua igual valor. c) O não levantamento, pelo destinatário, das mercadorias que lhe tenham
sido consignadas e derem entrada nos locais de descarga no prazo de dez
ARTIGO 15º dias relativamente às respeitantes mercadorias ou produtos.
A pena aplicável de prisão será sempre efectiva quando concorra qualquer das § 3º – É equiparado à recusa:
circunstâncias referidas no artigo antecedente ou quando concorra alguma cir- a) O encerramento voluntário do estabelecimento com fim de eximir à venda
cunstância agravante. a respectiva existência;
b) A limitação de venda de mercadorias, fora dos termos previstos na parte
final da alínea b) do § 1º, quando essa limitação tenha sido declarada
ARTIGO 16º
prejudicial pela entidade competente.
É vedado o exercício clandestino de actividade comercial, em casas residenciais,
suas dependências ou anexos, mesmo à porta fechada, ficando os transgressores
ARTIGO 18º
sujeitos à multa de 5.000.00 a 40.000.00 PG.
O crime do açambarcamento é punível com pena de três dias a dois anos e multa.
§ único. – Em caso de reincidência, os limites mínimos e máximos das multas
§ 1º – Quando houver mera negligência, a pena aplicável será a de prisão de três
anteriormente referidas serão elevados para o dobro.
dias e dois meses e multa, podendo esta, excepcionalmente, ser reduzida a metade.
§ 2º – A tentativa de açambarcamento, bem como a sua frustração serão sempre
CAPÍTULO II
puníveis.
DAS INFRACÇÕES EM ESPECIAL
ARTIGO 19º
SECÇÃO I
DAS INFRACÇÕES ANTIECONÓMICAS
Sempre que o Governo determine o racionamento ou estabeleça o condicio-
namento de quaisquer produtos ou mercadorias, fixando directamente ou por
delegação em departamento competente as capitações ou os contingentes cuja
ARTIGO 17º
distribuição é permitida, aquele que adquirir ou vender quantidade superior às
Comete o crime de açambarcamento aquele que, em prejuízo do abastecimento
fixadas incorrerá na pena de multa de 5.000.00 a 10.000.00 PG, se a sanção maior,
regular do mercado, ocultar as existências de mercadorias ou produtos, ou se
ou mais grave, lhe não couber nos termos da legislação em vigor.
recusar a vendê-los segundo os usos normais da actividade comercial, industrial
§ 1º – Em igual pena incorre o produtor que constituir reservas de mercadorias
ou agrícola, ou exigir por eles um preço que manifestamente exorbite os preços
ou produtos racionados ou condicionados, superiores às legalmente permitidas ou
correntes do mercado.
na falta de fixação, às necessidades previsíveis do respectivo agregado familiar.
§ 1º – Não constitui infracção:
§ 2º – Quando as mercadorias ou produtos adquiridos, vendidos ou reservados
a) Ter o produtor recusado a venda nas quantidades indispensáveis à satisfação se destinem à indústria ou ao comércio, a pena aplicável será a multa de 5.000.00
das necessidades do abastecimento doméstico ou da exigências normais da a 50.000.00 ou de 2.000.00 a 10.000.00 PG conforme o respectivo valor exceda
exploração durante o período necessário à renovação das existências; ou não 2.000.00 PG.
b) Ter o comerciante recusado a venda de mercadorias em quantidades sus-
ceptíveis de prejudicar a justa repartição entre a sua clientela ou mani- ARTIGO 20º
festamente desproporcionada às necessidades normais do consumo do
A omissão ou falsidade de declarações na sequência dos inquéritos ou
adquirente.
138 manifestos ordenados pelo governo para conhecimento das quantidades existentes 139
Colectânea de Legislação de Direito Penal Infracções Antieconómicas e Contra a Saúde Pública

de certos produtos ou mercadorias, bem como a recusa de quaisquer elementos ARTIGO 26º
oficialmente exigidos para o mesmo fim, serão puníveis com prisão até 6 meses Sempre que a venda das mercadorias se processe por unidade de peso ou
e multa. medida, os estabelecimentos devem possuir, conforme os casos, balanças, pesos
§ único. – Quando houver mera negligência, a pena aplicável será a multa de e medidas legalmente aferidas.
2.000.00 a 10.000.00 PG. § único. – É obrigatória a pesagem ou a medição à vista do comprador, sempre
que este o exija.
ARTIGO 21º
Constitui crime de especulação: ARTIGO 27º
a) A venda de produtos ou mercadorias por preço superior ao legalmente A contravenção ao disposto no artigo anterior é punível com a multa de
fixado, ou na falta de tabelamento, com margem de lucro líquido superior à que 2.000.00 a 10.000.00 PG.
for legalmente estabelecida;
b) A alteração, sob qualquer pretexto ou por qualquer meio apropriado, dos ARTIGO 28º
preços que do regular exercício das actividades económicas o dos regimes legais São considerados como contravenções puníveis com multa de 2.000.00 a
em vigor, normalmente resultariam para mercadorias; 10.000.00 PG, quando não constituem crime de açambarcamento ou especulação:
c) A intervenção remunerada de um novo intermediário no ciclo normal de a) A falta de exposição, no estabelecimento do comerciante retalhista, dos
distribuição, ainda que não tenha havido lucro ilícito, salvo quando se mostre que géneros ou produtos de consumo cuja exibição corresponda aos usos do comércio
da intervenção não resultou qualquer aumento de preço. ou que seja superiormente determinada;
b) A falta de afixação, nos estabelecimentos da mesma natureza, da relação dos
ARTIGO 22º preços constantes da lista elaborada pelo Comissário do Comércio ou afixação de
Considera-se preço legalmente fixado para as mercadorias ou produtos, o que etiquetas nos artigos contrariamente à determinação da referida entidade.
lhes tenha sido atribuído em conformidade com o Decreto nº 21/77 que fixa o
regime de preços. ARTIGO 29º
O fabrico, comércio ou existência para comércio de produtos que, salvo os
ARTIGO 23º requisitos de sanidade, não satisfaçam as características legais constitui contravenção
Para efeitos de fiscalização de preços, os comerciantes organizarão a partir da punível com multa de 2.000.00 a 10.000.00 PG.
data da entrada em vigor do presente decreto:
a) Um livro de cálculo de preços de venda do qual conste todos os elementos ARTIGO 30º
necessários para o cumprimento do imposto no decreto; Todo aquele que, em prejuízo do abastecimento público, destruir quaisquer
b) Um arquivo em que figurarão as facturas e demais documentos que deram produtos ou mercadorias ou lhes der aplicação diferente da normal, será punido
origem aos lançamentos no livro mencionado na alínea anterior. com pena de multa de 10.000.00 a 100.000.00 PG.
§ 1º – Quando houver mera negligência, a pena aplicável será a de multa de
ARTIGO 24º 2.000.00 a 20.000.00 PG.
O crime de especulação será punível nos termos do artigo 20º. § 2º – Considera-se sempre feita em prejuízo do abastecimento público, a
utilização dos produtos ou mercadorias para fins diferentes dos impostos por lei.
ARTIGO 25º
É equiparado à tentativa de especulação, a existência para venda, de produtos ARTIGO 31º
que, por unidade, devem ter certo peso, quando seja inferior a esse mesmo peso. Quando a exportação de mercadorias estiver, por determinação publicada no
§ único. – Quando se mostre não ter havido propósito de obter lucro ilícito, o “Boletim Oficial” dependente de licença do Governo, a exportação ou reex-
facto a que se refere o artigo 25º constituirá mera contravenção, punível com multa portação não autorizada de mercadorias sujeitas a esse regime, será punida com
de 2.000.00 a 10.000.00 PG. a pena de prisão de três meses a dois anos e multa correspondente, sem prejuízo
140 141
Colectânea de Legislação de Direito Penal Infracções Antieconómicas e Contra a Saúde Pública

do procedimento a que houver lugar por contrabando, por desvio ou outras SECÇÃO II
infracções de natureza fiscal. DAS INFRACÇÕES CONTRA A SAÚDE PÚBLICA
§ 1º – A tentativa, bem como a frustração da infracção a que se refere este artigo
são sempre puníveis. ARTIGO 36º
§ 2º – Sempre que se verifique infracção ao condicionamento previsto no artigo Todo aquele que fabricar, manipular, armazenar, transportar ou vender géneros
31º, o respectivo auto de notícia será lavrado em duplicado remetendo-se uma das alimentícios infringindo as disposições fixadas na lei ou em regulamentos especiais
cópias à Procuradoria da República, e outra à entidade aduaneira competente, sob para salvaguardar o asseio e higiene, incorrerá na multa de 5.000.00 a 50.000.00
pena do disposto no § 2º do artigo 168º do Código do Processo Penal. PG.
§ único. – Será comunicada às competentes autoridades sanitárias todas as faltas
ARTIGO 32º ao dever geral da mesma natureza.
Sempre que o governo ordena a requisição de mercadorias consideradas indis-
pensáveis ao abastecimento das actividades produtoras ou transformadoras ou ao ARTIGO 37º
consumo público, a falta de cumprimento da requisição, nos termos estabelecidos, A falsificação de géneros alimentícios é punível:
é punível com prisão de três dias a seis meses e multa correspondente. a) Com prisão de três dias a dois anos e multa correspondente quando os géneros
falsificados sejam, por sua natureza, susceptíveis de prejudicar a saúde do
ARTIGO 33º consumidor;
O transporte de mercadorias sujeitas a condicionamento de trânsito sem a b) Com prisão de três dias a dois anos de multa quando, não sendo nocivas à
apresentação imediata ou dentro do prazo que razoavelmente for fixado para o saúde do consumidor, os géneros falsificados forem todavia, impróprios para o
efeito da guia de autorização, constitui contravenção punível com multa de consumo;
1.000.00 a 20.000.00 PG à qual acrescerá a perda da mercadoria nos caos que, c) Com multa de 2.000.00 a 50.000.00 PG quando sendo a falsificação nociva
atentos o fim de transporte e condicionalismo justificativo do regime do condi- à saúde, houver mera negligência do infractor.
cionalismo, revelar maior gravidade. § 1º – Considera-se género alimentício toda a substância ou preparado usado
§ único. – São considerados autores da infracção, o dono da mercadoria como alimento ou bebida humana, exceptuadas as drogas medicinais, bem como
transportada, bem assim as pessoas que o efectuaram. toda a substância utilizada na preparação ou composição dos alimentos humanos,
sem exclusão dos simples condimentos.
ARTIGO 34º § 2º – A falsificação compreende a substituição dos géneros alimentícios por
Sempre que certas actividades relativas a quaisquer produtos sejam limitadas, substâncias alimentares ou não, que imitam fraudulentamente as qualidades
por determinação publicada em decreto, às pessoas singulares ou colectivas daqueles (contrafacção) e bem assim a modificação, capaz de induzir o consumidor
inscritas em determinados organismos, a prática de actos sem a inscrição exigida em erro, da sua natureza, composição ou qualidade (alteração).
constitui contravenção punível com pena de multa de 1.000.00 a 25.000.00 PG.
ARTIGO 38º
ARTIGO 35º 1. A venda ou exposição à venda, bem como aquisição, transporte ou armazena-
Fica proibida a venda nos mercados municipais e postos de venda de produtos mento para comércio de géneros alimentícios falsificados, avariados ou corruptos,
importados salvo os que forem expressamente autorizados por despacho do são puníveis:
Comissário de Estado do Comércio e Artesanato. a) Com prisão de três dias a um ano de multa correspondente se os géneros
§ único. – A contravenção ao disposto ao número anterior, será punível com forem, por sua natureza susceptíveis de prejudicar a saúde do consumidor;
a multa de 2.000.00 a 40.000.00 PG. b) Com prisão de três a um ano de multa correspondente, se forem simplesmente
impróprias para consumo;
c) Com multa de 2.000.00 a 50.000.00 PG se o delito for ignorado do respectivo
responsável, por negligência.
142 143
Colectânea de Legislação de Direito Penal Infracções Antieconómicas e Contra a Saúde Pública

2. Presume-se que o transporte dos géneros falsificados, avariados ou corruptos ARTIGO 43º
é sempre feito para comércio quando esses géneros constituam objecto da actividade As autoridades competentes para proceder à instrução preparatória enviarão
normal do destinatário. sempre, e dentro do prazo de 48 horas, à Procuradoria da República, cópia dos
autos e denuncias relativas às infracções previstas no presente decreto, que será
ARTIGO 39º registada em livro próprio, ficando a aguardar a remessa dos respectivos processos.
1. É proibido expor produtos alimentares sem a respectiva identificação referente § único. – A falta de comunicação referida neste artigo é punível nos termos do
à natureza, origem, nome, qualidade e prazo de validade, quando isso for útil. § 2º do artigo 168º do Código de Processo Penal.
2. As faltas determinadas pelo não cumprimento do disposto no número anterior,
serão punidas com multa de 5.000.00 a 10.000.00 PG e, em caso de reincidência ARTIGO 44º
com trabalho obrigatório até um ano e multa de 50.000.00 PG. A apreensão de produtos ou mercadorias pode ter lugar quando necessária à
instrução do processo ou a concessão da ilicitude ou ainda nos casos de indícios
ARTIGO 40º de infracção capaz de importar a sua perda.
1. Todo o individuo que seja dono, gerente ou encarregado de um estabelecimento
em que se vendam produtos alimentares, tem por obrigação fiscalizar e rever, com ARTIGO 45º
assiduidade, esses produtos, de forma a que se evite qualquer possível contaminação. As mercadorias apreendidas, logo que se tornem desnecessárias para a instrução
2. A mera suspeita de que os produtos existentes em qualquer local do estabele- preparatória do processo, poderão ser vendidas por ordem da procuradoria da
cimento, podem estar avariados, pode legitimar a suspensão da venda. República, ou proposta do comissariado de estado do Comércio e Artesanato,
3. No caso de confirmar a suspeita pode o estabelecimento ser encerrado pelo observando-se o disposto nos artigos 884º e seguintes, do Código de Processo
tempo que a fiscalização determinar e os respectivos donos, gerentes ou encarregados Civil, desde que, relativamente a eles, haja:
presos. a) Risco de deterioração;
4. A pena de prisão por tempo superior a um ano, será de trabalho obrigatório b) Conveniência de utilização imediata para satisfação das necessidades de
e a multa que for aplicada não será inferior à quantia de 10.000.00 PG. abastecimento da população, da agricultura ou da indústria;
5. No caso de simples negligência, o disposto neste artigo pode ser punido com c) Requerimento do dono para que sejam alienadas.
multa até 5.000.00 PG. § único. – O produto da venda será depositado no banco à ordem do tribunal,
a fim de ser levantado, sem quaisquer encargos, por quem se mostre ter direito a
CAPÍTULO III ele conforme o resultado do julgamento.
DAS REGRAS DE COMPETÊNCIA E DE PROCESSO
ARTIGO 46º
ARTIGO 41º É sempre obrigatória a prestação de caução nos termos do § 1º do artigo 297º
A preparação e julgamento dos processos por infracção a que este decreto se do Código do Processo Penal, desde que para garantir a comparência do arguido
refere, são regulados pelo Código de Processo Penal e legislação complementar, essa caução seja legalmente exigível.
salvo disposições especiais.
ARTIGO 47º
ARTIGO 42º Nos caos de justo receio de insolvência do devedor ou de ocultação de bens e
da multa provável fixada por prudente arbítrio do juiz, não seja inferior a 10.000.00
Compete aos fiscais de actividades económicas, segundo o Decreto nº 22/77 a
PG requererá à Procuradoria Geral da República após o despacho de pronúncia
fiscalização das actividades económicas destinadas a impedir a prática ou pro-
equivalente, o arresto preventivo sobre bens do indiciado, a fim de garantir a
mover a repressão das infracções previstas neste decreto, bem como o exercício
responsabilidade pecuniária em que ele possa incorrer.
da acção penal para as que tenham a natureza de contravenções.
§ 1º – O arresto preventivo pode ser ainda requerido durante a instrução
preparatória quando, além dos pressupostos fixados neste artigo, ocorrerem
144 circunstâncias anormais que criem forte presunção de culpabilidade, como sejam 145
Colectânea de Legislação de Direito Penal Infracções Antieconómicas e Contra a Saúde Pública

a ausência em parte incerta do arguido, o abandono dos respectivos negócios ou ARTIGO 51º
a entrega a outrem da direcção do giro comercial. As infracções disciplinares relacionadas com actividades económicas são
§ 2º – Ao arresto, que será processado por apenso podem ser opostos os meios aplicáveis as seguintes penas:
de defesa previstos no artigo 414º do Código do Processo Civil, salvo quanto ao a) Mera advertência;
facto constitutivo da responsabilidade. b) Advertência registada;
c) Censura;
ARTIGO 48º d) Multa até 20.000.00 PG;
A existência de caução destinada a garantir o pagamento da parte pecuniária da e) Encerramento do estabelecimento comercial, industrial ou suspensão da
condenação, ficará sem efeito ou será convenientemente reduzida, quando o actividade exercida pelo infractor até seis meses;
arresto assegure total ou parcialmente esse pagamento. f) Suspensão até dois anos do exercício do direito de inscrição nos organismos
§ 1º – A caução pode ser voluntariamente prestada, a fim de que o arresto fique competentes;
sem efeito. g) Eliminação da inscrição nos organismos competentes ou interdição do
§ 2º – A caução económica requerida antes de efectuado o arresto fará sobrestar exercício da respectiva actividade.
na realização deste, depois de a respectiva decisão transitar em julgado. § 1º – A pena estabelecida no nº 5, só será aplicada quando do encerramento
não resultar vantagem para o infractor sujeita este ao regime fixado nos artigos 10º
CAPÍTULO IV e 11º, deste decreto.
DAS INFRACÇÕES CONTRA A ECONOMIA NACIONAL § 2º – A aplicação das penas dos nºs 3º e 7º poderá ser divulgada através dos
órgãos de comunicação social.
ARTIGO 49º
Constitui infracção disciplinar, no domínio da actividade económica, toda a ARTIGO 52º
conduta ofensiva, por acção ou omissão, dos princípios reguladores da vida Existirá nos organismos competentes um cadastro disciplinar relativo à activi-
económica, inscritos na legislação disciplinadora do País. dade económica das pessoas neles inscritos, do qual serão passados os extractos que
forem requisitados pelos tribunais pelas autoridades com competência para
ARTIGO 50º proceder à instrução preparatória ou por quaisquer outros organismos que neles
Constituem infracção disciplinar, entre outros, os seguintes eventos: mostrem ter legítimo interesse.
a) A falta ou inexactidão na prestação de informações relativas às actividades § 1º – Serão averbados no cadastro as penas disciplinares aplicadas aos inscritos,
económicas legalmente exigidas para fins estatísticos ou quaisquer outros; com excepção da mera advertência, devendo ainda constar desse averbamento uma
b) A desobediência às prescrições que fixam prazo para a realização de certas sumária descrição da infracção.
colheitas, modo ou tempo de as prestar ou lançar nos mercados de consumo ou § 2º – Serão igualmente averbados os louvores ou distinções recebidos por
exportação; serviços prestados à Economia Nacional.
c) A inobservância dos deveres respeitantes a reservas contingentes e quotas de
rateio; ARTIGO 53º
d) A concorrência ilícita ou desleal; A Procuradoria da República e os serviços de fiscalização comunicarão aos
e) A celebração de contratos com pessoas não inscritas nos organismos organismos competentes as infracções disciplinares de que tenham conhecimento
competentes, quando, tendo em consideração o objecto do contrato, a sua inscrição no exercício da sua actividade.
seja legalmente exigida;
f) A prática de actos lesivos dos interesses ou do bom-nome do respectivo ramo Promulgado em 14 de Maio de 1977.
profissional ou da economia nacional. O Presidente do Conselho de Estado, Luiz Cabral.
O Comissário Principal, Francisco Mendes.
O Comissário de Estado do Comércio e Artesanato, Armando Ramos.
146 147
Colectânea de Legislação de Direito Penal Lei do Recenseamento Eleitoral

Lei nº 2/98 de 23 de Abril*


Lei do Recenseamento Eleitoral

[...]

CAPÍTULO VI
INFRACÇÕES RELATIVAS AO RECENSEAMENTO

ARTIGO 41º
(Inscrição)
1. Todo aquele que, dolosamente, facilitar ou promover a inscrição de quem
não tenha capacidade eleitoral será punido com pena de prisão de seis meses a dois
anos e multa de 770.000 FCFA.
2. Todo aquele que, tendo conhecimento de qualquer irregularidade na
inscrição de um cidadão, e não denunciar, será punido com pena de prisão de três
meses a um ano.
3. Todo aquele que, dolosamente, se inscrever mais de uma vez será punido com
pena de prisão de seis meses a dois ano.
4. O cidadão estrangeiro que se ¡inscrever será punido com pena de prisão de
seis meses a quatro anos e multa de 615.500 FCFA.
5. Todo o cidadão que prestar falsas declarações, com o intuito de se ¡inscrever,
será punido com pena de prisão de seis meses a dois anos.

ARTIGO 42º
(Falsificação do cartão de eleitor)
Todo aquele que modificar ou substituir o cartão de eleitor será punido com
pena de prisão de seis meses a dois anos e multa de 385.000 FCFA.

ARTIGO 43º
(Obstáculos ao recenseamento)
Todo aquele que, deliberadamente, impedir ou dificultar a operação de
recenseamento será punido com pena de prisão de seis meses a três anos e multa
de 462.000 FCFA.

*
148 Publicada no Suplemento ao B.O. nº 17, de 28 de Abril de 1998. 149
Colectânea de Legislação de Direito Penal Lei do Recenseamento Eleitoral

ARTIGO 44º ARTIGO 50º


(Coação física) (Agente diplomático)
Aquele que impedir qualquer cidadão com capacidade eleitoral de inscrever Qualquer agente diplomático que criar obstáculo ao processo de recenseamento
será punido com pena de prisão de seis meses a três anos e multa de 308.000 FCFA. no estrangeiro será punido com pena de prisão de seis meses a um ano e multa de
77.000 FCFA.
ARTIGO 45º
(Falsificação do caderno de recenseamento) ARTIGO 51º
1. Aquele que, dolosamente, viciar, substituir, ocultar, suprimir, alterar os (Não cumprimento de outras obrigações legais)
cadernos ou boletins de recenseamento será punido com pena de prisão de dois a Aquele que injustificadamente não cumprir quaisquer deveres que lhe são
cinco anos e multa de 462.000 FCFA. impostos pela presente lei, se eximir de praticar ou retardar a prática dos actos
2. O membro da comissão de recenseamento que praticar os actos previstos no necessários ao bom andamento do processo de recenseamento eleitoral será punido
número anterior será punido com pena de prisão de dois a oito anos e multa de com multa de 231.000 FCFA.
770.000 FCFA.
[...]
ARTIGO 46º
(Denúncia caluniosa)
Aquele que, dolosamente, imputar a outrem, sem fundamento, a prática de
qualquer infracção relativa ao recenseamento eleitoral será punido com pena de
prisão de três meses a dois anos e multa de 462.000 FCFA.

ARTIGO 47º
(Violação fronteiriça)
Aquele que violar ou facultar a violação das fronteiras do território nacional,
com o intuito de ser recenseado, será punido com pena de prisão de um a três anos
e multa de 308.000 FCFA.

ARTIGO 48º
(Emissão de cartão de eleitor)
Aquele que emitir ou entregar a cidadão estrangeiro cartão de eleitor será
punido com pena de prisão de um a oito anos e multa de 462.000 FCFA.

ARTIGO 49º
(Dos fiscais)
O fiscal do partido político que, injustificadamente, criar obstáculos à brigada
de recenseamento será punido com pena de prisão de seis meses a um ano e multa
de 77.000 FCFA.

150 151
Colectânea de Legislação de Direito Penal Lei Eleitoral Para o Presidente da República e Assembleia Nacional Popular

Lei nº 3/98 de 23 de Abril*


Lei Eleitoral para o Presidente da República
e Assembleia Nacional Popular

[...]

CAPÍTULO II
INFRACÇÕES

SECÇÃO I
INFRACÇÕES RELATIVAS À APRESENTAÇÃO DE CANDIDATURAS

ARTIGO 153º
(Candidatura de cidadão inelegível)
Aquele que dolosamente aceitar a sua candidatura, sabendo que não tem
capacidade será punido com prisão de um a três anos e multa de 308.000 a 385.000
FCFA.

SECÇÃO II
INFRACÇÕES RELATIVAS À CAMPANHA ELEITORAL

ARTIGO 154º
(Violação de deveres de neutralidade e imparcialidade)
Os titulares dos órgãos e os agentes do Estado, pessoas colectivas de direito
público, de bens domínio público ou de obras públicas e das empresas públicas ou
mistas que infringirem os deveres de neutralidade e imparcialidade perante as
diversas candidaturas e os Partidos Políticos, serão punidos com pena de prisão de
seis meses a dois anos e multa de 154.000 a 231.000 FCFA.

ARTIGO 155º
(Utilização indevida de denominação, sigla ou símbolo)
Durante a campanha eleitoral, aquele que utilizar denominação, sigla ou
símbolo de Partidos ou Coligação de Partidos com intuito de o prejudicar ou
injuriar será punido com a pena de prisão de um a três anos e multa de 308.000
a 385.000 FCFA.

*
152 Publicada no Suplemento ao B.O. nº 17, de 28 de Abril de 1998. 153
Colectânea de Legislação de Direito Penal Lei Eleitoral Para o Presidente da República e Assembleia Nacional Popular

ARTIGO 156º 2. Na mesma pena incorre a autoridade pública, seu agente ou cidadão que, nas
(Violação do direito de reunião e de manifestação) circunstâncias previstas no número anterior impedir que alguns cidadão saia do seu
Todo aquele que impedir a realização ou prosseguimento de reunião, comício, domicilio ou do lugar onde se encontrar, a fim de exercer o seu direito do voto.
cortejo ou desfile de propaganda eleitoral, organizado nos termos da lei será
punido com pena de prisão de um a dois anos e multa de 154.000 a 231.000 FCFA. SECÇÃO III
INFRACÇÕES RELATIVAS À ELEIÇÃO
ARTIGO 157º
(Reuniões e manifestações ilegais) ARTIGO 162º
Aqueles que durante a campanha eleitoral promoverem reuniões, comícios, (Voto plúrimo)
desfiles ou cortejos sem o cumprimento do disposto na lei competente, são punidos Aquele que votar mais de uma vez será punido com a pena de prisão de um ano
com a pena de prisão de um a três anos e multa de 154.000 a 231.000 FCFA. a três anos e multa de 154.000 a 462.000 FCFA.

ARTIGO 158º ARTIGO 163º


(Desvio de correspondência) (Despedimento ou ameaça de despedimento)
Aquele que, em razão das suas funções, tiver sido incumbido de entregar ao seu Aquele que despedir ou ameaçar despedir alguém do seu emprego, impedir ou
destinatário ou a qualquer outra pessoa ou depositar em algum local determinado ameaçar impedir alguém de obter emprego, aplicar ou ameaçar aplicar qualquer
circulares, cartazes ou outro material de propaganda eleitoral e o desencaminhar, outra sanção a fim de ele votar ou não votar, porque votou ou não em certa lista
furtar, destruir ou dar-lhe outro destino não acordado com o dono, é punido com de candidatos, ou porque se absteve ou não de participar na campanha eleitoral será
a pena de prisão de seis meses a um ano e multa de 77.000 a 154.000 FCFA. punido com a pena de prisão de seis meses a dois anos e multa de 154.000 a 385.000
FCFA, sem prejuízo de nulidade da sanção e da automática readmissão do
ARTIGO 159º emprego, se o despedimento chegou a ser efectuado.
(Propaganda depois de encerrada a campanha eleitoral)
1. Aquele que no dia das eleições ou no dia anterior fizer a propaganda eleitoral ARTIGO 164º
por qualquer meio será punido com a pena de prisão de seis meses a dois anos e (Concorrência com infracções mais graves)
multa de 154.000 a 231.000 FCFA. As penalidades previstas na presente lei, não excluem a cominação de outras
2. Aquele que no dia das eleições fizer propaganda nas assembleias de voto ou mais graves em caso de concorrência com infracção pela Lei Penal em vigor.
num raio de dois km, será punido com a pena de prisão de um a três anos e multa
de 231.000 a 308.000 FCFA. ARTIGO 165º
(Corrupção eleitoral)
ARTIGO 160º Aquele que, para persuadir alguém a votar ou a deixar de votar em qualquer
(Divulgação dos resultados das sondagens) lista, Partido, Coligação de Partidos ou candidato, oferecer ou prometer emprego
A violação do disposto no artigo 33º é punido com a pena de prisão de seis meses público ou privado ou qualquer vantagem patrimonial a um ou, mais eleitores ou
a um ano e multa de 308.000 a 385.000 FCFA. por acordo com uma outra interposta pessoa, mesmo que as coisas oferecidas ou
prometidas forem dissimuladas a título de ajuda pecuniária para custear despesas
ARTIGO 161º de qualquer natureza, é punido com a pena de prisão de dois a oito anos.
(Abuso de autoridade no sufrágio)
1. A autoridade pública, seu agente ou cidadão que, sob qualquer pretexto, fizer ARTIGO 166º
sair do seu domicilio ou permanecer fora dele algum eleitor, no dia das eleições (Não exibição da urna)
para o impedir de votar, é punido com uma pena de prisão de seis meses a um ano 1. O presidente da assembleia de voto que não exibir a urna perante os eleitores
e multa de 46.000 a 77.000 FCFA. antes da abertura da votação, é punido com multa de 46.000 a 77.000 FCFA.
154 155
Colectânea de Legislação de Direito Penal Lei Eleitoral Para o Presidente da República e Assembleia Nacional Popular

2. Quando se verificar que, na urna não exibida se encontrava boletins de voto, ARTIGO 170º
é o presidente da mesa condenado também na pena de prisão de um a dois anos, (Recusa de receber reclamações)
sem prejuízo da aplicação do disposto no artigo seguinte. É punido com a pena de seis meses a um ano e multa de 77.000 a 154.000 FCFA,
o presidente da de assembleia de voto que injustificadamente se recusar a receber
ARTIGO 167º uma reclamação, protesto ou contra protesto.
(Introdução de boletim de voto, desvio de urna
ou de boletim de voto) ARTIGO 171º
1. Aquele que, com fraude, introduzir boletins de voto na urna antes do início Obstrução da assembleia de voto, candidatos ou delegados de lista)
da votação ou a fazer depois de declarada e encerrada a sessão, é punido com a pena O candidato ou delegado de lista que perturbar gravemente o funcionamento
de prisão de dois a oito anos. regular das operações de voto é punido com a pena de prisão de um a dois anos
2. A mesma pena é imposta aqueles que se apoderarem de uma urna com e multa de 77.000 a 154.000 FCFA.
boletins de voto não contados ou subtrair fraudulentamente um ou mais boletins
de voto em qualquer momento. ARTIGO 172º
(Perturbações das assembleias de voto)
ARTIGO 168º 1. Aquele que perturbar o regular funcionamento da assembleia de voto com
(Fraude de mesas de assembleia de voto e da assembleia insultos, ameaças ou actos de violência que resulte ou não tumulto, é punido com
de apuramento parcial) a pena de prisão de seis meses a um ano e multa de 77.000 a 154.000 FCFA.
1. O membro da mesa da assembleia de voto que dolosamente apuser ou 2. Aquele que, não tendo direito de fazê-lo, se introduzir numa assembleia de
consentir que se aponha nota de descarga em eleitor que não votou ou que não a voto e, se recusar a sair depois de intimado pelo presidente, é punido com pena
apuser em eleitor que votar, que trocou na leitura dos boletins de voto a can- de prisão de seis meses a um ano.
didatura votada, que diminuir ou aditar votos a uma candidatura no apuramento,
ou que, por qualquer modo falsear a verdade da eleição, é punido com a pena de ARTIGO 173º
prisão de três a cinco anos. (Não comparência de forças armadas e policiais)
2. A mesma pena é aplicada, ao membro da mesa de assembleia de voto, que Se, para garantir o regular decurso da operação de voto, for competentemente
trocar na leitura dos boletins de voto, a lista votada, diminuir ou aditar votos a uma requisitada força armada ou policial, nos termos previstos no nº 2 do artigo 71º
lista no apuramento. desta lei e esta não comparecer e não for apresentado justificação idónea no prazo
3. As penas referidas nos números anteriores são ainda aplicadas aos membros de 24 horas, o comandante da mesma será punido com a pena de prisão de seis
dos órgãos de Comissão Nacional de Eleições que durante o apuramento cometerem meses a um ano.
quaisquer dos actos neles previstos.
ARTIGO 174º
ARTIGO 169º (Não cumprimento do dever de participação no processo eleitoral)
(Obstrução à actividade da mesa da assembleia de voto 1. É punido com a multa de 15.000 a 30.000 FCFA aquele que tendo sido
e dos delegados de lista) nomeado pela entidade competente para fazer parte de uma mesa de assembleia
1. Aquele que se opuser a que qualquer integrante da mesa da assembleia de voto de voto, sem motivo justificado, não assumir as suas funções.
ou delegado de lista exerça as funções que Ihe cabem nos termos desta Lei ou que 2. Incorre na mesma pena, aquele a que foi dada por finda a nomeação pelas
saia do local onde essas funções foram ou estão sendo exercidas, é punido com a Comissões Eleitorais não abandonar as referidas funções.
pena de prisão de seis meses a dois anos e multa de 154.000 FCFA.
2. A pena de prisão referida no número anterior não será inferior a um ano, se
a infracção for cometida contra o presidente da mesa.

156 157
Colectânea de Legislação de Direito Penal Lei Relativa ao Processo Eleitoral, Respeitante ao Poder Autárquico

ARTIGO 175º
(Falsificação)
Aquele que, por qualquer forma, dolosamente viciar, substituir, suprimir, Lei nº 6/96*
destruir ou alterar os cadernos eleitorais ou de apuramento, ou quaisquer docu-
Lei relativa ao processo eleitoral, respeitante ao poder autárquico
mentos respeitantes às eleições, é punido com a pena de dois a oito anos de prisão.
[...]
ARTIGO 176º
(Denúncia caluniosa)
TÍTULO V
Aquele que, imputar a outrem, sem fundamento, a prática de qualquer infracção DAS INFRACÇÕES RELATIVAS AO PROCESSO ELEITORAL
prevista na presente lei, é punido nos termos do Código Penal.
CAPÍTULO I
ARTIGO 177º
PENALIDADES E COIMAS
(Reclamação e recurso de má fé)
Aquele que, com má fé, reclamar, protestar, contrapropostar ou impugnar ARTIGO 84º
decisões dos órgãos eleitorais sem fundamento é punido com pena de prisão de seis (Remissão)
meses a um ano. É aplicável às infracções eleitorais previstas no presente diploma, o disposto no
capítulo II, artigos 148º a 173º da Lei nº 4/93, de 24 de Fevereiro.
ARTIGO 178º
(Não apresentação de contas) [...]
A não prestação de contas, nos termos do artigo 49º, sujeita as entidades
concorrentes as seguintes sanções, sem prejuízo de eventual responsabilidade civil
e criminal:
a) Cessação de todas as subvenções a que por lei têm direito os partidos políticos
e bancadas parlamentares, e de quaisquer outros apoios do Estado;
b) Proibição dos membros da direcção dos partidos de criar ou integrar outras
formações políticas;
c) Proibição de concorrer as futuras eleições de qualquer tipo.

ARTIGO 179º
(Incumprimento das obrigações)
A inobservância de quaisquer obrigações impostas pela presente lei ou omissão
da prática de actos administrativos necessários a sua pronta execução, bem como
a demora injustificada no seu cumprimento, é punida com a multa de 30.000 a
46.000 FCFA.

[...]

*
158 Publicada no B.O. nº 38, de 16 de Setembro de 1996. 159
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código dos Contratos Públicos

Decreto-Lei nº 4/20021 2
Código dos Contratos Públicos

[...]

TÍTULO XVI
SANÇÕES

ARTIGO 66º
(Sanções por incumprimento das cláusulas do contrato pelo titular)
1. Quando o titular não se conformar, quer com as disposições do contrato, quer
com as ordens dos serviços que lhe forem dadas com vista à execução do contrato,
a Autoridade Contratante ordena o titular para que proceda ao seu cumprimento,
num prazo fixado para cada contrato, sem prejuízo da aplicação de sanções pelo
atraso.
2. Se o titular do contrato não obedece à notificação, a Autoridade Contratante
pode decidir pela aplicação de uma ou várias medidas a saber:
a) Resiliar3 o contrato a custos e riscos do titular faltoso. Neste caso, as despesas
suplementares resultantes de um novo contrato adjudicado pela Autoridade
Contratante para o mesmo objecto do contrato inicial ficarão a cargo do titular
faltoso que, em contrapartida, não tem qualquer direito a título de reduções de
despesas resultantes do novo contrato. Além disso, a Autoridade Contratante terá
direito à repartição integral do prejuízo real, directo e certo e devidamente
justificado que ela tiver sofrido por essa ocasião;
b) Substituir ao titular um empreiteiro, fornecedor ou prestador de serviços à
sua escolha, a custos e riscos do titular por forma a assegurar a execução total ou
parcial do contrato inicial;
c) Interceptar o Comité de conciliação visado no artigo 69º do presente código,
a fim de se pronunciar sobre a exclusão do titular do acesso a contrato público.
3. As modalidades de aplicação das medidas coercivas inerentes a cada categoria
de contratos são precisadas pelas cláusulas e condições jurídicas gerais e especiais.

1
Publicado no B.O. nº 48, de 3 de Dezembro de 2002.
2
Não podemos deixar de confrontar este diploma legal com a reserva absoluta da
Assembleia Nacional Popular, constante do artigo 86º, alínea h) da Constituição da
República da Guiné-Bissau.
3
Expressão que revela a raiz francófona deste diploma e uma deficiente tradução
160 de preceitos copiados do Direito francês. 161
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código dos Contratos Públicos

4. A decisão da Autoridade Contratante deve ser notificada ao titular faltoso por 5. Quem por si, por interposta pessoa, com o seu consentimento ou ratificação,
forma a permitir-lhe, eventualmente, acompanhar as operações efectuadas, a seu der ou prometer a funcionário, ou a terceiro com conhecimento daquele, vantagem
custo e riscos, por um novo titular ou uma terceira pessoa substituída. patrimonial ou não patrimonial que ao funcionário não seja devida, é punido com
pena de prisão de um mês a cinco anos.
ARTIGO 67º 6. Recorre a manobras fraudulentas, qualquer pessoa que deforma ou desnatura
(Sanções de atraso) os factos a fim de influenciar a adjudicação ou a execução de um Contrato em
1. Cada contrato deve prever a cargo do titular sanções de atraso ou juros de prejuízo da Autoridade Contratante, ou obtém ou tenta obter acordo com outros
mora para os casos em que o contrato não tenha sido executado nos prazos fixados, Proponentes para fixar preços a um nível artificial e não competitivo e privar assim
sem que haja necessidade de notificação prévia e por simples confrontação da data a Autoridade Contratante das vantagens de um concurso aberto. Tal prática é
de expiração do prazo de execução do contrato com a data de recepção provisória sancionada na forma da lei.
ou a data de expiração de certos prazos parciais de execução, se tal for previsto no 7. A Autoridade Contratante deve rejeitar qualquer candidatura ou proposta de
contrato. qualquer Candidato ou Proponente que tenha recorrido ou tenha tentado recorrer
2. O montante das sanções de atraso é fixado nas cláusulas e condições jurídicas a tais práticas ou manobras.
gerais e especiais do contrato. 8. Sem prejuízo da aplicação de outras sanções, o Comité de conciliação visado
3. O montante global das sanções por atraso é limitado a dez por cento do no artigo seguinte e interpelado pela Autoridade Contratante, ou pela DGCP4, pode
montante do contrato. pronunciar a execução provisória do acesso a concurso público por um período
4. Se o montante acumulado das sanções de atraso atingir quinze por cento do mínimo de um ano e máximo de cinco anos, do candidato, proponente, adjudicatário
montante inicial contratado, a Autoridade Contratante pode decidir unilateralmente ou titular que tenha recorrido ou tentado recorrer a tais práticas e manobras.
a rescisão por incumprimento. 9. Esta execução que tem um efeito imediato, é susceptível de recurso perante
5. As sanções de atraso são suspensas em caso de emenda, de força maior a jurisdição componente.
devidamente justificada que deverá ser, em todos os casos, invocada antes da 10. A DGCP estabelece uma lista de execução e comunica periodicamente a sua
expiração dos prazos contratuais pelo titular do contrato a quem incumbe provar actualização às Autoridades Contratantes.
o alegado. 11. A Autoridade Contratante deverá, de sua livre iniciativa ou a pedido da
6. O Ministro da Economia e Finanças aprecia o valor das justificações apre- DGCP, rescindir o contrato se for declarado que o titular recorreu à corrupção ou
sentadas e pronuncia a anulação total ou parcial da sanção. a manobras fraudulentas no decurso da adjudicação ou da execução do contrato.

ARTIGO 68º
(Sanções por acto de corrupção)
1. O funcionário que por si, por interposta pessoa com o seu consentimento ou
ratificação solicitar ou aceitar, para si ou para terceiro, sem que lhe seja devida,
vantagem patrimonial ou não patrimonial, ou a sua promessa, como contrapartida
de acto ou de omissão contrários aos deveres do cargo, é punido de prisão de dois
a dez anos.
2. Se o facto não for executado, o agente é punido com pena de prisão até três
anos ou com pena de multa.
3. Se os factos descritos no nº 1 do presente artigo o forem como contrapartida
de acto ou de omissão não contrários aos deveres do cargo, o funcionário é punido
com pena de prisão até três anos ou com multa.
4. Se o agente, antes da prática do facto, voluntariamente repudiar o oferecimento
ou promessa que aceitar, ou restituir a vantagem, ou tratando-se de coisa fungível,
4
162 o seu valor, não será punido. Direcção Geral dos Concursos Públicos (DGCP). 163
Colectânea de Legislação de Direito Penal Tabela Salarial

Decreto nº 4-A/2004*
Tabela Salarial

Na esteira de uma política de melhoria de condições de subsistência dos


trabalhadores da Função Pública, permitindo-lhes acompanhar o evoluir do custo
de vida, o Governo entendeu por bem proceder a um aumento substancial do
salário, alterando a filosofia ora prevalecente, dando maior expressão ao salário
base, em que foram incorporadas diferentes prestações sociais, que outrora eram
abonadas sob a forma de subsídios a certas categoria de servidores do Estado.
O Governo espera com esta medida criar estímulo e motivação aos servidores
públicos, na perspectiva de poderem participar no esforço do desenvolvimento em
curso.
Assim, sob proposta conjunta dos Ministros da Economia e Finanças e da
Administração territorial, Reforma Administrativa, Função Pública e Trabalho,
Governo decreta, nos termos do nº 2 do artigo 100º da Constituição, o seguinte:

ARTIGO 1º
É aprovada a Tabela indiciária constante do anexo I, que faz parte integrante
do presente decreto e servirá de base para o cálculo dos vencimentos (salário base)
de todas as categorias profissionais da Função Pública.

ARTIGO 2º
1. É fixado em 2.000 FCFA (dois mil francos CFA) o valor do Ponto Indiciário
que deve ser aplicado à tabela referida no artigo 1º.
2. A alteração do valor a que se refere o nº 1 só pode ser efectuada numa base
anual, por despacho do Primeiro-Ministro, sob proposta conjunta do Ministério
da Economia e Finanças e do Ministro titular da Função Pública, devendo o
aludido despacho ser publicado no Boletim Oficial.

ARTIGO 3º
Os vencimentos dos titulares dos cargos políticos, dos magistrados e dos
trabalhadores da Função Pública em geral, passam a ser os constantes da tabela que
constitui o anexo 2, parte integrante deste decreto.

*
164 Suplemento ao B.O. nº 23, de 8 de Junho de 2004. 165
Colectânea de Legislação de Direito Penal Tabela Salarial

ARTIGO 4º ANEXO I
Grelha Indiciária
São eliminados os subsídios de que beneficiavam certas categorias de servidores
do Estado, designadamente os subsídios de renda de casa, de representação, de Cargo
Grupos Letra Categorias 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
alojamento e de telefone, de domesticidade, de transporte e de vigilância, sendo
Presidente
instituído, em contrapartida, um subsidio único correspondente a 20% do salário P1 375
da República
base.
Presidente
ARTIGO 5º P2 da Assembleia 300
O subsídio a que refere o artigo anterior é extensivo a todos os servidores do Nacional Popular
Estado. Primeiro-Ministro,
P3 Pres. Tribunais 281
ARTIGO 6º Superiores e PGR
A partir de 1 de Julho de 2004, com excepção dos abonos a que se refere o artigo
7º, nenhuma remuneração acessória, a título de subsidio, a liquidar aos titulares P4 219
Vice-Pr. STJ,
de cargos políticos, aos magistrados e aos trabalhadores da Função Pública em Grupo Vice-PGR
0 P5 188
geral, poderá exceder em cada mês 20% do respectivo salário base.
Ministro, Juízes
ARTIGO 7º Conselheiros,
Não ficam abrangidos pelo regime estabelecido pelo artigo precedente os P6 PGR Adjunto 169

subsídios de acumulação, de vela, de risco e de isolamento, que continuarão a ser


atribuídos às categorias profissionais específicas e nas condições que vierem a ser Secret. Estado,
definidas por lei e disposições regulamentares. Pres. e Vice-Pres.
Trib. Círculo, Juiz
Desembargador e
ARTIGO 8º Proc. da República
As dúvidas suscitadas na aplicação deste diploma serão resolvidas por despacho
do Primeiro-Ministro, ouvidos os Ministros da economia e Finanças e da 6 Secretário-Geral 125 129 133 137 141 145 149 154 158 163 168 173 178 184 189
A Inspector-Geral 113 116 120 123 127 131 135 139 143 147 152 156 161 166 171
Administração Territorial, Reforma Administrativa, Função Púbica e Trabalho. Grupo
B Director-Geral 100 103 106 109 113 116 119 123 127 130 134 138 143 147 151
I
C Chefe de Gabinete 86 89 91 94 97 100 103 106 109 112 116 119 123 126 130
ARTIGO 9º D Assessor 73 76 79 82 85 89 93 96 100 104 108 112 117 122 126
Este decreto produz efeitos a partir de 1 de Julho de 2004.
E Dir. de Serviço 53 55 57 60 62 64 67 70 73 75 78 82 85 88 92
1.ª e Técnicos
Aprovado em Conselho de Ministros de 26 de Agosto de 2004. F Dir. de Serviço 46 48 50 52 54 56 58 61 63 65 68 71 74 77 80
O Primeiro-Ministro, Carlos Gomes Júnior. 2.ª e Técnicos
O Ministro da Economia e Finanças, Dr. João Alage Mamadú Fadiá. G Dir. de Serviço 39 41 42 44 46 47 49 51 53 56 58 60 62 65 68
Grupo 3.ª e Técnicos
O Ministro da Administração Territorial, Reforma Administrativa, Função II H Chefe Repartição 33 35 36 38 40 42 44 46 49 51 54 56 59 62 65
Pública e Trabalho, Joaquim Mumine Embaló. I e Técnicos
J Técnico Superior 29 30 32 34 35 37 39 41 43 45 47 50 52 55 57
K Técnico 24 25 26 28 29 31 32 34 35 37 39 41 43 45 48
Promulgado em 17 de Setembro de 2004. L Superior/Estag. 21 22 24 26 28 29 32 34 36 39 41 44 47 51 54
Publique-se. Técnico Médico 18 19 21 22 24 25 27 29 31 33 35 38 41 43 46

166
O Presidente da República de Transição, Henrique Pereira Rosa. Chefe de Secção
167
Colectânea de Legislação de Direito Penal Alteração da Unidade Monetária Legal

Cargo
Grupos Letra Categorias 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

M Primeiro Oficial 15 16 18 19 21 23 25 27 30 33 36 39 42 46 50 Lei nº 1/97*


N Segundo Oficial 13 14 15 17 18 20 22 24 26 28 31 34 37 40 43
Grupo
III
O Terceiro Oficial 12 13 14 16 17 18 20 20 24 26 28 31 34 37 40 Alteração da unidade monetária legal do Peso Guineense
P Aspirante 11 12 14 157 17 19 21 23 25 28 31 35 38 43 47
para o Franco da Comunidade Financeira Africana (FCFA)
Q Escriturário 10 11 13 14 16 18 21 24 27 30 34 38 43 49 55
Dactilógrafo
PREÂMBULO
R Pessoal não 9 10 12 13 15 17 20 23 26 29 33 38 43 49 56
S Administrativo 9 10 12 13 15 17 20 23 26 29 33 38 43 49 56
T 9 10 12 13 15 17 20 23 26 29 33 38 43 49 56
A adesão da Guiné-Bissau à União Monetária Oeste Africana (UMOA) e a sua
Grupo U 8 9 10 12 14 15 18 20 23 26 30 34 39 44 50 posterior integração na União Económica e Monetária Oeste Africana (UEMOA)
IV V 8 9 10 12 14 15 18 20 23 26 30 34 39 44 50 constituem actos que, pela sua dimensão e significado, se transformam em marcos
W 8 9 19 12 14 15 18 20 23 26 30 34 39 44 50
no glorioso percurso histórico do país, marcado por factos como a declaração
X 8 9 10 12 14 15 18 20 23 26 30 34 39 44 50
Y 8 9 10 12 14 15 18 20 23 26 30 34 39 44 50 unilateral da Independência em 1973, a reforma monetária que criou o Peso
Z 7 8 9 10 12 13 15 18 20 23 26 30 34 38 44 Guineense em 1976, o Movimento Reajustador do 14 de Novembro de 1980, a
liberalização económica de 1987 e a abertura política à democracia multipartidária
corporizada na revisão constitucional de 1991.
Com a mundialização da economia e a rápida evolução que conheceram
recentemente os mercados cada vez mais competitivos, tornou-se evidente para os
Governos a necessidade urgente de se reorganizarem em termos regionais,
buscando complementaridades e economias de escala que valorizassem as vantagens
competitivas e minimizassem as fraquezas de cada um, favorecendo deste modo
um melhor desempenho dos países membros.
Considerando que a União Monetária Oeste Africana baseia-se num conjunto
de princípios estruturantes que postulam a vontade comum de diferentes identidades
nacionais, de adoptarem uma mesma moeda, num espírito de mais profunda
solidariedade.
Tomando-se a República da Guiné-Bissau membro de pleno direito da UMOA,
impõe-se a necessidade de conformar e aproximar o respectivo ordenamento
jurídico às disposições emanadas do Tratado da União Monetária Oeste Africana.
Assim, a materialização dos objectivos do Tratado implicam que, no plano
legislativo, se adoptem no direito interno, disposições que instituam como unida
de monetária legal, o Franco da Comunidade Financeira Africana (FCFA) e
permitam a transferência dos poderes de emissão do Estado da Guiné-Bissau ao
Banco Central dos Estados da África Ocidental (BCEAO).

ARTIGO 1º
A partir de 2 de Maio de 1997, a unidade monetária da República da Guiné-
-Bissau passa a ser o Franco da Comunidade Financeira Africana, cuja sigla é FCFA.

*
168 Suplemento ao B.O. nº 12, de 24 de Março de 1997. 169
Colectânea de Legislação de Direito Penal Repressão da Contrafacção e Falsificação da Moeda

ARTIGO 2º
1.O Peso Guineense deixa de ter curso legal e poder liberatório sobre o terri-
tório da República da Guiné-Bissau, a partir de 2 de Maio de 1997. Lei nº 7/97, de 2 de Dezembro1
2. Sem prejuízo do disposto no número anterior o Peso Guineense circulará
Repressão da contrafacção e falsificação da moeda
concomitantemente com o FCFA, durante um período de 90 dias, de 2 de Maio a
31 de Julho de 1997.
PREÂMBULO
ARTIGO 3º
Considerando que a criação da União Monetária Oeste Africana (UEMOA)2
1. A partir de 2 de Maio de 1997 e durante o período referido no nº 2 do artigo permitiu a constituição entre os Estados Membros duma zona monetária dotada
anterior, as obrigações expressas em Pesos Guineenses, qualquer que seja a sua de uma instituição emissora e uma moeda comuns;
natureza, são obrigatoriamente estipuladas e regularizadas em FCFA.
2. As obrigações expressas em Pesos Guineenses e contraída antes da entrada
em vigor da presente lei são convertidas automaticamente em FCFA, a partir de
1
2 de Maio de 1997. Suplemento ao B.O. nº 48, de 2 de Dezembro de 1997.
2
Transcreve-se excerto (em francês), do Tratado da União Económica e Monetária
com relevância para esta matéria, de referir que o direito primário da UEMOA, é constituído
ARTIGO 4º pelo Tratado de 10 de Janeiro de 1994, pelos Protocolos adicionais e pelo Acordo de
O Peso Guineense será convertido em Francos CFA à razão de 65.OO PG por adesão da Guiné-Bissau à UEMOA de 2 de Maio de 1997:
1 FCFA. “Titre premier: Des Principes et Objectifs de L’Union
[...]
ARTIGO 5º Article 4
Sans préjudice des objectifs définis dans le Traité de L’UMOA. L’Union poursuit,
Com a entrada em vigor da presente lei, o Banco Central da Guiné-Bissau cessa dans conditions établies par le present Traité, la realisation des objectifs ci-aprés:
todas as suas funções e actividades, nomeadamente o serviço de emissão de notas a) renforcer la competitivité des activités économiques et financières des États membres
e moedas que é transferido para o Banco Central dos Estados da África Ocidental, dans le cadre d’un marche ouvert et concurrentiel et d’un environnement juridique
designado abreviadamente por BCEAO. rationalisé et harmonisé.
[...]
ARTIGO 6º e) harmoniser, dans la mesure necessaire au bon fonctionnement do marche commun.
Les legislations des États membres et particulierement le régime da la fiscalité.
É revogada toda a legislação que contrarie o presente diploma, nomeadamente: Article 5
a) A Decisão 2/76, de 28 de Fevereiro; Dans l’exercice de pouvoirs normatifs que le present Traité leur attribue et dans la mesure
b) A Lei Orgânica do Banco Central da Guiné-Bissau, aprovada pelo Decreto nº compatible avec les objectifs de celui-ci, les organes de l’Union favorisent l´édiction
32/89 de Dezembro, bem como as disposições legais e regulamentares adoptadas de prescriptions minimales et de reglementations cadres qu’il appartient aux États membres
em sua execução. de completer en tant que de besoin, conformement à leur règles constitutionnelles respectives.
Article 6
Les actes arrêtés par les organes de l’Union pour la realisation des objectifs du present
ARTIGO 7º Traité et conformement aux règles et procédures instituées par celui-ci, sont appliqués
A presente lei entra em vigor em 2 de Maio de 1997. dans chaque État membre nonobstant toute legislation nationale contraire, anterieure
ou posterieure.
Aprovada em 13 de Março de 1997. [...]
O Presidente da Assembleia Nacional Popular, Malam Bacai Sanha. Article 22
Toutes les fois que le present Traité prevoit l’adoption d’un acte juridique du Conseil
sur proposition de la Comission, le Conseil ne peut faire d’amendement à cette proposition
Promulgada em 19 de Março de 1997. qu’en statuant à l’unanimité des ses membres.
170
O Presidente da República, João Bernardo Vieira. [...].” 171
Colectânea de Legislação de Direito Penal Repressão da Contrafacção e Falsificação da Moeda

Considerando que os Estados ao delegaram na União o privilégio da emissão, ARTIGO 4º


expressaram a vontade de pôr à disposição das respectivas economias uma moeda 1. Quem participar na emissão, utilização, exposição, distribuição, importação
convertível, sã e estável; ou exportação de signos monetários contrafeitos, falsificados ou alterados, será
E, que tratando-se de uma moeda comum aos vários Estados, a sua defesa face punido com as penas previstas nos artigos anteriores, consoante se verifique os
ao fenómeno da criminalidade, seja que formas ou dimensões revestir, implica que factos neles tipificados.
as medidas destinadas à prevenção e repressão da sua contrafacção ou falsificação 2. A tentativa é punida com a pena aplicável ao crime consumado.
sejam adoptadas numa perspectiva integrada, por forma a assegurar a sua
credibilidade e solvência; ARTIGO 5º
Considerando ainda, que a fim de permitir plena aplicação dos princípios da 1. Se o agente só teve conhecimento de que os signos monetário foram contra-
União definidos pelo Tratado constitutivo, se prevê no artigo 22º a adopção pelos feitos, falsificados ou alterados depois de a ter adquirido e, apesar disso, deles fizer
Estados Membros de uma regulamentação uniforme nesta matéria; uso ou tentar utilizá-los será punido com prisão de seis meses a um ano e com
Tendo em conta a adesão da República da Guiné-Bissau à União Monetária multa, no mínimo, quatro vezes superior, e dez vezes superior ao valor dos ditos
Oeste Africana; signos, no máximo, não podendo, no entanto, a multa ser inferior a 200 000 FCFA
A Assembleia Nacional Popular decreta, nos termos da alínea c) do artigo 85º
ou com uma destas penas.
da Constituição, o seguinte:
2. Se o agente os conservar ou recusar a entregá-los às autoridades será punido
com multa duas vezes superior ao mínimo e quatro vezes superior ao máximo, não
ARTIGO 1º
podendo, no entanto, a multa ser inferior a 100.000 FCFA.
1. Quem contrafizer, falsificar ou alterar signos monetários, com curso legal
no território nacional ou no estrangeiro, será condenado a pena de prisão ou de ARTIGO 6º
trabalho sociais à perpetuidade e a multa, no máximo igual ao décuplo do valor
1. Quem fabricar, emitir, utilizar, expuser, distribuir, importar ou exportar
dos signos monetário objecto do crime, e no mínimo de 20 000 000 FCFA.
meios de pagamento, com intenção de subsistir os signos monetários com curso
2. O tribunal pode diminuir a pena prevista no artigo anterior, quando exista
legal no território ou no estrangeiro, será punido com prisão de um a cinco anos
circunstâncias atenuantes, mas, a pena de prisão a aplicar não poderá ser inferior
e uma multa de 2.000.000 a 10.000.000 ou numa dessas penas.
a dois anos e a multa inferior a 1 000 000 FCFA.
3. A suspensão da pena não é admitida. 2. Incorre na pena indicada no número anterior, quem fabricar, emitir, utilizar,
expuser, distribuir, importar ou exportar impressos, chapas, matrizes ou objectos
ARTIGO 2º que pela sua natureza apresentem semelhança com os signos monetários de tal
forma a induzirem a sua aceitação ou utilização, em substituição destes.
1. Será punido com prisão de cinco a dez anos e uma multa de 4.000. 000 FCFA
3. A tentativa é punida com a pena aplicável ao crime consumado.
a 10.000.000 FCFA ou numa dessas penas, quem:
a) Contrafizer ou alterar moedas em ouro ou em prata que tenha tido curso legal
ARTIGO 7º-A
no território nacional ou no estrangeiro;
b) Alterar a cor de moedas metálicas que tenham tido curso legal no território É proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer processo técnico de
nacional e no estrangeiro, com objectivo de enganar sobre a natureza do metal. signos monetário com curso legal no território nacional ou no estrangeiro, salvo
2. A tentativa é punida com pena aplicável ao crime consumado. autorização prévia do Banco Central dos Estados da África Ocidental ou tratando-
-se de signos monetários estrangeiros da autoridade emissora.
ARTIGO 3º 2. É igualmente proibida, salvo autorização prévia da autoridade emissora,
1. Quem contrafizer, falsificar ou alterar notas de banco ou moedas metálicas qualquer exposição, distribuição, importação ou exportações, de tais reproduções
cunhadas em outros metais que não ouro ou prata e, que tenha tido curso legal no inclusive por meio de jornais, livros, ou prospectos.
território nacional ou no estrangeiro será punido com prisão de um a cinco anos 3. As infracções ao disposto neste artigo serão punidas com prisão de um a seis
e uma multa de 2.000.000 a 10.000.000 FCFA ou com uma dessas penas. meses e multa de 50.000 a 200.000 FCFA ou com uma dessas penas.
172 2. A tentativa é punida com a pena aplicável ao crime consumado. 173
Colectânea de Legislação de Direito Penal Repressão da Contrafacção e Falsificação da Moeda

ARTIGO 7º-B ARTIGO 12º


1. É proibido qualquer utilização de notas ou moedas metálicas com curso legal São revogados os artigos 176º e 177º do Código Penal aprovado pelo Decreto-
no território nacional ou no estrangeiro, como suporte de qualquer forma de -Lei nº 4/93, de 13 de Outubro e todas as disposições legais que prevêem e punem
publicidade. os factos incriminados por esta lei.
2. As infracções ao disposto neste artigo serão punidas com multa de 50.000
a 200.000 FCFA. ARTIGO 13º
3. As notas e moedas, assim utilizadas serão apreendidas nas mãos dos res- A presente lei entra em vigor em 2 de Maio de 1997.
pectivos detentores ou depositários.
Aprovada em 27 de Outubro de 1997.
ARTIGO 8º O Presidente da Assembleia Nacional Popular, Malam Bacai Sanha.
1. Quem fabricar, oferecer, adquirir, importar, exportar, ou retiver, sem auto-
rização, marcas, matérias, instrumentos ou outros objectos utilizados no fabrico, Promulgada em 21 de Novembro de 1997.
contrafacção, falsificação ou alteração de signos monetários será punido com pena Publique-se.
de dois a cinco anos e uma multa de 4.000.000 a 10.000.000 FCFA ou com uma O Presidente da República, João Bernardo Vieira.
dessas penas.
2. A tentativa é punida com a pena aplicável ao crime consumado.

ARTIGO 9º
As penas previstas, nos artigos procedentes, aplicam-se:
a) Às infracções cometidas nos território nacional;
b) Às infracções cometidas no estrangeiro, nos termos e nas condições previstas
na legislação penal.

ARTIGO 10º
1. Serão apreendidos os signos monetários contrafeitos, falsificados ou altera-
dos assim como os metais, papéis e outros objectos destinados a práticas dos crimes
previstos na presente lei. O produto da apreensão é entregue ao Banco Central a
pedido deste, sob reserva das necessidades da administração da justiça.
2. Serão igualmente apreendidos os instrumentos utilizados na realização
desses crimes, salvo se tenha sido utilizado sem o conhecimento do proprietário.

ARTIGO 11º
1. Será isento de pena, quem, tendo tomado parte num dos crimes previstos nos
artigos 1º, 2º, 3º,4º, e 8º der conhecimentos dos factos e revelar a identidade dos
comparticipantes às autoridades competentes, antes de ter sido intentado o pro-
cesso criminal. Poderá, no entanto, lhe ser decretada a interdição de residência.
2. Poderá ser dispensado de pena, total ou parcial mente, quem nos crimes
previstos nos artigos 1º, 2º, 3º, 4º, e 8º, tiver após o início do procedimento criminal
contribuindo para a punição dos outros agentes. Poderá, no entanto, lhe ser decre-
tada a interdição de residência.
174 175
Colectânea de Legislação de Direito Penal Usura – UEMOA

Lei nº 13/97, de 2 de Dezembro1


Usura – UEMOA

PREÂMBULO

O presente diploma que integra o conjunto das diligências jurídicas necessárias


a viabilizar a adesão do País à União Monetária Oeste Africana2 3 o negócio
usurário e o respectivo quadro sancionatório.

1
Suplemento ao B.O. nº 48, de 2 de Dezembro de 1997.
2
Actualmente UEMOA – União Económica e Monetária do Oeste Africano.
3
Transcreve-se excerto (em francês), do Tratado da União Económica e Monetária
com relevância para esta matéria, de referir que o direito primário da UEMOA, é constituído
pelo Tratado de 10 de Janeiro de 1994, pelos Protocolos adicionais e pelo Acordo de adesão
da Guiné-Bissau à UEMOA de 2 de Maio de 1997:
“Titre premier: Des Principes et Objectifs de L’Union
[...]
Article 4
Sans préjudice des objectifs définis dans le Traité de L’UMOA. L’Union poursuit,
dans conditions établies par le present Traité, la réalisation des objectifs ci-aprés:
a) renforcer la competitivité des activités economiques et financières des États membres
dans le cadre d’un marche ouvert et concurrentiel et d’un environnement juridique
rationalisé et harmonisé.
[...]
e) harmoniser, dans la mesure necessaire au bon fonctionnement do marche commun.
Les legislations des États membres et particulierement le régime da la fiscalité.
Article 5
Dans l’exercice de pouvoirs normatifs que le present Traité leur attribue et dans la mesure
compatible avec les objectifs de celui-ci, les organes de l’Union favorisent l´édiction de
prescriptions minimales et de reglementations cadres qu’il appartient aux États membres
de completer en tant que de besoin, conformement à leur règles constitutionnelles respectives.
Article 6
Les actes arrêtés par les organes de l’Union pour la realisation des objectifs du present
Traité et conformement aux règles et procédures instituées par celui-ci, sont appliqués
dans chaque Etat membre nonobstant toute legislation nationale contraire, anterieure
ou posterieure.
[...]
Article 22
Toutes les fois que le present Traité prevoit l’adoption d’un acte juridique du Conseil
sur proposition de la Comission, le Conseil ne peut faire d’amendement à cette proposition
qu’en statuant à l’unanimité des ses membres.
176 [...].” 177
Colectânea de Legislação de Direito Penal Usura – UEMOA

E à semelhança de outros dispositivos legais, a regulamentação nele ínsita é ARTIGO 5º


comum à existente nos demais Estados Membros da União e traduz a concretização Os créditos concedidos para vendas a prestações são, para efeitos da aplicação
dos princípios decorrentes do Tratado constitutivo em proceder uma completa desta lei, assimilados aos empréstimos convencionais e sujeitam-se às disposições
harmonização das legislações nacionais no domínio monetário. do artigo 1º.
Considerando que a adesão à União Monetária Oeste Africana vincula o Estado
Guineense ao cumprimento das disposições consignadas no seu Tratado constitutivo. ARTIGO 6º
E que um dos vectores estabelecidos é o da harmonização jurídica em sede da Em caso de empréstimos de géneros ou outras coisas móveis e nas operações
matéria objecto deste diploma. de compra e venda e troca a crédito, o valor das coisas entregues ou o preço pago
A Assembleia Nacional Popular decreta, nos termos da alínea c) do artigo 85º pelo devedor, em capital e em juros não poderá exceder o valor das coisas recebidas
da Constituição, o seguinte: num montante superior ao correspondente ao limite máximo da taxa de juro fixado
no artigo 1º.
SECÇÃO I
DA USURA ARTIGO 7º
1. Será punido com prisão de dois meses a dois anos e multa de 100.000,00
ARTIGO 1º
FCFA a 5.000.000,00 FCFA, ou com uma dessas penas, quem tiver concedido um
1. É havido como usurário o empréstimo, ou qualquer outro contrato que
empréstimo usurário ou tenha participado deliberadamente seja a que título ou de
dissimulando um empréstimo em dinheiro, sejam estipulados juros cuja taxa
que forma, directa ou indirectamente na obtenção ou concessão de um empréstimo
efectiva global exceda, à data da sua estipulação, a taxa de usura.
usurário.
2. A taxa de usura é determinada pelo Conselho de Ministros da UMOA e será
2. Em caso de reincidência o limite máximo da pena prevista é elevada em cinco
publicada oficialmente, por iniciativa do Ministério das Finanças.
anos e a multa em 15.000.000,00 FCFA.
ARTIGO 2º
ARTIGO 8º
A taxa efectiva global é livremente negociada entre o mutuante e o mutuário,
1. O tribunal poderá ordenar, cumulativamente com as penas previstas no artigo
no entanto, as partes não podem exceder os limites máximos estabelecidos no
anterior, as seguintes sanções acessórias:
artigo anterior. A estipulação da taxa efectiva global é estipulada por escrito.
a) Publicação da sentença, a expensas do condenado nos jornais que designar
ou por qualquer forma;
ARTIGO 3º
b) Encerramento provisório ou definitivo da empresa cujos responsáveis se
A taxa efectiva global do juro contratada é determinada em função das
entregaram a operações usurárias e a nomeação de um administrador ou liquidatário,
amortizações de capital, à qual se somam os custos, as remunerações de qualquer
conforme os casos.
natureza, incluindo as pagas a terceiros que tenham intervindo de alguma forma
2. Em caso de encerramento provisório o infractor assegurará ao seu pessoal
na concessão do mútuo. Não são consideradas no seu cálculo os impostos ou taxas
o pagamento das remunerações que estes têm direito por força do contrato de
pagos no momento da celebração ou execução do contrato.
trabalho. A sua duração não poderá exceder os dois meses.
3. Em caso reincidência será ordenado o encerramento definitivo da empresa.
ARTIGO 4º
O limite máximo estabelecido para a taxa efectiva global de juros, pode ser
ARTIGO 9º
elevado para certo tipo de operações, que pela sua natureza envolvam custos fixos
Sujeitam-se às penas e sanções acessórias previstas nos artigos anteriores, quem
elevados ou despesas estimados. O respectivo montante será fixado pelo Ministério
encarregue seja a que título for, da direcção ou administração duma empresa em
das Finanças, após parecer do Banco Central.
nome individual, sociedade ou associação ou cooperativa permitir deliberadamente
que as pessoas sujeitas à sua direcção, autoridade e controlo infrinjam o disposto
nesta lei.
178 179
Colectânea de Legislação de Direito Penal Usura – UEMOA

ARTIGO 10º ARTIGO 17º


1. Se um empréstimo é considerado usurário, as prestações excessivas são A presente lei entra em vigor 2 de Maio de 1997.
imputadas sobre os juros vencidos calculados nas condições fixadas no artigo 3º
e para o excedente, caso se verifique, sobre o capital mutuado. Aprovada, em 27 de Outubro de 1997.
2. Se o empréstimo é integralmente liquidado em capital e juros, as somas O Presidente da Assembleia Nacional Popular, Malam Bacai Sanha.
excessivamente cobradas serão restituídas com juros legais a contar da data em que
foram pagas. Promulgada, em 21 de Novembro de 1997.
Publique-se.
ARTIGO 11º O Presidente da República, João Bernardo Vieira.
A prescrição do crime de usura corre a partir da última restituição, seja de juro
seja de capital ou da última entrega da coisa objecto da operação usurária. NOTA EXPLICATIVA

SECÇÃO II A usura é regulamentada no nosso ordenamento jurídico no artigo 282º e


DA TAXA LEGAL DE JURO seguintes do Código Civil4, nos termos do qual, grosso modo o que caracteriza o
negócio usurário é o facto de alguém conscientemente aproveitar-se da situação
ARTIGO 12º de inferioridade (inexperiência, dependência, deficiência psíquica de alguém
1. A taxa legal de juro é fixada pelo período de tempo correspondente ao ano etc...) de outrem para dela tirar benefícios manifestamente excessivos ou
civil. injustificados. A consequências para quem realize este tipo de negócios é a
2. Para cada ano em referência, a taxa legal será igual à taxa de desconto prati- possibilidade da sua anulação via judicial, não sofrendo, no entanto, o usurário
cada pelo Banco Central reportada a 1 de Janeiro do ano anterior. qualquer cominação penal.
3. Em caso de alteração da taxa de desconto correspondente a uma margem de No quadro regulamentar da UMOA, e ao contrário do que sucede entre nós o
2 pontos percentuais ou mais, no decurso do ano em referência, a taxa de juro legal negócio usurário gera responsabilidade civil e criminal. Esta solução jurídica não
é igual à nova taxa de desconto. e de todo singular já vem sendo adoptada em outros sistemas jurídicos.
Embora no diploma o regime fixado seja especialmente estabelecido para
ARTIGO 13º empréstimo ou mútuo oneroso, ressalva-se a sua aplicação para o comum dos
Em caso de condenação a pagamento de juros legais, a respectiva taxa será contratos em que haja obrigação de prestar capital e que possam verificar-se juros
aumentada em metade do seu valor até a expiração de um prazo de dois meses, a usurários, desta forma o disposto na presente lei é aplicável aos créditos concedidos
contar do dia em que a decisão judicial se tornou executória, ainda que seja a título para venda a prestações e aos mútuos de géneros ou outras coisas móveis que não
de caução. sejam dinheiro.
Para que um negócio seja havido como usuário os juros fixados pelas partes
ARTIGO 14º constituem um elemento determinante e uma vez que ultrapassem o limite fixado
considera-se a taxa usurária. Esta é fixada pelo Conselho de Ministros da UEMOA.
A presente lei não se aplica aos contratos em curso com data certa.
Salvaguardam-se certos negócios que pela sua natureza possam envolver custos
fixos elevados ou despesas imprevisíveis, podendo os juros estipulados pelas
ARTIGO 15º
partes, que em sede deste diploma se denominam taxa efectiva global, exceder a
O Ministro da Justiça, o Ministro das Finanças, a Comissão Bancária assim
como o Banco Central são responsáveis, na respectiva área de competência, pela
boa execução do disposto nesta lei. 4
Decreto-Lei nº 47.344, de 25 de Novembro de 1966 e Portaria nº 22.869 do Ministério
do Ultramar, de 4 de Setembro de 1967, que torna extensivo às províncias ultramarinas
ARTIGO 16º o novo Código Civil, aprovado pelo Decreto-Lei nº 47.344, de 25 de Novembro de 1966,
180 É revogada toda a legislação que contrair e o disposto na presente lei. Suplemento ao B.O. nº 38, de 25 de Setembro de 1967. 181
Colectânea de Legislação de Direito Penal Lei Uniforme Relativa à Luta Contra o Branqueamento de Capitais

taxa usurária. Nestes casos o respectivo montante é fixado pelo Ministro das
Finanças.
Constituindo um crime, a usura é punida com prisão e multa e acessoriamente Lei Uniforme nº 1/2003/CM/UEMOA1
com a publicidade da sentença de condenação e o encerramento da empresa.
É igualmente definida no âmbito deste diploma a taxa de juro legal por Luta contra o branqueamento de capitais
referência à taxa de desconto praticada pelo Banco Central (BCEAO).
O Conselho dos Ministros da União Monetária da África Ocidental (UMOA);
Visto Tratado de 14 de Novembro de 1973 que constitui a União Monetária da
África Ocidental (UMOA), nomeadamente no seu artigo 22º;
Visto a Directiva nº 07/2002/CM/UEMOA de 19 de Setembro 2002 relativa à
luta contra o branqueamento de capitais nos Estados membros da União Económica
e Monetária da África Ocidental (UEMOA), nomeadamente nos seus artigos 36º,
37º, 39º, 40º, 41º, 42º e 43º;
Sob proposta do Banco Central dos Estados da África Ocidental (BCEAO);
Adopta a Lei Uniforme com o seguinte teor:

TÍTULO PRELIMINAR
DEFINIÇÕES

ARTIGO 1º
(Terminologia)
No sentido da presente lei, entende-se por:
Actores do Mercado Financeiro Regional:
A Bolsa Regional dos Valores Móveis (BRVM), o Depositário Central/Banco
de Pagamento, as Sociedades de Gestão e de Intermediação, as Sociedades de
Gestão de Património, os Consultores em investimentos de bolsa, os Corretores
e os Vendedores ambulantes.
Autor:
Qualquer pessoal que participa na prática de um crime ou de um delito, seja de
que natureza for.
Autoridades de controlo:
As autoridades nacionais ou comunitárias da UEMOA que em virtude de uma
lei ou de um regulamento, têm a competência para controlar pessoas singulares e
colectivas.

1
Aprovado em Bissau, ao 1 dia do mês de Julho de 2004, pelo Exmo. Sr. Presidente
da Assembleia Nacional Popular. Ratificada em Bissau, aos 19 dias do mês de Julho de
2004. Publicada no Boletim Oficial nº 44 de 2 de Novembro de 2004. O original em francês
182 pode ser consultado em www.uemoa.int. 183
Colectânea de Legislação de Direito Penal Lei Uniforme Relativa à Luta Contra o Branqueamento de Capitais

Autoridades públicas: OPCVM:


As administrações nacionais e as das colectividades locais da União, assim Organismos de Investimento Colectivo em Valores Mobiliários.
como os seus estabelecimentos públicos.
Organismos financeiros:
Autoridade competente: São considerados organismos financeiros:
Órgão que, em virtude de uma lei ou de um regulamento, tem a competência – Os bancos e estabelecimentos financeiros;
para executar as acções ou as medidas previstas pela presente lei. – Os Serviços financeiros dos Correios, assim como as Caixas de Depósitos
e Consignações ou os organismos que realizam essas operações, dos
Autoridade judiciária:
Estados membros;
Órgão que, em virtude de uma lei ou de um regulamento, tem a competência
– As Companhias de seguro e resseguro, os corretores de seguro e de
para executar processos judiciais ou de instrução ou para pronunciar decisões de
justiça. resseguro;
– As instituições mutualistas ou cooperativas de poupança e de crédito, assim
Autoridade de procedimento judicial: como as estruturas ou organizações mutualistas ou cooperativas que têm
Órgão que, em virtude de uma lei ou de um regulamento, é investido, mesmo como objecto a colecta da poupança e/ou a concessão de crédito;
a título ocasional, da missão de executar a acção para a aplicação de uma pena. – A Bolsa Regional dos Valores Móveis, o Depositário Central/Banco de
Titular de direito económico: Pagamento, as Sociedades de Gestão e de intermediação, as Sociedades de
O dirigente, isto é, a pessoa por conta da qual o representante age ou por conta Gestão de Património;
da qual a operação é realizada. – Os OPCVM;
– As Empresas de Investimento de Capital Fixo;
BCEAO ou Banco Central: – Os Instituições autorizadas a praticar câmbio manual.
O Banco Central dos Estados da África, Ocidental.
UEMOA:
Bens: A União Económica e Monetária da África Ocidental.
Todos os tipos de bens, corpóreos ou incorpóreos, móveis ou imóveis, tangíveis
ou intangíveis, fungíveis ou não fungíveis, assim como os actos jurídicos ou UMOA:
documentos que certificam a propriedade desses bens ou direitos relativos. A União Monetária da África Ocidental.

CENTIF: União:
A Célula Nacional de Tratamento das Informações Financeiras. A União Económica e Monetária da Africa Ocidental.

Confiscação: ARTIGO 2º
Desapropriação definitiva de bens, por decisão de uma jurisdição competente, (Definição do branqueamento de capitais)
de uma autoridade de controlo ou de qualquer autoridade competente.
1. No sentido da presente lei, o branqueamento de capitais é definido como a
Estado membro: infracção constituída por um ou vários actos cometidos intencionalmente, a saber:
O Estado signatário do Tratado da União Económica e Monetária da África a) A conversão, transferência ou manipulação de bens, cujo autor sabe que eles
Ocidental. provêm de um crime ou de um delito ou de uma participação nesse crime ou delito,
com o objectivo de dissimular ou disfarçar a origem ilícita dos referidos bens ou
Estado terceiro:
de ajudar qualquer pessoa implicada na prática desse crime ou delito a escapar às
Qualquer Estado que não seja um Estado membro.
consequências judiciárias dos seus actos;
Infracção de origem: b) A dissimulação, disfarce da natureza, da origem, do lugar, da disposição, do
Qualquer crime ou delito sentido da lei, mesmo cometido no território de um movimento ou da propriedade real de bens ou direitos relativos, cujo autor sabe
outro Estado membro ou no território de um Estado terceiro, que permite ao seu que eles provêm de um crime ou de um delito, tal como definidos pelas legislações
184 autor adquirir bens ou rendimentos. nacionais dos Estados membros ou de uma participação nesse crime ou delito; 185
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c) A aquisição, posse ou utilização de bens cujo autor sabe, no momento da ARTIGO 5º


recepção dos referidos bens, que eles provêm de um crime ou de um delito ou de (Campo de aplicação da lei)
uma participação nesse crime ou delito. As disposições dos títulos II e III da presente lei são aplicáveis à qualquer pessoa
2. Existe branqueamento de capitais, mesmo quando os factos que estão na singular ou colectiva que, no quadro da sua profissão, realiza, controla ou aconselha
origem da aquisição, da posse e da transferência dos bens a branquear, são operações que conduzem a depósitos, câmbios, financiamentos, conversões ou
cometidos no território de um outro Estado membro ou no território de um Estado quaisquer outros movimentos de capitais ou quaisquer outros bens, a saber:
terceiro. a) O Tesouro Público;
b) BCEAO;
ARTIGO 3º c) Os organismos financeiros;
(Conivência, associação, tentativa de cumplicidade d) Os membros das profissões jurídicas independentes, quando representam ou
com vista ao branqueamento de capitais) assistem clientes fora de qualquer procedimento judiciário, nomeadamente no
1. Constitui igualmente uma infracção de branqueamento de capitais, conivência quadro das seguintes actividades:
ou participação numa associação com vista à comissão de um facto constitutivo – Compra e venda de bens, de empresas comerciais ou de fundos de comércio;
de branqueamento de capitais, a associação para cometer o dito facto, as tentativas – Manipulação de dinheiro, de títulos ou de outros activos que pertençam ao
de perpetuá-lo, a ajuda ou conselho à uma pessoa singular ou colectiva, com vista cliente;
a executá-lo ou a facilitar a sua execução. – Abertura ou gestão de contas bancárias, de poupança ou de títulos;
2. A não ser que a infracção de origem tenha sido objecto de uma lei de amnistia, – Constituição, gestão ou administração de empresas, de fídúcias ou de
existe branqueamento de capitais mesmo: estruturas similares, realização de outras operações financeiras;
a) Se o autor dos crimes ou delitos não for perseguido nem condenado; e) As disposições deste capítulo aplicam-se também:
b) Se falta uma condição para agir em justiça na sequência dos ditos crimes ou – Aos corretores;
delitos. – Aos Auditores;
– Aos Agentes imobiliários;
TÍTULO PRIMEIRO – Aos vendedores de artigos de grande valor, tais como objectos de arte
DISPOSIÇÕES GERAIS (quadros, máscaras em particular) pedras e metais preciosos;
– Aos transportadores de fundos;
CAPÍTULO ÚNICO – Aos proprietários, directores e gerentes de casinos e estabelecimentos de
OBJECTO E CAMPO DE APLICAÇÃO jogos, incluindo as lotarias nacionais;
– Às agências de viagem;
ARTIGO 4º – Às Organizações Não Governamentais – ONG.
(Objectivo da lei)
O objectivo da presente lei é a definição do quadro jurídico relativo à luta contra TÍTULO II
o branqueamento de capitais em (nome do país que adopta a lei)2, a fim de prevenir DA PREVENÇÃO DO BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS
a utilização dos circuitos económicos, financeiros e bancários da União para fins
de reciclagem de capitais ou de quaisquer bens de origem ilícita. CAPÍTULO I
DA REGULAMENTAÇÃO DOS CÂMBIOS

ARTIGO 6º
(Respeito da regulamentação dos câmbios)
As operações de câmbio, movimentos de capitais e pagamentos de qualquer
2
Trata-se de um lamentável lapso, não tendo sido colocado o nome, in casu, “... branquea- natureza com um Estado terceiro devem efectuar-se em conformidade com as
186 mento de capitais na Guiné-Bissau...”. disposições da regulamentação de câmbios em vigor. 187
Colectânea de Legislação de Direito Penal Lei Uniforme Relativa à Luta Contra o Branqueamento de Capitais

CAPÍTULO II ARTIGO 9º
MEDIDAS DE IDENTIFICAÇÃO (Identificação do titular de direito económico
pelos organismos financeiros)
ARTIGO 7º 1. Se o cliente não actua por conta própria, o organismo financeiro informa-se,
(Identificação dos clientes pelos organismos financeiros) por quaisquer meios, sobre a identidade da pessoa por conta da qual ele actua.
1. Os organismos financeiros devem assegurar-se da identidade e do endereço 2. Depois da verificação, se a dúvida persiste sobre a identidade do titular de
dos seus clientes antes de lhes abrir uma conta, conservar, nomeadamente títulos, direito económico, o organismo financeiro procede à declaração de suspeita visada
valores ou ordens de pagamento, atribuir um cofre ou estabelecer com eles no artigo 26º junto da Célula Nacional de Tratamento das Informações Financeiras
quaisquer relações, de negócios. instituída no artigo 6º nas condições fixadas no artigo 27º.
2. A verificação da identidade de uma pessoa singular é efectuada mediante a 3. Nenhum cliente pode invocar o segredo profissional para não comunicar a
exibição de um bilhete de identidade nacional ou de qualquer outro documento identidade do titular de direito económico.
oficial original, com indicação do lugar, data de validade, e contendo uma 4. Os organismos financeiros não são sujeitos às obrigações de identificação
fotografia, da qual se tira uma cópia. A verificação do seu endereço profissional previstas nos três números precedentes, se o cliente for um organismo financeiro,
e domiciliário é efectuada mediante exibição de qualquer documento comprovativo. submetido à presente lei.
No caso de uma pessoa singular comerciante, este último deve fornecer, além
disso, qualquer documento que certifique a sua matrícula no Registo do Comércio ARTIGO 10º
e do Crédito Mobiliário. (Vigilância particular de certas operações)
3. A identificação de uma pessoa colectiva ou de uma sucursal é efectuada 1. Devem constituir objecto de um exame particular da parte das pessoas visadas
mediante a produção, por um lado, do original, ou da cópia autenticada de no artigo 5º:
qualquer documento ou extracto do Registo do Comércio e do Crédito Mobiliário, a) Qualquer pagamento em dinheiro ou através de título ao portador de uma
atestando nomeadamente a sua forma jurídica, a sua sede social e, por outro lado, quantia de dinheiro, efectuado em condições normais, cujo montante unitário ou
os poderes das pessoas que actuam em seu nome. total é igual ou superior a cinquenta milhões (50.000.000) de francos CFA;
4. Os organismos financeiros asseguram-se, nas mesmas condições fixadas na b) Qualquer operação sobre uma quantia igual ou superior a dez milhões
nº 2 do presente artigo, da identidade e do endereço reais dos responsáveis, empre- (10.000.000) de francos CFA, efectuada em condições ocasionais de complexidade
gados e mandatários que agem por conta de outrem. Estes últimos devem, por sua e/ou que não pareçam ter justificação económica ou objecto lícito.
vez, produzir documentos que certifiquem, por um lado, a delegação de poder ou 2. Nos casos visados no número precedente, essas pessoas devem informar-se
do mandato que lhe foi atribuído e, por outro lado, a identidade e o endereço do junto do cliente, e/ou através de quaisquer meios, sobre a origem e o destino das
titular de direito económico. quantias de dinheiro em causa, assim como sobre o objecto da transacção e a
5. No caso das operações financeiras à distância, os organismos financeiros identidade das pessoas implicadas, em conformidade com as disposições dos nºs
procedem à identificação de pessoas singulares, em conformidade com os prin- 2, 3 e 5 do artigo 7º. As características principais da operação, a identidade do
cípios expostos em anexo à presente lei. mandante e do beneficiário, se for o caso, a dos actores da operação, são con-
signadas num registo confidencial, com vista a proceder a associações, em caso de
ARTIGO 8º necessidade.
(Identificação dos clientes ocasionais pelos organismos financeiros)
1. A identificação dos clientes ocasionais efectua-se nas condições previstas nos CAPÍTULO III
nºs 2 e 3 do artigo 7º, para qualquer operação efectuada sobre uma quantia de CONSERVAÇÃO E COMUNICAÇÃO DOS DOCUMENTOS
dinheiro igual ou superior a cinco milhões (5.000.000) de francos CFA ou cujo
contravalor em franco CFA equivale ou ultrapassa essa quantia. ARTIGO 11º
2. O mesmo acontece em caso de repetição de operações específicas num (Conservação das peças e documentos pelos organismos financeiros)
montante individual inferior àquele previsto no número precedente ou quando Sem prejuízo das disposições que decretam obrigações mais constrangedoras,
188 existe incerteza sobre a proveniência lícita dos capitais. os organismos financeiros conservam durante um período de dez (10) anos, a 189
Colectânea de Legislação de Direito Penal Lei Uniforme Relativa à Luta Contra o Branqueamento de Capitais

contar do fecho das suas contas ou da cessação de suas relações com os seus clientes CAPÍTULO IV
habituais ou ocasionais, as peças e documentos relativos à sua identidade. Eles DISPOSIÇÕES APLICÁVEIS A CERTAS OPERAÇÕES PARTICULARES
devem igualmente conservar as peças e documentos relativos às operações que eles
efectuaram durante dez (10) anos a contar do fim do exercício durante o qual as ARTIGO 14º
operações foram realizadas. (Câmbio manual)
As instituições autorizadas a efectuar câmbio manual, à semelhança dos bancos,
ARTIGO 12º devem dar uma atenção particular às operações para as quais não se impõe nenhum
(Comunicação das peças e dos documentos) limite regulamentar e que poderão ser efectuadas para fins de branqueamento de
1. As peças e os documentos relativos às obrigações de identificação previstas capitais, desde que o seu montante atinja cinco milhões (5.000.000) de francos
nos artigos 7º, 8º, 9º, 10º e 15º e cuja conservação é mencionada no artigo 11º, são CFA.
comunicados, a seu pedido, pelas pessoas visadas no artigo 5º, às autoridades
judiciárias, aos agentes do Estado encarregues da detecção e da repressão das ARTIGO 15º
infracções ligadas ao branqueamento de capitais, agindo no quadro de um mandato (Casinos e estabelecimentos de jogos)
judiciário, às autoridades de controlo, assim como à CENTIF. 1. Os gerentes, proprietários e directores de casinos e estabelecimentos de jogos
2. Esta obrigação tem como objectivo o de permitir a reconstituição do conjunto devem sujeitar-se às seguintes obrigações:
das transacções realizadas por uma pessoa singular ou colectiva, ligadas a uma a) Justificar junto da autoridade pública, desde a data de pedido de autorização
operação que tenha constituído objecto de uma declaração de suspeita visada no de abertura, a origem lícita dos fundos necessários à criação do estabelecimento;
artigo 26º ou cujas características são consignadas no registo confidencial previsto b) Assegurar-se da identidade, mediante exibição de um bilhete de identidade
no artigo 10º, nº 2. nacional ou de qualquer outro documento original no qual se indicam, o lugar, a
data de validade e contendo uma fotografia da qual se conserva uma cópia, dos
ARTIGO 13º jogadores que compram, fornecem ou trocam fichas de jogos numa quantia
(Programas internos de luta contra o branqueamento de capitais superior ou igual a um milhão (1.000.000) de francos CFA ou cujo contravalor
no seio dos organismos financeiros) seja superior ou igual a esta quantia;
1. Os organismos financeiros devem elaborar programas harmonizados de pre- c) Consignar num registo especial, por ordem cronológica, todas as operações
venção do branqueamento de capitais. Esses programas compreendem nomeada- visadas na alínea precedente, sua natureza e seu montante com indicação dos
mente: apelidos, nomes dos jogadores, assim como do número do documento apresen-
a) A centralização das informações sobre a identidade dos clientes, dirigentes, tado, e manter o dito registo durante dez (10) anos depois da última operação
mandatários, titulares de direito económico; registada;
b) O tratamento das transacções suspeitas; d) Consignar por ordem cronológica, todas as transferências de fundos efectuadas
c) A designação de responsáveis internos encarregues da aplicação dos pro- entre casinos e estabelecimentos de jogos num registo especial e manter o dito
gramas de luta contra o branqueamento de capitais; registo durante dez (10) anos depois da última operação registada.
d) A formação contínua do pessoal; 2. Se o casino ou o estabelecimento de jogos é controlado por uma pessoa
e) O estabelecimento de um dispositivo de controlo interno da aplicação e da colectiva que possui vários filiais, as fichas de jogo devem identificar a filial para
eficácia das medias adoptadas no quadro da presente lei. a qual elas foram emitidas. Em nenhum caso, as fichas de jogo emitidas por uma
2. As autoridades de controlo poderão, no domínio das suas competências res- filial podem ser reembolsadas por uma outra filial que não seja aquela situada quer
pectivas, em caso de necessidade, precisar o conteúdo e as modalidades de aplicação no território nacional, quer num outro Estado membro da União ou num Estado
dos programas de prevenção do branqueamento de capitais. Elas efectuarão, se for terceiro.
o caso, investigações locais a fim de verificar a boa aplicação desses programas.

190 191
Colectânea de Legislação de Direito Penal Lei Uniforme Relativa à Luta Contra o Branqueamento de Capitais

TÍTULO III ARTIGO 18º


DA DETECÇÃO DO BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS (Composição da CENTIF)
1. A CENTIF é composta por seis (6) membros, a saber:
CAPÍTULO I a) Um (1) alto funcionário, quer da Direcção das Alfândegas, quer da Direcção
DA CÉLULA NACIONAL DE TRATAMENTO DE INFORMAÇÕES do Tesouro, quer ainda da Direcção dos Impostos, com categoria de Director de
FINANCEIRAS Administração central, destacado pelo Ministério das Finanças. Ele assegura a
presidência da CENTIF;
ARTIGO 16º b) Um (1) magistrado especializado em questões financeiras, destacado pelo
(Criação da CENTIF) Ministério da Justiça;
É instituída por decreto (ou um acto de competência equivalente no caso da c) Um (1) alto funcionário da Polícia Judiciária, destacado pelo Ministério da
Guiné-Bissau), uma Célula Nacional de Tratamento de Informações Financeiras Segurança (ou pelo Ministério de tutela no caso da Guiné-Bissau);
(CENTIF), colocada sob a tutela do Ministro das Finanças. d) Um (1) representante do BCEAO, que assegura o secretariado da CENTIF;
e) Um (1) encarregado de inquéritos, Inspector dos Serviços das Alfândegas,
ARTIGO 17º destacado pelo Ministério das Finanças;
(Atribuições da CENTIF) f) Um (1) encarregado de inquéritos, Oficial de Polícia Judiciária, destacado
1. A CENTIF é um Serviço Administrativo, dotado da autonomia financeira e pelo Ministério da Segurança (ou pelo Ministério de tutela no caso da Guiné-
de um poder de decisão autónoma sobre as matérias da sua competência. A sua -Bissau).
missão é de recolher e tratar a informação financeira sobre os circuitos de 2. Os membros da CENTIF exercem as suas funções, a título permanente, por
branqueamento de capitais. A este título, ela: um período de três (3) anos, renovável uma vez.
a) É encarregue, nomeadamente de receber, analisar e tratar as informações
tendentes a estabelecer a origem das transacções ou a natureza das operações que ARTIGO 19º
constituem objecto de declarações de suspeita às quais são obrigadas as pessoas (Dos correspondentes da CENTIF)
suspeitas; 1. No exercício das suas atribuições, a CENTIF pode recorrer a correspondentes
b) Recebe igualmente quaisquer outras informações úteis, necessárias ao no seio, dos Serviços da Polícia, da Segurança, das Alfândegas, assim como dos
cumprimento da sua missão, nomeadamente as informações comunicadas pelas Serviços Judiciários do Estado e de qualquer outro Serviço cuja contribuição é
Autoridades de controlo, assim como pelos agentes da polícia judiciária; considerada necessária no quadro da luta contra o branqueamento de capitais.
c) Pode pedir a comunicação, por pessoas suspeitas, assim como por qualquer 2. Os correspondentes identificados são designados és qualité por decisão do
pessoa singular ou colectiva, de informações na sua posse e susceptíveis de seu Ministro de tutela. Eles colaboram com a CENTIF no quadro do exercício das
enriquecer as declarações de suspeitas; suas atribuições.
d) Realiza ou manda realizar estudos periódicos sobre a evolução das técnicas
utilizadas para efeitos de branqueamento de capitais ao nível do território nacional. ARTIGO 20º
2. Ela emite pareceres sobre a implementação da política do Estado em matéria (Confidencialidade)
de luta contra o branqueamento de capitais. A este título, ela propõe todas as Os membros e os correspondentes da CENTIF prestam juramento antes de
reformas necessárias ao reforço da eficácia da luta contra o branqueamento de entrarem em função. Eles são obrigados ao respeito do segredo das informações
capitais. recolhidas, que só poderão ser utilizadas para os objectivos previstos pela presente
3. A CENTIF elabora relatórios periódicos (pelo menos uma vez por trimestre) lei.
e um relatório anual, que analisa a evolução das actividades de luta contra o
branqueamento de capitais, no plano nacional e internacional, e procede à ARTIGO 21º
avaliação das declarações recolhidas. Esses relatórios são submetidos ao Ministro (Organização e funcionamento da CENTIF)
das Finanças. O decreto (ou o acto de competência equivalente no caso da Guiné-Bissau) que
192 institui CENTIF precisa o estatuto, a organização e as modalidades de financiamento 193
Colectânea de Legislação de Direito Penal Lei Uniforme Relativa à Luta Contra o Branqueamento de Capitais

da CENTIF. Um Regulamento interno, aprovado pelo Ministro das Finanças, fixa do Conselho dos Ministros da União sobre a evolução da luta contra o branqueamento
as normas de funcionamento Interno da CENTIF. de capitais.
3. Uma versão desses relatórios periódicos será elaborada para informação do
ARTIGO 22º público e das pessoas sujeitas às declarações de suspeitas.
(Financiamento da CENTIF)
Os recursos da CENTIF provêm, nomeadamente das contribuições autorizadas CAPÍTULO II
pelo Estado, pelas Instituições da UEMOA e pelos parceiros de desenvolvimento. DAS DECLARAÇÕES SOBRE AS OPERAÇÕES SUSPEITAS

ARTIGO 23º ARTIGO 26º


(Relações entre as células de informações financeiras (Obrigação de declaração das operações suspeitas)
dos Estados membros da UEMOA) 1. As pessoas visadas no artigo 5º devem declarar à CENTIF, nas condições
A CENTIF deve: fixadas pela presente lei e segundo um modelo de declaração fixado por decisão
a) Comunicar, a pedido devidamente fundamentado de uma CENTIF de um do Ministro das Finanças:
Estado membro da UEMOA, no quadro de um inquérito, todas as informações e a) As quantias de dinheiro e todos os outros bens na sua posse, quando estes
dados relativos às investigações realizadas na sequência de uma declaração de poderiam provir do branqueamento de capitais;
suspeitas a nível nacional; b) As operações sobre os bens, quando estas poderiam inscrever-se num
b) Transmitir os relatórios periódicos (trimestrais e anuais) detalhados sobre as processo de branqueamento de capitais;
suas actividades à Sede do BCEAO, encarregue de realizar a síntese dos relatórios c) As quantias de dinheiro e todos os outros bens na sua posse, quando estes,
das CENTIF para efeitos de informação do Conselho dos Ministros da UEMOA. suspeitos de serem destinados ao financiamento do terrorismo, poderiam provir
da realização de operações de branqueamento de capitais.
ARTIGO 24º 2. Os empregados das pessoas acima visadas devem informar imediatamente os
(Relações entre a CENTIF e os serviços de informações financeiras seus dirigentes dessas mesmas operações, desde que tenham tido conhecimento
de Estados terceiros) delas.
1. A CENTIF pode, sob reserva de reciprocidade, trocar informações com os 3. As pessoas singulares e colectivas pré-citadas têm a obrigação de declarar à
serviços de informações financeiras de Estados terceiros, encarregues de receber e CENTIF as operações realizadas desta maneira, mesmo que seja impossível adiar
de tratar as declarações de suspeitas, quando estes últimos são sujeitos às obrigações a sua realização ou se, posteriormente à realização da operação, houver indícios
análogas de segredo profissional. de que ela tenha sido realizada sobre quantias de dinheiro e quaisquer outros bens
2. A assinatura de acordos entre a CENTIF e um Serviço de informação de um de origem suspeita.
Estado terceiro necessita de autorização prévia do Ministro das Finanças. 4. Essas declarações são confidenciais e não podem ser comunicadas ao titular
das quantias ou ao autor das operações.
ARTIGO 25º 5. Qualquer informação de natureza a modificar a apreciação pela pessoa
(Papel atribuído ao BCEAO) singular ou colectiva no momento da declaração, e tendente a reforçar a suspeita
1. O BCEAO tem o papel de promover a cooperação entre as CENTIF. A este ou, a invalidá-la, deve ser comunicada imediatamente à CENTIF.
título, ele é encarregue de coordenar as acções das CENTIF no quadro da luta contra 6. Nenhuma declaração efectuada junto de uma autoridade em aplicação de um
o branqueamento de capitais e estabelecer uma síntese das informações provenientes texto que não seja a presente lei, pode ter como efeito, dispensar as pessoas visadas
dos relatórios elaborados por estas últimas. O BCEAO participa, com as CENTIF, no artigo 5º da execução da obrigação de declaração prevista pelo presente artigo.
nas reuniões das instâncias internacionais que se ocupam de questões relativas à
luta contra o branqueamento de capitais. ARTIGO 27º
2. A síntese estabelecida pela Sede do BCEAO é comunicada às CENTIF dos (Transmissão da declaração à CENTIF)
Estados membros da União, com vista a alimentar os seus bancos de dados. Ela As declarações de suspeitas são transmitidas pelas pessoas singulares e colectivas
194 servirá de base para a elaboração de um relatório periódico destinado à informação visadas no artigo 5º à CENTIF por qualquer meio por escrito. As declarações feitas 195
Colectânea de Legislação de Direito Penal Lei Uniforme Relativa à Luta Contra o Branqueamento de Capitais

telefonicamente ou por qualquer meio electrónico, devem ser confirmadas por 2. Nenhuma acção em responsabilidade civil ou penal pode ser intentada, assim
escrito num prazo de quarenta e oito (48) horas. Essas declarações indicam, como nenhuma sanção profissional pronunciada contra as pessoas ou os dirigentes
nomeadamente, consoante o caso: e empregados das pessoas visadas no artigo 5º, tendo agido nas mesmas condições
a) As razões que levaram à realização da operação; que aquelas previstas no número precedente, mesmo se decisões de justiça tomadas
b) O prazo durante o qual a operação suspeita deve ser executada. na base das declarações visadas nesse mesmo artigo não tenham conduzido a
qualquer condenação.
ARTIGO 28º 3. Além disso, nenhuma acção em responsabilidade civil ou penal pode ser
(Tratamento das declarações transmitidas à CENTIF e oposição à intentada contra as pessoas visadas no número precedente por danos materiais ou
realização das operações) morais, que poderiam resultar da interrupção de uma operação em virtude, das
1. A CENTIF acusa a recepção de qualquer declaração de suspeita escrita. Ela disposições do artigo 28º.
trata e analisa imediatamente as informações recolhidas e procede, se for o caso, 4. As disposições do presente artigo aplicam-se de pleno direito, mesmo se a
aos pedidos de informações complementares junto do denunciante, assim como de prova de carácter delituoso dos factos que estiveram na origem da declaração não
qualquer autoridade pública e/ou de controlo. tenha sido revogada ou se esse factos não foram amnistiados ou não conduziram
2. A título excepcional, a CENTIF pode, na base de informações graves, con- à uma decisão de não pronúncia, de libertação o de amnistia.
cordantes e fiáveis na sua posse, opor-se à realização da dita operação antes da
expiração do prazo de execução mencionado, pelo denunciante. Esta oposição é ARTIGO 31º
notificada a este último e suspende a realização da operação durante um período (Responsabilidade do Estado resultante de declarações
não superior a quarenta e oito (48) horas. de suspeitas feitas de boa fé)
3. Na ausência de oposição ou, se no fim de prazo de quarenta e oito (48) horas, Incumbe ao Estado a responsabilidade por qualquer dano causado às pessoas e
nenhuma declaração do juiz de instrução não for comunicada ao denunciante, este resultante directamente de uma declaração de suspeita feita de boa fé, mesmo que
pode realizar a operação. se reconheça a sua falsidade.

ARTIGO 29º ARTIGO 32º


(Seguimento dado às declarações de suspeitas) (Isenção de responsabilidade resultante da realização de certas operações)
1. Quando as operações põem em evidência factos susceptíveis de constituir a 1. Quando uma operação suspeita é realizada, e salvo cumplicidade fraudulenta
infracção de branqueamento de capitais, a CENTIF transmite um relatório sobre como ou os autores do branqueamento, nenhuma acção penal do autor de bran-
esses factos ao Procurador da República, que o submete imediatamente ao juiz de queamento pode ser intentada contra as pessoas visadas no artigo 5º, seus dirigentes
instrução. Esse relatório é acompanhado de todas as peças úteis, à excepção da ou empregados, se a declaração de suspeitas tiver sido feita em conformidade com
declaração de suspeita. A identidade do empregado na declaração não deve figurar as disposições da presente lei.
no dito relatório que faz fé até prova contrária. 2. O mesmo acontece quando uma pessoa visada no artigo 5º efectua uma
2. A CENTIF informará, em tempo oportuno, as pessoas sujeitas a declarações operação a pedido das autoridades judiciárias, dos agentes do Estado encarregues
de suspeitas sobre as conclusões das suas investigações. da detecção e da repressão das infracções ligadas ao branqueamento de capitais,
agindo no quadro de um mandato judiciário ou da CENTIF.
ARTIGO 30º
(Isenção de responsabilidade resultante de declarações CAPÍTULO III
de suspeitas feitas de boa fé) DA INVESTIGAÇÃO DE PROVAS
1. As pessoas ou os dirigentes e os empregados das pessoas visadas no artigo
5º que, de boa fé, transmitiram informações ou efectuaram qualquer declaração, ARTIGO 33º
em conformidade com as disposições da presente lei, são isentas de quaisquer (Medidas de investigação)
sanções por violação do segredo profissional. 1. Para constituir a prova da infracção de origem e a prova das infracções
196 ligadas ao branqueamento de capitais, o juiz de instrução pode ordenar, em 197
Colectânea de Legislação de Direito Penal Lei Uniforme Relativa à Luta Contra o Branqueamento de Capitais

conformidade com a lei, por um período indeterminado, sem oposição de segredo CAPÍTULO II
profissional, diversas acções, nomeadamente: DAS MEDIDAS CONSERVATÓRIAS
a) Vigilância das contas bancárias e das contas incorporadas nas contas bancárias,
quando existem índices graves de suspeita de as mesmas serem utilizadas ou ARTIGO 36º
susceptíveis de serem utilizadas para as operações ligadas à infracção de origem (Medidas conservatórias)
ou às infracções previstas pela presente lei; 1. O juiz de instrução pode prescrever medidas conservatórias, em conformidade
b) O acesso, aos sistemas, redes e servidores informáticos utilizados ou sus- com a lei, que ordena, às expensas do Estado, nomeadamente a penhora ou a
ceptíveis de serem utilizados por pessoas contra as quais existem índices graves de confiscação dos bens em relação com a infracção, objecto do inquérito, e todos os
participação na infracção de origem ou nas infracções previstas peta presente lei; elementos de natureza a permitir a sua identificação, assim como o congelamento
c) A comunicação de escrituras públicas ou contrato particular, de documentos das quantias de dinheiro e das operações financeiras efectuadas sobre os ditos bens.
bancários, financeiros e comerciais. 2. A suspensão dessas medidas pode ser ordenada pelo juiz de instrução nas
2. Pode igualmente ordenar a confiscação das escrituras e documentos acima condições previstas pela lei.
mencionados.
CAPÍTULO III
ARTIGO 34º DAS PENAS APLICÁVEIS
(Suspensão do segredo profissional)
Não obstante quaisquer disposições legislativas ou regulamentares contrárias, ARTIGO 37º
o segredo profissional não pode ser invocado pelas pessoas visadas no artigo 5º (Sanções penais aplicáveis às pessoas singulares)
para recusa de fornecimento de informações às autoridades de controlo, assim 1. As pessoas singulares culpadas de uma infracção de branqueamento de
como à CENTIF ou para proceder às declarações previstas pela presente lei. O capitais, são punidas com pena de prisão de três (3) a sete (7) anos e uma multa
mesmo acontece com as informações requeridas no quadro de um inquérito sobre igual ao triplo do valor dos bens ou dos fundos sobre os quais foram efectuadas
factos de branqueamento, ordenado pelo juiz de instrução ou efectuado sob operações de branqueamento.
controlo, pelos agentes do Estado encarregues da detecção e da repressão das 2. A tentativa de branqueamento é punida com as mesmas penas.
infracções ligadas ao branqueamento de capitais.
ARTIGO 38º
TÍTULO IV (Sanções penais aplicáveis à conivência, associação, cumplicidade
DAS MEDIDAS COERCIVAS com vista ao branqueamento de capitais)
A conivência ou a participação numa associação com vista à execução de um
CAPÍTULO I facto constitutivo de branqueamento de capitais, a associação para a comissão do
DAS SANÇÕES ADMINISTRATIVAS E DISCIPLINARES dito facto, a ajuda, a incitação ou o conselho a uma pessoa singular ou colectiva,
com vista a executá-lo ou facilitar a sua execução são punidas com as mesmas penas
ARTIGO 35º previstas no artigo 37º.
(Sanções administrativas e disciplinares)
Quando, na sequência, quer de um erro grave de vigilância, quer de uma ARTIGO 39º
carência na organização dos seus procedimentos internos de controlo, uma pessoa (Circunstâncias agravantes)
visada no artigo 5º subestima as obrigações que lhe são impostas pelo título II e 1. As penas previstas no artigo 37º são redobradas:
pelos artigos 26º e 27º da presente lei, a Autoridade de controlo com poder a) Quando a infracção de branqueamento de capitais é cometida de maneira
disciplinar pode agir de ofício nas condições previstas pelos textos legislativos e habitual ou utilizando as facilidades obtidas por exercício de actividade profissional;
regulamentares específicos em vigor. Ela informa ainda o facto à CENTIF, assim b) Quando o autor da infracção se encontra em estado de recidivas; neste caso,
como ao Procurador da República. as condenações pronunciadas no estrangeiro são levadas em consideração para o
198 estabelecimento da recidiva; 199
Colectânea de Legislação de Direito Penal Lei Uniforme Relativa à Luta Contra o Branqueamento de Capitais

c) Quando a infracção de branqueamento é cometida por um grupo organizado. b) Infringido as disposições dos artigos 6º, 7º, 8º, 9º, 10º, 11º, 12º, 14º, 15º e
2. Quando o crime ou o delito resultante dos bens ou quantias de dinheiro 26º da presente lei.
objectos de infracção de branqueamento, é punido com uma pena privativa de
liberdade de duração superior àquela de prisão prevista no artigo 37º, o bran- ARTIGO 41º
queamento é punido com penas ligadas à infracção de origem de que o autor teve (Sanções penais complementares facultativas aplicáveis
conhecimento e, se esta infracção é acompanhada de circunstâncias agravantes, às pessoas singulares)
com penas ligadas unicamente às circunstâncias de que ele teve conhecimento. As pessoas singulares culpadas das infracções definidas nos artigos 37º, 38º, 39º
e 40º podem igualmente incorrer as seguintes penas complementares:
ARTIGO 40º a) A interdição definitiva do território nacional ou por um período de um (1)
(Sanções penais de certos procedimentos ligados ao branqueamento) a cinco (5) anos contra qualquer estrangeiro condenado;
1. São punidos com pena de prisão de seis (6) meses a dois (2) anos e uma multa b) A interdição de estadia por um período de um (1) a cinco (5) anos em certas
de cem mil (100.000) a um milhão cento e cinquenta mil (1.150.000) francos CFA circunstâncias administrativas (a designar pelo Estado que adopta a Lei Uniforme);
ou somente com uma das duas penas, as pessoas e dirigentes ou empregados das c) A interdição de deixar o território nacional e a retirada do passaporte por um
pessoas singulares ou colectivas visadas no artigo 5º, quando estas últimas tiverem período de seis (6) meses a três (3) anos;
intencionalmente: d) A interdição de direitos cívicos, civis e de família por um período de seis (6)
a) Feito ao proprietário das quantias ou ao autor das operações visadas no artigo a três (3) anos;
5º, revelações na declaração que eles devem prestar ou nas decisões que lhe foram e) A interdição de conduzir engenhos motorizados terrestres, marítimos e
reservadas; aéreos e a retirada das autorizações ou licenças por um período de três (3) a seis
b) Destruído ou subtraído peças ou documentos relativos às obrigações de (6) anos;
identificação visadas nos artigos 7º, 8º, 9º, 10º, e 15º, cuja conservação é prevista f) A interdição definitiva ou por um período de três (3) a seis (6) anos de exercer
peto artigo 11º da presente lei; a profissão ou a actividade no momento em que a infracção foi cometida e
c) Realizado ou tentado realizar sob uma falsa identidade uma das operações interdição de exercer uma função pública;
visadas nos artigos 5º a 10º, 14º a 15º da presente lei; g) A interdição de passar cheques que não sejam os que permitem a retirada de
d) Informado por quaisquer meios a ou as pessoas visadas pelo inquérito fundos pelo sacador Junto do sacado ou os que são autenticados e de utilizar talões
conduzido por actos de branqueamento de capitais de que tivessem tido de pagamento durante três (3) a seis (6) anos;
conhecimento, em virtude da sua profissão ou das suas funções; h) A interdição de possuir ou usar uma arma sujeita à autorização durante três
e) Comunicado às autoridades judiciárias ou aos funcionários competentes para (3) a seis (6) anos;
constatar as infracções de origem e decorrentes dos actos e documentos visados no i) A confiscação de todo ou parte dos bens de origem lícita do condenado;
artigo 33º da presente lei, que eles sabem que são falsos ou inexactos; j) A confiscação do bem ou da coisa que serviu ou era destinada à cometer a
f) Comunicado informações ou documentos às pessoas que não sejam as visadas infracção ou do produto da infracção, à excepção dos objectos susceptíveis de
no artigo 12º da presente lei; restituição.
g) Omitido de proceder à declaração de suspeitas, prevista no artigo 26º, quando
as circunstâncias levaram a deduzir que as quantias de dinheiro poderiam provir CAPÍTULO IV
de uma infracção de branqueamento de capitais tal como definido nos artigos 2º DA RESPONSABILIDADE PENAL DAS PESSOAS COLECTIVAS
e 3º.
2. São punidas com uma multa de cinquenta mil (50.000) a setecentos e ARTIGO 42º
cinquenta mil (750.000) francos CFA, as pessoas e dirigentes ou empregados das (Sanções penais aplicáveis às pessoas colectivas)
pessoas singulares ou colectivas visadas no artigo 5º, quando estes últimos tiverem 1. As pessoas colectivas que não sejam o Estado, por conta ou em benefício das
não intencionalmente: quais uma infracção de branqueamento de capitais ou uma das infracções previstas
a) Omito de fazer a declaração de suspeitas, prevista no artigo 26º da presente pela presente lei foi cometida por um dos seus órgãos ou representantes, são
200 lei; punidas com uma multa de taxa igual ao quíntuplo das incorridas por pessoas 201
Colectânea de Legislação de Direito Penal Lei Uniforme Relativa à Luta Contra o Branqueamento de Capitais

singulares, sem prejuízo da condenação destas últimas como autores ou cúmplices ARTIGO 44º
dos mesmos actos. (Causas de atenuação das sanções penais)
2. As pessoas colectivas, que não sejam o Estado, podem, além disso, ser As penas incorridas por qualquer pessoal, autor ou cúmplice de uma das
condenadas a uma ou várias penas seguintes: infracções enumeradas nos artigos 37º, 38º, 40º e 41º que, antes de qualquer acção,
a) A exclusão dos mercados públicos, a título definitivo ou por um período de permite ou facilita a identificação dos outros culpados ou depois do engajamento
cinco (5) anos ou mais; dos actos, permite ou facilita a detenção destes, são reduzidas para metade. Além
b) A confiscação do bem que serviu ou era destinado a cometer a infracção ou disso, a dita pessoa é isenta da multa e, se for o caso, das medidas acessórias e penas
do seu produto; complementares facultativas.
c) A colocação sob vigilância judiciária por um período de cinco (5) anos ou
mais; CAPÍTULO VI
d) A interdição, a título definitivo, ou por um período de cinco (5) anos ou mais, DAS PENAS COMPLEMENTARES OBRIGATÓRIAS
de exercer directamente ou indirectamente uma ou várias actividades profissionais
ou sociais na ocasião em que a infracção foi cometida; ARTIGO 45º
e) O fecho definitivo ou por um período de cinco (5) anos ou mais, dos estabe- (Confiscação obrigatória dos produtos obtidos do branqueamento)
lecimentos ou de um dos estabelecimentos da empresa que serviu para cometer os Em todos os casos de condenação por infracção de branqueamento de capitais
actos criminais; ou de tentativa, os tribunais ordenam a confiscação, em benefício do Tesouro
f) A sua dissolução, quando elas foram criadas para cometer os actos criminais; Público, dos produtos obtidos da infracção, dos bens móveis e imóveis nos quais
g) A afixação da decisão pronunciada ou a difusão desta pela imprensa escrita esses produtos são transformados ou convertidos e, na proporção do seu valor, dos
ou por qualquer meio de comunicação audiovisual, às expensas da pessoa colectiva bens adquiridos legitimamente aos quais os ditos produtos estão ligados, assim
condenada. como os rendimentos e outras vantagens obtidas desses produtos, dos bens nos
3. As sanções previstas, nas alíneas c), d), e), f) e g) do nº 2 do presente artigo, quais eles são transformados ou investidos ou dos bens aos quais eles estão ligados
não são aplicáveis aos organismos financeiros que dependem de uma Autoridade à qualquer pessoa à qual pertencem esses produtos e esses bens, a menos que o seu
de controlo que disponha de um poder disciplinar. proprietário não declare que ele desconhece a sua origem fraudulenta.
4. A Autoridade de controlo competente, informada pelo Procurador da
República sobre qualquer acção intentada contra um organismo financeiro, pode TÍTULO V
decidir as sanções apropriadas, em conformidade com os textos legislativos e DA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL
regulamentares específicos em vigor.
CAPÍTULO I
CAPÍTULO V
DA COMPETÊNCIA INTERNACIONAL
DAS CAUSAS DE ISENÇÃO E DE ATENUAÇÃO DAS SANÇÕES PENAIS
ARTIGO 46º
ARTIGO 43º
(Infracções cometidas fora do território nacional)
(Causas de isenção de sanções penais)
1. As jurisdições nacionais são competentes para distinguir as infracções
Qualquer pessoa culpada, por um lado, de participação numa associação ou
previstas pela presente lei, cometidas por qualquer pessoa singular ou colectiva,
numa cumplicidade, com vista a cometer uma das infracções previstas nos artigos
qualquer que seja a sua nacionalidade ou a localização da sua sede, mesmo fora
37º, 38º, 39º, 40º e 41º, por outro lado, de ajuda, incitação ou de conselho a uma
do território nacional, desde que o lugar onde o acto foi cometido esteja situado num
pessoa singular ou colectiva com vista a executá-las ou de facilitar a sua execução,
dos Estados membros da UEMOA.
é isenta de sanções penais se, tendo revelado a existência dessa cumplicidade,
2. Elas podem igualmente distinguir as mesmas infracções cometidas num
associação, ajuda ou conselho à autoridade judiciária, ela permite deste modo, por
Estado terceiro, desde que uma convenção internacional lhe atribui competência
um lado, identificar as outras pessoas implicadas e, por outro lado, evitar a
para tal.
202 realização da infracção. 203
Colectânea de Legislação de Direito Penal Lei Uniforme Relativa à Luta Contra o Branqueamento de Capitais

CAPÍTULO II ARTIGO 51º


TRANSFERÊNCIAS DE PROCEDIMENTOS JUDICIAIS (Parecer dado à pessoa perseguida)
A autoridade, judiciária competente informa a pessoa perseguida de que um
ARTIGO 47º pedido foi apresentado a seu respeito e recolhe os argumentos que ela achar
(Pedido de transferência de procedimento judicial) pertinentes antes de qualquer tomada de decisão.
1. Quando a autoridade judiciária de um outro Estado membro da UEMOA
acha, por qualquer razão que seja, que os processos judiciais ou a continuidade de ARTIGO 52º
processos judiciais que ela já iniciou enfrenta grandes obstáculos e que um (Medidas conservatórias)
procedimento penal adequado é possível no território nacional, ela pode pedir à A autoridade judiciária competente pode, a pedido do Estado requerente, tomar
autoridade judiciária competente para executar os procedimentos necessários quaisquer medidas conservatórias, incluindo a prisão preventiva e a confiscação
contra o presumido autor. compatível com a legislação nacional.
2. As disposições do número precedente aplicam-se igualmente, quando o
pedido emana de uma autoridade de um Estado terceiro, e que as normas em vigor CAPÍTULO III
nesse Estado autorizam a autoridade judiciária nacional a submeter um pedido COOPERAÇÃO JUDICIÁRIA
para os mesmos fins.
3. O pedido de transferência de procedimentos judiciários é acompanhado dos ARTIGO 53º
documentos, peças, processos, objectos e informações na posse da autoridade (Modalidades da cooperação judiciária)
judicial do Estado requerente. 1. A pedido de um Estado membro da UEMOA os pedidos de cooperação relativos
às infracções previstas nos artigos 37º a 40º são realizados, em conformidade com
ARTIGO 48º os princípios definidos pelos artigos 54º a 70º.
(Recusa de procedimentos judiciários) 2. As disposições do número precedente são aplicáveis aos pedidos emanados
A autoridade judiciária competente não pode dar seguimento ao pedido de de um Estado terceiro, quando a legislação desse Estado lhe obriga a dar seguimento
transferência de procedimentos judiciais emanado, da autoridade competente do aos pedidos de mesma natureza emanados da autoridade competente.
Estado, requerente se, na data do envio do pedido, a prescrição da acção pública 3. A cooperarão pode, nomeadamente incluir:
é obtida segundo a lei desse Estado ou se uma acção dirigida contra a pessoa a) A recolha de testemunhos ou de deposições;
implicada tenha já obtido uma decisão definitiva. b) O fornecimento de uma ajuda para colocar à disposição das autoridades
judiciárias do Estado requerente, pessoas detidas ou outras pessoas, para efeitos
ARTIGO 49º de testemunho ou ajuda na condução do inquérito;
(Destino das acções realizadas no Estado requerente antes c) A entrega de documentos judiciários;
da transferência de procedimentos judiciais) d) As investigações e as confiscações;
Desde que seja compatível com a legislação em vigor, qualquer acção regular- e) A verificação dos objectos e dos lugares;
mente executada para efeitos de procedimento judicial ou para as necessidades de f) O fornecimento de informações e de peças de convicção;
procedimento no território do Estado requerente, terá o mesmo valor como se g) O fornecimento dos originais ou de cópias autenticadas dos processos e
tivesse sido executada no território nacional. documentos pertinentes, incluindo extractos bancários, peças contabilísticas,
registos que certificam o funcionamento de uma empresa ou suas actividades
ARTIGO 50º comerciais.
(Informação do estado requerente)
A autoridade judiciária competente informa a autoridade judiciária do Estado ARTIGO 54º
requerente sobre a decisão tomada ou pronunciada na conclusão, do procedimento. (Conteúdo do pedido de cooperação judiciária)
Para o efeito, ela transmite-lhe cópia de qualquer decisão tomada por força de caso Qualquer pedido de cooperação judiciária dirigido à autoridade competente é
204 julgado. feito por escrito. Ele compreende: 205
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a) O nome da autoridade que solicita a medida; 4. O governo da Guiné-Bissau, comunica imediatamente ao Estado requerente
b) O nome da autoridade competente e da autoridade encarregue do inquérito os motivos da recusa de execução do seu pedido.
ou do procedimento objecto do pedido;
c) A indicação da medida solicitada; ARTIGO 56º
d) Uma exposição dos factos constitutivos da infracção e das disposições (Segredo sobre o pedido de cooperação judiciária)
legislativas aplicáveis, salvo se o pedido tiver como único objectivo a entrega dos 1. A autoridade competente mantém o segredo sobre o pedido de execução
processos ou de decisões judiciais; judiciária, sobre o seu conteúdo e peças produzidas, assim como sobre a própria
e) Todos os elementos conhecidos que permitam identificar a ou as pessoas acção de cooperação.
visadas e, nomeadamente o estado civil, a nacionalidade. o endereço e a profissão; 2. Se não for possível executar o dito pedido sem divulgar o segredo, a auto-
f) Todas as informações necessárias para localizar os instrumentos, recursos ou ridade competente informa o facto ao Estado requerente, que decidirá, neste caso,
bens visados; se deve manter o pedido.
g) Uma exposição detalhada de qualquer processo ou pedido particular que o
Estado requerente pretende que se dê seguimento ou seja executado; ARTIGO 57º
h) A indicação do prazo no qual o Estado requerente desejaria que o pedido (Pedido de medidas de inquérito e de instrução)
fosse executado; 1. As medidas de inquérito e de instrução são executadas em conformidade com
i) Qualquer outra informação necessária à boa execução do pedido. a legislação em vigor, a menos que a autoridade competente do Estado requerente
não tenha pedido que se proceda de conformidade com uma forma particular
ARTIGO 55º compatível com esta legislação.
(Das recusas de execução do pedido de cooperação judiciária) 2. Um magistrado ou um funcionário delegado pela autoridade competente do
1. O pedido de cooperação judiciária só pode ser recusado: Estado requerente pode assistir à execução das medidas consoante forem executadas
a) Se ele não emanar de uma autoridade competente de acordo com a legislação por um magistrado ou por um funcionário.
do país requerente ou se ele não for transmitido regularmente; 3. Se for o caso, as autoridades judiciárias ou policiais de (nome do país que
b) Se a sua execução pode causar prejuízo à ordem pública, à soberania, à adopta a Lei Uniforme) podem executar, em colaboração com as autoridades de
segurança ou aos princípios fundamentais do direito; outros Estados membros da União, medidas de inquérito ou de instrução.
c) Se os factos que estão na sua origem constituem objecto de processos penais
ou já tenham feito objecto de uma decisão de justiça definitiva no território nacional; ARTIGO 58º
d) Se as medidas solicitadas ou quaisquer outras medidas com efeitos análogos, (Entrega de processos judiciais e de decisões judiciais)
não são autorizadas ou não são aplicáveis à infracção visada no pedido, em virtude 1. Quando o pedido de cooperação tem por objecto a entrega de processos
da legislação em vigor; judiciais e/ou de decisões judiciais, ele, deverá incluir, para além das indicações
e) Se a decisão cuja execução é solicitada não é viável segundo a legislação em previstas no artigo 54º, a descrição dos processos ou decisões visadas.
vigor; 2. A autoridade competente procede à entrega dos processos judiciais e de
f) Se a decisão estrangeira for pronunciada nas condições que não oferecem decisões judiciais que lhe serão enviados para esse efeito pelo Estado requerente.
garantias suficientes relativamente aos direitos de defesa; 3. Esta entrega pode ser efectuada por simples transmissão do processo ou da
g) Se existem razões graves que levam a pensar que as medidas requeridas ou decisão ao destinatário. Se a autoridade competente do Estado requerente formular
a decisão solicitada só visam a pessoa perseguida em virtude da sua raça, religião, expressamente o pedido, a entrega é efectuada numa das formas previstas pela
nacionalidade, origem étnica, opiniões políticas, sexo ou seu estatuto; legislação em vigor para as comunicações análogas ou numa forma especial
2. O segredo profissional não pode ser invocado para recusa de execução do compatível com esta legislação.
pedido. 4. A prova da entrega faz-se através de um recibo datado e assinado pelo
3. O ministério público pode introduzir recurso da decisão de recusa de execução destinatário ou de uma declaração da autoridade competente constatando o facto,
pronunciada por uma jurisdição nos (precisar o país que adopta a lei) dias seguintes a forma e a data da entrega. O documento estabelecido para constituir a prova da
206 a esta decisão. entrega é imediatamente transmitido ao Estado requerente. 207
Colectânea de Legislação de Direito Penal Lei Uniforme Relativa à Luta Contra o Branqueamento de Capitais

5. Se a entrega não for possível, a autoridade competente comunica imediatamente competentes nacionais um extracto do registo criminal e, todas as informações
o motivo ao Estado requerente. relativas à pessoa perseguida.
6. O pedido de entrega de um documento que exige a comparência de uma pessoa 2. As disposições do número precedente são aplicáveis quando os processos
deve ser efectuado o mais tardar sessenta (60) dias antes da data de comparência. judiciais são executados por uma jurisdição de um Estado terceiro e que esse
Estado reserva o mesmo tratamento aos pedidos de mesma natureza emanados das
ARTIGO 59º jurisdições nacionais competentes.
(A comparência dos testemunhos não detidos)
1. Se numa acção judicial exercida contra o autor das infracções visadas na ARTIGO 62º
presente lei, a comparência pessoal de um testemunho residente no território (Pedido de investigação e de confiscação)
nacional for considerada necessária pelas autoridades judiciárias de um Estado Quando o pedido de cooperação tiver como objectivo a execução de medidas
estrangeiro, a autoridade competente, interceptado por um pedido transmitido por de investigação e de confiscação para recolher peças de convicção, a autoridade
via diplomática, obriga-lhe a comparecer ao convite que lhe foi dirigido. competente autoriza o pedido, na medida compatível com a legislação em vigor
2. O pedido tendente a obter a comparência do testemunho comporta, para e na condição de as medidas solicitadas não causarem prejuízo aos direitos de
além das indicações previstas pelo artigo 54º, os elementos de identificação do terceiros de boa fé.
testemunho.
3. Contudo, o pedido só é recebido e transmitido, na dupla condição de o tes- ARTIGO 63º
temunho não ser nem perseguido nem detido por factos ou condenações anteriores (Pedido de confiscação)
à sua comparência e que ele não seja obrigado, sem o seu consentimento, a tes- 1. Quando o pedido de cooperação judiciária tiver como objecto uma decisão
temunhar num processo ou a dar a sua contribuição num inquérito ligado ao pedido que ordene uma confiscação, a jurisdição competente estatui sobre a sua submissão
de cooperação. ao tribunal da autoridade competente do Estado requerente.
4. Nenhuma sanção, nem medida de constrangimento podem ser aplicadas ao
2. A decisão de confiscação deve visar um bem que representa o produto ou o
testemunho que recusar deferir um pedido tendente a obter a sua comparência.
instrumento de uma das infracções visadas pela presente lei e que se encontra no
território nacional, ou consistir numa obrigação de pagamento de uma quantia de
ARTIGO 60º
dinheiro correspondente ao valor desse bem.
(A comparência de pessoas detidas) 3. Não pode ser dado seguimento a um pedido tendente a obter uma decisão de
1. Se, numa acção judicial exercida contra o culpado de uma das infracções confiscação, se uma tal decisão tiver como objectivo o de causar prejuízo aos
visadas na presente lei, a comparência pessoal de um testemunho detido no território direitos legalmente constituídos, em benefício de terceiros, sobre os bens visados
nacional for considerada necessária, a autoridade competente, interceptado por em aplicação da lei.
um pedido dirigido directamente ao tribunal competente, procederá à transferência
do interessado. ARTIGO 64º
2. Contudo, só será dado seguimento ao pedido se a autoridade competente do (Pedido de medidas conservatórias para efeitos de preparação
Estado requerente se comprometer a manter em detenção a pessoa transferida, de uma confiscação)
enquanto a pena que lhe foi infligida pelas jurisdições nacionais competentes não
1. Quando o pedido de cooperação tem como objecto investigar o produto das
for inteiramente clarificada, e a devolvê-la em estado de detenção na conclusão
infracções visadas na presente lei que se encontra no território nacional, a autoridade
do processo ou se a sua presença deixar de ser necessária.
competente pode efectuar investigações cujos resultados serão comunicados à
autoridade competente do Estado requerente.
ARTIGO 61º
2. Para o efeito, a autoridade competente toma todas as medidas necessárias
(Registo criminal)
para investigar a origem dos bens, inquirir sobre as operações financeiras apropriadas
1. Quando os processos judiciais são executados por uma jurisdição de um
e recolher quaisquer outras informações ou depoimentos de natureza a facilitar a
Estado membro da UEMOA contra o culpado de uma das infracções visadas pela
colocação em mãos da justiça dos produtos da infracção.
208 presente lei, o tribunal da dita jurisdição pode obter directamente das autoridades 209
Colectânea de Legislação de Direito Penal Lei Uniforme Relativa à Luta Contra o Branqueamento de Capitais

3. Quando as investigações previstas no nº 1 do presente artigo atingem resulta- 2. As disposições do número precedente aplicam-se às condenações pronunciadas
dos positivos, a autoridade competente toma, a pedido da autoridade competente pelas jurisdições de um Estado terceiro, quando esse Estado reserva o mesmo
do Estado requerente, qualquer medida tendente a prevenir a negociação, a cessão tratamento às condenações pronunciadas pelas jurisdições nacionais.
ou a alienação dos produtos visados enquanto não for tomada uma decisão
definitiva pela jurisdição competente do Estado requerente. ARTIGO 68º
4. Qualquer pedido tendente a obter as medidas visadas no presente artigo, deve (Modalidades de execução)
mencionar, para além das indicações previstas no artigo 54º, as razões que levam As decisões de condenação pronunciadas no estrangeiro são executadas em
a autoridade competente do Estado requerente a acreditar que os produtos ou os conformidade com a legislação em vigor.
instrumentos das infracções se encontram no seu território, assim como as
informações que permitem localizá-los. ARTIGO 69º
(Interrupção da decisão)
ARTIGO 65º A decisão é interrompida quando em virtude de uma decisão ou de um processo
(Efeito da decisão de confiscação pronunciada no estrangeiro) emanado do Estado que pronunciou a sanção, esta perde o seu carácter aplicável.
1. Na medida compatível com a legislação em vigor, a autoridade competente
executa qualquer decisão de justiça definitiva de penhora ou de confiscação dos ARTIGO 70º
produtos das infracções visadas na presente lei emanada de jurisdição de um (Recusa de execução)
Estado membro da UEMOA. O pedido de execução da condenação pronunciada no estrangeiro é rejeitada se
2. As disposições do número precedente aplicam-se às decisões emanadas das a pena for prescrita em relação à lei do Estado requerente.
jurisdições de um Estado terceiro, quando esse Estado reserva o mesmo tratamento
às decisões emanadas das jurisdições nacionais competentes. CAPÍTULO IV
3. Não obstante as disposições dos dois números precedentes, a execução das EXTRADIÇÃO
decisões emanadas do estrangeiro não podem ter como efeito causar prejuízo aos
direitos legalmente constituídos sobre os bens visados em benefício de terceiros ARTIGO 71º
em aplicação da lei. Esta regra não constitui obstáculo à aplicação das disposições (Condição de extradição)
das decisões estrangeiras relativas aos direitos de terceiros, salvo se, estes não 1. São sujeitos à extradição:
tiverem sido colocados em condições de fazer valer os seus direitos perante a a) Os indivíduos perseguidos por infracções visadas pela presente lei qualquer
jurisdição competente do Estado estrangeiro em condições análogas às previstas que seja a duração da pena incorrida no território nacional;
pela lei em vigor. b) Os indivíduos que, por infracções visadas pela presente lei, são condenados
definitivamente pelos tribunais do Estado requerente, sem que a pena pronunciada
ARTIGO 66º seja levada em consideração.
(Destino dos bens confiscados) 2. Não são infringidas as regras de direito comuns da extradição, nomeadamente
O Estado goza do poder de dispor dos bens confiscados no seu território a as relativas à dupla incriminação.
pedido de autoridades estrangeiras, salvo decisão contrária de um acordo assinado
com o governo requerente. ARTIGO 72º
(Procedimento simplificado)
ARTIGO 67º Quando o pedido de extradição se refere a uma pessoa que tenha cometido uma
(Pedido de execução das decisões tomadas no estrangeiro) das infracções previstas pela presente lei, ele é dirigido directamente ao Procurador
1. As condenações a penas privativas de liberdade, as multas e confiscações, Geral competente do Estado requerido, com ampliação, para informação, ao
assim como a libertação pronunciadas para as infracções visadas pela presente lei, Ministro da Justiça. Ele é acompanhado:
por uma decisão definitiva emanada de uma jurisdição de um Estado membro da a) Do original ou da cópia autenticada, quer de uma decisão de condenação
UEMOA, podem ser executadas no território nacional, a pedido das autoridades aplicável, quer de um mandato de detenção ou de qualquer outro acto que tenha
210 competentes desse Estado. a mesma força, emitido nas formas prescritas peia lei do Estado requerente e 211
Colectânea de Legislação de Direito Penal Lei Uniforme Relativa à Luta Contra o Branqueamento de Capitais

contendo a indicação precisa do tempo, lugar e circunstâncias dos factos cons- ARTIGO 75º
titutivos da infracção e da sua qualificação; (Entrega de objectos)
b) De uma cópia autenticada das disposições legais aplicáveis com a indicação 1. No caso de extradição, todos os objectos susceptíveis de servir como provas
da pena incorrida; ou provenientes da infracção e encontrados na posse do indivíduo reclamado no
c) De um documento comportando uma descrição tão precisa quanto possível momento da sua detenção ou descobertos posteriormente, são confiscados e
do indivíduo reclamado, assim como quaisquer outras informações de natureza a remetidos, a seu pedido, à autoridade competente do Estado requerente.
determinar a sua identidade, nacionalidade e lugar onde se encontra. 2. Esta entrega pode ser efectuada mesmo se a extradição não poder ser executada
em virtude da evasão ou morte do indivíduo reclamado.
ARTIGO 73º 3. São, todavia, reservados os direitos que os terceiros tenham adquirido sobre
(Complemento de informação) os ditos objectos que deverão, se existirem, ser entregues o mais rapidamente
Quando as informações comunicadas pela autoridade competente se revelam possível e sem expensas ao Estado requerente, em virtude dos processos executados
insuficientes para a tomada de uma decisão, o Estado pede o complemento de no Estado requerente.
informações necessárias e poderá fixar um prazo de quinze (15) dias para a 4. Se ela julgar necessário para um processo penal, a autoridade competente
obtenção dessas informações, a menos que esse prazo não seja compatível com a pode reter temporariamente os objectos confiscados.
natureza do processo. 5. Ela pode, no acto de transmissão, reservar-se o direito de solicitar a sua
devolução pela mesma razão, podendo esquecer-se de os remeter desde que seja
ARTIGO 74º possível fazê-lo.
(Prisão preventiva)
1. Em caso de urgência, a autoridade competente do Estado requerente, pode TÍTULO VI
pedir a prisão preventiva do indivíduo perseguido, enquanto se aguarda a DISPOSIÇÕES FINAIS
apresentação de um pedido de extradição; a autoridade competente decide sobre
este pedido, em conformidade com a legislação em vigor. ARTIGO 76º
2. O pedido de prisão preventiva indica a existência de uma das peças visadas (Informação da Autoridade de controlo dos processos executados
no artigo 72º e precisa a intenção de envio de um pedido de extradição; ele menciona contra os indivíduos sob sua tutela)
a infracção para a qual a extradição é solicitada, o tempo e o lugar onde ela foi O Procurador da República informa qualquer Autoridade de controlo competente
cometida, a pena que é ou pode ser incorrida ou foi pronunciada, o lugar onde se sobre os processos judiciais executados contra os indivíduos sob sua tutela, em
encontra o indivíduo reclamado, se for conhecido, assim como, na medida do aplicação das disposições da presente lei.
possível, a descrição deste.
3. O pedido de prisão preventiva é transmitido às autoridades competentes, quer ARTIGO 77º
por via diplomática, quer directamente por correio ou telégrafo, quer pela (Entrada em vigor)
organização internacional de Polícia criminal, quer por qualquer outro meio A presente lei entra imediatamente em vigor.
escrito ou aceite pela legislação em vigor do Estado.
4. A prisão preventiva termina se, no prazo de vinte (20) dias, o pedido de
extradição e as peças mencionadas no artigo 72º não tiverem sido submetidos à
autoridade competente.
5. Todavia, a libertação provisória é possível a qualquer momento, salvo se a
autoridade competente tomar qualquer medida que ela julgar necessária por forma
a evitar a fuga da pessoa perseguida.

212 213
Colectânea de Legislação de Direito Penal Regulamentação Bancária

Lei nº 10/97, de 2 de Dezembro*


Regulamentação Bancária

PREÂMBULO

Até aqui, a legislação bancária, mais conhecida por lei das instituições
financeira, aprovada pelo Decreto nº 31/89, de 27 de Dezembro, não se mostra
adaptável ao novo dispositivo da gestão monetária.
A adesão da República da Guiné-Bissau, à União Monetária Oeste Africana, nas
condições previstas no Acordo de Adesão concluído em 29 de Janeiro de 1997
entre os Estados Membros da UMOA e a República da Guiné-Bissau, aderindo, em
consequência ao Tratado de 14 de Novembro de 1973 que institui a União
Monetária Oeste Africana, obriga nos termos do seu artigo 22º a uma harmonização
das legislações em matéria de organizações e distribuição do Crédito e do exercício
da profissão bancária.
A presente legislação que é aplicável a todos os Estados membros da UMOA,
obedece, no essencial às disposições da Convenção sobe a criação da Comissão
Bancária da UMOA.
Assim:
A Assembleia Nacional Popular decreta nos termos do artigo 85º da Constituição,
o seguinte:

TÍTULO I
DOMÍNIO DE APLICAÇÃO DA REGULAMENTAÇÃO BANCÁRIA

ARTIGO 1º
A presente lei aplica-se aos bancos e estabelecimento financeiros que exerçam
a sua actividade no território da República da Guiné-Bissau, quaisquer que seja o
seu estatuto jurídico, o local da sede social ou do principal estabelecimento e a
nacionalidade dos proprietários do seu capital social ou dos seus dirigentes.

ARTIGO 2º
1. No entanto, a presente lei não se aplica:
a) Ao Banco Central dos Estados da África do Oeste, adiante designado por
Banco Central;

*
214 Publicada no Suplemento ao Boletim Oficial nº 48, de 2 de Dezembro de 1997. 215
Colectânea de Legislação de Direito Penal Regulamentação Bancária

b) As Instituições Financeiras internacionais, nem às instituições públicas TÍTULO II


estrangeiras de ajuda ou cooperação, cuja actividade no território da República da APROVAÇÃO E LEVANTAMENTO DA APROVAÇÃO DOS BANCOS
Guiné-Bissau está autorizada por tratados, acordos ou convenções de que a Guiné- E ESTABELECIMENTOS FINANCEIROS
-Bissau faz parte;
c) À Administração dos Correios e Telecomunicações, artigo 43º. ARTIGO 7º
2. Os artigos 20º a 22º da presente lei não se aplicam aos bancos e estabeleci- 1. Ninguém pode, sem que tenha sido previamente autorizado e inscrito na lista
mentos financeiros públicos dotados de estatuto especial cuja lista será fixada pelo dos bancos, exercer a actividade definida no artigo 3º, nem fazer-se valer da
Conselho de Ministro da União Monetária Oeste-Africana. qualidade de Banco ou de Banqueiro, nem criar a aparência desta qualidade,
nomeadamente pelo emprego de termos como Banco, Banqueiro ou Bancário, na
ARTIGO 3º sua designação ou firma, nome comercial, publicidade ou de qualquer outros
São considerados como bancos as empresas cuja função habitual é receber modo na sua actividade.
fundos através de cheques ou de transferências, fundos esses que utilizam para fins 2. Ninguém pode, sem que tenha sido previamente autorizado e inscrito na lista
próprios ou em nome de outrem, em operações de crédito ou de investimento. dos estabelecimentos financeiros, exercer a actividade definida no artigo 4º, nem
fazer-se valer da qualidade de estabelecimento financeiro, nem criar a aparência
ARTIGO 4º desta qualidade, nomeadamente pelo emprego de termos que evoquem uma das
São considerados como estabelecimentos financeiros as pessoas singulares ou actividades previstas no artigo 4º na sua designação ou razão social, nome
colectivas, exceptuando os bancos, cuja função habitual é efectuar em seu próprio comercial, publicidade ou qualquer outro modo de actividade na sua actividade.
nome operações de crédito, de venda a crédito ou de câmbio, ou que receberem
habitualmente fundos que utilizam em seu nome em operações de investimento de [...]
capitais, ou que servem habitualmente de intermediários como comissionistas,
correctores, ou outros, na totalidade ou em parte destas operações. ARTIGO 10º
1. Os estabelecimentos financeiros são classificados por decreto em diversas
ARTIGO 5º categorias, de acordo com as diferentes actividades que exercem.
1. São consideradas como operações de crédito as operações de empréstimos, 2. Os estabelecimentos financeiros de uma mesma categoria não podem exercer
desconto, pensão, aquisição de créditos, de garantia de financiamento de vendas actividades de outra categoria sem consentimento expresso, concedido como em
a crédito e de locação financeira. matéria de aprovação.
2. São consideradas como operações de investimento a aquisição de participações 3. A anulação deste consentimento é pronunciada como em matéria de anulação
em empresas existentes ou em formação e todas as aquisições de valores de aprovação.
mobiliários efectuadas por pessoas públicas ou privadas.
[...]
ARTIGO 6º
1. Não são considerados como bancos os seguintes estabelecimentos financeiros: ARTIGO 18º
a) As empresas de seguros e os organismos de reforma; 1. Os bancos e estabelecimentos financeiros devem remeter e actualizar junto
b) Os notários e os funcionários ministeriais no exercício das suas funções; da Comissão Bancária e da Conservatória do Registo Comercial a lista das pessoas
c) Os agentes de câmbios. que exercem funções de direcção, administração ou gestão do banco ou do
2. No entanto, as empresas, organismos e pessoas mencionadas no presente estabelecimento financeiro ou respectivas agências, qualquer projecto de alteração
artigo encontram-se submetidas às disposições do artigo 56º. à lista acima referida deve ser previamente notificado à Comissão Bancária.
2. O Conservador deve efectuar semanalmente uma cópia da lista supra men-
cionada e das alterações efectuadas e enviá-la, em papel normal, ao Procurador da
República.
216 217
Colectânea de Legislação de Direito Penal Regulamentação Bancária

ARTIGO 19º 3. Estes documentos devem ser autenticados e oficializados por um revisor de
1. Os candidatos à direcção, à gestão ao controlo ou funcionamento dos bancos contas, escolhido de uma lista de revisores de contas autorizados pelo Supremo
e dos estabelecimentos financeiros são obrigados ao sigilo profissional, sob Tribunal de Justiça.
reserva das disposições do artigo 24º, último número. 4. Esta escolha é submetida à aprovação da Comissão Bancária.
2. É proibido aos mesmos utilizar informações confidenciais de que tenham 5. O balanço anual de cada banco deverá ser publicado no Boletim Oficial, a
conhecimento no exercício da sua actividade, para realizar directa ou indirecta- cargo do Banco Central. As despesas desta publicação incumbem ao banco.
mente operações em seu próprio nome ou para benefício de outrem.
ARTIGO 41º
[...] Os bancos e estabelecimentos financeiros devem, durante o exercício fiscal,
elaborar demonstrações financeiras segundo a periodicidade e nas condições
ARTIGO 27º prescritas pelos Banco Central. Estas demonstrações são comunicadas a este e à
1. Os bancos e os estabelecimentos financeiros que não sejam empresas em Comissão Bancária.
nome individual devem construir uma reserva especial, incluindo toda e qualquer
reserva legal eventualmente exigida palas leis e regulamentos em vigor, por ARTIGO 42º
dedução dos benefícios líquidos realizados anualmente. O montante desta reserva 1. Os bancos e estabelecimentos devem fornecer, a pedido do Banco Central,
especial é fixado, para os bancos e as diversas categorias de estabelecimentos todas as informações, esclarecimentos, justificações e documentos considerados
financeiros, por uma instrução do Banco Central. úteis para a análise da sua situação, a apreciação dos riscos o estabelecimento de
2. A reserva dos bancos e estabelecimentos financeiros identificados no artigo lista de cheques e títulos de crédito em falta e outros incidentes de pagamento, e
24º é calculada sobre os benefícios líquidos realizados na República da Guiné- de modo global para o exercício pelo Banco Central das suas atribuições.
-Bissau e acrescenta-se à adaptação prevista no referido artigo. 2. Os bancos e estabelecimentos financeiros devem, a pedido da Comissão
Bancária, fornecer a esta qualquer documento, informações, esclarecimento e
[...] justificação considerados úteis ao exercício das suas atribuições.
3. A pedido da Comissão Bancária, todos e qualquer Revisor de Contas de um
ARTIGO 30º banco ou estabelecimento financeiro deve fornecer à referida comissão todos os
Estão igualmente dependentes de prévia autorização do Ministro das Finanças: relatórios documentos e outras peças, bem como comunicar-lhe todas as informações
a) Qualquer cessão por um banco ou estabelecimento financeiro de mais de 20% consideradas úteis ao pleno cumprimento da sua missão.
do seu activo, correspondente às suas operações na república da Guiné-Bissau; 4. O segredo profissional não é oponível nem à Comissão Bancária, nem ao
b) Qualquer exploração por gestor ou cessação do conjunto das suas actividades Banco Central, nem à autoridade judicial no âmbito de processo penal.
na república da Guiné-Bissau.
ARTIGO 43º
[...] As disposições do artigo 42º são aplicáveis à Administração dos Correios e
Telecomunicações relativamente às operações dos serviços financeiros e de
ARTIGO 40º cheques postais.
1. Os bancos e estabelecimentos financeiros devem fechar as contas a 30 de
Setembro de cada ano. TÍTULO V
2. Antes de 31 de Março do ano seguinte, devem comunicar ao Banco Central REGRAS DA UNIÃO MONETÁRIA OESTE-AFRICANA
e à Comissão Bancária:
a) O Balanço e obrigações fora do balanço; ARTIGO 44º
b) A Conta Resultados Correntes do Exercício; 1. O Conselho de Ministros da União Monetária Oeste-Africana está habilitada
c) A Conta Resultados Líquidos. para tomar todas as disposições relativas:
218 219
Colectânea de Legislação de Direito Penal Regulamentação Bancária

a) Aos instrumentos e regras das políticas de crédito aplicáveis aos bancos e CAPÍTULO II
estabelecimento financeiros. Nomeadamente a constituição de reservas obrigatórias SANÇÕES DISCIPLINARES
junto do Banco Central, o respeito por uma relação entre os diversos elementos
dos seus recursos e aplicações, ou ainda o respeito dos limites máximo e mínimo ARTIGO 47º
do montante de determinadas aplicações; As sanções disciplinares por infracções à regulamentação bancária são pro-
b) Às condições nas quais os bancos e estabelecimentos financeiros podem nunciadas pela Comissão Bancária, de acordo com a convenção que deu origem
adquirir participações; à criação da referida comissão Bancária.
c) Às normas de gestão que os bancos e estabelecimentos financeiros devem
respeitar nomeadamente com vista a garantir liquidez, solvabilidade, a divisão dos ARTIGO 48º
riscos e o equilíbrio da estrutura financeira.
As decisões da Comissão Bancária são executórias de pleno direito sobre o
2. O Banco Central está ainda habilitado a tomar todas as disposições relativas
território da República da Guiné-Bissau.
às taxas e condições das operações efectuadas pelos bancos e estabelecimentos
financeiros com a sua clientela. Poderá também determinar disposições particulares
a favor de certos estabelecimentos dotados de estatuto especial, nomeadamente os CAPÍTULO III
estabelecimentos que, não recorrem a utilização da taxa de juro e praticam o SANÇÕES PENAIS
sistema de partilha de resultados.
3. As disposições previstas no presente artigo poderão divergir para os bancos ARTIGO 49º
e as diversas categorias de estabelecimentos financeiros e prever derrogações 1. Será punido com pena de prisão de um mês a dois anos e com multa de
individuais e temporárias, a cargo da Comissão Bancária. 2.000.000 a 20. 000. 000 francos, ou apenas com uma das duas quem, agindo por
4. O Banco Central notificará os bancos e estabelecimentos financeiros nesta conta própria ou por conta de outrem contravier ao disposto:
matéria. a) No artigo 7º;
5. Instruções específicas por parte do Banco Central determinarão as modalidades b) No artigo 10º, nº 2.
de aplicação destas disposições. 2. Em caso de reincidência, a pena máxima a aplicar será de cinco anos de prisão
e a multa máxima de 50. 000. 000 francos.
ARTIGO 45º
Os bancos e estabelecimentos financeiros deverão conformar-se às decisões ARTIGO 50º
tomadas pelo Conselho de Ministros da União Monetária Oeste-Africana, Banco 1. Será punido com pena de prisão de um mês a dois anos e com multa de
Central e Comissão Bancária no exercício dos poderes que lhes foram conferidos 2.000.000 a 20.000. 000 francos, ou apenas com uma das duas quem, agindo por
pelo Tratado que constitui a União Monetária Oeste-Africana, os Estatuto do conta própria ou por conta de outrem infringir ao disposto no artigo 19º, nº 2.
Banco Central, a convenção que deu origem à criação da Comissão Bancária e a 2. Em caso de reincidência, a pena máxima a aplicar será de cinco anos de prisão
presente lei. e a multa máxima de 50.000.000 francos CFA.

TÍTULO VI ARTIGO 51º


CONTROLO E SANÇÕES
1. Será punido com pena de prisão de um mês a um ano com e a multa de
1.000.000 a 10.000.000 francos, ou apenas com uma das duas quem, agindo por
CAPÍTULO I
conta própria ou por conta de outrem, tiver transmitido ao Banco Central ou à
CONTROLO
Comissão Bancária, com pleno conhecimento de causa, documentos ou informações
ARTIGO 46º inexactos, ou se tiver oposto a um dos controlos referenciados no artigo 46º.
2. Em caso de reincidência, a pena máxima a aplicar será de dois anos de prisão
Os bancos e estabelecimentos financeiros não podem opor-se aos controlos
e a multa máxima de 20.000 000 francos.
efectuados pela Comissão Bancária e pelo Banco Central, de acordo com as
220 disposições em vigor no território da República da Guiné-Bissau. 221
Colectânea de Legislação de Direito Penal Regime Geral das Instituições Mutualistas ou Cooperativas de Poupança e de Crédito

ARTIGO 52º
1. Será punido com multa de 2.000 000 francos qualquer banco ou estabele-
cimento financeiro que contravier a uma das disposições previstas nos artigos 18º, Lei nº 11/97, de 2 de Dezembro1
27º, 30º, 40º, 41º, e 42º, ou ao disposto nos artigos 44º e 45º, sem prejuízo das
Regime Geral das Instituições Mutualistas ou Cooperativas
sanções previstas nos capítulos II e IV do presente título.
de Poupança e de Crédito
2. A mesma pena poderá ser pronunciada contra os dirigentes responsáveis pela
infracção e contra qualquer revisor de contas que tiver infringido ao disposto no
PREÂMBULO
artigo 42º.
3. Serão passíveis da mesma pena as pessoas que tiverem adquirido ou cedido
O reconhecimento constitucional da propriedade cooperativa, organizada sob
uma participação num banco ou estabelecimento financeiro em contravenção do
a base do livre consentimento, ilustra bem, a importância que, assim, lhe é con-
disposto no artigo 29º.
ferida na promoção e desenvolvimento de actividades económicas e sócio-
-culturais.
[...]
Se por um lado, o desenvolvimento do sector cooperativo suscitaria que o
mesmo fosse acompanhado de igual transformação no plano normativo, hoje, a
ARTIGO 71º
adesão do País à União Monetária Oeste Africana impõe a adopção de uma
1. A presente lei entrará em vigor na data prevista pelo artigo 37º do Anexo à regulamentação uniforme no domínio abrangido pelo presente diploma.
Convenção que dá origem à criação da Comissão Bancária. Considerando que o artigo 22º do Tratado institutivo prevê a necessidade de se
2. São revogados a contar desta data todas as disposições contrárias, nomea- adoptar uma regulamentação uniforme no domínio da organização geral da
damente a Lei das Instituições Financeiras da Guiné-Bissau, aprovada pelo Decreto distribuição e do controlo do crédito.
nº 31/89 de 27 de Dezembro, publicada no Boletim Oficial nº 52. Com o presente diploma visa-se estabelecer o regime geral das instituições
mutualistas ou cooperativas de crédito e poupança, procedendo-se desta forma à
Aprovado em 24 de Outubro de 1997. – O Presidente da Assembleia Nacional adaptação nacional aos dos demais Membros da União Monetária Oeste Africana.
Popular, Malam Bacai Sanhá. A Assembleia Nacional Popular decreta, nos termos do artigo 85º da Constituição,
o seguinte:
Promulgado em 21 de Novembro de 1997.
Publique-se. TÍTULO I
O Presidente da República, João Bernardo Vieira. DEFINIÇÕES

ARTIGO 1º
Na acepção do presente diploma as expressões seguintes, designam:
a) UMOA: União Monetária Oeste Africana;
b) Banco Central: Banco Central dos Estados da África Ocidental;
c) Comissão Bancária: Comissão Bancária da União Monetária Oeste Africana;
d) Ministro: Ministro das Finanças;
e) Regulamento: Regulamento Interno da Instituição;
f) Estatutos: Estatutos da Instituição.

1
222 Publicada no Suplemento ao Boletim Oficial nº 48, de 2 de Dezembro de 1997. 223
Colectânea de Legislação de Direito Penal Regime Geral das Instituições Mutualistas ou Cooperativas de Poupança e de Crédito

ARTIGO 2º união, de uma federação ou de uma confederação, conforme o caso, “união”,


Para os efeitos do presente diploma, entende-se por: “federação” ou “confederação” de tais “cooperativas” ou “mutualistas”, nem as
a) Instituição mutualista ou cooperativa de poupança e de crédito ou instituição: utilizar para as suas actividades, nem criar a aparência de uma tal qualidade, sem
um agrupamento de pessoas dotado de personalidade jurídica sem fins lucrativos estar previamente reconhecido ou aprovado nas condições previstas nos artigos 13º
e com capital variável, baseado nos princípios da união, solidariedade e ajuda e 46º.
mútua e que tenha por objecto principal a recolha de poupanças e a concessão de 2. A violação do disposto no número anterior determina a aplicação das sanções
créditos junto dos seus membros; previstas no artigo 78º.
b) Instituição de base: uma instituição principalmente constituída por pessoas
singulares e obedecendo às regras de acção previstas no artigo 11º; [...]
c) União: uma instituição resultante do reagrupamento de instituições de base;
d) Federação: uma instituição resultante do reagrupamento de uniões e ARTIGO 66º
excepcionalmente, de instituições de base em virtude da presente lei; O Ministro pode proceder ou fazer proceder a todo e qualquer controlo às
e) Confederação: uma instituição resultante do reagrupamento de federações e instituições.
excepcionalmente, de uniões em virtude do presente diploma;
f) Órgão financeiro: uma estrutura criada por uma rede e dotada de personalidade ARTIGO 67º
jurídica cujo objecto é centralizar e gerir os excedentes de recursos dos membros O Banco Central e a Comissão Bancária podem, da sua própria iniciativa ou a
da rede; pedido do Ministro, proceder ao controlo “in loco” dos órgãos financeiros e de
g) Agrupamento de poupança e de crédito ou grupo: um agrupamento de todas as sociedades sob controlo destes últimos.
pessoas que, sem satisfazerem as condições exigidas para serem reconhecidas
como instituição de base, exerce actividades de poupança e de crédito sob [...]
inspiração das regras de acção previstas no artigo 11º;
h) Rede: um conjunto de instituições filiadas a uma mesma união, federação ou
TÍTULO VI
confederação.
INFRACÇÕES E SANÇÕES
TÍTULO II
ARTIGO 73º
ÂMBITO E MODALIDADES DE APLICAÇÃO
As violações das prescrições constantes do presente diploma são possíveis de
CAPÍTULO I sanções disciplinares, pecuniárias ou penais, conforme os casos.
ÂMBITO DE APLICAÇÃO
[...]
ARTIGO 3º
ARTIGO 77º
O presente diploma aplica-se às instituições mutualistas ou cooperativas de
poupança e de crédito exercendo as suas actividades no território da República da As sanções disciplinares são aplicadas sem prejuízo das sanções penais de
Guiné-Bissau, às suas uniões, federações ou confederações. direito comum.

[...] ARTIGO 78º


Quem utilizar abusivamente as denominações previstas no artigo 10º, sem ter
ARTIGO 10º obtido o reconhecimento ou a aprovação ou que dê aparência de ser uma
1. Ninguém se poderá prevalecer, na sua denominação social ou razão social instituição, será punido com multa de 500.000 a 5.000.000 de francos. E em caso
de uma das denominações seguintes ou da combinação destas: “cooperativas de de reincidência, será punido com prisão de dois a cinco anos e com multa de 10
a 15 milhões de francos, ou com uma dessas penas.
224 poupança de crédito” ou “mutualidade de poupança e crédito”, ou no caso de uma 225
Colectânea de Legislação de Direito Penal Regime Geral das Instituições Mutualistas ou Cooperativas de Poupança e de Crédito

ARTIGO 79º ARTIGO 85º


1. Será punido com prisão de um a seis meses e de uma multa de 500.000 francos São revogadas, a contar da data de entrada em vigor da presente lei, todas as
a 5.000.000 milhões de francos ou com uma dessas penas, quem agindo em seu disposições que se mostrarem incompatíveis com as normas do presente diploma,
nome ou por conta de terceiro, comunicar ao Ministro, ao Banco Central ou a mantém-se, porém, em vigor a legislação respeitante às cooperativas, salvo no que
Comissão Bancária informações ou documentos inexactos ou falsos. contrariar este diploma.
2. Incorre na mesma pena quem recusar ou obstruir o exercício da actividade
de controlo previstas nos artigos 66º e 67º. ARTIGO 86º
O presente diploma entra em vigor em 2 de Maio de 1997.
ARTIGO 80º
A competência para os procedimentos penais, previstos no presente diploma Aprovada em 24 de Outubro de 1997.
pertence ao Ministério Público, a pedido do Ministro ou de qualquer queixoso. O Presidente da Assembleia Nacional Popular, Malam Bacai Sanhá.
Tratando-se de infracções cometidas pelos órgãos financeiros, o mesmo pode ser
promovido a pedido do Banco Central ou da Comissão Bancária. Promulgada em 21 de Novembro de 1997.
Publique-se.
TÍTULO VII O Presidente da República, General João Bernardo Vieira.
DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS E FINAIS

ARTIGO 81º
As instituições e agrupamentos em actividade, devidamente aprovados antes da
entrada em vigor da presente lei, são considerados como aprovados ou reconhecidos
mediante simples declaração ao Ministro. Eles dispõem de um prazo de dois anos
a partir da data de entrada em vigor desta lei para se conformarem às suas
disposições.

ARTIGO 82º
O Governo regulamentará a matéria do presente diploma no prazo de dias2.

ARTIGO 83º
As atribuições mencionadas no artigo precedente cabem ao Banco Central e à
Comissão Bancária relativamente às matérias da sua área de competência.

ARTIGO 84º
As decisões do Ministro são susceptíveis de impugnação judicial, mediante
recurso a interpor perante a jurisdição competente.

2
226 Igual ao texto publicado no Boletim Oficial. 227
Colectânea de Legislação de Direito Penal Lei Uniforme Sobre os Instrumentos de Pagamento

Lei nº 12/97, de 2 de Dezembro*


Lei Uniforme sobre os Instrumentos de Pagamento

PREÂMBULO

Considerando que o artigo 22º do Tratado da União Monetária Oeste Africana


vincula os Estados Membros à adopção de uma legislação uniforme em matéria
de organização, distribuição e controle do crédito geral e de feitos comerciais, em
particular.
Em ordem a tal imperativo jurídico foi ao nível da UMOA instituído uma Lei
Uniforme sobre os Instrumentos de Pagamento: o cheque, o cartão de pagamento,
a letra de câmbio e a livrança, fixando-se por meio desta, o regime geral aplicável
a estes efeitos comerciais e às escrituras, procedimentos e dispositivos apropriados
à sua aplicação.
O diploma em causa largamente tributário das convenções internacionais sobre
a matéria comporta aspectos inovadores significativos, dos quais se salientam: o
estabelecimento de um mecanismo de centralização dos incidentes de pagamento,
confiado ao Banco Central com o papel de centralizar e difundir pelo sistema a
relação dos utilizadores de risco e o reforço do papel dos bancos na prevenção dos
crimes ligados à utilização destes instrumentos de pagamentos.
As suas linhas orientadoras, em estrita consonância com a realidade sociológica,
económica e cultural que lho subjaz apontam para a necessidade de conferir a estes
efeitos comerciais a sua real função social e económica por um lado, por outro
lado, criar um ambiente jurídico propiciador à sua aceitação, segurança e
credibilidade indispensáveis à sua promoção e a restauração um clima de confiança
necessária à circulação destes instrumentos de pagamento.
Tendo em conta que a adesão da República da Guiné-Bissau à União implica
a incorporação no direito interno, das normas comunitárias no sentido da
harmonização da legislação nacional com a existente no seio da União.
A Assembleia Nacional Popular decreta, nos termos do artigo 48º da Constituição,
o seguinte:

*
228 Publicada no Suplemento ao Boletim Oficial nº 48, de 2 de Dezembro de 1997. 229
Colectânea de Legislação de Direito Penal Lei Uniforme Sobre os Instrumentos de Pagamento

TÍTULO PRELIMINAR dos motivos da falta pagamento. Essa carta dá lugar, em benefício do notário ou
ÂMBITO DE APLICAÇÃO da pessoa para o efeito habilitada por lei, ao direito de correspondência fixado pela
tarifa que lhe é aplicável.
ARTIGO 1º 3. Cada um dos endossantes deve por sua vez dentro de dois dias úteis que se
1. As disposições da presente lei aplicam-se: seguirem ao da recepção do aviso, informar o seu endossante do aviso que recebeu,
a) Aos bancos segundo a definição contida no artigo 3º da Lei da Regulamentação indicando os nomes e endereços dos que enviaram os avisos precedentes e assim
Bancária: sucessivamente, até se chegar ao sacador. Os prazos acima indicados contam-se a
b) Aos Centros de Cheques Postais com ressalvadas especificações do respectivo partir da recepção do aviso precedente.
estatuto. 4. Quando em conformidade com o disposto na alínea anterior, se avisou um
c) Ao Tesouro Público ou qualquer outro organismo habilitado por lei. signatário do cheque deve igualmente avisar-se o seu avalista dentro do mesmo
2. Para efeitos do disposto na presente lei, o termo banqueiro designa os prazo de tempo.
organismos contemplados na alínea anterior, sem prejuízo das disposições 5. No caso de um endossante não ter indicado o seu endereço ou de o ter feito
específicas que lhe são aplicáveis. de maneira ilegível, basta que o aviso seja enviado ao endossante que o precede.
6. A pessoa que tenha de enviar um aviso pode fazê-lo por qualquer forma,
[...] mesmo pela simples devolução do cheque.
7. Essa pessoa deverá provar que o aviso foi enviado dentro do prazo prescrito.
ARTIGO 43º O prazo considerar-se-á como tendo sido observado desde que a carta contendo
1. Quando exista provisão, o sacado deve pagar mesmo que já tenha expirado o aviso tenha sido posta no correio dentro dele.
o prazo de apresentação. 8. A pessoa que não der o aviso dentro do prazo acima indicado, não perde os
2. O sacado deve igualmente pagar, ainda que o cheque tenha sido emitido a seus direitos. Será responsável pelo prejuízo, se o houver motivado pela sua
despeito da injunção prescrita no artigo 74º ou em violação da interdição prevista negligência, sem que a responsabilidade possa exceder o valor do cheque.
no nº 1 do artigo 85º.
3. Não é permitida a oposição ao pagamento do cheque pelo sacador, salvo nos [...]
casos de perda, furto, utilização fraudulenta do cheque ou início de um procedimento
judicial de liquidação judicial, execução de bens ou de falência contra o portador. ARTIGO 72º
4. O sacador deve, de imediato, confirmar a sua oposição, indicando por escrito 1. Os cheques que não forem os que são entregues para saque de fundos pelo
o motivo qualquer que seja o fundamento. Essa proibição de pagamento só cessa sacador junto do sacado, para certificação ou cheques bancários não podem, sob
pelo seu levantamento decretado judicialmente ou por prescrição. salvo o disposto no artigo 76º ser entregues ao titular da conta ou ao seu mandatário
5. No caso de contestação por parte do portador, em face à oposição formulada durante cinco anos a contar de um incidente de pagamento verificado em nome
pelo sacador, o tribunal, mesmo no caso da instância principal ter sido iniciada, do titular da conta ou por falta de provisão o declarado ao Banco Central.
pode ordenar o levantamento da oposição. 2. O disposto no presente artigo deve ser observado pelo banqueiro que se
recusou a pagar o cheque por falta de provisão e por qualquer banqueiro que tenha
[...] sido informado do incidente pelo Banco Central, nos termos dos artigos 93º a 95º.

ARTIGO 54º ARTIGO 73º


1. O portador deve avisar da falta de pagamento o seu endossante e o sacador, 1. O banqueiro sacado que recusar o pagamento de um cheque por falta ou
dentro dos quatro dias úteis que se seguirem ao dia de protesto ou ao dia de insuficiência de provisão deve:
apresentação se o cheque contiver a cláusula “sem despesas”. a) Entregar um atestado da recusa ao beneficiário, precisando o motivo da
2. Os notários e as pessoas para o efeito habilitadas por lei, são obrigados, sob recusa do pagamento;
pena de responderem pelos prejuízos, se os houver, a avisar o sacador num prazo b) Registar nos seus livros o incidente de pagamento, o mais tardar, no segundo
230 de quarenta e oito horas seguintes ao registo, pelo correio e por carta registada, dia útil seguinte a recusa de pagamento; 231
Colectânea de Legislação de Direito Penal Lei Uniforme Sobre os Instrumentos de Pagamento

c) Mandar uma carta de advertência ao titular da conta, a encargo deste último, 3. A penalidade liberatória devida reverte para o Tesouro Público nas condições
indicando o motivo da recusa do pagamento e as sanções incorridas por falta de e modalidades estabelecidas por despacho ministerial.
pagamento.
2. A carta de advertência só é enviada ao titular da conta, se a conta não registando ARTIGO 77º
nenhum incidente de pagamento, nos seis meses anteriores ao registo mencionado 1. A penalidade liberatória não é exigida ao titular da conta que emitiu o cheque
na alínea b). ou ao seu mandatário, se justificar dentro do prazo de 30 dias a contar da imposição
prevista no artigo 74º, ter pago o montante do cheque ou constituído uma provisão
ARTIGO 74º suficiente e disponível destinada ao seu pagamento por intermédio do sacado.
1. O banqueiro sacado deve, na ausência de regularização no prazo de um mês 2. Nesse caso, a dispensa de penalidade liberatória aproveita o conjunto dos
a contar da carta de advertência: cheques recusados por falta de cobertura na mesma conta e regularizados no prazo
a) Comunicar o Banco Central do incidente, no quarto dia útil seguinte à data acima indicado.
de vencimento do prazo; 3. A penalidade liberatória não é devida quando o sacador se encontra na im-
b) Avisar o titular da conta que está interdito durante um período de cinco anos possibilidade de proceder à regularização nos prazos exigidos. Essa impossibilidade
de emitir cheques, salvo tratando-se de cheques que permitam exclusivamente o deve ser justificada perante o Tesouro Público que apreciará a sua legitimidade.
saque de fundos junto do sacado, ou aqueles que estão certificados.
2. Em simultâneo, o banqueiro sacado deve ordenar ao titular da conta de ARTIGO 78º
restituir a qualquer banqueiro os cheques por estes fornecidos que tiver e seu poder 1. O montante da penalidade liberatória prevista no artigo 76º é elevado ao
dos seus mandatários. Estes últimos também são informados a esse respeito pelo dobro quando o titular da conta ou o seu mandatário já tiver procedido a duas
banqueiro sacado. regularizações que lhe permitiram recuperar a possibilidade de emitir cheques no
3. Quando a carta de advertência não for enviada em aplicação da alínea b) do cumprimento do artigo pré-citado, no decorrer dos doze meses que antecedem o
artigo 73º, o banqueiro sacado avisa o Banco Central o mais tardar no segundo dia incidente de pagamento.
útil seguinte ao registo do incidente. 2. O montante da penalidade liberatória é determinado em relação à fracção da
4. O banqueiro sacado é também obrigado às outras diligências contidas no soma que ficou por pagar.
artigo 74º, alíneas a) e b) relativas à notificação da interdição bancária de emitir
cheques e da injunção de restituição dos cheques ao titular da conta. ARTIGO 79º
1. As impugnações relativas à interdição de emissão de cheques e à penalidade
ARTIGO 75º
liberatória previstas nos artigos 76º e 78º são da competência da jurisdição civil.
No caso de o incidente de pagamento ser feito em contas com mais de um titular, 2. A acção em justiça perante essa jurisdição não tem efeitos suspensivos.
as disposições dos artigos 72º e 76º são aplicáveis aos outros co-titulares, no que Todavia, a jurisdição competente pode em sede de procedimento cautelar ordenar
respeita à referida conta. a suspensão da interdição de emitir cheques quando houver fundamento para tal.
ARTIGO 76º ARTIGO 80º
1. A interdição bancária de emitir cheques cessa quando a contas da injunção A interdição bancária pode igualmente ser levantada quando for decretada por
precitada, o titular da conta justificar: motivo não imputável ao sacador, nomeadamente por erros cometidos pelo
a) Ter liquidado o montante do cheque por pagar ou constituído provisão banqueiro.
suficiente e disponível destinada ao seu pagamento ao cuidado do sacado;
b) Ter pago uma penalidade liberatória nas condições e com as reservas fixadas
nos artigos 77º a 79º.
2. Nesses casos, a interdição decretada pela aplicação artigo 74º é levantada
segundo as condições estabelecidas nas instituições do Banco Central e o banqueiro
232 sacado emite, se lhe for solicitado, um atestado do pagamento ao sacador. 233
Colectânea de Legislação de Direito Penal Lei Uniforme Sobre os Instrumentos de Pagamento

SECÇÃO III 2. As multas aplicadas serão elevadas a 3.000.000 F se o sacador for comerciante.
CERTIFICADO DE NÃO-PAGAMENTO
ARTIGO 84º
ARTIGO 81º Será punido com pena de prisão de um a cinco anos e multa de 100.000 F a
1. Na falta de pagamento do cheque, no prazo de trinta dias a contar da primeira 5.000.000 ou só uma destas penas:
apresentação ou da constituição da cobertura do mesmo prazo, o sacado emite um a) Quem contrafizer ou falsificar um cheque;
certificado de não pagamento ao portador do cheque nas condições determinadas b) Quem com conhecimento de causa fizer uso ou tentar fazer de um cheque
por despacho ministerial. contrafeito ou falsificado;
2. A notificação efectiva ou o aviso do certificado de não pagamento ao sacador c) Quem com conhecimento de causa aceitar receber um cheque contrafeito ou
por diligência das pessoas para o efeito habilitadas por lei tem valor de ordem de falsificado.
pagamento.
3. A pessoa para efeito habilitada por lei que não recebeu a justificação do ARTIGO 85º
pagamento do montante do cheque e das despesas num prazo de quinze dias a 1. Em todos os casos previstos nos artigos 83º e 84º, o Tribunal deve interditar
contar da recepção da notificação ou do aviso, emite, sem qualquer outro ao condenado, por um período de um a de cinco anos, a emissão de quaisquer
procedimento, um título executivo. cheques salvo os que sejam destina dos exclusivamente ao saque de fundos pelo
4. Seja como for, todos os encargos resultantes da recusa de um cheque sem sacador junto do sacado ou para certificação. Esta interdição é acompanhada da
provisão ficam a cargo do sacado. injunção ordenada ao condenado de ter que restituir aos banqueiros que lhe
forneceram os módulos de cheques que tiver em seu poder ou em poder dos seus
[...] mandatários. O tribunal deve igualmente, a expensas do condenado ordenar a
publicação por extractos da decisão relativa à proibição nos jornais que designar
CAPÍTULO XI e de acordo com as modalidades por ele fixadas.
DISPOSIÇÕES GERAIS E PENAIS 2. Em consequência, da interdição pré-citada, o banqueiro dela informado pelo
Banco Central em conformidade com os artigos 93º e 95º deve abster-se de
SECÇÃO IV fornecer ao condenado e aos seus mandatários quaisquer cheques que não sejam
DAS SANÇÕES os mencionados na alínea anterior.
3. Quando a sentença condenatória for decretada em consequência de um
ARTIGO 83º incidente de pagamento relativo a contas com mais de um titular, a interdição
1. Será punido com a prisão, de um a três anos e uma multa de 100.000 a prevista na primeira alínea é extensiva a todos os co-titulares.
2.500.000 F CFA ou só de uma desta das penas:
a) O titular da conta ou o mandatário que, com conhecimento de causa emitir ARTIGO 86º
um cheque sem provisão ou após a emissão do cheque, levantar seja por que meio 1. Será punido com pena de prisão um a cinco anos e de multa de 100.000 F
for a totalidade ou parte da provisão; a 2.500.000 ou só uma destas penas, o sacador que emitir um ou vários cheques
b) O sacador, ou o mandatário que, com conhecimento de causa emitir um em violação à interdição decretada em aplicação do artigo 85º.
cheque sobre uma conta encerrada; 2. Incorre na mesma pena o mandatário que com conhecimento de causa emitir
c) O sacador que, em desrespeito da injunção que lhe foi enviada nos termos um ou vários cheques cuja emissão estiver interdita ao mandante, em aplicação do
do artigo 74º, emitir um ou vários cheques; artigo 85º, nº 1.
d) O mandatário que, com conhecimento de causa emitir um ou vários cheques
cuja emissão era proibida ao seu mandante, por força do artigo 74º; ARTIGO 87º
e) Quem proibir ao banqueiro sacado o pagamento de um cheque emitido e 1. Os factos punidos nos artigos 83º e 84º são considerados, para a aplicação das
entregue, salvo nos casos previstos pela lei vigente; disposições no que respeita reincidência, como constituído a mesma infracção.
234 f) Quem aceitar, com conhecimento de causa um cheque sem provisão. 235
Colectânea de Legislação de Direito Penal Lei Uniforme Sobre os Instrumentos de Pagamento

2. Em caso de reincidência, é aplicável a pena máxima prevista nos artigos 83º SECÇÃO V
e 84º. DA CENTRALIZAÇÃO

ARTIGO 88º ARTIGO 93º


1. Aquando da acção penal exercida contra o sacador, o portador que se 1. O Banco Central tem a seu cargo a centralização e a divulgação do seguinte:
constitui como assistente pode reclamar junto do Ministério Público o pagamento a) Interdições bancárias e judiciais de emissão de cheques e das infracções
da soma igual ao montante do cheque, e se for caso disso indemnização por perdas constatadas sobre essas interdições;
e danos ou em alternativa formular o seu pedido perante uma jurisdição civil. b) Levantamento de interdição de emissão de cheques;
2. Se o portador não se constituiu como assistente, e se a prova do pagamento c) Módulo de cheques falsificados e contas encerradas.
do cheque não resultar dos elementos do processo, o Ministério Público pode 2. Os banqueiros ficam obrigados a comunicar ao Banco Central, nos termos
oficiosamente ordenar o sacador a pagar ao beneficiário do cheque, além das custas que virem a ser determinados por instruções por este emitidas, a recusa de
de execução da decisão, uma soma igual ao montante do cheque, acrescida, se for pagamento de cheques por falta de provisão, as regularizações de incidentes de
caso disso, dos juros a contar do dia de apresentação, em conformidade com o pagamento, as aberturas de contas, o encerramento de contas em relação às quais
artigo 54º e os encargos resultantes do não pagamento, quando o cheque for forneceram módulos de cheques, a oposição ao pagamento por perda, furto ou
endossado apenas pára efeitos de cobrança. falsificação de cheques.
3. No caso contemplado na alínea precedente, o juiz emite a favor do bene- 3. As informações registadas não podem ser conservadas para além do período
ficiário uma ordem da decisão sob forma executória, nas mesmas condições que fixado por instruções do Banco Central.
as de uma parte civil regularmente constituída. 4. As informações fornecidas pelo banqueiro declarante são da sua única
responsabilidade.
ARTIGO 89º
ARTIGO 94º
É passível de uma multa de 100.000 F a 2.000.000 F, o sacado que em des-
respeito às disposições do artigo 43º, nº 3, recusar o pagamento de um cheque pelo O Ministério Público deve comunicar ao Banco Central:
facto de o sacador proibir o seu pagamento. a) As interdições de emissão de cheques decretadas pelo Tribunal ao abrigo do
disposto na alínea 1 do artigo 85º;
ARTIGO 90º b) A suspensão ou levantamento de interdição emissão de cheques decretadas
pelo Tribunal em conformidade com o artigo 79º.
É passível de uma multa de 100.000 a 3 000.000 F:
a) O sacado que indique uma provisão inferior à existente e disponível;
ARTIGO 95º
b) O sacado que recusar um cheque por insuficiência, falta ou indisponibilidade
1. O Banco Central divulgará junto dos estabelecimentos aprovados como
de provisão sem indicar, conforme for o caso, que o cheque foi emitido, apesar
bancos, as informações contida no seu ficheiro relativamente aos incidentes de
da injunção a que se refere o artigo 74º ou em violação da interdição pronunciada
pagamento de cheques, às interdições bancárias e às judiciais emissão cheques e
em aplicação do artigo 85º, nº 1;
os levantamentos dessas mesmas interdições.
c) O sacado que nas condições estipuladas não declarou, os incidentes de
2. O Ministério Público poderá requerer que lhe seja dado conhecimento das
pagamento, bem como, as infracções previstas pelos artigos 83º, alíneas a) a e),
informações referidas na alínea precedente.
84º e 86º;
3. Os estabelecimentos aprovados como bancos bem como os estabelecimentos
d) O sacado que infringir as disposições dos artigos 72º, 74º, 81º e 85º, nº 2;
financeiros poderão requerer ao Banco Central as informações referidas nas
e) O sacado que infringir as disposições dos artigos 2º e 4º.
alíneas precedentes antes de concederem um financiamento ou uma abertura de
crédito.
[...] 4. Qualquer pessoa, que receba um cheque em pagamento, pode obter do banco
Central as informações relativas à regularidade da sua emissão com conformidade
236 com presente lei. 237
Colectânea de Legislação de Direito Penal Lei Uniforme Sobre os Instrumentos de Pagamento

[...] b) O emissor que se abstiver de informar o Banco Central da existência de


irregularidades verificadas na utilização do cartão ou que não tenha respeitado as
ARTIGO 99º disposições do artigo 103º, alínea b).
1. Constitui um cartão de pagamento o cartão emitido pelos organismos citados
no artigo anterior, que permita ao seu titular retirar ou transferir fundos. ARTIGO 107º
2. Constitui um cartão de levantamento o cartão emitido pelos organismos Será punido com as penas previstas no artigo 84º:
citados no artigo anterior, que permita ao seu titular exclusivamente o levantamento a) Quem contrafizer ou falsificar um cartão de pagamento ou de levantamento;
de fundos. b) Quem com conhecimento de causa fizer uso ou tentar fazer uso de um cartão
de pagamento ou levantamento de fundos contrafeito ou falsificado.
SECÇÃO II c) Quem com conhecimento de causa aceitar receber um cartão de pagamento
DAS OBRIGAÇÕES DO EMISSOR, DO TITULAR E DO BENEFICIÁRIO ou de levantamento de fundos contrafeitos ou falsificado.

ARTIGO 100º ARTIGO 108º


1. Os organismos citados no artigo 99º devem, antes de emitir um cartão de 1. Será punido com as penas previstas no artigo 83º, alínea a), deliberadamente,
pagamento, certificarem-se de que o requerente não foi sujeito a nenhuma decisão utilizar um cartão de pagamento, após ter expirado o seu prazo de validade ou após
de lhe retirar o cartão ou de uma medida de interdição bancária ou judicial de ter feito oposição ao seu pagamento por motivo de perda ou furto.
emissão de cheques ou a uma condenação pela prática das infracções previstas nos 2. Será punido com as mesmas penas, quem a despeito da injunção de devolução
artigos 107º e 108º da presente lei. do cartão recebido, utilizar o cartão irregularmente detido.
2. Seja em que circunstância for, os organismos mencionados no artigo 99º não
são obrigados a emitir cartões de pagamento. ARTIGO 109º
3. Só pode ser emitido a favor de requerente, interdito bancário ou judicial de
1. As sentenças condenatórias decretadas em aplicação dos artigos 107º e 108º
emissão de cheques, um cartão de levantamento interno, enquanto a medida não
devem ser notificados pelo Ministério Público ao Banco Central.
tenha sido levantada.
2. O Banco Central deve divulgar aos estabelecimentos emissores as informações
recolhidas, de acordo com as modalidades por ele definidas.
[...]
[...]
ARTIGO 103º
No caso de utilização abusiva, num prazo de quatro dias úteis seguintes à
TÍTULO IV
verificação dessa utilização, o organismo emissor deve exigir ao titular a devolução
DISPOSIÇÕES FINAIS
do cartão e informar dessa decisão o Banco Central, que manterá um ficheiro com
as decisões relativas à retirada de cartões.
ARTIGO 204º
[...] A presente lei entrará em vigor seis meses após a sua promulgação.

CAPÍTULO II ARTIGO 205º


SANÇÕES 1. A presente lei entrará em vigor seis meses após a sua promulgação.
2. Serão aprovados pelas autoridades competentes as disposições necessárias à
ARTIGO 106º execução da presente lei.
Será punido com as penas previstas no artigo 90º:
a) O emissor que tenha entregue um cartão de pagamento contra o disposto no
238 artigo 100º, nºs 1 e 2; 239
Colectânea de Legislação de Direito Penal OHADA

ARTIGO 206º
1. Devem ser adoptadas pelas autoridades públicas competentes e estabele-
cimentos bancários e financeiros, medidas informação e de sensibilização sobe o OHADA*
disposto na presente lei, durante o período do tempo que medeia a publicação e
Acto Uniforme relativo ao Direito das Sociedades Comerciais e ao
a sua entrada em vigor.
Agrupamento de Interesse Económico
2. Estas medidas de informação e de sensibilização devem ser prosseguidas
periodicamente, após a sua entrada em vigor.
CAPÍTULO PRELIMINAR
ÂMBITO DE APLICAÇÃO DAS DISPOSIÇÕES
Aprovada em 24 de Outubro de 1997.
DO PRESENTE ACTO UNIFORME
O Presidente da Assembleia Nacional Popular, Malam Bacai Sanhá.
ARTIGO 1º
Promulgada em 21 de Novembro de 1997.
Publique-se. 1. A sociedade comercial cuja sede se situe no território de um Estado parte do
O Presidente da República, João Bernardo Vieira. Tratado relativo à Harmonização do Direito Comercial de África (daqui em diante
designados “Estados parte”) fica submetida às disposições do presente Acto
Uniforme, incluindo aquela em que o Estado ou outra pessoa colectiva de direito
público sejam sócios.

*
O Tratado Relativo à Harmonização do Direito dos Negócios em África, feito em
Port-Louis/Senegal, aos 17 de Outubro de 1993, foi aprovado em 15 de Janeiro de 1994
e publicado no Boletim Oficial da Guiné-Bissau no Suplemento ao nº 3, de 17 de Janeiro de
1994, sob a forma de Resolução nº 1/94. Tem especial relevância para a matéria em causa
a transcrição dos artigos 5º, 9º e 10º do referido Tratado, cujo texto em francês em seguida
se expõe:
“Titre II: Les Actes Uniformes
[...]
Article 5
Les actes pris pour l’adoption des régles communes prévues à l’article premier du
presente traité sont qualifiés “actes uniformes”.
Les actes uniformes peuvent inclure des dispositions d’incrimination penale.
Les États Parties s’engagent à determiner les sanctions penales encourues.
Article 9
Les actes uniformes entrent en vigueur quatre-vingt-dix jours aprés leur adoption
sauf modalités particulières d’entrée en vigueur preuves par l’acte uniforme lui-même
ils sont oppossables trente jours fanes aprés leur publication au journal officiel de
l’OHADA. Ils sont également publiés au journal officiel des États Parties ou par tout
autre moyen approprié.
Article 10
Les actes uniformes sont directement applicables et obligatoires dans les États Parties,
nonobstan toute disposition contraire de droit interne, anterieure ou posterieure.
[...].”
240 O texto do tratado e demais matéria poderá ser encontrado em www.ohada.com. 241
Colectânea de Legislação de Direito Penal OHADA

2. Todo o agrupamento de interesse económico fica igualmente sujeito às b) Quem remeter ao notário ou ao depositário uma lista dos accionistas ou dos
disposições do presente Acto Uniforme. boletins de subscrição e de pagamento mencionando subscrições fictícias ou
3. As sociedades comerciais e os agrupamentos de interesse económico pagamentos de fundos que não foram definitivamente colocados à disposição da
continuam sujeitos às leis vigentes no Estado parte onde se situe a sede social, desde sociedade;
que não sejam contrárias ao presente Acto Uniforme. c) Quem, dolosamente, por meio de simulação de subscrição ou de pagamento
ou por meio de publicação de subscrição ou de pagamento que não existam ou de
ARTIGO 2º outros factos falsos, obtiver ou tentar obter subscrições ou pagamentos;
As disposições do presente Acto Uniforme são de ordem pública, excepto d) Quem, dolosamente, para provocar subscrições ou pagamentos, publicar,
quando este autorize expressamente o sócio único ou os sócios a substitui-las por contrariamente à verdade, os nomes de pessoas designadas, como estando ou
outras em que acordem ou a completá-las. devendo estar ligadas à sociedade a qualquer título; quem, fraudulentamente,
atribuir a uma entrada em espécie um valor superior ao real.
ARTIGO 3º
1. Todas as pessoas, seja qual for a sua nacionalidade, desejem exercer, através ARTIGO 888º
de uma sociedade, actividade comercial no território de um dos Estados parte, Incorre numa sanção penal quem dolosamente negociar:
devem adoptar um dos tipos de sociedade adequado à actividade escolhida, de a) Acções nominativas que não tenham permanecido como tal até à sua inteira
entre os previstos no presente Acto Uniforme. liberação;
2. As pessoas referidas no número anterior podem também escolher associar-se, b) Acções de representativas de entradas em espécie antes de expirar o prazo
nas condições previstas pelo presente Acto Uniforme, em agrupamento de interesse durante o qual não são negociáveis;
económico. c) Acções representativas de entradas em numerário relativamente às quais não
tenha sido liberado um quarto do respectivo valor nominal.
[...]
TÍTULO II
PARTE III INFRACÇÕES RELATIVAS À GERÊNCIA, ADMINISTRAÇÃO
DISPOSIÇÕES PENAIS E DIRECÇÃO DAS SOCIEDADES

TÍTULO I ARTIGO 889º


INFRACÇÕES RELATIVAS À CONSTITUIÇÃO DAS SOCIEDADES Incorrem numa sanção penal os dirigentes sociais que, na ausência de inventário
ou através de inventário fraudulento, realizarem dolosamente a distribuição de
ARTIGO 886º lucros fictícios entre os accionistas ou os sócios.
Cometem uma infracção penal os fundadores, o presidente-director geral, o
director geral, o administrador geral ou o administrador geral adjunto de uma ARTIGO 890º
sociedade anónima que emitam acções antes da matrícula da sociedade, ou em Incorrem numa sanção penal os dirigentes sociais que, dolosamente, sem
qualquer momento, quando o registo tiver sido obtido mediante fraude ou a distribuição de quaisquer lucros, tenham publicado ou apresentado aos accionistas
sociedade tiver sido irregularmente constituída. ou aos sócios, para dissimular a verdadeira situação da sociedade, relatórios de
contas que não dêem, em cada exercício, uma imagem fiel das operações do
ARTIGO 887º exercício, da situação financeira e do património da sociedade no fim desse
Incorre numa sanção penal: período.
a) Quem, dolosamente, através da emissão da declaração notarial de subscrição
e de pagamento ou do certificado de depositário, declarar como verdadeiras as ARTIGO 891º
subscrições que sabia serem fictícias ou declarar que os fundos que não foram Incorrem numa sanção penal o gerente da sociedade de responsabilidade limi-
242 definitivamente colocados à disposição da sociedade foram efectivamente pagos; tada, os administradores, o presidente director geral, o director geral, o administrador 243
Colectânea de Legislação de Direito Penal OHADA

geral ou o administrador geral adjunto que, de má fé, fizerem dos bens ou do ARTIGO 894º
crédito da sociedade um uso que sabem ser contrário ao interesse desta, para fins Incorrem em sanções penais os dirigentes sociais que, aquando de um aumento
pessoais, materiais ou morais, ou para favorecer outra pessoa colectiva na qual têm de capital:
directa ou indirectamente interesses. a) Não tenham feito beneficiar os accionistas, proporcionalmente ao montante
das suas acções, de um direito de preferência na subscrição de acções de numerário,
TÍTULO III desde que este direito não tenha sido suprimido pela assembleia geral e os accio-
INFRACÇÕES RELATIVAS ÀS ASSEMBLEIAS GERAIS nistas não tenham a ele renunciado;
b) Não tenham reservado aos accionistas um prazo de pelo menos vinte dias,
ARTIGO 892º a contar da abertura da subscrição, excepto se esse prazo tiver terminado anteci-
Incorre numa sanção penal quem, dolosamente, impedir um accionista ou um padamente;
sócio de participar numa assembleia geral. c) Não tenham atribuído as acções que ficaram disponíveis, por falta de um
número suficiente de subscrições a título irredutível, aos accionistas que subs-
TÍTULO IV creveram a título redutível um número de acções superior àquele que podiam
INFRACÇÕES RELATIVAS ÀS ALTERAÇÕES DO CAPITAL subscrever a título irredutível, de forma proporcional aos direitos de que dispõem;
DAS SOCIEDADES ANÓNIMAS d) Não tenham reservado os direitos dos titulares de bónus de subscrição.

CAPÍTULO I ARTIGO 895º


AUMENTO DE CAPITAL Incorrem numa sanção penal os dirigentes sociais que, dolosamente, prestarem
ou confirmarem indicações inexactas nos relatórios apresentados à assembleia
ARTIGO 893º geral convocada para deliberar sobre a supressão do direito de preferência na
1. Incorrem numa sanção penal os administradores, o presidente do conselho subscrição.
de administração, o presidente director geral, o director geral, o administrador
geral ou o administrador geral adjunto de uma sociedade anónima que, aquando CAPÍTULO II
de um aumento de capital, emitirem acções ou fracções de acções: REDUÇÃO DO CAPITAL
a) Antes de o certificado do depositário ter sido emitido;
ARTIGO 896º
b) Sem que as formalidades prévias ao aumento de capital tenham sido regular-
mente cumpridas; Incorrem numa sanção penal os administradores, o presidente-director geral,
c) Sem que o capital da sociedade anteriormente subscrito tenha sido integral- o director geral, o administrador geral ou o administrador geral adjunto que,
mente liberado; dolosamente, procederem a uma redução de capital:
d) Sem que as novas acções representativas de entradas em espécie tenham sido a) Desrespeitando a igualdade entre os accionistas;
integralmente liberadas antes da alteração no Registo do Comércio e do Crédito b) Sem ter comunicado o projecto de redução do capital aos revisores oficiais
Mobiliário; de contas com a antecedência de quarenta e cinco dias relativamente à realização
e) Sem que as novas acções tenham sido liberadas em pelo menos um quarto da assembleia geral convocada para deliberar sobre a redução do capital.
do valor nominal que tinham no momento da subscrição;
TÍTULO V
f) Sem que a totalidade do prémio de emissão tenha sido pago no momento da
INFRACÇÕES RELATIVAS À FISCALIZAÇÃO DAS SOCIEDADES
subscrição, se for esse o caso.
2. São também aplicáveis sanções penais às pessoas mencionadas no presente
ARTIGO 897º
artigo que não tiverem conservado as acções de numerário sob forma nominativa
até à sua completa liberação. Incorrem numa sanção penal os dirigentes sociais que não tenham promovido
a designação dos revisores oficiais de contas da sociedade ou que não os tenham
244 convocado para as assembleias gerais. 245
Colectânea de Legislação de Direito Penal OHADA

ARTIGO 898º a) Não publicar, no prazo de um mês a contar da sua nomeação, num jornal do
Incorre numa sanção penal quem, em nome pessoal, ou na qualidade de sócio lugar da sede social e habilitado a receber anúncios legais, o acto que o nomeia para
de uma sociedade de revisores oficiais de contas, dolosamente aceitar, exercer ou o desempenho das funções de liquidação e não entregar no Registo do Comércio
mantiver funções de revisor oficial de contas em situação de incompatibilidade e do Crédito Mobiliário as decisões que determinarem a dissolução;
legal. b) Não convocar os sócios, no final da liquidação, para deliberarem sobre a
conta definitiva da liquidação, a prestação de contas da sua gestão e o termo do
ARTIGO 899º seu mandato e para verificarem o encerramento da liquidação;
Incorre numa sanção penal o revisor oficial de contas que, em nome pessoal, c) No caso previsto no artigo 219º do presente Acto Uniforme, não entregar as
ou na qualidade de sócio de uma sociedade de revisores oficiais de contas, contas definitivas na secretaria do tribunal competente para as questões comerciais
dolosamente prestar ou confirmar informações falsas sobre a situação da sociedade do lugar da sede social, nem tiver requerido judicialmente a aprovação daquelas.
ou não revelar ao Ministério Público os delitos de que teve conhecimento.
ARTIGO 903º
ARTIGO 900º Sempre que a liquidação decorrer de decisão judicial, incorre numa sanção
Incorrem numa sanção penal os dirigentes sociais ou qualquer pessoa que esteja penal o liquidatário que dolosamente:
ao serviço da sociedade que, dolosamente, tenham dificultado as verificações ou a) Decorridos seis meses após a sua nomeação, não tiver apresentado um
a fiscalização dos revisores oficiais de contas ou que tenham recusado a consulta, relatório sobre a situação do activo e do passivo da sociedade em liquidação e sobre
na sociedade, de todos os documentos úteis ao exercício das respectivas funções, o decurso das operações de liquidação, nem solicitado as autorizações necessárias
designadamente, contratos, livros, documentos contabilísticos e registos de actas. para as terminar;
b) Decorridos três meses após o encerramento de cada exercício, não tiver
TÍTULO VI elaborado as contas necessárias ao inventário e um relatório escrito sobre as
INFRACÇÕES RELATIVAS À DISSOLUÇÃO DAS SOCIEDADES operações de liquidação no decurso do exercício findo;
c) Não tiver permitido aos sócios, durante a liquidação, o exercício do seu
ARTIGO 901º
direito de informação sobre os documentos sociais, em condições idênticas às
anteriores à liquidação;
Incorrem numa sanção penal os dirigentes sociais que, quando os capitais
d) Não tiver convocado os sócios, pelo menos uma vez por ano, para prestar
próprios da sociedade se tornem inferiores a metade do capital social, em virtude
contas do exercício, em caso de continuação da exploração social;
de perdas verificadas nas contas de exercício, dolosamente:
e) Não tiver depositado numa conta aberta num banco em nome da sociedade
a) Não tenham convocado a assembleia geral, nos quatro meses subsequentes
em liquidação, no prazo de quinze dias a contar da decisão de partilha, as somas
à aprovação das contas do exercício que revelarem as referidas perdas, para
destinadas às repartições entre os sócios e os credores;
deliberar, se for caso disso, a dissolução antecipada da sociedade;
f) Não tiver depositado numa conta de consignação aberta nos serviços de
b) Não tenham depositado na secretaria do tribunal competente para as questões
Finanças, no prazo de um ano a contar do encerramento da liquidação, as somas
comerciais, nem inscrito no Registo do Comércio e do Crédito Mobiliário, nem
atribuídas a credores ou a sócios e por eles não reclamadas.
publicado num jornal habilitado a receber anúncios legais, a dissolução antecipada
da sociedade.
ARTIGO 904º
Incorre numa sanção penal o liquidatário que, de má fé:
TÍTULO VII
a) Fizer dos bens ou do crédito da sociedade em liquidação um uso que sabia
INFRACÇÕES RELATIVAS À LIQUIDAÇÃO DAS SOCIEDADES
ser contrário ao interesse desta, quer para fins pessoais, quer para favorecer outra
pessoa colectiva na qual tem directa ou indirectamente interesse;
ARTIGO 902º
b) Ceder total ou parcialmente o activo da sociedade em liquidação a uma pessoa
Incorre numa sanção penal quem, sendo liquidatário de uma sociedade, que teve na sociedade a qualidade de sócio de responsabilidade limitada de coman-
dolosamente: ditado, de gerente, de membro do conselho de administração, de administrador
246 247
Colectânea de Legislação de Direito Penal OHADA

geral ou de revisor oficial de contas, sem ter obtido o acordo unânime dos sócios
ou, na falta dele, a autorização da entidade jurisdicional competente.
OHADA*
ARTIGO 905º
Acto Uniforme para a Organização dos Processos Colectivos
1. Incorrem numa sanção penal os presidentes, os administradores ou os
de Apuramento do Passivo
directores gerais da sociedade que emitirem valores mobiliários em oferta pública:
a) Sem ter sido inserida uma notícia num jornal habilitado a receber anúncios
TÍTULO PRELIMINAR
legais previamente a qualquer medida de publicidade;
b) Sem que os prospectos e circulares reproduzam o conteúdo da notícia ARTIGO 1º
referida no § 1º do presente artigo e sem que mencionem a inserção dessa notícia
O presente Acto Uniforme tem como objecto:
no jornal habilitado a receber anúncios legais, com a referência ao número no qual
a) Organizar os processos colectivos preventivos, de recuperação judicial de
ela foi publicada;
empresas e de liquidação de bens do devedor para apuramento colectivo do seu
c) Sem que os editais e os anúncios dos jornais reproduzam o conteúdo da
passivo;
notícia, ou pelo menos um extracto da mesma e a indicação do número do jornal
c) Definir as sanções patrimoniais, profissionais e penais relativas às faltas do
habilitado a receber anúncios legais no qual aquela foi publicada;
devedor e dos dirigentes da empresa devedora.
d) Sem que os editais, prospectos e circulares mencionem a assinatura da pessoa
ou do representante da sociedade que emitiu a oferta e sem que precisem se os
valores oferecidos estão cotados ou não e, em caso afirmativo, em que bolsa.
2. A mesma sanção penal será aplicável às pessoas que tenham servido de
intermediários por ocasião da cessão de valores mobiliários sem que tenham sido *
O Tratado Relativo à Harmonização do Direito dos Negócios em África, feito em
respeitadas as determinações do presente artigo. Port-Louis/Senegal, aos 17 de Outubro de 1993, foi aprovado em 15 de Janeiro de 1994
e publicado no Boletim Oficial da Guiné-Bissau no Suplemento ao nº 3, de 17 de Janeiro de
[...] 1994, sob a forma de Resolução nº 1/94. Tem especial relevância para a matéria em causa
a transcrição dos artigos 5º, 9º e 10º do referido Tratado, cujo texto em francês em seguida
ARTIGO 920º se expõe:
“Titre II: Les Actes Uniformes
Após assim ter deliberado, o Conselho de Ministros adopta o presente regula-
[...]
mento, por unanimidade dos Estados partes votantes, segundo as disposições do Article 5
Tratado de 17 de Outubro de 1993, relativo à Organização para a Harmonização Les actes pris pour l’adoption des régles communes prévues à l’article premier du
em África do Direito Comercial. O presente Acto Uniforme será publicado no presente traité sont qualifiés “actes uniformes”.
Jornal Oficial da OHADA e dos Estados partes e entrará em vigor em 1 de Janeiro Les actes uniformes peuvent inclure des dispositions d’incrimination penale.
de 1998. Les États Parties s’engagent à determiner les sanctions penales encourues.
Article 9
Feito em Cotonou, em 17 de Abril de 1997. Les actes uniformes entrent en vigueur quatre-vingt-dix jours aprés leur adoption
sauf modalités particulières d’entrée en vigueur preuves par l’acte uniforme lui-même
ils sont oppossables trente jours fanes aprés leur publication au journal officiel de
l’OHADA. Ils sont également publiés au journal officiel des États Parties ou par tout
autre moyen approprié.
Article 10
Les actes uniformes sont directement applicables et obligatoires dans les États Parties,
nonobstan toute disposition contraire de droit interne, anterieure ou posterieure.
[...].”
248 O texto do tratado e demais matéria poderá ser encontrado em www.ohada.com. 249
Colectânea de Legislação de Direito Penal OHADA

[...] ARTIGO 229º


1. É culpada de falência fraudulenta qualquer pessoa física referida no artigo
TÍTULO V 227º que, em caso de cessação de pagamentos:
FALÊNCIA E OUTRAS INFRACÇÕES a) Subtraiu a sua contabilidade;
b) Desviou ou dissipou a totalidade ou parte do seu activo;
CAPÍTULO I c) Quer na sua contabilidade, quer em documentos autênticos ou particulares,
FALÊNCIA E INFRACÇÕES SIMILARES
quer no seu balanço, se reconheceu fraudulentamente devedora de somas que não
devia;
ARTIGO 226º
e) Exerceu a profissão comercial contrariamente a uma interdição prevista
As pessoas declaradas culpadas de falência e de delitos similares à falência são pelos Actos Uniformes ou pela lei de cada Estado Parte;
passíveis das penas previstas para essas infracções pelas disposições de Direito f) Depois da cessação de pagamentos, pagou a um credor em prejuízo da massa;
Penal em vigor em cada Estado Parte. g) Estipulou com um credor vantagens especiais em função do seu voto nas
deliberações da massa ou efectuou com um credor um acordo especial do qual
SECÇÃO I
resultaria para esse último uma vantagem a cargo do activo do devedor a partir do
FALÊNCIA SIMPLES E FALÊNCIA FRAUDULENTA
dia da decisão de abertura.
2. É igualmente culpada de falência fraudulenta qualquer pessoa física referida
ARTIGO 227º
no artigo 227º que, no decurso de um processo colectivo:
As disposições da presente secção aplicam-se:
a) De má fé, apresentou ou mandou apresentar um resultado, um balanço ou
a) Aos comerciantes, pessoas individuais;
uma relação de créditos e de dívidas ou uma relação activa e passiva dos privilégios
b) Aos sócios das sociedades comerciais que tenham a qualidade de comerciantes.
ou garantias, inexactos ou incompletos;
b) Efectuou, sem autorização do presidente da jurisdição competente, um dos
ARTIGO 228º
actos proibidos pelo artigo 11º.
É culpada de falência simples qualquer pessoa física em estado de cessação de
pagamentos que se encontre num dos seguintes casos:
SECÇÃO II
a) Se contratou sem receber valores em contrapartida ou assumiu obrigações
INFRACÇÕES SIMILARES À FALÊNCIA
consideradas demasiado elevadas tendo em conta a sua situação quando as
assumiu;
ARTIGO 230º
b) Se, com a intenção de atrasar a verificação da cessação de pagamentos, fez
compras para revenda abaixo do preço corrente ou se, com a mesma intenção, 1. As disposições da presente secção são aplicáveis:
utilizou meios ruinosos para obter capitais; a) Às pessoas singulares dirigentes das pessoas colectivas sujeitas a processos
c) Se, sem desculpa legítima, não entregou na secretaria da jurisdição compe- colectivos;
tente a declaração do seu estado de cessação de pagamentos no prazo de trinta dias; b) Às pessoas singulares representantes permanentes de pessoas colectivas
d) Se a sua contabilidade for incompleta ou irregularmente organizada ou se dirigentes, das pessoas colectivas referidas no nº 1.
não tiver qualquer contabilidade de acordo com as regras contabilísticas e os usos 2. Os dirigentes referidos no presente artigo incluem todos os dirigentes de
reconhecidos na profissão tendo em conta a importância da empresa; direito ou de facto e, de um modo geral, qualquer pessoa que tenha, directamente
e) Se, tendo sido declarada duas vezes em estado de cessação de pagamentos ou por interposta pessoa, admi-nistrado, gerido ou liquidado a pessoa colectiva
num prazo de cinco anos, esses processos foram encerrados por insuficiência de com a cumplicidade ou em substituição dos seus representantes legais.
activo.
ARTIGO 231º
São punidos com as penas aplicáveis à falência simples os dirigentes referidos
no artigo 230º que tenham, nessa qualidade e de má fé:
250 251
Colectânea de Legislação de Direito Penal OHADA

a) Gasto somas pertencentes à pessoa colectiva realizando operações de jogo ou credor um acordo especial do qual resultaria para este último uma vantagem a
fictícias; cargo do activo da pessoa colectiva, a partir do dia da decisão que declare a
b) Com a intenção de atrasar a verificação da cessação dos pagamentos da pessoa cessação de pagamentos.
colectiva, feito compras para revenda a preços abaixo dos preços correntes ou, com 2. São igualmente punidos com as penas aplicáveis à falência fraudulenta, os
a mesma intenção, tenham utilizado meios ruinosos para obter capitais; dirigentes visados no artigo 230º que, durante um processo de pagamento pre-
c) Depois da cessação de pagamentos da pessoa colectiva, tenham pago ou ventivo tenham:
mandado pagar a um credor em prejuízo da massa; a) De má fé, apresentado ou feito apresentar resultados, um balanço, uma
d) Tenham feito contratar pela pessoa colectiva, por conta de outrem, sem que relação dos créditos e das dívidas ou uma relação do activo e do passivo dos
ela receba os valores de troca, obrigações julgadas demasiado elevadas em relação privilégios ou garantias, inexactos ou incompletos;
à sua situação no momento em que as mesmas foram contraídas; b) Sem autorização do presidente da jurisdição competente, efectuado actos
e) Tenham feito, mandado fazer ou deixado fazer uma contabilidade irregular proibidos pelo artigo 11º.
ou incompleta da pessoa colectiva nas condições previstas pelo artigo 228º, nº 4;
f) Tenham omitido de fazer na secretaria da jurisdição competente, no prazo de SECÇÃO III
trinta dias, a declaração do estado de cessação de pagamentos da pessoa colectiva; PROCESSO DAS INFRACÇÕES DE FALÊNCIA E SIMILARES
g) Tenham, com a finalidade de subtrair a totalidade ou parte do respectivo
património aos processos da pessoa colectiva em estado de cessação de pagamentos ARTIGO 234º
ou aos processos dos sócios ou dos credores da pessoa colectiva, desviado ou A acção penal é instaurada quer pelo representante do Ministério Público, quer
dissimulado, tentado desviar ou dissimular uma parte dos respectivos bens ou que através de constituição de assistente, quer através de citação directa do síndico ou
se tenham fraudulentamente reconhecido como devedores de somas que não de qualquer outro credor agindo em seu próprio nome ou em nome da massa. O
deviam. síndico só pode agir em nome da massa depois de ter sido autorizado pelo Juiz
Comissário, uma vez ouvidos os controladores, caso tenham sido nomeados.
ARTIGO 232º Qualquer credor pode intervir a título individual num processo de falência se esta
Nas pessoas colectivas que tenham sócios ilimitada e solidariamente responsáveis tiver sido instaurada pelo síndico em nome da massa.
pelas dívidas sociais, os representantes legais ou de facto são culpados de falência
simples se, sem legítima desculpa, não fizerem, na secretaria da jurisdição com- ARTIGO 235º
petente e no prazo de trinta dias, a declaração do respectivo estado de cessação de O síndico deve entregar ao representante do Ministério Público os documentos,
pagamentos ou se essa declaração não incluir a lista dos sócios solidários com títulos, papéis e informações que lhe forem pedidos. Os documentos, títulos e
indicação dos respectivos nomes e endereços. papéis entregues pelo síndico ficam, durante a instância, na secretaria para
poderem ser comunicados. Esta comunicação será feita a pedido do síndico, que
ARTIGO 233º pode pedir certidões ou cópias autenticadas, que lhe são enviadas pelo escrivão.
1. São punidos com as penas aplicáveis à falência fraudulenta, os dirigentes Os documentos, títulos e papéis cujo depósito judicial não tenha sido ordenado são,
referidos no artigo 230º que tenham, fraudulentamente: depois da decisão, entregues ao síndico contra recibo.
a) Subtraído os livros da pessoa colectiva;
b) Desviado ou dissimulado uma parte do seu activo; ARTIGO 236º
c) Reconhecido a pessoa colectiva devedora de somas que ela não devia, quer Uma condenação por falência simples ou fraudulenta, ou por delito similar à
na contabilidade, quer através de documentos autênticos ou de obrigações falência simples ou fraudulenta, pode ser proferida mesmo que a cessação de
assumidas por documento particular, quer no balanço; pagamentos não tenha sido verificada nas condições previstas pelo presente Acto
d) Exercido a profissão de dirigente contrariamente a uma interdição prevista Uniforme.
pelos Actos Uniformes ou pela lei de cada Estado Parte;
e) Estipulado com um credor, em nome da pessoa colectiva, vantagens especiais
252 em função do seu voto nas deliberações da massa ou que tenham feito com um 253
Colectânea de Legislação de Direito Penal OHADA

ARTIGO 237º ARTIGO 242º


As despesas da acção instaurada pelo representante do Ministério Público não Mesmo que haja absolvição nos casos previstos pelos artigos 240º e 241º, a
podem ser postas a cargo da massa. Se houver condenação, as Finanças Públicas jurisdição que a profere pronuncia-se sobre a indemnização e sobre a reintegração
só podem exercer a sua acção contra o devedor para cobrança das despesas após no património do devedor dos bens, direitos ou acções subtraídas.
execução da concordata, em caso de recuperação judicial, ou após encerramento
da união, em caso de liquidação dos bens. ARTIGO 243º
É punido com as penas previstas pelo Direito Penal em vigor em cada Estado
ARTIGO 238º Parte para as infracções cometidas por uma pessoa que faça oferta pública em
As despesas da acção instaurada pelo síndico em nome dos credores são prejuízo de um locatário, depositário, mandatário, constituinte de um ónus,
suportadas pela massa se houver absolvição e, se houver condenação, pelas prestador de serviços ou mestre de obras, qualquer síndico de um processo
Finanças Públicas com ressalva de acção das Finanças contra o devedor nas colectivo que:
condições do artigo 237º, alínea 2. a) Exerça uma actividade pessoal encoberta pela empresa do devedor que
dissimula as suas acções;
ARTIGO 239º b) Disponha do crédito ou dos bens do devedor como se fossem seus;
As despesas da acção intentada por um credor são suportadas por si se houver c) Gaste os bens do devedor;
absolvição e, se houver condenação, pelas Finanças Públicas, com ressalva de d) Continue abusivamente e de má fé, no seu interesse pessoal, quer directa quer
acção das Finanças contra o devedor nas condições do artigo 237º, alínea 2. indirectamente, uma exploração deficitária da empresa do devedor;
e) Em violação das disposições do artigo 51º, se torne comprador, por sua conta,
CAPÍTULO II dos bens do devedor.
OUTRAS INFRACÇÕES
ARTIGO 244º
ARTIGO 240º É punido com as penas previstas pelo Direito Penal em vigor em cada Estado
São punidas com as penas aplicáveis à falência fraudulenta: Parte para as infracções cometidas em prejuízo de um incapaz o credor que:
a) As pessoas condenadas por ter, no interesse do devedor, subtraído, desviado a) Estipule com o devedor ou com outras pessoas vantagens especiais, tendo em
ou dissimulado a totalidade ou parte dos seus bens móveis ou imóveis, sem conta o respectivo voto nas deliberações da massa;
b) Faça um acordo especial do qual resultaria, a seu favor, uma vantagem a
prejuízo das disposições penais relativas à cumplicidade;
cargo do activo do devedor a partir do dia da decisão de abertura do processo
b) As pessoas condenadas por ter fraudulentamente declarado no processo
colectivo.
colectivo, quer em seu nome quer por interposta ou suposta pessoa, falsos créditos;
c) As pessoas que, exercendo o comércio sob o nome de outrem ou sobre um
ARTIGO 245º
falso nome, tenham, de má fé, desviado, dissimulado ou tentado desviar ou
dissimular uma parte dos respectivos bens. As convenções previstas no artigo anterior são ainda declaradas nulas pela
jurisdição penal, em relação a todas a pessoas, incluindo o devedor. Caso a
anulação dessas convenções seja pedida numa acção cível, a acção é intentada
ARTIGO 241º
perante a jurisdição competente para a abertura do processo colectivo. O credor
O cônjuge, os descendentes, os ascendentes, os colaterais ou os parentes por
deve entregar a quem de direito as somas ou valores que recebeu em virtude das
afinidade do devedor que, sem conhecimento do devedor, tenham desviado ou
convenções anuladas. A anulação de uma vantagem especial não implica a
encoberto objectos componentes do activo do devedor em estado de cessação de anulação da concordata, com ressalva das disposições do artigo 140º.
pagamentos incorrem nas penas prevista, pelo Direito Penal em vigor em cada
Estado Parte para as infracções cometidas em prejuízo de um incapaz. ARTIGO 246º
Sem prejuízo das disposições relativas ao registo criminal, todas as decisões
254 condenatórias previstas no presente Título são, expensas dos condenados, afixadas 255
Colectânea de Legislação de Direito Penal OHADA

e publicadas num jornal habilitado a receber anúncios legais, bem como através
de extracto sumário, no Jornal Oficial, com a indicação do número do jornal de
anúncios legais onde a primeira publicação foi feita. Acto Uniforme relativo à organização e harmonização das contabilidades
das empresas situadas nos Estados-Membros do Tratado relativo
[...] à Harmonização do Direito dos Negócios em África*

TÍTULO VII O Conselho de Ministros da Organização para a Harmonização em África do


DISPOSIÇÕES FINAIS Direito dos Negócios (OHADA);
Examinado o Tratado relativo à harmonização do direito dos negócios em
ARTIGO 257º África, nomeadamente nos artigos 2º, 5º ao 12º;
São revogadas todas as disposições anteriores contrárias às do presente Acto Examinado o relatório do Secretário permanente e as observações dos estados-
Uniforme. Este só é aplicável aos processos colectivos abertos depois da sua -membros;
entrada em vigor. Examinado o parecer, datado de 22 de Fevereiro de 2000, do Tribunal Comum
de Justiça e de Arbitragem;
ARTIGO 258º Após deliberação;
O presente Acto Uniforme será publicado no Jornal Oficial da OHADA e dos Adopta, por unanimidade dos estados-membros presentes e com direito de
Estados Partes. Ele entrará em vigor no dia 1 de Janeiro de 1999. voto, o Acto Uniforme, cujo conteúdo é o seguinte:

*
O Tratado Relativo à Harmonização do Direito dos Negócios em África, feito em
Port-Louis/Senegal, aos 17 de Outubro de 1993, foi aprovado em 15 de Janeiro de 1994
e publicado no Boletim Oficial da Guiné-Bissau no Suplemento ao nº 3, de 17 de Janeiro de
1994, sob a forma de Resolução nº 1/94. Tem especial relevância para a matéria em causa
a transcrição dos artigos 5º, 9º e 10º do referido Tratado, cujo texto em francês em seguida
se expõe:
“Titre II: Les Actes Uniformes
[...]
Article 5
Les actes pris pour l’adoption des régles communes prévues à l’article premier du
presente traité sont qualifiés “actes uniformes”.
Les actes uniformes peuvent inclure des dispositions d’incrimination penale.
Les États Parties s’engagent à determiner les sanctions penales encourues.
Article 9
Les actes uniformes entrent en vigueur quatre-vingt-dix jours aprés leur adoption
sauf modalités particulières d’entrée en vigueur preuves par l’acte uniforme lui-même
ils sont oppossables trente jours fanes aprés leur publication au journal officiel de
l’OHADA. Ils sont également publiés au journal officiel des États Parties ou par tout
autre moyen approprié.
Article 10
Les actes uniformes sont directement applicables et obligatoires dans les États Parties,
nonobstan toute disposition contraire de droit interne, anterieure ou posterieure.
[...].”
256 O texto do tratado e demais matéria poderá ser encontrado em www.ohada.com. 257
Colectânea de Legislação de Direito Penal OHADA

TÍTULO I ARTIGO 113º


CONTAS INDIVIDUAIS DAS EMPRESAS O presente Acto Uniforme, ao qual está anexado o sistema contabilístico
(PESSOAS SINGULARES E PESSOAS COLECTIVAS) OHADA será publicado no Jornal Oficial da OHADA e dos estados-membros.
Entrará em vigor:
CAPÍTULO I a) Para as “contas individuais das empresas”, a 1 de Janeiro de 2001: operações
DISPOSIÇÕES GERAIS e contas do exercício iniciado nessa data;
b) Para as “contas consolidadas” e as “contas combinadas”, a 1 de Janeiro de
ARTIGO 1º 2002: operações e contas do exercício iniciado nessa data.
Qualquer empresa abrangida pelo artigo 2º deve dispor de uma contabilidade
destinada a prestar informação externa, bem como para o seu próprio uso. Para
este efeito:
a) Classifica, identifica e regista na sua contabilidade todas as operações,
implicando movimentos de valor que são negociados com terceiros ou contraídos
ou efectuados no quadro da sua gestão interna;
b) Fornece, após tratamento adequado destas operações, a prestação de contas
a que está legalmente sujeita ou devido aos seus estatutos, assim como as
informações necessárias às necessidades dos diversos utilizadores.

[...]

TÍTULO III
DISPOSIÇÕES PENAIS

ARTIGO 111º
1. Incorrem em sanções penais os empresários individuais e os dirigentes das
empresas que:
a) Para cada exercício social, não tiverem elaborado o inventário e os resultados
financeiros anuais, bem como, se for caso disso, o relatório de gestão e o balanço
social;
b) Tiverem, conscientemente, elaborado e comunicado resultados financeiros
que não retratem uma imagem fiel do património, da situação financeira e do
resultado do exercício.
2. As infracções previstas no presente regulamento serão punidas em confor-
midade com as disposições do Direito Penal, em vigor em cada estado-membro.

TÍTULO IV
DISPOSIÇÕES FINAIS

ARTIGO 112º
A contar da data da entrada em vigor do presente Acto Uniforme e do seu Anexo
258 são revogadas todas as disposições contrárias. 259
Colectânea de Legislação de Direito Penal Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos

Resolução nº 20/85*
Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos

[...]

ARTIGO 3º
1. Todas as pessoas beneficiam de uma total igualdade perante a lei.
2. Todas as pessoas têm direito a uma igual protecção da lei.

ARTIGO 4º
A pessoa humana é inviolável. Todo o ser humano tem direito ao respeito da
sua vida e à integridade física e moral da sua pessoa. Ninguém pode ser arbitraria-
mente privado desse direito.

ARTIGO 5º
Todo o indivíduo tem direito ao respeito da dignidade inerente à pessoa humana
e ao reconhecimento da sua personalidade jurídica. Todas as formas de exploração
e de aviltamento do homem, nomeadamente a escravatura, o tráfico de pessoas,
a tortura física ou moral e as penas ou os tratamentos cruéis, desumanos ou
degradantes são interditas.

ARTIGO 6º
Todo o indivíduo tem direito à liberdade e à segurança da sua pessoa. Ninguém
pode ser privado da sua liberdade salvo por motivos e nas condições previa-
mente determinados pela lei; em particular ninguém pode ser preso ou detido
arbitrariamente.

ARTIGO 7º
1. Toda a pessoa tem direito a que a sua causa seja apreciada. Esse direito
compreende:
a) O direito de recorrer aos tribunais nacionais competentes de qualquer acto
que viole os direitos fundamentais que lhe são reconhecidos e garantidos pelas
convenções, as leis, os regulamentos e os costumes em vigor;
b) O direito de presunção de inocência, até que a sua culpabilidade seja
estabelecida por um tribunal competente;

*
260 Resolução nº 20/85, Suplemento ao B.O. nº 49, de 7 de Dezembro de 1985. 261
Colectânea de Legislação de Direito Penal Declaração Universal dos Direitos Humanos

c) O direito de defesa, incluindo o de ser assistido por um defensor de sua


escolha;
d) O direito de ser julgado num prazo razoável por um tribunal imparcial. Declaração Universal dos Direitos Humanos*
2. Ninguém pode ser condenado por uma acção ou omissão que não constituía,
no momento em que foi cometida, uma infracção legalmente punível. Nenhuma [...]
pena pode ser prescrita se não estiver prevista no momento em que a infracção foi
cometida. A pena é pessoal e apenas pode atingir o delinquente. ARTIGO 5º
Ninguém será submetido a tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desu-
[...] mano ou degradante.

ARTIGO 6º
Todo homem tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como
pessoa perante a lei.

ARTIGO 7º
Todos são iguais perante a lei e tem direito, sem qualquer distinção, a igual
protecção da lei. Todos têm direito a igual protecção contra qualquer discriminação
que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.

ARTIGO 8º
Todo o homem tem direito a receber dos tribunais nacionais competentes remédio
efectivo para os actos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhe-
cidos pela constituição ou pela lei.

ARTIGO 9º
Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.

ARTIGO 10º
Todo o homem tem direito, em plena igualdade, a uma justa e pública audiência
por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir de seus direitos
e deveres ou do fundamento de qualquer acusação criminal contra ele.

ARTIGO 11º
1. Todo o homem acusado de um acto delituoso tem o direito de ser presumido
inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em
julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias
necessárias a sua defesa.

*
262 Ver artigo 29º, nº 2 da Constituição da República da Guiné-Bissau. 263
Colectânea de Legislação de Direito Penal Pacto Internacional Sobre Direitos Civis e Políticos

2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer acção ou omissão que, no momento,
não constituíam delito perante o direito nacional ou internacional. Também não
será imposta pena mais forte do que aquela que, no momento da prática, era Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos*
aplicável ao acto delituoso.
Adoptado e aberto à assinatura, ratificação e adesão pela Resolução nº 2200-A
ARTIGO 12º (XXI) da Assembleia Geral das Nações Unidas, de 16 de Dezembro de 1966.
Ninguém será sujeito a interferências na sua vida privada, na sua família, no Entrada em vigor na ordem internacional: 23 de Março de 1976, em confor-
seu lar ou na sua correspondência, nem a ataques a sua honra e reputação. Todo midade com o artigo 49º.
o homem tem direito à protecção da lei contra tais interferências ou ataques.
Guiné-Bissau:
[...] Ratificado, para adesão, pela Resolução nº 3/89, publicada no Boletim Oficial
nº 9 de 3 de Março de 1989.

PREÂMBULO

Os Estados Partes no presente Pacto:


Considerando que, em conformidade com os princípios enunciados na Carta
das Nações Unidas, o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros
da família humana e dos seus direitos iguais e inalienáveis constitui o fundamento
da liberdade, da justiça e da paz no Mundo;
Reconhecendo que estes direitos decorrem da dignidade inerente à pessoa
humana;
Reconhecendo que, em conformidade com a Declaração Universal dos Direitos
do Homem, o ideal do ser humano livre, usufruindo das liberdades civis e políticas
e liberto do medo e da miséria, não pode ser realizado a menos que sejam criadas
condições que permitam a cada um gozar dos seus direitos civis e políticos, bem
como dos seus direitos económicos, sociais e culturais;
Considerando que a Carta das Nações Unidas impõe aos Estados a obrigação
de promover o respeito universal e efectivo dos direitos e das liberdades do
homem;
Tomando em consideração o facto de que o indivíduo tem deveres em relação
a outrem e em relação à colectividade a que pertence e tem a responsabilidade de
se esforçar a promover e respeitar os direitos reconhecidos no presente Pacto:
Acordam o que segue:

*
Em 12 de Setembro de 2000 a Guiné-Bissau assinou o 1º Protocolo adicional a
264 este Pacto. 265
Colectânea de Legislação de Direito Penal Pacto Internacional Sobre Direitos Civis e Políticos

PRIMEIRA PARTE ARTIGO 3º


Os Estados Partes no presente Pacto comprometem-se a assegurar o direito
ARTIGO 1º igual dos homens e das mulheres a usufruir de todos os direitos civis e políticos
1. Todos os povos têm o direito a dispor deles mesmos. Em virtude deste direito, enunciados no presente Pacto.
eles determinam livremente o seu estatuto político e dedicam-se livremente ao seu
desenvolvimento económico, social e cultural. ARTIGO 4º
2. Para atingir os seus fins, todos os povos podem dispor livremente das suas 1. Em tempo de uma emergência pública que ameaça a existência da nação e
riquezas e dos seus recursos naturais, sem prejuízo de quaisquer obrigações que cuja existência seja proclamada por um acto oficial, os Estados Partes no presente
decorrem da cooperação económica internacional, fundada sobre o princípio do Pacto podem tomar, na estrita medida em que a situação o exigir, medidas que
interesse mútuo e do direito internacional. Em nenhum caso pode um povo ser derroguem as obrigações previstas no presente Pacto, sob reserva de que essas
privado dos seus meios de subsistência. medidas não sejam incompatíveis com outras obrigações que lhes impõe o direito
3. Os Estados Partes no presente Pacto, incluindo aqueles que têm a responsabili- internacional e que elas não envolvam uma discriminação fundada unicamente
dade de administrar territórios não autónomos e territórios sob tutela, são chamados sobre a raça, a cor, o sexo, a língua, a religião ou a origem social.
a promover a realização do direito dos povos a disporem de si mesmos e a respeitar 2. A disposição precedente não autoriza nenhuma derrogação aos artigos 6º, 7º,
esse direito, conforme às disposições da Carta das Nações Unidas. 8º, §§ 1º e 2º, 11º, 15º, 16º e 18º.
3. Os Estados Partes no presente Pacto que usam do direito de derrogação
SEGUNDA PARTE devem, por intermédio do secretário geral da Organização das Nações Unidas,
informar imediatamente os outros Estados Partes acerca das disposições derro-
ARTIGO 2º gadas, bem como os motivos dessa derrogação. Uma nova comunicação será feita
1. Cada Estado Parte no presente Pacto compromete-se a respeitar e a garantir pela mesma via na data em que se pôs fim a essa derrogação.
a todos os indivíduos que se encontrem nos seus territórios e estejam sujeitos à sua
jurisdição os direitos reconhecidos no presente Pacto, sem qualquer distinção, ARTIGO 5º
derivada, nomeadamente, de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de 1. Nenhuma disposição do presente Pacto pode ser interpretada como implicando
opinião política, ou de qualquer outra opinião, de origem nacional ou social, de para um Estado, um grupo ou um indivíduo qualquer direito de se dedicar a uma
propriedade ou de nascimento, ou de outra situação. actividade ou de realizar um acto visando a destruição dos direitos e das liberdades
2. Cada Estado Parte no presente Pacto compromete-se a adoptar, de acordo reconhecidos no presente Pacto ou as suas limitações mais amplas que as previstas
com os seus processos constitucionais e com as disposições do presente Pacto, as no dito Pacto.
medidas que permitam a adopção de decisões de ordem legislativa ou outra capazes 2. Não pode ser admitida nenhuma restrição ou derrogação aos direitos funda-
de dar efeito aos direitos reconhecidos no presente Pacto que ainda não estiverem mentais do homem reconhecidos ou em vigor em todo o Estado Parte no presente
em vigor. Pacto em aplicação de leis, de convenções, de regulamentos ou de costumes, sob
3. Cada Estado Parte no presente Pacto compromete-se a: pretexto de que o presente Pacto não os reconhece ou reconhece-os em menor grau.
a) Garantir que todas as pessoas cujos direitos e liberdades reconhecidos no
presente Pacto forem violados disponham de recurso eficaz, mesmo no caso de a TERCEIRA PARTE
violação ter sido cometida por pessoas agindo no exercício das suas funções
oficiais; ARTIGO 6º
b) Garantir que a competente autoridade judiciária, administrativa ou legislativa, 1. O direito à vida é inerente à pessoa humana. Este direito deve ser protegido
ou qualquer outra autoridade competente, segundo a legislação do Estado, estatua pela lei: ninguém pode ser arbitrariamente privado da vida.
sobre os direitos da pessoa que forma o recurso, e desenvolver as possibilidades 2. Nos países em que a pena de morte não foi abolida, uma sentença de morte
de recurso jurisdicional; só pode ser pronunciada para os crimes mais graves, em conformidade com a
c) Garantir que as competentes autoridades façam cumprir os resultados de legislação em vigor, no momento em que o crime foi cometido e que não deve estar
266 qualquer recurso que for reconhecido como justificado. em contradição com as disposições do presente Pacto nem com a Convenção para 267
Colectânea de Legislação de Direito Penal Pacto Internacional Sobre Direitos Civis e Políticos

a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio. Esta pena não pode ser aplicada ARTIGO 9º
senão em virtude de um juízo definitivo pronunciado por um tribunal competente. 1. Todo o indivíduo tem direito à liberdade e à segurança da sua pessoa.
3. Quando a privação da vida constitui o crime de genocídio fica entendido que Ninguém pode ser objecto de prisão ou detenção arbitrária. Ninguém pode ser
nenhuma disposição do presente artigo autoriza um Estado Parte no presente Pacto privado da sua liberdade a não ser por motivo e em conformidade com processos
a derrogar de alguma maneira qualquer obrigação assumida em virtude das previstos na lei.
disposições da Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio. 2. Todo o indivíduo preso será informado, no momento da sua detenção, das
4. Qualquer indivíduo condenado à morte terá o direito de solicitar o perdão razões dessa detenção e receberá notificação imediata de todas as acusações
ou a comutação da pena. A amnistia, o perdão ou a comutação da pena de morte apresentadas contra ele.
podem ser concedidos em todos os casos. 3. Todo o indivíduo preso ou detido sob acusação de uma infracção penal será
5. Uma sentença de morte não pode ser pronunciada em casos de crimes prontamente conduzido perante um juiz ou uma outra autoridade habilitada pela
cometidos por pessoas de idade inferior a 18 anos e não pode ser executada sobre
lei a exercer funções judiciárias e deverá ser julgado num prazo razoável ou
mulheres grávidas.
libertado. A detenção prisional de pessoas aguardando julgamento não deve ser
6. Nenhuma disposição do presente artigo pode ser invocada para retardar ou
regra geral, mas a sua libertação pode ser subordinada a garantir que assegurem
impedir a abolição da pena capital por um Estado Parte no presente Pacto.
a presença do interessado no julgamento em qualquer outra fase do processo e, se
ARTIGO 7º
for caso disso, para execução da sentença.
4. Todo o indivíduo que se encontrar privado de liberdade por prisão ou
Ninguém será submetido à tortura nem a pena ou a tratamentos cruéis, inumanos
detenção terá o direito de intentar um recurso perante um tribunal, a fim de que
ou degradantes. Em particular, é interdito submeter uma pessoa a uma experiência
este estatua sem demora sobre a legalidade da sua detenção e ordene a sua
médica ou científica sem o seu livre consentimento.
libertação se a detenção for ilegal.
ARTIGO 8º 5. Todo o indivíduo vítima de prisão ou de detenção ilegal terá direito a
compensação.
1. Ninguém será submetido à escravidão; a escravidão e o tráfico de escravos,
sob todas as suas formas, são interditos.
2. Ninguém será mantido em servidão. ARTIGO 10º
3. Igual procedimento no artigo 10º, nº 2 e no artigo 42º, nº 1. 1. Todos os indivíduos privados da sua liberdade devem ser tratados com
a) Ninguém será constrangido a realizar trabalho forçado ou obrigatório; humanidade e com respeito da dignidade inerente à pessoa humana.
b) A alínea a) do presente parágrafo não pode ser interpretada no sentido de 2. [...]
proibir, em certos países onde crimes podem ser punidos de prisão acompanhada a) Pessoas sob acusação serão, salvo circunstâncias excepcionais, separadas dos
de trabalhos forçados, o cumprimento de uma pena de trabalhos forçados, condenados e submetidas a um regime distinto, apropriado à sua condição de
infligida por um tribunal competente; pessoas não condenadas;
c) Não é considerado como trabalho forçado ou obrigatório no sentido do b) Jovens sob detenção serão separados dos adultos e o seu caso será decidido
presente parágrafo: o mais rapidamente possível.
i) Todo o trabalho não referido na alínea b) normalmente exigido de um 3. O regime penitenciário comportará tratamento dos reclusos cujo fim
indivíduo que é detido em virtude de uma decisão judicial legítima ou que essencial é a sua emenda e a sua recuperação social. Delinquentes jovens serão
tendo sido objecto de uma tal decisão é libertado condicionalmente; separados dos adultos e submetidos a um regime apropriado à sua idade e ao seu
ii) Todo o serviço de carácter militar e, nos países em que a objecção por estatuto legal.
motivos de consciência é admitida, todo o serviço nacional exigido pela
lei dos objectores de consciência; ARTIGO 11º
iii) Todo o serviço exigido nos casos de força maior ou de sinistros que Ninguém pode ser aprisionado pela única razão de que não está em situação de
ameacem a vida ou o bem-estar da comunidade; executar uma obrigação contratual.
iv) Todo o trabalho ou todo o serviço formando parte das obrigações cívicas
268 normais. 269
Colectânea de Legislação de Direito Penal Pacto Internacional Sobre Direitos Civis e Políticos

ARTIGO 12º a) A ser prontamente informada, numa língua que ela com-preenda, de modo
1. Todo o indivíduo legalmente no território de um Estado tem o direito de detalhado, acerca da natureza e dos motivos da acusação apresentada contra ela;
circular livremente e de aí escolher livremente a sua residência. b) A dispor do tempo e das facilidades necessárias para a preparação da defesa
2. Todas as pessoas são livres de deixar qualquer país, incluindo o seu. e a comunicar com um advogado da sua escolha;
3. Os direitos mencionados acima não podem ser objecto de restrições, a não c) A ser julgada sem demora excessiva;
ser que estas estejam previstas na lei e sejam necessárias para proteger a segurança d) A estar presente no processo e a defender-se a si própria ou a ter a assistência
nacional, a ordem pública, a saúde ou a moralidade públicas ou os direitos e de um defensor da sua escolha; se não tiver defensor, a ser informada do seu direito
liberdades de outrem e sejam compatíveis com os outros direitos reconhecidos de ter um e, sempre que o interesse da justiça o exigir, a ser-lhe atribuído um
pelo presente Pacto. defensor oficioso, a título gratuito no caso de não ter meios para o remunerar;
4. Ninguém pode ser arbitrariamente privado do direito de entrar no seu próprio e) A interrogar ou fazer interrogar as testemunhas de acusação e a obter a
país. comparência e o interrogatório das testemunhas de defesa nas mesmas condições
das testemunhas de acusação;
ARTIGO 13º f) A fazer-se assistir gratuitamente de um intérprete, se não compreender ou não
Um estrangeiro que se encontre legalmente no território de um Estado Parte no falar a língua utilizada no tribunal;
presente Pacto não pode ser expulso, a não ser em cumprimento de uma decisão g) A não ser forçada a testemunhar contra si própria ou a confessar-se culpada.
tomada em conformidade com a lei e, a menos que razões imperiosas de segurança 4. No processo aplicável às pessoas jovens a lei penal terá em conta a sua idade
nacional a isso se oponham, deve ter a possibilidade de fazer valer as razões que e o interesse que apresenta a sua reabilitação.
militam contra a sua expulsão e de fazer examinar o seu caso pela autoridade 5. Qualquer pessoa declarada culpada de crime terá o direito de fazer examinar
competente ou por uma ou várias pessoas especialmente designadas pela dita por uma jurisdição superior a declaração de culpabilidade e a sentença em
autoridade, fazendo-se repre-sentar para esse fim. conformidade com a lei.
6. Quando uma condenação penal definitiva é ulteriormente anulada ou quando
ARTIGO 14º
é concedido o indulto, porque um facto novo ou recentemente revelado prova
concludentemente que se produziu um erro judiciário, a pessoa que cumpriu uma
1. Todos são iguais perante os tribunais de justiça. Todas as pessoas têm direito
pena em virtude dessa condenação será indemnizada, em conformidade com a lei,
a que a sua causa seja ouvida equitativa e publicamente por um tribunal
a menos que se prove que a não revelação em tempo útil do facto desconhecido
competente, independente e imparcial, estabelecido pela lei, que decidirá quer do
lhe é imputável no todo ou em parte.
bem fundado de qualquer acusação em matéria penal dirigida contra elas, quer das
7. Ninguém pode ser julgado ou punido novamente por motivo de uma in-
contestações sobre os seus direitos e obrigações de carácter civil. As audições à
fracção da qual já foi absolvido ou pela qual já foi condenado por sentença
porta fechada podem ser determinadas durante a totalidade ou uma parte do
definitiva, em conformidade com a lei e o processo penal de cada país.
processo, seja no interesse dos bons costumes, da ordem pública ou da segurança
nacional numa sociedade democrática, seja quando o interesse da vida privada das
ARTIGO 15º
partes em causa o exija, seja ainda na medida em que o tribunal o considerar
1. Ninguém será condenado por actos ou omissões que não constituam um acto
absolutamente necessário, quando, por motivo das circunstâncias particulares do
delituoso, segundo o direito nacional ou internacional, no momento em que forem
caso, a publicidade prejudicasse os interesses da justiça; todavia qualquer sentença
cometidos. Do mesmo modo não será aplicada nenhuma pena mais forte do que
pronunciada em matéria penal ou civil será publicada, salvo se o interesse de
aquela que era aplicável no momento em que a infracção foi cometida. Se
menores exigir que se proceda de outra forma ou se o processo respeita a dife-
posteriormente a esta infracção a lei prevê a aplicação de uma pena mais ligeira,
rendos matrimoniais ou à tutela de crianças.
o delinquente deve beneficiar da alteração.
2. Qualquer pessoa acusada de infracção penal é de direito presumida inocente
2. Nada no presente artigo se opõe ao julgamento ou à condenação de qualquer
até que a sua culpabilidade tenha sido legalmente estabelecida.
indivíduo por motivo de actos ou omissões que no momento em que foram
3. Qualquer pessoa acusada de uma infracção penal terá direito, em plena
cometidos eram tidos por criminosos, segundo os princípios gerais de direito
igualdade, pelo menos às seguintes garantias:
270 reconhecidos pela comunidade das nações. 271
Colectânea de Legislação de Direito Penal Pacto Internacional Sobre Direitos Civis e Políticos

ARTIGO 16º a) Ao respeito dos direitos ou da reputação de outrem;


Toda e qualquer pessoa tem direito ao reconhecimento, em qualquer lugar, da b) À salvaguarda da segurança nacional, da ordem pública, da saúde e da
sua personalidade jurídica. moralidade públicas.

ARTIGO 17º ARTIGO 20º


1. Ninguém será objecto de intervenções arbitrárias ou ilegais na sua vida 1. Toda a propaganda em favor da guerra deve ser interditada pela lei.
privada, na sua família, no seu domicílio ou na sua correspondência, nem de 2. Todo o apelo ao ódio nacional, racial e religioso que constitua uma incitação
atentados ilegais à sua honra e à sua reputação. à discriminação, à hostilidade ou à violência deve ser interditado pela lei.
2. Toda e qualquer pessoa tem direito à protecção da lei contra tais intervenções
ou tais atentados. ARTIGO 21º
O direito de reunião pacífica é reconhecido. O exercício deste direito só pode
ARTIGO 18º ser objecto de restrições impostas em conformidade com a lei e que são necessárias
1. Toda e qualquer pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de cons- numa sociedade democrática, no interesse da segurança nacional, da segurança
ciência e de religião; este direito implica a liberdade de ter ou de adoptar uma pública, da ordem pública ou para proteger a saúde e a moralidade públicas ou os
religião ou uma convicção da sua escolha, bem como a liberdade de manifestar a direitos e as liberdades de outrem.
sua religião ou a sua convicção, individualmente ou conjuntamente com outros,
tanto em público como em privado, pelo culto, cumprimento dos ritos, as práticas ARTIGO 22º
e o ensino. 1. Toda e qualquer pessoa tem o direito de se associar livremente com outras,
2. Ninguém será objecto de pressões que atentem à sua liberdade de ter ou de incluindo o direito de constituir sindicatos e de a eles aderir para a protecção dos
adoptar uma religião ou uma convicção da sua escolha. seus interesses.
3. A liberdade de manifestar a sua religião ou as suas convicções só pode ser 2. O exercício deste direito só pode ser objecto de restrições previstas na lei e
objecto de restrições previstas na lei e que sejam necessárias à protecção de que são necessárias numa sociedade democrática, no interesse da segurança
segurança, da ordem e da saúde públicas ou da moral e das liberdades e direitos nacional, da segurança pública, da ordem pública e para proteger a saúde ou a
fundamentais de outrem. moralidade públicas ou os direitos e as liberdades de outrem. O presente artigo não
4. Os Estados Partes no presente Pacto comprometem-se a respeitar a liberdade impede de submeter a restrições legais o exercício deste direito por parte de
dos pais e, em caso disso, dos tutores legais a fazerem assegurar a educação membros das forças armadas e da polícia.
religiosa e moral dos seus filhos e pupilos, em conformidade com as suas próprias 3. Nenhuma disposição do presente artigo permite aos Estados Partes na
Convenção de 1948 da Organização Internacional do Trabalho respeitante à
convicções.
liberdade sindical e à protecção do direito sindical tomar medidas legislativas que
atentem ou aplicar a lei de modo a atentar contra as garantias previstas na dita
ARTIGO 19º
Convenção.
1. Ninguém pode ser inquietado pelas suas opiniões.
2. Toda e qualquer pessoa tem direito à liberdade de expressão; este direito ARTIGO 23º
compreende a liberdade de procurar, receber e expandir informações e ideias de
1. A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito à
toda a espécie, sem consideração de fronteiras, sob forma oral ou escrita, impressa
protecção da sociedade e do Estado.
ou artística, ou por qualquer outro meio à sua escolha.
2. O direito de se casar e de fundar uma família é reconhecido ao homem e à
3. O exercício das liberdades previstas no § 2º do presente artigo comporta
mulher a partir da idade núbil.
deveres e responsabilidades especiais. Pode, em consequência, ser submetido a
3. Nenhum casamento pode ser concluído sem o livre e pleno consentimento
certas restrições, que devem, todavia, ser expressamente fixadas na lei e que são dos futuros esposos.
necessárias: 4. Os Estados Partes no presente Pacto tomarão as medidas necessárias para
272 assegurar a igualdade dos direitos e das responsabilidades dos esposos em relação 273
Colectânea de Legislação de Direito Penal Pacto Internacional Sobre Direitos Civis e Políticos

ao casamento, durante a constância do matrimónio e aquando da sua dissolução. QUARTA PARTE


Em caso de dissolução, serão tomadas disposições a fim de assegurar aos filhos a
protecção necessária. ARTIGO 28º
1. É instituído um Comité dos Direitos do Homem (a seguir denominado
ARTIGO 24º Comité no presente Pacto). Este Comité é composto de dezoito membros e tem
1. Qualquer criança, sem nenhuma discriminação de raça, cor, sexo, língua, as funções definidas a seguir.
religião, origem nacional ou social, propriedade ou nascimento, tem direito, da 2. O Comité é composto de nacionais dos Estados Partes do presente Pacto, que
parte da sua família, da sociedade e do Estado, às medidas de protecção que exija devem ser personalidades de alta moralidade e possuidoras de reconhecida
a sua condição de menor. competência no domínio dos direitos do homem. Ter-se-á em conta o interesse,
2. Toda e qualquer criança deve ser registada imediatamente após o nascimento que se verifique, da participação nos trabalhos do Comité de algumas pessoas que
e ter um nome. tenham experiência jurídica.
3. Toda e qualquer criança tem o direito de adquirir uma nacionalidade. 3. Os membros do Comité são eleitos e exercem funções a título pessoal.

ARTIGO 25º ARTIGO 29º


Todo o cidadão tem o direito e a possibilidade, sem nenhuma das discriminações 1. Os membros do Comité serão eleitos, por escrutínio secreto, de uma lista de
referidas no artigo 2º e sem restrições excessivas: indivíduos com as habilitações previstas no artigo 28º e nomeados para o fim pelos
a) De tomar parte na direcção dos negócios públicos, directa-mente ou por Estados Partes no presente Pacto.
intermédio de representantes livremente eleitos; 2. Cada Estado Parte no presente Pacto pode nomear não mais de dois indiví-
b) De votar e ser eleito, em eleições periódicas, honestas, por sufrágio universal duos, que serão seus nacionais.
e igual e por escrutínio secreto, assegurando a livre expressão da vontade dos 3. Qualquer indivíduo será elegível à renomeação.
eleitores;
c) De aceder, em condições gerais de igualdade, às funções públicas do seu país. ARTIGO 30º
1. A primeira eleição terá lugar, o mais tardar, seis meses depois da data da
ARTIGO 26º entrada em vigor do presente Pacto.
Todas as pessoas são iguais perante a lei e têm direito, sem discriminação, a 2. Quatro meses antes, pelo menos, da data de qualquer eleição para o Comité,
igual protecção da lei. A este respeito, a lei deve proibir todas as discriminações que não seja uma eleição em vista a preencher uma vaga declarada em conformidade
e garantir a todas as pessoas protecção igual e eficaz contra toda a espécie de com o artigo 34º, o secretário geral da Organização das Nações Unidas convidará
discriminação, nomeadamente por motivos de raça, de cor, de sexo, de língua, de por escrito os Estados Partes no presente Pacto a designar, num prazo de três
religião, de opinião política ou de qualquer outra opinião, de origem nacional ou meses, os candidatos que eles propõem como membros do Comité.
social, de propriedade, de nascimento ou de qualquer outra situação. 3. O secretário geral das Nações Unidas elaborará uma lista alfabética de todas
as pessoas assim apresentadas, mencionando os Estados Partes que as nomearam,
ARTIGO 27º e comunicá-la-á aos Estados Partes no presente Pacto o mais tardar um mês antes
Nos Estados em que existam minorias étnicas, religiosas ou linguísticas, as da data de cada eleição.
pessoas pertencentes a essas minorias não devem ser privadas do direito de ter, em 4. Os membros do Comité serão eleitos no decurso de uma reunião dos Estados
comum com os outros membros do seu grupo, a sua própria vida cultural, de Partes no presente Pacto, convocada pelo secretário geral das Nações Unidas na
professar e de praticar a sua própria religião ou de empregar a sua própria língua. sede da Organização. Nesta reunião, em que o quórum é constituído por dois terços
dos Estados Partes no presente Pacto, serão eleitos membros do Comité os
candidatos que obtiverem o maior número de votos e a maioria absoluta dos votos
dos representantes dos Estados Partes presentes e votantes.

274 275
Colectânea de Legislação de Direito Penal Pacto Internacional Sobre Direitos Civis e Políticos

ARTIGO 31º ARTIGO 35º


1. O Comité não pode incluir mais de um nacional de um mesmo Estado. Os membros do Comité recebem, com a aprovação da Assembleia Geral das
2. Nas eleições para o Comité ter-se-á em conta a repartição geográfica Nações Unidas, emolumentos provenientes dos recursos financeiros das Nações
equitativa e a representação de diferentes tipos de civilização, bem como dos Unidas em termos e condições fixados pela Assembleia Geral, tendo em vista a
principais sistemas jurídicos. importância das funções do Comité.

ARTIGO 32º ARTIGO 36º


1. Os membros do Comité são eleitos por quatro anos. São reelegíveis no caso O secretário geral das Nações Unidas porá à disposição do Comité o pessoal e
de serem novamente propostos. Todavia, o mandato de nove membros eleitos os meios materiais necessários para o desempenho eficaz das funções que lhe são
aquando da primeira votação terminará ao fim de dois anos; imediatamente depois confiadas em virtude do presente Pacto.
da primeira eleição, os nomes destes nove membros serão tirados à sorte pelo
presidente da reunião referida no § 4º do artigo 30º. ARTIGO 37º
2. À data da expiração do mandato, as eleições terão lugar em conformidade 1. O secretário geral das Nações Unidas convocará a primeira reunião do
com as disposições dos artigos precedentes da presente parte do Pacto. Comité, na sede da Organização.
2. Depois da sua primeira reunião o Comité reunir-se-á em todas as ocasiões
ARTIGO 33º previstas no seu regulamento interno.
1. Se, na opinião unânime dos outros membros, um membro do Comité cessar 3. As reuniões do Comité terão normalmente lugar na sede da Organização das
de cumprir as suas funções por qualquer causa que não seja por motivo de uma Nações Unidas ou no Departamento das Nações Unidas em Genebra.
ausência temporária, o presidente do Comité informará o secretário geral das
Nações Unidas, o qual declarará vago o lugar que ocupava o dito membro. ARTIGO 38º
2. Em caso de morte ou de demissão de um membro do Comité, o presidente Todos os membros do Comité devem, antes de entrar em funções, tomar, em
informará imediatamente o secretário geral das Nações Unidas, que declarará o sessão pública, o compromisso solene de cumprir as suas funções com impar-
lugar vago a contar da data da morte ou daquela em que a demissão produzir efeito. cialidade e com consciência.

ARTIGO 34º ARTIGO 39º


1. Quando uma vaga for declarada em conformidade com o artigo 33º e se o 1. O Comité elegerá o seu secretariado por um período de dois anos. Os
mandato do membro a substituir não expirar nos seis meses que seguem à data na membros do secretariado são reelegíveis.
qual a vaga foi declarada, o secretário geral das Nações Unidas avisará os Estados 2. O Comité elaborará o seu próprio regulamento interno; este deve, todavia,
Partes no presente Pacto de que podem designar candidatos num prazo de dois conter, entre outras, as seguintes disposições:
meses, em conformidade com as disposições do artigo 29º, com vista a prover a a) O quórum é de doze membros;
vaga. b) As decisões do Comité são tomadas por maioria dos membros presentes.
2. O secretário geral das Nações Unidas elaborará uma lista alfa-bética das
pessoas assim apresentadas e comunicá-la-á aos Estados Partes no presente Pacto. ARTIGO 40º
A eleição destinada a preencher a vaga terá então lugar, em conformidade com as 1. Os Estados Partes no presente Pacto comprometem-se a apresentar relatórios
relevantes disposições desta parte do presente Pacto. sobre as medidas que houverem tomado e dêem efeito aos direitos nele consignados
3. Um membro do Comité eleito para um lugar declarado vago, em conformidade e sobre os progressos realizados no gozo destes direitos:
com o artigo 33º, faz parte do Comité até à data normal de expiração do mandato a) Dentro de um ano a contar da data de entrada em vigor do presente Pacto,
do membro cujo lugar ficou vago no Comité, em conformidade com as disposições cada Estado Parte interessado;
do referido artigo. b) E ulteriormente, cada vez que o Comité o solicitar.
276 277
Colectânea de Legislação de Direito Penal Pacto Internacional Sobre Direitos Civis e Políticos

2. Todos os relatórios serão dirigidos ao secretário geral das Nações Unidas, que reconhecidos. Esta regra não se aplica nos casos em que os processos de recurso
os transmitirá ao Comité para apreciação. Os relatórios deverão indicar quaisquer excedem prazos razoáveis;
factores e dificuldades que afectem a execução das disposições do presente Pacto. d) O Comité realizará as suas audiências à porta fechada quando examinar as
3. O secretário geral das Nações Unidas pode, após consulta ao Comité, enviar comunicações previstas no presente artigo;
às agências especializadas interessadas cópia das partes do relatório que possam ter e) Sob reserva das disposições da alínea c), o Comité põe os seus bons ofícios
relação com o seu domínio de competência. à disposição dos Estados Partes interessados, a fim de chegar a uma solução
4. O Comité estudará os relatórios apresentados pelos Estados Partes no presente amigável da questão, fundamentando-se no respeito dos direitos do homem e nas
Pacto, e dirigirá aos Estados Partes os seus próprios relatórios, bem como todas liberdades fundamentais, tais como os reconhece o presente Pacto;
as observações gerais que julgar apropriadas. O Comité pode igualmente transmitir f) Em todos os assuntos que lhe são submetidos o Comité pode pedir aos Estados
ao Conselho Económico e Social essas suas observações acompanhadas de cópias Partes interessados visados na alínea b) que lhe forneçam todas as informações
dos relatórios que recebeu de Estados Partes no presente Pacto. pertinentes;
5. Os Estados Partes no presente Pacto podem apresentar ao Comité os co- g) Os Estados Partes interessados visados na alínea b) têm o direito de se fazer
mentários sobre todas as observações feitas em virtude do § 4º do presente artigo. representar, aquando do exame da questão pelo Comité, e de apresentar observações
oralmente e ou por escrito;
ARTIGO 41º h) O Comité deverá apresentar um relatório num prazo de doze meses a contar
1. Qualquer Estado Parte no presente Pacto pode, em virtude do presente artigo, do dia em que recebeu a notificação referida na alínea b):
declarar, a todo o momento, que reconhece a competência do Comité para receber i) Se uma solução pôde ser encontrada em conformidade com as disposições
e apreciar comunicações nas quais um Estado Parte pretende que um outro Estado da alínea e), o Comité limitar-se-á no seu relatório a uma breve exposição
Parte não cumpre as suas obrigações resultantes do presente Pacto. As comunicações dos factos e da solução encontrada;
apresentadas em virtude do presente artigo não podem ser recebidas e examinadas, ii) Se uma solução não pôde ser encontrada em conformidade com as dis-
a menos que emanem de um Estado Parte que fez uma declaração reconhecendo, posições da alínea e), o Comité limitar-se-á, no seu relatório, a uma breve
no que lhe diz respeito, a competência do Comité. O Comité não receberá nenhuma exposição dos factos; o texto das observações escritas e o processo verbal das
comunicação que interesse a um Estado Parte que não fez uma tal declaração. O observações orais apresentadas pelos Estados Partes interessados são anexados
processo abaixo indicado aplica-se em relação às comunicações recebidas em ao relatório. Em todos os casos o relatório será comunicado aos Estados
conformidade com o presente artigo: Partes interessados.
a) Se um Estado Parte no presente Pacto julgar que um outro Estado igualmente 2. As disposições do presente artigo entrarão em vigor quando dez Estados
Parte neste Pacto não aplica as respectivas disposições, pode chamar, por Partes no presente Pacto fizerem a declaração prevista no § 1º do presente artigo.
comunicação escrita, a atenção desse Estado sobre a questão. Num prazo de três A dita declaração será deposta pelo Estado Parte junto do secretário geral das
meses a contar da recepção da comunicação o Estado destinatário apresentará ao Nações Unidas, que transmitirá cópia dela aos outros Estados Partes. Uma decla-
Estado que lhe dirigiu a comunicação explicações ou quaisquer outras declarações ração pode ser retirada a todo o momento por meio de uma notificação dirigida
escritas elucidando a questão, que deverão incluir, na medida do possível e do útil, ao secretário geral. O retirar de uma comunicação não prejudica o exame de todas
indicações sobre as regras de processo e sobre os meios de recurso, quer os já as questões que são objecto de uma comunicação já transmitida em virtude do
utilizados, quer os que estão em instância, quer os que permanecem abertos; presente artigo; nenhuma outra comunicação de um Estado Parte será aceite após
b) Se, num prazo de seis meses a contar da data de recepção da comunicação o secretário geral ter recebido notificação de ter sido retirada a declaração, a menos
original pelo Estado destinatário, a questão não foi regulada satisfatoriamente para que o Estado Parte interessado faça uma nova declaração.
os dois Estados interessados, tanto um como o outro terão o direito de a submeter
ao Comité, por meio de uma notificação feita ao Comité bem como ao outro ARTIGO 42º
Estado interessado; 1. [...]
c) O Comité só tomará conhecimento de um assunto que lhe é submetido depois a) Se uma questão submetida ao Comité em conformidade com o artigo 41º não
de se ter assegurado de que todos os recursos internos disponíveis foram utilizados foi regulada satisfatoriamente para os Estados Partes, o Comité pode, com o
278 e esgotados, em conformidade com os princípios de direito internacional geralmente assentimento prévio dos Estados Partes interessados, designar uma comissão de 279
Colectânea de Legislação de Direito Penal Pacto Internacional Sobre Direitos Civis e Políticos

conciliação ad hoc (a seguir denominada Comissão). A Comissão põe os seus bons d) Se o relatório da Comissão for submetido em conformidade com a alínea c),
ofícios à disposição dos Estados Partes interessados a fim de chegar a uma solução os Estados Partes interessados farão saber ao presidente do Comité, num prazo de
amigável da questão, baseada sobre o respeito do presente Pacto; três meses após a recepção do relatório, se aceitam ou não os termos do relatório
b) A Comissão será composta de cinco membros nomeados com o acordo dos da Comissão.
Estados Partes interessados. Se os Estados Partes interessados não conseguirem 8. As disposições do presente artigo devem ser entendidas sem prejuízo das
chegar a um entendimento sobre toda ou parte da composição da Comissão no atribuições do Comité previstas no artigo 41º.
prazo de três meses, os membros da Comissão relativamente aos quais não 9. Todas as despesas dos membros da Comissão serão repartidas igualmente
chegaram a acordo serão eleitos por escrutínio secreto de entre os membros do entre os Estados Partes interessados, na base de estimativas fornecidas pelo
Comité, por maioria de dois terços dos membros do Comité. secretário geral das Nações Unidas.
2. Os membros da Comissão exercerão as suas funções a título pessoal. Não 10. O secretário geral das Nações Unidas está habilitado, se necessário, a prover
devem ser naturais nem dos Estados Partes interessados nem de um Estado que não às despesas dos membros da Comissão antes de o seu reembolso ter sido efectuado
é parte no presente Pacto, nem de um Estado Parte que não fez a declaração pelos Estados Partes interessados, em conformidade com o § 9º do presente artigo.
prevista no artigo 41º.
3. A Comissão elegerá o seu presidente e adoptará o seu regulamento interno. ARTIGO 43º
4. A Comissão realizará normalmente as suas sessões na sede da Organização Os membros do Comité e os membros das comissões de conciliação ad hoc que
das Nações Unidas ou no Departamento das Nações Unidas em Genebra. Todavia, forem designados em conformidade com o artigo 42º têm direito às facilidades,
pode reunir-se em qualquer outro lugar apropriado, o qual pode ser determinado privilégios e imunidades reconhecidos aos peritos em missões da Organização das
pela Comissão em consulta com o secretário geral das Nações Unidas e os Estados Nações Unidas, conforme enunciados nas pertinentes secções da Convenção sobre
Partes interessados. os Privilégios e Imunidades das Nações Unidas.
5. O secretariado previsto no artigo 36º presta igualmente os seus serviços às
comissões designadas em virtude do presente artigo. ARTIGO 44º
6. As informações obtidas e esquadrinhadas pelo Comité serão postas à As disposições relativas à execução do presente Pacto aplicam-se, sem prejuízo
disposição da Comissão e a Comissão poderá pedir aos Estados Partes interessados dos processos instituídos em matéria de direitos do homem, nos termos ou em
que lhe forneçam quaisquer informações complementares pertinentes. virtude dos instrumentos constitutivos e das convenções da Organização das
7. Depois de ter estudado a questão sob todos os seus aspectos, mas em todo o Nações Unidas e das agências especializadas e não impedem os Estados Partes de
caso num prazo mínimo de doze meses após tê-la admitido, a Comissão submeterá recorrer a outros processos para a solução de um diferendo, em conformidade com
um relatório ao presidente do Comité para transmissão aos Estados Partes os acordos internacionais gerais ou especiais que os ligam.
interessados:
a) Se a Comissão não puder acabar o exame da questão dentro de doze meses, ARTIGO 45º
o seu relatório incluirá somente um breve apontamento indicando a que ponto O Comité apresentará cada ano à Assembleia Geral das Nações Unidas, por
chegou o exame da questão; intermédio do Conselho Económico e Social, um relatório sobre os seus trabalhos.
b) Se chegar a um entendimento amigável fundado sobre o respeito dos direitos
do homem reconhecido no presente Pacto, a Comissão limitar-se-á a indicar QUINTA PARTE
brevemente no seu relatório os factos e o entendimento a que se chegou;
c) Se não se chegou a um entendimento no sentido da alínea b), a Comissão fará ARTIGO 46º
figurar no seu relatório as suas conclusões sobre todas as matérias de facto relativas
Nenhuma disposição do presente Pacto pode ser interpretada em sentido
à questão debatida entre os Estados Partes interessados, bem como a sua opinião
limitativo das disposições da Carta das Nações Unidas e das constituições das
sobre as possibilidades de uma solução amigável do caso. O relatório incluirá
agências especializadas que definem as respectivas responsabilidades dos diversos
igualmente as observações escritas e um processo verbal das observações orais
órgãos da Organização das Nações Unidas e das agências especializadas no que
apresentadas pelos Estados Partes interessados;
respeita às questões tratadas no presente Pacto.
280 281
Colectânea de Legislação de Direito Penal Pacto Internacional Sobre Direitos Civis e Políticos

ARTIGO 47º vocação de uma conferência de Estados Partes para examinar estes projectos e
Nenhuma disposição do presente Pacto será interpretada em sentido limitativo submetê-los a votação. Se pelo menos um terço dos Estados se declararem a favor
do direito inerente a todos os povos de gozar e usar plenamente das suas riquezas desta convenção, o secretário geral convocará a conferência sob os auspícios da
e recursos naturais. Organização das Nações Unidas. Qualquer emenda adoptada pela maioria dos
Estados presentes e votantes na conferência será submetida, para aprovação, à
SEXTA PARTE Assembleia Geral das Nações Unidas.
2. As emendas entrarão em vigor quando forem aprovadas pela Assembleia
ARTIGO 48º Geral das Nações Unidas e aceites, em conformidade com as suas respectivas leis
1. O presente Pacto está aberto à assinatura de todos os Estados membros da constitucionais, por uma maioria de dois terços dos Estados Partes no presente
Organização das Nações Unidas ou membros de qualquer das suas agências Pacto.
especializadas, de todos os Estados Partes no Estatuto do Tribunal Internacional 3. Quando as emendas entrarem em vigor, elas são obrigatórias para os Estados
de Justiça, bem como de qualquer outro Estado convidado pela Assembleia Geral Partes que as aceitaram, ficando os outros Estados Partes ligados pelas disposições
das Nações Unidas a tornar-se parte no presente Pacto. do presente Pacto e por todas as emendas anteriores que aceitaram.
2. O presente Pacto está sujeito a ratificação e os instrumentos de ratificação
serão depositados junto do secretário geral das Nações Unidas. ARTIGO 52º
3. O presente Pacto será aberto à adesão de todos os Estados referidos no § 1º 1. Independentemente das notificações previstas no § 5º do artigo 48º, o
do presente artigo. secretário geral das Nações Unidas informará todos os Estados referidos no § 1º
4. A adesão far-se-á pelo depósito de um instrumento de adesão junto do do citado artigo:
secretário geral das Nações Unidas. a) Acerca de assinaturas apostas no presente Pacto, acerca de instrumentos de
5. O secretário geral das Nações Unidas informará todos os Estados que ratificação e de adesão depostos em conformidade com o artigo 48º;
assinaram o presente Pacto ou que a ele aderiram acerca do depósito de cada b) Da data em que o presente Pacto entrará em vigor, em conformidade com
instrumento de ratificação ou de adesão. o artigo 49º, e da data em que entrarão em vigor as emendas previstas no artigo
51º.
ARTIGO 49º 2. O presente Pacto, cujos textos em inglês, chinês, espanhol, francês e russo
1. O presente Pacto entrará em vigor três meses após a data do depósito junto fazem igualmente fé, será deposto nos arquivos da Organização das Nações
do secretário geral das Nações Unidas do trigésimo quinto instrumento de rati- Unidas.
ficação ou de adesão. 3. O secretário geral das Nações Unidas transmitirá uma cópia certificada do
2. Para cada um dos Estados que ratificarem o presente Pacto ou a ele aderirem, presente Pacto a todos os Estados visados no artigo 48º.
após o depósito do trigésimo quinto instrumento de ratificação ou adesão, o dito
Pacto entrará em vigor três meses depois da data do depósito por parte desse Estado
do seu instrumento de ratificação ou adesão.

ARTIGO 50º
As disposições do presente Pacto aplicam-se sem limitação ou excepção alguma
a todas as unidades constitutivas dos Estados federais.

ARTIGO 51º
1. Qualquer Estado Parte no presente Pacto pode propor uma emenda e
depositar o respectivo texto junto do secretário geral da Organização das Nações
Unidas. O secretário geral transmitirá então quaisquer projectos de emenda aos
282 Estados Partes no presente Pacto, pedindo-lhes para indicar se desejam a con- 283
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal de 1886

Código Penal de 1886*

LIVRO PRIMEIRO
DISPOSIÇÕES GERAIS

TÍTULO I
DOS CRIMES EM GERAL E DOS CRIMINOSOS

CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

ARTIGO 1º
Crime ou delito é o facto voluntário declarado punível pela lei penal.

ARTIGO 2º
A punição da negligência, nos casos especiais determinados na lei, funda-se na
omissão voluntária de um dever.

ARTIGO 3º
Considera-se contravenção o facto voluntário punível, que unicamente consiste
na violação, ou na falta de observância das disposições preventivas das leis e
regulamentos, independentemente de toda a intenção maléfica.

ARTIGO 4º
Nas contravenções é sempre punida a negligência.

[...]

ARTIGO 25º
Nas contravenções não e punível a cumplicidade nem o encobrimento.

[...]

*
Decreto de 16 de Setembro de 1886, publicado no Diário do Governo nº 213, de
284 20 de Setembro de 1886. 285
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal de 1886

ARTIGO 28º ARTIGO 248º


A responsabilidade criminal recai única e individualmente nos agentes de Aquele que expuser à venda, vender ou subministrar substâncias venenosas ou
crimes ou de contravenções. abortivas, sem legítima autorização e sem as formalidades exigidas pelas respectivas
leis ou regulamentos, será condenado à pena de prisão correccional não inferior
[...] a três meses e multa correspondente.

ARTIGO 33º [...]


A responsabilidade criminal por contravenção não pode ser agravada nem
atenuada, salvo o disposto no artigo 36º. ARTIGO 253º
Aquele que fabricar, ou importar, ou vender, ou subministrar, ou guardar
[...] qualquer mecanismo, tendente a determinar explosão que possa servir à destruição
de pessoas ou edifícios, será condenado na pena de prisão maior celular por quatro
ARTIGO 36º anos seguida de degredo por oito, ou, em alternativa, na pena de quinze anos de
Nas contravenções dá-se a reincidência quando o agente, condenado por uma degredo, sem prejuízo da gravação que lhe possa competir por cumplicidade em
contravenção, comete contravenção idêntica antes de decorrerem seis meses, qualquer crime dessa natureza.
contados desde a dita punição. § 1º – Aquele que sem licença da autoridade administrativa, fabricar ou
importar, ou vender, ou subministrar quaisquer armas brancas ou de fogo, e bem
[...] assim aquele que delas usar sem a mesma licença, ou sem autorização legal, será
condenado a prisão correccional até seis meses e multa correspondente.
ARTIGO 185º § 2º – Na mesma pena serão condenados os indivíduos compreendidos no
Aquele que levantar volta ou arruído perante algum magistrado judicial ou paragrafo antecedente, a quem tiver sido caçada a respectiva licença, e que, não
administrativo, ou professor público no exercício das suas funções, ou em sessão obstante, dela continuem usando como se estivesse em vigor.
de alguma das câmaras legislativas, corporação administrativa, ou júri de exame, § 3º – A simples detenção na casa de residência ou do detentor, ou em outro
será condenado a prisão correccional até seis meses. lugar, será punida com multa de oito dias a um mês.
[...] [...]
§ 3º – Aquele que nalgum lugar público se apresentar em manifesto estado de
embriaguez, será condenado, como contraventor, a multa até oito dias. [...]
[...]
SECÇÃO II
[...] CAÇAS E PESCARIAS DEFESAS

ARTIGO 246º ARTIGO 254º


O enterramento de qualquer indivíduo em contravenção das leis e regulamentos, Aquele que caçar, nos meses em que pelas posturas municipais ou pelos
quanto ao tempo, lugar e mais formalidades prescritas sobre inumações, será regulamentos da administração pública for proibido o exercício da caça, ou que,
punido com prisão correccional. nos meses que não forem defesos, caçar pelo modo proibido pelas mesmas posturas
§ único. – A mesma pena, agravada com multa, será imposta ao facultativo que, ou regulamentos, será punido com prisão de três a trinta dias de multa
sem intenção criminosa, passar certidão de óbito de indivíduo que depois se correspondente.
reconheça que estava vivo. § único. – Será punido com as mesmas penas, mas só a requerimento do
possuidor, aquele que entrar para caçar em terras, muradas ou valadas, sem
[...] consentimento do mesmo possuidor.
286 287
Colectânea de Legislação de Direito Penal Constituição da República da Guiné-Bissau

ARTIGO 255º
Será punido com as mesmas penas:
a) O que pescar nos meses defesos pelas posturas municipais ou regulamentos Constituição da República da Guiné-Bissau*
de administração;
b) O que pescar com rede varredora, ou de malha mais estreita que a que for [...]
limitada pela câmara municipal, ou pescar por qualquer outro modo proibido pelas
mesmas posturas ou regulamentos; ARTIGO 8º
c) O que lançar nos rios ou lagoas, em qualquer tempo do ano, trovisco, 1. O Estado subordina-se à Constituição e baseia-se na legalidade democrática.
barbesco, coca, cal ou outro algum material com que se o peixe mata. 2. A validade das leis e dos demais actos do Estado e do poder local depende
da sua conformidade com a Constituição.
[...]
ARTIGO 9º
ARTIGO 326º 1. A República da Guiné-Bissau exerce a sua soberania, sobre todo o território
Em todos os casos não designados neste capítulo, nos quais as leis ou regimentos nacional, que compreende:
de cada um dos empregados públicos decretarem penas correccionais ou especiais, a) A superfície emersa compreendida nos limites das fronteiras nacionais;
pela violação ou falta, de observância de suas disposições, aplicar-se-ão essas b) O mar interior e o mar territorial definidos na lei, assim como os respectivos
penas com as seguintes declarações: leitos e subsolos;
a) Havendo somente negligência, não se imporá pela contravenção a pena de c) O espaço aéreo suprajacente aos espaços geográficos referidos nas alíneas
demissão, e será esta pena substituída pela de suspensão; anteriores;
b) Verificando-se em qualquer caso e em qualquer tempo segunda reincidência, 2. Sobre todos os recursos naturais, vivos e não vivos que se encontrem no seu
o empregado que duas vezes tiver sido condenado será demitido; território.
c) As disposições antecedentes aplicam-se aos factos da competência da
jurisdição disciplinar. [...]

[...] ARTIGO 18º


1. A República da Guiné-Bissau estabelece e desenvolve relações com os outros
países na base do Direito Internacional, dos princípios da independência nacional,
da igualdade entre os Estados, da não ingerência nos assuntos internos e da
reciprocidade de vantagens, da coexistência pacífica e do não-alinhamento.
2. A República da Guiné-Bissau defende o direito dos povos à autodeter-
minação e à independência, apoia a luta dos povos contra o colonialismo, o

*
Constituição aprovada a 16 de Maio de 1984 (alterada pela Lei Constitucional
nº 1/91, de 9 de Maio , Suplemento ao B.O. nº 18, de 9 de Maio de 1991, pela Lei
Constitucional nº 2/91, de 4 de Dezembro de 1991, Suplemento ao B.O. nº 48, de 4
de Dezembro de 1991 e 3º Suplemento ao B.O. nº 48, de 6 de Dezembro de 1991, pela
Lei Constitucional nº 1/93, 2º Suplemento ao B.O. nº 8, de 21 de Fevereiro de 1993,
pela Lei Constitucional nº 1/95, de 1 de Dezembro, Suplemento ao B.O. nº 49, de 4
de Dezembro de 1995 e pela Lei Constitucional nº 1/96, B.O. nº 50, de 16 de Dezembro
288 de 1996). 289
Colectânea de Legislação de Direito Penal Constituição da República da Guiné-Bissau

imperialismo, o racismo e todas as demais formas de opressão e exploração; políticos, ao exercício das funções públicas e aos demais direitos e deveres
preconiza a solução pacífica dos conflitos internacionais e participa nos esforços expressamente reservados por lei ao cidadão nacional.
tendentes a assegurar a paz e a justiça nas relações entre os Estados e o estabele- 2. O exercício de funções públicas só poderá ser permitido aos estrangeiros
cimento da nova ordem económica internacional. desde que tenham carácter predominantemente técnico, salvo acordo ou convenção
3. Sem prejuízo das conquistas alcançadas através da luta de libertação nacional, internacional.
a República da Guiné-Bissau participa nos esforços que realizam os Estados
africanos, na base regional ou continental, em ordem à concretização do princípio ARTIGO 29º
da unidade africana. 1. Os direitos fundamentais consagrados na Constituição não excluem quais-
quer outros constantes das demais leis da República e das regras aplicáveis de
[...] Direito Internacional.
2. Os preceitos constitucionais e legais relativos aos direitos fundamentais
ARTIGO 21º devem ser interpretados de harmonia com a Declaração Universal dos Direitos do
1. As forças de segurança têm por funções defender a legalidade democrática Homem.
e garantir a segurança interna, e os direitos dos cidadãos e são apartidárias, não
podendo os seus elementos, no activo, exercer qualquer actividade política. ARTIGO 30º
2. As medidas de polícia são só as previstas na lei, não devendo ser utilizadas 1. Os preceitos constitucionais respeitantes aos direitos, liberdades e garantias
para além do estritamente necessário. são directamente aplicáveis e vinculam as entidades públicas e privadas.
3. A prevenção dos crimes, incluindo a dos crimes contra a segurança de Estado, 2. O exercício dos direitos, liberdades e garantias fundamentais só poderá ser
só se pode fazer com observância das regras previstas na lei e com respeito pelos suspenso ou limitado em caso de estado de sítio ou de estado de emergência,
direitos, liberdades e garantias dos cidadãos. declarados nos termos da Constituição e da lei.
3. As leis restritivas de direitos, liberdades e garantias têm de revestir carácter
[...]
geral e abstracto, devem limitar-se ao necessário para salvaguardar outros direitos
ou interesses constitucionalmente protegidos e não podem ter efeitos retroactivos,
ARTIGO 24º
nem diminuir o conteúdo essencial dos direitos.
Todos os cidadãos são iguais perante a lei, gozam dos mesmos direitos e estão
sujeitos aos mesmos deveres, sem distinção de raça, sexo, nível social, intelectual [...]
ou cultural, crença religiosa ou convicção filosófica.
ARTIGO 32º
[...]
Todo o cidadão tem do direito de recorrer aos órgãos jurisdicionais contra os
actos que violem os seus direitos reconhecidos pela Constituição e pela lei, não
ARTIGO 27º
podendo a justiça ser denegada por insuficiência de meios económicos.
1. Todo o cidadão nacional que resida ou se encontre no estrangeiro goza dos
mesmos direitos e está sujeito aos mesmos deveres que os demais cidadãos, salvo
ARTIGO 33º
no que seja incompatível com a sua ausência do País.
2. Os cidadãos residentes no estrangeiro gozam do cuidado e da protecção do O Estado e as demais entidades públicas são civilmente responsáveis, em forma
Estado. solidária com os titulares dos seus órgãos, funcionários ou agentes, por acções ou
omissões praticadas no exercício das suas funções e por causa desse exercício, de
ARTIGO 28º que resulte violação dos direitos, liberdades e garantias, ou prejuízo para outrem.
1. Os estrangeiros, na base da reciprocidade, e os apátridas, que residam ou se
ARTIGO 34º
encontrem na Guiné-Bissau, gozam dos mesmos direitos e estão sujeitos aos
Todos têm direito à informação e à protecção jurídica, nos termos da lei.
290 mesmos deveres que o cidadão guineense, excepto no que se refere aos direitos 291
Colectânea de Legislação de Direito Penal Constituição da República da Guiné-Bissau

ARTIGO 35º ARTIGO 40º


Nenhum dos direitos e liberdades garantidos aos cidadãos pode ser exercido 1. A prisão sem culpa formada será submetida, no prazo máximo de quarenta
contra a independência da Nação, a integridade do território, a unidade nacional, e oito horas, a decisão judicial de validação ou manutenção, devendo o juiz
as instituições da República e os princípios e objectivos consagrados na presente conhecer das causas da detenção e comunicá-las ao detido, interrogá-lo e dar-lhe
Constituição. oportunidade de defesa.
2. A prisão preventiva não se mantém sempre que possa ser substituída por
ARTIGO 36º caução ou por medidas de liberdade provisória previstas na lei.
1. Na República da Guiné-Bissau em caso algum haverá pena de morte. 3. A prisão preventiva, antes e depois da formação da culpa, está sujeita aos
2. Haverá pena de prisão perpétua para os crimes a definir por lei. prazos estabelecidos na lei.

ARTIGO 37º ARTIGO 41º


1. A integridade moral e física dos cidadãos é inviolável. l. Ninguém pode ser sentenciado criminalmente senão em virtude de lei anterior
2. Ninguém pode ser submetido a tortura, nem a tratos ou penas cruéis, desu- que declare punível a acção ou a omissão, nem sofrer medidas de segurança cujos
manos e degradantes. pressupostos não estejam fixados em lei anterior.
3. Em caso algum haverá trabalhos forçados, nem medidas de segurança 2. Não podem ser aplicadas penas ou medidas de segurança que não estejam
privativas de liberdade de duração ilimitada ou indefinida. expressamente cominadas em lei anterior.
4. A responsabilidade criminal é pessoal e intransmissível. 3. Ninguém pode sofrer penas ou medidas de segurança mais graves do que
as previstas no momento da correspondente conduta ou de verificação dos
ARTIGO 38º respectivos pressupostos.
1. Todo o cidadão goza da inviolabilidade da sua pessoa. 4. Ninguém pode ser julgado mais do que uma vez pela prática do mesmo crime.
2. Ninguém pode ser total ou parcialmente privado de liberdade, a não ser em 5. Nenhuma pena envolve, como efeito necessário, a perda de quaisquer
consequência de sentença judicial condenatória pela prática de acto punido pela direitos civis, profissionais ou políticos.
lei com pena de prisão ou de aplicação judicial de medida de segurança. 6. Os cidadãos injustamente condenados têm direito, nas condições prescritas
3. Exceptua-se deste princípio a privação de liberdade, pelo tempo e nas na lei, a revisão da sentença e a indemnização pelos danos sofridos.
condições que a lei determinar.
4. A lei não pode ter efeito retroactivo, salvo quando possa beneficiar o arguido. ARTIGO 42º
1. O processo criminal assegurará todas as garantias de defesa.
ARTIGO 39º 2. Todo o arguido se presume inocente até ao trânsito em julgado da sentença
1. Toda a pessoa privada de liberdade deve ser informada imediatamente das de condenação, devendo ser julgado no mais curto prazo compatível com as
razões da sua detenção, e esta comunicada a parente ou pessoa de confiança do garantias de defesa.
detido, por este indicadas. 3. O arguido tem direito a escolher defensor e a ser por ele assistido em todos
2. A privação da liberdade contra o disposto na Constituição e na lei constitui os actos do processo, especificando a lei os casos e as fases em que essa assistência
o Estado no dever de indemnizar o lesado, nos termos que a lei estabelecer. é obrigatória.
3. A prisão ou detenção ilegal resultante de abuso de poder confere ao cidadão 4. Toda a instrução é da competência de um juiz, o qual pode, nos termos da
o direito de recorrer à providência do Habeas corpus. lei, delegar noutras entidades a prática dos actos de instrução que não se prendam
4. A providência do Habeas corpus é interposta no Supremo Tribunal de Justiça, directamente com os direitos fundamentais.
nos termos da lei. 5. O processo criminal tem estrutura acusatória, estando a audiência de julga-
5. Em caso de dificuldade de recurso ao Supremo Tribunal de Justiça a pro- mento e os actos de instrução que a lei determina subordinados ao princípio
vidência poderá ser requerida no tribunal regional mais próximo. contraditório.

292 293
Colectânea de Legislação de Direito Penal Constituição da República da Guiné-Bissau

6. São nulas todas as provas obtidas mediante torturas, coacção, ofensa da h) Empossar o Primeiro-Ministro;
integridade física ou moral da pessoa, abusiva intromissão na vida privada, no i) Nomear e exonerar os restantes membros do Governo, sob proposta do
domicílio, na correspondência ou nas telecomunicações. Primeiro-Ministro e dar-lhes posse;
j) Criar e extinguir Ministérios e Secretarias de Estado, sob proposta do
ARTIGO 43º Primeiro-Ministro;
1. Em caso algum é admissível a extradição ou a expulsão do país do cidadão l) Presidir ao Conselho de Estado;
nacional. m) Presidir ao Conselho de Ministros, quando entender;
2. Não é admitida a extradição de cidadãos estrangeiros por motivos políticos. n) Empossar os juízes do Supremo Tribunal de Justiça;
3. A extradição e a expulsão só podem ser decididas por autoridade judicial. o) Nomear e exonerar, sob proposta do Governo, o Chefe do Estado-Maior
General das Forças Armadas;
[...] p) Nomear e exonerar, ouvido o Governo, o Procurador Geral da República;
q) Nomear e exonerar os embaixadores, ouvido o Governo;
ARTIGO 59º r) Acreditar os embaixadores estrangeiros;
1. São órgãos de soberania o Presidente da República, a Assembleia Nacional s) Promulgar as leis, os decretos-leis e os decretos;
Popular, o Governo e os Tribunais. t) Indultar e comutar penas;
2. A organização do poder político baseia-se na separação e interdependência u) Declarar a guerra e fazer a paz, nos termos do artigo 85º, nº l, alínea 7), da
dos órgãos de soberania e na subordinação de todos eles à Constituição. Constituição;
v) Declarar o estado de sítio e de emergência, nos termos do artigo 85º, nº l,
[...] alínea l, da Constituição;
x) Conceder títulos honoríficos e condecorações do Estado;
ARTIGO 61º z) Exercer as demais funções que lhe forem atribuídas pela Constituição e pela
Os titulares de cargos políticos respondem política, civil e criminalmente pelos lei.
actos e omissões que pratiquem no exercício das suas funções.
[...]
[...]
ARTIGO 72º
ARTIGO 68º 1. Pelos crimes cometidos no exercício das suas funções o Presidente da
São atribuições do Presidente da República: República responde perante o Supremo Tribunal de Justiça.
a) Representar o Estado Guineense; 2. Compete à Assembleia Nacional Popular requerer ao Procurador Geral da
b) Defender a Constituição da República; República a promoção da acção penal contra o Presidente da República, sob
c) Dirigir mensagens à Nação e à Assembleia Nacional Popular; proposta de um terço e aprovação de dois terços dos deputados em efectividade
d) Convocar extraordinariamente a Assembleia Nacional Popular sempre que de funções.
razões imperiosas de interesse público o justifiquem; 3. A condenação do Presidente da República implica a destituição do cargo e
e) Ratificar os tratados internacionais; a impossibilidade da sua reeleição.
f) Fixar a data das eleições do Presidente da República, dos Deputados à 4. Pelos crimes cometidos fora do exercício das suas funções, o Presidente da
Assembleia Nacional Popular e dos titulares dos órgãos de poder local, nos termos República responde perante os tribunais comuns, findo o seu mandato.
da lei;
g) Nomear e exonerar o Primeiro-Ministro, tendo em conta os resultados [...]
eleitorais e ouvidas as forças políticas representadas na Assembleia Nacional
Popular;
294 295
Colectânea de Legislação de Direito Penal Constituição da República da Guiné-Bissau

ARTIGO 82º 4. A iniciativa da moção de censura cabe a, pelo menos, um terço de Deputados
1. Nenhum Deputado pode ser incomodado, perseguido, detido, preso julgado em efectividade de funções.
ou condenado pelos votos e opiniões que emitir no exercício do seu mandato. 5. A não aprovação de uma moção de confiança ou aprovação de uma moção
2. Salvo em caso de flagrante delito a que corresponda pena igual ou superior de censura por maioria absoluta implica a demissão do Governo.
a dois anos de trabalho obrigatório, ou de prévio assentimento da Assembleia
Nacional Popular, os Deputados não podem ser detidos ou presos por questão ARTIGO 86º
criminal ou disciplinar, em juízo ou fora dele. E da exclusiva competência da Assembleia Nacional Popular legislar sobre as
seguintes matérias:
[...] a) Nacionalidade guineense;
b) Estatuto da terra e a forma da sua utilização;
ARTIGO 85º c) Organização da defesa nacional;
l. Compete à Assembleia Nacional Popular: d) Revogada;
a) Proceder à revisão constitucional, nos termos dos artigos 127º e seguintes; e) Revogada;
b) Decidir da realização de referendos populares; f) Organização judiciária e estatuto dos Magistrados;
c) Fazer leis e votar moções e resoluções; g) Definição dos crimes, penas e medidas de segurança e processo criminal;
d) Aprovar o programa do Governo; h) Estado de sítio e estado de emergência;
e) Requerer ao Procurador Geral da República o exercício da acção penal contra i) Definição dos limites das águas territoriais e da zona económica exclusiva;
o Presidente da República, nos termos do artigo 72º da Constituição; j) Direitos, liberdades e garantias;
f) Votar moções de confiança e de censura ao Governo; k) Associações e partidos políticos;
g) Aprovar o Orçamento Geral de Estado e o Plano Nacional de Desenvolvi- l) Sistema eleitoral.
mento, bem como as respectivas leis;
h) Aprovar os tratados que envolvam a participação da Guiné-Bissau em orga- [...]
nizações internacionais, os tratados de amizade, de paz, de defesa, de rectificação
de fronteiras e ainda quaisquer outros que o Governo entenda submeter-lhe; ARTIGO 119º
i) Pronunciar-se sobre a declaração de estado de sítio e de emergência; Os Tribunais são órgãos de soberania com competência para administrar a
j) Autorizar o Presidente da República a declarar a guerra e a fazer paz; justiça em nome do Povo.
k) Conferir ao Governo a autorização legislativa;
l) Ratificar os decretos-leis aprovados pelo Governo no uso da competência ARTIGO 120º
legislativa delegada; 1. O Supremo Tribunal de Justiça é a instância judicial suprema da República.
m) Apreciar as contas do Estado relativas a cada ano económico; Os seus juízes são nomeados pelo Conselho Superior de Magistratura.
n) Conceder amnistia; 2. Os Juízes do Supremo Tribunal de Justiça são empossados pelo Presidente
o) Zelar pelo cumprimento da Constituição e das leis e apreciar os actos de da República.
Governo e da Administração; 3. Compete ao Supremo Tribunal de Justiça e demais Tribunais instituídos pela
p) Elaborar e aprovar o seu regimento; lei exercer a função jurisdicional.
q) Exercer as demais atribuições que lhe sejam conferidas pela Constituição e 4. No exercício da sua função jurisdicional, os Tribunais são independentes e
pela lei. apenas estão sujeitos à lei.
2. Quando o programa do governo não tenha sido aprovado pela Assembleia 5. O Conselho Superior de Magistratura Judicial é o órgão superior de gestão
Nacional Popular, terá lugar, no prazo de 15 dias, um novo debate. e disciplina da magistratura judicial.
3. A questão de confiança perante a Assembleia Nacional é desencadeada pelo 6. Na sua composição, o Conselho Superior de Magistratura contará, pelo
Primeiro-Ministro, precedendo à deliberação do Conselho de Ministros. menos, com representantes do Supremo Tribunal de Justiça, dos demais Tribunais
296 e da Assembleia Nacional Popular, nos termos que vierem a ser fixados por lei. 297
Colectânea de Legislação de Direito Penal Constituição da República da Guiné-Bissau

ARTIGO 121º 2. A questão da inconstitucionalidade pode ser levantada oficiosamente pelo


1. É proibida a existência de Tribunais exclusivamente destinados ao julga- tribunal, pelo Ministério Público ou por qualquer das partes.
mento de certas categorias de crimes. 3. Admitida a questão da inconstitucionalidade, o incidente sobe em separado
2. Exceptuam-se do disposto no número anterior: ao Supremo Tribunal de Justiça, que decidirá em plenário.
a) Os Tribunais Militares, aos quais compete o julgamento dos crimes essencial- 4. As decisões tomadas em matéria de inconstitucionalidade pelo plenário do
mente militares definidos por lei; Supremo Tribunal de Justiça terão força obrigatória geral e serão publicadas no
b) Os Tribunais Administrativos, Fiscais e de Contas. Boletim Oficial.

ARTIGO 122º [...]


Por lei poderão ser criados tribunais populares para conhecimento de litígios
de carácter social, quer cíveis, quer penais.

ARTIGO 123º
1. O juiz exerce a sua função com total fidelidade aos princípios fundamentais
e aos objectivos da presente Constituição.
2. No exercício das suas funções, o juiz é independente e só deve obediência
à lei e à sua consciência.
3. O juiz não é responsável pelos seus julgamentos e decisões. Só nos casos
especialmente previstos na lei pode ser sujeito, em razão do exercício das suas
funções, a responsabilidade civil, criminal ou disciplinar.
4. A nomeação, demissão, colocação, promoção e transferência de juízes dos
tribunais judiciais e o exercício da acção disciplinar compete ao Conselho Superior
de Magistratura, nos termos da lei.

ARTIGO 124º
A lei regula a organização, competência e funcionamento dos órgãos de
administração da justiça.

ARTIGO 125º
1. O Ministério Público é o órgão do Estado encarregado de, junto dos tribunais,
fiscalizar a legalidade, representar o interesse público e social e é o titular da acção
penal.
2. O Ministério Público organiza-se como uma estrutura hierarquizada sob a
direcção do Procurador Geral da República.
3. O Procurador Geral da República é nomeado pelo Presidente da República,
ouvido o Governo.

ARTIGO 126º
1. Nos feitos submetidos a julgamentos não podem os tribunais aplicar normas
298
que infrinjam o disposto na Constituição ou os princípios nela consagrados. 299
Colectânea de Legislação de Direito Penal

ÍNDICE LEGISLATIVO
(ÍNDICE DE DIPLOMAS POR ORDEM CRONOLÓGICA)

1886
Código Penal de 1886 – (algumas normas relativas às contravenções, mantidas
em vigor pelo artigo 3º do Decreto-Lei nº 4/93 de 13 de Outubro de 1993)
– Decreto de 16 de Setembro de 1886, publicado no Diário do Governo nº
213, de 20 de Setembro de 1886 ................................................................ 285

1977
Infracções antieconómicas e contra a saúde pública – Decreto nº 20/77,
Boletim Oficial nº 20, de 14 de Maio de 1977 ........................................... 135

1979
Crimes contra a Economia Nacional – Lei nº 1/79, Suplemento ao Boletim
Oficial nº 22, de 8 de Junho de 1979 .......................................................... 129

1984
Constituição da República da Guiné-Bissau (extracto) – Constituição
aprovada a 16 de Maio de 1984 (alterada pela Lei Constitucional nº 1/91,
de 9 de Maio, Suplemento ao Boletim Oficial nº 18, de 9 de Maio de 1991,
pela Lei Constitucional nº 2/91, de 4 de Dezembro de 1991, Suplemento
ao Boletim Oficial nº 48, de 4 de Dezembro de 1991 e 3º Suplemento ao
Boletim Oficial nº 48, de 6 de Dezembro de 1991, pela Lei Constitucional
nº 1/93, de 21 de Fevereiro, 2º Suplemento ao Boletim Oficial nº 8, de 21
de Fevereiro de 1993, pela Lei Constitucional nº 1/95, de 1 de Dezembro,
Suplemento ao Boletim Oficial nº 49, de 4 de Dezembro de 1995 e pela
Lei Constitucional nº 1/96, Boletim Oficial nº 50, de 16 de Dezembro de
1996) .......................................................................................................... 289

1985
Carta Africana sobre Direitos do Homem e dos Povos (extracto) – Resolução
nº 20/85, Suplemento ao Boletim Oficial nº 49, de 7 de Dezembro de 1985 ... 261

1989
Lei do Inquilinato – Disposições penais – 2º Suplemento ao Boletim Oficial
300 nº 23, de 9 de Junho de 1989 ...................................................................... 127 301
Colectânea de Legislação de Direito Penal

Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos – Ratificada, para adesão, Regime Geral das Instituições Mutualistas ou Cooperativas de Poupança
pela Resolução nº 3/89, publicada no Boletim Oficial nº 9, de 3 de Março de Crédito – Disposições Penais – Lei nº 11/97, Suplemento ao Boletim
de 1989 ....................................................................................................... 265 Oficial nº 48, de 2 de Dezembro de 1997 ................................................... 223
Cargos Políticos – Definição do regime jurídico dos crimes da responsabilidade
1991
de titulares de cargos políticos – Lei nº 14/97, Suplemento ao Boletim Oficial
Indicação das sanções relativas à devastação das florestas por meio de nº 48, de 2 de Dezembro de 1997 ............................................................... 85
queimadas e incêndios – Lei Florestal – Decreto-Lei nº 4-A/91, Boletim
Oficial nº 43, de 29 de Outubro de 1991 .................................................... 121 1998
Lei do Recenseamento Eleitoral (extracto) – publicada no Suplemento ao
1993
Boletim Oficial nº 17, de 28 de Abril de 1998 ........................................... 149
Código Penal – Decreto-Lei nº 4/93, Suplemento ao Boletim Oficial nº 41,
de 13 de Outubro de 1993, com as alterações introduzidas pela Lei nº Lei Eleitoral para o Presidente da República e Assembleia Nacional Popular
2/2002, publicada no Boletim Oficial nº 21, de 27 de Maio de 2002 e pelo (extracto) – Lei nº 3/98 de 23 de Abril, publicada no Suplemento ao Boletim
artigo 13º da Lei nº 7/97 de 2 de Dezembro, publicada no Suplemento ao Oficial nº 17, de 28 de Abril de 1998 ......................................................... 153
Boletim Oficial nº 48, de 2 de Dezembro de 1997 ..................................... 17 Acto Uniforme relativo ao Direito Das Sociedades Comerciais e ao Agrupa-
Legislação relativa a estupefacientes – Decreto-Lei nº 2-B,de 28 de Outubro mento de Interesse Económico – (extracto: Disposições Penais) ................ 241
de 1993, 1º Suplemento ao Boletim Oficial nº 43, de 1993 ....................... 99
1999
1996 Acto Uniforme para a Organização dos Processos Colectivos de Apuramento
Lei relativa ao processo eleitoral, respeitante ao poder autárquico (extracto) do Passivo – (extracto: Disposições Penais) ............................................... 249
– Lei nº 6/96, publicada no Boletim Oficial nº 38, de 16 de Setembro de
1996 ........................................................................................................... 159 2001
Acto Uniforme relativo à organização e harmonização das contabilidades das
1997 empresas situadas nos Estados-Membros do Tratado relativo à Harmonização
Alteração da unidade monetária legal do Peso Guineense (PG) para o Franco do Direito dos Negócios em África – (extracto: Disposições Penais) ......... 257
da Comunidade Financeira Africana (FCFA) – Lei nº 1/97, Suplemento
ao Boletim Oficial nº 12, de 24 de Março de 1997..................................... 169 2002
Código dos Contratos Públicos (extracto) – Decreto-Lei nº 4/2002, publicado
Repressão da contrafacção e falsificação da moeda – Lei nº 7/97, de 2 de
no Boletim Oficial nº 48, de 3 de Dezembro de 2002 ................................ 161
Dezembro, Suplemento ao Boletim Oficial nº 48, de 2 de Dezembro de
1997 ........................................................................................................... 171
2004
Usura – UEMOA – Lei nº 13/97, Suplemento ao Boletim Oficial nº 48, de Lei Uniforme relativa à Luta Contra o Branqueamento de Capital – Resolução
2 de Dezembro de 1997 .............................................................................. 177 nº 4/PL/2004, Suplemento ao Boletim Oficial nº 44, de 2 de Novembro de
Lei Uniforme sobre os Instrumentos de Pagamento – Disposições Penais – 2004 ........................................................................................................... 183
Lei nº 12/97, Suplemento ao Boletim Oficial nº 48, de 2 de Dezembro de Tabela Salarial – Decreto nº 4-A/2004, Suplemento ao Boletim Oficial nº
1997 ........................................................................................................... 183 23, de 8 de Junho de 2004 .......................................................................... 165
Regulamentação Bancária – Disposições penais – Lei nº 10/97, Suplemento
ao Boletim Oficial nº 48, de 2 de Dezembro de 1997 ................................ 215
302 303

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