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GUINÉ-BISSAU
Colectânea
de Legislação Fundamental de
Direito Penal
Organizada por:
João Pedro C. Alves de Campos
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer processo electrónico,
mecânico ou fotográfico, incluindo fotocópia, xerocópia ou gravação, sem autorização
prévia do editor.
Exceptuam-se as transcrições de curtas passagens para efeitos de apresentação, crítica
ou discussão das ideias e opiniões contidas no livro. Esta excepção não pode, no entanto,
ser interpretada como permitindo a transcrição de textos em recolhas antológicas ou
similares, da qual possa resultar prejuízo para o interesse pela obra. LISBOA
2 Os infractores são passíveis de procedimento judicial, nos termos da lei. 2007 3
Colectânea de Legislação de Direito Penal
ÍNDICE
Prefácio ...................................................................................................... 9
Nota prévia do organizador ........................................................................ 13
Código Penal (Decreto-Lei nº 4/93 – Suplemento ao Boletim Oficial nº 41,
de 13 de Outubro de 1993, com as alterações introduzidas pela Lei nº
2/2002, publicada no Boletim Oficial nº 21, de 27 de Maio de 2002 e pelo
artigo 13º da Lei nº 7/97, de 2 de Dezembro, publicada no suplemento ao
Boletim Oficial nº 48, de 2 de Dezembro de 1997) .................................... 17
Cargos Políticos – Definição do regime jurídico dos crimes da responsabilidade
de titulares de cargos políticos (Lei nº 14/97 – Suplemento ao Boletim
Oficial nº 48, de 2 de Dezembro de 1997 ................................................... 85
Legislação relativa a estupefacientes (Decreto-Lei nº 2-B, de 28 de Outubro
de 1993 – 1º Suplemento ao Boletim Oficial nº 43, de 1993) .................... 99
Indicação das sanções relativas à devastação das florestas por meio de
queimadas e incêndios – Lei Florestal (Decreto-Lei nº 4-A/91 – Boletim
Oficial nº 43, de 29 de Outubro de 1991) .................................................. 121
Lei do Inquilinato – Disposições Penais (Decreto nº 13-A/89, de 9 de Junho
de 1989 – 2º Suplemento ao Boletim Oficial nº 23º, de 9 de Junho de
1989) .......................................................................................................... 127
Ficha Técnica Crimes contra a Economia Nacional (Lei nº 1/79 – Suplemento ao Boletim
Título: Oficial nº 22, de 8 de Junho de 1979) ........................................................ 129
Colectânea de Legislação Fundamental de Direito Penal Infracções antieconómicas e contra a saúde pública (Decreto nº 20/77 –
Organização: Boletim Oficial nº 20, de 14 de Maio de 1977) .......................................... 135
João Pedro C. Alves de Campos Lei do Recenseamento Eleitoral – extracto (Lei nº 2/98, de 23 de Abril –
Edição: Suplemento ao Boletim Oficial nº 17, de 28 de Abril de 1998) ................. 149
AAFDL Lei Eleitoral para o Presidente da República e Assembleia Nacional Popular
Alameda da Universidade – 1649-014 LISBOA
– extracto (Lei nº 3/98, de 23 de Abril – Suplemento ao Boletim Oficial nº
Fotocomposição: 17, de 28 de Abril de 1998) ....................................................................... 153
AAFDL Lei relativa ao processo eleitoral, respeitante ao poder autárquico – extracto
Impressão: (Lei nº 6/96 – Suplemento ao Boletim Oficial nº 38, de 16 de Setembro de
AAFDL 1996) .......................................................................................................... 159
Tiragem: Código dos Contratos Públicos – extracto (Decreto-Lei nº 4/2002 – Boletim
4 750 exs. Oficial nº 48, de 3 de Dezembro de 2002) ................................................. 161 5
Colectânea de Legislação de Direito Penal
Tabela Salarial (Decreto nº 4-A/2004 – Suplemento ao Boletim Oficial nº Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (Ratificada, para adesão
23, de 8 de Junho de 2004) ........................................................................ 165 pela Resolução nº 3/89 – publicada no Boletim Oficial nº 9, de 3 de Março
de 1989) ..................................................................................................... 265
Alteração da unidade monetária legal do Peso Guineense (PG) para o Franco
da Comunidade Financeira Africana – FCFA (Lei nº 1/97 – Suplemento Código Penal de 1886 – algumas normas relativas às contravenções, mantidas
ao Boletim Oficial nº 12, de 24 de Março de 1997) ................................... 169 em vigor pelo artigo 3º do Decreto-Lei nº 4/93, de 13 de Outubro de 1993
(Decreto de 16 de Setembro de 1886 – publicado no Diário do Governo nº
Repressão da contrafacção e falsificação da moeda (Lei nº 7/97, de 2 de 213, de 20 de Setembro de 1886 ................................................................ 285
Dezembro – Suplemento ao Boletim Oficial nº 48, de 2 de Dezembro de
1997) .......................................................................................................... 171 Constituição da República da Guiné-Bissau (extracto) – Constituição
aprovada a 16 de Maio de 1984 (alterada pela Lei Constitucional nº 1/91, de
Usura – UEMOA (Lei nº 13/97 – Suplemento ao Boletim Oficial nº 48, de 9 de Maio – Suplemento ao Boletim Oficial nº 18, de 9 de Maio de 1991,
2 de Dezembro de 1997) ............................................................................ 177 pela Lei Constitucional nº 2/91, de 4 de Dezembro de 1991 – Suplemento ao
Lei Uniforme relativa à Luta Contra o Branqueamento de Capitais (Resolução Boletim Oficial nº 48, de 4 de Dezembro de 1991 e 3º Suplemento ao Boletim
nº 4/PL/2004 – Suplemento ao Boletim Oficial nº 44, de 2 de Novembro de Oficial nº 48, de 6 de Dezembro de 1991, pela Lei Constitucional
2004) .......................................................................................................... 183 nº 1/93 – 2º Suplemento ao Boletim Oficial nº 8, de 21 de Fevereiro de 1993,
pela Lei Constitucional nº 1/95, de 1 de Dezembro – Suplemento ao Boletim
Regulamentação Bancária – Disposições Penais (Lei nº 10/97 – Suplemento
Oficial nº 49, de 4 de Dezembro de 1995 e pela Lei Constitucional nº 1/96
ao Boletim Oficial nº 48, de 2 de Dezembro de 1997) ............................... 215
– Boletim Oficial nº 50, de 16 de Dezembro de 1996) ............................... 289
Regime Geral das Instituições Mutualistas ou Cooperativas de Poupança
Índice Legislativo (por ordem cronológica) ............................................... 301
de Crédito – Disposições Penais (Lei nº 11/97 – Suplemento ao Boletim
Oficial nº 48, de 2 de Dezembro de 1997) ................................................. 223
Lei Uniforme sobre os Instrumentos de Pagamento – Disposições Penais
(Lei nº 12/97 – Suplemento ao Boletim Oficial nº 48, de 2 de Dezembro
de 1997) ..................................................................................................... 229
OHADA – Acto Uniforme relativo ao Direito Das Sociedades Comerciais
e ao Agrupamento de Interesse Económico (extracto: Disposições Penais) ..... 241
OHADA – Acto Uniforme para a Organização dos Processos Colectivos de
Apuramento do Passivo (extracto: Disposições Penais) .............................. 249
OHADA – Acto Uniforme relativo à organização e harmonização das
contabilidades das empresas situadas nos Estados-Membros do Tratado
relativo à Harmonização do Direito dos Negócios em África (extracto:
Disposições Penais) .................................................................................... 257
Carta Africana sobre Direitos do Homem e dos Povos – extracto (Resolução
nº 20/85 – Suplemento ao Boletim Oficial nº 49, de 7 de Dezembro de
1985) .......................................................................................................... 261
Declaração Universal dos Direitos Humanos – extracto ............................ 263
6 7
Colectânea de Legislação de Direito Penal
PREFÁCIO
8 9
Colectânea de Legislação de Direito Penal
Se a estes aspectos acrescentarmos a circunstância de o Direito Penal, num e o empenho dos docentes da Faculdade de Direito que constituem o seu capital
Estado de Direito, ser fortemente cunhado pelo princípio da legalidade, com as humano, ao mesmo tempo que contribui para reforçar a importância do seu papel
suas exigências de lei escrita, estrita, certa e prévia, melhor se percebererá a na vida jurídica da Guiné-Bissau.
importância da presente colectânea. Na verdade, se os órgãos da administração da
justiça não conhecerem a lei penal e não dominarem razoavelmente as técnicas da Lisboa, Outubro de 2006
sua interpretação e aplicação, as suas decisões estarão irremediavemente inquinadas
de invalidade e insconstitucionalidade e, perante um tal cenário, é todo o Estado
de Direito que soçobra de uma forma drástica. Augusto Silva Dias
A segunda razão pela qual o Estado de Direito beneficia com a divulgação das Professor Auxiliar da Faculdade de Direito de Lisboa
leis é que só através dela se obtém a percepção das boas e das más leis. O conhe- Vice-Presidente do Instituto da Cooperação Jurídica da
cimento das leis é pressuposto indispensável da sua valoração e da sua reforma. Faculdade de Direito de Lisboa
O principal diploma desta colectânea, o Código Penal, contém soluções dificil-
mente compatíveis com princípios constitucionais que formam a estrutura de
validade do Direito Penal do Estado de Direito, como sejam os princípios da
legalidade e da proporcionalidade, e soluções desajustadas em relação às modernas
orientações da política criminal em matéria de criminalidade organizada e trans-
nacional. Não é este o lugar para proceder a um levantamento exaustivo dos
problemas, mas deixamos como exemplos daquela difícil compatibilidade a
desproporção notória entre as penas aplicáveis a crimes agravados pelo resultado
dentro do mesmo capítulo, como acontece nos crimes contra a integridade física
(v. artigos116º, 117º e 121º, nº 2), o excesso de indeterminação legal patente na
agravação do homicídio (artigo108º) e na equiparação da omissão à acção (artigo
20º) e como exemplos do referido desajustamento a fraca expressão no plano
sancionatório das penas patrimoniais e das penas substitutivas, entre as quais não
figuram, por exemplo, institutos tão adequados à realidade guineense como a
prisão por dias livres e o regime de semi-detenção, a ausência de incriminações
respeitantes ao tráfico de seres humanos e à extracção e comércio de órgãos
humanos e da previsão de crimes cometidos sobre ou através de meios informáticos
(acolhidos pela generalidade das ordens jurídicas). O Código Penal conta com
treze anos de vigência sem ter sido objecto de uma intervenção visando o seu
aperfeiçoamento constitucional e a sua adaptação à realidade criminal. Esperamos
que a publicação da presente colectânea contribua para um ambiente propício à
inauguração de um ciclo de reformas da legislação penal.
Uma última palavra de congratulações para o Centro de Estudos da Faculdade
de Direito de Bissau, em particular para o actual Assessor Científico, que a ele
preside, o Mestre Rui Ataíde, e para o responsável pela organização da colectânea,
o Dr. João Pedro Campos. Há muito que o Centro de Estudos vem dando um apoio
inestimável à consolidação do Estado de Direito na Guiné-Bissau, desde a
participação na formação de magistrados e a realização regular de conferências e
de jornadas jurídicas até à elaboração de Ante-projectos legislativos e de legislação
10 anotada. A organização desta colectânea demonstra a vitalidade daquela instituição 11
Colectânea de Legislação de Direito Penal
1
Decreto-Lei nº 4/93 – Suplemento ao B.O. nº 41, de 13 de Outubro de 1993, com
as alterações introduzidas pela Lei nº 2/2002, publicada no B.O. nº 21, de 27 de Maio
de 2002 e pelo artigo 13º da Lei nº 7/97, de 2 de Dezembro, publicada no suplemento
ao B.O. nº 48, de 2 de Dezembro de 1997.
2
12 Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo-Verde. 13
Colectânea de Legislação de Direito Penal
cionalmente previstos. São afirmados e plasmados todos os grandes princípios uma forma mais fácil e articulada de descobrir e trabalhar as matérias nucleares
jurídico-penalmente relevantes, como o princípio da legalidade, o princípio da do Direito Penal vigente na Guiné-Bissau.
humanidade das penas, o princípio da culpa, o princípio da propor-cionalidade e No desempenho de funções de regência da disciplina de Direito Penal I, na
o princípio da subsidiariedade do Direito Penal. Faculdade de Direito de Bissau, fomos recolhendo muitos diplomas relevantes
No que respeita à Parte Especial (artigos 100º a 250º) o Código Penal de 1993 praticamente desconhecidos, a seguir digitalizados, com o subsequente tratamento
seguiu os mesmos critérios de sistematização dos Códigos Penais modernos de texto, procedendo-se, ainda, à verificação de eventuais normativos constantes
baseados no bem jurídico e, dentro de cada grupo de incriminações, paradigmatica- do Código Penal que já não estivessem em vigor.
mente, na forma modelar, simples, de ofensa do mesmo, seguindo-se as formas Quanto ao critério de selecção dos diplomas, não se esqueceu o objectivo
essencialmente pedagógico e didáctico desta colectânea, optando-se por todos os
qualificadas e privilegiadas (v.g. crimes contra a vida, a integridade física e, de
diplomas que tivessem uma relação mais forte com o estudo do Direito Penal,
certo modo, a propriedade).
reconhecendo igualmente a importância da presente colectânea para um eventual,
No entanto, o Código Penal de 1993 não permaneceu absolutamente “cristalizado” mas necessário, processo de revisão legislativa.
no tempo, podendo ser identificados pelo menos três diplomas que modificaram Em nota de rodapé apresentamos sempre a data da publicação no Boletim
directamente o conteúdo de alguns normativos do Código Penal de 1993. Desde Oficial dos diversos diplomas. Procedeu-se, sempre que possível, à indicação das
logo, a Lei nº 2/20023 de 27 de Maio, que altera o tipo legal de furto qualificado, normas revogadas, bem como de questões que só podem ser compreendidas com
introduzindo um normativo específico para o gado bovino, a Lei nº 7/97 de 2 de a leitura de outros diplomas legais. Corrigiram-se também os erros ortográficos mais
Dezembro4, que tendo em conta a adesão da República da Guiné-Bissau à então manifestos, sendo os restantes fruto do próprio texto original. Por último, por uma
União Monetária Oeste Africana (UMOA), hoje União Económica e Monetária questão de facilidade de leitura e organização da própria colectânea, todos os textos
Oeste-Africana (UEMOA)5, introduz alterações a nível de prevenção e repressão da obtidos foram uniformizados, já que no Boletim Oficial se apresentam, muitas
contrafacção ou falsificação de moeda, aplicando os princípios da União Monetária vezes, com tipos de letra e tamanho diversos, dentro do mesmo diploma legal.
Oeste Africana, definidos pelo Tratado constitutivo (artigo 22º), com o objectivo Antes de terminar, são devidas várias palavras de agradecimento. Ao Sr. Augusto
de alcançar uma regulamentação uniforme nesta matéria e finalmente, a legislação César Tolentino, Ex. – Director do INACEP – Imprensa Nacional, E.P., pessoa
penal eleitoral constante do Código Penal de 1993 foi parcialmente revogada por que nunca poupou esforços para corresponder às muitas solicitações que lhe
um conjunto de diplomas de 1998, sobre o recenseamento eleitoral e sobre a fizemos, ao Dr. Higino Cardoso, pela disponibilização do seu índice de legislação,
eleições para o Presidente da República e para a Assembleia Nacional Popular. ao Professor Doutor Augusto Silva Dias, Vice-Presidente do Instituto da Cooperação
Foi surgindo igualmente um grande número de diplomas que se integram no Jurídica da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, responsável pela
que é hoje em dia designado por Direito Penal secundário ou extravagante, corres- cooperação universitária com a Guiné-Bissau, ao Dr. Rui Ataíde, Assessor Científico
pondendo usualmente à protecção de direitos sociais, económicos e culturais. Neste da Faculdade de Direito de Bissau, pelo apoio incondicional que ambos prestaram
âmbito tem especial importância o papel cada vez mais determinante da UEMOA, a esta iniciativa, ao Dr. Carlos Neves da Associação Académica da Faculdade de
Direito de Lisboa, pelo profissionalismo demonstrado em todo o processo de edição,
como o demonstra a Lei Uniforme relativa à luta contra o branqueamento de
ao I.P.A.D. (Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento), ao G.R.I.E.C.
capitais, bem como da “Organisation pour l’Harmonisation en Afrique du Droit des
(Gabinete para as Relações Internacionais Europeias e de Cooperação do Ministério
Affaires” – OHADA6, cujos Actos Uniformes criaram novas normas incriminadoras. da Justiça), à Fundação Calouste Gulbenkian, ao Banco Santander e à Petromar,
A presente colectânea de Direito Penal tem como objectivo possibilitar a sem cujos patrocínios esta edição não teria sido possível.
consulta, num único volume, da legislação fundamental de Direito Penal da Finalmente, disponibiliza-se o nosso correio electrónico, a fim dos interessados
Guiné-Bissau, não assumindo, portanto, propósitos de compilação enciclopédica enviarem as suas sugestões como forma de melhorar o trabalho, ora apresentado,
de todas as disposições penais mas, antes, facultar aos alunos da Faculdade de numa futura edição.
Direito de Bissau, aos profissionais do foro e, em geral, a todos os interessados,
Bissau, 3 de Outubro de 2006
3
Publicada no B.O. nº 21, de 27 de Maio de 2002. João Pedro C. Alves de Campos
4
Publicada no suplemento ao B.O. nº 48, de 2 de Dezembro de 1997. Assistente da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
5
http://www.uemoa.int. Regente da Faculdade de Direito de Bissau
14
6
http://www.ohada.com, http://www.ohadalegis.com. jpalvescampos@gmail.com 15
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal
Este primeiro Código Penal Guineense vem conhecer a luz do dia, precisamente,
numa altura em que o País, a Guiné-Bissau, comemora o seu vigésimo aniversário
de proclamação de Independência Nacional e se prepara para uma reforma
Político-Social que, certamente, será marcada sob o signo de democracia multi-
partidária na senda de um Estado-de-Direito Democrático.
Expõem-se desta forma, os motivos e a razão de ser Politíco-Histórico-Social
da revogação do Código Penal herdado do colonizador. Diploma com, aproximada-
mente, um século e meio de existência que, tendo servido aos Monarcas, também
servira aos Republicanos. Daí que, apesar das várias roupagens com que se veio
desfilando através das sucessivas reformas, há que reconhecer que uma simples
reforma não almejaria o espírito e a substância do novo pulsar Sócio-Criminal de
uma Guiné Independente e Democrática.
A acrescer a tudo isso está que o texto do diploma dos meados do século
dezanove, já não corresponde nem à filosofia doutrinal, nem à técnica jurídico-
criminal hodierna. Aliás, fora um diploma idealizado e corporizado para uma
comunidade concreta – a Lusitana – e que só por razões políticas acabaria por vir
a estender-se, a sua aplicabilidade, à então Colónia da Guiné.
O presente diploma é resultante da necessidade de modernização e da
harmonização da Justiça penal.
Dai que o presente Código, apesar de substancial incorporização de matrizes
sócio-culturais Guineenses, seja embebido nos ensinamentos filosóficos Romano-
-Germánicos e, sobretudo, de jurisprudências e doutrinas portuguesas de que o
nosso direito é legatário.
Tem o actual Código Penal como pressuposto basilar, no plano de ciência penal,
a máxima segunda a qual “o mal não se cura com outro mal mas, sim, com exemplo
e a prática do bem!”.
Eis a razão por que na refrega entre teorias etiológicas e utilitaristas, acabaria
por se enveredar pela terceira via – a ecléctica.
Se é hoje um dado adquirido o desacordo com a teoria do “Homo-delinquens”,
não deixa de ser outro dado adquirido a repulsa da utilização do delinquente como
cobaia tal como pretendem as teorias utilitaristas. Aliás tem vindo a ser aceite, já
maioritariamente, a ideia segundo a qual não ser “o mal da pena que repara o dano
1
16 Decreto-Lei nº 4/93, Suplemento ao B.O. nº 41, de 13 de Outubro de 1993. 17
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal
do crime nem tão pouco previne, por si só a repetição dos danos, mas sim, uma ARTIGO 5º
justa e ponderada coordenação de medidas em que o propósito preventivo supera O presente diploma entra em vigor no trigésimo dia a contar da data da sua
o repressivo”. Daí que a tónica da prevenção especial, só, verdadeiramente, ganhe publicação.
sentido e eficácia se houver uma participação real, dialogante e efectiva do
delinquente. Aprovado em 15 de Setembro de 1993.
Estas as razões por que o presente Código se enveredou pela assunção da Promulgado em 6 de Outubro de 1993.
“desdramatização do ritual”, co-responsabilizando as entidades penitenciárias no
êxito ou fracasso ressocializador. Publique-se.
Constituem, assim, as traves mestras do diploma os consagrados princípios da O Presidente do Conselho de Estado, General João Bernardo Vieira.
legalidade e da culpa como limite da pena.
E isto sem se olvidar ser nas medidas não detentivas que se depositam as maiores TÍTULO I
esperanças. Aliás, numa política criminal cuja tónica se vem voltando para uma DA LEI PENAL
pedagogia social e, sobretudo, de responsabilização de pais, educadores e toda a
sociedade, em geral, outro não seria de se esperar que tais medidas. O recurso às CAPÍTULO I
medidas detentivas e outras que impliquem o corte das liberdades e garantias DISPOSIÇÕES GERAIS
surgem, assim, como a última e extrema alternativa que se oferece ao decisor.
Em suma, pugnamos pela tese segundo a qual a nossa maior segurança está na ARTIGO 1º
preservação da nossa liberdade. Não somos livres porque somos fortes: ao (Aplicação da lei penal)
contrário, somos fortes porque somos livres.
Salvo os crimes essencialmente militares, as disposições deste Código são
O Conselho de Estado decreta, nos termos do artigo 133º da Constituição, o
aplicáveis a todas as demais infracções criminais, independentemente da lei que
seguinte:
as tipifique.
ARTIGO 1º
ARTIGO 2º
É aprovado o Código Penal, que faz parte do presente decreto-lei.
(Princípio da legalidade)
ARTIGO 2º
1. Só constitui crime o facto descrito e declarado como tal por lei ou que esta
sancionar com uma das penas previstas no presente Código.
Consideram se feitas para as correspondentes disposições do Código Penal
2. A lei criminal só se aplica aos factos praticados posteriormente à sua entrada
todas as remissões para as normas do Código anterior contidas em lei penais
em vigor.
avulsas.
3. A lei que tipifique um facto como crime ou que determinar a sanção aplicável
é insusceptível de aplicação analógica mas admite interpretação extensiva.
ARTIGO 3º
1. Com excepção das normas relativas a contravenções, são revogados o Código
ARTIGO 3º
Penal aprovado pelo Decreto-Lei de 16 de Setembro de 1886 e todas as disposições
(Retroactividade da lei penal)
legais que prevêem e punem factos incriminados pelo novo Código Penal.
2. Continuam em vigor as normas de Processo Penal contidas nos tratados e 1. A lei penal posterior à prática de um crime será aplicada sempre que se revelar
convenções internacionais. concretamente mais favorável ao agente.
2. O disposto no número anterior é aplicável aos casos em que a decisão já tenha
ARTIGO 4º transitado em julgado mas a sanção ainda não tenha sido cumprida nem declarada
Mantém-se em vigor as normas de Direito substantivo e processual relativas a extinta.
contravenções. Aos limites da multa e à prisão em sua alternativa, aplicam-se as 3. O disposto nos números anteriores implica a aplicação global do regime
disposições do novo Código Penal. resultante da lei nova mais favorável.
18 19
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal
ARTIGO 4º 2. Sendo aplicável a lei penal guineense o facto será julgado segundo a lei do
(Momento da prática do facto) lugar da sua prática se esta for concretamente mais favorável ao agente. A sanção
O facto considera-se praticado no momento em que o agente actuou ou, no caso aplicável será convertida na que lhe corresponder no sistema penal ou inexistindo
de omissão, deveria ter actuado, independentemente do momento em que o correspondência, na que a lei guineense prever para o facto.
resultado típico se tenha produzido. 3. No caso de o agente ser julgado na Guiné-Bissau tendo-o sido anteriormente
no lugar da prática do facto atender-se-á à pena que já tenha cumprido no
ARTIGO 5º estrangeiro.
(Aplicação territorial da lei penal)
A lei penal guineense é aplicável aos factos praticados em território da Guiné- ARTIGO 9º
-Bissau, independentemente da nacionalidade do agente. (Lugar da prática do facto)
O facto considera-se praticado tanto no lugar em que, total ou parcialmente, e
ARTIGO 6º sob qualquer forma de comparticipação, o agente actuou ou, no caso de omissão,
(Crimes praticados a bordo de navios ou aeronave) deveria ler actuado, como naquele em que o resultado típico se tenha produzido.
Para efeitos do disposto no artigo anterior consideram-se território da Guiné-
-Bissau os navios e as aeronaves de matrícula ou sob pavilhão guineense. TÍTULO II
DO CRIME
ARTIGO 7º
(Factos praticados fora do território nacional) CAPÍTULO I
1. Salvo tratado ou convenção em contrário, a lei penal da Guiné-Bissau é DOS AGENTES DO CRIME
aplicável a factos praticados fora do território nacional desde que:
a) Constituam algum dos crimes previstos no título VII, no Capítulo III do ARTIGO 10º
título III ou nos artigos 203º, 204º e 205º do Código Penal; (Pessoas singulares)
b) Constituam algum dos crimes previstos no título I ou nos artigos 124º, 125º, As pessoas singulares apenas são susceptíveis de responsabilidade criminal a
195º e 196º do Código Penal e o agente seja encontrado na Guiné-Bissau não sendo partir dos 16 anos de idade.
possível a sua extradição;
c) Se trate de factos praticados por guineenses ou por estrangeiros contra ARTIGO 11º
guineenses, sendo os agentes encontrados na Guiné-Bissau. (Pessoas colectivas)
2. No caso previsto na alínea anterior, se o agente não viver habitualmente na 1. As sociedades e quaisquer pessoas colectivas de direito privado são sus-
Guiné-Bissau ao tempo da prática dos factos, a lei penal guineense só se aplicará ceptíveis de responsabilidade criminal pelos crimes praticados com o objectivo de
desde que: realizar fins próprios em execução de decisões tomadas pelos seus órgãos.
a) Tais factos sejam criminalmente puníveis pela legislação do lugar em que 2. Os titulares dos órgãos de uma sociedade ou de quaisquer pessoas colectivas,
foram praticados; ou quem actue em nome de terceiro, respondem individualmente pelos factos que
b) Constituam crime que admita extradição e esta não possa ser concedida. praticarem como representante, no seu próprio interesse ou com excesso de poder.
ARTIGO 13º demais agentes que tenham conhecimento de que essas qualidades ou relações
(Inimputabilidade em razão de anomalia psíquica) especiais se verificam num dos comparticipantes.
É inimputável quem, no momento da prática do facto, em virtude de uma
anomalia psíquica não intencional, é incapaz de avaliar a ilicitude da sua conduta CAPÍTULO II
ou de se determinar de acordo com essa avaliação. DA CONDUTA DO AGENTE
2
26 Ver artigo 36º, nº 2 da Constituição da República da Guiné-Bissau. 27
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal
3
Como consequência da adesão da Guiné-Bissau à UEMOA (União Económica e
Monetária Oeste Africana), a partir de 2 de Maio de 1997, a unidade monetária da República Peso Guineense deverá ser convertido em Francos CFA à razão de 65.00 PG por 1 FCFA
28 da Guiné-Bissau, passou a ser o Franco da Comunidade Financeira Africana (FCFA). O – Lei nº 1/97, de 24 de Março de 1997, Suplemento ao B.O. nº 12, de 24 de Março de 1997. 29
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal
30 31
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal
ARTIGO 62º 2. Estas circunstâncias operam o seu efeito na moldura abstracta da pena
(Modificação do regime de suspensão) posteriormente às circunstâncias de facto que apenas qualificam determinados
Se durante o período de suspensão o agente não cumprir dolosamente os deveres tipos legais, se concorrerem no mesmo caso.
impostos na sentença ou for julgado e condenado por outro crime o tribunal,
atentas as circunstâncias, poderá alterar o regime de suspensão inicialmente ARTIGO 67º
fixado, modificar os deveres impostos ou advertir solenemente o condenado. (Reincidência)
1. Todo o agente que, em consequência da prática de um crime doloso, tiver
ARTIGO 63º cumprido pena de prisão e, posteriormente, praticar, sob qualquer forma, um novo
(Revogação da suspensão) crime a que corresponda pena de prisão, será declarado reincidente se as cir-
1. A suspensão será sempre revogada se, durante o respectivo período, o cunstâncias do caso mostrarem que a condenação anterior não constituiu suficiente
condenado cometer crime doloso por que venha a ser punido com pena de prisão. prevenção contra o crime.
2. Se o condenado reincidir no não cumprimento doloso ou nos casos em que 2. Se entre as práticas dos crimes referidos no número anterior mediarem mais
não for possível ou se revelar insuficiente a modificação do regime, o tribunal de quatro anos não se verifica a reincidência; para o prazo referido não conta o
também revogará a suspensão. tempo em que o agente tiver cumprido pena privativa de liberdade.
3. A revogação da suspensão não dá ao condenado o direito de exigir a 3. Em caso de reincidência o limite mínimo da pena aplicável ao crime é
restituição de prestações efectuadas durante a suspensão e por causa dela. elevado de um quarto da diferença entre os limites mínimo e máximo da referida
pena.
ARTIGO 64º
ARTIGO 68º
(Extinção da pena)
(Especial tendência criminosa)
A não revogação da suspensão determina a extinção da pena e dos seus efeitos.
1. Todo o agente que praticar um crime doloso a que devesse aplicar-se, con-
cretamente, pena de prisão efectiva superior a um ano será declarado delinquente
CAPÍTULO II
com especial tendência para o crime se, cumulativamente, se verificarem os
DA DETERMINAÇÃO DA PENA
seguintes pressupostos:
a) Ter praticado anteriormente três ou mais crimes dolosos a que tenha sido
SECÇÃO I
aplicada prisão;
MOLDURA ABSTRACTA DA PENA
b) Ter decorrido menos de quatro anos entre cada um dos crimes referidos e
o seguinte;
ARTIGO 65º
c) A avaliação conjunta dos factos e da personalidade do agente revelar
(Escolha da pena)
acentuada tendência para o crime;
1. Em princípio, o tribunal aplicará a pena não privativa da liberdade, sempre d) Esta tendência subsistir no momento do julgamento.
que o tipo legal o admitir, como alternativa à pena privativa. 2. A pena aplicável ao agente é a do crime cometido elevando-se o limite
2. Nestes casos, o tribunal só aplicará a pena privativa de liberdade quando a máximo de um terço da diferença entre os limites mínimo e máximo da pena
não privativa não satisfazer as exigências de reprovação e prevenção criminal ou prevista no tipo legal violado.
se mostrar insuficiente para a recuperação social do delinquente. 3. O disposto neste artigo prevalece sobre as regras próprias da punição da
reincidência.
ARTIGO 66º
(Circunstâncias agravantes modificativas) ARTIGO 69º
1. A circunstância do agente de um crime ser reincidente ou manifestar ten- (Sociedades e pessoas colectivas)
dência para a prática de factos criminosos opera a modificação da moldura penal As disposições relativas à reincidência e aos agentes de especial tendência
prevista no tipo legal violado. criminosa são aplicáveis às sociedades e pessoas colectivas.
34 35
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal
ARTIGO 70º 3. Nos casos em que não for possível repercutir o efeito atenuativo no limite
(Circunstâncias atenuantes modificativas ou especiais) mínimo da pena deve o tribunal atender a esse facto na determinação concreta da
1. As circunstâncias de facto que atenuam especialmente a pena abstracta do pena.
tipo legal somam os seus efeitos apenas em dois graus.
2. As circunstâncias que ultrapassem esses dois graus revelam como circunstâncias ARTIGO 73º
de carácter geral na determinação da pena concreta. (Punição do crime continuado)
O crime continuado é punível com a pena correspondente à conduta mais grave
ARTIGO 71º que integra a continuação.
(Atenuação especial da pena)
1. O tribunal pode atenuar especialmente a pena para além dos casos expressa- SECÇÃO II
mente previstos na lei, quando existam circunstâncias anteriores ou posteriores ao MOLDURA CONCRETA DA PENA
crime, ou contemporâneas dele que diminuam por forma acentuada a ilicitude do
facto ou a culpa do agente. ARTIGO 74º
2. Serão consideradas para este efeito, entre outras, as circunstâncias seguintes: (Determinação concreta da pena)
a) Ter o agente actuado sob a influência de ameaça grave ou sob o ascendente 1. Encontrada a moldura abstracta da pena nos termos dos artigos anteriores,
da pessoa de quem depende ou a quem deve obediência; o tribunal avaliará todas as circunstâncias que, não fazendo parte do tipo, agravem
b) Ter sido a conduta do agente determinada por motivo honroso, por forte ou diminuam a responsabilidade do agente.
solicitação ou tentação da própria vítima ou por provocação injusta, ou ofensa 2. Com base nestas circunstâncias fixar-se-á, dentro dos limites legais da pena,
imerecida; o máximo exacto que o tribunal considere necessário para sancionar a culpa do
c) Ter havido actos demonstrativos do arrependimento sincero do agente, agente.
nomeadamente a reparação, na medida possível, dos danos causados; 3. A pena aplicada ao agente não poderá, em circunstância alguma, ultrapassar
d) Ter decorrido muito tempo sobre a prática do crime, mantendo o agente boa o limite adequado à culpa mas, atendendo à necessidade de prevenção de futuros
conduta; crimes por parte do agente, poderá ser inferior àquele limite.
e) Ser portador de imputabilidade sensivelmente diminuída.
ARTIGO 75º
ARTIGO 72º (Cúmulo jurídico das penas de prisão)
(Grau da atenuação especial) 1. Quando alguém tiver praticado vários crimes antes de transitar em julgado
1. Nos casos de atenuação especial da pena o limite máximo será, sucessivamente, a condenação por qualquer deles, será condenado numa única pena.
2. Se o conhecimento da prática dos crimes em relação do concurso for posterior
diminuído de um terço.
à decisão transitada, proferir-se-á nova sentença determinativa da pena única.
2. Quanto ao limite mínimo atender-se-á às seguintes alterações:
3. A pena única será determinada com base na avaliação conjunta dos factos e
a) Se o limite mínimo da pena for de dez anos ou mais de prisão, passará a
da personalidade do agente.
sê-lo de três anos de prisão;
4. A pena única tem como limite mínimo a pena mais grave e como limite
b) Se o limite mínimo da pena for de três anos ou mais, mas inferior a dez anos,
máximo a soma das diversas penas com respeito pelos limites fixados no artigo 41º.
passará a ser o mínimo legal da pena de prisão;
5. As penas acessórias permanecem inalteráveis nos casos de cumulação
c) Se o limite mínimo da pena coincidir com o mínimo legal, substituir-se-á
jurídica de penas de prisão.
a prisão por multa dentro dos limites legais desta;
d) A pena de multa será reduzida conforme for razoável até ao limite mínimo
ARTIGO 76º
legal;
(Cúmulo das penas de multa)
e) Se, devendo atenuar-se especialmente a pena por duas vezes, não for possível
As penas de multa cumulam-se materialmente entre si e permanecem inde-
em nenhum dos casos diminuir o seu limite, isentar-se-á o agente dela.
36 pendentes da pena de prisão. 37
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal
2. Se no decurso desse prazo, vier a falecer o titular do direito ou a ficar incapaz, ARTIGO 89º
sem o exercer, inicia-se nova contagem de prazo, a partir da morte ou da data da (Suspensão da prescrição)
incapacidade. 1. A prescrição do procedimento criminal suspende-se, para além dos casos
3. O prazo conta-se autonomamente para cada um dos vários titulares da queixa. especialmente previstos na lei, durante o tempo em que:
a) O procedimento criminal não puder legalmente iniciar-se ou continuar por
ARTIGO 86º falta de autorização legal ou de sentença a proferir por tribunal não penal, ou por
(O direito de queixa na comparticipação) efeito da devolução de uma questão prejudicial a juízo não penal:
Se o direito de queixa tiver de ser exercido contra vários comparticipantes num b) O delinquente cumprir, no estrangeiro, pena ou medida de segurança
crime, o não exercício tempestivo da queixa relativamente a um deles extingue o privativas da liberdade.
procedimento criminal em relação aos outros, mesmo que contra estes tenha sido 2. A prescrição volta a correr a partir do dia em que cessar a causa da suspensão.
tempestivamente exercido aquele direito.
CAPÍTULO III
CAPÍTULO II PRESCRIÇÃO DAS PENAS E DAS MEDIDAS DE SEGURANÇA
PRESCRIÇÃO DO PROCEDIMENTO CRIMINAL
ARTIGO 90º
ARTIGO 87º (Prazos de prescrição das penas)
(Prazos de prescrição) 1. As penas prescrevem nos seguintes prazos:
1. O procedimento criminal extingue-se, por efeito de prescrição, logo que a) Vinte e cinco anos, se forem superiores a dez anos de prisão;
sobre a prática do crime tiverem decorrido os seguintes prazos: b) Vinte anos, se forem superiores a cinco anos de prisão, mas não ultrapassarem
a) Vinte anos, quando se tratar de crimes puníveis com pena de prisão cujo os dez anos;
limite máximo for superior a dez anos; c) Doze anos, se forem superiores a dois anos de prisão, mas não ultrapassem
b) Quinze anos, quando se tratar de crimes puníveis com pena de prisão cujo os cinco anos;
limite máximo for superior a cinco anos, mas que não exceda dez anos; d) Cinco anos, nas restantes penas de prisão;
c) Sete anos, quando se tratar de crimes puníveis com pena de prisão cujo limite e) Três anos, nas penas de multa.
máximo for superior a um ano, mas que não exceda cinco anos; 2. O prazo de prescrição das penas conta-se a partir do trânsito em julgado da
d) Três anos, nos restantes casos. decisão que a aplicar.
2. Quando a lei estabelecer para qualquer crime, em alternativa, pena de prisão
ou de multa, só a primeira é considerada para efeito da fixação do prazo de ARTIGO 91º
prescrição do respectivo procedimento criminal. (Preterição das penas acessórias)
A prescrição das penas acessórias fica sujeita ao regime da prescrição da pena
ARTIGO 88º principal de que for dependente.
(Contagem do prazo)
1. O prazo de prescrição do procedimento criminal corre desde o dia em que ARTIGO 92º
o facto se tiver consumado ou desde o dia do último acto de execução quando se (Prazos de prescrição das medidas de segurança)
tratar de crime não consumado, crime continuado ou crime habitual. 1. As medidas de segurança prescrevem nos seguintes prazos:
2. Nos crimes permanentes o prazo de prescrição conta-se desde o dia em que a) Quinze anos, se privativas de liberdade;
cessar a consumação. b) Cinco anos, se não privativas de liberdade;
3. No caso de cumplicidade atender-se-á ao facto do autor. c) Dois anos, nos casos restantes.
2. É correspondentemente aplicável o que dispõe o artigo 89º, nº 2.
40 41
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal
g) Difusão de epidemia susceptível de causar a morte ou ofensas graves à psicológico grave ou no emprego de produtos químicos, drogas ou outros meios,
integridade física de elementos do grupo; naturais ou artificiais, com intenção de perturbar a capacidade de determinação ou
h) Proibição, omissão ou impedimento por qualquer meio a que seja prestada a livre manifestação de vontade da vítima.
assistência humanitária aos elementos do grupo, adequada a combater situações 4. O disposto no número anterior não abrange as consequências limitativas da
de epidemia ou de grave carência alimentar; liberdade de determinação decorrentes da normal execução das sanções ou
é punido com pena de prisão de dez a vinte e cinco anos. medidas previstas no nº 1.
2. Quem, pública e directamente, incitar à prática de algumas das acções
anteriormente descritas é punido com pena de prisão de um a dez anos. ARTIGO 104º
(Agravação)
ARTIGO 102º 1. Quem, nos termos e condições referidas no artigo anterior:
(Descriminação racial) a) Produzir ofensa grave à integridade física;
1. Quem: b) Empregar meios ou métodos de tortura particularmente graves, designa-
a) Fundar ou constituir organização ou desenvolver actividades de propaganda damente: espancamento, electrochoque, simulacro de execução, substâncias
organizada que incitem à discriminação, ao ódio ou à violência raciais, ou que a alucinatórias, abuso sexual ou ameaça sobre familiares;
encorajem; ou c) Praticar tais actos como forma de impedir ou dificultar o livre exercício de
b) Participar na organização ou nas actividades referidas na alínea anterior ou direitos políticos ou sindicais constitucionalmente consagrados;
lhes prestar assistência, incluindo o seu financiamento; d) Praticar habitualmente os actos referidos no artigo anterior;
é punido com pena de prisão de um a oito anos. é punido com pena de prisão de quatro a quinze anos.
2. Quem, em reunião pública, por escrito destinado à divulgação ou através de 2. Se dos factos descritos neste artigo ou no anterior resultar suicídio ou morte
qualquer meio de comunicação social, com a intenção de incitar à discriminação da vítima, o agente e punido com pena de prisão de cinco a vinte anos.
racial ou de a encorajar, provocar actos de violência contra pessoa ou grupo de
pessoas por causa da sua raça cor ou origem étnica, e punido com pena de prisão ARTIGO 105º
de um a cinco anos. (Omissão de denúncia)
1. O superior hierárquico que, tendo conhecimento da pratica, por subordinado,
ARTIGO 103º de alguns dos factos descritos nos artigos 103º e 104º, não fizer a denúncia nos três
(Actos contra a liberdade humana) dias imediatos ao conhecimento do facto, é punido com pena de prisão de um a
1. Quem, tendo por função a prevenção, a investigação, a decisão, relativamente cinco anos.
a qualquer tipo de infracção, a execução das respectivas sanções ou a protecção, 2. Todo aquele a quem, por razões profissionais e oficialmente, for dado conhe-
guarda ou vigilância de pessoas detidas ou presas: cimento da prática de factos descritos nos artigos 103º e 104º, e não comunicar
a) A torturar ou tratar de forma cruel, degradante ou desumana; imediatamente ao superior hierárquico ou efectuar a respectiva denúncia, é punido
b) A castigar por acto cometido ou supostamente cometido por ela ou por outra com a pena prevista no número anterior especialmente atenuada.
pessoa;
c) A intimidar ou para intimidar outra pessoa; ou ARTIGO 106º
d) Obter dela ou de outra pessoa confissão, depoimento, declaração ou informação; (Escravatura)
é punido com pena de prisão de um a oito anos. 1. Quem, por qualquer meio, colocar outro ser humano na situação de escravo,
2. Na mesma pena incorre quem, por sua iniciativa, por ordem de superior ou se servir dele nessa condição ou, para manter a referida situação, o ceder ou receber
de acordo com a entidade competente para exercer a função referida no número doutra pessoa, é punido com pena de prisão de cinco a quinze anos.
anterior, assumir o desempenho dessa função praticando qualquer dos actos aí 2. Se os actos referidos no número anterior foram praticados:
descritos. a) Como forma de facilitar a exploração ou o uso sexual da vítima, pelo próprio
3. Considera-se tortura, tratamento cruel, degradante ou desumano o acto que agente ou por terceiro;
44 consista em infringir sofrimento físico ou psicológico agudo, cansaço físico ou 45
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal
b) Sendo a vítima menor de dezasseis anos de idade; ou no grupo étnico a que pertencem, são punidos com pena de prisão de dois a oito
c) Desempenhando o agente o cargo que lhe confira autoridade pública ou anos, se tais circunstâncias revelarem uma diminuição acentuada da culpa.
religiosa perante um grupo, região ou totalidade do país; 2. A mãe que tirar a vida do filho durante o parto, ou logo após este e ainda sob
o agente é punido com pena de prisão de cinco a vinte anos. a sua influência perturbadora, é punida com pena de prisão de um a quatro anos,
se o fizer como forma de encobrir a desonra ou vergonha social.
TÍTULO II
DOS CRIMES CONTRA AS PESSOAS ARTIGO 111º
(Homicídio negligente)
CAPÍTULO I 1. Quem, por negligência, tirara vida a outra pessoa, é punido com pena de
CONTRA A VIDA prisão até três anos ou com pena de multa.
2. Nos casos em que o agente actuar com negligência grosseira é punido com
ARTIGO 107º pena de prisão até quatro anos.
(Homicídio)
Quem tirar a vida a outra pessoa é punido com pena de prisão de oito a dezoito ARTIGO 112º
anos. (Aborto)
1. Quem provocar aborto em mulher grávida contra ou sem consentimento, se
ARTIGO 108º for possível obtê-lo, é punido com pena de prisão de três a dez anos.
(Homicídio agravado) 2. Quem efectuar aborto fora das instalações clínicas, adequadas ou sem que
Se no caso concreto, a morte for: para tal se encontre profissionalmente habilitado, é punido com pena de prisão de
a) Relativa a alguém cuja função social ou o tipo de relação existente entre a dois a seis anos, independentemente do resultado.
vítima e o agente acentuam de forma especial e altamente significativa o desvalor 3. A mulher grávida que consentir ao aborto nas condições descritas no número
da acção; anterior é aplicada a pena de prisão aí referida, especialmente atenuada se a conduta
b) Resultante de um modo de preparação ou de execução do acto ou de meios tiver por objectivo ocultar a desonra.
utilizados que revelam um especial e elevado grau de ilicitude;
c) Determinada por motivos ou por finalidade que patenteiam um especial ARTIGO 113º
aumento da culpa do agente; (Abandono ou exposição)
este é punido com pena de prisão de doze a vinte e cinco anos. 1. Quem, intencionalmente, colocar em perigo a vida de outra pessoa:
a) Expondo-a em lugar que a sujeite a uma situação de que ela só por si, não
ARTIGO 109º
possa defender-se; ou
(Incitamento ao suicídio) b) Abandonando-a sem defesa, em razão da idade, deficiência física ou doença,
1. Quem incitar outra pessoa a suicidar-se, ou lhe prestar ajuda para esse fim, sempre que ao agente coubesse o dever de a guardar, vigiar ou assistir;
é punido com pena de prisão até três anos ou pena de multa, se o suicídio vier é punido com pena de prisão de um a cinco anos.
efectivamente a ser tentado ou a consumar-se. 2. Se do facto resultar:
2. Quem, por qualquer forma adequada e repetidamente fizer a apologia a) Uma ofensa grave para a integridade física, o agente é punido com pena de
pública de suicídio, é punido com pena de prisão até um ano ou com pena de multa. prisão de um a oito anos;
b) A morte, o agente é punido com pena de prisão de quatro a doze anos.
ARTIGO 110º
(Infanticídio)
1. A mãe, o pai ou os avós que, durante o primeiro mês de vida do filho ou do
neto, lhe tirarem a vida por este ter nascido com manifesta deficiência física ou
46 doença, ou compreensivelmente influenciados por usos e costumes que vigorarem 47
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal
ARTIGO 123º 2. Quem, na presença da vítima, proferir palavras, praticar ou lhe imputar
(Coacção) qualquer outro facto lesivo da sua honra e consideração, é punido com pena de
1. Quem, por meio de violência ou de ameaça que não constitua crime, prisão até seis meses ou com pena de multa.
constranger outra pessoa a uma omissão, ou a suportar uma actividade, é punido 3. O procedimento criminal depende de queixa.
com pena de prisão até três anos ou com pena de multa.
2. Se a coacção for realizada mediante a ameaça de um crime ou por funcionário ARTIGO 127º
abusando grosseiramente das suas funções a pena é de prisão até três anos. (Agravação)
3. A tentativa é punível. 1. Se os factos descritos no artigo anterior forem praticados:
a) Por meio de órgão de comunicação social;
ARTIGO 124º b) Contra quem desempenhar funções públicas, religiosas ou políticas, no
(Sequestro) exercício dessas funções e por causa delas, o agente é punido com pena prevista
1. Quem, fora dos casos previstos na lei processual penal, detiver, prender, nesse artigo agravadas de um terço no seu limite máximo.
mantiver presa ou detida outra pessoa, ou de qualquer outra forma a privar da 2. A agravação será de metade do limite máximo se ocorrerem cumulativa-
liberdade, é punido com pena de prisão até três anos ou com pena de multa. mente as circunstâncias referidas no número anterior.
2. A pena aplicável é de dois a oito anos de prisão se a privação da liberdade:
a) Durar mais de setenta e duas horas; ARTIGO 128º
b) For efectuada por meio de ofensa à integridade física, tortura ou qualquer (Prova da verdade dos factos)
outro tratamento cruel, degradante ou desumano; Tratando-se de imputação de factos, se o agente provar a verdade dos mesmos,
c) Vier a causar, por negligência do agente, a morte da vítima ou tiver como a conduta não será punível.
resultado o suicídio desta;
d) Respeitar a autoridade pública, religiosa ou política. ARTIGO 129º
(Injúrias discriminatórias)
ARTIGO 125º 1. Se a injúria consistir em expressões ou considerações que visem discriminar
(Rapto) a vítima por causa da raça, religião ou etnia, ofendendo-a na sua honra e con-
1. Quem por qualquer meio, raptar outra pessoa para obter do próprio ou de sideração, o agente é punido com pena de prisão até dois anos ou multa.
terceiro um resgate, a prática ou omissão de um facto ou a suportar uma actividade, 2. O procedimento criminal depende de queixa.
é punido com prisão de dois a dez anos.
2. A pena aplicável é de três a doze anos de prisão se o rapto for efectuado com ARTIGO 130º
violência, ou se verificar alguma das circunstâncias previstas no artigo 124º, nº 2, (Ofensa ao prestígio de pessoa colectiva ou equiparada)
alíneas b) e c). 1. A prática dos factos descritos no artigo 126º e a difusão de factos inverídicos
susceptíveis de abalar a credibilidade, confiança ou prestígio devidos às pessoas
CAPÍTULO IV colectivas ou quaisquer outras instituições sociais, é punida com pena de prisão até
CONTRA A HONRA seis meses ou com pena de multa.
2. O procedimento criminal depende de queixa.
ARTIGO 126º
(Difamação e injúrias) ARTIGO 131º
1. Quem, publicamente e na ausência da vítima, de viva voz, ou por qualquer (Ofensa à memória de pessoa falecida)
outro meio de comunicação, imputar a outra pessoa um facto ou emitir um juízo 1. Quem, por qualquer forma, ofender gravemente a memória de pessoa
ofensivo da sua honra e consideração, ou transmitir essa imputação ou juízo a falecida, é punido com pena de prisão até seis meses ou com pena de multa.
terceiros se não tiver sido produzida pelo agente, é punido com pena de prisão até 2. É correspondentemente aplicável o disposto no artigo 127º.
50 um ano ou com pena de multa. 3. O procedimento criminal depende sempre de queixa. 51
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal
2. Se o agente do crime for o único titular do direito de queixa compete ao 3. Quem divulgar o conteúdo de cartas, encomendas, escritos fechados, tele-
Ministério Público decidir do seu exercício, atento o interesse da vítima e ouvida fonemas ou outras comunicações referidas nos números anteriores, é punido com
esta. pena de prisão até um ano ou com pena de multa, ainda que tenha tido conheci-
mento desse contendo de forma lícita.
CAPÍTULO VI 4. Se o agente que proceder à divulgação tiver praticado alguns dos factos
CONTRA A VIDA PRIVADA descrito nos nºs l e 2 como meio de adquirir o referido conhecimento do conteúdo
que divulgar, é punido, por ambas as condutas, com pena de prisão até dezoito
ARTIGO 139º meses ou com pena multa.
(Violação de domicílio) 5. Se os factos descritos nos números anteriores forem praticados por fun-
1. Quem, sem consentimento, se introduzir na habitação de outra pessoa ou, cionário de serviços dos correios, telégrafos, telefones ou telecomunicações as
autorizado a entrar, nela permanecer depois de intimado a retirar-se, é punido com penas aplicáveis são elevadas de um terço nos seus limites.
pena de prisão até um ano ou com pena de multa. 6. O procedimento criminal depende de queixa.
2. Se o agente, para mais facilmente cometer crime, se aproveitar da noite, do
facto de a habitação se situar em lugar ermo, de serem três ou mais pessoas a ARTIGO 142º
praticar o facto, utilizar arma, usar de violência ou ameaça de violência ou actuar (Violação de segredo)
por meio de escalamento, arrombamento ou chave falsa, é punido com pena de 1. Quem, sem consentimento, revelar segredo alheio de que tenha tomado
prisão até três anos ou com pena de multa. conhecimento em razão do seu estado, ofício, emprego, profissão ou arte, é punido
3. Se existirem pessoas no interior da habitação quando o agente cometer o com pena de prisão até um ano ou pena de multa.
crime é aplicável a mesma pena do número anterior que será agravada de um terço 2. O procedimento criminal depende de queixa.
do limite máximo se ocorrer, simultaneamente, alguma das circunstâncias
referidas. ARTIGO 143º
4. A tentativa é punível. (Devassa da vida privada)
1. Quem, por qualquer meio mesmo lícito, tomar conhecimento de factos
ARTIGO 140º relativos à intimidade da vida privada de outra pessoa e os divulgar publicamente
(Introdução noutros lugares vedados ao público) sem justa causa, é punido com pena de prisão até três meses ou multa.
1. Quem, nas circunstâncias descritas no nº l do artigo anterior, entrar ou 2. O procedimento criminal depende de queixa.
permanecer em qualquer lugar fechado ou vedado e não livremente acessível ao
público, é punido com pena de prisão até seis meses ou com pena de multa. CAPÍTULO VII
2. Se se verificar alguma das circunstâncias referidas no artigo139º, nº 2, o DIVERSOS
agente é punido com pena de prisão até um ano ou com pena de multa.
3. O procedimento criminal depende de queixa. ARTIGO 144º
(Omissão de auxílio)
ARTIGO 141º 1. Quem, em caso de grave necessidade de outra pessoa que se encontrar em
(Violação de correspondência ou de telecomunicações) perigo de vida, deixar de a socorrer directamente ou por intermédio de terceiros,
1. Quem, sem consentimento ou fora dos casos processualmente admissíveis, quando o pudesse fazer sem qualquer risco pessoal grave, é punido com pena de
abrir encomenda, carta ou qualquer outro escrito destinado a outra pessoa, ou prisão até um ano ou com pena de multa.
tomar conhecimento do seu conteúdo, ou impedir que seja recebida pelo seu 2. Se o agente for médico ou profissional de saúde, é punido com pena de prisão
destinatário, é punido com pena de prisão até um ano ou com pena de multa. até três anos ou com pena de multa.
2. Na mesma pena incorre quem, nas mesmas circunstâncias, se intrometer ou 3. No caso previsto no número anterior, acessoriamente, poderá ser decretada a
tomar conhecimento do conteúdo de comunicação telefónica, telegráfica ou por suspensão da actividade profissional do agente por um período de tempo até um ano.
54 qualquer outro meio de telecomunicação. 4. O procedimento criminal depende de queixa. 55
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal
TÍTULO III 2. Se ocorrer alguma das circunstâncias descritas no número anterior e a coisa
DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÓNIO furtada tiver um valor superior a dez vezes o salário correspondente à letra “Z” da
Função Pública5, o agente é punido com pena de prisão de seis meses a sete anos.
CAPÍTULO I 3. Se verificada alguma das circunstâncias descritas no nº l e a coisa furtada tiver
CONTRA A PROPRIEDADE um valor superior a vinte vezes o salário correspondente à letra “Z” da Função
Pública, o agente é punido com pena de prisão de um a dez anos.
ARTIGO 145º 4. Se, verificada alguma das circunstâncias descritas no nº 1, o valor da coisa
(Furto) furtada for superior a quarenta vezes o salário correspondente a letra “Z” da
1. Quem, com ilegítima intenção de apropriação para si ou para outrem, subtrair Função Pública, o agente é punido com pena de prisão de dois a doze anos.
coisa móvel alheia, é punido com pena de prisão até três anos ou com pena de 5. Se concorrerem mais do que uma das circunstâncias descritas no nº l só é
multa. relevante como circunstância modificativa uma delas, sendo as demais ponderadas
2. A tentativa é punível. na determinação concreta da pena, se não puderem constituir crime autónomo.
6. Se o valor da coisa furtada for superior a um décimo do salário correspondente
ARTIGO 146º à letra “Z” da Função Pública, as circunstâncias descritas no nº 1 funcionarão como
(Furto qualificado) agravantes de carácter geral.
Se:
a) A coisa móvel alheia possuir elevado valor científico, artístico ou histórico, ARTIGO 146º-A6
ou for importante para o desenvolvimento tecnológico ou económico; 1. Quem com ilegítima intenção de apropriação para si ou para outrem, subtrair
b) A coisa móvel alheia for um veículo, transportada em veículo ou por cabeça de gado bovino alheio, é punido com pena de prisão até cinco anos.
passageiro de transportes colectivos, ou se encontrar no cais ou gare de embarque 2. Ao lesado assistirá sempre o direito a:
ou desembarque; a) Restituição imediata do gado roubado;
c) A coisa móvel for cabeça de gado não bovino4; b) Indemnização de 5 cabeças de gado ou correspondente, por cada gado
d) A coisa móvel alheia estiver afecta ao culto religioso ou à veneração da roubado.
memória dos mortos e se encontrar em lugar destinado ao culto ou em cemitério; 3. No caso previsto no nº 1 do presente artigo, aplicam-se igualmente as
e) A vítima ficar em situação económica difícil; disposições dos nºs 2, 3 e 4 do artigo 146º.
f) O agente aproveitar a noite para mais facilmente se introduzir em habitação,
estabelecimento comercial ou industrial com a intenção de furtar; ARTIGO 147º
g) O agente usar chaves falsas, escalamento ou arrombamento na concretização (Abuso de confiança)
do seu desígnio; 1. Quem, ilegitimamente se apropriar de coisa móvel que lhe tenha sido entregue
h) O agente se aproveitar da situação de especial debilidade da vítima de por título não translativo da propriedade, é punido com pena de prisão até três anos
desastre, acidente ou calamidade pública; ou com pena de multa.
i) O agente fizer da prática de furtos modo de vida; ou 2. A tentativa é punível.
j) O crime for praticado por três ou mais pessoas, incluindo o agente;
este é punido com pena de prisão até cinco anos.
5
A actual tabela salarial (Decreto nº 4-A/2004) apresenta 15 escalões para a letra
“Z”, o que não se verificava na anterior tabela salarial. Todas as referências à letra “Z”
da Função Pública devem ser feitas para o referido diploma.
6
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Alteração, em itálico, introduzida pela Lei nº 2/2002, publicada no B.O. nº 21, de Artigo introduzido pela Lei nº 2/2002, publicada no B.O. nº 21, de 27 de Maio
56 27 de Maio de 2002. de 2002. 57
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal
ARTIGO 148º 4. Se do facto vier a resultar a morte de outra pessoa, o agente é punido com
(Abuso de confiança qualificado) pena de prisão de três a quinze anos.
1. Se a coisa referida no artigo anterior for de valor superior a dez vezes o salário
correspondente à letra “Z” da Função Pública, o agente é punido com pena de ARTIGO 152º
prisão até cinco anos. (Violência após a subtracção)
2. Se a coisa referido tiver um valor vinte vezes superior ao salário correspon- Quem, surpreendido em flagrante delito de furto, actuar da forma descrita no
dente à letra “Z” da Função Pública, o agente é punido com pena de prisão de um artigo anterior para conservar ou impedir a restituição das coisas apropriadas, é
a oito anos. punido com as penas de crime de roubo.
3. As penas previstas no artigo147º e nos números anteriores são agravadas de
um terço no limite mínimo e máximo se o agente tiver recebido a coisa em depósito ARTIGO 153º
imposto por lei em razão de ofício, emprego ou profissão, ou na qualidade de tutor, (Dano)
curador ou depositário judicial. 1. Quem, total ou parcialmente, destruir, danificar, desfigurar ou tornar inu-
tilizável coisa alheia, é punido com pena de prisão até três anos ou multa.
ARTIGO 149º 2. A tentativa é punível.
(Arrependimento activo) 3. O procedimento criminal depende de queixa.
Quando, após a prática dos crimes previstos nos artigos 145º a 148º e antes de
iniciada a audiência de julgamento, o agente praticar actos que visem a restituição ARTIGO 154º
ou a reparação, integral ou parcial, dos prejuízos causados e demonstre um sincero (Dano qualificado)
arrependimento, a pena pode ser especialmente atenuada. 1. Se a coisa danificada:
a) Se destinar a uso e utilidade pública;
ARTIGO 150º b) Tiver um valor superior a dez vezes o salário correspondente à letra “Z” da
(Furto de uso) Função Pública; ou
1. Quem utilizar automóvel ou outro veículo motorizado, aeronave, barco ou c) Tiver um importante valor científico, artístico ou histórico ou possuir grande
bicicleta, sem autorização de quem de direito, é punido com pena de prisão até dois importância para o desenvolvimento tecnológico ou científico;
anos ou com pena de multa. d) For meio de comunicação ou transporte de grande importância social;
2. A tentativa é punível. o agente é punido com pena de prisão de um a oito anos.
3. O procedimento criminal depende de queixa. 2. Se:
a) O agente agir com violência contra uma pessoa, com ameaça, com perigo
ARTIGO 151º iminente para a vida ou a integridade física, ou pondo-a na impossibilidade de
(Roubo) resistir; ou
1. Quem, com ilegítima intenção de apropriação para si ou para outra pessoa, b) A coisa danificada tiver valor superior a vinte vezes o salário correspondente
subtrair, ou constranger a que lhe seja entregue, coisa móvel alheia, por meio de à letra “Z” da Função Pública;
violência contra uma pessoa, de ameaça com perigo iminente para a vida ou para o agente é punido com pena de prisão de dois a doze anos.
a integridade física ou pondo-a na impossibilidade de resistir, é punido com pena
de prisão de um a dez anos. ARTIGO 155º
2. Se o valor da coisa apropriada for superior a dez vezes o salário correspondente (Dano involuntário)
à letra “Z” da Função Pública ou se verificar alguma das circunstâncias previstas 1. Quem, por negligência, praticar os factos descritos no artigo 153º, é punido
no artigo 146º, nº 1, o agente é punido com pena de prisão de dois a dez anos. com pena de prisão até três meses ou com pena de multa.
3. Se da conduta do agente resultar perigo para a vida da vítima ou lhe forem 2. Se o valor da coisa danificada for superior a vinte vezes o salário correspon-
causadas ofensas à integridade física graves, o agente é punido com pena de prisão dente a letra “Z” da Função Pública, o agente é punido com pena de prisão até seis
de dois a doze anos. meses ou com pena de multa.
58 3. O procedimento criminal depende de queixa. 59
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal
ARTIGO 156º 2. Se o meio empregue constituir crime punível com pena superior à referida
(Queimada fora da época) no artigo anterior será essa pena aplicável.
1. Quem efectuar queimada prematura fora dos meses de Novembro e Dezembro, 3. A tentativa é punível.
de que resulte a destruição de floresta, plantação ou culturas, é punido com prisão 4. O procedimento criminal depende de queixa.
até dois anos ou com pena de multa.
2. Quem efectuar queimada nos meses de Novembro ou Dezembro e por ARTIGO 161º
negligência provocar os factos descritos no número anterior, é punido com prisão (Alteração de marcos)
até um ano ou com pena de multa. 1. Quem, com intenção de apropriação, total ou parcial, de coisa imóvel alheia,
para si ou para outra pessoa, arrancar ou alterar marco ou qualquer outro sinal
ARTIGO 157º destinado a estabelecer limites de propriedades, é punido com pena de prisão até
(Queimada intencional) seis meses ou com pena de multa.
Quem, independentemente da época do ano, utilizar o fogo para a produção de 2. O procedimento criminal depende de queixa.
carvão, na extracção de mel, para caçar, para abrir caminho ou por qualquer outro
motivo fizer queimada provocando incêndio de que resulte a destruição de ARTIGO 162º
floresta, plantações ou culturas, é punido com prisão até cinco anos. (Procedimento criminal)
No caso dos artigos 145º, 147º e 151º, o procedimento criminal depende de
ARTIGO 158º queixa se o proprietário da coisa for cônjuge, ascendente, descendente, adoptante,
(Agravação) adoptado, parente ou afim até ao 2º grau.
Se os factos descritos no artigo anterior forem relativos a parques nacionais,
florestas estabelecidas ou sob a protecção, o agente é punido com pena de prisão ARTIGO 163º
de um a seis anos. (Arrombamento, escalamento e chaves falsas)
1. É arrombamento o rompimento, fractura ou destruição, no todo ou em parte,
ARTIGO 159º de dispositivo destinado a fechar ou impedir a entrada, exterior ou interiormente,
(Incêndio qualificado) de casa ou de lugar fechado dela dependente.
1. Quem, querendo provocar incêndio em casa, edifício, estabelecimento, meio 2. É escalamento a introdução em casa ou em lugar fechado dele dependente,
de transporte, floresta, seara ou qualquer outro bem e, desta maneira, criar perigo por local não destinado normalmente à entrada ou por qualquer dispositivo
de vida, integridade física ou bens patrimoniais de valor superior a cem vezes o destinado a fechar ou impedir a entrada ou a passagem.
salário correspondente à letra “Z” da Função Pública, é punido com prisão de dois 3. São chaves falsas:
a dez anos. a) As imitadas, contrafeitas ou alteradas;
2. Se a conduta descrita no número anterior for praticada por negligência, o b) As verdadeiras quando, fortuita ou sub-repticiamente, estiverem fora do
agente é punido com pena de prisão de um a cinco anos. poder de quem tiver o direito de as usar; e
3. Se apenas o perigo referido no número um for criado por negligência, o c) As gazuas ou quaisquer instrumentos que possam servir para abrir fechaduras
agente é punido com pena de prisão de um a seis anos. ou outros dispositivos de segurança.
determinar outrem à pratica de actos que lhe causem, ou causem a outra pessoa, ARTIGO 168º
prejuízo patrimonial, é punido com pena de prisão até três anos ou com pena de (Receptação atenuada)
multa. Quem, sem previamente se ter assegurado da sua legítima proveniência,
2. A tentativa é punível. adquirir ou receber, a qualquer título, coisa que, pela sua natureza ou pela sua
3. É correspondentemente aplicável o disposto no artigo 149º. qualidade de quem a detém ou lha oferece, ou pelo montante do preço ou condições
de venda ou oferta, faz suspeitar a uma pessoa medianamente diligente que provém
ARTIGO 165º de condutas criminosas contra o património de outra pessoa, e punido com pena
(Burla qualificada) de prisão até dois anos ou com pena de multa.
1. Se:
a) O prejuízo causado for de valor superior a vinte vezes o salário correspondente ARTIGO 169º
à letra “Z” da Função Pública; (Ajuda ao criminoso)
b) O agente fizer modo de vida da prática da burla; ou Quem, após a prática de um crime contra o património, ajudar o agente do crime
c) A pessoa prejudicada ficar em difícil situação económica; a aproveitar-se da coisa assim obtida ou de benefício directamente resultante da
o agente é punido com pena de prisão de um a dez anos. coisa apropriada, é punido com pena de prisão até dois anos ou com pena de multa.
2. É correspondentemente aplicável o que dispõe a artigo 149º.
ARTIGO 170º
ARTIGO 166º (Administração danosa)
(Extorsão) 1. Quem estiver encarregado de dispor ou de administrar interesses, serviços
1. Quem, com intenção de conseguir para si ou para terceiro enriquecimento ou bens patrimoniais alheios, mesmo sendo sócio da sociedade ou pessoa colectiva
ilegítimo, constranger outra pessoa, por meio de violência ou de ameaça com mal a que pertençam esses bens, interesses ou serviços, e por ter infringido intencional-
importante, a uma disposição patrimonial que acarrete, para ela ou para outrem, mente as regras de controle e de gestão ou por ter actuado com grave violação e
prejuízo, é punido com pena de prisão de um a seis anos. deveres inerentes à função causar dano patrimonial economicamente significativo,
2. Se se verificarem os pressupostos consagrados no artigo 151º, nºs 2, 3 e 4, é punido com prisão até cinco anos.
a conduta do agente é punida as com penas aí previstas. 2. Se os bens, interesses ou serviços pertencerem ao Estado a pessoa colectiva
de utilidade pública, a uma cooperativa ou associação popular a pena aplicável é
ARTIGO 167º de seis meses a seis anos de prisão.
(Receptação) 3. As mesmas penas são aplicáveis a quem se apropriar ou permitir que se
1. Quem, com intenção de obter, para si ou para outra pessoa, vantagem apropriem ilegitimamente de coisas de que apenas podiam dispor no âmbito e com
patrimonial, dissimular coisa que foi obtida por outrem mediante crime contra o as finalidades próprias de quem administra património alheio.
património, a receber, a empenhar, a adquirir por qualquer título, a detiver,
conservar, transmitir ou contribuir para a transmitir, ou de qualquer outra forma ARTIGO 171º
assegurar, para si ou para outra pessoa, a sua posse ou o valor ou produto (Administração abusiva)
directamente dela resultantes, é punido com pena de prisão de um a oito anos. 1. Quem, estando nas condições descritas no nº l do artigo anterior, causa grave
2. Se: dano patrimonial por não agir com diligência a que segundo as circunstâncias
a) O agente fizer de receptação modo de vida, ou a pratique habitualmente; estava obrigado e de que era capaz, é punido com pena de prisão até um ano ou
b) Os bens, valores ou produtos tiverem um valor superior a dez vezes o salário com pena de multa.
correspondente à letra “Z” da Função Pública; 2. Se a situação for relativa a bens ou coisas pertencentes ao Estado, pessoa
é punido com pena de prisão de dois a doze anos. colectiva de utilidade Pública, cooperativa ou associação popular a pena aplicável
é agravada de metade no seu limite máximo.
3. O procedimento criminal depende de queixa.
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Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal
2. Quem utilizar os objectos referidos no numero anterior sabendo-os falsificados 2. Se a pessoa for impedida de se inscrever ou convencida a inscrever-se por
ou sem autorização de quem de direito, para causar prejuízo a outra pessoa ou ao meio de violência ou engano astuciosamente provocado a pena aplicável é a de
Estado, é punido com prisão até três anos ou pena de multa. prisão até cinco anos.
3. Se quem utilizar os referidos objectos for o próprio falsificador a pena do 3 A tentativa é punível.
nº l será agravada de um terço no limite máximo.
4. No caso do nº 2 a tentativa é punível. ARTIGO 183º
(Candidato inelegível)
ARTIGO 180º 1. Quem, sabendo que não tem capacidade eleitoral para ser eleito, apresentar
(Pesos e medidas) a sua candidatura, é punido com pena de prisão até três anos ou com pena de multa.
1. Quem, com intenção de prejudicar outra pessoa ou Estado falsificar ou por 2. A tentativa é punível.
qualquer outro meio alterar ou utilizar depois de praticados tais actos, pesos,
medidas, balanças ou outros instrumentos de medida, é punido com prisão até três ARTIGO 184º
anos ou com pena de multa. (Falta de cadernos eleitorais)
2. A tentativa é punível. Quem, para impedir a realização de acto eleitoral, estando encarregue da
elaboração ou correcção dos cadernos eleitorais, não proceder à sua execução ou
ARTIGO 181º impedir que o substituto legal o faça, é punido com pena de prisão até três anos
(Apreensão e perda) ou com pena de multa.
Serão apreendidas e postas fora de uso ou destruídas as moedas contrafeitas,
falsificadas ou diferenciadas, e objectos equiparados, assim como os pesos, ARTIGO 185º
medidas ou todo e qualquer instrumento destinado à prática dos crimes previstos (Propaganda eleitoral ilícita)
neste capítulo. 1. Quem usar meio de propaganda legalmente proibido ou continuar a pro-
paganda eleitoral para além do prazo legalmente estabelecido ou em local proibido
TÍTULO IV é punido com prisão até seis meses ou com pena de multa.
DOS CRIMES RELATIVOS AO PROCESSO ELEITORAL7 2. Quem impedir o exercício do direito de propaganda eleitoral ou proceder à
sua destruição ilegítima é punido com pena de prisão até dois anos ou com pena
ARTIGO 182º de multa.
(Fraude no recenseamento)
ARTIGO 186º
1. Quem impedir outra pessoa que sabe ter direito a inscrever-se, fizer constar
(Obstrução à liberdade de escolha)
factos que sabe não verdadeiros, omitir factos que devia inscrever ou por qualquer
outro meio falsificar o recenseamento eleitoral é punido com pena de prisão até 1. Quem por meio de violência, ameaça de violência ou mediante engano
três anos ou com pena de multa. fraudulento constranger outra pessoa a não votar ou a votar num determinado
sentido é punido com prisão até três anos ou com pena de multa.
2. É aplicável a mesma pena a quem solicitado a auxiliar na votação pessoa
invisual ou quem legalmente a tal tiver direito, desrespeitar o sentido de voto que
lhe for comunicado.
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3. A tentativa é punível.
Ver Lei do Recenseamento Eleitoral (extracto) – publicada no Suplemento ao B.O.
nº 17, de 28 de Abril de 1998, Lei Eleitoral para o Presidente da República e Assembleia
Nacional Popular (extracto) – Lei nº 3/98, de 23 de Abril – publicada no Suplemento ARTIGO 187º
ao B.O. nº 17, de 28 de Abril de 1998 e a Lei relativa ao Processo Eleitoral, respeitante (Perturbação do acto eleitoral)
ao poder autárquico (extracto) – Lei nº 6/96 – publicada no B.O. nº 38, de 16 de Setembro 1. Quem, por qualquer meio, perturbar o funcionamento da assembleia de voto
66 de 1996, que revogaram tácita e parcialmente esta matéria. é punido com prisão até seis meses ou com pena de multa. 67
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal
2. Se os factos descritos no número anterior forem praticados com violência ou 2. É equiparada à falsificação de notação técnica a acção perturbadora sobre
qualquer outra ameaça significativa, o limite máximo da pena é aumentada de um aparelhos técnicos ou automáticos por meio da qual se influenciem os resultados
terço. da notação.
3. O procedimento criminal depende de queixa. 3. A tentativa é punível.
ARTIGO 211º integridade do território nacional, como forma de submissão ou entrega à soberania
(Atentado contra a segurança dos transportes) estrangeira, é punido com pena de prisão de dez a vinte anos.
1. Quem praticar qualquer facto adequado a provocar a falta ou a diminuição
da segurança em meio de transporte e, deste modo, vier a criar um perigo para a ARTIGO 216º
vida ou para a integridade física de outra pessoa, é punido com pena de prisão de (Serviço ou colaboração com forças armadas inimigas)
um a dez anos. 1. O cidadão guineense que colaborar com país ou grupos estrangeiro ou com
2. A negligência relativamente à conduta ou ao perigo referidos no número os seus representantes, ou que servir debaixo da bandeira do país estrangeiro
anterior, é punida com pena de prisão até três anos ou com pena de multa. durante guerra ou acção armada contra a Guiné-Bissau, é punido com pena de
prisão de cinco a vinte anos.
ARTIGO 212º 2. Os actos preparatórios relativos aos factos descritos no número anterior, são
(Condução perigosa) punidos com pena de prisão de dois a doze anos.
1. Quem conduzir qualquer veículo em via pública e, por não estar em con- 3. Quem, sendo guineense ou residente no território nacional, praticar actos
dições de o fazer em segurança ou por violar grosseiramente as regras de circulação adequados a ajudar ou facilitar qualquer acção armada ou guerra contra a Guiné-
rodoviária, criar perigo para a vida ou para a integridade física de outrem, é punido -Bissau por país ou grupo estrangeiro, é punido com pena de prisão de cinco a
com prisão de um a cinco anos. quinze anos.
2. É correspondentemente aplicável o disposto no nº 2 do artigo anterior, sendo
a pena aplicável de prisão até um ano ou multa. ARTIGO 217º
(Sabotagem contra a defesa nacional)
ARTIGO 213º Quem destruir, danificar ou tornar não utilizável, total ou parcialmente:
(Participação em motim) a) Obras ou materiais próprios ou afectos às forças armadas;
1. Quem tomar parte em motim público, durante o qual forem cometidas b) Vias ou meios de comunicação ou de transporte;
colectivamente violências contra pessoas ou propriedades, será punido com c) Quaisquer outras instalações relacionadas com comunicações ou transportes;
prisão de seis meses até um ano, se outra pena mais grave lhe não couber pela d) Fábricas ou depósitos, com intenção de prejudicar ou colocar em perigo a
participação no crime cometido. defesa nacional;
2. A pena de prisão será de um a três anos, se o agente provocou ou dirigiu o é punido com pena de prisão de cinco a quinze anos.
motim.
3. Os limites mínimos e máximos de pena elevar-se-ão no caso dos números ARTIGO 218º
anteriores ao dobro se o motim foi armado. (Campanha contra esforço pela paz)
Quem, sendo guineense ou residente no território nacional, em tempo de
ARTIGO 214º preparação ou de guerra, difundir por qualquer meio, de modo a tornar público,
(Exercício de direitos políticos) rumores ou afirmações, próprias ou alheias, que saiba serem, total ou parcialmente,
Quem impedir, por violência ou ameaça, a outrem de exercer os seus direitos falsas, para prejudicar o esforço pela paz da Guiné-Bissau ou para auxiliar o
políticos, é punido com pena de prisão de três meses até um ano. inimigo estrangeiro, é punido com prisão de dois a oito anos.
2. Quem colaborar com governo ou grupo estrangeiro com intenção de praticar ARTIGO 223º
os factos referidos no número anterior ou recrutar ou auxiliar outra pessoa encarre- (Crime contra pessoa que goze de protecção internacional)
gada de os praticar, é punido com a mesma pena do número anterior. 1. Quem praticar qualquer crime contra pessoa que goze de protecção inter-
3. Se o agente que praticar os factos descritos nos números anteriores exercer nacional quando esta se encontrar no desempenho de funções oficiais na Guiné-
qualquer função política, pública ou militar que, pela sua natureza, devesse inibi- -Bissau, é punido com a pena correspondente ao crime agravada de um terço nos
-lo de praticar tais factos mais fortemente do que ao cidadão comum, é punido com seus limites, sem prejuízo do disposto nos artigos 41º e 44º, e desde que haja
pena de prisão de um a quinze anos. reciprocidade no tratamento penal de tais factos quando as vítimas representarem
outros Estados.
ARTIGO 220º 2. Gozam de protecção internacional para o efeito do disposto no presente
(Infidelidade diplomática) artigo:
Quem, representando oficiosamente o Estado guineense, com intenção de a) Chefe de Estado, Chefe do Governo ou Ministro dos Negócios Estrangeiros
prejudicar direitos ou interesses nacionais: e membros de família que os acompanhem;
a) Conduzir negócio de Estado com governo estrangeiro ou organização inter- b) Representante ou funcionário de Estado estrangeiro ou agente de organização
nacional; ou internacional que, no momento do crime, gozam de protecção especial segundo
b) Assumir compromissos em nome da Guiné-Bissau sem para isso estar o direito internacional e família que os acompanhem.
devidamente autorizado;
é punido com pena de prisão de dois a doze anos. ARTIGO 224º
(Ultraje de símbolos nacionais)
ARTIGO 221º Quem, publicamente, por palavras, gestos ou divulgações de escrito, ou por
(Alteração do Estado de direito) outro meio de comunicação com público, ultrajar a República, a bandeira ou hino
1. Quem, por meio de violência ou ameaça de violência, tentar destruir, alterar nacional, as armas ou emblemas da soberania guineense ou faltar ao respeito que
ou submeter o Estado de direito constitucionalmente estabelecido, é punido com lhe é devido, é punido com prisão até três anos.
prisão de cinco a quinze anos.
2. Se o facto anterior for praticado por meio de violência armada, o agente é TÍTULO VIII
punido com prisão de cinco a quinze anos. DOS CRIMES CONTRA A REALIZAÇÃO DA JUSTIÇA
3. O incitamento público ou a distribuição de armas para a prática dos factos
referidos nos números anteriores é, respectivamente, punido com pena de corres- ARTIGO 225º
pondência à tentativa. (Falsidade por parte de interveniente em acto processual)
1. Quem, num processo judicial perante tribunal ou funcionário competente
ARTIGO 222º como meio de prova, declaração, informações, relatórios ou quaisquer outros
(Atentado contra o Chefe de Estado) documentos, prestar depoimento de parte, intervier como assistente, testemunha,
1. Quem atentar contra a vida, a integridade física ou a liberdade do Chefe de perito técnico, tradutor ou interprete ou prestar declarações à identidade, ante-
Estado, de quem constitucionalmente o substituir ou de quem tenha sido eleito cedente criminais, na qualidade de suspeito, prestando declarações e informações
para o cargo, mesmo antes de tomar posse, é punido com pena de prisão de cinco falsas ou elaborando relatório ou quaisquer outros documentos falsos, é punido
a quinze anos, se ao facto não corresponder pena mais grave por força de outra com prisão até quatro anos.
disposição legal. 2. Na mesma pena incorre quem, sem justa causa, se recusar a prestar declarações
2. Em caso de consumação de crime contra a vida, a integridade física ou a e informações ou a elaborar relatórios ou quaisquer outros documentos.
liberdade, o agente é punido com a pena correspondente ao crime praticado 3. Se o agente praticar os factos referidos nos números anteriores depois de
agravado de um terço nos seus limites, sem prejuízo do disposto nos artigos 41º advertido das consequências penais a que se expõe, a pena é de um a cinco anos
e 44º. de prisão.
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Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal
4. Se, em consequência das condutas anteriormente descritas alguém for privado 2. Se a falsa imputação se referir a ilícito contra-ordenacional, ou disciplinar
da liberdade, o agente é punido com prisão de dois a oito anos. a pena será especialmente atenuada.
3. Se os factos referidos nos números anteriores forem dolosamente promovidos
ARTIGO 226º por algum funcionário encarregado de instaurar o respectivo procedimento, as
(Arrependimento) penas aplicáveis são agravadas de um terço nos seus limites.
O arrependimento e a retracção do agente que tiver praticado algum dos factos
descritos no artigo anterior antes da falsidade ter sido tomada em conta na decisão ARTIGO 231º
ou ter causado prejuízo a outra pessoa, equivale à desistência. (Não promoção)
1. Quem tendo conhecimento da prática de um crime público por determinada
ARTIGO 227º pessoa e, estando obrigado a participá-lo, não o fizer, é punido com a pena cor-
(Suborno) respondente ao crime que encobriu, especialmente atenuada.
Quem convencer ou tentar convencer outra pessoa, através de dádiva ou 2. Não é de aplicar a atenuação especial referida no número anterior se o crime
promessa de vantagem patrimonial ou não patrimonial, praticar qualquer dos encoberto for algum dos regulados.
factos referidos no artigo 204º, sem que este venha a ser praticado, é punido com
pena de prisão até três anos ou com multa. ARTIGO 232º
(Prevaricação)
ARTIGO 228º 1. O funcionário que em qualquer fase dum processo jurisdicional, com
(Coacção sobre magistrado) intenção de beneficiar ou prejudicar outra pessoa, praticar qualquer acto no âmbito
1. Quem, aproveitando-se do facto de estar investido em cargo de natureza dos poderes funcionais de que é titular, conscientemente e contra direito, é punido
política, púbica, militar ou policial ameaçar algum magistrado de qualquer mal com pena de prisão de um a seis anos.
ou por qualquer outro meio actuar de forma a impedi-lo de exercer livremente as 2. Se do facto descrito no número anterior resultar a privação da liberdade de
suas funções, é punido com prisão de dois a dez anos. uma pessoa ou se o acto se traduzir numa situação de prisão ou detenção ilegal,
2. Se, em consequência da conduta descrita no número anterior, o magistrado a pena é de dois a dez anos de prisão.
omitir ou praticar acto em violação de lei expressa e de que resulte prejuízo para
terceiros, a pena é de três a doze anos de prisão. ARTIGO 233º
(Prevaricação do advogado ou solicitador)
ARTIGO 229º
1. O advogado ou solicitador que intencionalmente prejudicar causa entregue
(Obstrução à actividade jurisdicional)
ao seu patrocínio, é punido com pena de prisão até cinco anos.
1. Quem, por qualquer meio, se opuser, dificultar ou impedir o cumprimento 2. O advogado ou solicitador que, na mesma causa, advogar ou exercer
ou execução de alguma decisão judicial transitada em julgado, é punido com pena solicitadoria relativamente a pessoas cujos interesses estejam em conflito, com
de prisão de um a cinco anos. intenção de actuar em benefício ou prejuízo de algum deles, é punido com prisão
2. Se o agente que praticar os factos descritos no número anterior for algum dos de um a cinco anos.
referidos no artigo 219º, nº 3, a pena é de dois a dez anos de prisão.
ARTIGO 234º
ARTIGO 230º
(Simulação do crime)
(Denúncia caluniosa)
1. Quem, sem o imputar a pessoa determinada, denunciar crime ou fizer criar
1. Quem, por qualquer meio, perante autoridade ou publicamente, com a
suspeita da sua prática à autoridade competente, sabendo que se não verificou, é
consciência da falsidade da imputação, denunciar ou lançar sobre determinada
punido com pena de prisão até dois anos ou com multa.
pessoa a suspeita da prática de um crime, com a intenção de que contra ele se
2. Se o facto respeitar a contravenção, contra-ordenação ou ilícito disciplinar,
instaure procedimento criminal, é punido com pena de prisão até três anos ou com
o agente é punido com pena de prisão até seis meses ou com multa.
78 multa. 79
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal
3. Se os factos descritos nos números anteriores forem praticados por fun- ARTIGO 239º
cionários encarregues de instaurar o respectivo procedimento, as penas aplicáveis (Desobediência)
são agravadas de um terço nos seus limites. 1. Quem, depois de advertido de que a sua conduta é susceptível de gerar
responsabilidade criminal, faltar ou persistir na falta à obediência devida a ordem
ARTIGO 235º ou mandado legítimos, regularmente comunicados e provenientes de entidade
(Favorecimento pessoal) competente, é punido com pena de prisão até cinco anos ou com multa.
1. Quem, total ou parcialmente, impedir prestar ou iludir actividade probatória 2. Nos casos em que a disposição legal qualificar o facto como desobediência
ou preventiva de autoridade competente, com intenção ou com consciência de qualificada, a pena é de três anos de prisão ou multa.
tentar que outra pessoa, que praticou um crime seja submetida a pena ou medida 3. Desobediência a concretas proibições ou interdições cominadas em sentença
de segurança, é punido com pena de prisão até três anos ou com multa. criminal como pena acessória ou medidas de segurança não privativa de liberdade,
2. A tentativa é punível. é punível com a pena referida no nº l.
3. Se o favorecimento for praticado por funcionário que intervenha ou tenha
competência para intervir no processo ou que seja encarregue de executar pena ou ARTIGO 240º
medida de segurança ou para ordenar a má execução, a pena é de um a cinco anos (Tirada de presos)
de prisão. 1. Quem, por meios ilegais, libertar ou, por qualquer meio, auxiliar a evasão
de pessoa legalmente privada da liberdade, é punido com prisão de um a seis anos.
ARTIGO 236º 2. Se os factos descritos forem praticados com uso de violência, utilizando
(Não punibilidade do favorecimento) armas ou com a colaboração de mais de duas pessoas, a pena é de prisão de um a
O agente que procurar com a prática do facto evitar que contra si seja aplicada oito anos.
ou executada pena ou medida de segurança ou que agir para benefício do cônjuge,
ascendente, descendente, parente até ao 2º grau, não é punível. ARTIGO 2 41º
(Evasão)
ARTIGO 237º 1. Quem encontrando-se legalmente privado da liberdade, se evadir, é punido
(Violação do segredo de justiça) com pena de prisão até três anos.
Quem, sem justa causa, tornar público o teor de acto processual penal abrangido 2. Se a evasão for conseguida por algum dos meios descritos no nº 2 do artigo
pelo segredo de justiça ou em que tenha sido decidido excluir a publicidade, é anterior, a pena é de um a cinco anos de prisão.
punido com pena de prisão de seis meses a três anos ou com pena de multa.
ARTIGO 242º
TÍTULO IX (Auxílio de funcionário à evasão)
DOS CRIMES CONTRA A AUTORIDADE PÚBLICA 1. O funcionário que auxilie na prática de algum dos factos descritos nos artigos
233º e 234º, é punido com as penas aí indicadas agravadas de um terço nos seus
ARTIGO 238º limites.
(Obstrução à autoridade pública) 2. Se o funcionário devesse exercer a guarda ou vigilância sobre o evadido e,
1. Quem, por meio de violência ou ameaça grave contra funcionário ou agente mesmo assim, tiver auxiliado naqueles factos, a pena é agravada de um quarto nos
de forças militares, militarizados ou policiais, se opuser à prática de acto relativo seus limites.
ao exercício das suas funções ou constranger à prática de acto contrário aos seus 3. No caso do número anterior, se a evasão for devida a negligência grosseira
deveres, é punido com pena de prisão de um a seis anos. por parte do funcionário encarregue da guarda ou da vigilância do evadido, a pena
2. Se o acto referido no número anterior for efectivamente praticado ou im- é de prisão até três anos ou multa.
pedido de ser praticado, a pena é de um a dezoito anos de prisão.
80 81
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal
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Colectânea de Legislação de Direito Penal Cargos Políticos
ARTIGO 250º
(Peculato de uso)
O funcionário que fizer uso ou permitir que outra pessoa faça uso para fins Lei nº 14/97, de 2 de Dezembro*
alheios àqueles a que se destinem, de veículos ou de outras coisas obter, para si ou
Cargos Políticos
para terceiro, benefício ilegítimo ou causar prejuízo a outra pessoa, é punido com
prisão até três anos ou com multa, se pena mais grave, lhe não couber por força
A responsabilização dos titulares de cargos políticos é um dos elementos
de outra disposição legal.
intrínsecos do princípio democrático. Por isso a Constituição da República da
Guiné-Bissau, preceitua que “os titulares de cargos políticos respondem política
e criminalmente pelos actos e omissões que pratiquem no exercício das suas
funções”.
Os crimes praticados por titulares de cargos políticos no exercício das suas
funções constituem a infracção de bens ou valores particulares relevantes da ordem
constitucional, cuja promoção e defesa constituem dever funcional dos titulares
de cargos políticos. Por isso existe uma conexão entre essa responsabilidade
criminal e a responsabilidade política, transformando-se a censura criminal numa
censura política, com as necessárias consequências em relação ao desempenho do
cargo. Posto que a responsabilidade criminal do titular de cargo político é mais
elevada do que a responsabilidade criminal comum, pelo facto do agente dispor
de uma certa liberdade de conformação e gozar de uma relação de confiança
pública. Daí a existência de especificidades quanto ao tipo de penas e seus efeitos.
Na Guiné-Bissau a necessidade de consolidação e aperfeiçoamento do sistema
democrático impõe que se torne efectiva essa responsabilidade que se traduz quer
no dever de prestar contas, quer no sancionamento da condução errada ou ilícita
dos negócios públicos.
Assim:
A Assembleia Nacional Popular decreta, nos termos do artigo 61º e alínea c)
do nº 1 do artigo 85º, ambos da Constituição da República, o seguinte:
CAPÍTULO I
DOS CRIMES DE RESPONSABILIDADE DE TITULAR
DE CARGO POLÍTICO EM GERAL
ARTIGO 1º
(Âmbito)
A presente lei determina os crimes de responsabilidade que os titulares de
cargos políticos possam cometer no exercício das suas funções, e por causa delas,
as sanções que lhes são aplicáveis e os respectivos efeitos.
*
84 Suplemento ao B.O. nº 48, de 2 de Dezembro de 1997. 85
Colectânea de Legislação de Direito Penal Cargos Políticos
ARTIGO 2º ARTIGO 6º
(Definição genérica) (Atenuação especial)
Consideram-se crimes de responsabilidade praticados por titulares de cargos As penas aplicáveis aos crimes de responsabilidade cometidos por titular de
políticos, além dos crimes previstos na presente lei, os previstos na lei penal geral cargo político no exercício das suas funções poderá ser especialmente atenuada,
com referência expressa ao exercício de funções políticas ou os que se prove terem para além dos casos previstos na lei geral, quando se mostre que o bem ou valor
sido praticados com flagrante desvio ou abuso da função ou com grave violação sacrificados o foram para salvaguarda de outros constitucionalmente relevantes ou
dos deveres inerentes. quando for diminuto e grau de responsabilidade funcional do agente e não haja
lugar à exclusão da ilicitude ou da culpa nos termos gerais.
ARTIGO 3º
(Cargos políticos) CAPÍTULO II
Para efeitos da presente lei, consideram-se cargos políticos, o exercício de DOS CRIMES DE RESPONSABILIDADE DE TITULARES
funções de: DE CARGO POLÍTICO EM ESPECIAL
a) Presidente da República;
b) Presidente da Assembleia Nacional Popular; ARTIGO 7º
c) Deputado à Assembleia Nacional Popular; (Traição à Pátria)
d) Membros do Governo; O titular de cargo político que, com flagrante desvio ou abuso das suas funções
e) Presidente do Supremo Tribunal de Justiça; ou com grave violação dos inerentes deveres, ainda que por meio não violento nem
f) Procurador Geral da República; de ameaça de violência, tentar separar ou entregar a totalidade ou uma parte do
g) Presidente do Tribunal de Contas; território da República da Guiné-Bissau a País estrangeiro como forma de sub-
h) Membro de Órgão representativo de Autarquias Locais; missão, prejudicar ou puser em perigo a independência do País, será punido com
i) Membro da Inspecção Superior Contra a Corrupção; prisão de 10 a 20 anos.
j) Magistrado Judicial;
k) Embaixador; ARTIGO 8º
l) Governador de Região; (Atentado contra a Constituição da República)
m) Director Geral. 1. O titular de cargo político que no exercício das suas funções atente contra
a Constituição da República, visando alterá-la ou suspendê-la, por forma violenta
ARTIGO 4º ou por recurso a meios que não os democráticos nela previstos, será punido com
(Punibilidade da tentativa) prisão de 5 a 15 anos.
Nos crimes previstos na presente lei a tentativa é punível independentemente 2. Se o efeito do crime previsto no número anterior se não tiver seguido, a pena
da medida legal da pena, sem prejuízo do disposto no artigo 28º do Código Penal. será de 2 a 8 anos.
ARTIGO 5º ARTIGO 9º
(Agravação especial) (Atentado contra o Estado de Direito)
As penas aplicáveis aos crimes previstos na lei penal geral, se cometidos por 1. O titular de cargo político que com flagrante desvio ou abuso das suas funções
titular de cargos políticos no exercício das suas funções e quando qualificados ou com grave violação de deveres inerentes, ainda que por meio não violento nem
como crimes de responsabilidade nos termos da presente lei serão agravadas de um de ameaça de violência tentar destruir, alterar ou subverter o estado de direito
quarto dos seus limites mínimo e máximo. constitucionalmente estabelecido, nomeadamente os direitos, liberdades e garantias
estabelecidas na Constituição da República da Guiné-Bissau, na Declaração
Universal dos Direitos do Homem e na Carta Africana dos Direitos do Homem e
dos Povos, será punido com pena de prisão de 5 a 15 anos.
86 87
Colectânea de Legislação de Direito Penal Cargos Políticos
2. Se o efeito do crime previsto no número anterior se não tiver seguido, a pena ARTIGO 13º
será de 2 a 8 anos. (Desacatamento ou obstrução à actividade jurisdicional)
O titular de cargo político que, no exercício das suas funções se opuser, recusar
ARTIGO 10º acatamento ou impedir o cumprimento ou execução de decisão judicial transitada
(Infidelidade diplomática) em julgado, é punido com prisão até 18 meses.
1. O titular de cargo político que, representando a República da Guiné-Bissau,
com intenção de prejudicar direitos ou interesses nacionais, conduzir negócio de ARTIGO 14º
Estado com Governo ou Organismo Internacional ou assumir compromissos em (Denegação de justiça)
nome da Guiné-Bissau sem que para isso esteja devidamente autorizado, é punido O titular de cargo político que, no exercício das suas funções, se recusar a
com pena de prisão de 2 a 12 anos. aplicar o direito ou a administrar a justiça que nos termos das suas atribuições e
competências, será punido com prisão até 18 meses e multa até 50 dias.
ARTIGO 11º
(Suspensão ou restrição ilícita de direitos, liberdades e garantias) ARTIGO 15º
1.O titular de cargo político que, no exercício das suas funções ou com grave (Prevaricação)
violação dos inerentes deveres, suspender o exercício de direitos, liberdades e O titular de cargo político que conscientemente conduzir ou decidir contra
garantias não susceptíveis de suspensão ou sem recurso legítimo aos estados de direito um processo em que intervenha no exercício das suas funções, com
sítio ou de emergência, ou impedir ou restringir aquele exercício, com violação intenção de, por essa forma, prejudicar ou beneficiar alguém, será punido com
grave das regras de execução do estado declarado, será condenado a prisão de 2 prisão de 2 a 8 anos.
a 8 anos.
2. Se os actos previstos no número anterior forem praticados com uso de ARTIGO 16º
violência ou ameaça de violência, a pena será de prisão de 2 a 4 anos. (Violação de normas de execução orçamental)
O titular de cargo político que, no exercício das suas competências de direcção,
ARTIGO 12º conscientemente, viole normas de execução orçamental:
(Coação contra órgãos constitucionais) a) Contraindo encargos não permitidos por lei;
1. O titular e cargo político que, por meio não violento e sem ameaça de b) Autorizando pagamento sem o visto do tribunal de contas legalmente previsto;
violência, constranger ou obstacular o livre exercício de atribuições de Órgãos de c) Autorizado ou promovendo operações de tesouraria ou alterações orçamentais
Soberania ou por qualquer meio actuar de forma a impedi-lo de exercer livremente proibidas por lei;
as suas funções, será punido com pena de prisão de 2 a 8 anos, se ao facto não d) Utilizando dotações ou fundos secretos, com violação das normas da
corresponder pena mais grave por força de outra disposição legal. universalidade e especificação legalmente previstas.
2. Quando os factos descritos no número anterior forem praticados contra Será punido com prisão até 18 meses se ao facto não corresponder outra pena
Órgão de Autarquia Local, a pena de prisão será de 1 a 5 anos. mais grave por força de outra disposição legal.
3. Se a coação referida no nº 1 do presente artigo for cometida contra Membros
ARTIGO 17º
de Órgãos de Soberania, a pena de prisão será de 1 a 5 anos e se praticada contra
Membros de órgãos de Autarquia Local, será de 6 meses a 3 anos. (Corrupção passiva para acto ilícito)
4. Se a coação referida no nº 1 for praticada contra magistrado, a pena será de 1. O titular de cargo político que no exercício das suas funções, por si ou
2 a 10 anos. interposta pessoa, com o seu consentimento ou ratificação, solicitar ou receber,
5. Se em consequência da conduta referida no número anterior, o Magistrado para si ou para o seu conjugue, parente ou afins até ao terceiro grau, sem que lhes
vier a omitir ou praticar acto em que violação de lei expressa e de resulte prejuízo sejam devidos, dinheiro, promessa de dinheiro, ou qualquer vantagem patrimonial
para terceiros, a pena será de 3 a 12 anos de prisão. ou não patrimonial. como contrapartida da prática de actos que impliquem
violação dos deveres do seu cargo ou omissão de acto que tenha o dever de praticar
88 e que, nomeadamente, consiste: 89
Colectânea de Legislação de Direito Penal Cargos Políticos
a) Em dispensa de tratamento de favor a pessoa, empresa, ou organização 3. A isenção de pena prevista no nº 1, só aproveitará ao agente de corrupção
determinada; activa se o mesmo voluntariamente aceitar o repúdio de promessa ou a restituição
b) Em violação de lei, através de intervenção em processo, tomada de decisão do dinheiro ou vantagem que houver feito ou dado.
ou participação em decisão de que resulte concessão de benefícios, subvenções,
recompensas, empréstimo, prémios, outorga de direitos, exclusão ou extinção de ARTIGO 21º
obrigações e adjudicação ou celebração de contratos. (Participação económica em negócio)
Será punido com prisão de 2 a 10 anos e multa de 100 a 200 dias. 1. O titular de cargo político que, com o propósito de obter, de forma ilícita,
2. Se o acto não for executado ou se não se verificar a omissão, a pena será de para si ou para terceiro, participação económica, lesar os interesses patrimoniais
prisão até 3 anos e multa até 100 dias. que, no todo ou em parte, lhe cumpra, em razão das suas funções, administrar,
fiscalizar, defender ou realizar, será punido com prisão de 1 a 5 anos e multa de
ARTIGO 18º 50 a 100 dias.
(Corrupção passiva para acto lícito) 2. O titular de cargo político que, de algum modo, receber vantagem patrimonial
O titular de cargo político que, no exercício das suas funções, por si ou inter- ilícita por consequência de um acto jurídico-civil concernente a interesses de que,
posta pessoa, com o seu consentimento ou rectificação, solicitar ou receber dinheiro, por virtude das suas funções e no momento do acto tenha, total ou parcialmente,
promessa de dinheiro ou qualquer vantagem patrimonial ou não patrimonial a que a causa, será punido com multa de 50 a 150 dias.
não tenha direito, para si ou para o seu cônjuge, parentes ou afins até ao terceiro 3. O titular de cargo político que, por qualquer forma, receber vantagem
grau, para a prática de acto ou omissão de acto não contrários aos deveres do seu económica por virtude de cobrança, arrecadação, liquidação ou pagamento que,
cargo e que caibam nas suas atribuições, será punido com prisão até 3 anos ou multa por força das suas funções esteja, total ou parcialmente, encarregado de fazer ou
até 100 dias. ordenar, desde que se não verificar prejuízo económico para o Estado, será punido
com multa de 50 a 150 dias.
ARTIGO 19º
(Corrupção activa) ARTIGO 22º
O titular de cargo político que, no exercício das suas funções, por si ou por (Peculato)
interposta pessoa, com o seu consentimento ou ratificação, der ou prometer a outro 1. O titular de cargo político que, no exercício das suas funções, em proveito
titular de cargo político, a funcionário ou aos cônjuges, parentes ou afins daqueles, próprio ou de terceiro, se apropriar ilicitamente de dinheiro ou qualquer outra
até ao terceiro grau, dinheiro ou outra vantagem patrimonial ou não patrimonial coisa móvel, pública ou particular, que lhe tenha sido entregue, esteja na sua posse
que não lhes sejam devidos, com prisão de 1 mês a 5 anos e multa de 100 a 200 ou lhe seja acessível em razão das suas funções, será punido com prisão de 2 a 12
dias. anos e multa até 150 dias, se pena mais grave lhe não couber por força de outra
disposição legal.
ARTIGO 20º 2. Se o titular de cargo político der de empréstimo, empenhar ou de qualquer
(Isenção de pena) forma onerar valores ou objectos referidos no nº 1, com a consequência de poder
1. O titular de cargo político que nos casos previstos nos artigos 17º e 18º, prejudicar o Estado ou o seu proprietário, será punido com prisão até 3 anos e
voluntariamente repudiar promessa ou oferecimento que tenha aceite, ou restituir multa até 80 dias.
o que ilegalmente tenha recebido antes de praticado o acto ou de consumada a 3. O titular de cargo político que der a dinheiro público um destino para uso
omissão, ficará isento de pena. público diferente daquele a que estiver legalmente afectado, será punido com
2. O infractor que nos casos previstos nos artigos 17º e 18º, participe o crime prisão até 18º meses ou multa de 20 a 50 dias, salvo caso devidamente justificado.
às autoridades competentes antes que qualquer outro co-infractor o tenha feito ou
ARTIGO 23º
antes que se tenha iniciado investigação oficial ou procedimento criminal, fica
isento de pena, sendo irrelevante a participação simultânea do facto. (Peculato por erro de outrem)
O titular do cargo político que no exercício das suas funções, mas aproveitando-
90 se de erro de outrem, receber, para si ou para terceiro, taxas, emolumentos ou 91
Colectânea de Legislação de Direito Penal Cargos Políticos
outras importâncias não devidas, ou superior às devidas, será punido com prisão 3. O procedimento criminal depende de queixa da entidade que superintenda,
até 3 anos ou multa até 150 dias. ainda que a título de tutela, no órgão de que o infractor seja titular, ou do ofendido,
salvo se esse for o Estado.
ARTIGO 24º
(Abuso de poderes) CAPÍTULO III
1. O titular de cargo político que abusar dos poderes ou violar os deveres DOS EFEITOS DAS PENAS
inerentes às suas funções, com o objectivo de receber, para si ou para terceiro,
benefício ilegítimo ou de causar prejuízo a outrem, nomeadamente ao Estado, será ARTIGO 28º
punido com prisão de 6 meses a 3 anos ou multa de 50 a 100 dias, se outra pena (Efeito das penas aplicadas ao Presidente da República)
mais grave não se lhe aplicar por força de outra disposição legal. A condenação definitiva do Presidente da República por crime de responsa-
2. Incorre nas penas previstas no número anterior o titular de cargo político que bilidade cometido no exercício das suas funções implica a destituição do cargo e
efectuar fraudulentamente concessões ou celebrar contratos em benefícios de a impossibilidade de reeleição, após verificação pelo Supremo Tribunal de Justiça
terceiro ou prejuízo de Estado. da ocorrência dos correspondentes pressupostos constitucionais legais.
ARTIGO 31º
ARTIGO 27º
(Efeitos de pena aplicadas a outros titulares de cargos políticos
(Violação de segredo)
de natureza não electiva)
1.O titular de cargo político que sem estar devidamente autorizado, revelar
Implica de direito a respectiva demissão com as consequências constitucionais
segredo de que tenha tido conhecimento ou lhe tenha sido confiado no exercício
e legais a condenação definitiva por crime de responsabilidade no exercício das
das suas funções, com a intenção de obter, para si ou para outrem, um benefício
suas funções dos seguintes titulares de cargos políticos:
legítimo ou de causar um prejuízo do interesse público ou de terceiros, será punido
a) Presidente do Supremo Tribunal;
com prisão até 3 anos ou multa de 100 a 200 dias.
b) Procurador Geral da República;
2. A violação de segredo prevista no nº 1, será punida mesmo quando praticada
c) Presidente do Tribunal de Contas;
depois de o titular de cargo político ter deixado de exercer as suas funções.
d) Membros do Governo;
92 e) Governador de Região. 93
Colectânea de Legislação de Direito Penal Cargos Políticos
CAPÍTULO V CAPÍTULO VI
DA RESPONSABILIDADE CIVIL EMERGENTE DE CRIME DISPOSIÇÃO FINAL
DE RESPONSABILIDADE DE TITULARES DE CARGO POLÍTICO
ARTIGO 44º
ARTIGO 40º (Norma revogatória)
(Princípios gerais) São revogadas todas as disposições legais e regulamentares contrárias à presente
1. A indemnização por perdas e danos emergentes de crime de responsabilidade lei.
praticado por titular de cargo político no exercício das suas funções rege-se pela
lei civil. ARTIGO 45º
2. O Estado responde solidariamente com o titular de cargo político pelas (Entra em vigor)
perdas e danos emergentes dos crimes referidos no número anterior. A presente lei entra imediatamente em vigor, após a sua publicação no Boletim
3. O Estado em direito de regresso contra o titular de cargo político por crime Oficial.
de responsabilidade cometido no exercício das suas funções de que resulte
obrigação de indemnizar. Aprovada em 11 de Agosto de 1997.
4.O Estado ficará sub-rogado no direito do lesado à indemnização, nos termos O Presidente da Assembleia Nacional Popular, Malam Bacai Sanha.
gerais, até ao montante que tiver satisfeito.
Promulgada em 24 de Novembro de 1997.
ARTIGO 41º O Presidente da República, João Bernardo Vieira.
(Dever de indemnizar)
1. Nos termos gerais do direito, a absolvição do titular de cargo político pelo
Tribunal Criminal não extingue o dever de indemnizar não conexo com a res-
ponsabilidade criminal podendo a respectiva indemnização ser requerida através
de Tribunal Civil.
2. Sem prejuízo do número anterior, quando o tribunal absolva o réu na acção
penal por força da atenção especial prevista na presente lei, poderá, contudo
arbitrar ao ofendido uma quantia que, em seu juízo, considere razoável e justi-
ficada como reparação por perdas e danos.
ARTIGO 42º
(Opção do foro)
O pedido de indemnização por perdas e danos conexos com crime de res-
ponsabilidade praticado por titular de cargo político no exercício das suas funções
pode ser deduzido no processo em que corre acção penal ou requerido, separada-
mente, em acção intentada no Tribunal Civil.
ARTIGO 43º
(Regime de prescrição)
O direito à indemnização prescreve nos mesmos prazos do procedimento
criminal.
96 97
Colectânea de Legislação de Direito Penal Legislação Relativa a Estupefacientes
TÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS
ARTIGO 1º
(Direito das convenções e tabelas)
l. As normas do presente decreto-lei são interpretadas de harmonia com as
convenções relativas a estupefacientes, substâncias psicotrópicas ou precursores,
ratificadas ou a ratificar pela Guiné-Bissau.
2. As referências neste decreto-lei a tabelas de estupefacientes, substâncias
psicotrópicas ou precursores entendem-se reportadas às tabelas anexas as quais são
obrigatoriamente actualizadas nos termos aí previstos.
1
98 1º Suplemento ao B.O. nº 43, de 28 de Outubro de 1993. 99
Colectânea de Legislação de Direito Penal Legislação Relativa a Estupefacientes
ARTIGO 2º ARTIGO 5º
(Definições) (Equipamentos, materiais e precursores)
No presente decreto-lei: 1. Quem, sem se encontrar autorizado, produzir, fabricar, extrair, preparar,
a) As expressões “abuso de droga” e “uso ilícito” significam o uso de drogas oferecer, puser à venda, vender, distribuir, comprar, ceder ou por qualquer título
proibidas e o uso sem receita médica de outras drogas colocadas sob controlo no receber, proporcionar a outrem, transportar, importar exportar, fizer transitar
território nacional; equipamentos, materiais ou substâncias inscritas na tabela IV, sabendo que são ou
b) O termo “toxicodependente” designa a pessoa em estado de dependência vão ser utilizados no cultivo, produção ou fabrico ilícitos de estupefacientes ou
física e ou psíquica em face de uma droga colocada sob controlo no território substâncias psicotrópicas, é punido com pena de prisão de l a 10 anos.
nacional. 2. Quem, sem se encontrar autorizado, detiver, a qual quer título, equipamentos,
materiais ou substâncias inscritas na tabela IV, sabendo que são ou vão ser
TÍTULO II utilizados no cultivo, produção ou fabrico ilícitos de estupefacientes ou substâncias
PRODUÇÃO E TRÁFICO ILÍCITOS DE SUBSTÂNCIA SOB CONTROLO psicotrópicas, é púnico com pena de prisão de 1 a 5 anos.
3. Se o agente beneficia de autorização, é punido:
CAPÍTULO I
a) No caso do nº l, com pena de prisão de l a 12 anos;
INCRIMINAÇÕES E PENAS PRINCIPAIS
b) No caso do nº 2, com pena de prisão de l a 8 anos.
ARTIGO 3º
ARTIGO 6º
(Drogas de alto risco)
(Conversão, transferência ou dissimulação de bens ou produtos)
1. Quem, sem se encontrar autorizado, cultivar, produzir, fabricar, extrair,
1. Quem, sabendo que os bens ou produtos são provenientes da prática, sob
preparar, oferecer, puser à venda, vender, distribuir, comprar, ceder ou por qual-
qualquer forma de comparticipação, de infracção prevista nos artigos 3º, 4º, 5º,
quer título receber, proporcionar a outrem, transportar, importar, fizer transitar
8º e 9º:
ou ilicitamente detiver, fora dos casos previstos no artigo 20º, plantas, substâncias
a) Converte, transfere, auxilia ou facilita alguma operação de conversão ou
ou preparações compreendidas nas tabelas I e II, é punido com pena de prisão de
* transferência desses bens ou produtos, no todo ou em parte, directa ou indirectamente,
a 12 anos.
com o fim de ocultar ou dissimular a sua origem ilícita ou de auxiliar uma pessoa
2. Quem agindo em contrário de autorização concedida, ilicitamente ceder,
implicada na prática de qualquer uma dessas infracções a eximir-se às consequências
introduzir ou diligenciar por que outrem introduza no comércio plantas, substâncias
jurídicas dos seus actos, é punido com pena de prisão de 2 a 12 anos;
ou preparações referidas no número anterior, é punido com pena de prisão de 3
b) Oculta ou dissimula a verdadeira natureza, origem, localização, disposição,
a 15 anos.
movimentação, propriedade desses bens ou produtos ou de direitos a eles relativos,
3. Na pena prevista no número anterior aquele que cultivar plantas, produzir
é punido com pena de prisão de 2 a 10 anos;
ou fabricar substâncias ou preparações diversas das que constam do título de
c) Os adquire ou recebe a qualquer título utiliza, detém ou conserva, é punido
autorização.
com pena de prisão de l a 5 anos.
2. A punição pelos crimes previstos no número anterior não excederá a aplicável
às correspondentes infracções dos artigos 3º a 5º, 8º e 9º.
*
100 O texto que consta do Boletim Oficial não apresenta este valor 101
Colectânea de Legislação de Direito Penal Legislação Relativa a Estupefacientes
3. A punição pelos crimes previstos no nº l tem lugar ainda que os factos ARTIGO 8º
referidos nos artigos 3º a 5º, 8º e 9º, hajam sido praticados fora do território (Traficante-consumidor)
nacional. 1. Quando, pela prática de algum dos factos referidos no artigo 3º, o agente tiver
por finalidade exclusiva conseguir plantas, substâncias ou preparações para uso
CAPÍTULO II pessoal, a pena é de prisão até 2 anos.
AGRAVAÇÃO DAS PENAS 2. A tentativa é punível.
3. Não é aplicável o disposto no nº l, mas as deposições gerais deste diploma,
ARTIGO 7º quando o agente detiver plantas, substâncias ou preparações em quantidade que
(Causas de agravação) exceda a necessária para o consumo médio individual durante o período de 5 dias.
As penas previstas nos artigos 3º a 6º, são aumentadas de um quarto nos seus
limites mínimo e máximo se: ARTIGO 9º
a) As substâncias ou preparações foram entregues ou se destinavam a menores (Abuso do exercido de profissão)
ou diminuídos psíquicos; 1. As penas previstas nos artigos 3º e 4º são aplicadas ao médico que passe
b) As substâncias ou preparações foram distribuídas por grande número de receitas, ministre ou entregue substâncias ou preparações aí indicadas, com fim
pessoas; não terapêutico.
c) O agente obteve ou procurava obter avultada compensação remuneratória; 2. As mesmas penas são aplicadas ao farmacêutico ou a quem o substitua na
d) O agente for funcionário incumbido da prevenção ou repressão dessas sua ausência ou impedimento que vender ou entregar aquelas substâncias ou
infracções; preparações para fim não terapêutico.
e) O agente for médico, farmacêutico ou qualquer outro técnico de saúde, 3. Em caso de condenação nos termos dos números anteriores, o tribunal
funcionário das alfândegas, dos serviços prisionais ou dos serviços de reinserção comunica as decisões à Ordem dos Médicos, à Ordem dos Farmacêuticos e ao
social, trabalhadores dos correios, telégrafos, telefones ou telecomunicações, Ministério da Saúde.
docente, educador ou trabalhador de estabelecimento de educação ou trabalhador
de serviços ou instituições de acção social, e o facto for praticado no exercício da ARTIGO 10º
sua profissão; (Associações criminosas)
f) O agente participar em outras actividades criminosas organizadas, de âmbito l. Quem promover, fundar ou financiar grupo, organização ou associação de
internacional; duas ou mais pessoas que actuando concertadamente, vise praticar algum dos
g) O agente participar em outras actividades ilegais facilitadas pela prática da
crimes previstos nos artigos 3º a 6º, é punido com pena de prisão de 4 a 10 anos.
infracção;
2. Quem prestar colaboração, directa ou indirecta, aderir ou apoiar o grupo,
h) A infracção tiver sido cometida em instalações de serviço de tratamento de
organização ou associação referidos no número anterior, é punido com pena de
consumidores de droga, de reinserção social, de serviços ou instituições de acção
prisão de l a 5 anos.
social, em estabelecimento prisional, unidade militar, estabelecimento de educação,
3. Incorre na pena de 6 a 14 anos de prisão quem chefiar ou dirigir grupo,
ou em outros locais onde os alunos ou estudantes se dediquem à prática de
organização ou associação referidos o nº l.
actividades educativas, desportivas ou sociais, ou na sua imediações;
4. Se o grupo, organização ou associação tiver como finalidade ou actividade
i) O agente utilizar a colaboração, por qualquer forma, de menores ou de
a conversão, transferência, dissimulação ou receptação de bens ou produtos dos
diminuídos psíquicos;
crimes previstos nos artigos 3º a 6º, o agente é punido:
j) O agente actuar como membro de bando destinado a prática reiterada dos
a) Nos casos dos nºs l e 3, com pena de prisão de 2 a 6 anos;
crimes previstos nos artigos 3º a 6º, com colaboração de, pelo menos, outro
b) No caso do nº 2, com pena de prisão de l a 6 anos.
membro de bando;
l) As substâncias ou preparações foram corrompidas, alteradas ou adulteradas,
por manipulação ou mistura, aumentando o perigo para a vida ou para a integridade
102 física de outrem. 103
Colectânea de Legislação de Direito Penal Legislação Relativa a Estupefacientes
os documentos que facilitem a sua prova ou a culpabilidade dos seus autores, sem com o país ou países destinatários e outro eventuais países de trânsito, a identi-
que o segredo possa ser invocado. ficação e arguição do maior número de participantes nas diversas operações de
tráfico e distribuição, mas sem prejuízo de exercício da acção penal pelos factos
ARTIGO 29º aos quais a lei nacional é aplicável.
(Revista e perícia) 2. A autorização só é concedida a pedido de país destinatário, desde que:
l. Quando houver indícios sérios de quem alguém oculta ou transporta no seu a) Seja conhecido detalhadamente o itinerário provável dos portadores e a
corpo estupefacientes ou substâncias psicotrópicas é ordenada revista e, se identificação suficiente destes;
necessário, proceder-se a perícia. b) Seja garantida pelas autoridades competentes dos países de destino e dos
2. O visado pode ser conduzido a unidade hospitalar ou a outro estabelecimento países de trânsito a segurança das substâncias contra riscos de fuga ou extravio;
adequado e aí permanecer pelo tempo estritamente necessário à realização da c) As autoridades judiciárias competentes dos países de destino ou de trânsito
perícia. se comprometam a comunicar, com urgência, informação pormenorizada sobre
3. A revista é efectuada pelo funcionário habilitado a constar a infracção, o qual os resultados da operação e os pormenores da acção desenvolvidas por cada um
relatará por escrito à autoridade judiciária competente, no prazo máximo de 48 dos agentes da prática dos crimes, especialmente dos que agiram na Guiné-Bissau.
horas, o resultado da diligência. 3. Apesar de concedida a autorização mencionada anteriormente, a Policia
4. Quem, depois de devidamente advertido das consequências penais do seu Judiciária intervém se as margens de segurança tiverem diminuído sensivelmente,
acto, se recusar a ser submetido a revista ou a perícia autorizada nos termos do se se verificar alteração imprevista de itinerário ou qualquer outra circunstância
número anterior, é punido com pena de prisão até 2 anos. que dificulte a futura apreensão das substâncias e a captura dos agentes: se aquela
intervenção não tiver sido comunicada previamente à entidade que concede a
ARTIGO 30º autorização, é-o nas 24 horas seguintes, mediante relato escrito.
(Sistema financeiro e bancário) 4. Por acordo com o país de destino, as substâncias em trânsito podem ser
1. Sempre que haja indícios sérios de que um individuo suficientemente substituídas parcialmente por outras inócuas, de tal se lavrando o respectivo auto.
identificado utiliza ou utilizou o sistema financeiro, bancário ou instituições simi- 5. Os contactos internacionais podem ser efectuados através do Gabinete
lares, para efectuar operações relacionadas com prática das infracções previstas Nacional da Interpol.
nos artigos 3º a 6º e 10º, a autoridade judiciária competente pode autorizar, sem 6. Qualquer entidade que receba pedidos de entregas controladas canaliza-os
que o segredo profissional ou bancário lhe possa ser oposto: imediatamente para a Polícia Judiciária para execução.
a) A colocação sob vigilância, por período determinado, de contas bancárias;
b) O acesso por período determinado a sistema informáticos usados naquelas ARTIGO 32º
operações; (Prisão preventiva)
c) A exibição ou fornecimento de quaisquer informações ou documentos l. Sempre que o crime imputado for de tráfico de droga desvio de precursores,
financeiros, bancários, fiscais ou comerciais. branqueamento de capitais ou de associação criminosa, e o arguido se encontre
2. Os estabelecimentos financeiros bancários e instituições similares, públicos preso preventivamente, ao ponderar a sua libertação, o juiz tomará especialmente
ou privados, podem, por sua iniciativa, alertar as autoridades judiciárias com- em conta os recursos económicos do arguido utilizáveis para suportar a quebra da
petentes sobre as operações que suspeitem relacionadas com a prática das caução e o perigo de continuação da actividade criminosa, em termos nacionais
infracções referidas no nº l, não constituindo tal procedimento uma violação do e internacionais.
segredo profissional ou bancário, nem implicando responsabilidade civil. 2. Antes de se pronunciar sobre a subsistência dos pressupostos da prisão
preventiva, o juiz recolherá a informação actualizada que possa interessar ao
ARTIGO 31º reexame daqueles pressupostos.
(Entregas controladas)
l. Pode ser autorizada, caso a caso, pelo Ministério Público, a não actuação da
Policia Judiciária sobre os portadores de substâncias estupefacientes ou psicotrópicas
110 em trânsito por Guiné-Bissau com a finalidade de proporcionar, em colaboração 111
Colectânea de Legislação de Direito Penal Legislação Relativa a Estupefacientes
CAPÍTULO III 4. No prazo de 5 dias após a junção do relatório do exame laboratorial, a auto-
DISPOSIÇÕES DE NATUREZA INVESTIGATÓRIA ridade judiciária competente ordena a destruição da droga remanescente, despacho
que é cumprido em período não superior a 30 dias, ficando a droga até à destruição,
ARTIGO 33º guardada em cofre forte.
(Investigação criminal) 5. A destruição da droga faz-se por incineração, na presença de um magistrado,
A investigação do tráfico ilícito de plantas, substâncias, preparações e pre- de um funcionário designado para o efeito, de um técnico de laboratório, lavrando-
cursores compreendidos nas tabelas anexas ao presente diploma é da competência -se o auto respectivo; numa mesma operação de incineração podem realizar-se
exclusiva da Polícia Judiciária. destruições de droga apreendida em vários processos.
6. Proferida decisão definitiva, o tribunal ordena a destruição da amostra
ARTIGO 34º guardada em cofre, o que se fará com observância do disposto no nº 5, sendo-lhe
(Conduta não punível) remetida cópia do auto respectivo.
1. Não é punível a conduta do funcionário de investigação criminal que, para
fins de inquérito e sem revelação da sua qualidade e identidade, aceitar directamente ARTIGO 37º
ou por intermédio de um terceiro a entrega de estupefacientes ou substâncias (Amostras pedidas por entidades estrangeiras)
psicotrópicas. 1. Podem ser enviadas amostras de substâncias e preparações que tenham sido
2. O relato de tais factos é junto ao processo no prazo máximo de 24 horas. apreendidas, a solicitação de entidades estrangeiras, para fins científicos ou de
investigação, mesmo na pendência do processo.
ARTIGO 35º 2. Para o efeito, o pedido é transmitido à autoridade judiciária competente, que
(Protecção das fontes de informação) decidirá sobre a sua satisfação.
1. Nenhum funcionário de investigação criminal, declarante ou testemunha, é 3. O pedido pode ser apresentado através do Gabinete Nacional da Interpol.
obrigado a revelar ao tribunal a identificação ou qualquer elemento que leve à
identificação de alguém que tenha auxiliado a polícia na descoberta de infracção ARTIGO 38º
prevista no presente diploma. (Comunicação de decisões)
2. Se, no decurso da audiência de julgamento, o tribunal se convencer que a 1. São comunicadas à Entidade Coordenadora do Combate à Droga todas as
pessoa que auxiliou a polícia transmitiu dados ou informações que sabia ou devia apreensões de plantas, substâncias e preparações compreendidas nas tabelas I a IV.
saber serem falsos, pode obrigar à revelação da sua identidade e à inquirição em 2. Os tribunais enviam à mesma Entidade cópia das decisões proferidas em
audiência dela. processo-crime por infracções previstas no presente diploma.
3. Na situação prevista na parte final do número anterior, o presidente do
tribunal pode decidir a exclusão ou restrição da publicidade da audiência. TÍTULO V
COORDENAÇÃO NACIONAL E COOPERAÇÃO INTERNACIONAL
CAPÍTULO IV NA LUTA CONTRA O TRÁFICO ILÍCITO
DESTRUIÇÃO DE DROGA E RECOLHA DE AMOSTRAS
ARTIGO 39º
ARTIGO 36º (Coordenação do combate à droga)2
(Exame e destruição das substâncias) l. Será criada, na dependência do Primeiro-ministro, uma Comissão Nacional
l. As plantas, substâncias e preparações apreendidas são examinadas, por ordem com a finalidade de propor as estratégias e coordenar as acções políticas emanadas
da autoridade judiciária competente, no mais curto prazo de tempo possível. do Governo em todos os domínios do combate à droga, sendo a sua composição
2. Após o exame laboratorial, o perito procede recolha, identificação, pesagem e atribuição objecto de decreto.
– bruta e líquida –, acondicionamento e selagem de uma amostra, no caso de a
quantidade de droga o permitir, e do remanescente, se o houver.
3. A amostra fica guardada em cofre do organismo que procede à investigação 2
A Comissão Interministerial de Combate à Droga, foi criada pelo Decreto nº 11/94
112 até decisão final. de 14 de Fevereiro, publicado no Boletim Oficial nº 7 de 14 de Fevereiro de 1994. 113
Colectânea de Legislação de Direito Penal Legislação Relativa a Estupefacientes
TABELA II
TABELA III
LEI FLORESTAL
[...]
ARTIGO 26º
(Abate de árvores)
1. O abate total ou parcial de árvores ou de vegetação arbórea situadas em
terrenos agrícolas, ou em terrenos delimitados circundando uma habitação, um
edifício industrial, comercial ou administrativo pode ser efectuado com dispensa
de autorização da Direcção Geral das Florestas e Caça e sem pagamento de
qualquer taxa, desde que o arvoredo abatido se destine à utilização do próprio.
Quando se destina à utilização por terceiros terá o respectivo proprietário que
requerer à Direcção Geral das Florestas e Caça autorização prévia de abate e
proceder ao pagamento das taxas em vigor e efectuar a venda de acordo com as
tabelas vigentes.
2. O abate total ou parcial de árvores ou de vegetação arbórea do domínio
florestal da Guiné-Bissau situadas em terrenos cedidos pelo Estado para fins
agrícolas, está sujeito à vistoria e autorização prévia da Direcção Geral das
Florestas e Caça, sendo a autorização de abate concedida mediante o pagamento
das taxas aplicadas às concessões florestais.
[...]
ARTIGO 41º
(Arroteamento)
1. Os arroteamentos no domínio florestal serão submetidos a autorização prévia
do Serviço Florestal ou de outra autoridade definida em diploma regulamentar.
2. Existe arroteamento nos termos do presente diploma quando a vegetação
arbórea ou arbustiva de um terreno de domínio florestal é cortada, arrancada ou
destruída por qualquer processo, incluindo queimadas, com vista a dar ao solo
outra afectação.
*
120 Suplemento ao B.O. nº 43, de 29 de Outubro de 1991. 121
Colectânea de Legislação de Direito Penal Sanções Relativas à Devastação das Florestas
3. O corte ou a destruição por qualquer processo, de vegetação arbórea ou 2. O confisco ou a restituição das madeiras ou outros produtos florestais é
arbustiva de um terreno do domínio florestal previamente à sua exploração obrigatório. Em caso de reincidência os utensílios, veículos ou máquinas empregues
temporária para fins agrícolas não é constitutiva de arroteamento quando forem na prática da infracção serão confiscadas.
seguidos por uma regeneração natural ou por repovoamento.
4. Um diploma regulamentar aprovado em conselho de Ministros proporá ARTIGO 55º
normas relativas ao exercício das actividades de agricultura itinerante. (Arroteamento ilegal)
1. Os autores das infracções ao disposto no artigo 41º do presente diploma
[...] relativas ao arroteamento, serão punidos com uma pena de prisão de 6 meses até
1 ano e sujeitos ao pagamento de multa cujo montante será igual ao dobro da taxa
ARTIGO 44º de arroteamento que deveria ter sido legalmente paga.
(Utilização do fogo para prevenção contra os incêndios florestais, 2. O confisco ou a restituição das madeiras ou produtos florestais abatidos é
arroteamento e em terrenos agrícolas) obrigatória. Em caso de reincidência os utensílios, veículos ou máquinas empregues
1. O recurso à prática dos fogos controlados, efectuados em período conve- na prática da infracção serão confiscadas.
nientes, fogos precoces, com vista à destruição prévia de material, combustível, 3. A parcela arroteada deverá ser repovoada.
como medida preventiva de ocorrência de fogos florestais, poderá ser efectuada
desde que autorizada pela Direcção Geral das Florestas e Caça e sempre sob super- ARTIGO 56º
visão de técnicos e meios considerados necessários à boa execução de tal prática. (Infracções às disposições relativas à protecção e a luta
2. O ateamento do fogo por efeitos de arroteamento deverá ser sempre feito da contra os incêndios e queimadas)
presença do titular da autorização e após declaração prévia junto do presidente da 1. O ateamento de incêndios ou queimadas nos terrenos do domínio florestal da
secção ou das secções interessadas. O titular da autorização é responsável pela Guiné-Bissau, desde que não tenha lugar nos termos permitidos pela lei, é punido
prorrogação do fogo se houver negligência da sua parte.
com uma pena de prisão de 2 anos até 3 anos e com uma multa de 100.000.00 PG
3. O ateamento de fogo em terrenos agrícolas ou utilizados unicamente para fins
até 1.000.000.00 PG/ha uma destas somente. A pena de prisão neste caso não é
pastoris deverá ser sempre feita na presença do chefe da tabanca em nome da qual
remível nem pode ser suspensa.
os terrenos estão registados ou do proprietário ou concessionário da exploração e
2. O ateamento de incêndios ou queimadas por negligência nos terrenos do
após declaração prévia junto do presidente da secção e do responsável florestal
domínio florestal da Guiné-Bissau, é punido com pena de 3 meses até 6 meses e
territorialmente competente. O chefe da tabanca, o proprietário ou concessionário
sujeitos ao pagamento de uma multa de 50.000.00 PG/há, cumulativa ou alterna-
da exploração, segundo os casos, serão responsáveis pela propagação do fogo se
tivamente, de acordo com a extensão dos danos ou prejuízos causados.
houver negligência da sua parte.
3. Quem, ao atear um fogo para fins de arroteamento, de preparação de terrenos
4. O titular da autorização de arroteamento, o chefe da tabanca, proprietário ou
agrícolas ou utilizados unicamente para fins pastoris não tiver respeitado os pro-
concessionário da exploração florestal, segundo os casos, deverão adoptar as
medidas necessárias para evitar a propagação do fogo. Estas medidas incluirão a cedimentos referidos no artigo 44º, nº 3, será punido com uma multa de 50.000.00
presença de uma brigada de luta contra os incêndios. PG/ha até 500.000.00 PG/há.
ARTIGO 60º
(Remissão de penas)
1. Por decreto do Conselho de Ministros serão determinadas as condições de
remissão das penas, definidas pelo presente diploma, e que devem consistir em
fornecimento de bens ou prestações de serviços fixando-se igualmente o valor
compensatório dos mesmos.
2. Indicar-se-á sempre aos infractores beneficiários das penas:
a) A natureza do fornecimento em bens ou tipo de serviço e trabalhos a prestar;
b) O lugar de realização dos trabalhos;
c) O prazo de pagamento ou de prestação dos serviços ou execução dos trabalhos
assim como as condições de supervisão destes.
ARTIGO 61º
(Regras processuais e de competência)
Salvo disposição em sentido contrário, são aplicadas no âmbito do presente
diploma as normas processuais de competência dos tribunais em vigor na Guiné-
-Bissau.
124 125
Colectânea de Legislação de Direito Penal Lei do Inquilinato
[...]
ARTIGO 73º
O arrendatário não pode cobrar do subarrendatário renda superior à devida pelo
contrato de arrendamento, acrescida de 20% na sublocação total e 10% na parcial.
[...]
CAPÍTULO V
DISPOSIÇÕES FISCAIS
ARTIGO 107º
l. Quando o arrendamento for reduzido a escrito particular, deve o senhorio
apresentar na respectiva repartição ou delegação do Ministério das Finanças, três
exemplares referidos no nº 3 do artigo 5º do Decreto nº 30.117, de 8 de Dezembro
de 1939, dentro dos dez dias posteriores à data da celebração do contrato, apondo
o selo no triplicado.
2. Quando o arrendamento for reduzido a escritura pública, o imposto do selo
será pago pela forma prescrita na respectiva lei e o notário enviará ao Ministério
das Finanças, cópia do contrato, em papel comum, até ao dia 10 do mês seguinte
ao da sua celebração.
ARTIGO 108º
A importância da renda anual servirá de base, nas repartições ou delegações de
Finanças, à fixação do rendimento ilíquido do prédio para efeito da liquidação,
lançamento e cobrança da contribuição predial, salvo se for inferior ao rendimento
inscrito na matriz.
*
126 2º Suplemento ao B.O. nº 23, de 9 de Junho de 1989. 127
Colectânea de Legislação de Direito Penal Crimes Contra a Economia Nacional
CAPÍTULO VI
DISPOSIÇÕES PENAIS
Lei nº 1/79*
ARTIGO 109º
A inobservância do preceituado no artigo 107º será punida nos termos Crimes contra a Economia Nacional
actualmente vigentes.
Para o desenvolvimento económico do nosso país e a construção duma economia
ARTIGO 110º nacional independente é necessário transformar a realidade objectiva do atraso em
que foi deixado o nosso povo e criar as bases indispensáveis à edificação duma vida
Constitui crime de especulação, punível nos termos da legislação respectiva:
nova livre de exploração para o seu bem estar e progresso do nosso País.
a) A recusa do recibo da renda paga;
Considerando que se tem registado atentados contra a nossa economia;
b) O facto de o senhorio ou o arrendatário sublocador de casa destinada a
Considerando a necessidade de adoptar medidas enérgicas tendentes a desen-
habitação receber do seu inquilino, a título de cedência de chave ou qualquer outro, corajar toda e qualquer acção contra a economia nacional;
recompensa ou remuneração que não seja a renda; A Assembleia Nacional Popular, no uso das faculdades atribuídas pelos artigos
c) O facto de o arrendatário receber qualquer quantia, que não constitua 28º e 29º da Constituição, decreta e eu promulgo a lei seguinte:
indemnização ou compensação legal, pela extinção do arrendamento ou pela
cessão do local em caso que seja o de trespasse; ARTIGO 1º
d) A infracção, por parte do arrendatário sublocador, ao disposto no artigo 73º. (Conceito)
É crime contra a economia nacional a violação voluntária das directrizes gerais
[...] dos órgãos superiores do PAIGC sobre o funcionamento da economia do País, das
leis, regulamentos e decisões estatais assim como das prescrições dos órgãos
colectivos de gestão, nomeadamente, sobre a condução dos negócios, a organização
do trabalho, a utilização do património social ou os cuidados a serem tomados com
o referido património social.
ARTIGO 2º
(Tentativa)
A tentativa da prática de crime contra a economia nacional será punida como
se de crime consumado se tratasse.
ARTIGO 3º
(Cumplicidade e encobrimento)
A cumplicidade e o encobrimento de crime contra a economia nacional é
equiparada à autoria.
ARTIGO 4º
(Irremissibilidade da pena)
A pena de trabalho produtivo obrigatório nos crimes contra a economia nacional
não é remível nem pode ser suspensa.
*
128 Suplemento ao B.O. nº 22, de 8 de Junho de 1979. 129
Colectânea de Legislação de Direito Penal Crimes Contra a Economia Nacional
ARTIGO 5º ARTIGO 8º
(Falência ou insolvência) (Delapidação de bens do Estado)
1. Aquele que, dolosamente cause a falência ou insolvência de uma organização Aquele que, numa organização económica do Estado ou com interesse económico
económica do Estado, ou com interesse económico estatal, ou em que o Estado estatal ou que o Estado tenha participação, maliciosamente ou com culpa grave
tenha participação, será punido com trabalho produtivo obrigatório de oito a doze danificar, deixar danificar total ou parcialmente, mercadorias, produtos, bens e
anos, e demitido. equipamentos, nomeadamente, fontes de energia, carros, tractores, jangadas ou
2. Se o crime previsto no número um tiver sido meramente culposo, indepen- outras unidades frota terrestre, marítima ou aérea, pertencentes às organizações
dentemente de toda a intenção maléfica, o autor será punido com trabalho produtivo referidas, será condenado nas seguintes penas:
obrigatório de dois a oito anos e demitido. a) De 2 a 8 anos de trabalho produtivo obrigatório se o valor não for superior
a 500.000.00 PG;
ARTIGO 6º b). De 8 a 12 anos de trabalho produtivo obrigatório se o valor for superior a
(Contratos manifestamente prejudiciais) 500.000.00 PG e inferior a 1.000.000.00 PG;
1. Aquele que, numa organização económica do estado, ou com interesse c) De 12 a 15 anos de trabalho produtivo obrigatório se o valor for superior a
económico estatal, ou em que o estado tenha participação, voluntariamente, 1.000.000.00 PG;
outorgue contratos manifestamente prejudiciais para a organização ou contrários d) Como pena acessória do crime previsto no corpo deste artigo o Tribunal
aos seus poderes e por esse facto cause prejuízos ao Estado, será punido com pena decretará a reposição total do património social lesado.
de trabalho produtivo obrigatório de dois a oito anos e demitido. e) Se o crime tiver sido meramente culposo, independentemente de toda a
2. Se em virtude do crime previsto no número anterior resultarem prejuízos intenção maléfica, o autor será unicamente condenado na reposição total do
iguais ou superiores a um milhão de pesos o autor será punido com trabalho património social lesado.
produtivo obrigatório de oito a doze anos e demitido.
ARTIGO 9º
ARTIGO 7º (Tráfico de divisas)
(Uso indevido de poderes de gestão) 1. Aquele que, contrariando as prescrições em vigor, compre, venda ou troque
1. Aquele que, numa organização económica do Estado, ou com interesse dinheiro em ouro, moeda estrangeira, divisas ou metais preciosos ou que no intuito
económico estatal ou em que o Estado tenha participação, no intuito de obter de revenda compre ou venda, sem autorização, obras feitas em metal precioso ou
vantagens patrimoniais ilícitas a alheias à sua organização, crie ou guarde no País objectos preciosos, será punido com trabalho produtivo obrigatório de 2 a 8 anos.
ou fora dele bens ou fundos ilícitos ou que falsifique documentos, balanços, 2. Se o autor do crime previsto no número anterior organizar uma rede de
inventários, ou que por qualquer forma use poderes de gestão patrimonial para revendedores ou de intermediários, ou se obtiver vantagens patrimoniais ilícitas
obter vantagens pessoais, ilícitas, será punido com trabalho produtivo obrigatório iguais ou superiores a um milhão de pesos, será punido com trabalho produtivo
de dois a oito anos e demitido. obrigatório de 6 a 10 anos.
2. Se em consequência do crime prejuízos para a organização em quantia 3. Como pena acessória do crime previsto no nº 1 o Tribunal decretará o
superior a um milhão de pesos, o autor será punido com trabalho produtivo confisco do objecto do crime.
obrigatório de oito a doze anos e demitido.
3. Como pena acessória do crime previsto no nº 1, o Tribunal decretará o ARTIGO 10º
confisco de todos os bens e fundos fraudulentamente adquiridos, ou a reposição 1. Aquele que, sem autorização, exportar, fizer exportar, importar ou fizer
integral dos valores desviados. importar, notas, moedas com curso legal no território nacional, será punido com
trabalho produtivo obrigatório de 2 a 8 anos.
2. Se em virtude do crime previsto no número anterior o valor for igual ou
superior a um milhão de pesos, o autor será punido com trabalho produtivo
obrigatório de 8 a 12 anos.
130 131
Colectânea de Legislação de Direito Penal Crimes Contra a Economia Nacional
CAPÍTULO I
DAS INFRACÇÕES E DAS PENAS
ARTIGO 1º
É equiparado a comerciante, para efeitos deste diploma, todo o individuo ou
colectividade que, mesmo acidentalmente, compre para revenda, por grosso ou
retalho.
ARTIGO 2º
Presume-se que aqueles que actuam em nome e por conta de outrem, procedem
em virtude de instruções recebidas, sem embargo da responsabilidade que
pessoalmente lhes possa caber.
ARTIGO 3º
As sociedades civis e comerciais são solidariamente responsáveis pelas multas
e indemnizações a que forem condenados os seus representantes ou empregados,
desde que estes tenham agido nessa qualidade ou no interesse da sociedade.
*
134 B.O. nº 20, de 14 de Maio de 1977. 135
Colectânea de Legislação de Direito Penal Infracções Antieconómicas e Contra a Saúde Pública
de certos produtos ou mercadorias, bem como a recusa de quaisquer elementos ARTIGO 26º
oficialmente exigidos para o mesmo fim, serão puníveis com prisão até 6 meses Sempre que a venda das mercadorias se processe por unidade de peso ou
e multa. medida, os estabelecimentos devem possuir, conforme os casos, balanças, pesos
§ único. – Quando houver mera negligência, a pena aplicável será a multa de e medidas legalmente aferidas.
2.000.00 a 10.000.00 PG. § único. – É obrigatória a pesagem ou a medição à vista do comprador, sempre
que este o exija.
ARTIGO 21º
Constitui crime de especulação: ARTIGO 27º
a) A venda de produtos ou mercadorias por preço superior ao legalmente A contravenção ao disposto no artigo anterior é punível com a multa de
fixado, ou na falta de tabelamento, com margem de lucro líquido superior à que 2.000.00 a 10.000.00 PG.
for legalmente estabelecida;
b) A alteração, sob qualquer pretexto ou por qualquer meio apropriado, dos ARTIGO 28º
preços que do regular exercício das actividades económicas o dos regimes legais São considerados como contravenções puníveis com multa de 2.000.00 a
em vigor, normalmente resultariam para mercadorias; 10.000.00 PG, quando não constituem crime de açambarcamento ou especulação:
c) A intervenção remunerada de um novo intermediário no ciclo normal de a) A falta de exposição, no estabelecimento do comerciante retalhista, dos
distribuição, ainda que não tenha havido lucro ilícito, salvo quando se mostre que géneros ou produtos de consumo cuja exibição corresponda aos usos do comércio
da intervenção não resultou qualquer aumento de preço. ou que seja superiormente determinada;
b) A falta de afixação, nos estabelecimentos da mesma natureza, da relação dos
ARTIGO 22º preços constantes da lista elaborada pelo Comissário do Comércio ou afixação de
Considera-se preço legalmente fixado para as mercadorias ou produtos, o que etiquetas nos artigos contrariamente à determinação da referida entidade.
lhes tenha sido atribuído em conformidade com o Decreto nº 21/77 que fixa o
regime de preços. ARTIGO 29º
O fabrico, comércio ou existência para comércio de produtos que, salvo os
ARTIGO 23º requisitos de sanidade, não satisfaçam as características legais constitui contravenção
Para efeitos de fiscalização de preços, os comerciantes organizarão a partir da punível com multa de 2.000.00 a 10.000.00 PG.
data da entrada em vigor do presente decreto:
a) Um livro de cálculo de preços de venda do qual conste todos os elementos ARTIGO 30º
necessários para o cumprimento do imposto no decreto; Todo aquele que, em prejuízo do abastecimento público, destruir quaisquer
b) Um arquivo em que figurarão as facturas e demais documentos que deram produtos ou mercadorias ou lhes der aplicação diferente da normal, será punido
origem aos lançamentos no livro mencionado na alínea anterior. com pena de multa de 10.000.00 a 100.000.00 PG.
§ 1º – Quando houver mera negligência, a pena aplicável será a de multa de
ARTIGO 24º 2.000.00 a 20.000.00 PG.
O crime de especulação será punível nos termos do artigo 20º. § 2º – Considera-se sempre feita em prejuízo do abastecimento público, a
utilização dos produtos ou mercadorias para fins diferentes dos impostos por lei.
ARTIGO 25º
É equiparado à tentativa de especulação, a existência para venda, de produtos ARTIGO 31º
que, por unidade, devem ter certo peso, quando seja inferior a esse mesmo peso. Quando a exportação de mercadorias estiver, por determinação publicada no
§ único. – Quando se mostre não ter havido propósito de obter lucro ilícito, o “Boletim Oficial” dependente de licença do Governo, a exportação ou reex-
facto a que se refere o artigo 25º constituirá mera contravenção, punível com multa portação não autorizada de mercadorias sujeitas a esse regime, será punida com
de 2.000.00 a 10.000.00 PG. a pena de prisão de três meses a dois anos e multa correspondente, sem prejuízo
140 141
Colectânea de Legislação de Direito Penal Infracções Antieconómicas e Contra a Saúde Pública
do procedimento a que houver lugar por contrabando, por desvio ou outras SECÇÃO II
infracções de natureza fiscal. DAS INFRACÇÕES CONTRA A SAÚDE PÚBLICA
§ 1º – A tentativa, bem como a frustração da infracção a que se refere este artigo
são sempre puníveis. ARTIGO 36º
§ 2º – Sempre que se verifique infracção ao condicionamento previsto no artigo Todo aquele que fabricar, manipular, armazenar, transportar ou vender géneros
31º, o respectivo auto de notícia será lavrado em duplicado remetendo-se uma das alimentícios infringindo as disposições fixadas na lei ou em regulamentos especiais
cópias à Procuradoria da República, e outra à entidade aduaneira competente, sob para salvaguardar o asseio e higiene, incorrerá na multa de 5.000.00 a 50.000.00
pena do disposto no § 2º do artigo 168º do Código do Processo Penal. PG.
§ único. – Será comunicada às competentes autoridades sanitárias todas as faltas
ARTIGO 32º ao dever geral da mesma natureza.
Sempre que o governo ordena a requisição de mercadorias consideradas indis-
pensáveis ao abastecimento das actividades produtoras ou transformadoras ou ao ARTIGO 37º
consumo público, a falta de cumprimento da requisição, nos termos estabelecidos, A falsificação de géneros alimentícios é punível:
é punível com prisão de três dias a seis meses e multa correspondente. a) Com prisão de três dias a dois anos e multa correspondente quando os géneros
falsificados sejam, por sua natureza, susceptíveis de prejudicar a saúde do
ARTIGO 33º consumidor;
O transporte de mercadorias sujeitas a condicionamento de trânsito sem a b) Com prisão de três dias a dois anos de multa quando, não sendo nocivas à
apresentação imediata ou dentro do prazo que razoavelmente for fixado para o saúde do consumidor, os géneros falsificados forem todavia, impróprios para o
efeito da guia de autorização, constitui contravenção punível com multa de consumo;
1.000.00 a 20.000.00 PG à qual acrescerá a perda da mercadoria nos caos que, c) Com multa de 2.000.00 a 50.000.00 PG quando sendo a falsificação nociva
atentos o fim de transporte e condicionalismo justificativo do regime do condi- à saúde, houver mera negligência do infractor.
cionalismo, revelar maior gravidade. § 1º – Considera-se género alimentício toda a substância ou preparado usado
§ único. – São considerados autores da infracção, o dono da mercadoria como alimento ou bebida humana, exceptuadas as drogas medicinais, bem como
transportada, bem assim as pessoas que o efectuaram. toda a substância utilizada na preparação ou composição dos alimentos humanos,
sem exclusão dos simples condimentos.
ARTIGO 34º § 2º – A falsificação compreende a substituição dos géneros alimentícios por
Sempre que certas actividades relativas a quaisquer produtos sejam limitadas, substâncias alimentares ou não, que imitam fraudulentamente as qualidades
por determinação publicada em decreto, às pessoas singulares ou colectivas daqueles (contrafacção) e bem assim a modificação, capaz de induzir o consumidor
inscritas em determinados organismos, a prática de actos sem a inscrição exigida em erro, da sua natureza, composição ou qualidade (alteração).
constitui contravenção punível com pena de multa de 1.000.00 a 25.000.00 PG.
ARTIGO 38º
ARTIGO 35º 1. A venda ou exposição à venda, bem como aquisição, transporte ou armazena-
Fica proibida a venda nos mercados municipais e postos de venda de produtos mento para comércio de géneros alimentícios falsificados, avariados ou corruptos,
importados salvo os que forem expressamente autorizados por despacho do são puníveis:
Comissário de Estado do Comércio e Artesanato. a) Com prisão de três dias a um ano de multa correspondente se os géneros
§ único. – A contravenção ao disposto ao número anterior, será punível com forem, por sua natureza susceptíveis de prejudicar a saúde do consumidor;
a multa de 2.000.00 a 40.000.00 PG. b) Com prisão de três a um ano de multa correspondente, se forem simplesmente
impróprias para consumo;
c) Com multa de 2.000.00 a 50.000.00 PG se o delito for ignorado do respectivo
responsável, por negligência.
142 143
Colectânea de Legislação de Direito Penal Infracções Antieconómicas e Contra a Saúde Pública
2. Presume-se que o transporte dos géneros falsificados, avariados ou corruptos ARTIGO 43º
é sempre feito para comércio quando esses géneros constituam objecto da actividade As autoridades competentes para proceder à instrução preparatória enviarão
normal do destinatário. sempre, e dentro do prazo de 48 horas, à Procuradoria da República, cópia dos
autos e denuncias relativas às infracções previstas no presente decreto, que será
ARTIGO 39º registada em livro próprio, ficando a aguardar a remessa dos respectivos processos.
1. É proibido expor produtos alimentares sem a respectiva identificação referente § único. – A falta de comunicação referida neste artigo é punível nos termos do
à natureza, origem, nome, qualidade e prazo de validade, quando isso for útil. § 2º do artigo 168º do Código de Processo Penal.
2. As faltas determinadas pelo não cumprimento do disposto no número anterior,
serão punidas com multa de 5.000.00 a 10.000.00 PG e, em caso de reincidência ARTIGO 44º
com trabalho obrigatório até um ano e multa de 50.000.00 PG. A apreensão de produtos ou mercadorias pode ter lugar quando necessária à
instrução do processo ou a concessão da ilicitude ou ainda nos casos de indícios
ARTIGO 40º de infracção capaz de importar a sua perda.
1. Todo o individuo que seja dono, gerente ou encarregado de um estabelecimento
em que se vendam produtos alimentares, tem por obrigação fiscalizar e rever, com ARTIGO 45º
assiduidade, esses produtos, de forma a que se evite qualquer possível contaminação. As mercadorias apreendidas, logo que se tornem desnecessárias para a instrução
2. A mera suspeita de que os produtos existentes em qualquer local do estabele- preparatória do processo, poderão ser vendidas por ordem da procuradoria da
cimento, podem estar avariados, pode legitimar a suspensão da venda. República, ou proposta do comissariado de estado do Comércio e Artesanato,
3. No caso de confirmar a suspeita pode o estabelecimento ser encerrado pelo observando-se o disposto nos artigos 884º e seguintes, do Código de Processo
tempo que a fiscalização determinar e os respectivos donos, gerentes ou encarregados Civil, desde que, relativamente a eles, haja:
presos. a) Risco de deterioração;
4. A pena de prisão por tempo superior a um ano, será de trabalho obrigatório b) Conveniência de utilização imediata para satisfação das necessidades de
e a multa que for aplicada não será inferior à quantia de 10.000.00 PG. abastecimento da população, da agricultura ou da indústria;
5. No caso de simples negligência, o disposto neste artigo pode ser punido com c) Requerimento do dono para que sejam alienadas.
multa até 5.000.00 PG. § único. – O produto da venda será depositado no banco à ordem do tribunal,
a fim de ser levantado, sem quaisquer encargos, por quem se mostre ter direito a
CAPÍTULO III ele conforme o resultado do julgamento.
DAS REGRAS DE COMPETÊNCIA E DE PROCESSO
ARTIGO 46º
ARTIGO 41º É sempre obrigatória a prestação de caução nos termos do § 1º do artigo 297º
A preparação e julgamento dos processos por infracção a que este decreto se do Código do Processo Penal, desde que para garantir a comparência do arguido
refere, são regulados pelo Código de Processo Penal e legislação complementar, essa caução seja legalmente exigível.
salvo disposições especiais.
ARTIGO 47º
ARTIGO 42º Nos caos de justo receio de insolvência do devedor ou de ocultação de bens e
da multa provável fixada por prudente arbítrio do juiz, não seja inferior a 10.000.00
Compete aos fiscais de actividades económicas, segundo o Decreto nº 22/77 a
PG requererá à Procuradoria Geral da República após o despacho de pronúncia
fiscalização das actividades económicas destinadas a impedir a prática ou pro-
equivalente, o arresto preventivo sobre bens do indiciado, a fim de garantir a
mover a repressão das infracções previstas neste decreto, bem como o exercício
responsabilidade pecuniária em que ele possa incorrer.
da acção penal para as que tenham a natureza de contravenções.
§ 1º – O arresto preventivo pode ser ainda requerido durante a instrução
preparatória quando, além dos pressupostos fixados neste artigo, ocorrerem
144 circunstâncias anormais que criem forte presunção de culpabilidade, como sejam 145
Colectânea de Legislação de Direito Penal Infracções Antieconómicas e Contra a Saúde Pública
a ausência em parte incerta do arguido, o abandono dos respectivos negócios ou ARTIGO 51º
a entrega a outrem da direcção do giro comercial. As infracções disciplinares relacionadas com actividades económicas são
§ 2º – Ao arresto, que será processado por apenso podem ser opostos os meios aplicáveis as seguintes penas:
de defesa previstos no artigo 414º do Código do Processo Civil, salvo quanto ao a) Mera advertência;
facto constitutivo da responsabilidade. b) Advertência registada;
c) Censura;
ARTIGO 48º d) Multa até 20.000.00 PG;
A existência de caução destinada a garantir o pagamento da parte pecuniária da e) Encerramento do estabelecimento comercial, industrial ou suspensão da
condenação, ficará sem efeito ou será convenientemente reduzida, quando o actividade exercida pelo infractor até seis meses;
arresto assegure total ou parcialmente esse pagamento. f) Suspensão até dois anos do exercício do direito de inscrição nos organismos
§ 1º – A caução pode ser voluntariamente prestada, a fim de que o arresto fique competentes;
sem efeito. g) Eliminação da inscrição nos organismos competentes ou interdição do
§ 2º – A caução económica requerida antes de efectuado o arresto fará sobrestar exercício da respectiva actividade.
na realização deste, depois de a respectiva decisão transitar em julgado. § 1º – A pena estabelecida no nº 5, só será aplicada quando do encerramento
não resultar vantagem para o infractor sujeita este ao regime fixado nos artigos 10º
CAPÍTULO IV e 11º, deste decreto.
DAS INFRACÇÕES CONTRA A ECONOMIA NACIONAL § 2º – A aplicação das penas dos nºs 3º e 7º poderá ser divulgada através dos
órgãos de comunicação social.
ARTIGO 49º
Constitui infracção disciplinar, no domínio da actividade económica, toda a ARTIGO 52º
conduta ofensiva, por acção ou omissão, dos princípios reguladores da vida Existirá nos organismos competentes um cadastro disciplinar relativo à activi-
económica, inscritos na legislação disciplinadora do País. dade económica das pessoas neles inscritos, do qual serão passados os extractos que
forem requisitados pelos tribunais pelas autoridades com competência para
ARTIGO 50º proceder à instrução preparatória ou por quaisquer outros organismos que neles
Constituem infracção disciplinar, entre outros, os seguintes eventos: mostrem ter legítimo interesse.
a) A falta ou inexactidão na prestação de informações relativas às actividades § 1º – Serão averbados no cadastro as penas disciplinares aplicadas aos inscritos,
económicas legalmente exigidas para fins estatísticos ou quaisquer outros; com excepção da mera advertência, devendo ainda constar desse averbamento uma
b) A desobediência às prescrições que fixam prazo para a realização de certas sumária descrição da infracção.
colheitas, modo ou tempo de as prestar ou lançar nos mercados de consumo ou § 2º – Serão igualmente averbados os louvores ou distinções recebidos por
exportação; serviços prestados à Economia Nacional.
c) A inobservância dos deveres respeitantes a reservas contingentes e quotas de
rateio; ARTIGO 53º
d) A concorrência ilícita ou desleal; A Procuradoria da República e os serviços de fiscalização comunicarão aos
e) A celebração de contratos com pessoas não inscritas nos organismos organismos competentes as infracções disciplinares de que tenham conhecimento
competentes, quando, tendo em consideração o objecto do contrato, a sua inscrição no exercício da sua actividade.
seja legalmente exigida;
f) A prática de actos lesivos dos interesses ou do bom-nome do respectivo ramo Promulgado em 14 de Maio de 1977.
profissional ou da economia nacional. O Presidente do Conselho de Estado, Luiz Cabral.
O Comissário Principal, Francisco Mendes.
O Comissário de Estado do Comércio e Artesanato, Armando Ramos.
146 147
Colectânea de Legislação de Direito Penal Lei do Recenseamento Eleitoral
[...]
CAPÍTULO VI
INFRACÇÕES RELATIVAS AO RECENSEAMENTO
ARTIGO 41º
(Inscrição)
1. Todo aquele que, dolosamente, facilitar ou promover a inscrição de quem
não tenha capacidade eleitoral será punido com pena de prisão de seis meses a dois
anos e multa de 770.000 FCFA.
2. Todo aquele que, tendo conhecimento de qualquer irregularidade na
inscrição de um cidadão, e não denunciar, será punido com pena de prisão de três
meses a um ano.
3. Todo aquele que, dolosamente, se inscrever mais de uma vez será punido com
pena de prisão de seis meses a dois ano.
4. O cidadão estrangeiro que se ¡inscrever será punido com pena de prisão de
seis meses a quatro anos e multa de 615.500 FCFA.
5. Todo o cidadão que prestar falsas declarações, com o intuito de se ¡inscrever,
será punido com pena de prisão de seis meses a dois anos.
ARTIGO 42º
(Falsificação do cartão de eleitor)
Todo aquele que modificar ou substituir o cartão de eleitor será punido com
pena de prisão de seis meses a dois anos e multa de 385.000 FCFA.
ARTIGO 43º
(Obstáculos ao recenseamento)
Todo aquele que, deliberadamente, impedir ou dificultar a operação de
recenseamento será punido com pena de prisão de seis meses a três anos e multa
de 462.000 FCFA.
*
148 Publicada no Suplemento ao B.O. nº 17, de 28 de Abril de 1998. 149
Colectânea de Legislação de Direito Penal Lei do Recenseamento Eleitoral
ARTIGO 47º
(Violação fronteiriça)
Aquele que violar ou facultar a violação das fronteiras do território nacional,
com o intuito de ser recenseado, será punido com pena de prisão de um a três anos
e multa de 308.000 FCFA.
ARTIGO 48º
(Emissão de cartão de eleitor)
Aquele que emitir ou entregar a cidadão estrangeiro cartão de eleitor será
punido com pena de prisão de um a oito anos e multa de 462.000 FCFA.
ARTIGO 49º
(Dos fiscais)
O fiscal do partido político que, injustificadamente, criar obstáculos à brigada
de recenseamento será punido com pena de prisão de seis meses a um ano e multa
de 77.000 FCFA.
150 151
Colectânea de Legislação de Direito Penal Lei Eleitoral Para o Presidente da República e Assembleia Nacional Popular
[...]
CAPÍTULO II
INFRACÇÕES
SECÇÃO I
INFRACÇÕES RELATIVAS À APRESENTAÇÃO DE CANDIDATURAS
ARTIGO 153º
(Candidatura de cidadão inelegível)
Aquele que dolosamente aceitar a sua candidatura, sabendo que não tem
capacidade será punido com prisão de um a três anos e multa de 308.000 a 385.000
FCFA.
SECÇÃO II
INFRACÇÕES RELATIVAS À CAMPANHA ELEITORAL
ARTIGO 154º
(Violação de deveres de neutralidade e imparcialidade)
Os titulares dos órgãos e os agentes do Estado, pessoas colectivas de direito
público, de bens domínio público ou de obras públicas e das empresas públicas ou
mistas que infringirem os deveres de neutralidade e imparcialidade perante as
diversas candidaturas e os Partidos Políticos, serão punidos com pena de prisão de
seis meses a dois anos e multa de 154.000 a 231.000 FCFA.
ARTIGO 155º
(Utilização indevida de denominação, sigla ou símbolo)
Durante a campanha eleitoral, aquele que utilizar denominação, sigla ou
símbolo de Partidos ou Coligação de Partidos com intuito de o prejudicar ou
injuriar será punido com a pena de prisão de um a três anos e multa de 308.000
a 385.000 FCFA.
*
152 Publicada no Suplemento ao B.O. nº 17, de 28 de Abril de 1998. 153
Colectânea de Legislação de Direito Penal Lei Eleitoral Para o Presidente da República e Assembleia Nacional Popular
ARTIGO 156º 2. Na mesma pena incorre a autoridade pública, seu agente ou cidadão que, nas
(Violação do direito de reunião e de manifestação) circunstâncias previstas no número anterior impedir que alguns cidadão saia do seu
Todo aquele que impedir a realização ou prosseguimento de reunião, comício, domicilio ou do lugar onde se encontrar, a fim de exercer o seu direito do voto.
cortejo ou desfile de propaganda eleitoral, organizado nos termos da lei será
punido com pena de prisão de um a dois anos e multa de 154.000 a 231.000 FCFA. SECÇÃO III
INFRACÇÕES RELATIVAS À ELEIÇÃO
ARTIGO 157º
(Reuniões e manifestações ilegais) ARTIGO 162º
Aqueles que durante a campanha eleitoral promoverem reuniões, comícios, (Voto plúrimo)
desfiles ou cortejos sem o cumprimento do disposto na lei competente, são punidos Aquele que votar mais de uma vez será punido com a pena de prisão de um ano
com a pena de prisão de um a três anos e multa de 154.000 a 231.000 FCFA. a três anos e multa de 154.000 a 462.000 FCFA.
2. Quando se verificar que, na urna não exibida se encontrava boletins de voto, ARTIGO 170º
é o presidente da mesa condenado também na pena de prisão de um a dois anos, (Recusa de receber reclamações)
sem prejuízo da aplicação do disposto no artigo seguinte. É punido com a pena de seis meses a um ano e multa de 77.000 a 154.000 FCFA,
o presidente da de assembleia de voto que injustificadamente se recusar a receber
ARTIGO 167º uma reclamação, protesto ou contra protesto.
(Introdução de boletim de voto, desvio de urna
ou de boletim de voto) ARTIGO 171º
1. Aquele que, com fraude, introduzir boletins de voto na urna antes do início Obstrução da assembleia de voto, candidatos ou delegados de lista)
da votação ou a fazer depois de declarada e encerrada a sessão, é punido com a pena O candidato ou delegado de lista que perturbar gravemente o funcionamento
de prisão de dois a oito anos. regular das operações de voto é punido com a pena de prisão de um a dois anos
2. A mesma pena é imposta aqueles que se apoderarem de uma urna com e multa de 77.000 a 154.000 FCFA.
boletins de voto não contados ou subtrair fraudulentamente um ou mais boletins
de voto em qualquer momento. ARTIGO 172º
(Perturbações das assembleias de voto)
ARTIGO 168º 1. Aquele que perturbar o regular funcionamento da assembleia de voto com
(Fraude de mesas de assembleia de voto e da assembleia insultos, ameaças ou actos de violência que resulte ou não tumulto, é punido com
de apuramento parcial) a pena de prisão de seis meses a um ano e multa de 77.000 a 154.000 FCFA.
1. O membro da mesa da assembleia de voto que dolosamente apuser ou 2. Aquele que, não tendo direito de fazê-lo, se introduzir numa assembleia de
consentir que se aponha nota de descarga em eleitor que não votou ou que não a voto e, se recusar a sair depois de intimado pelo presidente, é punido com pena
apuser em eleitor que votar, que trocou na leitura dos boletins de voto a can- de prisão de seis meses a um ano.
didatura votada, que diminuir ou aditar votos a uma candidatura no apuramento,
ou que, por qualquer modo falsear a verdade da eleição, é punido com a pena de ARTIGO 173º
prisão de três a cinco anos. (Não comparência de forças armadas e policiais)
2. A mesma pena é aplicada, ao membro da mesa de assembleia de voto, que Se, para garantir o regular decurso da operação de voto, for competentemente
trocar na leitura dos boletins de voto, a lista votada, diminuir ou aditar votos a uma requisitada força armada ou policial, nos termos previstos no nº 2 do artigo 71º
lista no apuramento. desta lei e esta não comparecer e não for apresentado justificação idónea no prazo
3. As penas referidas nos números anteriores são ainda aplicadas aos membros de 24 horas, o comandante da mesma será punido com a pena de prisão de seis
dos órgãos de Comissão Nacional de Eleições que durante o apuramento cometerem meses a um ano.
quaisquer dos actos neles previstos.
ARTIGO 174º
ARTIGO 169º (Não cumprimento do dever de participação no processo eleitoral)
(Obstrução à actividade da mesa da assembleia de voto 1. É punido com a multa de 15.000 a 30.000 FCFA aquele que tendo sido
e dos delegados de lista) nomeado pela entidade competente para fazer parte de uma mesa de assembleia
1. Aquele que se opuser a que qualquer integrante da mesa da assembleia de voto de voto, sem motivo justificado, não assumir as suas funções.
ou delegado de lista exerça as funções que Ihe cabem nos termos desta Lei ou que 2. Incorre na mesma pena, aquele a que foi dada por finda a nomeação pelas
saia do local onde essas funções foram ou estão sendo exercidas, é punido com a Comissões Eleitorais não abandonar as referidas funções.
pena de prisão de seis meses a dois anos e multa de 154.000 FCFA.
2. A pena de prisão referida no número anterior não será inferior a um ano, se
a infracção for cometida contra o presidente da mesa.
156 157
Colectânea de Legislação de Direito Penal Lei Relativa ao Processo Eleitoral, Respeitante ao Poder Autárquico
ARTIGO 175º
(Falsificação)
Aquele que, por qualquer forma, dolosamente viciar, substituir, suprimir, Lei nº 6/96*
destruir ou alterar os cadernos eleitorais ou de apuramento, ou quaisquer docu-
Lei relativa ao processo eleitoral, respeitante ao poder autárquico
mentos respeitantes às eleições, é punido com a pena de dois a oito anos de prisão.
[...]
ARTIGO 176º
(Denúncia caluniosa)
TÍTULO V
Aquele que, imputar a outrem, sem fundamento, a prática de qualquer infracção DAS INFRACÇÕES RELATIVAS AO PROCESSO ELEITORAL
prevista na presente lei, é punido nos termos do Código Penal.
CAPÍTULO I
ARTIGO 177º
PENALIDADES E COIMAS
(Reclamação e recurso de má fé)
Aquele que, com má fé, reclamar, protestar, contrapropostar ou impugnar ARTIGO 84º
decisões dos órgãos eleitorais sem fundamento é punido com pena de prisão de seis (Remissão)
meses a um ano. É aplicável às infracções eleitorais previstas no presente diploma, o disposto no
capítulo II, artigos 148º a 173º da Lei nº 4/93, de 24 de Fevereiro.
ARTIGO 178º
(Não apresentação de contas) [...]
A não prestação de contas, nos termos do artigo 49º, sujeita as entidades
concorrentes as seguintes sanções, sem prejuízo de eventual responsabilidade civil
e criminal:
a) Cessação de todas as subvenções a que por lei têm direito os partidos políticos
e bancadas parlamentares, e de quaisquer outros apoios do Estado;
b) Proibição dos membros da direcção dos partidos de criar ou integrar outras
formações políticas;
c) Proibição de concorrer as futuras eleições de qualquer tipo.
ARTIGO 179º
(Incumprimento das obrigações)
A inobservância de quaisquer obrigações impostas pela presente lei ou omissão
da prática de actos administrativos necessários a sua pronta execução, bem como
a demora injustificada no seu cumprimento, é punida com a multa de 30.000 a
46.000 FCFA.
[...]
*
158 Publicada no B.O. nº 38, de 16 de Setembro de 1996. 159
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código dos Contratos Públicos
Decreto-Lei nº 4/20021 2
Código dos Contratos Públicos
[...]
TÍTULO XVI
SANÇÕES
ARTIGO 66º
(Sanções por incumprimento das cláusulas do contrato pelo titular)
1. Quando o titular não se conformar, quer com as disposições do contrato, quer
com as ordens dos serviços que lhe forem dadas com vista à execução do contrato,
a Autoridade Contratante ordena o titular para que proceda ao seu cumprimento,
num prazo fixado para cada contrato, sem prejuízo da aplicação de sanções pelo
atraso.
2. Se o titular do contrato não obedece à notificação, a Autoridade Contratante
pode decidir pela aplicação de uma ou várias medidas a saber:
a) Resiliar3 o contrato a custos e riscos do titular faltoso. Neste caso, as despesas
suplementares resultantes de um novo contrato adjudicado pela Autoridade
Contratante para o mesmo objecto do contrato inicial ficarão a cargo do titular
faltoso que, em contrapartida, não tem qualquer direito a título de reduções de
despesas resultantes do novo contrato. Além disso, a Autoridade Contratante terá
direito à repartição integral do prejuízo real, directo e certo e devidamente
justificado que ela tiver sofrido por essa ocasião;
b) Substituir ao titular um empreiteiro, fornecedor ou prestador de serviços à
sua escolha, a custos e riscos do titular por forma a assegurar a execução total ou
parcial do contrato inicial;
c) Interceptar o Comité de conciliação visado no artigo 69º do presente código,
a fim de se pronunciar sobre a exclusão do titular do acesso a contrato público.
3. As modalidades de aplicação das medidas coercivas inerentes a cada categoria
de contratos são precisadas pelas cláusulas e condições jurídicas gerais e especiais.
1
Publicado no B.O. nº 48, de 3 de Dezembro de 2002.
2
Não podemos deixar de confrontar este diploma legal com a reserva absoluta da
Assembleia Nacional Popular, constante do artigo 86º, alínea h) da Constituição da
República da Guiné-Bissau.
3
Expressão que revela a raiz francófona deste diploma e uma deficiente tradução
160 de preceitos copiados do Direito francês. 161
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código dos Contratos Públicos
4. A decisão da Autoridade Contratante deve ser notificada ao titular faltoso por 5. Quem por si, por interposta pessoa, com o seu consentimento ou ratificação,
forma a permitir-lhe, eventualmente, acompanhar as operações efectuadas, a seu der ou prometer a funcionário, ou a terceiro com conhecimento daquele, vantagem
custo e riscos, por um novo titular ou uma terceira pessoa substituída. patrimonial ou não patrimonial que ao funcionário não seja devida, é punido com
pena de prisão de um mês a cinco anos.
ARTIGO 67º 6. Recorre a manobras fraudulentas, qualquer pessoa que deforma ou desnatura
(Sanções de atraso) os factos a fim de influenciar a adjudicação ou a execução de um Contrato em
1. Cada contrato deve prever a cargo do titular sanções de atraso ou juros de prejuízo da Autoridade Contratante, ou obtém ou tenta obter acordo com outros
mora para os casos em que o contrato não tenha sido executado nos prazos fixados, Proponentes para fixar preços a um nível artificial e não competitivo e privar assim
sem que haja necessidade de notificação prévia e por simples confrontação da data a Autoridade Contratante das vantagens de um concurso aberto. Tal prática é
de expiração do prazo de execução do contrato com a data de recepção provisória sancionada na forma da lei.
ou a data de expiração de certos prazos parciais de execução, se tal for previsto no 7. A Autoridade Contratante deve rejeitar qualquer candidatura ou proposta de
contrato. qualquer Candidato ou Proponente que tenha recorrido ou tenha tentado recorrer
2. O montante das sanções de atraso é fixado nas cláusulas e condições jurídicas a tais práticas ou manobras.
gerais e especiais do contrato. 8. Sem prejuízo da aplicação de outras sanções, o Comité de conciliação visado
3. O montante global das sanções por atraso é limitado a dez por cento do no artigo seguinte e interpelado pela Autoridade Contratante, ou pela DGCP4, pode
montante do contrato. pronunciar a execução provisória do acesso a concurso público por um período
4. Se o montante acumulado das sanções de atraso atingir quinze por cento do mínimo de um ano e máximo de cinco anos, do candidato, proponente, adjudicatário
montante inicial contratado, a Autoridade Contratante pode decidir unilateralmente ou titular que tenha recorrido ou tentado recorrer a tais práticas e manobras.
a rescisão por incumprimento. 9. Esta execução que tem um efeito imediato, é susceptível de recurso perante
5. As sanções de atraso são suspensas em caso de emenda, de força maior a jurisdição componente.
devidamente justificada que deverá ser, em todos os casos, invocada antes da 10. A DGCP estabelece uma lista de execução e comunica periodicamente a sua
expiração dos prazos contratuais pelo titular do contrato a quem incumbe provar actualização às Autoridades Contratantes.
o alegado. 11. A Autoridade Contratante deverá, de sua livre iniciativa ou a pedido da
6. O Ministro da Economia e Finanças aprecia o valor das justificações apre- DGCP, rescindir o contrato se for declarado que o titular recorreu à corrupção ou
sentadas e pronuncia a anulação total ou parcial da sanção. a manobras fraudulentas no decurso da adjudicação ou da execução do contrato.
ARTIGO 68º
(Sanções por acto de corrupção)
1. O funcionário que por si, por interposta pessoa com o seu consentimento ou
ratificação solicitar ou aceitar, para si ou para terceiro, sem que lhe seja devida,
vantagem patrimonial ou não patrimonial, ou a sua promessa, como contrapartida
de acto ou de omissão contrários aos deveres do cargo, é punido de prisão de dois
a dez anos.
2. Se o facto não for executado, o agente é punido com pena de prisão até três
anos ou com pena de multa.
3. Se os factos descritos no nº 1 do presente artigo o forem como contrapartida
de acto ou de omissão não contrários aos deveres do cargo, o funcionário é punido
com pena de prisão até três anos ou com multa.
4. Se o agente, antes da prática do facto, voluntariamente repudiar o oferecimento
ou promessa que aceitar, ou restituir a vantagem, ou tratando-se de coisa fungível,
4
162 o seu valor, não será punido. Direcção Geral dos Concursos Públicos (DGCP). 163
Colectânea de Legislação de Direito Penal Tabela Salarial
Decreto nº 4-A/2004*
Tabela Salarial
ARTIGO 1º
É aprovada a Tabela indiciária constante do anexo I, que faz parte integrante
do presente decreto e servirá de base para o cálculo dos vencimentos (salário base)
de todas as categorias profissionais da Função Pública.
ARTIGO 2º
1. É fixado em 2.000 FCFA (dois mil francos CFA) o valor do Ponto Indiciário
que deve ser aplicado à tabela referida no artigo 1º.
2. A alteração do valor a que se refere o nº 1 só pode ser efectuada numa base
anual, por despacho do Primeiro-Ministro, sob proposta conjunta do Ministério
da Economia e Finanças e do Ministro titular da Função Pública, devendo o
aludido despacho ser publicado no Boletim Oficial.
ARTIGO 3º
Os vencimentos dos titulares dos cargos políticos, dos magistrados e dos
trabalhadores da Função Pública em geral, passam a ser os constantes da tabela que
constitui o anexo 2, parte integrante deste decreto.
*
164 Suplemento ao B.O. nº 23, de 8 de Junho de 2004. 165
Colectânea de Legislação de Direito Penal Tabela Salarial
ARTIGO 4º ANEXO I
Grelha Indiciária
São eliminados os subsídios de que beneficiavam certas categorias de servidores
do Estado, designadamente os subsídios de renda de casa, de representação, de Cargo
Grupos Letra Categorias 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
alojamento e de telefone, de domesticidade, de transporte e de vigilância, sendo
Presidente
instituído, em contrapartida, um subsidio único correspondente a 20% do salário P1 375
da República
base.
Presidente
ARTIGO 5º P2 da Assembleia 300
O subsídio a que refere o artigo anterior é extensivo a todos os servidores do Nacional Popular
Estado. Primeiro-Ministro,
P3 Pres. Tribunais 281
ARTIGO 6º Superiores e PGR
A partir de 1 de Julho de 2004, com excepção dos abonos a que se refere o artigo
7º, nenhuma remuneração acessória, a título de subsidio, a liquidar aos titulares P4 219
Vice-Pr. STJ,
de cargos políticos, aos magistrados e aos trabalhadores da Função Pública em Grupo Vice-PGR
0 P5 188
geral, poderá exceder em cada mês 20% do respectivo salário base.
Ministro, Juízes
ARTIGO 7º Conselheiros,
Não ficam abrangidos pelo regime estabelecido pelo artigo precedente os P6 PGR Adjunto 169
166
O Presidente da República de Transição, Henrique Pereira Rosa. Chefe de Secção
167
Colectânea de Legislação de Direito Penal Alteração da Unidade Monetária Legal
Cargo
Grupos Letra Categorias 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
ARTIGO 1º
A partir de 2 de Maio de 1997, a unidade monetária da República da Guiné-
-Bissau passa a ser o Franco da Comunidade Financeira Africana, cuja sigla é FCFA.
*
168 Suplemento ao B.O. nº 12, de 24 de Março de 1997. 169
Colectânea de Legislação de Direito Penal Repressão da Contrafacção e Falsificação da Moeda
ARTIGO 2º
1.O Peso Guineense deixa de ter curso legal e poder liberatório sobre o terri-
tório da República da Guiné-Bissau, a partir de 2 de Maio de 1997. Lei nº 7/97, de 2 de Dezembro1
2. Sem prejuízo do disposto no número anterior o Peso Guineense circulará
Repressão da contrafacção e falsificação da moeda
concomitantemente com o FCFA, durante um período de 90 dias, de 2 de Maio a
31 de Julho de 1997.
PREÂMBULO
ARTIGO 3º
Considerando que a criação da União Monetária Oeste Africana (UEMOA)2
1. A partir de 2 de Maio de 1997 e durante o período referido no nº 2 do artigo permitiu a constituição entre os Estados Membros duma zona monetária dotada
anterior, as obrigações expressas em Pesos Guineenses, qualquer que seja a sua de uma instituição emissora e uma moeda comuns;
natureza, são obrigatoriamente estipuladas e regularizadas em FCFA.
2. As obrigações expressas em Pesos Guineenses e contraída antes da entrada
em vigor da presente lei são convertidas automaticamente em FCFA, a partir de
1
2 de Maio de 1997. Suplemento ao B.O. nº 48, de 2 de Dezembro de 1997.
2
Transcreve-se excerto (em francês), do Tratado da União Económica e Monetária
com relevância para esta matéria, de referir que o direito primário da UEMOA, é constituído
ARTIGO 4º pelo Tratado de 10 de Janeiro de 1994, pelos Protocolos adicionais e pelo Acordo de
O Peso Guineense será convertido em Francos CFA à razão de 65.OO PG por adesão da Guiné-Bissau à UEMOA de 2 de Maio de 1997:
1 FCFA. “Titre premier: Des Principes et Objectifs de L’Union
[...]
ARTIGO 5º Article 4
Sans préjudice des objectifs définis dans le Traité de L’UMOA. L’Union poursuit,
Com a entrada em vigor da presente lei, o Banco Central da Guiné-Bissau cessa dans conditions établies par le present Traité, la realisation des objectifs ci-aprés:
todas as suas funções e actividades, nomeadamente o serviço de emissão de notas a) renforcer la competitivité des activités économiques et financières des États membres
e moedas que é transferido para o Banco Central dos Estados da África Ocidental, dans le cadre d’un marche ouvert et concurrentiel et d’un environnement juridique
designado abreviadamente por BCEAO. rationalisé et harmonisé.
[...]
ARTIGO 6º e) harmoniser, dans la mesure necessaire au bon fonctionnement do marche commun.
Les legislations des États membres et particulierement le régime da la fiscalité.
É revogada toda a legislação que contrarie o presente diploma, nomeadamente: Article 5
a) A Decisão 2/76, de 28 de Fevereiro; Dans l’exercice de pouvoirs normatifs que le present Traité leur attribue et dans la mesure
b) A Lei Orgânica do Banco Central da Guiné-Bissau, aprovada pelo Decreto nº compatible avec les objectifs de celui-ci, les organes de l’Union favorisent l´édiction
32/89 de Dezembro, bem como as disposições legais e regulamentares adoptadas de prescriptions minimales et de reglementations cadres qu’il appartient aux États membres
em sua execução. de completer en tant que de besoin, conformement à leur règles constitutionnelles respectives.
Article 6
Les actes arrêtés par les organes de l’Union pour la realisation des objectifs du present
ARTIGO 7º Traité et conformement aux règles et procédures instituées par celui-ci, sont appliqués
A presente lei entra em vigor em 2 de Maio de 1997. dans chaque État membre nonobstant toute legislation nationale contraire, anterieure
ou posterieure.
Aprovada em 13 de Março de 1997. [...]
O Presidente da Assembleia Nacional Popular, Malam Bacai Sanha. Article 22
Toutes les fois que le present Traité prevoit l’adoption d’un acte juridique du Conseil
sur proposition de la Comission, le Conseil ne peut faire d’amendement à cette proposition
Promulgada em 19 de Março de 1997. qu’en statuant à l’unanimité des ses membres.
170
O Presidente da República, João Bernardo Vieira. [...].” 171
Colectânea de Legislação de Direito Penal Repressão da Contrafacção e Falsificação da Moeda
ARTIGO 9º
As penas previstas, nos artigos procedentes, aplicam-se:
a) Às infracções cometidas nos território nacional;
b) Às infracções cometidas no estrangeiro, nos termos e nas condições previstas
na legislação penal.
ARTIGO 10º
1. Serão apreendidos os signos monetários contrafeitos, falsificados ou altera-
dos assim como os metais, papéis e outros objectos destinados a práticas dos crimes
previstos na presente lei. O produto da apreensão é entregue ao Banco Central a
pedido deste, sob reserva das necessidades da administração da justiça.
2. Serão igualmente apreendidos os instrumentos utilizados na realização
desses crimes, salvo se tenha sido utilizado sem o conhecimento do proprietário.
ARTIGO 11º
1. Será isento de pena, quem, tendo tomado parte num dos crimes previstos nos
artigos 1º, 2º, 3º,4º, e 8º der conhecimentos dos factos e revelar a identidade dos
comparticipantes às autoridades competentes, antes de ter sido intentado o pro-
cesso criminal. Poderá, no entanto, lhe ser decretada a interdição de residência.
2. Poderá ser dispensado de pena, total ou parcial mente, quem nos crimes
previstos nos artigos 1º, 2º, 3º, 4º, e 8º, tiver após o início do procedimento criminal
contribuindo para a punição dos outros agentes. Poderá, no entanto, lhe ser decre-
tada a interdição de residência.
174 175
Colectânea de Legislação de Direito Penal Usura – UEMOA
PREÂMBULO
1
Suplemento ao B.O. nº 48, de 2 de Dezembro de 1997.
2
Actualmente UEMOA – União Económica e Monetária do Oeste Africano.
3
Transcreve-se excerto (em francês), do Tratado da União Económica e Monetária
com relevância para esta matéria, de referir que o direito primário da UEMOA, é constituído
pelo Tratado de 10 de Janeiro de 1994, pelos Protocolos adicionais e pelo Acordo de adesão
da Guiné-Bissau à UEMOA de 2 de Maio de 1997:
“Titre premier: Des Principes et Objectifs de L’Union
[...]
Article 4
Sans préjudice des objectifs définis dans le Traité de L’UMOA. L’Union poursuit,
dans conditions établies par le present Traité, la réalisation des objectifs ci-aprés:
a) renforcer la competitivité des activités economiques et financières des États membres
dans le cadre d’un marche ouvert et concurrentiel et d’un environnement juridique
rationalisé et harmonisé.
[...]
e) harmoniser, dans la mesure necessaire au bon fonctionnement do marche commun.
Les legislations des États membres et particulierement le régime da la fiscalité.
Article 5
Dans l’exercice de pouvoirs normatifs que le present Traité leur attribue et dans la mesure
compatible avec les objectifs de celui-ci, les organes de l’Union favorisent l´édiction de
prescriptions minimales et de reglementations cadres qu’il appartient aux États membres
de completer en tant que de besoin, conformement à leur règles constitutionnelles respectives.
Article 6
Les actes arrêtés par les organes de l’Union pour la realisation des objectifs du present
Traité et conformement aux règles et procédures instituées par celui-ci, sont appliqués
dans chaque Etat membre nonobstant toute legislation nationale contraire, anterieure
ou posterieure.
[...]
Article 22
Toutes les fois que le present Traité prevoit l’adoption d’un acte juridique du Conseil
sur proposition de la Comission, le Conseil ne peut faire d’amendement à cette proposition
qu’en statuant à l’unanimité des ses membres.
176 [...].” 177
Colectânea de Legislação de Direito Penal Usura – UEMOA
taxa usurária. Nestes casos o respectivo montante é fixado pelo Ministro das
Finanças.
Constituindo um crime, a usura é punida com prisão e multa e acessoriamente Lei Uniforme nº 1/2003/CM/UEMOA1
com a publicidade da sentença de condenação e o encerramento da empresa.
É igualmente definida no âmbito deste diploma a taxa de juro legal por Luta contra o branqueamento de capitais
referência à taxa de desconto praticada pelo Banco Central (BCEAO).
O Conselho dos Ministros da União Monetária da África Ocidental (UMOA);
Visto Tratado de 14 de Novembro de 1973 que constitui a União Monetária da
África Ocidental (UMOA), nomeadamente no seu artigo 22º;
Visto a Directiva nº 07/2002/CM/UEMOA de 19 de Setembro 2002 relativa à
luta contra o branqueamento de capitais nos Estados membros da União Económica
e Monetária da África Ocidental (UEMOA), nomeadamente nos seus artigos 36º,
37º, 39º, 40º, 41º, 42º e 43º;
Sob proposta do Banco Central dos Estados da África Ocidental (BCEAO);
Adopta a Lei Uniforme com o seguinte teor:
TÍTULO PRELIMINAR
DEFINIÇÕES
ARTIGO 1º
(Terminologia)
No sentido da presente lei, entende-se por:
Actores do Mercado Financeiro Regional:
A Bolsa Regional dos Valores Móveis (BRVM), o Depositário Central/Banco
de Pagamento, as Sociedades de Gestão e de Intermediação, as Sociedades de
Gestão de Património, os Consultores em investimentos de bolsa, os Corretores
e os Vendedores ambulantes.
Autor:
Qualquer pessoal que participa na prática de um crime ou de um delito, seja de
que natureza for.
Autoridades de controlo:
As autoridades nacionais ou comunitárias da UEMOA que em virtude de uma
lei ou de um regulamento, têm a competência para controlar pessoas singulares e
colectivas.
1
Aprovado em Bissau, ao 1 dia do mês de Julho de 2004, pelo Exmo. Sr. Presidente
da Assembleia Nacional Popular. Ratificada em Bissau, aos 19 dias do mês de Julho de
2004. Publicada no Boletim Oficial nº 44 de 2 de Novembro de 2004. O original em francês
182 pode ser consultado em www.uemoa.int. 183
Colectânea de Legislação de Direito Penal Lei Uniforme Relativa à Luta Contra o Branqueamento de Capitais
CENTIF: União:
A Célula Nacional de Tratamento das Informações Financeiras. A União Económica e Monetária da Africa Ocidental.
Confiscação: ARTIGO 2º
Desapropriação definitiva de bens, por decisão de uma jurisdição competente, (Definição do branqueamento de capitais)
de uma autoridade de controlo ou de qualquer autoridade competente.
1. No sentido da presente lei, o branqueamento de capitais é definido como a
Estado membro: infracção constituída por um ou vários actos cometidos intencionalmente, a saber:
O Estado signatário do Tratado da União Económica e Monetária da África a) A conversão, transferência ou manipulação de bens, cujo autor sabe que eles
Ocidental. provêm de um crime ou de um delito ou de uma participação nesse crime ou delito,
com o objectivo de dissimular ou disfarçar a origem ilícita dos referidos bens ou
Estado terceiro:
de ajudar qualquer pessoa implicada na prática desse crime ou delito a escapar às
Qualquer Estado que não seja um Estado membro.
consequências judiciárias dos seus actos;
Infracção de origem: b) A dissimulação, disfarce da natureza, da origem, do lugar, da disposição, do
Qualquer crime ou delito sentido da lei, mesmo cometido no território de um movimento ou da propriedade real de bens ou direitos relativos, cujo autor sabe
outro Estado membro ou no território de um Estado terceiro, que permite ao seu que eles provêm de um crime ou de um delito, tal como definidos pelas legislações
184 autor adquirir bens ou rendimentos. nacionais dos Estados membros ou de uma participação nesse crime ou delito; 185
Colectânea de Legislação de Direito Penal Lei Uniforme Relativa à Luta Contra o Branqueamento de Capitais
ARTIGO 6º
(Respeito da regulamentação dos câmbios)
As operações de câmbio, movimentos de capitais e pagamentos de qualquer
2
Trata-se de um lamentável lapso, não tendo sido colocado o nome, in casu, “... branquea- natureza com um Estado terceiro devem efectuar-se em conformidade com as
186 mento de capitais na Guiné-Bissau...”. disposições da regulamentação de câmbios em vigor. 187
Colectânea de Legislação de Direito Penal Lei Uniforme Relativa à Luta Contra o Branqueamento de Capitais
CAPÍTULO II ARTIGO 9º
MEDIDAS DE IDENTIFICAÇÃO (Identificação do titular de direito económico
pelos organismos financeiros)
ARTIGO 7º 1. Se o cliente não actua por conta própria, o organismo financeiro informa-se,
(Identificação dos clientes pelos organismos financeiros) por quaisquer meios, sobre a identidade da pessoa por conta da qual ele actua.
1. Os organismos financeiros devem assegurar-se da identidade e do endereço 2. Depois da verificação, se a dúvida persiste sobre a identidade do titular de
dos seus clientes antes de lhes abrir uma conta, conservar, nomeadamente títulos, direito económico, o organismo financeiro procede à declaração de suspeita visada
valores ou ordens de pagamento, atribuir um cofre ou estabelecer com eles no artigo 26º junto da Célula Nacional de Tratamento das Informações Financeiras
quaisquer relações, de negócios. instituída no artigo 6º nas condições fixadas no artigo 27º.
2. A verificação da identidade de uma pessoa singular é efectuada mediante a 3. Nenhum cliente pode invocar o segredo profissional para não comunicar a
exibição de um bilhete de identidade nacional ou de qualquer outro documento identidade do titular de direito económico.
oficial original, com indicação do lugar, data de validade, e contendo uma 4. Os organismos financeiros não são sujeitos às obrigações de identificação
fotografia, da qual se tira uma cópia. A verificação do seu endereço profissional previstas nos três números precedentes, se o cliente for um organismo financeiro,
e domiciliário é efectuada mediante exibição de qualquer documento comprovativo. submetido à presente lei.
No caso de uma pessoa singular comerciante, este último deve fornecer, além
disso, qualquer documento que certifique a sua matrícula no Registo do Comércio ARTIGO 10º
e do Crédito Mobiliário. (Vigilância particular de certas operações)
3. A identificação de uma pessoa colectiva ou de uma sucursal é efectuada 1. Devem constituir objecto de um exame particular da parte das pessoas visadas
mediante a produção, por um lado, do original, ou da cópia autenticada de no artigo 5º:
qualquer documento ou extracto do Registo do Comércio e do Crédito Mobiliário, a) Qualquer pagamento em dinheiro ou através de título ao portador de uma
atestando nomeadamente a sua forma jurídica, a sua sede social e, por outro lado, quantia de dinheiro, efectuado em condições normais, cujo montante unitário ou
os poderes das pessoas que actuam em seu nome. total é igual ou superior a cinquenta milhões (50.000.000) de francos CFA;
4. Os organismos financeiros asseguram-se, nas mesmas condições fixadas na b) Qualquer operação sobre uma quantia igual ou superior a dez milhões
nº 2 do presente artigo, da identidade e do endereço reais dos responsáveis, empre- (10.000.000) de francos CFA, efectuada em condições ocasionais de complexidade
gados e mandatários que agem por conta de outrem. Estes últimos devem, por sua e/ou que não pareçam ter justificação económica ou objecto lícito.
vez, produzir documentos que certifiquem, por um lado, a delegação de poder ou 2. Nos casos visados no número precedente, essas pessoas devem informar-se
do mandato que lhe foi atribuído e, por outro lado, a identidade e o endereço do junto do cliente, e/ou através de quaisquer meios, sobre a origem e o destino das
titular de direito económico. quantias de dinheiro em causa, assim como sobre o objecto da transacção e a
5. No caso das operações financeiras à distância, os organismos financeiros identidade das pessoas implicadas, em conformidade com as disposições dos nºs
procedem à identificação de pessoas singulares, em conformidade com os prin- 2, 3 e 5 do artigo 7º. As características principais da operação, a identidade do
cípios expostos em anexo à presente lei. mandante e do beneficiário, se for o caso, a dos actores da operação, são con-
signadas num registo confidencial, com vista a proceder a associações, em caso de
ARTIGO 8º necessidade.
(Identificação dos clientes ocasionais pelos organismos financeiros)
1. A identificação dos clientes ocasionais efectua-se nas condições previstas nos CAPÍTULO III
nºs 2 e 3 do artigo 7º, para qualquer operação efectuada sobre uma quantia de CONSERVAÇÃO E COMUNICAÇÃO DOS DOCUMENTOS
dinheiro igual ou superior a cinco milhões (5.000.000) de francos CFA ou cujo
contravalor em franco CFA equivale ou ultrapassa essa quantia. ARTIGO 11º
2. O mesmo acontece em caso de repetição de operações específicas num (Conservação das peças e documentos pelos organismos financeiros)
montante individual inferior àquele previsto no número precedente ou quando Sem prejuízo das disposições que decretam obrigações mais constrangedoras,
188 existe incerteza sobre a proveniência lícita dos capitais. os organismos financeiros conservam durante um período de dez (10) anos, a 189
Colectânea de Legislação de Direito Penal Lei Uniforme Relativa à Luta Contra o Branqueamento de Capitais
contar do fecho das suas contas ou da cessação de suas relações com os seus clientes CAPÍTULO IV
habituais ou ocasionais, as peças e documentos relativos à sua identidade. Eles DISPOSIÇÕES APLICÁVEIS A CERTAS OPERAÇÕES PARTICULARES
devem igualmente conservar as peças e documentos relativos às operações que eles
efectuaram durante dez (10) anos a contar do fim do exercício durante o qual as ARTIGO 14º
operações foram realizadas. (Câmbio manual)
As instituições autorizadas a efectuar câmbio manual, à semelhança dos bancos,
ARTIGO 12º devem dar uma atenção particular às operações para as quais não se impõe nenhum
(Comunicação das peças e dos documentos) limite regulamentar e que poderão ser efectuadas para fins de branqueamento de
1. As peças e os documentos relativos às obrigações de identificação previstas capitais, desde que o seu montante atinja cinco milhões (5.000.000) de francos
nos artigos 7º, 8º, 9º, 10º e 15º e cuja conservação é mencionada no artigo 11º, são CFA.
comunicados, a seu pedido, pelas pessoas visadas no artigo 5º, às autoridades
judiciárias, aos agentes do Estado encarregues da detecção e da repressão das ARTIGO 15º
infracções ligadas ao branqueamento de capitais, agindo no quadro de um mandato (Casinos e estabelecimentos de jogos)
judiciário, às autoridades de controlo, assim como à CENTIF. 1. Os gerentes, proprietários e directores de casinos e estabelecimentos de jogos
2. Esta obrigação tem como objectivo o de permitir a reconstituição do conjunto devem sujeitar-se às seguintes obrigações:
das transacções realizadas por uma pessoa singular ou colectiva, ligadas a uma a) Justificar junto da autoridade pública, desde a data de pedido de autorização
operação que tenha constituído objecto de uma declaração de suspeita visada no de abertura, a origem lícita dos fundos necessários à criação do estabelecimento;
artigo 26º ou cujas características são consignadas no registo confidencial previsto b) Assegurar-se da identidade, mediante exibição de um bilhete de identidade
no artigo 10º, nº 2. nacional ou de qualquer outro documento original no qual se indicam, o lugar, a
data de validade e contendo uma fotografia da qual se conserva uma cópia, dos
ARTIGO 13º jogadores que compram, fornecem ou trocam fichas de jogos numa quantia
(Programas internos de luta contra o branqueamento de capitais superior ou igual a um milhão (1.000.000) de francos CFA ou cujo contravalor
no seio dos organismos financeiros) seja superior ou igual a esta quantia;
1. Os organismos financeiros devem elaborar programas harmonizados de pre- c) Consignar num registo especial, por ordem cronológica, todas as operações
venção do branqueamento de capitais. Esses programas compreendem nomeada- visadas na alínea precedente, sua natureza e seu montante com indicação dos
mente: apelidos, nomes dos jogadores, assim como do número do documento apresen-
a) A centralização das informações sobre a identidade dos clientes, dirigentes, tado, e manter o dito registo durante dez (10) anos depois da última operação
mandatários, titulares de direito económico; registada;
b) O tratamento das transacções suspeitas; d) Consignar por ordem cronológica, todas as transferências de fundos efectuadas
c) A designação de responsáveis internos encarregues da aplicação dos pro- entre casinos e estabelecimentos de jogos num registo especial e manter o dito
gramas de luta contra o branqueamento de capitais; registo durante dez (10) anos depois da última operação registada.
d) A formação contínua do pessoal; 2. Se o casino ou o estabelecimento de jogos é controlado por uma pessoa
e) O estabelecimento de um dispositivo de controlo interno da aplicação e da colectiva que possui vários filiais, as fichas de jogo devem identificar a filial para
eficácia das medias adoptadas no quadro da presente lei. a qual elas foram emitidas. Em nenhum caso, as fichas de jogo emitidas por uma
2. As autoridades de controlo poderão, no domínio das suas competências res- filial podem ser reembolsadas por uma outra filial que não seja aquela situada quer
pectivas, em caso de necessidade, precisar o conteúdo e as modalidades de aplicação no território nacional, quer num outro Estado membro da União ou num Estado
dos programas de prevenção do branqueamento de capitais. Elas efectuarão, se for terceiro.
o caso, investigações locais a fim de verificar a boa aplicação desses programas.
190 191
Colectânea de Legislação de Direito Penal Lei Uniforme Relativa à Luta Contra o Branqueamento de Capitais
da CENTIF. Um Regulamento interno, aprovado pelo Ministro das Finanças, fixa do Conselho dos Ministros da União sobre a evolução da luta contra o branqueamento
as normas de funcionamento Interno da CENTIF. de capitais.
3. Uma versão desses relatórios periódicos será elaborada para informação do
ARTIGO 22º público e das pessoas sujeitas às declarações de suspeitas.
(Financiamento da CENTIF)
Os recursos da CENTIF provêm, nomeadamente das contribuições autorizadas CAPÍTULO II
pelo Estado, pelas Instituições da UEMOA e pelos parceiros de desenvolvimento. DAS DECLARAÇÕES SOBRE AS OPERAÇÕES SUSPEITAS
telefonicamente ou por qualquer meio electrónico, devem ser confirmadas por 2. Nenhuma acção em responsabilidade civil ou penal pode ser intentada, assim
escrito num prazo de quarenta e oito (48) horas. Essas declarações indicam, como nenhuma sanção profissional pronunciada contra as pessoas ou os dirigentes
nomeadamente, consoante o caso: e empregados das pessoas visadas no artigo 5º, tendo agido nas mesmas condições
a) As razões que levaram à realização da operação; que aquelas previstas no número precedente, mesmo se decisões de justiça tomadas
b) O prazo durante o qual a operação suspeita deve ser executada. na base das declarações visadas nesse mesmo artigo não tenham conduzido a
qualquer condenação.
ARTIGO 28º 3. Além disso, nenhuma acção em responsabilidade civil ou penal pode ser
(Tratamento das declarações transmitidas à CENTIF e oposição à intentada contra as pessoas visadas no número precedente por danos materiais ou
realização das operações) morais, que poderiam resultar da interrupção de uma operação em virtude, das
1. A CENTIF acusa a recepção de qualquer declaração de suspeita escrita. Ela disposições do artigo 28º.
trata e analisa imediatamente as informações recolhidas e procede, se for o caso, 4. As disposições do presente artigo aplicam-se de pleno direito, mesmo se a
aos pedidos de informações complementares junto do denunciante, assim como de prova de carácter delituoso dos factos que estiveram na origem da declaração não
qualquer autoridade pública e/ou de controlo. tenha sido revogada ou se esse factos não foram amnistiados ou não conduziram
2. A título excepcional, a CENTIF pode, na base de informações graves, con- à uma decisão de não pronúncia, de libertação o de amnistia.
cordantes e fiáveis na sua posse, opor-se à realização da dita operação antes da
expiração do prazo de execução mencionado, pelo denunciante. Esta oposição é ARTIGO 31º
notificada a este último e suspende a realização da operação durante um período (Responsabilidade do Estado resultante de declarações
não superior a quarenta e oito (48) horas. de suspeitas feitas de boa fé)
3. Na ausência de oposição ou, se no fim de prazo de quarenta e oito (48) horas, Incumbe ao Estado a responsabilidade por qualquer dano causado às pessoas e
nenhuma declaração do juiz de instrução não for comunicada ao denunciante, este resultante directamente de uma declaração de suspeita feita de boa fé, mesmo que
pode realizar a operação. se reconheça a sua falsidade.
conformidade com a lei, por um período indeterminado, sem oposição de segredo CAPÍTULO II
profissional, diversas acções, nomeadamente: DAS MEDIDAS CONSERVATÓRIAS
a) Vigilância das contas bancárias e das contas incorporadas nas contas bancárias,
quando existem índices graves de suspeita de as mesmas serem utilizadas ou ARTIGO 36º
susceptíveis de serem utilizadas para as operações ligadas à infracção de origem (Medidas conservatórias)
ou às infracções previstas pela presente lei; 1. O juiz de instrução pode prescrever medidas conservatórias, em conformidade
b) O acesso, aos sistemas, redes e servidores informáticos utilizados ou sus- com a lei, que ordena, às expensas do Estado, nomeadamente a penhora ou a
ceptíveis de serem utilizados por pessoas contra as quais existem índices graves de confiscação dos bens em relação com a infracção, objecto do inquérito, e todos os
participação na infracção de origem ou nas infracções previstas peta presente lei; elementos de natureza a permitir a sua identificação, assim como o congelamento
c) A comunicação de escrituras públicas ou contrato particular, de documentos das quantias de dinheiro e das operações financeiras efectuadas sobre os ditos bens.
bancários, financeiros e comerciais. 2. A suspensão dessas medidas pode ser ordenada pelo juiz de instrução nas
2. Pode igualmente ordenar a confiscação das escrituras e documentos acima condições previstas pela lei.
mencionados.
CAPÍTULO III
ARTIGO 34º DAS PENAS APLICÁVEIS
(Suspensão do segredo profissional)
Não obstante quaisquer disposições legislativas ou regulamentares contrárias, ARTIGO 37º
o segredo profissional não pode ser invocado pelas pessoas visadas no artigo 5º (Sanções penais aplicáveis às pessoas singulares)
para recusa de fornecimento de informações às autoridades de controlo, assim 1. As pessoas singulares culpadas de uma infracção de branqueamento de
como à CENTIF ou para proceder às declarações previstas pela presente lei. O capitais, são punidas com pena de prisão de três (3) a sete (7) anos e uma multa
mesmo acontece com as informações requeridas no quadro de um inquérito sobre igual ao triplo do valor dos bens ou dos fundos sobre os quais foram efectuadas
factos de branqueamento, ordenado pelo juiz de instrução ou efectuado sob operações de branqueamento.
controlo, pelos agentes do Estado encarregues da detecção e da repressão das 2. A tentativa de branqueamento é punida com as mesmas penas.
infracções ligadas ao branqueamento de capitais.
ARTIGO 38º
TÍTULO IV (Sanções penais aplicáveis à conivência, associação, cumplicidade
DAS MEDIDAS COERCIVAS com vista ao branqueamento de capitais)
A conivência ou a participação numa associação com vista à execução de um
CAPÍTULO I facto constitutivo de branqueamento de capitais, a associação para a comissão do
DAS SANÇÕES ADMINISTRATIVAS E DISCIPLINARES dito facto, a ajuda, a incitação ou o conselho a uma pessoa singular ou colectiva,
com vista a executá-lo ou facilitar a sua execução são punidas com as mesmas penas
ARTIGO 35º previstas no artigo 37º.
(Sanções administrativas e disciplinares)
Quando, na sequência, quer de um erro grave de vigilância, quer de uma ARTIGO 39º
carência na organização dos seus procedimentos internos de controlo, uma pessoa (Circunstâncias agravantes)
visada no artigo 5º subestima as obrigações que lhe são impostas pelo título II e 1. As penas previstas no artigo 37º são redobradas:
pelos artigos 26º e 27º da presente lei, a Autoridade de controlo com poder a) Quando a infracção de branqueamento de capitais é cometida de maneira
disciplinar pode agir de ofício nas condições previstas pelos textos legislativos e habitual ou utilizando as facilidades obtidas por exercício de actividade profissional;
regulamentares específicos em vigor. Ela informa ainda o facto à CENTIF, assim b) Quando o autor da infracção se encontra em estado de recidivas; neste caso,
como ao Procurador da República. as condenações pronunciadas no estrangeiro são levadas em consideração para o
198 estabelecimento da recidiva; 199
Colectânea de Legislação de Direito Penal Lei Uniforme Relativa à Luta Contra o Branqueamento de Capitais
c) Quando a infracção de branqueamento é cometida por um grupo organizado. b) Infringido as disposições dos artigos 6º, 7º, 8º, 9º, 10º, 11º, 12º, 14º, 15º e
2. Quando o crime ou o delito resultante dos bens ou quantias de dinheiro 26º da presente lei.
objectos de infracção de branqueamento, é punido com uma pena privativa de
liberdade de duração superior àquela de prisão prevista no artigo 37º, o bran- ARTIGO 41º
queamento é punido com penas ligadas à infracção de origem de que o autor teve (Sanções penais complementares facultativas aplicáveis
conhecimento e, se esta infracção é acompanhada de circunstâncias agravantes, às pessoas singulares)
com penas ligadas unicamente às circunstâncias de que ele teve conhecimento. As pessoas singulares culpadas das infracções definidas nos artigos 37º, 38º, 39º
e 40º podem igualmente incorrer as seguintes penas complementares:
ARTIGO 40º a) A interdição definitiva do território nacional ou por um período de um (1)
(Sanções penais de certos procedimentos ligados ao branqueamento) a cinco (5) anos contra qualquer estrangeiro condenado;
1. São punidos com pena de prisão de seis (6) meses a dois (2) anos e uma multa b) A interdição de estadia por um período de um (1) a cinco (5) anos em certas
de cem mil (100.000) a um milhão cento e cinquenta mil (1.150.000) francos CFA circunstâncias administrativas (a designar pelo Estado que adopta a Lei Uniforme);
ou somente com uma das duas penas, as pessoas e dirigentes ou empregados das c) A interdição de deixar o território nacional e a retirada do passaporte por um
pessoas singulares ou colectivas visadas no artigo 5º, quando estas últimas tiverem período de seis (6) meses a três (3) anos;
intencionalmente: d) A interdição de direitos cívicos, civis e de família por um período de seis (6)
a) Feito ao proprietário das quantias ou ao autor das operações visadas no artigo a três (3) anos;
5º, revelações na declaração que eles devem prestar ou nas decisões que lhe foram e) A interdição de conduzir engenhos motorizados terrestres, marítimos e
reservadas; aéreos e a retirada das autorizações ou licenças por um período de três (3) a seis
b) Destruído ou subtraído peças ou documentos relativos às obrigações de (6) anos;
identificação visadas nos artigos 7º, 8º, 9º, 10º, e 15º, cuja conservação é prevista f) A interdição definitiva ou por um período de três (3) a seis (6) anos de exercer
peto artigo 11º da presente lei; a profissão ou a actividade no momento em que a infracção foi cometida e
c) Realizado ou tentado realizar sob uma falsa identidade uma das operações interdição de exercer uma função pública;
visadas nos artigos 5º a 10º, 14º a 15º da presente lei; g) A interdição de passar cheques que não sejam os que permitem a retirada de
d) Informado por quaisquer meios a ou as pessoas visadas pelo inquérito fundos pelo sacador Junto do sacado ou os que são autenticados e de utilizar talões
conduzido por actos de branqueamento de capitais de que tivessem tido de pagamento durante três (3) a seis (6) anos;
conhecimento, em virtude da sua profissão ou das suas funções; h) A interdição de possuir ou usar uma arma sujeita à autorização durante três
e) Comunicado às autoridades judiciárias ou aos funcionários competentes para (3) a seis (6) anos;
constatar as infracções de origem e decorrentes dos actos e documentos visados no i) A confiscação de todo ou parte dos bens de origem lícita do condenado;
artigo 33º da presente lei, que eles sabem que são falsos ou inexactos; j) A confiscação do bem ou da coisa que serviu ou era destinada à cometer a
f) Comunicado informações ou documentos às pessoas que não sejam as visadas infracção ou do produto da infracção, à excepção dos objectos susceptíveis de
no artigo 12º da presente lei; restituição.
g) Omitido de proceder à declaração de suspeitas, prevista no artigo 26º, quando
as circunstâncias levaram a deduzir que as quantias de dinheiro poderiam provir CAPÍTULO IV
de uma infracção de branqueamento de capitais tal como definido nos artigos 2º DA RESPONSABILIDADE PENAL DAS PESSOAS COLECTIVAS
e 3º.
2. São punidas com uma multa de cinquenta mil (50.000) a setecentos e ARTIGO 42º
cinquenta mil (750.000) francos CFA, as pessoas e dirigentes ou empregados das (Sanções penais aplicáveis às pessoas colectivas)
pessoas singulares ou colectivas visadas no artigo 5º, quando estes últimos tiverem 1. As pessoas colectivas que não sejam o Estado, por conta ou em benefício das
não intencionalmente: quais uma infracção de branqueamento de capitais ou uma das infracções previstas
a) Omito de fazer a declaração de suspeitas, prevista no artigo 26º da presente pela presente lei foi cometida por um dos seus órgãos ou representantes, são
200 lei; punidas com uma multa de taxa igual ao quíntuplo das incorridas por pessoas 201
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singulares, sem prejuízo da condenação destas últimas como autores ou cúmplices ARTIGO 44º
dos mesmos actos. (Causas de atenuação das sanções penais)
2. As pessoas colectivas, que não sejam o Estado, podem, além disso, ser As penas incorridas por qualquer pessoal, autor ou cúmplice de uma das
condenadas a uma ou várias penas seguintes: infracções enumeradas nos artigos 37º, 38º, 40º e 41º que, antes de qualquer acção,
a) A exclusão dos mercados públicos, a título definitivo ou por um período de permite ou facilita a identificação dos outros culpados ou depois do engajamento
cinco (5) anos ou mais; dos actos, permite ou facilita a detenção destes, são reduzidas para metade. Além
b) A confiscação do bem que serviu ou era destinado a cometer a infracção ou disso, a dita pessoa é isenta da multa e, se for o caso, das medidas acessórias e penas
do seu produto; complementares facultativas.
c) A colocação sob vigilância judiciária por um período de cinco (5) anos ou
mais; CAPÍTULO VI
d) A interdição, a título definitivo, ou por um período de cinco (5) anos ou mais, DAS PENAS COMPLEMENTARES OBRIGATÓRIAS
de exercer directamente ou indirectamente uma ou várias actividades profissionais
ou sociais na ocasião em que a infracção foi cometida; ARTIGO 45º
e) O fecho definitivo ou por um período de cinco (5) anos ou mais, dos estabe- (Confiscação obrigatória dos produtos obtidos do branqueamento)
lecimentos ou de um dos estabelecimentos da empresa que serviu para cometer os Em todos os casos de condenação por infracção de branqueamento de capitais
actos criminais; ou de tentativa, os tribunais ordenam a confiscação, em benefício do Tesouro
f) A sua dissolução, quando elas foram criadas para cometer os actos criminais; Público, dos produtos obtidos da infracção, dos bens móveis e imóveis nos quais
g) A afixação da decisão pronunciada ou a difusão desta pela imprensa escrita esses produtos são transformados ou convertidos e, na proporção do seu valor, dos
ou por qualquer meio de comunicação audiovisual, às expensas da pessoa colectiva bens adquiridos legitimamente aos quais os ditos produtos estão ligados, assim
condenada. como os rendimentos e outras vantagens obtidas desses produtos, dos bens nos
3. As sanções previstas, nas alíneas c), d), e), f) e g) do nº 2 do presente artigo, quais eles são transformados ou investidos ou dos bens aos quais eles estão ligados
não são aplicáveis aos organismos financeiros que dependem de uma Autoridade à qualquer pessoa à qual pertencem esses produtos e esses bens, a menos que o seu
de controlo que disponha de um poder disciplinar. proprietário não declare que ele desconhece a sua origem fraudulenta.
4. A Autoridade de controlo competente, informada pelo Procurador da
República sobre qualquer acção intentada contra um organismo financeiro, pode TÍTULO V
decidir as sanções apropriadas, em conformidade com os textos legislativos e DA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL
regulamentares específicos em vigor.
CAPÍTULO I
CAPÍTULO V
DA COMPETÊNCIA INTERNACIONAL
DAS CAUSAS DE ISENÇÃO E DE ATENUAÇÃO DAS SANÇÕES PENAIS
ARTIGO 46º
ARTIGO 43º
(Infracções cometidas fora do território nacional)
(Causas de isenção de sanções penais)
1. As jurisdições nacionais são competentes para distinguir as infracções
Qualquer pessoa culpada, por um lado, de participação numa associação ou
previstas pela presente lei, cometidas por qualquer pessoa singular ou colectiva,
numa cumplicidade, com vista a cometer uma das infracções previstas nos artigos
qualquer que seja a sua nacionalidade ou a localização da sua sede, mesmo fora
37º, 38º, 39º, 40º e 41º, por outro lado, de ajuda, incitação ou de conselho a uma
do território nacional, desde que o lugar onde o acto foi cometido esteja situado num
pessoa singular ou colectiva com vista a executá-las ou de facilitar a sua execução,
dos Estados membros da UEMOA.
é isenta de sanções penais se, tendo revelado a existência dessa cumplicidade,
2. Elas podem igualmente distinguir as mesmas infracções cometidas num
associação, ajuda ou conselho à autoridade judiciária, ela permite deste modo, por
Estado terceiro, desde que uma convenção internacional lhe atribui competência
um lado, identificar as outras pessoas implicadas e, por outro lado, evitar a
para tal.
202 realização da infracção. 203
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a) O nome da autoridade que solicita a medida; 4. O governo da Guiné-Bissau, comunica imediatamente ao Estado requerente
b) O nome da autoridade competente e da autoridade encarregue do inquérito os motivos da recusa de execução do seu pedido.
ou do procedimento objecto do pedido;
c) A indicação da medida solicitada; ARTIGO 56º
d) Uma exposição dos factos constitutivos da infracção e das disposições (Segredo sobre o pedido de cooperação judiciária)
legislativas aplicáveis, salvo se o pedido tiver como único objectivo a entrega dos 1. A autoridade competente mantém o segredo sobre o pedido de execução
processos ou de decisões judiciais; judiciária, sobre o seu conteúdo e peças produzidas, assim como sobre a própria
e) Todos os elementos conhecidos que permitam identificar a ou as pessoas acção de cooperação.
visadas e, nomeadamente o estado civil, a nacionalidade. o endereço e a profissão; 2. Se não for possível executar o dito pedido sem divulgar o segredo, a auto-
f) Todas as informações necessárias para localizar os instrumentos, recursos ou ridade competente informa o facto ao Estado requerente, que decidirá, neste caso,
bens visados; se deve manter o pedido.
g) Uma exposição detalhada de qualquer processo ou pedido particular que o
Estado requerente pretende que se dê seguimento ou seja executado; ARTIGO 57º
h) A indicação do prazo no qual o Estado requerente desejaria que o pedido (Pedido de medidas de inquérito e de instrução)
fosse executado; 1. As medidas de inquérito e de instrução são executadas em conformidade com
i) Qualquer outra informação necessária à boa execução do pedido. a legislação em vigor, a menos que a autoridade competente do Estado requerente
não tenha pedido que se proceda de conformidade com uma forma particular
ARTIGO 55º compatível com esta legislação.
(Das recusas de execução do pedido de cooperação judiciária) 2. Um magistrado ou um funcionário delegado pela autoridade competente do
1. O pedido de cooperação judiciária só pode ser recusado: Estado requerente pode assistir à execução das medidas consoante forem executadas
a) Se ele não emanar de uma autoridade competente de acordo com a legislação por um magistrado ou por um funcionário.
do país requerente ou se ele não for transmitido regularmente; 3. Se for o caso, as autoridades judiciárias ou policiais de (nome do país que
b) Se a sua execução pode causar prejuízo à ordem pública, à soberania, à adopta a Lei Uniforme) podem executar, em colaboração com as autoridades de
segurança ou aos princípios fundamentais do direito; outros Estados membros da União, medidas de inquérito ou de instrução.
c) Se os factos que estão na sua origem constituem objecto de processos penais
ou já tenham feito objecto de uma decisão de justiça definitiva no território nacional; ARTIGO 58º
d) Se as medidas solicitadas ou quaisquer outras medidas com efeitos análogos, (Entrega de processos judiciais e de decisões judiciais)
não são autorizadas ou não são aplicáveis à infracção visada no pedido, em virtude 1. Quando o pedido de cooperação tem por objecto a entrega de processos
da legislação em vigor; judiciais e/ou de decisões judiciais, ele, deverá incluir, para além das indicações
e) Se a decisão cuja execução é solicitada não é viável segundo a legislação em previstas no artigo 54º, a descrição dos processos ou decisões visadas.
vigor; 2. A autoridade competente procede à entrega dos processos judiciais e de
f) Se a decisão estrangeira for pronunciada nas condições que não oferecem decisões judiciais que lhe serão enviados para esse efeito pelo Estado requerente.
garantias suficientes relativamente aos direitos de defesa; 3. Esta entrega pode ser efectuada por simples transmissão do processo ou da
g) Se existem razões graves que levam a pensar que as medidas requeridas ou decisão ao destinatário. Se a autoridade competente do Estado requerente formular
a decisão solicitada só visam a pessoa perseguida em virtude da sua raça, religião, expressamente o pedido, a entrega é efectuada numa das formas previstas pela
nacionalidade, origem étnica, opiniões políticas, sexo ou seu estatuto; legislação em vigor para as comunicações análogas ou numa forma especial
2. O segredo profissional não pode ser invocado para recusa de execução do compatível com esta legislação.
pedido. 4. A prova da entrega faz-se através de um recibo datado e assinado pelo
3. O ministério público pode introduzir recurso da decisão de recusa de execução destinatário ou de uma declaração da autoridade competente constatando o facto,
pronunciada por uma jurisdição nos (precisar o país que adopta a lei) dias seguintes a forma e a data da entrega. O documento estabelecido para constituir a prova da
206 a esta decisão. entrega é imediatamente transmitido ao Estado requerente. 207
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5. Se a entrega não for possível, a autoridade competente comunica imediatamente competentes nacionais um extracto do registo criminal e, todas as informações
o motivo ao Estado requerente. relativas à pessoa perseguida.
6. O pedido de entrega de um documento que exige a comparência de uma pessoa 2. As disposições do número precedente são aplicáveis quando os processos
deve ser efectuado o mais tardar sessenta (60) dias antes da data de comparência. judiciais são executados por uma jurisdição de um Estado terceiro e que esse
Estado reserva o mesmo tratamento aos pedidos de mesma natureza emanados das
ARTIGO 59º jurisdições nacionais competentes.
(A comparência dos testemunhos não detidos)
1. Se numa acção judicial exercida contra o autor das infracções visadas na ARTIGO 62º
presente lei, a comparência pessoal de um testemunho residente no território (Pedido de investigação e de confiscação)
nacional for considerada necessária pelas autoridades judiciárias de um Estado Quando o pedido de cooperação tiver como objectivo a execução de medidas
estrangeiro, a autoridade competente, interceptado por um pedido transmitido por de investigação e de confiscação para recolher peças de convicção, a autoridade
via diplomática, obriga-lhe a comparecer ao convite que lhe foi dirigido. competente autoriza o pedido, na medida compatível com a legislação em vigor
2. O pedido tendente a obter a comparência do testemunho comporta, para e na condição de as medidas solicitadas não causarem prejuízo aos direitos de
além das indicações previstas pelo artigo 54º, os elementos de identificação do terceiros de boa fé.
testemunho.
3. Contudo, o pedido só é recebido e transmitido, na dupla condição de o tes- ARTIGO 63º
temunho não ser nem perseguido nem detido por factos ou condenações anteriores (Pedido de confiscação)
à sua comparência e que ele não seja obrigado, sem o seu consentimento, a tes- 1. Quando o pedido de cooperação judiciária tiver como objecto uma decisão
temunhar num processo ou a dar a sua contribuição num inquérito ligado ao pedido que ordene uma confiscação, a jurisdição competente estatui sobre a sua submissão
de cooperação. ao tribunal da autoridade competente do Estado requerente.
4. Nenhuma sanção, nem medida de constrangimento podem ser aplicadas ao
2. A decisão de confiscação deve visar um bem que representa o produto ou o
testemunho que recusar deferir um pedido tendente a obter a sua comparência.
instrumento de uma das infracções visadas pela presente lei e que se encontra no
território nacional, ou consistir numa obrigação de pagamento de uma quantia de
ARTIGO 60º
dinheiro correspondente ao valor desse bem.
(A comparência de pessoas detidas) 3. Não pode ser dado seguimento a um pedido tendente a obter uma decisão de
1. Se, numa acção judicial exercida contra o culpado de uma das infracções confiscação, se uma tal decisão tiver como objectivo o de causar prejuízo aos
visadas na presente lei, a comparência pessoal de um testemunho detido no território direitos legalmente constituídos, em benefício de terceiros, sobre os bens visados
nacional for considerada necessária, a autoridade competente, interceptado por em aplicação da lei.
um pedido dirigido directamente ao tribunal competente, procederá à transferência
do interessado. ARTIGO 64º
2. Contudo, só será dado seguimento ao pedido se a autoridade competente do (Pedido de medidas conservatórias para efeitos de preparação
Estado requerente se comprometer a manter em detenção a pessoa transferida, de uma confiscação)
enquanto a pena que lhe foi infligida pelas jurisdições nacionais competentes não
1. Quando o pedido de cooperação tem como objecto investigar o produto das
for inteiramente clarificada, e a devolvê-la em estado de detenção na conclusão
infracções visadas na presente lei que se encontra no território nacional, a autoridade
do processo ou se a sua presença deixar de ser necessária.
competente pode efectuar investigações cujos resultados serão comunicados à
autoridade competente do Estado requerente.
ARTIGO 61º
2. Para o efeito, a autoridade competente toma todas as medidas necessárias
(Registo criminal)
para investigar a origem dos bens, inquirir sobre as operações financeiras apropriadas
1. Quando os processos judiciais são executados por uma jurisdição de um
e recolher quaisquer outras informações ou depoimentos de natureza a facilitar a
Estado membro da UEMOA contra o culpado de uma das infracções visadas pela
colocação em mãos da justiça dos produtos da infracção.
208 presente lei, o tribunal da dita jurisdição pode obter directamente das autoridades 209
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3. Quando as investigações previstas no nº 1 do presente artigo atingem resulta- 2. As disposições do número precedente aplicam-se às condenações pronunciadas
dos positivos, a autoridade competente toma, a pedido da autoridade competente pelas jurisdições de um Estado terceiro, quando esse Estado reserva o mesmo
do Estado requerente, qualquer medida tendente a prevenir a negociação, a cessão tratamento às condenações pronunciadas pelas jurisdições nacionais.
ou a alienação dos produtos visados enquanto não for tomada uma decisão
definitiva pela jurisdição competente do Estado requerente. ARTIGO 68º
4. Qualquer pedido tendente a obter as medidas visadas no presente artigo, deve (Modalidades de execução)
mencionar, para além das indicações previstas no artigo 54º, as razões que levam As decisões de condenação pronunciadas no estrangeiro são executadas em
a autoridade competente do Estado requerente a acreditar que os produtos ou os conformidade com a legislação em vigor.
instrumentos das infracções se encontram no seu território, assim como as
informações que permitem localizá-los. ARTIGO 69º
(Interrupção da decisão)
ARTIGO 65º A decisão é interrompida quando em virtude de uma decisão ou de um processo
(Efeito da decisão de confiscação pronunciada no estrangeiro) emanado do Estado que pronunciou a sanção, esta perde o seu carácter aplicável.
1. Na medida compatível com a legislação em vigor, a autoridade competente
executa qualquer decisão de justiça definitiva de penhora ou de confiscação dos ARTIGO 70º
produtos das infracções visadas na presente lei emanada de jurisdição de um (Recusa de execução)
Estado membro da UEMOA. O pedido de execução da condenação pronunciada no estrangeiro é rejeitada se
2. As disposições do número precedente aplicam-se às decisões emanadas das a pena for prescrita em relação à lei do Estado requerente.
jurisdições de um Estado terceiro, quando esse Estado reserva o mesmo tratamento
às decisões emanadas das jurisdições nacionais competentes. CAPÍTULO IV
3. Não obstante as disposições dos dois números precedentes, a execução das EXTRADIÇÃO
decisões emanadas do estrangeiro não podem ter como efeito causar prejuízo aos
direitos legalmente constituídos sobre os bens visados em benefício de terceiros ARTIGO 71º
em aplicação da lei. Esta regra não constitui obstáculo à aplicação das disposições (Condição de extradição)
das decisões estrangeiras relativas aos direitos de terceiros, salvo se, estes não 1. São sujeitos à extradição:
tiverem sido colocados em condições de fazer valer os seus direitos perante a a) Os indivíduos perseguidos por infracções visadas pela presente lei qualquer
jurisdição competente do Estado estrangeiro em condições análogas às previstas que seja a duração da pena incorrida no território nacional;
pela lei em vigor. b) Os indivíduos que, por infracções visadas pela presente lei, são condenados
definitivamente pelos tribunais do Estado requerente, sem que a pena pronunciada
ARTIGO 66º seja levada em consideração.
(Destino dos bens confiscados) 2. Não são infringidas as regras de direito comuns da extradição, nomeadamente
O Estado goza do poder de dispor dos bens confiscados no seu território a as relativas à dupla incriminação.
pedido de autoridades estrangeiras, salvo decisão contrária de um acordo assinado
com o governo requerente. ARTIGO 72º
(Procedimento simplificado)
ARTIGO 67º Quando o pedido de extradição se refere a uma pessoa que tenha cometido uma
(Pedido de execução das decisões tomadas no estrangeiro) das infracções previstas pela presente lei, ele é dirigido directamente ao Procurador
1. As condenações a penas privativas de liberdade, as multas e confiscações, Geral competente do Estado requerido, com ampliação, para informação, ao
assim como a libertação pronunciadas para as infracções visadas pela presente lei, Ministro da Justiça. Ele é acompanhado:
por uma decisão definitiva emanada de uma jurisdição de um Estado membro da a) Do original ou da cópia autenticada, quer de uma decisão de condenação
UEMOA, podem ser executadas no território nacional, a pedido das autoridades aplicável, quer de um mandato de detenção ou de qualquer outro acto que tenha
210 competentes desse Estado. a mesma força, emitido nas formas prescritas peia lei do Estado requerente e 211
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contendo a indicação precisa do tempo, lugar e circunstâncias dos factos cons- ARTIGO 75º
titutivos da infracção e da sua qualificação; (Entrega de objectos)
b) De uma cópia autenticada das disposições legais aplicáveis com a indicação 1. No caso de extradição, todos os objectos susceptíveis de servir como provas
da pena incorrida; ou provenientes da infracção e encontrados na posse do indivíduo reclamado no
c) De um documento comportando uma descrição tão precisa quanto possível momento da sua detenção ou descobertos posteriormente, são confiscados e
do indivíduo reclamado, assim como quaisquer outras informações de natureza a remetidos, a seu pedido, à autoridade competente do Estado requerente.
determinar a sua identidade, nacionalidade e lugar onde se encontra. 2. Esta entrega pode ser efectuada mesmo se a extradição não poder ser executada
em virtude da evasão ou morte do indivíduo reclamado.
ARTIGO 73º 3. São, todavia, reservados os direitos que os terceiros tenham adquirido sobre
(Complemento de informação) os ditos objectos que deverão, se existirem, ser entregues o mais rapidamente
Quando as informações comunicadas pela autoridade competente se revelam possível e sem expensas ao Estado requerente, em virtude dos processos executados
insuficientes para a tomada de uma decisão, o Estado pede o complemento de no Estado requerente.
informações necessárias e poderá fixar um prazo de quinze (15) dias para a 4. Se ela julgar necessário para um processo penal, a autoridade competente
obtenção dessas informações, a menos que esse prazo não seja compatível com a pode reter temporariamente os objectos confiscados.
natureza do processo. 5. Ela pode, no acto de transmissão, reservar-se o direito de solicitar a sua
devolução pela mesma razão, podendo esquecer-se de os remeter desde que seja
ARTIGO 74º possível fazê-lo.
(Prisão preventiva)
1. Em caso de urgência, a autoridade competente do Estado requerente, pode TÍTULO VI
pedir a prisão preventiva do indivíduo perseguido, enquanto se aguarda a DISPOSIÇÕES FINAIS
apresentação de um pedido de extradição; a autoridade competente decide sobre
este pedido, em conformidade com a legislação em vigor. ARTIGO 76º
2. O pedido de prisão preventiva indica a existência de uma das peças visadas (Informação da Autoridade de controlo dos processos executados
no artigo 72º e precisa a intenção de envio de um pedido de extradição; ele menciona contra os indivíduos sob sua tutela)
a infracção para a qual a extradição é solicitada, o tempo e o lugar onde ela foi O Procurador da República informa qualquer Autoridade de controlo competente
cometida, a pena que é ou pode ser incorrida ou foi pronunciada, o lugar onde se sobre os processos judiciais executados contra os indivíduos sob sua tutela, em
encontra o indivíduo reclamado, se for conhecido, assim como, na medida do aplicação das disposições da presente lei.
possível, a descrição deste.
3. O pedido de prisão preventiva é transmitido às autoridades competentes, quer ARTIGO 77º
por via diplomática, quer directamente por correio ou telégrafo, quer pela (Entrada em vigor)
organização internacional de Polícia criminal, quer por qualquer outro meio A presente lei entra imediatamente em vigor.
escrito ou aceite pela legislação em vigor do Estado.
4. A prisão preventiva termina se, no prazo de vinte (20) dias, o pedido de
extradição e as peças mencionadas no artigo 72º não tiverem sido submetidos à
autoridade competente.
5. Todavia, a libertação provisória é possível a qualquer momento, salvo se a
autoridade competente tomar qualquer medida que ela julgar necessária por forma
a evitar a fuga da pessoa perseguida.
212 213
Colectânea de Legislação de Direito Penal Regulamentação Bancária
PREÂMBULO
Até aqui, a legislação bancária, mais conhecida por lei das instituições
financeira, aprovada pelo Decreto nº 31/89, de 27 de Dezembro, não se mostra
adaptável ao novo dispositivo da gestão monetária.
A adesão da República da Guiné-Bissau, à União Monetária Oeste Africana, nas
condições previstas no Acordo de Adesão concluído em 29 de Janeiro de 1997
entre os Estados Membros da UMOA e a República da Guiné-Bissau, aderindo, em
consequência ao Tratado de 14 de Novembro de 1973 que institui a União
Monetária Oeste Africana, obriga nos termos do seu artigo 22º a uma harmonização
das legislações em matéria de organizações e distribuição do Crédito e do exercício
da profissão bancária.
A presente legislação que é aplicável a todos os Estados membros da UMOA,
obedece, no essencial às disposições da Convenção sobe a criação da Comissão
Bancária da UMOA.
Assim:
A Assembleia Nacional Popular decreta nos termos do artigo 85º da Constituição,
o seguinte:
TÍTULO I
DOMÍNIO DE APLICAÇÃO DA REGULAMENTAÇÃO BANCÁRIA
ARTIGO 1º
A presente lei aplica-se aos bancos e estabelecimento financeiros que exerçam
a sua actividade no território da República da Guiné-Bissau, quaisquer que seja o
seu estatuto jurídico, o local da sede social ou do principal estabelecimento e a
nacionalidade dos proprietários do seu capital social ou dos seus dirigentes.
ARTIGO 2º
1. No entanto, a presente lei não se aplica:
a) Ao Banco Central dos Estados da África do Oeste, adiante designado por
Banco Central;
*
214 Publicada no Suplemento ao Boletim Oficial nº 48, de 2 de Dezembro de 1997. 215
Colectânea de Legislação de Direito Penal Regulamentação Bancária
ARTIGO 19º 3. Estes documentos devem ser autenticados e oficializados por um revisor de
1. Os candidatos à direcção, à gestão ao controlo ou funcionamento dos bancos contas, escolhido de uma lista de revisores de contas autorizados pelo Supremo
e dos estabelecimentos financeiros são obrigados ao sigilo profissional, sob Tribunal de Justiça.
reserva das disposições do artigo 24º, último número. 4. Esta escolha é submetida à aprovação da Comissão Bancária.
2. É proibido aos mesmos utilizar informações confidenciais de que tenham 5. O balanço anual de cada banco deverá ser publicado no Boletim Oficial, a
conhecimento no exercício da sua actividade, para realizar directa ou indirecta- cargo do Banco Central. As despesas desta publicação incumbem ao banco.
mente operações em seu próprio nome ou para benefício de outrem.
ARTIGO 41º
[...] Os bancos e estabelecimentos financeiros devem, durante o exercício fiscal,
elaborar demonstrações financeiras segundo a periodicidade e nas condições
ARTIGO 27º prescritas pelos Banco Central. Estas demonstrações são comunicadas a este e à
1. Os bancos e os estabelecimentos financeiros que não sejam empresas em Comissão Bancária.
nome individual devem construir uma reserva especial, incluindo toda e qualquer
reserva legal eventualmente exigida palas leis e regulamentos em vigor, por ARTIGO 42º
dedução dos benefícios líquidos realizados anualmente. O montante desta reserva 1. Os bancos e estabelecimentos devem fornecer, a pedido do Banco Central,
especial é fixado, para os bancos e as diversas categorias de estabelecimentos todas as informações, esclarecimentos, justificações e documentos considerados
financeiros, por uma instrução do Banco Central. úteis para a análise da sua situação, a apreciação dos riscos o estabelecimento de
2. A reserva dos bancos e estabelecimentos financeiros identificados no artigo lista de cheques e títulos de crédito em falta e outros incidentes de pagamento, e
24º é calculada sobre os benefícios líquidos realizados na República da Guiné- de modo global para o exercício pelo Banco Central das suas atribuições.
-Bissau e acrescenta-se à adaptação prevista no referido artigo. 2. Os bancos e estabelecimentos financeiros devem, a pedido da Comissão
Bancária, fornecer a esta qualquer documento, informações, esclarecimento e
[...] justificação considerados úteis ao exercício das suas atribuições.
3. A pedido da Comissão Bancária, todos e qualquer Revisor de Contas de um
ARTIGO 30º banco ou estabelecimento financeiro deve fornecer à referida comissão todos os
Estão igualmente dependentes de prévia autorização do Ministro das Finanças: relatórios documentos e outras peças, bem como comunicar-lhe todas as informações
a) Qualquer cessão por um banco ou estabelecimento financeiro de mais de 20% consideradas úteis ao pleno cumprimento da sua missão.
do seu activo, correspondente às suas operações na república da Guiné-Bissau; 4. O segredo profissional não é oponível nem à Comissão Bancária, nem ao
b) Qualquer exploração por gestor ou cessação do conjunto das suas actividades Banco Central, nem à autoridade judicial no âmbito de processo penal.
na república da Guiné-Bissau.
ARTIGO 43º
[...] As disposições do artigo 42º são aplicáveis à Administração dos Correios e
Telecomunicações relativamente às operações dos serviços financeiros e de
ARTIGO 40º cheques postais.
1. Os bancos e estabelecimentos financeiros devem fechar as contas a 30 de
Setembro de cada ano. TÍTULO V
2. Antes de 31 de Março do ano seguinte, devem comunicar ao Banco Central REGRAS DA UNIÃO MONETÁRIA OESTE-AFRICANA
e à Comissão Bancária:
a) O Balanço e obrigações fora do balanço; ARTIGO 44º
b) A Conta Resultados Correntes do Exercício; 1. O Conselho de Ministros da União Monetária Oeste-Africana está habilitada
c) A Conta Resultados Líquidos. para tomar todas as disposições relativas:
218 219
Colectânea de Legislação de Direito Penal Regulamentação Bancária
a) Aos instrumentos e regras das políticas de crédito aplicáveis aos bancos e CAPÍTULO II
estabelecimento financeiros. Nomeadamente a constituição de reservas obrigatórias SANÇÕES DISCIPLINARES
junto do Banco Central, o respeito por uma relação entre os diversos elementos
dos seus recursos e aplicações, ou ainda o respeito dos limites máximo e mínimo ARTIGO 47º
do montante de determinadas aplicações; As sanções disciplinares por infracções à regulamentação bancária são pro-
b) Às condições nas quais os bancos e estabelecimentos financeiros podem nunciadas pela Comissão Bancária, de acordo com a convenção que deu origem
adquirir participações; à criação da referida comissão Bancária.
c) Às normas de gestão que os bancos e estabelecimentos financeiros devem
respeitar nomeadamente com vista a garantir liquidez, solvabilidade, a divisão dos ARTIGO 48º
riscos e o equilíbrio da estrutura financeira.
As decisões da Comissão Bancária são executórias de pleno direito sobre o
2. O Banco Central está ainda habilitado a tomar todas as disposições relativas
território da República da Guiné-Bissau.
às taxas e condições das operações efectuadas pelos bancos e estabelecimentos
financeiros com a sua clientela. Poderá também determinar disposições particulares
a favor de certos estabelecimentos dotados de estatuto especial, nomeadamente os CAPÍTULO III
estabelecimentos que, não recorrem a utilização da taxa de juro e praticam o SANÇÕES PENAIS
sistema de partilha de resultados.
3. As disposições previstas no presente artigo poderão divergir para os bancos ARTIGO 49º
e as diversas categorias de estabelecimentos financeiros e prever derrogações 1. Será punido com pena de prisão de um mês a dois anos e com multa de
individuais e temporárias, a cargo da Comissão Bancária. 2.000.000 a 20. 000. 000 francos, ou apenas com uma das duas quem, agindo por
4. O Banco Central notificará os bancos e estabelecimentos financeiros nesta conta própria ou por conta de outrem contravier ao disposto:
matéria. a) No artigo 7º;
5. Instruções específicas por parte do Banco Central determinarão as modalidades b) No artigo 10º, nº 2.
de aplicação destas disposições. 2. Em caso de reincidência, a pena máxima a aplicar será de cinco anos de prisão
e a multa máxima de 50. 000. 000 francos.
ARTIGO 45º
Os bancos e estabelecimentos financeiros deverão conformar-se às decisões ARTIGO 50º
tomadas pelo Conselho de Ministros da União Monetária Oeste-Africana, Banco 1. Será punido com pena de prisão de um mês a dois anos e com multa de
Central e Comissão Bancária no exercício dos poderes que lhes foram conferidos 2.000.000 a 20.000. 000 francos, ou apenas com uma das duas quem, agindo por
pelo Tratado que constitui a União Monetária Oeste-Africana, os Estatuto do conta própria ou por conta de outrem infringir ao disposto no artigo 19º, nº 2.
Banco Central, a convenção que deu origem à criação da Comissão Bancária e a 2. Em caso de reincidência, a pena máxima a aplicar será de cinco anos de prisão
presente lei. e a multa máxima de 50.000.000 francos CFA.
ARTIGO 52º
1. Será punido com multa de 2.000 000 francos qualquer banco ou estabele-
cimento financeiro que contravier a uma das disposições previstas nos artigos 18º, Lei nº 11/97, de 2 de Dezembro1
27º, 30º, 40º, 41º, e 42º, ou ao disposto nos artigos 44º e 45º, sem prejuízo das
Regime Geral das Instituições Mutualistas ou Cooperativas
sanções previstas nos capítulos II e IV do presente título.
de Poupança e de Crédito
2. A mesma pena poderá ser pronunciada contra os dirigentes responsáveis pela
infracção e contra qualquer revisor de contas que tiver infringido ao disposto no
PREÂMBULO
artigo 42º.
3. Serão passíveis da mesma pena as pessoas que tiverem adquirido ou cedido
O reconhecimento constitucional da propriedade cooperativa, organizada sob
uma participação num banco ou estabelecimento financeiro em contravenção do
a base do livre consentimento, ilustra bem, a importância que, assim, lhe é con-
disposto no artigo 29º.
ferida na promoção e desenvolvimento de actividades económicas e sócio-
-culturais.
[...]
Se por um lado, o desenvolvimento do sector cooperativo suscitaria que o
mesmo fosse acompanhado de igual transformação no plano normativo, hoje, a
ARTIGO 71º
adesão do País à União Monetária Oeste Africana impõe a adopção de uma
1. A presente lei entrará em vigor na data prevista pelo artigo 37º do Anexo à regulamentação uniforme no domínio abrangido pelo presente diploma.
Convenção que dá origem à criação da Comissão Bancária. Considerando que o artigo 22º do Tratado institutivo prevê a necessidade de se
2. São revogados a contar desta data todas as disposições contrárias, nomea- adoptar uma regulamentação uniforme no domínio da organização geral da
damente a Lei das Instituições Financeiras da Guiné-Bissau, aprovada pelo Decreto distribuição e do controlo do crédito.
nº 31/89 de 27 de Dezembro, publicada no Boletim Oficial nº 52. Com o presente diploma visa-se estabelecer o regime geral das instituições
mutualistas ou cooperativas de crédito e poupança, procedendo-se desta forma à
Aprovado em 24 de Outubro de 1997. – O Presidente da Assembleia Nacional adaptação nacional aos dos demais Membros da União Monetária Oeste Africana.
Popular, Malam Bacai Sanhá. A Assembleia Nacional Popular decreta, nos termos do artigo 85º da Constituição,
o seguinte:
Promulgado em 21 de Novembro de 1997.
Publique-se. TÍTULO I
O Presidente da República, João Bernardo Vieira. DEFINIÇÕES
ARTIGO 1º
Na acepção do presente diploma as expressões seguintes, designam:
a) UMOA: União Monetária Oeste Africana;
b) Banco Central: Banco Central dos Estados da África Ocidental;
c) Comissão Bancária: Comissão Bancária da União Monetária Oeste Africana;
d) Ministro: Ministro das Finanças;
e) Regulamento: Regulamento Interno da Instituição;
f) Estatutos: Estatutos da Instituição.
1
222 Publicada no Suplemento ao Boletim Oficial nº 48, de 2 de Dezembro de 1997. 223
Colectânea de Legislação de Direito Penal Regime Geral das Instituições Mutualistas ou Cooperativas de Poupança e de Crédito
ARTIGO 81º
As instituições e agrupamentos em actividade, devidamente aprovados antes da
entrada em vigor da presente lei, são considerados como aprovados ou reconhecidos
mediante simples declaração ao Ministro. Eles dispõem de um prazo de dois anos
a partir da data de entrada em vigor desta lei para se conformarem às suas
disposições.
ARTIGO 82º
O Governo regulamentará a matéria do presente diploma no prazo de dias2.
ARTIGO 83º
As atribuições mencionadas no artigo precedente cabem ao Banco Central e à
Comissão Bancária relativamente às matérias da sua área de competência.
ARTIGO 84º
As decisões do Ministro são susceptíveis de impugnação judicial, mediante
recurso a interpor perante a jurisdição competente.
2
226 Igual ao texto publicado no Boletim Oficial. 227
Colectânea de Legislação de Direito Penal Lei Uniforme Sobre os Instrumentos de Pagamento
PREÂMBULO
*
228 Publicada no Suplemento ao Boletim Oficial nº 48, de 2 de Dezembro de 1997. 229
Colectânea de Legislação de Direito Penal Lei Uniforme Sobre os Instrumentos de Pagamento
TÍTULO PRELIMINAR dos motivos da falta pagamento. Essa carta dá lugar, em benefício do notário ou
ÂMBITO DE APLICAÇÃO da pessoa para o efeito habilitada por lei, ao direito de correspondência fixado pela
tarifa que lhe é aplicável.
ARTIGO 1º 3. Cada um dos endossantes deve por sua vez dentro de dois dias úteis que se
1. As disposições da presente lei aplicam-se: seguirem ao da recepção do aviso, informar o seu endossante do aviso que recebeu,
a) Aos bancos segundo a definição contida no artigo 3º da Lei da Regulamentação indicando os nomes e endereços dos que enviaram os avisos precedentes e assim
Bancária: sucessivamente, até se chegar ao sacador. Os prazos acima indicados contam-se a
b) Aos Centros de Cheques Postais com ressalvadas especificações do respectivo partir da recepção do aviso precedente.
estatuto. 4. Quando em conformidade com o disposto na alínea anterior, se avisou um
c) Ao Tesouro Público ou qualquer outro organismo habilitado por lei. signatário do cheque deve igualmente avisar-se o seu avalista dentro do mesmo
2. Para efeitos do disposto na presente lei, o termo banqueiro designa os prazo de tempo.
organismos contemplados na alínea anterior, sem prejuízo das disposições 5. No caso de um endossante não ter indicado o seu endereço ou de o ter feito
específicas que lhe são aplicáveis. de maneira ilegível, basta que o aviso seja enviado ao endossante que o precede.
6. A pessoa que tenha de enviar um aviso pode fazê-lo por qualquer forma,
[...] mesmo pela simples devolução do cheque.
7. Essa pessoa deverá provar que o aviso foi enviado dentro do prazo prescrito.
ARTIGO 43º O prazo considerar-se-á como tendo sido observado desde que a carta contendo
1. Quando exista provisão, o sacado deve pagar mesmo que já tenha expirado o aviso tenha sido posta no correio dentro dele.
o prazo de apresentação. 8. A pessoa que não der o aviso dentro do prazo acima indicado, não perde os
2. O sacado deve igualmente pagar, ainda que o cheque tenha sido emitido a seus direitos. Será responsável pelo prejuízo, se o houver motivado pela sua
despeito da injunção prescrita no artigo 74º ou em violação da interdição prevista negligência, sem que a responsabilidade possa exceder o valor do cheque.
no nº 1 do artigo 85º.
3. Não é permitida a oposição ao pagamento do cheque pelo sacador, salvo nos [...]
casos de perda, furto, utilização fraudulenta do cheque ou início de um procedimento
judicial de liquidação judicial, execução de bens ou de falência contra o portador. ARTIGO 72º
4. O sacador deve, de imediato, confirmar a sua oposição, indicando por escrito 1. Os cheques que não forem os que são entregues para saque de fundos pelo
o motivo qualquer que seja o fundamento. Essa proibição de pagamento só cessa sacador junto do sacado, para certificação ou cheques bancários não podem, sob
pelo seu levantamento decretado judicialmente ou por prescrição. salvo o disposto no artigo 76º ser entregues ao titular da conta ou ao seu mandatário
5. No caso de contestação por parte do portador, em face à oposição formulada durante cinco anos a contar de um incidente de pagamento verificado em nome
pelo sacador, o tribunal, mesmo no caso da instância principal ter sido iniciada, do titular da conta ou por falta de provisão o declarado ao Banco Central.
pode ordenar o levantamento da oposição. 2. O disposto no presente artigo deve ser observado pelo banqueiro que se
recusou a pagar o cheque por falta de provisão e por qualquer banqueiro que tenha
[...] sido informado do incidente pelo Banco Central, nos termos dos artigos 93º a 95º.
c) Mandar uma carta de advertência ao titular da conta, a encargo deste último, 3. A penalidade liberatória devida reverte para o Tesouro Público nas condições
indicando o motivo da recusa do pagamento e as sanções incorridas por falta de e modalidades estabelecidas por despacho ministerial.
pagamento.
2. A carta de advertência só é enviada ao titular da conta, se a conta não registando ARTIGO 77º
nenhum incidente de pagamento, nos seis meses anteriores ao registo mencionado 1. A penalidade liberatória não é exigida ao titular da conta que emitiu o cheque
na alínea b). ou ao seu mandatário, se justificar dentro do prazo de 30 dias a contar da imposição
prevista no artigo 74º, ter pago o montante do cheque ou constituído uma provisão
ARTIGO 74º suficiente e disponível destinada ao seu pagamento por intermédio do sacado.
1. O banqueiro sacado deve, na ausência de regularização no prazo de um mês 2. Nesse caso, a dispensa de penalidade liberatória aproveita o conjunto dos
a contar da carta de advertência: cheques recusados por falta de cobertura na mesma conta e regularizados no prazo
a) Comunicar o Banco Central do incidente, no quarto dia útil seguinte à data acima indicado.
de vencimento do prazo; 3. A penalidade liberatória não é devida quando o sacador se encontra na im-
b) Avisar o titular da conta que está interdito durante um período de cinco anos possibilidade de proceder à regularização nos prazos exigidos. Essa impossibilidade
de emitir cheques, salvo tratando-se de cheques que permitam exclusivamente o deve ser justificada perante o Tesouro Público que apreciará a sua legitimidade.
saque de fundos junto do sacado, ou aqueles que estão certificados.
2. Em simultâneo, o banqueiro sacado deve ordenar ao titular da conta de ARTIGO 78º
restituir a qualquer banqueiro os cheques por estes fornecidos que tiver e seu poder 1. O montante da penalidade liberatória prevista no artigo 76º é elevado ao
dos seus mandatários. Estes últimos também são informados a esse respeito pelo dobro quando o titular da conta ou o seu mandatário já tiver procedido a duas
banqueiro sacado. regularizações que lhe permitiram recuperar a possibilidade de emitir cheques no
3. Quando a carta de advertência não for enviada em aplicação da alínea b) do cumprimento do artigo pré-citado, no decorrer dos doze meses que antecedem o
artigo 73º, o banqueiro sacado avisa o Banco Central o mais tardar no segundo dia incidente de pagamento.
útil seguinte ao registo do incidente. 2. O montante da penalidade liberatória é determinado em relação à fracção da
4. O banqueiro sacado é também obrigado às outras diligências contidas no soma que ficou por pagar.
artigo 74º, alíneas a) e b) relativas à notificação da interdição bancária de emitir
cheques e da injunção de restituição dos cheques ao titular da conta. ARTIGO 79º
1. As impugnações relativas à interdição de emissão de cheques e à penalidade
ARTIGO 75º
liberatória previstas nos artigos 76º e 78º são da competência da jurisdição civil.
No caso de o incidente de pagamento ser feito em contas com mais de um titular, 2. A acção em justiça perante essa jurisdição não tem efeitos suspensivos.
as disposições dos artigos 72º e 76º são aplicáveis aos outros co-titulares, no que Todavia, a jurisdição competente pode em sede de procedimento cautelar ordenar
respeita à referida conta. a suspensão da interdição de emitir cheques quando houver fundamento para tal.
ARTIGO 76º ARTIGO 80º
1. A interdição bancária de emitir cheques cessa quando a contas da injunção A interdição bancária pode igualmente ser levantada quando for decretada por
precitada, o titular da conta justificar: motivo não imputável ao sacador, nomeadamente por erros cometidos pelo
a) Ter liquidado o montante do cheque por pagar ou constituído provisão banqueiro.
suficiente e disponível destinada ao seu pagamento ao cuidado do sacado;
b) Ter pago uma penalidade liberatória nas condições e com as reservas fixadas
nos artigos 77º a 79º.
2. Nesses casos, a interdição decretada pela aplicação artigo 74º é levantada
segundo as condições estabelecidas nas instituições do Banco Central e o banqueiro
232 sacado emite, se lhe for solicitado, um atestado do pagamento ao sacador. 233
Colectânea de Legislação de Direito Penal Lei Uniforme Sobre os Instrumentos de Pagamento
SECÇÃO III 2. As multas aplicadas serão elevadas a 3.000.000 F se o sacador for comerciante.
CERTIFICADO DE NÃO-PAGAMENTO
ARTIGO 84º
ARTIGO 81º Será punido com pena de prisão de um a cinco anos e multa de 100.000 F a
1. Na falta de pagamento do cheque, no prazo de trinta dias a contar da primeira 5.000.000 ou só uma destas penas:
apresentação ou da constituição da cobertura do mesmo prazo, o sacado emite um a) Quem contrafizer ou falsificar um cheque;
certificado de não pagamento ao portador do cheque nas condições determinadas b) Quem com conhecimento de causa fizer uso ou tentar fazer de um cheque
por despacho ministerial. contrafeito ou falsificado;
2. A notificação efectiva ou o aviso do certificado de não pagamento ao sacador c) Quem com conhecimento de causa aceitar receber um cheque contrafeito ou
por diligência das pessoas para o efeito habilitadas por lei tem valor de ordem de falsificado.
pagamento.
3. A pessoa para efeito habilitada por lei que não recebeu a justificação do ARTIGO 85º
pagamento do montante do cheque e das despesas num prazo de quinze dias a 1. Em todos os casos previstos nos artigos 83º e 84º, o Tribunal deve interditar
contar da recepção da notificação ou do aviso, emite, sem qualquer outro ao condenado, por um período de um a de cinco anos, a emissão de quaisquer
procedimento, um título executivo. cheques salvo os que sejam destina dos exclusivamente ao saque de fundos pelo
4. Seja como for, todos os encargos resultantes da recusa de um cheque sem sacador junto do sacado ou para certificação. Esta interdição é acompanhada da
provisão ficam a cargo do sacado. injunção ordenada ao condenado de ter que restituir aos banqueiros que lhe
forneceram os módulos de cheques que tiver em seu poder ou em poder dos seus
[...] mandatários. O tribunal deve igualmente, a expensas do condenado ordenar a
publicação por extractos da decisão relativa à proibição nos jornais que designar
CAPÍTULO XI e de acordo com as modalidades por ele fixadas.
DISPOSIÇÕES GERAIS E PENAIS 2. Em consequência, da interdição pré-citada, o banqueiro dela informado pelo
Banco Central em conformidade com os artigos 93º e 95º deve abster-se de
SECÇÃO IV fornecer ao condenado e aos seus mandatários quaisquer cheques que não sejam
DAS SANÇÕES os mencionados na alínea anterior.
3. Quando a sentença condenatória for decretada em consequência de um
ARTIGO 83º incidente de pagamento relativo a contas com mais de um titular, a interdição
1. Será punido com a prisão, de um a três anos e uma multa de 100.000 a prevista na primeira alínea é extensiva a todos os co-titulares.
2.500.000 F CFA ou só de uma desta das penas:
a) O titular da conta ou o mandatário que, com conhecimento de causa emitir ARTIGO 86º
um cheque sem provisão ou após a emissão do cheque, levantar seja por que meio 1. Será punido com pena de prisão um a cinco anos e de multa de 100.000 F
for a totalidade ou parte da provisão; a 2.500.000 ou só uma destas penas, o sacador que emitir um ou vários cheques
b) O sacador, ou o mandatário que, com conhecimento de causa emitir um em violação à interdição decretada em aplicação do artigo 85º.
cheque sobre uma conta encerrada; 2. Incorre na mesma pena o mandatário que com conhecimento de causa emitir
c) O sacador que, em desrespeito da injunção que lhe foi enviada nos termos um ou vários cheques cuja emissão estiver interdita ao mandante, em aplicação do
do artigo 74º, emitir um ou vários cheques; artigo 85º, nº 1.
d) O mandatário que, com conhecimento de causa emitir um ou vários cheques
cuja emissão era proibida ao seu mandante, por força do artigo 74º; ARTIGO 87º
e) Quem proibir ao banqueiro sacado o pagamento de um cheque emitido e 1. Os factos punidos nos artigos 83º e 84º são considerados, para a aplicação das
entregue, salvo nos casos previstos pela lei vigente; disposições no que respeita reincidência, como constituído a mesma infracção.
234 f) Quem aceitar, com conhecimento de causa um cheque sem provisão. 235
Colectânea de Legislação de Direito Penal Lei Uniforme Sobre os Instrumentos de Pagamento
2. Em caso de reincidência, é aplicável a pena máxima prevista nos artigos 83º SECÇÃO V
e 84º. DA CENTRALIZAÇÃO
ARTIGO 206º
1. Devem ser adoptadas pelas autoridades públicas competentes e estabele-
cimentos bancários e financeiros, medidas informação e de sensibilização sobe o OHADA*
disposto na presente lei, durante o período do tempo que medeia a publicação e
Acto Uniforme relativo ao Direito das Sociedades Comerciais e ao
a sua entrada em vigor.
Agrupamento de Interesse Económico
2. Estas medidas de informação e de sensibilização devem ser prosseguidas
periodicamente, após a sua entrada em vigor.
CAPÍTULO PRELIMINAR
ÂMBITO DE APLICAÇÃO DAS DISPOSIÇÕES
Aprovada em 24 de Outubro de 1997.
DO PRESENTE ACTO UNIFORME
O Presidente da Assembleia Nacional Popular, Malam Bacai Sanhá.
ARTIGO 1º
Promulgada em 21 de Novembro de 1997.
Publique-se. 1. A sociedade comercial cuja sede se situe no território de um Estado parte do
O Presidente da República, João Bernardo Vieira. Tratado relativo à Harmonização do Direito Comercial de África (daqui em diante
designados “Estados parte”) fica submetida às disposições do presente Acto
Uniforme, incluindo aquela em que o Estado ou outra pessoa colectiva de direito
público sejam sócios.
*
O Tratado Relativo à Harmonização do Direito dos Negócios em África, feito em
Port-Louis/Senegal, aos 17 de Outubro de 1993, foi aprovado em 15 de Janeiro de 1994
e publicado no Boletim Oficial da Guiné-Bissau no Suplemento ao nº 3, de 17 de Janeiro de
1994, sob a forma de Resolução nº 1/94. Tem especial relevância para a matéria em causa
a transcrição dos artigos 5º, 9º e 10º do referido Tratado, cujo texto em francês em seguida
se expõe:
“Titre II: Les Actes Uniformes
[...]
Article 5
Les actes pris pour l’adoption des régles communes prévues à l’article premier du
presente traité sont qualifiés “actes uniformes”.
Les actes uniformes peuvent inclure des dispositions d’incrimination penale.
Les États Parties s’engagent à determiner les sanctions penales encourues.
Article 9
Les actes uniformes entrent en vigueur quatre-vingt-dix jours aprés leur adoption
sauf modalités particulières d’entrée en vigueur preuves par l’acte uniforme lui-même
ils sont oppossables trente jours fanes aprés leur publication au journal officiel de
l’OHADA. Ils sont également publiés au journal officiel des États Parties ou par tout
autre moyen approprié.
Article 10
Les actes uniformes sont directement applicables et obligatoires dans les États Parties,
nonobstan toute disposition contraire de droit interne, anterieure ou posterieure.
[...].”
240 O texto do tratado e demais matéria poderá ser encontrado em www.ohada.com. 241
Colectânea de Legislação de Direito Penal OHADA
2. Todo o agrupamento de interesse económico fica igualmente sujeito às b) Quem remeter ao notário ou ao depositário uma lista dos accionistas ou dos
disposições do presente Acto Uniforme. boletins de subscrição e de pagamento mencionando subscrições fictícias ou
3. As sociedades comerciais e os agrupamentos de interesse económico pagamentos de fundos que não foram definitivamente colocados à disposição da
continuam sujeitos às leis vigentes no Estado parte onde se situe a sede social, desde sociedade;
que não sejam contrárias ao presente Acto Uniforme. c) Quem, dolosamente, por meio de simulação de subscrição ou de pagamento
ou por meio de publicação de subscrição ou de pagamento que não existam ou de
ARTIGO 2º outros factos falsos, obtiver ou tentar obter subscrições ou pagamentos;
As disposições do presente Acto Uniforme são de ordem pública, excepto d) Quem, dolosamente, para provocar subscrições ou pagamentos, publicar,
quando este autorize expressamente o sócio único ou os sócios a substitui-las por contrariamente à verdade, os nomes de pessoas designadas, como estando ou
outras em que acordem ou a completá-las. devendo estar ligadas à sociedade a qualquer título; quem, fraudulentamente,
atribuir a uma entrada em espécie um valor superior ao real.
ARTIGO 3º
1. Todas as pessoas, seja qual for a sua nacionalidade, desejem exercer, através ARTIGO 888º
de uma sociedade, actividade comercial no território de um dos Estados parte, Incorre numa sanção penal quem dolosamente negociar:
devem adoptar um dos tipos de sociedade adequado à actividade escolhida, de a) Acções nominativas que não tenham permanecido como tal até à sua inteira
entre os previstos no presente Acto Uniforme. liberação;
2. As pessoas referidas no número anterior podem também escolher associar-se, b) Acções de representativas de entradas em espécie antes de expirar o prazo
nas condições previstas pelo presente Acto Uniforme, em agrupamento de interesse durante o qual não são negociáveis;
económico. c) Acções representativas de entradas em numerário relativamente às quais não
tenha sido liberado um quarto do respectivo valor nominal.
[...]
TÍTULO II
PARTE III INFRACÇÕES RELATIVAS À GERÊNCIA, ADMINISTRAÇÃO
DISPOSIÇÕES PENAIS E DIRECÇÃO DAS SOCIEDADES
geral ou o administrador geral adjunto que, de má fé, fizerem dos bens ou do ARTIGO 894º
crédito da sociedade um uso que sabem ser contrário ao interesse desta, para fins Incorrem em sanções penais os dirigentes sociais que, aquando de um aumento
pessoais, materiais ou morais, ou para favorecer outra pessoa colectiva na qual têm de capital:
directa ou indirectamente interesses. a) Não tenham feito beneficiar os accionistas, proporcionalmente ao montante
das suas acções, de um direito de preferência na subscrição de acções de numerário,
TÍTULO III desde que este direito não tenha sido suprimido pela assembleia geral e os accio-
INFRACÇÕES RELATIVAS ÀS ASSEMBLEIAS GERAIS nistas não tenham a ele renunciado;
b) Não tenham reservado aos accionistas um prazo de pelo menos vinte dias,
ARTIGO 892º a contar da abertura da subscrição, excepto se esse prazo tiver terminado anteci-
Incorre numa sanção penal quem, dolosamente, impedir um accionista ou um padamente;
sócio de participar numa assembleia geral. c) Não tenham atribuído as acções que ficaram disponíveis, por falta de um
número suficiente de subscrições a título irredutível, aos accionistas que subs-
TÍTULO IV creveram a título redutível um número de acções superior àquele que podiam
INFRACÇÕES RELATIVAS ÀS ALTERAÇÕES DO CAPITAL subscrever a título irredutível, de forma proporcional aos direitos de que dispõem;
DAS SOCIEDADES ANÓNIMAS d) Não tenham reservado os direitos dos titulares de bónus de subscrição.
ARTIGO 898º a) Não publicar, no prazo de um mês a contar da sua nomeação, num jornal do
Incorre numa sanção penal quem, em nome pessoal, ou na qualidade de sócio lugar da sede social e habilitado a receber anúncios legais, o acto que o nomeia para
de uma sociedade de revisores oficiais de contas, dolosamente aceitar, exercer ou o desempenho das funções de liquidação e não entregar no Registo do Comércio
mantiver funções de revisor oficial de contas em situação de incompatibilidade e do Crédito Mobiliário as decisões que determinarem a dissolução;
legal. b) Não convocar os sócios, no final da liquidação, para deliberarem sobre a
conta definitiva da liquidação, a prestação de contas da sua gestão e o termo do
ARTIGO 899º seu mandato e para verificarem o encerramento da liquidação;
Incorre numa sanção penal o revisor oficial de contas que, em nome pessoal, c) No caso previsto no artigo 219º do presente Acto Uniforme, não entregar as
ou na qualidade de sócio de uma sociedade de revisores oficiais de contas, contas definitivas na secretaria do tribunal competente para as questões comerciais
dolosamente prestar ou confirmar informações falsas sobre a situação da sociedade do lugar da sede social, nem tiver requerido judicialmente a aprovação daquelas.
ou não revelar ao Ministério Público os delitos de que teve conhecimento.
ARTIGO 903º
ARTIGO 900º Sempre que a liquidação decorrer de decisão judicial, incorre numa sanção
Incorrem numa sanção penal os dirigentes sociais ou qualquer pessoa que esteja penal o liquidatário que dolosamente:
ao serviço da sociedade que, dolosamente, tenham dificultado as verificações ou a) Decorridos seis meses após a sua nomeação, não tiver apresentado um
a fiscalização dos revisores oficiais de contas ou que tenham recusado a consulta, relatório sobre a situação do activo e do passivo da sociedade em liquidação e sobre
na sociedade, de todos os documentos úteis ao exercício das respectivas funções, o decurso das operações de liquidação, nem solicitado as autorizações necessárias
designadamente, contratos, livros, documentos contabilísticos e registos de actas. para as terminar;
b) Decorridos três meses após o encerramento de cada exercício, não tiver
TÍTULO VI elaborado as contas necessárias ao inventário e um relatório escrito sobre as
INFRACÇÕES RELATIVAS À DISSOLUÇÃO DAS SOCIEDADES operações de liquidação no decurso do exercício findo;
c) Não tiver permitido aos sócios, durante a liquidação, o exercício do seu
ARTIGO 901º
direito de informação sobre os documentos sociais, em condições idênticas às
anteriores à liquidação;
Incorrem numa sanção penal os dirigentes sociais que, quando os capitais
d) Não tiver convocado os sócios, pelo menos uma vez por ano, para prestar
próprios da sociedade se tornem inferiores a metade do capital social, em virtude
contas do exercício, em caso de continuação da exploração social;
de perdas verificadas nas contas de exercício, dolosamente:
e) Não tiver depositado numa conta aberta num banco em nome da sociedade
a) Não tenham convocado a assembleia geral, nos quatro meses subsequentes
em liquidação, no prazo de quinze dias a contar da decisão de partilha, as somas
à aprovação das contas do exercício que revelarem as referidas perdas, para
destinadas às repartições entre os sócios e os credores;
deliberar, se for caso disso, a dissolução antecipada da sociedade;
f) Não tiver depositado numa conta de consignação aberta nos serviços de
b) Não tenham depositado na secretaria do tribunal competente para as questões
Finanças, no prazo de um ano a contar do encerramento da liquidação, as somas
comerciais, nem inscrito no Registo do Comércio e do Crédito Mobiliário, nem
atribuídas a credores ou a sócios e por eles não reclamadas.
publicado num jornal habilitado a receber anúncios legais, a dissolução antecipada
da sociedade.
ARTIGO 904º
Incorre numa sanção penal o liquidatário que, de má fé:
TÍTULO VII
a) Fizer dos bens ou do crédito da sociedade em liquidação um uso que sabia
INFRACÇÕES RELATIVAS À LIQUIDAÇÃO DAS SOCIEDADES
ser contrário ao interesse desta, quer para fins pessoais, quer para favorecer outra
pessoa colectiva na qual tem directa ou indirectamente interesse;
ARTIGO 902º
b) Ceder total ou parcialmente o activo da sociedade em liquidação a uma pessoa
Incorre numa sanção penal quem, sendo liquidatário de uma sociedade, que teve na sociedade a qualidade de sócio de responsabilidade limitada de coman-
dolosamente: ditado, de gerente, de membro do conselho de administração, de administrador
246 247
Colectânea de Legislação de Direito Penal OHADA
geral ou de revisor oficial de contas, sem ter obtido o acordo unânime dos sócios
ou, na falta dele, a autorização da entidade jurisdicional competente.
OHADA*
ARTIGO 905º
Acto Uniforme para a Organização dos Processos Colectivos
1. Incorrem numa sanção penal os presidentes, os administradores ou os
de Apuramento do Passivo
directores gerais da sociedade que emitirem valores mobiliários em oferta pública:
a) Sem ter sido inserida uma notícia num jornal habilitado a receber anúncios
TÍTULO PRELIMINAR
legais previamente a qualquer medida de publicidade;
b) Sem que os prospectos e circulares reproduzam o conteúdo da notícia ARTIGO 1º
referida no § 1º do presente artigo e sem que mencionem a inserção dessa notícia
O presente Acto Uniforme tem como objecto:
no jornal habilitado a receber anúncios legais, com a referência ao número no qual
a) Organizar os processos colectivos preventivos, de recuperação judicial de
ela foi publicada;
empresas e de liquidação de bens do devedor para apuramento colectivo do seu
c) Sem que os editais e os anúncios dos jornais reproduzam o conteúdo da
passivo;
notícia, ou pelo menos um extracto da mesma e a indicação do número do jornal
c) Definir as sanções patrimoniais, profissionais e penais relativas às faltas do
habilitado a receber anúncios legais no qual aquela foi publicada;
devedor e dos dirigentes da empresa devedora.
d) Sem que os editais, prospectos e circulares mencionem a assinatura da pessoa
ou do representante da sociedade que emitiu a oferta e sem que precisem se os
valores oferecidos estão cotados ou não e, em caso afirmativo, em que bolsa.
2. A mesma sanção penal será aplicável às pessoas que tenham servido de
intermediários por ocasião da cessão de valores mobiliários sem que tenham sido *
O Tratado Relativo à Harmonização do Direito dos Negócios em África, feito em
respeitadas as determinações do presente artigo. Port-Louis/Senegal, aos 17 de Outubro de 1993, foi aprovado em 15 de Janeiro de 1994
e publicado no Boletim Oficial da Guiné-Bissau no Suplemento ao nº 3, de 17 de Janeiro de
[...] 1994, sob a forma de Resolução nº 1/94. Tem especial relevância para a matéria em causa
a transcrição dos artigos 5º, 9º e 10º do referido Tratado, cujo texto em francês em seguida
ARTIGO 920º se expõe:
“Titre II: Les Actes Uniformes
Após assim ter deliberado, o Conselho de Ministros adopta o presente regula-
[...]
mento, por unanimidade dos Estados partes votantes, segundo as disposições do Article 5
Tratado de 17 de Outubro de 1993, relativo à Organização para a Harmonização Les actes pris pour l’adoption des régles communes prévues à l’article premier du
em África do Direito Comercial. O presente Acto Uniforme será publicado no presente traité sont qualifiés “actes uniformes”.
Jornal Oficial da OHADA e dos Estados partes e entrará em vigor em 1 de Janeiro Les actes uniformes peuvent inclure des dispositions d’incrimination penale.
de 1998. Les États Parties s’engagent à determiner les sanctions penales encourues.
Article 9
Feito em Cotonou, em 17 de Abril de 1997. Les actes uniformes entrent en vigueur quatre-vingt-dix jours aprés leur adoption
sauf modalités particulières d’entrée en vigueur preuves par l’acte uniforme lui-même
ils sont oppossables trente jours fanes aprés leur publication au journal officiel de
l’OHADA. Ils sont également publiés au journal officiel des États Parties ou par tout
autre moyen approprié.
Article 10
Les actes uniformes sont directement applicables et obligatoires dans les États Parties,
nonobstan toute disposition contraire de droit interne, anterieure ou posterieure.
[...].”
248 O texto do tratado e demais matéria poderá ser encontrado em www.ohada.com. 249
Colectânea de Legislação de Direito Penal OHADA
a) Gasto somas pertencentes à pessoa colectiva realizando operações de jogo ou credor um acordo especial do qual resultaria para este último uma vantagem a
fictícias; cargo do activo da pessoa colectiva, a partir do dia da decisão que declare a
b) Com a intenção de atrasar a verificação da cessação dos pagamentos da pessoa cessação de pagamentos.
colectiva, feito compras para revenda a preços abaixo dos preços correntes ou, com 2. São igualmente punidos com as penas aplicáveis à falência fraudulenta, os
a mesma intenção, tenham utilizado meios ruinosos para obter capitais; dirigentes visados no artigo 230º que, durante um processo de pagamento pre-
c) Depois da cessação de pagamentos da pessoa colectiva, tenham pago ou ventivo tenham:
mandado pagar a um credor em prejuízo da massa; a) De má fé, apresentado ou feito apresentar resultados, um balanço, uma
d) Tenham feito contratar pela pessoa colectiva, por conta de outrem, sem que relação dos créditos e das dívidas ou uma relação do activo e do passivo dos
ela receba os valores de troca, obrigações julgadas demasiado elevadas em relação privilégios ou garantias, inexactos ou incompletos;
à sua situação no momento em que as mesmas foram contraídas; b) Sem autorização do presidente da jurisdição competente, efectuado actos
e) Tenham feito, mandado fazer ou deixado fazer uma contabilidade irregular proibidos pelo artigo 11º.
ou incompleta da pessoa colectiva nas condições previstas pelo artigo 228º, nº 4;
f) Tenham omitido de fazer na secretaria da jurisdição competente, no prazo de SECÇÃO III
trinta dias, a declaração do estado de cessação de pagamentos da pessoa colectiva; PROCESSO DAS INFRACÇÕES DE FALÊNCIA E SIMILARES
g) Tenham, com a finalidade de subtrair a totalidade ou parte do respectivo
património aos processos da pessoa colectiva em estado de cessação de pagamentos ARTIGO 234º
ou aos processos dos sócios ou dos credores da pessoa colectiva, desviado ou A acção penal é instaurada quer pelo representante do Ministério Público, quer
dissimulado, tentado desviar ou dissimular uma parte dos respectivos bens ou que através de constituição de assistente, quer através de citação directa do síndico ou
se tenham fraudulentamente reconhecido como devedores de somas que não de qualquer outro credor agindo em seu próprio nome ou em nome da massa. O
deviam. síndico só pode agir em nome da massa depois de ter sido autorizado pelo Juiz
Comissário, uma vez ouvidos os controladores, caso tenham sido nomeados.
ARTIGO 232º Qualquer credor pode intervir a título individual num processo de falência se esta
Nas pessoas colectivas que tenham sócios ilimitada e solidariamente responsáveis tiver sido instaurada pelo síndico em nome da massa.
pelas dívidas sociais, os representantes legais ou de facto são culpados de falência
simples se, sem legítima desculpa, não fizerem, na secretaria da jurisdição com- ARTIGO 235º
petente e no prazo de trinta dias, a declaração do respectivo estado de cessação de O síndico deve entregar ao representante do Ministério Público os documentos,
pagamentos ou se essa declaração não incluir a lista dos sócios solidários com títulos, papéis e informações que lhe forem pedidos. Os documentos, títulos e
indicação dos respectivos nomes e endereços. papéis entregues pelo síndico ficam, durante a instância, na secretaria para
poderem ser comunicados. Esta comunicação será feita a pedido do síndico, que
ARTIGO 233º pode pedir certidões ou cópias autenticadas, que lhe são enviadas pelo escrivão.
1. São punidos com as penas aplicáveis à falência fraudulenta, os dirigentes Os documentos, títulos e papéis cujo depósito judicial não tenha sido ordenado são,
referidos no artigo 230º que tenham, fraudulentamente: depois da decisão, entregues ao síndico contra recibo.
a) Subtraído os livros da pessoa colectiva;
b) Desviado ou dissimulado uma parte do seu activo; ARTIGO 236º
c) Reconhecido a pessoa colectiva devedora de somas que ela não devia, quer Uma condenação por falência simples ou fraudulenta, ou por delito similar à
na contabilidade, quer através de documentos autênticos ou de obrigações falência simples ou fraudulenta, pode ser proferida mesmo que a cessação de
assumidas por documento particular, quer no balanço; pagamentos não tenha sido verificada nas condições previstas pelo presente Acto
d) Exercido a profissão de dirigente contrariamente a uma interdição prevista Uniforme.
pelos Actos Uniformes ou pela lei de cada Estado Parte;
e) Estipulado com um credor, em nome da pessoa colectiva, vantagens especiais
252 em função do seu voto nas deliberações da massa ou que tenham feito com um 253
Colectânea de Legislação de Direito Penal OHADA
e publicadas num jornal habilitado a receber anúncios legais, bem como através
de extracto sumário, no Jornal Oficial, com a indicação do número do jornal de
anúncios legais onde a primeira publicação foi feita. Acto Uniforme relativo à organização e harmonização das contabilidades
das empresas situadas nos Estados-Membros do Tratado relativo
[...] à Harmonização do Direito dos Negócios em África*
*
O Tratado Relativo à Harmonização do Direito dos Negócios em África, feito em
Port-Louis/Senegal, aos 17 de Outubro de 1993, foi aprovado em 15 de Janeiro de 1994
e publicado no Boletim Oficial da Guiné-Bissau no Suplemento ao nº 3, de 17 de Janeiro de
1994, sob a forma de Resolução nº 1/94. Tem especial relevância para a matéria em causa
a transcrição dos artigos 5º, 9º e 10º do referido Tratado, cujo texto em francês em seguida
se expõe:
“Titre II: Les Actes Uniformes
[...]
Article 5
Les actes pris pour l’adoption des régles communes prévues à l’article premier du
presente traité sont qualifiés “actes uniformes”.
Les actes uniformes peuvent inclure des dispositions d’incrimination penale.
Les États Parties s’engagent à determiner les sanctions penales encourues.
Article 9
Les actes uniformes entrent en vigueur quatre-vingt-dix jours aprés leur adoption
sauf modalités particulières d’entrée en vigueur preuves par l’acte uniforme lui-même
ils sont oppossables trente jours fanes aprés leur publication au journal officiel de
l’OHADA. Ils sont également publiés au journal officiel des États Parties ou par tout
autre moyen approprié.
Article 10
Les actes uniformes sont directement applicables et obligatoires dans les États Parties,
nonobstan toute disposition contraire de droit interne, anterieure ou posterieure.
[...].”
256 O texto do tratado e demais matéria poderá ser encontrado em www.ohada.com. 257
Colectânea de Legislação de Direito Penal OHADA
[...]
TÍTULO III
DISPOSIÇÕES PENAIS
ARTIGO 111º
1. Incorrem em sanções penais os empresários individuais e os dirigentes das
empresas que:
a) Para cada exercício social, não tiverem elaborado o inventário e os resultados
financeiros anuais, bem como, se for caso disso, o relatório de gestão e o balanço
social;
b) Tiverem, conscientemente, elaborado e comunicado resultados financeiros
que não retratem uma imagem fiel do património, da situação financeira e do
resultado do exercício.
2. As infracções previstas no presente regulamento serão punidas em confor-
midade com as disposições do Direito Penal, em vigor em cada estado-membro.
TÍTULO IV
DISPOSIÇÕES FINAIS
ARTIGO 112º
A contar da data da entrada em vigor do presente Acto Uniforme e do seu Anexo
258 são revogadas todas as disposições contrárias. 259
Colectânea de Legislação de Direito Penal Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos
Resolução nº 20/85*
Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos
[...]
ARTIGO 3º
1. Todas as pessoas beneficiam de uma total igualdade perante a lei.
2. Todas as pessoas têm direito a uma igual protecção da lei.
ARTIGO 4º
A pessoa humana é inviolável. Todo o ser humano tem direito ao respeito da
sua vida e à integridade física e moral da sua pessoa. Ninguém pode ser arbitraria-
mente privado desse direito.
ARTIGO 5º
Todo o indivíduo tem direito ao respeito da dignidade inerente à pessoa humana
e ao reconhecimento da sua personalidade jurídica. Todas as formas de exploração
e de aviltamento do homem, nomeadamente a escravatura, o tráfico de pessoas,
a tortura física ou moral e as penas ou os tratamentos cruéis, desumanos ou
degradantes são interditas.
ARTIGO 6º
Todo o indivíduo tem direito à liberdade e à segurança da sua pessoa. Ninguém
pode ser privado da sua liberdade salvo por motivos e nas condições previa-
mente determinados pela lei; em particular ninguém pode ser preso ou detido
arbitrariamente.
ARTIGO 7º
1. Toda a pessoa tem direito a que a sua causa seja apreciada. Esse direito
compreende:
a) O direito de recorrer aos tribunais nacionais competentes de qualquer acto
que viole os direitos fundamentais que lhe são reconhecidos e garantidos pelas
convenções, as leis, os regulamentos e os costumes em vigor;
b) O direito de presunção de inocência, até que a sua culpabilidade seja
estabelecida por um tribunal competente;
*
260 Resolução nº 20/85, Suplemento ao B.O. nº 49, de 7 de Dezembro de 1985. 261
Colectânea de Legislação de Direito Penal Declaração Universal dos Direitos Humanos
ARTIGO 6º
Todo homem tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como
pessoa perante a lei.
ARTIGO 7º
Todos são iguais perante a lei e tem direito, sem qualquer distinção, a igual
protecção da lei. Todos têm direito a igual protecção contra qualquer discriminação
que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.
ARTIGO 8º
Todo o homem tem direito a receber dos tribunais nacionais competentes remédio
efectivo para os actos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhe-
cidos pela constituição ou pela lei.
ARTIGO 9º
Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.
ARTIGO 10º
Todo o homem tem direito, em plena igualdade, a uma justa e pública audiência
por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir de seus direitos
e deveres ou do fundamento de qualquer acusação criminal contra ele.
ARTIGO 11º
1. Todo o homem acusado de um acto delituoso tem o direito de ser presumido
inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em
julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias
necessárias a sua defesa.
*
262 Ver artigo 29º, nº 2 da Constituição da República da Guiné-Bissau. 263
Colectânea de Legislação de Direito Penal Pacto Internacional Sobre Direitos Civis e Políticos
2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer acção ou omissão que, no momento,
não constituíam delito perante o direito nacional ou internacional. Também não
será imposta pena mais forte do que aquela que, no momento da prática, era Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos*
aplicável ao acto delituoso.
Adoptado e aberto à assinatura, ratificação e adesão pela Resolução nº 2200-A
ARTIGO 12º (XXI) da Assembleia Geral das Nações Unidas, de 16 de Dezembro de 1966.
Ninguém será sujeito a interferências na sua vida privada, na sua família, no Entrada em vigor na ordem internacional: 23 de Março de 1976, em confor-
seu lar ou na sua correspondência, nem a ataques a sua honra e reputação. Todo midade com o artigo 49º.
o homem tem direito à protecção da lei contra tais interferências ou ataques.
Guiné-Bissau:
[...] Ratificado, para adesão, pela Resolução nº 3/89, publicada no Boletim Oficial
nº 9 de 3 de Março de 1989.
PREÂMBULO
*
Em 12 de Setembro de 2000 a Guiné-Bissau assinou o 1º Protocolo adicional a
264 este Pacto. 265
Colectânea de Legislação de Direito Penal Pacto Internacional Sobre Direitos Civis e Políticos
a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio. Esta pena não pode ser aplicada ARTIGO 9º
senão em virtude de um juízo definitivo pronunciado por um tribunal competente. 1. Todo o indivíduo tem direito à liberdade e à segurança da sua pessoa.
3. Quando a privação da vida constitui o crime de genocídio fica entendido que Ninguém pode ser objecto de prisão ou detenção arbitrária. Ninguém pode ser
nenhuma disposição do presente artigo autoriza um Estado Parte no presente Pacto privado da sua liberdade a não ser por motivo e em conformidade com processos
a derrogar de alguma maneira qualquer obrigação assumida em virtude das previstos na lei.
disposições da Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio. 2. Todo o indivíduo preso será informado, no momento da sua detenção, das
4. Qualquer indivíduo condenado à morte terá o direito de solicitar o perdão razões dessa detenção e receberá notificação imediata de todas as acusações
ou a comutação da pena. A amnistia, o perdão ou a comutação da pena de morte apresentadas contra ele.
podem ser concedidos em todos os casos. 3. Todo o indivíduo preso ou detido sob acusação de uma infracção penal será
5. Uma sentença de morte não pode ser pronunciada em casos de crimes prontamente conduzido perante um juiz ou uma outra autoridade habilitada pela
cometidos por pessoas de idade inferior a 18 anos e não pode ser executada sobre
lei a exercer funções judiciárias e deverá ser julgado num prazo razoável ou
mulheres grávidas.
libertado. A detenção prisional de pessoas aguardando julgamento não deve ser
6. Nenhuma disposição do presente artigo pode ser invocada para retardar ou
regra geral, mas a sua libertação pode ser subordinada a garantir que assegurem
impedir a abolição da pena capital por um Estado Parte no presente Pacto.
a presença do interessado no julgamento em qualquer outra fase do processo e, se
ARTIGO 7º
for caso disso, para execução da sentença.
4. Todo o indivíduo que se encontrar privado de liberdade por prisão ou
Ninguém será submetido à tortura nem a pena ou a tratamentos cruéis, inumanos
detenção terá o direito de intentar um recurso perante um tribunal, a fim de que
ou degradantes. Em particular, é interdito submeter uma pessoa a uma experiência
este estatua sem demora sobre a legalidade da sua detenção e ordene a sua
médica ou científica sem o seu livre consentimento.
libertação se a detenção for ilegal.
ARTIGO 8º 5. Todo o indivíduo vítima de prisão ou de detenção ilegal terá direito a
compensação.
1. Ninguém será submetido à escravidão; a escravidão e o tráfico de escravos,
sob todas as suas formas, são interditos.
2. Ninguém será mantido em servidão. ARTIGO 10º
3. Igual procedimento no artigo 10º, nº 2 e no artigo 42º, nº 1. 1. Todos os indivíduos privados da sua liberdade devem ser tratados com
a) Ninguém será constrangido a realizar trabalho forçado ou obrigatório; humanidade e com respeito da dignidade inerente à pessoa humana.
b) A alínea a) do presente parágrafo não pode ser interpretada no sentido de 2. [...]
proibir, em certos países onde crimes podem ser punidos de prisão acompanhada a) Pessoas sob acusação serão, salvo circunstâncias excepcionais, separadas dos
de trabalhos forçados, o cumprimento de uma pena de trabalhos forçados, condenados e submetidas a um regime distinto, apropriado à sua condição de
infligida por um tribunal competente; pessoas não condenadas;
c) Não é considerado como trabalho forçado ou obrigatório no sentido do b) Jovens sob detenção serão separados dos adultos e o seu caso será decidido
presente parágrafo: o mais rapidamente possível.
i) Todo o trabalho não referido na alínea b) normalmente exigido de um 3. O regime penitenciário comportará tratamento dos reclusos cujo fim
indivíduo que é detido em virtude de uma decisão judicial legítima ou que essencial é a sua emenda e a sua recuperação social. Delinquentes jovens serão
tendo sido objecto de uma tal decisão é libertado condicionalmente; separados dos adultos e submetidos a um regime apropriado à sua idade e ao seu
ii) Todo o serviço de carácter militar e, nos países em que a objecção por estatuto legal.
motivos de consciência é admitida, todo o serviço nacional exigido pela
lei dos objectores de consciência; ARTIGO 11º
iii) Todo o serviço exigido nos casos de força maior ou de sinistros que Ninguém pode ser aprisionado pela única razão de que não está em situação de
ameacem a vida ou o bem-estar da comunidade; executar uma obrigação contratual.
iv) Todo o trabalho ou todo o serviço formando parte das obrigações cívicas
268 normais. 269
Colectânea de Legislação de Direito Penal Pacto Internacional Sobre Direitos Civis e Políticos
ARTIGO 12º a) A ser prontamente informada, numa língua que ela com-preenda, de modo
1. Todo o indivíduo legalmente no território de um Estado tem o direito de detalhado, acerca da natureza e dos motivos da acusação apresentada contra ela;
circular livremente e de aí escolher livremente a sua residência. b) A dispor do tempo e das facilidades necessárias para a preparação da defesa
2. Todas as pessoas são livres de deixar qualquer país, incluindo o seu. e a comunicar com um advogado da sua escolha;
3. Os direitos mencionados acima não podem ser objecto de restrições, a não c) A ser julgada sem demora excessiva;
ser que estas estejam previstas na lei e sejam necessárias para proteger a segurança d) A estar presente no processo e a defender-se a si própria ou a ter a assistência
nacional, a ordem pública, a saúde ou a moralidade públicas ou os direitos e de um defensor da sua escolha; se não tiver defensor, a ser informada do seu direito
liberdades de outrem e sejam compatíveis com os outros direitos reconhecidos de ter um e, sempre que o interesse da justiça o exigir, a ser-lhe atribuído um
pelo presente Pacto. defensor oficioso, a título gratuito no caso de não ter meios para o remunerar;
4. Ninguém pode ser arbitrariamente privado do direito de entrar no seu próprio e) A interrogar ou fazer interrogar as testemunhas de acusação e a obter a
país. comparência e o interrogatório das testemunhas de defesa nas mesmas condições
das testemunhas de acusação;
ARTIGO 13º f) A fazer-se assistir gratuitamente de um intérprete, se não compreender ou não
Um estrangeiro que se encontre legalmente no território de um Estado Parte no falar a língua utilizada no tribunal;
presente Pacto não pode ser expulso, a não ser em cumprimento de uma decisão g) A não ser forçada a testemunhar contra si própria ou a confessar-se culpada.
tomada em conformidade com a lei e, a menos que razões imperiosas de segurança 4. No processo aplicável às pessoas jovens a lei penal terá em conta a sua idade
nacional a isso se oponham, deve ter a possibilidade de fazer valer as razões que e o interesse que apresenta a sua reabilitação.
militam contra a sua expulsão e de fazer examinar o seu caso pela autoridade 5. Qualquer pessoa declarada culpada de crime terá o direito de fazer examinar
competente ou por uma ou várias pessoas especialmente designadas pela dita por uma jurisdição superior a declaração de culpabilidade e a sentença em
autoridade, fazendo-se repre-sentar para esse fim. conformidade com a lei.
6. Quando uma condenação penal definitiva é ulteriormente anulada ou quando
ARTIGO 14º
é concedido o indulto, porque um facto novo ou recentemente revelado prova
concludentemente que se produziu um erro judiciário, a pessoa que cumpriu uma
1. Todos são iguais perante os tribunais de justiça. Todas as pessoas têm direito
pena em virtude dessa condenação será indemnizada, em conformidade com a lei,
a que a sua causa seja ouvida equitativa e publicamente por um tribunal
a menos que se prove que a não revelação em tempo útil do facto desconhecido
competente, independente e imparcial, estabelecido pela lei, que decidirá quer do
lhe é imputável no todo ou em parte.
bem fundado de qualquer acusação em matéria penal dirigida contra elas, quer das
7. Ninguém pode ser julgado ou punido novamente por motivo de uma in-
contestações sobre os seus direitos e obrigações de carácter civil. As audições à
fracção da qual já foi absolvido ou pela qual já foi condenado por sentença
porta fechada podem ser determinadas durante a totalidade ou uma parte do
definitiva, em conformidade com a lei e o processo penal de cada país.
processo, seja no interesse dos bons costumes, da ordem pública ou da segurança
nacional numa sociedade democrática, seja quando o interesse da vida privada das
ARTIGO 15º
partes em causa o exija, seja ainda na medida em que o tribunal o considerar
1. Ninguém será condenado por actos ou omissões que não constituam um acto
absolutamente necessário, quando, por motivo das circunstâncias particulares do
delituoso, segundo o direito nacional ou internacional, no momento em que forem
caso, a publicidade prejudicasse os interesses da justiça; todavia qualquer sentença
cometidos. Do mesmo modo não será aplicada nenhuma pena mais forte do que
pronunciada em matéria penal ou civil será publicada, salvo se o interesse de
aquela que era aplicável no momento em que a infracção foi cometida. Se
menores exigir que se proceda de outra forma ou se o processo respeita a dife-
posteriormente a esta infracção a lei prevê a aplicação de uma pena mais ligeira,
rendos matrimoniais ou à tutela de crianças.
o delinquente deve beneficiar da alteração.
2. Qualquer pessoa acusada de infracção penal é de direito presumida inocente
2. Nada no presente artigo se opõe ao julgamento ou à condenação de qualquer
até que a sua culpabilidade tenha sido legalmente estabelecida.
indivíduo por motivo de actos ou omissões que no momento em que foram
3. Qualquer pessoa acusada de uma infracção penal terá direito, em plena
cometidos eram tidos por criminosos, segundo os princípios gerais de direito
igualdade, pelo menos às seguintes garantias:
270 reconhecidos pela comunidade das nações. 271
Colectânea de Legislação de Direito Penal Pacto Internacional Sobre Direitos Civis e Políticos
274 275
Colectânea de Legislação de Direito Penal Pacto Internacional Sobre Direitos Civis e Políticos
2. Todos os relatórios serão dirigidos ao secretário geral das Nações Unidas, que reconhecidos. Esta regra não se aplica nos casos em que os processos de recurso
os transmitirá ao Comité para apreciação. Os relatórios deverão indicar quaisquer excedem prazos razoáveis;
factores e dificuldades que afectem a execução das disposições do presente Pacto. d) O Comité realizará as suas audiências à porta fechada quando examinar as
3. O secretário geral das Nações Unidas pode, após consulta ao Comité, enviar comunicações previstas no presente artigo;
às agências especializadas interessadas cópia das partes do relatório que possam ter e) Sob reserva das disposições da alínea c), o Comité põe os seus bons ofícios
relação com o seu domínio de competência. à disposição dos Estados Partes interessados, a fim de chegar a uma solução
4. O Comité estudará os relatórios apresentados pelos Estados Partes no presente amigável da questão, fundamentando-se no respeito dos direitos do homem e nas
Pacto, e dirigirá aos Estados Partes os seus próprios relatórios, bem como todas liberdades fundamentais, tais como os reconhece o presente Pacto;
as observações gerais que julgar apropriadas. O Comité pode igualmente transmitir f) Em todos os assuntos que lhe são submetidos o Comité pode pedir aos Estados
ao Conselho Económico e Social essas suas observações acompanhadas de cópias Partes interessados visados na alínea b) que lhe forneçam todas as informações
dos relatórios que recebeu de Estados Partes no presente Pacto. pertinentes;
5. Os Estados Partes no presente Pacto podem apresentar ao Comité os co- g) Os Estados Partes interessados visados na alínea b) têm o direito de se fazer
mentários sobre todas as observações feitas em virtude do § 4º do presente artigo. representar, aquando do exame da questão pelo Comité, e de apresentar observações
oralmente e ou por escrito;
ARTIGO 41º h) O Comité deverá apresentar um relatório num prazo de doze meses a contar
1. Qualquer Estado Parte no presente Pacto pode, em virtude do presente artigo, do dia em que recebeu a notificação referida na alínea b):
declarar, a todo o momento, que reconhece a competência do Comité para receber i) Se uma solução pôde ser encontrada em conformidade com as disposições
e apreciar comunicações nas quais um Estado Parte pretende que um outro Estado da alínea e), o Comité limitar-se-á no seu relatório a uma breve exposição
Parte não cumpre as suas obrigações resultantes do presente Pacto. As comunicações dos factos e da solução encontrada;
apresentadas em virtude do presente artigo não podem ser recebidas e examinadas, ii) Se uma solução não pôde ser encontrada em conformidade com as dis-
a menos que emanem de um Estado Parte que fez uma declaração reconhecendo, posições da alínea e), o Comité limitar-se-á, no seu relatório, a uma breve
no que lhe diz respeito, a competência do Comité. O Comité não receberá nenhuma exposição dos factos; o texto das observações escritas e o processo verbal das
comunicação que interesse a um Estado Parte que não fez uma tal declaração. O observações orais apresentadas pelos Estados Partes interessados são anexados
processo abaixo indicado aplica-se em relação às comunicações recebidas em ao relatório. Em todos os casos o relatório será comunicado aos Estados
conformidade com o presente artigo: Partes interessados.
a) Se um Estado Parte no presente Pacto julgar que um outro Estado igualmente 2. As disposições do presente artigo entrarão em vigor quando dez Estados
Parte neste Pacto não aplica as respectivas disposições, pode chamar, por Partes no presente Pacto fizerem a declaração prevista no § 1º do presente artigo.
comunicação escrita, a atenção desse Estado sobre a questão. Num prazo de três A dita declaração será deposta pelo Estado Parte junto do secretário geral das
meses a contar da recepção da comunicação o Estado destinatário apresentará ao Nações Unidas, que transmitirá cópia dela aos outros Estados Partes. Uma decla-
Estado que lhe dirigiu a comunicação explicações ou quaisquer outras declarações ração pode ser retirada a todo o momento por meio de uma notificação dirigida
escritas elucidando a questão, que deverão incluir, na medida do possível e do útil, ao secretário geral. O retirar de uma comunicação não prejudica o exame de todas
indicações sobre as regras de processo e sobre os meios de recurso, quer os já as questões que são objecto de uma comunicação já transmitida em virtude do
utilizados, quer os que estão em instância, quer os que permanecem abertos; presente artigo; nenhuma outra comunicação de um Estado Parte será aceite após
b) Se, num prazo de seis meses a contar da data de recepção da comunicação o secretário geral ter recebido notificação de ter sido retirada a declaração, a menos
original pelo Estado destinatário, a questão não foi regulada satisfatoriamente para que o Estado Parte interessado faça uma nova declaração.
os dois Estados interessados, tanto um como o outro terão o direito de a submeter
ao Comité, por meio de uma notificação feita ao Comité bem como ao outro ARTIGO 42º
Estado interessado; 1. [...]
c) O Comité só tomará conhecimento de um assunto que lhe é submetido depois a) Se uma questão submetida ao Comité em conformidade com o artigo 41º não
de se ter assegurado de que todos os recursos internos disponíveis foram utilizados foi regulada satisfatoriamente para os Estados Partes, o Comité pode, com o
278 e esgotados, em conformidade com os princípios de direito internacional geralmente assentimento prévio dos Estados Partes interessados, designar uma comissão de 279
Colectânea de Legislação de Direito Penal Pacto Internacional Sobre Direitos Civis e Políticos
conciliação ad hoc (a seguir denominada Comissão). A Comissão põe os seus bons d) Se o relatório da Comissão for submetido em conformidade com a alínea c),
ofícios à disposição dos Estados Partes interessados a fim de chegar a uma solução os Estados Partes interessados farão saber ao presidente do Comité, num prazo de
amigável da questão, baseada sobre o respeito do presente Pacto; três meses após a recepção do relatório, se aceitam ou não os termos do relatório
b) A Comissão será composta de cinco membros nomeados com o acordo dos da Comissão.
Estados Partes interessados. Se os Estados Partes interessados não conseguirem 8. As disposições do presente artigo devem ser entendidas sem prejuízo das
chegar a um entendimento sobre toda ou parte da composição da Comissão no atribuições do Comité previstas no artigo 41º.
prazo de três meses, os membros da Comissão relativamente aos quais não 9. Todas as despesas dos membros da Comissão serão repartidas igualmente
chegaram a acordo serão eleitos por escrutínio secreto de entre os membros do entre os Estados Partes interessados, na base de estimativas fornecidas pelo
Comité, por maioria de dois terços dos membros do Comité. secretário geral das Nações Unidas.
2. Os membros da Comissão exercerão as suas funções a título pessoal. Não 10. O secretário geral das Nações Unidas está habilitado, se necessário, a prover
devem ser naturais nem dos Estados Partes interessados nem de um Estado que não às despesas dos membros da Comissão antes de o seu reembolso ter sido efectuado
é parte no presente Pacto, nem de um Estado Parte que não fez a declaração pelos Estados Partes interessados, em conformidade com o § 9º do presente artigo.
prevista no artigo 41º.
3. A Comissão elegerá o seu presidente e adoptará o seu regulamento interno. ARTIGO 43º
4. A Comissão realizará normalmente as suas sessões na sede da Organização Os membros do Comité e os membros das comissões de conciliação ad hoc que
das Nações Unidas ou no Departamento das Nações Unidas em Genebra. Todavia, forem designados em conformidade com o artigo 42º têm direito às facilidades,
pode reunir-se em qualquer outro lugar apropriado, o qual pode ser determinado privilégios e imunidades reconhecidos aos peritos em missões da Organização das
pela Comissão em consulta com o secretário geral das Nações Unidas e os Estados Nações Unidas, conforme enunciados nas pertinentes secções da Convenção sobre
Partes interessados. os Privilégios e Imunidades das Nações Unidas.
5. O secretariado previsto no artigo 36º presta igualmente os seus serviços às
comissões designadas em virtude do presente artigo. ARTIGO 44º
6. As informações obtidas e esquadrinhadas pelo Comité serão postas à As disposições relativas à execução do presente Pacto aplicam-se, sem prejuízo
disposição da Comissão e a Comissão poderá pedir aos Estados Partes interessados dos processos instituídos em matéria de direitos do homem, nos termos ou em
que lhe forneçam quaisquer informações complementares pertinentes. virtude dos instrumentos constitutivos e das convenções da Organização das
7. Depois de ter estudado a questão sob todos os seus aspectos, mas em todo o Nações Unidas e das agências especializadas e não impedem os Estados Partes de
caso num prazo mínimo de doze meses após tê-la admitido, a Comissão submeterá recorrer a outros processos para a solução de um diferendo, em conformidade com
um relatório ao presidente do Comité para transmissão aos Estados Partes os acordos internacionais gerais ou especiais que os ligam.
interessados:
a) Se a Comissão não puder acabar o exame da questão dentro de doze meses, ARTIGO 45º
o seu relatório incluirá somente um breve apontamento indicando a que ponto O Comité apresentará cada ano à Assembleia Geral das Nações Unidas, por
chegou o exame da questão; intermédio do Conselho Económico e Social, um relatório sobre os seus trabalhos.
b) Se chegar a um entendimento amigável fundado sobre o respeito dos direitos
do homem reconhecido no presente Pacto, a Comissão limitar-se-á a indicar QUINTA PARTE
brevemente no seu relatório os factos e o entendimento a que se chegou;
c) Se não se chegou a um entendimento no sentido da alínea b), a Comissão fará ARTIGO 46º
figurar no seu relatório as suas conclusões sobre todas as matérias de facto relativas
Nenhuma disposição do presente Pacto pode ser interpretada em sentido
à questão debatida entre os Estados Partes interessados, bem como a sua opinião
limitativo das disposições da Carta das Nações Unidas e das constituições das
sobre as possibilidades de uma solução amigável do caso. O relatório incluirá
agências especializadas que definem as respectivas responsabilidades dos diversos
igualmente as observações escritas e um processo verbal das observações orais
órgãos da Organização das Nações Unidas e das agências especializadas no que
apresentadas pelos Estados Partes interessados;
respeita às questões tratadas no presente Pacto.
280 281
Colectânea de Legislação de Direito Penal Pacto Internacional Sobre Direitos Civis e Políticos
ARTIGO 47º vocação de uma conferência de Estados Partes para examinar estes projectos e
Nenhuma disposição do presente Pacto será interpretada em sentido limitativo submetê-los a votação. Se pelo menos um terço dos Estados se declararem a favor
do direito inerente a todos os povos de gozar e usar plenamente das suas riquezas desta convenção, o secretário geral convocará a conferência sob os auspícios da
e recursos naturais. Organização das Nações Unidas. Qualquer emenda adoptada pela maioria dos
Estados presentes e votantes na conferência será submetida, para aprovação, à
SEXTA PARTE Assembleia Geral das Nações Unidas.
2. As emendas entrarão em vigor quando forem aprovadas pela Assembleia
ARTIGO 48º Geral das Nações Unidas e aceites, em conformidade com as suas respectivas leis
1. O presente Pacto está aberto à assinatura de todos os Estados membros da constitucionais, por uma maioria de dois terços dos Estados Partes no presente
Organização das Nações Unidas ou membros de qualquer das suas agências Pacto.
especializadas, de todos os Estados Partes no Estatuto do Tribunal Internacional 3. Quando as emendas entrarem em vigor, elas são obrigatórias para os Estados
de Justiça, bem como de qualquer outro Estado convidado pela Assembleia Geral Partes que as aceitaram, ficando os outros Estados Partes ligados pelas disposições
das Nações Unidas a tornar-se parte no presente Pacto. do presente Pacto e por todas as emendas anteriores que aceitaram.
2. O presente Pacto está sujeito a ratificação e os instrumentos de ratificação
serão depositados junto do secretário geral das Nações Unidas. ARTIGO 52º
3. O presente Pacto será aberto à adesão de todos os Estados referidos no § 1º 1. Independentemente das notificações previstas no § 5º do artigo 48º, o
do presente artigo. secretário geral das Nações Unidas informará todos os Estados referidos no § 1º
4. A adesão far-se-á pelo depósito de um instrumento de adesão junto do do citado artigo:
secretário geral das Nações Unidas. a) Acerca de assinaturas apostas no presente Pacto, acerca de instrumentos de
5. O secretário geral das Nações Unidas informará todos os Estados que ratificação e de adesão depostos em conformidade com o artigo 48º;
assinaram o presente Pacto ou que a ele aderiram acerca do depósito de cada b) Da data em que o presente Pacto entrará em vigor, em conformidade com
instrumento de ratificação ou de adesão. o artigo 49º, e da data em que entrarão em vigor as emendas previstas no artigo
51º.
ARTIGO 49º 2. O presente Pacto, cujos textos em inglês, chinês, espanhol, francês e russo
1. O presente Pacto entrará em vigor três meses após a data do depósito junto fazem igualmente fé, será deposto nos arquivos da Organização das Nações
do secretário geral das Nações Unidas do trigésimo quinto instrumento de rati- Unidas.
ficação ou de adesão. 3. O secretário geral das Nações Unidas transmitirá uma cópia certificada do
2. Para cada um dos Estados que ratificarem o presente Pacto ou a ele aderirem, presente Pacto a todos os Estados visados no artigo 48º.
após o depósito do trigésimo quinto instrumento de ratificação ou adesão, o dito
Pacto entrará em vigor três meses depois da data do depósito por parte desse Estado
do seu instrumento de ratificação ou adesão.
ARTIGO 50º
As disposições do presente Pacto aplicam-se sem limitação ou excepção alguma
a todas as unidades constitutivas dos Estados federais.
ARTIGO 51º
1. Qualquer Estado Parte no presente Pacto pode propor uma emenda e
depositar o respectivo texto junto do secretário geral da Organização das Nações
Unidas. O secretário geral transmitirá então quaisquer projectos de emenda aos
282 Estados Partes no presente Pacto, pedindo-lhes para indicar se desejam a con- 283
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal de 1886
LIVRO PRIMEIRO
DISPOSIÇÕES GERAIS
TÍTULO I
DOS CRIMES EM GERAL E DOS CRIMINOSOS
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
ARTIGO 1º
Crime ou delito é o facto voluntário declarado punível pela lei penal.
ARTIGO 2º
A punição da negligência, nos casos especiais determinados na lei, funda-se na
omissão voluntária de um dever.
ARTIGO 3º
Considera-se contravenção o facto voluntário punível, que unicamente consiste
na violação, ou na falta de observância das disposições preventivas das leis e
regulamentos, independentemente de toda a intenção maléfica.
ARTIGO 4º
Nas contravenções é sempre punida a negligência.
[...]
ARTIGO 25º
Nas contravenções não e punível a cumplicidade nem o encobrimento.
[...]
*
Decreto de 16 de Setembro de 1886, publicado no Diário do Governo nº 213, de
284 20 de Setembro de 1886. 285
Colectânea de Legislação de Direito Penal Código Penal de 1886
ARTIGO 255º
Será punido com as mesmas penas:
a) O que pescar nos meses defesos pelas posturas municipais ou regulamentos Constituição da República da Guiné-Bissau*
de administração;
b) O que pescar com rede varredora, ou de malha mais estreita que a que for [...]
limitada pela câmara municipal, ou pescar por qualquer outro modo proibido pelas
mesmas posturas ou regulamentos; ARTIGO 8º
c) O que lançar nos rios ou lagoas, em qualquer tempo do ano, trovisco, 1. O Estado subordina-se à Constituição e baseia-se na legalidade democrática.
barbesco, coca, cal ou outro algum material com que se o peixe mata. 2. A validade das leis e dos demais actos do Estado e do poder local depende
da sua conformidade com a Constituição.
[...]
ARTIGO 9º
ARTIGO 326º 1. A República da Guiné-Bissau exerce a sua soberania, sobre todo o território
Em todos os casos não designados neste capítulo, nos quais as leis ou regimentos nacional, que compreende:
de cada um dos empregados públicos decretarem penas correccionais ou especiais, a) A superfície emersa compreendida nos limites das fronteiras nacionais;
pela violação ou falta, de observância de suas disposições, aplicar-se-ão essas b) O mar interior e o mar territorial definidos na lei, assim como os respectivos
penas com as seguintes declarações: leitos e subsolos;
a) Havendo somente negligência, não se imporá pela contravenção a pena de c) O espaço aéreo suprajacente aos espaços geográficos referidos nas alíneas
demissão, e será esta pena substituída pela de suspensão; anteriores;
b) Verificando-se em qualquer caso e em qualquer tempo segunda reincidência, 2. Sobre todos os recursos naturais, vivos e não vivos que se encontrem no seu
o empregado que duas vezes tiver sido condenado será demitido; território.
c) As disposições antecedentes aplicam-se aos factos da competência da
jurisdição disciplinar. [...]
*
Constituição aprovada a 16 de Maio de 1984 (alterada pela Lei Constitucional
nº 1/91, de 9 de Maio , Suplemento ao B.O. nº 18, de 9 de Maio de 1991, pela Lei
Constitucional nº 2/91, de 4 de Dezembro de 1991, Suplemento ao B.O. nº 48, de 4
de Dezembro de 1991 e 3º Suplemento ao B.O. nº 48, de 6 de Dezembro de 1991, pela
Lei Constitucional nº 1/93, 2º Suplemento ao B.O. nº 8, de 21 de Fevereiro de 1993,
pela Lei Constitucional nº 1/95, de 1 de Dezembro, Suplemento ao B.O. nº 49, de 4
de Dezembro de 1995 e pela Lei Constitucional nº 1/96, B.O. nº 50, de 16 de Dezembro
288 de 1996). 289
Colectânea de Legislação de Direito Penal Constituição da República da Guiné-Bissau
imperialismo, o racismo e todas as demais formas de opressão e exploração; políticos, ao exercício das funções públicas e aos demais direitos e deveres
preconiza a solução pacífica dos conflitos internacionais e participa nos esforços expressamente reservados por lei ao cidadão nacional.
tendentes a assegurar a paz e a justiça nas relações entre os Estados e o estabele- 2. O exercício de funções públicas só poderá ser permitido aos estrangeiros
cimento da nova ordem económica internacional. desde que tenham carácter predominantemente técnico, salvo acordo ou convenção
3. Sem prejuízo das conquistas alcançadas através da luta de libertação nacional, internacional.
a República da Guiné-Bissau participa nos esforços que realizam os Estados
africanos, na base regional ou continental, em ordem à concretização do princípio ARTIGO 29º
da unidade africana. 1. Os direitos fundamentais consagrados na Constituição não excluem quais-
quer outros constantes das demais leis da República e das regras aplicáveis de
[...] Direito Internacional.
2. Os preceitos constitucionais e legais relativos aos direitos fundamentais
ARTIGO 21º devem ser interpretados de harmonia com a Declaração Universal dos Direitos do
1. As forças de segurança têm por funções defender a legalidade democrática Homem.
e garantir a segurança interna, e os direitos dos cidadãos e são apartidárias, não
podendo os seus elementos, no activo, exercer qualquer actividade política. ARTIGO 30º
2. As medidas de polícia são só as previstas na lei, não devendo ser utilizadas 1. Os preceitos constitucionais respeitantes aos direitos, liberdades e garantias
para além do estritamente necessário. são directamente aplicáveis e vinculam as entidades públicas e privadas.
3. A prevenção dos crimes, incluindo a dos crimes contra a segurança de Estado, 2. O exercício dos direitos, liberdades e garantias fundamentais só poderá ser
só se pode fazer com observância das regras previstas na lei e com respeito pelos suspenso ou limitado em caso de estado de sítio ou de estado de emergência,
direitos, liberdades e garantias dos cidadãos. declarados nos termos da Constituição e da lei.
3. As leis restritivas de direitos, liberdades e garantias têm de revestir carácter
[...]
geral e abstracto, devem limitar-se ao necessário para salvaguardar outros direitos
ou interesses constitucionalmente protegidos e não podem ter efeitos retroactivos,
ARTIGO 24º
nem diminuir o conteúdo essencial dos direitos.
Todos os cidadãos são iguais perante a lei, gozam dos mesmos direitos e estão
sujeitos aos mesmos deveres, sem distinção de raça, sexo, nível social, intelectual [...]
ou cultural, crença religiosa ou convicção filosófica.
ARTIGO 32º
[...]
Todo o cidadão tem do direito de recorrer aos órgãos jurisdicionais contra os
actos que violem os seus direitos reconhecidos pela Constituição e pela lei, não
ARTIGO 27º
podendo a justiça ser denegada por insuficiência de meios económicos.
1. Todo o cidadão nacional que resida ou se encontre no estrangeiro goza dos
mesmos direitos e está sujeito aos mesmos deveres que os demais cidadãos, salvo
ARTIGO 33º
no que seja incompatível com a sua ausência do País.
2. Os cidadãos residentes no estrangeiro gozam do cuidado e da protecção do O Estado e as demais entidades públicas são civilmente responsáveis, em forma
Estado. solidária com os titulares dos seus órgãos, funcionários ou agentes, por acções ou
omissões praticadas no exercício das suas funções e por causa desse exercício, de
ARTIGO 28º que resulte violação dos direitos, liberdades e garantias, ou prejuízo para outrem.
1. Os estrangeiros, na base da reciprocidade, e os apátridas, que residam ou se
ARTIGO 34º
encontrem na Guiné-Bissau, gozam dos mesmos direitos e estão sujeitos aos
Todos têm direito à informação e à protecção jurídica, nos termos da lei.
290 mesmos deveres que o cidadão guineense, excepto no que se refere aos direitos 291
Colectânea de Legislação de Direito Penal Constituição da República da Guiné-Bissau
292 293
Colectânea de Legislação de Direito Penal Constituição da República da Guiné-Bissau
6. São nulas todas as provas obtidas mediante torturas, coacção, ofensa da h) Empossar o Primeiro-Ministro;
integridade física ou moral da pessoa, abusiva intromissão na vida privada, no i) Nomear e exonerar os restantes membros do Governo, sob proposta do
domicílio, na correspondência ou nas telecomunicações. Primeiro-Ministro e dar-lhes posse;
j) Criar e extinguir Ministérios e Secretarias de Estado, sob proposta do
ARTIGO 43º Primeiro-Ministro;
1. Em caso algum é admissível a extradição ou a expulsão do país do cidadão l) Presidir ao Conselho de Estado;
nacional. m) Presidir ao Conselho de Ministros, quando entender;
2. Não é admitida a extradição de cidadãos estrangeiros por motivos políticos. n) Empossar os juízes do Supremo Tribunal de Justiça;
3. A extradição e a expulsão só podem ser decididas por autoridade judicial. o) Nomear e exonerar, sob proposta do Governo, o Chefe do Estado-Maior
General das Forças Armadas;
[...] p) Nomear e exonerar, ouvido o Governo, o Procurador Geral da República;
q) Nomear e exonerar os embaixadores, ouvido o Governo;
ARTIGO 59º r) Acreditar os embaixadores estrangeiros;
1. São órgãos de soberania o Presidente da República, a Assembleia Nacional s) Promulgar as leis, os decretos-leis e os decretos;
Popular, o Governo e os Tribunais. t) Indultar e comutar penas;
2. A organização do poder político baseia-se na separação e interdependência u) Declarar a guerra e fazer a paz, nos termos do artigo 85º, nº l, alínea 7), da
dos órgãos de soberania e na subordinação de todos eles à Constituição. Constituição;
v) Declarar o estado de sítio e de emergência, nos termos do artigo 85º, nº l,
[...] alínea l, da Constituição;
x) Conceder títulos honoríficos e condecorações do Estado;
ARTIGO 61º z) Exercer as demais funções que lhe forem atribuídas pela Constituição e pela
Os titulares de cargos políticos respondem política, civil e criminalmente pelos lei.
actos e omissões que pratiquem no exercício das suas funções.
[...]
[...]
ARTIGO 72º
ARTIGO 68º 1. Pelos crimes cometidos no exercício das suas funções o Presidente da
São atribuições do Presidente da República: República responde perante o Supremo Tribunal de Justiça.
a) Representar o Estado Guineense; 2. Compete à Assembleia Nacional Popular requerer ao Procurador Geral da
b) Defender a Constituição da República; República a promoção da acção penal contra o Presidente da República, sob
c) Dirigir mensagens à Nação e à Assembleia Nacional Popular; proposta de um terço e aprovação de dois terços dos deputados em efectividade
d) Convocar extraordinariamente a Assembleia Nacional Popular sempre que de funções.
razões imperiosas de interesse público o justifiquem; 3. A condenação do Presidente da República implica a destituição do cargo e
e) Ratificar os tratados internacionais; a impossibilidade da sua reeleição.
f) Fixar a data das eleições do Presidente da República, dos Deputados à 4. Pelos crimes cometidos fora do exercício das suas funções, o Presidente da
Assembleia Nacional Popular e dos titulares dos órgãos de poder local, nos termos República responde perante os tribunais comuns, findo o seu mandato.
da lei;
g) Nomear e exonerar o Primeiro-Ministro, tendo em conta os resultados [...]
eleitorais e ouvidas as forças políticas representadas na Assembleia Nacional
Popular;
294 295
Colectânea de Legislação de Direito Penal Constituição da República da Guiné-Bissau
ARTIGO 82º 4. A iniciativa da moção de censura cabe a, pelo menos, um terço de Deputados
1. Nenhum Deputado pode ser incomodado, perseguido, detido, preso julgado em efectividade de funções.
ou condenado pelos votos e opiniões que emitir no exercício do seu mandato. 5. A não aprovação de uma moção de confiança ou aprovação de uma moção
2. Salvo em caso de flagrante delito a que corresponda pena igual ou superior de censura por maioria absoluta implica a demissão do Governo.
a dois anos de trabalho obrigatório, ou de prévio assentimento da Assembleia
Nacional Popular, os Deputados não podem ser detidos ou presos por questão ARTIGO 86º
criminal ou disciplinar, em juízo ou fora dele. E da exclusiva competência da Assembleia Nacional Popular legislar sobre as
seguintes matérias:
[...] a) Nacionalidade guineense;
b) Estatuto da terra e a forma da sua utilização;
ARTIGO 85º c) Organização da defesa nacional;
l. Compete à Assembleia Nacional Popular: d) Revogada;
a) Proceder à revisão constitucional, nos termos dos artigos 127º e seguintes; e) Revogada;
b) Decidir da realização de referendos populares; f) Organização judiciária e estatuto dos Magistrados;
c) Fazer leis e votar moções e resoluções; g) Definição dos crimes, penas e medidas de segurança e processo criminal;
d) Aprovar o programa do Governo; h) Estado de sítio e estado de emergência;
e) Requerer ao Procurador Geral da República o exercício da acção penal contra i) Definição dos limites das águas territoriais e da zona económica exclusiva;
o Presidente da República, nos termos do artigo 72º da Constituição; j) Direitos, liberdades e garantias;
f) Votar moções de confiança e de censura ao Governo; k) Associações e partidos políticos;
g) Aprovar o Orçamento Geral de Estado e o Plano Nacional de Desenvolvi- l) Sistema eleitoral.
mento, bem como as respectivas leis;
h) Aprovar os tratados que envolvam a participação da Guiné-Bissau em orga- [...]
nizações internacionais, os tratados de amizade, de paz, de defesa, de rectificação
de fronteiras e ainda quaisquer outros que o Governo entenda submeter-lhe; ARTIGO 119º
i) Pronunciar-se sobre a declaração de estado de sítio e de emergência; Os Tribunais são órgãos de soberania com competência para administrar a
j) Autorizar o Presidente da República a declarar a guerra e a fazer paz; justiça em nome do Povo.
k) Conferir ao Governo a autorização legislativa;
l) Ratificar os decretos-leis aprovados pelo Governo no uso da competência ARTIGO 120º
legislativa delegada; 1. O Supremo Tribunal de Justiça é a instância judicial suprema da República.
m) Apreciar as contas do Estado relativas a cada ano económico; Os seus juízes são nomeados pelo Conselho Superior de Magistratura.
n) Conceder amnistia; 2. Os Juízes do Supremo Tribunal de Justiça são empossados pelo Presidente
o) Zelar pelo cumprimento da Constituição e das leis e apreciar os actos de da República.
Governo e da Administração; 3. Compete ao Supremo Tribunal de Justiça e demais Tribunais instituídos pela
p) Elaborar e aprovar o seu regimento; lei exercer a função jurisdicional.
q) Exercer as demais atribuições que lhe sejam conferidas pela Constituição e 4. No exercício da sua função jurisdicional, os Tribunais são independentes e
pela lei. apenas estão sujeitos à lei.
2. Quando o programa do governo não tenha sido aprovado pela Assembleia 5. O Conselho Superior de Magistratura Judicial é o órgão superior de gestão
Nacional Popular, terá lugar, no prazo de 15 dias, um novo debate. e disciplina da magistratura judicial.
3. A questão de confiança perante a Assembleia Nacional é desencadeada pelo 6. Na sua composição, o Conselho Superior de Magistratura contará, pelo
Primeiro-Ministro, precedendo à deliberação do Conselho de Ministros. menos, com representantes do Supremo Tribunal de Justiça, dos demais Tribunais
296 e da Assembleia Nacional Popular, nos termos que vierem a ser fixados por lei. 297
Colectânea de Legislação de Direito Penal Constituição da República da Guiné-Bissau
ARTIGO 123º
1. O juiz exerce a sua função com total fidelidade aos princípios fundamentais
e aos objectivos da presente Constituição.
2. No exercício das suas funções, o juiz é independente e só deve obediência
à lei e à sua consciência.
3. O juiz não é responsável pelos seus julgamentos e decisões. Só nos casos
especialmente previstos na lei pode ser sujeito, em razão do exercício das suas
funções, a responsabilidade civil, criminal ou disciplinar.
4. A nomeação, demissão, colocação, promoção e transferência de juízes dos
tribunais judiciais e o exercício da acção disciplinar compete ao Conselho Superior
de Magistratura, nos termos da lei.
ARTIGO 124º
A lei regula a organização, competência e funcionamento dos órgãos de
administração da justiça.
ARTIGO 125º
1. O Ministério Público é o órgão do Estado encarregado de, junto dos tribunais,
fiscalizar a legalidade, representar o interesse público e social e é o titular da acção
penal.
2. O Ministério Público organiza-se como uma estrutura hierarquizada sob a
direcção do Procurador Geral da República.
3. O Procurador Geral da República é nomeado pelo Presidente da República,
ouvido o Governo.
ARTIGO 126º
1. Nos feitos submetidos a julgamentos não podem os tribunais aplicar normas
298
que infrinjam o disposto na Constituição ou os princípios nela consagrados. 299
Colectânea de Legislação de Direito Penal
ÍNDICE LEGISLATIVO
(ÍNDICE DE DIPLOMAS POR ORDEM CRONOLÓGICA)
1886
Código Penal de 1886 – (algumas normas relativas às contravenções, mantidas
em vigor pelo artigo 3º do Decreto-Lei nº 4/93 de 13 de Outubro de 1993)
– Decreto de 16 de Setembro de 1886, publicado no Diário do Governo nº
213, de 20 de Setembro de 1886 ................................................................ 285
1977
Infracções antieconómicas e contra a saúde pública – Decreto nº 20/77,
Boletim Oficial nº 20, de 14 de Maio de 1977 ........................................... 135
1979
Crimes contra a Economia Nacional – Lei nº 1/79, Suplemento ao Boletim
Oficial nº 22, de 8 de Junho de 1979 .......................................................... 129
1984
Constituição da República da Guiné-Bissau (extracto) – Constituição
aprovada a 16 de Maio de 1984 (alterada pela Lei Constitucional nº 1/91,
de 9 de Maio, Suplemento ao Boletim Oficial nº 18, de 9 de Maio de 1991,
pela Lei Constitucional nº 2/91, de 4 de Dezembro de 1991, Suplemento
ao Boletim Oficial nº 48, de 4 de Dezembro de 1991 e 3º Suplemento ao
Boletim Oficial nº 48, de 6 de Dezembro de 1991, pela Lei Constitucional
nº 1/93, de 21 de Fevereiro, 2º Suplemento ao Boletim Oficial nº 8, de 21
de Fevereiro de 1993, pela Lei Constitucional nº 1/95, de 1 de Dezembro,
Suplemento ao Boletim Oficial nº 49, de 4 de Dezembro de 1995 e pela
Lei Constitucional nº 1/96, Boletim Oficial nº 50, de 16 de Dezembro de
1996) .......................................................................................................... 289
1985
Carta Africana sobre Direitos do Homem e dos Povos (extracto) – Resolução
nº 20/85, Suplemento ao Boletim Oficial nº 49, de 7 de Dezembro de 1985 ... 261
1989
Lei do Inquilinato – Disposições penais – 2º Suplemento ao Boletim Oficial
300 nº 23, de 9 de Junho de 1989 ...................................................................... 127 301
Colectânea de Legislação de Direito Penal
Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos – Ratificada, para adesão, Regime Geral das Instituições Mutualistas ou Cooperativas de Poupança
pela Resolução nº 3/89, publicada no Boletim Oficial nº 9, de 3 de Março de Crédito – Disposições Penais – Lei nº 11/97, Suplemento ao Boletim
de 1989 ....................................................................................................... 265 Oficial nº 48, de 2 de Dezembro de 1997 ................................................... 223
Cargos Políticos – Definição do regime jurídico dos crimes da responsabilidade
1991
de titulares de cargos políticos – Lei nº 14/97, Suplemento ao Boletim Oficial
Indicação das sanções relativas à devastação das florestas por meio de nº 48, de 2 de Dezembro de 1997 ............................................................... 85
queimadas e incêndios – Lei Florestal – Decreto-Lei nº 4-A/91, Boletim
Oficial nº 43, de 29 de Outubro de 1991 .................................................... 121 1998
Lei do Recenseamento Eleitoral (extracto) – publicada no Suplemento ao
1993
Boletim Oficial nº 17, de 28 de Abril de 1998 ........................................... 149
Código Penal – Decreto-Lei nº 4/93, Suplemento ao Boletim Oficial nº 41,
de 13 de Outubro de 1993, com as alterações introduzidas pela Lei nº Lei Eleitoral para o Presidente da República e Assembleia Nacional Popular
2/2002, publicada no Boletim Oficial nº 21, de 27 de Maio de 2002 e pelo (extracto) – Lei nº 3/98 de 23 de Abril, publicada no Suplemento ao Boletim
artigo 13º da Lei nº 7/97 de 2 de Dezembro, publicada no Suplemento ao Oficial nº 17, de 28 de Abril de 1998 ......................................................... 153
Boletim Oficial nº 48, de 2 de Dezembro de 1997 ..................................... 17 Acto Uniforme relativo ao Direito Das Sociedades Comerciais e ao Agrupa-
Legislação relativa a estupefacientes – Decreto-Lei nº 2-B,de 28 de Outubro mento de Interesse Económico – (extracto: Disposições Penais) ................ 241
de 1993, 1º Suplemento ao Boletim Oficial nº 43, de 1993 ....................... 99
1999
1996 Acto Uniforme para a Organização dos Processos Colectivos de Apuramento
Lei relativa ao processo eleitoral, respeitante ao poder autárquico (extracto) do Passivo – (extracto: Disposições Penais) ............................................... 249
– Lei nº 6/96, publicada no Boletim Oficial nº 38, de 16 de Setembro de
1996 ........................................................................................................... 159 2001
Acto Uniforme relativo à organização e harmonização das contabilidades das
1997 empresas situadas nos Estados-Membros do Tratado relativo à Harmonização
Alteração da unidade monetária legal do Peso Guineense (PG) para o Franco do Direito dos Negócios em África – (extracto: Disposições Penais) ......... 257
da Comunidade Financeira Africana (FCFA) – Lei nº 1/97, Suplemento
ao Boletim Oficial nº 12, de 24 de Março de 1997..................................... 169 2002
Código dos Contratos Públicos (extracto) – Decreto-Lei nº 4/2002, publicado
Repressão da contrafacção e falsificação da moeda – Lei nº 7/97, de 2 de
no Boletim Oficial nº 48, de 3 de Dezembro de 2002 ................................ 161
Dezembro, Suplemento ao Boletim Oficial nº 48, de 2 de Dezembro de
1997 ........................................................................................................... 171
2004
Usura – UEMOA – Lei nº 13/97, Suplemento ao Boletim Oficial nº 48, de Lei Uniforme relativa à Luta Contra o Branqueamento de Capital – Resolução
2 de Dezembro de 1997 .............................................................................. 177 nº 4/PL/2004, Suplemento ao Boletim Oficial nº 44, de 2 de Novembro de
Lei Uniforme sobre os Instrumentos de Pagamento – Disposições Penais – 2004 ........................................................................................................... 183
Lei nº 12/97, Suplemento ao Boletim Oficial nº 48, de 2 de Dezembro de Tabela Salarial – Decreto nº 4-A/2004, Suplemento ao Boletim Oficial nº
1997 ........................................................................................................... 183 23, de 8 de Junho de 2004 .......................................................................... 165
Regulamentação Bancária – Disposições penais – Lei nº 10/97, Suplemento
ao Boletim Oficial nº 48, de 2 de Dezembro de 1997 ................................ 215
302 303